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GÉNESE DO DTº ECONÓMICO:


As regras de Direito económico são regras jurídicas que apareceram depois
da 1ª Guerra Mundial, para reformar, ou mesmo, substituir a ordem
económica existente.
Duas grandes revoluções que marcaram a nascença e desenvolvimento do
capitalismo: a revolução liberal e a revolução industrial.
A 1ª Guerra Mundial marca o fim do capitalismo liberal e o início do
capitalismo social. O objectivo do capitalismo é essencialmente a procura do
lucro. O meio para atingir esse objectivo será a produção de bens e serviços,
para satisfação das necessidades dos cidadãos.
O capitalismo liberal era marcado pelo direito à propriedade (privada) dos
meios de produção e à iniciativa privada bem como uma liberdade
económica. Era o mercado que, através da lei da oferta e da procura,
regulava os preços. O mercado era o grande instrumento coordenador e
organizador da actividade económica.
Havia uma crescente intervenção por parte do Estado para satisfazer as
exigências e as necessidades trazidas pela 1ª Guerra.
Surgem, com a Revolução Russa de 1917, novas ideias políticas e
económicas e aparece em 1919 a 1ª Constituição que dedicava uma especial
secção à vida económica – A Constituição de Weimar de 1919. A
Constituição de Weimar legitimava a intervenção do Estado na vida
económica. O capitalismo liberal, falha no domínio da justiça social (Rawls)
Em 1929 surge uma grande crise económica com uma elevada taxa de
desemprego e de inflação, uma taxa de crescimento reduzida, perdurava a
fome, a bancarrota, etc.
Daí surgiu Keynes que dizia que o Estado deveria intervir para estabilizar a
economia. Apareceu neste momento para defender, pela 1ª vez, a
intervenção do Estado, no sentido do investimento público em tempos de
recessão, defendendo que perante um aumento da procura agregada a oferta
responderia.
Depois da 1ª Guerra Mundial, esta ordem económica existente, altera. O
Estado passa a intervir directamente e indirectamente e a própria guerra é o
fenómeno que leva a que o Estado passe a intervir. Directamente, quando o
Estado age como agente económico e indirectamente, quando o Estado age
como agente de regulação económico-social e regula o acesso à actividade
económica, regula a concorrência, regula o consumo.
É o abandono do liberalismo, substituição do capitalismo liberal pelo
capitalismo social. Os primeiros embriões de Dt° Económico serviam para
salvar a economia liberal, para conservar a ordem existente, introduzindo
normas para regular a concorrência livre num mercado perfeito.

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Os segundos embriões de Dt° Económico, após a 1ª guerra mundial,


correspondiam a um direito, que visava reformar a ordem económica
existente.
Os terceiros embriões de Dt° Económico correspondiam a um direito que já
não visava, salvar, nem reformar, mas sim substituir o sistema liberal pelo
sistema socialista.
O fenómeno que fez aparecer o Dtº Económico foi a mudança para um
Estado intervencionista (do liberalismo para o capitalismo), o fim da era liberal
em que a relação do Estado com a Economia se alterou.
Para reformar o capitalismo foi necessária uma intervenção política do
Estado, a qual não poderia ser realizada sem recurso ao Direito.
FUNDAMENTOS DA AUTONOMIA DO DTº ECONÓMICO:
1. Núcleo originário do Dt° económico
Com as transformações da ordem liberal clássica, surgem formas específicas
de regulação pública da economia, dando origem a um conjunto de normas,
princípios e instituições que regem a organização e direcção da actividade
económica, impondo limites, condicionando ou incentivando os agentes
económicos com o objectivo de colmatar as insuficiências ou disfunções do
direito privado clássico.
2. Desenvolvimento do Dt° económico
Devido à crescente complexidade e multiplicação dos agentes económicos,
as próprias entidades privadas passaram a produzir normas, no âmbito da
sua esfera de autonomia, por delegação pública ou ainda pela negociação e
concertação com os poderes públicos.
3. Problemática da Constituição económica
Perante um Estado de Direito Democrático, os sistemas jurídicos e políticos
não podem ficar indiferentes ao poder do sistema económico, donde resultam
as questões da subordinação do poder económico ao poder político, do
controlo ou do estabelecimento de uma democracia económica.
CARACERÍSTICAS DO DTº ECONÓMICO:
 Disciplina a actividade económica no seu conjunto (objecto do Dtº
Económico);
 Visa edificar e organizar a actividade económica, ordenar uma ordem
económica (função do Dtº Económico);
 Regula a actividade económica, através da criação de normas, para que
a economia funcione de uma maneira harmoniosa, garantindo assim o
interesse económico geral (função do Dtº económico).

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Para os liberais o equilíbrio estava sempre garantido, logo a economia


não era regulada. A economia liberal não estava desregulada porque
tinha uma regulação natural;
 A finalidade do Dtº Económico é alcançar, garantir o bom e harmonioso
funcionamento da economia, satisfazendo assim o interesse económico
geral;
 O Dtº Económico só surge naquelas áreas da actividade económica em
que é necessário a criação de normas jurídicas, para garantir o bom
funcionamento das mesmas (Conteúdo);
 O direito económico é instrumental face ao poder político dominante;
 É um ramo de Dtº autónomo porque tem um objecto próprio, pois é o
único ramo de direito que disciplina a actividade económica no seu
conjunto. (estuda o enquadramento jurídico do circuito económico, os
sujeitos do processo económico e os aspectos de produção e
distribuição). Tem uma função própria que é ordenar e regular a
actividade económica no seu conjunto. Tem um fim próprio que é
garantir a satisfação do interesse económico geral. Tem um conteúdo
próprio que é um conjunto de normas específicas às áreas a ser
reguladas.
 É um direito disperso, pois disciplina a vida das empresas, a
propriedade dos meios de produção, a actividade económica pública,
etc. As suas normas incidem sobre fenómenos que são núcleos de
outros ramos de Dtº, que já são disciplinados por outros ramos;
 É um direito quadro, pois enquadra a actividade económica, através de
normas que ao serem cumpridas, se realizam, deixando depois um
espaço jurídico para outros ramos de direito;
 Exige uma interdisciplinaridade interna, ou seja, para criar e interpretar
o Dtº Económico é necessário conhecimento dos outros ramos de
Direito;
 Exige uma interdisciplinaridade externa, ou seja, há necessidade de
outros conhecimentos externos ao Direito;
 Utiliza conceitos puros de economia, o que não acontece com os outros
ramos de Direito (economização do Direito);
 É mais concreto do que os outros ramos de direito, pois cria normas
para regular certas situações em determinadas áreas, num determinado
momento, com o fim de realizar o interesse económico geral;
 É mutável segundo as épocas e as opções políticas. As normas do Dt°
económico mudam. (ex: em 1974 nacionaliza-se e nos anos 90
privatiza-se). O Dt° económico também pode evoluir com o avanço das
tecnologias e a realidade que o próprio Dt° tem que regular;
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 É maleável e flexível, ou seja, dada a dificuldade das leis preverem


