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A Química da Vida

APRESENTAÇÃO

Veja que a vida como nós conhecemos hoje é um fenômeno digno de surpresa e admiração. O
maior paradoxo dos fenômenos biológicos é a vida só existir por causa das moléculas sem vida.
É difícil acreditar nisto, não é mesmo? Todos os seres vivos são compostos, em sua maior parte,
por quatro elementos: oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio. As múltiplas combinações
desses elementos produz uma extraordinária variedade de compostos químicos, inclusive a água,
a molécula que sustenta toda a vida. Todos os fatores que regulam a vida são mediados pela
química. Nesta Unidade de Aprendizagem você aprenderá como a vida é realmente
extraordinária!

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Apontar as propriedades emergentes da água, importantes para a adequação da vida na


Terra.
• Comparar uma molécula hidrofóbica a uma hidrofílica.
• Identificar as macromoléculas comuns às células.

DESAFIO

Apenas quatro elementos - hidrogênio, oxigênio, carbono e nitrogênio - representam mais de


90% dos átomos do nosso corpo. Outros sete elementos minerais - cálcio, fósforo, potássio,
enxofre, sódio, cloro e magnésio - são encontrados dissolvidos nos líquidos extracelular e
intracelular. Os 13 oligoelementos - Ferro, iodo, cobre, zinco, manganês, cobalto, cromo,
selênio, molibdênio, flúor, estanho, silício e vanádio - são essenciais para o bom funcionamento
do corpo, sendo necessários em quantidades pequenas, mas, sem eles o funcionamento do corpo
fica alterado.

Veja a notícia publicada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária):


"Já está em vigor a resolução RDC 23/2013 que altera a faixa de iodação do sal no Brasil. O
novo texto foi publicado na edição desta quinta-feira (25/4/2013) do Diário Oficial da União. A
Diretoria Colegiada da Anvisa aprovou, no último dia 16 de abril, a adoção de novos valores
para a adição de iodo no sal para consumo humano no Brasil. A faixa aprovada de iodo no sal é
de 15mg/kg a 45 mg/kg; atualmente a faixa é de 20 a 60 mg/kg."
(Portal Anvisa, abril de 2013.).

Seu desafio será fazer uma breve dissertação sobre a importância do iodo no funcionamento do
corpo.

INFOGRÁFICO

O infográfico a seguir apresenta as moléculas da vida:


CONTEÚDO DO LIVRO

Apesar da grande diversidade de vida na Terra, as moléculas de importância crucial para todos
os seres vivos são de apenas quatro classes distintas: carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos
nucleicos. Leia os trechos selecionados do livro Biologia, de Campbell et al., e aprofunde os
seus conhecimentos acerca do assunto.

Boa leitura.
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ÐÎ×ÒÌÛÜ ×Ò ÞÎßÆ×Ô
O Contexto
Químico da Vida
2.1

2.2

2.3

2.4
CONCEITOS-CHAVE
2
A matéria consiste em elementos químicos na forma
pura e em combinações chamadas de compostos
As propriedades de um elemento dependem da
estrutura dos seus átomos
A formação e a função das moléculas dependem das
ligações químicas entre os átomos
As reações químicas formam e quebram ligações
 Figura 2.1 Quem cuida deste jardim?

de uma substância química venenosa. Assim, as formigas criam


espaço para o crescimento das árvores de Duroia, que servem
como sua casa. Com a habilidade de manter e expandir seu hábi-
tat, uma única colônia de formigas do jardim do demônio pode
subsistir por centenas de anos.
O produto químico das formigas utilizado como herbicida no
jardim é o ácido fórmico. Essa substância é produzida por muitas
químicas espécies de formigas. De fato, recebeu seu nome da palavra for-
miga em latim, formica. Em muitos casos, o ácido fórmico prova-
velmente atua como desinfetante, protegendo as formigas contra
VISÃO GERAL parasitas microbiológicas. A formiga do jardim do demônio é a
primeira espécie de formiga a usar o ácido fórmico como herbici-
Uma conexão química para a biologia da. O uso desse produto químico é um importante acréscimo para
A floresta tropical amazônica na América do Sul serve de vitrine a lista de funções mediadas por moléculas químicas no mundo dos
para a diversidade da vida na Terra. Pássaros, insetos e outros insetos. Os cientistas já sabem que os produtos químicos exercem
animais coloridos vivem em meio a uma miríade de árvores, ar- um importante papel na comunicação dos insetos, na atração de
bustos, trepadeiras e flores selvagens. Uma incursão ao longo de parceiros para o acasalamento e na defesa contra os predadores.
cursos d’água ou em trilhas na floresta revela uma luxuriante va- A pesquisa no jardim do demônio é apenas um exemplo da
riedade de plantas. Visitantes das águas nascentes do Amazonas relevância da química para o estudo da vida. Ao contrário de uma
no Peru, portanto, ficam surpresos ao se depararem com uma lista de matérias escolares, a natureza não é ordenada com as-
área de floresta como a vista no primeiro plano da foto na Figura seio dentro de ciências naturais individuais – biologia, química,
2.1. Essa região é quase completamente dominada por uma só f ísica, etc. Os biólogos especializam-se no estudo da vida, mas
espécie de planta – um florescente salgueiro chamado de Duroia organismos e ambientes são sistemas naturais aos quais se apli-
hirsuta. Os viajantes podem cogitar que o jardim é plantado e cam os conceitos da química e da f ísica. A biologia é uma ciência
mantido por habitantes do lugar, mas os nativos ficam tão perple- multidisciplinar.
xos quanto os visitantes. Eles chamam essa área de árvores Du- Os capitulos desta unidade introduzem conceitos básicos
roia de “jardins do demônio”, com base em uma lenda que atri- da química aplicáveis a todo o nosso estudo da vida. Faremos
buiu o jardim a um espírito maligno da floresta. muitas conexões com os temas introduzidos no Capítulo 1. Um
Buscando uma explicação científica, um grupo de pesqui- desses temas é a organização da vida em uma hierarquia de ní-
sadores trabalhando sob a direção de Deborah Gordon, entre- veis estruturais, com propriedades adicionais surgindo em cada
vistada nas páginas 28-29, recentemente solucionou o mistério nível sucessivo. Nesta unidade, veremos como as propriedades
do “jardim do demônio”. A Figura 2.2 descreve o experimento emergentes são evidentes nos níveis mais simples de organiza-
principal. Os pesquisadores mostraram que os “fazendeiros” que ção biológica – como a ordem dos átomos nas moléculas e as
criam e mantêm esses jardins são na verdade formigas que ha- interações dessas moléculas dentro das células. Em alguma parte
bitam o oco do tronco das árvores de Duroia. As formigas não na transição de moléculas para células, atravessaremos a obscura
plantaram as árvores de Duroia, mas impediram o crescimen- fronteira entre o mundo inanimado e o mundo vivo. Este capítulo
to de outras espécies de plantas no jardim por meio da injeção centra-se nos componentes químicos da matéria.
B i o l o gi a 31

 Figura 2.2 Pesquisa 2.1 A matéria consiste em elementos


O que cria “jardins do demônio” na floresta químicos na forma pura e em
tropical? combinações chamadas de
EXPERIMENTO Trabalhando sob a direção de Deborah Gordon e Mi- compostos
chael Greene, a estudante de graduação Megan Frederickson procurou a
causa dos “jardins do demônio”, pequenos capões ou bosques de uma Os organismos são compostos de matéria. Matéria é tudo que
única espécie de árvore: Duroia hirsuta. Uma hipótese era que as formigas
que vivem nessa árvore, Myrmelachista schumanni, produzem uma subs-
ocupa espaço e tem massa.* A matéria apresenta muitas formas di-
tância química venenosa que mata as árvores de outras espécies; noutra ferentes. Pedras, metais, óleos, gases e seres humanos são apenas
hipótese, as próprias árvores Duroia matavam as árvores concorrentes, tal- alguns exemplos do que parece um sortimento infinito de matéria.
vez por meio de um produto químico.
Para testar essas hipóteses, Frederickson fez experimentos de campo no
Peru. Duas mudas de uma espécie de árvore não hospedeira local, Cedrela Elementos e compostos
odorata, foram plantadas em cada um de dez jardins do demônio. Na base
de uma delas, uma barreira protetora contra insetos foi aplicada; a outra foi
A matéria é feita de elementos. O elemento é uma substância que
deixada desprotegida. Mais duas mudas de Cedrela, com e sem barreiras, não pode ser quebrada em outras substâncias por reações quí-
foram plantadas a cerca de 50 metros de distância fora de cada jardim. micas. Hoje em dia, os químicos reconhecem 92 elementos na
Muda de Barreira contra natureza; o ouro, o cobre, o carbono e o oxigênio são exemplos.
Cedrela insetos Cada elemento tem um símbolo, geralmente a letra inicial ou as
Árvore
Duroia Fora, com duas letras iniciais do seu nome. Alguns símbolos são derivados
Dentro, sem proteção do latim ou do alemão; por exemplo, o símbolo do sódio é Na, da
proteção Dentro, com
proteção
palavra latina natrium.
O composto é uma substância que consiste em dois ou mais
elementos diferentes combinados em uma proporção determina-
Jardim do Fora, sem da. O sal de cozinha, por exemplo, é o cloreto de sódio (NaCl),
demônio proteção
composto constituído pelo elemento sódio (Na) e cloro (Cl) na
Os pesquisadores observaram a atividade da formiga nas folhas da Cedrela e proporção 1:1. O sódio puro é um metal e o cloro puro é um gás
mediram as áreas de morte tecidual da folha após um dia. Eles também ana- venenoso. Porém, combinados quimicamente, o sódio e o cloro
lisaram quimicamente o conteúdo das glândulas venenosas das formigas.
formam um composto comestível. A água (H2O), outro com-
RESULTADOS As formigas injetavam a partir das extremidades de posto, consiste nos elementos hidrogênio (H) e oxigênio (O) na
seus abdomens no interior das folhas da muda desprotegida em seus jar-
dins (ver foto). Em um dia, estas folhas desenvolveram áreas mortas (ver
proporção 2:1. Esses são exemplos simples da matéria organizada
gráfico). As mudas protegidas permaneceram ilesas, assim como as mudas com propriedades emergentes: compostos têm características di-
plantadas fora dos jardins. O ácido fórmico foi o único produto químico ferentes das características de seus elementos (Figura 2.3).
detectado nas glândulas de veneno das formigas.
folha (cm2) após um dia

16
Morte tecidual da

12

4 +

0
Dentro, sem Dentro, com Fora, sem Fora, com
proteção proteção proteção proteção
Mudas de Cedrela, dentro e fora dos jardins do demônio

CONCLUSÃO As formigas da espécie Myrmelachista schumanni Sódio Cloro Cloreto de Sódio


mataram as árvores não hospedeiras injetando ácido fórmico nas folhas,
criando um hábitat hospitaleiro (jardins do demônio) para a colônia de  Figura 2.3 As propriedades emergentes de um composto. O me-
formigas. tal sódio combinado com o gás venenoso cloro forma o composto comes-
FONTE tível cloreto de sódio, ou sal de cozinha.
M. E. Frederickson, M. J. Greene, and D. M. Gordon, “Devil’s
garden” bedevilled by ants, Nature 437:495-496 (2005).

Pesquisaemação * Algumas vezes substituímos o termo massa por peso, embora os dois não sejam
Leia e analise o artigo original em Pesquisa em idênticos. Massa é a quantidade de matéria de um objeto, e o peso de um objeto é
Ação: Interpretando Artigos Científicos. o quão fortemente essa massa é atraída pela gravidade. O peso de um astronauta
E SE...? caminhando na Lua é aproximadamente do peso do astronauta na Terra, mas
Quais seriam os resultados se a incapacidade de crescimento
a massa é igual. Porém, como estamos ligados à Terra, o peso de um objeto serve
das mudas sem proteção nos jardins do demônio fosse causada por um
de medida da sua massa. Na linguagem informal, portanto, a tendência é usar os
produto químico liberado pelas árvores Duroia e não pelas formigas? termos intercambiavelmente.
32 C a mpbe ll & Col s .

Elementos essenciais da vida


Aproximadamente 25 dos 92 elementos naturais são conhecidos
por serem essenciais para a vida. Não mais que quatro – carbono
(C), oxigênio (O), hidrogênio (H) e nitrogênio (N) – compõem
96% da matéria viva. Fósforo (P), enxofre (S), cálcio (Ca), potássio
(K) e poucos outros elementos são responsáveis pela maior parte
dos 4% remanescentes do peso de um organismo. A Tabela 2.1
lista por porcentagem os elementos que compõem o corpo hu-
mano; as porcentagens para outros organismos são semelhantes.
A Figura 2.4a ilustra o efeito da deficiência de nitrogênio, um
elemento essencial, em uma lavoura de milho.
Os elementos traço são necessários aos organismos em mí-
nimas quantidades. Alguns elementos traço, como o ferro (Fe), (a) Deficiência de nitrogênio. (b) Deficiência de iodo.
são necessários a todas as formas de vida; outros são necessários
 Figura 2.4 Os efeitos da deficiência de elementos essenciais. (a)
apenas para certas espécies. Por exemplo, em vertebrados (ani-
Esta foto mostra o efeito da deficiência de nitrogênio no milho. Neste ex-
mais com coluna vertebral), o elemento iodo (I) é um ingrediente perimento controlado, as plantas mais altas, à esquerda, crescem em um
essencial do hormônio produzido pela glândula tireoide. A in- solo adubado com nitrogênio, e as plantas menores, à direita, em um solo
gestão diária de apenas 0,15 miligramas (mg) de iodo é adequada pobre em nitrogênio. (b) O bócio é um aumento da glândula tireoide, re-
sultante da deficiência do elemento traço iodo. O bócio desta mulher ma-
para a atividade normal da tireoide humana. Uma deficiência de
lasiana provavelmente pode ser revertido por suplementos de iodo.
iodo na dieta causa o crescimento anormal da glândula tireoide,
condição chamada de bócio (Figura 2.4b). Onde há consumo de
sal iodado, há uma redução na incidência de bócio.
REVISÃO DO CONCEITO

1. Explique como o sal de cozinha tem propriedades emer-


gentes.
2. Um elemento traço é um elemento essencial? Explique.
Tabela 2.1 Elementos que ocorrem naturalmente
no corpo humano 3. E SE...? O ferro (Fe) é um elemento traço necessário
para o funcionamento correto da hemoglobina, a molécu-
Porcentagem do
Número atômico peso do corpo la que carrega oxigênio nas células vermelhas do sangue.
Símbolo Elemento (ver p. 33) humano Qual seria o efeito da deficiência de ferro?
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
Elementos que compõem cerca de 96% do peso do corpo
humano
O Oxigênio 8 65,0
C Carbono 6 18,5 2.2 As propriedades de um elemento
H Hidrogênio 1 9,5
N Nitrogênio 7 3,3
dependem da estrutura dos seus
átomos
Elementos que compõem cerca de 4% do peso do corpo humano
Cada elemento consiste em um certo tipo de átomo diferente dos
Ca Cálcio 20 1,5
átomos de qualquer outro elemento. O átomo é a menor unidade
P Fósforo 15 1,0
da matéria que ainda retém as propriedades de um elemento. Áto-
K Potássio 19 0,4
mos são tão diminutos que seriam necessários cerca de um milhão
S Enxofre 16 0,3
deles para preencher a área do ponto impresso no final desta frase.
Na Sódio 11 0,2 Simbolizamos os átomos com a mesma abreviatura utilizada para o
Cl Cloro 17 0,2 elemento feito desses átomos. Por exemplo, o símbolo C representa
Mg Magnésio 12 0,1 tanto o elemento carbono como um só átomo de carbono.

Elementos que compõem menos que 0,01% do peso do corpo Partículas subatômicas
humano (elementos traço)
Embora o átomo seja a menor unidade com as propriedades de
Boro (B), cromo (Cr), cobalto (Co), cobre (Cu), flúor (F), iodo (I), ferro
(Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), selênio (Se), silício (Si), estanho seu elemento, essas minúsculas partículas da matéria são com-
(Sn), vanádio (V), zinco (Zn) postas de partes ainda menores, chamadas de partículas suba-
tômicas. Os f ísicos dividiram o átomo em mais de cem tipos de
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Nuvem de carga crito abaixo (subscrito) à esquerda do símbolo do elemento. A


negativa (2 elétrons) Elétrons abreviação 2He, por exemplo, significa que o átomo do elemento
hélio tem 2 prótons no núcleo. Exceto quando indicado, um áto-
Núcleo
– – mo é neutro em carga elétrica. Ou seja, seus prótons devem ser
equilibrados por um número igual de elétrons. Portanto, o núme-
ro atômico indica o número de prótons e também o número de
+ + elétrons em um átomo eletricamente neutro.
Podemos deduzir o número de nêutrons a partir de uma se-
+ +
gunda quantidade, o número de massa – a soma dos prótons
mais os nêutrons no núcleo de um átomo. O número de massa é
escrito acima (sobrescrito), à esquerda do símbolo do elemento.
Por exemplo, podemos usar essa abreviatura para escrever um
átomo de hélio como 42He. Como o número atômico indica o nú-
(a) Este modelo representa (b) Este modelo mais simplificado
mero de prótons, podemos determinar o número de nêutrons
os elétrons como uma mostra os elétrons como duas
nuvem de carga negativa. pequenas esferas amarelas em por meio da subtração do número atômico do número de massa:
um círculo em torno do núcleo. o átomo de hélio, 42He, tem 2 nêutrons. Um átomo de sódio, 2311Na,

 Figura 2.5 Modelos simplificados de um átomo de hélio (He). O


tem 11 prótons, 11 elétrons e 12 nêutrons. O átomo mais simples
núcleo do hélio consiste em 2 nêutrons (marrom) e 2 prótons (rosa). Os é o hidrogênio, 11H, sem nêutrons; ele consiste em um único pró-
dois elétrons (amarelo) estão localizados fora do núcleo. Estes modelos não ton e um único elétron.
estão em escala; superestimam bastante o tamanho do núcleo em relação Como mencionado, a contribuição dos elétrons para a massa
à nuvem de elétrons.
é insignificante. Portanto, quase toda a massa do átomo está con-
centrada no núcleo. Como nêutrons e prótons têm massa próxi-
partículas, mas apenas três tipos são relevantes aqui: nêutrons, ma a 1 dalton, o número de massa é uma aproximação da massa
prótons e elétrons. Os prótons e os elétrons são eletricamente total de um átomo, chamada de massa atômica. Assim, podemos
carregados. Cada próton tem uma unidade de carga positiva, e dizer que a massa atômica do sódio (23 11Na) é 23 daltons, embora
cada elétron tem uma unidade de carga negativa. Um nêutron, ela seja mais precisamente 22,9898 daltons.
como seu nome pressupõe, é eletricamente neutro.
Os prótons e os nêutrons são empacotados firmemente em Isótopos
um denso cerne, ou núcleo atômico, situado no centro do áto- Todos os átomos de um determinado elemento têm número igual
mo. O prótons conferem carga positiva ao núcleo. Os elétrons de prótons, mas alguns átomos têm mais nêutrons do que ou-
formam uma espécie de nuvem de carga negativa em volta do tros átomos do mesmo elemento; portanto, têm maior massa.
núcleo. É essa atração entre cargas opostas que mantém os elé- Essas diferentes formas atômicas são chamadas de isótopos do
trons próximos ao núcleo. A Figura 2.5 mostra dois modelos da elemento. Na natureza, um elemento ocorre como uma mistu-
estrutura do átomo de hélio como exemplo. ra dos seus isótopos. Por exemplo, considerando os três isótopos
O nêutron e o próton são praticamente idênticos em massa, do elemento carbono, cujo número atômico é 6. O isótopo mais
cada um com cerca de 1,7 × 1024 gramas (g). Gramas e outras comum é o carbono-12, 126C, que corresponde a cerca de 99% do
unidades convencionais são pouco utilizadas para descrever a carbono na natureza. O isótopo 126C tem 6 nêutrons. A maioria do
massa de objetos tão minúsculos. Portanto, para átomos e par- 1% de carbono restante consiste em átomos do isótopo 136C, com
tículas subatômicas (e também para moléculas), usamos uma 7 nêutrons. Um terceiro raro isótopo, 146C, tem 8 nêutrons. Note
unidade de medida chamada de dalton, em homenagem a John que todos os três isótopos do carbono têm 6 prótons; caso con-
Dalton, o cientista britânico que ajudou a desenvolver a teoria trário, não seriam carbono. Embora os isótopos de um elemento
atômica por volta do ano 1800. (O dalton é o mesmo que unidade tenham uma leve diferença em suas massas, eles se comportam
da massa atômica, ou amu, uma unidade que você talvez tenha de forma idêntica em reações químicas. (O número normalmente
visto em outro lugar.) Nêutrons e prótons têm massas próximas a dado como massa atômica de um elemento, como, por exemplo,
1 dalton. Como a massa de um elétron é apenas da massa do 22,9898 daltons para o sódio, é na verdade a média das massas
nêutron ou próton, podemos ignorar os elétrons quando calcula- atômicas de todos os isótopos naturais do elemento.)
mos a massa total do átomo. Tanto 12C quanto 13C são isótopos estáveis, ou seja, seu nú-
cleo não tem tendência a perder partículas. Entretanto, o isótopo
Número atômico e massa atômica 14
C é instável ou radioativo. No isótopo radioativo, o núcleo de-
Os átomos de vários elementos diferem em seu número de partí- cai espontaneamente, emitindo partículas e energia. Quando o
culas subatômicas. Todos os átomos de um dado elemento têm o decaimento conduz a uma alteração no número de prótons, ele
mesmo número de prótons no núcleo. Esse número de prótons, transforma o átomo em um átomo de elemento diferente. Por
próprio daquele elemento, é chamado de número atômico e es- exemplo, o carbono radioativo decai para formar o nitrogênio.
34 C a mpbe ll & Col s .

Os isótopos radioativos têm muitas aplicações úteis na biolo-


 Figura 2.6 Método de pesquisa gia. No capítulo 25, vamos aprender como os pesquisadores uti-
Marcadores radioativos lizam medidas de radioatividade em fósseis para datar essas relí-
quias da vida passada. Os isótopos radioativos são úteis também
APLICAÇÃO Os cientistas utilizam os isótopos radioativos para como marcadores para rastrear átomos no metabolismo, os pro-
marcar certos compostos químicos, criando marcadores que podem ser
utilizados para rastrear um processo metabólico ou localizar o composto cessos químicos de um organismo. As células utilizam os átomos
dentro de um organismo. Neste exemplo, os marcadores radioativos são radioativos como utilizariam isótopos não radioativos do mesmo
utilizados para determinar o efeito da temperatura na velocidade que as elemento, mas os marcadores radioativos podem ser detectados
células fazem cópias do DNA.
prontamente. A Figura 2.6 apresenta um exemplo de como bió-
TÉCNICA Compostos incluindo Incubadoras logos utilizam marcadores radioativos para monitorar processos
marcador radioativo 1 2 3
(azul brilhante) 10°C 15°C 20°C
biológicos: a síntese do DNA por células humanas.
Os marcadores radioativos são importantes ferramentas de
Células humanas 4 5 6 diagnóstico na medicina. Por exemplo, certas doenças nos rins
25°C 30°C 35°C
podem ser diagnosticadas pela injeção de pequenas doses de
1 Os compostos
utilizados pelas 7 8 9 substâncias com isótopos radioativos no sangue e então medin-
células para sintetizar o DNA são 40°C 45°C 50°C
do a quantidade do marcador excretado na urina. Os marcadores
adicionados nas células humanas.
Um ingrediente é marcado com 3H, radioativos são utilizados também em combinação com sofistica-
um isótopo radioativo do hidrogênio. Nove placas de células são dos instrumentos de imagem, como, por exemplo, o scanner PET,
incubadas em diferentes temperaturas. As células sintetizam o capaz de monitorar processos químicos, como aqueles envolvidos
novo DNA, incorporando o marcador radioativo com 3H.
em crescimentos cancerígenos, à medida que eles vão ocorrendo
2 As células são colocadas DNA (velho e novo) realmente (Figura 2.7).
em tubos de ensaio; o
DNA é isolado; e os
compostos marcados
não utilizados são
removidos.

3 Uma solução chamada de fluido de cintilação é adicionada Tecido


aos tubos de ensaio e eles são colocados em um detector de canceroso
cintilação. À medida que o 3H do DNA recém-sintetizado
na garganta
decai, ele emite radiação que excita os produtos químicos no
fluido de cintilação, o que gera emisão de luz. As faíscas de
luz são registradas pelo detector de cintilação.

RESULTADOS A frequência dos flashes, registrados como conta-


gens por minuto, é proporcional à quantidade de marcador radioativo pre-
sente, indicando a quan-
tidade de DNA novo.
Contagens por minuto

Temperatura
Neste experimento,
30 ótima para  Figura 2.7 O scanner PET, aplicação médica para os isótopos
quando as contagens
a síntese
(⫻ 1.000)

por minuto são coloca- radioativos. PET, acrônimo para tomografia de emissão de pósitrons,
20 de DNA
das em um gráfico em detecta os locais de intensa atividade química no corpo. Primeiro, o pa-
função da temperatura, ciente é injetado com um nutriente, como a glicose, marcado com um
10
fica claro que a tempe- isótopo radioativo que emite partículas subatômicas. Essas partículas co-
0 ratura afeta a taxa de lidem com os elétrons que se tornam disponíveis por reações químicas no
10 20 30 40 50 síntese do DNA; a maio- corpo. O scanner PET detecta a energia liberada nessas colisões e mapeia
Temperatura (⬚C) ria do DNA foi sintetiza- “pontos intensos”, as regiões de um órgão mais ativas quimicamente
da a 35ºC. naquele momento. A cor da imagem varia com a quantidade de isótopo
presente. A cor amarela brilhante aqui identifica uma região de tecido
canceroso na garganta.
B i o l o gi a 35

Embora os isótopos radioativos sejam muito úteis na pesqui- (a) Uma bola rolando num lance de
sa biológica e na medicina, a radiação proveniente dos isótopos escadas fornece uma analogia
com os níveis de energia dos
decaidos também representa um perigo para a vida por danificar elétrons, porque a bola pode
as moléculas celulares. A severidade deste dano depende do tipo parar apenas no próximo
e da quantidade de radiação absorvida pelo organismo. Uma das degrau, não entre os degraus.
mais sérias ameaças ambientais são as partículas radioativas de
acidentes nucleares. Entretanto, as doses da maioria dos isótopos Terceira camada (maior
utilizados no diagnóstico médico são relativamente seguras. nível de energia)

Os níveis de energia dos elétrons Segunda camada (alto Absorção


nível de energia) de energia
Os modelos simplificados do átomo na Figura 2.5 exageram mui-
to o tamanho do núcleo em relação ao volume do átomo inteiro.
Se um átomo de hélio fosse do tamanho de um estádio de futebol, Primeira camada (menor
o núcleo seria apenas do tamanho de uma borracha de um lápis nível de energia)
Perda de
no centro do campo. Além disso, os elétrons seriam dois mos- energia
quitos minúsculos zunindo em volta do estádio. Os átomos são
Núcleo
compostos na sua maior parte por espaço vazio. atômico
Quando dois átomos se aproximam durante uma reação quí-
mica, os núcleos não se aproximam o suficiente para interagir. (b) Um elétron pode mover-se de uma camada para outra apenas se
Dos três tipos de partículas subatômicas que discutimos, apenas a energia ganha ou perdida for exatamente igual à diferença de
os elétrons estão diretamente envolvidos nas reações químicas energia entre os níveis de energia de duas camadas. As setas
indicam possíveis passos na mudança do potencial de energia.
entre os átomos.
Os elétrons de um átomo variam na quantidade de energia  Figura 2.8 Os níveis de energia dos elétrons de um átomo. Os
elétrons existem apenas em níveis fixos de energia potencial, chamados de
que possuem. Energia é definida como a capacidade de causar
camadas eletrônicas.
mudança – por exemplo, por gerar trabalho. A energia potencial
é a energia que a matéria possui devido à sua localização ou estru-
tura. Por exemplo, a água de um açude em um morro tem energia distância média e nível de energia característicos. Em diagramas,
potencial devido à sua altitude. Quando os portões da barragem as camadas podem ser representadas por círculos concêntricos
são abertos e a água corre encosta abaixo, a energia pode ser uti- (Figura 2.8b). A primeira camada é a mais próxima ao núcleo.
lizada para gerar trabalho, como em geradores giratórios. Como Os elétrons nesta camada têm menor energia potencial. Os elé-
a energia foi despendida, a água tem menos energia na base do trons na segunda camada têm mais energia, e elétrons na terceira
morro do que tinha no açude. A matéria tem tendência natural camada ainda mais energia. Um elétron pode mudar a camada
de se mover rumo ao menor estado possível de energia potencial. que ocupa, mas só pela absorção ou perda de uma quantidade de
Neste exemplo, a água corre encosta abaixo. Para restabelecer energia igual à diferença da energia potencial entre as posições
a energia potencial do reservatório, deve ser feito trabalho para na camada velha e na nova. Quando um elétron absorve ener-
elevar a água contra a gravidade. gia, ele se move para a uma camada mais externa do núcleo. Por
Os elétrons de um átomo têm energia potencial devido ao exemplo, a energia da luz pode excitar um elétron para um nível
arranjo em relação ao núcleo. Os elétrons carregados negativa- de energia maior. (Na verdade, esse é o primeiro passo dado pelas
mente são atraídos para o núcleo positivamente carregado. É pre- plantas ao utilizarem a energia da luz do sol na fotossíntese, o
ciso trabalho para mover um determinado elétron para longe do processo que produz nutrientes a partir do dióxido de carbono
núcleo. Assim, o quanto mais distante um elétron estiver do nú- e da água.) Quando um elétron perde energia, ele “recua” a uma
cleo, maior sua energia potencial. Diferente do fluxo contínuo da camada mais próxima ao núcleo. A energia perdida é em geral
água encosta abaixo, mudanças da energia potencial dos elétrons liberada para o ambiente como calor. Por exemplo, a luz solar ex-
podem ocorrer apenas em etapas com quantidades fixas. Um elé- cita os elétrons na superf ície de um carro para níveis de energia
tron com certa quantidade de energia é como uma bola em uma maiores. Quando os elétrons recuam a seus níveis originais, a su-
escadaria (Figura 2.8a). A bola pode ter diferentes quantidades de perf ície do carro esquenta. Esssa energia térmica pode ser trans-
energia potencial, dependendo do degrau em que ela está, mas ferida para o ar ou para sua mão se você tocar no carro.
não pode gastar muito tempo entre os degraus. Do mesmo modo,
a energia potencial do elétron é determinada por seu nível de Distribuição eletrônica e propriedades químicas
energia. Um elétron não pode existir entre níveis de energia. O comportamento químico de um átomo é determinado pela dis-
O nível de energia de um elétron está correlacionado com tribuição dos elétrons nas camadas eletrônicas do átomo. Come-
sua distância média em relação ao núcleo. Os elétrons são encon- çando com o hidrogênio, o átomo mais simples, podemos imagi-
trados em diferentes camadas eletrônicas, cada uma delas com nar a construção de átomos dos outros elementos pela adição de
36 C a mpbe ll & Col s .

Hidrogênio 2 Número atômico Hélio


1H He 2He

Massa atômica 4.00 Símbolo do


Primeira elemento
camada
Diagrama de
distribuição
eletrônica

Lítio Berílio Boro Carbono Nitrogênio Oxigênio Flúor Neônio


3Li 4Be 5B 6C 7N 8O 9F 10Ne

Segunda
camada

Sódio Magnésio Alumínio Silício Fósforo Enxofre Cloro Argônio


11Na 12Mg 13Al 14Si 15P 16S 17Cl 18Ar

Terceira
camada

 Figura 2.9 Diagramas de distribuição maneiras convenientes de retratar a distribuição da que os elétrons são adicionados, vão ocupan-
eletrônica para os primeiros 18 elementos eletrônica de um átomo entre as camadas ele- do a menor camada disponível.
da tabela periódica. Na tabela periódica pa- trônicas, mas estes modelos simplificados não re- Qual é o número atômico do magnésio?
drão (ver o Apêndice B), as informações para presentam corretamente a forma do átomo nem
? Quantos prótons e elétrons ele tem? Quan-
cada elemento são apresentadas como no hélio a localização dos elétrons. Os elementos estão tas camadas eletrônicas? Quantos elétrons de
em destaque. Nos diagramas desta tabela, os elé- arranjados em fileiras, cada um representando a valência?
trons são pontos amarelos, e as camadas eletrô- composição de uma camada eletrônica. À medi-
nicas, círculos concêntricos. Estes diagramas são

1 próton e 1 elétron por vez (junto com o apropriado número de O comportamento químico de um átomo depende principal-
nêutrons). A Figura 2.9, uma versão abreviada da chamada ta- mente do número de elétrons da camada mais externa. Chamamos
bela periódica dos elementos, mostra essa distribuição eletrônica esses elétrons externos de elétrons de valência, e a camada ele-
para os primeiros 18 elementos, do hidrogênio (1H) ao argônio trônica externa, de camada de valência. No caso do lítio, há ape-
(18Ar). Os elementos são arranjados em três fileiras, ou períodos, nas 1 elétron de valência, e a segunda camada é a camada de va-
correspondendo ao número de camadas eletrônicas nos átomos. lência. Os átomos com o mesmo número de elétrons nas camadas
A sequência de elementos da esquerda para a direita em cada fi- de valência apresentam comportamento químico semelhante. Por
leira corresponde à adição sequencial de elétrons e prótons. (Ver exemplo, tanto o flúor (F) como o cloro (Cl) possuem 7 elétrons de
o apêndice B para a tabela periódica completa.) valência, e ambos formam compostos quando combinados com
O único elétron de hidrogênio e os dois elétrons do hélio o elemento sódio (ver a Figura 2.3). Um átomo com camada de
estão localizados na primeira camada. Os elétrons, como toda a valência completa não é reativo; ou seja, não interage prontamen-
matéria, tendem a existir no menor estado disponível de energia te com outros átomos. Bem à direita da tabela periódica estão o
potencial. No átomo, isso acontece na primeira camada. Entre- hélio, o neônio e o argônio, os três únicos elementos mostrados na
tanto, a primeira camada não comporta mais que dois elétrons; Figura 2.9 com camadas de valência completas. Esses elementos
por isso, o hidrogênio e o hélio são os únicos elementos na pri- são considerados inertes, significando a ausência de reatividade
meira fileira da tabela. Átomos com mais de dois elétrons devem química. Todos os outros átomos da Figura 2.9 são quimicamente
utilizar camadas maiores porque a primeira camada está com- reativos, pois têm camadas de valência incompletas.
pleta. O próximo elemento, o lítio, tem três elétrons. Dois desses
elétrons preenchem a primeira camada, e o terceiro elétron ocu- Orbitais eletrônicos
pa a segunda camada. A segunda camada contém no máximo 8 No começo do século XX, as camadas eletrônicas de um átomo
elétrons. O neônio, no final da segunda fileira, tem 8 elétrons na foram visualizadas como rotas concêntricas de elétrons na órbita
segunda camada, possuindo um total de 10 elétrons. do núcleo, algo como planetas na órbita do sol. Ainda é conve-
B i o l o gi a 37

Neônio, com 2 camadas completas (10 elétrons)


(a) Diagrama de distribuição eletrônica. O diagrama de distribuição
eletrônica do átomo neônio, com um total de 10 elétrons. Cada círculo
concêntrico representa uma camada eletrônica, que pode ser
subdividida em orbitais eletrônicos.

