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FACULDADE DOCTUM DE IPATINGA

DIREITO PENAL IV - PARTE ESPECIAL:


DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA

IPATINGA
2021
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DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA

DOS CRIMES DE PERIGO COMUM

Este instituto está presente no Código Penal de 1940, no Título VIII, “Dos
Crimes contra a Incolumidade Pública” e no Capítulo I deste Código. Podemos
destacar que os Crimes de Perigo Comum são destinados para tratar sobre
condutas que, de certa forma, causam um perigo eminente e um risco a um certo
número de pessoas.

PERIGO DE INCÊNDIO – ART. 250 DO CP

Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o


patrimônio de outrem:

Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.

No referido artigo é possível entender em seu texto a sua especificidade em


indicar a conduta do agente, que pode causar um perigo notável para a integridade
física ou o patrimônio de alguma pessoa. Sendo que é passível de multa e, também,
pode ser determinada a Pena de reclusão, podendo variar de 3 a 6 anos. O
incêndio, segundo os ensinamentos de Júlio Mirabete (2012), é a combustão de
qualquer matéria que pode acabar causando destruição parcial ou total que, a
depender da proporção e das condições, pode propagar-se e, assim, expor a
incolumidade pública a sofrer algum tipo de perigo. Desta forma, só o fogo que
acarreta risco pela carbonização progressiva é que pode ser considerado como um
incêndio propriamente dito. Vale citar que o art. 250 também trata das modalidades
majoradas em seu parágrafo primeiro, que são as causas do aumento de pena,
fixando a fração de aumento em um terço: 

§ 1º - As penas aumentam-se de um terço: 

1. - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito


próprio ou alheio;
2. - se o incêndio é:
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1. em casa habitada ou destinada a habitação;


 

1. em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social


ou de cultura;
2. em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
 

1. em estação ferroviária ou aeródromo;


 

1. em estaleiro, fábrica ou oficina;


 

1. em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;


 

1. em poço petrolífero ou galeria de mineração;


 

1. em lavoura, pastagem, mata ou floresta.


 

Desta maneira, é possível identificar as várias formas de cometer o crime e


se adequar nas causas de aumento de pena.

EXPLOSÃO – ART. 251 DO CP

 Em seu caput, o art. 251 traz a seguinte disposição legal: “Expor a perigo a
vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso
ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos
análogos”. Portanto, o crime de Explosão está diretamente relacionado com a
possibilidade do agente, utilizando de alguma ferramenta ou meio indevido, causar
uma explosão e, em alguns casos, danificar patrimônio de outras pessoas ou até
mesmo, ferir, expor ou causar óbito de outrem. A pena aplicada para esse tipo de
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delito é de 3 a 6 anos e também é cabível a multa para aquele que cometer,


devendo ser analisado caso a caso.

MODALIDADE PRIVILEGIADA:

Essa forma está prevista no parágrafo primeiro do art. 251 do CP, e traz
uma proporção menor para a pena, no seguinte formato: a reclusão (que pode
variar entre 3 a 6 anos) e a multa. Cabe ressaltar que se a substância utilizada
para a prática do ato criminoso não for dinamite ou um tipo de explosivo que cause
efeitos análogos, será classificada como uma modalidade privilegiada, já que se
trata de uma explosão de potência menor e que, consequentemente, causa menos
estragos e danifica menos objetos ao redor.

MODALIDADE MAJORADA:

A modalidade majorada é tratada no parágrafo segundo do art. 251, e, em


seu texto, dispõe sobre as possibilidades que agravam a pena, com o aumento de
um terço.

MODALIDADE CULPOSA:

 Na forma culposa, o crime de explosão ganha uma diferenciação, passando


a ser uma pena de detenção, calculada em um tempo de 6 meses a 2 anos.
Lembrando que, para enquadrar neste tipo, é necessário que haja o uso de
explosivo que cause efeito análogo ou o uso de dinamite no ato.

USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE – ART. 252 DO CP

O crime de uso de gás tóxico ou asfixiante é classificado como um delito


de perigo concreto, pois ele pode causar um notório risco à integridade física, ao
patrimônio alheio ou à vida da vítima. O crime do artigo 252 do Código Penal é
considerado como um crime comum, e se configura assim independentemente de
qualquer qualidade específica do agente. Pode ser entendido como doloso, sendo
que, caso haja o elemento subjetivo específico que seria lesionar ou matar, o crime
será outro. Ademais, é admitido a tentativa, em razão de ser um crime
plurissubsistente.
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FABRICO, FORNECIMENTO, AQUISIÇÃO POSSE OU TRANSPORTE DE


EXPLOSIVOS OU GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE – ART. 253 DO CP

 Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da


autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material
destinado à sua fabricação:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Neste artigo, percebe-se a presença do tipo de conduta do agente que visa


a produção, a obtenção ou a posse de produtos sem a devida autorização legal
para comercializar, trocar ou utilizar em algum ato delituoso substância ou
engenho explosivo, gás tóxico ou gás que cause asfixia. A título de curiosidade, é
interessante destacar que Rogério Sanches (2010), em sua obra, trata sobre uma
observação: que o crime do art. 253 do CP foi parcialmente revogado por uma Lei,
de nº 10.826/2003. E nesse contexto, pode-se observar que o art. 16 da referida
Lei trás a seguinte determinação:

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,


transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter
sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou
restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Nessa observação, o autor aborda que todos os núcleos do tipo são


envolvidos pelo crime da legislação extravagante. E que se encaixa nessa
possibilidade pelo fato de o agente fornecer ou transportar de alguma maneira tal
instrumento e, para isto, é preciso haver a posse desses objetos utilizados no
crime.
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CRIMES DE INUNDAÇÃO; PERIGO DE INUNDAÇÃO; DESABAMENTO;


SUBTRAÇÃO, OCULTAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE MATERIAL DE
SALVAMENTO; DIFUSÃO DE DOENÇA OU PRAGA – ARTS. 254, 255, 256, 257
E 259 DO CP

Esses delitos, de modo geral, estão relacionados com a prática indevida, a


utilização de meios ilegais, a vontade do agente de causar atentados contra a paz,
e também, causar o dano físico, estético ou moral em suas vítimas, podendo ser
de maneira certa ou incerta. Nem sempre haverá pessoas determinadas para
sofrer destes tipos de crimes. Assim, o número de atingidos pode ser pequeno,
como também pode ser altíssimo. 

DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E


TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS PÚBLICOS

 Ele está presente no Capítulo II do Título VIII, busca tutelar a segurança de


serviços de interesse público.

 PERIGO DE DESASTRE FERROVIÁRIO. ART. 260 DO CP.

Caput: Impedir ou perturbar serviço de estrada de ferro.

 Os verbos, revelam duas condutas alternativas, recaindo ambas sobre o


serviço da estrada de ferro. O crime, que só pode ser praticado de acordo com os
métodos descritos no tipo, seguindo os modos: destruindo, danificando ou
desarranjando, total ou parcialmente, linha férrea, material rodante ou de tração,
obra de arte ou instalação; colocando obstáculo na linha; transmitindo falso aviso
acerca do movimento dos veículos ou interrompendo ou embaraçando o
funcionamento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia; praticando outro ato de que
possa resultar desastre. O artigo não exige especificidade para o sujeito ativo e o
passivo é toda a coletividade. A ação penal será pública incondicionada. O “iter
crimes” pode ser separado. No exemplo de Hungria, fica clara a divisão da tentativa
da consumação:

Alguém retira um pedaço de ferro do binário, mas o trem


passa incólume, e um posterior exame pericial constata que
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nenhum desastre poderia ter ocorrido. O crime, evidentemente,


não se consumou. Teria havido uma tentativa, quando não um
crime impossível Se, entretanto, a perícia verificar que o desastre
podia ter sobrevindo, e que tal não se deu porque o trem, dada a
velocidade que levava, pôde seguir na guia, já não se pode deixar
de ter o crime consumado.

