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APRESENTAÇÃO
Veja que a vida como nós conhecemos hoje é um fenômeno digno de surpresa e admiração. O
maior paradoxo dos fenômenos biológicos é a vida só existir por causa das moléculas sem vida.
É difícil acreditar nisto, não é mesmo? Todos os seres vivos são compostos, em sua maior parte,
por quatro elementos: oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio. As múltiplas combinações
desses elementos produz uma extraordinária variedade de compostos químicos, inclusive a água,
a molécula que sustenta toda a vida. Todos os fatores que regulam a vida são mediados pela
química. Nesta Unidade de Aprendizagem você aprenderá como a vida é realmente
extraordinária!
Bons estudos.
DESAFIO
Seu desafio será fazer uma breve dissertação sobre a importância do iodo no funcionamento do
corpo.
INFOGRÁFICO
Apesar da grande diversidade de vida na Terra, as moléculas de importância crucial para todos
os seres vivos são de apenas quatro classes distintas: carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos
nucleicos. Leia os trechos selecionados do livro Biologia, de Campbell et al., e aprofunde os
seus conhecimentos acerca do assunto.
Boa leitura.
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×ÓÐÎÛÍÍÑ ÒÑ ÞÎßÍ×Ô
ÐÎ×ÒÌÛÜ ×Ò ÞÎßÆ×Ô
O Contexto
Químico da Vida
2.1
2.2
2.3
2.4
CONCEITOS-CHAVE
2
A matéria consiste em elementos químicos na forma
pura e em combinações chamadas de compostos
As propriedades de um elemento dependem da
estrutura dos seus átomos
A formação e a função das moléculas dependem das
ligações químicas entre os átomos
As reações químicas formam e quebram ligações
Figura 2.1 Quem cuida deste jardim?
16
Morte tecidual da
12
4 +
0
Dentro, sem Dentro, com Fora, sem Fora, com
proteção proteção proteção proteção
Mudas de Cedrela, dentro e fora dos jardins do demônio
Pesquisaemação * Algumas vezes substituímos o termo massa por peso, embora os dois não sejam
Leia e analise o artigo original em Pesquisa em idênticos. Massa é a quantidade de matéria de um objeto, e o peso de um objeto é
Ação: Interpretando Artigos Científicos. o quão fortemente essa massa é atraída pela gravidade. O peso de um astronauta
E SE...? caminhando na Lua é aproximadamente do peso do astronauta na Terra, mas
Quais seriam os resultados se a incapacidade de crescimento
a massa é igual. Porém, como estamos ligados à Terra, o peso de um objeto serve
das mudas sem proteção nos jardins do demônio fosse causada por um
de medida da sua massa. Na linguagem informal, portanto, a tendência é usar os
produto químico liberado pelas árvores Duroia e não pelas formigas? termos intercambiavelmente.
32 C a mpbe ll & Col s .
Elementos que compõem menos que 0,01% do peso do corpo Partículas subatômicas
humano (elementos traço)
Embora o átomo seja a menor unidade com as propriedades de
Boro (B), cromo (Cr), cobalto (Co), cobre (Cu), flúor (F), iodo (I), ferro
(Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), selênio (Se), silício (Si), estanho seu elemento, essas minúsculas partículas da matéria são com-
(Sn), vanádio (V), zinco (Zn) postas de partes ainda menores, chamadas de partículas suba-
tômicas. Os f ísicos dividiram o átomo em mais de cem tipos de
B i o l o gi a 33
Temperatura
Neste experimento,
30 ótima para Figura 2.7 O scanner PET, aplicação médica para os isótopos
quando as contagens
a síntese
(⫻ 1.000)
por minuto são coloca- radioativos. PET, acrônimo para tomografia de emissão de pósitrons,
20 de DNA
das em um gráfico em detecta os locais de intensa atividade química no corpo. Primeiro, o pa-
função da temperatura, ciente é injetado com um nutriente, como a glicose, marcado com um
10
fica claro que a tempe- isótopo radioativo que emite partículas subatômicas. Essas partículas co-
0 ratura afeta a taxa de lidem com os elétrons que se tornam disponíveis por reações químicas no
10 20 30 40 50 síntese do DNA; a maio- corpo. O scanner PET detecta a energia liberada nessas colisões e mapeia
Temperatura (⬚C) ria do DNA foi sintetiza- “pontos intensos”, as regiões de um órgão mais ativas quimicamente
da a 35ºC. naquele momento. A cor da imagem varia com a quantidade de isótopo
presente. A cor amarela brilhante aqui identifica uma região de tecido
canceroso na garganta.
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Embora os isótopos radioativos sejam muito úteis na pesqui- (a) Uma bola rolando num lance de
sa biológica e na medicina, a radiação proveniente dos isótopos escadas fornece uma analogia
com os níveis de energia dos
decaidos também representa um perigo para a vida por danificar elétrons, porque a bola pode
as moléculas celulares. A severidade deste dano depende do tipo parar apenas no próximo
e da quantidade de radiação absorvida pelo organismo. Uma das degrau, não entre os degraus.
mais sérias ameaças ambientais são as partículas radioativas de
acidentes nucleares. Entretanto, as doses da maioria dos isótopos Terceira camada (maior
utilizados no diagnóstico médico são relativamente seguras. nível de energia)
Segunda
camada
Terceira
camada
Figura 2.9 Diagramas de distribuição maneiras convenientes de retratar a distribuição da que os elétrons são adicionados, vão ocupan-
eletrônica para os primeiros 18 elementos eletrônica de um átomo entre as camadas ele- do a menor camada disponível.
da tabela periódica. Na tabela periódica pa- trônicas, mas estes modelos simplificados não re- Qual é o número atômico do magnésio?
drão (ver o Apêndice B), as informações para presentam corretamente a forma do átomo nem
? Quantos prótons e elétrons ele tem? Quan-
cada elemento são apresentadas como no hélio a localização dos elétrons. Os elementos estão tas camadas eletrônicas? Quantos elétrons de
em destaque. Nos diagramas desta tabela, os elé- arranjados em fileiras, cada um representando a valência?
trons são pontos amarelos, e as camadas eletrô- composição de uma camada eletrônica. À medi-
nicas, círculos concêntricos. Estes diagramas são
1 próton e 1 elétron por vez (junto com o apropriado número de O comportamento químico de um átomo depende principal-
nêutrons). A Figura 2.9, uma versão abreviada da chamada ta- mente do número de elétrons da camada mais externa. Chamamos
bela periódica dos elementos, mostra essa distribuição eletrônica esses elétrons externos de elétrons de valência, e a camada ele-
para os primeiros 18 elementos, do hidrogênio (1H) ao argônio trônica externa, de camada de valência. No caso do lítio, há ape-
(18Ar). Os elementos são arranjados em três fileiras, ou períodos, nas 1 elétron de valência, e a segunda camada é a camada de va-
correspondendo ao número de camadas eletrônicas nos átomos. lência. Os átomos com o mesmo número de elétrons nas camadas
A sequência de elementos da esquerda para a direita em cada fi- de valência apresentam comportamento químico semelhante. Por
leira corresponde à adição sequencial de elétrons e prótons. (Ver exemplo, tanto o flúor (F) como o cloro (Cl) possuem 7 elétrons de
o apêndice B para a tabela periódica completa.) valência, e ambos formam compostos quando combinados com
O único elétron de hidrogênio e os dois elétrons do hélio o elemento sódio (ver a Figura 2.3). Um átomo com camada de
estão localizados na primeira camada. Os elétrons, como toda a valência completa não é reativo; ou seja, não interage prontamen-
matéria, tendem a existir no menor estado disponível de energia te com outros átomos. Bem à direita da tabela periódica estão o
potencial. No átomo, isso acontece na primeira camada. Entre- hélio, o neônio e o argônio, os três únicos elementos mostrados na
tanto, a primeira camada não comporta mais que dois elétrons; Figura 2.9 com camadas de valência completas. Esses elementos
por isso, o hidrogênio e o hélio são os únicos elementos na pri- são considerados inertes, significando a ausência de reatividade
meira fileira da tabela. Átomos com mais de dois elétrons devem química. Todos os outros átomos da Figura 2.9 são quimicamente
utilizar camadas maiores porque a primeira camada está com- reativos, pois têm camadas de valência incompletas.
pleta. O próximo elemento, o lítio, tem três elétrons. Dois desses
elétrons preenchem a primeira camada, e o terceiro elétron ocu- Orbitais eletrônicos
pa a segunda camada. A segunda camada contém no máximo 8 No começo do século XX, as camadas eletrônicas de um átomo
elétrons. O neônio, no final da segunda fileira, tem 8 elétrons na foram visualizadas como rotas concêntricas de elétrons na órbita
segunda camada, possuindo um total de 10 elétrons. do núcleo, algo como planetas na órbita do sol. Ainda é conve-
B i o l o gi a 37
Primeira
camada Segunda camada
(b) Orbitais eletrônicos separados. Os formatos tridimensionais
representam orbitais eletrônicos – volumes de espaço onde é mais
provável encontrar os elétrons de um átomo. Cada orbital suporta um
máximo de dois elétrons. A primeira camada eletrônica, à esquerda,
tem um orbital (s) esférico, designado 1s. A segunda camada, à direita,
tem um grande orbital s (designado 2s para a segunda camada) mais
três orbitais em forma de halteres chamados orbitais p (2p para a
segunda camada). Os três orbitais 2p estão dispostos em ângulos retos
uns com os outros, ao longo dos eixos imaginários x, y e z do átomo. x y
Cada orbital 2p é mostrado aqui numa cor diferente.
z
Orbital 1s Orbital 2s Três orbitais 2p
niente utilizar os diagramas de círculos concêntricos em duas di- Os elétrons em cada um dos quatro orbitais têm aproximadamente
mensões para simbolizar as camadas eletrônicas, como na Figura a mesma energia, mas se movem em diferentes volumes de espaço.
2.9. Entretanto, é preciso lembrar que cada círculo concêntrico re- A reatividade dos átomos resulta da presença de elétrons não
presenta apenas a distância média entre o elétron naquela camada pareados em um ou mais orbitais das camadas de valência. Como
e o núcleo. Consequentemente, os diagramas de círculo concên- veremos na próxima seção, os átomos interagem de forma a com-
trico não representam o átomo com exatidão. Na realidade, nunca pletarem as camadas de valência. Ao fazerem isso, estão envolvi-
podemos saber a localização exata de um elétron. O que podemos dos os elétrons não pareados.
fazer, em vez disso, é descrever o espaço em que o elétron está na
maior parte do tempo. O espaço tridimensional onde o elétron é
REVISÃO DO CONCEITO
encontrado 90% das vezes é chamado de orbital.
Cada camada eletrônica contém elétrons em um determinado 1. Um átomo de lítio tem 3 prótons e 4 nêutrons. Qual a
nível de energia, distribuídos entre um número específico de or- massa atômica em daltons?
bitais com orientações e formatos característicos. A Figura 2.10 2. Um átomo de nitrogênio tem 7 prótons, e o isótopo mais
mostra os orbitais do neônio como exemplo. Pode-se imaginar o comum do nitrogênio tem 7 nêutrons. Um isótopo ra-
orbital como um componente da camada eletrônica. A primeira dioativo do nitrogênio tem 8 nêutrons. Escreva o número
camada tem apenas um orbital s esférico (chamado 1s), mas a se- atômico e o número de massa deste nitrogênio radioativo
gunda camada tem quatro orbitais: um grande orbital s esférico em um símbolo químico com subscrito e sobrescrito.
(chamado 2s) e três orbitais p em forma de halteres (chamados 3. Quantos elétrons têm o flúor? Quantas camadas eletrôni-
orbitais 2p). (A terceira camada e as outras camadas eletrônicas cas? Nomeie os orbitais ocupados. Quantos elétrons são
maiores também têm orbitais s e p, também como orbitais de for- necessários para completar a camada de valência?
mas mais complexas.) 4. E SE...? Na Figura 2.9, se dois ou mais elementos esti-
Não mais que 2 elétrons podem ocupar um único orbital. A pri- vessem na mesma fileira, o que teriam em comum? Se dois
meira camada eletrônica pode, portanto, acomodar 2 elétrons no ou mais elementos estivessem na mesma coluna, o que te-
seu orbital s. O único elétron do átomo de hidrogênio ocupa o or- riam em comum?
bital 1s, assim como os dois elétrons do átomo de hélio. Os quatro Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
orbitais da segunda camada eletrônica podem conter até 8 elétrons.
38 C a mpbe ll & Col s .
2.3 A formação e a função das O compartilhamento de elétrons pode ser representado uti-
lizando símbolos de elementos, com pontos representando os
moléculas dependem das ligações elétrons mais externos. Você provavelmente já viu esses diagra-
químicas entre os átomos mas, chamados de estruturas de pontos de Lewis, no seu livro de
química. As estruturas de pontos de Lewis para a molécula de
Agora que observamos a estrutura dos átomos, podemos seguir hidrogênio, H:H, é mostrada na Figura 2.12a. Podemos abreviar
adiante na hierarquia da organização e ver como os átomos se a estrutura dessa molécula como H-H, onde a linha representa a
combinam para formar as moléculas e os compostos iônicos. Os única ligação covalente, ou simplesmente uma ligação simples –
átomos com camadas de valência incompletas podem interagir o par de elétrons compartilhado. Esssa notação, que representa
com outros átomos de forma a cada par completar sua camada tanto os átomos como as ligações, é chamada de fórmula estru-
de valência: átomos podem dividir ou transferir os elétrons de tural. Podemos abreviar ainda mais escrevendo H2, uma fórmula
valência. Essas interações geralmente resultam em átomos que molecular indicando simplesmente que a molécula consiste em
permanecem próximos, unidos por atrações chamadas de liga- dois átomos de hidrogênio.
ções químicas. Os tipos mais fortes de ligações químicas são as O oxigênio tem 6 elétrons na segunda camada eletrônica e,
ligações covalentes e as ligações iônicas. portanto, precisa de mais dois elétrons para completar a camada de
valência. Dois átomos de oxigênio formam uma molécula pelo com-
Ligações covalentes partilhamento de dois pares de elétrons de valência (Figura 2.12b).
Uma ligação covalente é o compartilhamento de um par de elé-
trons de valência por dois átomos. Por exemplo, vamos considerar Nome e Diagrama de Estruturas Modelo de
de pontos
o que acontece quando dois átomos de hidrogênio se aproximam. fórmula distribuição preenchimento
de Lewis
molecular eletrônica e fórmula espacial
Lembre-se de que o hidrogênio tem 1 elétron de valência na pri-
estrutural
meira camada, mas a capacidade da camada é de dois elétrons.
Quando dois átomos de hidrogênio se aproximam o suficiente (a) Hidrogênio (H2).
para seus orbitais 1s se sobreporem, eles compartilham seus elé- Dois átomos de H •• H
hidrogênio podem
trons (Figura 2.11). Cada átomo de hidrogênio tem agora 2 elé- formar uma ligação
H H
•
•
O •• •• O
de oxigênio
•
•
•
•
compartilham dois O O
Átomos de hidrogênio (2 H)
pares de elétrons
para formar uma O O
1 Em cada átomo de ligação dupla.
hidrogênio, o único
elétron é mantido no + + (c) Água (H2O).
•
•
podem atender H
a valência de H C H
um átomo de H
carbono,
formando o H H C H
metano.
3 Os dois elétrons são H
compartilhados por uma
ligação covalente, + + Figura 2.12 Ligação covalente em quatro moléculas. Uma liga-
formando a molécula H2. ção covalente simples consiste em um par de elétrons compartilhados. O
número de elétrons necessários para completar a camada de valência do
Molécula de átomo geralmente determina quantas ligações o átomo forma. Quatro for-
hidrogênio (H2) mas de indicar as ligações são mostradas; o modelo de preenchimento
espacial é mais parecido com a representação do formato verdadeiro da
Figura 2.11 Formação de uma ligação covalente. molécula (ver também a Figura 2.17).
B i o l o gi a 39
Assim, os átomos são unidos pelo que chamamos de ligação cova- Como o oxigênio (O) é mais eletronegativo do que o hidrogênio
lente dupla ou ligação dupla. (H), os elétrons compartilhados são atraídos mais para o oxigênio.
Cada átomo que pode compartilhar os elétrons de valência δ–
tem capacidade de ligação correspondente ao número de ligações Isso resulta em
covalentes que o átomo pode formar. Quando as ligações se for- uma carga
parcial negativa
mam, dão ao átomo pleno preenchimento de elétrons na camada
no oxigênio e
de valência. A capacidade de ligação do oxigênio, por exemplo, é O em uma carga
2. Essa capacidade de ligação é chamada de valência do átomo, parcial positiva
geralmente igual ao número de elétrons não pareados necessá- no hidrogênio.
H H
rios para completar a camada mais externa (valência) do átomo. δ+ δ+
H 2O
Veja se você consegue determinar as valências do hidrogênio, do
oxigênio, do nitrogênio e do carbono estudando os diagramas de
distribuição eletrônica na Figura 2.9. Você pode ver que a valên- Figura 2.13 Ligações polares covalentes na molécula de água.
cia do hidrogênio é 1; do oxigênio, 2; do nitrogênio, 3; e do carbo-
no, 4. Entretanto, há casos mais complicados, como o do fósforo pendendo da eletronegatividade relativa dos dois átomos. Por exem-
(P), outro elemento importante para a vida. O fósforo pode ter plo, as ligações entre os átomos de oxigênio e de hidrogênio de uma
valência 3, como seria previsível pela presença dos 3 elétrons não molécula de água são bastante polares (Figura 2.13). Entre todos os
pareados na camada de valência. Entretanto, em moléculas biolo- elementos, o oxigênio é um dos mais eletronegativos, atraindo os
gicamente importantes, o fósforo pode formar três ligações sim- elétrons compartilhados muito mais fortemente que o hidrogênio.
ples e uma ligação dupla. Assim, ele também pode ter valência 5. Em ligações covalentes entre o oxigênio e o hidrogênio, os elétrons
As moléculas H2 e O2 são elementos puros, ao invés de com- ficam mais tempo perto do núcleo do oxigênio do que do núcleo
postos, pois um composto é a combinação de dois ou mais ele- do hidrogênio. Como os elétrons têm carga negativa, a distribuição
mentos diferentes. A água, com fórmula molecular H2O, é um desigual de elétrons na água faz o átomo de oxigênio ter uma carga
composto. Dois átomos de hidrogênio são necessários para com- parcial negativa (indicada pela letra grega δ com sinal de menos,
pletar a valência do átomo de oxigênio. A Figura 2.12c mostra a δ, ou “delta menos”) e cada átomo de hidrogênio ter uma carga
estrutura de uma molécula de água. A água é tão importante para parcial positiva (δ, ou “delta mais”). Em contraste, as ligações indi-
a vida que todo o Capítulo 3 é dedicado ao estudo de sua estrutu- viduais do metano (CH4) são bem menos polares, pois o carbono e
ra e comportamento. o hidrogênio diferem muito menos em eletronegatividade do que o
Outro composto molecular é o metano, o principal com- oxigênio e o hidrogênio.
ponente do gás natural, com a fórmula molecular CH4 (Figura
2.12d). Quatro átomos de hidrogênio, cada um com valência 1, Ligações iônicas
complementam um átomo de carbono, com valência 4. Veremos Em alguns casos, dois átomos diferem tanto em sua atração por elé-
muitos outros compostos de carbono no Capítulo 4. trons de valência que o átomo mais eletronegativo retira completa-
A atração de um determinado tipo de átomo pelos elétrons de mente o elétron do seu par. É isso que acontece quando um átomo
uma ligação covalente é chamada de eletronegatividade. Quanto de sódio (11Na) encontra um átomo de cloro (17Cl) (Figura 2.14).
mais eletronegativo for um átomo, mais
fortemente ele atrai elétrons comparti- 1 O único elétron de valência do átomo 2 Cada íon resultante tem uma camada de
lhados para si mesmo. Em uma ligação de sódio é transferido para se unir aos valência completa. Uma ligação iônica pode
7 elétrons de valência do átomo de cloro. ser formada entre íons de cargas opostas.
covalente entre dois átomos do mesmo
elemento, o resultado do “cabo de guerra” + –
entre os elétrons comuns é o equilíbrio;
os dois átomos são igualmente eletrone-
gativos. Uma ligação assim, em que os Na Cl Na Cl
elétrons são compartilhados igualmen-
te, é uma ligação covalente apolar. Por
exemplo, a ligação covalente do H2 é apo-
lar, assim como a ligação dupla do O2. Na Cl Na+ Cl–
Entretanto, em outros compostos onde Átomo de sódio Átomo de cloro Íon de sódio Íon de cloro
(cátion) (ânion)
o átomo é ligado a outro mais eletrone-
gativo, os elétrons da ligação não são di- Cloreto de sódio (NaCl)
vididos igualmente. Esse tipo de ligação
é chamado de ligação covalente polar. Figura 2.14 Transferência de elétrons e ligação iônica. A atração entre átomos de cargas opos-
tas, ou íons, é uma ligação iônica. Uma ligação iônica pode se formar entre quaisquer dois íons de cargas
Essas ligações variam em polaridade, de- opostas, mesmo se não são formados pela transferência de um elétron de um para o outro.
