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Fonte: A dimensão Espiritual do Eneagrama: As nove faces da alma - Sandra Maitri

A CRIANÇA ANÍMICA DO TIPO


1 (UM) DO ENEAGRAMA

Por trás de todo o moralismo, a probidade e a integridade do Tipo Um, vive uma criancinha que não está nem
um pouco preocupada em ser boazinha ou agir corretamente. Tudo o que ela quer é brincar, se divertir e
absorver todas as coisas boas que a vida tem a oferecer — um pequenino Tipo Sete. A criança anímica do Tipo
Um quer experimentar todas as marcas de chocolate e dar uma mordida na bolacha de cada uma das outras
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crianças. É um glutãozinho que quer abocanhar pedacinhos estimulantes de todas as coisas que lhe chegarem
às mãos; que quer ter três atividades ao mesmo tempo para poder pular de uma à outra sempre que as coisas
ficarem monótonas.
Sua gula pode chegar ao grau do hedonismo, no qual a qualidade essencial do Amarelo ou da Alegria se
manifesta de maneira distorcida como uma busca desregrada do prazer. O conhecidíssimo porta-voz da
Maioria Moral ou cristão evangélico que é pego de calças curtas ou com a mão no caixa representa o
extravasamento dessa criança anímica sensualista e bon vivant.
Quando o Tipo Um consegue ir além das suas críticas e preconcepções, quando é capaz de admitir a existência
dessa sua partezinha hedonista, as manifestações distorcidas dela começam a transformar-se. Ele
compreende que os anátemas que lança contra os pecados e imperfeições dos outros não passam de
tentativas de defender-se contra a sua própria criança anímica. Esforça-se tanto para ser bom porque desde
muito cedo percebeu que o seu desejo de se divertir e brincar não era aceitável. A alegria em si mesma era
uma espécie de tabu, e assim a vida transformou-se numa tarefa árdua, num fardo pesadíssimo a ser
carregado. Quanto mais o Tipo Um penetra nos desejos de sua criança anímica, tanto mais entra em contato
com o amor e o gosto pela vida que estão por trás deles. Seu coração se preenche com a pura alegria da
Criação — a obra e a manifestação do Ser — e não volta mais o olhar para o que há de errado com todas as
coisas, pois percebe agora, antes de mais nada, o quanto elas são maravilhosas.

A CRIANÇA ANÍMICA DO TIPO


2 (DOIS) DO ENEAGRAMA

Por trás da fachada amorosa, generosa e prestativa do Tipo Dois vive uma criancinha competitiva, invejosa e
rancorosa de Tipo Quatro. O Tipo Dois procura apresentar-se como pessoa doce e bondosa, humilde e
abnegada, mas tudo isso pode ser visto como uma reação às tendências mais negras de sua criança anímica.
Trata-se de um menininho que quer gritar "Eu te odeio!" para outro menininho que ganhou a atenção da
professora ou da mamãe, quer puxar-lhe o cabelo e, de lambuja, dizer-lhe o quanto ele é bobo e chato. Vive
sempre atento para quantas bolachas cada um vai ganhar, procura pegar para si as mais cheias de recheio e
reage com ódio e rancor quando não obtém o que quer. É cheio de inveja, pois acredita que os outros meninos
têm o que ele não tem e que são, além disso, melhores que ele, mais bonitinhos e mais dignos de amor. Às
vezes, essa criança é vil e traiçoeira, briguenta e vingativa. O Tipo Dois muitas vezes tem dificuldade para
admitir e tolerar a negatividade e a mesquinhez da sua criança anímica. Ela ameaça toda a sua pretensão de
ser uma pessoa inofensiva, de coração aberto; e, acima de tudo, o coloca em primeiro lugar. Mas esse é, na
verdade, o elemento mais necessário para o progresso do Tipo Dois — pôr-se no centro das coisas. Na mesma
medida em que entrar em contato com sua criança anímica e, em vez de rejeitá-la, julgá-la e afastá-la de si,
procurar abrir-lhe o coração — nessa mesma medida, há de adquirir posição primordial em sua própria
consciência. Isso é tabu para o Tipo Dois, que aprendeu que o egocentrismo atraía a desaprovação dos pais.
Mas ele verá que, quando começar a concentrar-se mais em si mesmo — percebendo as suas próprias
necessidades e atendendo-as, seguindo os seus próprios impulsos e tomando iniciativas, reconhecendo seus
próprios limites e deixando-os claros para os outros —, começará de fato a centrar-se em seu próprio ser
verdadeiro. Isso não é uma coisa negativa, como ele temia; não acarreta para ele o egoísmo e a perda da
estima das outras pessoas, mas, sim, representa um passaporte para o estabelecimento de um vínculo pessoal
com o Ser. Em outras palavras, quanto mais ele cuidar de si diretamente em vez de cuidar dos outros na
esperança de que eles cuidem dele, e quanto mais o bem que fizer for desinteressado e proporcional às suas
capacidades efetivas, tanto mais há de contactar a centelha divina que traz dentro de si e perceber-se como
o próprio Ponto Essencial. Em vez de fazer dos outros o Sol em torno do qual orbita, há de ver-se uno com o
Ser, uma estrela cintilante, centro do seu próprio universo.

