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As missões da "cultura" e da "política":


confrontos e reconversões de elites
culturais e políticas no Rio Grande do Sul
(1920-1960)
Odaci Luiz Coradini

Apresentação

Os objetivos deste texlO consistem em apresemar os resultados parciais


de uma investigação sobre elites cullUrais e concepções de política no Rio
Grande do Sul no século XX, I e os problemas conceituais e metodológicos
correntes nesse tipo de eSlUdo. Esses problemas estão vinculados a questões mais
gerais, relativas à investigação sobre "imelectuais" em condições periféricas e às
dificuldades de operacionalização de esquemas analíticos forjados no estudo de
situações de países cemrais. O período em pauta apresema determinadas ten­
dências para o conjumo das demais condições brasileiras, tais como o fortaleci­
mento ou a maior cemralização do Estado, da associação da condição de "imelec-

ESlUdos Históricos, Rio de Janeiro, n(l 32, 2003, p. 125-144.

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esh/dos históricos e 2003 - 32

tual" com esse processo e do regionalismo, entre outras, mas isso adquire
contornos e conforma padrões próprios para cada situação, visto que as
condições desse processo podem ser muito específicas para cada caso. Apesar de
este texto estar circunscrito ao período das décadas de 1920 a 1960, é pressuposto
que muitos dos resultados dos processos em pauta estão presentes nas condições
de formação de "intelectuais" ou de especialistas da "cultura"2 do período poste­
rior, quando o centro, para tanto, passou a ser as universidades.
Como é sabido, a relativa autonomia da produção cultmal, seja cien­
tífica, seja literária e artística, além de processo histórico, serve também como
base de formulação conceitual, inclusive para a noção de "campo". Isso
pressupõe a existência de uma esfera com lógica e princípios de concorrência e
hierarquização próprios, o que implica relações entre os recursos sociais dos
agentes e as tomadas de posição (Bourdieu, 1996; 2001: 180-1). Visto que, em
condições periféricas, nao haveria processo histórico nessa situaçao de relativa
autonomização dos diferentes "campos", as relações entre a constituição dos
agentes, ou suas respectivas estruturas de capital e disposições, e as tomadas de
posição implicariam, em graus mais elevados, outras lógicas sociais.
Alguns estudos sobre as relações entre "intelectuais" e a política, como o
de Pécaut (1990: 20-1), opondo-se à ênfase nas relações entre posição social de
origem, destino social e tomadas de posição política, destacam a importância da
interseção de lógicas de atuação, além de uma "cultura política" própria que
abarcaria o conjunto do universo estudado. Porém, trabalhos como o de Sigal
(1996: 42), ao abordar os "intelectuais" na Argentina, propõem a utilização da
noção de "campo", apesar das limitações que decorrem da inexistência de algum
grau de autonomia da produção cultural. Essas limitações, ou a maior heterono­
mia da produção e consagração culturais, teriam dois condicionantes básicos,
decorrentes das condições "periféricas": uma maior importância das instâncias
e dos critérios externos de consagração e uma maior associação e dependência­
e, assim, vulnerabilidade - relativamente à esfera política.
Porém, um dos problemas que restam em aberto é o da abrangência dos
"sistemas de referência" aos quais se vinculam as "problemáticas legítimas"
(Bourdieu, 1979: 465). Isso porque, mesmo com a forte heteronomia da
produção cultural, está em pauta um processo de centralização da esfera das
decisões políticas ou burocráticas, que incide de modo distinto nas esferas
sociais e instituições em que ocorre essa produção cultural. Dito de outro modo,
mesmo ocorrendo uma progressiva centralização das decisões políticas, as
pautas das "problemáticas legítimas" se inscrevem em níveis menos gerais e
abstratos, envolvendo diretamente processos que abrangem esferas e
instituições específicas, tais como igrejas, sistema escolar, forças armadas, entre
outras.

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As missões da "cultura" e da ((política "

Outro problema em aberto consiste nas relações dessas "problemáticas


legítimas" com os respectivosethos (Bourdieu, 1979: 45) e as condições sociais de
sua geração, e na reconversão de recursos sociais e culturais entre esses universos
sociais. Além das estruturas de capital e das disposições correspondentes, em
sentido estrito, podem entrar em pauta outros recursos, como a respectiva posi­
çao nas relações centro/periferia e, ainda, nas classificações étnicas, que, por sua
vez, podem aparecer como condição, ou, então, se constituir em recorte de elabo­
ração identitária. Além disso, entram em pauta as diferentes modalidades de re­
lacionamento de cada condição social com as esferas e as instituições cultural e
politicamente dominantes, em que o próprioethos pode se constituir num recur­
so básico no processo de legitimaçã03 Neste caso, trata-se, principalmente, da
forte associação dos mediadores culturais das "colõnias" de imigração com as
igrejas e com a escolarização a cargo das ordens religiosas e, por outro lado, da li­
gação dos "intelectuais" do pólo oposto com as burocracias públicas.
Essas preocupações se justificam, pois, em condições periféricas como
as que estão em pauta, a "cultura" ou os "intelectuais" adquirem um peso muito
maior, inclusive porque "a diminuição da autonomia dos campos é o signo de
um reforço do papel dos intelectuais" (Sigal, 1996: 44). Nos países centrais,
além de um "campo" de produção cultural em geral, as lógicas da produção e a
legitimação estão referidas a determinados subcampos específicos (artístico, li­
terário, científico, religioso, educacional etc.). Na ausência desses "campos",
com lógicas relativamente autônomas e baseados em capitais específicos, e com
a conseqüente associação generalizada do conjunto de esferas sociais e institui­
ções com o poder político, fica em aberto o problema da passagem de uma lógi­
ca de produção e de legitimação específica para o universo da "cultura" e da
"política" em geral.
Uma das vantagens de se pôr o problema nesses termos é, em primeiro
lugar, a possibilidade de tomar os fundamentos de determinadas posições em sua
apresentação pelos protagonistas - que via de regra consistem em categorias abs­
tratas -, em suas vinculações com determinados ethos e bases sociais. Este é espe­
cialmente o caso do "catolicismo", do "positivismo", das próprias noções de
"cultura" e "política", entre outras, que requerem a apreensão de seus significa­
dos concretos. Em segundo lugar, isso permite tentar apreender as rupturas per­
manentes nas trajetórias sociais dos protagonistas desses processos, em relação
seja à condição social de origem, seja às diferentes esferas de atuação. Isso permi­
te, em terceiro lugar, discernir as bases das tomadas de posição política e de suas
constantes mudanças, bem como dos ethos subjacentes às concepções de "cultu­
ra" ou de "política", geralmente com base no "realismo" (Pécaut, 1990), que as
associa ao profetismo social.

