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Direito Empresarial – Thiago Carapetcov

Aula 3 | Direito de empresa

SUMÁRIO
1. CONCEITO DE EMPRESÁRIO ............................................................................. 2
1.1 OBSERVAÇÕES AOS CONCEITO DE EMPRESÁRIO .................................... 3
1.2. REQUISITOS PARA SER EMPRESÁRIO ......................................................... 4

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1. CONCEITO DE EMPRESÁRIO
O professor começa afirmando que estamos vendo o conceito de empresário no artigo
966 do Código Civil. Embaixo do caput, temos o parágrafo único deste artigo, que traz um
ponto riquíssimo em prova, que dita que jamais se considera empresário o profissional da arte,
literatura, ciência e intelectual.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa.
Isso foi determinado pelo soberbo legislador de Direito Empresarial, que entende que
algumas atividades não são empresárias, por não terem complexidade, estrutura, organização
ou um lucro efetivo. Então, os profissionais da arte, da literatura, da ciência e intelectuais não
são empresários.
No entanto, é importante notar que é possível que estes sejam empresários, no caso de se
verificar que exercem atividade como elemento de empresa. Compreender isso é essencial, por
ser cobrado em provas.

 O que é elemento de empresa?


Exemplo: O Marcos Frota, artista da Globo. No caso do Marcos Frota estar no sinal
fazendo malabares e pedindo uma contribuição, não o fará parte do Direito Empresarial.
Todavia, ao se tirar o Marcos Frota do sinal e o colocar no circo, onde há profissionais de
publicidade, advogados, contadores, outros artistas, então, nesse caso, Marcos Frota será um
mero elemento de empresa.
Marcos Frota será empresário? Calma. Marcos Frota pode estar no circo como mero
funcionário, caso em que será estudado pelo Direito do Trabalho; Marcos Frota pode estar no
circo em razão de um contrato de prestação de serviço, sendo o caso regulado pelo Direito Civil;
Marcos Frota pode estar no circo por ter um contrato de sócio, o que não quer dizer que é
empresário; e pode estar no circo em razão de ter uma posição de liderança, ser o dono, apenas
nesse caso ele interessará ao direito empresarial, porque o artista circense será um empresário
individual.
Exemplo: Um profissional de literatura jamais será empresário, salvo se constituir
elemento de empresa. O escritor que escreve suas crônicas em casa jamais será um empresário.
Agora, ao se retirar o escritor de sua casa e colocá-lo em uma grande editora, é possível que ele
seja empresário. Isso porque, ali ele não está sozinho, há 30 autores, pessoas da gráfica,
contadores, advogados, profissionais de marketing, etc.
Se o escritor for um mero elemento de complexidade, ele é um elemento de empresa. O
fato de ser elemento de empresa não o torna automaticamente empresário, porque ele pode estar
ali por vínculo empregatício (vínculo laboral), contrato por obra (regulado pelo Direito Civil),
por contrato de sócio (é algo atrelado ao Direito Empresarial, mas não configura alguém como
empresário). Esse escritor apenas será empresário se for o único dono, caso em que será
empresário individual.

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Então, há uma exceção chamada elemento de empresa. Para compreender essa exceção,
não é difícil, basta se tranquilizar e compreender o ambiente onde esse artista, cientista, literário,
intelectual está inserido, é o que diz o artigo 966, parágrafo único.

1.1 OBSERVAÇÕES AOS CONCEITO DE EMPRESÁRIO


Agora, o professor chama a atenção de 2 (dois) pontos que vimos anteriormente.
Em determinado ponto, estudamos os advogados e sociedades de advogados, quando
vimos que não são empresários. Contudo, o advogado é um profissional intelectual, vamos falar
dele com base no artigo 966, §ú.
Exemplo: Digamos que há apenas um único advogado em um escritório, com uma única
secretária. Nesse caso, é fácil concordar que o advogado não é empresário, por não haver uma
estrutura complexa.
Exemplo2: Digamos que se tire esse advogado de um pequeno escritório para colocá-lo
em uma grande banca de advocacia, como Pinheiro Neto. Nesse caso, não haverá apenas um
advogado, mas 200 advogados, 150 estagiários, o pessoal da limpeza, o pessoal da
administração, consultores, assessoria de empresa, os contadores, o pessoal de informativa, etc.
Então, nesse escritório, o advogado será um mero elemento de empresa. No caso desse
advogado ter vínculo empregatício, não será preocupação da matéria de Direito empresarial. Se
for sócio, também não será empresário. Mas se estiver na frente, como único dono do escritório,
será o empresário, isso é o que ocorre em vários países, o advogado pode ser empresário, mas
não pode ser empresário no Brasil.
Quem raciocinou no sentido de que no Brasil o advogado é empresário não o fez errado,
mas a OAB não permite que os advogados donos de grandes escritórios sejam empresários.
Portanto, a atividade do advogado não é empresarial, em regra, porque não pode ser
pensada economicamente. Ainda quando constitua elemento de empresa, não será empresário,
em razão do lobby da OAB.
Outro ponto que o professor citou foi a importância de saber se a pessoa é empresária,
por vários motivos, como a questão registral e crise. O professor havia dito que o empresário
vai à Junta Comercial e o não empresário ao RCPJ.
A cooperativa não é empresária, mas pelo lobby da Junta Comercial o registro da sua
atividade é feito na Junta Comercial. Desse modo, mesmo que a cooperativa não seja
empresária, seu registro é feito perante a Junta Comercial e não no RCPJ.
Portanto, há 2 (duas) exceções: i) o trabalho do advogado no artigo 966 do CC, que é
inteligente, mas é afastado; ii) a cooperativa, que mesmo não sendo empresária, faz o registro
no Registro de Empresas.
Até agora, estudamos observações ao conceito de empresário, vamos passar ao estudo
dos requisitos para ser empresário.

