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EMPRESARIAL

RESUMO DE DIREITO EMPRESARIAL


VOLUME ÚNICO

APOSTILA ÚNICA| RETA FINAL - DPE/GO 1


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DIREITO EMPRESARIAL
Olá, pessoal. Tudo bem com vocês? Neste resumo trabalharemos basicamente todos os pontos do edital
da DPE/GO no que diz respeito à disciplina “Direito Empresarial”. Nesta matéria podemos perceber que a banca
enxugou bastante os pontos, de forma a trazer, de fato, aquilo que mais tem caído em nossas provas, como os
conceitos básicos do direito empresarial, o direito societário e os títulos de crédito.

Outro ponto extremamente interessante deste edital é que não há, por exemplo, a Lei de Recuperação
Judicial e Falências, geralmente cobrada em editais de Defensorias Estaduais. Pois é! Chegou a hora de gabaritar
empresarial, mesmo que você não goste da matéria ou tenha dificuldades, rs. :D

Eu quero que você estude por este material sem nenhum preconceito ou trauma com esta matéria. O
nosso objetivo é passar nesta prova objetiva da DPE/GO, então agora é o momento de “amarmos” todas as
disciplinas. Depois da aprovação, nomeação e posse, a gente pensa se odeia ou não empresarial, rs, tudo bem?

Por fim, é bom lembrar que na prova da DPE/BA realizada pela FCC em agosto de 2021, houve apenas uma
questão sobre Direito Empresarial, onde abordava o tema títulos de crédito.

É hora de vencer. Vamos juntos?

Um forte abraço e bons estudos.

Coordenação.

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1. O Direito de Empresa no Código Civil. Conceito e conteúdo. Da empresa e do empresário. Ato empresarial. Do
estabelecimento. Nome empresarial. Dos prepostos. Desconsideração da personalidade jurídica. Desconsideração
inversa da personalidade jurídica. Microempresa e empresa de pequeno porte (Lei Complementar Federal nº
123/2006).

Pois bem, meus amigos e amigas! Inicialmente, precisamos saber que foi adotada no Brasil, sob influência
do Código Napoleônico, a teoria dos atos de comércio. De acordo com essa teoria, apenas atos expressos na lei
eram considerados como atos de comércio. O Código Comercial de 1850 adotava essa teoria.1

Por outro lado, atualmente adota-se a teoria da empresa (grave essa teoria, pois costuma cair em provas),
de origem italiana, que leva em consideração o exercício de atividade econômica, profissionalmente, com a
organização dos fatores de produção (MÃO DE OBRA, INSUMOS, CAPITAL E TECNOLOGIA – este último também
aparece em prova sob o nome know how), para a produção ou circulação de bens ou serviços.

TEORIA DOS ATOS DO COMÉRCIO TEORIA DA EMPRESA


Origem no Código Francês (1808). Para esta teoria, são considerados empresários aqueles
No Brasil, a teoria foi adotada pelo Código Comercial que praticam uma atividade econômica organizada para
de 1850. a produção ou circulação de bens ou serviços,
Para esta teoria, são considerados empresários precisando ainda de registro na junta comercial.
aqueles que praticavam um ato de comércio e tinham
a mercancia como profissão. É a teoria adotada no Brasil desde o Código Civil de
O Regulamento 737/1850 descrevia quais eram os 2002, expressa em seu artigo 966.
atos considerados de comércio da seguinte forma:
a) a compra e venda de bens móveis ou semoventes Com a teoria da empresa, engloba-se também os
para a revenda por atacado; setores da indústria e da prestação de serviços.
b) ou varejo de mercadorias para locação ou uso;
c) as operações de câmbio, banco e corretagem; #CUIDADO #VAICAIR Segundo o art. 966, parágrafo
d) empresas de comissão, depósitos, expedições, único, não se considera empresário quem exerce
expedições de navios e transportes; profissão intelectual, de natureza científica, literária ou
e) qualquer operação relacionada ao comércio artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
marítimo. colaboradores, salvo se o exercício da profissão
#ATENÇÃO: O que não estivesse previsto na lei, seriaconstituir elemento de empresa.
considerado ato civil, não sujeito às normas e #REGISTRO #OBRIGATÓRIO É obrigatória a inscrição do
prerrogativas comerciais. empresário no Registro Público de Empresas Mercantis
O direito estava ligado apenas ao comércio, ou seja,da respectiva sede, antes do início de sua atividade.
estava circunscrito a apenas uma das atividades Caso contrário, sua atividade será considerada irregular,
econômicas. com todos os consectários legais (como a
impossibilidade de requerer sua recuperação judicial ou
Verifica-se que a falha dessa teoria é justamente o requerer a falência de terceiros).
fato de ser restrita ao comércio propriamente dito.
Sabemos que as atividades empresariais,
principalmente hoje em dia, vão muito além do mero
comércio.