40 C a mpbe ll & Col s .
O átomo de sódio tem no total onze elétrons, com o único de valência completa. Por isso, ele tende a tornar-se um cátion
elétron de valência na terceira camada eletrônica. O átomo de com carga 2 (Mg2). Assim, um cátion de magnésio pode for-
cloro tem no total 17 elétrons, com 7 elétrons na camada de va- mar ligações iônicas com dois ânions de cloro.
lência. Quando esses dois átomos se encontram, o único elétron O termo íon também se aplica a moléculas inteiras eletri-
de valência do sódio é transferido para o átomo de cloro, e os camente carregadas. No sal cloreto de amônio (NH4Cl), por
dois átomos completam suas camadas de valência. (Como o só- exemplo, o ânion é um único íon de cloro (Cl), mas o cátion é o
dio deixou de ter um elétron na terceira camada, agora a segunda amônio (NH4), um átomo de nitrogênio com quatro átomos de
camada é a camada de valência.) hidrogênio covalentemente ligados. O íon de amônio inteiro tem
A transferência de elétrons entre dois átomos move uma uni- carga elétrica 1 porque é um elétron pequeno.
dade de carga negativa do sódio para o cloro. O sódio, agora com O ambiente afeta a força da ligação iônica. Nos cristais de sal
11 prótons mas apenas 10 elétrons, tem uma rede de carga elétri- seco, há ligações tão fortes que só com martelo e formão é possível
ca de 1. Um átomo carregado (ou molécula) é chamado de íon. quebrá-las o suficiente para dividir o cristal em dois. Entretanto,
Quando a carga é positiva, o íon é chamado de cátion; o átomo de se o mesmo cristal de sal é dissolvido na água, as ligações iônicas
sódio se tornou um cátion. Por outro lado, o átomo de cloro, ao ficam muito mais fracas porque cada íon é parcialmente protegido
ganhar um elétron extra, tem agora 17 prótons e 18 elétrons, fi- por suas interações com as moléculas de água. As drogas, em sua
cando com rede de carga elétrica –1. Ele se tornou um íon de cloro maioria, são produzidas na forma de sais porque sais são muito
– um ânion ou íon negativamente carregado. Devido a suas cargas estáveis quando secos, mas se dissociam facilmente em água. No
opostas, os cátions e os ânions se atraem; essa atração é chamada próximo capítulo, você aprenderá como a água dissolve os sais.
de ligação iônica. A transferência de um elétron não forma uma
ligação; ao invés disso, ela permite que a ligação se forme, pois re- Ligações químicas fracas
sulta em dois íons. Quaisquer dois íons de cargas opostas podem Em organismos, a maioria das ligações químicas mais fortes são
formar uma ligação iônica. Os íons não precisam ter adquirido ligações covalentes, que unem os átomos para formar as molécu-
suas cargas por uma transferência de elétron entre si. las da célula. As ligações fracas intra e intermoleculares também
Os compostos formados por ligações iônicas são chamados são indispensáveis na célula, contribuindo muito para as proprie-
de compostos iônicos ou sais. Conhecemos o composto iônico dades emergentes da vida. As mais importantes grandes molécu-
cloreto de sódio (NaCl) como sal de cozinha (Figura 2.15). Os las biológicas estão organizadas em suas formas funcionais por
sais são frequentemente encontrados na natureza como cristais ligações fracas. Além disso, quando duas moléculas fazem conta-
de vários tamanhos e formas. Cada cristal de sal é um agregado to na célula, elas podem se aderir temporariamente por ligações
de um vasto número de cátions e ânions ligados por sua atração fracas. A reversibilidade das ligações fracas pode ser uma vanta-
elétrica e arranjados em uma rede tridimensional. Ao contrário gem: duas moléculas podem se unir, interagir de alguma forma e
do composto covalente, que consiste em moléculas com tamanho então se separar.
e número de átomos definidos, o composto iônico não consiste Certos tipos de ligações químicas fracas são importantes em
em moléculas no mesmo sentido. A fórmula para um composto organismos. Um tipo é a ligação iônica existente entre íons dis-
iônico como o NaCl indica apenas a proporção de elementos no sociados na água, que discutimos. Outro tipo de ligação fraca, a
cristal de sal. O “NaCl” por si só não é uma molécula. ligação de hidrogênio, também é crucial para a vida.
Nem todos os sais têm números iguais de cátions e ânions.
Por exemplo, o composto iônico cloreto de magnésio (MgCl2) Ligações de hidrogênio
tem dois íons de cloro para cada íon de magnésio. O magnésio Dentre os vários tipos de ligações químicas fracas, as ligações de
(12Mg) deve perder 2 elétrons externos para o átomo ter a camada hidrogênio são tão importantes para a química da vida que mere-
cem atenção especial. A ligação de hidrogênio se forma quando
um átomo de hidrogênio se liga covalentemente a um átomo ele-
tronegativo também atraído por outro átomo eletronegativo. Nas
células vivas, os pares eletronegativos são geralmente os átomos
de oxigênio e de nitrogênio. Consulte a Figura 2.16 para exami-
Na+ nar o caso comum da ligação de hidrogênio entre água (H2O) e
Cl– amônia (NH3). No próximo capítulo, veremos como as ligações
de hidrogênio entre as moléculas da água permitem que certos
insetos caminhem na água.
A molécula do metano (CH4) tem forma de tetraedro com- vadas do ópio. O efeito narcótico do ópio é conhecido desde a an-
pleto, pois todos os orbitais híbridos do carbono são comparti- tiguidade. Durante os anos 1800, a morfina foi isolada do ópio e a
lhados com átomos de hidrogênio (ver Figura 2.17b). O núcleo heroína foi sintetizada a partir da morfina. Esses opioides aliviam
do carbono está no centro, com quatro ligações covalentes ir- a dor e alteram o humor por meio da ligação a receptores mole-
radiando para o núcleo do hidrogênio nos cantos do tetraedro. culares específicos na superf ície das células do cérebro. Por que
Moléculas maiores, com múltiplos átomos de carbono, incluindo as células do cérebro carregam receptores para opioides, com-
muitas moléculas que constituem a matéria viva, em geral têm postos não produzidos por nosso organismo? A descoberta das
formas mais complexas. Entretanto, a forma tetraédrica de um endorfinas em 1975 respondeu a essa questão. As endorfinas são
átomo de carbono ligado a quatro outros átomos, com frequên- moléculas sinalizadoras produzidas pela hipófise (glândula pitui-
cia, repete-se nessas moléculas. tária) que se ligam aos receptores, aliviando a dor e produzindo
A forma molecular é crucial na biologia porque determina euforia durante momentos de estresse, como exercício intenso.
como as moléculas biológicas reconhecem e respondem umas Descobriu-se que os opioides têm formas semelhantes a das en-
às outras com especificidade. Apenas as moléculas com formas dorfinas e as mimetizam pela ligação a receptores de endorfina
complementares podem formar ligações fracas entre elas. Pode- do cérebro. Isto é porque os opioides e as endorfinas têm efeitos
mos ver essa especificidade nos efeitos dos opioides, drogas deri- similares (Figura 2.18). O papel da forma molecular na química
do cérebro ilustra a relação entre estrutura e função, um dos te-
mas unificadores da biologia.
CHAVE
Carbono Nitrogênio REVISÃO DO CONCEITO
Hidrogênio Enxofre 1. Por que a seguinte estrutura não faz sentido quimica-
Oxigênio mente?
Endorfina natural H¬C“C¬H
2. Explique o que une os átomos em um cristal de cloreto de
Morfina magnésio (MgCl2).
3. E SE...? Se você fosse um pesquisador farmacêutico,
por que gostaria de conhecer as formas tridimensionais
das moléculas sinalizadoras que ocorrem naturalmente?
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
Receptores
de endorfina 2 H2 ⫹ O2 2 H2O
Célula do cérebro
Reagentes Reação Produtos
(b) A ligação a receptores de endorfina. Tanto a endorfina como a
morfina podem ligar-se a receptores de endorfina na superfície de
Essa reação rompe as ligações covalentes de H2 e O2 e forma
células do cérebro.
a nova ligação da H2O. Quando escrevemos uma reação quími-
Figura 2.18 Mimetismo molecular. A morfina afeta a percepção de ca, utilizamos uma seta para indicar a conversão dos materiais
dor e o estado emocional, mimetizando as endorfinas naturais do cérebro.
iniciais, chamados de reagentes, em produtos. Os coeficientes
B i o l o gi a 43
indicam o número de moléculas envolvidas; por exemplo, o co- cia de muitas reações químicas, termina com o mesmo número e
eficiente 2 na frente do H2 significa que a reação inicia com duas tipos de átomos do início. A matéria foi simplesmente rearranja-
moléculas de hidrogênio. Observe que todos os átomos dos rea- da com a ajuda da energia fornecida pela luz solar.
gentes devem ser levados em conta nos produtos. A matéria é Todas as reações químicas são reversíveis, com os produtos
conservada nas reações químicas: as reações não podem criar ou da reação direta tornando-se os reagentes para a reação rever-
destruir matéria, apenas rearranjá-la. sa. Por exemplo, as moléculas de hidrogênio e nitrogênio podem
A fotossíntese, que acontece no interior das células dos teci- combinar-se para formar amônia, mas a amônia também pode
dos de plantas verdes, é um exemplo especialmente importante decompor-se para regenerar o hidrogênio e o nitrogênio.
de como as reações químicas rearranjam a matéria. Os humanos
3 H2 N2 Δ 2 NH3
e outros animais dependem da fotossíntese como fonte de ali-
mento e de oxigênio. Esse processo é a base de quase todos os As duas setas opostas indicam uma reação reversível.
ecossistemas. A seguinte simbologia química resume o processo Um fator que afeta a velocidade da reação é a concentração
da fotossíntese: dos reagentes. Quanto maior a concentração das moléculas rea-
gentes, mais frequentemente elas colidem umas com as outras e
6CO2 6 H2O ¡ C6H12O6 6O2
têm a oportunidade de reagir e formar os produtos. A recípro-
As matérias-primas da fotossíntese são: dióxido de carbono ca é verdadeira para os produtos. À medida que os produtos se
(CO2) retirado do ar e água (H2O) absorvida do solo. Dentro das acumulam, as colisões que resultam na reação reversa se tornam
células da planta, a luz solar fornece energia para a conversão mais frequentes. Por fim, as reações direta e reversa ocorrem na
desses ingredientes em um açúcar chamado de glicose (C6H12O6) mesma velocidade, e a concentração relativa de produtos e rea-
e em moléculas de oxigênio (O2), subproduto que a planta libera gentes não muda mais. O ponto em que as reações se equivalem
(Figura 2.19). Embora a fotossíntese seja na verdade uma sequên- exatamente é chamado de equilíbrio químico. Esse equilíbrio é
dinâmico; as reações continuam, mas sem efeito na concentração
de reagentes e produtos. O equilíbrio não significa que os reagen-
tes e os produtos têm concentrações iguais, mas apenas que con-
centrações estabilizaram em determinada proporção. A reação
envolvendo a amônia alcança o equilíbrio quando a amônia se
decompõe tão rapidamente quanto se forma. Em certas reações
químicas, o ponto de equilíbrio pode estar posicionado tão para
a direita que essas reações são em essência levadas a cabo; isto é,
virtualmente todos os reagentes são convertidos em produtos.
Vamos retornar ao assunto das reações químicas após um
estudo mais detalhado dos vários tipos de moléculas importan-
tes para a vida. No próximo capítulo, daremos enfoque à água,
a substância onde todos os processos químicos do organismo
ocorrem.
REVISÃO DO CONCEITO
Revisão do Capítulo
H• H•
2 O• • • O• ••
•
•
•
•
•
•
•
•
RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE H •• H •
• O •• •• O
•
•
•
•
Ligação Ligação
2.1 A matéria consiste em elementos químicos na forma covalente única covalente dupla
pura e em combinações chamadas de compostos
(p. 31-32) As moléculas consistem em dois ou mais átomos ligados cova-
lentemente. Os elétrons de uma ligação covalente polar são atra-
Elementos e compostos Os elementos não podem ser degradados ídos para perto do átomo mais eletronegativo. Se os dois átomos
quimicamente em outras substâncias. Um composto contém são iguais, têm a mesma eletronegatividade, a ligação covalente
dois ou mais elementos diferentes em uma proporção fixa. é não polar.
Elementos essenciais da vida Aproximadamente 96% da matéria Ligações iônicas:
viva é composta de carbono, de oxigênio, de hidrogênio e de ni-
trogênio. Ligação iônica
+ –
Transferência
2.2 As propriedades de um elemento dependem da de elétrons
estrutura dos seus átomos (p. 32-37) forma íons
Na Cl Na Cl
Partículas subatômicas Um átomo, a menor unidade de um ele-
mento, tem os seguintes componentes:
Núcleo
Na Cl Na+ Cl–
Átomo de Sódio Átomo de Cloro Íon de sódio Íon de cloro
Prótons (carga +) + – (um cátion) (um ânion)
determina o elemento + Elétrons (carga –)
– forma a nuvem Ligações químicas fracas Uma ligação de hidrogênio é a atração
Nêutrons (sem carga) negativa e determina
o comportamento entre um átomo de hidrogênio carregando uma carga parcial
determina o isótopo
Átomo químico positiva (δ) e um átomo eletronegativo (δ-). As interações de
van der Waals ocorrem entre regiões temporariamente positivas e
Número atômico e massa atômica Um átomo eletricamente negativas das moléculas. As ligações fracas reforçam as formas de
neutro tem igual número de elétrons e de prótons; o número de grandes moléculas e ajudam as moléculas a aderir umas às outras.
prótons determina o número atômico. A massa atômica, medida
Forma e função moleculares A forma molecular é determinada
em daltons, é aproximadamente igual à soma de prótons mais
nêutrons. pelas posições dos átomos nos orbitais de valência. As ligações
covalentes resultam em orbitais híbridos, responsáveis pelas
Isótopos Os isótopos de um elemento diferem no número de formas da H2O, CH4 e de muitas moléculas biológicas mais com-
nêutrons e, portanto, na massa. Os isótopos instáveis emitem plexas. A forma é geralmente a base para o reconhecimento de
partículas e energia como radioatividade. uma molécula biológica por outra.
Os níveis de energia dos elétrons Em um átomo, os elétrons ocu-
pam camadas de energia específicas; os elétrons em uma camada
têm um nível de energia característico. 2.4 As reações químicas formam e quebram ligações
químicas (p. 42-43)
Distribuição eletrônica e propriedades químicas A distribuição
eletrônica nas camadas determina o comportamento químico As reações químicas transformam os reagentes em produtos en-
de um átomo. Um átomo com camada de valência incompleta é quanto conservam a matéria. Todas as reações químicas são teo-
reativo. ricamente reversíveis. O equilíbrio químico é alcançado quando
as velocidades das reações direta e reversa são iguais.
Orbitais eletrônicos Os elétrons existem em
orbitais, espaços tridimensionais com formas
específicas, componentes das camadas eletrô-
nicas. TESTE SEU CONHECIMENTO
2. Comparado com 31P, o isótopo radioativo 32P tem: pleta e cada ligação tem o número correto de elétrons. Explique
a. número atômico diferente. d. um elétron a mais. o que torna as outras moléculas sem sentido, considerando o
b. um nêutron a mais. e. carga diferente. número de ligações que cada tipo de átomo pode fazer.
c. um próton a mais.
a. O C H c. H H
3. Os átomos podem ser representados pela simples listagem do
número de prótons, nêutrons e elétrons – por exemplo, 2p; H C H C O
2n0; 2e– para o hélio. Qual das seguintes listas representa o isó-
topo do oxigênio 18O? H
a. 6p; 8n0; 6e. d. 7p; 2n0; 9e. H H
0
b. 8p ; 10n ; 8e . e. 10p; 8n0; 9e.
0
c. 9p ; 9n ; 9e . H O C C O O
3.2
3.3
CONCEITOS-CHAVE
O Coesão
δ–
δ+ H
δ– δ+ As moléculas da água ficam próximas umas das outras, devido às
δ– ligações de hidrogênio. Embora a disposição das moléculas em
δ+
uma amostra de água líquida esteja sempre mudando, em qual-
quer momento específico muitas moléculas se encontram ligadas
por múltiplas ligações de hidrogênio. Por conta dessas ligações, a
água torna-se mais estruturada do que a maioria dos outros líqui-
dos. Coletivamente, as ligações de hidrogênio mantêm a substân-
cia unida, fenômeno chamado de coesão.
Figura 3.2 As ligações de hidrogênio entre as moléculas da Nas plantas, a coesão devido às ligações de hidrogênio contri-
água. As regiões carregadas de uma molécula da água polar são atraídas bui para o transporte de água e nutrientes diluídos contra a força
pelas cargas opostas das moléculas vizinhas. Cada molécula pode estabe- da gravidade (Figura 3.3). A água das raízes alcança as folhas atra-
lecer ligações de hidrogênio com múltiplas moléculas, e essas associações vés de uma rede de células condutoras de água. À medida que a
mudam constantemente.
