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1. Em janeiro de 2020, João Figueiredo, Diretor criativo da “Cresce e Aparece”, celebrou com a “Cresce e Aparece”
um acordo de cessação do contrato de trabalho por mútuo acordo, com efeitos a partir do dia 31 de janeiro de
2020. Nesse acordo, ficou estipulado que João Figueiredo, a troco de uma remuneração mensal de 3000 euros,
obriga-se a não exercer a atividade de diretor criativo, como trabalhador subordinado, em empresas de
publicidade concorrentes com a “Cresce e Aparece”, até 31 de janeiro de 2022. Por força do mesmo acordo
celebrado em janeiro de 2020, João Figueiredo obriga-se a não exercer atividade concorrente como trabalhador
independente ou como administrador de sociedade que exerça atividade concorrente com a da “Cresce e
Aparece”. Em fevereiro de 2021, João Figueiredo recebeu uma proposta da “Smart Marketing, S.A” em que esta
lhe oferece o lugar de diretor criativo da publicidade do segmento seguros, propondo-lhe condições irrecusáveis.
Em fevereiro de 2021, João Figueiredo enviou uma carta à “Cresce e Aparece” em que alega que o acordo
celebrado em janeiro de 2020 é nulo e sem qualquer efeito, nos termos do art. 9.º, 2, da Lei 19/2012, porque viola
o disposto no art. 9.º, n.º 1, b), da Lei 19/2012, que proíbe acordos restritivos da concorrência que tenham por
objeto ou por efeito “limitar a produção”. Aprecie, à luz das normas jurídicas da concorrência, o acordo celebrado
em janeiro de 2020 e a argumentação de João Figueiredo constante da carta datada de fevereiro de 2021 (4 v.).
[Acordo celebrado em janeiro de 2020 configura juridicamente um acordo entre uma empresa e o seu trabalhador
subordinado com cláusula de não concorrência. (1 v.)
Trabalhador por conta de outrem não integra a noção de empresa. O trabalhador subordinado faz parte da
empresas, e não exerce uma atividade económica suportando o risco da empresa. A empresa tem de ser uma
“entidade capaz de determinar com autonomia o seu comportamento no mercado” (Moura e Silva) (art. 3.º da Lei
19/2020). (1v:)
Acordo entre entidade patronal e trabalhador subordinado não configura, juridicamente, um acordo entre
empresas e, por isso, escapa ao âmbito de aplicação objetivo do art. 9.º da Lei 19/2012. (1 v.)
Logo, não se aplica a nulidade do art. 9.º, 2, da Lei 19/2012. (1 v.)]
2. No início do ano de 2021, a “Cresce e Aparece” começou a delinear o seu plano estratégico para os próximos
três anos que inclui a criação de uma filial detida a 100% em Espanha e outra filial detida a 100% situada em
França. Assim, os clientes do setor financeiro que operam em Espanha serão atendidos exclusivamente pela filial
espanhola e os clientes que operam em França serão atendidos unicamente pela filial francesa. Uma e outra filial
são dirigidas por uma equipa regional nomeada pela “Cresce e Aparece” que controla os objetivos de venda, as
margens brutas, as despesas de venda e o “cash flow”. Será esta estratégia proibida pelo art. 101.º, 1, do TFUE?
Justifique a sua resposta (4 v.).
[Elementos constitutivos da infração prevista no art. 101.º, 1, do TFUE (1 v.)
A empresa como unidade económica. Falta de autonomia de decisão das sociedades filhas que estão sujeitas às
instruções emitidas pela administração da sociedade-mãe. Acordos entre uma sociedade mãe e sociedades filhas
não configura juridicamente um “acordo entre empresas” (1 v.)
Grupo de empresas como uma única empresa. Teoria da unidade económica. Diferentes entidades sujeitas a um
controlo comum configuram uma unidade económica. (art. 3.º, 2, da Lei 19/2012) (1 v.)
