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Estratégias de leitura aplicadas

ao conto: uma proposta para


a sala de aula
Renata Junqueira de Souza*
Gislene Aparecida da Silva Barbosa**
Elianeth Dias Kanthack Hernandes***

Resumo
Este artigo, sustentado na concepção
de linguagem como forma ou processo
de interação, considera que o ensino
da leitura literária deva proporcionar
condições para que o leitor dialogue
com o texto, ativando conhecimentos
prévios para realizar processos de
inferência e construir sentidos para *
Doutora em Letras pela Universidade Estadual Pau-
além do que está explícito. Leitores lista Júlio de Mesquita Filho (2000), livre-docente pela
mesma Instituição (2012) no conjunto das disciplinas
proficientes compreendem os textos Conteúdos, Metodologia e Prática de Ensino de Língua
por meio de recursos metacognitivos: Portuguesa I e II e Leitura, Literatura e Interpretação
fazem questões ao texto, relacionam de Textos no Processo de Formação de Professores.
ideias, identificam as informações es- É coordenadora do Centro de Estudos em Leitura e
Literatura Infantil e Juvenil “Maria Betty Coelho
senciais etc. À escola cabe proporcio- Silva” na Unesp de Presidente Prudente, onde leciona
nar aos estudantes condições de de- na graduação e na pós-graduação em Educação. E-mail:
senvolverem ou ampliarem a capaci- recellij@gmail.com
dade de compreender textos literários, **
Doutora em Educação pela Universidade Estadual
especialmente o conto, que é um texto Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Atualmente é
professora da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste)
breve, narrativo, com tensão capaz e diretora técnica do Núcleo Pedagógico da Diretoria
de prender o leitor e que diz o má- de Ensino da Região de Presidente Prudente. E-mail:
ximo em poucas páginas. O objetivo barbosagislene@gmail.com
do artigo é apresentar uma proposta
***
Professora Assistente de Doutor da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Unesp -
de leitura para contos (para turmas Campus de Marília - RDIDP- lotada no Departamento
de ensino fundamental – de 5º a 6º de Administração e Supervisão Escolar e Professora
anos), com base nas Estratégias de credenciada no Programa de Pós-Graduação em Edu-
Leitura, que são constituídas por sete cação - PPGE da FCT/Unesp/Presidente Prudente.
procedimentos relacionados ao ato de Com Doutorado em Educação (2008) e Mestrado (2003),
ambos realizados no Programa de Pós-Graduação em
ler: conhecimentos prévios; conexões; Educação da Universidade Estadual Paulista Júlio de
visualização; questionamento; inferên- Mesquita Filho - Marília e Pós-Doutorado em Educação
cia; sumarização e síntese. realizado pelo PPGE/FCT/Unesp/Presidente Prudente.
E-mail: netezeu@gmail.com
Palavras-chave: Estratégias de Leitu- Data de submissão: dez. 2018 – Data de aceite: mar. 2019
ra. Contos. Literatura. http://dx.doi.org/10.5335/rdes.v15i1.8946