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As condições sociais e intelectuais de emergência e de atuação de


especialistas da cultura
Numa situação de frágil institucionalização, ou, pelo menos, de
dispersão da produção ou da transmissao da cultura erudita, até o início dos anos
1930, os principais pontos de aglutinação de intelectuais, no Rio Grande do Sul,
encontram-se nos jornais, além de revistas de duração efêmera ou com público
específico. A primeira publicação que conseguiu permanecer por mais tempo e
também compartilhar em termos mais gerais da "problemática legítima"
(Bourdieu, 1979: 465) na esfera da "cultura" e da "política", em âmbito regional
ou nacional, foi a Revista do Globo, a partir de 1929. Antes de abordar essa revista,
cabe destacar que, da enoIlue quantidade de jornais existentes, para os padrões
da época, a quase totalidade mantinha um caráter político-cultural e/ou
religioso, embora isso não esgote seus temas e o público visado. No caso das
publicações de caráter religioso, praticamente a totalidade estava vinculada ao
clero católico ou luterano e, além da agenda de questões relativas à respectiva
igreja, era fortemente marcada pelos problemas relativos à redefinição da
identidade étnica dos descendentes de imigrantes e às suas relações com a
identidade nacional. Quanto às demais, O principal traço comum é sua
vinculação a algum partido ou "corrente de opinião" política, o que não exclui
seu caráter comercia1.4
Porém, apesar de se tratar de publicações que congregam os "intelectuais"
em âmbito regional, os respectivos públicos eram circunscritos, e os critérios de
definição das problemáticas legítimas eram diretamente dependentes dos con­
frontos políticos e da legitimação de diferentes grupos. Ocorre que, em primeiro
lugar, além do critério geral de que O "intelectual" é alguém que publica, as princi­
pais atividades reconhecidas como "intelectuais" estão mais associadas à litera­
tura e ao jornalismo, o que não exclui outras, tais como as de "historiador", "en­
saísta", "filósofo", ou mesmo "sociólogo", nem o fato de que a maior parte dos
"intelectuais" do período, em termos de condições profissionais formais, fosse
constituída de "profissionais liberais" e de ocupantes de cargos públicos ou de
organizações privadas, que quase nunca exerciam apenas uma única profissão,
além de manterem algum tipo de engajamento político (Spalding, 1957).
Em segundo lugar, na ausência de qualquer instituição pública de pro­
dução cultural, além de alguns jornalistas profissionais e de profissionais libe­
rais, que tinham como segunda atividade a de escritores, os protagonistas e as ati­
vidades que passaram a ser reconhecidos por sua produção ou envolvimento com
problemas de ordem "cultural" eram provenientes de - ou mantinham algum
vínculo com -igrejas e suas instituições escolares. Portanto, a dimensão religiosa
deixa de estar circunscrita à respectiva igreja e, também, como é indicado adian-

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te, vai muito além da esfera educacional, num projeto explícito de "civilização"
das "elites" culturais e políticas regionais. Seu principal contraponto ideológico
no período consiste naquilo que é designado como "anticlericalismo" ou, especi­
ficamente, o "positivismo", que constitui um determinado tipo de militarismo,
associado a certas posições de origem social e a um tipo específico de escolariza­
ção e de ethos militar (Pécaut, 1990: 60-6).
Em terceiro lugar, apesar da presença de instituições como a Igreja e o
Exército com seus investimentos educacionais, bem como dos jornais como
agiutinadores das atividades "intelectuais", há diferentes formas de associação
entre esses conflitos políticos e as instituições vinculadas à "cultura". Isso fica
muito nítido no final da década de 1920, que interessa de modo especial, visto
que é quando surge a publicação que passa a ser o principal meio de aglutinação
dos "intelectuais" em âmbito estadual, a Revista do Globo. Porém, para uma
melhor compreensao da emergência dessa publicação, deve-se considerar,
antes de tudo, sua estreita e complexa associação com um programa de mobili­
zação política, numa situaçao prévia de forte bipolarização e conflitos
político-partidários em âmbito regional. Além disso, é necessário considerar
que esse projeto de mobilização, apesar de estreitamente associado e
dependente das atividades "intelectuais", como um meio de legitimação, e do
regionalismo, como um dos principais princípios de recorte de unidade de
referência, não inclui o pólo de produção cultural mais diretamente vinculado
às igrejas, o qual, dada a sua "formação cultural européia", estava mais
vinculado ao "debate político internacional" do que à discussão política
regional (Trindade, 1982: 4 1).

A Livraria e Editora do Globo e a confluência de "empresas" de diferentes


ordens
Além de não ser plausível a pressuposição de algum campo de produção
cultural com autonomia relativa, empreendimentos como a Editora e a Revista
do Globo não podem ser tomados apenas como uma "empresa intelectual"
(Buschetti, 1985), e sim como a confluência de uma multiplicidade de "em­
presas", no sentido atrinuído por Weber (1984: 42), num processo contraditório,
mas que contém determinadas afinidades eletivas.
As condições e modalidades dessa confluência e realização são variáveis
para cada período. As próprias relações entre o empreendimento econômico e a
"cultura", além de freqüentemente conflituosas e tensas, podem perpassar as
tomadas de posição e as ambivalências de um mesmo indivíduo nos diferentes
estágios de seu percurso ou, então, do grupo familiar no controle, que abrange
diferentes gerações e perspectivas. A isso acresce o fato de se tratar de um grupo

