Você está na página 1de 12

LENDAS E PARLENDAS: PRODUZINDO CULTURA NA TELA DO

COMPUTADOR

Aline Musse Alves Pereira

Angélica Lima de Moraes

RESUMO: Este artigo apresenta o relato de experiência do Projeto Lendas e Parlendas desenvolvido pela equipe de
Informática Educativa da Unidade de Educação Infantil de Realengo, do Colégio Pedro II. O trabalho propôs o uso de
diferentes suportes midiáticos: imagens, pesquisas na Web, vídeos e jogos interativos, para estimular a autoria e a
intervenção das crianças no processo de reconhecimento da cultura popular.

1) Introdução
A evolução das tecnologias determina, cada vez mais, a velocidade das informações e
processos de comunicação, as relações humanas e sociais, a dinâmica de trabalho. As crianças, nos
dias atuais, estão inseridas nessa sociedade tecnológica, também referenciada como Sociedade em
Rede, assim definido por Castells (2008):

“Frequentemente, a sociedade emergente tem sido


caracterizada como sociedade de informação ou sociedade do
conhecimento. Eu não concordo com esta terminologia.Não
porque conhecimento e informação não sejam centrais na
nossa sociedade. Mas porque eles sempre o foram, em todas as
sociedades historicamente conhecidas. O que é novo é o facto
de serem de base microelectrónica, através de redes
tecnológicas que fornecem novas capacidades a uma velha
forma de organização social: as redes.” CASTELLS, 2008, p.18

Essa Sociedade em Rede se estabelece no Ciberespaço, definido por Pierre Levy (2011),
como: “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das
memórias dos computadores.” (p. 89) No Ciberespaço, as fronteiras físicas deixam de existir não
havendo mais limites para as trocas de conhecimentos, para o estabelecimento de novas relações,
para as descobertas e acesso a todo tipo de informação e cultura. É assim que legitima a
Cibercultura, termo que vem sendo constantemente referenciado como a cultura ampliada,
constantemente construída e significada pela sociedade atual, a partir das possibilidades criadas
pelo acesso às redes de computadores.
É nessa nova configuração de espaço que as crianças vem encontrando um terreno
extremamente fértil para desenvolver suas diferentes habilidades, lidando com extrema naturalidade
com as ferramentas tecnológicas. A partir das relações que as crianças estabelecem com celulares,
computadores, tablets, videos-games, passa-se a refletir sobre que tipo de interação é estabelecida,
como esse processo pode interferir na prática cotidiana dessas crianças e de que forma pais e
professores podem atuar para mediar as possibilidades de aprendizagem entre a criança e o
computador. Surge assim uma questão: de que forma crianças e adultos lidam com a tecnologia? É
visível que essa relação acontece sob diferentes aspectos, o que pode ser justificado pelo conceito
de nativos e imigrantes digitais.
Mark Prensky (2004) utiliza os termos acima mencionados para designar aqueles que já
nasceram no universo da tecnologia digital (nativos digitais) no caso, as crianças; e aqueles que
precisam se adequar a essa nova realidade, os imigrantes digitais, que são os pais, responsáveis e
professores. A dinâmica de pensamento e de uso dos suportes tecnológicos por nativos e imigrantes
digitais diferencia-se em vários aspectos. Coll afirma que “tanto uns quanto outros utilizam
exatamente os mesmos meios tecnológicos, mas fazem isso de forma significativamente diferente.”
(Coll, 2010, p. 101). E dessas diferenças, pode-se estabelecer uma relação de troca extremamente
enriquecedora para ambos: crianças e adultos.
Segundo Gonnet (2004), “A aparição das mídias não coloca o problema a priori nem para a
criança, nem para o adolescente. Eles navegam num mundo que surpreende, aterroriza ou maravilha
os mais velhos, mas que é o mundo deles”(p.28).
Nesse contexto é espontâneo que se veja como uma dinâmica natural, a presença das
tecnologias na escola. “Assim como a tecnologia para o uso do homem expande suas capacidades, a
presença dela na sala de aula amplia seus horizontes e seu alcance em direção à realidade” (LEITE,
2014, p.7). Uma vez que este é um espaço de formação, é fundamental que o processo educacional
traga uma proposta de reflexão e atuação diante das novas demandas sociais, entre elas, a educação
para o uso efetivo e produtivo das tecnologias.
Tratando-se especificamente da educação das crianças para o uso da tecnologia justifica-se
esse contato e a mediação pela escola por estar a criança inserida nessa sociedade tecnológica. O
conceito de criança oferecido pelo Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil1
(RCNEI) nos ajuda a observar com mais clareza essa necessidade: “A criança como todo ser
humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em
uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É
profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca.” (2010, p.
21).
Contudo, a presença das tecnologias na escola não garante, por si só, uma ressignificação do