todas as situações, todos os casos da actividade económica, o
legislador tem que utilizar conceitos indeterminados e atribuição de
poderes discricionário;
 Tem um amplo poder discricionário. Ex: Certas leis podem contrariar a
lei da livre concorrência, se apesar dessa restrição surgirem algumas
consequências positivas;
 Com a utilização de conceitos indeterminados e atribuição de poderes
discricionários a jurisprudência ganha importância neste ramo de
Direito;
 É um Direito claro;
 É um Direito constituído por normas pragmáticas;
 É um Direito assistido de protecção coactiva como qualquer outro
Direito.
DEFINIÇÃO DE DTº ECONÓMICO:
O Direito Económico consiste num sistema de disposições jurídicas (normas
e princípios com características próprias), ou na disciplina que as estuda,
elaboradas pelos poderes públicos, privados e de natureza mista, no âmbito
de uma função normativa de enquadramento global da actividade económica,
ordenando-a e regulando-a para garantir o interesse económico geral.
SISTEMAS ECONÓMICOS:
(Estruturas de enquadramento da constituição económica)
Formas típicas e globais de organização e funcionamento da economia,
baseadas em princípios fundamentais que regem economias com estruturas
diferentes.
É uma unidade global organizada de interpretações entre um conjunto de
elementos pessoais e materiais que desenvolvem uma série de processos
económicos enquadrados por instituições e princípios orientadores
duradouros que tem por fim resolver os 3 principais problemas económicos
(O que produzir?, como produzir? e para quem produzir?)
Sistema greco-latino
Sistema feudal Pré-industriais
Concretos Sistema urbano medieval
Sistema capitalista
Sistemas Sistema socialista Industriais
económicos
Economia de mercado (aberta)
Abstractos
Economia planificada (centralizada)

 Sistemas abstractos:

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São tipos ideais de organização da economia, que correspondem aos


princípios ideais que inspiram não só a organização, mas também o
funcionamento da economia, para resolver os problemas do consumo, da
produção e da repartição. Perante as 3 questões fundamentais da
economia (O que produzir?, como produzir?, e para quem produzir?) os
sistemas concretos divergem:

Produzir Economia de mercado Economia planificada

O quê? O consumo é determinado Cabe à Direcção central


(consumo) pelos consumidores que defi- interpretar as necessidades dos
nem as suas necessidades, sujeitos económicos,
Prioridades e intensidades, estabelecendo quais elas são e
confrontando-as no mercado qual a prioridade relativa de
livre. satisfação.

A produção é organizada Cabe à Direcção central, através


Como? livremente pelos agentes da planificação da economia,
(Produção) económicos que escolhem as definir quais os bens a produzir
técnicas e os bens a produzir, e em que quantidades.
tendo em conta a lei da
procura e da oferta no
mercado livre.

Para quem? A repartição do produto é A Direcção central fixa as quotas


(Repartição) feita através dos mercados de de resultados de produção que
factores de produção (em que são distribuídas a cada sujeito
uns vendem trabalho, capital, económico, a cada factor de
terra ou técnica e outros produção, a cada região e sector.
compram tais bens com as
receitas da venda dos seus
produtos.)

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O sistema de economia planificada é um modelo económico


abstracto totalmente centralizado, dependendo de um plano central
obrigatório, que constitui o seu instrumento privilegiado para a
resolução de todos os problemas económicos fundamentais. No
sistema de economia centralizada o instrumento essencial é o Plano.
O sistema de economia de mercado é um modelo económico
abstracto totalmente descentralizado, em que a resolução dos
problemas económicos fundamentais se passa espontaneamente,
como se não houvesse Estado, através dos mecanismos da procura e
da oferta num mercado de livre concorrência.
No sistema de economia aberta o instrumento essencial é o mercado

 Sistemas concretos:
Caracterizam-se pelas instituições fundamentais da vida económica e social,
pela técnica dominante de produção, pelo móbil que domina o
comportamento dos sujeitos económicos.
 Sistema económico feudal:
Sistema económico concreto, caracterizado por uma economia de
subsistência auto-suficiente, com trocas escassas, aproximando-se à
economia de direcção central. Estava dependente da natureza, instituições
baseadas na autoridade política, decisões económicas planificadas e fraca
circulação de moeda.
 Sistema económico urbano-medieval
Caracteriza-se pela coexistência de formas de produção primárias
(agricultura, pesca, etc.) com outros sectores de produção de tipo secundário
e terciário (indústria artesanal e comércio). A unidade de produção
desenvolvia-se na oficina urbana medieval que era criada pelo artesão. A
corporação tinha um papel importante para desenvolver o papel de mestre o
qual era necessário desenvolver uma obra prima para ascender à categoria
de mestre. O mestre artesão dominava a actividade produtiva. Na economia
urbana tende-se para uma actividade económica livre onde o objectivo do
comerciante é ter o maior número de produtos no mercado ao mais baixo
custo (busca do lucro).
 O sistema capitalista
É a partir da economia urbana medieval que se vai iniciar o capitalismo. É a
Revolução Industrial que marca o triunfo do capitalismo. O capitalismo vai
passar a dominar a indústria. Os artesãos fecham as oficinas e passam a
trabalhar nas grandes fábricas industriais como trabalhadores.