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familiar cujas relações de parentesco abrangem diferentes condições e heranças,


sendo o resultado da aliança entre segmentos completamente distintos, ou seja,
descendentes de imigrantes italianos em processo de ascensão social pela
conversão de pequenos agricultores em empresários, e, por outro lado, a cha­
mada "oligarquia", constituída por antigos fazendeiros, militares e políticos,
cujo capital político e de relações sociais, em parte, foi utilizado posteriormente a
serviço da empresa5
Um dos pontos mais enfatizados nas memórias de "intelectuais" que
conviveram com o empreendimento são essas tensões entre os interesses econô­
micos e "culturais" e sua conseqüente "união precária" (ver Verissimo, 1972: 38).
De uma perspectiva mais interna, nas relações do grupo familiar controlador
com a empresa, e da lógica editorial com a "cultura", a estratégia mais elementar
para a compatibilização posta em prática é uma espécie de divisão do trabalho, na
qual, em geral, um representante de cada geração do grupo familiar ocupa a
posição mais próxima da lógica editorial e, assim, dos "intelectuais", podendo
ser secundado por outros membros do grupo familiar em cargos vinculados às
decisões relativas a publicações. Além disso, essa modalidade de com­
patibilização dos interesses do grupo familiar com as lógicas empresarial e da
"cultura" sempre foi complementada pela contratação de especialistas desse
universo "cultural", o que tem como uma das conseqüências a formação ou
aproximação de redes preexistentes com a "casa" ou "grupo da Globo".
Evidentemente, as modalidades e graus de relacionamento e dependência frente
à empresa são variáveis, abrangendo desde simples autores editados até os que
fizeram carreira como seus funcionários ou "intelectuais". Entre estes,
destacam-se dois, M. Bernardi e E. Verissimo, que foram diretores da Revista do
Globo. Não é mera coincidência que, de todos os "intelectuais" de algum modo
vinculados ao "grupo", sejam eles não apenas os que têm condições sociais de
origem mais baixas, mas também os que se destacam pela intensidade de
rupniras em seus trajetos sociais. Além disso, ambos tornam explícitas as
diferenças quanto a interesses, estilos de vida, crenças e tomadas de posição
política ou ideológica (Verissimo, 1972: 24 e 29). Mesmo assim, além de outras
condições, contribuíram, para o contorno dessa diversidade de interesses e a
confluência da "economia" com a "cultura", o sucesso editorial de E. Verissimo e
sua posterior autonomia relativa, bem como uma posição pragmática frente aos
permanentes "fogos cruzados" nas lutas político-ideológicas, formando uma
posição conjunta de defesa (ver Verissimo, 1972: 96 e Bertaso, 1993: 170- 1). Esse
pragmatismo aplica-se também às linhas editoriais, o que pode contrastar com a
imagem da Editora ou da Revista do Globo, diretamente associada com a
formulação de bandeiras de luta e de mobilização a favor da Revolução de 30.
Porém, mais que o grau de envolvimento com a política e com a revolução, o

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As missões tia "cultura >1 e da IIpoIítica"

problema está nas modalidades de relacionamento da mencionada confluência


de "empresas" com a dinâmica das lutas ideológicas e políticas.
Embora não seja possível um maior detalhamento quanto às condições
de criação e à evolução da Revista do Globo, cabe destacar alguns pontos que
tornam evidente esse caráter multidimensional e de interação entre "empresas",
presente na convivência contraditória entre diferentes lógicas, mas que se
manifesta também na multiposicionalidade dos principais protagonistas.
Embora a principal imagem pública do conjunto da Editora ou da Revista do
Globo, como já mencionado, esteja associada a uma espécie de manifesto regio­
nalista permanente, as características dessa revista, os temas abordados e os seus
enfoques são de uma extrema diversidade, frugalidade e, freqüentemente,
banalidade, o que abrange todo o período de sua existência, de 1929 a 1963. Isso
não significa que não haja períodos diferenciados, nos quais componentes da
mencionada "empresa multidimensional" possam se sobrepor, o que depende
das relações entre a "cultura" e a "política".
Quanto aos princípios de definição da "cultura", embora sempre com
pretensões de cultura erudita, no período de existência da Revista do Globo, pelo
menos três noções estão direta ou indiretamente presentes e podem se sobrepor.
Uma das mais salientes é a "cultura" como elaboração de "panteões", com seus
"heróis" e suas "missões" ou "causas". Em segundo lugar) a "cultura" está direta­
mente presente como capacidade moral de discernimento e "realização" social e
política. Por fim, em terceiro lugar, principalmente para o último período, a
"cultura" pode ser equivalente ao "entretenimento". Evidentemente, mais que
de períodos sucessivos, trata-se de segmentos presumidos de público para os
quais as publicações dirigiam-se 6
Ocorre que, pelo menos no período inicial, a "cultu ra" estava direta­
mente a serviço de uma "empresa" política, a mobilização pela legitimação do
movimento que resultou na Revolução de 30. A confluência entre essa "empre­
sa" política e a "cultura" foi facilitada pela preexistência do chamado "Grupo
da Globo", ao qual se vinculava diretamente boa parte das elites políticas e inte­
lectuais regionais, entre as quais estavam aqueles que logo após seriam os líde­
res da Revolução de 30. Em termos mais imediatos, a criação da revista resultou
da intervenção direta de Getúlio Vargas, então deputado estadual. Por outro
lado, no que tange à "cultura", além das traduções de literatura estrangeira e da
"bricolagem" editorial, que visavam a um público mais amplo ou "popular", o
regionalismo, numa definição específica, já ocupava posição de destaque. A po­
sição central da versão mais "heróica" ou calcada em "panteões" desse regiona­
lismo, no período inicial, está associada à ocupação do cargo de diretor da revis­
ta por M. Bernardi.?

