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PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS COM INFLAMÁVEIS NA INDÚSTRIA DE PROCESSO

Antonio Carlos Fonseca Vendrame


Helena Carvalho Mendes
Vinicius Freitas Ventura

INTRODUÇÃO

Segundo Seito (2008)1, apesar dos grandes avanços na ciência do fogo, ainda não há consenso mundial
para definir o fogo. Isso é percebido pelas definições usadas nas normas de vários países. Tem-se assim:
a) Brasil - NBR 13860: fogo é o processo de combustão caracterizado pela emissão de calor e luz.
b) Estados Unidos - (NFPA): fogo é a oxidação rápida autossustentada acompanhada de evolução
variada da intensidade de calor e de luz.
c) Internacional - ISO 8421-1: fogo é o processo de combustão caracterizado pela emissão de calor
acompanhado de fumaça, chama ou ambos.
d) Inglaterra - BS 4422:Part 1: fogo é o processo de combustão caracterizado pela emissão de calor
acompanhado por fumaça, chama ou ambos.
Incêndios e explosões na indústria de processo são resultado do manuseio e guarda inapropriados de
inflamáveis. Dominar o conhecimento sobre as propriedades dos inflamáveis é a primeira etapa para
prevenir o risco de incêndios e explosões.
A maioria dos piores e maiores acidentes na indústria química são devidos aos inflamáveis (Wehmeier
et al, 2016) 2 , o que nos conduz a priorizar a gestão do risco de incêndio e explosões oriundos de
inflamáveis.
A literatura técnica é rica nas questões relacionados à mitigação dos incêndios: mas, carente na
prevenção de tais eventos. Neste trabalho será focada a prevenção, para que o princípio de incêndio não
se inicie.
Gerenciar tais riscos requer um entendimento de três conceitos chave: (i) a anatomia do fogo e processo
de explosão; (ii) as propriedades que caracterizam um material inflamável; e (iii) os procedimentos
usados para reduzir o risco de fogo e explosões (Crowl, 2012)3.
Os ingredientes necessários do fogo são (i) combustível, (ii) oxidante ou comburente, e (iii) fonte de

1
Seito AI. A Segurança contra incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto Editora; 2008.
2
Wehmeier G, Mitropetros K, 2016, Fire protection in the chemical industry, Chemical Engineering Transactions, 48, 259-
264 DOI:10.3303/CET1648044 https://www.aidic.it/cet/16/48/044.pdf
3
Crowl DA. Minimize the risks of flammable materials. American Institute of Chemical Engineers - AIChE. 2012.
http://fscarbonmanagement.org/sites/default/files/cep/20120428.pdf
ignição. O combustível e oxidante devem estar presentes em concentração estequiométrica para a
ocorrência do fogo e, a fonte de ignição deve ter energia o suficiente para iniciar o fogo. A fonte de
ignição deve atingir a temperatura de ignição da substância (Asfahl, 2005)4.
O oxigênio encontrado no ar é o mais comum dos oxidantes, mas outros materiais, como os cloretos,
fluoretos e nitratos, podem atuar como oxidantes. A combustão sempre ocorre na fase vapor; líquidos
são volatilizados e sólidos são decompostos anteriormente à combustão.
Assim, fica claro que não é nada fácil ocorrer o princípio de incêndio em inflamáveis líquidos; no
entanto, eles ocorrem tamanha a facilitação que promovemos não aplicando princípios básicos de
prevenção.
A diferença entre um fogo e uma explosão é o período de ocorrência do evento. Fogos ocorrem num
longo prazo e tem uma taxa de liberação de energia relativamente baixa. Explosões ocorrem num prazo
muito curto – usualmente milissegundos ou microssegundos — e a taxa de liberação de energia é muito
alta.
Os inflamáveis gasosos e líquidos são caracterizados com base em suas propriedades. Estas não são
propriedades fundamentais, mas cada uma é função de particulares aparatos e procedimentos
experimentais. Assim, há uma enorme variabilidade nestas propriedades. Além disso, estas propriedades
não definem fronteiras rígidas entre uma operação segura e não segura. Todas estas nuances devem ser
cuidadosamente consideradas quando manipulamos materiais inflamáveis.
As duas mais importantes propriedades inflamáveis são o limite superior de inflamabilidade limite (LSI)
e o limite inferior de inflamabilidade (LII), também conhecidos como limites superior e inferior de
explosividade (LSE e LIE).
O LII é a concentração de vapor de combustível no ar abaixo da qual a combustão não é possível; a
mistura é considerada demais pobre. O LSI é a concentração de vapor de combustível acima da qual a
combustão não é possível; neste caso, o combustível é rico demais. Assim, somente ocorre a combustão
entre o LII e o LSI.
Ambos o LII e o LSI possuem unidade de porcentagem de volume combustível no ar. A tabela abaixo
lista o LII e o LSI para alguns inflamáveis e a figura a seguir apresenta as faixas de inflamabilidade de
tais substâncias.