água evapora das folhas, as ligações de hidrogênio das moléculas
de água que deixam as nervuras puxam com força as moléculas
ligação de hidrogênio (Figura 3.2). Quando a água está em for- abaixo, e essa força de tração para cima é transmitida através das
ma líquida, as ligações de hidrogênio são muito frágeis, aproxi- células condutoras de água por todo o caminho até as raízes.
madamente da força de uma ligação covalente. A formação, a
ruptura e a reconstituição das ligações de hidrogênio acontecem
com grande frequência. Elas duram apenas poucos trilionésimos A adesão da água às paredes da célula
de segundo, mas as moléculas formam constantemente novas pelas ligações de hidrogênio ajuda a
resistir à força da gravidade.
ligações de hidrogênio com uma série de parceiros. Portanto, a
qualquer instante, uma porcentagem substancial de todas as mo-
léculas da água está ligada a seus vizinhos por pontes de hidro-
gênio. As qualidades extraordinárias da água são propriedades Células condutoras
de água
emergentes que resultam da ponte de hidrogênio que ordena as
moléculas em um nível superior de organização estrutural.
REVISÃO DO CONCEITO
Ligações de
hidrogênio
Gelo Água líquida
Ligações de hidrogênio são estáveis As ligações de hidrogênio rompem-se e refazem-se
Figura 3.6 Gelo: estrutura cristalina e léculas do que um volume igual de água líquida. do acima é uma espécie de camarão chamada de
barreira flutuante. No gelo, cada molécula Em outras palavras, o gelo é menos denso do que krill, fotografado sob o gelo antártico.
une-se por ligações de hidrogênio a quatro ou- a água líquida. O gelo flutuante se torna uma
tras em um cristal tridimensional. Como o cristal barreira térmica que protege a água líquida abai-
? Se a água não formasse ligações de hidrogê-
nio, o que aconteceria com o ambiente do
é uma estrutura espaçosa, o gelo tem menos mo- xo do ar mais frio. O organismo marinho mostra- camarão?
moléculas “ao alcance do braço”, a uma distância suficiente para nada funciona melhor do que a água. Entretanto, a água não é
tornar o gelo cerca de 10% menos denso (10% menos moléculas um solvente universal; se assim fosse, ela dissolveria qualquer re-
para igual volume) do que a água líquida a 4°C. Quando o gelo cipiente em que estivesse armazenada, incluindo as nossas célu-
absorve calor suficiente para a temperatura do gelo subir acima de las. Mas a água é um solvente muito versátil, qualidade explicável
0°C, as ligações de hidrogênio entre as moléculas são rompidas. À pela polaridade da molécula da água.
medida que o cristal se desfaz, o gelo derrete, e as moléculas ficam Supondo, por exemplo, que uma colherada de sal de cozinha,
livres para se adensarem. A água alcança sua maior densidade a o composto iônico cloreto de sódio (NaCl), seja colocado na água
4°C e então começa a expandir à medida que as moléculas se mo- (Figura 3.7). Na superf ície de cada grão ou cristal de sal, os íons
vem mais rapidamente. Tenha em mente, entretanto, que mesmo de sódio ou de cloro ficam expostos ao solvente. Esses íons e as
na água líquida, muitas moléculas estão conectadas por ligações
de hidrogênio, embora apenas transitoriamente: as ligações de hi-
As regiões negativas
drogênio constantemente se rompem e se refazem. do oxigênio das _
A habilidade do gelo de flutuar (devido à expansão da água moléculas polares da Na+
+_
ao solidificar) é um fator importante na adequação do ambiente. água são atraídas + _
pelos cátions de +
Se o gelo afundasse, então todos os açudes, lagos e até oceanos sódio (Na+) _ _
acabariam congelando. Com isso, a vida como a conhecemos seria Na+
impossível na Terra. Durante o verão, apenas as poucas polegadas _
As regiões positivas
do hidrogênio das + +
superiores do oceano degelariam. Em vez disso, quando grandes
moléculas da água Cl– Cl–
corpos aquáticos esfriam, o gelo flutuante isola a água líquida abai- + _
aderem-se aos ânions _
xo, evitando que ela congele e permitindo a vida sob a superf ície de cloro (Cl–). +
congelada, como mostrado na fotografia na Figura 3.6. –
+
_
O solvente da vida _
Um cubo de açúcar colocado no copo d’água dissolve-se. O copo
então contém uma mistura uniforme de açúcar e água; a con-
centração do açúcar dissolvido será igual em todas as partes da
mistura. Um líquido que consiste numa mistura completamente
homogênea de duas ou mais substâncias é chamado de solução.
O agente dissolvente de uma solução é o solvente, e a substância
dissolvida é o soluto. Neste caso, a água é o solvente e o açúcar é Figura 3.7 O sal de cozinha dissolvido em água. Uma esfera de
o soluto. Uma solução aquosa tem a água como solvente. moléculas de água, chamada de cápsula de hidratação, envolve cada íon
do soluto.
Os alquimistas medievais tentaram encontrar um solvente
universal, capaz de dissolver qualquer coisa. Aprenderam que ? O que aconteceria ao aquecermos esta solução por um longo tempo?
B i o l o gi a 51
δ+ Este oxigênio é
atraído por uma
δ– fraca carga positiva
δ– na molécula da
lisozima.
δ+
(a) A molécula da lisozima em ambiente (b) A molécula da lisozima (roxa) em ambiente (c) Regiões iônicas e polares na superfície da
não aquoso. aquoso, como lágrimas ou saliva. proteína atraem moléculas de água.
Figura 3.8 Uma proteína solúvel em água. Esta figura mostra a lisozima humana, proteína encon-
trada nas lágrimas e na saliva com ação antibacteriana.
moléculas da água têm afinidade mútua devido à atração entre as é o algodão, um produto vegetal. O algodão consiste em molé-
cargas opostas. culas gigantes de celulose, composto com numerosas regiões de
As regiões de oxigênio das moléculas da água são carregadas cargas parciais positivas e negativas capazes de formar ligações
negativamente e aderem aos cátions de sódio. As regiões de hi- de hidrogênio com a água. A água adere-se às fibras de celulose.
drogênio são carregadas positivamente e atraídas pelos ânions de Desse modo, uma toalha de algodão é excelente para enxugar o
cloro. Como resultado, as moléculas da água envolvem os íons de corpo, mas não se dissolve na máquina de lavar roupa. A celulose
sódio e de cloro individualmente, separando-os e protegendo-os também ocorre nas paredes das células condutoras de água nos
uns dos outros. A esfera de moléculas de água em volta de cada íon vegetais; aprendemos que a adesão da água a essas paredes hidro-
dissolvido é chamada de cápsula de hidratação. Agindo desde a f ílicas permite que o transporte de água ocorra.
superf ície até o interior de cada cristal de sal, a água termina dis- Existem, é claro, substâncias sem afinidade pela água. As
solvendo todos os íons. O resultado é uma solução de dois solutos, substâncias não iônicas e não polares (ou que por alguma outra
cátions de sódio e ânions de cloro, homogeneamente misturados razão não podem formar ligações de hidrogênio) na verdade pare-
com a água, o solvente. Outros compostos iônicos também são cem repelir a água; essas substâncias são hidrofóbicas (do grego
dissolvidos na água. A água do mar, por exemplo, contém grande phobos, com medo). Um exemplo culinário é o óleo vegetal, que,
variedade de íons dissolvidos, assim como de células vivas. como você sabe, não se mistura estavelmente com substâncias
Um composto não precisa ser iônico para dissolver-se na aquosas como o vinagre. O comportamento hidrofóbico das mo-
água; muitos compostos constituídos de moléculas polares não léculas de óleo decorre da prevalência de ligações relativamente
iônicas, como açúcares, são também solúveis em água. Esses não polares, no caso, as ligações entre carbono e hidrogênio, com
compostos dissolvem-se quando as moléculas da água envolvem elétrons compartilhados quase igualmente. As moléculas hidro-
cada molécula do soluto, formando ligações de hidrogênio com fóbicas relacionadas ao óleo são os principais ingredientes das
elas. Mesmo grandes moléculas como as proteínas podem ser membranas celulares. (Imagine o que aconteceria se a membrana
dissolvidas na água se tiverem regiões iônicas e polares na sua de uma célula se dissolvesse!)
superf ície (Figura 3.8). Muitos tipos diferentes de compostos po-
lares são dissolvidos (junto com os íons) na água de fluidos bioló- Concentração do soluto em soluções aquosas
gicos como o sangue, a seiva de plantas e o líquido intracelular. A A química biológica é a química “úmida”. A maioria das reações
água é o solvente da vida. químicas nos organismos envolve solutos dissolvidos em água.
Para entender essas reações devemos saber quantos átomos e
Substâncias hidrofílicas e hidrofóbicas moléculas estão envolvidos e sermos capazes de calcular a con-
Qualquer substância com afinidade pela água é considerada hi- centração dos solutos na solução aquosa (o número de moléculas
drof ílica (do grego hydro, água, e philios, que gosta). Em certos de soluto em um volume de solução).
casos, as substâncias podem ser hidrof ílicas sem de fato dissol- Ao executarmos experimentos, utilizamos a massa para calcu-
ver-se. Por exemplo, algumas moléculas nas células são tão gran- lar o número de moléculas. Conhecemos a massa de cada átomo
des que não se dissolvem. Em vez disso, permanecem suspensas em uma dada molécula, então podemos calcular a massa mole-
no líquido aquoso da célula. Essa mistura é o exemplo de um co- cular, ou simplesmente a soma das massas de todos os átomos da
loide, uma suspensão estável de partículas finas em um líquido. molécula. Como exemplo, vamos calcular a massa molecular do
Outro exemplo de uma substância hidrof ílica que não se dissolve açúcar de cozinha (sacarose), cuja fórmula molecular é C12H22O11.
52 C a mpbe ll & Col s .
Em números arredondados de daltons, a massa do átomo de car- 3.3 Condições ácidas e básicas
bono é 12, a massa do átomo de hidrogênio é 1 e a massa do átomo
de oxigênio é 16. Assim, a sacarose tem massa molecular de 342 afetam os organismos vivos
daltons. É claro: a pesagem de números pequenos de moléculas
Ocasionalmente, um átomo de hidrogênio participando de uma
não é viável. Por essa razão, em geral, medimos as substâncias
ligação de hidrogênio entre duas moléculas de água move-se de
em unidades chamadas de moles. Exatamente como uma dúzia
uma molécula para a outra. Quando isso acontece, o átomo de
sempre significa 12 objetos, um mol (mol) representa um número
hidrogênio deixa o elétron para trás. O que realmente se transfere
preciso – 6,02 × 1023, ou número de Avogadro. Devido à maneira
é um íon de hidrogênio (H⫹), único próton com carga de ⫹1. A
pela qual o número de Avogadro e a unidade dalton foram inicial-
molécula de água perdeu um próton e agora é um íon hidróxido
mente definidos, há 6,02 × 1023 daltons em 1 g. Isso é significativo,
(OH⫺), com carga ⫺1. O próton liga-se à outra molécula de água,
pois uma vez que determinamos a massa molecular de uma mo-
tornando a molécula um íon hidrônio (H3O⫹). Podemos repre-
lécula como a sacarose, podemos utilizar o mesmo número (342),
sentar a reação química desta forma:
mas com a unidade grama, para representar a massa de 6,02 ×
1023 moléculas de sacarose, ou 1 mol de sacarose (isso às vezes é + –
chamado de massa molar). Portanto, para obter 1 mol de sacarose H
H
no laboratório, pesamos 342 g. O H O O H + O
A vantagem prática de medir uma quantidade de compos- H H H H
tos químicos em moles é que um mol de uma substância tem 2H2O Íon hidrônio Íon hidróxido
exatamente o mesmo número de moléculas do que um mol de
(H3O+) (OH–)
qualquer outra substância. Se a massa molecular da substância
A é 342 daltons e a da substância B é 10 daltons, então 342 g de Por convenção, H⫹ (o íon de hidrogênio) é utilizado para represen-
A terão o mesmo número de moléculas que 10 g de B. Um mol tar H3O⫹ (íon hidrônio). Vamos seguir esse uso aqui. Entretanto,
do álcool etílico (C2H6O) também contém 6,02 × 1023 molécu- lembre-se de que H⫹ não existe por si só em soluções aquosas: está
las, mas sua massa é apenas 46 g, porque a massa da molécula sempre associado com outra molécula de água em forma de H3O⫹.
do álcool etílico é menor que a da molécula de sacarose. A me- Como indicado pela seta dupla, essa reação é reversível e al-
dida em moles é conveniente para os cientistas trabalhando em cança o estado de equilíbrio dinâmico quando as moléculas da
laboratório, que combinam substâncias em proporções fixas de água se dissociam no mesmo ritmo em que vão sendo refeitas a
moléculas. partir de H⫹ e OH⫺. Nesse ponto de equilíbrio, a concentração
Como fazemos um litro (l) de solução de 1 mol de sacarose de moléculas de água excede muito a concentração de H⫹ e OH⫺.
dissolvido em água? Medimos 342 g de sacarose e então gradual- Na água pura, apenas uma em cada 554 milhões de moléculas de
mente adicionamos água, sob agitação, até o açúcar ficar com- água se encontra dissociada. A concentração de cada íon na água
pletamente dissolvido. Então adicionamos água suficiente para pura é de 10⫺7 M (a 25°C). Isso significa apenas a décima parte de
levar o volume total da solução para 1 l. A esta altura, teríamos 1 um milionésimo de mol de íons de hidrogênio por litro de água
molar (1 M) de solução de sacarose. A molaridade – o número de pura e um número igual de íons hidróxido.
moles de soluto por litro da solução – é a unidade de concentra- A dissociação da água é reversível e estatisticamente rara,
ção utilizada com mais frequencia por biólogos para as soluções mas de extrema importância na química da vida. O H⫹ e o OH⫺
aquosas. são muito reativos. As mudanças em suas concentrações po-
dem afetar drasticamente as proteínas da célula e outras molé-
REVISÃO DO CONCEITO
culas complexas. Como vimos, as concentrações de H⫹ e OH⫺
1. Descreva como as propriedades da água contribuem para são iguais na água pura, mas adicionando certos tipos de solutos,
o movimento da água para cima em uma árvore. chamados de ácidos e bases, o equilíbrio é rompido. Os biólogos
2. Explique o ditado “Não é calor, é umidade”. utilizam a escala de pH para descrever o quão ácida ou básica
3. Como o congelamento da água pode rachar pedras? (oposto de ácida) é a solução. No restante deste capítulo, vamos
4. Se você fosse um farmacêutico, como faria uma solução aprender sobre ácidos, bases e pH, e como mudanças no pH po-
de cloreto de sódio (NaCl) 0,5 molar (0,5 M)? (A massa dem afetar desfavoravelmente os organismos.
atômica do Na é 23 daltons e a do Cl é 35,5 daltons.)
5. E SE...? As patas de certas espécies de inseto (ver Fi- Os efeitos de mudanças no pH
gura 3.4) são revestidas por uma substância hidrofóbica. Antes de discutirmos a escala de pH, vamos conceituar ácidos e
Qual poderia ser o benef ício? O que aconteceria se a subs- bases e como ambos interagem com a água.
tância fosse hidrof ílica?
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. Ácidos e bases
Por que uma solução aquosa apresentaria desequilíbrio nas con-
centrações de H⫹ e OH⫺? Quando os ácidos se dissolvem na água,
B i o l o gi a 53
doam H⫹ adicionais para a solução. Ácidos são substâncias que mentar [H⫹] para 10⫺5 M, então [OH⫺] diminuirá para uma quan-
aumentam a concentração do íon hidrogênio de uma solução. Por tidade equivalente a 10⫺9 M (note que 10⫺5× 10⫺9⫽10⫺14). Essa
exemplo, quando o ácido clorídrico (HCl) é adicionado na água, relação constante expressa o comportamento de ácidos e bases
os íons de hidrogênio dissociam-se dos íons de cloro: em solução aquosa. Um ácido não apenas adiciona íons hidrogê-
nio a uma solução, mas também remove íons hidróxido devido à
HCl ¡ H⫹ ⫹ Cl⫺
tendência do H⫹ combinar-se com a OH⫺, formando água. Uma
Essa fonte de H⫹ (a dissociação da água é outra fonte) resulta em base tem o efeito oposto, aumentando a concentração de OH⫺,
uma solução ácida – com mais H⫹ do que OH⫺. mas também reduzindo a concentração de H⫹ pela formação de
Uma substância que reduz a concentração de íons de hidrogênio água. Se quantidades suficientes de uma base forem adicionadas
de uma solução é chamada de base. Algumas bases reduzem a con- para elevar a concentração de OH⫺ para 10⫺4 M, isso causará a
centração de H⫹ pela captação direta de íons hidrogênio. A amônia diminuição da concentração de H⫹ para 10⫺10 M. Sempre que
(NH3), por exemplo, atua como base quando os dois elétrons não soubermos a concentração tanto de H⫹ como de OH⫺ em uma
compartilhados na camada de valência do nitrogênio atraem um íon solução aquosa, podemos deduzir a concentração do outro íon.
hidrogênio da solução, resultando no íon amônio (NH4⫹): As concentrações de H⫹ e OH⫺ das soluções podem variar por
NH3 ⫹ H⫹ Δ NH4⫹ um fator de 100 trilhões ou mais. Por isso, os cientistas desenvol-
veram uma forma de expressar essa variação de modo mais conve-
Outras bases reduzem a concentração de H⫹ de modo indireto, niente que em moles por litro. A escala de pH (Figura 3.9) compri-
dissociando-se para formar íons hidróxido que combinam com me a faixa de concentrações de H⫹ e OH⫺ por meio do emprego
íons hidrogênio para formarem água. Uma base desse tipo é o de logaritmos. O pH de uma solução é definido como o logaritmo
hidróxido de sódio (NaOH) que, na água, dissocia-se nos íons: negativo (base 10) da concentração de um íon hidrogênio:
NaOH ¡ Na⫹ ⫹ OH⫺
Escala de pH
Nos dois casos, a base reduz a concentração de H⫹. As soluções 0
com maior concentração de OH⫺ do que H⫹ são conhecidas
como soluções básicas. Uma solução com igual concentração de 1
Ácido de bateria
H⫹ e OH⫺ é chamada neutra.
Observe que setas simples são utilizadas nas reações de HCl 2 Suco gástrico, suco de limão
Cada vez mais ácido
ⴚ H
Hⴙ OH
ⴚ Hⴙ ⴙ
3 Vinagre, cerveja,
um ácido forte, e o hidróxido de sódio, uma base forte. Ao con- OH H vinho, refrigerante
Hⴙ Hⴙ de cola
trário, a amônia é uma base relativamente fraca. As setas duplas
Solução 4 Suco de
na reação da amônia indicam que a ligação e liberação de íons hi- tomate
ácida
drogênio são reações reversíveis, embora no equilíbrio haja uma Café preto
5
proporção fixa de NH4⫹ para NH3.