Primeira
camada Segunda camada
(b) Orbitais eletrônicos separados. Os formatos tridimensionais
representam orbitais eletrônicos – volumes de espaço onde é mais
provável encontrar os elétrons de um átomo. Cada orbital suporta um
máximo de dois elétrons. A primeira camada eletrônica, à esquerda,
tem um orbital (s) esférico, designado 1s. A segunda camada, à direita,
tem um grande orbital s (designado 2s para a segunda camada) mais
três orbitais em forma de halteres chamados orbitais p (2p para a
segunda camada). Os três orbitais 2p estão dispostos em ângulos retos
uns com os outros, ao longo dos eixos imaginários x, y e z do átomo. x y
Cada orbital 2p é mostrado aqui numa cor diferente.

z
Orbital 1s Orbital 2s Três orbitais 2p

(c) Orbitais eletrônicos sobrepostos. Para ilustração completa dos


orbitais eletrônicos do neônio, fizemos a sobreposição do orbital 1s da
primeira camada e do 2s e dos três orbitais 2p da segunda camada.

 Figura 2.10 Orbitais eletrônicos. Orbitais 1s, 2s e 2p

niente utilizar os diagramas de círculos concêntricos em duas di- Os elétrons em cada um dos quatro orbitais têm aproximadamente
mensões para simbolizar as camadas eletrônicas, como na Figura a mesma energia, mas se movem em diferentes volumes de espaço.
2.9. Entretanto, é preciso lembrar que cada círculo concêntrico re- A reatividade dos átomos resulta da presença de elétrons não
presenta apenas a distância média entre o elétron naquela camada pareados em um ou mais orbitais das camadas de valência. Como
e o núcleo. Consequentemente, os diagramas de círculo concên- veremos na próxima seção, os átomos interagem de forma a com-
trico não representam o átomo com exatidão. Na realidade, nunca pletarem as camadas de valência. Ao fazerem isso, estão envolvi-
podemos saber a localização exata de um elétron. O que podemos dos os elétrons não pareados.
fazer, em vez disso, é descrever o espaço em que o elétron está na
maior parte do tempo. O espaço tridimensional onde o elétron é
REVISÃO DO CONCEITO
encontrado 90% das vezes é chamado de orbital.
Cada camada eletrônica contém elétrons em um determinado 1. Um átomo de lítio tem 3 prótons e 4 nêutrons. Qual a
nível de energia, distribuídos entre um número específico de or- massa atômica em daltons?
bitais com orientações e formatos característicos. A Figura 2.10 2. Um átomo de nitrogênio tem 7 prótons, e o isótopo mais
mostra os orbitais do neônio como exemplo. Pode-se imaginar o comum do nitrogênio tem 7 nêutrons. Um isótopo ra-
orbital como um componente da camada eletrônica. A primeira dioativo do nitrogênio tem 8 nêutrons. Escreva o número
camada tem apenas um orbital s esférico (chamado 1s), mas a se- atômico e o número de massa deste nitrogênio radioativo
gunda camada tem quatro orbitais: um grande orbital s esférico em um símbolo químico com subscrito e sobrescrito.
(chamado 2s) e três orbitais p em forma de halteres (chamados 3. Quantos elétrons têm o flúor? Quantas camadas eletrôni-
orbitais 2p). (A terceira camada e as outras camadas eletrônicas cas? Nomeie os orbitais ocupados. Quantos elétrons são
maiores também têm orbitais s e p, também como orbitais de for- necessários para completar a camada de valência?
mas mais complexas.) 4. E SE...? Na Figura 2.9, se dois ou mais elementos esti-
Não mais que 2 elétrons podem ocupar um único orbital. A pri- vessem na mesma fileira, o que teriam em comum? Se dois
meira camada eletrônica pode, portanto, acomodar 2 elétrons no ou mais elementos estivessem na mesma coluna, o que te-
seu orbital s. O único elétron do átomo de hidrogênio ocupa o or- riam em comum?
bital 1s, assim como os dois elétrons do átomo de hélio. Os quatro Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
orbitais da segunda camada eletrônica podem conter até 8 elétrons.
38 C a mpbe ll & Col s .

2.3 A formação e a função das O compartilhamento de elétrons pode ser representado uti-
lizando símbolos de elementos, com pontos representando os
moléculas dependem das ligações elétrons mais externos. Você provavelmente já viu esses diagra-
químicas entre os átomos mas, chamados de estruturas de pontos de Lewis, no seu livro de
química. As estruturas de pontos de Lewis para a molécula de
Agora que observamos a estrutura dos átomos, podemos seguir hidrogênio, H:H, é mostrada na Figura 2.12a. Podemos abreviar
adiante na hierarquia da organização e ver como os átomos se a estrutura dessa molécula como H-H, onde a linha representa a
combinam para formar as moléculas e os compostos iônicos. Os única ligação covalente, ou simplesmente uma ligação simples –
átomos com camadas de valência incompletas podem interagir o par de elétrons compartilhado. Esssa notação, que representa
com outros átomos de forma a cada par completar sua camada tanto os átomos como as ligações, é chamada de fórmula estru-
de valência: átomos podem dividir ou transferir os elétrons de tural. Podemos abreviar ainda mais escrevendo H2, uma fórmula
valência. Essas interações geralmente resultam em átomos que molecular indicando simplesmente que a molécula consiste em
permanecem próximos, unidos por atrações chamadas de liga- dois átomos de hidrogênio.
ções químicas. Os tipos mais fortes de ligações químicas são as O oxigênio tem 6 elétrons na segunda camada eletrônica e,
ligações covalentes e as ligações iônicas. portanto, precisa de mais dois elétrons para completar a camada de
valência. Dois átomos de oxigênio formam uma molécula pelo com-
Ligações covalentes partilhamento de dois pares de elétrons de valência (Figura 2.12b).
Uma ligação covalente é o compartilhamento de um par de elé-
trons de valência por dois átomos. Por exemplo, vamos considerar Nome e Diagrama de Estruturas Modelo de
de pontos
o que acontece quando dois átomos de hidrogênio se aproximam. fórmula distribuição preenchimento
de Lewis
molecular eletrônica e fórmula espacial
Lembre-se de que o hidrogênio tem 1 elétron de valência na pri-
estrutural
meira camada, mas a capacidade da camada é de dois elétrons.
Quando dois átomos de hidrogênio se aproximam o suficiente (a) Hidrogênio (H2).
para seus orbitais 1s se sobreporem, eles compartilham seus elé- Dois átomos de H •• H
hidrogênio podem
trons (Figura 2.11). Cada átomo de hidrogênio tem agora 2 elé- formar uma ligação
H H

trons associados, que completam uma camada de valência. Dois simples. H H


ou mais elétrons unidos por ligações covalentes constituem uma
molécula. No caso, nosso exemplo é a molécula de hidrogênio. (b) Oxigênio (O2).
Dois átomos



O •• •• O
de oxigênio



compartilham dois O O
Átomos de hidrogênio (2 H)
pares de elétrons
para formar uma O O
1 Em cada átomo de ligação dupla.
hidrogênio, o único
elétron é mantido no + + (c) Água (H2O).

orbital por atração Dois átomos de



• O •• H

também ao próton no hidrogênio e um H


O H
núcleo. átomo de oxigênio
unem-se por
ligações covalentes H O H
para produzir a H
2 Quando dois átomos de molécula da água.
hidrogênio se aproximam,
o elétron de cada átomo (d) Metano (CH4).
é atraído também pelo + + Quatro átomos H

próton do outro núcleo. de hidrogênio H H •• C •• H



podem atender H
a valência de H C H
um átomo de H
carbono,
formando o H H C H
metano.
3 Os dois elétrons são H
compartilhados por uma
ligação covalente, + +  Figura 2.12 Ligação covalente em quatro moléculas. Uma liga-
formando a molécula H2. ção covalente simples consiste em um par de elétrons compartilhados. O
número de elétrons necessários para completar a camada de valência do
Molécula de átomo geralmente determina quantas ligações o átomo forma. Quatro for-
hidrogênio (H2) mas de indicar as ligações são mostradas; o modelo de preenchimento
espacial é mais parecido com a representação do formato verdadeiro da
 Figura 2.11 Formação de uma ligação covalente. molécula (ver também a Figura 2.17).
B i o l o gi a 39

Assim, os átomos são unidos pelo que chamamos de ligação cova- Como o oxigênio (O) é mais eletronegativo do que o hidrogênio
lente dupla ou ligação dupla. (H), os elétrons compartilhados são atraídos mais para o oxigênio.
Cada átomo que pode compartilhar os elétrons de valência δ–
tem capacidade de ligação correspondente ao número de ligações Isso resulta em
covalentes que o átomo pode formar. Quando as ligações se for- uma carga
parcial negativa
mam, dão ao átomo pleno preenchimento de elétrons na camada
no oxigênio e
de valência. A capacidade de ligação do oxigênio, por exemplo, é O em uma carga
2. Essa capacidade de ligação é chamada de valência do átomo, parcial positiva
geralmente igual ao número de elétrons não pareados necessá- no hidrogênio.
H H
rios para completar a camada mais externa (valência) do átomo. δ+ δ+
H 2O
Veja se você consegue determinar as valências do hidrogênio, do
oxigênio, do nitrogênio e do carbono estudando os diagramas de
distribuição eletrônica na Figura 2.9. Você pode ver que a valên-  Figura 2.13 Ligações polares covalentes na molécula de água.
cia do hidrogênio é 1; do oxigênio, 2; do nitrogênio, 3; e do carbo-
no, 4. Entretanto, há casos mais complicados, como o do fósforo pendendo da eletronegatividade relativa dos dois átomos. Por exem-
(P), outro elemento importante para a vida. O fósforo pode ter plo, as ligações entre os átomos de oxigênio e de hidrogênio de uma
valência 3, como seria previsível pela presença dos 3 elétrons não molécula de água são bastante polares (Figura 2.13). Entre todos os
pareados na camada de valência. Entretanto, em moléculas biolo- elementos, o oxigênio é um dos mais eletronegativos, atraindo os
gicamente importantes, o fósforo pode formar três ligações sim- elétrons compartilhados muito mais fortemente que o hidrogênio.
ples e uma ligação dupla. Assim, ele também pode ter valência 5. Em ligações covalentes entre o oxigênio e o hidrogênio, os elétrons
As moléculas H2 e O2 são elementos puros, ao invés de com- ficam mais tempo perto do núcleo do oxigênio do que do núcleo
postos, pois um composto é a combinação de dois ou mais ele- do hidrogênio. Como os elétrons têm carga negativa, a distribuição
mentos diferentes. A água, com fórmula molecular H2O, é um desigual de elétrons na água faz o átomo de oxigênio ter uma carga
composto. Dois átomos de hidrogênio são necessários para com- parcial negativa (indicada pela letra grega δ com sinal de menos,
pletar a valência do átomo de oxigênio. A Figura 2.12c mostra a δ, ou “delta menos”) e cada átomo de hidrogênio ter uma carga
estrutura de uma molécula de água. A água é tão importante para parcial positiva (δ, ou “delta mais”). Em contraste, as ligações indi-
a vida que todo o Capítulo 3 é dedicado ao estudo de sua estrutu- viduais do metano (CH4) são bem menos polares, pois o carbono e
ra e comportamento. o hidrogênio diferem muito menos em eletronegatividade do que o
Outro composto molecular é o metano, o principal com- oxigênio e o hidrogênio.
ponente do gás natural, com a fórmula molecular CH4 (Figura
2.12d). Quatro átomos de hidrogênio, cada um com valência 1, Ligações iônicas
complementam um átomo de carbono, com valência 4. Veremos Em alguns casos, dois átomos diferem tanto em sua atração por elé-
muitos outros compostos de carbono no Capítulo 4. trons de valência que o átomo mais eletronegativo retira completa-
A atração de um determinado tipo de átomo pelos elétrons de mente o elétron do seu par. É isso que acontece quando um átomo
uma ligação covalente é chamada de eletronegatividade. Quanto de sódio (11Na) encontra um átomo de cloro (17Cl) (Figura 2.14).
mais eletronegativo for um átomo, mais
fortemente ele atrai elétrons comparti- 1 O único elétron de valência do átomo 2 Cada íon resultante tem uma camada de
lhados para si mesmo. Em uma ligação de sódio é transferido para se unir aos valência completa. Uma ligação iônica pode
7 elétrons de valência do átomo de cloro. ser formada entre íons de cargas opostas.
covalente entre dois átomos do mesmo
elemento, o resultado do “cabo de guerra” + –
entre os elétrons comuns é o equilíbrio;
os dois átomos são igualmente eletrone-
gativos. Uma ligação assim, em que os Na Cl Na Cl
elétrons são compartilhados igualmen-
te, é uma ligação covalente apolar. Por
exemplo, a ligação covalente do H2 é apo-
lar, assim como a ligação dupla do O2. Na Cl Na+ Cl–
Entretanto, em outros compostos onde Átomo de sódio Átomo de cloro Íon de sódio Íon de cloro
(cátion) (ânion)
o átomo é ligado a outro mais eletrone-
gativo, os elétrons da ligação não são di- Cloreto de sódio (NaCl)
vididos igualmente. Esse tipo de ligação
é chamado de ligação covalente polar.  Figura 2.14 Transferência de elétrons e ligação iônica. A atração entre átomos de cargas opos-
tas, ou íons, é uma ligação iônica. Uma ligação iônica pode se formar entre quaisquer dois íons de cargas
Essas ligações variam em polaridade, de- opostas, mesmo se não são formados pela transferência de um elétron de um para o outro.
40 C a mpbe ll & Col s .

O átomo de sódio tem no total onze elétrons, com o único de valência completa. Por isso, ele tende a tornar-se um cátion
elétron de valência na terceira camada eletrônica. O átomo de com carga 2 (Mg2). Assim, um cátion de magnésio pode for-
cloro tem no total 17 elétrons, com 7 elétrons na camada de va- mar ligações iônicas com dois ânions de cloro.
lência. Quando esses dois átomos se encontram, o único elétron O termo íon também se aplica a moléculas inteiras eletri-
de valência do sódio é transferido para o átomo de cloro, e os camente carregadas. No sal cloreto de amônio (NH4Cl), por
dois átomos completam suas camadas de valência. (Como o só- exemplo, o ânion é um único íon de cloro (Cl), mas o cátion é o
dio deixou de ter um elétron na terceira camada, agora a segunda amônio (NH4), um átomo de nitrogênio com quatro átomos de
camada é a camada de valência.) hidrogênio covalentemente ligados. O íon de amônio inteiro tem
A transferência de elétrons entre dois átomos move uma uni- carga elétrica 1 porque é um elétron pequeno.
dade de carga negativa do sódio para o cloro. O sódio, agora com O ambiente afeta a força da ligação iônica. Nos cristais de sal
11 prótons mas apenas 10 elétrons, tem uma rede de carga elétri- seco, há ligações tão fortes que só com martelo e formão é possível
ca de 1. Um átomo carregado (ou molécula) é chamado de íon. quebrá-las o suficiente para dividir o cristal em dois. Entretanto,
Quando a carga é positiva, o íon é chamado de cátion; o átomo de se o mesmo cristal de sal é dissolvido na água, as ligações iônicas
sódio se tornou um cátion. Por outro lado, o átomo de cloro, ao ficam muito mais fracas porque cada íon é parcialmente protegido
ganhar um elétron extra, tem agora 17 prótons e 18 elétrons, fi- por suas interações com as moléculas de água. As drogas, em sua
cando com rede de carga elétrica –1. Ele se tornou um íon de cloro maioria, são produzidas na forma de sais porque sais são muito
– um ânion ou íon negativamente carregado. Devido a suas cargas estáveis quando secos, mas se dissociam facilmente em água. No
opostas, os cátions e os ânions se atraem; essa atração é chamada próximo capítulo, você aprenderá como a água dissolve os sais.
de ligação iônica. A transferência de um elétron não forma uma
ligação; ao invés disso, ela permite que a ligação se forme, pois re- Ligações químicas fracas
sulta em dois íons. Quaisquer dois íons de cargas opostas podem Em organismos, a maioria das ligações químicas mais fortes são
formar uma ligação iônica. Os íons não precisam ter adquirido ligações covalentes, que unem os átomos para formar as molécu-
suas cargas por uma transferência de elétron entre si. las da célula. As ligações fracas intra e intermoleculares também
Os compostos formados por ligações iônicas são chamados são indispensáveis na célula, contribuindo muito para as proprie-
de compostos iônicos ou sais. Conhecemos o composto iônico dades emergentes da vida. As mais importantes grandes molécu-
cloreto de sódio (NaCl) como sal de cozinha (Figura 2.15). Os las biológicas estão organizadas em suas formas funcionais por
sais são frequentemente encontrados na natureza como cristais ligações fracas. Além disso, quando duas moléculas fazem conta-
de vários tamanhos e formas. Cada cristal de sal é um agregado to na célula, elas podem se aderir temporariamente por ligações
de um vasto número de cátions e ânions ligados por sua atração fracas. A reversibilidade das ligações fracas pode ser uma vanta-
elétrica e arranjados em uma rede tridimensional. Ao contrário gem: duas moléculas podem se unir, interagir de alguma forma e
do composto covalente, que consiste em moléculas com tamanho então se separar.
e número de átomos definidos, o composto iônico não consiste Certos tipos de ligações químicas fracas são importantes em
em moléculas no mesmo sentido. A fórmula para um composto organismos. Um tipo é a ligação iônica existente entre íons dis-
iônico como o NaCl indica apenas a proporção de elementos no sociados na água, que discutimos. Outro tipo de ligação fraca, a
cristal de sal. O “NaCl” por si só não é uma molécula. ligação de hidrogênio, também é crucial para a vida.
Nem todos os sais têm números iguais de cátions e ânions.
Por exemplo, o composto iônico cloreto de magnésio (MgCl2) Ligações de hidrogênio
tem dois íons de cloro para cada íon de magnésio. O magnésio Dentre os vários tipos de ligações químicas fracas, as ligações de
(12Mg) deve perder 2 elétrons externos para o átomo ter a camada hidrogênio são tão importantes para a química da vida que mere-
cem atenção especial. A ligação de hidrogênio se forma quando
um átomo de hidrogênio se liga covalentemente a um átomo ele-
tronegativo também atraído por outro átomo eletronegativo. Nas
células vivas, os pares eletronegativos são geralmente os átomos
de oxigênio e de nitrogênio. Consulte a Figura 2.16 para exami-
Na+ nar o caso comum da ligação de hidrogênio entre água (H2O) e
Cl– amônia (NH3). No próximo capítulo, veremos como as ligações
de hidrogênio entre as moléculas da água permitem que certos
insetos caminhem na água.

Interações de van der Waals


Mesmo uma molécula com ligações covalentes não polares pode
 Figura 2.15 Um cristal de cloreto de sódio. Os íons de sódio (Na) e ter regiões carregadas positiva e negativamente. Nem sempre
os íons de cloro (Cl) são unidos por ligações iônicas. A fórmula do NaCl nos
os elétrons estão assimetricamente distribuídos na molécula; a
informa que a proporção de Na e Cl– é 1:1.
B i o l o gi a 41

δ– δ+ z Quatro orbitais híbridos


Orbital s Três orbitais p
H
Água (H2O) O
x
Uma ligação de
hidrogênio resulta da
H atração entre a carga y
δ+ parcial positiva no
átomo de hidrogênio Tetraedro
δ– da água e a carga
parcial negativa no (a) Hibridização de orbitais. O único orbital s e os três orbitais p
átomo de nitrogênio de uma camada de valência envolvida em ligações covalentes
Amônia (NH3) N da amônia. combinam para formar quatro orbitais híbridos em forma de
H H lágrima. Esses orbitais estendem-se aos quatro cantos de um
tetraedro imaginário (esboçado em vermelho).
δ+ δ+
H
Modelo de Modelo Modelo de orbital híbrido
δ+ preenchimento de bola (com modelo de bola
espacial e bastão e bastão sobreposto)
 Figura 2.16 Ligação de hidrogênio.
DESENHE Desenhe cinco moléculas de água utilizando fórmulas estru- Par de
turais e indicando as cargas parciais. Mostre como elas conseguem estabele- elétron
cer ligações de hidrogênio umas com as outras. não ligado
O O
H H H H
104.5°
qualquer instante, podem estar acumulados alea-
toriamente em uma ou em outra parte da molé- Água (H2O)
cula. Como resultado, surgem regiões de carga
negativa e positiva em constante mudança que
permitem a todos os átomos e moléculas aderi- H H
rem uns aos outros. Essas interações de van der
Waals são fracas e ocorrem apenas quando C C
H H H H
átomos e moléculas estão muito próximos.
H H
Apesar de sua fraqueza, recentemente se
provou que as interações de van der Waals Metano (CH4)
são responsáveis pela habilidade da lagar-
tixa (à esquerda) subir nas paredes. Cada dedo (b) Modelos de forma molecular. Três modelos representando a forma
molecular são mostrados para a água e o metano. As posições dos
da lagartixa tem centenas de milhares de pelos orbitais híbridos determinam as formas das moléculas.
extremamente pequenos, com múltiplas pro-
 Figura 2.17 Formas moleculares em função dos orbitais híbridos.
jeções na ponta do pelo que aumentam a área
superficial. Ao que parece, as interações de van
der Waals entre as moléculas da extremidade Uma molécula que consiste em dois átomos, como H2 ou O2,
do pelo e as moléculas da superf ície da parede é sempre linear, mas moléculas com mais de dois átomos têm for-
são tão numerosas que apesar da fraqueza indi- mas mais complicadas. Essas formas são determinadas pelas po-
vidual, juntas conseguem sustentar o peso do corpo da lagartixa. sições dos orbitais dos átomos. Quando um átomo forma ligações
As interações de van der Waals, as ligações de hidrogênio, covalentes, os orbitais na camada de valência se rearranjam. Para
as ligações iônicas da água e outras ligações fracas podem for- os átomos com elétrons de valência em ambos orbitais s e p (rever
mar-se não apenas entre moléculas, mas também entre regiões Figura 2.10), o único orbital s e os três orbitais p hibridizam para
diferentes de uma só molécula grande, como proteínas. Embora formarem quatro novos orbitais híbridos com forma idêntica a
essas ligações sejam individualmente fracas, seu efeito conjunto lágrimas que se estendem a partir da região do núcleo atômico
é reforçar a forma tridimensional de uma molécula grande. Você (Figura 2.17a). Se conectarmos as extremidades mais largas das
aprenderá mais sobre os importantes papéis biológicos das liga- lágrimas com linhas, temos o esboço da forma geométrica cha-
ções fracas no Capítulo 5. mada tetraedro, similar a uma pirâmide.
Para a molécula da água (H2O), dois orbitais híbridos na ca-
Forma e função moleculares mada de valência do átomo de oxigênio estão compartilhados
Moléculas têm tamanho e forma característicos. A forma exata com átomos de hidrogênio (Figura 2.17b). O resultado é uma
de uma molécula é geralmente muito importante para a sua fun- molécula com formato, a grosso modo, de um V, com duas liga-
ção nas células vivas. ções covalentes separadas por um ângulo de 104,5º.
42 C a mpbe ll & Col s .

A molécula do metano (CH4) tem forma de tetraedro com- vadas do ópio. O efeito narcótico do ópio é conhecido desde a an-
pleto, pois todos os orbitais híbridos do carbono são comparti- tiguidade. Durante os anos 1800, a morfina foi isolada do ópio e a
lhados com átomos de hidrogênio (ver Figura 2.17b). O núcleo heroína foi sintetizada a partir da morfina. Esses opioides aliviam
do carbono está no centro, com quatro ligações covalentes ir- a dor e alteram o humor por meio da ligação a receptores mole-
radiando para o núcleo do hidrogênio nos cantos do tetraedro. culares específicos na superf ície das células do cérebro. Por que
Moléculas maiores, com múltiplos átomos de carbono, incluindo as células do cérebro carregam receptores para opioides, com-
muitas moléculas que constituem a matéria viva, em geral têm postos não produzidos por nosso organismo? A descoberta das
formas mais complexas. Entretanto, a forma tetraédrica de um endorfinas em 1975 respondeu a essa questão. As endorfinas são
átomo de carbono ligado a quatro outros átomos, com frequên- moléculas sinalizadoras produzidas pela hipófise (glândula pitui-
cia, repete-se nessas moléculas. tária) que se ligam aos receptores, aliviando a dor e produzindo
A forma molecular é crucial na biologia porque determina euforia durante momentos de estresse, como exercício intenso.
como as moléculas biológicas reconhecem e respondem umas Descobriu-se que os opioides têm formas semelhantes a das en-
às outras com especificidade. Apenas as moléculas com formas dorfinas e as mimetizam pela ligação a receptores de endorfina
complementares podem formar ligações fracas entre elas. Pode- do cérebro. Isto é porque os opioides e as endorfinas têm efeitos
mos ver essa especificidade nos efeitos dos opioides, drogas deri- similares (Figura 2.18). O papel da forma molecular na química
do cérebro ilustra a relação entre estrutura e função, um dos te-
mas unificadores da biologia.
CHAVE
Carbono Nitrogênio REVISÃO DO CONCEITO
Hidrogênio Enxofre 1. Por que a seguinte estrutura não faz sentido quimica-
Oxigênio mente?
Endorfina natural H¬C“C¬H
2. Explique o que une os átomos em um cristal de cloreto de
Morfina magnésio (MgCl2).
3. E SE...? Se você fosse um pesquisador farmacêutico,
por que gostaria de conhecer as formas tridimensionais
das moléculas sinalizadoras que ocorrem naturalmente?
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.

2.4 As reações químicas formam e


(a) As estruturas da endorfina e da morfina. A porção destacada quebram ligações químicas
da molécula de endorfina (esquerda) liga-se às moléculas do
receptor nas células-alvo do cérebro. A porção destacada da A manufatura e o rompimento das ligações químicas ocasionam
molécula de morfina (direita) é muito parecida. mudanças na composição da matéria, chamadas de reações quí-
micas. Um exemplo é a reação entre hidrogênio e oxigênio para
formar a água:
Endorfina
natural
Morfina

Receptores
de endorfina 2 H2 ⫹ O2 2 H2O
Célula do cérebro
Reagentes Reação Produtos
(b) A ligação a receptores de endorfina. Tanto a endorfina como a
morfina podem ligar-se a receptores de endorfina na superfície de
Essa reação rompe as ligações covalentes de H2 e O2 e forma
células do cérebro.
a nova ligação da H2O. Quando escrevemos uma reação quími-
 Figura 2.18 Mimetismo molecular. A morfina afeta a percepção de ca, utilizamos uma seta para indicar a conversão dos materiais
dor e o estado emocional, mimetizando as endorfinas naturais do cérebro.
iniciais, chamados de reagentes, em produtos. Os coeficientes
B i o l o gi a 43

indicam o número de moléculas envolvidas; por exemplo, o co- cia de muitas reações químicas, termina com o mesmo número e
eficiente 2 na frente do H2 significa que a reação inicia com duas tipos de átomos do início. A matéria foi simplesmente rearranja-
moléculas de hidrogênio. Observe que todos os átomos dos rea- da com a ajuda da energia fornecida pela luz solar.
gentes devem ser levados em conta nos produtos. A matéria é Todas as reações químicas são reversíveis, com os produtos
conservada nas reações químicas: as reações não podem criar ou da reação direta tornando-se os reagentes para a reação rever-
destruir matéria, apenas rearranjá-la. sa. Por exemplo, as moléculas de hidrogênio e nitrogênio podem
A fotossíntese, que acontece no interior das células dos teci- combinar-se para formar amônia, mas a amônia também pode
dos de plantas verdes, é um exemplo especialmente importante decompor-se para regenerar o hidrogênio e o nitrogênio.
de como as reações químicas rearranjam a matéria. Os humanos
3 H2  N2 Δ 2 NH3
e outros animais dependem da fotossíntese como fonte de ali-
mento e de oxigênio. Esse processo é a base de quase todos os As duas setas opostas indicam uma reação reversível.
ecossistemas. A seguinte simbologia química resume o processo Um fator que afeta a velocidade da reação é a concentração
da fotossíntese: dos reagentes. Quanto maior a concentração das moléculas rea-
gentes, mais frequentemente elas colidem umas com as outras e
6CO2  6 H2O ¡ C6H12O6  6O2
têm a oportunidade de reagir e formar os produtos. A recípro-
As matérias-primas da fotossíntese são: dióxido de carbono ca é verdadeira para os produtos. À medida que os produtos se
(CO2) retirado do ar e água (H2O) absorvida do solo. Dentro das acumulam, as colisões que resultam na reação reversa se tornam
células da planta, a luz solar fornece energia para a conversão mais frequentes. Por fim, as reações direta e reversa ocorrem na
desses ingredientes em um açúcar chamado de glicose (C6H12O6) mesma velocidade, e a concentração relativa de produtos e rea-
e em moléculas de oxigênio (O2), subproduto que a planta libera gentes não muda mais. O ponto em que as reações se equivalem
(Figura 2.19). Embora a fotossíntese seja na verdade uma sequên- exatamente é chamado de equilíbrio químico. Esse equilíbrio é
dinâmico; as reações continuam, mas sem efeito na concentração
de reagentes e produtos. O equilíbrio não significa que os reagen-
tes e os produtos têm concentrações iguais, mas apenas que con-
centrações estabilizaram em determinada proporção. A reação
envolvendo a amônia alcança o equilíbrio quando a amônia se
decompõe tão rapidamente quanto se forma. Em certas reações
químicas, o ponto de equilíbrio pode estar posicionado tão para
a direita que essas reações são em essência levadas a cabo; isto é,
virtualmente todos os reagentes são convertidos em produtos.
Vamos retornar ao assunto das reações químicas após um
estudo mais detalhado dos vários tipos de moléculas importan-
tes para a vida. No próximo capítulo, daremos enfoque à água,
a substância onde todos os processos químicos do organismo
ocorrem.

REVISÃO DO CONCEITO

1. Comente a reação entre o hidrogênio e o oxigênio que


forma a água; mostrada com o modelo de bola e bastão na
página 42. Desenhe a estrutura de pontos de Lewis para
representar esta reação.
2. Que tipo de reações químicas ocorre mais rápido no equi-
líbrio, a formação de produtos a partir dos reagentes, ou
dos reagentes a partir dos produtos?
 Figura 2.19 Fotossíntese: o rearranjo da matéria movido pela 3. E SE...? Escreva uma equação que utilize os produtos
energia solar. Elodea, uma planta de água-doce, produz açúcar rearran-
jando átomos de dióxido de carbono e água no processo químico conheci-
da fotossíntese como reagentes e os reagentes como pro-
do como fotossíntese, em que a energia é fornecida pela luz solar. A maior dutos. Adicione energia como outro produto. Essa nova
parte açúcar é então convertida em outras moléculas de alimento. O gás equação descreve um processo que ocorre em nossas célu-
oxigênio (O2) é um subproduto da fotossíntese; observe as bolhas de oxi- las. Descreva essa equação em palavras. De que modo essa
gênio escapando das folhas na fotografia.
equação se relaciona com a respiração?
? Explique como esta fotografia relaciona os reagentes e os produtos na
equação da fotossíntese mencionada no texto. (Você aprenderá mais Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
sobre a fotossíntese no Capítulo 10.)
44 C a mpbe ll & Col s .

