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INTRODUÇÃO
Segundo Seito (2008)1, apesar dos grandes avanços na ciência do fogo, ainda não há consenso mundial
para definir o fogo. Isso é percebido pelas definições usadas nas normas de vários países. Tem-se assim:
a) Brasil - NBR 13860: fogo é o processo de combustão caracterizado pela emissão de calor e luz.
b) Estados Unidos - (NFPA): fogo é a oxidação rápida autossustentada acompanhada de evolução
variada da intensidade de calor e de luz.
c) Internacional - ISO 8421-1: fogo é o processo de combustão caracterizado pela emissão de calor
acompanhado de fumaça, chama ou ambos.
d) Inglaterra - BS 4422:Part 1: fogo é o processo de combustão caracterizado pela emissão de calor
acompanhado por fumaça, chama ou ambos.
Incêndios e explosões na indústria de processo são resultado do manuseio e guarda inapropriados de
inflamáveis. Dominar o conhecimento sobre as propriedades dos inflamáveis é a primeira etapa para
prevenir o risco de incêndios e explosões.
A maioria dos piores e maiores acidentes na indústria química são devidos aos inflamáveis (Wehmeier
et al, 2016) 2 , o que nos conduz a priorizar a gestão do risco de incêndio e explosões oriundos de
inflamáveis.
A literatura técnica é rica nas questões relacionados à mitigação dos incêndios: mas, carente na
prevenção de tais eventos. Neste trabalho será focada a prevenção, para que o princípio de incêndio não
se inicie.
Gerenciar tais riscos requer um entendimento de três conceitos chave: (i) a anatomia do fogo e processo
de explosão; (ii) as propriedades que caracterizam um material inflamável; e (iii) os procedimentos
usados para reduzir o risco de fogo e explosões (Crowl, 2012)3.
Os ingredientes necessários do fogo são (i) combustível, (ii) oxidante ou comburente, e (iii) fonte de
1
Seito AI. A Segurança contra incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto Editora; 2008.
2
Wehmeier G, Mitropetros K, 2016, Fire protection in the chemical industry, Chemical Engineering Transactions, 48, 259-
264 DOI:10.3303/CET1648044 https://www.aidic.it/cet/16/48/044.pdf
3
Crowl DA. Minimize the risks of flammable materials. American Institute of Chemical Engineers - AIChE. 2012.
http://fscarbonmanagement.org/sites/default/files/cep/20120428.pdf
ignição. O combustível e oxidante devem estar presentes em concentração estequiométrica para a
ocorrência do fogo e, a fonte de ignição deve ter energia o suficiente para iniciar o fogo. A fonte de
ignição deve atingir a temperatura de ignição da substância (Asfahl, 2005)4.
O oxigênio encontrado no ar é o mais comum dos oxidantes, mas outros materiais, como os cloretos,
fluoretos e nitratos, podem atuar como oxidantes. A combustão sempre ocorre na fase vapor; líquidos
são volatilizados e sólidos são decompostos anteriormente à combustão.
Assim, fica claro que não é nada fácil ocorrer o princípio de incêndio em inflamáveis líquidos; no
entanto, eles ocorrem tamanha a facilitação que promovemos não aplicando princípios básicos de
prevenção.
A diferença entre um fogo e uma explosão é o período de ocorrência do evento. Fogos ocorrem num
longo prazo e tem uma taxa de liberação de energia relativamente baixa. Explosões ocorrem num prazo
muito curto – usualmente milissegundos ou microssegundos — e a taxa de liberação de energia é muito
alta.
Os inflamáveis gasosos e líquidos são caracterizados com base em suas propriedades. Estas não são
propriedades fundamentais, mas cada uma é função de particulares aparatos e procedimentos
experimentais. Assim, há uma enorme variabilidade nestas propriedades. Além disso, estas propriedades
não definem fronteiras rígidas entre uma operação segura e não segura. Todas estas nuances devem ser
cuidadosamente consideradas quando manipulamos materiais inflamáveis.
As duas mais importantes propriedades inflamáveis são o limite superior de inflamabilidade limite (LSI)
e o limite inferior de inflamabilidade (LII), também conhecidos como limites superior e inferior de
explosividade (LSE e LIE).
O LII é a concentração de vapor de combustível no ar abaixo da qual a combustão não é possível; a
mistura é considerada demais pobre. O LSI é a concentração de vapor de combustível acima da qual a
combustão não é possível; neste caso, o combustível é rico demais. Assim, somente ocorre a combustão
entre o LII e o LSI.
Ambos o LII e o LSI possuem unidade de porcentagem de volume combustível no ar. A tabela abaixo
lista o LII e o LSI para alguns inflamáveis e a figura a seguir apresenta as faixas de inflamabilidade de
tais substâncias.
4
Asfahl CR. Gestão de segurança do trabalho e de saúde ocupacional. São Paulo: Reichmann & Autores Editores; 2005.
Tabela 1. LSI e LII de alguns inflamáveis.
Atenta observação à figura anterior nos revela que as primeiras substâncias apresentam faixa de
inflamabilidade pequena, cuja ignição é dificultada. Já as últimas substâncias possuem ampla faixa de
ignição, fenômeno que facilita a ignição. Assim, quanto maior a faixa de inflamabilidade, maior o perigo
que oferece a substância.
Outra importante propriedade de um líquido inflamável é o seu ponto de fulgor, definido como a
temperatura mínima de um líquido na qual vapor suficiente é liberado de uma mistura inflamável com
o ar, perto da superfície do líquido (Benedetti, 1997)5.
O ponto de fulgor (flash point) mede diretamente a volatilidade de um líquido, que representa a tendência
deste vaporizar. Quanto menor o ponto de fulgor, maior a volatilidade do líquido e, consequentemente
maior o risco de fogo.
Substâncias com ponto de fulgor abaixo da temperatura ambiente são bastante vulneráveis para entrar
em ignição, vez que estão continuamente emitindo vapores para o ambiente. Um ótimo exemplo é a
gasolina, cujo ponto de fulgor é -45ºC e, em praticamente todo o globo terrestre emitirá vapores
continuamente.
Substâncias com ponto de fulgor acima da temperatura ambiente, não volatilizarão e, em consequência
jamais entrarão em ignição, já que o líquido não é capaz de entrar em ignição, mas tão somente os seus
vapores. Somente quando o combustível se apresentar sob a forma de vapor, ele poderá, normalmente,
entrar em ignição. Se esse combustível estiver no estado sólido ou líquido, haverá necessidade de que
seja aquecido, para que comece a liberar vapores (Reis, 1987)6.
5
Benedetti RP. Flammable and combustible liquids code handbook. 6ª ed. Quincy: National Fire Protection Association;
1997
6
Reis JS. Manual básico de proteção contra incêndios. São Paulo: Fundacentro; 1987