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APOSTILA X –

Direito Civil VII (Direito das sucessões)

DOS TIPOS DE TESTAMENTO

1. TESTAMENTO PÚBLICO

O Testamento público é aquele que possui conteúdo público.


Qualquer pessoa pode ter acesso. É elaborado de viva voz pelo autor da
herança perante o tabelião, ou quem exerça função notarial.

Essas formalidades tornam-no mais seguro do que as outras espécies


de testamento, malgrado apresente o inconveniente de permitir a qualquer
pessoa o conhecimento de seu teor.

A publicidade não consiste no fato de o testamento ficar aberto ao


conhecimento do público depois de o ato ser lavrado no livro respectivo.
Chama-se “público” o testamento em razão de o notário, em nosso país, por
longo tempo, ter sido chamado, também, de “oficial público”, bem como pela
circunstância de o ato ser testemunhado pelas pessoas cuja presença é
essencial para garantir a sua seriedade e regularidade.1

Estarão presentes o testador, a autoridade e duas testemunhas, que


podem ser maiores de 16 anos. É a única modalidade de testamento admitida
ao cego e ao analfabeto. Nesses casos, haverá mais uma pessoa: aquela que
assina a rogo. Hoje não há mais a necessidade de ser manuscrito. Pode ser
mecanicamente reprografado. Deve ser escrito e em vernáculo. O Art. 1.864
determina com maior precisão quais os requisitos para validade deste tipo de
Testamento, vejamos:

1
Zeno Veloso, Comentários, cit., v. 21, p. 58-59.
Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento
público:

I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em


seu livro de notas, de acordo com as declarações do
testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou
apontamentos;

II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião


ao testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo
testador, se o quiser, na presença destas e do oficial;

III - ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo


testador, pelas testemunhas e pelo tabelião.

Parágrafo único. O testamento público pode ser escrito


manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito pela
inserção da declaração de vontade em partes impressas
de livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas
pelo testador, se mais de uma.

A vontade do testador deve ser externada ao oficial público, denominado


tabelião, sob a forma de declaração, admitindo-se a entrega de minuta
previamente elaborada, seguida da declaração verbal de que contém a sua
última vontade, ou de consulta a anotações. Além do tabelião e de seu
substituto legal, são também competentes para lavrar testamento público,
denominado testamento consular, as autoridades diplomáticas, como prevê o
art. 18 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Depois de escrito, o instrumento do testamento será lido “em voz alta pelo
tabelião ao testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se
o quiser, na presença destas e do oficial.
Em relação às testemunhas testamentárias, devem ser no mínimo duas,
maiores de dezesseis anos, alfabetizadas, com capacidade para os atos da
vida civil, que conheçam o testador (não precisam conhecê-lo de longa data.
Por exemplo, uma enfermeira ou escrevente podem servir de testemunhas de
testamento feito em hospital ou cartório), capazes de compreender a língua
portuguesa.

Não pode ser testemunha testamentária: o surdo; o cego; o herdeiro ou legatário


instituído no testamento, bem como seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cônjuges ou companheiros (art. 228 CC); Por fim, também não podem ser
testemunhas os cônjuges, os descendentes, os ascendentes e os colaterais por
consanguinidade, até o terceiro grau, das partes envolvidas.

A leitura do testamento em voz alta pelo tabelião ou pelo testador é exigida


(deve sê-lo também de forma inteligível) para que possam os presentes
verificar a correspondência entre a vontade do testador e o texto escrito,
como já mencionado. O indivíduo “inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu
testamento, e, se não o souber, designará quem o leia em seu lugar, presentes
as testemunhas” (art. 1.866).

Não pode o tabelião fazer a leitura do instrumento ao testador e às testemunhas


separadamente. A leitura precisa ser feita ao testador e às testemunhas “a um
só tempo”, como expressamente menciona o inciso II do art. 1.864 do Código
Civil, “não sendo possível a leitura sucessiva, ao testador e, depois, às
testemunhas, pois estaria violado o princípio da unitas actus, que, a partir da
leitura, é requisito essencial do testamento público.2

Por fim, as assinaturas, tabelião, testador e testemunhas devem assinar o


documento. Se o testador, não souber assinar ou por algum motivo estiver
impossibilitado de o fazer, o oficial declarará o fato e designará uma das
testemunhas para assinar pelo testador. A assinatura a rogo só é deferida ao

2
Zeno Veloso, Comentários, cit., v. 21, p. 64.
testador, não sendo estendida à testemunha analfabeta. Se o testador morre
depois de assinar, mas antes das testemunhas, o testamento é válido.