Este organização intra-grupo (ato de natureza interempresarial) é atípica para os efeitos da infração prevista no
art. 101.º do TFUE, logo é admitida pelas regras da concorrência (1 v.)]
3. Atualmente, a “Cresce e Aparece” detém uma quota de 60% do mercado publicitário nacional. As várias
concorrentes no mesmo mercado relevante detêm, cada uma, 5% da quota de mercado. Nestas circunstâncias, a
“Cresce e Aparece” aplica, na sua relação com os clientes, uma política comercial de descontos de fidelidade. A
“Cresce e Aparece” justifica que numa economia de mercado cada empresa é livre de decidir as condições em
que oferece os seus produtos e serviços. Tendo em conta as normas reguladoras do direito da concorrência,
pronuncie-se sobre esta argumentação da “Cresce e Aparece” (4 v.)
[Noção de empresa dominante e quotas de mercado enquanto indício de posição dominante no mercado
relevante (1 v.)
Noção de descontos de fidelidade e o efeito de vinculação do comprador à empresa dominante (1 v.)
Descontos de fidelidade como uma forma de abuso por exploração quando são aplicados por empresas em
posição dominante e lícitos quando estipulados por empresas que não se encontram em posição dominante.
Especiais deveres de conduta exigidos a empresas em posição dominante (arts. 102.º, 1, do TFUE/11.º do
RJC)(1.v.)
As empresas em posição dominante estão sujeitas a restrições à liberdade contratual não aplicáveis a empresas
que não são dominantes no mercado, em ordem a ser protegida a concorrência (1 v.).]
4. A “Cresce e Aparece” é, desde a sua criação, membro da APEP - Associação Portuguesa de Empresas de
Publicidade, que reúne todas as empresas de publicidade portuguesas. Em maio de 2020, a Autoridade da
Concorrência concluiu que a APEP, a partir de novembro de 2003, aprovou e divulgou, no seu sítio na internet,
uma tabela de honorários com vista a promover uma padronização dos preços dos serviços prestados pelos seus
associados, em todo o território nacional. A Autoridade da Concorrência concluiu que esta tabela de honorários
restringe a concorrência no mercado da prestação de serviços de publicidade. A “Cresce e Aparece”, enquanto
membro da APEP poderá ser declarada responsável pelo pagamento da coima? É adequado dizer que a coima
se destina a reparar os prejuízos dos consumidores afetados restrição da concorrência nos serviços de
publicidade? Justifique legalmente as suas respostas (4 v.)
[Caraterização de associação de empresas para efeito de direito da concorrência, a partir de conceito funcional –
função de coordenação dos seus membros ou formas institucionalizadas de coordenação do comportamento dos
seus membros no mercado (Acórdão Mastercard) (1 v.)
Tabela de honorários fixados pela APEP configura uma decisão de associação de empresas e não um acordo
entre as diferentes associadas (art. 9.º da Lei 19/2012) (1 v.).
Trata-se de contraordenação imputada juridicamente à APEP, decisão de associação de empresas restritiva da
concorrência pelo objeto . O art. 69.º, 2, da Lei 19/2012 estabelece como limite máximo da coima 10% do volume
de negócios “agregado das empresas associadas”(1 v.)
Sentido jurídico de coima e não aplicação no ressarcimento dos consumidores lesados pela violação das normas
de concorrência (art. 37º do Estatutos da Autoridade de Concorrência) (1 v.)]
Entrega das respostas ao exame: A resolução do exame será entregue, em ficheiro de formato pdf, no InforEstudante,
através da funcionalidade “Submissão de trabalhos”, intitulada “Exame final de Direito da Concorrência_ Época
Normal_17_4_2021”.
Material de Consulta: Exame final realizado remotamente, sem vigilância ativa, e com consulta.
Às provas escritas realizadas remotamente aplicam-se os regulamentos Pedagógico da UC e o Regulamento
Disciplinar do Estudante da Universidade de Coimbra.
A fraude académica é punida nos termos do Regulamento Pedagógico da UC e do Regulamento Disciplinar do
Estudante da Universidade de Coimbra.