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Introdução exemplo, envolve aspectos diferentes:
enquanto no romance diversas ações,
O desenvolvimento da capacidade de requintadas de detalhes, vão se desenro-
ler do aluno depende da interação que lando e se articulando para construir vá-
ele estabelece com o texto, do comparti- rios momentos de tensão até que ocorra
lhamento de significados, da mobilização um desfecho; no conto, costuma ocorrer
de ações cognitivas na atribuição de sen- apenas uma tensão que conduz o leitor
tido. Ler é uma ação social diretamente a um alvo mais rápido e não menos ela-
relacionada à compreensão dos aspectos borado que requer atenção ao uso exato
linguísticos que formam o texto, mas de expressões e situações intimamente
também dos contextos sociais, históricos relacionadas ao conflito único proposto
e culturais que nele se relacionam. no enredo.
O sentido de um texto é construído na inte- O gênero textual conto é um texto
ração texto-sujeito e não algo que preexista predominantemente narrativo, literário,
a essa interação. A leitura é, pois, uma breve, geralmente com poucos perso-
atividade interativa altamente complexa
nagens, um narrador, tempo e espaço
de produção de sentido, que se realiza
evidentemente com base nos elementos determinados. No conto, um conflito se
linguísticos presentes na superfície textual constrói e, ao final, é resolvido. Para
e na sua forma de organização, mas requer Gotlib (2006, p. 63), o conto é uma forma
a mobilização de um vasto conjunto de sa-
beres no interior do evento comunicativo breve e nele não deve sobrar nada, é um
(KOCH; ELIAS, 2006, p. 11). texto enxuto. Na definição de Costa é
importante contrapor o conto a outros
Ler, mais do que um simples ato mecânico
de decifração de signos gráficos, é antes de
textos narrativos:
tudo um ato de raciocínio, já que se trata de Conto: assim como a novela e o romance são
saber orientar uma série de raciocínios no do tipo narrativo, assim também o conto
sentido da construção de uma interpretação literário o é. Em contraste com o romance,
da mensagem escrita a partir da informação que geralmente é mais longo, o conto é mais
proporcionada pelo texto e pelos conheci- curto, isto é, de configuração material nar-
mentos do leitor e, ao mesmo tempo, iniciar rativa pouco extensa, historicamente veri-
outra série de raciocínios para controlar o ficável. Essa característica de síntese traz
progresso dessa interpretação de tal forma outras: número reduzido de personagens
que se possam detectar as possíveis incom- ou tipos; esquema temporal e ambiental
preensões produzidas durante a leitura econômico, muitas vezes, restrito; uma ou
(COLOMER, 2002, p. 31-32). poucas ações, concentrando os eventos e
não permitindo intrigas secundárias como
Ler Literatura, além disso, é com- no romance ou na novela e uma unidade de
preender a relação entre sentidos conota- técnica e de tom (fracção dramática, seduto-
tivos, reconhecendo as relações figuradas ra, em que tempo, espaço e personagem se
fundem, muitas vezes) que o romance não
dos vocábulos e das situações propostas mantém (2009, p. 75).
simbolicamente em cada gênero textual.
Ler um romance ou ler um conto, por

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Trabalhar com contos na escola básica diversos currículos e materiais pedagógi-
é uma rica oportunidade de desenvolver cos voltados ao ensino da língua materna
o letramento dos alunos, já que a ação no Brasil, no entanto, a presença dos
de contar histórias, de organizar se- textos literários na aula, por si só, não é
quências lógicas, de articular ideias etc. garantia do desenvolvimento da apren-
é necessária à vida cotidiana e precisa dizagem de ler Literatura. É necessário
ser aprendida na escola. Além disso, e transformar a leitura em um objeto de
especialmente por isso, a Literatura tem ensino.
a função de humanizar o leitor, dando a Para ensinar a ler Literatura é im-
ele condições de dialogar com histórias prescindível promover intervenções
que o levam à reflexão e à imaginação pedagógicas na aula para que o aluno
de outras experiências de vida e possi- aprenda a utilizar procedimentos que
bilidades. Ler textos informativos e não favoreçam a relação dialógica e sirvam
literários não assegura o desenvolvimen- como andaimes para que o sentido se
to da compreensão dos textos artísticos, construa (GERALDI, 2011). Aprender a
cuja linguagem, função social e organi- compreender, interagindo com os textos,
zação não coincidem com textos como, é um processo complexo que requer o
por exemplo, as notícias ou os anúncios desenvolvimento de “intimidade” entre
publicitários. o leitor e o texto. Essa pode ser conquis-
Ler é um conjunto de habilidades e compor- tada pela ativação de conhecimentos
tamentos que se estendem desde simples- que o leitor já possui e que é capaz de
mente decodificar sílabas ou palavras até reconhecer no texto lido, articulando o
ler Grande Sertão: Veredas de Guimarães
Rosa... uma pessoa pode ser capaz de ler um já sabido ao elemento novo e (re)cons-
bilhete, ou uma história em quadrinhos, e truindo sentidos. De acordo com Girotto
não ser capaz de ler um romance, um edi- e Souza (2010, p. 50) a compreensão de
torial de jornal... Assim: ler é um conjunto
de habilidades, comportamentos, conheci-
um texto não se dá apenas no final da
mentos que compõem um longo e complexo leitura, mas também durante a leitura.
continuum (SOARES, 2002, p. 48). O uso intencional das Estratégias de
Assim, o ensino da Literatura na Leitura favorece o desenvolvimento da
escola implica a aprendizagem da com- compreensão.
preensão leitora dos diferentes textos
que compõem as produções da arte com Estratégias de Leitura
as palavras. Muito mais que conhecer aplicadas ao conto
autores e estilos literários, é essencial ao
aluno atribuir sentido ao que lê, numa As Estratégias de Leitura são proce-
relação dialógica com os textos. Ao longo dimentos que o leitor fluente usa para
da educação básica, os textos da esfera interagir com os diferentes gêneros
artística e literária são constituintes dos textuais com o objetivo de compreen-