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Mas, isso que retrospectivamente pode até ser visto como uma aliança
bem-sucedida entre políticos e "intelectuais" ou, então, ao contrário, como uma
série de aparentes paradoxos, consiste na concretização da mencionada con­
fluência contraditória de "empresas", que abrange as condições sociais específi­
cas de um de seus principais protagonistas, a começar por M. Bernardi. De modo
completamen te distinto dos "intelectuais" associados à condição de origem de
"primos pobres", destacados por Miceli (1979), Bernardi nasceu na Itália e imi­
grou quando criança com a família para uma "colônia italiana" no interior do es­
tado, onde seu pai foi agricultor e ele próprio passou a ser professor primário.
Posteriormente, via autodidatismo, tornou-se poeta, foi contratado pelo governo
estadual e passou a atuar na Editora do Globo. Como "intelectual", além de sua
predileção e forte adesão a um determinado catolicismo e àqueles que conside­
rava os "grandes escritores" da Itália, no início da revista já havia publicado uma
série de trabalhos e participado de polêmicas em defesa da idéia da "cultura" ou
da "história" como construção de "monumentos", inclusive, com propostas prá­
ticas nesse sentido, como, por exemplo, a de transformar um dos principais par­
ques de Porto Alegre numa imensa exposição de "heróis", que representariam
diferentes setores sociais. Em geral, os "monumentos" e respectivos "heróis" já
faziam parte da mitologia regional. Portanto, por um lado, a utilização da "cul­
tura" a serviço da mitologia e, por extensão, do regionalismo, além da legitima­
ção da campanha de mobilização política a serviço do que acabou sendo a Revo­
lução de 30, tinha também como objetivo o fortalecimento da aliança entre duas
posições políticas historicamente rivais em âmbito regional, os chamados "ma­
ragatos" e "chimangos" (Love, 1975). Trata- se da formação de uma nova "unida­
de de referência" para a ação política, agora mais centrada no conjunto da região,
por oposição ao Brasil, então objeto da "gauchização". Por outro lado, o principal
"intelectual" envolvido na formulação desse "panteão" e do novo regionalismo,
além de um dos principais "árbitros" quanto aos critérios de avaliação das
"obras" dessa "cultura" e sua eventual publicação, simultaneamente a serviço da
"cultura" e da "política", era oriundo de condições sociais completamente estra­
nhas, ou seja, a "colõnia italiana". Esse tipo de situação contraditória entre a
"cultura cosmopolita" e as definições regionalistas de "cultura" estão presentes,
inclusive, nas ambivalências da escolha do nome da revista (entre uma série de
propostas de cunho regionalista e a mais pretensamente cosmopolita), mas, prin­
cipalmente, no posterior trajeto profissional e social tanto de M. Bernardi quan­
to dos demais protagonistas. Após ter sido nomeado diretor da Casa da Moeda,
onde permaneceu até 1938, foi preso sob a acusação de fazer parte do movimento
integralista. Após mais um período como funcionário estadual, retornou à "colô­
nia italiana", onde foi líder do Partido de Representação Popular, do qual acabou
desligando-se em protesto contras as alianças político-partidárias com os supos-

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As missões dtl It,,,lturtl" e dtl "política "

tos "sociabstas" (particularmente o então Partido T rabalhista Brasileiro), mas


reafirmando sua adesão aos valores proclamados pelo integralismo e à condição
de "colono". Com esse trajeto de "intelectual" e político, os próprios relatos auto­
biográficos, ou mesmo as biografias elaboradas por "amigos", adquirem um ca­
ráter menos de "panteão" e mais de ressentimento, em geral abarcando mais di­
retamente o autor "literário" e "ético" do que o "político.8
Essas origens e esse trajeto social contrastam com os de seu sucessor na
direção da Revista do Globo, E. Verissimo, que, à primeira vista, poderia ser toma­
do como um "primo pobre" das classes dominantes tradicionais. Porém, esse

constitui um outro caso exemplar da complexidade das relações entre a condição


social de origem, o respectivo etlzos e o destino, seja como "intelectual" ou como
"político". Mais que qualquer outro, sua trajetória, sua carreira ou sua produção
literária e, inclusive, sua concepção social e política, estão diretamente relaciona­
das com uma série de rupturas e com a negação das suas origens sociais. Trata-se
da elaboração de um sistema de apreciação que o distancia da adesão imediata a
essas origens e que, além de induzir à reconversão, possibilita a reinterpretarão
das condições de origem com base em outros códigos. Por outro lado, além des­
sas rupturas e da não-adesão às condições sociais de origem, há uma maior auto­
nomia relativamente à "cultura" e à "política", facilitada pelo sucesso literário:
Verissimo foi o único de sua geração a manter exclusivamente a carreira de escri­
tor.
Porém, mais que condição ou posição e recursos, essas origens devem ser
vistas em relação à trajetória do grupo familiar e do universo social como um
todo. Ou seja, mais que de "fazendeiros" ou de uma fração da classe dominante
em decadência (Miceli, 1979), trata-se de um ethos e de um estilo de vida que têm
no capital social, político e cultural suas bases. Assim, se é certo que se trata de
um grupo familiar em decadência econômica, mais que de um grupo ou "classe",
trata-se de um universo social específico, política e socialmente importante e
que, além do capital de relações sociais, controlava os cargos político-adminis­
trativos e militares. Por outro lado, o grupo familiar de origem passa por uma
sucessão de crises, que envolve as derrotas nas lutas de facções locais e a perda de
favores e cargos políticos, e a inaptidão para a reconversão para novos estilos de
vida e atividades econômicas, agravada pela ascensão dos imigrantes italianos e
alemães9
Uma das conseqüências disso é que a amplitude das reconversões e,
conseqüentemente, as diferenças entre as condições de origem e o destino social
são maiores, mas, simultaneamente, é necessário levar em conta essas mesmas
condições de origem como possibilidade de acesso à carreira, à "cultura" e a
"política". Além do relativo fracasso escolar, nas relações familiares de origem e

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estudos históricos e 2003 - 32

nos primeiros empregos e negócios, o autodidatismo e a iniciação na literatura


constituem-se numa espécie de "fuga" do universo social em que estava inserido
(Verissimo, 1972: 8-9). Devido a essas origens e à carreira bem-sucedida de
escritor e "intelectual", além de outras razões, ao contrãrio de M. Bernardi,
manteve uma postura de menor adesao imediata, e mais "ética", relativamente à
política, podendo, inclusive, retrospectivamente, apresentar esse trajeto como
baseado na "coerência" (Verissimo, 1976: 319). Porém, essa recusa à adesão
direta à "política", considerada como mobilização e clivagens partidãrias, pas-
, sou a ser um dos principais objetos de crítica dos demais "intelectuais", além das
controvérsias que envolvem sua classificação como "regionalista", sua não­
filiaçao a alguma religião, ou, ainda, sua adesão ao "American way of life" (ver,
particularmente, Verissimo, 1976; Chaves, 1976; Bordini, 1997, e Furlan, 1977).
Para o que está em pauta, o que interessa destacar é que esse tipo de polêmica e
reinterpretação ocorreu nas últimas décadas, quando o regionalismo passou por
redefinições e sua versão mais "heróica" perdeu legitimidade na cultura erudita,
o que não exclui a legitimidade dos temas "regionais" ou "locais" ou, ainda, algo
como o "regionalismo social" por oposição ao "regionalismo heróico". Portanto,
mais que ser regionalista, o que está em questão são os critérios de definição
desse regionalismo, cujas alterações podem acentuar determinados critérios de
diferenciação, mais "naturais", mais literários, ou mais políticos.
Portanto, esse regionalismo tem diferentes aspectos, e são exatamente
suas definições e relações com diferentes esferas que constituem alguns dos
principais eixos de controvérsias e tomadas de posição. O primeiro ponto a
destacar é que esse regionalismo antecede e passa a ser um componente da
Revolução de 30. Como já mencionado, além das modalidades de imbricação da
"cultura" com a "política", essas disputas pelos critérios legítimos de definição
do regionalismo estão diretamente associadas com as estratégias e os "projetos"
dos "intelectuais" ou protagonistas em diferentes esferas, nem sempre
excludentes, mas irredutíveis, podendo adquirir contornos mais "culturais" ou
mais "políticos". Embora não possa ser detalhado aqui, cabe mencionar que um
dos desdobramentos disso abrange não apenas o regionalismo literário como
produção cultural legítima e os respectivos critérios de apreciação estética, mas
também os estudos literários, nos quais, além dos confrontos entre o
regionalismo e as demais "escolas" ou "tendências" literárias, estão presentes as
tensões ou contraposições entre a "mitologia" subjacente e a "qualidade
literária" ou estética 10 O que importa destacar é que há uma concepção de
produção "cultural" como algo equivalente à consagração de monumentos e
legitimação de "missões" e que, mais do que de interesses editoriais, isso decorre
de estratégias de consagração literária e de utilização política do regionalismo
(Bertaso, 1993: 142).

