Você está na página 1de 5

1

Direito Empresarial da Saúde – Profa. Renata Oliveira – Pós-graduação ESMAPE

Material de apoio – Direito Empresarial da Saúde –


Parte 1

Excertos do Código Civil

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I - as associações;

II - as sociedades;

III - as fundações.

IV - as organizações religiosas;

V - os partidos políticos

VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.

[...]

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica


organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.

[...]

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a


contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si,
dos resultados.

Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios


determinados.

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por
objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as
demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por


ações; e, simples, a cooperativa.

Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts.
1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e,
não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.
Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de
participação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de
certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo determinado tipo.

[...]

Art. 1.095. Na sociedade cooperativa, a responsabilidade dos sócios pode ser limitada ou
ilimitada.

§ 1o É limitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde somente pelo


valor de suas quotas e pelo prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a proporção de
sua participação nas mesmas operações.

§ 2o É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde solidária e


ilimitadamente pelas obrigações sociais.

Art. 1.096. No que a lei for omissa, aplicam-se as disposições referentes à sociedade simples,
resguardadas as características estabelecidas no art. 1.094.

Jurisprudências: Função social


A)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. FASE DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. EXECUÇÃO DE DÍVIDA


HOSPTILAR. PENHORA DE SALÁRIO. PARCELAMENTO DO PAGAMENTO. CONFRONTO DE
DIREITOS. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. A possibilidade de parcelamento diz respeito
à execução de título extrajudicial em que o devedor reconhece o débito, cujo reconhecimento
justifica o parcelamento ao invés da discussão processual. O pagamento no cumprimento da
sentença com a qualidade de coisa julgada deve ser integral sob pena de multa, é incompatível
com o parcelamento, salvo anuência do credor e homologação do juízo. O salário é
impenhorável. O inadimplemento de dívida em hospital universitário é grave. A função social do
hospital é tão ou mais importante quanto o salário. Pelo princípio da socialidade, deve
preponderar o interesse coletivo sem prejuízo da dignidade da pessoa humana. O confronto
entre direitos justifica julgar mediante opção por um deles, conforme a preponderância indicada
pelas circunstâncias. Julga-se prevalecente manter a penhora para satisfazer o atendimento
hospitalar feito ao pai da parte à impenhorabilidade do salário. (Agravo de Instrumento Nº
70064855562, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Cini
Marchionatti, Julgado em 12/11/2015).
(TJ-RS - AI: 70064855562 RS, Relator: Carlos Cini Marchionatti, Data de Julgamento:
12/11/2015, Vigésima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 02/12/2015).

B)

AGRAVO DE INSTRUMENTO – Ação de indenização – Menor em face de hospital – Cumprimento


de sentença – Penhora de valores – Alegação de impenhorabilidade – Decisão que a rejeitou –
Recurso do executado – Alegação de que as verbas são públicas, oriundas de Fundação
igualmente filantrópica, cuja destinação, sendo benemérita, impediria a sua constrição –
Descabimento – O pagamento de indenização judicialmente fixada decorrente de atos praticados
em sua atividade também constitui sua obrigação – Decisão mantida – AGRAVO DESPROVIDO.

(TJ-SP - AI: 20873818520188260000 SP 2087381-85.2018.8.26.0000, Relator: Miguel Brandi,


Data de Julgamento: 07/11/2018, 7ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
14/11/2018)

C)

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.160.116 - SP (2017/0214800-2) RELATORA : MINISTRA


ASSUSETE MAGALHÃES AGRAVANTE : HOSPITAL DAS CLINICAS DA FACULDADE DE MEDICINA
DA U S P PROCURADOR : AUGUSTO BELLO ZORZI E OUTRO (S) - SP234949 AGRAVADO :
MATRIX SISTEMAS E SERVICOS LTDA ADVOGADOS : FERNANDO KASINSKI LOTTENBERG E
OUTRO (S) - SP074098 JOÃO MARCOS SILVEIRA - SP096446 INTERES. : FUNDAÇÃO
FACULDADE DE MEDICINA ADVOGADO : ARCÊNIO RODRIGUES DA SILVA E OUTRO (S) -
SP183031 DECISÃO Trata-se de Agravo, interposto pelo HOSPITAL DAS CLINICAS DA
FACULDADE DE MEDICINA DA USP, em 09/11/2015, contra decisão do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, que inadmitiu o Recurso Especial interposto contra acórdão assim
ementado: "Apelação Cível - Administrativo - Ação de Abstenção e Obrigação de Fazer c.c.
Indenização proposta por empresa e, Médica Cautelar proposta pelo Hospital das Clínicas para
afastar interrupção do sistema MXM/LAB e acesso a banco de dados de exames clínicos -
Contrato Administrativo celebrado entre empresa privada Matrix e Hospital das Clínicas da USP e
Fundação Faculdade de Medicina - Sentença de procedência da demanda da empresa e de
improcedência do HC USP - Recurso pelo Hospital das Clínicas da USP e pela Fundação
Faculdade de Medicina - Provimento parcial de rigor. 1. Preliminar de ilegitimidade de parte da
Fundação Faculdade de Medicina - Inocorrência - Entidade que firmou contrato com a empresa
e respondia por sua remuneração até a data do encerramento do contrato, respondendo, em
tese, pelo uso indevido da licença. 2. Do Mérito - Induvidosa a utilização da licença de uso em
período posterior ao encerramento do contrato de rigor a reparação material correspondente
sob pena de locupletamento ilícito da Administração - Interesse público que não serve de escusa
ao cumprimento das obrigações avençadas sem qualquer indício concreto de abuso de poder
econômico por parte da empresa [...] A Recorrida, aproveitando-se do fato de que o banco de
dados de propriedade do Apelante só poderia ser acessado pelo uso do Sistema MXM/LAB, já
quê este assim foi projetado, e negando-se a negociar com a Autarquia e promovendo ameaças
de paralisação de serviço essencial, praticou abuso do poder econômico. A Recorrida colocou o
Direito a serviço de fins ilegítimos, pois inadequados à função social do Hospital das Clínicas,
uma vez que desvia o Direito de seu objetivo principal, qual seja, o bem comum. Sob a ótica da
função social, o sistema destina-se ao proveito e interesse de todos e não apenas o interesse
individual. No caso concreto, ocorreu abuso. A Recorrida abusou da circunstância de ser
detentora do único meio, à época, para acessar o banco de dados com os exames laboratoriais
de milhões de pacientes do Hospital das Clínicas. [...] I. Brasília, 27 de setembro de 2017.
MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES Relatora