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dê-los. São ações cognitivas, feitas in- procedimentos serão realizados e com
tencionalmente, após o estabelecimento qual finalidade.
de objetivos de leitura e mediante a Um bom leitor não mergulha num livro do
ativação de conhecimentos prévios. Elas começo ao fim sem antes saber o que quer
envolvem o estabelecimento de diálogos do texto (aprender algo, recolher alguma
informação, pesquisar algum tópico para o
entre os saberes já construídos com os dever escolar, entre outras finalidades). O
novos; a realização de imagens mentais; aluno folheia o livro lendo partes, essa ati-
a construção de deduções; a relação entre vidade revela informações sobre o conteúdo,
a estrutura da história, a localização dos ele-
ideias; a elaboração de sínteses etc. mentos mais importantes e, principalmente,
Um leitor capaz de compreender os signifi- se o texto é pertinente diante dos objetivos
cados do texto realiza um complexo exercício do leitor (GIROTTO; SOUZA, 2010, p. 50).
cognitivo quando lê. Sua compreensão ad-
vém das paráfrases que realiza, motivadas Com a intenção de exemplificar uma
pela projeção de imagens mentais conforme aula de leitura literária para o 5º ou 6º
lê. Algumas vezes, as deduções são evoluti- ano do ensino fundamental, sugerimos o
vas, ou seja, o leitor as constrói gradativa-
mente, enquanto aprofunda a leitura. Esse conto de Ricardo Azevedo “As aventuras
movimento do leitor é ativo, relaciona ideias de João Grilo”, pois o enredo (com um
do texto com seu conhecimento prévio, cons- personagem esperto e cheio de estraté-
trói imagens, provoca sumarizações, mobili-
zando várias estratégias de leitura. Assim, a
gias para se sair bem em todas as situa-
atribuição consciente de significados ao tex- ções) costuma agradar aos alunos nessa
to faz parte do movimento de formar o leitor faixa etária – conto de adivinhação.
autônomo (GIROTTO; SOUZA, 2010, p. 51). O conto em questão apresenta a histó-
Girotto e Souza, amparadas em ria de João Grilo, descrito pelo narrador
pesquisas norte-americanas (HARVEY; como “cabra safado” que passava o dia
GOUDVIS, 2008), trouxeram para o deitado na rede e que não gostava de
Brasil reflexões e propuseram práticas trabalhar. Um belo dia, João Grilo re-
de trabalho com o texto literário, nas solveu ser adivinho e saiu pelo mundo.
quais as “estratégias de compreensão são Em uma cidade, escondeu três burros no
meios para um fim e não um fim em si mato e, quando o dono sentiu falta dos
mesmo” (2010, p. 55). As referidas pes- bichos, João fez uma adivinhação falsa,
quisadoras brasileiras apresentam 7 Es- levou todos ao encontro dos animais e
tratégias de Leitura para a compreensão os enganou.
do texto: conhecimento prévio, conexões, Por conta disso, o rei daquele lugar
visualização, inferência, questionamento, mandou chamar João para adivinhar
sumarização e síntese. Ainda destacam quem roubou as joias da rainha. Se ele
que todo ato de leitura precisa ter obje- não adivinhasse em três dias, iria para
tivo, uma vez que esse influenciará as a forca. João Grilo sabia que iria morrer,
decisões que o leitor tomará enquanto por isso pediu para ficar os três dias no
lê. O objetivo de leitura definirá quais palácio onde comeria e beberia “do bom