1 O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é um documento criado pelo MEC em 1998 para
orientar as questões pedagógicas relacionadas à Educação Infantil.
processo pedagógico. É fundamental que todo o planejamento seja voltado para situar as
ferramentas como um meio de produção de conhecimento, de acesso à pesquisa que incentive a
autoria dos alunos. Já faz algum tempo que se busca fazer com que o aluno participe ativamente no
processo de aprendizagem. Mas entre questionar o aluno para verificar suas aquisições, e
disponibilizar para ele ferramentas que lhes permitirão e facilitarão o caminho para tentar, hesitar, e
construir, respeitando seu próprio tempo, há uma grande distância. E é esse o papel das tecnologias
na educação.
Este artigo apresenta um Projeto desenvolvido tendo como proposta o uso das tecnologias a
favor da aprendizagem, da construção do conhecimento e da integração de diferentes áreas e
linguagens. Nos meses de julho e agosto de 2014, na Unidade de Educação Infantil Realengo do
Colégio Pedro II a equipe pedagógica da escola adotou como projeto a temática do Folclore, a ser
trabalhada por todos os professores em suas diferentes áreas de atuação.
Sabemos que o Folclore se trata da expressão da cultura popular, herdada dos nossos
antepassados e que deve ser transmitida às crianças, através de manifestações como as cantigas de
roda, lendas, danças, e parlendas.
É prática constante das crianças desencadearem experiências acerca de curiosidades do
mundo ao seu redor e se apropriarem dos resultados como aprendizagem.
E foi a partir desses princípios que surgiu a iniciativa de utilizar os recursos do computador
para apresentar as manifestações folclóricas às crianças de forma mais atrativa, incentivando-os a
explorarem através destes mesmos recursos sua criatividade, imaginação e capacidade de criação
acerca do assunto.

1.1) Identificação:

O Colégio Pedro II, tradicional colégio da rede pública federal de ensino, com 176 anos de
existência destaca-se como referência no cenário educacional brasileiro. Devido a sua educação de
excelência, no ano de 2010, a pedido do Ministério de Educação, foi elaborado um projeto para a
implementação da Educação Infantil no Colégio. Essa preocupação atende a um processo de
valorização desta primeira etapa da Educação Básica, que passou a ser uma das principais metas dos
Planos de Educação do Brasil.
O Projeto foi apresentado e dois anos depois, em março de 2012, foi inaugurado no campus
Realengo a Unidade de Educação Infantil. Inicialmente oferecendo 144 vagas para crianças de 4 e 5
anos, a serem selecionadas a partir de sorteio público. Mais recentemente, no ano de 2014, a
proposta foi ampliada para atender a crianças de 3 anos, em duas turmas de 12 anos. A partir de
então, a Unidade passou a contar com 168 alunos, divididos em três grupamentos, de acordo com a
faixa etária: Grupamento I: 3 anos; Grupamento II: 4 anos e Grupamento III: 5 anos.
De acordo com a proposta, os alunos contam com aulas semanais de Artes Visuais,
Educação Física, Música e Informática Educativa, além dos momentos em que estão no espaço de
suas salas, com os chamados professores de Núcleo Comum. Visando a qualidade na educação
oferecida, marca da Instituição, o projeto conta com a bidocência, que garante dois professores do
Núcleo Comum com as crianças.
Em relação a fundamentação teórica que rege a proposta pedagógica do Projeto de Educação
Infantil do Colégio Pedro II adota-se a abordagem interacionista buscando como fontes Vygotsky,
Wallon e Freinet. Estes autores destacam a importância da interação da criança com o meio, com o
social como maneira de estabelecer suas práticas, construir seus conhecimentos e se moldar
enquanto indivíduo ativo e produtor de cultura. A partir das ideias sobre desenvolvimento infantil
apresentadas pelos autores citados, os responsáveis pelo projeto elaboraram as propostas
pedagógicas que regem as atividades da Educação Infantil do Colégio Pedro II, vendo a criança
como centro do processo de aprendizagem e tendo como foco o cuidar e educar.