Água da chuva
Há também ácidos fracos, que liberam e recebem de forma
6 Urina
reversível íons hidrogênio. Um exemplo é o ácido carbônico:
OHⴚ Saliva
OHⴚ
H2CO3 HCO3 H Neutro
Δ Hⴙ Hⴙ OH
ⴚ
[H+] = [OH–] 7 Água pura
Ácido Íon Íon
ⴚ
OHⴚ OH ⴙ Sangue humano,
Hⴙ
Hⴙ
H lágrimas
carbônico bicarbonato hidrogênio
8 Água do mar
Solução
Aqui o equilíbrio é tão favorável à reação para a esquerda que, neutra
quando o ácido carbônico é adicionado na água, apenas 1% das 9
Cada vez mais básico
10
Leite de magnésia
OHⴚ
A escala do pH OHⴚ
11
OHⴚ Hⴙ OHⴚ
Em qualquer solução aquosa a 25ºC, o produto das concentrações OHⴚ OH
ⴚ
Amônia caseira
de H⫹ e OH⫺ é uma constante, 10⫺14. Isso pode ser escrito assim:
ⴚ
Hⴙ OH
12
Solução
[H⫹] [OH⫺] ⫽ 10⫺14 básica Alvejante para
13 roupas
Nessa equação, os colchetes indicam a concentração molar. Em
uma solução neutra, a temperatura ambiente (25ºC), [H⫹] ⫽ 10⫺7 Limpador de
14 forno
e [OH⫺] ⫽ 10⫺7. Então, nesse caso, 10⫺14 é o produto de 10⫺7 ×
10⫺7. Se ácido suficiente for adicionado a uma solução para au- Figura 3.9 A escala do pH e o pH de certas soluções aquosas.
54 C a mpbe ll & Col s .
0
1
Mais
ácido
Figura 3.11 Pesquisa
2 Qual é o efeito da concentração do íon
3 Chuva carbonato na calcificação de recifes de corais?
4 ácida
EXPERIMENTO Chris Langdon e colaboradores da Universidade de
5
Chuva Columbia estavam curiosos por saber de que modo o aumento das emis-
6 normal sões de CO2 resultante da queima de combustíveis fósseis e a consequente
7 diminuição na concentração de CO32⫺ dos oceanos afetam os recifes de
8 corais. Eles utilizaram o sistema artificial de recife de coral na Biosphere-2.
9 Esse aquário de 2.650 metros cúbicos (m3) se comporta como uma comu-
10 nidade natural de recifes de corais. Ao longo de quase quatro anos, esses
11 pesquisadores variaram a concentração de carbonato na água do mar sob
12 condições controladas e mediram a taxa de calcificação pelos organismos
do recife.
13 Mais
14 básico
rada para o ano 2065 poderia causar uma diminuição de 40% na REVISÃO DO CONCEITO
calcificação de recifes de corais. Embora cientistas possam dis- 1. Comparado com uma solução básica de pH 9, o mesmo
cordar sobre a porcentagem exata, a maioria concorda que este e volume de uma solução ácida de pH 4 tem ____ vezes mais
outros estudos são motivos para séria preocupação. íons hidrogênio (H⫹).
Se há razão para otimismo sobre a futura qualidade de fontes 2. HCl é um ácido forte que se dissocia na água: HCl ¡ H⫹
de água no nosso planeta, é porque avançamos no conhecimento ⫹ Cl⫺. Qual o pH de HCl 0,01 M?
sobre o delicado equilíbrio químico nos oceanos e outros gran- 3. O ácido acético (CH3COOH) pode agir como tampão, de
des corpos de água. O progresso contínuo só pode resultar das modo similar ao ácido carbônico. Escreva a reação de dis-
ações de pessoas preocupadas com a qualidade do ambiente. Isso sociação, identificando o ácido, a base, o aceptor de H⫹ e
requer o entendimento do papel crucial que a água exerce na ade- o doador de H⫹.
quação do ambiente para a vida contínua na Terra. 4. E SE...? Considerando um litro de água pura e um li-
tro de solução de ácido acético, o que aconteceria com o
pH ao adicionarmos 0,01 mol de um ácido forte a cada
um? Utilize a equação da reação para explicar o resultado.
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
Revisão do Capítulo
RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE
3
O solvente da vida A água é um solvente de rara versatilidade
porque suas moléculas polares são atraídas por substâncias car-
3.1 A polaridade das moléculas da água promove ligações regadas e polares, capazes de formar ligações de hidrogênio. As
de hidrogênio (p. 46-47) substâncias hidrof ílicas têm afinidade pela água; as substâncias
hidrofóbicas, não. A molaridade, o número de moles de soluto
Uma ligação de hidrogênio se por litro de solução, é utilizada como medida de concentração
forma quando o oxigênio negati- δ–
Ligação de de soluto em soluções. Um mol é um certo número de moléculas
vamente carregado da molécula δ+ hidrogênio de uma substância. A massa de um mol da substância em gra-
de água é atraído para o hidro- H mas é igual à massa molecular em daltons.
gênio positivamente carregado
δ– O
da molécula próxima. A ligação δ+ H
de hidrogênio entre moléculas δ– δ+ 3.3 Condições ácidas e básicas afetam os organismos vivos
δ+ δ–
de água é a base para as proprie- (p. 52-56)
dades ímpares da água. ⫹
Uma molécula de água pode transferir um H para outra molé-
⫹
cula de água para formar H3O (representado simplesmente por
H⫹) e OH⫺.
3.2 Quatro propriedades emergentes da água contribuem
0
para a adequação da Terra à vida (p. 47-52) Os efeitos de mudanças no
⫹ Ácido
pH A concentração de H é [H+] > [OH–]
Coesão As ligações de hidrogênio mantêm as moléculas da água
expressa como pH, onde pH Os ácidos doam
próximas. Essa coesão ajuda a puxar a água para cima nos vasos
⫽ ⫺log [H⫹]. Os tampões em H+ em soluções
microscópicos das plantas. A ligação de hidrogênio também é aquosas
fluidos biológicos resistem a
responsável pela tensão superficial da água. Neutro
mudanças no pH. Um tampão
Moderação da temperatura A água tem calor específico elevado: [H+] = [OH–] 7
consiste em um par ácido-base
o calor é absorvido quando as ligações de hidrogênio se rompem que se combina reversivelmen-
e liberado quando as ligações de hidrogênio se formam. Isso As bases doam
te com íons hidrogênio. OH– ou aceitam
ajuda a manter a temperatura relativamente estável, dentro dos Básico H+ em soluções
Ameaças à qualidade da água
limites favoráveis à vida. O esfriamento evaporativo baseia-se no [H+] < [OH–] aquosas
elevado calor de vaporização da água. A perda por evaporação na Terra A queima de combus-
tível fóssil resulta na emissão 14
das moléculas mais energéticas da água resfria as superf ícies.
de óxidos (levando à precipitação ácida) e aumenta as quanti-
Isolamento térmico de corpos de dades de CO2. Parte do CO2 dissolve nos oceanos, diminuindo
água pelo gelo flutuante: O gelo o pH e afetando potencialmente a taxa de calcificação de recife
flutua porque é menos denso do de corais.
que a água líquida. Isso permite
existir vida embaixo das superf í-
cies congeladas de lagos e mares Gelo: ligações Água líquida:
polares. de hidrogênio ligações de
estáveis hidrogênio
provisórias
B i o l o gi a 57
4.2
4.3
CONCEITOS-CHAVE
carbono
4
A química orgânica é o estudo dos compostos do
4.2 Os átomos de carbono podem de carbono ligado a quatro outros átomos tem formato tetraédri-
co. No entanto, quando dois átomos de carbono estão ligados por
formar diversas moléculas ligação dupla, todas as ligações em torno desse carbono ficam no
ligando-se a outros quatro átomos mesmo plano. O eteno (C2H4), por exemplo, é uma molécula acha-
tada; todos os átomos estão no mesmo plano (Figura 4.3c). Acha-
A chave para as características químicas de um átomo é a sua con- mos conveniente escrever todas as fórmulas estruturais como se as
figuração eletrônica. Essa configuração determina o tipo e o nú- moléculas representadas fossem planas, mas não esqueça de que as
mero de ligações que o átomo pode formar com outros átomos. moléculas são tridimensionais, e que o formato da molécula com
frequencia determina a sua função.
A formação de ligações com o carbono A configuração eletrônica do carbono torna-o covalentemente
O carbono possui 6 elétrons, 2 na primeira camada eletrônica e 4 compatível com diversos elementos distintos. A Figura 4.4 mostra
na segunda. Com 4 elétrons de valência em uma camada que com- a valência do carbono e seus pares mais frequentes – oxigênio, hi-
porta 8, o carbono pode doar ou receber 4 elétrons para completar drogênio e nitrogênio. Esses quatro são os principais componentes
a camada de valência e se tornar um íon. No entanto, o átomo de atômicos das moléculas orgânicas. Essas valências são a base para as
carbono geralmente completa a camada de valência compartilhan- regras da formação de ligações covalentes na química orgânica – o
do os 4 elétrons com outros átomos por meio de ligações cova- código de construção para a arquitetura das moléculas orgânicas.
lentes, de modo que 8 elétrons estejam presentes. Essas ligações Vamos ver como as regras da formação de ligações covalentes
podem incluir ligações covalentes duplas e triplas. Cada átomo de se aplicam a átomos de carbono pareados com outros átomos que
carbono atua como um ponto de intersecção a partir do qual uma não o hidrogênio. Vejamos dois exemplos, a molécula simples do
molécula pode ramificar-se em até quatro direções. Essa tetrava- dióxido de carbono e a ureia.
lência é uma das facetas da grande versatilidade do carbono que Na molécula de dióxido de carbono (CO2), um só átomo de
viabiliza a existência de moléculas grandes e complexas. carbono liga-se a dois átomos de oxigênio por meio de ligações
Quando o átomo de carbono forma quatro ligações covalentes covalentes duplas. A fórmula estrutural do CO2 é a seguinte:
simples, devido ao arranjo de seus quatro orbitais híbridos, as liga-
ções formam ângulos na direção dos cantos de um tetraedro imagi- O“C“O
nário (ver Figura 2.17b). Os ângulos de ligação do metano (CH4) são Cada linha na fórmula estrutural representa um par de elétrons
de 109,5º (Figura 4.3a), e grosso modo de valor igual em qualquer compartilhados. Duas ligações duplas formadas por um átomo
grupo de átomos onde o carbono forme quatro ligações simples. O de carbono correspondem a quatro ligações covalentes simples.
etano (C2H6), por exemplo, tem forma de dois tetraedros sobrepos- Esse arranjo completa a camada de valência de todos os átomos
tos (Figura 4.3b). Em moléculas com mais carbonos, cada grupo da molécula. Como a molécula de CO2 não possui hidrogênio,
•
•
•
H• • O •• • N• • C• bônicos apresentam ligações duplas, que variam em número e em
•
•
localização. Essa variação nos esqueletos carbônicos é uma fonte
Figura 4.4 Valências dos principais elementos das moléculas or-
gânicas. Valência é o número de ligações covalentes que o átomo pode importante da diversidade e da complexidade moleculares que ca-
formar. Em geral, é igual ao número de elétrons necessários para comple- racterizam a matéria viva. Além disso, átomos de outros elementos
tar a camada de valência (a camada mais externa – ver Figura 2.9). Todos podem estar ligados ao esqueleto carbônico nos locais disponíveis.
os elétrons são mostrados para cada átomo no diagrama de distribuição
eletrônica (acima). Apenas os elétrons na camada de valência são represen- Hidrocarbonetos
tados nas estruturas de Lewis.
DESENHE Consulte a Figura 2.9 e desenhe as estruturas de Lewis do só- Todas as moléculas mostradas nas Figuras 4.3 e 4.5 são hidrocar-
dio, do fósforo, do enxofre e do cloro. bonetos – moléculas orgânicas compostas apenas por carbono
e hidrogênio. Átomos de hidrogênio estão ligados a átomos do
com frequência é considerada inorgânica, mesmo que tenha car- esqueleto carbônico sempre que elétrons estiverem disponíveis
bono. Seja o CO2 chamado de composto orgânico ou inorgânico, para formar ligações covalentes. Hidrocarbonetos são os princi-
ele é claramente importante para o mundo vivo como fonte de pais componentes do petróleo, chamado de combustível fóssil,
carbono de todas as moléculas orgânicas nos organismos. pois consiste principalmente em restos parcialmente decompos-
A ureia, CO(NH2)2, é o composto orgâ- tos de organismos que viveram milhões de anos atrás.
nico encontrado na urina, sintetizado por O Apesar dos hidrocarbonetos não predominarem nos organis-
Wöhler no início do século XIX. A fórmula H C H mos vivos; muitas das moléculas orgânicas de uma célula pos-
estrutural da ureia é mostrada à direita. No- N N suem regiões compostas apenas por átomos de carbono e hidro-
vamente, cada átomo tem o número neces- gênio. Por exemplo, as moléculas conhecidas como ácidos graxos
H H
sário de ligações covalentes. Nesse caso, um Ureia possuem longas caudas hidrocarbonadas ligadas à porção não
átomo de carbono realiza tanto ligações sim- hidrocarbonada (Figura 4.6, na próxima página). Tanto o petró-
ples como ligações duplas. leo quanto os ácidos graxos são insolúveis em água; ambos são
A ureia e o dióxido de carbono são moléculas de um átomo compostos hidrofóbicos, pois a grande maioria das suas ligações
de carbono. A Figura 4.3 mostra que um átomo de carbono pode são entre carbono-hidrogênio, relativamente apolares. Outra ca-
utilizar um ou mais elétrons de valência para formar ligações co- racterística é que os hidrocarbonetos podem sofrer reações que
valentes com outros átomos de carbono, conectando os átomos liberam quantidades relativamente grandes de energia. A gasoli-
em cadeias de variedade quase infinita. na que abastece os carros é composta por hidrocarbonetos, e as
H H H H H H H H H H H H H
H C C H H C C C H H C C C C H H C C C C H
H H H H H H H H H
Etano Propano 1-Buteno 2-Buteno
H H H H
H C H
H C H C C H C H
H H C C
H H H H H H
H H C C
H H C C
H C C C C H H C H H C H
H C C C H
H H H H H
H H H
Ciclo-hexano Benzeno
Butano 2-Metilpropano
(comumente chamado de isobutano) (d) Anéis. Alguns esqueletos carbônicos são arranjados em anéis.
Na fórmula estrutural abreviada de cada composto (à direita), cada
(b) Ramificação. Esqueletos podem ser lineares ou ramificados. canto representa um carbono ligado a átomos de hidrogênio.
Figura 4.5 Variações nos esqueletos carbônicos. Hidrocarbonetos, moléculas orgânicas com apenas átomos
de carbono e de hidrogênio, ilustram a diversidade de esqueletos carbônicos nas moléculas orgânicas.
62 C a mpbe ll & Col s .
caudas hidrocarbonadas dos ácidos graxos atuam como combus- CO2H CO2H
tível armazenado no corpo dos animais.
Isômeros C C
H NH2 NH2 H
Variações na estrutura das moléculas orgânicas podem ser vis-
tas nos isômeros, compostos com igual número de átomos dos CH3 CH3
mesmos elementos, mas diferentes estruturas; por consequência, isômero L isômero D
diferentes propriedades. Compare, por exemplo, os dois compos- (c) Enantiômeros diferem no arranjo espacial ao redor do
tos de cinco átomos de carbono na Figura 4.7a. Ambos têm a carbono assimétrico, resultando em moléculas de imagens
formula molecular C5H12, mas diferem no arranjo covalente dos especulares, assim como a mão esquerda e a direita. Os dois
isômeros são designados como isômero L e isômero D, do
esqueletos carbônicos. O esqueleto em um composto é linear, latim esquerda e direita (levo e dextro). Enantiômeros não
mas ramificado no outro. Vamos examinar três tipos de isôme- podem ser sobrepostos.
ros: estruturais, geométricos e enantiômeros.
Isômeros estruturais diferem no arranjo covalente dos áto- Figura 4.7 Três tipos de isômeros. Compostos com igual fórmula
molecular, mas diferentes estruturas, os isômeros são a fonte da diversida-
mos. O numero de isômeros possíveis aumenta significativamen- de das moléculas orgânicas.
te conforme o esqueleto carbônico aumenta de tamanho. Existem DESENHE Existem três isômeros estruturais para C5H12. Desenhe o isô-
apenas três formas de C5H12 (duas são mostradas na Figura 4.7a), mero não mostrado em (a).
mas existem 18 variações de C8H18 e 366.319 isômeros estruturais
possíveis de C20H42. Isômeros estruturais também podem diferir isômero trans. Uma diferença sutil na forma de dois isômeros geo-
quanto à localização das ligações duplas. métricos pode afetar dramaticamente a atividade biológica das mo-
Isômeros geométricos possuem o mesmo padrão de ligações léculas orgânicas. Por exemplo, a bioquímica da visão envolve uma
covalentes, mas diferem no arranjo espacial. As diferenças têm ori- alteração induzida pela luz na rodopsina, um composto químico do
gem na ausência de flexibilidade das ligações duplas. Ligações sim- olho, do isômero cis para o isômero trans (ver Capítulo 50).
ples permitem que os átomos ligados tenham total liberdade de ro- Enantiômeros são isômeros imagens especulares um do ou-
tação ao longo do eixo da ligação, sem alterações no composto. No tro. Nos modelos de esfera e bastão mostrados na Figura 4.7c, o
entanto, as ligações duplas não permitem essa rotação, resultando carbono central é chamado de carbono assimétrico, pois está liga-
na possibilidade de isômeros geométricos. Se uma ligação dupla do a quatro átomos ou grupos de átomos distintos. Os quatro gru-
une dois átomos de carbono, e cada carbono possui dois átomos pos podem dispor-se no espaço em torno do carbono assimétrico
diferentes (ou grupos de átomos) ligados a ele, então dois isômeros de duas formas, imagens especulares uma da outra. Enantiômeros
geométricos são possíveis. Considere uma molécula simples com são, de certa forma, as versões equivalentes à mão esquerda e à
dois átomos de carbono unidos por uma ligação dupla, cada um mão direita de uma molécula. Assim como a mão direita não entra
deles com um H e um X (Figura 4.7b). O arranjo com os dois X no em uma luva da mão esquerda, as moléculas que executam fun-
mesmo lado da ligação dupla é chamado de isômero cis, e o arranjo ções em uma célula podem distinguir as duas versões pelo forma-
com os dois X em lados opostos da ligação dupla é chamado de to. Em geral, um isômero é biologicamente ativo, e o outro, não.
B i o l o gi a 63
OH
Enantiômero Enantiômero Estradiol CH3
Droga Condição
eficaz ineficaz OH
Testosterona CH3
O
Albuterol Asma
Figura 4.9 Uma comparação de grupos químicos dos hormônios
R-Albuterol S-Albuterol sexuais feminino (estradiol) e masculino (testosterona). As duas mo-
léculas diferem apenas nos grupos químicos ligados ao esqueleto comum
Figura 4.8 A importância farmacológica dos enantiômeros. Ibu- de carbono de quatro anéis fusionados, mostrado aqui de forma abrevia-
profeno e albuterol são exemplos de drogas cujos enantiômeros tem efeitos da. As variações sutis na arquitetura molecular (em azul) influenciam o
distintos. (S e R são letras utilizadas em um sistema para distinguir dois enan- desenvolvimento das diferenças anatômicas e fisiológicas entre fêmeas e
tiometros.) Ibuprofeno reduz a inflamação e a dor. É comumente vendido machos vertebrados.
como uma mistura dos dois enantiômeros. O enantiômero S é 100 vezes mais
eficiente que o outro. O albuterol é utilizado para relaxar os músculos dos estrutura básica para moléculas orgânicas mais complexas. Diver-
brônquios, aumentando o fluxo de ar em pacientes com asma. Apenas o R-Al- sos grupos químicos podem substituir um ou mais dos átomos de
buterol é sintetizado e vendido como droga; a forma S anula a forma ativa R.
hidrogênio ligados ao esqueleto carbônico de um hidrocarboneto.