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e do melhor”. Ao final do primeiro dia, A seguir apresentaremos as Estraté-
quando um empregado veio retirar a co- gias de Leitura e, em seguida, sugestões
mida, João falou bem alto que o primeiro de como aplicá-las ao texto de Ricardo
já tinha passado. Ele estava falando do Azevedo.
fim do dia, mas o empregado, que era Diante dos objetivos de leitura, o
um dos ladrões, pensou que ele falava leitor ativa seus conhecimentos prévios
sobre o roubo. No segundo dia, com o relacionados ao texto que lerá. Essa é,
outro empregado ladrão, aconteceu a segundo Santos e Souza, “a base para
mesma coisa. No terceiro dia, o tercei- outras estratégias de leitura, porque o
ro empregado ladrão ficou com medo, leitor não consegue entender o que está
confessou tudo e entregou as joias. O lendo sem pensar naquilo que já conhe-
rei ficou feliz, porém deu mais um teste ce” (2011, p. 30). Podemos dizer que o
para o adivinho: foi até a cozinha, pegou conhecimento prévio é considerado, na
o rabo de uma porca e perguntou para abordagem teórica sobre a qual discorre-
João o que estava escondendo na mão. mos, elemento primordial da construção
João, assustado, falou: “agora é que a do sentido. Nessa esfera de reflexão,
porca torceu o rabo”. O rei viu que João Girotto e Souza assinalam que:
acertou de novo, por isso deu ao adivinho Antes de ler, bons leitores geralmente
ouro e muito dinheiro. ativam conhecimentos prévios que podem
Em outra cidade, João Grilo ficou sa- então ser relacionados às ideias do texto.
O exercício de ativar essas informações
bendo que outro rei daria a filha muito interfere, diretamente, na compreensão
bonita em casamento para quem respon- durante a leitura. Folhear o livro passando
desse quatro perguntas. Foi até o palácio rapidamente os olhos pela narrativa na pré-
-leitura, geralmente, resulta na formulação
e se apresentou como João Baratão. O rei de hipóteses baseadas no conhecimento pré-
avisou que se João não respondesse às vio do leitor sobre o que trata e como trata a
quatro perguntas, iria direto para o ce- história (2010, p. 50).
mitério. As três perguntas iniciais eram: Girotto e Souza (2010) valorizam a
1. Qual é o peso da Terra? 2. Quanta ativação de conhecimento prévio e a rea-
água existe no mar? 3. Quantas estrelas lização de previsões sobre a história e a
existem no céu? João deu respostas tão criação de perguntas para o texto, porém
malucas quanto as perguntas do rei e o as últimas autoras avançam no sentido
rei gostou de todas. Na pergunta final, o de oferecer propostas para a atuação em
rei disse: “o que é que eu estou pensando sala de aula, caso os alunos não tenham
agora?”. João Grilo respondeu: “Está desenvolvido autonomia e fluência na
pensando que eu sou João Baratão, mas leitura. Para uma ação com o conhe-
eu sou João Grilo!”. Todos riram. O rei cimento prévio, Santos e Souza (2011,
aprovou a resposta. A princesa gostou p. 66) destacam a realização de pergun-
dele. A festa de casamento durou sete tas: “o que eu já sei sobre a história a ser
dias e os pais de João foram convidados.

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lida?” e “o que eu quero saber sobre o que azul, chapéu marrom, uma florzinha
irei ler?”, pois é isso que leitores fluentes verde na mão em um cenário composto
fazem quando iniciam uma atividade de por vários elementos da natureza como
leitura. Dessa maneira, pássaros, borboleta e árvore.
Os leitores vão além do sentido literal da O professor dirá à turma que todos
história ou texto. Um leitor que entende farão juntos a leitura de um conto in-
pode perceber a mensagem em uma história titulado “As aventuras de João Grilo”,
folclórica, formar uma nova opinião de um
editorial, desenvolver um entendimento em seguida mostrará a ilustração e fará
mais profundo de problemas quando ler um perguntas aos alunos como: o que vocês
artigo. Adquirir informação nos permite esperam encontrar em um conto com
ganhar conhecimento sobre o mundo e
nossa relação com ele. Nós edificamos nosso
este título? Observando a ilustração,
armazém de conhecimentos não para o seu quem é esse personagem? Quais são as
próprio bem, mas para desenvolver o insight características físicas e psicológicas dele?
(compreensão/solução). Com o insight, nós
Quais aventuras ele viverá? Como vocês
pensamos mais profundamente e critica-
mente. Nós indagamos, interpretamos e chegaram a essas conclusões? Em que
avaliamos o que lemos (HARVEY; GOUD- vocês se basearam?
VIS, 2008, p. 9, tradução nossa). As perguntas anteriormente elenca-
Atividades antes da leitura do conto das exemplificam possibilidades para
“As aventuras de João Grilo” - ativação que os alunos comecem a pensar no texto
do conhecimento prévio: que será lido, ou seja, deem respostas
Embora o conhecimento prévio precise lógicas, sustentadas em pistas dos ele-
ser ativado ao longo de toda a leitura, é mentos linguísticos e não linguísticos
essencial que antes de os alunos lerem apresentados, ativando, portanto, seu
com o professor o conto indicado, haja conhecimento prévio. É importante que
uma atividade prévia que permita a eles o professor anote na lousa as diferentes
construírem hipóteses sobre a história respostas dos alunos, sem a pretensão
que será lida. Ao pensar no possível en- de avaliar respostas “certas ou erradas”
redo para a narrativa ou ao imaginarem da turma, porque a manifestação oral
características para um personagem, os do aluno indicará que atividades men-
alunos buscam em seus saberes uma tais estão acontecendo na tentativa de
rede de significação, a qual colaborará construção dos sentidos.
no diálogo leitor-texto. Outra possibilidade ativar o conheci-
Uma das maneiras de ativar o conhe- mento prévio encontra-se na utilização
cimento prévio consiste na utilização do de palavras que representem objetos im-
título do conto “As aventuras de João portantes que aparecem no enredo como:
Grilo” e de uma das ilustrações presente burros, joias, estrelas. O professor pode
no livro, na qual o personagem João Gri- apresentar o título do conto e dizer aos
alunos que os três objetos (mencionados
lo aparece bem faceiro trajado de terno
anteriormente) aparecerão na história