Revisão do Capítulo
H•  H•
2 O• •  • O• ••






RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE H •• H •
• O •• •• O




Ligação Ligação
2.1 A matéria consiste em elementos químicos na forma covalente única covalente dupla
pura e em combinações chamadas de compostos
(p. 31-32) As moléculas consistem em dois ou mais átomos ligados cova-
lentemente. Os elétrons de uma ligação covalente polar são atra-
 Elementos e compostos Os elementos não podem ser degradados ídos para perto do átomo mais eletronegativo. Se os dois átomos
quimicamente em outras substâncias. Um composto contém são iguais, têm a mesma eletronegatividade, a ligação covalente
dois ou mais elementos diferentes em uma proporção fixa. é não polar.
 Elementos essenciais da vida Aproximadamente 96% da matéria  Ligações iônicas:
viva é composta de carbono, de oxigênio, de hidrogênio e de ni-
trogênio. Ligação iônica

+ –
Transferência
2.2 As propriedades de um elemento dependem da de elétrons
estrutura dos seus átomos (p. 32-37) forma íons
Na Cl Na Cl
 Partículas subatômicas Um átomo, a menor unidade de um ele-
mento, tem os seguintes componentes:

Núcleo
Na Cl Na+ Cl–
Átomo de Sódio Átomo de Cloro Íon de sódio Íon de cloro
Prótons (carga +) + – (um cátion) (um ânion)
determina o elemento + Elétrons (carga –)
– forma a nuvem  Ligações químicas fracas Uma ligação de hidrogênio é a atração
Nêutrons (sem carga) negativa e determina
o comportamento entre um átomo de hidrogênio carregando uma carga parcial
determina o isótopo
Átomo químico positiva (δ) e um átomo eletronegativo (δ-). As interações de
van der Waals ocorrem entre regiões temporariamente positivas e
 Número atômico e massa atômica Um átomo eletricamente negativas das moléculas. As ligações fracas reforçam as formas de
neutro tem igual número de elétrons e de prótons; o número de grandes moléculas e ajudam as moléculas a aderir umas às outras.
prótons determina o número atômico. A massa atômica, medida
 Forma e função moleculares A forma molecular é determinada
em daltons, é aproximadamente igual à soma de prótons mais
nêutrons. pelas posições dos átomos nos orbitais de valência. As ligações
covalentes resultam em orbitais híbridos, responsáveis pelas
 Isótopos Os isótopos de um elemento diferem no número de formas da H2O, CH4 e de muitas moléculas biológicas mais com-
nêutrons e, portanto, na massa. Os isótopos instáveis emitem plexas. A forma é geralmente a base para o reconhecimento de
partículas e energia como radioatividade. uma molécula biológica por outra.
 Os níveis de energia dos elétrons Em um átomo, os elétrons ocu-
pam camadas de energia específicas; os elétrons em uma camada
têm um nível de energia característico. 2.4 As reações químicas formam e quebram ligações
químicas (p. 42-43)
 Distribuição eletrônica e propriedades químicas A distribuição
eletrônica nas camadas determina o comportamento químico  As reações químicas transformam os reagentes em produtos en-
de um átomo. Um átomo com camada de valência incompleta é quanto conservam a matéria. Todas as reações químicas são teo-
reativo. ricamente reversíveis. O equilíbrio químico é alcançado quando
as velocidades das reações direta e reversa são iguais.
 Orbitais eletrônicos Os elétrons existem em
orbitais, espaços tridimensionais com formas
específicas, componentes das camadas eletrô-
nicas. TESTE SEU CONHECIMENTO

1. No termo elemento traço, o modificador traço significa:


2.3 A formação e a função das moléculas dependem das a. o elemento é necessário em quantidades muito pequenas.
ligações químicas entre os átomos (p. 38-42) b. o elemento pode ser utilizado como marcador para localizar
 Ligações covalentes As ligações químicas se formam quando átomos através do metabolismo de um organismo.
os átomos interagem e completam as camadas de valência. As c. o elemento é muito raro na Terra.
ligações covalentes se formam quando pares de elétrons são d. o elemento melhora a saúde, mas não é essencial para a so-
compartilhados. brevivência de um organismo a longo prazo.
e. o elemento passa rapidamente pelo organismo.
B i o l o gi a 45

2. Comparado com 31P, o isótopo radioativo 32P tem: pleta e cada ligação tem o número correto de elétrons. Explique
a. número atômico diferente. d. um elétron a mais. o que torna as outras moléculas sem sentido, considerando o
b. um nêutron a mais. e. carga diferente. número de ligações que cada tipo de átomo pode fazer.
c. um próton a mais.
a. O C H c. H H
3. Os átomos podem ser representados pela simples listagem do
número de prótons, nêutrons e elétrons – por exemplo, 2p; H C H C O
2n0; 2e– para o hélio. Qual das seguintes listas representa o isó-
topo do oxigênio 18O? H
a. 6p; 8n0; 6e. d. 7p; 2n0; 9e. H H
 
0
b. 8p ; 10n ; 8e . e. 10p; 8n0; 9e.
 0 
c. 9p ; 9n ; 9e . H O C C O O

4. O número atômico do enxofre é 16. O enxofre combina-se com b. H d. H N H


o hidrogênio através de ligações covalentes para formar o com- Para as respostas do teste, ver no Apêndice A.
posto sulfeto de hidrogênio. Com base no número de elétrons
de valência no átomo de enxofre, a fórmula molecular do com-
posto é: CONEXÃO EVOLUTIVA
a. HS. b. HS2. c. H2S. d. H3S2. e. H4S. 10. As porcentagens dos elementos que compõem o corpo humano
5. A reatividade de um átomo surge da: e ocorrem naturalmente (ver Tabela 2.1) são semelhantes às
a. distância média da camada eletrônica mais externa ao nú- porcentagens destes elementos encontradas em outros organis-
cleo. mos. Como você poderia explicar essa semelhança entre orga-
b. existência de elétrons não pareados na camada de valência. nismos?
c. soma das energias potenciais de todas as camadas eletrôni-
cas. PESQUISA CIENTÍFICA
d. energia potencial da camada de valência.
11. As mariposas fêmeas do bicho-da-seda (Bombyx mori) atraem
e. diferença de energia entre os orbitais s e p.
os machos pela emissão de sinais químicos que se espalham no
6. Qual das frases é verdadeira para todos os átomos ânions? ar. Um macho a centenas de metros de distância pode detectar
a. o átomo tem mais elétrons do que prótons. essas moléculas e voar para sua origem. Os órgãos sensitivos
b. o átomo tem mais prótons do que elétrons. responsáveis por esse comportamento são antenas em forma
c. o átomo tem menos prótons do que um átomo neutro do de crista, visíveis na fotografia mostrada aqui. Cada filamento
mesmo elemento. da antena é equipado com milhares de células receptoras que
d. o átomo tem mais nêutrons do que prótons. detectam o atrativo sexual. Com base
e. a carga líquida é –1. no que você aprendeu neste capítulo,
7. Que coeficientes devem ser colocados nas seguintes lacunas proponha uma hipótese para explicar a
para que todos os átomos sejam considerados nos produtos? habilidade do bicho-da-seda macho em
C6H12O6 ¡ ____C2H6O ____CO2 detectar uma molécula específica na
presença de muitas outras moléculas
a. 1; 2. b. 2; 2. c. 1; 3. d. 1; 1. e. 3; 1.
no ar. Que predições sua hipótese faz?
8. Qual das seguintes frases descreve corretamente qualquer rea- Planeje um experimento para testar
ção química que tenha alcançado o equilíbrio? uma dessas predições.
a. as concentrações de produtos e reagentes são iguais.
b. as velocidades de reações direta e reversa são iguais.
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
c. tanto a reação direta quanto a reversa estão paradas.
d. a reação é agora irreversível. 12. Enquanto esperava em um aeroporto, Neil Campbell ouviu por
e. nenhum reagente sobra. acaso essa alegação: “É paranoia e ignorância se preocupar com
9. DESENHE Desenhe as estruturas de Lewis para cada molécula
a contaminação do ambiente pelo lixo químico de indústrias e
hipotética mostrada a seguir, utilizando o número correto de da agricultura. Afinal de contas, esse material é constituído pe-
elétrons de valência para cada átomo. Determine qual molécula los mesmos átomos já presentes no nosso ambiente”. Com que
faz sentido, pois cada átomo tem uma camada de valência com- argumentos você discordaria dessa afirmação?
Água e a
Adequação
do Ambiente
3.1

3.2

3.3
CONCEITOS-CHAVE

Quatro propriedades emergentes da água


3
A polaridade das moléculas da água promove
ligações de hidrogênio

contribuem para a adequação da Terra à vida


Condições ácidas e básicas afetam os organismos
vivos
 Figura 3.1 Por que a abundância de água permite a existência
da vida no planeta Terra?

em muitas reações químicas necessárias para manter a vida. A


maioria das células está envolvida por água, e as células são cons-
tituídas por aproximadamente 70-95% de água.
Que propriedades da simples molécula da água permitem-na
funcionar como sustentação para todos os organismos vivos? Neste
capítulo, você aprenderá como a estrutura da molécula de água per-
mite sua interação com outras moléculas, incluindo moléculas de
VISÃO GERAL água. Essa habilidade leva a propriedades emergentes sem paralelo,
que sustentam e mantêm os sistemas vivos em nosso planeta. Seu
A molécula que sustenta toda a vida objetivo neste capítulo é desenvolver uma compreensão conceitual
de como a água contribui para a adequação da Terra à vida.
À medida que astrônomos estudam planetas recém-descober-
tos orbitando estrelas distantes, desejam encontrar evidências
de água nesses longínquos corpos celestes, pois a água torna a
vida possível como a conhecemos aqui na Terra. Todos os or-
3.1 A polaridade das moléculas
ganismos que conhecemos são constituídos na sua maioria por da água promove ligações de
água e vivem em ambientes determinados pela água. A água é o hidrogênio
meio biológico aqui na Terra, e possivelmente em outros plane-
tas também. Por ser tão comum, é fácil esquecer que a água é uma substância
Setenta e cinco por cento da superf ície da Terra estão imer- excepcional com inúmeras qualidades extraordinárias. Seguindo
sos em água (Figura 3.1). Embora a maioria dessa água esteja na o tema das propriedades emergentes, podemos rastrear e enten-
forma líquida, a água também está presente na Terra como gelo der o comportamento ímpar da água conhecendo a estrutura e a
e vapor. A água é a única substância que existe no ambiente na- interação de suas moléculas.
tural em todos os três estados f ísicos da matéria: sólido, líquido Estudada isoladamente, a molécula da água é enganosamente
e gasoso. A abundância de água é uma das principais razões de a simples. Tem o formato parecido com um grande V, com dois
Terra ser habitável. No livro clássico A adequação do ambiente, átomos de hidrogênio unidos ao átomo de oxigênio por ligações
o ecologista Lawrence Henderson destaca a importância da água covalentes simples. Como o oxigênio é mais eletronegativo do
para a vida. Ao mesmo tempo em que reconhece que a vida se que o hidrogênio, os elétrons das ligações covalentes ficam mais
adapta ao ambiente por meio da seleção natural, Henderson en- tempo próximos ao oxigênio do que ao hidrogênio; em outras pa-
fatiza que, para a vida existir, primeiro o ambiente deve ser uma lavras, são ligações covalentes polares (ver Figura 2.13). Essa dis-
residência adequada. tribuição desigual de elétrons torna a água uma molécula polar,
A vida na Terra começou e evoluiu na água por três bilhões significando que as duas extremidades da molécula têm cargas
de anos antes de se expandir para a terra firme. A vida atual, mes- opostas: a região do oxigênio da molécula tem carga parcial nega-
mo a terrestre (que habita na terra), permanece vinculada à água. tiva (δ⫺), e a do hidrogênio tem carga parcial positiva (δ⫹).
Todos os organismos vivos necessitam de água mais do que qual- As propriedades anômalas da água surgem das atrações entre
quer outra substância. Os seres humanos, por exemplo, podem suas moléculas polares: o hidrogênio levemente positivo de uma
sobreviver por algumas semanas sem comida, mas só por uma molécula é atraído pelo oxigênio levemente negativo da molécu-
semana ou menos sem água. As moléculas da água participam la próxima. As duas moléculas são, portanto, mantidas por uma
B i o l o gi a 47

3.2 Quatro propriedades emergentes


da água contribuem para a
adequação da Terra à vida
δ– Vamos examinar as quatro propriedades emergentes da água que
Ligação de contribuem para a Terra ser um ambiente apropriado para a vida:
δ+ hidrogênio o comportamento coesivo, a habilidade de moderar a temperatu-
H ra, a expansão sob congelamento e a versatilidade como solvente.

O Coesão
δ–
δ+ H
δ– δ+ As moléculas da água ficam próximas umas das outras, devido às
δ– ligações de hidrogênio. Embora a disposição das moléculas em
δ+
uma amostra de água líquida esteja sempre mudando, em qual-
quer momento específico muitas moléculas se encontram ligadas
por múltiplas ligações de hidrogênio. Por conta dessas ligações, a
água torna-se mais estruturada do que a maioria dos outros líqui-
dos. Coletivamente, as ligações de hidrogênio mantêm a substân-
cia unida, fenômeno chamado de coesão.
 Figura 3.2 As ligações de hidrogênio entre as moléculas da Nas plantas, a coesão devido às ligações de hidrogênio contri-
água. As regiões carregadas de uma molécula da água polar são atraídas bui para o transporte de água e nutrientes diluídos contra a força
pelas cargas opostas das moléculas vizinhas. Cada molécula pode estabe- da gravidade (Figura 3.3). A água das raízes alcança as folhas atra-
lecer ligações de hidrogênio com múltiplas moléculas, e essas associações vés de uma rede de células condutoras de água. À medida que a
mudam constantemente.
água evapora das folhas, as ligações de hidrogênio das moléculas
de água que deixam as nervuras puxam com força as moléculas
ligação de hidrogênio (Figura 3.2). Quando a água está em for- abaixo, e essa força de tração para cima é transmitida através das
ma líquida, as ligações de hidrogênio são muito frágeis, aproxi- células condutoras de água por todo o caminho até as raízes.
madamente da força de uma ligação covalente. A formação, a
ruptura e a reconstituição das ligações de hidrogênio acontecem
com grande frequência. Elas duram apenas poucos trilionésimos A adesão da água às paredes da célula
de segundo, mas as moléculas formam constantemente novas pelas ligações de hidrogênio ajuda a
resistir à força da gravidade.
ligações de hidrogênio com uma série de parceiros. Portanto, a
qualquer instante, uma porcentagem substancial de todas as mo-
léculas da água está ligada a seus vizinhos por pontes de hidro-
gênio. As qualidades extraordinárias da água são propriedades Células condutoras
de água
emergentes que resultam da ponte de hidrogênio que ordena as
moléculas em um nível superior de organização estrutural.

REVISÃO DO CONCEITO

1. O que é eletronegatividade? Como ela afeta as interações


entre as moléculas da água?
2. Por que é improvável que duas moléculas de água vizinhas Direção do
A coesão
sejam arranjadas deste modo? movimento
150 μm resultante das
da água
ligações de
HH hidrogênio entre
O O as moléculas da
HH água ajuda a
manter a coluna
3. E SE...? Se o oxigênio e o hidrogênio tivessem a mes- de água dentro
ma eletronegatividade? qual seria o efeito nas proprieda- da célula.
des da molécula da água?
 Figura 3.3 Transporte de água em plantas. A evaporação das fo-
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. lhas traciona a água para cima desde as raízes por meio das células condu-
toras de água. Devido às propriedades de coesão e adesão, até as árvores
muito altas conseguem transportar a água 100 m acima – aproximada-
mente 25% da altura do Empire State Building na cidade de Nova York.
48 C a mpbe ll & Col s .

moléculas; assim, o calor depende em parte do volume de maté-


ria. Embora estejam relacionados, calor e temperatura são coisas
diferentes. A temperatura é a medida da intensidade do calor que
representa a energia cinética média das moléculas, independente-
mente do volume. Quando a água é aquecida em uma cafeteira, a
velocidade média das moléculas aumenta, e o termômetro registra
uma elevação na temperatura do líquido. A quantidade de calor
também aumenta neste caso. Note, entretanto, que embora a jarra
de café tenha uma temperatura mais alta que a água de uma pisci-
na, a piscina contém mais calor devido ao volume maior.
Sempre que dois objetos de diferente temperatura se encos-
tam, o calor passa do objeto mais quente para o mais frio até que os
dois estejam na mesma temperatura. As moléculas do objeto mais
frio aceleram às custas da energia cinética do objeto mais quente.
O cubo de gelo esfria a bebida não adicionando frio ao líquido,
mas absorvendo calor do líquido à medida que o gelo derrete.
Ao longo deste livro, utilizaremos a escala Celsius para in-
 Figura 3.4 Caminhando na água. A alta tensão superficial da água, dicar a temperatura (graus Celsius são abreviados como ºC). Ao
resultante da resistência coletiva das ligações de hidrogênio, permite certas nível do mar, a água congela a 0ºC e ferve a 100ºC. A temperatura
espécies caminharem sobre a superfície de um açude, como o inseto acima.
média do corpo humano é de 37ºC, e a temperatura ambiente
confortável é em torno de 20-25ºC.
A adesão, a aderência entre duas substâncias, também exer- A unidade de calor utilizada neste livro é a caloria (cal). Uma
ce seu papel. A adesão da água às paredes da célula por ligações caloria é a quantidade de calor necessária para elevar em 1ºC a tem-
de hidrogênio ajuda a agir contra a força para baixo da gravidade peratura de 1 g de água. Por outro lado, uma caloria também é a
(ver Figura 3.3). quantidade de calor que 1 g de água libera quando é resfriada 1ºC.
Relacionada à coesão, a tensão superficial mede quanto é Uma quilocaloria (kcal), 1.000 cal, é a quantidade de calor necessá-
dif ícil estender ou quebrar a superf ície de um líquido. A água ria para elevar em 1ºC a temperatura de 1 quilograma (kg) de água.
tem maior tensão superficial do que a maioria dos outros líqui- (As “calorias” nas embalagens de comida são, na verdade, quiloca-
dos. Na interface entre a água e o ar, há um arranjo ordenado de lorias.) Outra unidade de energia utilizada neste livro é o joule (J).
moléculas de água, unidas por ligações de hidrogênio entre elas e Um joule equivale a 0,239 cal; uma caloria equivale a 4,184 J.
com a água abaixo. Por isso, a água se comporta como se estivesse
revestida por uma película invisível. Você pode observar a tensão Alto calor específico da água
superficial da água enchendo um copo até quase transbordar: a A habilidade da água de estabilizar a temperatura origina-se do
água permanece acima da borda. Em um exemplo mais biológico, seu calor específico relativamente alto. O calor específico de uma
alguns animais conseguem ficar em pé, caminhar ou correr sobre substância é definido como a quantidade de calor absorvida ou
a água sem romper a superf ície (Figura 3.4). perdida para 1 g daquela substância mudar sua temperatura em
1ºC. Já conhecemos o calor específico da água porque definimos
Moderação da temperatura que uma caloria é a quantidade de calor necessária para 1 g de
A água modera a temperatura absorvendo o calor do ar, mais água mudar sua temperatura em 1ºC. Portanto, o calor específico
quente, e liberando o calor armazenado para o ar, mais frio. A da água é 1 caloria por grama por grau Celsius, abreviado como
água é eficaz como banco de calor, pois consegue absorver ou li- 1 cal/g/ºC. Comparada com a maioria das outras substâncias, a
berar uma relativamente grande quantidade de calor com apenas água tem calor específico incomumente elevado. Por exemplo, o
uma pequena mudança na própria temperatura. Para entender álcool etílico, o álcool das bebidas alcoólicas, tem calor específico
essa capacidade da água, devemos primeiro estudar brevemente de 0,6 cal/g/ºC; isto é, apenas 0,6 cal é necessária para aumentar a
o calor e a temperatura. temperatura de 1 g do álcool etílico em 1ºC.
Devido ao elevado calor específico da água em relação aos ou-
Calor e temperatura tros materiais, a água muda menos a temperatura quando ao absor-
Tudo que se move tem energia cinética, a energia do movimen- ver ou perder uma determinada quantidade de calor. A razão pela
to. Os átomos e as moléculas têm energia cinética porque estão qual você pode queimar os dedos tocando a lateral de uma panela
sempre se movendo, embora não necessariamente em uma dire- de ferro no fogão quando a água da panela ainda está morna é que
ção determinada. Quanto mais rápido a molécula se move, maior o calor específico da água é dez vezes maior do que o do ferro. Em
sua energia cinética. O calor é uma forma de energia. Para um outras palavras, a mesma quantidade de calor aumenta a tempera-
certo corpo de matéria, a quantidade de calor é uma medida da tura de 1 g de ferro muito mais rápido do que a temperatura de 1 g
energia cinética total da matéria decorrente do movimento de suas de água. O calor específico pode ser considerado uma medida do
B i o l o gi a 49

São Bernardino evaporando. Se um líquido é aquecido, a energia cinética média


Santa Barbara 73° Burbank
90° 100° das moléculas aumenta e o líquido evapora mais rapidamente.
Los Angeles Riverside 96° O calor de vaporização é a quantidade de calor que o líquido
(Aeroporto) 75° Santa Ana deve absorver para que 1 g seja convertido do estado líquido para
84˚ Palm Springs
70s (°F) 106° o gasoso. Pela mesma razão que a água tem elevado calor espe-
80s Oceano Pacífico cífico, ela também tem elevado calor de vaporização em relação
90s à maioria dos outros líquidos. Para evaporar 1 g de água a 25°C,
100s San Diego 72° são necessárias aproximadamente 580 cal de calor – o dobro da
quantidade necessária para vaporizar um grama de álcool ou de
40 milhas amônia. O elevado calor de vaporização da água é outra proprie-
 Figura 3.5 O efeito de um grande corpo aquático no clima. Pela dade emergente explicada pelas ligações de hidrogênio, que de-
absorção de calor, os oceanos moderam os climas litorâneos. Estas são as vem ser quebradas antes de as moléculas saírem do líquido.
altas temperaturas no mês de agosto no sul da Califórnia. O grande volume de energia necessário para vaporizar a água
tem vasta gama de efeitos. Em escala global, por exemplo, ela
quanto uma substância resiste a mudanças em sua temperatura ao
ajuda a moderar o clima da Terra. Um volume considerável do
absorver ou liberar calor. A água resiste a mudanças na sua tempe-
calor solar absorvido pelo mar tropical é consumido durante a
ratura; quando altera sua temperatura, absorve ou perde uma quan-
evaporação da água superficial. Então, à medida que o ar tropical
tidade relativamente grande de calor para cada grau de mudança.
úmido circula em direção aos polos, libera calor ao condensar e
Podemos conectar o elevado calor específico da água, como
formar chuva. Em termos de organismos, o elevado calor de va-
muitas de suas outras propriedades, às ligações de hidrogênio. Deve
porização da água é responsável pela severidade das queimaduras
ser absorvido calor para quebrar as ligações de hidrogênio, e calor
a vapor. Essas queimaduras são causadas pela energia calorífica
é liberado quando as pontes de hidrogênio se formam. Uma caloria
liberada quando o vapor condensa em líquido sobre a pele.
de calor causa uma alteração relativamente pequena na temperatura
À medida que um líquido evapora, a superf ície do líquido
da água, pois grande parte do calor é utilizada para romper ligações
restante esfria. Esse resfriamento evaporativo ocorre porque as
de hidrogênio antes que as moléculas da água comecem a mover-se
moléculas “mais quentes”, com a maior energia cinética, são as
rapidamente. E quando a temperatura da água diminui um pouco,
que mais provavelmente se tornam gás. É como se os cem corre-
muitas ligações de hidrogênio adicionais se formam, liberando uma
dores mais rápidos de uma universidade fossem transferidos para
considerável quantidade de energia em forma de calor.
outra: a velocidade média dos estudantes restantes diminuiria.
Qual é a relevância do elevado calor específico da água para a
O resfriamento evaporativo da água contribui para a estabili-
vida na Terra? Mares e oceanos absorvem e armazenam imensas
dade da temperatura em lagos e açudes, além de suprir um meca-
quantidades de calor do sol durante o dia e durante o verão, aque-
nismo que previne os organismos terrestres do superaquecimento.
cendo apenas poucos graus. À noite e durante o inverno, o esfria-
Por exemplo, a evaporação da água das folhas de uma planta aju-
mento gradual da água pode aquecer o ar. Por essa razão, o lito-
da a prevenir o aquecimento dos tecidos das folhas na luz do sol.
ral geralmente tem climas mais brandos do que o interior (Figura
A evaporação do suor da pele humana dissipa o calor do corpo e
3.5). O elevado calor específico da água também tende a estabilizar
ajuda a prevenir o superaquecimento em dias quentes ou quando
a temperatura dos oceanos, criando um ambiente favorável para a
uma atividade árdua gera calor excessivo. A alta umidade em um
vida marinha. Portanto, devido ao elevado calor específico, a água
dia quente aumenta o desconforto porque a alta concentração de
que cobre a maioria da Terra mantém as flutuações da temperatura
na terra e na água dentro dos limites que permitem a vida. Além dis- vapor de água no ar inibe a evaporação do suor corporal.
so, como os organismos são constituídos principalmente de água,
são mais aptos a resistir mudanças em sua própria temperatura do
Isolamento térmico de corpos de água pelo
que se fossem constituídos de líquidos com menor calor específico. gelo flutuante
A água é uma das poucas substâncias menos densas em forma só-
Resfriamento evaporativo lida do que na forma líquida. Em outras palavras, o gelo flutua em
As moléculas de qualquer líquido permanecem juntas porque se água líquida. Enquanto outros materiais se contraem quando soli-
atraem umas pelas outras. As moléculas que se movem rápido dificam, a água se expande. O motivo desse comportamento exóti-
o suficiente para superar essas atrações podem sair do líquido e co é, outra vez, a ligação de hidrogênio. Em temperaturas acima de
entrar no ar como gás. Essa transformação de líquido para gás 4°C, a água se comporta como os outros líquidos, expandindo ao
é chamada de vaporização ou evaporação. Lembre-se de que a aquecer e contraindo ao esfriar. A água começa a congelar quan-
velocidade do movimento molecular varia, e que a temperatura é do suas moléculas não mais se movem com vigor suficiente para
a média da energia cinética das moléculas. Até mesmo em tem- quebrar as ligações de hidrogênio. Quando a temperatura baixa
peraturas baixas, as moléculas mais velozes podem escapar para para 0°C, a água fica envolta em uma estrutura cristalina. Cada
o ar. Um pouco de evaporação ocorre em qualquer temperatura; molécula de água se une por ligações de hidrogênio a quatro ou-
um copo de água em temperatura ambiente, por exemplo, acaba tras moléculas (Figura 3.6). As ligações de hidrogênio mantêm as
50 C a mpbe ll & Col s .

Ligações de
hidrogênio
Gelo Água líquida
Ligações de hidrogênio são estáveis As ligações de hidrogênio rompem-se e refazem-se
 Figura 3.6 Gelo: estrutura cristalina e léculas do que um volume igual de água líquida. do acima é uma espécie de camarão chamada de
barreira flutuante. No gelo, cada molécula Em outras palavras, o gelo é menos denso do que krill, fotografado sob o gelo antártico.
une-se por ligações de hidrogênio a quatro ou- a água líquida. O gelo flutuante se torna uma
tras em um cristal tridimensional. Como o cristal barreira térmica que protege a água líquida abai-
? Se a água não formasse ligações de hidrogê-
nio, o que aconteceria com o ambiente do
é uma estrutura espaçosa, o gelo tem menos mo- xo do ar mais frio. O organismo marinho mostra- camarão?

moléculas “ao alcance do braço”, a uma distância suficiente para nada funciona melhor do que a água. Entretanto, a água não é
tornar o gelo cerca de 10% menos denso (10% menos moléculas um solvente universal; se assim fosse, ela dissolveria qualquer re-
para igual volume) do que a água líquida a 4°C. Quando o gelo cipiente em que estivesse armazenada, incluindo as nossas célu-
absorve calor suficiente para a temperatura do gelo subir acima de las. Mas a água é um solvente muito versátil, qualidade explicável
0°C, as ligações de hidrogênio entre as moléculas são rompidas. À pela polaridade da molécula da água.
medida que o cristal se desfaz, o gelo derrete, e as moléculas ficam Supondo, por exemplo, que uma colherada de sal de cozinha,
livres para se adensarem. A água alcança sua maior densidade a o composto iônico cloreto de sódio (NaCl), seja colocado na água
4°C e então começa a expandir à medida que as moléculas se mo- (Figura 3.7). Na superf ície de cada grão ou cristal de sal, os íons
vem mais rapidamente. Tenha em mente, entretanto, que mesmo de sódio ou de cloro ficam expostos ao solvente. Esses íons e as
na água líquida, muitas moléculas estão conectadas por ligações
de hidrogênio, embora apenas transitoriamente: as ligações de hi-
As regiões negativas
drogênio constantemente se rompem e se refazem. do oxigênio das _
A habilidade do gelo de flutuar (devido à expansão da água moléculas polares da Na+
+_
ao solidificar) é um fator importante na adequação do ambiente. água são atraídas + _
pelos cátions de +
Se o gelo afundasse, então todos os açudes, lagos e até oceanos sódio (Na+) _ _
acabariam congelando. Com isso, a vida como a conhecemos seria Na+
impossível na Terra. Durante o verão, apenas as poucas polegadas _
As regiões positivas
do hidrogênio das + +
superiores do oceano degelariam. Em vez disso, quando grandes
moléculas da água Cl– Cl–
corpos aquáticos esfriam, o gelo flutuante isola a água líquida abai- + _
aderem-se aos ânions _
xo, evitando que ela congele e permitindo a vida sob a superf ície de cloro (Cl–). +
congelada, como mostrado na fotografia na Figura 3.6. –
+
_
O solvente da vida _
Um cubo de açúcar colocado no copo d’água dissolve-se. O copo
então contém uma mistura uniforme de açúcar e água; a con-
centração do açúcar dissolvido será igual em todas as partes da
mistura. Um líquido que consiste numa mistura completamente
homogênea de duas ou mais substâncias é chamado de solução.
O agente dissolvente de uma solução é o solvente, e a substância
dissolvida é o soluto. Neste caso, a água é o solvente e o açúcar é  Figura 3.7 O sal de cozinha dissolvido em água. Uma esfera de
o soluto. Uma solução aquosa tem a água como solvente. moléculas de água, chamada de cápsula de hidratação, envolve cada íon
do soluto.
Os alquimistas medievais tentaram encontrar um solvente
universal, capaz de dissolver qualquer coisa. Aprenderam que ? O que aconteceria ao aquecermos esta solução por um longo tempo?
B i o l o gi a 51

δ+ Este oxigênio é
atraído por uma
δ– fraca carga positiva
δ– na molécula da
lisozima.
δ+

Este hidrogênio é atraído por uma fraca


carga negativa na molécula de lisozima.

(a) A molécula da lisozima em ambiente (b) A molécula da lisozima (roxa) em ambiente (c) Regiões iônicas e polares na superfície da
não aquoso. aquoso, como lágrimas ou saliva. proteína atraem moléculas de água.

 Figura 3.8 Uma proteína solúvel em água. Esta figura mostra a lisozima humana, proteína encon-
trada nas lágrimas e na saliva com ação antibacteriana.

moléculas da água têm afinidade mútua devido à atração entre as é o algodão, um produto vegetal. O algodão consiste em molé-
cargas opostas. culas gigantes de celulose, composto com numerosas regiões de
As regiões de oxigênio das moléculas da água são carregadas cargas parciais positivas e negativas capazes de formar ligações
negativamente e aderem aos cátions de sódio. As regiões de hi- de hidrogênio com a água. A água adere-se às fibras de celulose.
drogênio são carregadas positivamente e atraídas pelos ânions de Desse modo, uma toalha de algodão é excelente para enxugar o
cloro. Como resultado, as moléculas da água envolvem os íons de corpo, mas não se dissolve na máquina de lavar roupa. A celulose
sódio e de cloro individualmente, separando-os e protegendo-os também ocorre nas paredes das células condutoras de água nos
uns dos outros. A esfera de moléculas de água em volta de cada íon vegetais; aprendemos que a adesão da água a essas paredes hidro-
dissolvido é chamada de cápsula de hidratação. Agindo desde a f ílicas permite que o transporte de água ocorra.
superf ície até o interior de cada cristal de sal, a água termina dis- Existem, é claro, substâncias sem afinidade pela água. As
solvendo todos os íons. O resultado é uma solução de dois solutos, substâncias não iônicas e não polares (ou que por alguma outra
cátions de sódio e ânions de cloro, homogeneamente misturados razão não podem formar ligações de hidrogênio) na verdade pare-
com a água, o solvente. Outros compostos iônicos também são cem repelir a água; essas substâncias são hidrofóbicas (do grego
dissolvidos na água. A água do mar, por exemplo, contém grande phobos, com medo). Um exemplo culinário é o óleo vegetal, que,
variedade de íons dissolvidos, assim como de células vivas. como você sabe, não se mistura estavelmente com substâncias
Um composto não precisa ser iônico para dissolver-se na aquosas como o vinagre. O comportamento hidrofóbico das mo-
água; muitos compostos constituídos de moléculas polares não léculas de óleo decorre da prevalência de ligações relativamente
iônicas, como açúcares, são também solúveis em água. Esses não polares, no caso, as ligações entre carbono e hidrogênio, com
compostos dissolvem-se quando as moléculas da água envolvem elétrons compartilhados quase igualmente. As moléculas hidro-
cada molécula do soluto, formando ligações de hidrogênio com fóbicas relacionadas ao óleo são os principais ingredientes das
elas. Mesmo grandes moléculas como as proteínas podem ser membranas celulares. (Imagine o que aconteceria se a membrana
dissolvidas na água se tiverem regiões iônicas e polares na sua de uma célula se dissolvesse!)
superf ície (Figura 3.8). Muitos tipos diferentes de compostos po-
lares são dissolvidos (junto com os íons) na água de fluidos bioló- Concentração do soluto em soluções aquosas
gicos como o sangue, a seiva de plantas e o líquido intracelular. A A química biológica é a química “úmida”. A maioria das reações
água é o solvente da vida. químicas nos organismos envolve solutos dissolvidos em água.
Para entender essas reações devemos saber quantos átomos e
Substâncias hidrofílicas e hidrofóbicas moléculas estão envolvidos e sermos capazes de calcular a con-
Qualquer substância com afinidade pela água é considerada hi- centração dos solutos na solução aquosa (o número de moléculas
drof ílica (do grego hydro, água, e philios, que gosta). Em certos de soluto em um volume de solução).
casos, as substâncias podem ser hidrof ílicas sem de fato dissol- Ao executarmos experimentos, utilizamos a massa para calcu-
ver-se. Por exemplo, algumas moléculas nas células são tão gran- lar o número de moléculas. Conhecemos a massa de cada átomo
des que não se dissolvem. Em vez disso, permanecem suspensas em uma dada molécula, então podemos calcular a massa mole-
no líquido aquoso da célula. Essa mistura é o exemplo de um co- cular, ou simplesmente a soma das massas de todos os átomos da
loide, uma suspensão estável de partículas finas em um líquido. molécula. Como exemplo, vamos calcular a massa molecular do
Outro exemplo de uma substância hidrof ílica que não se dissolve açúcar de cozinha (sacarose), cuja fórmula molecular é C12H22O11.
52 C a mpbe ll & Col s .