2) A Informática Educativa na Educação Infantil

Segundo Piaget (1991, p.97): "A principal meta da educação é criar homens que sejam
capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens
que sejam criadores, inventores, descobridores".
Diante disso, observa-se a importância de colocar a criança em contato com as ferramentas
tecnológicas, tal como definem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil que
definem que as práticas pedagógicas para a Educação Infantil devem garantir experiências que:
“Possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros
recursos tecnológicos e midiáticos” (2010, p. 27)
Na Educação Infantil, têm-se a concepção de escola enquanto um espaço lúdico onde se
possa criar oportunidades para uma aprendizagem significativa, possibilitando o ingresso da criança
na sociedade de forma crítica e participativa, através de ambientes que promovam experiências e
despertem o interesse, desenvolvendo os conteúdos pedagógicos tendo como base suas vivências,
relações e formas de interação com o mundo.
Sendo assim, é possível irmos além do cuidar, do brincar; podemos criar, pesquisar,
compartilhar. A informática educativa é capaz de tudo isso, através do uso das tecnologias para a
educação.
O computador e os demais recursos tecnológicos atuais despertam naturalmente a
curiosidade das crianças, e possibilitam novas formas de ler, de escrever, de criar e interagir,
podendo ser utilizados como ferramentas lúdicas, instigantes e atrativas, favorecendo a construção
do conhecimento.
A Informática Educativa privilegia a utilização do computador como a ferramenta
pedagógica que auxilia no processo de construção do conhecimento. Neste momento, o computador
é um meio e não um fim, devendo ser usado considerando o desenvolvimento dos componentes
curriculares. Nesse sentido, o computador transforma-se em um poderoso recurso de suporte à
aprendizagem, com inúmeras possibilidades pedagógicas, desde que haja uma reformulação no
currículo, que se crie novos modelos metodológicos e didáticos, e principalmente que se repense
qual o verdadeiro significado da aprendizagem, para que o computador não se torne mais um
adereço travestido de modernidade.
Em relação ao trabalho a ser desenvolvido pela Informática Educativa, fica claro que esta
não se apresenta enquanto um componente curricular para a Educação Infantil. A proposta é que
esse seja o espaço e momento em que alunos e professores, trabalhem de maneira integrada, os
diferentes componentes curriculares: Movimento, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita,
Matemática, Música, Sociedade e Natureza. Os diversos assuntos e questões que surgem a partir de
cada linguagem é organizada em atividades e propostas intermediadas pelas mídias e tecnologias
disponíveis no Laboratório de Informática e que podem e devem se estender por todo o espaço
escolar, trazendo o computador e demais recursos tecnológicos para o universo das experiências das
crianças, tornando-os ferramentas que venham agregar valores na descoberta e na aprendizagem
global. Daí a importância, ressaltada pelo RCNEI, de um trabalho realmente planejado de maneira
integrada: “Para que as crianças possam compreender a realidade na sua complexidade e enriquecer
sua percepção sobre ela, os conteúdos devem ser trabalhados de forma integrada, relacionados entre
si. Essa integração possibilita que a realidade seja analisada por diferentes aspectos, sem fragmentá-
la.” (RCNEI, 1998, p. 52-53)
Tratando-se especificamente da Informática Educativa na Educação Infantil, observa-se a
proposta trazida no Projeto de Implementação da Unidade:

