Palluxa Oliveira dos Santos – 20183302439 Mais que um manifesto, é o Modernismo
Este presente texto tem por objetivo analisar um fragmento do texto de
José de Almada Negreiros, “Manifesto Anti-Dantas” e relacioná-lo como ruptura da tradição literária portuguesa. O início do século XX trouxe consigo mudanças no cenário cultural, um novo movimento surgiu rompendo com as tradições, surpreendendo a todos e deixando seu legado na história. “É que Orpheu, meus senhores, foi o primeiro grito moderno que se deu em Portugal”. Assim foi a descrição feita por Almada Negreiros no Diário de Lisboa em 1935, sobre o Modernismo que aflorava no país. A revista Orpheu foi um marco, com apenas duas publicações que provocaram grandes polêmicas. À sua frente estavam escritores e artistas plásticos de renome, como: Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiros, José de Almada Negreiros, Raul Leal, Luís Montalvor e o brasileiro Ronald de Carvalho, o qual foi responsável por publicar a revista no Brasil. Muitos escritores da época iam contra as publicações, reagindo negativamente e alguns títulos como: “Literatura de manicômio” surgia em jornais. Como apresenta, D’Alge (1989, p. 104), Júlio Dantas foi um dos escritores que pregava contra o modernismo, atacando os vanguardistas impiedosamente, se tornando, então, alvo de Almada. Este mesmo que não permaneceu calado, perante os insultos e se pôs a escrever o texto que causaria tamanho alvoroço.
“MORRA O DANTAS, MORRA! ☛ PIM!
UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS A CAVALLO É UM BURRO IMPOTENTE!
[…] O DANTAS SABERÁ GRAMMATICA, SABERÁ SYNTAXE, SABERÁ MEDICINA, SABERÁ FAZER CEIAS P’RA CARDEAIS, SABERÁ TUDO MENOS ESCREVER QUE É A ÚNICA COISA QUE ELE FAZ. […] O DANTAS VESTE-SE MAL! O DANTAS USA CEROULAS DE MALHA! […] SE O DANTAS É PORTUGUEZ, EU QUERO SER HESPANHOL! O DANTAS É A VERGONHA DA INTELLECTUALIDADE PORTUGUEZA! O DANTAS É A META DA DECADENCIA MENTAL!”
Ferreira, citado por Rosa, afirma que Almada “contesta violentamente os
valores tradicionais da cultura portuguesa” (FERREIRA, 2015, p. 19 apud ROSA, 2016, p. 128), nesse excerto é possível identificar a despreocupação com a métrica clássica e o uso da linguagem cotidiana, contendo toda uma essência de originalidade. Almada também se aproveita de recursos de linguagem, como: a ironia e o sarcasmo, tornando o texto excêntrico. É importante observar que além dos recursos linguísticos, Almada utiliza o símbolo de uma mão negra apontando, seguido da onomatopeia do tiro de uma pistola, com o propósito de materializar a vontade de que Dantas morresse. McNab (1977, p. 36-37), ressalta que o Manifesto revela bem “o virtuosismo de Almada na arte de insultar” e completa, explicando que “é característico do impulso destruidor do Vanguardismo”. Conclui-se, de fato que, dentro do contexto histórico da época, Almada ousou em escrever os versos que compõe o manifesto, insultando diretamente Júlio Dantas. Sem medo, mostrando todo o poder e força do modernismo. Referências bibliográficas:
D’ALGE, Carlos. A experiência futurista e a geração de “Orpheu”. 1.ed.
Lisboa: Ministério da Educação. Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1989.
MCNAB, Gregory. Sobre duas intervenções de Almada Negreiros, in: Revista
Colóquio/Letras. Ensaio, n.° 35, Janeiro de 1977, p. 32-40.
ROSA, Eliana B. Os intelectuais portugueses e as propostas de superação de
crise nacional do Ultimatum Inglês à Ditadura Militar (1890-1933). in: Tradição e modernidade no mundo ibero-americano. Intelectuais., 119 – 142. Rio de Janeiro: Contra Capa. 2016