Além disso, não havia como listar as atividades de


comércio exaustivamente; sempre faltaria alguma.
Por fim, também não era possível saber exatamente o
que levava o legislador a incluir determinada atividade

1 Já caiuem prova o questionamento acerca da revogação do Código Comercial. Lembrem-se: ainda está vigente a Parte Segunda do Código,
relativa ao comércio marítimo. Afirmações estilo “Código Comercial foi integralmente revogado” são falsas.

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na lista de atos de comércio ou não. Era uma


discricionariedade exacerbada.

O CONCEITO DE EMPRESÁRIO

O conceito de empresário é retirado do art. 966 do Código Civil, que diz que é empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção e circulação de bens ou serviços. Diz ainda o
parágrafo único do citado artigo que não se considera empresário quem exerce atividade intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, mesmo que haja a ajuda de auxiliares (conceito de sociedade simples), exceto se
ficar caracterizado o elemento de empresa.

Então, organizando, teríamos os seguintes requisitos ao conceito de empresário:

EXERCER PROFISSIONALMENTE Tal atributo está relacionado à habitualidade no exercício da atividade


ATIVIDADE ECONÔMICA Visa o lucro.
A atividade empresarial é organizada quando se estrutura os fatores de
ORGANIZADA
produção, capital, mão de obra, insumos e tecnologia.
PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DE
Envolve tanto a alienação de bens quanto a prestação de serviços.
BENS OU SERVIÇOS

CAIU NA DPE-AL-2017-CESPE: Assinale a opção que apresenta a denominação dada a pessoa capaz ordenada ao
exercício profissional de atividade economicamente organizada para a produção ou a circulação de bens ou
serviços:
A) S/A;
B) Sociedade LTDA;
C) empresa;
D) empreendedor;
E) empresário.2

Uma coisa é certa: ao exercer atividade empresarial, é necessário que a pessoa física ou jurídica realize o
respectivo registro perante a Junta Comercial. Caso não o faça será considerado como IRREGULAR, e terá as
seguintes consequências:

1. Não poderá pedir a falência nem a recuperação judicial de terceiros;


2. Não terá CNJP;
3. Não poderá participar de licitações;
4. Não poderá autenticar os seus livros na junta comercial;
5. Caso seja decretada a sua falência, haverá crime falimentar.

Mas como assim, professor, você acabou de dizer que o empresário irregular não pode pedir a falência de
terceiros, mas incorrerá em crime falimentar caso seja decretada a sua?

Isso mesmo, Brasil.

Ao empresário irregular é vedado PEDIR a falência de terceiros, mas poderá requerer a sua própria falência.
No entanto, decretada a sua falência, haverá a ocorrência de crime falimentar, cuja CONDIÇÃO OBJETIVA DE
PUNIBILIDADE (atenção à natureza jurídica) é justamente a falência. Até agora tá tranquilo, né, pessoal?

2 GABARITO “E”. (Código Civil) Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectu al, de
natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.