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O sistema capitalista é um sistema económico concreto, que assenta no


princípio da propriedade privada, no princípio da liberdade económica, no
espírito de lucro.
São instituições do sistema capitalista:
- Empresa capitalista – O centro de produção é, por regra, a empresa
capitalista. A empresa é um subsistema, uma organização de factores de
produção que tem por objectivo produzir bens e serviços para a troca.
Aparecem para realizar o máximo de lucro. É o capitalista que comanda o
processo produtivo;
- Capital – O factor de produção dominante é o capital, permitindo aumentar
a produtividade dos trabalhadores, confere poder ao processo da
actividade económica e vai incutir na actividade económica um espírito de
racionalidade económica;
- Mercado – É o instrumento de coordenação da actividade económica.
Todos os interesses são confrontados, entre empresários, entre produtores
e consumidores, e entre empregadores e empregados. Com o fenómeno
da globalização o mercado alarga a um maior número, a uma maior área.
- Propriedade privada – Regra para haver uma economia capitalista. Poder
de dispor dos bens de forma absoluta. Foi recuperada a concepção
romanista individualista de utilizar, usufruir e abusar. No entanto haviam
restrições à propriedade privada entre as quais a possibilidade de
nacionalizar e a função social de propriedade (Ex: a propriedade não pode
ser abandonada).
- Liberdade económica – Traduz-se na liberdade dos diferentes agentes
económicos. A liberdade da empresa que se traduz na livre escolha de
poder ter iniciativa, de ter uma actividade económica, liberdade de
organização empresarial e liberdade de contratação.
A liberdade de trabalho que se traduz na possibilidade do trabalhador
poder escolher livremente a actividade. Existência de um salário mínimo e
segurança social. O trabalhador é a parte fraca na negociação das
cláusulas de trabalho.
A liberdade de consumo ou liberdade do consumidor que permite o livre
funcionamento dos mercados.
- Mentalidade ou espírito capitalista – O empresário pretende obter o
máximo lucro. O trabalhador busca o máximo salário. O consumidor
pretende obter os produtos ao mais baixo custo.
O espírito de competição de todos os intervenientes no mercado faz com
que se crie uma economia caracterizada por inovação constante. A
investigação e o desenvolvimento económico andam intimamente ligados.
Forma económica:

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É uma qualificação de um sistema económico, que designa os modos típicos


de formação de um determinado sistema, diferenciados com vários critérios:
- Forma e dimensão da unidade de produção;
- Técnicas de produção;
- Organização dos sujeitos económicos;
- Modo de coordenação;
- Relação entre o Estado e a actividade económica.
Através dos tempos o capitalismo apresenta diversas formas:
 Capitalismo liberal (Adam Smith) - Antes do século XX, caracterizado
pela liberdade individual, defesa da propriedade privada, liberdade
económica, livre concorrência, condições infra-humanas dos
trabalhadores;
 Capitalismo pós-liberal - Início do século XX, caracterizado por uma
intervenção do Estado, hetero-regulação pública do mercado, restrição
de liberdades económica (nacionalizações/privatizações) e restrição à
liberdade de organização, o objectivo do gestor já não é o lucro, mas
sim aumentar o seu poder, enquanto que o objectivo accionista é que é
o lucro;
 Liberalismo com cariz social - Pós 1ª Guerra Mundial, caracterizado
por uma auto-gestão, movimentos sindicais, cooperativos, e sociais;
 Estado - Providência - as actividades produtivas de serviços
aumentam em detrimento da indústria, desenvolvimento das prestações
do Estado de forma gratuita ou quase (medicina, habitação, educação
gratuita, cultura, desporto, ...).
Esta forma de capitalismo apareceu com a ascenção ao poder de
governos sociais democratas, influenciada pelo pensamento
Keynesiano sobre as políticas de intervenção e despesa a favor dos
desfavorecidos e pelo crescimento económico durante 30 anos até
meados dos anos 70.
A ruptura do Estado - Providência surgiu em 1973 com os preços dos
combustíveis a triplicar devido ao facto dos países produtores de
petróleo terem formado um cartel.
 Neo-liberalismo (Margaret Tatcher) – Caracterizado pela existência
de privatizações, liberalização das actividades económicas, abertura
dos sectores da actividade económica, desregulamentação dos
mercados, teoria globalizante;
 3ª Via (Tony Blair) - Tentativa de conciliação entre a velha social-
democracia e o movimento neo-liberal.
Regimes económicos
Traduz a relação entre as formas diversas como o poder político se articula
com a realidade económica.
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No sistema capitalista distingue-se 3 modelos de regimes económicos:


 Abstencionismo – Caracteriza-se pela liberdade económica dos
sujeitos, e liberalização do Estado. O poder político não intervém na
actividade económica;
 Intervencionismo – caracteriza-se pela intervenção do Estado para
corrigir e defender o funcionamento do sistema e não para dirigir ou
orientar. O poder político tenta alterar o comportamento dos agentes
económicos;
 Dirigismo - caracteriza-se pela procura do Estado em dirigir a
economia, sem suprimir as instituições e os princípios básicos da
economia de mercado.
Ex: Alemanha (Nazismo), Itália (Fascismo), Portugal (Corporativismo).
 Sistema socialista
É um sistema económico concreto, que se caracteriza essencialmente pela
apropriação pública dos meios de produção, pelo desaparecimento tendencial
da propriedade e da iniciativa privada capitalista, pela gestão administrativa
da economia, pela subordinação da actividade económica ao plano.
São Instituições fundamentais do sistema socialista:
 Capital - Forte criação de capital através de uma economia baseada na
industrialização maciça e intensa (energia, siderurgia e armamentos);
 Propriedade pública - Propriedade colectiva dos meios e bens de
produção;
 Nacionalizações/expropriações – Nacionalização de empresas e
expropriação de terrenos;
 Iniciativa económica pública - O funcionamento da economia
dependia de uma máquina administrativa autoritária e centralizada. Os
bens de produção vão ser administrados por gestores do Estado;
 Empresas públicas;
 O plano - Conjunto de previsões da evolução da economia e de
decisões acerca do que vai ser produzido, do que há-de ser consumido
ou investido, etc., num dado período;
 Liberdade económica – Havia liberdade de trabalho e liberdade de
consumo;
 Mentalidade socialista - Numa economia socialista o fim a atingir é a
máxima produção para atingir o máximo de satisfação.
O socialismo entende que é a mais valia incorporada pelo trabalho que
permite a existência dos juros, rendas e lucros. Assim acabando com a
propriedade privada os juros, as rendas e os lucros pertenceriam ao Estado,
sendo que o único tipo de rendimento no socialismo era proveniente dos
salários.
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O que marca a essência do socialismo é a maneira como reparte os


