Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
COMPUTADOR
RESUMO: Este artigo apresenta o relato de experiência do Projeto Lendas e Parlendas desenvolvido pela equipe de
Informática Educativa da Unidade de Educação Infantil de Realengo, do Colégio Pedro II. O trabalho propôs o uso de
diferentes suportes midiáticos: imagens, pesquisas na Web, vídeos e jogos interativos, para estimular a autoria e a
intervenção das crianças no processo de reconhecimento da cultura popular.
1) Introdução
A evolução das tecnologias determina, cada vez mais, a velocidade das informações e
processos de comunicação, as relações humanas e sociais, a dinâmica de trabalho. As crianças, nos
dias atuais, estão inseridas nessa sociedade tecnológica, também referenciada como Sociedade em
Rede, assim definido por Castells (2008):
Essa Sociedade em Rede se estabelece no Ciberespaço, definido por Pierre Levy (2011),
como: “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das
memórias dos computadores.” (p. 89) No Ciberespaço, as fronteiras físicas deixam de existir não
havendo mais limites para as trocas de conhecimentos, para o estabelecimento de novas relações,
para as descobertas e acesso a todo tipo de informação e cultura. É assim que legitima a
Cibercultura, termo que vem sendo constantemente referenciado como a cultura ampliada,
constantemente construída e significada pela sociedade atual, a partir das possibilidades criadas
pelo acesso às redes de computadores.
É nessa nova configuração de espaço que as crianças vem encontrando um terreno
extremamente fértil para desenvolver suas diferentes habilidades, lidando com extrema naturalidade
com as ferramentas tecnológicas. A partir das relações que as crianças estabelecem com celulares,
computadores, tablets, videos-games, passa-se a refletir sobre que tipo de interação é estabelecida,
como esse processo pode interferir na prática cotidiana dessas crianças e de que forma pais e
professores podem atuar para mediar as possibilidades de aprendizagem entre a criança e o
computador. Surge assim uma questão: de que forma crianças e adultos lidam com a tecnologia? É
visível que essa relação acontece sob diferentes aspectos, o que pode ser justificado pelo conceito
de nativos e imigrantes digitais.
Mark Prensky (2004) utiliza os termos acima mencionados para designar aqueles que já
nasceram no universo da tecnologia digital (nativos digitais) no caso, as crianças; e aqueles que
precisam se adequar a essa nova realidade, os imigrantes digitais, que são os pais, responsáveis e
professores. A dinâmica de pensamento e de uso dos suportes tecnológicos por nativos e imigrantes
digitais diferencia-se em vários aspectos. Coll afirma que “tanto uns quanto outros utilizam
exatamente os mesmos meios tecnológicos, mas fazem isso de forma significativamente diferente.”
(Coll, 2010, p. 101). E dessas diferenças, pode-se estabelecer uma relação de troca extremamente
enriquecedora para ambos: crianças e adultos.
Segundo Gonnet (2004), “A aparição das mídias não coloca o problema a priori nem para a
criança, nem para o adolescente. Eles navegam num mundo que surpreende, aterroriza ou maravilha
os mais velhos, mas que é o mundo deles”(p.28).
Nesse contexto é espontâneo que se veja como uma dinâmica natural, a presença das
tecnologias na escola. “Assim como a tecnologia para o uso do homem expande suas capacidades, a
presença dela na sala de aula amplia seus horizontes e seu alcance em direção à realidade” (LEITE,
2014, p.7). Uma vez que este é um espaço de formação, é fundamental que o processo educacional
traga uma proposta de reflexão e atuação diante das novas demandas sociais, entre elas, a educação
para o uso efetivo e produtivo das tecnologias.
Tratando-se especificamente da educação das crianças para o uso da tecnologia justifica-se
esse contato e a mediação pela escola por estar a criança inserida nessa sociedade tecnológica. O
conceito de criança oferecido pelo Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil1
(RCNEI) nos ajuda a observar com mais clareza essa necessidade: “A criança como todo ser
humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em
uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É
profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca.” (2010, p.
21).
Contudo, a presença das tecnologias na escola não garante, por si só, uma ressignificação do
1 O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é um documento criado pelo MEC em 1998 para
orientar as questões pedagógicas relacionadas à Educação Infantil.
processo pedagógico. É fundamental que todo o planejamento seja voltado para situar as
ferramentas como um meio de produção de conhecimento, de acesso à pesquisa que incentive a
autoria dos alunos. Já faz algum tempo que se busca fazer com que o aluno participe ativamente no
processo de aprendizagem. Mas entre questionar o aluno para verificar suas aquisições, e
disponibilizar para ele ferramentas que lhes permitirão e facilitarão o caminho para tentar, hesitar, e
construir, respeitando seu próprio tempo, há uma grande distância. E é esse o papel das tecnologias
na educação.