 No caso acima, também é possível extrair a classificação doutrinária do


delito como crime de perigo concreto, porque se consuma com a possibilidade de
dano real e iminente. É o dolo, consubstanciado na vontade consciente de impedir
ou perturbar serviço de estrada de ferro, mediante uma das formas previstas nos
incisos I a IV. Não se exige qualquer finalidade especial por parte do agente. Pode
ocorrer por omissão. No exemplo de Rogério Sanches: “o funcionário do serviço
ferroviário que deixa de operar a chave de desvio, podendo fazê-lo, sabendo que
dois veículos passarão pelo mesmo local, gerando perigo de colisão ou sua efetiva
ocorrência”. Conceito adaptado de estrada de ferro: qualquer via de comunicação
em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo.
Estão incluídos os bondes, os metrôs e os teleféricos. Desse modo, também
incorrem no art.260 do CP se englobar esses outros meios de transporte. Em
relação ao bem jurídico tutelado, o STF já entendeu que por uma questão de lógica,
o tipo penal protege a vida das pessoas indiretamente, pois a preservação da
incolumidade pública consubstanciada na segurança dos meios de comunicação e
transporte consegue, ao mesmo tempo, evitar catástrofes envolvendo seres
humanos. No caso do “surf ferroviário” (pessoas se equilibrando sobre a composição
do trem em andamento), a jurisprudência não tem admitido, não vislumbrando no
comportamento do "surfista urbano" outra intenção que não a de expor a perigo a
própria vida, faltando, portanto, o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade
livre e consciente de criar situação concreta de perigo de desastre ferroviário. Em
caso de acidente, o STJ considerou culpa exclusiva da vítima, quem o pratica,
assume as consequências, não se podendo exigir da companhia ferroviária efetiva
fiscalização.

O § 1º consagra um preterdolo, dolo no antecedente e culpa no


consequente, se da conduta do agente, criar um risco iminente para uma estrada
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de ferro, resultar um desastre culposo, haverá forma qualificada. Vale lembrar que,
nessa hipótese, a tentativa é impossível, porque além do resultado ser culposo, a
conduta inicial já configura crime básico. Pena: reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.

O § 2º traz a hipótese da forma culposa no antecedente e no consequente


no âmbito da negligência, imprudência ou imperícia. Diz Mirabete ser possível a
punição pelo crime culposo na hipótese em que o desastre foi causado por terceiro
e o agente, obrando com culpa, deixa de evitar o resultado. Pena: detenção, de 6
meses a 2 anos. A punição é evidentemente menos rigorosa, pois não existe a
vontade consciente de provocar o perigo de dano concreto. O que na realidade
acontece configura-se como a inobservância do dever objetivo de cuidado. 

MAJORANTES DE PENA

 De acordo com o disposto no art. 263 do Código Penal, "Se de qualquer dos
crimes previstos nos arts. 260 a 262, no caso de desastre ou sinistro, resulta lesão
corporal ou morte, aplica-se o disposto no art. 258".

Temos, dessa forma, o seguinte:

Sujeito ativo Qualquer pessoa

Sujeito passivo A coletividade e os eventuais lesados

Conduta Colocar em risco o serviço prestado em estrada de


ferro

Voluntariedade Dolo, consubstanciado na vontade consciente de


impedir ou perturbar serviço de estrada de ferro, mediante
uma das

formas previstas nos incisos I a IV

Consumação No momento em que é instalado o perigo (real,


concreto e iminente) de desastre

ferroviário

tentativa É possível, desde que na forma comissiva


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Bem jurídico Incolumidade pública

Ação penal Pública e incondicionada

1. se do crime doloso resulta desastre, que, por sua vez, causa lesão corporal
grave, a pena é aumentada de metade;
2. se do crime doloso resulta desastre, que, por sua vez, causa morte, a pena é
dobrada;
3. se do crime culposo resulta desastre, que, por sua vez, causa lesão corporal
grave, a pena é aumentada de metade;
4. se do crime culposo resulta desastre, que, por sua vez, causa morte, a pena é
a do homicídio culposo, aumentada de um terço.
 

ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE TRANSPORTE MARÍTIMO,


FLUVIAL OU AÉREO.

Art. 261 do CP. Caput: Expor a perigo embarcação ou aeronave,


própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar
navegação marítima, fluvial ou aérea.

Tutela-se a incolumidade pública, agora no que diz respeito ao transporte


marítimo, fluvial e aéreo. Os núcleos do tipo são: expor, praticar, impedir, dificultar.
É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo próprio
proprietário do veículo. O sujeito passivo se trata de toda a coletividade, e em caso
de desastre, os eventualmente lesados. A ação penal será pública incondicionada,
cujo julgamento compete à Justiça Federal (art. 109, IX, CF/88). É de perigo
concreto, consumando-se com a criação do perigo, que deve ser efetivo e
concreto. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. Há duas ações típicas
previstas. A primeira se refere à exposição de embarcação ou aeronave a perigo, o
que pode se dar por meio das mais variadas formas, pois que não limitada a ação
pelo legislador. A segunda consiste em praticar qualquer ato tendente a impedir
(evitar) ou dificultar (embaraçar) navegações marítimas, fluviais ou aéreas, que
também é de ação livre. Desse modo, embarcações ou aeronaves, destinadas ao
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público, precisam ser inseridas no fato, do contrário a conduta não se amolda ao


artigo 261 do CP. Nesse mesmo sentido, Regis Prado, citando Hungria, explica:

É indispensável que a embarcação ou aeronave - própria


ou alheia; ancorada ou em pouso; em viagem ou em voo - destine-
se ao transporte coletivo ou público. Configura a conduta em
apreço a prática de qualquer apto a expor a perigo ou capaz de
impedir ou dificultar o transporte marítimo, fluvial ou aéreo, tais
como: provocar o abalroamento ou colisão de embarcações ou
aeronaves, ou o investimento de umas ou outras contra
resistências passivas; fazer brecha em embarcação, ensejando a
invasão de águas; destruir ou remover aparelhos ou peças
indispensáveis à orientação ou segurança da embarcação ou
aeronave; apagar, inutilizar ou deslocar sinais guiadores; remover
boias ou faróis; colocar falsos faróis, ou transmitir falsos avisos;
tornar impraticável algum ancoradouro ou campo de pouso etc.

O § 1º qualifica a conduta com o resultado preterdoloso, neste cenário,


dolo no antecedente e culpa no consequente, se do fato resulta naufrágio,
submersão ou encalhe de embarcação ou a queda ou a destruição de aeronave.
Pena: reclusão, de 4 a 12 anos

O § 2º prevê a eventual vantagem econômica, seja para o próprio agente,


seja para outrem. Neste caso, aplica-se, cumulativamente, a pena de multa.

O § 3º tipifica a hipótese do agente não tomar os devidos cuidados para


evitar o resultado. Pena: detenção, de 6 meses a dois anos, menos dura, pois está
na modalidade culposa.

Sujeito ativo Qualquer pessoa

Sujeito passivo A coletividade e eventuais lesados

conduta Expor a perigo, embarcação,


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aeronave ou dificultar a navegação


marítima, fluvial ou aérea
 

Voluntariedade Dolo, consubstanciado na vontade


consciente de expor a perigo
embarcação ou aeronave, própria ou
alheia, ou praticar qualquer ato
tendente a impedir ou dificultar
navegação marítima, fluvial ou aérea

consumação No momento em que se verifica a criaç


(concreto, real e efetivo) ao regular funcionam
transporte marítimo, fluvial ou aéreo

tentativa É admissível, vez que se trata de


crime plurissubsistente

Bem jurídico Incolumidade pública

Ação penal Pública e incondicionada


 

 CP.