rendimentos, é só através de uma maneira – os salários.
Há dois sistemas socialistas:
Socialismo planificado (colectivismo marxista) - próprio de uma forma
totalitária da sociedade
São características do socialismo planificado o relevo do capital, a
apropriação pública dos meios e bens de produção, a iniciativa pública,
gestão administrativa, centralizada e autoritária da economia, papel nuclear e
imperativo do Plano centralizado, planificação do processo produtivo (o
trabalho limita-se ao trabalho e ao consumo). O espírito socialista baseia-se
na máxima produção para a máxima satisfação das necessidades.
Socialismo autogestionário (Tito na Jugoslávia) - era um socialismo de
mercado, baseado na autogestão como princípio geral da economia.
A autogestão como critério geral de funcionamento da economia de
"socialismo de mercado".
Este modelo era caracterizado pelo facto da propriedade continua a ser
pública e o plano central continua a ser imperativo, a indústria foi o motor de
desenvolvimento da economia, propriedade social dos meios de produção, ou
seja, a posse, função e gestão dos meios de produção caberiam aos
trabalhadores, iniciativa auto-gestionária, ou seja, grande autonomia às
unidades de trabalho que se encarregavam da produção, empresas auto-
geridas, ou seja, plano fortemente descentralizado, pequenas unidades de
produção, descentralizadas e individuais, processo produtivo principalmente
condicionado pelo mercado, introdução da moeda, liberalização de preços,
acumulação de excedentes, capitalização dos planos da empresa.
Pensamento marxista:
O objectivo era a igualdade, cada um deveria receber conforme o seu
trabalho. No entanto nem todas trabalham de forma igual e nem todas têm as
mesmas necessidades. Só existe verdadeira igualdade quando todos tiverem
as suas necessidades igualmente satisfeitas. A aposta na planificação visava
acabar com os desperdícios.
A economia capitalista tinha 4 tipos de rendimentos provenientes do capital
(juros), dos recursos (rendas), dos empresários (lucros) e do trabalho
(salários).
CONSTITUIÇÕES ECONÓMICAS:
É o conjunto de preceitos e instituições jurídicas fundamentais que definem o
regime jurídico do sistema económico vigente. As Constituições económicas
podem ser de diversos tipos:
 Quanto à estrutura:

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Em sentido formal - conjunto de normas e princípios jurídicos sobre o


essencial da actividade económica desenvolvida pelos indivíduos, pelas
pessoas colectivas ou pelo Estado plasmados no texto da Constituição do
Estado.
Em Sentido material - Núcleo essencial de normas jurídicas que regem o
sistema e os princípios básicos das instituições económicas, quer constem ou
não do texto constitucional.
É o conceito de constituição económica em sentido material que nos
interessa, porque permite a integração de um conjunto de leis, que são
fundamentais na definição da ordem jus-económica, tais como as leis da
concorrência ou as leis que regulam a actividade específica de determinados
sectores da economia.
Em sentido real - a noção de constituição económica material, integra os
aspectos relacionados com a aplicação e interpretação das próprias normas
pela Administração Pública, pelos Tribunais e pela sociedade no seu
conjunto.
 Quanto à forma jurídica
Explícitas - as constituições económicas que se traduzem na formalização de
um conjunto de princípios e normas que tendem a caracterizar o sistema
económico na sua globalidade, com objectivos de orientação dos seus
agentes, de enquadramento das instituições da economia e definição dos fins
e programas de evolução do sistema económico.
Implícitas - uma ordem jurídica da economia, incorpora sempre uma
"constituição económica", de cujos princípios essenciais decorre, ou com os
quais deverá ser minimamente coerente.
 Quanto ao conteúdo económico
Capitalistas – Podem ser liberais, intervencionistas ou dirigistas.
Têm como características a liberdade de iniciativa, de empresa, de trabalho e
de consumo; propriedade privada como princípio e instituição fundamental; o
mercado como instrumento de regulação da economia; a abstenção do
Estado ou intervenção correctiva.
Socialistas – Podem ser centralizadas, autogestionárias.
Têm como características a iniciativa pública, a apropriação colectiva dos
meios de produção; a gestão administrativa da economia.
Mistas – Podem ser aquelas que tomam por base a economia de mercado ou
aquelas que procuram estabelecer uma economia baseada na intervenção do
Estado.
Têm como características a combinação entre a liberdade de iniciativa
privada com a liberdade de iniciativa pública e social; a tentativa de

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combinação do planeamento com o mercado; a definição de regimes diversos


em relação à intervenção do Estado.
 Quanto ao enquadramento político
Regimes democráticos
Regimes autocráticos – autoritários ou totalitários.
 Quanto ao modo de regulação do sistema
Estatutárias - garantir a ordem económica existente
Programáticas - programa político-económico visando reformar a ordem
económica existente.
Directivas - não se limitam a reformar a ordem económica existente, mas
dirigem o legislador num certo sentido.
Função das constituições económicas
- Garantia dos direitos, liberdades e garantias no domínio económico;
- Delimitação dos poderes do Estado, das entidades menores e dos grupos
sociais no domínio económico;
- Delimitação de objectivos sócio económicos a prosseguir pelo Estado ou
por outras entidades;
- Definição dos elementos jurídicos do sistema económico e do regime
económico, bem como dos princípios gerais da ordem jurídica económica;
- Formulação de tarefas económicas gerais do Estado e de critérios jurídicos
para selecção dos objectivos da política económica;
- Definição de modelos de reformas estruturais (reforma fiscal,
descentralização, etc.;
- Formulação de um processo de evolução histórica que visa a construção
de novos sistemas económicos;
A evolução das constituições económicas em Portugal
Três grandes fases das constituições económicas modernas:
- Liberalismo - 1822-1926 (com breve interregno entre 1826-1834)
- Corporativismo - 1933-1974
- Fase actual
 A Constituição de 1822
- Revela uma filosofia individualista, de um liberalismo embrionário, que
consagrava a liberdade, a segurança e a propriedade, princípios
caracterizadores do capitalismo liberal, que, no entanto, são aqui
concebidos de forma muito geral e abstracta;
- Os exercícios dos direitos de cidadania são limitados à subsistência
económica.
- As Cortes têm competência para as matérias financeiras públicas e para a
administração dos bens nacionais.
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- Os municípios têm competência para regular a actividade económica.


