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Direito Penal II

Prof. Willian Batista Casal


DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA,
ARREPENDIMENTO EFICAZ,
ARREPENDIMENTO POSTERIOR
E CRIME IMPOSSÍVEL
Desistência Voluntária e
Arrependimento Eficaz
(art. 15, do CP)

1. Desistência Voluntária (art. 15, 1ª parte)

A definição da natureza jurídica da Desistência Voluntária, para a


doutrina majoritária, se trata de causa de exclusão da tipicidade,
pois não tendo ocorrido o resultado, e também não se tratando de
crime tentada, não há como se punir o delito nem a título de
consumação nem a título de tentativa.

Na Desistência Voluntária o agente, por ato voluntário,


desiste de dar sequência aos atos executórios,
mesmo podendo prosseguir.
Desistência Voluntária e
Arrependimento Eficaz

1. Desistência Voluntária (art. 15, 1ª parte)

Conforme nos ensina a FÓRMULA DE FRANK:

➢ Na TENTATIVA: o agente QUER prosseguir, mas NÃO PODE.

➢ Na DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA: o agente PODE prosseguir, mas


NÃO QUER.

Para que se caracterize a desistência voluntária, é necessário que o


resultado não se consume em razão da desistência do agente.
Desistência Voluntária e
Arrependimento Eficaz
(art. 15, do CP)

1. Desistência Voluntária (art. 15, 1ª parte)

EXEMPLO:
Se Tainara dispara 1 tiro de pistola em Raquel e, podendo disparar
mais 5 tiros, não dispara, mas mesmo assim Raquel vem a falecer,
Tainara responde por homicídio consumado.

Se, no entanto, Raquel não morrer, Tainara não responderá por


homicídio tentado (lembrem: na desistência voluntária não há tentativa),
MAS, responderá por lesões corporais.
Desistência Voluntária e
Arrependimento Eficaz
(art. 15, do CP)

2. Arrependimento Eficaz (art. 15, 2ª parte)

No arrependimento eficaz é diferente.


O agente já praticou todos os atos executórios que queria e podia, mas,
após isto, se arrepende do ato e adota medidas que acabam por
impedir a consumação do resultado.

Imagine que no exemplo anterior, Tainara tivesse disparado todos os


tiros da sua pistola em Raquel. Depois disso, Tainara se arrepende do
que fez e providencia o socorro da Raquel, que sobrevive em razão do
socorro prestado. Neste caso, teríamos arrependimento eficaz.
Desistência Voluntária e
Arrependimento Eficaz
(art. 15, do CP)

Ambos os institutos (desistência voluntária e arrependimento eficaz)


estão previstos no artigo 15 do Código Penal:

Para que esses institutos ocorram, é necessário que a conduta


(desistência voluntária e arrependimento eficaz) impeça a consumação
do resultado. Se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente
responde pelo crime, no entanto, incidirá uma atenuante da pena,
prevista no art. 65, inc. III, “b” do CP.
Desistência Voluntária e
Arrependimento Eficaz
(art. 15, do CP)

Haverá também DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA quando o agente deixa de


prosseguir na execução do crime em razão de pedido de terceiro,
ou seja, na desistência voluntária não se exige “espontaneidade”,
apenas “voluntariedade”.

Se o crime for cometido em concurso de pessoas e somente um deles


realiza a conduta de desistência voluntária ou arrependimento eficaz,
esta circunstância se comunica aos demais, pois como se trata de causa
de “exclusão da tipicidade”, o crime não foi cometido, respondendo
todos apenas pelos atos até então praticados.
Arrependimento Posterior
(art. 16, do CP)

3. Arrependimento Posterior (art. 16, CP)

O ARREPENDIMENTO POSTERIOR, não exclui o crime, pois este já se


consumou, mas é causa obrigatória de diminuição de pena.

Ocorre Arrependimento Posterior quando, nos crimes em que não há


violência ou grave ameaça à pessoa, o agente, até o recebimento da
denúncia ou queixa, repara o dano provocado ou restitui a coisa.

“Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o
dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, A PENA SERÁ REDUZIDA DE UM A DOIS TERÇOS.”
Arrependimento Posterior
(art. 16, do CP)

3. Arrependimento Posterior (art. 16, CP)

EXEMPLO:

Imaginem o crime de dano (art. 163, CP), no qual Matheus


quebra a vidraça de uma conveniência, revoltado com o
fim da Brahma naquela tarde.

Nesse caso, se antes do recebimento da queixa, Matheus ressarcir


o prejuízo causado, ele responderá pelo crime, MAS A PENA
APLICADA DEVERÁ SER DIMINUÍDA de 1/3 a 2/3.
3. Arrependimento Posterior
(art. 16, CP)

ATENÇÃO!

Não é aplicado o arrependimento posterior se o crime é cometido


com violência ou grave ameaça À PESSOA.

Mas, se a violência for CULPOSA, pode ser aplicado o instituto.

Ex.: Se Julio, dirigindo seu Camaro, atropela e causa lesão corporal


culposa em Luiza (violência culposa), e antes do recebimento da queixa
paga todas as despesas médicas da vítima, presta o auxílio necessário,
entende-se que deve ser aplicada a causa de diminuição do
arrependimento posterior (art. 16, CP).
3. Arrependimento Posterior
(art. 16, CP)

No caso de VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA, há muita divergência.

Violência imprópria é aquela na qual não há violência propriamente


dita, mas o agente reduz a vítima à impossibilidade de defesa.