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Ah, e antes que eu esqueça, anota aí um detalhe que sempre cai em provas: nos casos de exploração de
atividade rural por sociedade, há uma peculiaridade e por isso mesmo você precisa saber. Nessas situações NÃO é
obrigatório que haja o registro na Junta Comercial (isso mesmo, não é necessário o registro), conforme preconiza
o art. 984 do Código Civil, de forma que apenas depois de inscrita no mencionado órgão é que será equiparada à
sociedade empresária. Nesses casos o registro terá natureza constitutiva e não declaratória. Vamos fazer uma
tabelinha e entender tudo? #BORA #TABELASRDP

É obrigatório o registro na Junta Comercial ANTES do início da atividade, conforme o art.


967 do CC. O registro tem natureza declaratória. #FICALIGADO. Se o registro for feito até 30
SOCIEDADE
dias após o início da atividade, terá efeito ex tunc, ou seja, retroagirá. Por outro lado, caso
EMPRESÁRIA
seja feito após os 30 dias, terá efeito ex nunc e o período entre o início da atividade e o
registro será regulado pelas regras da sociedade comum.
EMPRESÁRIO É FACULTATIVO o registro na Junta Comercial nos casos em que há a exploração de atividade
RURAL rural, conforme dispõe o art. 971 do CC. O registro tem natureza constitutiva.

A CAPACIDADE PARA EXERCER ATIVIDADE EMPRESARIAL

Antes de tudo, vale destacar que tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica podem exercer atividade
empresarial. Quando se tratar de pessoa física, estaremos nos referindo aos empresários individuais, já quando
mencionarmos pessoa jurídica estamos falando tanto nas sociedades em geral quanto na empresa individual de
responsabilidade limitada (a famosa EIRELI).

Dito isto, avançamos para observar que de acordo com o art. 972 do CC/02, para o exercício da atividade
empresarial é necessário estar em PLENO GOZO da capacidade civil e não ser legalmente impedido.

Primeiro precisamos saber que atualmente, após as alterações feitas pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiência, apenas os menores de 16 anos são absolutamente incapazes. Já os relativamente incapazes, que
também não podem exercer atividade empresarial são: 1) os maiores de 16 e menores de 18 anos; 2) ébrios
habituais; 3) viciados em tóxicos; 4) aqueles que por causa transitória não puderem exprimir sua vontade e 5) os
pródigos.

Outro ponto que costuma cair em provas objetivas é que o incapaz não pode iniciar uma empresa, mas
poderá CONTINUAR a empresa antes exercida por ele quando capaz, por seus pais ou pelo autor da herança. Isso
costuma cair bastante em provas objetivas.

Recordo a você que há algumas pessoas que a lei proíbe de exercerem atividade empresarial, são os
chamados “impedimentos”. Vejam:

Magistrados e promotores
Servidores públicos
Leiloeiros
Despachantes aduaneiros
Militares da ativa
Senadores e deputados, quando o contrato envolver pessoa de direito público
Falidos que ainda não passaram pelo processo de reabilitação
Corretores

Pessoal, mesmo que as pessoas acima citadas sejam impedidas de praticar atividade empresarial, caso o
façam responderão normalmente pelas obrigações contraídas, conforme dispõe o art. 973 do CC. Nada obstante,
também poderão sofrer consequências outras, como processos administrativos disciplinares no caso dos servidores
públicos (incluindo-se o membro da Defensoria, pois nós Defensores somos proibidos de exercer empresa por
disposição expressa da LC 80/94).

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CAIU NA DP-DF-2013-CESPE: “O Defensor Público da União é legalmente incapaz para o exercício individual de
atividade empresarial”.3

Dando continuidade, é importante que vocês não façam confusão entre MEI, ME e EPP, sobretudo porque
no edital da DPE/GO há o seguinte ponto:

1 (...) Microempresa e empresa de pequeno porte (Lei Complementar


Federal nº 123/2006).

Assim, vamos entender cada uma delas.

O que é MEI?

