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Universidade Federal da Bahia

Escola Politécnica
Departamento de Engenharia Química
Disciplina: ENG426: Operações unitárias da
indústria química I

Ensaio de sedimentação em batelada

Professor: Samuel Luporini


Alunos: Alberto Gonçalves
Daniel Barreto
Felipe Esly
Plínio Souza
Suan Zachariadhes

Salvador
Junho/2015
Ensaio de sedimentação em batelada
Introdução
A sedimentação é uma operação unitária na qual é possível separar uma parte líquida
de suspensões de sólidos, permitindo a obtenção do líquido limpo (clarificação) e do sólido
mais concentrado (espessamento). O processo ocorre por meio da gravidade, a qual permite
que as partículas se depositem na parte de baixo do sedimentador. O modo de operação pode
se dar de forma contínua, no qual as alturas de cada fase são mantidas constantes, ou
transiente, por meio de vários estágios em batelada.
Para o projeto de um sedimentador, é necessário a obtenção da sua área. Para isso, foi
realizado um teste no qual se observou a variação da altura da interface do líquido e sólido
com o tempo. A partir desses dados, é possível se construir um gráfico e por vários métodos
calcular a área do sedimentador. Com esse valor, a altura do mesmo também pode ser
calculada, conforme será demonstrado nesse trabalho.

Objetivos
Medir e interpretar dados de um ensaio de sedimentação em batelada (teste de
sedimentação em duplicata). Utilizar os dados obtidos para dimensionar a área de um
sedimentador contínuo.

Problema

Calcular o diâmetro e a altura de um espessador contínuo que opera com uma


suspensão de cal (densidade = 2,2 g/cm 3) com concentração de alimentação de 0,06 g/cm3 e
vazão de 30 m3/h, sendo a concentração de lama espessada de 0,17 g/cm3.

Pontos requeridos

a) Traçar a curva de Altura x Tempo utilizando o experimento em duplicata, com o valor


médio e o desvio padrão.
b) Utilizar o método de Kynch para calcular a área do sedimentador, com ajustes polinomiais
e derivadas analíticas.
c) Utilizar o método de Talmadge & Fitch para calcular a área do sedimentador.
d) Comparar e comentar os resultados sobre a área do sedimentador.
e) Estimar a altura do sedimentador.
f) Referências.

Resolução

a) Traçar a curva de altura x Tempo utilizando o experimento em duplicata, com o


valor médio e o desvio padrão.

O experimento foi realizado medindo-se a altura da interface sólido-líquido ao longo


do tempo, para uma certa concentração de cal alimentada. O experimento foi repetido e com
isso foram obtidos novos pontos. Com as duas levas de dados, foram pegos a média dos
valores (a média que será usada para a construção do gráfico) e o desvio padrão. O resultado
pode ser conferido na Tabela 1 e na curva presente na figura 1.
Tabela 1: Tratamento de dados do experimento

altura x tempo

0.2
0.18
0.16
0.14
0.12
0.1
0.08
0.06
0.04
0.02
0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
Figura 1: Curva da Altura(m) x Tempo (s)

b) Utilizar o método de Kynch para calcular a área do sedimentador, com ajustes


polinomiais e derivadas analíticas.

Para a obtenção da área pelo método de Kynch, primeiramente são escolhidos 4


pontos ao redor do joelho (ponto de virada) da curva presente na figura 1. O ponto de virada
corresponde ao ponto crítico e será calculado posteriormente. Os pontos escolhidos podem
ser vistos na tabela 2 e o gráfico dos mesmos (joelho da curva) pode ser visto na figura 2.