A CRIANÇA ANÍMICA DO T I PO
3 (TRÊS) DO ENEAGRAMA

O ponto do coração do Tipo Três é o Ponto Seis e, por isso, detrás da fachada de eficiência e tranquilidade que
caracteriza o Tipo Três mora uma criancinha muito medrosa. Tímida, envergonhada e insegura, esse menino
vê o mundo como um lugar maligno e hostil. As outras pessoas parecem tão ameaçadoras que, às vezes, ele
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chega a ter um medo paranoide de que elas o destruam; e por mais numerosas que sejam as realizações do
Tipo Três, por mais que ele tenha obtido sucesso no exterior, ainda percebe a si mesmo, lá no fundo, como
um dos fracotes na luta pela sobrevivência. Com efeito, todos os esforços de realização do Tipo Três podem
ser vistos como urna reação a essa amedrontada criança anímica — uma tentativa de contrapor- se a essa
parte do seu ser e superá-la. Isso explica por que o sucesso já obtido nunca é suficiente. Se o Tipo Três não
digerir e integrar a sua criança anímica, o medo e a insegurança interiores não serão jamais mitigados por
nenhum grau de status e poder. Do ponto de vista da criança da alma, a imagem do Tipo Três não passa de
urna tentativa de camuflar essa estrutura anímica amedrontada e imatura. Para se desenvolver, o Tipo Três
tem de fazer as pazes com essa criança que parece não sentir jamais um chão firme debaixo dos pés. Se
reconhecer o seu medo e procurar ver a que ponto ele constitui urna força motriz dentro de sua psique, sua
ansiosa criança interior há de sentir-se acolhida e, por isso, mais segura. Esse processo por si só há de
transformar, com o tempo, o medo em confiança, firmeza e tranquilidade, e o Tipo Três compreenderá que
essas mesmas qualidades que tinha quando criança não eram toleradas nem promovidas pelo ambiente.
Talvez a situa- cão da família tenha posto em xeque e finalmente destruído a sua manifestação original da
Vontade essencial; pode ser também que a facilidade que ele tinha para fazer as coisas o tenha marcado como
alvo de inveja e ódio para os pais ou para os irmãos, que chegaram por fim a minar a sua autoconfiança.
Independentemente da psicodinâmica, quanto mais o Tipo Três integrar a criança anímica à sua consciência,
tanto mais há de sentir-se pisando sobre terreno sólido e seguro.
Percebendo a Essência como o verdadeiro fundamento de seu ser, sua alma há de descansar e repousar sobre
o esteio do Ser. Sua hiperatividade, alimentada pela ansiedade da criança interior, há de transformar-se, com
o tempo, na tranquilidade intima e na ação sem esforço da verdadeira Vontade.

