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As Classes Sociais e a
Formação de Nações: Fanon,
Cabral e a Luta de Libertação Africana
230
por Hodgkin, em Owen e Sutcliffe, 1972:100; para dados históricos, ver
Davidson, 1970.)
240
Testemunhamos, assim, a montagem de instituições arcaicas, iner
tes, que funcionam sob a supervisão da opressão e são modeladas
como uma caricatura de instituições antes férteis...
Esses órgãos parecem materializar o respeito pela tradição, as
especificidades culturais, a personalidade do povo subjugado. Esse
pseudo-respeito equivale, de fato, ao mais completo desprezo, ao mais
desenvolvido sadismo. (Ibid: 34)
Nacionalismo e Pan-Africanismo
Quando se tornou evidente, em princípios da década de
1960, que o fim do colonialismo britânico e francês na África
era iminente, os chefes dos novos Governos julgaram, a
princípio, ser possível, pela federação de seus vários esfor
ços, criar uma unidade que tivesse força suficiente para
enfrentar as potências imperialistas em retirada. Muitos
desses líderes eram pan-africanistas antes de serem nacio
nalistas. Nyerere disse:
O nacionalismo africano não tem sentido, é perigoso, ¿ anacrônico, se
não for ao mesmo tempo pan-africanismo. (Sigmund, 1972:293)
Conclusão
A teoria marxista com respeito aos países subdesenvolvi
dos deve explicar como o seu socialismo revolucionário e seu
nacionalismo revolucionário podem chegar a um país que
não tem um proletariado revolucionário ou uma burguesia
progressista. Na verdade, um país ao qual falte uma classe
operária ou uma burguesia seria, segundo a teoria marxista
tradicional, um campo pobre para o desenvolvimento do
socialismo ou do nacionalismo revolucionários.
Mas Lênin, embora reconhecendo que não podia haver
um movimento exclusivamente proletário num ambiente pré-
capitalista, ressaltou que, se as massas do povo fossem
realmente levantadas, poderiam realizar milagres (Lênin, CW,
XXX:153-54; XXXL242-43). Foram as contribuições de Fanon
e Cabral que mostraram como, em seu ambiente particular, as
massas podem ser levantadas, e quem poderá proporcionar-
lhes a necessária liderança.
Cabral aceitou a proposição de Lênin de que a liderança
da revolução Socialista deve vir de membros individuais da
intelectualidade. Fanon, embora menos explícito, não podia
deixar de aceitar essa idéia. Mas ambos questionaram expli
citamente um dogma favorito do marxismo tradicional, o de
que a classe líder na revolução deve ser a dos trabalhadores
urbanos. Ambos negaram também que o proletariado euro
peu pudesse proporcionar liderança, ou mesmo apoio, à
revolução antiimperialista.
A descoberta e utilização, por Cabral, do Grupo Sem Nome
(os neo-urbanitas, como os chamamos) deve ser conside
rada como uma contribuição da maior importância.
O aparecimento de pensadores do Terceiro Mundo, como
Mao e os africanos, mostra que o centro de gravidade da
teoria nacionalista afastou-se da Europa. O problema da
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exploração é mais agudo, e a necessidade de uma teoria
atualizada sobre como lutar é mais premente, nas áreas do
mundo há muito exploradas pela Europa (e, agora, pelos
Estados Unidos).
Notas
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