 Atentado contra a segurança de outro meio de transporte. Art. 262 do

 Caput: Expor a perigo outro meio de transporte público, impedir-lhe ou

 dificultar-lhe o funcionamento.

 O dispositivo prevê como conduta típica a de expor a perigo outo meio de


transporte público ou prejudicar seu funcionamento. Ele busca tutelar a segurança
do lacustre que realiza transporte entre lagos geralmente, do rodoviário, também é
possível imaginar o aeroespacial que, mesmo que não implementado como serviço
de transporte de passageiros, já vem sendo utilizado inclusive para fins privados e
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pode se tornar público no futuro. A incolumidade pública é o bem jurídico protegido.


Uma vez mais, trata-se de crime de perigo concreto, em que se exige, para tornar
punível a conduta do agente, a efetiva comprovação de risco à incolumidade pública.
Qualquer pessoa pode praticar o crime, até mesmo o proprietário do meio de
transporte. O sujeito passivo é a coletividade, e em caso de desastre, os lesados
pelo comportamento criminoso. As penas cominadas no caput e no § 2° permitem a
transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95), mas ambos
os benefícios são afastados no caso de desastre, tipificado no § 1°. Na hipótese de
incidência da majorante prevista no art. 263, há diversas possibilidades: tratando-se
de crime doloso que resulte em lesão grave ou morte, nenhum benefício será
admitido; em que pese o crime culposo, do qual decorra lesão grave ou morte,
permanece a possibilidade de transação penal e de suspensão condicional do
processo. Observação: a Lei 9.099/95 instituiu os juizados especiais cíveis e
criminais, a referida lei melhorou o exercício da jurisdição para a resolução dos
conflitos de maneira mais célere, objetivando a reparação dos danos sofridos pela
vítima e a aplicação da pena não privativa de liberdade.

O § 1º prevê o crime qualificado se do fato praticado pelo agente resulta


desastre, dolo no antecedente e culpa no consequente. Pena: reclusão, de 2 a 5
anos.

O § 2° traz a forma culposa do crime, culpa tanto no fato antecedente


quanto no subsequente. Pena: detenção, de 3 meses a 1 ano.

Sujeito ativo Qualquer pessoa

Sujeito passivo A coletividade e os eventuais


lesados

conduta Expor a perigo, dificultar ou impedir


de outro meio de

transporte público

voluntariedade Dolo, consistente na vontade


consciente de expor a perigo meio
de transporte público (que não os
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enunciados nos arts. 260 e 261),


impedir-lhe ou

dificultar-lhe o funcionamento

consumação No momento em que se verifica o


perigo (concreto) à incolumidade
pública

Tentativa É possível, trata-se de crime


plurissubsistente

Bem jurídico Incolumidade pública

Ação penal Pública e incondicionada


 

FORMA QUALIFICADA. ART. 263 DO CP.

Caput: Se de qualquer dos crimes previstos nos arts. 260 a 262, no


caso de desastre ou sinistro, resulta lesão corporal ou morte, aplica-se o
disposto no art. 258.

Art. 258. Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal


de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se
resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão
corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena
cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.

 Observação: nesse contexto, sinistro significa desastre em grande prejuízo.

 ARREMESSO DE PROJÉTIL. ART. 264 DO CP.

Caput: Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado


ao transporte público por terra, por água ou pelo ar.