É importante frisar que em decorrência do princípio da unidade do ato,


juntos, o tabelião e as testemunhas devem assistir à manifestação da
vontade do testador, ouvir a leitura do testamento, analisando sua
conformidade com a vontade manifestada, e assinar o testamento, tudo em
ato único, sem interrupções nem ausências. Apesar de não ser princípio
absoluto, sendo quebrada a unidade do ato de forma a colocar em risco a livre
manifestação de vontade do testador, crivado de nulidade estará o testamento.

Se “o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião ou seu


substituto legal assim o declarará, assinando, neste caso, pelo testador, e,
a seu rogo, uma das testemunhas instrumentárias” (art. 1.865).

O analfabeto também só pode testar de forma pública, pois não lhe é permitido
fazer testamento cerrado (CC, art. 1.872) ou particular (art. 1.876, § 1º).

Como o art. 1.864, I, do Código Civil exige que o testamento seja escrito de
acordo com as declarações do testador, que deve ouvir a sua leitura em voz alta,
feita ao final pelo tabelião, conclui-se que o surdo-mudo não pode testar por essa
forma ordinária, ainda que saiba ler e escrever. Reforça essa convicção o fato
de o art. 1.873 declarar expressamente que o surdo-mudo pode fazer testamento
cerrado.

Sujeita-se o testamento a formalidades processuais para que se reconheça sua


validade e se determine seu cumprimento, após o óbito do testador. Preceitua o
art. 736 do Código de Processo Civil de 2015 que, “qualquer interessado,
exibindo o traslado ou a certidão de testamento público, poderá requerer ao juiz
que ordene o seu cumprimento, observando-se, no que couber, o disposto nos
parágrafos do art. 735”.3

3
Direito civil brasileiro, volume 7 : direito das sucessões / Carlos Roberto Gonçalves. – 13. ed. – São
Paulo : Saraiva Educação, 2019
Notem-se as disposições do Código Civil:

Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar,


o tabelião ou seu substituto legal assim o declarará,
assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma
das testemunhas instrumentárias.

Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá


o seu testamento, e, se não o souber, designará quem o
leia em seu lugar, presentes as testemunhas.

Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que


lhe será lido, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião
ou por seu substituto legal, e a outra por uma das
testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo
circunstanciada menção no testamento.

2. TESTAMENTO CERRADO

O Testamento cerrado é aquele elaborado pelo testador, na


presença de duas testemunhas. Ninguém terá ciência de seu conteúdo. As
testemunhas apenas presenciam a entrega do testamento ao tabelião. São,
portanto, testemunhas instrumentais e não substanciais.

As formalidades desta espécie de testamento estão estabelecidas no


artigo 1868 do Código Civil. Desse modo, analisando o que a lei prevê, infere-se
que tal testamento pode ser confeccionado de forma mecânica ou manuscrita.
Deve ser entregue ao oficial do cartório, na presença de duas testemunhas,
devendo o testador dizer que aquele é seu testamento, e que deseja tê-lo
registrado. Vejamos:

Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra


pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado, será válido se
aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas
as seguintes formalidades:

I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de


duas testemunhas;

II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e


quer que seja aprovado;

III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação,


na presença de duas testemunhas, e o leia, em seguida,
ao testador e testemunhas;

IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião,


pelas testemunhas e pelo testador.

Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito


mecanicamente, desde que seu subscritor numere e
autentique, com a sua assinatura, todas as paginas.

O testamento cerrado, como se pode verificar pela leitura do dispositivo,


compõe-se de duas partes: a cédula testamentária, com a manifestação de
vontade, escrita pelo testador ou por alguém, a seu rogo, e o auto de
aprovação (melhor seria “de autenticação”), exarado depois e redigido,
necessariamente, pelo tabelião. Resulta, pois, de operação complexa de
escritura particular e instrumento público de aprovação, abrangendo,
destarte, duas solenidades.