A CRIANÇA ANÍMICA DO TIPO


4 (QUATRO) DO ENEAGRAMA

Por trás da fachada dramática e emotiva do Tipo Quatro vive uma criancinha mandona e agressiva, de Tipo
Um, que faz questão de que todas as outras crianças se comportem direitinho — assume o papel de fiscal para
ver se nenhuma delas fura a fila, se suas roupas estão limpinhas e se obedecem às leis de boas maneiras. Essa
criança anímica é um santinho de pau oco, presunçosa e empertigada, que vive a criticar todos os que não
seguem as regras. Preocupa-se muito com a justiça e o corretismo e fica muito brava quando as outras crianças
são malvadas. Mas, ora, elas são crianças problemáticas, que precisam ser endireitadas — e aí vemos a
tendência do Tipo Quatro de culpar os outros pelos seus problemas e de levantar a guarda imediatamente
quando uma "imperfeição" sua é apontada. O Tipo Quatro acha difícil admitir a existência dessa criança
anímica ressentida e convicta da própria justiça, pois ela parece ser o seu maior defeito, que o torna suscetível
aos ataques e ao ódio que costuma dirigir contra si mesmo. Mas a tarefa de trazer a criança anímica à
consciência não implode a agressividade do Tipo Quatro nem faz com que ela se volte contra ele mesmo;
muito pelo contrário, colabora muitíssimo para a resolução dos seus sofrimentos interiores. Quanto mais ele
a vê, tanto mais é capaz de admitir a própria defensividade e a necessidade de estar sempre certo — e, com
isso, sua alma pode abrir mão do controle que mantém sobre as coisas. A compreensão dessa necessidade de
controlar os outros e levá-los a fazer o que ele mesmo quer, deixa claro que ele simplesmente não percebe a
perfeição das coisas tais e quais elas são e, mais ainda, não percebe a própria perfeição. Mas, à medida que
for integrando a criança anímica, verá que a pureza, a luminosidade e o fulgor intrínsecos da sua alma não lhe
foram mostrados na infância, nem tampouco era permitida a expressão dessas coisas. Perdendo o contato
com o Aspecto do Fulgor, que lhe era natural, sentiu-se ferido e desenvolveu, em reação a isso, um estilo de
personalidade baseado na distância, na solidão e na ânsia pelo estabelecimento de um vínculo com algo fora
de si mesmo. Quanto mais o Tipo Quatro integrar a criança anímica, tanto mais esse serzinho empertigado há
de transformar-se numa sensação brilhante de integridade interior, perfeição e elegância. Em vez de levar
uma vida baseada na inveja, no luto e no anseio de contato com algo que permanece sempre inacessível, ele
verá que a perfeição que busca está dentro de si; verá que a grama deste lado da cerca, afinal, já está bem
verdinha. Essas descrições sumárias têm o objetivo de servir de guia para a exploração interior e a elaboração
de um conhecimento sobre a nossa alma. É importante lembrar que as qualidades do ponto do coração são
aquelas contra as quais nós mais nos defendemos, contra as quais estamos mais prevenidos. Por isso, pode
ser que a gente não queira ver e admitir a existência da nossa criança anímica. Em vista desse fato, as
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informações dadas nas páginas precedentes podem ter sido ainda mais difíceis de absorver do que as
informações sobre o nosso tipo do Eneagrama. A experiência me diz que são necessários vários anos de
trabalho dedicado para termos a coragem de perceber — que dirá então de integrar — a nossa criança
anímica. O maior obstáculo são os juízos e críticas que já formamos e dirigimos contra essa parte nossa; e,
para empreender essa exploração interior, é necessário de identificar- se do superego. Embora essa parte do
trabalho com a alma seja um difícil confronto com a realidade do nosso ser, ela sempre nos traz muitas
recompensas; além disso, dela depende o nosso desenvolvimento enquanto adultos plenamente
amadurecidos.

