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ETEC DE REGISTRO

ADMINISTRAÇÃO

HALANA CUNHA RIOS

TRABALHO E ALIENAÇÃO

CANANEIA, SP
2021
HALANA CUNHA RIOS

TRABALHO E ALIENAÇÃO

Trabalho de filosofia
apresentado pela Etec
de Registro sobre
trabalho e alienação.

Orientador: Prof.
Edinaldo Pereira
Azevedo

CANANEIA, SP
2021
SUMÁRIO
1. ALIENAÇÃO SOCIAL
2. ALIENAÇÃO CULTURAL
3. ALIENAÇÃO ECONÔMICA
4. ALIENAÇÃO POLÍTICA
5. ALIENAÇÃO RELIGIOSA
6. REFERÊNCIAS

1. Alienação Social
A alienação social se refere à forma como indivíduos de uma sociedade acabam sendo
padronizados pelas formas de vida dentro de um contexto social que fazem com que percam,
ainda que de maneira parcial, o seu senso crítico.
É aqui que surge o “senso comum”, já mencionado na introdução, e que nada mais é
do que um conjunto de suposições e crenças populares sem embasamento e que surgem
devido à ausência de reflexões mais profundas. Nessa concepção, o senso comum deixa o
debate raso e supérfluo.

No processo de alienação social, as pessoas não se reconhecem mais como partícipes


e produtoras das instituições existentes na sociedade. Diante disso, é possível tomar dois
caminhos. O primeiro é o da passividade, em que os sujeitos se entregam àquela realidade,
julgando-a como natural, racional, religiosa. Isto é, seja por uma análise de que uma suposta
“vontade de Deus” faz com que eu tenha que passar por algum percalço ou alguma miséria,
ou ainda a condição de ter nascido pobre leva a acreditar ser algo comum e que leva um
tempo de trabalho e dedicação para conseguir superar tal realidade.
No segundo aspecto, a insatisfação em relação a essa alienação pode levar que alguns
se rebelem e lutem para modificar a realidade que os condiciona a viver daquela maneira.
Em ambas as situações, a sociedade é o elemento alienante e o que diferencia é a ação de
cada um, seja com poder sobre a transformação daquilo ou sem nenhuma condição de
modificar esse cenário.
2. Alienação Cultural
Horkheimer foi um dos maiores filósofos alemães do século XX. Presidiu o
Instituto de Pesquisa Social do Instituto de Frankfurt durante os anos 30 e foi um dos
pioneiros no estudo da Indústria Cultural na chamada época do Capitalismo Tardio.
Horkheimer constatou que até o início do século XX, os trabalhadores tinham muito pouco
tempo para dedicarem-se a diversão e a cultura. Trabalhavam até 16 horas por dia,
deixando o resto do tempo vago que tinham para as atividades meramente fisiológicas e
familiares. A partir das mudanças técnico-industriais e das legislações trabalhistas que
emergiram na Europa a partir de então, e que foram exportadas pelo resto do mundo
ocidental, o tempo de trabalho recuou, sobrando tempo livre para cultura e diversão.

A partir daí, forma-se o que ele chama de Indústria Cultural, ou seja, os grandes
meios de comunicação de massa e de entretenimento, que tinham por objetivos vender
diversão e cultura para as multidões. Não vendê-las naturalmente, mas mantendo os
trabalhadores sujeitos à lógica capitalista, aceitando esse sistema sem questiona-lo. Para
isso, criaram, através do entretenimento, a ilusão da harmonia social e econômica, a
naturalização da competitividade, do individualismo e da lógica da mercantilização e
coisificação de todas as esferas da vida humana. O mecanismo de alienar através da cultura
se fazia através da pasteurização das ofertas culturais, limitando-as àquelas que fossem
administráveis e excluindo as que não eram convenientes ao sistema. A produção cultural
de massa destinava-se a desenvolver o comportamento preguiçoso e descompromissado no
consumidor cultural, desestimulando as inquietações e a reflexão ousada, atrofiando-lhe a
imaginação, o que se refletiria em uma total falta de espírito crítico sobre aquilo que
assistiam e consumiam em termos de diversão e cultura.