Estão inibidos de escrever a cédula testamentária a rogo do testador: o


herdeiro instituído, ou legatário, o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus
ascendentes e irmãos (CC, art. 1.801, I). O próprio tabelião pode escrever o
testamento, a rogo do testador, quando este não souber, ou não o puder fazer
pessoalmente, não ficando, por esse motivo, impedido de, posteriormente, lavrar
o auto de aprovação (CC, art. 1.870).
A vantagem que tal modalidade testamentária apresenta consiste no fato
de manter em segredo a declaração de vontade do testador, pois em regra só
este conhece o seu teor. Nem o oficial nem as testemunhas tomam
conhecimento das disposições, que, em geral, só vêm a ser conhecidas quando
o instrumento é aberto após o falecimento do testador.

Se o testador permitir, o oficial público poderá lê-lo e verificar se está de


acordo com as formalidades exigidas. Mas isso é a exceção. O testador tem
direito a esse segredo, que não lhe pode ser negado por aquele, a pretexto de
que, para o aprovar, precisa lê-lo.

O testamento cerrado é escrito pelo próprio testador, ou por alguém


a seu rogo, e só tem eficácia após o auto de aprovação lavrado por tabelião,
na presença de duas testemunhas.

De posse da cédula testamentária escrita, datilografada ou digitada em


computador e impressa, o testador deve entregá-la, devidamente assinada, ao
tabelião, em presença de duas testemunhas, como determina o inciso I do art.
1.868 do Código Civil. Determina o Código que o testador entregue,
pessoalmente, o seu testamento ao tabelião, na presença das duas
testemunhas, que hão de assinar o auto de aprovação.

Em seguida, o oficial procede à leitura silenciosa do testamento, para


verificar se não existem falhas formais. Estando conforme, redige o auto e o lê
em voz alta para o testador e as testemunhas. Em seguida, procede à lacração
do testamento e seu registro.

Apresentado o testamento ao tabelião, este, em seguida, na presença


das testemunhas, lavrará o auto de aprovação (na verdade, mera autenticação),
após a última palavra do testador, declarando, sob sua fé, que o testador lhe
entregou para ser aprovado na presença das testemunhas. Se não houver
espaço na última folha escrita, colocará o seu sinal público e declarará, colando
outra folha, a razão de seu procedimento.
A última fase é a do cerramento, em que, segundo a tradição, o
tabelião, estando a cédula dobrada, costura-a com cinco pontos de retrós e lança
pingos de lacre sobre cada um. A lacração, embora seja uma antiga praxe, que
muito dificulta as tentativas de adulteração, não constitui formalidade de que
dependa a eficácia do testamento.

O testamento cerrado não permanecerá em posse do cartório, mas sim


do próprio testador. O tabelião não manterá sequer cópia do conteúdo do
testamento, visto que a função do oficial do cartório é apenas aprová-lo e manter
registro da nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e
entregue ao testador. Falecido o testador, o testamento será apresentado ao juiz
para abertura pela pessoa que estiver em na posse do documento. Cumpre
ressaltar, ainda, que a abertura do testamento cerrado que não pelo juiz anula o
testamento.

Ademais, poderá ser escrito por testador surdo-mudo, contanto este


escreva integralmente seu testamento, e o assine de próprio punho, efetuando
a entrega do testamento ao tabelião, perante as duas testemunhas, escrevendo
ainda, na face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento
e que requer sua aprovação (artigo 1.873 do Código Civil).

No entanto, de acordo com o artigo 1.872 do Código Civil, estão


impedidos de testar por meio cerrado quem não saiba ou não possa ler, porque
não poderão ver ou ler a transcrição, para se certificarem se o que foi ditado está
registrado por aquele quem, a seu rogo, redigiu o documento.

Importante salientar que os requisitos essenciais do testamento


cerrado, constantes nos artigos 1.868 a 1875, do Código Civil, representam
normas obrigatórias, e de ordem pública. A inobservância de qualquer
norma descrita nos artigos supramencionados acarreta a nulidade do ato
praticado. Note-se:

Art. 1.869. O tabelião deve começar o auto de aprovação


imediatamente depois da última palavra do testador,
declarando, sob sua fé, que o testador lhe entregou para
ser aprovado na presença das testemunhas; passando a
cerrar e coser o instrumento aprovado.