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As missões da ((cult1lra" e da ((política"

Seja como for, após os primeiros anos que antecedem e que se seguem à
Revolução de 30, a Revista do Globo estava subordinada à mobilização política, e o
conjunto da "produção literária" publicada mantinha um caráter predo­
minantemente regionalista. Com as mudanças posteriores na direção (subs­
tituição por E. Verissimo e outros, alguns frontalmente divergentes do governo
Vargas, entre os quais se inclui o grupo proprietário da editora) e nos padrões de
consumo cultural, ou sua transformação numa " revista popular" (Verissimo,
1972), passa a haver uma crescente diferença entre a mobilizaçao "cultural", que
se definia como "revolucionária", e o apoio a um governo com um longo período
de controle político e muitas crises e conflitos ideológicos.
Nos anos seguintes, cada vez mais se fortalecem outras definições do
regionalismo, menos preocupadas com a mobilização política e com a mitologia
"heróica", e mais centradas na necessidade de incorporar o conjunto de catego­
rias ou grupos étnicos regionais na suposta especificidade das elites políticas e
culturais locais, em oposição a outras situações brasileiras ou temas, como os
percalços do governo Vargas ou as razões da impossibilidade da "democracia". A
própria "revolução" passa a ser tratada basicamente como comemoração, e os
critérios de inclusão no "panteão" tendem a se deslocar das figuras políticas de
destaque para as "eminências" em voga em diferentes esferas sociais.
Como é sabido, nessas alturas, na década de 1960, as divisões e oposições
ideológicas são outras. A Revolução de 30, com suas clivagens regionais, foi
substituída pelas "reformas" e o nacionalismo. Mas a Revista do Globo nem chega
a se posicionar nessas novas divisões, desaparecendo por motivos comerciais
logo adiante, em 1963. Ocorre que as condições de usos sociais, tanto do
regionalismo quanto de "panteões", se modificaram, e os interessados e com
condições para tanto o fazem nas perspectivas mais diferenciadas, seja através da
"história", da literatura, do ensaísmo, ou de outras modalidades de expressão
"cultural".
Com o relativo distanciamento dos "intelectuais" vinculados à Editora
do Globo no que se refere à "política", no sentido de lutas governamentais e,
especificamente, do governo Vargas, passou a haver um esforço para redefinir o
regionalismo. Não se trataria mais do regionalismo diretamente associado à
mobilização política, inclusive porque esse aggiornamento decorre das diver­
gências quanto aos rumos da Revolução de 30, e também das novas condições de
relacionamento dos "intelectuais" locais com o restante do Brasil.
Esse empreendimento foi concretizado particularmente na Revista
Pravíncia de São Pedro, pelo menos em seu curto período de existência, de pouco
mais de dois anos. Porém, diversamente da anterior, que surgiu a serviço da
mobilização política, nesse caso, desde o início, houve um esforço para explicitar
que se tratava de um empreendimento "cultural" com um programa regiona-

135
estudos históricos. 2003 - 32

lista, como consta inclusive em seu primeiro editorial. Mas fica explícito
também que consiste numa reaçao dessa "elite cultural" às novas condições nas
relações centro/periferia - em oposição ao "centralismo" ou "padronização
cultural" - e, por outro lado, ao antigo regionalismo "tradicionalista" ou "sau­
dosista", ou aos "exclusivismos loca listas" em nome dos "autênticos valores do
passado". Nessa nova definição de "cultura", já não se trata de "gauchizar o
Brasil", visto que não está em questão uma relação direta entre esses "intelec­
tuais" e um projeto "político". A linguagem e o público visado também são ou­
tros, constituindo-se nos próprios "intelectuais" e na população escolarizada e
politicamente interessada.
Esse "cultural") no entanto, nao exclui a "política" num sentido mais
amplo, pois trata-se de uma definição da "cultura" como um fenômeno regional,
em que a unidade "cultural" é também uma unidade geopolítica, em suas
relações com uma unidade maior, constituída pela "nação". Desse modo, o que é
publicado está vinculado a esta concepção centrada na "conquista" do espaço
geográfico e na elaboração dos respectivos panteões de personagens.
Essa revista durou pouco, e tudo leva a crer que, além da maior diver­
sidade editorial para a literatura no período posterior, e das vicissitudes do regio­
nalismo intelectual, boa parte de seus objetivos e conteúdo foram incorporados
pelo sistema universitário, então em processo de institucionalização, inclusive,
com parte desses "intelectuais". Isso se aplica, principalmente, aos "ensaios" e
textos "históricos" ou "sociológicos", o que requer novas e mais sofisticadas re­
definições do regionalismo, da "cultura" e da "política".