4
Asfahl CR. Gestão de segurança do trabalho e de saúde ocupacional. São Paulo: Reichmann & Autores Editores; 2005.
Tabela 1. LSI e LII de alguns inflamáveis.

LSI, vol% LII, vol%


Substâncias
combustível combustível
metano 5,0 15,0
etano 3,0 12,5
propano 2,1 9,5
hidrogênio 4,0 75,0
amônia 16,0 25,0
Monóxido de carbono 12,5 74,0
Sulfeto de hidrogênio 4,3 45,0
acetileno 2,5 80,0
hexano 1,2 7,5
etileno 2,7 36,0
benzeno 1,4 7,1
etanol 4,3 19,0
metanol 7,5 36,0
formaldeído 7,0 73,0
acetona 2,6 12,8
estireno 1,1 6,1
gasolina 1,4 7,6

Figura 1. Faixa de inflamabilidade de algumas substâncias.

Atenta observação à figura anterior nos revela que as primeiras substâncias apresentam faixa de
inflamabilidade pequena, cuja ignição é dificultada. Já as últimas substâncias possuem ampla faixa de
ignição, fenômeno que facilita a ignição. Assim, quanto maior a faixa de inflamabilidade, maior o perigo
que oferece a substância.
Outra importante propriedade de um líquido inflamável é o seu ponto de fulgor, definido como a
temperatura mínima de um líquido na qual vapor suficiente é liberado de uma mistura inflamável com
o ar, perto da superfície do líquido (Benedetti, 1997)5.
O ponto de fulgor (flash point) mede diretamente a volatilidade de um líquido, que representa a tendência
deste vaporizar. Quanto menor o ponto de fulgor, maior a volatilidade do líquido e, consequentemente
maior o risco de fogo.
Substâncias com ponto de fulgor abaixo da temperatura ambiente são bastante vulneráveis para entrar
em ignição, vez que estão continuamente emitindo vapores para o ambiente. Um ótimo exemplo é a
gasolina, cujo ponto de fulgor é -45ºC e, em praticamente todo o globo terrestre emitirá vapores
continuamente.
Substâncias com ponto de fulgor acima da temperatura ambiente, não volatilizarão e, em consequência
jamais entrarão em ignição, já que o líquido não é capaz de entrar em ignição, mas tão somente os seus
vapores. Somente quando o combustível se apresentar sob a forma de vapor, ele poderá, normalmente,
entrar em ignição. Se esse combustível estiver no estado sólido ou líquido, haverá necessidade de que
seja aquecido, para que comece a liberar vapores (Reis, 1987)6.

5
Benedetti RP. Flammable and combustible liquids code handbook. 6ª ed. Quincy: National Fire Protection Association;
1997
6
Reis JS. Manual básico de proteção contra incêndios. São Paulo: Fundacentro; 1987

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