MEI é a sigla para Microempreendedor Individual, ou seja, trata-se de uma microempresa individual. A
ideia de surgimento do MEI foi justamente para acabar com a informalidade de pessoas que trabalham por conta
própria (ex.: vendedores ambulantes, pequenos autônomos).

Para se enquadrar no MEI, o empresário deve faturar até R$ 81.000,00 por ano, o que equivale a R$
6.750,00 por mês. Por outro lado, o faturamento é proporcional, ou seja, se foi aberto em dezembro, este não
poderá ultrapassar R$ 13.500,00, por exemplo.

ATENÇÃO: Também é importante ressaltar que existe uma margem de segurança que garante ao MEI a tolerância
acima do limite de faturamento em 20% do permitido. Ocorre que, se o faturamento for superior a R$ 97.200,00
(R$ 81 mil de teto da MEI + tolerância), mas inferior a R$ 360 mil, ele ainda será enquadrado como
microempresário. No entanto, se o faturamento permanecer entre R$ 360 mil e R$ 4,8 milhões, o empreendimento
se torna uma Empresa de Pequeno Porte (EPP).

Também é proibido que o MEI tenha participação em outra empresa como sócio ou titular (por caracterizar
uma burla à sistemática do MEI).

Por ser uma empresa regularizada, o MEI possui direitos e deveres:

Direito aos benefícios previdenciários: auxílio-maternidade, auxílio-doença,


aposentadoria, entre outros.
DIREITOS
Possui CNPJ. Portanto, emite nota fiscal, por exemplo.
Deve pagar, até todo dia 20 de cada mês, as contribuições destinadas à Previdência Social
DEVERES
e ao ICMS, ou ao ISS, por meio do DAS – Documento de Arrecadação do Simples Nacional.

Anote-se que o MEI se enquadra no Simples Nacional, regime de tributação que facilita a arrecadação
tributária.

Agora veremos a Microempresa, que é outra coisa.

O que é ME?

3ERRADO! Pessoal, cuidado. Não confundam incapacidade com impedimento. O Defensor Público da União é legalmente capaz para o
exercício individual de atividade empresarial, mas está dentro dos impedidos de a exercerem. No entanto, observem que é possível que
Defensor Público figure como acionista ou cotista em sociedade empresária, é o que dispõe o art. 46 da Lei Complementar 80 de 1994, não
podendo ser sócio administrador.

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Pessoal, ME significa Microempresa Individual cujo empreendimento tenha um faturamento anual de até
R$360 mil.

A ME pode aderir aos seguintes regimes tributários: Simples Nacional, Lucro Real ou Lucro Presumido. O
melhor regime tributário dependerá da situação concreta de cada microempresa, haja vista que cada um conta
com características específicas.

Há, também, a EPP (Empresa de Pequeno Porte). Vocês sabem o que é?

Gente, antes de tudo saibam que a EPP tem faturamento MAIOR que a ME.

Embora a EPP possua padrões tributários semelhantes a uma ME, a principal diferença está no valor de
faturamento, pois para se enquadrar como EPP, a empresa deve faturar entre R$ 360 mil (limite máximo para ME,
como vimos acima) e R$ 4.800.000,00 por na (R$ 4,8 milhões).

A EPP também pode optar pelo Simples Nacional.

Por fim, saibam que a própria Constituição de 1988 trouxe, em seu art. 170, IX, o tratamento favorecido
para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no
País como princípio da ordem econômica.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:

(...)

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis


brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

Além disso, o art. 146 trouxe expressa previsão de que caberia à Lei Complementar, dispor sobre conflitos
de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios sobre a
definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte.

Art. 146. Cabe à lei complementar:

I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as


empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do
imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e
da contribuição a que se refere o art. 239.