Table 2: Dados para a construção da curva do joelho

Tempo t (s) Média altura z (m)


0 0,175
60 0,0775
120 0,045
180 0,0395
240 0,03675
300 0,03475
Figura 2: Gráfico do joelho da curva

Zmédio x tempo
0.2
0.18
0.16 f(x) = − 0 x³ + 0 x² − 0 x + 0.17

0.14
0.12
0.1
0.08
0.06
0.04
0.02
0
0 50 100 150 200 250 300 350

Com o gráfico da figura 2, é possível fazer uma regressão linear e obter a equação da
curva (1):

z=−0,00000002∗t 3 +0,00001∗t 2 −0,0021∗t +0,1737


(1)

A derivada dessa curva multiplicada por -1 permite obter a equação (2) da velocidade
de sedimentação (vl):
dz 2
- =v l=0,00000006∗t −0,00002∗t + 0,0021(2)
dt
Com o valor de vl pode-se obter o valor de Zi através da seguinte expressão (3):
z i=v l∗t+ z (3)
Com o valor de Zi é possível calcular o valor de Cl pela equação (4):
( z0 C 0 )
C l= (4)
zi

Por fim, com todos os valores calculados é possível obter a equação da área (5):

1 1
A=( L ¿ ¿ 0∗C0 )/v l +(
− )¿ (5)
Cl Cs
Através das equações 2, 3, 4 e 5, e dos dados obtidos no experimento, é possível
montar a tabela 3 e o gráfico da figura 3, que representa os valores da área em função de Cl:

Tabela 3: Tabela com os dados calculados para o método de Kynch


A x Cl
16

14
f(x) = 0 x² − 0.49 x + 23.05
12

10

0
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Figura 3: Área em função de Cl

Por meio de uma regressão linear é possível obter a equação da curva da área (6) e a
derivada dessa equação (equação 7) igualada a 0 permite obter o ponto de máxima área.
Assim:
A=0,0031∗C l2−0,4867∗Cl +23,054 (6)
dA
=0,0062∗C l−0,4867=0 (7)
d Cl

O ponto de máximo corresponde a um valor de Cl de aproximadamente 78,5 Kg/m3 e


uma área máxima de aproximadamente 3,951 m2. Como a área equivale a A=πD2/4, o
diâmetro obtido por esse método é de aproximadamente D=2,243 m.

c) Utilizar o método de Talmadge & Fitch para calcular a área do sedimentador.

O procedimento para se calcular a área por meio desse método pode ser visto abaixo,
juntamente com a figura 4:

1. Realizar um ensaio de proveta, medindo z em função de t.


2. Construir o gráfico z versus t.
3. Identificar o ponto crítico pelo método da bissetriz, mostrado abaixo.
4. Calcular Zs = zOCO/CS, sendo zO e CO já definidos, e Z s é a altura correspondente
à situação em que a zona de espessamento atinge o valor da lama espessada CS
desejada no espessador continuo.
5. Calcular ts a partir da tangente à curva z versus t no ponto crítico.
6. Calcular a área do espessador A = L0C0tS/(zOCO).
Figura 4: Procedimento para cálculo da área através do método de Tamadge e fitch

Figura 5: Altura x Tempo com ponto crítico, tangentes e bissetriz

Inicialmente, é necessário encontrar o ponto crítico. Para isso, é traçada a tangente do


ponto inicial e a tangente do ponto final da curva de altura x tempo. No ponto onde as duas
tangentes se cruzam, é traçada a bissetriz e o ponto na qual ela encontra com a curva é o
ponto crítico. Os valores do mesmo são zc= 0,04 m e tc=130 s. Após isso, deve ser calculado o
valor de Zs, que corresponde à altura da interface correspondente a concentração C s
especificada para a lama espessa (no caso de 170 kg/m 3). A equação que permite obter o
valor de Zs é a equação (8):
Z 0∗C0
Z s= (8)
Cs
O valor obtido de Zs é de 0,062 m. Para o caso de Z s ser maior que Zc, o tempo de
sedimentação corresponde ao tempo na curva da altura x tempo quando a altura vale o valor
de Zs (0,062 m). Assim, o tempo de sedimentação (ts) vale 80 s. A figura 5 permite visualizar
a curva da altura x tempo juntamente com as tangentes e bissetrizes necessárias para se obter
os valores desejados.
Para se calcular a altura mínima do sedimentador, é utilizada a equação (9):
( L0 C 0 t s )
Amin = (9)
Z 0 C0
A área obtida por esse método é de aproximadamente 3,81 m 2. Como a área equivale
a A=πD2/4, o diâmetro obtido por esse método é de aproximadamente D=2,20 m.

d) Comparar e comentar os resultados sobre a área do sedimentador.