Em números arredondados de daltons, a massa do átomo de car- 3.3 Condições ácidas e básicas
bono é 12, a massa do átomo de hidrogênio é 1 e a massa do átomo
de oxigênio é 16. Assim, a sacarose tem massa molecular de 342 afetam os organismos vivos
daltons. É claro: a pesagem de números pequenos de moléculas
Ocasionalmente, um átomo de hidrogênio participando de uma
não é viável. Por essa razão, em geral, medimos as substâncias
ligação de hidrogênio entre duas moléculas de água move-se de
em unidades chamadas de moles. Exatamente como uma dúzia
uma molécula para a outra. Quando isso acontece, o átomo de
sempre significa 12 objetos, um mol (mol) representa um número
hidrogênio deixa o elétron para trás. O que realmente se transfere
preciso – 6,02 × 1023, ou número de Avogadro. Devido à maneira
é um íon de hidrogênio (H⫹), único próton com carga de ⫹1. A
pela qual o número de Avogadro e a unidade dalton foram inicial-
molécula de água perdeu um próton e agora é um íon hidróxido
mente definidos, há 6,02 × 1023 daltons em 1 g. Isso é significativo,
(OH⫺), com carga ⫺1. O próton liga-se à outra molécula de água,
pois uma vez que determinamos a massa molecular de uma mo-
tornando a molécula um íon hidrônio (H3O⫹). Podemos repre-
lécula como a sacarose, podemos utilizar o mesmo número (342),
sentar a reação química desta forma:
mas com a unidade grama, para representar a massa de 6,02 ×
1023 moléculas de sacarose, ou 1 mol de sacarose (isso às vezes é + –
chamado de massa molar). Portanto, para obter 1 mol de sacarose H
H
no laboratório, pesamos 342 g. O H O O H + O
A vantagem prática de medir uma quantidade de compos- H H H H
tos químicos em moles é que um mol de uma substância tem 2H2O Íon hidrônio Íon hidróxido
exatamente o mesmo número de moléculas do que um mol de
(H3O+) (OH–)
qualquer outra substância. Se a massa molecular da substância
A é 342 daltons e a da substância B é 10 daltons, então 342 g de Por convenção, H⫹ (o íon de hidrogênio) é utilizado para represen-
A terão o mesmo número de moléculas que 10 g de B. Um mol tar H3O⫹ (íon hidrônio). Vamos seguir esse uso aqui. Entretanto,
do álcool etílico (C2H6O) também contém 6,02 × 1023 molécu- lembre-se de que H⫹ não existe por si só em soluções aquosas: está
las, mas sua massa é apenas 46 g, porque a massa da molécula sempre associado com outra molécula de água em forma de H3O⫹.
do álcool etílico é menor que a da molécula de sacarose. A me- Como indicado pela seta dupla, essa reação é reversível e al-
dida em moles é conveniente para os cientistas trabalhando em cança o estado de equilíbrio dinâmico quando as moléculas da
laboratório, que combinam substâncias em proporções fixas de água se dissociam no mesmo ritmo em que vão sendo refeitas a
moléculas. partir de H⫹ e OH⫺. Nesse ponto de equilíbrio, a concentração
Como fazemos um litro (l) de solução de 1 mol de sacarose de moléculas de água excede muito a concentração de H⫹ e OH⫺.
dissolvido em água? Medimos 342 g de sacarose e então gradual- Na água pura, apenas uma em cada 554 milhões de moléculas de
mente adicionamos água, sob agitação, até o açúcar ficar com- água se encontra dissociada. A concentração de cada íon na água
pletamente dissolvido. Então adicionamos água suficiente para pura é de 10⫺7 M (a 25°C). Isso significa apenas a décima parte de
levar o volume total da solução para 1 l. A esta altura, teríamos 1 um milionésimo de mol de íons de hidrogênio por litro de água
molar (1 M) de solução de sacarose. A molaridade – o número de pura e um número igual de íons hidróxido.
moles de soluto por litro da solução – é a unidade de concentra- A dissociação da água é reversível e estatisticamente rara,
ção utilizada com mais frequencia por biólogos para as soluções mas de extrema importância na química da vida. O H⫹ e o OH⫺
aquosas. são muito reativos. As mudanças em suas concentrações po-
dem afetar drasticamente as proteínas da célula e outras molé-
REVISÃO DO CONCEITO
culas complexas. Como vimos, as concentrações de H⫹ e OH⫺
1. Descreva como as propriedades da água contribuem para são iguais na água pura, mas adicionando certos tipos de solutos,
o movimento da água para cima em uma árvore. chamados de ácidos e bases, o equilíbrio é rompido. Os biólogos
2. Explique o ditado “Não é calor, é umidade”. utilizam a escala de pH para descrever o quão ácida ou básica
3. Como o congelamento da água pode rachar pedras? (oposto de ácida) é a solução. No restante deste capítulo, vamos
4. Se você fosse um farmacêutico, como faria uma solução aprender sobre ácidos, bases e pH, e como mudanças no pH po-
de cloreto de sódio (NaCl) 0,5 molar (0,5 M)? (A massa dem afetar desfavoravelmente os organismos.
atômica do Na é 23 daltons e a do Cl é 35,5 daltons.)
5. E SE...? As patas de certas espécies de inseto (ver Fi- Os efeitos de mudanças no pH
gura 3.4) são revestidas por uma substância hidrofóbica. Antes de discutirmos a escala de pH, vamos conceituar ácidos e
Qual poderia ser o benef ício? O que aconteceria se a subs- bases e como ambos interagem com a água.
tância fosse hidrof ílica?
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. Ácidos e bases
Por que uma solução aquosa apresentaria desequilíbrio nas con-
centrações de H⫹ e OH⫺? Quando os ácidos se dissolvem na água,
B i o l o gi a 53

doam H⫹ adicionais para a solução. Ácidos são substâncias que mentar [H⫹] para 10⫺5 M, então [OH⫺] diminuirá para uma quan-
aumentam a concentração do íon hidrogênio de uma solução. Por tidade equivalente a 10⫺9 M (note que 10⫺5× 10⫺9⫽10⫺14). Essa
exemplo, quando o ácido clorídrico (HCl) é adicionado na água, relação constante expressa o comportamento de ácidos e bases
os íons de hidrogênio dissociam-se dos íons de cloro: em solução aquosa. Um ácido não apenas adiciona íons hidrogê-
nio a uma solução, mas também remove íons hidróxido devido à
HCl ¡ H⫹ ⫹ Cl⫺
tendência do H⫹ combinar-se com a OH⫺, formando água. Uma
Essa fonte de H⫹ (a dissociação da água é outra fonte) resulta em base tem o efeito oposto, aumentando a concentração de OH⫺,
uma solução ácida – com mais H⫹ do que OH⫺. mas também reduzindo a concentração de H⫹ pela formação de
Uma substância que reduz a concentração de íons de hidrogênio água. Se quantidades suficientes de uma base forem adicionadas
de uma solução é chamada de base. Algumas bases reduzem a con- para elevar a concentração de OH⫺ para 10⫺4 M, isso causará a
centração de H⫹ pela captação direta de íons hidrogênio. A amônia diminuição da concentração de H⫹ para 10⫺10 M. Sempre que
(NH3), por exemplo, atua como base quando os dois elétrons não soubermos a concentração tanto de H⫹ como de OH⫺ em uma
compartilhados na camada de valência do nitrogênio atraem um íon solução aquosa, podemos deduzir a concentração do outro íon.
hidrogênio da solução, resultando no íon amônio (NH4⫹): As concentrações de H⫹ e OH⫺ das soluções podem variar por
NH3 ⫹ H⫹ Δ NH4⫹ um fator de 100 trilhões ou mais. Por isso, os cientistas desenvol-
veram uma forma de expressar essa variação de modo mais conve-
Outras bases reduzem a concentração de H⫹ de modo indireto, niente que em moles por litro. A escala de pH (Figura 3.9) compri-
dissociando-se para formar íons hidróxido que combinam com me a faixa de concentrações de H⫹ e OH⫺ por meio do emprego
íons hidrogênio para formarem água. Uma base desse tipo é o de logaritmos. O pH de uma solução é definido como o logaritmo
hidróxido de sódio (NaOH) que, na água, dissocia-se nos íons: negativo (base 10) da concentração de um íon hidrogênio:
NaOH ¡ Na⫹ ⫹ OH⫺
Escala de pH
Nos dois casos, a base reduz a concentração de H⫹. As soluções 0
com maior concentração de OH⫺ do que H⫹ são conhecidas
como soluções básicas. Uma solução com igual concentração de 1
Ácido de bateria
H⫹ e OH⫺ é chamada neutra.
Observe que setas simples são utilizadas nas reações de HCl 2 Suco gástrico, suco de limão
Cada vez mais ácido

e NaOH. Esses compostos dissociam-se completamente quando ⴙ Hⴙ


H

misturados com água. Por isso, o ácido clorídrico é considerado
[H+] > [OH–]

ⴚ H
Hⴙ OH
ⴚ Hⴙ ⴙ
3 Vinagre, cerveja,
um ácido forte, e o hidróxido de sódio, uma base forte. Ao con- OH H vinho, refrigerante
Hⴙ Hⴙ de cola
trário, a amônia é uma base relativamente fraca. As setas duplas
Solução 4 Suco de
na reação da amônia indicam que a ligação e liberação de íons hi- tomate
ácida
drogênio são reações reversíveis, embora no equilíbrio haja uma Café preto
5
proporção fixa de NH4⫹ para NH3.
Água da chuva
Há também ácidos fracos, que liberam e recebem de forma
6 Urina
reversível íons hidrogênio. Um exemplo é o ácido carbônico:
OHⴚ Saliva
OHⴚ
H2CO3 HCO3 H Neutro
Δ Hⴙ Hⴙ OH

[H+] = [OH–] 7 Água pura
Ácido Íon Íon

OHⴚ OH ⴙ Sangue humano,
Hⴙ
Hⴙ
H lágrimas
carbônico bicarbonato hidrogênio
8 Água do mar
Solução
Aqui o equilíbrio é tão favorável à reação para a esquerda que, neutra
quando o ácido carbônico é adicionado na água, apenas 1% das 9
Cada vez mais básico

moléculas são dissociadas em um determinado tempo. Isso já é


suficiente para mudar o equilíbrio de H⫹ e OH⫺ da neutralidade.
[H+] < [OH–]

10
Leite de magnésia
OHⴚ
A escala do pH OHⴚ
11
OHⴚ Hⴙ OHⴚ
Em qualquer solução aquosa a 25ºC, o produto das concentrações OHⴚ OH

Amônia caseira
de H⫹ e OH⫺ é uma constante, 10⫺14. Isso pode ser escrito assim:

Hⴙ OH
12
Solução
[H⫹] [OH⫺] ⫽ 10⫺14 básica Alvejante para
13 roupas
Nessa equação, os colchetes indicam a concentração molar. Em
uma solução neutra, a temperatura ambiente (25ºC), [H⫹] ⫽ 10⫺7 Limpador de
14 forno
e [OH⫺] ⫽ 10⫺7. Então, nesse caso, 10⫺14 é o produto de 10⫺7 ×
10⫺7. Se ácido suficiente for adicionado a uma solução para au-  Figura 3.9 A escala do pH e o pH de certas soluções aquosas.
54 C a mpbe ll & Col s .

pH ⫽ ⫺log [H⫹] Resposta ao


aumento de pH
Para uma solução aquosa neutra, [H⫹] é 10⫺7 M, que resulta em H2CO3 Δ HCO3 H
⫺7 Doador de Resposta à Aceptor de Íon
⫺log 10 ⫽ ⫺(⫺7) ⫽ 7
H⫹(ácido) diminuição de pH H⫹(base) hidrogênio
Note que o pH diminui à medida que a concentração de H⫹
O equilíbrio químico entre o ácido carbônico e o bicarbonato age
aumenta. Note também que, embora a escala do pH se baseia
como regulador de pH. A reação muda para a esquerda ou para
na concentração de H⫹, ela também envolve a concentração de
a direita conforme os outros processos na solução adicionam ou
OH⫺. Uma solução de pH 10 tem concentração de íon hidrogênio
removem íons de hidrogênio. Se a concentração de H⫹ no sangue
de 10⫺10 M e concentração de íon hidróxido de 10⫺4 M.
começa a cair (isto é, se o pH aumenta), a reação tende para a di-
O pH de uma solução aquosa neutra a 25ºC é 7, o ponto
reita e mais ácido carbônico dissocia-se, reabastecendo os íons hi-
médio da escala. Um pH menor do que 7 indica solução ácida;
drogênio. Mas quando a concentração de H⫹ no sangue começa a
quanto menor o número, mais ácida a solução. O pH de soluções
aumentar (quando o pH diminui), a reação pende para a esquerda,
básicas é maior do que 7. A maioria dos fluidos biológicos fica
com HCO3⫺ (a base) removendo os íons hidrogênio da solução e
na faixa de pH 6-8. Entretanto, há poucas exceções, incluindo o
formando H2CO3. Portanto, o sistema tampão ácido carbônico –
suco digestivo fortemente ácido do estômago humano, com pH bicarbonato consiste em um ácido e uma base em equilíbrio mútuo.
aproximado de 2. A maioria dos outros tampões também são pares de ácido-base.
Lembre-se que cada unidade de pH representa uma diferença
de dez vezes nas concentrações de H⫹ e OH⫺. É essa propriedade Ameaças à qualidade da água na Terra
matemática que torna a escala de pH tão compacta. Soluções de
Considerando a dependência de toda a vida pela água, a contami-
pH 3 não são duas vezes tão ácidas quanto soluções de pH 6, mas
nação de rios, lagos, mares e chuva é um problema ambiental ca-
mil vezes mais ácidas. Quando o pH de uma solução muda um
lamitoso. Muitas ameaças à qualidade da água têm sido causadas
pouco, as concentrações reais de H⫹ e OH⫺ na solução mudam
por atividades humanas. Considere, por exemplo, a queima de
bastante.
combustível fóssil (carvão, óleo e gás). Essa prática, que aumen-
Tampões ta desde a Revolução Industrial no século XIX, libera compostos
gasosos na atmosfera, inclusive grandes quantidades de CO2. As
O pH interno da maioria das células vivas é próximo a 7. Mes-
reações químicas desses compostos com a água alteram o equilí-
mo uma pequena mudança no pH pode ser prejudicial, porque os
brio delicado das condições para a vida na Terra, afetando o pH e
processos químicos das células são muito sensíveis às concentra-
a temperatura da água.
ções de íons hidrogênio e hidróxido.
A queima de combustível fóssil é a principal fonte de óxidos
O pH do sangue humano é muito próximo a 7,4, levemente
de enxofre e óxidos nitrosos. Esses óxidos reagem com a água no
básico. Uma pessoa não poderia sobreviver por mais de poucos
ar e formam ácidos fortes, que caem na Terra com a chuva ou
minutos se o pH do sangue diminuísse para 7 ou aumentasse para a neve. A expressão precipitação ácida refere-se à chuva, neve
7,8. Existe um sistema químico no sangue que mantém o pH es- ou neblina com pH menor (mais ácido) que 5,2. (As chuvas não
tável. Se você adicionar 0,01 mol de um ácido forte a um litro de contaminadas têm pH em torno de 5,6, levemente ácidas, devido
água pura, o pH diminuirá de 7 para 2. Entretanto, se a mesma à formação de ácido carbônico a partir de dióxido de carbono e
quantidade de ácido é adicionada a um litro de sangue, a redução água.) As indústrias de energia elétrica que queimam o carvão
do pH é de apenas 7,4 para 7,3. Por que a adição de ácido tem produzem mais desses óxidos do que qualquer outra fonte. Os
efeito bem menor no pH do sangue do que no pH da água? A ventos carregam os poluentes para longe e a chuva ácida pode
presença de substâncias chamadas de tampões permite um pH cair a centenas de quilômetros de distância dos centros indus-
relativamente constante nos fluidos biológicos apesar da adição triais. Em certos lugares na Pensilvânia e em Nova York, o pH
de ácidos ou bases. Tampões são substâncias que minimizam as médio da chuva em dezembro de 2001 foi de 4,3, aproximada-
mudanças nas concentrações de H⫹ e OH⫺ em uma solução. Eles mente 20 vezes mais ácido do que a chuva normal. A precipitação
fazem isso captando íons hidrogênio em excesso na solução e do- ácida cai em muitas outras regiões, incluindo o leste do Canadá,
ando íons hidrogênio quando eles estão esgotados. A maioria dos as Cascade Montains no noroeste do Pacífico e certas partes da
tampões são soluções com um ácido fraco e base corresponden- Europa e da Ásia (Figura 3.10).
te, que se combina reversivelmente com íons hidrogênio. Alguns A precipitação ácida pode causar danos à vida dos lagos e
tampões contribuem para a estabilidade do pH no sangue huma- dos rios. Além disso, a precipitação ácida afeta adversamente a
no e em muitas outras soluções biológicas. Um desses tampões química do solo e causa danos a algumas florestas da América
é o ácido carbônico (H2CO3), formado quando CO2 reage com a do Norte e da Europa (ver Figura 3.10). Entretanto, estudos indi-
água no plasma do sangue. Como mencionado, o ácido carbônico cam que a maioria das florestas da América do Norte não sofre
dissocia-se e produz um íon bicarbonato (HCO3⫺) e um íon hi- atualmente com a precipitação ácida, em grande parte devido às
drogênio (H⫹): emendas feitas em 1990 à Lei do Ar Puro.
B i o l o gi a 55

0
1
Mais
ácido
 Figura 3.11 Pesquisa
2 Qual é o efeito da concentração do íon
3 Chuva carbonato na calcificação de recifes de corais?
4 ácida
EXPERIMENTO Chris Langdon e colaboradores da Universidade de
5
Chuva Columbia estavam curiosos por saber de que modo o aumento das emis-
6 normal sões de CO2 resultante da queima de combustíveis fósseis e a consequente
7 diminuição na concentração de CO32⫺ dos oceanos afetam os recifes de
8 corais. Eles utilizaram o sistema artificial de recife de coral na Biosphere-2.
9 Esse aquário de 2.650 metros cúbicos (m3) se comporta como uma comu-
10 nidade natural de recifes de corais. Ao longo de quase quatro anos, esses
11 pesquisadores variaram a concentração de carbonato na água do mar sob
12 condições controladas e mediram a taxa de calcificação pelos organismos
do recife.
13 Mais
14 básico

 Figura 3.10 A precipitação ácida e seus efeitos em uma flores-


ta. A chuva ácida é responsável pela morte de árvores em muitas florestas,
incluindo esta floresta de abetos da República Tcheca.

O dióxido de carbono, o principal produto da combustão de


combustível fóssil, causa outros problemas. Sua liberação na atmos-
fera aumenta constantemente e estima-se que por volta de 2065 al-
cance o dobro dos níveis relativos de 1880. Aproximadamente me-
tade do CO2 permanece na atmosfera, atuando como uma camada
reflexiva em volta do planeta, impedindo o calor dissipar-se para
o espaço externo. Esse efeito “estufa” e os problemas associados a
ele serão discutidos no Capítulo 55. Parte do CO2 é consumido por
árvores e outros organismos durante a fotossíntese, como mencio-
nado no Capítulo 2. O restante – em torno de 30% – é absorvido
pelos oceanos. Apesar do enorme volume de água dos oceanos, os RESULTADOS Foi observado que a taxa de calcificação era menor
cientistas se preocupam que essa absorção de tanto CO2 possa vir a com concentrações menores do íon carbonato ([CO32⫺]).
prejudicar a vida e os ecossistemas marinhos.
Quando o CO2 se dissolve na água do mar, reage com a água 40
Taxa de calcificação
(mmol de CaCO3
por m2 por dia)

(H2O) para formar o ácido carbônico (H2CO3). Quase todo o


ácido carbônico em volta se dissocia, produzindo prótons e um 20
equilíbrio entre dois íons, bicarbonato (HCO3⫺) e carbonato
(CO32⫺). À medida que a água do mar acidifica devido aos pró-
tons extras, o equilíbrio muda para HCO3⫺, diminuindo a con- 0
centração de CO32⫺. Muitos estudos mostram que a calcificação 150 200 250 300
(produção de carbonato de cálcio [CaCO3] por corais e outros [CO32– ] (μmol/kg)
organismos) é diretamente afetada pela concentração de CO32⫺.
Portanto, qualquer diminuição de CO32⫺ é de grande preocupa- CONCLUSÃO Os recifes de corais estariam em risco pela redução
ção, pois a calcificação é responsável pela formação de recifes de de [CO32⫺]. Outros estudos prenunciaram uma duplicação nas emissões
de CO2 entre 1880 e 2065 e uma resultante diminuição na concentra-
corais nos mares tropicais. Esses ecossistemas delicados abrigam ção do íon carbonato. Combinando essas predições com os resultados
uma grande diversidade de organismos. deste estudo, os autores calculam que por volta de 2065 a taxa de calci-
Talvez um dos estudos mais conhecidos e longos sobre a cal- ficação de recifes de corais pode diminuir em 40% em relação a níveis
pré-industriais.
cificação de recifes de corais tenha sido realizado por cientistas
FONTE
no centro do ecossistema na Arizona conhecido como Biosphe- C. Langdon et al., Effect of calcium carbonate saturation sta-
te on the calcification rate of an experimental coral reef, Global Biogeochemical
re-2. O centro inclui um sistema artificial de recifes de corais, em Cycles 14:639-654 (2000).
que a temperatura e a química da água do mar podem ser contro-
E SE...? Os dados acima foram para uma concentração determinada de
ladas e manipuladas. Chris Langdon e colaboradores utilizaram cálcio (Ca2⫹). A série de experimentos incluiu medidas em duas altas concen-
esse sistema para testar os efeitos da variação na concentração de trações de Ca2⫹. Considerando que a reação seguinte representa a calcifica-
CO32⫺ na taxa de calcificação do recife de coral (Figura 3.11). ção, prediga como a [Ca2⫹] afetaria os resultados e explique o porquê.
Junto com conclusões de outros estudos, seus resultados os Ca2⫹ ⫹ CO32⫺→ CaCO3
levaram a estimar que a duplicação das emissões de CO2 espe-
56 C a mpbe ll & Col s .

rada para o ano 2065 poderia causar uma diminuição de 40% na REVISÃO DO CONCEITO
calcificação de recifes de corais. Embora cientistas possam dis- 1. Comparado com uma solução básica de pH 9, o mesmo
cordar sobre a porcentagem exata, a maioria concorda que este e volume de uma solução ácida de pH 4 tem ____ vezes mais
outros estudos são motivos para séria preocupação. íons hidrogênio (H⫹).
Se há razão para otimismo sobre a futura qualidade de fontes 2. HCl é um ácido forte que se dissocia na água: HCl ¡ H⫹
de água no nosso planeta, é porque avançamos no conhecimento ⫹ Cl⫺. Qual o pH de HCl 0,01 M?
sobre o delicado equilíbrio químico nos oceanos e outros gran- 3. O ácido acético (CH3COOH) pode agir como tampão, de
des corpos de água. O progresso contínuo só pode resultar das modo similar ao ácido carbônico. Escreva a reação de dis-
ações de pessoas preocupadas com a qualidade do ambiente. Isso sociação, identificando o ácido, a base, o aceptor de H⫹ e
requer o entendimento do papel crucial que a água exerce na ade- o doador de H⫹.
quação do ambiente para a vida contínua na Terra. 4. E SE...? Considerando um litro de água pura e um li-
tro de solução de ácido acético, o que aconteceria com o
pH ao adicionarmos 0,01 mol de um ácido forte a cada
um? Utilize a equação da reação para explicar o resultado.
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.

Revisão do Capítulo
RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE
3
 O solvente da vida A água é um solvente de rara versatilidade
porque suas moléculas polares são atraídas por substâncias car-
3.1 A polaridade das moléculas da água promove ligações regadas e polares, capazes de formar ligações de hidrogênio. As
de hidrogênio (p. 46-47) substâncias hidrof ílicas têm afinidade pela água; as substâncias
hidrofóbicas, não. A molaridade, o número de moles de soluto
 Uma ligação de hidrogênio se por litro de solução, é utilizada como medida de concentração
forma quando o oxigênio negati- δ–
Ligação de de soluto em soluções. Um mol é um certo número de moléculas
vamente carregado da molécula δ+ hidrogênio de uma substância. A massa de um mol da substância em gra-
de água é atraído para o hidro- H mas é igual à massa molecular em daltons.
gênio positivamente carregado
δ– O
da molécula próxima. A ligação δ+ H
de hidrogênio entre moléculas δ– δ+ 3.3 Condições ácidas e básicas afetam os organismos vivos
δ+ δ–
de água é a base para as proprie- (p. 52-56)
dades ímpares da água. ⫹
 Uma molécula de água pode transferir um H para outra molé-

cula de água para formar H3O (representado simplesmente por
H⫹) e OH⫺.
3.2 Quatro propriedades emergentes da água contribuem
0
para a adequação da Terra à vida (p. 47-52)  Os efeitos de mudanças no
⫹ Ácido
pH A concentração de H é [H+] > [OH–]
 Coesão As ligações de hidrogênio mantêm as moléculas da água
expressa como pH, onde pH Os ácidos doam
próximas. Essa coesão ajuda a puxar a água para cima nos vasos
⫽ ⫺log [H⫹]. Os tampões em H+ em soluções
microscópicos das plantas. A ligação de hidrogênio também é aquosas
fluidos biológicos resistem a
responsável pela tensão superficial da água. Neutro
mudanças no pH. Um tampão
 Moderação da temperatura A água tem calor específico elevado: [H+] = [OH–] 7
consiste em um par ácido-base
o calor é absorvido quando as ligações de hidrogênio se rompem que se combina reversivelmen-
e liberado quando as ligações de hidrogênio se formam. Isso As bases doam
te com íons hidrogênio. OH– ou aceitam
ajuda a manter a temperatura relativamente estável, dentro dos Básico H+ em soluções
 Ameaças à qualidade da água
limites favoráveis à vida. O esfriamento evaporativo baseia-se no [H+] < [OH–] aquosas
elevado calor de vaporização da água. A perda por evaporação na Terra A queima de combus-
tível fóssil resulta na emissão 14
das moléculas mais energéticas da água resfria as superf ícies.
de óxidos (levando à precipitação ácida) e aumenta as quanti-
 Isolamento térmico de corpos de dades de CO2. Parte do CO2 dissolve nos oceanos, diminuindo
água pelo gelo flutuante: O gelo o pH e afetando potencialmente a taxa de calcificação de recife
flutua porque é menos denso do de corais.
que a água líquida. Isso permite
existir vida embaixo das superf í-
cies congeladas de lagos e mares Gelo: ligações Água líquida:
polares. de hidrogênio ligações de
estáveis hidrogênio
provisórias
B i o l o gi a 57

TESTE SEU CONHECIMENTO 9. DESENHE Desenhe três moléculas de água e identifique os


átomos. Desenhe linhas sólidas para indicar ligações covalentes
1. Muitos mamíferos controlam a temperatura do corpo pelo suor. e pontilhadas para ligações de hidrogênio. Adicione a carga
Qual propriedade da água é a principal responsável pela habili- parcial dos átomos conforme necessário.
dade de suar para diminuir a temperatura do corpo? Para as respostas do teste, ver no Apêndice A.
a. a mudança na densidade da água quando ela condensa.
b. a habilidade da água de dissolver moléculas do ar.
c. a liberação de calor pela formação de ligações de hidrogênio. CONEXÃO EVOLUTIVA
d. a absorção de calor pelo rompimento das ligações de hidro- 10. A superf ície do planeta Marte tem muitas paisagens caracte-
gênio. rísticas que lembram aquelas formadas por cursos hídricos na
e. a elevada tensão superficial da água. Terra, incluindo o que
2. Uma fatia de pizza tem 500 kcal. Se pudéssemos queimar a pareciam ser leito dos
pizza e utilizar todo o calor para aquecer um recipiente de água rios e áreas com detritos
fria de 50 l, qual seria o aumento aproximado da temperatura de degelo. Em 2004, as
da água? (Observação: Um litro de água fria pesa aproximada- imagens do Meridiani
mente 1 kg.) Planum de Marte fo-
a. 50ºC. d. 100ºC. tografadas pelo robô Superfície de Marte Superfície da Terra
b. 5ºC. e. 1ºC. Opportunity da NASA
c. 10ºC. sugeriram que existiu água líquida uma vez na sua superf ície.
3. As ligações rompidas quando a água evapora são Por exemplo, uma imagem (à esquerda, acima) mostra fissuras
a. ligações iônicas. poligonais na pedra. Padrões semelhantes de fissuras em pedras
b. ligações de hidrogênio entre moléculas de água. na superf ície da Terra (acima, à direita) se correlacionam com a
c. ligações covalentes entre átomos dentro de moléculas de presença recente de água. Atualmente, existe gelo nos polos de
água. Marte e alguns cientistas têm uma forte suspeita de que pode
d. ligações covalentes polares. haver mais água debaixo da superf ície de Marte. Por que há
e. ligações covalentes não polares. tanto interesse na presença de água em Marte? A presença de
água torna mais provável a existência de vida por lá? Quais ou-
4. Quais dos seguintes materiais é hidrofóbico?
tros fatores f ísicos também poderiam ser importantes?
a. papel. d. açúcar.
b. sal de cozinha. e. macarrão.
c. cera. PESQUISA CIENTÍFICA
5. Temos certeza de que um mol de sal de cozinha e um mol de 11. Projete um experimento controlado para testar a hipótese de
vitamina C são iguais em: que a precipitação ácida inibe o crescimento de Elodea, uma
a. massa em daltons. d. número de átomos. planta comum de água doce (ver Figura 2.19).
b. massa em gramas. e. volume. 12. Em áreas agrícolas, os produtores prestam muita atenção na
c. número de moléculas. previsão do tempo. Quando há previsão de geada, os produto-
6. Quantas gramas de ácido acético (C2H4O2) você usaria para fa- res pulverizam água na lavoura para proteger as plantas. Utilize
zer 10 l de uma solução aquosa de ácido acético 0,1 M? (Obser- as propriedades da água para explicar como esse método fun-
vação: As massas atômicas, em daltons, são 12 para o carbono, ciona. Mencione porque as ligações de hidrogênio são respon-
1 para o hidrogênio e 16 para o oxigênio.) sáveis por esse fenômeno.
a. 10,0 g. d. 60,0 g.
b. 0,1 g. e. 0,6 g. CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
c. 6,0 g. 13. A agricultura, a indústria e as crescentes populações das ci-
7. Medidas mostram que o pH de um certo lago é 4,0. Qual a con- dades competem em conjunto pela água lançando mão de
centração de íon hidrogênio no lago? influências políticas. Se você fosse responsável pelas fontes de
a. 4,0 M. d. 104 M. água em uma região árida, quais seriam as prioridades para es-
⫺10
b. 10 M. e. 4%. tabelecer o limite de fornecimento de água para os vários usos?
c. 10⫺4 M. Como você tentaria estabelecer o consenso entre os diferentes
8. Qual a concentração de íon hidróxido do lago da questão 7? grupos e os diferentes interesses?
a. 10⫺7 M. d. 10⫺14 M.
⫺4
b. 10 M. e. 10 M.
c. 10⫺10 M.
O Carbono e
a Diversidade
Molecular da Vida
4.1

4.2

4.3
CONCEITOS-CHAVE

carbono
4
A química orgânica é o estudo dos compostos do

Os átomos de carbono podem formar diversas


moléculas ligando-se a outros quatro átomos
Poucos grupos químicos são essenciais para o
funcionamento das moléculas biológicas
 Figura 4.1 Quais propriedades do carbono são responsáveis por
seu papel como a molécula básica para a vida?

4.1 A química orgânica é o estudo


dos compostos do carbono
Por razões históricas, os compostos com carbono são ditos orgâ-
nicos, e o ramo da química especializada no estudo dos compos-
tos de carbono é chamado de química orgânica. Os compostos
orgânicos variam de moléculas simples, como o metano (CH4),
VISÃO GERAL
até moléculas colossais, como as proteínas, com milhares de áto-
Carbono: esqueleto da vida mos. A maioria dos compostos orgânicos contém átomos de hi-
drogênio ligados aos átomos de carbono.
Embora a água seja o substrato universal para a vida na Terra, As porcentagens dos principais elementos da vida – C, H, O,
os organismos vivos, como plantas e insetos trilobitas na Figu- N, S e P – são bastante uniformes de um organismo para outro.
ra 4.1, são formados por substâncias químicas compostas prin- No entanto, em função da versatilidade do carbono, esse sorti-
cipalmente do elemento carbono. O carbono entra na biosfera mento limitado de unidades atômicas de construção, tomadas
por meio da ação das plantas, que utilizam a energia solar para praticamente nas mesmas proporções, pode ser utilizado para
transformar o CO2 atmosférico nas moléculas da vida. Essas formar uma variedade quase infinita de moléculas orgânicas. Di-
moléculas são transferidas para os animais que se alimentam ferentes espécies de organismos e diferentes indivíduos de uma
das plantas. mesma espécie são diferenciados por variações nas moléculas
De todos os elementos químicos, o carbono é ímpar pela orgânicas.
habilidade de formar moléculas grandes, complexas e diversas. Desde os primórdios da história da humanidade, os homens
Essa diversidade molecular tornou possível a diversidade de or- têm utilizado outros organismos como fonte de substâncias va-
ganismos que evoluíram na Terra. Proteínas, DNA, carboidra- liosas – desde alimentos e remédios até tecidos. A ciência da quí-
tos e outras moléculas que distinguem a matéria viva da matéria mica orgânica teve origem nas tentativas de purificar e melhorar
inanimada são todos compostos por átomos de carbono ligados o rendimento desses produtos. No início dos anos 1800, os quí-
uns aos outros e a átomos de outros elementos. Hidrogênio (H), micos tinham aprendido a sintetizar muitos compostos simples
oxigênio (O), nitrogênio (N), enxofre (S) e fósforo (P) são outros em laboratório, pela combinação de elementos sob condições
ingredientes comuns destes compostos; mas o elemento carbo- apropriadas. A síntese artificial de moléculas complexas extraí-
no (C) é o responsável pela grande diversidade das moléculas das a partir de matéria viva ainda parecia impossível. Na mesma
biológicas. época, o químico suíço Jöns Jakob Berzelius fez a distinção entre
Proteínas e outras moléculas maiores são o foco principal do os compostos orgânicos, que se originariam apenas nos organis-
Capítulo 5. Por enquanto, vamos investigar as propriedades das mos vivos, e os compostos inorgânicos, encontrados apenas no
moléculas menores. Vamos utilizar essas moléculas para ilustrar mundo inanimado. O vitalismo, a crença em uma força vital in-
os conceitos da arquitetura molecular que ajudam a explicar por subordinada à jurisdição das leis de f ísica e química, forneceu os
que o carbono é tão importante para a vida. Ao mesmo tempo, fundamentos para a nova disciplina da química orgânica.
vamos realçar o tema de que as propriedades emergentes surgem Os químicos começaram a afastar-se dos fundamentos do
da organização da matéria nos organismos vivos. vitalismo quando enfim aprenderam a sintetizar compostos or-
B i o l o gi a 59

gânicos em laboratório. Em 1828, Friedrich Wöhler, um químico


alemão que estudou com Berzelius, tentou obter um sal “inorgâ-  Figura 4.2 Pesquisa
nico”, o cianato de amônio, por meio da mistura de soluções de Moléculas orgânicas podem ser formadas sob
íons amônio (NH4⫹) e íons cianato (CNO⫺). Wöhler ficou per- condições que supostamente que simulam as
plexo ao perceber que obteve ureia, composto orgânico presente condições iniciais da Terra?
na urina dos animais. Wöhler desafiou os vitalistas ao escrever: EXPERIMENTO Em 1953, Stanley Miller elaborou um sistema fecha-
“Preciso dizer aos senhores: consigo preparar ureia sem a ne- do para simular as condições que supostamente existiram nos primórdios
cessidade de rins ou de animais, seja homem ou cachorro”. No da vida na Terra. Um frasco contendo água simulou o oceano primitivo. A
água foi aquecida até começar a evaporar e transferida para um segundo
entanto, um dos ingredientes utilizados na síntese, o cianato, foi
frasco maior, que continha a “atmosfera” – uma mistura de gases. Faíscas
extraído de sangue animal, e os vitalistas não ficaram convenci- foram descarregadas na atmosfera sintética para mimetizar relâmpagos.
dos pela descoberta de Wöhler. Alguns anos depois, no entanto,
Hermann Kolbe, um aluno de Wöhler, produziu o composto or- 2 A “atmosfera” tinha
uma mistura de gás
gânico ácido acético a partir de substâncias inorgânicas prepara- hidrogênio (H2), metano 3 Faíscas foram
das diretamente a partir de elementos puros. (CH4), amônia (NH3) e lançadas, imitando
vapor d’água. relâmpagos.
O vitalismo sucumbiu por completo após diversas décadas
de síntese em laboratório de compostos orgânicos cada vez mais
“Atmosfera”
complexos. Em 1953, Stanley Miller, estudante de graduação de CH4
Harold Urey na Universidade de Chicago, ajudou a trazer a sín- Vapor d’água
Eletrodo
tese abiótica (não viva) de compostos orgânicos para o contexto
1 A mistura de
da evolução no experimento clássico descrito na Figura 4.2. O NH
água no frasco 3 H2
experimento de Miller, testando a possibilidade de moléculas or- do “oceano”
foi aquecida; o
gânicas complexas se formarem espontaneamente sob condições vapor entrou Condensador
que se acredita tenham ocorrido inicialmente na Terra, estimulou no frasco
o interesse em pesquisas futuras sobre a origem dos compostos “atmosfera”.
Água fria
orgânicos. Alguns cientistas questionaram se os gases utilizados contendo Água
por Miller como materiais iniciais estariam presentes na atmos- moléculas fria
orgânicas
fera primitiva da Terra. Trabalhos recentes sugerem uma com-
posição ligeiramente diferente das condições iniciais de Terra;
quando utilizada no experimento, levou aos compostos observa-
dos por Miller. Mesmo ainda sob consideração, esses experimen-
tos sustentam a hipótese de que a síntese abiótica de compostos “Oceano”
orgânicos pode ter sido a etapa inicial da origem da vida. H2O

Os pioneiros da química orgânica ajudaram a transição da


biologia do vitalismo para o mecanicismo, a visão de que as leis Amostra para
f ísicas e químicas regem todos os fenômenos naturais, incluindo análises químicas
os processos da vida. A química orgânica foi redefinida como o
5 À medida que o material 4 Um condensador esfriou
estudo dos compostos de carbono, independente da origem. Os percorria o ciclo do a atmosfera, coletando no
organismos produzem a maior parte dos compostos orgânicos, e aparato, Miller coletava, frasco oceano a água
essas moléculas representam uma diversidade e uma complexi- periodicamente, amostras precipitada e qualquer
para análise. molécula dissolvida.
dade não rivalizadas pelos compostos inorgânicos. No entanto,
as leis da química se aplicam a todas as moléculas. O alicerce da
RESULTADOS Miller identificou uma variedade de moléculas orgâ-
química orgânica não é uma força vital intangível, mas a versatili-
nicas comuns nos organismos. Isso inclui compostos simples, como o for-
dade química sem paralelo do elemento carbono. maldeído (CH2O) e o cianeto de hidrogênio (HCN), e moléculas mais com-
plexas, como aminoácidos e longas cadeias de carbono e hidrogênio,
conhecidas como hidrocarbonetos.
REVISÃO DO CONCEITO
CONCLUSÃO As moléculas orgânicas, um passo inicial na origem da
1. Qual foi a conclusão de Stanley Miller ao observar amino-
vida, podem ter sido sintetizadas a partir da matéria abiótica na Terra primi-
ácidos nos produtos do seu experimento? tiva. (Vamos explorar essa hipótese em mais detalhes no Capítulo 25.)
2. E SE...? Quando Miller realizou o experimento da Fi- FONTE S. Miller, A production of amino acids under possible primiti-
gura 4.2 na ausência de descargas elétricas, nenhum com- ve Earth conditions, Science 117:528-529 (1953).
posto orgânico se formou. O que pode explicar esse resul- E SE...? Se Miller tivesse aumentado a concentração de NH3 no expe-
tado? rimento, de que modo as quantidades relativas dos produtos HCN e CH2O
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. seriam alteradas?
60 C a mpbe ll & Col s .