Este artigo apresenta um Projeto desenvolvido tendo como proposta o uso das tecnologias a
favor da aprendizagem, da construção do conhecimento e da integração de diferentes áreas e
linguagens. Nos meses de julho e agosto de 2014, na Unidade de Educação Infantil Realengo do
Colégio Pedro II a equipe pedagógica da escola adotou como projeto a temática do Folclore, a ser
trabalhada por todos os professores em suas diferentes áreas de atuação.
Sabemos que o Folclore se trata da expressão da cultura popular, herdada dos nossos
antepassados e que deve ser transmitida às crianças, através de manifestações como as cantigas de
roda, lendas, danças, e parlendas.
É prática constante das crianças desencadearem experiências acerca de curiosidades do
mundo ao seu redor e se apropriarem dos resultados como aprendizagem.
E foi a partir desses princípios que surgiu a iniciativa de utilizar os recursos do computador
para apresentar as manifestações folclóricas às crianças de forma mais atrativa, incentivando-os a
explorarem através destes mesmos recursos sua criatividade, imaginação e capacidade de criação
acerca do assunto.
1.1) Identificação:
O Colégio Pedro II, tradicional colégio da rede pública federal de ensino, com 176 anos de
existência destaca-se como referência no cenário educacional brasileiro. Devido a sua educação de
excelência, no ano de 2010, a pedido do Ministério de Educação, foi elaborado um projeto para a
implementação da Educação Infantil no Colégio. Essa preocupação atende a um processo de
valorização desta primeira etapa da Educação Básica, que passou a ser uma das principais metas dos
Planos de Educação do Brasil.
O Projeto foi apresentado e dois anos depois, em março de 2012, foi inaugurado no campus
Realengo a Unidade de Educação Infantil. Inicialmente oferecendo 144 vagas para crianças de 4 e 5
anos, a serem selecionadas a partir de sorteio público. Mais recentemente, no ano de 2014, a
proposta foi ampliada para atender a crianças de 3 anos, em duas turmas de 12 anos. A partir de
então, a Unidade passou a contar com 168 alunos, divididos em três grupamentos, de acordo com a
faixa etária: Grupamento I: 3 anos; Grupamento II: 4 anos e Grupamento III: 5 anos.
De acordo com a proposta, os alunos contam com aulas semanais de Artes Visuais,
Educação Física, Música e Informática Educativa, além dos momentos em que estão no espaço de
suas salas, com os chamados professores de Núcleo Comum. Visando a qualidade na educação
oferecida, marca da Instituição, o projeto conta com a bidocência, que garante dois professores do
Núcleo Comum com as crianças.
Em relação a fundamentação teórica que rege a proposta pedagógica do Projeto de Educação
Infantil do Colégio Pedro II adota-se a abordagem interacionista buscando como fontes Vygotsky,
Wallon e Freinet. Estes autores destacam a importância da interação da criança com o meio, com o
social como maneira de estabelecer suas práticas, construir seus conhecimentos e se moldar
enquanto indivíduo ativo e produtor de cultura. A partir das ideias sobre desenvolvimento infantil
apresentadas pelos autores citados, os responsáveis pelo projeto elaboraram as propostas
pedagógicas que regem as atividades da Educação Infantil do Colégio Pedro II, vendo a criança
como centro do processo de aprendizagem e tendo como foco o cuidar e educar.
Segundo Piaget (1991, p.97): "A principal meta da educação é criar homens que sejam
capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens
que sejam criadores, inventores, descobridores".
Diante disso, observa-se a importância de colocar a criança em contato com as ferramentas
tecnológicas, tal como definem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil que
definem que as práticas pedagógicas para a Educação Infantil devem garantir experiências que:
“Possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros
recursos tecnológicos e midiáticos” (2010, p. 27)
Na Educação Infantil, têm-se a concepção de escola enquanto um espaço lúdico onde se
possa criar oportunidades para uma aprendizagem significativa, possibilitando o ingresso da criança
na sociedade de forma crítica e participativa, através de ambientes que promovam experiências e
despertem o interesse, desenvolvendo os conteúdos pedagógicos tendo como base suas vivências,
relações e formas de interação com o mundo.
Sendo assim, é possível irmos além do cuidar, do brincar; podemos criar, pesquisar,
compartilhar. A informática educativa é capaz de tudo isso, através do uso das tecnologias para a
educação.