- Constituição de natureza conservadora, explicada pela composição
sociológica das Cortes e dos seus principais apoiantes no país.
 A Constituição de 1933
- Vai romper com o capitalismo liberal e com os princípios de livre
funcionamento do mercado;
- Reconhecimento expresso do papel central do Estado na promoção da
ordem económica;
- Constituição corporativa, voluntarista e de tipo programática, marcada por
um regime económico fortemente dirigista, que não pretende suprimir as
instituições da economia de mercado, mas "apenas" coordenar e regular
superiormente a vida económica;
- Dirigismo estatal autoritário, de ideologia anti-liberal, mas não totalmente
anti-capitalista;
- A iniciativa privada é respeitada (a dos grandes grupos económicos)
- Proteccionismo administrativo e condicionalismo industrial;
- Constituição pragmática, pois tem como objectivo a reestruturação da
ordem económica, funcionando como instrumento da mutação da ordem
sócio-económica;
- O princípio da subsidariedade da intervenção do Estado na actividade
económica privada, só funcionava ao nível da intervenção directa;
- Ao nível da intervenção indirecta o Estado era omnipresente.
- O Estado rejeita a livre concorrência no mercado e aceita e a propriedade
privada;
- O Estado queria uma economia regulada pelas corporações.
Princípios estruturantes da constituição de 1933
- Primado da economia nacional corporativa;
- Primado da função social da propriedade, dos meios económicos e da
harmonia de interesses;
- Princípio da estrutura orgânica da sociedade;
- Regulamentação da economia através do entendimento entre os parceiros
sociais no seio dos organismos corporativos, e não através da livre
concorrência;
- Subordinação das instituições capitalistas a objectivos nacionais;
- Integração dos sindicatos na ordem corporativa, proibição da greve e do
lock-out.
 A constituição de 1976
- Revogação imediata da parte económica da CRP de 1933, em 1974;
- Seguiram-se 2 anos sem Constituição Económica de 1974 até 1976;

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- Sucedem-se as nacionalizações, expropriações e ocupações neste


período pré-constitucional;
- Promulgação da CRP em 1976, por uma Assembleia Constituinte,
constituída em 1975 e onde participaram todos os principais partidos
políticos com uma predominância do partido socialista;
- Constituição com carácter compromissório;
- Influência do M.F.A.;
- Texto pós-revolucionário:
- A 1ª revisão em 1982 consagrou o fim do processo revolucionário,
democratização do regime político.
A 2ª revisão em 1989 alterou a constituição económica, duplo
esvaziamento do S.Público.
A 3ª revisão em 1992 alterou legislação para conformidade com o
Tratado de Mastricht.
A 4ª revisão em 1997 consagrou uma alteração de natureza política e
pouco de natureza económica.
A 5ª Revisão em 2001 consagrou o alargamento da U.E..
Arts. 1° e 2º
- Princípios fundamentais de respeito pela pessoa humana.
- Carga ideológica muito forte (… ditadura da classe trabalhadora)
- Transição para o socialismo.
Art. 9° alínea c)
- Tarefa fundamental de socializar os meios de produção e a riqueza.
- Abolir a exploração e a opressão do homem pelo homem.
Art.10° nº 2
- Desenvolvimento pacífico do processo revolucionário.
- Apropriação colectiva dos principais meios de produção.
Art. 51° nº 3
- Direito à liberdade de trabalho.
Art. 62°
- Dt°. à propriedade privada e à sua transmissão em vida ou por morte.
Art. 80° e 81°
- Fundamento da organização económico-social.
- Desenvolvimento das relações de produção socialistas.
- Impedir a formação de monopólios através de nacionalizações
Art. 83°
- Princípio da irreversibilidade das nacionalizações efectuadas depois do
25 de Abril.
Art. 85°/1/2/3
- Direito à iniciativa económica privada, enquanto instrumento do
progresso colectivo, em subordinação à CRP, à lei e ao Plano;
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- A CRP impunha a vedação dos sectores básicos à iniciativa privada


(act. financeira, sector das industrias de base, serviços públicos, etc.);
- O Estado abria a possibilidade de intervir na gestão de empresas
privadas, que guardavam o seu estatuto privado (Empresas
intervencionadas).
Art. 89° e 90°
- A coexistência entre sector público, cooperativo e privado da economia,
subsistiria apenas na fase de transição para o socialismo.
Art. 91º e 92°
- Objectivos do plano;
- O Plano tem carácter imperativo para o sector público estadual;
- O Plano define o enquadramento a que hão-de submeter-se as
empresas dos outros sectores.
Arts. 96° e 97º
- A reforma agrária é um dos instrumentos fundamentais para a
construção da sociedade socialista (a terra a quem a trabalha).
Dto de propriedade privada:
- Aquisição dos títulos de propriedade;
- Usar e fruir;
- Alienar;
- Dt° de não ser privado dos seus bens com excepção para as
nacionalizações e expropriações;
- O direito de propriedade é um direito de natureza análoga (artº 17º)
Dt° de Iniciativa privada
- Aceder, ou escolher as actividades económicas
- Organização e gestão
- Liberdade de contratação
ASPECTOS A TER EM CONTA NA VERSÃO ORIGINÁRIA DA CRP (1976):
A Constituição de 1976 consagra dois modelos:
- Modelo imediato (capitalismo):
Uma ordem jurídica integrada pelas instituições típicas do capitalismo e um
forte peso do sector público, resultante das nacionalizações, mas de
dimensão idêntica à dos outros países ocidentais.
- Modelo mediato (socialismo):
A consagração do socialismo autogestionário como modelo final a alcançar
pela sociedade portuguesa.
Lógica da concepção:
- A aceitação de uma economia capitalista no imediato;
- A vinculação do povo português a um fim: a transição para o socialismo;
- A liberdade de meios: prevalecia o princípio democrático.
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 Sectores de propriedade (artº 89º):