as TIC se inserem no currículo como linguagens importantes


para o desenvolvimento dos projetos e atividades, por meio da
utilização de recursos que possibilitem aos professores a
construção de propostas que estimulem a aprendizagem
baseada na autoria e na autonomia das crianças. Os softwares
e a internet devem ser utilizados para que as crianças
construam produtos que reflitam a sua própria aprendizagem,
evitando uma visão mais tradicional que concebe o computador
com um caráter apenas de lazer. Há que se preservar o caráter
lúdico do trabalho com esta faixa etária sem, no entanto,
prescindir das possibilidades que o computador e sua
integração com outras mídias pode oferecer ao trabalho
pedagógico. (2010, p. 15)
Desta forma, a informática educativa torna-se uma grande aliada no processo de
aprendizagem, contribuindo como uma ferramenta que disponibiliza novas formas de explorar e
aprender, catalisando mudanças, criando possibilidades, facilitando a troca e as parcerias, e
permitindo o “aprender brincando”.

3) O Projeto Folclore

As parlendas também são


Versos curtos recitados
Sempre com uma melodia
Todos eles são rimados
Temas infantis que vão
Sendo com animação
Pelas crianças, cantados
Fazem parte do Folclore
No contexto cultural
Do povo que cria códigos
Pro cotidiano tal
Que afirma-se a ligação
Com a sua região
Como se fosse um sinal
(CAMPOS, s/d, p. 03)

No contexto da Cibercultura, como já foi observado é natural que as relações e práticas


culturais se tornem universalizadas, e que o acesso a qualquer tipo de informação e conhecimento
torne-se mais fácil. Com isso, é comum que crianças e jovens conheçam lugares e culturas do
mundo todo através da rede mas, ao mesmo tempo, desconhecem aquilo que está próximo a ele.
Daí a importância do constante resgate da cultura popular brasileira, trazendo-a para a escola como
maneira de valorizar nossas tradições e ampliar o universo cultural de nossas crianças.
O Projeto de Implementação da Educação Infantil do Colégio Pedro II destaca a importância
de que se desenvolvam práticas pedagógicas comprometidas com a concepção de criança, enquanto
ser social e cultural:

A visão de criança como constituída de cultura e produtora de


cultura também encontra fundamentação em Vygotsky. Na
interação, as crianças não apenas aprendem e se formam, mas
ao mesmo tempo, criam e transformam, ou seja, são sujeitos
ativos que participam e intervêm na realidade ao seu redor.
Cabe aos adultos a função de mediar as ações das crianças por
meio das quais reelaboram e recriam o mundo. (PI, 2010, p.
13).
O conceito de folclore mostra-se muito mais dinâmico do que aparenta, pois engloba
diversas vertentes da cultura popular, e continua sendo produzido até os dias de hoje. Na realidade,
devemos entender o folclore e a cultura popular como campos de conhecimento em constante
construção, e não como fatos prontos.
O Folclore enquanto manifestação cultural é um tema recorrente nas escolas como maneira
de valorizar e transmitir a tradição popular brasileira. O Referencial Curricular Nacional, cita:

A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas


as crianças que a frequentam, indiscriminadamente, elementos
da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção
social. Cumpre um papel socializador, propiciando o
desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de
aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de
interação. (RCNEI, 1998, p. 23)

Na prática, as crianças conseguem navegar pelo universo dos códigos sociais através das
músicas e brincadeiras, o que somado às suas aprendizagens adquiridas no convívio social,
enriquecem suas experiências. Sendo assim, enquanto cantam e recitam, por exemplo, as crianças
são capazes de compreender a estrutura da língua e aprendem a reconhecer as mudanças na
sonoridade das palavras e a identificar que a entonação pode mudar o sentido de toda a
comunicação.
Durante a execução do projeto Lendas e Parlendas, buscou-se inicialmente resgatar tradições
da cultura popular, e pudemos observar que os alunos embarcaram no mundo encantado das
histórias que foram mostradas a eles e de seus personagens folclóricos. E, ao executarem as
atividades propostas, foi possível desenvolverem a oralidade, levantarem hipóteses e
questionamentos interpretativos, discutirem e resgatarem a importância do folclore nacional,
registrar ideias e propostas, enquanto também desenvolviam a escuta, o poder de criação, o trabalho
coletivo, o raciocínio e criatividade, além de aprenderem a valorizar a cultura local e as
manifestações folclóricas.
Em relação ao aspecto do fazer artístico, o Projeto seguiu a orientação dos Referenciais
Curriculares Nacionais no que tange a produção das crianças em relação as artes:

