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MARCAS
Margareth Michel
Storytelling e marcas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Definir storytelling.
Descrever a estrutura de uma história.
Analisar marcas que fazem história.
Introdução
A narrativa, ou o ato de contar histórias, também conhecido como
storytelling, possivelmente surgiu dentro da história da evolução humana
junto com o próprio ser humano e ainda hoje é relevante. Ainda que tenha
sido utilizada inicialmente para transmitir e compartilhar informação e
conhecimento entre os homens primitivos, com o objetivo de passar as
experiências e o conhecimento dentro dos grupos sociais, a narrativa é
vista como um elemento que contribuiu e contribui para a construção
social da realidade e para a identidade dos indivíduos.
Outro atributo da narrativa é que o nosso cérebro processa não so-
mente a história, mas as emoções humanas nela contidas. Tal fato permite
que, ao compreendermos os pensamentos e sentimentos dos outros,
sejam criados vínculos emocionais verdadeiros, que se transformam em
confiança e, eventualmente, em rendimentos.
Neste capítulo, você vai estudar o conceito de storytelling, verificando
a estrutura das histórias e analisando marcas que utilizam essa ferramenta
em suas estratégias comunicacionais.
Storytelling
O storytelling, também conhecido como narrativa ou arte de contar histórias,
aproxima as pessoas e pode ser muito bem aplicado para vender a imagem
da empresa, bem como seus produtos, serviços ou ideias. Isso porque, ao
apresentar algo por meio de uma narrativa, conseguimos nos comunicar de
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Definindo storytelling
Para definir ou conceituar storytelling — em síntese, uma narrativa que conta
histórias relevantes —, antes de mais nada, é necessário abordar a importância
de contar histórias, arte milenar exclusiva das sociedades humanas. Muitos
estudiosos apontam para o surgimento da contação de histórias já nos primór-
dios da humanidade, quando os primeiros grupos humanos se reuniam em
volta das chamas das fogueiras para contar histórias uns aos outros. Segundo
Farias (2011, p. 20), tais histórias eram:
[...] sobre suas aventuras na luta pela sobrevivência, para dar voz à percep-
ção fenomenológica dos eventos naturais e sobrenaturais, e, assim, entrar
em conformidade com a ordem social e cósmica. Algumas dessas histórias
ficaram registradas nas paredes das cavernas e ainda resistem às intempéries
acontecidas durante os milhares de anos.
contexto social dentro do qual ele vive, no qual as histórias têm papel relevante.
Os discursos sobre o mundo, incluindo as narrativas, são práticas discursivas
de construção do mundo. O mundo físico e o mundo das relações sociais são
referentes imprescindíveis para a criação de significados, conforme Motta (2013).
O filósofo alemão Walter Benjamin (1993) fez inúmeras pesquisas com o
objetivo de entender qual é a importância de se contar histórias, buscando des-
vendar quais as pistas que a tradição de contar histórias traz para a descoberta
das relações humanas ao longo da história, afirmando que a humanidade criou
a arte de contar histórias para conseguir trocar experiências. Segundo o autor,
as narrativas de maior valor, aquelas histórias arcaicas que se aproximam da
tradição oral, passadas de geração em geração, têm o poder de acumular em
si o imaginário social de quem as conta. Essa articulação pode nos levar a
entender muito sobre as conexões sociais, já que explicitam que o aprendizado
dos homens e sua maneira de lidar com o mundo se deu a partir de uma mistura
de duas visões: a visão tradicional, que repete ensinamentos, e a visão que
chega com os novos ensinamentos a serem incorporados.
Benjamin (1993) buscou encontrar um ponto comum entre os diferentes
tipos de narrativa existentes e a narrativa moderna, pois, para ele, o homem
moderno perdeu a capacidade de narrar histórias. Para Benjamin, a passagem
da narração — uma história coletiva, que se aproxima da tradição oral e da
memória social — para a história individual, que conta com fio condutor e
protagonista, indica uma mudança que ocorreu na sociedade e na maneira
como o ser humano se relaciona com o mundo e os seus semelhantes.
