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MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe: tradução de Roberto Grassi. 5. ed.

Rio de
Janeiro: Difel, 2009.

A obra prima de Nicolau Maquiavel, “O Príncipe”, tem uma finalidade prática. Como
uma forma de conquistar a graça dos novos governantes e, assim, retomar o seu
antigo posto de conselheiro, Maquiavel escreve “O Príncipe” em dedicatória a
Lourenço de Médici.
O livro, que assume a forma de um manual do bom governante, se inicia como uma
classificação dos tipos de governo e da melhor maneira de conquistá-los. Aí, o autor
já apresenta o seu argumento e, de forma a corroborá-lo, uma grande amostra de
exemplos, citando desde romanos até os gregos e os próprios italianos. É assim
que Maquiavel nos mostrará uma de suas mais singulares características: a
preocupação pela história e, de certo modo, pela empiria.
Para Maquiavel, o uso da virtù não nos permite inferiorizá-lo com relação a nenhum
outro capitão, e, no entanto, a sua desumanidade e a falta de características
virtuosas não fazem com que possamos classificá-lo como glorioso. Ainda assim, o
autor caracteriza duas formas de crueldade: as proveitosas, das quais se faz uso
uma única vez por motivos de segurança, e as contraproducentes, utilizadas de
forma indiscriminada e paulatinamente.

Falando-se da arte da guerra, tema de inúmeros outros escritos de Maquiavel. O


italiano preconizaria um príncipe que tivesse como única atividade a preocupação
pelos exercícios militares. Isso se devia ao fato da inconfiabilidade dos exércitos
mercenários, que seriam vis, indisciplinados e infiéis, capazes de mudar de lado
caso tivessem a garantia de maiores salários. Assim, o príncipe que dependesse
desse modelo de tropa, ou, exclusivamente, da sua fortuna, estaria fadado à ruína.
A seguir, o florentino discorre sobre “a verdade efetiva das coisas”, ou seja, de que
devemos tratar do mundo como ele realmente se apresenta diante de nós. Aquele
que se preocupa mais com o “dever ser” do que com o “ser”, caminharia,
infalivelmente, para a ruína. Esse ponto merece grande atenção, uma vez que
através dele surge a figura do Maquiavel realista em oposição a muitos autores
considerados utópicos, como Tomás Morus e, mais tarde, Rousseau.
A partir desse ponto é que devemos entender a defesa do italiano pela praticidade
das ações do príncipe, que não deveria fiar-se em atitudes consideradas “éticas”
caso essas colocassem em risco a própria segurança do Estado.
Outra metáfora de que se utilizará Maquiavel e que tem origem em escritores
clássicos é a da raposa e do leão. Para o autor, não bastaria que o príncipe fosse
essencialmente forte, como o leão, mas que tivesse atributos da raposa, famosa
pela esperteza e dissimulação. Dessa forma, o soberano, apesar de nem sempre
contar com as virtudes cristãs, deveria fingir tê-las de modo a enganar seus súditos.
Mais uma vez, Maquiavel rompe com a moralidade típica do medievo, propondo
outro sistema de valoração. Assim, Maquiavel entende que é importante que o
príncipe seja bem-quisto não devido a uma ética transcendental, mas porque assim
a manutenção do Estado se daria de forma mais fácil. Apesar de muitas vezes
temido, é necessário que o soberano não fosse odiado. Tal sentimento por parte do
povo poderia ser evitado caso se respeitassem, principalmente, a sua propriedade e
as suas mulheres.
Por fim, Maquiavel falará sobre a unificação da Itália, motivo pelo qual a maioria dos
estudiosos atribui a preocupação do italiano por instituir aí um poder forte e coeso. A
Itália subdividida em muitas repúblicas e principados era o cenário de sangrentas
batalhas, que poderiam ser evitadas, na visão de Maquiavel, caso se firmasse um
governo soberano. Em certo sentido, portanto, é o florentino um dos precursores da
ideia de Estado moderno desenvolvida posteriormente.

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