As crianças têm suas próprias impressões, ideias e


interpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico. Tais
construções são elaboradas a partir de suas experiências ao
longo da vida, que envolvem a relação com a produção de arte,
com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As crianças
exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas
experiências. A partir daí constroem significações sobre como
se faz, o que é, para que serve e sobre outros conhecimentos a
respeito da arte. (RCNEI, 1998, p. 89)
4) Metodologia

Na Educação Infantil trabalha-se com a proposta de ouvir a demanda das crianças,


inserindo-as sempre no contexto das aulas, proporcionando um espaço em que eles possam trazer
suas próprias questões, conhecimentos prévios, curiosidades, desejo de pesquisa. A partir desse
pressuposto, ao introduzir a temática do Folclore com as turmas do Grupamento II (4 anos) e
Grupamento III (5 anos) buscou-se inicialmente observar quais propostas as turmas traziam, o que
foi determinante para que o projeto fosse se afinando entre a ideia inicial traçada pelas professoras
de Informática Educativa e as questões que as crianças apresentavam na aula. Após afinar as
propostas, adaptar o Projeto inicial ao desejo dos alunos, chegou-se ao Projeto Folclore que teve
como proposta o trabalho com as Lendas Tradicionais: Saci, Curupira, Iara e Mula sem Cabeça com
os alunos do Grupamento II, e Parlendas Animadas com o Grupamento III.
O trabalho com as seis turmas de 4 anos teve sua dinâmica centrada na tradição das Lendas,
a partir da construção de um quadro de ideias sobre os 4 personagens selecionados. A partir da
conversa sobre os conhecimentos prévios sobre cada um deles, buscou-se traçar o seguinte
panorama: características físicas dos personagens, seus costumes, cenários em que habitam e a
história de cada um. Em continuidade, foram exibidos vídeos sobre cada personagem e as crianças
foram estimuladas a contar suas experiências com as lendas e conhecer outros aspectos, antes
desconhecidos por elas. Depois disso, em duplas, utilizando-se da Ferramenta PaintBrush os alunos
puderam complementar os desenhos das imagens de cada personagem e colori-los, produzindo e
organizando os cenários a partir da inserção de gifs animados, culminando na elaboração de uma
apresentação no software Impress, com o objetivo de desenvolver a coordenação motora, estimular
a criatividade e produção artística através da pintura.
Já com as quatro turmas de 5 anos, onde o projeto também teve como objetivo principal o
resgate do valor social da tradição do folclore infantil, desenvolvendo a criatividade, linguagem oral
e escrita, memorização e expressão corporal, as atividades também foram realizadas na perspectiva
das duplas. O foco foram as Parlendas, onde após o retorno da pesquisa feita pelos professores da
turma junto às famílias, com a intenção de identificar quais as parlendas mais conhecidas entre eles,
foram apresentados vídeos e animações, para que fossem escolhidas pelas duplas aquelas que mais
lhes despertaram interesse para serem ilustradas, na ferramenta Tux Paint. Após a conclusão da
ilustração da parlenda escolhida, cada dupla gravou a narração da mesma, tendo como produto final
um vídeo criado no software Movie Maker, agrupando as “parlendas ilustradas” de cada turma.
6) Resultados