Haviam sectores vedados à iniciativa privada que deveriam ser desenvolvidos
pelo próprio Estado. A Lei 46/77 definia quais os sectores vedados de entre
os quais se destacam: a actividade bancária e seguradora, a produção,
transporte e distribuição de electricidade, gás, água e comunicações, os
transportes ferroviários, transportes colectivos, exploração de portos
maritimos e aeroportos, a indústria de armamento, petroquímica, adubeira e
cimenteira.
Existência de 3 sectores para a fase de transição com tendência para o
desaparecimento do sector público:
Sector público (lógica do interesse público) – No sector público
empresarial a propriedade e a gestão têm de ser obrigatóriamente públicas.
Este sector é constituído por 3 subsectores:
 O subsector Estadual, Regional e Local (subsector público):
- Propriedade e gestão pública;
- Tipos de empresas: Empresas Públicas (EP), soc. de capitais públicos
(SA), soc. de economia mista controlada, organizações empresariais sem
personalidade jurídica própria;
- Exemplos de empresas deste subsector: Serviços municipalizados;
 O subsector autogestionário:
- Propriedade pública e gestão colectiva dos trabalhadores;
- Tipos de empresas: Empresas auto-geridas;
- Exemplos de empresas deste subsector: Empresas em auto gestão.
 O subsector comunitário:
- Propriedade pública ou comunitária e gestão efectuada pelas
Comunidades locais;
- Não constituem organizações empresariais;
- Exemplos de empresas deste subsector: Moinhos, baldios, eiras, etc.
Sector cooperativo (lógica de cooperação e interajuda):
- Propriedade pública, privada ou da cooperativa;
- A gestão é feita pelos cooperantes, tendo estes que obedecer aos
princípios cooperativos, caso contrário passa a funcionar como as
sociedades comerciais passando a pertencer ao sector privado;
- São princípios cooperativos o princípio democrático (a cada sócio
corresponde um voto), princípio daporta aberta (livre entrada e saídados
sócios) e distribuição dos excedentes em função do valor com que cada
sócio colocou na cooperativa;
- Tipos de empresas: Cooperativas;
- Exemplos de empresas deste sector: cooperativas vinículas ou agrícolas.
Sector Privado (lógica do lucro):

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- Propriedade e gestão privada, sendo que para pertencer ao sector privado


basta que a propriedade ou a gestão sejam privadas;
- Tipos de empresas: soc. capitais privados, soc. de economia mista
participada, empresas de capitais privados intervencionadas, meios de
produção públicos concessionados a privados, meios de produção detidos
por cooperativas que não respeitaram os princípios cooperativos;
- O sector privado é definido pela via negativa, ou seja, é privada se não
couber nos outros sectores.
 Nacionalizações e expropriações:
Enquanto que a nacionalização (arts. 82°/1 e 83° CRP 1976) é um acto
político efectivado por lei que incide sobre todos os tipos de bens,
nomeadamente sobre meios ou unidades de produção. A expropriação (arts.
62°/ 2 e 82°/2 CRP 1976) é um acto administrativo que incide exclusivamente
sobre bens imóveis.
A nacionalização pode ser considerada inconstitucional, enquanto que a
expropriação pode ser considerada inválida.
As nacionalizações quanto ao objecto podem ser:
- Nacionalização de sectores de actividade económica
Implica a nacionalização de todas as empresas que aí actuarem.
Ex: nacionalização do sector da energia eléctrica.
Em Portugal o sector bancário foi quase todo nacionalizado, no entanto não
houve um sector nacionalizado na totalidade apesar de haver sectores em
que quase todas as empresas foram nacionalizadas.
- Nacionalização de empresas:
O Estado passa a ser proprietário dos bens de produção da empresa, todo o
património é transferido para o Estado. Sem órgãos para gerir e sem
património a empresa é extinta por força da lei que determinou a
nacionalização.
Os sócios da empresa têm direito a uma indeminização correspondente ao
valor das suas acções.
Em 1976 a maior parte das empresas nacionalizadas pelo Estado passaram a
ser geridas pelas EP`s.
- Nacionalização de participações sociais:
O Estado opta por nacionalizar apenas uma parte da empresa.
A empresa mantém-se e o Estado passa a ser sócio da empresa dando
origem a uma sociedade mista ou controlada se o Estado detiver a maioria do
capital ou participada se o capital for menor.
- Nacionalização de bens do activo da empresa:

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É nacionalizado apenas uma parte do activo da empresa. A empresa continua


a existir, mas com o seu património empobrecido, logo tem que ser
indeminizada.
Outra classificação:
- Nacionalizações directas:
Quando o Estado tem o objectivo de atingir ddirectamente uma determinada
empresa.
- Nacionalizações indirectas:
Quando por consequência da nacionalização de uma empresa, outra
empresa cai na esfera económica do Estado, por aquisição de partes, mesmo
se tal não era a vontade inicial do Estado.
NOTA: A indeminização justa tinha que ser prévia (antes da expropriação no
momento da mesma), integral (cobrir integralmente o valor do bem que é
perdido) e efectiva. Indeminização justa – expropriações / indeminizações
adequadas – nacionalizações.
Princípio da irreversibilidade (Art. 83° CRP de 1976)
Este princípio vigorou até à Constituição de 1989.
A regra era a de que as nacionalizações eram irreversíveis no entanto havia
uma excepção prevista no nº 2 do artº 83º da mesma Constituição em que era
permitidaa privatização desde que cumprissem de forma comulativa esses
requisitos.
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES COM A REVISÃO DE 1982:
 Neutralização ideológica
- Manutenção dos objectivos da transição para o socialismo (art 2º),
transformação numa sociedade sem classes (art 1º) e abolição da
exploração e da opressão do homem pelo homem (art 9º/d)
- Substituição da expressão “exercício do poder democrático pelas
classes trabalhadoras” pela expressão “intervenção democrática dos
trabalhadores” (art 80º/f).
- Eliminação de expressão “relações de produção”

 O fim do processo revolucionário


- A extinção do Conselho de Revolução.
- A eliminação do poder político revolucionário e a democratização plena
do regime político (art 10º).
- O reforço do sector privado definido em segundo lugar e pela via
positiva (art 89º)
- Consagração do princípio da coexistência dos três sectores (art 89º/1;
80º/c).
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 Substituição do princípio do predomínio da propriedade social pelo


princípio do desenvolvimento da propriedade social (art 80º/e)
 Substituição do objectivo das unidades de produção do sector público
estadual para formas de autogestão, pelo objectivo da co-gestão (art
90º/3)
 Manutenção da garantia do sector público estadual
- Manutenção do princ. da irreversibilidade nas nacionalizações (art 83º)
- Manutenção do objectivo da apropriação colectiva dos principais meios
de produção (art 80º/c)
- Manutenção dos sectores reservados à iniciativa pública (art 85/3 e Lei
46/77)
 Redução da reforma agrária a um do instrumentos da realização dos
objectivos da política agrícola – instrumento de realização do socialismo,
antes – (art 96º/2)
 O reforço da propriedade privada
- Restrição da possibilidade de não pagamento de indemnização ao caso
da expropriação por abandono injustificado
- Eliminação do rendimento máximo nacional (art 107º/1)
 O reforço da iniciativa privada
- Inserção entre os direitos fundamentais, a par da iniciativa cooperativa e
da iniciativa auto gestionária (art 61º)
- Eliminação da subordinação do seu exercício ao plano
 A protecção dos consumidores através do reconhecimento de direitos
(art 110º)
 Afirmação expressa do carácter meramente indicativo do plano para os
sectores público não estadual, privado e cooperativo (art 92º/2)
 Implicações em termos de sistema económico consagrado
- Reforço das instituições capitalistas
- Manutenção do objectivo do socialismo
- Maior indefinição de contornos do socialismo final
- Eliminação do caminho revolucionário