o catolicismo, o "comunitarislllo orgânico" e as substituições dos et-.:os de


oposição ideológica
A outra posição de destaque nas lutas político-ideológicas em âmbito
estadual no decorrer do século XX consiste naquilo que pode ser designado
como "catolicismo", mas que contém uma série de desdobramentos e
transfolmações, entre os quais os principais devem ser destacados. O estudo
mais diretamente centrado nas relações do catolicismo com as lutas
político-ideológicas (Trindade, 1982: 39-41) está circunscrito à chamada
"geração católica", que é constituida por um grupo de "intelectuais" e políticos
que passaram pelos colégios de "elite" dos jesuítas e tiveram participação nos
conflitos ocorridos no processo de institucionalização do ensino universitário.
Entretanto, a "geração católica" representa apenas um desdobramento
de um fenômeno mais amplo, cronológica e socialmente. Mesmo evitando a
busca de invariantes substantivados, quando a problemática legítima e os eixos
de tomadas de posição são muito variáveis, parece indiscutível a existência da

136


As missões tia "cultura " c da "política "

continuidade de uma determinada matriz. A constatação dessa matriz não leva a


incorrer em algum tipo de nominalismo, por exemplo; tomando categorias tais
como "catolicismo", ou "positivismo", em seus significados formais. De qual­
quer modo, o ponto central a destacar é que, apesar da enorme variação das
condições sociais das lutas ideológicas e das diferentes esferas em que ocorrem,
há uma matriz geral básica que pode ser definida como "comunitarismo
orgânico". Esse tipo de "comunitarismo", ao mesmo tempo que pode modificar
sua pauta de temas de confronto em cada conjuntura histórica, adquire
modalidades distintas conforme as esferas sociais em que se apresenta. Portanto,
não apenas consiste em um fenõmeno religioso ou "católico", mas envolve,
simultaneamente, uma dimensão religiosa (podendo incluir religiões social e
culturalmente próximas, como o luteranismo) e uma dimensão étnica (visto que
diretamente associada aos grupos originários da "imigração européia"). I I
Mas a característica central desse "comunitarismo orgânico" é ser mul­
tidimensional, ou seja, uma concepção "integral" que recusa a possibilidade de
fundamentos distintos para cada esfera ou domínio social, como a religião, a
política, a educação etc. Assim, a "geração católica" se caracteriza por "uma uni­
dade estreita entre vários domínios" sendo, portanto, o "mesmo grupo que atuava
na política, na universidade e na prática religiosa" (Trindade, 1982: 40). Desse
modo, as dimensões e esferas se entrecruzam e sempre acabam fundindo-se e,
conseqüentemente, aquilo que se pode apresentar em nome da religião pode repre­
sentar, por exemplo, um príncípio de identidade émica, investimentos educacio­
nais, ou o engajamento e a militânr;a política nas mais diversas modalidades.
Porém, o peso de cada uma dessas esferas de atuação varia conforme as
respectivas posições dos agentes do clero e demais mediadores culturais, particu­
larmente das "colónias" e, por outro lado, de seus opositores. Sinteticamente,
numa primeira fase, os eixos principais que dividiam e opunham os mediadores
culturais das "colônias" foram dois. Em primeiro lugar, as clivagens relativas às
definições da identidade étnica e, por extensão, da identidade nacional, dos
imigrantes e seus descendentes e de suas relações com a religião. Em segundo
lugar, as oposições entre representantes do clero e das ideologias identificadas
como "anticlericais".12 Esses eixos de oposição que dominaram as preocupações
e lutas dos agentes do clero e de seus opositores foram sendo substituídos, mas,
por mais variadas que possam ser as posições político-partidárias, há lima con­
tinuidade desse "comunitarismo orgânico" que as transcende. Assim, se num
primeiro momento a principal questão era a identidade émica ou nacional, mais
tarde os principais objetos de oposição passaram a ser as ideologias "anticleri­
cais", entre as quais, particularmente, o "positivismo" e a "maçonaria" e, pos­
teriormente, as ideologias de "esquerda". Porém, nessa última fase, o próprio
campo religioso se bipolarizou, abarcando todo o espectro político-ideológico.

137
.studos históricos e 2003 - 32

Portanto, a chamada "geração católica" pode ser tomada como um


desdobramento específico dos investimentos educacionais das igrejas baseadas
nas "colônias", no caso, com uma estratégia própria de uma ordem, a dos
jesuítas, no sentido da educação das "elites" regionais, em processo de expansão
para o conjunto do estado através da atuação na capital. Porém, simulta­
neamente, insere-se numa tendência geral, a dos crescentes investimentos do
clero e, posteriormente, de "intelectuais" ou professores em geral, baseados nas
"colônias", na educação formal, o que tem como uma das conseqüências a
incorporação do mercado escolar da capital do estado por esses investimentos. A
principal novidade, além dos deslocamentos geográficos, está no público visado,
que não se restringe mais aos seminários ou à educação formal no âmbito das
"colônias", e sim volta-se especificamente para as "elites" estaduais
concentradas na capital. Uma das conseqüências disso é que a chamada "geração
católica", produto desses empreendimentos, é social e etnicamente heterogênea,
comparativamente às demais gerações de "intelectuais" com origens nas
"colônias". Posteriormente, chegou a haver uma espécie de "descolamento",
quando parte das "elites" que passaram a controlar o ensino universitário e a
política se caracterizou pela forte adesão a um determinado "catolicismo conser­
vador", e suas origens e trajetos sociais distanciaram-na e até opuseram-na às
"colônias", com seu catolicismo característico. Além disso, se num período
inicial esses empreendimentos educacionais se baseavam principalmente na
importação de professores europeus, tanto o recrutamento do pessoal quanto o
público visado passaram a se diversificar. Desse modo, ao mesmo tempo que as
"colônias" do estado passaram a "exportar" agentes da Igreja, as esferas sociais
abrangidas por atividades desse tipo foram se desdobrando, abrangendo a
educação, a organização dos mais diversos "movimentos" e instituições leigas, a
organização sindical, as lutas político-ideológicas e político-partidárias, entre
outras. Simultaneamente a essa diversificação das origens e trajetórias sociais,
das reconversôes, da ampliação das esferas de atuação e, inclusive, das
diferenciações· e oposições internas, ocorreu a manutenção e atualização de uma
concepção mais ou menos coerente e adaptável às diversas posições no espectro
político.
As próprias interpretações da história da imigração e de suas relações
com as instituiçôes cultural e politicamente dominantes, cujos autores inte­
gram-se nessa matriz, podem ser vistas, simultaneamente, como relatos histó­
ricos e depoimentos que a projetam. Esse é o caso dos relatos históricos sobre a
integração dos descendentes de imigrantes, seus fracassos na formação de
partidos próprios e os posteriores "projetos sócio-político-econômico-religiosos
mais abrangentes" (Rambo, 1995: 45). Ou, então, dos relatos históricos do "cato­
licismo de imigração" dos "italianos" que, além de sua importância na rede-