Ao final do desenvolvimento da produção dos trabalhos observou-se o quanto a integração


entre as diferentes áreas e linguagens é fundamental para o trabalho na Educação Infantil, bem
como a atuação do professor enquanto mediador de todo o processo. As produções finais foram
organizados pelas professoras com o intuito de socializar os resultados dos trabalhos primeiramente
com as crianças das turmas envolvidas, depois trocando com os colegas de outras turmas e
finalmente apresentados aos professores e aos pais.
Mais importante do que o resultado em si, foi o processo de execução do Projeto em cada
uma de suas etapas: as adaptações que foram sendo realizadas ao projeto inicial, para atender a
demanda das crianças, seus interesses e curiosidades, a negociação com cada turma para definir de
que maneira as produções seriam apresentadas, observar o crescimento das crianças a cada semana
representada na firmeza dos traços que complementavam seus desenhos. Ao final, o que se percebe
é que conseguimos muito além daquilo que fora pretendido, sobretudo, pela alegria e orgulho das
crianças ao ver e apresentar. suas produções.
A seguir, apresentam-se as imagens de alguns dos trabalhos desenvolvidos:

[Figura 1] [Figura 2]

Saci: desenhado no Paint por aluno de 4 anos. Mula sem cabeça: desenho com molde no Paint,
complementado por aluno de 4 anos.
“Era uma bruxa,
a meia-noite,
num castelo mal assombrado,
com uma faca na mão,
passando manteiga no pão,
passando manteiga no pão.”

[Figura 3]
Ilustração de Parlenda, cuja letra consta ao lado,
feita no TuxPaint por alunos de 5 anos.

[Figura 4]
Curupira: Construção de cenário no Impress, por alunos de 4 anos.

7) Considerações Finais

A partir do trabalho relatado identificou-se o quanto o uso das ferramentas tecnológicas


podem auxiliar no desenvolvimento de potencialidades como a criação artística, a oralidade, a
criatividade, a organização de ideias e espaços.
É notório que a inserção dos recursos tecnológicos como ferramenta facilitadora de
aprendizagem, desde os primeiros momentos da infância, potencializam as experiências e suas
descobertas e comparações, assim como favorecem a participação e colaboração da criança, criando
um ambiente que possibilita aos envolvidos na ação pedagógica a exploração de outras ferramentas
de leitura e criação, através de sons, imagens, ícones, vídeos, animações, jogos, etc.
A proposta de construção das Lendas e Parlendas buscou uma utilização produtiva da
tecnologia, propiciando aos alunos a autoria sobre as produções e a interferência nas atividades
propostas, permitindo o compartilhamento das aprendizagens de forma a contribuir para a
circulação do conhecimento em diversos momentos. Dessa forma destaca-se que a tecnologia
precisa ser mais uma maneira de estimular os indivíduos e não apenas ser usado como ferramenta
estática, na tentativa de uma suposta inovação do ensino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental.


Referenciais curriculares nacionais para a educação infantil. Documento introdutório. Brasília:
MEC/SEF, 1998.

Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais


para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. – Brasília : MEC, SEB, 2010.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. 6 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

COOL, C.; MONEREO, C. Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as


tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010.

FRADE, I. Tecnologias do afeto. Revista Palíndromo, 2011. Disponível em:


<http://ppgav.ceart.udesc.br/revista/edicoes/4ensino_de_arte/4_artigo_1_frade.pdf > Acesso em:
08/10/2014, 22:10hs.

GONNET, Jacques. Educação e Mídias. São Paulo. Edições Loyola, p.28.

LEITE, Lígia Silva (Coord.). Tecnologia Educacional: Descubra suas possibilidades na sala de
aula. 8ª edição. Petrópolis. Editora Vozes, 2014, p.7.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo. Editora 34 Ltda, 1999.

Projeto de Implementação da Primeira Etapa de Educação Básica do Colégio Pedro II. Rio de
Janeiro, 2010. Mimeografada.

VALENTE, J. A. Computadores e conhecimento: repensando a educação. Campinas: UNICAMP.


1993.

São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Mídias no
universo infantil: um diálogo possível. Secretaria Municipal de Educação – São Paulo - SME /
DOT, 2008.

Você também pode gostar