Considerando essa imposição legislativa, foi editada a Lei Complementar nº 123/ 2006, que institui o
Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

LIMITES DE FATURAMENTO BRUTO ANUAL


MEI (MICRO EMPREENDEDOR INDIVIDUAL) Até R$ 81.000,00 por ano (+ limite de 20%).
ME (MICROEMPRESA) Até R$ 360.000,00 por ano.
EPP (EMPRESA DE PEQUENO PORTE) Entre R$ 360 mil e R$ 4.800.000,00 por ano.

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É importante registrar que o art. 3º da Lei Complementar nº 123/2006, em seu § 4º, prevê que não poderá
se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado previsto na Lei Complementar, incluído o regime de que trata o
art. 12, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica:

I - de cujo capital participe outra pessoa jurídica;

II - que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede
no exterior;

III - de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia
de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei
Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso
II do caput deste artigo;

IV - cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra
empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta global
ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo;

V - cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com
fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso
II do caput deste artigo;

VI - constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo;

CAIU NA DPE-AL-2017-CESPE: “O tratamento jurídico diferenciado concedido às sociedades empresárias


enquadradas como microempresas e empresas de pequeno porte pode ser exercido por pessoa jurídica com sede
no exterior”.4

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Em nosso edital há expressamente o instituto da desconsideração da personalidade jurídica. A


desconsideração da personalidade jurídica é uma técnica judicial a partir da qual os direitos e, mais comumente,
deveres de uma pessoa jurídica passam a se confundir com os direitos ou responsabilidades de seus proprietários
(desconsideração direta) ou o inverso (desconsideração inversa, presente no NCPC).

Há duas principais teorias sobre o instituto: TEORIA MAIOR E MENOR.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


TEORIA MAIOR TEORIA MENOR
(DIREITO CIVIL) (CONSUMIDOR E AMBIENTAL)
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da
caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela sociedade quando, em detrimento do consumidor,
confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei,
da parte, ou do Ministério Público quando lhe fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato
couber intervir no processo, desconsiderá-la para social. A desconsideração também será efetivada quando
que os efeitos de certas e determinadas relações de houver falência, estado de insolvência, encerramento ou
obrigações sejam estendidos aos bens particulares inatividade da pessoa jurídica provocados por má
de administradores ou de sócios da pessoa jurídica administração.
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
(Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019).

4 ERRADO.

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O § 5º é claro ao afirmar: também poderá ser


Ou seja: precisa do abuso de personalidade, desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
caracterizado pelo desvio de finalidade (uma loja de personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao
celular virou um lava-jato), ou pela confusão ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.
patrimonial (patrimônio dos sócios se confundem
com o da PJ). É a teoria MAIOR, porque precisa de Ou seja, chama-se TEORIA MENOR porque os requisitos
MAIS requisitos. são mais simples.

O instituto da desconsideração da personalidade


jurídica prevista no Código Civil sofreu algumas
alterações com a Lei da Liberdade Econômica (como
assim ficou conhecida a Lei nº 13.874/2019).
Comentaremos sobre o tema em outra meta.

CAIU NA DPE-RS-2011-FCC: “Conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o Código de Defesa do


Consumidor adotou a denominada teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica”. 5

CAIU NA DPE-AM-2016: “O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em


detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação
dos estatutos ou contrato social”.6

No Informativo 673, o STJ esclareceu que “nos termos do novo regramento emprestado aos honorários
advocatícios pelo atual Código de Processo Civil, verifica-se que, em regra, a condenação nos ônus de sucumbência
é atrelada às decisões que tenham natureza jurídica de sentença. Excepcionalmente, estende-se essa condenação
àquelas decisões previstas na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução,
resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente, conforme disposição expressa do § 1º do art. 85.
Tratando-se de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, o descabimento da condenação nos ônus
sucumbenciais decorre da ausência de previsão legal excepcional, sendo irrelevante se apurar quem deu causa ou
foi sucumbente no julgamento final do incidente. Portanto, o STJ fixou a seguinte tese: “Não há condenação em
honorários advocatícios em incidente de desconsideração da personalidade jurídica. REsp 1.845.536-SC, Rel. Min.
Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por maioria, julgado em 26/05/2020, DJe
09/06/2020.”