 O núcleo do tipo é arremessar. A conduta incriminada é arremessar projétil


(objeto sólido lançado por impulsão, que a doutrina destaca dever ser pesado)
contra veículo, em movimento, destinado ao transporte público por terra, por água
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ou pelo ar. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, tranando-se de crime comum e
doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial do tipo. É de perigo abstrato.
A maioridade da doutrina entende ser unissubsistente, não sendo admissível a
tentativa, sendo que Mirabete tem entendimento contrário, ele reconhece o “conatus”
quando já iniciada a conduta do arremesso, o resultado (perigo) não ocorre por
circunstâncias alheias à vontade do agente. O sujeito passivo é toda a coletividade
e, eventualmente o prejudicado pela conduta do agente. A incolumidade pública é o
bem jurídico protegido. A ação penal será pública e incondicionada.

Observação: “conatus” significa tentativa de cometer o delito. Em


relação ao código anterior Hungria faz a seguinte análise:

O antigo Código, no seu art. 150, equiparava ao desastre


ou perigo de desastre ferroviário, para todos os efeitos, o
arremessar projéteis, ou corpos contundentes, contra um comboio
de passageiros em movimento. Não se justificava tal equiparação,
dada a gravidade sensivelmente menor de semelhante fato, nem
tampouco que apenas gozasse da proteção penal o comboio de
estrada de ferro, ficando excluído qualquer outro veículo, ainda
que também a serviço do transporte coletivo.

O raciocínio de Hungria faz sentido, pois arremessar um projétil para um


comboio de estrada de ferro tem um efeito mais brando, o veículo é construído
com material bem resistente, então a mudança na tipificação deu melhor
tratamento ao fato. A Lei diz expressamente que o veículo contra o qual se
arremessa o projétil esteja em movimento, porém a parte minoritária da doutrina
sustenta a hipótese do transporte destinado ao coletivo que estiver parado em via
pública e não estacionado também poderia ser abarcado neste dispositivo legal.
Vale salientar que o referido artigo não engloba o projétil advindo de arma de fogo,
existe uma Lei específica que trata esse tipo de conduta: art. 15 da Lei n°
10.826/03: “Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em
suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta
não tenha como finalidade a prática de outro crime”. No caso de líquidos, Fragoso
explica: “não é possível, sem recorrer à analogia, equiparar os líquidos corrosivos
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ao projétil (salvo se estiverem contidos em recipiente sólido, como faz Nélson


Hungria”.

O parágrafo único enfatiza o preterdolo, se do fato resulta lesão corporal,


pena: detenção, de 6 meses a 2 anos, se resulta morte, a pena é a cominada no
art. 121, § 3°, aumentada de um terço.

Sujeito ativo Qualquer pessoa

Sujeito passivo A coletividade e eventuais lesados

Conduta Arremessar projétil contra veículo,


em movimento, destinado ao
transporte público por terra, por
água ou pelo ar

Voluntariedade Dolo, consistente na vontade


consciente de arremessar projétil c
ontra veículo, em movimento,
destinado ao transporte

público por terra, por água ou pelo ar

Consumação No momento em que o projétil é


lançado, ainda que não atinja o
veículo

Tentativa Não é possível, crime unissubsistente. 


doutrinária.

Bem jurídico Incolumidade pública

Ação penal Pública e incondicionada


 

ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA PÚBLICA. ART. 265 DO CP.

Caput: - Atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviço de


água, luz, força ou calor, ou qualquer outro de utilidade pública.
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A ação nuclear típica é atentar. Volta-se a conduta contra a segurança ou o


funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, podendo ainda se voltar
contra qualquer outro que seja de utilidade pública (interpretação analógica).
Novamente tutela a incolumidade público. Qualquer indivíduo pode ser o sujeito
ativo, tratando-se, pois, de crime comum, inclusive o fornecedor, funcionário ou
empregador que exerça atividades referentes aos serviços de utilidade pública. O
sujeito passivo é o Estado representado pelo seu corpo social (coletividade).
Secundariamente, pessoas atingidas pela conduta do agente, as vítimas. No
tocante ao serviço de utilidade pública (elementar do tipo), Bento de Faria alerta
para não ser confundido com os serviços públicos em geral:

O serviço público, considerado objetivamente, é o que


interessa · de modo imediato ao desenvolvimento da vida
administrativa do Estado, caracterizando, necessariamente, a
função pública, expressiva de uma autoridade de natureza
legislativa, administrativa ou judiciária. ( ... ) Não é desse serviço,
porém, que se ocupa o texto em apreço, mas dos de utilidade
pública, quando a lei expressamente os considere, ou quando
sejam expressivos de encargos que, embora possam ser
guardados pelo Estado, por corresponderem a satisfação da
necessidade coletiva, são por ele deferidos ao desempenho
particular, mediante concessão ou autorização.