A CRIANÇA ANÍMICA DO TIPO


5 (CINCO) DO ENEAGRAMA

Dentro de cada Tipo Cinco, fechado, recolhido e silencioso, vive uma criancinha anímica de Tipo Oito que
sonha em acertar as contas com os que a provocam e devorar litros e litros de sorvete. Essa criança adora
rolar na lama, brincar de lutinha com as outras crianças e mergulhar luxuriosamente na vida. Ela se manifesta
quando o Tipo Cinco, fechado dentro do seu carro, amaldiçoa os outros motoristas; quando grita com o juiz
enquanto assiste a um jogo de futebol pela TV; quando condena todos os políticos como corruptos ao ouvir o
noticiário noturno. A criança anímica do Tipo Cinco é um pequenino valentão intolerante, convicta de que está
certa e fechada a quaisquer outras possibilidades. Pode ser defensiva e negar todas as fraquezas que percebe
em si mesma, reagindo agressivamente quando posta à prova. Pode ser vingativa e querer acertar as contas
com aqueles que, segundo o seu modo de ver, lhe fizeram mal. O Tipo Cinco pode ter uma certa dificuldade
para reconhecer e admitir essas tendências da sua criança anímica, uma vez que elas são sinais de uma
intimidade veemente com a vida que lhe parece extremamente ameaçadora. Quando ele era criança, por
algum motivo, sua atitude apaixonada e entusiástica em relação à vida não foi promovida nem alimentada.
Sua vibração, sua vitalidade, sua força e sua coragem — a encarnação, nele, do Aspecto Essencial do Vermelho
— foram sufocadas. As tendências vingativas da sua criança anímica, que se manifestam quando ela começa
a aparecer, podem ser a reação da
alma a esse sufocamento. Como o Vermelho lhe era proibido, o Tipo Cinco retirou-se e separou-se da sua
própria vitalidade. Mas, na mesma medida em que permite que a sua criança anímica vigorosa e dinâmica
venha à tona, o Tipo Cinco aos poucos volta a ter acesso à sua vitalidade e passa a sentir-se mais ligado à vida
em si mesma. Ao integrar sua criança anímica, seu conhecimento torna-se mais verdadeiro e abrangente, pois
o coração e a barriga também passam a determiná-lo. Quando, pois, ele adquire coragem para enfrentar o
desconhecido, sua vida se transforma cada vez mais numa aventura empolgante e envolvente, na qual ele
mergulha de corpo inteiro.

A CRIANÇA ANÍMICA DO TIPO


6 (SEIS) DO ENEAGRAMA

Dentro de cada Tipo Seis há uma criancinha preguiçosa — Tipo Nove — que só quer saber de ficar debaixo das
cobertas, não quer sair e enfrentar o mundo e adora o conforto e as distrações. Por isso, o Tipo Seis muitas
vezes acha que, se relaxar e repousar sobre si mesmo, tornar-se-á inerte e nunca mais será capaz de se mexer;
e tem medo de que venha assim a descuidar das coisas que precisa fazer na vida. É claro que isso só acontece
porque, fora do campo de visão da consciência, vive essa criancinha que não quer fazer nada exceto deleitar-
se com prazeres e distrações. Essa indolência interior constitui, na verdade, o objeto que mais mete medo no
Tipo Seis — é possível que ele tenha mais medo dessa tendência sua do que de qualquer outra coisa. Tem
medo de que, caso pare de espicaçar-se com sua falsa vontade, tudo se perca e ele mesmo se afunde num
pântano de preguiça. Acha que, se não se esforçar, nada acontecerá e sua vida irá por água abaixo.
Quando tem coragem suficiente para parar de lutar e simplesmente esperar um pouco, o Tipo Seis pode, de
início, sentir uma espécie de imobilidade ou falta de desejo de fazer o que quer que seja. Com o tempo, a
inércia e a indolência da sua criança interior vão transformar-se nas realidades mesmas que procuram imitar:
o acolhimento amoroso do Ser, um sentimento de estar seguro nos braços de Deus, a consciência de que o
amor é a matéria prima do nosso ser e nos une a toda a existência. A doçura e a benevolência do universo —
a dimensão da Luz Natural Viva — passarão a fazer parte do seu sentido de eu e o medo em sua alma há de
desaparecer aos poucos, na mesma medida em que o Tipo Seis for percebendo o quão inextricável é o vínculo
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que o liga ao Ser. Por fim, toda a mentalidade de ter medo dos outros vai desaparecer, pois ele reconhecerá
que a sua natureza é idêntica à de tudo o que existe e que as ideias de "eu" e de "outro" são puramente
ilusórias. Tendo o Ser por fundamento interior e a percepção de Sua imanência em todas as formas exteriores,
o Tipo Seis terá enfim encontrado um rochedo firme no qual se escorar.

