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BOAL
O Teatro do Oprimido
No final da década de 1960, Augusto Boal, então figura central do Teatro de Arena,
aproxima-se gradativamente das propostas de Bertolt Brecht, escritor e teórico de
teatro alemão, com vistas a resistir à censura e à repressão aprofundadas pelo AI-5. A
partir dessa aproximação com Brecht e a noção de peça didática, surge o Teatro Jornal
(mais tarde sistematizado ao lado de outras técnicas do Teatro do Oprimido), como
forma de burlar a censura utilizando notícias do dia em encenações abertas ao
improviso. Porém, é na década de 1970 que o método do Teatro do Oprimido é
realmente sistematizado e surge com força.
Este esquema teatral constitui-se, geral e basicamente, de uma peça curta em que se
representa uma situação de opressão e na qual o espectador deverá, em determinado
momento, substituir o ator que representa o oprimido, colaborando com
improvisações que tragam soluções válidas de superação da opressão. Na Europa,
onde os problemas sociais são diversos dos presentes nos países periféricos, técnicas
diferentes, que trabalham questões subjetivas e interpessoais de comportamento
social (como preconceitos, por exemplo), foram criadas e utilizadas, como o Teatro
Imagem e o Arco Íris do Desejo, que se referem mais comumente a lutas de minorias.
A base do método do Teatro do Oprimido é a constatação de que todo ser humano é
ator em potencial: pode não fazer teatro, mas é teatro, necessariamente. A partir daí,
constitui-se a necessidade de retomar o teatro em suas origens mais remotas, como
fazer coletivo e popular, renegando as hierarquizações aristocráticas e burguesas que
surgem no decorrer da História na criação artística.
Boal sempre insistiu que as técnicas que compõem o Método do Teatro do Oprimido
não surgiram como invenção individual e sim como consequência de descobertas
coletivas, a partir de experiências concretas que revelaram necessidades objetivas.
Cada uma das técnicas do Teatro do Oprimido representa uma resposta encontrada
por Boal e pelos colaboradores e colaboradoras que acumulou ao longo de sua
carreira.
A Árvore foi símbolo escolhido pelo próprio Boal para representar seu Método, por
estar em constante transformação e ter a capacidade de Multiplicação. A Árvore do
Teatro do Oprimido representa a estrutura pedagógica do Método que tem
ramificações coerentes e interdependentes. Cada técnica que integra o Método é fruto
de uma descoberta, é uma resposta a uma demanda efetiva da realidade.
Declaração de princípios
6. Todo ser humano é capaz de atuar: para que sobreviva, deve produzir ações e
observar o efeito de suas ações sobre o meio exterior. Ser humano é ser teatro: ator e
espectador coexistem no mesmo indivíduo. Esta coexistência é o Teatro Subjetivo.
7. Quando um ser humano se limita a observar uma coisa, pessoa ou espaço,
renunciando momentaneamente à sua capacidade e à sua necessidade de produzir
ações, a energia e o seu desejo de agir são transferidos para essa coisa, pessoa ou
espaço, criando, assim, um espaço dentro do espaço: o Espaço Estético. Este é o Teatro
Objetivo.
8. Todos os seres humanos utilizam, na vida diária, a mesma linguagem que os atores
usam no palco: suas vozes e seus corpos, movimentos e expressões físicas. Traduzem
suas emoções, desejos e idéias em uma Linguagem Teatral.
10. Oprimidos são aqueles indivíduos ou grupos que são, social, cultural, política,
econômica, racial ou sexualmente despossuídos do seu direito ao Diálogo ou, de
qualquer forma, diminuídos no exercício desse direito.
13. O Teatro do Oprimido é um movimento estético mundial, não violento, que busca
a paz, mas não a passividade.
15. O Teatro do Oprimido não é uma ideologia nem um partido político, não é
dogmático nem coercitivo, e respeita todas as culturas. É um método de análise, e um
meio de tornar as pessoas mais felizes.
O Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres
humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos
'espect-atores'.
Metodologia
Dentro do sistema proposto por Boal, o treinamento do ator segue uma série de
proposições que podem ser aplicadas em conjunto ou mesmo separadamente.
Cumpre ressaltar que todas as técnicas pressupõem a criação de grupos, onde o Teatro
do Oprimido terá sua aplicação.
Teatro Jornal
O Teatro-Jornal foi uma resposta estética à censura imposta, no Brasil, no início dos
anos 70, pelos militares, para escamotearem conteúdos, inventarem verdades e
iludirem. Nesta técnica, encena-se o que se perdeu nas entrelinhas das notícias
censuradas, criando imagens que revelam silêncios. Criada em 1971, no Teatro de
Arena de São Paulo, esta técnica foi muito utilizada na época da ditadura militar
brasileira, para revelar informações distorcidas pelos jornais da época, todos sob
censura oficial. Ainda hoje é usada para explicitar as manipulações utilizadas pelos
meios de comunicação.
Teatro Imagem
No Teatro-Imagem, a encenação baseia-se nas linguagens não verbais. Essa foi uma
saída encontrada por Boal para trabalhar com indígenas, no Chile, de etnias distintas
com línguas maternas diversas, que participavam de um programa de alfabetização e
precisavam se comunicar entre si. Esta técnica teatral transforma questões, problemas
e sentimentos em imagens concretas. A partir da leitura da linguagem corporal, busca-
se a compreensão dos fatos representados na imagem, que é real enquanto imagem. A
imagem é uma realidade existente sendo, ao mesmo tempo, a representação de uma
realidade vivenciada.
Teatro Invisível
A preparação do Teatro Invisível deve ser como a de uma cena normal, reunindo os
principais elementos: atores interpretando personagens com caracterizações, idéia
central; deve haver um roteiro pré-estabelecido, apresentando princípio, meio e fim e
que deve ser ensaiado. A diferença consiste em ser uma modalidade que não revela ao
público tratar-se de uma representação.
Teatro-Fórum
O ator substituído não ficará totalmente fora do jogo, devendo permanecer como um
tipo de ego auxiliar, a fim de encorajar o espectador e corrigi-lo, caso ele
eventualmente se engane em alguma coisa essencial.
O jogo consiste nessa luta entre o espect-ator – que tenta uma nova solução para
mudar o mundo – e os atores que tentam oprimi-lo, como seria o caso na realidade
verdadeira, obrigá-lo a aceitar o mundo tal como está.
Arco-Íris do Desejo
Teatro Legislativo
- a peça ou modelo deve apresentar uma falha social ou política, para que os espect-
atores possam ser estimulados a encontrar soluções e a inventar novos modos de
confrontar a opressão. Nós propomos boas questões, mas cabe à plateia fornecer boas
respostas- a peça pode ser realista, simbolista, expressionista, de qualquer género,
estilo ou forma, ou formato, exceto surrealista ou irracional – porque o objetivo é
discutir situações concretas.
- a peça ou modelo deve apresentar uma falha social ou política, para que os espect-atores
possam ser estimulados a encontrar soluções e a inventar novos modos de confrontar a
opressão. São apresentadas boas questões, mas cabe à plateia fornecer boas respostas.
- a peça pode ser realista, simbolista, expressionista, de qualquer género, estilo ou forma, ou
formato, exceto surrealista ou irracional – porque o objetivo é discutir situações concretas.