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e, assim, perguntar aos alunos como Leitores fluentes fazem conexões
eles acham que tais objetos aparecerão mentalmente, como se conversassem
na história ou estarão relacionados ao com o texto que está sendo lido. Quando
personagem principal. os alunos não conseguem fazer isso “na-
Uma segunda estratégia é a conexão, turalmente”, são possíveis intervenções
a qual consiste em o leitor estabelecer em sala de aula, Girotto e Souza sugerem
relações entre o texto lido e suas expe- a utilização de uma “folha do pensar”
riências de vida. As conexões podem ser (2010, p. 71-74), na qual o leitor poderá
de três tipos: conexão texto-leitor; cone- anotar as conexões que fez durante a
xão texto-texto; conexão texto-mundo. As leitura do texto.
conexões texto-leitor acontecem quando Uma terceira estratégia é a visuali-
alguma informação ou trecho do texto
zação, que tem como objetivo central a
lido faz o leitor se lembrar de algo que
criação de imagens mentais pelo leitor.
ele viveu. As conexões texto-texto ocorrem
Quando o leitor imagina o que está lendo,
quando o leitor reconhece, no texto que
está ativando seus conhecimentos prévios
está lendo, semelhanças (temáticas,
e criando a história em sua mente, atri-
estruturais ou de situações/enredo/per-
buindo a ela um sentido. Leitores que
sonagens) com algum outro texto já lido.
As conexões texto-mundo se manifestam visualizam, enquanto leem, conseguem
quando o leitor identifica semelhanças lembrar mais o texto lido. Girotto e Sou-
entre o texto que é lido e acontecimentos za apontam que: “Quando os leitores vi-
da sociedade, um acontecimento mais sualizam, elaboram significados ao criar
global. Sobre esse estabelecimento de imagens mentais, porque criam cenários
conexões, Girotto e Souza completam: e figuras em suas mentes enquanto
Fazer conexões com as experiências pessoais
leem, fazendo com que se eleve o nível
facilita o entendimento. As vivências e co- de interesse e a atenção seja mantida”
nhecimentos prévios dos leitores abastecem (2010, p. 85).
as conexões que fazem. Livros, discussões,
De acordo com Cosson, “uma forma de
boletins de notícias, revistas, internet e até
mesmo as conversas informais criam cone- visualizar é verificar no texto palavras
xões que levam a novos insights. Ensinar e expressões que remetem aos sentidos
as crianças a ativar seus conhecimentos ou como as descrições são transformadas
prévios, bem como seus conhecimentos
textuais, e pensar sobre suas conexões é fun- em imagens pelo leitor” (2014, p. 117).
damental para compreensão (2010, p. 67). Uma quarta estratégia é a inferência,
que significa chegar a uma conclusão ló-
Mediante a leitura, estabelece-se uma
gica a partir de pistas que estão no texto:
relação entre leitor e autor que tem sido
definida como de responsabilidade mútua, “O leitor, ao inferir, ultrapassa o sentido
pois ambos têm a zelar para que os pontos literal do que está lendo e encontra o
de contato sejam mantidos, apesar das di- que não está explícito, compreendendo
vergências possíveis em opiniões e objetivos
(KLEIMAN, 2013, p. 71). o implícito, as entrelinhas do texto”