A CRIANÇA ANÍMICA DO TIPO


7 (SETE) DO ENEAGRAMA

Dentro de cada Tipo Sete, com toda a sua aparência magnânima e despreocupada, vive uma criança anímica
muito recolhida, contida e avarenta — um Tipinho Cinco. Apega-se ela tenazmente a tudo o que tem,
guardando em casa todos os seus doces e brinquedos para não ter de reparti-los com as outras crianças.
Movida pelo medo da perda e por uma sensação interior de escassez, ela se sente vazia por dentro e tem
medo de não obter o seu sustento. Apesar do gregarismo, do otimismo e do entusiasmo aparentes do Tipo
Sete, essa criancinha interior quer é se esconder da vida e limitar-se a observá-la de longe. Pode ser também
uma sabichãzinha que confia sobretudo em sua mente. É possível que na infância do Tipo Sete ele não tenha
podido extravasar sua tendência à reclusão, à solidão e à reserva, e tenha concluído disso que precisava ser
mais animado e extrovertido. É possível também que as suas faculdades mentais tenham sido promovidas e
desenvolvidas à custa de uma compreensão mais vital e intuitiva, transformando-o num intelectualzinho que
se sentia diferente das outras crianças. O brilho exterior do Tipo Sete surgiu como um meio de mascarar para
os outros e para si mesmo a sensação interior de escassez e de distanciamento, de não se sentir parte do
grupo ou da família, de não se encaixar em lugar nenhum.
O Tipo Sete sente a necessidade de ser alegre, otimista e entusiasmado e tem muita dificuldade para admitir
a existência dessa parte recolhida, atemorizada e reservada de si mesmo. O que lhe parece mais difícil é a
sensação de escassez que move a sua criança anímica — a aridez e o vazio interiores. No começo, o Tipo Sete
tem a impressão de que o contato com isso põe em risco a sua própria vida. Mas, na mesma medida em que
ele não julga nem condena essa parte do seu ser, as tendências avarentas e isolacionistas se transformam.
Isso acontece sobretudo porque a sua ideia de ser uma entidade absolutamente isolada — e, portanto,
separada do resto da existência — é posta em questão. Seu conhecimento mental e livresco se transmuda
num conhecimento vivo e verdadeiro, o conhecimento da Consciência Diamantina. Quando a ideia de
separação irredutível em relação ao Ser e aos outros seres se desfaz, e quando o seu deserto interior é
vivificado pelo florescer de todas as flores da Essência, sua alma adquire o verdadeiro conhecimento direto.
Sente-se parte do Todo e compreende por experiência que a separação é impossível. Então, seu entusiasmo
já não é reativo, mas real.