Parágrafo único. Se não houver espaço na última folha do


testamento, para início da aprovação, o tabelião aporá nele
o seu sinal público, mencionando a circunstância no auto.

Art. 1.870. Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo


do testador, poderá, não obstante, aprová-lo.

Art. 1.871. O testamento pode ser escrito em língua


nacional ou estrangeira, pelo próprio testador, ou por
outrem, a seu rogo.

Art. 1.872. Não pode dispor de seus bens em testamento


cerrado quem não saiba ou não possa ler.

Art. 1.873. Pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo,


contanto que o escreva todo, e o assine de sua mão, e que,
ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas,
escreva, na face externa do papel ou do envoltório, que
aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe pede.

Art. 1.874. Depois de aprovado e cerrado, será o


testamento entregue ao testador, e o tabelião lançará, no
seu livro, nota do lugar, dia, mês e ano em que o
testamento foi aprovado e entregue.

Art. 1.875. Falecido o testador, o testamento será


apresentado ao juiz, que o abrirá e o fará registrar,
ordenando seja cumprido, se não achar vício externo que
o torne eivado de nulidade ou suspeito de falsidade.
3. TESTAMENTO PARTICULAR

Denomina-se testamento particular ou hológrafo o ato de


disposição de última vontade escrito de próprio punho, ou mediante
processo mecânico, assinado pelo testador, e lido por este a três
testemunhas, que o subscreverão, com a obrigação de, depois da morte do
disponente, confirmar a sua autenticidade.

A vantagem desse meio de testar consiste na desnecessidade da


presença do tabelião, tornando-se, assim, simples, cômodo e econômico para o
testador. Todavia, é a forma menos segura de testar, porque depende de
confirmação, em juízo, pelas testemunhas (que poderão faltar), após a abertura
da sucessão.

Ressalta-se que é um ato cujo qual, através da lei são lhe atribuídos
alguns requisitos para sua validade, e que legalmente terão que ser observados.
O Art. 1.876 do Código Civil determina os seguintes requisitos:

Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de


próprio punho ou mediante processo mecânico.

§ 1 o Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais


à sua validade seja lido e assinado por quem o escreveu,
na presença de pelo menos três testemunhas, que o
devem subscrever.

§ 2 o Se elaborado por processo mecânico, não pode


conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser
assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de
pelo menos três testemunhas, que o subscreverão.

As formalidades do testamento particular submetem-se a um


procedimento mais complexo do que a o dos outros testamentos, cerrado e
público. O testamento ológrafo deve ser publicado e confirmado em juízo (CPC,
art. 1.130). Por testamento particular ou hológrafo, entende-se aquele que é
escrito e assinado pelo testador, que o lê em presença de três testemunhas que
também o assinam (art. 1.876, CC).

O testamento hológrafo simplificado, apenas escrito, datado e assinado


pelo testador, sem necessidade de testemunhas e quaisquer outras
formalidades, não é admitido no ordenamento jurídico brasileiro, salvo quando
elaborado em circunstâncias excepcionais, declaradas na cédula, e for aceito
pelo juiz (CC, art. 1.879).

A holografia, o ser inteiramente escrito pelo testador, é da própria


essência do ato, constituindo requisito essencial exigido no dispositivo em
apreço. A redação do testamento particular é atividade personalíssima do
disponente, que tem de agir sozinho. É vedada, assim, a possibilidade de outrem
escrevê-lo a rogo. Daí reservar-se essa modalidade apenas àqueles que sabem
escrever, isto é, que não sejam simplesmente alfabetizados. Cumpre que saibam
expressar o pensamento e a vontade pela escrita.

O Código Civil de 2002, como consta do art. 1.876, caput, retrotranscrito,


e já referido, admite, de modo expresso, que o testamento particular seja escrito
de próprio punho “ou mediante processo mecânico”. Nesse caso, “não pode
conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo testador,
depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas, que o
subscreverão” (§ 2º).

Para dar-lhe cumprimento exige a lei, a confirmação pelas testemunhas,


em juízo, após a morte do testador, de que o ato de última vontade foi praticado
livre e espontaneamente e com as formalidades do art. 1.645 do Código Civil de
1916 (C. C de 2002, art. 1. 876). Impede a lei, outrossim, que funcionem como
testemunhas, o herdeiro ou legatário.

