Jovchelovitch (2011) apresenta no capítulo 3 do livro uma discussão sobre o
espaço da comunidade, o qual se apresenta como um espaço intermediário entre o sujeito e o mundo social. É na comunidade que o sujeito se origina. A discussão da relação entre saber e contexto é considerada central para a psicologia social Definição de comunidade, ideia de compreender as fronteiras e discutir uma a uma. O que ela quer é como se constrói a psicologia social da comunidade Como a interação entre os diferentes e semelhanças definem comunidade e expressam seus saberes A importância de se estudar as comunidades está na lógica de entender como as comunidades pensam, como se definem como comunidade, como seu saber é produzido, avaliado e se relaciona com outros regimes de saber. As transformações que vivenciamos nos últimos anos, interferiram na forma como as sociedades se organizam e se comunicam, principalmente no tocante às relações com a tecnologia e a velocidade em que acontecem as relações. A autora considera que para teorizar comunidade a partir de uma perspectiva psicossocial é necessário compreendê-la como sobreposta ao indivíduo cita Freud para explicar essa característica em que “[...] a substituição do poder do indivíduo pelo poder de uma comunidade constitui o passo decisivo da civilização” (FREUD, 1930/1987, P.115, apud Jovchelovitch, 2011, p. 133). Em seguida a autora traz a tona a questão das fronteiras, (como produto das relações sociais) as quais podem ser de diferentes tipos e no enfoque psicossocial procurando entender os processos simbólicos. Nesse caso, para a compreensão dos processos simbólicos pelos sujeitos, ela apresenta as dimensões: (i) relação entre saber e pertença, (ii) o papel da memória e (iii) as relações entre comunidades e o contar de histórias. A primeira dimensão refere-se ao conhecimento comum que gera a experiência da pertença. Jovchelovitch (2011, p. 137) afirma que as narrativas individuais compõem acontecimentos da vida em comunidade e do mesmo modo o contrário acontece. Assim, apresenta-se a ideia de pertencimento, em que ela explica também que a “[...] ausência de um saber comum que ligue o estranho à comunidade revela com grande precisão o papel psicossocial fundamental dos saberes sociais compartilhados no processo de ligar o indivíduo à comunidade e produzir a experiência da pertença”. A linguagem se apresenta como uma forma de indicar a pertença. A segunda dimensão, que diz respeito à memória social está relacionada ao fato de a comunidade reter tanto um sentido de continuidade quanto de mudança/desenvolvimento. Ela pontua que a memória do indivíduo é marcada pelas relações entre o indivíduo com seus pares, seus grupos, sendo essa memória diferente do que se viveu, pois a experiência faz com que a memória ao ser evocada seja diferente do contexto vivido. Por fim, ela traz as narrativas, o contar história em que os saberes sociais ganham vida. As narrativas estão essencialmente ligadas à vida comunitária. As histórias ligam o passado, o presente e projetam o futuro. Ela apresenta as esferas públicas como espaço comum. A esfera pública pode ser definida como um espaço: de debates, onde são discutidos os problemas comuns da vida em comunidade; partilhado por todos os membros de uma comunidade. A psicologia social da esfera pública será discutida pelas visões de Hannah Arendt e Habermas. Arendt vê o termo público como dois fenômenos interrelacionados: (i) tudo que aparece em público está exposto a todos: esse primeiro significado está relacionado ao nosso sentimento e nosso sentido de realidade; (ii) o mundo que é comum a todos nós é distinto do local que individual: esse segundo significado está relacionado ao compartilhar. Arendt explica que na condição humanidade da pluralidade, encontramos o significado mais profundo da esfera pública. Na teoria de Arendt encontramos Mead: é na comunicação que temos a compreensão da vida humana. O conceito do outro generalizado: expressa as normas, as práticas e as regras que constroem a vida pública da comunidade. Habermas enfatiza que é no diálogo e na argumentação que vão surgir procedimentos para lidar com a perspectiva e a pluralidade. A Teoria da Comunicação e do diálogo entre o Eu e o Outro está inscrita na Teoria da Esfera Pública. Habermas aponta a quantidade crescente de cafés na Inglaterra e o crescente número de leitores, o que estimulou o debate político. Algumas críticas surgiram à esfera pública de Habermas pela forte idealização do fenômeno e pelo não reconhecimento de outros tipos de ação pública, que estavam presentes na esfera pública burguesa. Apesar das críticas recebidas, foi conferida importância à esfera pública de Habermas como um conceito normativo e orientador e vale destacar que há diferenças entre as esferas públicas dependendo da sociedade, onde os padrões de comunicação podem ser mais ou menos hierárquicos. Ao concluir a seção sobre esfera pública Jovchelovitch (2011, p. 157) indica que a TRS é uma teoria que permite “compreender as transformações do conhecimento em relação aos contextos sociais”. Dessa forma ela indica que as representações sociais são formas de saber que se fundamentam em um tipo de esfera pública. Na sequência do texto a autora faz uma relação entre saber e esfera pública enfatizando que o conceito de representações sociais possibilitou entender como o conhecimento simbólico muda em função de transformações mais amplas na sociedade. As representações coletivas se dão pela conformidade e tradição na esfera pública. Elas são definidas de forma homogênea por uma comunidade, transformando comunidades em espaços de semelhança e são consideradas por Durkheim a fonte de solidariedade social sendo que a análise das formas de solidariedade social se desenvolveu com a compreensão das mudanças nas representações coletivas e divisão social do trabalho. No âmbito das representações coletivas o conhecimento social é constrói toda a realidade “no sentido de defini-la totalmente para os participantes” (JOVCHELOVITCH, 2011, p.161). Na perspectiva de Durkheim a noção de contradição e tensão entre os grupos não está presente. As representações sociais supõem inovação e destradicionalização na esfera pública. Jovchelovitch (2011) inicia a seção fazendo um comparativo entre as concepções de Durkheim e Moscovici. Ela afirma que a aproximação das teorias está no fato da representação ter o poder de construir ambientes e confrontar atores sociais como uma força externa. Já no distanciamento está o fato de que as representações sociais são providas de inovação e encontramos a luta entre conformidade e rebelião das minorias ativas. Ela afirma que a inspiração para essa ideia de uma ciência sobre o desenvolvimento e a mudança surgiu de Piaget. Em Weber ele busca fundamentos no problema da inovação, a importância do indivíduo e o poder das minorias ativas e além disso dá importância aos processos de comunicação. Em Habermas ele se apropria da contradição entre inovação e tradição. Habermas demonstra que a fonte de toda solidariedade social está na comunicação. Para ele, no mundo moderno o outro generalizado muda, o que ele define como “linguistificação do mundo da vida”, o que podemos comparar ao desencantamento do mundo proposto por Weber. Para Weber o desencantamento do mundo é a mudança gradual do simbolismo, das crenças através da comunicação dialógica em que as sociedades contestam as suas lógicas. Jovchelovitch (2011, p. 165) explica que “o que é diferente em Habermas, contudo, é o papel genético da comunicação e da linguagem no desencantamento do mundo; a linguistificação do mundo da vida não é feita apenas de perdas e burocratização, mas emerge redimida como processo comunicativo”.
Para finalizar o texto, Jovchelovitch (2011, p.167) explica que ao abandonar o
termo coletivo e adotar o termo social, Moscovici foi guiado pela pluralidade e pela importância da comunicação nas sociedades modernas, em que as práticas são contestadas e discutidas, questionando o homogêneo. O que as RS expressam são “como as comunidades mudam e como a mudança se incorpora nas representações sociasi que sustentam nossas relações e nossas vidas”