Dominada por grandes famílias e corporações, a indústria do lúdico em nosso país


faz exatamente aquilo que Horkheimer dizia: aliena, entorpece, atomiza-se, cria o cidadão
totalmente acrítico e bestializado que, na frente da telinha ou do rádio, consome sem
questionar aquilo que lhe é imposto, assumindo valores passivos que são úteis ao sistema
capitalista.

O quadro de alienação do telespectador ou do ouvinte que se formou no país durante


os últimos 40 anos era também ideal às igrejas, que sempre apostaram no não
questionamento de seus dogmas e na fé irracional. Daí a invasão de programas religiosos na
TVs e nas rádios, o que não prejudica o sistema, mas de certa forma o renova e reproduz.

Os produtos da Indústria Cultural não possuem autonomia e autenticidade, pois visam


à produção em série e à homogeneização, de modo que a técnica passa a possuir um grande
poder social, direcionado apenas aos economicamente mais fortes. Ao perseguir a integração
vertical de seus consumidores, ela adapta seus produtos ao consumo das massas e em âmbitos
gerais determina o próprio consumo, reduzindo a humanidade, como cada um de seus
elementos, às condições que representam os seus próprios interesses. Desse modo,pode-se
observer que a Indústria Cultural oferece aos indivíduos uma coisa e, ao mesmo tempo, priva-
os dela.
Nas novelas, nos BBBs, nos programas de auditórios, nos noticiários jornalísticos
acríticos, nos programas religiosos, nos desenhos, nos programas humorísticos, na música
imposta e nos programas de variedades os meios de comunicação de massa vão educando,
de diversas maneiras, o povo brasileiro a servir de objeto passivo diante do quadro social,
econômico e cultural artificial criado pelas elites.
Causando uma experiência de prazer aos que despendem seus feitos, esse sistema que
lucra com a cultura e a arte tem como objetivo fazer com que os indivíduos vejam o mundo
sempre da mesma forma e que ele sempre permaneça como é. Ela vende constantemente a
imagem estereotipada do que é bom ou mau, agradável ou não, causando um adestramento
nos que passam a colocar como verdade e a entender somente o que se encaixa no
modelo já estabelecido nesses estereótipos. Adorno a considera um instrumento capaz de
recalcar a imaginação, fazendo as pessoas terem prazer ao soterrar a capacidade imaginativa,
que sempre envolve o prazer pelo esforço e pela atividade mental.

3. Alienação Econômica
Na qual os produtores não se reconhecem como produtores, nem se reconhecem nos
objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas sociedades modernas, a alienação econômica
é dupla: em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de
trabalho aos proprietários do capital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dos
bancos, das escolas, dos hospitais, das frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc.).
Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os trabalhadores
são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário.

Porém, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas que
produzem coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados. Em segundo lugar,
os trabalhos produzem alimentos (pelo cultivo da terra e dos animais), objetos de consumo
(pela indústria), instrumentos para a produção de outros trabalhos (máquinas), condições para
a realização de outros trabalhos (transporte de matérias-primas, de produtos e de
trabalhadores). A “mercadoria trabalhador” produz mercadorias. Estas, ao deixarem as
fazendas, as usinas, as fábricas, os escritórios e entrarem nas lojas, nas feiras, nos
supermercados, nos shoppings centers parecem ali estar porque lá foram colocadas (não
pensamos no trabalho humano que nelas está cristalizado e não pensamos no trabalho
humano realizado para que chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem
um preço (CHAUÍ, 2000).