A singularidade maior do testamento hológrafo está em que suas


formalidades devem existir e ser apuradas não somente quando de sua
elaboração, senão também quando de sua execução, após o falecimento do
disponente. Há, então, requisitos de validade e requisitos de eficácia. As
formalidades previstas para a fase de execução, de eficácia do testamento
particular, realizam-se judicialmente, com a publicação e confirmação do
testamento.4

A publicação em juízo do testamento particular geralmente é feita pelo


herdeiro instituído, pelo legatário ou pelo testamenteiro. Estes devem requerer a
notificação das pessoas às quais caberia a sucessão legítima para virem, em
dia, lugar e hora designados, assistir à inquirição das testemunhas instrumentais,
que deverão ser intimadas a depor (CC, art. 1.877; CPC/2015, art. 737).

Seguem a demais disposições do Código Civil acerca do Testamento


Particular:

Art. 1.877. Morto o testador, publicar-se-á em juízo o


testamento, com citação dos herdeiros legítimos.

Art. 1.878. Se as testemunhas forem contestes sobre o fato


da disposição, ou, ao menos, sobre a sua leitura perante
elas, e se reconhecerem as próprias assinaturas, assim
como a do testador, o testamento será confirmado.

Parágrafo único. Se faltarem testemunhas, por morte ou


ausência, e se pelo menos uma delas o reconhecer, o
testamento poderá ser confirmado, se, a critério do juiz,
houver prova suficiente de sua veracidade.

Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na


cédula, o testamento particular de próprio punho e
assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser
confirmado, a critério do juiz.

4
Zeno Veloso, Comentários, cit., v. 21, p. 136.
Art. 1.880. O testamento particular pode ser escrito em
língua estrangeira, contanto que as testemunhas a
compreendam.

4. TESTAMENTO MARÍTIMO

Consiste no o testamento feito a bordo de navio, de bandeira nacional ou


de guerra mercante em viagem, permitindo que o testador que desejar
dispor de seus bens exerça sua última vontade. Pode ser usado pela
tripulação ou pelos passageiros, desde que a embarcação ou navio esteja em
viagem.

Essa modalidade testamentária apresenta duas peculiaridades 5:

a) não prevalece o testamento marítimo, se a


embarcação estiver em pequeno cruzeiro, ou mesmo
no curso de uma viagem, se ao tempo de sua
confecção “o navio estava em porto onde o testador
pudesse desembarcar e testar na forma ordinária” (CC,
art. 1.892);
b) caducará, como se verá adiante, “se o testador não
morrer em viagem nem nos noventa dias subsequentes
ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na
forma ordinária, outro testamento” (art. 1.891).

Optando o testador na forma assemelhada ao testamento público, este é lavrado


pelo comandante, a quem se atribui função notarial, na presença de duas
testemunhas, fazendo-se o seu registro no livro diário de bordo. Caso o testador
não puder assinar, o comandante escolherá, ao rogo do testador, uma das
testemunhas para que assine em seu lugar, conforme o art. 1.865, CC/02.

5
Direito civil brasileiro, volume 7 : direito das sucessões / Carlos Roberto Gonçalves. – 13. ed. – São
Paulo : Saraiva Educação, 2019
Optando o testador na forma assemelhada ao testamento público, este é lavrado
pelo comandante, a quem se atribui função notarial, na presença de duas
testemunhas, fazendo-se o seu registro no livro diário de bordo. Caso o testador
não puder assinar, o comandante escolherá, ao rogo do testador, uma das
testemunhas para que assine em seu lugar, conforme o art. 1.865, CC/02.

A validade do testamento marítimo requer 6:

a) que a viagem se realize em navio nacional, pois este é


considerado extensão do território nacional, ainda que se
encontre em águas territoriais ou portos de outros países;
b) que se trate de navio de guerra ou mercante – os navios
de excursões turísticas e os que deslocam pessoas de um
porto a outro enquadram-se como mercantes, pois o
transporte de pessoas é mercancia;
c) que o testador esteja a bordo do navio, em viagem;
d) que a cédula testamentária seja registrada em livro diário
de bordo, que todos os navios possuem – o registro fará
referência ao autor do testamento, à data e a outros dados
dignos de nota que ocorrerem;
e) que o testamento fique sob a guarda do comandante,
que o entregará às autoridades administrativas do primeiro
porto nacional (CC, art. 1.890).