/38
As missões da "cultura " c da lipolítica "

finição étnica, de seu sucesso contra as ideologias "anticlericais", nos em­


preendimentos educacionais e na intervenção nas diferentes esferas sociais,
destacam que, nas estratégias subjacentes, "toda a vida social deveria ser atin­
gida. Além de paróquias (...) deveriam também surgir sindicatos, organizações
patronais, cooperativas, talvez partidos políticos, e principalmente escolas", daí
a importãncia estratégica de Porto Alegre (Boni, 1980: 246).13 Interessa destacar
que foi da evolução desse tipo de catolicismo que surgiram os Congressos Ca­
tólicos e a Associação dos Professores Católicos do Rio Grande do Sul, que
tiveram peso decisivo na institucionalização do ensino universitário e se cons­
tituíram no principal contraponto tanto ao "Grupo da Globo" quanto ao "posi­
tivismo" (Trindade, 1984 e 1987).
Portanto, nessa matriz, as relações com o fenõmeno político são neces­
sariamente mediatizadas por outras relações e identidades sociais. Se, por um
lado, isso leva a um distanciamento ou desprezo pela "política" como ela se apre­
senta (em nome de "partidos", "revoluções", "república"), por outro, insere algo
da "política" em todas as esferas e práticas sociais, sejam econômicas, religiosas,
educacionais, ou de qualquer outra espécie. Importa ressaltar que, além da for­
mação da Associação de Professores e Educadores Católicos do Rio Grande do
Sul, em 1949, e da Liga Eleitoral Católica,14 ainda na década de 1930, passou a
ocorrer um "movimento" com um conjunto de "ações" e uma rede crescente­
mente ampla de "grupos", abrangendo mais diretamente um amplo leque de es­
feras sociais, que vão das questões trabalhistas através dos Círculos Operários, e
da política partidária, à educação universitária. Além disso, apesar da resistência
ou ambivalência frente à política partidária, em nome do "grupo", boa parte
dos principais líderes desse catolicismo acabaram nela atuando - com diferen­
tes graus de contradições e desacertos -, bem como no ensino universitário. Vale
enfatizar que as posições políticas assumidas nos respectivos percursos são as
mais diversas, e que isso ocorre também com os que não chegaram a fazer carrei­
ra política.
Mas, se esse tipo de concepção de "cultura" e de "política" tem dificul­
dades na intervenção em esferas como a política partidária, isso adquire contor­
nos próprios quando se trata de instâncias específicas de produção ou difusão da
cultura erudita, como o ensino universitário ou a própria literatura. Com a
expansão do ensino universitário, a maior pane das instituições passaram a ser
controladas, em maior ou menor grau, por agentes vinculados a igrejas. Isso
inclui as universidades públicas, como a principal em âmbito estadual, a
UFRGS, na década de 1930. Além da "caça a prebendas" numa situação institu­
cionalmente frágil, a série de conflitos nesse processo teve como base as resis­
tências das escolas preexistentes e a oposição entre os "católicos" e os chamados

1 39
estl/dos ";stór;cos e 2003 - 32

"positivistas", sendo que aqueles tinham corno principal base a mencionada


Associação dos Professores e Educadores Católicos do Rio Grande do Sul, em
aliança com os metodistas, que acabaram sendo dominantes. Por outro lado, os
outros eram constituídos por um grupo de "ex-professores da Escola Militar de
Porto Alegre" (Soares e Silva, 1982: 30). Embora não seja possível esgotar as
implicações disso, cabe destacar que com o conflito presente nas relações entre a
"cultura" e a "política", paralelamente à criação da Faculdade de Filosofia dessa
universidade, houve a oficializaçao da versão dommante da própria filosofia e das
ctisciplinas conexas. Ou seja, o conteúdo da aula inaugural da faculdade, em 1943,
como "centro integrador" da universidade, foi oficializado pelo Conselho Uni­
versitário corno "posição ideológica" da universidade (Soares e Silva, 1982: 68).
Nessa mesma época, um conflito inicialmente de ordem "moral" e jurí­
dica entre um dos principais representantes do "catolicismo jesuítico" e E. Ve­
rissimo, que teve como estopim as críticas à moral católica supostamente conti­
das na literatura deste, acabou dividindo em posições distintas o conjunto dos
"intelectuais" do estado, através de manifestos de solidariedade. Porém, estavam
em questão também as tornadas de posição e os confrontos relativos ao fascismo,
ao Estado Novo, e à nova situação criada pela conjuntura pós-guerra. Aqui, o que
importa destacar é que, por mais virulentas que possam ter sido as tornadas de
posição, o seu conjunto contém urna concepção de "cultura" e de universidade
que as associa necessariamente à "política", ambas ligadas à idéia de "missão".
Isso, corno já mencionado, possibilita mudanças quanto às posições políti­
co-ideológicas, sem que haja ruptura com a concepção unidimensional das mes­
mas. Inclusive, no caso em paUla, algumas avaliações retroativas concluem que
teria havido um "superdimensionamento" do conflito (Berraso, 1993: 47 e 51). 1 5
Sendo assim, pouco importam o conteúdo intrínseco e as justificativas
para a oficialização de determinada doutrina nesse processo de institucionaliza­
ção do ensino universitário, inclusive porque, pouco tempo depois, as posições
dominantes modificaram-se e passaram a se cristalizar nas proposições e torna­
das de posição em favor das reformas universitárias, particularmente no início
da década de 1960. A linguagem e a pauta de problemas, então, se invertem, mas
a "cultura" e a "política" como "missões" continuam. Inclusive, um dos princi�
pais protagonistas das lutas por essas reformas, Ernani M. Fiori, foi, também,
um dos mais exemplares representantes do "comunitarismo orgânico", embora
com um trajeto progressivamente mais à "esquerda" no espectro político, ao con­
trário de outros membros do "grupo", no extremo opostO. 16 Inclusive, na série de
expurgos de professores universitários que sucedeu o golpe militar, há "católi­
cos" tanto entre os expurgados (corno o próprio E. Fiori) quanto no lado contrá­
rio (corno é o caso de Armando Câmara e Laudelino Medeiros), muitos dos quais
pertenceram ao mesmo "grupo" ou "movimento", Lamentavelmente, nâo há es­
paço disponível para a apresentação de uma síntese do trajeto social dos princi-