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(SANTOS; SOUZA, 2011, p. 32). Uma e de a compreensão não se efetivar. Con-
das possibilidades de utilização da infe- siderando o professor como mediador de
rência consiste em construir o sentido de leitura, cabe a ele mostrar aos alunos,
um vocábulo a partir da análise do seu enquanto lê o texto, exemplos de pergun-
contexto de utilização. Também sugestão tas para entender/construir o sentido.
das autoras é fazer inferência a partir A estratégia questionamento ou
de imagens disponíveis em diferentes perguntas ao texto também pode ser
gêneros textuais. utilizada no momento depois da leitura,
Leitores inferem quando utilizam o que já dando a oportunidade de ampliação da
sabem, seus conhecimentos prévios e esta- compreensão do estudante.
belecem relações com as dicas do texto para
chegar a uma conclusão, tentar adivinhar Bons leitores estão sempre lendo em voz alta
um tema, deduzir um resultado, chegar e fazendo perguntas ao material de leitura,
a uma grande ideia etc. Se os leitores não uma ação que pode ajudar a explicar alguns
inferem, então não entendem a essência do aspectos confusos da narrativa, a encon-
texto que leem. Às vezes, as perguntas do trar respostas, a solucionar problemas e a
leitor só são respondidas por meio de uma localizar informações específicas no texto.
inferência. Quanto mais informações os A estratégia de fazer perguntas ao escrito
leitores adquirem, mais sensata a inferência ainda induz o leitor à pesquisa (SANTOS;
que fazem (GIROTTO; SOUZA, 2010, p. 76). SOUZA, 2011, p. 33).

Outra estratégia é a do questionamen- Atividades durante a leitura do conto


to ou perguntas ao texto. Ela consiste na “As aventuras de João Grilo”- visua-
relação que o leitor estabelece com o tex- lização, conexões, questionamentos e
to durante a leitura, fazendo perguntas inferências:
que ajudam a entender a história: A leitura propriamente dita pode ser
feita em voz alta pelo professor que in-
As perguntas são o coração do ensino e da
aprendizagem. Os seres humanos são leva- tencionalmente fará paradas pontuais a
dos a dar sentido ao seu mundo. Perguntas fim de aplicar as Estratégias de Leitura.
abrem as portas para a compreensão [...]. O ideal é que cada aluno tenha um exem-
Questionar é a estratégia que impulsiona
os leitores para a frente. Quando os leitores
plar do livro para ler com o professor.
têm perguntas, eles são menos propensos a Para aplicar a estratégia de visualiza-
abandonar o texto. Os leitores proficientes ção e favorecer a construção de imagens
fazem perguntas antes, durante e depois
mentais no aluno, o professor pode ler o
de ler. Eles questionam o conteúdo, o autor,
os eventos, as questões e as ideias no texto início da história quando o João Grilo
(HARVEY; GOUDVIS, 2008, p. 22, tradução parou na cidade e simulou adivinhar
nossa). onde estavam os burros supostamente
As perguntas são criadas e usadas perdidos. Nesse momento, o docente
pelo leitor experiente no processo de pode solicitar aos alunos que ilustrem em
construção do sentido. Quando o leitor uma folha essa parte da história e depois
não vai fazendo questões ao texto, cor- mostrem aos amigos como imaginaram a
re-se o risco de a interação não ocorrer cena. Esta atividade pode ser construída