As narrações são histórias que se aproximam da memória coletiva dos
povos e que têm a capacidade de contar muito sobre a história, os costumes
e a tradição de uma determinada sociedade. A era da informação é a ameaça
que coloca essa tradição em cheque, porque, a partir do aparecimento da
informação, os indivíduos perdem a capacidade de enxergar o mundo a partir
de uma tradição coletiva e de receber conselhos e dar seguimento aos costumes
do seu próprio povo. Esse indivíduo novo, que rejeita as experiências coletivas
e parte para construir sua visão de mundo a partir da sua própria ótica, está
mergulhado em uma sociedade em que o individualismo é a chave para o
êxito. Nessa sociedade, as experiências narrativas são efêmeras e solitárias e
se baseiam em histórias que possuem um protagonista destacado do seu tempo
e espaço, e não na memória de um povo ou de um lugar.
Considerando outro ângulo da questão narrativa, o economista estadu-
nidense Herbert Simon, em 1971, observou que a quantidade de informação
pode continuar crescendo, mas a quantidade de atenção humana é limitada.
Em função do crescimento do volume de informação com que lidamos no
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dia a dia, nossa atenção fica mais escassa. Thomas Danvenport e John Beck
expõem a mesma temática no livro A economia da atenção, e muitos autores
continuam abordando esse tema, que é global. Assim, à medida que a maioria
dos países ricos migra da economia da informação para os serviços, o tempo
e a atenção tornam-se tão valiosos quanto o dinheiro. Nesse contexto em que
a sociedade moderna se encontra, as pessoas buscam novas opções. Em sua
obra Além da globalização, Hazel Henderson (apud PALACIOS; TERENZZO,
2016, p. 7) aponta que:
ao ouvir, o ser humano desperta para situações que não tinha pensado
antes e amplia seus conhecimentos, o que lhe permite rever e reelaborar
alguns valores;
as histórias mantêm sempre aceso o farol da imaginação, da criatividade,
da curiosidade e da ludicidade.
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https://goo.gl/0k9yD7
https://goo.gl/SbvR4x
https://goo.gl/5eMTSJ
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realidade efetiva, pois o que perdura são as lições, valores, dilemas e posi-
cionamentos morais ou éticos desses personagens. No contexto empresarial,
isso é visto com frequência à medida que as organizações homenageiam seus
fundadores e pioneiros. Estes, em alguns casos, viram “super-homens”. De
fato, não importa mais quem de fato foram personagens, mas sim o que eles
representam para o inconsciente coletivo das organizações.
Huggies® e parcerias
A Huggies®, marca da multinacional americana Kimberly-Clark, promoveu ações
especiais para celebrar o Dia Internacional do Abraço, comemorado no dia 22 de maio,
utilizando em suas ações o storytelling. A marca, que tem “abraço” em seu próprio
nome — uma mistura de hug (abraço, em inglês) com babies (bebês, em inglês) —
realizou uma pesquisa global identificando diversos benefícios que o gesto de abraçar
pode gerar no desenvolvimento infantil. O estudo foi baseado em um artigo desen-
volvido pela Canadian Association of Paediatric Health Centres (Associação Canadense
de Centros de Saúde Pediátrica), em colaboração com a marca, e foi aprofundado
no Brasil em parceria com a consultoria MC15, destacando o efeito positivo do afeto
humano em nossa vida.
A primeira comemoração à data foi uma homenagem aos nascidos no Dia do
Abraço. A partir da meia-noite do dia 22 de maio de 2018, uma equipe estava pronta
para fotografar os bebês que nasceram nessa data tão representativa para a marca e
homenageá-los em veículos digitais. Os registros do momento mais especial da vida
dessas famílias foram feitos diretamente da maternidade e exibidos em banners em
portais de notícias, como Globo e UOL, e nas redes sociais da marca.
Outras parcerias também aconteceram no dia 22 de maio de 2018, uma delas com a
Digipix, marca de soluções de registros fotográficos. Nessa ação, a Huggies® presenteou
seus seguidores com quatro imãs de fotos. A ação foi divulgada pelo Facebook, junto
com a dinâmica e as regras de participação, e teve grande adesão.