A área média calculada pelos dois métodos vale aproximadamente 173505,403 cm2 e
o diâmetro médio vale aproximadamente 470,01047 cm.
A discrepância (E) entre os dois métodos pode ser calculada para a área. Assim:
( A Talmadge − A Kynch )
E= | A Kynch | | ∗100=
2,20 – 2,24
2,24| ∗100=1,79 %

A diferença entre os dois valores é pequena, inferior a 5%. Há erros presentes em


cada método, aproximações e incertezas. No método de Kynch, há o erro da aproximação da
curva da área para uma curva de segundo grau. No método de Tamaldge há aproximações ao
se ler os valores dos pontos, no traçamento das tangentes e das curvas. Em geral o método de
Kynch é mais preciso pelo uso da derivada analítica. Além do erro dos métodos, há os erros
experimentais, na medição da altura e do tempo por exemplo. Esses erros se propagam para
ambos os métodos. Como os dois métodos deram valores bem semelhantes, ambos valores
podem ser considerados válidos e a média dos valores será o valor da área a ser utilizado.

e) Estimar a altura do sedimentador


A altura do sedimentador é composta pela soma de três alturas (H1, H2 e HC). Assim,
temos a equação (10):
H=H 1+ H 2+ HC (10)
O valor de H1 pode variar entre 0,45 e 0,75 m, então será usado a média que vale 0,6
m. H2 é dado pela seguinte equação (11), a qual depende do raio. O diâmetro médio vale
470,01047 cm, então o raio vale aproximadamente 235,0052 cm. Assim:
H 2=0,146 R=0,146∗1,1=0,1606 m (11).
O valor de HC depende da massa específica do lodo. Para se obter a mesma é
necessário encontrar o valor da fração do sólido na região de suspensão (Y). Ele é dado por:
( volume de sólido ) 0,17
Y= = =0,077 (12)
Volume de suspensão 2,2
Podemos calcular a massa específica do lodo através da equação 13:
kg
ρlodo =0,077∗2,2+ ( 1−0,077 )∗1 000=1092,4 3 (13)
m
Além disso, é necessário obter o tempo de compactação. Ele pode ser obtido através
do gráfico da figura 5. Primeiramente, é necessário obter t1 e tfi a partir da figura. t1 é obtido
através do valor do tempo no final da parte da curva de altura x tempo que é uma reta. tf1é
obtido por uma reta que passa por Zs quando o tempo é zero e que tangencia a curva da altura
x tempo. tf1 é o tempo onde essa reta tangencia a curva da altura x tempo. Assim,
encontramos o tempo de compactação dado pela equação (14):
( 80+130 )
t= =105 s (14)
2
Assim, com esses valores, é aplicada a equação 15 para encontrar HC:
4 LoCo t ρ s−ρ f
H c=
3 A [ρ́lodo− ρf]= 238,51m(15)

A altura final é a soma das três alturas:


H=¿ 0,6 + 0,1606 + 238,51 m = 239,27 m

Referências Bibliográficas

1) Massarani, G., Problemas em Sistemas Particulados, Editora Edgard Blucher Ltda.


2) Massarani, G., Fluidodinâmica em Sistemas Particulados, Editora UFRJ, 1997.
3) Perry & Chilton, Manual de Engenharia Química, 5a edição, Guanabara Dois, 1973.
4) Foust et al., Princípios das Operações Unitárias, 2a edição, Guanabara Dois, 1980.
5) Coulson, J.M., Richardson, J.F., Tecnologia Química II: Operações Unitárias, Lisboa:
Fundação Calouste Gulbelnkian, 1977.

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