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES COM A REVISÃO DE1989:


 Descarga ideológica
- Substituição do objectivo da transição para o socialismo pelo objectivo
da realização de uma democracia económica, social e cultural (art 2º)

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- Substituição do empenhamento na transformação numa sociedade sem


classes, pelo empenhamento na construção de uma sociedade livre,
justa e solidária (art 1º)
- Manutenção da tarefa de promover o bem-estar e a qualidade de vida e
a igualdade real, e fim da tarefa estadual de abolir a exploração a
opressão do homem pelo homem (art 9º)
 Duplo esvaziamento do sector público
- Saída do subsector autogestionário e comunitário (art 82º/2)
- Substituição do princípio da irreversibilidade pelo princípio da
reprivatização de empresas antes nacionalizadas (art 85º)
 Triplo esforço do sector privado
- Possibilidade de receber empresas através das reprivatizações
- Possibilidade de criar empresas em áreas antes vedadas (alterações em
à Lei 46/77 – Lei de delimitação dos sectores vedados à iniciativa
privada, a qual faz parte da constituição económica em sentido material)
- Diminuição da possibilidade de perder empresas pela substituição do
princípio da apropriação colectiva dos principais meios de produção pelo
princípio da apropriação colectiva de meios de produção de acordo com
o interesse público (art 80º/c; 83º)
 Reunião da propriedade social num só sector (art 82º/4) e supressão do
objectivo do seu desenvolvimento.
 Fim da reforma agrária e adesão à política agrícola comum
 Paridade de reconhecimento dos direitos do consumidor com direitos de
outros agentes económicos (trabalhadores, empresários, simples
proprietários) com a sua inserção entre os direitos fundamentais (art 60º)
 Consolidação do mercado como instrumento base de coordenação da
actividade económica ou o fim da imperatividade do plano (art 91º)
 Criação de uma economia concertada.
- Extinção do Conselho Nacional do Plano e criação do Conselho
Económico-social (art 95º)
 Implicações em termos de sistema económico consagrado
- O sector privado tornado regra, a perda da importância real do sector
público, ou o triunfo da lógica capitalista
- O reconhecimento teórico, por um lado, da falência do planeamento e,
por outro, dos méritos da concertação, ou o triunfo da economia do
mercado (economia de mercado concertada entre os parceiros sociais)
- O fim do socialismo
A REVISÃO CONSTITUCIONAL EXTRAORDINÁRIA DE 1992
 Razões desta revisão extraordinária
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- A necessidade de ratificação para a entrada em vigor do tratado de


Maastricht pelos Estados que o aprovaram
- A incompatibilidade com a Constituição
- A criação de um Banco Central Europeu com competência exclusiva
para a elaboração e execução de uma política monetária única
- A colaboração dos bancos centrais nacionais (que integram o SEBC)
 As principais alterações
 A alteração do art 105º sobre a competência do Banco de Portugal
 As implicações em termos de modelo económico perfilhado
- A aplicação directa do direito comunitário e a sua primazia sobre o
direito comum interno, incluindo a Constituição
- As implicações do Tratado de Maastricht ao nível da Constituição
económica europeia
 Conclusão
- A revisão das constituições nacionais como prius para a entrada em
vigor da revisão dos tratados comunitários ou o implícito reconhecimento
dos tratados como autentica constituição europeia.
- A entrada pela porta comunitária de alterações fundamentais à
constituição económica portuguesa.
- A perda pelo Estado português de dois importantes instrumentos de
política económica (política monetária e cambial) e a redução da
margem de manobra nas restantes políticas económicas, em especial na
política orçamental.
- A subordinação do Estado português a evidentes princípios liberais nas
políticas monetária, cambial e orçamental.
AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES COM A REVISÃO DE 1997
 Retracção da iniciativa pública empresarial e liberalização de actividades
económicas básicas. Passou a ser possível a não vedação a qualquer
sector, ou seja, a abertura a qualquer sector à iniciativa privada;
- A substituição da obrigação de reservar sectores básicos para a
iniciativa pública pela faculdade de os reservar ou não (art 86º/3)
 Reforço da iniciativa privada
- A ascensão da liberdade da iniciativa privada a expresso princípio
fundamental de organização económica (art 80º/c)
- A obrigação do Estado incentivar a actividade empresarial privada (art
86º/1)

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 Reforço da regulação pública


- Para assegurar o funcionamento eficiente dos mercados (art 81º/e)
- Para garantir o cumprimento das obrigações legais, em especial por
parte das empresas que actuam em sector básicos (art 80º/1)
 Acentuação da diversidade da estrutura da propriedade dos meios de
produção
- Alargamento do sector económico e social com o sub sector de
solidariedade social (art 82/4/d)
- Qualificação expressa da economia portuguesa como economia mista
(art 80º/c)
 Implicações em termos de modelo económico consagrado
- Reforço de base capitalista como motor da economia, pelo apoio directo
ao sector privado e pela criação da possibilidade de esvaziar o sector
público empresarial
- Tentativa de criar contrapesos à base capitalista, através do apoio a
iniciativas de lógica alternativa (ou o estímulo ao 3º sector)
- Reconhecimento da crescente necessidade do Estado regulador para
contrabalançar o crescente desaparecimento do Estado empresário
- A integração constitucional europeia com a adesão total ao modelo de
economia de mercado aberto e livre concorrência resguardando a
diversidade dos tipo de propriedade, já que o Tratado das Comunidades
Europeias é neutro nessa matéria (art 222º TCE)
- Se as outras revisões constitucionais clarificaram o sistema económico,
esta clarificou, sobretudo o regime.
 Conclusão
- Em 1989 ficou clarificado o sistema capitalista. Em 1997 a preocupação
foi aclarar o regime económico;
- Por um lado, reforçou-se a base capitalista como motor da economia
(sector privado e empresa privada);
- Por outro lado, tentou criar-se contrapesos para esta base capitalista
(iniciativas do 3º sector);
- Por outro lado, o reconhecimento do Estado regulador para
contrabalançar o crescente desaparecimento do Estado empresário;
- Aproximação do modelo comunitário que veio clarificar o papel do
Estado.
VERSÃO ACTUAL DA CONSTITUIÇÃO (2001):
 Modelo Constitucional da sociedade consagrado (artºs 1º e 2º):