O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada do que está exposto
no comércio, mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não enquanto sujeito e sim como
classe social, quem produziu tudo aquilo com seu trabalho e que não pode ter os produtos
porque o preço deles é muito mais alto do que o preço dele, trabalhador, isto é, o seu salário
(CHAUÍ, 2000).
Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho, mostrar aos outros as coisas que ele
fabrica, ou, se comerciário, que ele vende, aceitando não possuí-las, como se isso fosse muito
justo e natural. As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e passam
a ser vistas como bens em si e por si mesmas (como a propaganda as mostra e oferece)
(CHAUÍ, 2000).

Na primeira forma de alienação econômica, o trabalhador está separado de seu trabalho, este
é alguma coisa que tem um preço; é um outro (alienus), que não o trabalhador. Na segunda
forma da alienação econômica, as mercadorias não permitem que o trabalhador se reconheça
nelas. Estão separadas dele, são exteriores a ele e podem mais do que ele. As mercadorias
são igualmente um outro, que não o trabalhador (CHAUÍ, 2000).

4. Alienação Política
No presente trabalho procuraremos abordar a questão da alienação política como
prática, principalmente na sociedade brasileira, voltada ao consumismo, ao futebol, ao
carnaval e à despreocupação com relação aos problemas sociais, que flagelam a nossa nação.
Resgataremos os pensamentos dos filósofos Platão, Aristóteles, Jean-Jacques Rousseau e
Karl Marx sobre o referido tema, procurando fazer analogias dos ideais pregados por estes,
situando-os com o comportamento da população brasileira.
Apontaremos a concepção de cidadania e sua interação com a política, mostrando a
importância da participação popular nos rumos da democracia. A alienação como um
fenômeno nos leva à não percepção dos acontecimentos, nos quais estamos inseridos. A
superação deste estado depende da aceitação desta condição e consequentemente, da vontade
de sair e mudar, sendo sujeito da situação, respondendo, assim, pelas ações referentes à
sociedade, ao meio no qual estamos inseridos, nos sentindo parte integrante e de grande
responsabilidade no processo político.
A mudança do estado alienante para o de participação responsável, ativa e consciente
dá-se na coletividade e na educação voltada a atender a estes anseios. Trata-se de um processo
longo, mas de grande valia, se realmente queremos uma sociedade democrática, formada
portanto, de cidadãos capacitados em desempenhar suas funções como bons eleitores.
A alienação é um fenômeno inerente ao ser humano, uma vez que o mesmo influencia
e é influenciado pelo meio. Há quem a defina como a perda da própria identidade,
dependência, falta de autonomia, ocasionando a apatia, a indiferença, a passividade, a falta
de interesse. O homem cria instituições, leis, direitos etc., porém, não se sente criador e sim,
criatura. Tomamos como exemplo a questão política.
De acordo com os pensadores Platão e Aristóteles, o homem é um animal político e
esta concepção parte do pressuposto de que o verdadeiro cidadão é aquele que efetivamente
participa da vida em sociedade; um ser social é um ser político, pois a política nada mais é
que condição do bem comum. Para estes, quem não vive em sociedade, ou é um Deus, ou é
uma besta. Desta maneira, nos deixam evidente a necessidade do homem atuar como sujeito
ativo no processo de formação da polis.
Portanto, alienação política vem a ser a não interação do ser humano nas ações que
norteiam o contexto político e social, sendo que, muitos não se reconhecem como alienados,
por fazerem parte de uma sociedade dogmática. A condição de superação deste fenômeno,
segundo estes filósofos, seria a educação, visando despertar nos cidadãos o senso de
responsabilidade e justiça, estritamente ligadas a ciência política da época. A busca pela
reflexão na construção de uma sociedade justa era o objetivo principal, criando um Estado
ideal.