O conceito de enantiômeros é importante para a indústria far- (Alguns grupos incluem átomos do esqueleto carbônico, como ve-
macêutica, pois os dois enantiômeros de uma droga podem não ser remos adiante.) Esses grupos podem participar de reações quími-
igualmente eficazes (Figura 4.8). Em alguns casos, um dos isômeros cas ou contribuir de modo indireto para a função por meio de seus
pode até causar efeitos colaterais danosos. Esse é o caso da talidomi- efeitos na estrutura da molécula. O número e o arranjo desses gru-
da, uma droga prescrita para milhares de grávidas no final da déca- pos ajudam a conferir a cada molécula suas propriedades únicas.
da de 1950 e no início da década de 1960. A droga era uma mistura
de dois enantiômeros. Um enantiômero reduzia o enjoo matinal, o Os grupos químicos mais importantes no
efeito desejado, mas o outro enantiômero causava graves defeitos processo da vida
congênitos. (Infelizmente, mesmo que apenas o “bom” enantiômero Considere as diferenças entre a testosterona e o estradiol (um
fosse administrado na forma purificada, alguns logo se convertiam tipo de estrogênio). Esses compostos são os hormônios sexuais
no “mau” enantiômero no organismo da paciente.) Os diferentes masculino e feminino, respectivamente, em humanos e em ou-
efeitos dos enantiômeros no corpo demonstram que os organismos tros vertebrados (Figura 4.9). Ambos são esteroides, moléculas
são sensíveis mesmo a variações sutis na arquitetura molecular. orgânicas com esqueleto carbônico comum, em forma de quatro
Mais uma vez, vemos como as moléculas têm propriedades emer- anéis fusionados. Esses hormônios sexuais só diferem nos grupos
gentes que dependem do arranjo específico dos seus átomos. químicos ligados aos anéis. As diferentes ações dessas duas molé-
culas em diversos alvos espalhados pelo corpo ajudam a gerar as
REVISÃO DO CONCEITO características contrastantes entre machos e fêmeas. Assim, até
1. Desenhe a fórmula estrutural de C2H4. mesmo nossa sexualidade tem sua base biológica na variação da
2. Quais moléculas da Figura 4.5 são isômeros? Para cada arquitetura molecular.
par, identifique o tipo de isomeria. No exemplo dos hormônios sexuais, diferentes grupos quími-
3. Qual a semelhança química entre a gasolina e os ácidos cos contribuem para a função, afetando a estrutura da molécula.
graxos? Em outros casos, os grupos químicos afetam a função molecular
4. E SE...? O propano (C3H8) pode formar isômeros? e envolvem-se diretamente em reações químicas; esses grupos
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. químicos são conhecidos como grupos funcionais. Cada grupo
funcional participa de reações químicas de maneira característica
e diferente, conforme a molécula orgânica.
Os sete grupos químicos mais importantes para os processos
4.3 Poucos grupos químicos são biológicos são hidroxila, carbonila, carboxila, amino, sulfidrila,
essenciais para o funcionamento fosfato e metila. Os primeiros seis grupos podem atuar como
grupos funcionais; eles também aumentam a solubilidade dos
das moléculas biológicas compostos orgânicos em água. O grupo metil é não reativo, mas
As propriedades distintas das moléculas orgânicas não dependem atua como grupo de reconhecimento nas moléculas biológicas.
apenas do arranjo do esqueleto carbônico, mas também dos com- Antes de continuar a leitura, reserve um tempo para se familiari-
ponentes moleculares ligados ao esqueleto. Podemos considerar zar com esses grupos químicos biologicamente importantes, na
os hidrocarbonetos, as moléculas orgânicas mais simples, como a Figura 4.10, nas duas páginas seguintes.
Figura 4.10
GRUPO
QUÍMICO
Hidroxila Carbonila Carboxila
O
C
O
ESTRUTURA OH
OH C
No grupo hidroxila (—OH), um O grupo carbonila ( CO) consiste Quando um átomo de oxigênio
átomo de hidrogênio está ligado em um átomo de carbono ligado a está ligado por uma ligação
a um átomo de oxigênio, que por um átomo de oxigênio por meio dupla a um átomo de carbono
sua vez está ligado ao esqueleto de uma ligação dupla. também ligado a um grupo —OH,
carbônico de uma molécula todo este conjunto de átomos é
orgânica. (Não confundir esse chamado de grupo carboxila
grupo funcional com o íon (—COOH).
hidróxido, OH ).
H O
EXEMPLO H H H C C H
O
H
H C C OH H C H C C
H
H H H H OH
Etanol, o álcool presente nas Acetona, a cetona mais simples Ácido acético, composto que
bebidas alcoólicas confere acidez ao vinagre.
H H O
H C C C
H H H
Propanal, um aldeído
PROPRIEDADES É polar, pois os elétrons ficam Uma cetona e um aldeído podem Tem propriedades ácidas
FUNCIONAIS mais tempo perto do átomo de ser isômeros estruturais com (fonte de íons hidrogênio), pois
oxigênio, mais eletronegativo. propriedades distintas, como no a ligação covalente entre o
caso da acetona e do propanal. oxigênio e o hidrogênio também
é polar; por exemplo,
Podem formar pontes de Estes dois grupos são
hidrogênio com moléculas de encontrados também nos
H H
água, ajudando a dissolver açúcares, originando os dois O O
compostos orgânicos como os principais tipos de açúcares: H C C H C C + H+
açúcares (ver Figura 5.3). aldoses (que contêm aldeídos)
e cetoses (que contêm cetonas). H OH H O–
Acido acético Íon acetato
H SH O H
N O P O– C H
(pode ser escrito como )
H O– H
O grupo amino (—NH2) O grupo sulfidrila consiste Em um grupo fosfato, um átomo Um grupo metil consiste
consiste em um átomo de em um átomo de enxofre de fósforo está ligado a quatro em um átomo de carbono
nitrogênio ligado a dois ligado a um átomo de átomos de oxigênio; e um ligado a três átomos de
átomos de hidrogênio e hidrogênio. Na forma, oxigênio está ligado ao esqueleto hidrogênio. O grupo metil
ao esqueleto carbônico. lembra o grupo hidroxila. carbônico; dois átomos de oxigênio pode estar ligado a um
possuem carga negativa. O grupo carbono ou a um átomo
2
fosfato (—OPO 3 ), abreviado como diferente.
P ) é a forma ionizada do grupo
ácido fosfórico (—OPO3H2, note
os dois átomos de hidrogênio).
O H H O OH OH OH H O NH2
C
C C N H C C C O P O– H C CH3
H C CH2 SH N C
HO H H
H H H O–
N C C
Glicina Glicerol fosfato O N H
H H
Como é também um Cisteína H
grupo carboxila, a Além de fazer parte de muitas
reações químicas importantes na 5-metil citidina
glicina é tanto amina A cisteína é um importante
quanto ácido carboxílico; célula, o glicerol fosfato forma o
aminoácido sulfurado. esqueleto dos fosfolipídios, as A 5-metil citidina é um
compostos com esses
moléculas prevalentes nas componente do DNA que foi
dois grupos são
membranas celulares. modificado pela adição de um
chamados de
grupo metil.
aminoácidos.
Atua como base, pode Dois grupos sulfidrila Contribui para a carga A adição de um grupo
ser aceptor de um H podem reagir, formando negativa nas moléculas em que metil ao DNA, ou a
da solução adjacente uma ligação covalente. faz parte ( 2 quando ligado à moléculas ligadas ao DNA,
(água, nos organismos Esta “ligação cruzada” molécula, como acima; 1 afeta a expressão gênica.
vivos). ajuda a estabilizar a quando localizado internamen-
O arranjo dos grupos
H estrutura de proteínas te em uma cadeia de fosfatos).
H metil nos hormônios sexuais
(veja a Figura 5.21).
Tem o potencial de reagir com masculino e feminino afeta
N +N H As ligações cruzadas das a água, liberando energia. suas estruturas e funções
H H cisteínas nas proteínas (veja a Figura 4.9).
do cabelo mantêm o
(não ionizado) (ionizado) cabelo liso ou ondulado.
Considerando as informações desta figura e o que você sabe
Ionizado, com carga
Cabelos lisos podem ser ? sobre a eletronegatividade do oxigênio, diga qual das seguintes
encaracolados
1, sob condições moléculas será o ácido mais forte. Explique a sua resposta.
“permanentemente”
celulares.
enrolando-os em rolos e a. H H b. H O
O O
então clivando e
religando estas ligações H C C C H C C C
cruzadas. OH OH
H H H
66 C a mpbe ll & Col s .
Quando três fosfatos estão presentes em série, como no ATP, um Os elementos químicos da vida: uma revisão
fosfato pode ser liberado como resultado de uma reação com a A matéria viva, como vimos, consiste principalmente em carbo-
água. Esse íon fosfato inorgânico, HOPO32⫺, é frequentemente no, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio, com quantidades menores
abreviado como Pi neste livro. Tendo perdido um de seus fosfa- de enxofre e fósforo. Todos esses elementos formam fortes liga-
tos, o ATP se torna adenosina difosfato, ou ADP. Embora às vezes ções covalentes, característica essencial na arquitetura das molé-
se diga que o ATP “armazena” energia, é mais correto conside- culas orgânicas complexas. De todos esses elementos, o carbono
rá-lo uma molécula que “armazena” o potencial de reagir com é o especialista em ligações covalentes. Devido à versatilidade do
água. Essa reação libera energia que pode ser utilizada pela célu- carbono, é possível uma grande diversidade de moléculas orgâni-
la. Vamos aprender isso em mais detalhes no Capítulo 8. cas; cada qual com propriedades particulares, que emergem do
Reage arranjo ímpar do esqueleto carbônico e dos grupos químicos li-
com H2O gados ao esqueleto. Na base de toda a diversidade biológica está a
P P P Adenosina P + P P Adenosina + Energia variação em termos moleculares.
ATP Fosfato ADP
inorgânico
Revisão do Capítulo
RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE
4
carbono e hidrogênio. Isômeros são compostos de igual fórmula
molecular, mas com diferentes estruturas e propriedades. Existem
4.1 A química orgânica é o estudo dos compostos do três tipos de isômeros: estruturais, geométricos e enantiômeros.
carbono (p. 58-59)
Os compostos orgânicos já foram considerados oriundos apenas 4.3 Poucos grupos químicos são essenciais para o
dos organismos vivos, mas essa ideia (vitalismo) foi descartada funcionamento das moléculas biológicas (p. 63-66)
quando engenheiros químicos conseguiram sintetizar compos- Os grupos químicos mais importantes no processo da vida Os gru-
tos orgânicos em laboratório. pos químicos ligados ao esqueleto carbônico das moléculas or-
gânicas participam de reações químicas (grupos funcionais) ou
4.2 Os átomos de carbono podem formar diversas contribuem para a função, afetando a estrutura molecular.
moléculas ligando-se a outros quatro átomos (p. 60-63) ATP, importante fonte de energia para os processos celulares
A formação de ligações com o carbono O carbono, com valência
Reage
igual a 4, pode formar ligações com diversos outros átomos, in- com H2O
cluindo O, H e N. O carbono também pode fazer ligações com P P P Adenosina Pi + P P Adenosina + Energia
outros átomos de carbono, formando o esqueleto carbônico dos
compostos orgânicos. ATP Fosfato ADP
inorgânico
A diversidade molecular se origina da variação dos esqueletos de
carbono O esqueleto carbônico das moléculas orgânicas varia Os elementos químicos da vida: uma revisão A matéria viva é
em comprimento e em forma e tem sítios de ligação para átomos composta principalmente por carbono, oxigênio, hidrogênio
de outros elementos. Hidrocarbonetos são formados apenas por e nitrogênio, com quantidades menores de enxofre e fósforo.
B i o l o gi a 67
A diversidade biológica tem base molecular na habilidade do 7. Qual grupo químico é mais provavelmente o responsável pelo
carbono de formar um grande número de moléculas com estru- caráter de base de uma molécula orgânica?
turas e propriedades químicas particulares. a. hidroxila.
b. carbonila.
c. carboxila.
TESTE SEU CONHECIMENTO d. amino.
e. fosfato.
1. As moléculas orgânicas são definidas atualmente como o estudo:
a. dos compostos oriundos apenas a partir de células vivas. Para as respostas do teste, ver no Apêndice A.
b. dos compostos de carbono.
c. das forças vitais. CONEXÃO EVOLUTIVA
d. dos compostos naturais (em oposição aos compostos sintéti-
cos). 8. DESENHE Alguns cientistas acreditam que a vida em outros lu-
e. dos hidrocarbonetos. gares do universo pode ser baseada no elemento silício e não em
carbono como na Terra. Observe o diagrama de distribuição ele-
2. Quais dos seguintes hidrocarbonetos possuem ligação dupla no
trônica do silício na Figura 2.9 e desenhe a estrutura de pontos
esqueleto carbônico?
de Lewis para o silício. Quais propriedades o silício compartilha
a. C3H8. d. C2H4.
com o carbono que tornam a vida baseada no silício mais prová-
b. C2H6. e. C2H2.
vel que a vida baseada no neônio ou no alumínio?
c. CH4.
3. Escolha o termo que descreve corretamente as relações entre
PESQUISA CIENTÍFICA
estas duas moléculas de açúcar:
H 9. Em 1918, uma epidemia da doença do sono causou uma para-
H O lisia incomum nos sobreviventes, similar aos sintomas avança-
H C OH C dos da doença de Parkinson. Anos mais tarde, L-dopa (abaixo,
C O H C OH à esquerda), um composto químico utilizado no tratamento
da doença de Parkinson, foi administrada a alguns destes pa-
H C OH H C OH cientes, como dramatizado no filme Awakenings. A L-dopa foi
H H bastante eficaz na eliminação da paralisia, pelo menos tempo-
rariamente. No entanto, o seu enantiômero, D-dopa (à direita),
a. isômeros estruturais. c. enantiômeros. posteriormente não mostrou efeito algum, assim como no
b. isômeros geométricos. d. isótopos. tratamento da doença de Parkinson. Sugira uma hipótese que
4. Identifique o carbono assimétrico na molécula abaixo: explique por quê, nas duas doenças, um enantiômero é eficaz e
OH H H H o outro não.
O
a b c d e
C C C C C H
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
H H H H H
10. A talidomida atingiu notoriedade 50 anos atrás em função de
5. Qual grupo funcional não está presente nesta molécula? uma onda de nascimentos com defeitos congênitos entre as
HO O crianças de mulheres que tomaram talidomida durante a gra-
C H videz para o tratamento dos enjoos matinais. No entanto, em
1998, o FDA (do inglês, U.S. Food and Drug Administration)
H C C OH
aprovou essa droga para o tratamento de certas condições as-
N H sociadas à hanseníase (lepra). Nos testes clínicos, a talidomida
H H também se mostrou promissora
para o uso no tratamento de pa-
a. carboxila. c. hidroxila. cientes com AIDS, tuberculose
b. sulfidrila. d. amino. e alguns tipos de câncer. Você
6. Que ação pode originar um grupo carbonila? considera apropriada a aprovação
L-dopa D-dopa
a. a troca de um —OH de um grupo carboxílico por um hidro- dessa droga? Se você considera,
gênio. sob quais condições? Quais critérios você acha que o FDA utili-
b. a adição de um tiol a uma hidroxila. za para comparar os benef ícios de uma droga com seus riscos?
c. a adição de uma hidroxila a um fosfato.
d. a troca de um nitrogênio de uma amina por um oxigênio.
e. a adição de uma sulfidrila a um carboxila.
5
Estrutura e
Função de
Grandes Moléculas
Biológicas
Figura 5.1 Por que os cientistas estudam as estruturas de ma-
CONCEITOS-CHAVE
cromoléculas?
(açúcar de cetona). A glicose, por exemplo, é uma aldose; a fru- simples, além de serem o principal combustível para o funciona-
tose, isômero estrutural da glicose, é uma cetose. (A maioria dos mento celular, também servem de matéria-prima para a síntese
nomes dos açúcares possui a terminação ose.) Outro critério para de outros tipos de pequenas moléculas orgânicas, como aminoá-
a classificação dos açúcares é o tamanho do esqueleto carbônico, cidos e ácidos graxos. As moléculas de açúcar não utilizadas ime-
que varia de três a sete carbonos de extensão. A glicose, a frutose diatamente nas formas já descritas, em geral são incorporadas
e outros açúcares com seis carbonos são chamados de hexoses. como monômeros em dissacarídeos ou polissacarídeos.
As trioses (açúcares de três carbonos) e as pentoses (açúcares de Um dissacarídeo é composto por dois monossacarídeos uni-
cinco carbonos) também são comuns. dos por uma ligação glicosídica, uma ligação covalente formada
Outra fonte de diversidade para os açúcares simples é o ar- entre dois monossacarídeos por reação de desidratação. Por exem-
ranjo espacial das partes em torno do carbono assimétrico. (Lem- plo, a maltose é um dissacarídeo formado pela ligação de duas mo-
bre-se que o carbono assimétrico é o carbono ligado a quatro áto- léculas de glicose (Figura 5.5a). Também conhecida como malte,
mos ou grupos de átomos diferentes.) A glicose e a galactose, por a maltose é um ingrediente utilizado na fermentação da cerveja. O
exemplo, diferem apenas na disposição das partes em torno do dissacarídeo mais comum é a sacarose, ou açúcar de mesa. Seus
carbono assimétrico (ver os retângulos roxos na Figura 5.3). O dois monômeros são a glicose e a frutose (Figura 5.5b). As plantas
que parece uma pequena diferença é suficiente para conferir for- geralmente transportam carboidratos das folhas para as raízes e
mas e comportamentos distintos para esses dois açúcares. outros órgãos não fotossintéticos, em forma de sacarose. A lactose,
Apesar de conveniente, desenhar a molécula de glicose como o açúcar do leite, é outro dissacarídeo; nesse caso, uma molécula
um esqueleto carbônico linear não é completamente correto.
de glicose está ligada a uma molécula de galactose.
Em soluções aquosas, as moléculas de glicose, assim como as da
maioria dos demais açúcares, são cíclicas (Figura 5.4).