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- Sociedade baseada na dignidade da pessoa humana, assente na


liberdade, justiça e solidariedade;
- Realização de uma democracia económica, social e cultural.
 Posição jurídica e económica dos cidadãos:
Numa sociedade que se quer livre, justa e solidária a Constituição consagra:
Direitos e deveres económicos, direitos fundamentais de natureza económica
tais como o Dtº ao trabalho (artº 58º), Dtº dos trabalhadores (artº 59º), Dtº dos
consumidores (artº60º), Dtº dos empresários (Dtºs de iniciativa económica).
O Dtº à iniciativa económica pode ser do tipo privada, cooperativa ou
autogestionária e contempla a liberdade de acesso, de desenvolver
actividades económicas, de organização e de gestão.
Os direitos económicos são direitos análogos aos Direitos, Liberdades e
Garantias porque são direitos negativos tais como os DLG`s em que o Estado
nada pode fazer, não se pode exigir ao Estado a concretização destes
direitos.
Tal como os DLG`s, estes direitos só podem ser restringidos nos casos
expressamente previstos na lei em que se torna necessário para
salvaguardar outro direito ou interesse constitucionalmente previsto, devendo
respeitar o princípio da proporcionalidade.
 Posição jurídica e económica do Estado:
A Constituição consagra tarefas fundamentais que o Estado tem que
desempenhar (artº 9º), bem como as suas incumbências prioritárias (artº 81º)
e outros objectivos a cumprir (artºs 93º, 99º, etc.).
As principais funções, de natureza económica e social, que o Estado deve
assumir são:
- Tem uma função ordenadora da actividade económica, na medida em que
cria as leis fundamentais, de acordo com as quais se deve desenvolver a
actividade económica;
- Tem uma função reguladora, na medida em que adopta medidas que
tenham em vista corrigir ou alterar aquilo que seria o comportamento dos
agentes económicos, no sentido de garantir o bem-estar económico geral;
- Tem uma função prestadora, na medida em que garante a educação,
saúde, etc, uma garantia de bem-estar;
- Tem uma função empresarial, assumindo o papel de agente económico.
 Princípios essenciais em que assenta a organização e o
funcionamento da economia portuguesa:
 Princípio da subordinação do poder económico ao poder democrático
(artº 80º)

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- Participação ou intervenção dos interessados (trabalhadores,


consumidores) em todas as instâncias do Governo da Economia
(Empresa, órgãos de consulta da política económica e social –
Conselho Económico-Social);
- Controlo público do poder económico privado, impedindo-o de se tornar
um poder que interfira nas decisões políticas.
 Princípio da coexistência dos sectores público, privado e cooperativo
e social (artº 80º)
- Garantia da existência dos 3 sectores em que assenta a economia
portuguesa;
- Impede o legislador ordinário de extinguir qualquer um dos 3 sectores;
- Limite material de revisão constitucional (alínea f) artº 288º)
 Princípio da alternatividade de apropriação pública e privatização dos
meios de produção
- Tanto se podem fazer nacionalizações como privatizações desde que
seja de acordo com o interesse público (artº 83º e alínea d) artº 80º);
- Grande abertura da Constituição em relação às nacionalizações e
privatizações tendo como critério e limite o interesse público;
- O Tratado da União Europeia em nada prejudica o disposto nos estados
membros em relação à propriedade dos meios de produção, sendo que
obriga ao princípio de igualdade de tratamento entre empresas públicas
e privadas.
 Princípio da compatibilidade das iniciativas económicas empresariais
públicas, privadas, cooperativas e autogestionárias (artº 61º)
- Pode-se fazer tudo o que não seja proibido (possibilidade de vedação
de sectores) – princípio da liberdade;
- A base da nossa economia é a iniciativa privada;
- Quando se fala em iniciativa pública advém que o Estado só pode
actuar quando para tal estiver autorizado ou quando tal se justifique. O
Estado não é totalmente livre.
 Princípio da complementaridade da autoregulação da economia pelos
princípios de mercado com a heteroregulação pública e
autoregulação corporativa
- A regra é a autoregulação natural (mercado), mas há heteroregulação
pública (artificial) e autoregulação corporativa (artificial) – Ex: Ordem
dos advogados.
- Há competências reguladoras que passaram do Estado para a
Comunidade Europeia (princípio da comunidade aberta e de mercado).
 Princípio da concertação económica e social (artº 90º)
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 Princípio de uma economia mista de bem-estar


- Esta economia não dispensa uma componente forte de bem-estar;
- Estão consagrados Dtos económicos sociais e culturais aos cidadãos e
impostas tarefas e incumbências ao Estado;
- O Estado tem uma função prestadora;
- É reforçado o Estado Providência;
- Proibição da revogação simples, ou não substitutiva, de normas
ordinárias implementadoras de preceitos constitucionais não exequíveis
por si mesmo. Significa que as disposições ordinárias constituidoras de
normas de bem-estar não podem ser revogadas sem serem
substituídas;
- Em caso de pluralidade de sentidos de uma norma concretizadora das
normas ou incumbências de bem-estar deve-se dar preferência à
interpretação conducente à máxima efectividade;
- Qualquer retrocesso na implementação jurídica de um determinado
grau ou substituição de bem-estar devesersempre justificado sob pena
de inconstitucionalidade (princípio da proporcionalidade).

 Relações económicas com o exterior:


*

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 CONCLUSÕES:
- É uma constituição aberta, onde são possíveis várias opções dando
amplas liberdades ao legislador ordinário e ao Governo para conduzir a
política económica;
- São garantidos diversos sectores comlógicas diferentes;
- São garantidas diversas iniciativas económicas;
- É uma economia de base capitalista (base privada, iniciativa privada,
mercado), mas com intervenção do Estado (Empresa pública, iniciativa
pública, plano), gerando uma economia mista;
- Consagra um regime intervencionista (função prestadora com uma
componente fortede bem-estar.

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