(STJ - AREsp: 1160116 SP 2017/0214800-2, Relator: Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, Data de


Publicação: DJ 04/10/2017)

D)

MÉDICO. DIREITO DE INTERNAR E ASSISTIR SEUS PACIENTES. COD. DE ETICA MÉDICA


APROVADO PELA RESOLUÇÃO CFM N. 1.246/88, ART. 25. DIREITO DE PROPRIEDADE. COD.
CIVIL, ART. 524. DECISÃO QUE RECONHECEU O DIREITO DO MÉDICO, CONSUBSTANCIADO NA
RESOLUÇÃO, DE "INTERNAR E ASSISTIR SEUS PACIENTES EM HOSPITAIS PRIVADOS COM OU
SEM CARATER FILANTRÓPICO, AINDA QUE NÃO FAÇA PARTE DO SEU CORPO CLÍNICO,
RESPEITADOS AS NORMAS TECNICAS DA INSTITUIÇÃO", NÃO OFENDEU O DIREITO DE
PROPRIEDADE, ESTABELECIDO O ART. 524 DO COD. CIVIL. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE,
OU DIREITO DO PROPRIETARIO SUJEITO A LIMITAÇÕES. CONSTITUIÇÃO, ART. 5. - XXIII. 2. E
LIVRE O EXERCICIO DE QUAL TRABALHO. A SAÚDE É DIREITO DE TODOS. CONSTITUIÇÃO
ARTS. 5. - XIII E 196. 3. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.
(Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL : REsp 27039 SP 1992/0022713-9. Data
do julgamento: 08/11/1993. Relator Min. Nilson Naves).

Excerto doutrinário em comento à jurisprudência “D”, extraído de SCHREIBER, Anderson.


Função Social da Propriedade na Prática Jurisprudencial Brasileira. Revista Trimestral de
Direito Civil. Rio de Janeiro: PADMA Editora, v. 6, abr/jun, 2001:

[...]
O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, já decidiu que a propriedade imobiliária urbana
não cumpre sua função social quando desrespeita normas municipais de caráter urbanístico, ainda
que não se trate de exigências formuladas no plano diretor [...] A decisão do Supremo Tribunal
Federal ainda poderia ser vista como mera interpretação ampliativa do artigo 182, §2º, mas
outras há que transcendem inteiramente o dispositivo.
O Superior Tribunal de Justiça, no acórdão em epígrafe, entendeu que hospitais
particulares devem atender à função social representada pelo interesse geral à saúde e ao
trabalho, e, portanto, estão compelidos a aceitar o ingresso de médicos e a internação dos
respectivos pacientes em suas instalações, ainda que esses médicos sejam estranhos ao seu corpo
clínico.

(...) Daí que a sentença, baseando-se na função social da propriedade, e se louvando


igualmente, no particular, em prestigiosa doutrina, deu à espécie, a meu sentir, correta
solução. Com efeito, no caso de internamento de pacientes, existe interesse maior (do próprio
paciente, ou de seu médico), e olhem que a saúde é direito de todos embora seja dever do
Estado!, interesse que nem sempre há de coincidir com o do proprietário do hospital privado.
(...) o direito aqui nestes autos proclamado não se choca com o direito de propriedade, pois
este, em sendo um direito, é um direito sujeito a limitações, ou, noutras palavras, a
propriedade é privada, mas a sua função é social.1

1
Recurso Especial nº 27.039-3/SP, julgado em 8 de novembro de 1993, trecho extraído do voto do Min. Nilson Naves.
O pedido autoral encontrou amparo, ainda, na Resolução nº 1.231/86, do Conselho Federal de Medicina, que, em seu
artigo 1º, assegura a todo médico o direito de utilizar-se das instalações de qualquer hospital público ou privado,
ainda que não faça parte do seu corpo clínico. O recorrente invocou, também, os artigos 20 e 25 do Código de Ética
Médica, que tipificam o cerceamento de atividade profissional. O proprietário do hospital, por outro lado, sustentou
que as aludidas normas administrativas violavam o seu direito de propriedade, consubstanciado no artigo 524 do
Código Civil, que na condição de norma hierarquicamente superior deveria prevalecer. A decisão invocou a função
social da propriedade (artigo 5º, XXIII, da Constituição da República), a fim de afastar a pretendida violação ao
dispositivo do Código Civil.

Você também pode gostar