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Outra parceria realizada foi com a Bebok, que foi responsável pela ação de relações
públicas e relacionamento com influenciadores para o projeto “Mães e Abraços”, criado
pela VML para a Huggies Brasil. Durante o mês de maio, o perfil da @huggiesbrasil
no Instagram foi preenchido por imagens de mães e filhos que representavam o
ato de abraçar, para homenagear o Dia das Mães e o Dia do Abraço. Ao todo, foram
selecionadas 31 fotos de nove instagrammers influentes, que contavam aspectos
afetivos e apresentavam um olhar poético sobre a relação das mães com seus filhos.
Já a parceria com a Ogilvy tinha um objetivo definido e mensurável: criar um rela-
cionamento profundo com as mamães grávidas, pois a empresa queria construir um
engajamento mesmo antes de o bebê nascer. Para atingir esse objetivo, decidiu en-
volver as gestantes. A campanha foi mais uma forma de reforçar o que a Huggies
vem trabalhando como marca: a importância do abraço como elemento essencial
para o desenvolvimento das crianças. Por meio da campanha “Entrega de Abraços”,
foi criado um vídeo poderoso que levou a uma reação muito emotiva por parte das
pessoas — especialmente das mães e futuras mamães. O vídeo foi assistido por
milhões de pessoas, e muitas compartilharam o vídeo e a história por trás dele. Esse
vídeo está disponível no link abaixo:
https://goo.gl/7hV6Rg
https://goo.gl/UxcfKd
COUSINEAU, P. (Org.). A jornada do herói: Joseph Campbell – vida e obra. São Paulo:
Ágora, 2004.
DENNING, S. Effective storytelling: strategic business narrative techniques. Strategy &
Leadership, Chicago, v. 34, n. 1, p. 42–48, 2006.
FARIAS, C. A. Contar histórias é alimentar a humanidade da humanidade. In: PRIETO, B.
Contadores de história: um exercício para muitas vozes. Rio de Janeiro: [s.n.], 2011. p. 19–24.
GOLDMAN, F. Narrativas na empresa. In: PRIETO, B. Contadores de história: um exercício
para muitas vozes. Rio de Janeiro: [s.n.], 2011. p. 151–156.
MALERBA, J. (Org.). História e narrativa: a ciência e a arte da escrita histórica. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2016.
MATOS, G. A. Storytelling: líderes narradores de histórias. 1. ed. Rio de Janeiro: Quali-
tymark, 2010.
MCSILL, J. 5 Lições de storytelling. Fatos, ficção e fantasia. São Paulo: DVS Editora, 2013.
MOTTA, L. G. Análise crítica da narrativa. Brasília/DF: Editora UnB, 2013.
NUÑEZ, A. É melhor contar tudo. São Paulo: Nobel, 2009.
PALACIOS, F.; TERENZZO, M. O guia completo do storytelling. Jacaré, RJ: Alta Books, 2016.
XAVIER, A. Storytelling: histórias que deixam marcas. Rio de Janeiro: Best Bussiness, 2015.
Leituras recomendadas
BANDEIRA, P. et al. Os contadores de histórias: literatura em minha casa. São Paulo:
Melhoramentos, 2003. v. 2.
DENNING, S. O poder das narrativas nas organizações. Rio de Janeiro: Campus; Elsevier,
2006.
FRANCO, M. Storytelling e suas aplicações no mundo dos negócios. São Paulo: Atlas, 2015.
GALLO, C. Storytelling: aprenda a contar histórias com Steve Jobs, Papa Francisco,
Churchill e outras lendas da liderança. Jacaré, RJ: Alta Books, 2018.
KNAFLIC, C. N. Storytelling com dados. Jacaré, RJ: Alta Books, 2017.
NONAKA, I.; KONNO, N. The concept of “Ba”: building foundation for knowledge creation.
California Management Review, v. 40, n. 3, Spring 1998.
NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas
japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
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