Os monossacarídeos, em particular a glicose, são os prin-
Polissacarídeos
cipais nutrientes para as células. No processo conhecido como Os polissacarídeos são macromoléculas, polímeros com cente-
respiração celular, as células extraem energia em uma série de nas a milhares de monossacarídeos unidos por meio de ligações
reações que se iniciam com moléculas de glicose. Os açúcares glicosídicas. Alguns polissacarídeos servem como material de ar-
H O H O H O H O
C C C C
H C OH H C OH H C OH H C OH
H C OH H C OH HO C H HO C H
Aldoses
H H C OH H C OH HO C H
Gliceraldeído H C OH H C OH H C OH
Produto
inicial da H H C OH H C OH
clivagem
Ribose H H
da glicose
Componente
do RNA Glicose Galactose
Fonte de energia Fonte de energia
para os organismos para os organismos
H H H
H C OH H C OH H C OH
C O C O C O
Figura 5.3 A estrutura e a classificação
H C OH H C OH HO C H
Cetoses
H O
1C 6 CH2OH 6 CH2OH
CH2OH
2 6
H C OH 5C O H 5C O O
H H H H 5 H
3 H H
HO C H H H 4 1
4C 1C 4C 1C OH H
H
4
C OH OH H OH H HO 3 2 OH
O
OH 2 OH 2
5 3C C 3C C OH H OH
H C OH
6 H OH H OH
H C OH
(b) Estrutura em anel abreviada. Cada canto
H representa um carbono. As terminações mais
(a) Formas lineares e cíclicas. O equilíbrio químico entre as estruturas lineares e cíclicas grossas do anel indicam que estamos olhando
favorece grandemente as formas cíclicas. Os carbonos do açúcar são numerados de 1 a o anel do plano perpendicular; os componentes
6, conforme mostrado. Para formar o anel da glicose, o carbono 1 se liga ao oxigênio ligados ao anel ficam acima ou abaixo do
ligado ao carbono 5. plano do anel.
mazenamento, hidrolisados conforme a necessidade de fornecer energia armazenada. O açúcar pode ser extraído posteriormente
açúcar às células. Outros polissacarídeos servem de material de desse “banco” de carboidratos por hidrólise, que cliva as ligações
construção para estruturas que protegem a célula ou até mesmo entre os monômeros de glicose. A maioria dos animais, incluin-
todo o organismo. A arquitetura e a função de um polissacarídeo do os humanos, também possui enzimas capazes de hidrolisar o
são determinadas por seus monômeros de açúcar e pela posição amido das plantas, tornando a glicose disponível para ser utiliza-
das ligações glicosídicas. da como combustível para as células. Tubérculos como a batata
e os grãos – os frutos do trigo, milho, arroz e outras gramíneas
Polissacarídeos de armazenamento – são as principais fontes de amido na dieta dos humanos.
Tanto as plantas quanto os animais armazenam açúcares para o A maioria dos monômeros de glicose do amido está unida
uso posterior na forma de polissacarídeos. As plantas armaze- por meio de ligações 1-4 (carbono 1 ao carbono 4), assim como as
nam amido, um polímero de monômeros de glicose, como grâ- unidades de glicose estão unidas na maltose (ver Figura 5.5a). O
nulos no interior de estruturas celulares conhecidas como plas- ângulo dessas ligações torna o polímero helicoidal. A forma mais
tídios, incluindo os cloroplastos. A síntese de amido permite que simples de amido, a amilose, não é ramificada (Figura 5.6a). A
as plantas armazenem um suprimento extra de glicose. Como amilopectina, um amido mais complexo, é um polímero ramifi-
a glicose é o principal combustível celular, o amido representa cado, com ligações 1-6 nos pontos de ramificação.
72 C a mpbe ll & Col s .
0.5 μm
1 μm
Figura 5.6 Os polissacarídeos de armazenamento das plantas e dos animais. Tanto amido quanto glicogênio
são compostos inteiramente por monômeros de glicose, representados aqui como hexágonos. Em função de sua estrutura
molecular, as cadeias de polímeros tendem a formar hélices.
Os animais armazenam um polissacarídeo chamado de gli- que existem duas estruturas cíclicas ligeiramente distintas para
cogênio, um polímero de glicose similar à amilopectina, mas a glicose (Figura 5.7a). Quando a glicose forma o anel, o grupo
com maior número de ramificações (Figura 5.6b). Os humanos hidroxila ligado ao carbono 1 pode estar posicionado tanto acima
e outros vertebrados armazenam glicogênio principalmente nas como abaixo do plano do anel. Esses dois tipos de anéis formam
células do f ígado e dos músculos. A hidrólise do glicogênio nes- a glicose chamada alfa (␣) e beta (), respectivamente. No amido,
sas células libera glicose quando aumenta a demanda por açúcar. todos os monômeros de glicose estão na configuração ␣ (Figura
No entanto, esse combustível armazenado não pode sustentar um 5.7b), no arranjo mostrado nas Figuras 5.4 e 5.5. Em contraste, os
animal por muito tempo. Em humanos, por exemplo, os estoques monômeros de glicose da celulose estão todos na configuração ;
de glicogênio acabam em cerca de um dia, a menos que sejam com isso, cada monômero de glicose fica de cabeça para baixo em
repostos pelo consumo de comida. Esse é um ponto preocupante relação aos monômeros adjacentes (Figura 5.7c).
nas dietas com poucos carboidratos. As ligações glicosídicas distintas no amido e na celulose con-
ferem a essas duas moléculas formas tridimensionais distintas.
Polissacarídeos estruturais Enquanto a molécula de amido é principalmente helicoidal, a
Os organismos constroem materiais resistentes a partir de po- molécula de celulose é linear. A celulose nunca é ramificada, e
lissacarídeos estruturais. Por exemplo, o polissacarídeo chamado alguns grupos hidroxila em seus monômeros de glicose estão li-
celulose é o principal componente da parede celular que circun- vres para formar pontes de hidrogênio com os grupos hidroxila
da as células das plantas. Em escala global, as plantas produzem de outras moléculas de celulose paralelas. Na parede celular das
quase 1014 kg (100 bilhões de toneladas) de celulose por ano; é plantas, moléculas de celulose paralelas são unidas dessa forma,
o componente orgânico mais abundante na Terra. Assim como agrupadas em unidades chamadas de microfibras (Figura 5.8).
o amido, a celulose é um polímero de glicose, mas as ligações Essas microfibras em forma de cabos são materiais fortes de
glicosídicas nesses dois polímeros são diferentes. A diferença é construção nas plantas. Além disso, têm importância significati-
B i o l o gi a 73
H O
(a) Estruturas de anel da C
α-glicose e da β-glicose. CH2OH CH2OH
Estas duas formas O H H C OH O OH
H H
interconversíveis o diferem H H
na disposição do grupo 4 1 HO C H 4 1
OH H OH H
hidroxila (destacado em HO OH HO H
H C OH
azul) ligado ao carbono 1.
H OH H C OH H OH
α-glicose β-glicose
H C OH
H
(b) Amido: ligação 1-4 entre os monômeros de α-glicose. Todos (c) Celulose: ligação 1-4 entre os monômeros de α-glicose. Na
os monômeros têm a mesma orientação. Compare as posições dos celulose, cada monômero de β-glicose fica de cabeça para baixo
grupos –OH destacados em amarelo com os grupos da celulose (c). em relação ao monômero anterior.
10 μm
0,5 μm
CH2OH OH CH2OH OH
O
O
O
O
Moléculas
OH OH
O
OH
O
OH
O
de celulose
O O
OH CH2OH OH CH2OH
OH
CH2OH OH CH2OH OH
O O
OH O OH O
OH OH
O O O O O
Moléculas paralelas de celulose
OH CH2OH OH CH2OH
são unidas por meio de pontes
de hidrogênio entre os grupos CH2OH OH CH2OH OH
hidroxila ligados aos átomos O O
de carbono 3 e 6. OH O OH O Uma molécula de celulose
OH OH
O O O O O é um polímero
OH CH2OH OH CH2OH não ramificado de β-glicose.
Monômero
de β-glicose
CH2OH
H O OH
H
OH H
OH H
H NH
C O
CH3
(b) A quitina forma o exoesqueleto dos (c) A quitina é utilizada para fazer cordões
(a) A estrutura do monômero de quitina. artrópodes. Esta cigarra está em processo de cirúrgicos fortes e flexíveis, que se decom-
muda, liberando o exoesqueleto velho e põem após a ferida ou a incisão sararem.
emergindo na forma adulta.
hidrocarbonadas. Os lipídeos apresentam uma variedade de for- Para formar uma gordura, três moléculas de ácido graxo li-
mas e funções. Essa classe inclui as ceras e certos pigmentos, mas gam-se a uma molécula de glicerol por meio de uma ligação éster,
vamos dar ênfase aos tipos de lipídeos mais importantes biologi- uma ponte entre o grupo hidroxila e o grupo carbonila. A gor-
camente: gorduras, fosfolipídeos e esteroides. dura resultante, também chamada de triacilglicerol, é composta
por três ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerol. (Outro
Gorduras nome para essas gorduras é triglicerídeo, palavra frequentemente
Embora as gorduras não sejam polímeros, elas são grandes molé- encontrada nas listas de ingredientes de alimentos embalados.)
culas formadas pela associação de poucas e pequenas moléculas, Os ácidos graxos na gordura podem ser iguais, como mostrado
por meio de reações de desidratação. Uma gordura é composta na Figura 5.11b, ou de dois ou três tipos distintos.
por dois tipos de pequenas moléculas: glicerol e ácidos graxos
(Figura 5.11a). O glicerol é um álcool com três átomos de carbo-
no, cada um ligado a um grupo hidroxila. Um ácido graxo possui
um longo esqueleto carbônico, geralmente com 16 a 18 carbonos H O
de extensão. O carbono em uma das extremidades do ácido graxo H C O C
faz parte do grupo carboxila, o grupo funcional que dá a essas O
moléculas o nome de ácido graxo. Ligada ao grupo carboxila está Fórmula estrutural de uma H C O C
molécula de gordura saturada
uma longa cadeia hidrocarbonada. As relativamente apolares li- O
H C O C
gações C—H na cadeia hidrocarbonada são a causa do caráter
H
hidrofóbico das gorduras. As gorduras se separam da água, pois
as moléculas de água ligam-se umas às outras com pontes de hi-
drogênio, excluindo as gorduras. Essa é a razão pela qual o óleo Ácido esteárico, ácido
vegetal (uma gordura líquida) se separa da solução aquosa de vi- graxo saturado
nagre nas embalagens de molhos para saladas.
H O
Glicerol
H C O C
(a) Reação de desidratação na síntese de gordura.
O
Fórmula estrutural de H C O C
Ligação éster uma molécula de gordura
O
insaturada
H O H H H H H H H H C O C
H H H H H H H H
H C O C C C C C C C C H H
C C C C C C C C
H H H H H H H
H H H H H H H H
O H H H H H H H
H H H H H H H H
H C O C C C C C C C C H
C C C C C C C C Ácido oleico, ácido graxo
H H H H H H H
H H H H H H H H insaturado
O H H H H H H H
H H H H H H H H Uma ligação dupla
H C O C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
H cis causa a curvatura
H H H H H H H H da molécula
H H H H H H H H
(b) Gordura insaturada. Em temperatura ambiente, as moléculas da
(b) Molécula de gordura (triacilglicerol). gordura insaturada, como as do óleo de oliva, não conseguem
compactar-se com força suficiente para se solidificarem; isso se deve às
Figura 5.11 Síntese e estrutura da gordura ou triacilglicerol. A curvaturas em algumas cadeias hidrocarbonadas destes ácidos graxos.
unidade de construção da gordura é uma molécula de glicerol e três mo-
léculas de ácidos graxos. (a) Uma molécula de água é removida de cada Figura 5.12 Exemplos de gorduras e ácidos graxos saturados e
molécula de ácido graxo ligado ao glicerol. (b) Uma molécula de gordura insaturados. A fórmula estrutural de cada gordura segue a convenção
com três unidades idênticas de ácidos graxos. Os átomos de carbono dos química comum de omissão dos átomos de carbono e dos átomos de hi-
ácidos graxos estão arranjados em ziguezague, indicando as orientações drogênio ligados ao carbono nas regiões hidrocarbonadas. Nos modelos
verdadeiras das quatro ligações simples que se estendem de cada átomo de preenchimento espacial dos ácidos graxos, preto ⫽ carbono, cinza ⫽
de carbono (ver Figura 4.3a). hidrogênio e vermelho ⫽ oxigênio.
76 C a mpbe ll & Col s .
Os ácidos graxos podem variar em extensão, no número e na Uma dieta rica em gorduras saturadas é um dos vários fatores
posição das ligações duplas. Os termos gorduras saturadas e gordu- que contribuem para a doença cardiovascular conhecida como ate-
ras insaturadas são comumente utilizados no contexto da nutrição rosclerose. Nesta doença, depósitos chamados de placas se desen-
(Figura 5.12). Esses termos se referem à estrutura das cadeias hidro- volvem nas paredes dos vasos sanguíneos, originando invaginações
carbonadas dos ácidos graxos. Se não houver ligações duplas entre que impedem o fluxo sanguíneo e reduzem a resistência dos vasos.
os átomos de carbono da cadeia, então o maior número possível de Estudos recentes mostraram que o processo de hidrogenação dos
átomos de hidrogênio liga-se ao esqueleto carbônico. Essa estrutura óleos vegetais produz não só gorduras saturadas, mas também gor-
é descrita como saturada por átomos de hidrogênio, e o ácido graxo duras insaturadas com ligações duplas trans. Essas gorduras trans
resultante é chamado de ácido graxo saturado (Figura 5.12a). Um podem contribuir mais que as gorduras saturadas para a ateroscle-
ácido graxo insaturado possui uma ou mais ligações duplas, forma- rose (ver Capítulo 42) e outros problemas. Como as gorduras trans
das pela remoção de átomos de hidrogênio do esqueleto carbônico. são especialmente comuns em guloseimas e alimentos processados,
O ácido graxo apresenta uma curvatura na cadeia hidrocarbonada o órgão americano USDA exige a informação do conteúdo de gor-
sempre que ocorrer uma ligação dupla cis (Figura 5.12b). duras trans nos rótulos nutricionais.
A gordura formada por ácidos graxos saturados é chamada de As gorduras adquiriram conotação tão negativa em nossa cul-
gordura saturada. A maioria das gorduras animais é saturada: as tura que é de se imaginar que propósitos úteis elas possam ter. A
cadeias hidrocarbonadas de seus ácidos graxos – as “caudas” das principal função das gorduras é o armazenamento de energia. As
moléculas de gordura – não apresentam ligações duplas, e a sua cadeias hidrocarbonadas das gorduras são semelhantes às molé-
flexibilidade permite essas moléculas de gordura se compactarem culas da gasolina e tão ricas em energia. Um grama de gordura
fortemente. As gorduras animais saturadas – como banha e mantei- armazena o dobro de energia que um grama de polissacarídeo
ga – são sólidas a temperatura ambiente. Em contraste, as gorduras como o amido. Como as plantas são relativamente imóveis, con-
das plantas e dos peixes são geralmente insaturadas, ou seja, com- seguem ter grandes estoques de energia em forma de amido. (Os
postas por um ou mais tipos de ácidos graxos insaturados. Geral- óleos vegetais são em geral obtidos a partir das sementes, onde
mente líquidas em temperatura ambiente, as gorduras de plantas encontra-se um estoque de energia mais compacto, em relação ao
e peixes são chamadas de óleos – azeite de oliva e óleo de f ígado resto da planta.) Os animais, no entanto, precisam carregar consi-
de bacalhau são exemplos. Devido às curvaturas onde as ligações go seus estoques de energia, então é vantajoso possuir um estoque
duplas cis estão localizadas, as moléculas não se compactam com de energia mais compacto – a gordura. Os humanos e outros ma-
força suficiente para solidificar em temperatura ambiente. A expres- míferos armazenam reservas alimentares de longo prazo nas cé-
são “óleo vegetal hidrogenado” nos rótulos dos alimentos significa lulas adiposas (ver Figura 4.6a), que inflam e murcham conforme
que as gorduras insaturadas foram convertidas sinteticamente em as gorduras são depositadas e utilizadas. Além de armazenarem
gorduras saturadas pela adição de hidrogênio. A manteiga de amen- energia, o tecido adiposo também acondiciona órgãos vitais como
doim, a margarina e muitos outros produtos são hidrogenados para os rins, e uma camada de gordura abaixo da pele realiza o isola-
evitar que os lipídeos se separem na fase líquida (óleo). mento térmico de nosso corpo. Essa camada subcutânea é espe-
CH2
+
N(CH3)3 Figura 5.13 A estrutura de um fosfolipídeo. Um fosfolipídeo
Colina possui cabeça hidrofílica (polar) e duas caudas hidrofóbicas (apola-
Cabeça hidrofílica
CH2
res). A diversidade dos fosfolipídeos se baseia nas diferenças nos dois
O ácidos graxos e nos grupos ligados à cabeça. Este fosfolipídeo em
O P O– Fosfato particular, chamado de fosfatidilcolina, possui um grupo colina ligado
O à cabeça hidrofílica. A curvatura em uma das caudas se deve a uma
CH2 CH CH2
ligação dupla cis. Aqui são mostradas (a) a fórmula estrutural, (b) o
Glicerol modelo de preenchimento espacial (amarelo ⫽ fósforo, azul ⫽ nitro-
O O gênio), e (c) a representação simbólica dos fosfolipídeos, utilizada ao
C O C O longo deste livro.
Caudas hidrofóbicas
Ácidos graxos
Cabeça
hidrofílica
Caudas
hidrofóbicas
Cabeça ÁGUA
hidrofílica H3C CH3
CH3 CH3
CH3
HO
Cauda
hidrofóbica ÁGUA
Figura 5.15 Colesterol, um esteroide. O colesterol é a molécula a
Figura 5.14 A estrutura de bicamada formada por autoassocia- partir da qual outros esteroides, incluindo os hormônios sexuais, são sin-
ção de fosfolipídeos em ambiente aquoso. A bicamada fosfolipídica tetizados. Os esteroides variam quanto aos grupos químicos ligados aos
mostrada aqui é a principal base das membranas biológicas. Observe que, quatro anéis interconectados (mostrados em dourado).
nesta estrutura, as cabeças hidrofílicas dos fosfolipídeos estão em contato
com a água, e as caudas hidrofóbicas estão em contato umas com as ou- variam quanto aos grupos químicos ligados ao conjunto de anéis.
tras, e isoladas da água.
O colesterol é um componente comum das membranas celulares
dos animais. Ele também é um precursor a partir do qual outros
cialmente espessa nas baleias, nas focas e na maioria dos animais
esteroides são sintetizados. Nos vertebrados, o colesterol é sin-
marinhos, protegendo-os das águas frias dos oceanos.
tetizado no f ígado. Muitos hormônios, incluindo os hormônios
sexuais dos vertebrados, são esteroides produzidos a partir do
Fosfolipídeos
colesterol (ver Figura 4.9). Dessa forma, o colesterol é uma molé-
As células não poderiam existir sem outro tipo de lipídeo – os cula crucial para os animais, apesar de altos níveis de colesterol
fosfolipídeos (Figura 5.13). Os fosfolipídeos são essenciais para no sangue contribuírem para a aterosclerose. Tanto as gorduras
as células, pois formam as membranas celulares. A sua estrutura saturadas quanto as gorduras trans exercem efeitos negativos na
fornece um exemplo clássico de como a forma determina a função saúde por afetarem os níveis de colesterol.
em termos moleculares. Conforme mostrado na Figura 5.13, um
fosfolipídeo é similar a uma molécula de gordura, mas possui ape- REVISÃO DO CONCEITO
nas duas moléculas de ácido graxo ligadas ao glicerol, e não três. 1. Compare a estrutura de uma gordura (triglicerídeo) com a
O terceiro grupo hidroxila do glicerol está ligado a um grupo fos- de um fosfolipídeo.
fato, com carga elétrica negativa. Pequenas moléculas adicionais, 2. Por que os hormônios sexuais humanos são considerados
geralmente carregadas ou polares, podem estar ligadas ao grupo lipídeos?
fosfato para formar uma grande variedade de fosfolipídeos. 3. E SE...? Imagine uma membrana cobrindo uma gotí-
As duas extremidades dos fosfolipídeos apresentam compor- cula de óleo, como ocorre nas células das sementes das
tamentos distintos em relação à água. As caudas hidrocarbona- plantas. Descreva e explique a forma que essa membrana
das são hidrofóbicas e se afastam da água. No entanto, o grupo pode ter.
fosfato e seus ligantes formam uma cabeça hidrof ílica com afi-
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
nidade pela água. Quando fosfolipídeos são adicionados à água,
arranjam-se em agregados de camada dupla – bicamadas – que
protegem as porções hidrofóbicas da água (Figura 5.14).