4.2 Os átomos de carbono podem de carbono ligado a quatro outros átomos tem formato tetraédri-
co. No entanto, quando dois átomos de carbono estão ligados por
formar diversas moléculas ligação dupla, todas as ligações em torno desse carbono ficam no
ligando-se a outros quatro átomos mesmo plano. O eteno (C2H4), por exemplo, é uma molécula acha-
tada; todos os átomos estão no mesmo plano (Figura 4.3c). Acha-
A chave para as características químicas de um átomo é a sua con- mos conveniente escrever todas as fórmulas estruturais como se as
figuração eletrônica. Essa configuração determina o tipo e o nú- moléculas representadas fossem planas, mas não esqueça de que as
mero de ligações que o átomo pode formar com outros átomos. moléculas são tridimensionais, e que o formato da molécula com
frequencia determina a sua função.
A formação de ligações com o carbono A configuração eletrônica do carbono torna-o covalentemente
O carbono possui 6 elétrons, 2 na primeira camada eletrônica e 4 compatível com diversos elementos distintos. A Figura 4.4 mostra
na segunda. Com 4 elétrons de valência em uma camada que com- a valência do carbono e seus pares mais frequentes – oxigênio, hi-
porta 8, o carbono pode doar ou receber 4 elétrons para completar drogênio e nitrogênio. Esses quatro são os principais componentes
a camada de valência e se tornar um íon. No entanto, o átomo de atômicos das moléculas orgânicas. Essas valências são a base para as
carbono geralmente completa a camada de valência compartilhan- regras da formação de ligações covalentes na química orgânica – o
do os 4 elétrons com outros átomos por meio de ligações cova- código de construção para a arquitetura das moléculas orgânicas.
lentes, de modo que 8 elétrons estejam presentes. Essas ligações Vamos ver como as regras da formação de ligações covalentes
podem incluir ligações covalentes duplas e triplas. Cada átomo de se aplicam a átomos de carbono pareados com outros átomos que
carbono atua como um ponto de intersecção a partir do qual uma não o hidrogênio. Vejamos dois exemplos, a molécula simples do
molécula pode ramificar-se em até quatro direções. Essa tetrava- dióxido de carbono e a ureia.
lência é uma das facetas da grande versatilidade do carbono que Na molécula de dióxido de carbono (CO2), um só átomo de
viabiliza a existência de moléculas grandes e complexas. carbono liga-se a dois átomos de oxigênio por meio de ligações
Quando o átomo de carbono forma quatro ligações covalentes covalentes duplas. A fórmula estrutural do CO2 é a seguinte:
simples, devido ao arranjo de seus quatro orbitais híbridos, as liga-
ções formam ângulos na direção dos cantos de um tetraedro imagi- O“C“O
nário (ver Figura 2.17b). Os ângulos de ligação do metano (CH4) são Cada linha na fórmula estrutural representa um par de elétrons
de 109,5º (Figura 4.3a), e grosso modo de valor igual em qualquer compartilhados. Duas ligações duplas formadas por um átomo
grupo de átomos onde o carbono forme quatro ligações simples. O de carbono correspondem a quatro ligações covalentes simples.
etano (C2H6), por exemplo, tem forma de dois tetraedros sobrepos- Esse arranjo completa a camada de valência de todos os átomos
tos (Figura 4.3b). Em moléculas com mais carbonos, cada grupo da molécula. Como a molécula de CO2 não possui hidrogênio,

Fórmula Fórmula Modelo de Modelo de


Nome e comentário preenchimento
molecular estrutural esfera e bastão
espacial

(a) Metano. Quando um átomo


de carbono forma quatro H
ligações simples com outros
átomos, a molécula é CH4 H C H
tetraédrica.
H

(b) Etano. Uma molécula pode ter


mais de um grupo tetraédrico H H
de átomos com ligações
simples. (O etano é constituído C2H6 H C C H
por dois desses grupos.)
H H

(c) Eteno (etileno). Quando dois


átomos de carbono estão
conectados por uma ligação H H
dupla, todos os átomos ligados C2H4 C C
aos átomos de carbono estão no H H
mesmo plano; e a molécula é
achatada.

 Figura 4.3 A forma de três moléculas orgânicas simples.


B i o l o gi a 61

Hidrogênio Oxigênio Nitrogênio Carbono A diversidade molecular se origina da variação


(valência = 1) (valência = 2) (valência = 3) (valência = 4)
dos esqueletos de carbono
H O N C Cadeias de carbono formam o esqueleto da maioria das moléculas
orgânicas (Figura 4.5). Os esqueletos variam em comprimento e
podem ser lineares, ramificados ou cíclicos. Alguns esqueletos car-



H• • O •• • N• • C• bônicos apresentam ligações duplas, que variam em número e em


localização. Essa variação nos esqueletos carbônicos é uma fonte
 Figura 4.4 Valências dos principais elementos das moléculas or-
gânicas. Valência é o número de ligações covalentes que o átomo pode importante da diversidade e da complexidade moleculares que ca-
formar. Em geral, é igual ao número de elétrons necessários para comple- racterizam a matéria viva. Além disso, átomos de outros elementos
tar a camada de valência (a camada mais externa – ver Figura 2.9). Todos podem estar ligados ao esqueleto carbônico nos locais disponíveis.
os elétrons são mostrados para cada átomo no diagrama de distribuição
eletrônica (acima). Apenas os elétrons na camada de valência são represen- Hidrocarbonetos
tados nas estruturas de Lewis.
DESENHE Consulte a Figura 2.9 e desenhe as estruturas de Lewis do só- Todas as moléculas mostradas nas Figuras 4.3 e 4.5 são hidrocar-
dio, do fósforo, do enxofre e do cloro. bonetos – moléculas orgânicas compostas apenas por carbono
e hidrogênio. Átomos de hidrogênio estão ligados a átomos do
com frequência é considerada inorgânica, mesmo que tenha car- esqueleto carbônico sempre que elétrons estiverem disponíveis
bono. Seja o CO2 chamado de composto orgânico ou inorgânico, para formar ligações covalentes. Hidrocarbonetos são os princi-
ele é claramente importante para o mundo vivo como fonte de pais componentes do petróleo, chamado de combustível fóssil,
carbono de todas as moléculas orgânicas nos organismos. pois consiste principalmente em restos parcialmente decompos-
A ureia, CO(NH2)2, é o composto orgâ- tos de organismos que viveram milhões de anos atrás.
nico encontrado na urina, sintetizado por O Apesar dos hidrocarbonetos não predominarem nos organis-
Wöhler no início do século XIX. A fórmula H C H mos vivos; muitas das moléculas orgânicas de uma célula pos-
estrutural da ureia é mostrada à direita. No- N N suem regiões compostas apenas por átomos de carbono e hidro-
vamente, cada átomo tem o número neces- gênio. Por exemplo, as moléculas conhecidas como ácidos graxos
H H
sário de ligações covalentes. Nesse caso, um Ureia possuem longas caudas hidrocarbonadas ligadas à porção não
átomo de carbono realiza tanto ligações sim- hidrocarbonada (Figura 4.6, na próxima página). Tanto o petró-
ples como ligações duplas. leo quanto os ácidos graxos são insolúveis em água; ambos são
A ureia e o dióxido de carbono são moléculas de um átomo compostos hidrofóbicos, pois a grande maioria das suas ligações
de carbono. A Figura 4.3 mostra que um átomo de carbono pode são entre carbono-hidrogênio, relativamente apolares. Outra ca-
utilizar um ou mais elétrons de valência para formar ligações co- racterística é que os hidrocarbonetos podem sofrer reações que
valentes com outros átomos de carbono, conectando os átomos liberam quantidades relativamente grandes de energia. A gasoli-
em cadeias de variedade quase infinita. na que abastece os carros é composta por hidrocarbonetos, e as

H H H H H H H H H H H H H

H C C H H C C C H H C C C C H H C C C C H

H H H H H H H H H
Etano Propano 1-Buteno 2-Buteno

(c) Ligações duplas. O esqueleto pode conter ligações duplas, que


(a) Comprimento. Esqueletos carbônicos variam em extensão. podem variar em sua localização.

H H H H
H C H
H C H C C H C H
H H C C
H H H H H H
H H C C
H H C C
H C C C C H H C H H C H
H C C C H
H H H H H
H H H
Ciclo-hexano Benzeno
Butano 2-Metilpropano
(comumente chamado de isobutano) (d) Anéis. Alguns esqueletos carbônicos são arranjados em anéis.
Na fórmula estrutural abreviada de cada composto (à direita), cada
(b) Ramificação. Esqueletos podem ser lineares ou ramificados. canto representa um carbono ligado a átomos de hidrogênio.

 Figura 4.5 Variações nos esqueletos carbônicos. Hidrocarbonetos, moléculas orgânicas com apenas átomos
de carbono e de hidrogênio, ilustram a diversidade de esqueletos carbônicos nas moléculas orgânicas.
62 C a mpbe ll & Col s .

Gotículas de gordura (coloridas em vermelho)


H
H C H
H C H
H H H H H H H
H C C C C C H H C C C H
H H H H H H H H
(a) Isômeros estruturais diferem no padrão das ligações
covalentes, como visto neste exemplo dos dois isômeros de
C5H12: pentano (esquerda) e 2-metil-butano (direita).
100 µm
(a) Células adiposas de mamíferos. (b) Uma molécula de ácido graxo. X X H X
C C C C
 Figura 4.6 O papel dos hidrocarbonetos nos ácidos graxos. (a)
As células adiposas dos mamíferos armazenam moléculas de ácidos graxos H H X H
como reserva de energia. Cada célula adiposa desta micrografia está quase
completamente preenchida por uma grande gotícula de gordura, que contém isômero cis: Dois X do mesmo isômero trans: Dois X em lados
uma quantidade enorme de moléculas de ácidos graxos. (b) Uma molécula de lado. opostos.
ácido graxo é composta por uma pequena porção não hidrocarbonada, ligada
(b) Isômeros geométricos diferem no arranjo ao redor da ligação
a três caudas hidrocarbonadas. As caudas podem ser clivadas para gerar ener- dupla. Nestes diagramas, X representa um átomo ou grupo de
gia. Elas também contribuem para o caráter hidrofóbico dos ácidos graxos. átomos ligados ao carbono da ligação dupla.
(Preto ⫽ carbono; cinza ⫽ hidrogênio; vermelho ⫽ oxigênio.)

caudas hidrocarbonadas dos ácidos graxos atuam como combus- CO2H CO2H
tível armazenado no corpo dos animais.

Isômeros C C
H NH2 NH2 H
Variações na estrutura das moléculas orgânicas podem ser vis-
tas nos isômeros, compostos com igual número de átomos dos CH3 CH3
mesmos elementos, mas diferentes estruturas; por consequência, isômero L isômero D
diferentes propriedades. Compare, por exemplo, os dois compos- (c) Enantiômeros diferem no arranjo espacial ao redor do
tos de cinco átomos de carbono na Figura 4.7a. Ambos têm a carbono assimétrico, resultando em moléculas de imagens
formula molecular C5H12, mas diferem no arranjo covalente dos especulares, assim como a mão esquerda e a direita. Os dois
isômeros são designados como isômero L e isômero D, do
esqueletos carbônicos. O esqueleto em um composto é linear, latim esquerda e direita (levo e dextro). Enantiômeros não
mas ramificado no outro. Vamos examinar três tipos de isôme- podem ser sobrepostos.
ros: estruturais, geométricos e enantiômeros.
Isômeros estruturais diferem no arranjo covalente dos áto-  Figura 4.7 Três tipos de isômeros. Compostos com igual fórmula
molecular, mas diferentes estruturas, os isômeros são a fonte da diversida-
mos. O numero de isômeros possíveis aumenta significativamen- de das moléculas orgânicas.
te conforme o esqueleto carbônico aumenta de tamanho. Existem DESENHE Existem três isômeros estruturais para C5H12. Desenhe o isô-
apenas três formas de C5H12 (duas são mostradas na Figura 4.7a), mero não mostrado em (a).
mas existem 18 variações de C8H18 e 366.319 isômeros estruturais
possíveis de C20H42. Isômeros estruturais também podem diferir isômero trans. Uma diferença sutil na forma de dois isômeros geo-
quanto à localização das ligações duplas. métricos pode afetar dramaticamente a atividade biológica das mo-
Isômeros geométricos possuem o mesmo padrão de ligações léculas orgânicas. Por exemplo, a bioquímica da visão envolve uma
covalentes, mas diferem no arranjo espacial. As diferenças têm ori- alteração induzida pela luz na rodopsina, um composto químico do
gem na ausência de flexibilidade das ligações duplas. Ligações sim- olho, do isômero cis para o isômero trans (ver Capítulo 50).
ples permitem que os átomos ligados tenham total liberdade de ro- Enantiômeros são isômeros imagens especulares um do ou-
tação ao longo do eixo da ligação, sem alterações no composto. No tro. Nos modelos de esfera e bastão mostrados na Figura 4.7c, o
entanto, as ligações duplas não permitem essa rotação, resultando carbono central é chamado de carbono assimétrico, pois está liga-
na possibilidade de isômeros geométricos. Se uma ligação dupla do a quatro átomos ou grupos de átomos distintos. Os quatro gru-
une dois átomos de carbono, e cada carbono possui dois átomos pos podem dispor-se no espaço em torno do carbono assimétrico
diferentes (ou grupos de átomos) ligados a ele, então dois isômeros de duas formas, imagens especulares uma da outra. Enantiômeros
geométricos são possíveis. Considere uma molécula simples com são, de certa forma, as versões equivalentes à mão esquerda e à
dois átomos de carbono unidos por uma ligação dupla, cada um mão direita de uma molécula. Assim como a mão direita não entra
deles com um H e um X (Figura 4.7b). O arranjo com os dois X no em uma luva da mão esquerda, as moléculas que executam fun-
mesmo lado da ligação dupla é chamado de isômero cis, e o arranjo ções em uma célula podem distinguir as duas versões pelo forma-
com os dois X em lados opostos da ligação dupla é chamado de to. Em geral, um isômero é biologicamente ativo, e o outro, não.
B i o l o gi a 63

OH
Enantiômero Enantiômero Estradiol CH3
Droga Condição
eficaz ineficaz OH
Testosterona CH3

Ibuprofeno Dor, CH3


inflamação
S-Ibuprofeno R-Ibuprofeno
HO

O
Albuterol Asma
 Figura 4.9 Uma comparação de grupos químicos dos hormônios
R-Albuterol S-Albuterol sexuais feminino (estradiol) e masculino (testosterona). As duas mo-
léculas diferem apenas nos grupos químicos ligados ao esqueleto comum
 Figura 4.8 A importância farmacológica dos enantiômeros. Ibu- de carbono de quatro anéis fusionados, mostrado aqui de forma abrevia-
profeno e albuterol são exemplos de drogas cujos enantiômeros tem efeitos da. As variações sutis na arquitetura molecular (em azul) influenciam o
distintos. (S e R são letras utilizadas em um sistema para distinguir dois enan- desenvolvimento das diferenças anatômicas e fisiológicas entre fêmeas e
tiometros.) Ibuprofeno reduz a inflamação e a dor. É comumente vendido machos vertebrados.
como uma mistura dos dois enantiômeros. O enantiômero S é 100 vezes mais
eficiente que o outro. O albuterol é utilizado para relaxar os músculos dos estrutura básica para moléculas orgânicas mais complexas. Diver-
brônquios, aumentando o fluxo de ar em pacientes com asma. Apenas o R-Al- sos grupos químicos podem substituir um ou mais dos átomos de
buterol é sintetizado e vendido como droga; a forma S anula a forma ativa R.
hidrogênio ligados ao esqueleto carbônico de um hidrocarboneto.
O conceito de enantiômeros é importante para a indústria far- (Alguns grupos incluem átomos do esqueleto carbônico, como ve-
macêutica, pois os dois enantiômeros de uma droga podem não ser remos adiante.) Esses grupos podem participar de reações quími-
igualmente eficazes (Figura 4.8). Em alguns casos, um dos isômeros cas ou contribuir de modo indireto para a função por meio de seus
pode até causar efeitos colaterais danosos. Esse é o caso da talidomi- efeitos na estrutura da molécula. O número e o arranjo desses gru-
da, uma droga prescrita para milhares de grávidas no final da déca- pos ajudam a conferir a cada molécula suas propriedades únicas.
da de 1950 e no início da década de 1960. A droga era uma mistura
de dois enantiômeros. Um enantiômero reduzia o enjoo matinal, o Os grupos químicos mais importantes no
efeito desejado, mas o outro enantiômero causava graves defeitos processo da vida
congênitos. (Infelizmente, mesmo que apenas o “bom” enantiômero Considere as diferenças entre a testosterona e o estradiol (um
fosse administrado na forma purificada, alguns logo se convertiam tipo de estrogênio). Esses compostos são os hormônios sexuais
no “mau” enantiômero no organismo da paciente.) Os diferentes masculino e feminino, respectivamente, em humanos e em ou-
efeitos dos enantiômeros no corpo demonstram que os organismos tros vertebrados (Figura 4.9). Ambos são esteroides, moléculas
são sensíveis mesmo a variações sutis na arquitetura molecular. orgânicas com esqueleto carbônico comum, em forma de quatro
Mais uma vez, vemos como as moléculas têm propriedades emer- anéis fusionados. Esses hormônios sexuais só diferem nos grupos
gentes que dependem do arranjo específico dos seus átomos. químicos ligados aos anéis. As diferentes ações dessas duas molé-
culas em diversos alvos espalhados pelo corpo ajudam a gerar as
REVISÃO DO CONCEITO características contrastantes entre machos e fêmeas. Assim, até
1. Desenhe a fórmula estrutural de C2H4. mesmo nossa sexualidade tem sua base biológica na variação da
2. Quais moléculas da Figura 4.5 são isômeros? Para cada arquitetura molecular.
par, identifique o tipo de isomeria. No exemplo dos hormônios sexuais, diferentes grupos quími-
3. Qual a semelhança química entre a gasolina e os ácidos cos contribuem para a função, afetando a estrutura da molécula.
graxos? Em outros casos, os grupos químicos afetam a função molecular
4. E SE...? O propano (C3H8) pode formar isômeros? e envolvem-se diretamente em reações químicas; esses grupos
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. químicos são conhecidos como grupos funcionais. Cada grupo
funcional participa de reações químicas de maneira característica
e diferente, conforme a molécula orgânica.
Os sete grupos químicos mais importantes para os processos
4.3 Poucos grupos químicos são biológicos são hidroxila, carbonila, carboxila, amino, sulfidrila,
essenciais para o funcionamento fosfato e metila. Os primeiros seis grupos podem atuar como
grupos funcionais; eles também aumentam a solubilidade dos
das moléculas biológicas compostos orgânicos em água. O grupo metil é não reativo, mas
As propriedades distintas das moléculas orgânicas não dependem atua como grupo de reconhecimento nas moléculas biológicas.
apenas do arranjo do esqueleto carbônico, mas também dos com- Antes de continuar a leitura, reserve um tempo para se familiari-
ponentes moleculares ligados ao esqueleto. Podemos considerar zar com esses grupos químicos biologicamente importantes, na
os hidrocarbonetos, as moléculas orgânicas mais simples, como a Figura 4.10, nas duas páginas seguintes.
 Figura 4.10

Explorando alguns grupos químicos biologicamente importantes

GRUPO
QUÍMICO
Hidroxila Carbonila Carboxila

O
C
O
ESTRUTURA OH
OH C

(pode ser escrito como HO—)

No grupo hidroxila (—OH), um O grupo carbonila ( CO) consiste Quando um átomo de oxigênio
átomo de hidrogênio está ligado em um átomo de carbono ligado a está ligado por uma ligação
a um átomo de oxigênio, que por um átomo de oxigênio por meio dupla a um átomo de carbono
sua vez está ligado ao esqueleto de uma ligação dupla. também ligado a um grupo —OH,
carbônico de uma molécula todo este conjunto de átomos é
orgânica. (Não confundir esse chamado de grupo carboxila
grupo funcional com o íon (—COOH).
hidróxido, OH ).

NOME DO Álcoois (nomes específicos Cetonas, se o grupo carbonila Ácidos carboxílicos, ou


COMPOSTO geralmente com a terminação –ol). estiver no esqueleto carbônico. ácidos orgânicos.

Aldeídos, se o grupo carbonila


estiver em uma extremidade do
esqueleto carbônico.

H O
EXEMPLO H H H C C H
O
H
H C C OH H C H C C
H
H H H H OH
Etanol, o álcool presente nas Acetona, a cetona mais simples Ácido acético, composto que
bebidas alcoólicas confere acidez ao vinagre.
H H O
H C C C

H H H
Propanal, um aldeído

PROPRIEDADES É polar, pois os elétrons ficam Uma cetona e um aldeído podem Tem propriedades ácidas
FUNCIONAIS mais tempo perto do átomo de ser isômeros estruturais com (fonte de íons hidrogênio), pois
oxigênio, mais eletronegativo. propriedades distintas, como no a ligação covalente entre o
caso da acetona e do propanal. oxigênio e o hidrogênio também
é polar; por exemplo,
Podem formar pontes de Estes dois grupos são
hidrogênio com moléculas de encontrados também nos
H H
água, ajudando a dissolver açúcares, originando os dois O O
compostos orgânicos como os principais tipos de açúcares: H C C H C C + H+
açúcares (ver Figura 5.3). aldoses (que contêm aldeídos)
e cetoses (que contêm cetonas). H OH H O–
Acido acético Íon acetato

Encontrado nas células na


forma ionizada, com carga 1;
e chamado de íon carboxilato
(aqui, especificamente, o
íon acetato).
Amino Sulfidrila Fosfato Metila

H SH O H

N O P O– C H
(pode ser escrito como )
H O– H

O grupo amino (—NH2) O grupo sulfidrila consiste Em um grupo fosfato, um átomo Um grupo metil consiste
consiste em um átomo de em um átomo de enxofre de fósforo está ligado a quatro em um átomo de carbono
nitrogênio ligado a dois ligado a um átomo de átomos de oxigênio; e um ligado a três átomos de
átomos de hidrogênio e hidrogênio. Na forma, oxigênio está ligado ao esqueleto hidrogênio. O grupo metil
ao esqueleto carbônico. lembra o grupo hidroxila. carbônico; dois átomos de oxigênio pode estar ligado a um
possuem carga negativa. O grupo carbono ou a um átomo
2
fosfato (—OPO 3 ), abreviado como diferente.
P ) é a forma ionizada do grupo
ácido fosfórico (—OPO3H2, note
os dois átomos de hidrogênio).

Aminas Tióis Fosfatos orgânicos Compostos metilados

O H H O OH OH OH H O NH2
C
C C N H C C C O P O– H C CH3
H C CH2 SH N C
HO H H
H H H O–
N C C
Glicina Glicerol fosfato O N H
H H
Como é também um Cisteína H
grupo carboxila, a Além de fazer parte de muitas
reações químicas importantes na 5-metil citidina
glicina é tanto amina A cisteína é um importante
quanto ácido carboxílico; célula, o glicerol fosfato forma o
aminoácido sulfurado. esqueleto dos fosfolipídios, as A 5-metil citidina é um
compostos com esses
moléculas prevalentes nas componente do DNA que foi
dois grupos são
membranas celulares. modificado pela adição de um
chamados de
grupo metil.
aminoácidos.

Atua como base, pode Dois grupos sulfidrila Contribui para a carga A adição de um grupo
ser aceptor de um H podem reagir, formando negativa nas moléculas em que metil ao DNA, ou a
da solução adjacente uma ligação covalente. faz parte ( 2 quando ligado à moléculas ligadas ao DNA,
(água, nos organismos Esta “ligação cruzada” molécula, como acima; 1 afeta a expressão gênica.
vivos). ajuda a estabilizar a quando localizado internamen-
O arranjo dos grupos
H estrutura de proteínas te em uma cadeia de fosfatos).
H metil nos hormônios sexuais
(veja a Figura 5.21).
Tem o potencial de reagir com masculino e feminino afeta
N +N H As ligações cruzadas das a água, liberando energia. suas estruturas e funções
H H cisteínas nas proteínas (veja a Figura 4.9).
do cabelo mantêm o
(não ionizado) (ionizado) cabelo liso ou ondulado.
Considerando as informações desta figura e o que você sabe
Ionizado, com carga
Cabelos lisos podem ser ? sobre a eletronegatividade do oxigênio, diga qual das seguintes
encaracolados
1, sob condições moléculas será o ácido mais forte. Explique a sua resposta.
“permanentemente”
celulares.
enrolando-os em rolos e a. H H b. H O
O O
então clivando e
religando estas ligações H C C C H C C C
cruzadas. OH OH
H H H
66 C a mpbe ll & Col s .

ATP, importante fonte de energia para os REVISÃO DO CONCEITO

processos celulares 1. O que significa o termo aminoácido em termos de estru-


A coluna “Fosfatos” da Figura 4.10 mostra um exemplo simples tura molecular?
da molécula de fosfato orgânico. Um fosfato orgânico mais com- 2. Que alterações químicas ocorrem quando o ATP reage
plicado, a adenosina trifosfato, ou ATP, deve ser mencionado, com a água e libera energia?
pois a sua função na célula é muito importante. O ATP consiste 3. E SE...? Supondo que você tenha uma molécula orgâni-
em uma molécula orgânica chamada de adenosina ligada a uma ca como a glicina (ver a Figura 4.10, exemplo de aminoáci-
série de três grupos fosfato: do) e remova quimicamente o grupo —NH2 e o substitua
por —COOH. Desenhe a fórmula estrutural dessa molécu-
O O O la e faça interferências sobre suas propriedades químicas.
–O P O P O P O Adenosina Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
O– O– O–

Quando três fosfatos estão presentes em série, como no ATP, um Os elementos químicos da vida: uma revisão
fosfato pode ser liberado como resultado de uma reação com a A matéria viva, como vimos, consiste principalmente em carbo-
água. Esse íon fosfato inorgânico, HOPO32⫺, é frequentemente no, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio, com quantidades menores
abreviado como Pi neste livro. Tendo perdido um de seus fosfa- de enxofre e fósforo. Todos esses elementos formam fortes liga-
tos, o ATP se torna adenosina difosfato, ou ADP. Embora às vezes ções covalentes, característica essencial na arquitetura das molé-
se diga que o ATP “armazena” energia, é mais correto conside- culas orgânicas complexas. De todos esses elementos, o carbono
rá-lo uma molécula que “armazena” o potencial de reagir com é o especialista em ligações covalentes. Devido à versatilidade do
água. Essa reação libera energia que pode ser utilizada pela célu- carbono, é possível uma grande diversidade de moléculas orgâni-
la. Vamos aprender isso em mais detalhes no Capítulo 8. cas; cada qual com propriedades particulares, que emergem do
Reage arranjo ímpar do esqueleto carbônico e dos grupos químicos li-
com H2O gados ao esqueleto. Na base de toda a diversidade biológica está a
P P P Adenosina P + P P Adenosina + Energia variação em termos moleculares.
ATP Fosfato ADP
inorgânico

Revisão do Capítulo
RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE
4
carbono e hidrogênio. Isômeros são compostos de igual fórmula
molecular, mas com diferentes estruturas e propriedades. Existem
4.1 A química orgânica é o estudo dos compostos do três tipos de isômeros: estruturais, geométricos e enantiômeros.
carbono (p. 58-59)
 Os compostos orgânicos já foram considerados oriundos apenas 4.3 Poucos grupos químicos são essenciais para o
dos organismos vivos, mas essa ideia (vitalismo) foi descartada funcionamento das moléculas biológicas (p. 63-66)
quando engenheiros químicos conseguiram sintetizar compos-  Os grupos químicos mais importantes no processo da vida Os gru-
tos orgânicos em laboratório. pos químicos ligados ao esqueleto carbônico das moléculas or-
gânicas participam de reações químicas (grupos funcionais) ou
4.2 Os átomos de carbono podem formar diversas contribuem para a função, afetando a estrutura molecular.
moléculas ligando-se a outros quatro átomos (p. 60-63)  ATP, importante fonte de energia para os processos celulares
 A formação de ligações com o carbono O carbono, com valência
Reage
igual a 4, pode formar ligações com diversos outros átomos, in- com H2O
cluindo O, H e N. O carbono também pode fazer ligações com P P P Adenosina Pi + P P Adenosina + Energia
outros átomos de carbono, formando o esqueleto carbônico dos
compostos orgânicos. ATP Fosfato ADP
inorgânico
 A diversidade molecular se origina da variação dos esqueletos de
carbono O esqueleto carbônico das moléculas orgânicas varia  Os elementos químicos da vida: uma revisão A matéria viva é
em comprimento e em forma e tem sítios de ligação para átomos composta principalmente por carbono, oxigênio, hidrogênio
de outros elementos. Hidrocarbonetos são formados apenas por e nitrogênio, com quantidades menores de enxofre e fósforo.
B i o l o gi a 67

A diversidade biológica tem base molecular na habilidade do 7. Qual grupo químico é mais provavelmente o responsável pelo
carbono de formar um grande número de moléculas com estru- caráter de base de uma molécula orgânica?
turas e propriedades químicas particulares. a. hidroxila.
b. carbonila.
c. carboxila.
TESTE SEU CONHECIMENTO d. amino.
e. fosfato.
1. As moléculas orgânicas são definidas atualmente como o estudo:
a. dos compostos oriundos apenas a partir de células vivas. Para as respostas do teste, ver no Apêndice A.
b. dos compostos de carbono.
c. das forças vitais. CONEXÃO EVOLUTIVA
d. dos compostos naturais (em oposição aos compostos sintéti-
cos). 8. DESENHE Alguns cientistas acreditam que a vida em outros lu-

e. dos hidrocarbonetos. gares do universo pode ser baseada no elemento silício e não em
carbono como na Terra. Observe o diagrama de distribuição ele-
2. Quais dos seguintes hidrocarbonetos possuem ligação dupla no
trônica do silício na Figura 2.9 e desenhe a estrutura de pontos
esqueleto carbônico?
de Lewis para o silício. Quais propriedades o silício compartilha
a. C3H8. d. C2H4.
com o carbono que tornam a vida baseada no silício mais prová-
b. C2H6. e. C2H2.
vel que a vida baseada no neônio ou no alumínio?
c. CH4.
3. Escolha o termo que descreve corretamente as relações entre
PESQUISA CIENTÍFICA
estas duas moléculas de açúcar:
H 9. Em 1918, uma epidemia da doença do sono causou uma para-
H O lisia incomum nos sobreviventes, similar aos sintomas avança-
H C OH C dos da doença de Parkinson. Anos mais tarde, L-dopa (abaixo,
C O H C OH à esquerda), um composto químico utilizado no tratamento
da doença de Parkinson, foi administrada a alguns destes pa-
H C OH H C OH cientes, como dramatizado no filme Awakenings. A L-dopa foi
H H bastante eficaz na eliminação da paralisia, pelo menos tempo-
rariamente. No entanto, o seu enantiômero, D-dopa (à direita),
a. isômeros estruturais. c. enantiômeros. posteriormente não mostrou efeito algum, assim como no
b. isômeros geométricos. d. isótopos. tratamento da doença de Parkinson. Sugira uma hipótese que
4. Identifique o carbono assimétrico na molécula abaixo: explique por quê, nas duas doenças, um enantiômero é eficaz e
OH H H H o outro não.
O
a b c d e
C C C C C H
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
H H H H H
10. A talidomida atingiu notoriedade 50 anos atrás em função de
5. Qual grupo funcional não está presente nesta molécula? uma onda de nascimentos com defeitos congênitos entre as
HO O crianças de mulheres que tomaram talidomida durante a gra-
C H videz para o tratamento dos enjoos matinais. No entanto, em
1998, o FDA (do inglês, U.S. Food and Drug Administration)
H C C OH
aprovou essa droga para o tratamento de certas condições as-
N H sociadas à hanseníase (lepra). Nos testes clínicos, a talidomida
H H também se mostrou promissora
para o uso no tratamento de pa-
a. carboxila. c. hidroxila. cientes com AIDS, tuberculose
b. sulfidrila. d. amino. e alguns tipos de câncer. Você
6. Que ação pode originar um grupo carbonila? considera apropriada a aprovação
L-dopa D-dopa
a. a troca de um —OH de um grupo carboxílico por um hidro- dessa droga? Se você considera,
gênio. sob quais condições? Quais critérios você acha que o FDA utili-
b. a adição de um tiol a uma hidroxila. za para comparar os benef ícios de uma droga com seus riscos?
c. a adição de uma hidroxila a um fosfato.
d. a troca de um nitrogênio de uma amina por um oxigênio.
e. a adição de uma sulfidrila a um carboxila.
5
Estrutura e
Função de
Grandes Moléculas
Biológicas
 Figura 5.1 Por que os cientistas estudam as estruturas de ma-
CONCEITOS-CHAVE
cromoléculas?