5. TESTAMENTO AERONÁUTICO

Introduzido pelo Código de 2002, como fora abordado na introdução


deste trabalho e, nos ditos dos artigos 1.888 e 1.889 do Código Civil, o
testamento aeronáutico deve ser celebrado por aquele que estiver em
viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, podendo testar perante
pessoa designada pelo comandante, observado o disposto no artigo

6
Direito civil brasileiro, volume 7 : direito das sucessões / Carlos Roberto Gonçalves. – 13. ed. – São
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antecedente, ou seja, em presença de duas testemunhas, por forma que
corresponda ao testamento público ou cerrado.

As formas e os requisitos para o testamento aeronáutico são,


praticamente, os mesmos do testamento marítimo, com ressalva ao comandante
da aeronave que não pode participar da elaboração do testamento.

Nada impede, também, que o testador se utilize do testamento particular,


que terá, todavia, de ser por ele redigido (forma hológrafa), ou elaborado em
microcomputador, que muitos passageiros carregam durante as viagens de
longo percurso. Poderá valer-se, neste caso, do testamento particular elaborado
em “circunstâncias excepcionais”, sem testemunhas, se houver dificuldade para
conseguir a sua participação, por estarem preocupadas, por exemplo, com os
problemas do voo.

 CADUCIDADE DO TESTAMENTO MARÍTIMO E AERONÁUTICO

Dispõe o art. 1.891 do Código Civil: “Caducará o testamento marítimo,


ou aeronáutico, se o testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias
subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma
ordinária, outro testamento”.

A caducidade, depois de certo tempo, é uma característica dos


testamentos especiais, observada em todas as legislações alienígenas, variando
apenas o prazo.

6. TESTAMENTO MILITAR

O testamento militar serve tanto aos militares, como aos civis à


disposição das forças armadas, em tempo de guerra, em praça sitiada, ou
sem comunicação. Necessita de duas testemunhas. Assume a forma
pública ou cerrada. Quem registra é o comandante, em livro próprio,
autenticando. Nesse sentido, determina o Código Civil:
Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a
serviço das Forças Armadas em campanha, dentro do País
ou fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja
de comunicações interrompidas, poderá fazer-se, não
havendo tabelião ou seu substituto legal, ante duas, ou três
testemunhas, se o testador não puder, ou não souber
assinar, caso em que assinará por ele uma delas.

§ 1 o Se o testador pertencer a corpo ou seção de corpo


destacado, o testamento será escrito pelo respectivo
comandante, ainda que de graduação ou posto inferior.

§ 2 o Se o testador estiver em tratamento em hospital, o


testamento será escrito pelo respectivo oficial de saúde, ou
pelo diretor do estabelecimento.

§ 3 o Se o testador for o oficial mais graduado, o testamento


será escrito por aquele que o substituir.

Algumas formalidades são exigidas para a validade do testamento militar.


Reclama-se7:
Que a Força esteja “em campanha”, mobilizada, tanto
para a guerra externa quanto para a interna, dentro ou
fora do País, assim como “em praça sitiada”, ou que
esteja de “comunicações interrompidas”. Considera-
se, igualmente, em campanha a Força Armada
destacada para cumprir missões de paz, ou garantir
segurança em territórios conflagrados, em nome de
organismos internacionais, como a ONU, por exemplo.

7
Direito civil brasileiro, volume 7 : direito das sucessões / Carlos Roberto Gonçalves. – 13. ed. – São Paulo
: Saraiva Educação, 2019
No que se refere à forma, o testamento militar pode revestir três formas:
a assemelhada ao testamento público (CC, art. 1893), a correspondente ao
testamento cerrado (art. 1894), e a nuncupativa (art. 1896).

No primeiro caso, o comandante atuará como tabelião, estando o


testador em serviço na tropa, ou o oficial de saúde, ou o diretor do hospital em
que estiver recolhido, sob tratamento.

Na forma semelhante ao testamento cerrado, o testador entregará a


cédula ao auditor, ou ao oficial de patente que lhe faça as vezes nesse mister,
aberta ou cerrada, escrita de seu punho ou por alguém a seu rogo, na presença
de duas testemunhas.