A CRIANÇA ANÍMICA DO TIPO


8 (OITO) DO ENEAGRAMA

Dentro do Tipo Oito, que adora pôr a si mesmo e aos outros à prova, dominar e controlar a vida e triunfar
sobre todas as adversidades, vive uma criancinha solitária, carente e apegada, de Tipo Dois, que daria tudo só
para ser amada e acolhida. Essa criança anímica do Tipo Oito quer aconchegar-se junto aos outros e pode
chegar a exigir isso com bastante insistência. Por baixo de todas as demonstrações de força do Tipo Oito está
essa criança na qual abundam todas as emoções que ele considera fracas — precisar dos outros, ter medo da
rejeição, sentir-se inseguro, triste e sozinho. Como sentiu que suas qualidades amorosas e sociáveis não eram
aceitas na infância, o Tipo Oito reagiu, em resumo, mandando para "aquele lugar" todas as pessoas das quais
se sentia dependente e caindo na vida para provar que não precisava de nada nem de ninguém. Escondeu o
seu coração, que lhe parecia vulnerável, por trás de uma armadura de grosseria e falta de sensibilidade; e,
nesse processo, perdeu toda a capacidade de abertura e receptividade.
Quando o Tipo Oito entra em contato com a defensividade que está por trás do seu orgulho e as sensações de
carência e rejeição que subjazem a ele, pode ter a impressão de que todo o seu mundo vai ruir. Fez tudo o
que podia para não perceber esses pontos "fracos" em sua alma e sente que não vai sobreviver se deixá-los
vir à tona. Mas, na mesma medida em que aceita fazer contato com a carência e o sofrimento, seu coração
pode novamente se abrir e sua alma pode tornar-se permeável. Ele pode, enfim, deixar-se tocar de novo; e, à
medida que for interagindo com a realidade sem revestir-se de uma carapaça tão dura, há de sentir-se cada
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vez mais intimamente ligado à vida. Em vez de procurar arrancar da vida e do mundo as coisas de que precisa,
verá que sua alma descansa, se liquefaz, se funde com sua natureza essencial, cujo néctar dulcíssimo há de
lhe preencher inteiro sob a forma de Ouro Líquido. Em vez de lutar contra a realidade, há de unir-se com ela;
e, na medida em que for se entregando cada vez mais ao seu Ser, há de ver que essa entrega não é uma
capitulação, como temia, mas a garantia da satisfação e da união amorosa.

A CRIANÇA ANÍMICA DO T I PO
9 (nove) DO ENEAGRAMA

O ponto do coração do Tipo Nove do Eneagrama é o Ponto Três. Portanto, a criança anímica do Tipo Nove se
manifesta antes de mais nada na tendência de mentir e enganar a fim de apresentar uma imagem que obtenha
a aprovação de outra pessoa. À semelhança de uma criancinha que pega uma bolacha depois de a mãe lhe
dizer que não pegue, ou que finge que está doente para matar aula na escola, a criança anímica do Tipo Nove
alega que não fez nada e que estava mesmo com dor de barriga. Para além da paixão da mentira, no coração
de cada indivíduo de Tipo Nove vive um pequeno ser que quer ser visto, quer ser o centro das atenções. É um
exibidinho que só quer apresentar a sua dança e ser aplaudido. Por trás da tendência abnegada do Tipo Nove
está a vontade de vencer, vontade que pode assumir até um caráter cruel e desumano — e que no geral vive
bem escondida, lançada para fora da consciência. Os indivíduos de Tipo Nove têm medo de parecer exigentes
e espaçosos demais, e vemos aí a sombra da criança anímica projetando-se sobre a consciência. O amor pela
atividade subjaz à inércia do Tipo Nove, que muitas vezes tem a impressão de que, se começar a agir, não será
mais capaz de parar. Quando entrar em contato com essa estrutura íntima e com as qualidades dela, o Tipo
Nove há de perceber-se cada vez mais como uma pessoa completa. A tendência exibicionista transformar-se-
á numa aceitação sincera da sua pessoalidade. Ele verá que, na infância, não recebeu do ambiente o apoio
necessário para transformar-se numa pessoa independente, e assim tornou-se submisso e abnegado a fim de
receber a aprovação dos outros. Quando vislumbrar novamente o seu valor como pessoa, que o torna digno
de ser amado, há de realizar-se como uma encarnação pessoal do Ser, a Pérola Que Não Tem Preço, uma
presença luminosa e radiante, independente de todos os laços de condicionamento. Aos poucos se livrará de
todas as autoimagens e construtos mentais que o definem como pessoa e será capaz de viver e interagir no
mundo liberto do sono da personalidade.

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