5.1 Macromoléculas são polímeros construídos a partir de


monômeros 5.1 Macromoléculas são polímeros
5.2 Carboidratos servem como combustível e material de construídos a partir de monômeros
construção
5.3 Os lipídeos são um grupo diversificado de moléculas As macromoléculas de três das quatro classes dos compostos orgâ-
hidrofóbicas nicos da vida – carboidratos, proteínas e ácidos nucleicos – são mo-
5.4 As proteínas têm ampla gama de estruturas léculas em cadeia, chamadas de polímeros (do grego polys, muitas e
e funções meris, partes). Um polímero é uma longa molécula formada por su-
5.5 Os ácidos nucleicos armazenam e transmitem a bunidades semelhantes ou idênticas, unidas por ligações covalentes,
informação hereditária assim como um trem é composto por diversos vagões. As unidades
repetitivas que compõem as subunidades de um polímero são molé-
culas menores chamadas de monômeros. Algumas moléculas que
VISÃO GERAL
atuam como monômeros possuem outras funções próprias.
As moléculas da vida A síntese e a clivagem dos polímeros
Levando em conta a grande complexidade da vida na Terra, se- As classes de polímeros diferem na natureza de seus monômeros,
ria de se esperar que os organismos tivessem uma enorme di- mas os mecanismos químicos pelos quais as células sintetizam e cli-
versidade de moléculas. No entanto, de modo extraordinário, as vam os polímeros são basicamente iguais em todos os casos (Figura
grandes moléculas de importância crucial para todas as coisas 5.2). Os monômeros são conectados por uma reação em que duas
vivas – desde bactérias até elefantes – são de apenas quatro clas- moléculas são covalentemente ligadas por meio da liberação de uma
ses distintas: carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos nuclei- molécula de água. Isso é conhecido como reação de condensação,
cos. Na escala molecular, membros de três dessas classes – car- especificamente uma reação de desidratação, pois uma molécula
boidratos, proteínas e ácidos nucleicos – são grandes e, por isso, de água é liberada (Figura 5.2a). Quando a ligação se forma entre
denominados macromoléculas. Por exemplo, uma proteína os dois monômeros, cada monômero contribui para a formação de
consiste em milhares de átomos que formam um colosso mole- parte da molécula de água liberada: uma molécula fornece o grupo
cular de massa bem superior a 100.000 Daltons. Considerando hidroxila (¬OH), e a outra fornece o hidrogênio (¬H). Essa reação
o tamanho e a complexidade das macromoléculas, é notável que pode ser repetida à medida que os monômeros vão sendo adiciona-
os bioquímicos tenham determinado a estrutura detalhada de dos à cadeia, um a um, formando o polímero. O processo de desi-
tantas delas (Figura 5.1). dratação é facilitado por enzimas, macromoléculas especializadas
A arquitetura das grandes moléculas biológicas ajuda a expli- que aceleram as reações químicas nas células.
car como as moléculas funcionam. Assim como a água a as molé- Os polímeros são clivados em monômeros por hidrólise;
culas orgânicas simples, as grandes moléculas biológicas exibem processo essencialmente inverso ao da reação de desidratação
propriedades únicas originadas pelo arranjo ordenado dos seus (Figura 5.2b). Hidrólise significa quebrar utilizando água (do
átomos. Neste capítulo, primeiro vamos abordar como as macro- grego hydro, água, e lysis, quebra). As ligações entre os monôme-
moléculas são feitas. Depois, examinaremos a estrutura e a fun- ros são clivadas pela adição de moléculas de água, com o hidro-
ção de todas as quatro classes de grandes moléculas biológicas: gênio de uma molécula de água se ligando a um monômero e o
carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos nucleicos. grupo hidroxila se ligando ao monômero adjacente. Um exemplo
B i o l o gi a 69

tado de monômeros se compara à formação de centenas de mi-


HO 1 2 3 H HO H lhares de palavras a partir de apenas 26 letras do alfabeto. A chave
é a combinação – a sequência linear especial de cada unidade. No
Polímero curto Monômero não ligado entanto, essa analogia não descreve de modo adequado a grande
A desidratação remove uma variedade de macromoléculas, pois a maior parte dos polímeros
molécula de água, formando
H 2O
biológicos é muito mais comprida que as mais compridas pala-
uma nova ponte vras do mundo. As proteínas, por exemplo, são compostas por
20 tipos de aminoácidos arranjados em cadeias, tipicamente com
centenas de aminoácidos de extensão. A lógica molecular da vida
HO 1 2 3 4 H
é simples, porém elegante: pequenas moléculas, comuns a todos
Polímero mais longo
os organismos, são ordenadas em macromoléculas únicas.
Apesar dessa imensa diversidade, as estruturas e as funções
(a) Reação de desidratação na síntese de um polímero.
moleculares ainda podem ser agrupadas grosso modo em classes.
Vamos nos concentrar em cada uma das quatro principais clas-
ses de grandes moléculas biológicas. Em cada classe, as grandes
HO 1 2 3 4 H macromoléculas desenvolveram propriedades não observadas
individualmente nas subunidades.

A hidrólise adiciona uma REVISÃO DO CONCEITO


H2O
molécula de água, 1. Quais são as quatro principais classes de grandes molécu-
rompendo uma ligação
las biológicas?
2. Quantas moléculas de água são necessárias para hidrolisar
completamente um polímero com 10 monômeros de ex-
HO 1 2 3 H HO H tensão?
3. E SE...? Você acaba de fazer uma refeição de feijões
(b) Hidrólise de um polímero. verdes. Que reações devem ocorrer para que os monôme-
ros de aminoácidos das proteínas dos feijões sejam con-
 Figura 5.2 A síntese e a quebra dos polímeros. vertidos em proteínas em seu corpo?
de hidrólise que ocorre em nossos corpos é o processo de diges- Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
tão. A maior parte da matéria orgânica em nossos alimentos está
na forma de polímeros, muito grandes para entrar em nossas
células. No interior do trato digestório, diversas enzimas agem
sobre os polímeros, acelerando a hidrólise. Então, os monômeros
5.2 Carboidratos servem como
liberados são absorvidos pela corrente sanguínea e distribuídos combustível e material de
por todas as células do corpo. Em seguida as células utilizam a construção
reação de desidratação para agrupar os monômeros em novos e
distintos polímeros, que desempenham funções específicas, ne- Carboidratos incluem açúcares e polímeros de açúcar. Os car-
cessárias para a célula. boidratos mais simples são monossacarídeos, conhecidos tam-
bém como açúcares simples, compostos por dois monossacarí-
A diversidade dos polímeros deos unidos por uma reação de desidratação. Os carboidratos
Cada célula tem milhares de tipos distintos de macromoléculas. Esse incluem também macromoléculas chamadas de polissacarídeos,
conjunto varia de um tipo celular para outro, até no mesmo organis- polímeros compostos por várias unidades de açúcar.
mo. As diferenças intrínsecas entre irmãos e irmãs nos humanos
refletem as variações nos polímeros, particularmente no DNA e nas Açúcares
proteínas. As diferenças moleculares entre pessoas não aparentadas Monossacarídeos (do Grego monos, único, e sacchar, açúcar)
são mais extensas, e as diferenças entre espécies são ainda maiores. geralmente possuem fórmulas moleculares múltiplas da unidade
A diversidade das macromoléculas no mundo dos organismos vivos CH2O (Figura 5.3). A glicose (C6H12O6), o monossacarídeo mais
é enorme, e a possibilidade de variações é praticamente ilimitada. comum, tem importância central na química da vida. Na estrutu-
Qual é a base de tanta diversidade nos polímeros da vida? ra da glicose podemos ver as características dos açúcares: a mo-
Essas moléculas são compostas por apenas 40 a 50 monômeros lécula possui um grupo carbonila ( C“O) e diversos grupos hi-
comuns e por alguns outros de ocorrência rara. A montagem de droxila (¬OH). Dependendo da localização do grupo carbonila,
uma imensa variedade de polímeros a partir de um número limi- o açúcar pode ser uma aldose (açúcar de aldeído) ou uma cetose
70 C a mpbe ll & Col s .

(açúcar de cetona). A glicose, por exemplo, é uma aldose; a fru- simples, além de serem o principal combustível para o funciona-
tose, isômero estrutural da glicose, é uma cetose. (A maioria dos mento celular, também servem de matéria-prima para a síntese
nomes dos açúcares possui a terminação ose.) Outro critério para de outros tipos de pequenas moléculas orgânicas, como aminoá-
a classificação dos açúcares é o tamanho do esqueleto carbônico, cidos e ácidos graxos. As moléculas de açúcar não utilizadas ime-
que varia de três a sete carbonos de extensão. A glicose, a frutose diatamente nas formas já descritas, em geral são incorporadas
e outros açúcares com seis carbonos são chamados de hexoses. como monômeros em dissacarídeos ou polissacarídeos.
As trioses (açúcares de três carbonos) e as pentoses (açúcares de Um dissacarídeo é composto por dois monossacarídeos uni-
cinco carbonos) também são comuns. dos por uma ligação glicosídica, uma ligação covalente formada
Outra fonte de diversidade para os açúcares simples é o ar- entre dois monossacarídeos por reação de desidratação. Por exem-
ranjo espacial das partes em torno do carbono assimétrico. (Lem- plo, a maltose é um dissacarídeo formado pela ligação de duas mo-
bre-se que o carbono assimétrico é o carbono ligado a quatro áto- léculas de glicose (Figura 5.5a). Também conhecida como malte,
mos ou grupos de átomos diferentes.) A glicose e a galactose, por a maltose é um ingrediente utilizado na fermentação da cerveja. O
exemplo, diferem apenas na disposição das partes em torno do dissacarídeo mais comum é a sacarose, ou açúcar de mesa. Seus
carbono assimétrico (ver os retângulos roxos na Figura 5.3). O dois monômeros são a glicose e a frutose (Figura 5.5b). As plantas
que parece uma pequena diferença é suficiente para conferir for- geralmente transportam carboidratos das folhas para as raízes e
mas e comportamentos distintos para esses dois açúcares. outros órgãos não fotossintéticos, em forma de sacarose. A lactose,
Apesar de conveniente, desenhar a molécula de glicose como o açúcar do leite, é outro dissacarídeo; nesse caso, uma molécula
um esqueleto carbônico linear não é completamente correto.
de glicose está ligada a uma molécula de galactose.
Em soluções aquosas, as moléculas de glicose, assim como as da
maioria dos demais açúcares, são cíclicas (Figura 5.4).
Os monossacarídeos, em particular a glicose, são os prin-
Polissacarídeos
cipais nutrientes para as células. No processo conhecido como Os polissacarídeos são macromoléculas, polímeros com cente-
respiração celular, as células extraem energia em uma série de nas a milhares de monossacarídeos unidos por meio de ligações
reações que se iniciam com moléculas de glicose. Os açúcares glicosídicas. Alguns polissacarídeos servem como material de ar-

Trioses (C3H6O3) Pentoses (C5H10O5) Hexoses (C6H12O6)

H O H O H O H O
C C C C
H C OH H C OH H C OH H C OH
H C OH H C OH HO C H HO C H
Aldoses

H H C OH H C OH HO C H
Gliceraldeído H C OH H C OH H C OH
Produto
inicial da H H C OH H C OH
clivagem
Ribose H H
da glicose
Componente
do RNA Glicose Galactose
Fonte de energia Fonte de energia
para os organismos para os organismos

H H H

H C OH H C OH H C OH

C O C O C O
 Figura 5.3 A estrutura e a classificação
H C OH H C OH HO C H
Cetoses

de certos monossacarídeos. Os açúcares po-


dem ser aldoses (açúcares de aldeído, na fileira H H C OH H C OH
superior) ou cetoses (açúcares de cetonas, na
fileira inferior), dependendo da localização do Diidroxiacetona H C OH H C OH
grupo carbonila (laranja-escuro). Os açúcares Produto
inicial da H H C OH
também são classificados conforme a extensão
dos esqueletos carbônicos. Um terceiro ponto de clivagem
da glicose Ribulose H
variação é o arranjo espacial em torno do carbo- Intermediário Frutose
no assimétrico (compare, por exemplo, as por- da fotossíntese Fonte de energia para os organismos
ções em roxo da glicose e da galactose).
B i o l o gi a 71

H O
1C 6 CH2OH 6 CH2OH
CH2OH
2 6
H C OH 5C O H 5C O O
H H H H 5 H
3 H H
HO C H H H 4 1
4C 1C 4C 1C OH H
H
4
C OH OH H OH H HO 3 2 OH
O
OH 2 OH 2
5 3C C 3C C OH H OH
H C OH
6 H OH H OH
H C OH
(b) Estrutura em anel abreviada. Cada canto
H representa um carbono. As terminações mais
(a) Formas lineares e cíclicas. O equilíbrio químico entre as estruturas lineares e cíclicas grossas do anel indicam que estamos olhando
favorece grandemente as formas cíclicas. Os carbonos do açúcar são numerados de 1 a o anel do plano perpendicular; os componentes
6, conforme mostrado. Para formar o anel da glicose, o carbono 1 se liga ao oxigênio ligados ao anel ficam acima ou abaixo do
ligado ao carbono 5. plano do anel.

 Figura 5.4 Formas lineares e cíclicas da glicose.


DESENHE Iniciando com a forma linear da glicose (ver Figura 5.3), desenhe a formação do anel da frutose em duas eta-
pas. Numere os átomos de carbono. Ligue o carbono 5 ao oxigênio ligado ao carbono 2. Compare o número de átomos de
carbono no anel da glicose e no anel da frutose.

(a) Reação de desidratação na CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH


síntese da maltose. A ligação Ligação
de duas unidades de glicose H O H H O H H O H glicosídica H O H
forma a maltose. A ligação H H H 1 1-4 4 H
glicosídica une o carbono 1 de OH H OH H OH H OH H
HO OH HO OH HO
uma molécula de glicose ao O OH
carbono 4 da segunda
molécula de glicose. A união H OH H OH H OH H OH
dos monômeros de glicose de H2O
maneiras diferentes resulta em Glicose Glicose Maltose
dissacarídeos distintos.

(b) Reação de desidratação CH2OH CH2OH


na síntese da sacarose. CH2OH Ligação CH2OH
H O H O H H O H glicosídica O H
A sacarose é um
dissacarídeo formado por H H 1 1-2 2
glicose e frutose. Observe OH H H HO OH H H HO
HO OH HO
que a frutose, apesar de ser CH2OH HO O CH2OH
uma hexose como a glicose,
H OH OH H H OH OH H
forma um anel de cinco
carbonos. H2O
Glicose Frutose Sacarose

 Figura 5.5 Exemplos de síntese de dissacarídeos.

mazenamento, hidrolisados conforme a necessidade de fornecer energia armazenada. O açúcar pode ser extraído posteriormente
açúcar às células. Outros polissacarídeos servem de material de desse “banco” de carboidratos por hidrólise, que cliva as ligações
construção para estruturas que protegem a célula ou até mesmo entre os monômeros de glicose. A maioria dos animais, incluin-
todo o organismo. A arquitetura e a função de um polissacarídeo do os humanos, também possui enzimas capazes de hidrolisar o
são determinadas por seus monômeros de açúcar e pela posição amido das plantas, tornando a glicose disponível para ser utiliza-
das ligações glicosídicas. da como combustível para as células. Tubérculos como a batata
e os grãos – os frutos do trigo, milho, arroz e outras gramíneas
Polissacarídeos de armazenamento – são as principais fontes de amido na dieta dos humanos.
Tanto as plantas quanto os animais armazenam açúcares para o A maioria dos monômeros de glicose do amido está unida
uso posterior na forma de polissacarídeos. As plantas armaze- por meio de ligações 1-4 (carbono 1 ao carbono 4), assim como as
nam amido, um polímero de monômeros de glicose, como grâ- unidades de glicose estão unidas na maltose (ver Figura 5.5a). O
nulos no interior de estruturas celulares conhecidas como plas- ângulo dessas ligações torna o polímero helicoidal. A forma mais
tídios, incluindo os cloroplastos. A síntese de amido permite que simples de amido, a amilose, não é ramificada (Figura 5.6a). A
as plantas armazenem um suprimento extra de glicose. Como amilopectina, um amido mais complexo, é um polímero ramifi-
a glicose é o principal combustível celular, o amido representa cado, com ligações 1-6 nos pontos de ramificação.
72 C a mpbe ll & Col s .

Cloroplasto Amido Mitocôndria Grânulos de glicogênio

0.5 μm

1 μm

Amilose Amilopectina Glicogênio

(b) Glicogênio: o polissacarídeo dos animais. O glicogênio é mais


(a) Amido: o polissacarídeo das plantas. Duas formas de amido ramificado que a amilopectina. As células animais armazenam
são a amilose (não ramificada) e a amilopectina (ramificada). As glicogênio em densos aglomerados de grânulos nas células hepáticas
estruturas ovais mais claras na micrografia são grânulos de amido e musculares. (A micrografia mostra parte de uma célula hepática;
no interior do cloroplasto de uma célula vegetal. mitocôndrias são organelas que ajudam a clivar os açúcares.)

 Figura 5.6 Os polissacarídeos de armazenamento das plantas e dos animais. Tanto amido quanto glicogênio
são compostos inteiramente por monômeros de glicose, representados aqui como hexágonos. Em função de sua estrutura
molecular, as cadeias de polímeros tendem a formar hélices.

Os animais armazenam um polissacarídeo chamado de gli- que existem duas estruturas cíclicas ligeiramente distintas para
cogênio, um polímero de glicose similar à amilopectina, mas a glicose (Figura 5.7a). Quando a glicose forma o anel, o grupo
com maior número de ramificações (Figura 5.6b). Os humanos hidroxila ligado ao carbono 1 pode estar posicionado tanto acima
e outros vertebrados armazenam glicogênio principalmente nas como abaixo do plano do anel. Esses dois tipos de anéis formam
células do f ígado e dos músculos. A hidrólise do glicogênio nes- a glicose chamada alfa (␣) e beta (␤), respectivamente. No amido,
sas células libera glicose quando aumenta a demanda por açúcar. todos os monômeros de glicose estão na configuração ␣ (Figura
No entanto, esse combustível armazenado não pode sustentar um 5.7b), no arranjo mostrado nas Figuras 5.4 e 5.5. Em contraste, os
animal por muito tempo. Em humanos, por exemplo, os estoques monômeros de glicose da celulose estão todos na configuração ␤;
de glicogênio acabam em cerca de um dia, a menos que sejam com isso, cada monômero de glicose fica de cabeça para baixo em
repostos pelo consumo de comida. Esse é um ponto preocupante relação aos monômeros adjacentes (Figura 5.7c).
nas dietas com poucos carboidratos. As ligações glicosídicas distintas no amido e na celulose con-
ferem a essas duas moléculas formas tridimensionais distintas.
Polissacarídeos estruturais Enquanto a molécula de amido é principalmente helicoidal, a
Os organismos constroem materiais resistentes a partir de po- molécula de celulose é linear. A celulose nunca é ramificada, e
lissacarídeos estruturais. Por exemplo, o polissacarídeo chamado alguns grupos hidroxila em seus monômeros de glicose estão li-
celulose é o principal componente da parede celular que circun- vres para formar pontes de hidrogênio com os grupos hidroxila
da as células das plantas. Em escala global, as plantas produzem de outras moléculas de celulose paralelas. Na parede celular das
quase 1014 kg (100 bilhões de toneladas) de celulose por ano; é plantas, moléculas de celulose paralelas são unidas dessa forma,
o componente orgânico mais abundante na Terra. Assim como agrupadas em unidades chamadas de microfibras (Figura 5.8).
o amido, a celulose é um polímero de glicose, mas as ligações Essas microfibras em forma de cabos são materiais fortes de
glicosídicas nesses dois polímeros são diferentes. A diferença é construção nas plantas. Além disso, têm importância significati-
B i o l o gi a 73

H O
(a) Estruturas de anel da C
α-glicose e da β-glicose. CH2OH CH2OH
Estas duas formas O H H C OH O OH
H H
interconversíveis o diferem H H
na disposição do grupo 4 1 HO C H 4 1
OH H OH H
hidroxila (destacado em HO OH HO H
H C OH
azul) ligado ao carbono 1.
H OH H C OH H OH
α-glicose β-glicose
H C OH
H

CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH OH CH2OH OH


O O O O O O
1 4 O OH O OH
OH O OH O OH O OH OH 1 4 O OH
HO OH HO OH
O O
OH OH OH OH OH CH2OH OH CH2OH

(b) Amido: ligação 1-4 entre os monômeros de α-glicose. Todos (c) Celulose: ligação 1-4 entre os monômeros de α-glicose. Na
os monômeros têm a mesma orientação. Compare as posições dos celulose, cada monômero de β-glicose fica de cabeça para baixo
grupos –OH destacados em amarelo com os grupos da celulose (c). em relação ao monômero anterior.

 Figura 5.7 Estruturas do amido e da celulose.

Microfibras de Cerca de 80 moléculas de


Parede celular
celulose nas celulose se associam para
paredes celulares formar uma microfibra, a
de uma planta principal unidade
Microfibras estrutural da parede
celular das plantas.

10 μm

0,5 μm

CH2OH OH CH2OH OH
O
O
O
O
Moléculas
OH OH
O
OH
O
OH
O
de celulose
O O
OH CH2OH OH CH2OH
OH
CH2OH OH CH2OH OH
O O
OH O OH O
OH OH
O O O O O
Moléculas paralelas de celulose
OH CH2OH OH CH2OH
são unidas por meio de pontes
de hidrogênio entre os grupos CH2OH OH CH2OH OH
hidroxila ligados aos átomos O O
de carbono 3 e 6. OH O OH O Uma molécula de celulose
OH OH
O O O O O é um polímero
OH CH2OH OH CH2OH não ramificado de β-glicose.

Monômero
de β-glicose

 Figura 5.8 O arranjo da celulose na parede celular das plantas.


74 C a mpbe ll & Col s .

Outro polissacarídeo estrutural importante é a quitina, o


carboidrato utilizado pelos artrópodes (insetos, aranhas, crustá-
ceos e animais relacionados) para construir exoesqueletos (Figu-
ra 5.10). O exoesqueleto é o revestimento duro que recobre as
partes macias de um animal. A quitina pura tem textura de couro
e é flexível, mas se torna mais rígida quando incrustada com car-
bonato de cálcio, um tipo de sal. A quitina também é encontrada
em muitos fungos, que utilizam esse polissacarídeo no lugar da
celulose para construir as paredes celulares. A quitina é similar
à celulose, exceto pelo fato de que os monômeros de glicose da
 Figura 5.9 Procariotos capazes de digerir a celulose são encon- quitina possuem um apêndice com nitrogênio (ver Figura 5.10a).
trados em animais ruminantes como esta vaca.
REVISÃO DO CONCEITO
va para os humanos, pois a celulose é o principal componente do
papel e o único componente do algodão. 1. Escreva a fórmula de um monossacarídeo de três carbonos.
As enzimas que digerem o amido pela hidrólise das ligações ␣ 2. A reação de desidratação une duas moléculas de glicose
são incapazes de hidrolisar as ligações ␤ da celulose em função dos para formar maltose. A fórmula da glicose é C6H12O6.
formatos distintos das duas moléculas. De fato, poucos organismos Qual é a fórmula da maltose?
possuem enzimas capazes de digerir a celulose. Os humanos não as 3. E SE...? O que aconteceria se uma vaca recebesse antibió-
possuem; a celulose presente nos alimentos passa através de nos- ticos que matassem todos os procariotos de seu estômago?
so trato digestório e é eliminada nas fezes. Ao longo do caminho, a Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
celulose causa abrasões nas paredes do trato digestório, estimulan-
do as células a secretarem muco, facilitando a passagem da comi-
da pelo trato. Assim, embora a celulose não seja um nutriente para
os humanos, ela é parte importante de uma dieta saudável. Frutas 5.3 Os lipídeos são um grupo
frescas, vegetais e grãos são ricos em celulose. Na embalagem dos diversificado de moléculas
alimentos, “fibras insolúveis” se referem principalmente à celulose.
Alguns procariotos podem digerir celulose, clivando-a em
hidrofóbicas
monômeros de glicose. Uma vaca possui procariotos capazes de Os lipídeos são a única classe de grandes moléculas biológicas
digerir celulose no rúmen, o primeiro compartimento do seu es- que não incluem polímeros verdadeiros. Em geral, não são sufi-
tômago (Figura 5.9). Os procariotos hidrolisam a celulose pre- cientemente grandes para serem considerados macromoléculas.
sente no pasto e na grama e convertem a glicose em outros nu- Os compostos denominados lipídeos são agrupados por com-
trientes que alimentam a vaca. De forma similar, o cupim, incapaz partilharem uma importante característica: misturam-se muito
de digerir a celulose sozinho, possui nos intestinos procariotos pouco ou não se misturam com a água. O comportamento hi-
que podem alimentar-se de madeira. Alguns fungos também são drofóbico dos lipídeos se baseia em suas estruturas moleculares.
capazes de digerir celulose, ajudando a reciclar elementos quími- Embora possam ter algumas ligações polares associadas com o
cos no ecossistema da Terra. oxigênio, os lipídeos são compostos principalmente por regiões

CH2OH
H O OH
H
OH H
OH H

H NH

C O

CH3

(b) A quitina forma o exoesqueleto dos (c) A quitina é utilizada para fazer cordões
(a) A estrutura do monômero de quitina. artrópodes. Esta cigarra está em processo de cirúrgicos fortes e flexíveis, que se decom-
muda, liberando o exoesqueleto velho e põem após a ferida ou a incisão sararem.
emergindo na forma adulta.

 Figura 5.10 Quitina, um polissacarídeo estrutural.


B i o l o gi a 75

hidrocarbonadas. Os lipídeos apresentam uma variedade de for- Para formar uma gordura, três moléculas de ácido graxo li-
mas e funções. Essa classe inclui as ceras e certos pigmentos, mas gam-se a uma molécula de glicerol por meio de uma ligação éster,
vamos dar ênfase aos tipos de lipídeos mais importantes biologi- uma ponte entre o grupo hidroxila e o grupo carbonila. A gor-
camente: gorduras, fosfolipídeos e esteroides. dura resultante, também chamada de triacilglicerol, é composta
por três ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerol. (Outro
Gorduras nome para essas gorduras é triglicerídeo, palavra frequentemente
Embora as gorduras não sejam polímeros, elas são grandes molé- encontrada nas listas de ingredientes de alimentos embalados.)
culas formadas pela associação de poucas e pequenas moléculas, Os ácidos graxos na gordura podem ser iguais, como mostrado
por meio de reações de desidratação. Uma gordura é composta na Figura 5.11b, ou de dois ou três tipos distintos.
por dois tipos de pequenas moléculas: glicerol e ácidos graxos
(Figura 5.11a). O glicerol é um álcool com três átomos de carbo-
no, cada um ligado a um grupo hidroxila. Um ácido graxo possui
um longo esqueleto carbônico, geralmente com 16 a 18 carbonos H O
de extensão. O carbono em uma das extremidades do ácido graxo H C O C
faz parte do grupo carboxila, o grupo funcional que dá a essas O
moléculas o nome de ácido graxo. Ligada ao grupo carboxila está Fórmula estrutural de uma H C O C
molécula de gordura saturada
uma longa cadeia hidrocarbonada. As relativamente apolares li- O
H C O C
gações C—H na cadeia hidrocarbonada são a causa do caráter
H
hidrofóbico das gorduras. As gorduras se separam da água, pois
as moléculas de água ligam-se umas às outras com pontes de hi-
drogênio, excluindo as gorduras. Essa é a razão pela qual o óleo Ácido esteárico, ácido
vegetal (uma gordura líquida) se separa da solução aquosa de vi- graxo saturado
nagre nas embalagens de molhos para saladas.

(a) Gordura saturada. Em temperatura ambiente, as moléculas de


H H H H H H H H uma gordura saturada, como esta manteiga, apresentam forte
O H H H H H H H H
H C OH C C C C C C C C H compactação, formando um sólido.
C C C C C C C C
HO
H H H H H H H
H H H H H H H H
H C OH
H2O Ácido graxo
H C OH
(ácido palmítico)
H

H O
Glicerol
H C O C
(a) Reação de desidratação na síntese de gordura.
O
Fórmula estrutural de H C O C
Ligação éster uma molécula de gordura
O
insaturada
H O H H H H H H H H C O C
H H H H H H H H
H C O C C C C C C C C H H
C C C C C C C C
H H H H H H H
H H H H H H H H

O H H H H H H H
H H H H H H H H
H C O C C C C C C C C H
C C C C C C C C Ácido oleico, ácido graxo
H H H H H H H
H H H H H H H H insaturado
O H H H H H H H
H H H H H H H H Uma ligação dupla
H C O C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
H cis causa a curvatura
H H H H H H H H da molécula
H H H H H H H H
(b) Gordura insaturada. Em temperatura ambiente, as moléculas da
(b) Molécula de gordura (triacilglicerol). gordura insaturada, como as do óleo de oliva, não conseguem
compactar-se com força suficiente para se solidificarem; isso se deve às
 Figura 5.11 Síntese e estrutura da gordura ou triacilglicerol. A curvaturas em algumas cadeias hidrocarbonadas destes ácidos graxos.
unidade de construção da gordura é uma molécula de glicerol e três mo-
léculas de ácidos graxos. (a) Uma molécula de água é removida de cada  Figura 5.12 Exemplos de gorduras e ácidos graxos saturados e
molécula de ácido graxo ligado ao glicerol. (b) Uma molécula de gordura insaturados. A fórmula estrutural de cada gordura segue a convenção
com três unidades idênticas de ácidos graxos. Os átomos de carbono dos química comum de omissão dos átomos de carbono e dos átomos de hi-
ácidos graxos estão arranjados em ziguezague, indicando as orientações drogênio ligados ao carbono nas regiões hidrocarbonadas. Nos modelos
verdadeiras das quatro ligações simples que se estendem de cada átomo de preenchimento espacial dos ácidos graxos, preto ⫽ carbono, cinza ⫽
de carbono (ver Figura 4.3a). hidrogênio e vermelho ⫽ oxigênio.
76 C a mpbe ll & Col s .