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em quadrinhos, para assegurar a pro- peso a terra e depois digo”; tal frase não
gressão temporal, mostrando as ações do é explicada pelo narrador, mas precisa
personagem ao longo do tempo. ser compreendida pelo leitor como uma
Depois, o professor continua a ler esperteza do personagem que ao pedir
o texto com os alunos e na parte da algo impossível para o rei (retirada das
história em que João Grilo estava por pedras e árvores) estava respondendo
três dias num quarto confortável com ao monarca na mesma moeda, ou seja,
muita comida e bebida na tentativa de pedindo algo ilógico para se safar da
solucionar o mistério do roubo das joias obrigação de uma resposta convencional.
preciosas da rainha, o docente pode apli- Por isso, perguntar aos alunos qual era
car a estratégia de conexão, perguntando a intenção de João Grilo ao dar essa
aos alunos se algum deles já leu uma resposta ao rei é um exemplo de como a
história parecida, ou já viveu uma his- estratégia de questionamento pode ser
tória semelhante ou conhece alguém que usada. Além disso, uma pergunta arti-
goste de adivinhação. Nesse momento, culadora para questionamento pode ser
o professor pode ilustrar com conexões feita aos alunos quanto às artimanhas
que ele mesmo fez (é possível citar as de adivinhação usadas por João Grilo,
histórias literárias de Pedro Malasartes isso faria com que o aluno retomasse
ou mencionar histórias dos filmes de Ma- cada resposta sagaz do personagem ao
zzaropi). O importante é deixar evidente longo da história.
para o aluno que as conexões ajudam a A estratégia de inferência pode ser ar-
entender o texto que está sendo lido, já ticulada à estratégia de questionamento,
que articula o que está no texto ao que porque por meio de perguntas o professor
o leitor conhece, portanto todos os links pode favorecer nos alunos o desenvolvi-
precisam ser justificados/ancorados em mento de deduções lógicas. Um exemplo
palavras ou expressões do texto, ou seja, disso está na concessão que o segundo
“quando li o parágrafo tal, lembrei-me da rei deu a João Grilo para se casar com
história x pelo seguinte motivo...”. a princesa. Uma possível pergunta é:
Dando prosseguimento à leitura, o “Por que o segundo rei gostou de João
professor pode realizar perguntas para de Grilo ao ponto de lhe conceder a mão
os alunos que os ajudem no estabele- da princesa?”; a resposta a esta pergun-
cimento de relações entre as partes do ta requer um processo inferencial, que
texto ou na compreensão do sentido de mostra o quanto o segundo rei gostava
uma frase. Por exemplo, na parte final do de adivinhação e era parecido com o João
texto, quando João Grilo é questionado Grilo (cheio de espertezas e estratégias
pelo segundo rei a respeito do peso da para enganar os outros com as palavras).
Terra, João respondeu: “Mande tirar to- Outras questões com inferências,
das as pedras e árvores do mundo que eu questionamentos, visualizações e cone-

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xões podem ser feitas ao longo do texto. Os leitores, ao sintetizarem a informação,
Os exemplos anteriormente citados não enxergam uma figura maior, eles não estão
simplesmente se lembrando dos fatos ou
esgotam as possibilidades de diálogo repetindo-os. Antes, acrescentam a nova
com o conto. informação aos conhecimentos já existentes.
Uma sexta estratégia é a sumariza- Algumas vezes, adicionam novas informa-
ções para o aprimoramento do conhecimento
ção, que consiste na identificação das prévio, desenvolvendo o pensar e aprenden-
partes ou ideias mais relevantes do do mais durante o processo. Outras vezes,
texto. Quando o leitor compreende a mudam o seu pensar baseado em suas
leituras, ganhando uma perspectiva intei-
estrutura do texto, ele consegue iden-
ramente nova, por isso, quando sintetizam,
tificar as partes essenciais do que leu. as crianças alcançam um entendimento
Portanto, ter domínio dos elementos da mais completo do texto (GIROTTO; SOUZA,
narrativa ou da estrutura do parágrafo 2010, p. 103).
em textos informativos, por exemplo, Nessa linha, Harvey e Goudvis con-
ajuda a priorizar o que é mais importan- sideram que:
te em cada texto. As autoras sugerem o À medida que os leitores se movem atra-
trabalho com o grifo, o uso de anotações vés do texto, seu pensamento evolui. Eles
às margens do texto ou o uso de blocos acrescentam novas informações ao que já
sabem e constroem o significado à medida
de notas para parafrasear a informação.
que seguem a leitura. Sintetizar requer
Sumarizar é aprender a determinar a dos leitores a triagem através de grandes
importância, é buscar a essência do texto. quantidades de informações para extrair
Preferimos pensar que os dias de sublinhar ideias essenciais e combiná-las para formar
e checar a ideia principal acabaram. Infeliz- uma imagem geral do que foi lido, para
mente, exercícios de compreensão e questões obter o essencial. Como os leitores destilam
nas provas ainda exigem que os leitores texto em algumas ideias importantes ou
escolham uma ideia principal [...], aquilo conceitos maiores, eles podem formar uma
que determinamos ser importante em um perspectiva particular que leva a uma nova
texto depende de nosso propósito em lê-lo. visão. Sintetizar é a estratégia que permite
Quando o leitor lê ficção, está focado nas aos leitores mudar seu pensamento (2008, p.
ações das personagens, motivos e problemas 25, tradução nossa).
que contribuem para o tema (GIROTTO;
SOUZA, 2010, p. 93). Atividades depois da leitura do conto
“As aventuras de João Grilo” - sumari-
A última estratégia é a síntese, a qual
zação e síntese:
está intimamente relacionada a um pro-
Depois da primeira leitura completa
cesso de produção textual, uma vez que
do texto ter sido realizada, é importante
sintetizar consiste em apresentar um
criar oportunidades de releitura com os
resumo do texto acrescido de uma visão
alunos, pois a retomada do texto permite
pessoal. Na síntese, o leitor autônomo
a ampliação dos sentidos. Dessa forma,
manifesta sua apreciação acerca do
a estratégia de sumarização pode ser
texto, tem a oportunidade de explicitar
aplicada tanto para que os alunos grifem
o seu pensamento:
as partes principais do texto quanto para