Na superf ície celular, os fosfolipídeos estão arranjados em 5.4 As proteínas têm ampla gama de
bicamadas semelhantes. As cabeças hidrof ílicas das moléculas fi-
cam na camada externa, em contato com as soluções aquosas no estruturas e funções
interior e no exterior da célula. As caudas hidrofóbicas apontam Quase todas as funções dinâmicas de um organismo vivo de-
para o interior da bicamada, longe da água. A bicamada fosfolipí- pendem das proteínas. De fato, a importância das proteínas está
dica forma uma barreira entre a célula e o ambiente externo. De implícita no nome, que vem do grego proteios, “em primeiro lu-
fato, as células não poderiam existir sem os fosfolipídeos. gar”. As proteínas contribuem com mais de 50% da massa seca
da maioria das células e são imprescindíveis em quase tudo que
Esteroides os organismos fazem. Algumas proteínas aceleram reações quí-
Muitos hormônios, assim como o colesterol, são esteroides, lipí- micas, ao passo que outras desempenham papéis estruturais, de
deos que se caracterizam por um esqueleto carbônico composto armazenamento, transporte, comunicação, movimento e defesa
de quatro anéis fusionados (Figura 5.15). Os diferentes esteroides contra substâncias estranhas ao organismo (Tabela 5.1).
78 C a mpbe ll & Col s .
A vida não seria possível sem enzimas, em sua maioria pro- carga” que mantêm as células funcionando e desempenhando as
teínas. Proteínas enzimáticas regulam o metabolismo, atuando suas funções nos processos da vida.
como catalisadores que aceleram seletivamente as reações quí- Um humano possui dezenas de milhares de proteínas dife-
micas sem serem consumidos pela reação (Figura 5.16). As en- rentes, com estrutura e função específicas. De fato, as proteínas
zimas são capazes de desempenhar suas funções repetidamen- são as moléculas mais sofisticadas estruturalmente. De forma
te; por isso, essas moléculas podem ser consideradas “burros de consistente com suas diferentes funções, elas variam bastante em
estrutura, e cada tipo de proteína possui formato tridimensional
único.
1 O sítio ativo está disponível 2 O substrato se liga
para uma molécula de à enzima.
substrato, o reagente em Polipeptídeos
que a enzima atua.
Com toda a sua diversidade, todas as proteínas são polímeros
construídos a partir do mesmo conjunto de 20 aminoácidos. Po-
Substrato límeros de aminoácidos são chamados de polipeptídeos. Uma
(sacarose)
proteína consiste em um ou mais polipeptídeos, cada um enove-
lado e estruturado em uma estrutura tridimensional específica.
Glicose
Monômeros de aminoácidos
Enzima Todos os aminoácidos compartilham uma estrutura comum. Os
(sacarase)
OH
H2O
aminoácidos são moléculas orgânicas Carbono ␣
Frutose com grupos carboxila e amino (ver Ca- R
H O
pítulo 4). A ilustração à direita mostra
HO N C C
a fórmula geral de um aminoácido. No H OH
centro do aminoácido existe um car- H
bono assimétrico chamado de carbono Grupo Grupo
alfa (␣). Seus quatro ligantes distintos amino carboxila
são o grupo amino, o grupo carboxila,
4 Os produtos são 3 O substrato é convertido um átomo de hidrogênio e um grupo variável, simbolizado por
liberados. em produtos.
R. O grupo R, também chamado de cadeia lateral, difere em cada
Figura 5.16 O ciclo catalítico de uma enzima. A enzima sacarase aminoácido.
acelera a hidrólise da sacarose em glicose e frutose. Agindo como catali- A Figura 5.17 mostra os 20 aminoácidos que a célula utili-
sador, a proteína sacarase não é consumida durante o ciclo e se mantém
za para construir milhares de proteínas. Aqui, os grupos amino e
disponível para futuras catálises.
B i o l o gi a 79
S
NH
CH2 CH2
CH2 CH2 CH2 H2C CH2
O O O O
H3N+ C C H3 N+ C C H3N+ C C H2N+ C C
O– O– O– O–
H H H H
Metionina Fenilalanina Triptofano Prolina
(Met ou M) (Phe ou F) (Trp ou W) (Pro ou P)
OH NH2 O
NH2 O C
OH SH C CH2
OH CH3
Polares CH2
CH2 CH CH2 CH2 CH2
O O O O O O
H3N+ C C H3 N+ C C H3 N+ C C H3N+ C C H3N+ C C H3 N+ C C
O– O– O– O– H O– O–
H H H H H
Serina Treonina Cisteína Tirosina Asparagina Glutamina
(Ser ou S) (Tre ou T) (Cis ou C) (Tir ou Y) (Asn ou N) (Gln ou Q)
Básicos
Ácidos NH2
NH3+ C NH2+
O– O CH2 NH
Eletricamente C CH2 CH2 NH+
carregados O– O
C CH2 CH2 CH2 NH
CH2 CH2 CH2 CH2 CH2
O O O O O
H3N+ C C H3N+ C C H3N+ C C H3N+ C C H3N+ C C
H O– H O– O– O– O–
H H H
Ácido aspártico Ácido glutâmico Lisina Arginina Histidina
(Asp ou D) (Glu ou E) (Lis ou K) (Arg ou R) (His ou H)
Figura 5.17 Os 20 aminoácidos das pro- ácidos são mostrados na forma ionizada predo- noácidos utilizados nas proteínas são o mesmo
teínas. Os aminoácidos foram agrupados aqui minante em pH 7,2, o pH do interior das células. enantiômero, chamado de forma L, conforme
de acordo com as propriedades das cadeias late- O código de três letras e o mais comum código mostrado aqui (ver Figura 4.7).
rais (grupos R), destacadas em branco. Os amino- de uma letra estão em parênteses. Todos os ami-
80 C a mpbe ll & Col s .
Sulco
Sulco
(a) O modelo de fitas mostra como uma única cadeia polipeptídica se (b) O modelo de preenchimento espacial mostra com maior clareza a
dobra e enrola para formar uma proteína funcional. (As linhas amarelas forma globular observada em muitas proteínas, assim como a estrutura
representam um tipo de ligação química que estabiliza a estrutura tridimensional especial da lisozima.
das proteínas.)
Figura 5.19 A estrutura de uma proteína, a enzima lisozima. Presente no suor, nas lágrimas e na saliva, a lisozima é uma enzima que ajuda a
prevenir infecções por meio da ligação e destruição de moléculas específicas encontradas na superfície de diversos tipos de bactérias. O sulco é a porção
da proteína que reconhece e se liga às moléculas-alvo das paredes bacterianas.
Quando uma célula sintetiza um polipeptídeo, em geral a Os quatro níveis da estrutura de proteínas
cadeia se dobra espontaneamente, assumindo a estrutura fun- Com o objetivo de compreender o funcionamento de uma pro-
cional da proteína. O dobramento é direcionado e reforçado pela teína, o estudo da sua estrutura é frequentemente produtivo. Ape-
formação de uma série de ligações entre partes da cadeia, a qual sar da sua grande diversidade, todas as proteínas compartilham
por sua vez depende da sequência de aminoácidos. Muitas pro- três níveis de estrutura, conhecidos como estrutura primária, se-
teínas são esféricas (proteínas globulares), e outras possuem a cundária e terciária. Um quarto nível, a estrutura quaternária, é
forma de fibras alongadas (proteínas fibrosas). Mesmo em cada observado quando uma proteína é composta por duas ou mais
uma destas categorias gerais, um número incontável de varia- cadeias polipeptídicas. A Figura 5.21, nas próximas duas pági-
ções é observado. nas, descreve esses quatro níveis da estrutura de proteínas. Não
A estrutura específica de uma proteína determina a sua fun- deixe de estudar esta figura antes de avançar à próxima seção.
ção. Em quase todos os casos, a função da proteína depende da
habilidade de reconhecer e ligar-se a outra molécula. Num exem- Proteína do anticorpo Proteína do vírus da gripe
plo notável da relação entre forma e função, a Figura 5.20 mostra
a complementariedade perfeita entre as estruturas de um anti-
corpo (uma proteína do corpo) e uma substância particular no
vírus da gripe, à qual o anticorpo se liga e marca para a destrui-
ção. Um segundo exemplo é a enzima, que precisa reconhecer e
ligar-se fortemente a seu substrato, a substância sobre a qual a
enzima atua (ver Figura 5.16). Aprendemos, no Capítulo 2, que
moléculas naturais de sinalização, chamadas de endorfinas, se li-
gam a proteínas receptoras específicas na superf ície das células
do cérebro dos humanos, produzindo euforia e aliviando a dor. A
morfina, a heroína e outras drogas opioides são capazes de mi-
metizar as endorfinas, pois todas compartilham uma estrutura
similar à estrutura das endorfinas e, portanto, podem encaixar-se
e ligar-se aos receptores para endorfinas presentes no cérebro.
Esse encaixe é altamente específico, algo como uma chave para a Figura 5.20 Um anticorpo se liga a uma proteína do vírus da
fechadura (ver Figura 2.18). Assim, a função de uma proteína – gripe. A técnica denominada cristalografia por difração de raios X foi uti-
por exemplo, a habilidade de uma proteína receptora identificar e lizada para gerar um modelo computacional de uma proteína de anticorpo
se associar a uma molécula de sinalização particular para o alívio (azul e laranja, à esquerda) ligada a uma proteína do vírus da gripe (verde e
amarelo, à direita). Programas de computador foram então utilizados para
da dor – é uma propriedade que emerge de uma requintada orga- separar as imagens, revelando a complementaridade exata das estruturas
nização molecular. da superfície das duas proteínas.
82Figura
C a mpbe
5.21ll & Col s .
A estrutura primária é a sequência particular de aminoácidos de uma A maioria das proteínas possui segmentos das cadeias polipeptídicas en-
proteína. Como exemplo, considere a transtiretina, proteína globular rolados ou dobrados repetidamente, em padrões que contribuem para
encontrada no sangue, responsável pelo transporte de vitamina A e de o formato da proteína. Esses caracóis e dobras, referidos coletivamente
um dos hormônios da tireoide pelo corpo. Cada uma das quatro cadeias como estrutura secundária, são o resultado de pontes de hidrogênio en-
polipeptídicas idênticas que se associam para formar a transtiretina é tre constituintes repetitivos da principal cadeia polipeptídica (e não das
composta por 127 aminoácidos. Aqui é mostrada uma dessas cadeias, cadeias laterais dos aminoácidos). Tanto os átomos de oxigênio quan-
desenrolada, para uma visão mais atenta de sua estrutura primária. Cada to os de nitrogênio da cadeia principal são eletronegativos, com cargas
aminoácido específico, dentre os 20 possíveis, é indicado aqui pelo có- parciais negativas (ver Figura 2.16). O átomo de hidrogênio fracamente
digo de três letras, ocupando cada uma das 127 posições ao longo da positivo ligado ao átomo de nitrogênio possui afinidade pelo átomo de
cadeia. A estrutura primária é como a ordem das letras em uma pala- oxigênio de uma ligação peptídica próxima. Individualmente, essas pon-
vra muito longa. Deixadas ao acaso, haveria 20127 maneiras distintas de tes de hidrogênio são fracas, mas como são repetidas diversas vezes em
compor uma cadeia polipeptídica com 127 aminoácidos de extensão. No uma região relativamente extensa da cadeia polipeptídica, conseguem
entanto, a exata estrutura primária de uma proteína é determinada não manter uma estrutura particular em determinadas porções da proteína.
pela associação aleatória de aminoácidos, mas pela informação genética Um exemplo de estrutura secundária é a ␣-hélice, um solenoide deli-
hereditária. cado unido através de pontes de hidrogênio entre aminoácidos localizados
a cada quatro posições, conforme mostrado acima. Embora a transtiretina
Glu IIe possua apenas uma região de ␣-hélices (ver estrutura terciária), uma pro-
Asp
Thr teína globular possui muitas regiões de ␣-hélices separadas por regiões
75 Lys não helicoidais. Algumas proteínas fibrosas, como a queratina-␣, a pro-
Ser teína estrutural do cabelo, apresentam formação em ␣-hélice por quase
Lys Trp Tyr todo o seu comprimento.
Leu Ala
Gly 80 O outro tipo principal de estrutura secundária é a folha  pregueada.
IIe Conforme mostrado acima, nesta estrutura, duas ou mais regiões da ca-
Ser 90
deia polipeptídica, dispostas lado a lado, estão conectadas com pontes de
85 Pro Phe
His Glu
His
hidrogênio entre as partes de duas cadeias principais paralelas. Essas fo-
Ala lhas laminares compõem o núcleo de diversas proteínas globulares, como
Glu
no caso da transtiretina, e predominam em algumas proteínas fibrosas,
Val incluindo a proteína da seda da teia da aranha. O trabalho conjunto de
Ala Thr Phe Val tantas pontes de hidrogênio torna cada fibra de seda da teia da aranha
Asn
95 IIe mais forte que um cabo de aço de igual peso.
Asp Thr Ala
Tyr
Arg
Ser Arg 105 Ala
100 Gly Pro
110 Leu
Leu
As glândulas abdominais da aranha
115 Ser secretam fibras de seda compostas
Tyr Pro por uma proteína estrutural que
Ser
Ser Tyr apresenta folhas β pregueadas.
Thr
Thr Os fios radiais da teia, feitos por
120
Ala fibras de seda secas, mantêm o
Val O formato da teia.
Val Lys Glu C
Thr Asn Pro
O– As fibras espirais (linhas de
125
Terminação carboxila captura) são elásticas, esticando-se
em resposta ao vento,
à chuva e ao toque de insetos.
B i o l o gi a 83
Sobreposto ao padrão de estruturas secundárias de uma proteína, está a Algumas proteínas são formadas por duas ou mais cadeias polipeptídicas
estrutura terciária, mostrada acima para o polipeptídeo da transtireti- agregadas em uma macromolécula funcional. A estrutura quaternária
na. Enquanto a estrutura secundária envolve interações entre constituin- é a estrutura final da proteína, resultante da agregação das subunidades
tes da cadeia principal, a estrutura terciária é o formato de um polipep- polipeptídicas. Por exemplo, acima vemos a proteína globular da trans-
tídeo, resultante das interações entre as cadeias laterais (grupos R) de tiretina completa, composta por quatro cadeias polipeptídicas. Outro
diversos aminoácidos. Um tipo de interação que contribui para a estru- exemplo é o colágeno, mostrado abaixo, à esquerda, uma proteína fibro-
tura terciária é – de modo um tanto enganoso – chamado de interação sa com subunidades helicoidais enroladas em tripla hélice, conferindo
hidrofóbica. À medida que um polipeptídeo se dobra na sua estrutura grande força a suas longas fibras. Isso habilita as fibras de colágeno para
funcional, os aminoácidos com cadeias laterais hidrofóbicas (apolares) as suas funções como constituintes do tecido conectivo da pele, ossos,
geralmente se agrupam no interior da proteína, longe do contato com a tendões, ligamentos e outras partes do corpo (o colágeno é responsá-
água. Dessa forma, a chamada interação hidrofóbica é, na verdade, cau- vel por 40% do total de proteínas no corpo humano). A hemoglobina, a
sada pela ação das moléculas de água, que excluem substâncias apolares proteína de ligação ao oxigênio nas células vermelhas do sangue, mos-
ao formarem pontes de hidrogênio umas com as outras e com as porções trada abaixo, à direita, é outro exemplo de proteína globular com estru-
hidrof ílicas da proteína. Uma vez que as cadeias laterais de aminoáci- tura quaternária. Ela é composta por quatro subunidades polipeptídicas,
dos apolares estejam agrupadas, as interações de van der Waals ajudam duas de um tipo (“cadeias ␣”) e duas de outro tipo (“cadeias ”). A estru-
a mantê-las unidas. Enquanto isso, pontes de hidrogênio entre cadeias tura secundária das subunidades ␣ e  é composta principalmente por
laterais polares e ligações iônicas entre cadeias laterais carregadas posi- ␣-hélices. Cada subunidade possui um componente não polipeptídico,
tiva e negativamente também ajudam a estabilizar a estrutura terciária. chamado de heme, com um átomo de ferro que se liga ao oxigênio.
Todas essas interações são interações fracas, mas o seu efeito conjunto é
responsável pela conformação ímpar da proteína.
A forma de uma proteína pode ser reforçada por ligações covalentes Cadeia Cadeias β
adicionais, chamadas de pontes dissulfeto. Pontes dissulfeto se formam polipeptídica
onde dois monômeros de cisteína, aminoácidos com grupos sulfidrila
(–SH) nas cadeias laterais (ver Figura 4.10), se aproximam devido à do-
bra da proteína. O enxofre de uma cisteína se liga ao enxofre da segunda
cisteína, e a ponte
Interações
dissulfeto (–S–S–)
hidrofóbicas
une partes da pro- e interações de
CH CH
teína (ver as linhas 2 van der Waals
amarelas na Figu- H3C CH3
O
ra 5.19a). Todos H H3C CH3 Cadeia
esses tipos de liga- CH polipeptídica
O principal
ções podem ocor- Ponte de Ferro
rer na proteína, HO C hidrogênio Heme
conforme mostra-
do aqui em uma CH2 CH2 S S CH2
Cadeias α
pequena porção
Ponte dissulfeto Hemoglobina
de uma proteína
hipotética. O Colágeno
(CH2)4 NH3+ –O C CH2
Ligação iônica
84 C a mpbe ll & Col s .
Anemia falciforme: uma alteração na estrutura primária O que determina a estrutura de uma proteína?