(Ex.: João coloca “boa noite cinderela” no copo de Bruna e,


após isso, rouba seu notebook, carteira e celular).

Nesse caso, a julgados que entendem que o benefício pode ser


aplicado, outros que entendem que não pode.
3. Arrependimento Posterior
(art. 16, CP)

O arrependimento posterior também se comunica aos demais


coautores, no caso de concurso de pessoas.

Prof. Willian, e se a vítima se recusar a receber a coisa ou se


recusa a receber o valor de reparação do dano?
Mesmo assim o agente deverá receber a diminuição de pena.

O quantum de diminuição da pena (de um a dois terços) irá variar


conforme a celeridade com que ocorreu o arrependimento e a
voluntariedade deste ato.
4. Crime Impossível
(art. 17, CP)

O CRIME IMPOSSÍVEL possui semelhanças com a tentativa,


porém, não com ela não se confunde.

Na tentativa (conatus), propriamente dita, o agente inicia a execução


do crime, mas por circunstâncias alheias à sua vontade o resultado
não se consuma (art. 14, inc. II do CP).

Já, no crime impossível, é diferente do que acontece na tentativa,


embora o agente inicie a execução do crime, JAMAIS o crime iria se
consumar. Não se consumaria, ou pelo fato de que o meio utilizado é
completamente ineficaz ou porque o objeto material é impróprio
para aquele crime.
4. Crime Impossível
(art. 17, CP)

EXEMPLO DE CRIME IMPOSSÍVEL

Imaginem que Mauricio pretenda matar sua sogra.


Mauricio chega, de madrugada em casa, e percebendo que sua sogra
dorme no sofá, desfere contra ela 10 facadas no peito. Porém, no laudo
pericial cadavérico se descobre que a Sogra de Mauricio já estava
morta, em razão de um AVC que havia sofrida horas antes das facadas.

Nesse caso, o crime é impossível, pois o objeto material (a sogra) é


impróprio, isto é, a sogra não era uma pessoa, mas um cadáver.
Portanto, como já estudamos, não há como se praticar o crime de
homicídio contra um cadáver.
4. Crime Impossível
(art. 17, CP)

EXEMPLO DE CRIME IMPOSSÍVEL

Imaginem que Mauricio pretenda matar sua sogra (agora a tiros).


Mauricio então surpreende sua sogra na servidão que dá acesso à casa.
Entretanto, quando Mauricio aperta o gatilho, percebe que foi
enganado pelo vendedor , que lhe vendeu uma arma de brinquedo.

Nesse caso, o crime é impossível, pois o meio utilizado por Mauricio é


completamente ineficaz para causar a morte da sua sogra.

Em ambos os exemplos, teremos um crime impossível.


4. Crime Impossível
(art. 17, CP)

ATENÇÃO!

A INEFICÁCIA DO MEIO ou a IMPROPRIEDADE DO OBJETO devem ser


ABSOLUTAS, isto é, em nenhuma hipótese, considerando aquelas
circunstâncias, o crime poderia se consumar.

EXEMPLO:
Se João atira em José, com intenção de matá-la, mas o crime não se
consuma porque José estava usando colete à prova de tiros,
não há crime impossível, pois o crime poderia se consumar.
Teremos, nesse caso, Tentativa.
4. Crime Impossível
(art. 17, CP)

CUIDADO! para não confundirem CRIME IMPOSSÍVEL com


CRIME PUTATIVO.

O crime impossível é aquele que pode ser cometido, em tese, mas


que no caso concreto, em razão da absoluta impropriedade do meio
ou do objeto, nunca poderá se consumar.

Já o crime putativo é aquele no qual o agente acredita estar


praticando crime, mas na verdade há um fato não criminoso.

O crime putativo pode ser de 3 espécies: putativo por erro de tipo,


por erro de proibição e por obra do agente provocador.
5. Crime Putatitvo
POR
ERRO DE TIPO

O crime putativo por erro de tipo ocorre quando o agente supõe


estar praticando crime, mas na verdade não está, pois está ausente
um dos elementos do tipo.

EXEMPLO
Higor olha um belo relógio sobre a mesa no trabalho e o furta. Mais
tarde, descobre que o relógio era um presente deixado pelo chefe,
ou seja, o relógio era de sua propriedade.
Assim, Higor acreditava estar furtando o relógio, mas por erro sobre
o elemento do tipo “coisa alheia”, fez com que na verdade o crime
fosse meramente putativo (imaginário).
5. Crime Putatitvo

POR
ERRO DE PROIBIÇÃO

O crime putativo por erro de proibição ocorre quando o agente


acredita que sua conduta é crime, quando não é.

EXEMPLO

Geni dirige seu carro em alta velocidade e colide com um veículo


parado, sem ninguém dentro. Assustada, Geni foge, acreditando ter
cometido crime.
Entretanto, Geni não sabe que dano culposo não existe no Brasil.
5. Crime Putatitvo
POR
OBRA DO AGENTE PROVOCADOR

O crime putativo por obra do agente provocador ocorre quando alguém


induz o agente a praticar o crime e, ao mesmo tempo, adota medidas
para evitar a consumação do crime.
É o chamado “Flagrante Provocado”

EXEMPLO
A Policial Camila, suspeitando de Lucas, deixa um veículo com as portas
abertas e com a chave na ignição, e fica escondida.
Quando Lucas entra no veículo para furtá-lo, a policial efetua sua prisão
em flagrante.
Nesse caso, o agente pensa estar cometendo crime, quando na verdade
este nunca irá se consumar.
ILICITUDE
(art. 23-25, CP)
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