Os ácidos graxos podem variar em extensão, no número e na Uma dieta rica em gorduras saturadas é um dos vários fatores
posição das ligações duplas. Os termos gorduras saturadas e gordu- que contribuem para a doença cardiovascular conhecida como ate-
ras insaturadas são comumente utilizados no contexto da nutrição rosclerose. Nesta doença, depósitos chamados de placas se desen-
(Figura 5.12). Esses termos se referem à estrutura das cadeias hidro- volvem nas paredes dos vasos sanguíneos, originando invaginações
carbonadas dos ácidos graxos. Se não houver ligações duplas entre que impedem o fluxo sanguíneo e reduzem a resistência dos vasos.
os átomos de carbono da cadeia, então o maior número possível de Estudos recentes mostraram que o processo de hidrogenação dos
átomos de hidrogênio liga-se ao esqueleto carbônico. Essa estrutura óleos vegetais produz não só gorduras saturadas, mas também gor-
é descrita como saturada por átomos de hidrogênio, e o ácido graxo duras insaturadas com ligações duplas trans. Essas gorduras trans
resultante é chamado de ácido graxo saturado (Figura 5.12a). Um podem contribuir mais que as gorduras saturadas para a ateroscle-
ácido graxo insaturado possui uma ou mais ligações duplas, forma- rose (ver Capítulo 42) e outros problemas. Como as gorduras trans
das pela remoção de átomos de hidrogênio do esqueleto carbônico. são especialmente comuns em guloseimas e alimentos processados,
O ácido graxo apresenta uma curvatura na cadeia hidrocarbonada o órgão americano USDA exige a informação do conteúdo de gor-
sempre que ocorrer uma ligação dupla cis (Figura 5.12b). duras trans nos rótulos nutricionais.
A gordura formada por ácidos graxos saturados é chamada de As gorduras adquiriram conotação tão negativa em nossa cul-
gordura saturada. A maioria das gorduras animais é saturada: as tura que é de se imaginar que propósitos úteis elas possam ter. A
cadeias hidrocarbonadas de seus ácidos graxos – as “caudas” das principal função das gorduras é o armazenamento de energia. As
moléculas de gordura – não apresentam ligações duplas, e a sua cadeias hidrocarbonadas das gorduras são semelhantes às molé-
flexibilidade permite essas moléculas de gordura se compactarem culas da gasolina e tão ricas em energia. Um grama de gordura
fortemente. As gorduras animais saturadas – como banha e mantei- armazena o dobro de energia que um grama de polissacarídeo
ga – são sólidas a temperatura ambiente. Em contraste, as gorduras como o amido. Como as plantas são relativamente imóveis, con-
das plantas e dos peixes são geralmente insaturadas, ou seja, com- seguem ter grandes estoques de energia em forma de amido. (Os
postas por um ou mais tipos de ácidos graxos insaturados. Geral- óleos vegetais são em geral obtidos a partir das sementes, onde
mente líquidas em temperatura ambiente, as gorduras de plantas encontra-se um estoque de energia mais compacto, em relação ao
e peixes são chamadas de óleos – azeite de oliva e óleo de f ígado resto da planta.) Os animais, no entanto, precisam carregar consi-
de bacalhau são exemplos. Devido às curvaturas onde as ligações go seus estoques de energia, então é vantajoso possuir um estoque
duplas cis estão localizadas, as moléculas não se compactam com de energia mais compacto – a gordura. Os humanos e outros ma-
força suficiente para solidificar em temperatura ambiente. A expres- míferos armazenam reservas alimentares de longo prazo nas cé-
são “óleo vegetal hidrogenado” nos rótulos dos alimentos significa lulas adiposas (ver Figura 4.6a), que inflam e murcham conforme
que as gorduras insaturadas foram convertidas sinteticamente em as gorduras são depositadas e utilizadas. Além de armazenarem
gorduras saturadas pela adição de hidrogênio. A manteiga de amen- energia, o tecido adiposo também acondiciona órgãos vitais como
doim, a margarina e muitos outros produtos são hidrogenados para os rins, e uma camada de gordura abaixo da pele realiza o isola-
evitar que os lipídeos se separem na fase líquida (óleo). mento térmico de nosso corpo. Essa camada subcutânea é espe-

CH2
+
N(CH3)3  Figura 5.13 A estrutura de um fosfolipídeo. Um fosfolipídeo
Colina possui cabeça hidrofílica (polar) e duas caudas hidrofóbicas (apola-
Cabeça hidrofílica

CH2
res). A diversidade dos fosfolipídeos se baseia nas diferenças nos dois
O ácidos graxos e nos grupos ligados à cabeça. Este fosfolipídeo em
O P O– Fosfato particular, chamado de fosfatidilcolina, possui um grupo colina ligado
O à cabeça hidrofílica. A curvatura em uma das caudas se deve a uma
CH2 CH CH2
ligação dupla cis. Aqui são mostradas (a) a fórmula estrutural, (b) o
Glicerol modelo de preenchimento espacial (amarelo ⫽ fósforo, azul ⫽ nitro-
O O gênio), e (c) a representação simbólica dos fosfolipídeos, utilizada ao
C O C O longo deste livro.
Caudas hidrofóbicas

Ácidos graxos

Cabeça
hidrofílica

Caudas
hidrofóbicas

(a) Fórmula estrutural. (b) Modelo de preenchimento (c) Representação simbólica


espacial. dos fosfolipídeos.
B i o l o gi a 77

Cabeça ÁGUA
hidrofílica H3C CH3

CH3 CH3

CH3

HO

Cauda
hidrofóbica ÁGUA
 Figura 5.15 Colesterol, um esteroide. O colesterol é a molécula a
 Figura 5.14 A estrutura de bicamada formada por autoassocia- partir da qual outros esteroides, incluindo os hormônios sexuais, são sin-
ção de fosfolipídeos em ambiente aquoso. A bicamada fosfolipídica tetizados. Os esteroides variam quanto aos grupos químicos ligados aos
mostrada aqui é a principal base das membranas biológicas. Observe que, quatro anéis interconectados (mostrados em dourado).
nesta estrutura, as cabeças hidrofílicas dos fosfolipídeos estão em contato
com a água, e as caudas hidrofóbicas estão em contato umas com as ou- variam quanto aos grupos químicos ligados ao conjunto de anéis.
tras, e isoladas da água.
O colesterol é um componente comum das membranas celulares
dos animais. Ele também é um precursor a partir do qual outros
cialmente espessa nas baleias, nas focas e na maioria dos animais
esteroides são sintetizados. Nos vertebrados, o colesterol é sin-
marinhos, protegendo-os das águas frias dos oceanos.
tetizado no f ígado. Muitos hormônios, incluindo os hormônios
sexuais dos vertebrados, são esteroides produzidos a partir do
Fosfolipídeos
colesterol (ver Figura 4.9). Dessa forma, o colesterol é uma molé-
As células não poderiam existir sem outro tipo de lipídeo – os cula crucial para os animais, apesar de altos níveis de colesterol
fosfolipídeos (Figura 5.13). Os fosfolipídeos são essenciais para no sangue contribuírem para a aterosclerose. Tanto as gorduras
as células, pois formam as membranas celulares. A sua estrutura saturadas quanto as gorduras trans exercem efeitos negativos na
fornece um exemplo clássico de como a forma determina a função saúde por afetarem os níveis de colesterol.
em termos moleculares. Conforme mostrado na Figura 5.13, um
fosfolipídeo é similar a uma molécula de gordura, mas possui ape- REVISÃO DO CONCEITO
nas duas moléculas de ácido graxo ligadas ao glicerol, e não três. 1. Compare a estrutura de uma gordura (triglicerídeo) com a
O terceiro grupo hidroxila do glicerol está ligado a um grupo fos- de um fosfolipídeo.
fato, com carga elétrica negativa. Pequenas moléculas adicionais, 2. Por que os hormônios sexuais humanos são considerados
geralmente carregadas ou polares, podem estar ligadas ao grupo lipídeos?
fosfato para formar uma grande variedade de fosfolipídeos. 3. E SE...? Imagine uma membrana cobrindo uma gotí-
As duas extremidades dos fosfolipídeos apresentam compor- cula de óleo, como ocorre nas células das sementes das
tamentos distintos em relação à água. As caudas hidrocarbona- plantas. Descreva e explique a forma que essa membrana
das são hidrofóbicas e se afastam da água. No entanto, o grupo pode ter.
fosfato e seus ligantes formam uma cabeça hidrof ílica com afi-
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
nidade pela água. Quando fosfolipídeos são adicionados à água,
arranjam-se em agregados de camada dupla – bicamadas – que
protegem as porções hidrofóbicas da água (Figura 5.14).
Na superf ície celular, os fosfolipídeos estão arranjados em 5.4 As proteínas têm ampla gama de
bicamadas semelhantes. As cabeças hidrof ílicas das moléculas fi-
cam na camada externa, em contato com as soluções aquosas no estruturas e funções
interior e no exterior da célula. As caudas hidrofóbicas apontam Quase todas as funções dinâmicas de um organismo vivo de-
para o interior da bicamada, longe da água. A bicamada fosfolipí- pendem das proteínas. De fato, a importância das proteínas está
dica forma uma barreira entre a célula e o ambiente externo. De implícita no nome, que vem do grego proteios, “em primeiro lu-
fato, as células não poderiam existir sem os fosfolipídeos. gar”. As proteínas contribuem com mais de 50% da massa seca
da maioria das células e são imprescindíveis em quase tudo que
Esteroides os organismos fazem. Algumas proteínas aceleram reações quí-
Muitos hormônios, assim como o colesterol, são esteroides, lipí- micas, ao passo que outras desempenham papéis estruturais, de
deos que se caracterizam por um esqueleto carbônico composto armazenamento, transporte, comunicação, movimento e defesa
de quatro anéis fusionados (Figura 5.15). Os diferentes esteroides contra substâncias estranhas ao organismo (Tabela 5.1).
78 C a mpbe ll & Col s .

Tabela 5.1 Visão geral das funções proteicas


Tipo de proteína Função Exemplos
Proteínas enzimáticas Aceleração seletiva de Enzimas digestivas catalisam a hidrólise dos polímeros presentes nos alimentos.
reações químicas
Proteínas estruturais Sustentação Insetos e aranhas utilizam as fibras da seda para produzir seus casulos e teias, respectivamente.
O colágeno e a elastina fornecem a estrutura fibrosa aos tecidos conectivos dos animais. A que-
ratina é a proteína dos cabelos, chifres, penas e outros apêndices da pele.
Proteínas de armazena- Armazenamento de A ovoalbumina é a proteína da clara do ovo, utilizada como fonte de aminoácidos para o em-
mento aminoácidos brião em desenvolvimento. A caseína, proteína do leite, é a principal fonte de aminoácidos para
os filhotes dos mamíferos. As plantas possuem proteínas de armazenamento nas sementes.
Proteínas de transporte Transporte de outras A hemoglobina, proteína ferrosa do sangue dos vertebrados, transporta oxigênio dos pulmões
substâncias para outras partes do corpo. Outras proteínas fazem moléculas atravessarem membranas celu-
lares.
Proteínas hormonais Coordenação das ativi- A insulina, hormônio secretado pelo pâncreas, ajuda a regular a concentração de açúcar no
dades do organismo sangue dos vertebrados.
Proteínas receptoras Respostas das células a Os receptores nas membranas das células nervosas detectam sinais químicos liberados por ou-
estímulos químicos tras células nervosas.
Proteínas motoras e Movimento A actina e a miosina são responsáveis pela contração muscular. Outras proteínas são responsá-
contráteis veis pela ondulação em organelas conhecidas como cílios e flagelos.
Proteínas de defesa Proteção contra doenças Os anticorpos combatem vírus e bactérias.

A vida não seria possível sem enzimas, em sua maioria pro- carga” que mantêm as células funcionando e desempenhando as
teínas. Proteínas enzimáticas regulam o metabolismo, atuando suas funções nos processos da vida.
como catalisadores que aceleram seletivamente as reações quí- Um humano possui dezenas de milhares de proteínas dife-
micas sem serem consumidos pela reação (Figura 5.16). As en- rentes, com estrutura e função específicas. De fato, as proteínas
zimas são capazes de desempenhar suas funções repetidamen- são as moléculas mais sofisticadas estruturalmente. De forma
te; por isso, essas moléculas podem ser consideradas “burros de consistente com suas diferentes funções, elas variam bastante em
estrutura, e cada tipo de proteína possui formato tridimensional
único.
1 O sítio ativo está disponível 2 O substrato se liga
para uma molécula de à enzima.
substrato, o reagente em Polipeptídeos
que a enzima atua.
Com toda a sua diversidade, todas as proteínas são polímeros
construídos a partir do mesmo conjunto de 20 aminoácidos. Po-
Substrato límeros de aminoácidos são chamados de polipeptídeos. Uma
(sacarose)
proteína consiste em um ou mais polipeptídeos, cada um enove-
lado e estruturado em uma estrutura tridimensional específica.

Glicose
Monômeros de aminoácidos
Enzima Todos os aminoácidos compartilham uma estrutura comum. Os
(sacarase)
OH
H2O
aminoácidos são moléculas orgânicas Carbono ␣
Frutose com grupos carboxila e amino (ver Ca- R
H O
pítulo 4). A ilustração à direita mostra
HO N C C
a fórmula geral de um aminoácido. No H OH
centro do aminoácido existe um car- H
bono assimétrico chamado de carbono Grupo Grupo
alfa (␣). Seus quatro ligantes distintos amino carboxila
são o grupo amino, o grupo carboxila,
4 Os produtos são 3 O substrato é convertido um átomo de hidrogênio e um grupo variável, simbolizado por
liberados. em produtos.
R. O grupo R, também chamado de cadeia lateral, difere em cada
 Figura 5.16 O ciclo catalítico de uma enzima. A enzima sacarase aminoácido.
acelera a hidrólise da sacarose em glicose e frutose. Agindo como catali- A Figura 5.17 mostra os 20 aminoácidos que a célula utili-
sador, a proteína sacarase não é consumida durante o ciclo e se mantém
za para construir milhares de proteínas. Aqui, os grupos amino e
disponível para futuras catálises.
B i o l o gi a 79

CH3 CH3 CH3

CH3 CH3 CH CH2


H CH3 CH CH2 H3C CH
O O O O O
H3N+ C C H3 N+ C C H3 N+ C C H3 N+ C C H3 N+ C C
O– O– O– O– O–
H H H H H

Glicina Alanina Valina Leucina Isoleucina


(Gli ou G) (Ala ou A) (Val ou V) (Leu ou L) (Iso ou I)
Apolares
CH3

S
NH
CH2 CH2
CH2 CH2 CH2 H2C CH2
O O O O
H3N+ C C H3 N+ C C H3N+ C C H2N+ C C
O– O– O– O–
H H H H
Metionina Fenilalanina Triptofano Prolina
(Met ou M) (Phe ou F) (Trp ou W) (Pro ou P)

OH NH2 O
NH2 O C

OH SH C CH2
OH CH3
Polares CH2
CH2 CH CH2 CH2 CH2
O O O O O O
H3N+ C C H3 N+ C C H3 N+ C C H3N+ C C H3N+ C C H3 N+ C C
O– O– O– O– H O– O–
H H H H H
Serina Treonina Cisteína Tirosina Asparagina Glutamina
(Ser ou S) (Tre ou T) (Cis ou C) (Tir ou Y) (Asn ou N) (Gln ou Q)

Básicos

Ácidos NH2
NH3+ C NH2+

O– O CH2 NH
Eletricamente C CH2 CH2 NH+
carregados O– O
C CH2 CH2 CH2 NH
CH2 CH2 CH2 CH2 CH2
O O O O O
H3N+ C C H3N+ C C H3N+ C C H3N+ C C H3N+ C C
H O– H O– O– O– O–
H H H
Ácido aspártico Ácido glutâmico Lisina Arginina Histidina
(Asp ou D) (Glu ou E) (Lis ou K) (Arg ou R) (His ou H)

 Figura 5.17 Os 20 aminoácidos das pro- ácidos são mostrados na forma ionizada predo- noácidos utilizados nas proteínas são o mesmo
teínas. Os aminoácidos foram agrupados aqui minante em pH 7,2, o pH do interior das células. enantiômero, chamado de forma L, conforme
de acordo com as propriedades das cadeias late- O código de três letras e o mais comum código mostrado aqui (ver Figura 4.7).
rais (grupos R), destacadas em branco. Os amino- de uma letra estão em parênteses. Todos os ami-
80 C a mpbe ll & Col s .

carboxila estão todos mostrados nas formas ionizadas, como ge- OH


ralmente ocorre no pH do interior das células. O grupo R pode ser Ligação
tão simples quanto um átomo de hidrogênio, como no aminoácido peptídica
OH SH
glicina (o único aminoácido sem carbono assimétrico, já que dois
ligantes do carbono-␣ são átomos de hidrogênio), ou um esqueleto CH2 CH2 CH2
carbônico com vários grupos funcionais ligados, como a glutami- H H H
na. (Os organismos possuem outros aminoácidos, alguns encon-
H N C C N C C OH H N C C OH
trados eventualmente nas proteínas. Como estes aminoácidos são
relativamente raros, não foram representados na Figura 5.17.) H O H O H O
As propriedades f ísicas e químicas das cadeias laterais de- (a)
terminam as características especiais da cada aminoácido, afe- H2O
tando seu papel funcional em um polipeptídeo. Na Figura 5.17, OH
os aminoácidos foram agrupados de acordo com as propriedades
das cadeias laterais. Um grupo é composto por aminoácidos com
Cadeias
cadeias laterais apolares e hidrofóbicas. Outro grupo é compos- OH SH
laterais
Ligação
to por aminoácidos com cadeias laterais polares e hidrof ílicas. CH2 peptídica CH2
CH2
Os aminoácidos ácidos em geral têm cadeias laterais com carga
negativa devido à presença de grupos carboxila, frequentemente H H H
dissociados (ionizados) no pH celular. Os aminoácidos básicos H N C C N C C N C C OH Cadeia
têm grupo amino nas cadeias laterais, em geral com carga posi- principal
H O H O H O
tiva. (Note que todos os aminoácidos possuem grupos carboxila
e aminas; os termos ácido e básico se referem, neste contexto, Terminação amino Terminação carboxila
apenas aos grupos das cadeias laterais.) Por possuírem carga, as (b) (N-terminal) (C-terminal)
cadeias laterais ácidas e básicas também são hidrof ílicas.  Figura 5.18 Construindo uma cadeia polipeptídica. (a) As ligações
peptídicas formadas por reações de desidratação unem o grupo carboxila
Polímeros de aminoácidos de um aminoácido ao grupo amino do próximo aminoácido. (b) As ligações
peptídicas são formadas em uma etapa, iniciando com o aminoácido na
Agora que já estudamos os aminoácidos, vamos ver como eles se
terminação amino (N-terminal). O polipeptídeo tem uma cadeia principal
unem para formar polímeros (Figura 5.18). Quando dois amino- repetitiva (roxa) à qual estão ligadas as cadeias laterais dos aminoácidos.
ácidos são posicionados de maneira que o grupo carboxila de um DESENHE Em (a), circule e destaque os grupos carboxila e amino que
fique adjacente ao grupo amino do outro, eles se unem por meio formam a ligação peptídica mostrada em (b).
de uma reação de desidratação, com a liberação de uma molécula
de água. A ligação covalente resultante é chamada de ligação pep- com seus colegas da Universidade de Cambridge na Inglaterra,
tídica. Repetido diversas vezes, esse processo gera um polipep- trabalhou com o hormônio insulina nos fins dos anos 1940 e iní-
tídeo, um polímero de muitos aminoácidos ligados por ligações cio dos anos 1950. Ele utilizou produtos que clivam os polipep-
peptídicas. Em uma terminação da cadeia polipeptídica haverá um tídeos em locais específicos, seguidos de métodos químicos para
grupo amino livre; no lado oposto haverá um grupo carboxila livre. determinar a sequência de aminoácidos destes pequenos frag-
Dessa forma, a cadeia possui uma terminação amino (N-terminal) mentos. Sanger e colaboradores foram capazes, depois de anos
e uma terminação carboxila (C-terminal). A sequência repetitiva de esforços, de reconstruir a sequência completa de aminoácidos
de átomos destacada em roxo na Figura 5.18 é chamada de cadeia da insulina. Desde então, muitas etapas envolvendo o sequencia-
principal do polipeptídeo. A esta cadeia principal são acrescenta- mento de um polipeptídeo foram automatizadas.
dos vários tipos de cadeias laterais dos aminoácidos. Os polipeptí- Conhecendo a sequência de aminoácidos de um polipeptí-
deos variam em extensão, desde poucos monômeros até milhares deo, o que ela pode nos dizer acerca da estrutura terciária (co-
ou mais. Cada polipeptídeo específico tem uma sequência linear mumente referida apenas como “estrutura”) e sobre a função de
única de aminoácidos. A imensa variedade dos polipeptídeos na uma proteína? O termo polipeptídeo não é um termo sinônimo
natureza ilustra um importante conceito já comentado: as células de proteína. Mesmo para uma proteína composta por um úni-
são capazes de construir diferentes polímeros pela união de um co polipeptídeo, a relação entre esses termos é análoga à relação
conjunto limitado de monômeros em diversas sequências. entre um longo novelo de lã e um suéter com formato e tama-
nho definidos, tricotado a partir do novelo de lã. Uma proteína
A estrutura e a função das proteínas funcional não é apenas uma cadeia polipeptídica, mas sim um
As atividades específicas das proteínas resultam de sua intricada ou mais polipeptídeos ordenadamente torcidos, enovelados e ar-
arquitetura tridimensional, cujo nível mais simples é a sequên- ranjados em uma estrutura especial (Figura 5.19). É a sequência
cia de aminoácidos. O pioneiro na determinação da sequência de aminoácidos de cada polipeptídeo que determina a estrutura
de aminoácidos de uma proteína foi Frederick Sanger, que, junto tridimensional que a proteína terá.
B i o l o gi a 81

Sulco

Sulco

(a) O modelo de fitas mostra como uma única cadeia polipeptídica se (b) O modelo de preenchimento espacial mostra com maior clareza a
dobra e enrola para formar uma proteína funcional. (As linhas amarelas forma globular observada em muitas proteínas, assim como a estrutura
representam um tipo de ligação química que estabiliza a estrutura tridimensional especial da lisozima.
das proteínas.)

 Figura 5.19 A estrutura de uma proteína, a enzima lisozima. Presente no suor, nas lágrimas e na saliva, a lisozima é uma enzima que ajuda a
prevenir infecções por meio da ligação e destruição de moléculas específicas encontradas na superfície de diversos tipos de bactérias. O sulco é a porção
da proteína que reconhece e se liga às moléculas-alvo das paredes bacterianas.

Quando uma célula sintetiza um polipeptídeo, em geral a Os quatro níveis da estrutura de proteínas
cadeia se dobra espontaneamente, assumindo a estrutura fun- Com o objetivo de compreender o funcionamento de uma pro-
cional da proteína. O dobramento é direcionado e reforçado pela teína, o estudo da sua estrutura é frequentemente produtivo. Ape-
formação de uma série de ligações entre partes da cadeia, a qual sar da sua grande diversidade, todas as proteínas compartilham
por sua vez depende da sequência de aminoácidos. Muitas pro- três níveis de estrutura, conhecidos como estrutura primária, se-
teínas são esféricas (proteínas globulares), e outras possuem a cundária e terciária. Um quarto nível, a estrutura quaternária, é
forma de fibras alongadas (proteínas fibrosas). Mesmo em cada observado quando uma proteína é composta por duas ou mais
uma destas categorias gerais, um número incontável de varia- cadeias polipeptídicas. A Figura 5.21, nas próximas duas pági-
ções é observado. nas, descreve esses quatro níveis da estrutura de proteínas. Não
A estrutura específica de uma proteína determina a sua fun- deixe de estudar esta figura antes de avançar à próxima seção.
ção. Em quase todos os casos, a função da proteína depende da
habilidade de reconhecer e ligar-se a outra molécula. Num exem- Proteína do anticorpo Proteína do vírus da gripe
plo notável da relação entre forma e função, a Figura 5.20 mostra
a complementariedade perfeita entre as estruturas de um anti-
corpo (uma proteína do corpo) e uma substância particular no
vírus da gripe, à qual o anticorpo se liga e marca para a destrui-
ção. Um segundo exemplo é a enzima, que precisa reconhecer e
ligar-se fortemente a seu substrato, a substância sobre a qual a
enzima atua (ver Figura 5.16). Aprendemos, no Capítulo 2, que
moléculas naturais de sinalização, chamadas de endorfinas, se li-
gam a proteínas receptoras específicas na superf ície das células
do cérebro dos humanos, produzindo euforia e aliviando a dor. A
morfina, a heroína e outras drogas opioides são capazes de mi-
metizar as endorfinas, pois todas compartilham uma estrutura
similar à estrutura das endorfinas e, portanto, podem encaixar-se
e ligar-se aos receptores para endorfinas presentes no cérebro.
Esse encaixe é altamente específico, algo como uma chave para a  Figura 5.20 Um anticorpo se liga a uma proteína do vírus da
fechadura (ver Figura 2.18). Assim, a função de uma proteína – gripe. A técnica denominada cristalografia por difração de raios X foi uti-
por exemplo, a habilidade de uma proteína receptora identificar e lizada para gerar um modelo computacional de uma proteína de anticorpo
se associar a uma molécula de sinalização particular para o alívio (azul e laranja, à esquerda) ligada a uma proteína do vírus da gripe (verde e
amarelo, à direita). Programas de computador foram então utilizados para
da dor – é uma propriedade que emerge de uma requintada orga- separar as imagens, revelando a complementaridade exata das estruturas
nização molecular. da superfície das duas proteínas.
82Figura
 C a mpbe
5.21ll & Col s .

Explorando os níveis da estrutura das proteínas

Estrutura primária Estrutura secundária


1 Folha ␤ laminar
Gly Pro Thr Gly O H H O H H O H H O H H
+H 5 R R R
3N Thr
N
C C N
CC N
C C N
C C N
C C N
CC N
C C N
C C
Terminação amino C R R R R
Gly O H O H O H O
H H H H
Exemplos R R R R
Glu
Ser das subunidades O C H O C H O C H O C H
Pro Cys Lys aminoácidos H H H
Leu C N HC N C NHC N C NHC N C NH C N
Met 10 H O C H O C H O C H O C
C
Val R R R
R R
15 Lys C H C H
N H O C N H O C
Val
N H N H
Leu 20 O C O C ␣ hélice
Asp H C R H C R H C R H C R
Ala Val Arg Gly H
N O C N H O C
Ser
Pro O C N H O C N H
25 C C
R H R H
Ala

A estrutura primária é a sequência particular de aminoácidos de uma A maioria das proteínas possui segmentos das cadeias polipeptídicas en-
proteína. Como exemplo, considere a transtiretina, proteína globular rolados ou dobrados repetidamente, em padrões que contribuem para
encontrada no sangue, responsável pelo transporte de vitamina A e de o formato da proteína. Esses caracóis e dobras, referidos coletivamente
um dos hormônios da tireoide pelo corpo. Cada uma das quatro cadeias como estrutura secundária, são o resultado de pontes de hidrogênio en-
polipeptídicas idênticas que se associam para formar a transtiretina é tre constituintes repetitivos da principal cadeia polipeptídica (e não das
composta por 127 aminoácidos. Aqui é mostrada uma dessas cadeias, cadeias laterais dos aminoácidos). Tanto os átomos de oxigênio quan-
desenrolada, para uma visão mais atenta de sua estrutura primária. Cada to os de nitrogênio da cadeia principal são eletronegativos, com cargas
aminoácido específico, dentre os 20 possíveis, é indicado aqui pelo có- parciais negativas (ver Figura 2.16). O átomo de hidrogênio fracamente
digo de três letras, ocupando cada uma das 127 posições ao longo da positivo ligado ao átomo de nitrogênio possui afinidade pelo átomo de
cadeia. A estrutura primária é como a ordem das letras em uma pala- oxigênio de uma ligação peptídica próxima. Individualmente, essas pon-
vra muito longa. Deixadas ao acaso, haveria 20127 maneiras distintas de tes de hidrogênio são fracas, mas como são repetidas diversas vezes em
compor uma cadeia polipeptídica com 127 aminoácidos de extensão. No uma região relativamente extensa da cadeia polipeptídica, conseguem
entanto, a exata estrutura primária de uma proteína é determinada não manter uma estrutura particular em determinadas porções da proteína.
pela associação aleatória de aminoácidos, mas pela informação genética Um exemplo de estrutura secundária é a ␣-hélice, um solenoide deli-
hereditária. cado unido através de pontes de hidrogênio entre aminoácidos localizados
a cada quatro posições, conforme mostrado acima. Embora a transtiretina
Glu IIe possua apenas uma região de ␣-hélices (ver estrutura terciária), uma pro-
Asp
Thr teína globular possui muitas regiões de ␣-hélices separadas por regiões
75 Lys não helicoidais. Algumas proteínas fibrosas, como a queratina-␣, a pro-
Ser teína estrutural do cabelo, apresentam formação em ␣-hélice por quase
Lys Trp Tyr todo o seu comprimento.
Leu Ala
Gly 80 O outro tipo principal de estrutura secundária é a folha ␤ pregueada.
IIe Conforme mostrado acima, nesta estrutura, duas ou mais regiões da ca-
Ser 90
deia polipeptídica, dispostas lado a lado, estão conectadas com pontes de
85 Pro Phe
His Glu
His
hidrogênio entre as partes de duas cadeias principais paralelas. Essas fo-
Ala lhas laminares compõem o núcleo de diversas proteínas globulares, como
Glu
no caso da transtiretina, e predominam em algumas proteínas fibrosas,
Val incluindo a proteína da seda da teia da aranha. O trabalho conjunto de
Ala Thr Phe Val tantas pontes de hidrogênio torna cada fibra de seda da teia da aranha
Asn
95 IIe mais forte que um cabo de aço de igual peso.
Asp Thr Ala
Tyr
Arg
Ser Arg 105 Ala
100 Gly Pro
110 Leu
Leu
As glândulas abdominais da aranha
115 Ser secretam fibras de seda compostas
Tyr Pro por uma proteína estrutural que
Ser
Ser Tyr apresenta folhas β pregueadas.
Thr
Thr Os fios radiais da teia, feitos por
120
Ala fibras de seda secas, mantêm o
Val O formato da teia.
Val Lys Glu C
Thr Asn Pro
O– As fibras espirais (linhas de
125
Terminação carboxila captura) são elásticas, esticando-se
em resposta ao vento,
à chuva e ao toque de insetos.
B i o l o gi a 83

Estrutura terciária Estrutura quaternária

Sobreposto ao padrão de estruturas secundárias de uma proteína, está a Algumas proteínas são formadas por duas ou mais cadeias polipeptídicas
estrutura terciária, mostrada acima para o polipeptídeo da transtireti- agregadas em uma macromolécula funcional. A estrutura quaternária
na. Enquanto a estrutura secundária envolve interações entre constituin- é a estrutura final da proteína, resultante da agregação das subunidades
tes da cadeia principal, a estrutura terciária é o formato de um polipep- polipeptídicas. Por exemplo, acima vemos a proteína globular da trans-
tídeo, resultante das interações entre as cadeias laterais (grupos R) de tiretina completa, composta por quatro cadeias polipeptídicas. Outro
diversos aminoácidos. Um tipo de interação que contribui para a estru- exemplo é o colágeno, mostrado abaixo, à esquerda, uma proteína fibro-
tura terciária é – de modo um tanto enganoso – chamado de interação sa com subunidades helicoidais enroladas em tripla hélice, conferindo
hidrofóbica. À medida que um polipeptídeo se dobra na sua estrutura grande força a suas longas fibras. Isso habilita as fibras de colágeno para
funcional, os aminoácidos com cadeias laterais hidrofóbicas (apolares) as suas funções como constituintes do tecido conectivo da pele, ossos,
geralmente se agrupam no interior da proteína, longe do contato com a tendões, ligamentos e outras partes do corpo (o colágeno é responsá-
água. Dessa forma, a chamada interação hidrofóbica é, na verdade, cau- vel por 40% do total de proteínas no corpo humano). A hemoglobina, a
sada pela ação das moléculas de água, que excluem substâncias apolares proteína de ligação ao oxigênio nas células vermelhas do sangue, mos-
ao formarem pontes de hidrogênio umas com as outras e com as porções trada abaixo, à direita, é outro exemplo de proteína globular com estru-
hidrof ílicas da proteína. Uma vez que as cadeias laterais de aminoáci- tura quaternária. Ela é composta por quatro subunidades polipeptídicas,
dos apolares estejam agrupadas, as interações de van der Waals ajudam duas de um tipo (“cadeias ␣”) e duas de outro tipo (“cadeias ␤”). A estru-
a mantê-las unidas. Enquanto isso, pontes de hidrogênio entre cadeias tura secundária das subunidades ␣ e ␤ é composta principalmente por
laterais polares e ligações iônicas entre cadeias laterais carregadas posi- ␣-hélices. Cada subunidade possui um componente não polipeptídico,
tiva e negativamente também ajudam a estabilizar a estrutura terciária. chamado de heme, com um átomo de ferro que se liga ao oxigênio.
Todas essas interações são interações fracas, mas o seu efeito conjunto é
responsável pela conformação ímpar da proteína.
A forma de uma proteína pode ser reforçada por ligações covalentes Cadeia Cadeias β
adicionais, chamadas de pontes dissulfeto. Pontes dissulfeto se formam polipeptídica
onde dois monômeros de cisteína, aminoácidos com grupos sulfidrila
(–SH) nas cadeias laterais (ver Figura 4.10), se aproximam devido à do-
bra da proteína. O enxofre de uma cisteína se liga ao enxofre da segunda
cisteína, e a ponte
Interações
dissulfeto (–S–S–)
hidrofóbicas
une partes da pro- e interações de
CH CH
teína (ver as linhas 2 van der Waals
amarelas na Figu- H3C CH3
O
ra 5.19a). Todos H H3C CH3 Cadeia
esses tipos de liga- CH polipeptídica
O principal
ções podem ocor- Ponte de Ferro
rer na proteína, HO C hidrogênio Heme
conforme mostra-
do aqui em uma CH2 CH2 S S CH2
Cadeias α
pequena porção
Ponte dissulfeto Hemoglobina
de uma proteína
hipotética. O Colágeno
(CH2)4 NH3+ –O C CH2
Ligação iônica
84 C a mpbe ll & Col s .

Anemia falciforme: uma alteração na estrutura primária O que determina a estrutura de uma proteína?
Mesmo alterações sutis na estrutura primária podem afetar a Aprendemos que a estrutura única confere a cada proteína uma fun-
estrutura e a função de uma proteína. Por exemplo, a anemia ção específica. Mas quais fatores essenciais determinam a estrutura
falciforme, uma doença sanguínea hereditária, é causada pela de uma proteína? Você já sabe boa parte da resposta: as cadeias po-
substituição de um aminoácido (valina) pelo aminoácido que lipeptídicas com sequências específicas de aminoácidos são capazes
normalmente ocuparia essa posição (ácido glutâmico) específica de se dobrar espontaneamente em uma estrutura tridimensional
na estrutura primária da hemoglobina, a proteína que transporta determinada e mantida por interações responsáveis pelas estrutu-
o oxigênio nas células vermelhas do sangue. As células vermelhas ras secundária e terciária. Esse dobramento normalmente ocorre à
do sangue normais possuem formato bicôncavo. Porém, na ane- medida que a proteína é sintetizada no interior da célula. No en-
mia falciforme, as moléculas anormais de hemoglobina tendem tanto, a estrutura de uma proteína também depende das condições
a se cristalizar, deixando algumas células com formato de foice f ísicas e químicas no ambiente da proteína. Se pH, concentração de
(Figura 5.22). Portadores dessa doença têm constantes “crises de sal, temperatura ou outros aspectos do ambiente forem alterados, a
células falciformes”, que ocorrem quando as células angulares en- proteína pode se desenrolar e perder a forma original, em uma alte-
topem pequenos vasos sanguíneos, obstruindo o fluxo sanguíneo. ração chamada de desnaturação (Figura 5.23). Por ter um formato
As consequências nesses pacientes são um exemplo dramático de errôneo, a proteína desnaturada é biologicamente inativa.
como uma pequena alteração na estrutura proteica pode causar A maioria das proteínas se torna desnaturada se for transferida
efeitos devastadores em sua função. do ambiente aquoso para solvente orgânico, como éter ou cloro-

Hemoglobina normal Hemoglobina falciforme


Val His Leu Thr Pro Glu Glu
Estrutura Val His Leu Thr Pro Val Glu
Estrutura primária
primária 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7

Região
Estruturas Estruturas hidrofóbica
secundária Subunidade ␤ secundária exposta Subunidade ␤
e terciária e terciária

␤ ␣


Estrutura Hemoglobina Estrutura Hemoglobina
quaternária normal quaternária falciforme
(vista superior) ␣

␤ ␣

Função As moléculas não Função As moléculas


se associam umas interagem umas
com as outras, com as outras
cada uma carrega e se cristalizam
oxigênio. em fibras; a
capacidade de
transporte de
oxigênio é bastante
reduzida.
10 μm 10 μm

Formato das As células normais Formato das Fibras de hemoglobinas


hemácias são repletas de hemácias anormais deixam as
moléculas individuais células com formato
de hemoglobina, falciforme.
cada uma carregando
oxigênio.