Mesmo alterações sutis na estrutura primária podem afetar a Aprendemos que a estrutura única confere a cada proteína uma fun-
estrutura e a função de uma proteína. Por exemplo, a anemia ção específica. Mas quais fatores essenciais determinam a estrutura
falciforme, uma doença sanguínea hereditária, é causada pela de uma proteína? Você já sabe boa parte da resposta: as cadeias po-
substituição de um aminoácido (valina) pelo aminoácido que lipeptídicas com sequências específicas de aminoácidos são capazes
normalmente ocuparia essa posição (ácido glutâmico) específica de se dobrar espontaneamente em uma estrutura tridimensional
na estrutura primária da hemoglobina, a proteína que transporta determinada e mantida por interações responsáveis pelas estrutu-
o oxigênio nas células vermelhas do sangue. As células vermelhas ras secundária e terciária. Esse dobramento normalmente ocorre à
do sangue normais possuem formato bicôncavo. Porém, na ane- medida que a proteína é sintetizada no interior da célula. No en-
mia falciforme, as moléculas anormais de hemoglobina tendem tanto, a estrutura de uma proteína também depende das condições
a se cristalizar, deixando algumas células com formato de foice f ísicas e químicas no ambiente da proteína. Se pH, concentração de
(Figura 5.22). Portadores dessa doença têm constantes “crises de sal, temperatura ou outros aspectos do ambiente forem alterados, a
células falciformes”, que ocorrem quando as células angulares en- proteína pode se desenrolar e perder a forma original, em uma alte-
topem pequenos vasos sanguíneos, obstruindo o fluxo sanguíneo. ração chamada de desnaturação (Figura 5.23). Por ter um formato
As consequências nesses pacientes são um exemplo dramático de errôneo, a proteína desnaturada é biologicamente inativa.
como uma pequena alteração na estrutura proteica pode causar A maioria das proteínas se torna desnaturada se for transferida
efeitos devastadores em sua função. do ambiente aquoso para solvente orgânico, como éter ou cloro-
Região
Estruturas Estruturas hidrofóbica
secundária Subunidade  secundária exposta Subunidade 
e terciária e terciária
 ␣
␣

Estrutura Hemoglobina Estrutura Hemoglobina
quaternária normal quaternária falciforme
(vista superior) ␣

 ␣
Figura 5.22 Uma só substituição de aminoácido em uma proteína causa a anemia falciforme. Para mostrar com cla-
reza a formação das fibras, a orientação das moléculas de hemoglobina mostradas aqui é diferente da mostrada na Figura 5.21.
B i o l o gi a 85
Proteína
enovelada
corretamente
Polipeptídeo Figura 5.24 A ação de
Tampa uma chaperonina. A ima-
gem gráfica gerada por com-
putador (à esquerda) mostra o
grande complexo da proteína
Cilindro chaperonina. É o seu espaço
oco interior que provê um abrigo
para o dobramento correto
de polipeptídeos recém-sinte-
tizados. O complexo é forma-
Chaperonina Etapas de ação 2 A tampa se liga ao cilindro, 3 A tampa se desliga e do por duas proteínas. Uma
(plenamente montada) da chaperonina fazendo ele mudar de forma a proteína dobrada proteína é um cilindro oco e a
1 Um polipeptídeo desen- e criando um ambiente corretamente é outra é uma tampa que pode
rolado entra no cilindro hidrofílico para o dobramento liberada. se ligar a qualquer uma das
por uma extremidade. do polipeptídeo. extremidades do cilindro.
86 C a mpbe ll & Col s .
Kornberg e colaboradores da Universidade de Stanford utilizaram austríacos utilizaram computadores para analisar as sequências
essa metodologia para elucidar a estrutura da RNA-polimerase, e as estruturas de 129 alérgenos proteicos comuns em plantas
enzima de papel crucial na expressão gênica (Figura 5.25). Outro causadoras de alergias. Eles foram capazes de classificar todos
método utilizado é a espectroscopia por ressonância magnética esses alergénos em 20 famílias de proteínas, de um total de 3.849
nuclear (RMN), que não exige a cristalização das proteínas. famílias e 65% em apenas 4 famílias. Esse resultado sugere que a
Uma metodologia ainda mais recente utiliza a bioinformática estrutura compartilhada dessas famílias de proteínas exerce um
(ver o Capítulo 1) para predizer a estrutura 3-D de polipeptídeos papel na geração de respostas alérgicas. Essas estruturas podem
a partir da sequência de aminoácidos. Em 2005, pesquisadores ser alvos de novos medicamentos para alergia.
A cristalografia de raios X, a espectroscopia NMR e a bioin-
formática são abordagens complementares para a compreensão
da estrutura das proteínas; juntas, nos fornecem informações va-
Figura 5.25 Pesquisa liosas acerca da função das proteínas.
O que a estrutura 3-D da enzima RNA-polimerase
II nos diz sobre a sua função? REVISÃO DO CONCEITO
Fonte de
raios X Feixe de
Raios X 5.5 Os ácidos nucleicos armazenam
Cristal Detector digital Padrão de difração e transmitem a informação
de raios X
hereditária
RESULTADOS Utilizando os dados obtidos do padrão de difração de Se a estrutura primária de um polipeptídeo determina a estrutura
raios X, assim como a sequência de aminoácidos determinada por méto-
dos químicos, Kornberg e colaboradores construíram um modelo 3-D do da proteína, o que determina a estrutura primária? A sequência
complexo, com o auxílio de programas de computador. de aminoácidos de um polipeptídeo é programada pela unidade
hereditária, conhecida como gene. Os genes são compostos por
RNA-
polimerase II DNA, um polímero que pertence à classe de compostos conheci-
dos como ácidos nucleicos.
DNA
Os papéis dos ácidos nucleicos
RNA Os dois tipos de ácidos nucleicos, ácido desoxirribonucleico
(DNA) e ácido ribonucleico (RNA), permitem que os organis-
mos vivos reproduzam seus componentes complexos de uma ge-
ração para a outra. Sem paralelo entre as moléculas, o DNA for-
nece instruções para a sua própria replicação. O DNA também
controla a síntese de RNA e, por meio do RNA, controla a síntese
CONCLUSÃO Pela análise do modelo, os pesquisadores desenvol-
de proteínas (Figura 5.26).
veram a hipótese acerca das funções das diferentes regiões da RNA-poli- O DNA é o material genético que os organismos herdam dos
merase II. Por exemplo, a região acima do DNA pode funcionar como um pais. Cada cromossomo contém uma longa molécula de DNA, que
grampo que mantém os ácidos nucleicos no lugar. (Vamos aprender mais
tipicamente possui mais de centenas de genes. Quando uma célu-
sobre essa enzima no Capítulo 17.)
la se reproduz por divisão, suas moléculas de DNA são copiadas e
FONTE A. L. Gnatt et al., Structural basis of transcription: an RNA
polymerase II elongation complex at 3.3Å, Science 292:1876-1882 (2001).
passadas de uma geração de células para a outra. As informações
que programam todas as atividades celulares são codificadas na es-
E SE...? Se você fosse um dos autores do artigo e estivesse descreven-
trutura do DNA. O DNA, no entanto, não está envolvido direta-
do o modelo, que tipo de estrutura proteica atribuiria ao pequeno poli-
peptídeo espiral em verde, no centro do modelo? mente na realização dessas operações, assim como um programa de
computador não é capaz de imprimir sozinho um extrato bancário
B i o l o gi a 87
Purinas
O 5‘C NH2 O
O
–O P O CH2
O N C N C
C N C NH
O– HC HC
Grupo N C CH N C C
3‘C N N NH2
fosfato Base H H
5‘C O nitrogenada Adenina (A) Guanina (G)
H H H H
Figura 5.27 Componentes dos ácidos nucleicos. (a) Um polinucleotí- 3‘ 2‘ 3‘ 2‘
deo possui uma cadeia principal açúcar-fosfato com ligantes variáveis, as bases OH H OH OH
nitrogenadas. (b) Um monômero de nucleotídeo inclui a base nitrogenada, o
açúcar e o grupo fosfato. Sem o grupo fosfato, a estrutura é chamada de nu- Desoxirribose (no DNA) Ribose (no RNA)
cleosídeo. (c) Um nucleosídeo inclui a base nitrogenada (purina ou pirimidina) e
um açúcar de cinco carbonos (desoxirribose ou ribose). (c) Componentes dos nucleosídeos.
88 C a mpbe ll & Col s .
A estrutura dos ácidos nucleicos A sequência de bases ao longo de um polímero de DNA (ou
RNAm) é especial para cada gene e fornece informações bem es-
Os ácidos nucleicos são macromoléculas que existem como polí-
pecíficas para a célula. Como os genes possuem de centenas a
meros chamados de polinucleotídeos (Figura 5.27a). Conforme
milhares de nucleotídeos de extensão, o número de sequências
o nome indica, cada polinucleotídeo é composto por monômeros
de bases possíveis é praticamente ilimitado. O significado de um
chamados de nucleotídeos. Um nucleotídeo, por sua vez, con-
gene para a célula é codificado na sequência específica das quatro
siste em três partes: uma base nitrogenada, um açúcar de cinco
bases do DNA. Por exemplo, a sequência AGGTAACTT tem um
carbonos (pentose) e um grupo fosfato (Figura 5.27b). A porção
significado, ao passo que a sequência CGCTTTAAC tem outro
dessa unidade sem o grupo fosfato é chamada de nucleosídeo.
significado. (Genes inteiros são, obviamente, muito mais longos.)
Monômeros de nucleotídeos A ordem linear de bases de um gene especifica a sequência de
aminoácidos – a estrutura primária – de uma proteína, que de-
Para compor um nucleotídeo, vamos considerar inicialmente os
termina, por sua vez, a estrutura tridimensional da proteína e a
dois componentes do nucleosídeo: a base nitrogenada e o açúcar
sua função na célula.
(Figura 5.27c). Existem duas famílias de bases nitrogenadas: piri-
midinas e purinas. Uma pirimidina possui um anel de seis átomos,
carbono e nitrogênio. (Os átomos de nitrogênio tendem a aceitar
A dupla-hélice do DNA
H⫹ da solução; isso explica por que são chamados de bases nitro- As moléculas de RNA da célula são formadas por uma só cadeia
genadas.) Os membros da família das pirimidinas são: citosina (C), polinucleotídica, conforme mostrado na Figura 5.27. As molécu-
timina (T) e uracila (U). As purinas são maiores, com um anel de las de DNA, em contraste, possuem duas cadeias polinucleotídi-
seis átomos fusionado a um anel de cinco átomos. As purinas são: cas que se espiralam ao redor de um eixo imaginário, formando
adenina (A) e guanina (G). As pirimidinas e purinas diferem quan- uma dupla-hélice (Figura 5.28). James Watson e Francis Crick,
to aos grupos químicos ligados aos anéis. Adenina, guanina e cito- trabalhando na Universidade de Cambridge, foram os primeiros a
sina são observadas nos dois tipos de ácidos nucleicos; a timina é propor a dupla-hélice como a estrutura tridimensional do DNA,
observada apenas no DNA, e a uracila apenas no RNA. em 1953. As duas cadeias principais açúcar-fosfato possuem
O açúcar ligado à base nitrogenada é uma ribose nos nucleo- direções 5’ → 3’ opostas, arranjo referido como antiparalelo,
tídeos do RNA e uma desoxirribose no DNA (ver a Figura 5.27c). algo como uma estrada de mão dupla. As cadeias principais açú-
A única diferença entre esses dois açúcares é que a desoxirribo- car-fosfato estão localizadas na parte externa da hélice, e as bases
se tem um átomo de oxigênio a menos ligado ao segundo átomo nitrogenadas estão pareadas no interior da hélice. Os dois poli-
de carbono do anel, daí o nome desoxirribose. Como os átomos nucleotídeos, ou apenas cadeias, como são chamadas, são unidas
das bases nitrogenadas e do açúcar são numerados, os átomos do por pontes de hidrogênio entre os pares de bases e por interações
açúcar têm apóstrofe (‘) após o número para distingui-los. Assim, de van der Waals entre os dímeros de bases. Muitas moléculas de
o segundo carbono no anel do açúcar é o carbono 2’ (“2 linha”), e DNA são bastante longas, com milhares e até milhões de pares
o carbono que se destaca do anel é o carbono 5’. de base conectando as duas cadeias. Uma longa cadeia de DNA
Até agora, montamos um nucleosídeo. Para completar a com- dupla-hélice inclui diversos genes, em diferentes segmentos es-
posição do nucleotídeo, precisamos ligar um grupo fosfato ao car- pecíficos da molécula.
bono 5’ do açúcar (ver a Figura 5.27b). Agora, a molécula é um Apenas certas bases na dupla-hélice são compatíveis com
nucleosídeo monofosfato, mais conhecido como nucleotídeo. outras. Adenina (A) sempre pareia com timina (T); guanina (G)
sempre pareia com citosina (C). Se lermos a sequência de bases
Polímeros de nucleotídeos ao longo de uma cadeia conforme percorremos o comprimen-
Agora podemos analisar como esses nucleotídeos são unidos para to da dupla-hélice, saberemos a sequência de bases ao longo da
compor um polinucleotídeo. Moléculas adjacentes de nucleotí- outra cadeia. Se uma porção de uma cadeia possui a sequência
deos são unidas através de uma ligação fosfodiéster, que consiste de bases 5’-AGGTCCG-3’, a regra de pareamento de bases nos
em um grupo fosfato ligando dois açúcares de dois nucleotídeos. diz que essa mesma porção na cadeia complementar deve ter a
Essa ligação resulta na cadeia principal com padrão de repetição sequência 3’-TCCAGGC-5’. As duas cadeias na dupla-hélice são
de unidades de açúcar-fosfato (ver a Figura 5.27a). As duas ex- complementares, ou seja, cada uma é o complemento previsível
tremidades livres do polímero são diferentes uma da outra. Uma da outra. Essa característica do DNA torna possível a exata cópia
extremidade apresenta um grupo fosfato ligado ao carbono 5’ e genética responsável pela hereditariedade (ver a Figura 5.28). Na
a outra apresenta um grupo hidroxila ligado ao carbono 3’, e nos preparação para a divisão celular, cada uma das duas cadeias ser-
referimos a elas como extremidade 5’ e 3’, respectivamente. Po- ve de molde para a ordem de nucleotídeos na nova cadeia com-
demos afirmar que uma cadeia de DNA é composta de maneira plementar. Como resultado, surgem duas novas cópias idênticas
direcional ao longo da cadeia principal açúcar-fosfato, da extre- da molécula de DNA dupla-hélice original, então divididas entre
midade 5’ para 3’, assim como uma rua de mão única. Ao longo da as duas células-filhas. Assim, a estrutura do DNA contribui para
cadeia principal açúcar-fosfato estão localizados os seus ligantes, a sua função na transmissão da informação genética sempre que
as bases nitrogenadas. a célula se reproduz.
B i o l o gi a 89
DNA e proteínas: novas fitas métricas 67 aminoácidos. (Claramente, essas alterações não tornam a pro-
da evolução teína não funcional.) A biologia molecular adicionou uma nova
fita métrica à caixa de ferramentas que os biólogos utilizam para
Estamos acostumados a pensar em características compartilha-
determinar as relações evolutivas.
das, como pelagem e produção de leite nos mamíferos, como
evidência de um ancestral comum. Compreendemos agora que
REVISÃO DO CONCEITO
o DNA comporta a informação hereditária nos genes; por isso,
podemos estudar esses genes e seus produtos (proteínas) como 1. Na Figura 5.27a, numere todos os átomos de carbono nos
evidências do passado hereditário de um organismo. As sequên- açúcares para os três primeiros nucleotídeos, circule as ba-
cias lineares de nucleotídeos nas moléculas de DNA são passadas ses nitrogenadas e marque os grupos fosfato com asteriscos.
dos pais para a prole; essas sequências determinam as sequências 2. Numa molécula de DNA dupla-hélice, uma região ao
de aminoácidos das proteínas. Irmãos e irmãs são muito mais longo das cadeias possui esta sequência de bases nitroge-
semelhantes nas sequências de DNA e proteínas do que indiví- nadas: 5’-TAGGCCT-3’. Copie essa sequência e escreva a
duos não aparentados da mesma espécie. Levando em conta a sequência complementar, indicando claramente as extre-
visão evolucionária da vida, podemos estender esse conceito de midades 5’ e 3’.
“genealogia molecular” para as relações entre as espécies. Em ou- 3. E SE...? (a) Suponha que tenha ocorrido uma substi-
tras palavras, podemos esperar que duas espécies que pareçam tuição na cadeia de DNA dupla fita da questão 2, resultan-
próximas com base no registro fóssil e nas evidências anatômicas do em:
também compartilhem grande parte das sequências de DNA e 5’-TAAGCCT-3’
proteínas, mais do que espécies de relacionamento distante. De 3’-ATCCGGA-5’
fato, isso é verdadeiro. Um exemplo é a comparação da cadeia
Desenhe as duas cadeias; circule e marque as bases com
polipeptídica da hemoglobina humana com o polipeptídeo da he-
pareamento errado. (b) Se a cadeia superior modificada
moglobina correspondente em cinco outros vertebrados. Nessa
fosse replicada, qual seria a cadeia complementar?
cadeia de 146 aminoácidos, humanos e gorilas diferem em ape-
nas um aminoácido, ao passo que humanos e sapos diferem em Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
A Extremidade 3’
C
C
T
T
A
Extremidade 5’
propriedades. Completando nossa visão geral
G
A
T
C
C
A
Cadeias
T
novas
A
T
G
A
A
T
T
Extremidade 3’
G
T
A
Grandes moléculas
biológicas Componentes Exemplos Funções
Item 5.2 CH2OH Monossacarídeos: glicose, frutose Combustível, fontes de carbono que podem
Carboidratos servem como H O H ser convertidas em outras moléculas ou com-
H Dissacarídeos: lactose, sacarose binadas em polímeros
combustível e material de OH H
construção (p. 69-74) HO OH
Polissacarídeos: • Reforço das paredes celulares das plantas
H OH
• Celulose (plantas) • Armazenamento de glicose para energia
Monômero de monossacarídeo • Amido (plantas) • Armazenamento de glicose para energia
• Glicogênio (animais) • Reforço do exoesqueleto e das paredes ce-
• Quitina (animais) lulares dos fungos
Item 5.3 Glicerol Triacilgliceróis (gorduras e óleos): Importante fonte de energia
Os lipídeos são um grupo glicerol ⫹ 3 ácidos graxos
diversificado de moléculas 3 ácidos graxos
hidrofóbicas (p. 74-77)
glicosídicas clivadas
das com o mesmo número de átomos de carbono. adoçantes artificiais, cientistas
% de ligações
e. possuem menor número de ácidos graxos por molécula. alemães hidrolisaram o amido
5. O nível estrutural de uma proteína menos afetado pela perda de de trigo. Adicionaram ácido 50
Os organismos são compostos de matéria, e a matéria é feita de elementos. Hoje em dia são
reconhecidos 92 elementos químicos, sendo que destes, aproximadamente 25 são conhecidos
por serem essenciais para a vida, e quatro compõem 96% da matéria viva: carbono, oxigênio,
hidrogênio e nitrogênio.
EXERCÍCIOS
A) Papel.
B) Sal de cozinha.
C) Cera.
D) Açúcar.
E) Macarrão.
D) Contêm mais átomos de hidrogênio que as gorduras saturadas, com o mesmo número de
átomos de carbono.
A) polinucleotídeos.
B) polipeptídeos.
C) lipídeos.
D) polissacarídeos.
E) adenosina trifosfato.
4) Inúmeras reações químicas ocorrem no interior e fora das células. Estas reações
químicas são bastante aceleradas na presença de um(a):
A) nucleotídeo
B) lipídeo.
C) enzima
D) aminoácido
E) do colesterol
5) Alguns insetos conseguem andar sobre a água. Este fato é explicado pela:
NA PRÁTICA
Uma dieta rica em gordura saturada é um dos vários fatores que contribuem para a doença
cardiovascular conhecida como aterosclerose. Veja:
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
ALBERTS, Bruce et al. Biologia molecular da célula. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. p.
47-67.
TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 12. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2012, p. 26-47.