Já o chamado testamento militar nuncupativo é o feito em viva voz


perante duas testemunhas, por pessoas empenhadas em combate ou feridas.

Desta feita, seguem as determinações do Código Civil acerca do


Testamento Militar:

Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o


testamento de seu punho, contanto que o date e assine por
extenso, e o apresente aberto ou cerrado, na presença de
duas testemunhas ao auditor, ou ao oficial de patente, que
lhe faça as vezes neste mister.

Parágrafo único. O auditor, ou o oficial a quem o


testamento se apresente notará, em qualquer parte dele,
lugar, dia, mês e ano, em que lhe for apresentado, nota
esta que será assinada por ele e pelas testemunhas.

Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que, depois


dele, o testador esteja, noventa dias seguidos, em lugar
onde possa testar na forma ordinária, salvo se esse
testamento apresentar as solenidades prescritas no
parágrafo único do artigo antecedente.

Art. 1.896. As pessoas designadas no art. 1.893, estando


empenhadas em combate, ou feridas, podem testar
oralmente, confiando a sua última vontade a duas
testemunhas.

Parágrafo único. Não terá efeito o testamento se o testador


não morrer na guerra ou convalescer do ferimento.

7. DO CODICILO

Codicilo é o negócio jurídico unilateral de última vontade, pelo qual


o autor da herança pode dispor sobre o seu enterro e valores de pequena
monta. Materializa-se, portanto, em um texto escrito, datado e assinado por
alguém, que não se presta para qualquer finalidade de disposição patrimonial
póstuma.

A finalidade do codicilo é uma disposição patrimonial post mortem de


menor monta, seja referente ao próprio passamento de seu autor (por exemplo,
se pretende ser sepultado ou cremado, bem como se pretende seguir algum
ritual religioso específico), seja para dispor de bens (dinheiro, móveis, roupas ou
joias) de pouco valor.

A diferença básica entre o codicilo e o testamento está justamente


na disposição, no conteúdo, ou seja, no primeiro, são bens de pouca
monta, no segundo, trata-se de dispor do patrimônio mais substancial,
nesse caso o testador pode dispor de até 50% de seus bens de maneira
geral. Os dois institutos podem coexistir sem qualquer problema, desde que, se
o testamento for posterior, em nada contrariar ou modificar do contido no codicilo,
segundo o previsto no art. 1.884.
Pode o codicilo ser utilizado pelo autor da herança para as seguintes
finalidades:
a) fazer disposições sobre o seu enterro;
b) deixar esmolas de pouca monta;
c) legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu
uso pessoal (art. 1.881);
d) nomear e substituir testamenteiros (art. 1.883);
e) reabilitar o indigno (art. 1.818);
f) destinar verbas para o sufrágio de sua alma (art. 1.998);
g) reconhecer filho havido fora do matrimônio, uma vez que
o art. 1.609, II, do Código Civil permite tal ato por “escrito
particular”, sem maiores formalidades.

Acerca da capacidade, estatui o art. 1.881 do Código Civil que toda


pessoa “capaz de testar” poderá fazer disposições de pouca monta, por meio de
codicilo. Quanto à capacidade, portanto, aplica-se o art. 1.860 do mesmo
diploma, que regula a capacidade de testar. Destarte, quem pode testar, pode
fazer codicilo – e tudo o que foi dito sobre a capacidade testamentária tem aqui
aplicação.

Por fim, seguem as determinações do Código Civil acerca dos Codicilos:

Art. 1.881. Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante


escrito particular seu, datado e assinado, fazer disposições
especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca
monta a certas e determinadas pessoas, ou,
indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim
como legar móveis, roupas ou jóias, de pouco valor, de seu
uso pessoal.

Art. 1.882. Os atos a que se refere o artigo antecedente,


salvo direito de terceiro, valerão como codicilos, deixe ou
não testamento o autor.
Art. 1.883. Pelo modo estabelecido no art. 1.881, poder-se-
ão nomear ou substituir testamenteiros.

Art. 1.884. Os atos previstos nos artigos antecedentes


revogam-se por atos iguais, e consideram-se revogados,
se, havendo testamento posterior, de qualquer natureza,
este os não confirmar ou modificar.

Art. 1.885. Se estiver fechado o codicilo, abrir-se-á do


mesmo modo que o testamento cerrado.

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