5. Alienação Religiosa
A religião torna-se instrumento de automação do ser humano, uma vez que interfere
nos processos de interiorização, na manutenção do status quo e das estruturas sociais. Ao
divorciar-se de si mesmo pela alienação, o indivíduo é condicionado aos padrões da
sociedade e às legitimações religiosas (CODO, 1988, p. 19).
Tal construção dialética foi analisada pelo sociólogo Peter Berger (1985, p.93) no
século XX, com foco no campo religioso. Ele ressaltou os processos de exteriorização,
objetivação e interiorização do ser humano. Os conceitos são importantes para fundamentar
a compreensão da influência religiosa como promotora de silenciamento e adaptação à
condição social vigente.
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o ser humano é produto da sociedade e que,
da mesma forma, a sociedade é produto do ser humano. Ao exteriorizar-se, o indivíduo
produz o mundo com todo aporte cultural inerente. A estrutura social criada passa a ter
significado de realidade objetiva, pois recebe a legitimação necessária das instituições, entre
elas a religião.
Conceitos criados a partir das exteriorizações humanas são legitimados e
interiorizados pelas pessoas. Evidentemente, existem variações culturais decorrentes desse
processo, porém, o sistema é cíclico de acordo com Peter Berger. “O mesmo mundo, como
uma realidade objetiva, é interiorizado na socialização tornando-se parte constituinte da
consciência do indivíduo socializado” (BERGER, 1985, p.93).
A religião está ativamente presente no processo e tem o importante papel de
legitimação da ordem social. Ela influencia e é influenciada pela sociedade. Assim, introjeta
no ser humano, e, consequentemente na sociedade, valores que balizam as relações
interpessoais e estruturais. São códigos que perpassam o casamento, trabalho, família e
dinheiro, para citar apenas alguns exemplos.
Quando o processo de legitimação impulsionado pela religião promove o rompimento
da relação dialética entre o ser humano e a sociedade, ocorre a alienação. Com o processo
em curso o indivíduo perde a noção de que “o mundo foi e continua a ser coproduzido por
ele. A consciência alienada é uma consciência que não é dialética” (BERGER, 1985, p.97)
O poder alienador da religião pode ser explicado no fato de lidar com o transcendente
e com mecanismos que estão fora da dimensão humana. A legitimação de normas e condutas
por meio da sacralização fortalece o domínio sob o ser humano. A partir do momento em que
tal potencial é amplificado por meio do espetáculo, potencializa-se proporcionalmente o
carácter alienante da religião.

6. REFERÊNCIAS
LOPES, Rodrigo Herrero. Alienação social: O que é? Tipos e Exemplos. [S. l.],
7 maio 2019. Disponível em: https://www.gestaoeducacional.com.br/alienacao-
social-o-que-e/. Acesso em: 14 jun. 2021.
CHICÃO, Professor. Indústria Cultural e Alienação. [S. l.], 26 set. 2017.
Disponível em: https://prensadebabel.com.br/industria-cultural-e-alienacao/.
Acesso em: 14 jun. 2021.

KOOP, Stefane Katrini. A INDÚSTRIA CULTURAL E O CONCEITO DE


ALIENAÇÃO. [S. l.], 28 fev. 2019. Disponível em:
https://periodicos.unb.br/index.php/polemos/article/view/22071. Acesso em: 14
jun. 2021.

EDUCAÇÃO, COLUNISTA PORTAL. Tipos de alienação existentes na sociedade. [S. l.],


5 fev. 2013. Disponível em:
https://www.google.com/search?q=aliena%C3%A7%C3%A3o+economica&oq=aliena%C
3%A7%C3%A3o+e&aqs=chrome.1.69i57j0l2j46j0l3j69i60.13335j0j7&sourceid=chrome
&ie=UTF-8. Acesso em: 14 jun. 2021.
DA SILVA, Inez Geralda. Alienação política. [S. l.], 16 fev. 2006. Disponível em:
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2442/Alienacao-politica. Acesso em: 14 jun.
2021.
RAMIRO, Marcelo Moreira. Religião e Alienação na Era do Espetáculo. [S. l.], 27 ago.
2015. Disponível em: https://portal.metodista.br/eclesiocom/edicoes-
anteriores/2015/anais/religiao-e-
alienacao#:~:text=Quando%20o%20processo%20de%20legitima%C3%A7%C3%A3o,a%2
0ser%20coproduzido%20por%20ele. Acesso em: 14 jun. 2021.

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