140
As missões da {leulfura " c da Itpolítica "

pais representantes desse "comunitarismo orgânico" e de suas tensões, afinida­


des e adaptações a diferentes universos sociais, seja universitário, político, ou de
"cultura" em geral (incluídos em Coradini, 1998). Nesse caso, E. Fiori, filho de
um alfaiate imigrante italiano, que se notabilizou como professor universitário
de filosofia e militante de diferentes "movimentos", com uma trajetória ideoló­
gica que vai do tomismo a um certo "marxismo" com fundamentação teológica,
representa uma versao mais centrada no ensino universitário e, no interior deste,
um desdobramento mais à "esquerda" no espectro político-ideológico. No pró­
prio universo universitário, no entanto, outros integrantes do mesmo "grupo"
reorientaram suas trajetórias para um catolicismo mais "integrista" e politica­
mente mais à "direita" (A. Câmara e L. Medeiros, entre outros), seja na universi­
dade, seja em outras esferas de atuação, sem que essa diversificação de posições
políticas implicasse, necessariamente, algum tipo de ruptura com o "catolicis­
mo" ou, mais especificamente, com o "comunitarismo orgânico".
Com uma trajetória mais diretamente associada à esfera político-par­
tidária, poderia ser considerado exemplar A. Pasqualini, filho de um "escrivao
distrital" numa "colônia italiana", que foi seminarista e professor universitário,
tido como o "intelectual ideólogo do trabalhismo brasileiro". Além de uma car­
reira política relativamente bem-sucedida, consegu iu elaborar uma espécie de
amálgama de princípios originários do catolicismo da época com outras filoso­
fias sociais, particularmente algumas doutrinas jurídicas ou provenientes do
"reformismo social" europeu. Apesar de toda a sua carreira ser marcada por for­
tes polêmicas com setores do "catolicismo", das "esquerdas", do próprio "traba­
lhismo" e com os "liberais", isso decorre mais da lógica das lutas e da concor­
rência político-eleitoral que de algo que remeta aos confrontos "intelectuais", ou
a alguma ruptura com o catolicismo l7
No período posterior, a partir da década de 1960, as modalidades dos
amálgamas da "cultura", ou do "catolicismo", com a "política" ampliaram-se
(Concílio Vaticano lI, "teologia da libertação", oposição ao regime militar). Em­
bora esse período esteja fora dos limites deste trabalho, cabe destacar que se por
um lado essas mudanças das relações do "catolicismo" com a "política" estão
vinculadas ao que ocorreu em âmbito internacional e nacional, por outro, estão
diretamente condicionadas pelas modalidades de associação entre "cultura" e
"política" incorporadas e postas em prática pelas elites locais.
Embora não se possa desenvolver aqui, vale ressaltar que todos esses
protagonistas poderiam ser tomados como casos exemplares da mediação de um
e/Ms que se interpõe entre as origens e os destinos sociais e políticos. Isso está di­
retamente presente nas modalidades e resultados das estratégias de compatibi­
lização ou adaptação desse "comunitarismo orgânico" a diferentes universos, se­
ja o ensino universitário, a política ou a "cultura" em geral.

141
estudos históricos e 2003 - 32

Notas

1. Trata-se de projeto desenvolvido 8. Ver Bernardi ( 1980a, 1980b,


no período de 1996 a 1998, com o 1981, 1982a e 1982b) e Vergara ( 1 960).
apoio de uma Bolsa de Produtividade 9. Para maiores informações ver
em Pesquisa do CNPq. Ver Coradini particularmente Veríssimo (1972 e
(1998). 1976); .Chaves ( 1996); Bordini ( 1 997) e
2. Alguns autores, como Pécaut Fresnot ( 1977).
(1990: 1 1), preferem não definir a 10. Para o estudo do regionalismo
categoria "intelectual", tomando-a em literário gaúcho do período)
seus usos pelos protagonistas. ver Leite ( 1978). Sobre sua
Outros, como Sigal ( 1996: 22), a diversificação, ver Zilbermann ( 1992).
tomam como os "produtores de noções Sobre a incorporação de temas alusivos
comuns concernentes à ordem social". aos descendentes de imigrantes
Como, na si[Uação estudada, todos os italianos no regionalismo) ver Armando
que mantêm alguma especialização ou ( 1986).
atuação na "cultura" estão envolvidos na
"produção" ou na reformulação de 11. Sobre o "catolicismo de
definições relativas à "ordem social", imigração" e suas estratégias
este parece ser um critério de inclusão educacionais e de intervenção
suficiente. político-ideológica, ver Boni ( 1 980).
Para uma compilação
3. Para abordagens com preocupações de uma série de trabalhos sobre a
semelhantes, ver Karady (1995) imigração italiana, ver Bani ( 1 990,
e Saint Martin (1993). 1996 e 1997).
4. Para uma listagem dos jornais 12. Para detalhes quanto a essas
existentes no Rio Grande do Sul, lutas, ver Azzi (1990) e Boni
ver Biblioteca Nacional (1994). (1980). Sobre as variações nos usos
Sobre alguns desses jornais, ver da noção de "italianos", ver Coradini
Dillenburg (s.d.) e Galvani (1995). ( 1996).
Sobre as publicações vinculadas à Igreja
Católica, ver Azzi ( 1990).
13. Sobre a fragilidade "cultural"
ou educacional dos chamados
5. Ver Bertaso (1993 e 1997). "positivistas" frenle à educação católica)
6. O confronto dessas diferentes ver Trindade ( 1982).
definições de modalidades de 14. Ver Carrion ( 1983).
apropriação da "cultura" pode ser
15. Para uma descrição mais
constatado também nos respectivos
detalhada desse conflito, ver Trindade
trajetos e relams retrospectivos dos
(1984).
protagonistas envolvidos. Ver
Veríssimo (1976), Bertaso (1997) e 16. Relalivamenle a E. Fiori, ver
Bernardi (1982). particularmente o conjunto de seuS
principais trabalhos (Fiori, 1958, 1963 e
7. Para detalhes, ver Bernardi (1982),
1991) e Trindade (1987)
Veríssimo ( 1 972), Leite ( 1978), e os
números iniciais da própria Revista do 17. Para maiores detalhes, ver
Globo. Pasqualini (1958) e Simon ( 1 994).

142
As missões da "cultura " e da "política "

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