O computador e os demais recursos tecnológicos atuais despertam naturalmente a
curiosidade das crianças, e possibilitam novas formas de ler, de escrever, de criar e interagir,
podendo ser utilizados como ferramentas lúdicas, instigantes e atrativas, favorecendo a construção
do conhecimento.
A Informática Educativa privilegia a utilização do computador como a ferramenta
pedagógica que auxilia no processo de construção do conhecimento. Neste momento, o computador
é um meio e não um fim, devendo ser usado considerando o desenvolvimento dos componentes
curriculares. Nesse sentido, o computador transforma-se em um poderoso recurso de suporte à
aprendizagem, com inúmeras possibilidades pedagógicas, desde que haja uma reformulação no
currículo, que se crie novos modelos metodológicos e didáticos, e principalmente que se repense
qual o verdadeiro significado da aprendizagem, para que o computador não se torne mais um
adereço travestido de modernidade.
Em relação ao trabalho a ser desenvolvido pela Informática Educativa, fica claro que esta
não se apresenta enquanto um componente curricular para a Educação Infantil. A proposta é que
esse seja o espaço e momento em que alunos e professores, trabalhem de maneira integrada, os
diferentes componentes curriculares: Movimento, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita,
Matemática, Música, Sociedade e Natureza. Os diversos assuntos e questões que surgem a partir de
cada linguagem é organizada em atividades e propostas intermediadas pelas mídias e tecnologias
disponíveis no Laboratório de Informática e que podem e devem se estender por todo o espaço
escolar, trazendo o computador e demais recursos tecnológicos para o universo das experiências das
crianças, tornando-os ferramentas que venham agregar valores na descoberta e na aprendizagem
global. Daí a importância, ressaltada pelo RCNEI, de um trabalho realmente planejado de maneira
integrada: “Para que as crianças possam compreender a realidade na sua complexidade e enriquecer
sua percepção sobre ela, os conteúdos devem ser trabalhados de forma integrada, relacionados entre
si. Essa integração possibilita que a realidade seja analisada por diferentes aspectos, sem fragmentá-
la.” (RCNEI, 1998, p. 52-53)
Tratando-se especificamente da Informática Educativa na Educação Infantil, observa-se a
proposta trazida no Projeto de Implementação da Unidade:
3) O Projeto Folclore
Na prática, as crianças conseguem navegar pelo universo dos códigos sociais através das
músicas e brincadeiras, o que somado às suas aprendizagens adquiridas no convívio social,
enriquecem suas experiências. Sendo assim, enquanto cantam e recitam, por exemplo, as crianças
são capazes de compreender a estrutura da língua e aprendem a reconhecer as mudanças na
sonoridade das palavras e a identificar que a entonação pode mudar o sentido de toda a
comunicação.
Durante a execução do projeto Lendas e Parlendas, buscou-se inicialmente resgatar tradições
da cultura popular, e pudemos observar que os alunos embarcaram no mundo encantado das
histórias que foram mostradas a eles e de seus personagens folclóricos. E, ao executarem as
atividades propostas, foi possível desenvolverem a oralidade, levantarem hipóteses e
questionamentos interpretativos, discutirem e resgatarem a importância do folclore nacional,
registrar ideias e propostas, enquanto também desenvolviam a escuta, o poder de criação, o trabalho
coletivo, o raciocínio e criatividade, além de aprenderem a valorizar a cultura local e as
manifestações folclóricas.
Em relação ao aspecto do fazer artístico, o Projeto seguiu a orientação dos Referenciais
Curriculares Nacionais no que tange a produção das crianças em relação as artes:
[Figura 1] [Figura 2]
Saci: desenhado no Paint por aluno de 4 anos. Mula sem cabeça: desenho com molde no Paint,
complementado por aluno de 4 anos.
“Era uma bruxa,
a meia-noite,
num castelo mal assombrado,
com uma faca na mão,
passando manteiga no pão,
passando manteiga no pão.”
[Figura 3]
Ilustração de Parlenda, cuja letra consta ao lado,
feita no TuxPaint por alunos de 5 anos.
[Figura 4]
Curupira: Construção de cenário no Impress, por alunos de 4 anos.
7) Considerações Finais
LEITE, Lígia Silva (Coord.). Tecnologia Educacional: Descubra suas possibilidades na sala de
aula. 8ª edição. Petrópolis. Editora Vozes, 2014, p.7.
Projeto de Implementação da Primeira Etapa de Educação Básica do Colégio Pedro II. Rio de
Janeiro, 2010. Mimeografada.
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Mídias no
universo infantil: um diálogo possível. Secretaria Municipal de Educação – São Paulo - SME /
DOT, 2008.