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1.2. REQUISITOS PARA SER EMPRESÁRIO


Existem 3 (três) grandes requisitos para ser empresário:
1) artigo 966 do CC, que dita que o empresário deve exercer a empresa, coisa que já
estudamos. Então, o empresário precisa exercer a atividade econômica, complexa e estruturada;
2) deve ter capacidade; e
3) inexistir impedimentos.
O requisito 1 já analisamos, agora, vamos ao segundo requisito, que trata da capacidade.
A capacidade não é algo que se verifica no Direito Empresarial, mas nos artigos 3º a 5º do CC,
que trata do Direito Civil. Então, não interessa o debate dos emancipados, do estatuto das
pessoas com deficiências civis, etc.
Muito alunos indagam quais os reflexos da alteração da capacidade, em razão do Estatuto
das Pessoas com Deficiência, para o Direito Empresarial, o professor afirma que estes alunos
devem estudar essas regras em civil e não em empresarial, porque o que importa é se o sujeito
foi definido como capaz. Se ele for definido como capaz, ele pode ser empresário para o Direito
Empresarial.
Agora vem um ponto de prova, que é o estudo do artigo 974 do Código Civil, que traz
uma grande exceção. Informalmente, pode-se dizer que este artigo trata de uma hipótese trágica.
Este artigo traz 2 (duas) paisagens:
Primeira paisagem: O empresário individual, dono de uma padaria, morreu e deixou
como herdeira sua única filha, uma incapaz. Sendo esse quadro, a empresa deveria ser fechada.
A lógica parece escorreita do ponto de vista empresarial, mas se assim fosse, se estaria
esquecendo das pessoas que o empresário individual emprega e das 60 famílias, por exemplo,
ligadas a padaria.
Segunda paisagem: O empresário individual era padeiro, sofreu um acidente de carro e
perdeu massa encefálica, ficando incapaz. Nesse caso, também se pergunta: como ficam as 60
famílias dos empregados da padaria?
Como se vê, as duas paisagens tratam de uma incapacidade que ocorre no meio do
caminho (exemplo: padeiro morreu e ficou a filha incapaz ou o próprio padeiro ficou incapaz).
O artigo 974 do Código Civil é muito importante e trata de diversos pontos de prova,
motivo pelo qual será estudado em detalhes.
Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes
exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.
§ 1o Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da
empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz,
ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos
adquiridos por terceiros.
§ 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão
ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que
conceder a autorização.
§ 3o O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos
ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta,
os seguintes pressupostos: (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011)

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I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; (Incluído pela Lei nº 12.399,
de 2011)
II – o capital social deve ser totalmente integralizado; (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011)
III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por
seus representantes legais. (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011)
O primeiro ponto a se saber é que este artigo tem um nome, que é incapacidade
superveniente, isto é, hipótese em que a incapacidade ocorre no meio do caminho.
O caput do artigo vai dizer que em ocorrendo a incapacidade superveniente, o juiz poderá
colocar um representante ou assistente para continuar a atividade, pensando nas pessoas dos
empregados.
O segundo ponto a se saber é que o princípio da preservação da empresa fundamenta
este artigo. Nós estamos pensando em preservar a atividade, porque há 60 empregados ali.
O terceiro ponto de prova é saber que a autorização que o juiz pode dá tem por objetivo
tutelar os empregados, mas também deve pensar no incapaz. Logo, por haver um incapaz, a
presença do Ministério é indispensável em todos os atos do processo.
O quarto ponto de prova é saber que o ato do juiz em colocar um representante do incapaz
é um ato precário, porque pode ser revogado a qualquer tempo.
O quinto ponto de prova também se volta ao incapaz. O incapaz possui bens que são
atrelados à empresa, mas também possui bens pessoais. A quinta observação lembra desse
detalhe e determina que os bens pessoais do incapaz, anteriores à incapacidade, estão
protegidos, ao passo que os bens pessoais posteriores podem ser executados. Os bens ligados
à atividade podem ser executados, sejam anteriores ou posteriores à incapacidade.

 Se a proteção dos bens do incapaz culminar em poucos bens para execução por parte dos
credores, isso geraria insegurança ou fraude à execução ou aos credores?
Nunca existirá essa paisagem. Primeiro, se existir poucos bens para se garantir aos
credores, o MP não permitirá que a atividade continue. Segundo, o ato jurídico é precário, de
forma que se houver poucos bens, o juiz revoga o ato e fecha as portas da empresa. Terceiro, a
primeira palavra do artigo 974 do Código Civil é poderá, deixando claro que o juiz não é
obrigado a colocar um representante ou manter a empresa aberta.
Diante disso, o professor quis demonstrar que não há situação crítica para os credores ou
até precária, porque o juiz não é obrigado a nomear representante, podendo fechar as portas, o
juiz não é nenhum maluco, tem responsabilidades. Não fosse isso, o MP se manifesta no
processo.
Todas essas observações são relevantes para compreender que não há espaço para crise.

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