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que completem um gráfico organizador A organização da aula de leitura li-
(uma tabela com as palavras ou expres- terária com o conto pode ser constituída
sões que resgatam as ideias-chave do por três momentos: antes da leitura,
texto). Uma possível abordagem para a durante a leitura e depois da leitura,
sumarização é pedir que os alunos encon- sendo que, respectivamente em cada eta-
trem os três atos da narrativa: situação pa podem ser trabalhadas as seguintes
inicial, conflito e resolução. Eles podem estratégias pelo professor, na situação de
grifar com cores diferentes cada um leitura em voz alta: conhecimento prévio;
desses atos, assim, terão oportunidade visualização, inferências, questionamen-
de refletir sobre a estrutura padrão de to, conexões; sumarização e síntese.
um texto narrativo. A proposta aqui explicitada é apenas
Depois de sumarizar, os alunos podem uma sugestão para uma aula de leitura
reescrever a história lida. Essa é a apli- e não tem caráter prescritivo, haja vis-
cação da estratégia síntese, a partir da ta a possibilidade diversa de utilização
qual o leitor reorganiza a história com das Estratégias de Leitura em textos
sua própria linguagem e faz escolhas literários.
semânticas e sintáticas que evidenciam o
seu domínio linguístico e a compreensão Reading Strategies applied to
da história. Os alunos podem escrever a the short story: a proposal for
mesma história, mas darão a ela marcas the classroom
da subjetividade de cada leitor. A pedido
do professor, eles podem criar um final
surpreendente e, na hora da socializa-
Abstract
ção dos textos escritos pela turma, cada This article, based on the conception
aluno poderá justificar sua escolha e of language as a form or process of
criação. interaction, considers that the tea-
ching of literary reading should provi-
de conditions for the reader to dialo-
Considerações finais gue with the text, activating previous
knowledge to carry out inference pro-
As Estratégias de Leitura ajudam no cesses and construct meanings beyond
desenvolvimento de aulas com o conto, what is explicit. Proficient readers
understand texts through metacogni-
visto que favorecem o diálogo entre o tive resources: they make questions
leitor e o texto, relacionando os aspectos to the text, relate ideas, identify es-
linguísticos aos saberes dos alunos, por sential information, and so on. It is
isso elas são relevantes para a susten- the school’s job to provide students
with the ability to develop or expand
tação de propostas de aulas de leitura
literacy skills, especially the story,
literária que contemplem o trabalho com which is a brief, narrative text with
a compreensão textual. tense power to trap the reader and
say the most in a few pages. The

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purpose of this article is to present HARVEY, Stephanie; GOUDVIS, Anne.
a reading proposal for short stories Strategies that work: teaching comprehen-
(for grades of elementary school - sion to enhance understanding. Portland:
5th to 6th grade), based on Reading Stenhouse Publishers & Pembroke Publi-
Strategies, which are constituted by shers, 2008.
seven procedures related to reading: KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos
previous knowledge; connections; vi- cognitivos da leitura. 15. ed. Campinas:
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