 Figura 5.22 Uma só substituição de aminoácido em uma proteína causa a anemia falciforme. Para mostrar com cla-
reza a formação das fibras, a orientação das moléculas de hemoglobina mostradas aqui é diferente da mostrada na Figura 5.21.
B i o l o gi a 85

O dobramento de proteínas no interior das células


snaturação
De
Os bioquímicos conhecem atualmente a sequência de aminoácidos
de mais de 1,2 milhões de proteínas e a estrutura tridimensional de
cerca de 8.500. Alguém pode imaginar que, correlacionando a es-
trutura primária de tantas proteínas com as respectivas estruturas
terciárias, seria relativamente fácil descobrir as regras para o do-
bramento de proteínas. Infelizmente, o processo de enrolamento de
Proteína normal Re
naturação Proteína desnaturada proteínas não é tão simples. Muitas proteínas provavelmente pas-
sam por diversas estruturas intermediárias no caminho para uma
 Figura 5.23 Desnaturação e renaturação de uma proteína. Altas forma estável, e a observação de sua estrutura madura não releva
temperaturas ou diversos tratamentos com agentes químicos podem des- as etapas de dobramento necessárias para alcançar essa estrutura.
naturar proteínas, levando à perda de conformação e por consequência da No entanto, os bioquímicos desenvolveram métodos de rastrear
habilidade de realizar suas funções. Se a proteína desnaturada permanece
uma proteína até esses estágios. Os pesquisadores descobriram as
dissolvida, com frequência ela pode ser renaturada quando as condições
químicas e físicas do ambiente são restauradas às condições normais. chaperoninas (também chamadas de proteínas chaperonas), mo-
léculas proteicas que auxiliam o dobramento correto de outras pro-
fórmio; a cadeia polipeptídica se dobra novamente de modo que as teínas (Figura 5.24). As chaperoninas não especificam a estrutura
cadeias laterais hidrofóbicas fiquem voltadas para fora em direção final de um polipeptídeo. Em vez disso, elas mantêm a nova cadeia
ao solvente. Outros agentes desnaturantes incluem compostos quí- polipeptídica longe de “más influências” no ambiente do citoplasma
micos que rompem as pontes de hidrogênio, as ligações iônicas e as enquanto se dobra espontaneamente. A chaperonina mostrada na
pontes dissulfeto que mantêm a estrutura da proteína. A desnatura- Figura 5.24, da bactéria E. coli, é um gigante complexo multienzimá-
ção também ocorre como resultado de calor excessivo, que aumenta tico, com formato de cilindro oco. A cavidade forma um abrigo para
a energia da cadeia polipeptídica o suficiente para romper as intera- os polipeptídeos que estão se dobrando.
ções fracas que estabilizam a estrutura. A clara do ovo se torna opa- O dobramento inadequado de polipeptídeos é um problema
ca durante o cozimento, pois as suas proteínas desnaturadas ficam bastante grave para as células. Muitas doenças, como Alzheimer e
insolúveis e solidificam. Isso explica também por que febres exces- Parkinson, estão associadas ao acúmulo de proteínas dobradas de
sivamente altas são fatais: as proteínas presentes no sangue podem maneira errada. Recentemente, pesquisadores começaram a com-
desnaturar sob condições de altas temperaturas corporais. preender os sistemas moleculares de uma célula que interagem com
Quando uma proteína em uma solucão de tubo de ensaio é des- as chaperoninas e a verificar se ocorreu o dobramento correto. Es-
naturada por calor ou por agentes químicos, ela pode em alguns ca- ses sistemas podem tanto promover o redobramento da proteína
sos retornar para a sua conformação funcional quando o agente des- para sua conformação correta ou marcá-la para a destruição.
naturante é removido. Podemos concluir que as informações para Mesmo quando os cientistas possuem uma proteína dobra-
construir uma forma específica são intrínsecas à estrutura primária da corretamente, a determinação de sua exata estrutura tridi-
da proteína. A sequência de aminoácidos determina a forma da pro- mensional não é simples, pois uma só proteína possui milhares
teína – ou seja, onde uma ␣-hélice pode ser formada, onde uma folha de átomos. As primeiras estruturas 3-D foram desenvolvidas em
␤ pregueada pode ocorrer, onde pontes dissulfeto são localizadas, 1959, para a hemoglobina e uma proteína relacionada. O méto-
onde ligações iônicas são formadas, e assim por diante. No ambiente do que tornou isso possível foi a cristalografia de raios X, que
superpopuloso no interior de uma célula, existem também proteínas desde então passou a ser utilizada para determinar a estrutura
específicas que auxiliam o enovelamento de outras proteínas. 3-D de diversas outras proteínas. Em um exemplo recente, Roger

Proteína
enovelada
corretamente
Polipeptídeo  Figura 5.24 A ação de
Tampa uma chaperonina. A ima-
gem gráfica gerada por com-
putador (à esquerda) mostra o
grande complexo da proteína
Cilindro chaperonina. É o seu espaço
oco interior que provê um abrigo
para o dobramento correto
de polipeptídeos recém-sinte-
tizados. O complexo é forma-
Chaperonina Etapas de ação 2 A tampa se liga ao cilindro, 3 A tampa se desliga e do por duas proteínas. Uma
(plenamente montada) da chaperonina fazendo ele mudar de forma a proteína dobrada proteína é um cilindro oco e a
1 Um polipeptídeo desen- e criando um ambiente corretamente é outra é uma tampa que pode
rolado entra no cilindro hidrofílico para o dobramento liberada. se ligar a qualquer uma das
por uma extremidade. do polipeptídeo. extremidades do cilindro.
86 C a mpbe ll & Col s .

Kornberg e colaboradores da Universidade de Stanford utilizaram austríacos utilizaram computadores para analisar as sequências
essa metodologia para elucidar a estrutura da RNA-polimerase, e as estruturas de 129 alérgenos proteicos comuns em plantas
enzima de papel crucial na expressão gênica (Figura 5.25). Outro causadoras de alergias. Eles foram capazes de classificar todos
método utilizado é a espectroscopia por ressonância magnética esses alergénos em 20 famílias de proteínas, de um total de 3.849
nuclear (RMN), que não exige a cristalização das proteínas. famílias e 65% em apenas 4 famílias. Esse resultado sugere que a
Uma metodologia ainda mais recente utiliza a bioinformática estrutura compartilhada dessas famílias de proteínas exerce um
(ver o Capítulo 1) para predizer a estrutura 3-D de polipeptídeos papel na geração de respostas alérgicas. Essas estruturas podem
a partir da sequência de aminoácidos. Em 2005, pesquisadores ser alvos de novos medicamentos para alergia.
A cristalografia de raios X, a espectroscopia NMR e a bioin-
formática são abordagens complementares para a compreensão
da estrutura das proteínas; juntas, nos fornecem informações va-
 Figura 5.25 Pesquisa liosas acerca da função das proteínas.
O que a estrutura 3-D da enzima RNA-polimerase
II nos diz sobre a sua função? REVISÃO DO CONCEITO

EXPERIMENTO Em 2006, Roger Kornberg foi premiado com o Prê-


1. Por que uma proteína desnaturada não funciona normal-
mio Nobel em Química pela utilização da cristalografia de raios X para mente?
determinar a estrutura 3-D da RNA-polimerase II, que se liga à dupla-hélice 2. Que partes de uma cadeia polipeptídica participam das
de DNA e sintetiza RNA. Após a cristalização do complexo com todos os
três componentes, Kornberg e seus colegas dispararam raios X através do
ligações que mantêm a estrutura secundária? Que partes
cristal. Os átomos no cristal difrataram (desviaram) os raios X em um feixe participam da estrutura terciária?
ordenado que um detector digital captou em um padrão de pontos cha- 3. E SE...? Se uma mutação genética alterar a estrutura
mado padrão de difração de raios X.
primária, como ela pode destruir a função da proteína?
Raios X Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
difratados

Fonte de
raios X Feixe de
Raios X 5.5 Os ácidos nucleicos armazenam
Cristal Detector digital Padrão de difração e transmitem a informação
de raios X
hereditária
RESULTADOS Utilizando os dados obtidos do padrão de difração de Se a estrutura primária de um polipeptídeo determina a estrutura
raios X, assim como a sequência de aminoácidos determinada por méto-
dos químicos, Kornberg e colaboradores construíram um modelo 3-D do da proteína, o que determina a estrutura primária? A sequência
complexo, com o auxílio de programas de computador. de aminoácidos de um polipeptídeo é programada pela unidade
hereditária, conhecida como gene. Os genes são compostos por
RNA-
polimerase II DNA, um polímero que pertence à classe de compostos conheci-
dos como ácidos nucleicos.
DNA
Os papéis dos ácidos nucleicos
RNA Os dois tipos de ácidos nucleicos, ácido desoxirribonucleico
(DNA) e ácido ribonucleico (RNA), permitem que os organis-
mos vivos reproduzam seus componentes complexos de uma ge-
ração para a outra. Sem paralelo entre as moléculas, o DNA for-
nece instruções para a sua própria replicação. O DNA também
controla a síntese de RNA e, por meio do RNA, controla a síntese
CONCLUSÃO Pela análise do modelo, os pesquisadores desenvol-
de proteínas (Figura 5.26).
veram a hipótese acerca das funções das diferentes regiões da RNA-poli- O DNA é o material genético que os organismos herdam dos
merase II. Por exemplo, a região acima do DNA pode funcionar como um pais. Cada cromossomo contém uma longa molécula de DNA, que
grampo que mantém os ácidos nucleicos no lugar. (Vamos aprender mais
tipicamente possui mais de centenas de genes. Quando uma célu-
sobre essa enzima no Capítulo 17.)
la se reproduz por divisão, suas moléculas de DNA são copiadas e
FONTE A. L. Gnatt et al., Structural basis of transcription: an RNA
polymerase II elongation complex at 3.3Å, Science 292:1876-1882 (2001).
passadas de uma geração de células para a outra. As informações
que programam todas as atividades celulares são codificadas na es-
E SE...? Se você fosse um dos autores do artigo e estivesse descreven-
trutura do DNA. O DNA, no entanto, não está envolvido direta-
do o modelo, que tipo de estrutura proteica atribuiria ao pequeno poli-
peptídeo espiral em verde, no centro do modelo? mente na realização dessas operações, assim como um programa de
computador não é capaz de imprimir sozinho um extrato bancário
B i o l o gi a 87

ou ler um código de barras em uma caixa de cereais. Assim como a


DNA
impressora é necessária para imprimir o extrato e o scanner para ler
o código de barras, as proteínas são necessárias para implementar o
código genético. O hardware molecular das células – as ferramentas
1 Síntese de
para as funções biológicas – consiste principalmente em proteínas.
RNAm no
núcleo RNAm Por exemplo, o transportador de oxigênio nas hemácias é a proteína
hemoglobina, e não o DNA que especifica sua estrutura.
De que modo o RNA, o outro tipo de ácido nucleico, se en-
caixa no fluxo de informação genética do DNA até as proteínas?
NÚCLEO
Cada gene ao longo de uma molécula de DNA comanda a sínte-
CITOPLASMA
se de um tipo de RNA chamado de RNA mensageiro (RNAm).
A molécula de RNAm interage com a maquinaria de síntese de
RNAm
2 Deslocamento do
proteínas da célula, coordenando a produção de um polipeptí-
RNAm para o Ribossomo
deo, que se dobra em uma proteína completa ou em parte de uma
citoplasma via proteína. Podemos resumir o fluxo de informação genética como
poro nuclear
DNA → RNA → proteína (ver a Figura 5.26). Os locais da síntese
de proteínas são pequenas estruturas chamadas de ribossomos.
3 Síntese de
proteínas
Em uma célula eucariótica, os ribossomos estão localizados no
citoplasma, mas o DNA está localizado no núcleo. O RNA men-
sageiro conduz as instruções genéticas para a síntese de proteínas
Aminoácidos do núcleo para o citoplasma. As células procarióticas não apre-
Polipeptídeo
sentam núcleo, mas também utilizam RNA para passar as infor-
 Figura 5.26 DNA ➞ RNA ➞ proteína. Em uma célula eucariótica, o mações do DNA para os ribossomos e outras estruturas celulares
DNA no núcleo programa a produção de proteínas no citoplasma por meio que traduzem a informação codificada em sequências de aminoá-
da síntese de RNA mensageiro (RNAm). (O núcleo da célula é, na verdade, cidos. O RNA também exerce diversos outros papéis nas células.
muito maior que os demais elementos desta figura.)

Extremidade 5’ Bases nitrogenadas


Pirimidinas
NH2 O O
5‘C O
C C CH3 C
N CH HN C HN CH
3‘C
C CH C CH C CH
O N O N O N
Nucleosídeo H H H
O
Base Citosina (C) Timina (T, no DNA) Uracila (U, no RNA)
nitrogenada

Purinas
O 5‘C NH2 O
O
–O P O CH2
O N C N C
C N C NH
O– HC HC
Grupo N C CH N C C
3‘C N N NH2
fosfato Base H H
5‘C O nitrogenada Adenina (A) Guanina (G)

3‘C (b) Nucleotídeo.


Açúcares
OH 5‘ 5‘
Extremidade 3’ HOCH2 OH HOCH2 OH
O O
(a) Polinucleotídeo ou ácido nucleico.
4‘ H H 1‘ 4‘ H H 1‘

H H H H
 Figura 5.27 Componentes dos ácidos nucleicos. (a) Um polinucleotí- 3‘ 2‘ 3‘ 2‘

deo possui uma cadeia principal açúcar-fosfato com ligantes variáveis, as bases OH H OH OH
nitrogenadas. (b) Um monômero de nucleotídeo inclui a base nitrogenada, o
açúcar e o grupo fosfato. Sem o grupo fosfato, a estrutura é chamada de nu- Desoxirribose (no DNA) Ribose (no RNA)
cleosídeo. (c) Um nucleosídeo inclui a base nitrogenada (purina ou pirimidina) e
um açúcar de cinco carbonos (desoxirribose ou ribose). (c) Componentes dos nucleosídeos.
88 C a mpbe ll & Col s .

A estrutura dos ácidos nucleicos A sequência de bases ao longo de um polímero de DNA (ou
RNAm) é especial para cada gene e fornece informações bem es-
Os ácidos nucleicos são macromoléculas que existem como polí-
pecíficas para a célula. Como os genes possuem de centenas a
meros chamados de polinucleotídeos (Figura 5.27a). Conforme
milhares de nucleotídeos de extensão, o número de sequências
o nome indica, cada polinucleotídeo é composto por monômeros
de bases possíveis é praticamente ilimitado. O significado de um
chamados de nucleotídeos. Um nucleotídeo, por sua vez, con-
gene para a célula é codificado na sequência específica das quatro
siste em três partes: uma base nitrogenada, um açúcar de cinco
bases do DNA. Por exemplo, a sequência AGGTAACTT tem um
carbonos (pentose) e um grupo fosfato (Figura 5.27b). A porção
significado, ao passo que a sequência CGCTTTAAC tem outro
dessa unidade sem o grupo fosfato é chamada de nucleosídeo.
significado. (Genes inteiros são, obviamente, muito mais longos.)
Monômeros de nucleotídeos A ordem linear de bases de um gene especifica a sequência de
aminoácidos – a estrutura primária – de uma proteína, que de-
Para compor um nucleotídeo, vamos considerar inicialmente os
termina, por sua vez, a estrutura tridimensional da proteína e a
dois componentes do nucleosídeo: a base nitrogenada e o açúcar
sua função na célula.
(Figura 5.27c). Existem duas famílias de bases nitrogenadas: piri-
midinas e purinas. Uma pirimidina possui um anel de seis átomos,
carbono e nitrogênio. (Os átomos de nitrogênio tendem a aceitar
A dupla-hélice do DNA
H⫹ da solução; isso explica por que são chamados de bases nitro- As moléculas de RNA da célula são formadas por uma só cadeia
genadas.) Os membros da família das pirimidinas são: citosina (C), polinucleotídica, conforme mostrado na Figura 5.27. As molécu-
timina (T) e uracila (U). As purinas são maiores, com um anel de las de DNA, em contraste, possuem duas cadeias polinucleotídi-
seis átomos fusionado a um anel de cinco átomos. As purinas são: cas que se espiralam ao redor de um eixo imaginário, formando
adenina (A) e guanina (G). As pirimidinas e purinas diferem quan- uma dupla-hélice (Figura 5.28). James Watson e Francis Crick,
to aos grupos químicos ligados aos anéis. Adenina, guanina e cito- trabalhando na Universidade de Cambridge, foram os primeiros a
sina são observadas nos dois tipos de ácidos nucleicos; a timina é propor a dupla-hélice como a estrutura tridimensional do DNA,
observada apenas no DNA, e a uracila apenas no RNA. em 1953. As duas cadeias principais açúcar-fosfato possuem
O açúcar ligado à base nitrogenada é uma ribose nos nucleo- direções 5’ → 3’ opostas, arranjo referido como antiparalelo,
tídeos do RNA e uma desoxirribose no DNA (ver a Figura 5.27c). algo como uma estrada de mão dupla. As cadeias principais açú-
A única diferença entre esses dois açúcares é que a desoxirribo- car-fosfato estão localizadas na parte externa da hélice, e as bases
se tem um átomo de oxigênio a menos ligado ao segundo átomo nitrogenadas estão pareadas no interior da hélice. Os dois poli-
de carbono do anel, daí o nome desoxirribose. Como os átomos nucleotídeos, ou apenas cadeias, como são chamadas, são unidas
das bases nitrogenadas e do açúcar são numerados, os átomos do por pontes de hidrogênio entre os pares de bases e por interações
açúcar têm apóstrofe (‘) após o número para distingui-los. Assim, de van der Waals entre os dímeros de bases. Muitas moléculas de
o segundo carbono no anel do açúcar é o carbono 2’ (“2 linha”), e DNA são bastante longas, com milhares e até milhões de pares
o carbono que se destaca do anel é o carbono 5’. de base conectando as duas cadeias. Uma longa cadeia de DNA
Até agora, montamos um nucleosídeo. Para completar a com- dupla-hélice inclui diversos genes, em diferentes segmentos es-
posição do nucleotídeo, precisamos ligar um grupo fosfato ao car- pecíficos da molécula.
bono 5’ do açúcar (ver a Figura 5.27b). Agora, a molécula é um Apenas certas bases na dupla-hélice são compatíveis com
nucleosídeo monofosfato, mais conhecido como nucleotídeo. outras. Adenina (A) sempre pareia com timina (T); guanina (G)
sempre pareia com citosina (C). Se lermos a sequência de bases
Polímeros de nucleotídeos ao longo de uma cadeia conforme percorremos o comprimen-
Agora podemos analisar como esses nucleotídeos são unidos para to da dupla-hélice, saberemos a sequência de bases ao longo da
compor um polinucleotídeo. Moléculas adjacentes de nucleotí- outra cadeia. Se uma porção de uma cadeia possui a sequência
deos são unidas através de uma ligação fosfodiéster, que consiste de bases 5’-AGGTCCG-3’, a regra de pareamento de bases nos
em um grupo fosfato ligando dois açúcares de dois nucleotídeos. diz que essa mesma porção na cadeia complementar deve ter a
Essa ligação resulta na cadeia principal com padrão de repetição sequência 3’-TCCAGGC-5’. As duas cadeias na dupla-hélice são
de unidades de açúcar-fosfato (ver a Figura 5.27a). As duas ex- complementares, ou seja, cada uma é o complemento previsível
tremidades livres do polímero são diferentes uma da outra. Uma da outra. Essa característica do DNA torna possível a exata cópia
extremidade apresenta um grupo fosfato ligado ao carbono 5’ e genética responsável pela hereditariedade (ver a Figura 5.28). Na
a outra apresenta um grupo hidroxila ligado ao carbono 3’, e nos preparação para a divisão celular, cada uma das duas cadeias ser-
referimos a elas como extremidade 5’ e 3’, respectivamente. Po- ve de molde para a ordem de nucleotídeos na nova cadeia com-
demos afirmar que uma cadeia de DNA é composta de maneira plementar. Como resultado, surgem duas novas cópias idênticas
direcional ao longo da cadeia principal açúcar-fosfato, da extre- da molécula de DNA dupla-hélice original, então divididas entre
midade 5’ para 3’, assim como uma rua de mão única. Ao longo da as duas células-filhas. Assim, a estrutura do DNA contribui para
cadeia principal açúcar-fosfato estão localizados os seus ligantes, a sua função na transmissão da informação genética sempre que
as bases nitrogenadas. a célula se reproduz.
B i o l o gi a 89

DNA e proteínas: novas fitas métricas 67 aminoácidos. (Claramente, essas alterações não tornam a pro-
da evolução teína não funcional.) A biologia molecular adicionou uma nova
fita métrica à caixa de ferramentas que os biólogos utilizam para
Estamos acostumados a pensar em características compartilha-
determinar as relações evolutivas.
das, como pelagem e produção de leite nos mamíferos, como
evidência de um ancestral comum. Compreendemos agora que
REVISÃO DO CONCEITO
o DNA comporta a informação hereditária nos genes; por isso,
podemos estudar esses genes e seus produtos (proteínas) como 1. Na Figura 5.27a, numere todos os átomos de carbono nos
evidências do passado hereditário de um organismo. As sequên- açúcares para os três primeiros nucleotídeos, circule as ba-
cias lineares de nucleotídeos nas moléculas de DNA são passadas ses nitrogenadas e marque os grupos fosfato com asteriscos.
dos pais para a prole; essas sequências determinam as sequências 2. Numa molécula de DNA dupla-hélice, uma região ao
de aminoácidos das proteínas. Irmãos e irmãs são muito mais longo das cadeias possui esta sequência de bases nitroge-
semelhantes nas sequências de DNA e proteínas do que indiví- nadas: 5’-TAGGCCT-3’. Copie essa sequência e escreva a
duos não aparentados da mesma espécie. Levando em conta a sequência complementar, indicando claramente as extre-
visão evolucionária da vida, podemos estender esse conceito de midades 5’ e 3’.
“genealogia molecular” para as relações entre as espécies. Em ou- 3. E SE...? (a) Suponha que tenha ocorrido uma substi-
tras palavras, podemos esperar que duas espécies que pareçam tuição na cadeia de DNA dupla fita da questão 2, resultan-
próximas com base no registro fóssil e nas evidências anatômicas do em:
também compartilhem grande parte das sequências de DNA e 5’-TAAGCCT-3’
proteínas, mais do que espécies de relacionamento distante. De 3’-ATCCGGA-5’
fato, isso é verdadeiro. Um exemplo é a comparação da cadeia
Desenhe as duas cadeias; circule e marque as bases com
polipeptídica da hemoglobina humana com o polipeptídeo da he-
pareamento errado. (b) Se a cadeia superior modificada
moglobina correspondente em cinco outros vertebrados. Nessa
fosse replicada, qual seria a cadeia complementar?
cadeia de 146 aminoácidos, humanos e gorilas diferem em ape-
nas um aminoácido, ao passo que humanos e sapos diferem em Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.

 Figura 5.28 A dupla-hélice do DNA Extremidade 5’ Extremidade 3’


e sua replicação. A molécula de DNA é C G
O tema das propriedades emergentes
em geral uma dupla-hélice, com as cadeias C G
na química da vida: uma revisão
principais açúcar-fosfato de cada um dos
Cadeias principais Lembre-se de que a vida está organizada em ní-
dois polinucleotídeos localizadas no exterior açúcar-fosfato
(simbolizadas aqui pelas fitas azuis) com orien- T A veis estruturais hierárquicos (ver a Figura 1.4). A
tação antiparalela. As bases nitrogenadas, C G cada aumento no nível de ordem, novas proprie-
ligadas umas as outras aos pares, por meio de A T Par de bases dades emergem. Nos Capítulos 2-5, dissecamos a
pontes de hidrogênio, mantêm as duas cadeias (unido por
unidas. Conforme ilustrado aqui, com símbolos
A T
pontes de
química da vida, mas também começamos a de-
de formato complementar para cada uma das hidrogênio) senvolver uma visão mais integrada da vida; ex-
G C
bases; adenina (A) só pode parear com timina plorando como as propriedades emergem com o
(T), e guanina (G) só pode parear com citosi- A T Cadeias antigas
aumento de ordem.
na (C). Quando uma célula se prepara para A T

dividir-se, as duas cadeias da dupla-hélice se T A Nucleotídeos


Vimos que o comportamento da água re-
separam, e cada uma serve de molde adicionados à sulta das interações de suas moléculas, arranjos
para o ordenamento preciso de nu- cadeia nova ordenados de átomos de hidrogênio e oxigênio.
C
G

cleotídeos em novas cadeias com-


C

Reduzimos a complexidade e a diversidade dos


T

plementares (em laranja). Cada


compostos orgânicos a esqueletos de carbono e
A

A Extremidade 3’
C

cadeia de DNA nesta figura é


C

o equivalente estrutural do aos grupos químicos ligantes. Aprendemos que


G

C
T

polinucleotídeo esquema- macromoléculas são agregados de pequenas mo-


G

tizado na Figura 5.27a.


A

léculas orgânicas, com o surgimento de novas


T
C

T
A

Extremidade 5’
propriedades. Completando nossa visão geral
G

A
T

C
C
A

com uma introdução às macromoléculas, criamos


G

Cadeias
T

uma conexão com a Unidade II, onde estudare-


T
A

novas
A
T

mos a estrutura e a função celulares. Va-


T
A

G
A
A

mos manter um equilíbrio entre


C
C

T
T

Extremidade 5’ a necessidade de reduzir a vida a


T
G

Extremidade 3’
G
T
A

processos mais simples e a satisfa-


A
C

ção de ver esses processos em seu


T

Extremidade 5’ Extremidade 3’ contexto integrado.


90 C a mpbe ll & Col s .

RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE


Revisão do Capítulo 5
Monômeros formam moléculas maiores por meio de reações de
desidratação, onde moléculas de água são liberadas. Os políme-
5.1 Macromoléculas são polímeros construídos a partir de ros podem ser clivados pela reação inversa, a hidrólise.
monômeros (p. 68-69)  A diversidade dos polímeros Uma grande variedade de polímeros
 A síntese e a clivagem dos polímeros pode ser construída a partir de um pequeno conjunto de monô-
Carboidratos, proteínas e ácidos nucleicos são polímeros, ca- meros.
deias de monômeros. Os componentes dos lipídeos variam.

Grandes moléculas
biológicas Componentes Exemplos Funções
Item 5.2 CH2OH Monossacarídeos: glicose, frutose Combustível, fontes de carbono que podem
Carboidratos servem como H O H ser convertidas em outras moléculas ou com-
H Dissacarídeos: lactose, sacarose binadas em polímeros
combustível e material de OH H
construção (p. 69-74) HO OH
Polissacarídeos: • Reforço das paredes celulares das plantas
H OH
• Celulose (plantas) • Armazenamento de glicose para energia
Monômero de monossacarídeo • Amido (plantas) • Armazenamento de glicose para energia
• Glicogênio (animais) • Reforço do exoesqueleto e das paredes ce-
• Quitina (animais) lulares dos fungos
Item 5.3 Glicerol Triacilgliceróis (gorduras e óleos): Importante fonte de energia
Os lipídeos são um grupo glicerol ⫹ 3 ácidos graxos
diversificado de moléculas 3 ácidos graxos
hidrofóbicas (p. 74-77)

Cabeça Fosfolipídeos: grupo fosfato ⫹ 2 áci- Bicamada lipídica das membranas


com P dos graxos Caudas
hidrofóbicas
2 ácidos
graxos Cabeças
hidrofílicas

Esteroides: quatro anéis fusionados • Componente da membrana celular (coles-


com grupos químicos ligados terol)
• Sinalizadores que percorrem o corpo (hor-
mônios)
Esqueleto esteroide

Item 5.4 • Enzimas • Catalisam reações químicas


R
As proteínas têm ampla H O • Proteínas estruturais • Fornecem suporte estrutural
gama de estruturas e funções N C C • Proteínas de armazenamento • Armazenam aminoácidos
H OH
(p. 77-86) H • Proteínas de transporte • Transportam substâncias
• Hormônios • Coordenam respostas do organismo
Monômero de aminoácido • Proteínas receptoras • Recebem sinais de fora da célula
(20 tipos)
• Proteínas motoras • Atuam no movimento celular
• Proteínas de defesa • Protegem contra doenças
Item 5.5 Base nitrogenada
DNA: Armazena a informação hereditária
Os ácidos nucleicos armaze- Grupo • Açúcar ⫽ desoxirribose
nam e transmitem a informa- fosfato • Bases nitrogenadas ⫽ C, G, A, T
ção hereditária (pp. 86-69) P CH2
O • Geralmente dupla fita
Açúcar
RNA: Transporta instruções para a codificação das
• Açúcar ⫽ ribose proteínas, do DNA até a maquinaria de sínte-
Monômero de nucleotídeo
• Bases nitrogenadas ⫽ C, G, A, U se de proteínas
• Geralmente fita simples
B i o l o gi a 91

TESTE SEU CONHECIMENTO ligações fosfodiéster polipeptídeos monossacarídeos


ligações peptídicas triacilgliceróis nucleotídeos
1. Qual dos termos inclui todos os outros da lista? ligações glicosídicas polinucleotídeos aminoácidos
a. monossacarídeo. d. carboidrato. ligações éster polissacarídeos ácidos graxos
b. dissacarídeo. e. polissacarídeo. 9. DESENHE Desenhe a cadeia polinucleotídica da Figura 5.27a e
c. amido. indique as bases G, T, C e T, a partir da extremidade 5’. Agora
2. A fórmula molecular da glicose é C6H12O6. Qual seria a fórmula desenhe a cadeia complementar da dupla-hélice, utilizando os
molecular de um polímero composto pela ligação de dez molé- mesmos símbolos para os grupos fosfato (círculos), açúcares
culas de glicose através de reações de desidratação? (pentágonos) e bases. Indique essas bases. Desenhe setas mos-
a. C60H120O60. d. C60H100O50. trando a direção 5’ → 3’ de cada cadeia. Utilize as setas para ter
b. C6H12O6. e. C60H111O51. certeza de que a segunda cadeia é antiparalela à primeira. Su-
c. C60H102O51. gestão: depois de desenhar a primeira cadeia na vertical, vire a
folha de papel de cabeça para baixo, é mais fácil desenhar a se-
3. A enzima amilase pode clivar a ligação glicosídica entre mo-
gunda cadeia a partir de 5’ em direção a 3’ de cima para baixo.
nômeros de glicose apenas se os monômeros estiverem na for-
ma ␣. Quais dos seguintes compostos podem ser clivados pela Para as respostas do teste, ver no Apêndice A.
amilase?
a. glicogênio, amido e amilopectina. CONEXÃO EVOLUTIVA
b. glicogênio e quitina.
10. Comparações entre as sequências de aminoácidos podem es-
c. celulose e quitina.
clarecer a divergência evolutiva entre espécies relacionadas.
d. amido e quitina.
Seria de se esperar que todas as proteínas de um conjunto de
e. amido, amilopectina e celulose.
espécies mostrassem o mesmo grau de divergência? Justifique.
4. Qual das afirmações acerca das gorduras insaturadas é verda-
deira?
PESQUISA CIENTÍFICA
a. são mais comuns em animais que em plantas.
b. seus ácidos graxos possuem ligações duplas na cadeia carbô- 11. Durante as guerras napoleônicas, no início dos anos 1800,
nica. houve falta de açúcar na Europa, pois os navios de abasteci-
c. geralmente solidificam em temperatura ambiente. mento não podiam chegar aos
100
d. contêm mais átomos de hidrogênio que as gorduras satura- portos bloqueados. Para criar

glicosídicas clivadas
das com o mesmo número de átomos de carbono. adoçantes artificiais, cientistas

% de ligações
e. possuem menor número de ácidos graxos por molécula. alemães hidrolisaram o amido
5. O nível estrutural de uma proteína menos afetado pela perda de de trigo. Adicionaram ácido 50

pontes de hidrogênio é: clorídrico a soluções aquecidas


a. nível primário. d. nível quaternário. de amido, clivando algumas
b. nível secundário. e. todos os níveis estruturais são ligações glicosídicas entre os
0
c. nível terciário. igualmente afetados. monômeros de glicose. O grá- Tempo
fico mostra a porcentagem de
6. Quais das sequências de pares de bases podem formar um seg- ligações glicosídicas clivadas em função do tempo. Na sua opi-
mento normal de DNA dupla-hélice? nião, porque os consumidores consideraram o adoçante menos
a. 5’-purina-pirimidina-purina-pirimidina-3’ com 3’-purina-pi- doce que o açúcar? Faça o esquema de uma ligação glicosídica
rimidina-purina-pirimidina-5’. no amido utilizando a Figura 5.5a e 5.7b como referência. Mos-
b. 5’-AGCT-3’ com 5’-TCGA-3’. tre como o ácido é capaz de clivar essa ligação. Por que o ácido
c. 5’-GCGC-3’ com 5’-TATA-3’. clivou apenas 50% das ligações do amido de trigo?
d. 5’-ATGC-3’ com 5’-GCAT-3’.
Pesquisa científica: Um manual de casos investigativos. Explore mais sobre as
e. todos os pares estão corretos. grandes moléculas biológicas com o caso “Figura Perfeita”.
7. Enzimas clivam o DNA catalisando a hidrólise das ligações
covalentes que unem nucleotídeos. O que aconteceria com mo-
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
léculas de DNA tratadas com essas enzimas?
a. as duas cadeias da dupla-hélice seriam separadas. 12. Alguns atletas amadores e profissionais tomam anabolizantes
b. as ligações fosfodiéster entre os açúcares de desoxirribose esteroides para ajudá-los a “criar massa” ou aumentar a força.
seriam clivadas. Os riscos para a saúde causados por essa prática foram exten-
c. as purinas seriam separadas das desoxirriboses. sivamente documentados. Desconsiderando os riscos à saúde,
d. as pirimidinas seriam separadas das desoxirriboses. o que você pensa sobre o uso de substâncias químicas para au-
e. todas as bases seriam separadas das desoxirriboses. mentar o desempenho atlético? O atleta que usa anabolizantes
8. Monte uma tabela organizando os seguintes termos e nomeie está trapaceando, ou usar esses produtos é parte da preparação
colunas e linhas. necessária para o sucesso em uma competição? Explique.
DICA DO PROFESSOR

Os organismos são compostos de matéria, e a matéria é feita de elementos. Hoje em dia são
reconhecidos 92 elementos químicos, sendo que destes, aproximadamente 25 são conhecidos
por serem essenciais para a vida, e quatro compõem 96% da matéria viva: carbono, oxigênio,
hidrogênio e nitrogênio.

Assista ao vídeo e veja com as moléculas constituem os seres vivos.

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EXERCÍCIOS

1) Qual dos seguintes materiais é hidrofóbico?

A) Papel.

B) Sal de cozinha.

C) Cera.

D) Açúcar.

E) Macarrão.

2) À cerca das gorduras insaturadas, assinale a alternativa CORRETA:

A) São mais comuns em animais que em plantas.

B) Seus ácidos graxos possuem ligações duplas na cadeia carbônica.


C) Geralmente solidificam à temperatura ambiente.

D) Contêm mais átomos de hidrogênio que as gorduras saturadas, com o mesmo número de
átomos de carbono.

E) Possuem menor número de ácidos graxos por molécula.

3) O Ácido Desoxirribonucleico (DNA) é constituído por:

A) polinucleotídeos.

B) polipeptídeos.

C) lipídeos.

D) polissacarídeos.

E) adenosina trifosfato.

4) Inúmeras reações químicas ocorrem no interior e fora das células. Estas reações
químicas são bastante aceleradas na presença de um(a):

A) nucleotídeo

B) lipídeo.

C) enzima

D) aminoácido
E) do colesterol

5) Alguns insetos conseguem andar sobre a água. Este fato é explicado pela:

A) mudança na densidade da água quando ela condensa.

B) habilidade da água de dissolver moléculas do ar.

C) tensão superficial da água.

D) propriedade de isolamento térmico.

E) propriedade de ser um solvente versátil.

NA PRÁTICA

Uma dieta rica em gordura saturada é um dos vários fatores que contribuem para a doença
cardiovascular conhecida como aterosclerose. Veja:
SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

ALBERTS, Bruce et al. Biologia molecular da célula. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. p.
47-67.

TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 12. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2012, p. 26-47.

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