Dessa forma, a conduta descrita no dispositivo legal só recai naqueles


serviços em que o Estado, outrora exercidos por ele mesmo, delegou para os
particulares ou terceiros, por meio de concessão ou autorização, nas palavras de
Celso Antônio Bandeira de Mello:

A concessão é o instituto através do qual o Estado atribui o


exercício de um serviço público a alguém que aceite prestá-lo em
nome próprio, por sua conta e risco, nas condições fixadas e
alteráveis unilateralmente pelo Poder Público, mas sob garantia
contratual de um equilíbrio econômico- financeiro, remunerando-se
pela própria exploração do serviço, em geral e basicamente
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mediante tarifas cobradas diretamente dos usuários do serviço (DE


MELLO, 2009).

 O entendimento majoritário é que o crime é de perigo abstrato, sendo que o


perigo, assim, é presumido por lei, o minoritário dispensa o perigo real, efetivo. É
possível a tentativa, por ser o delito plurissubsistente. Há, no entanto, quem sustente
o contrário, como Nucci:

Não admite tentativa por ser crime de atentado, vale dizer,


a lei já pune como crime consumado o mero indício da execução.
Seria em nosso entender, ilógico sustentar a hipótese de “tentativa
de tentar”.

 Apesar de não ser recente, vale citar o precedente do STJ, em que se fixa a
competência da Justiça Estadual:

CONSTITUCIONAL E PENAL. COMPETÊNCIA. CRIME


CONTRA BENS E SERVIÇOS DE SOCIEDADE DE ECONOMIA
MISTA. COMPETE A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL
PROCESSAR E JULGAR AÇÃO PENAL RELACIONADA COM
ATENTADO CONTRA O FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA OU DANOS CAUSADOS A UMA SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA PRESTADORA OU CONCESSIONARIA
DESSES SERVIÇOS.                                

Entretanto, se o crime de voltar contra a segurança ou


funcionamento de serviço de utilidade pública que seja de
interesse da União, a competência será da Justiça Comum
Federal.

Dispõe o parágrafo único que aumentar-se-á a pena de um terço até a


metade, se o dano ocorrer em virtude de subtração de material essencial ao
funcionamento dos serviços de água, luz, força, calor ou outro que seja de utilidade
pública. Trata- se de circunstância que, em razão da maior gravidade da conduta
(subtração do material), eleva a pena do crime.
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Observação: Diferencia-se do furto em razão da finalidade. Aqui, o agente


subtrai com a finalidade de prejudicar um serviço de utilidade pública, e não
apenas com fins patrimoniais. No furto, a intenção do agente é de cunho
patrimonial.

Sujeito ativo Qualquer pessoa

Sujeito passivo o Estado, representado pelo seu


corpo social (coletividade) e eventuais
lesados

Conduta Atentar contra a segurança ou o

funcionamento de serviço de água,

luz, força ou calor, ou qualquer outro

de utilidade pública

Voluntariedade Dolo, consubstanciado na vontade


consciente de atentar contra a seguran
funcionamento de serviço de água,

luz, força ou calor, ou qualquer outro de

utilidade pública

Consumação Com o atentado contra o serviço de utilidade


pública

Tentativa É admissível, vez que se trata de crime


plurissubsistente

Bem jurídico Incolumidade pública

Ação penal Pública e incondicionada


 

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