Por fim, gostaria de fazer uma pequena diferenciação importante no tocante à desconsideração da
personalidade jurídica, que inclusive foi objeto de questionamento na prova discursiva (Banca de Direito Privado)
da DPE-RJ.

Você saberia diferenciar a desconsideração inversa, indireta e expansiva da personalidade jurídica?

Vamos diferenciar.

5CERTO, realmente adotou a teoria menor, como estudamos acima.


6 CERTO. Nos termos do art. 28 CDC. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilí-cito ou violação dos estatutos ou contrato social. A
desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração.

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13.1 DESCONSIDERAÇÃO INVERSA

Segundo Bruno Teixeira,

“(...) a desconsideração inversa é muito utilizada no campo do Direito de Família, essa


modalidade de desconsideração tem como exemplo o caso de um marido, sócio de uma
empresa, que, ao observar a iminência do naufrágio de seu casamento, decide
“esconder” seu patrimônio pessoal no nome da empresa, pois está ciente que terá que
partilhar seus bens com a esposa no divórcio que se avizinha. Note que, nesse caso, o
sócio “blinda” seus bens de credores pessoais e não de credores da pessoa jurídica.” 7

Acrescente-se que a desconsideração inversa tem previsão expressa no art. 133, § 2º, do NCPC:

§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica.

13.2 DESCONSIDERAÇÃO INDIRETA

Já a desconsideração indireta, para o autor:

“Há uma sociedade controladora cometendo fraudes e abusos por meio de outra
empresa que figura como controlada ou filiada (arts. 1.098 e 1.099, CC/02). É aplicável
substancialmente aos grupos/conglomerados econômicos em que a empresa
controladora utiliza de sociedades menores, controladas/filiadas, que estão à beira da
insolvência, para praticar atos abusivos. Destarte, a sociedade menor, longe de possuir
autonomia, configura-se como mera extensão (“longa manus”) da sociedade
controladora. Com a aplicação da desconsideração indireta, atingir-se-ia o patrimônio
da sociedade controladora, para satisfazer obrigações da sociedade controlada/filiada.”

13.3 DESCONSIDERAÇÃO EXPANSIVA

Por fim, com relação à desconsideração expansiva, arrebata Bruno Teixeira:

“Registra-se que essa modalidade tem o escopo de atingir o patrimônio do sócio oculto
que se utiliza de um terceiro aparente (“laranja”, “testa de ferro” ou “homem de
palha”) para controlar a sociedade. Nesse caso, o sócio oculto se “esconde” atrás de
um terceiro para não ser responsabilizado pelas obrigações da sociedade. Dessa forma,
ao se aplicar a desconsideração ordinária da personalidade jurídica, o credor da
obrigação encontraria um sócio “laranja” com escasso patrimônio, inviabilizando o
adimplemento da obrigação. Já com a desconsideração expansiva, o patrimônio do
sócio oculto também é alcançado, aumentando, significativamente, a possibilidade do
adimplemento da obrigação.”

Há, portanto, além da desconsideração tradicional, a desconsideração inversa, expansiva e indireta. Em


resumo:

7 Disponível em: https://bteixeira99.jusbrasil.com.br/artigos/535318952/desconsideracao-inversa-indireta-e-expansiva-da-personalidade-

juridica. Acesso em: 10/06/2021.

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DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


INVERSA EXPANSIVA INDIRETA
Atinge o patrimônio da Essa modalidade tem o escopo de Desconsideração entre sociedades
empresa, já que o sócio oculta atingir o patrimônio do sócio oculto controladoras/filais.
seus bens na PJ. que se utiliza de um terceiro
aparente (“laranja”, “testa de Com a aplicação da desconsideração
ferro” ou “homem de palha”) para indireta, atinge-se o patrimônio da
controlar a sociedade. Nesse caso, sociedade controladora, para
o sócio oculto se “esconde” atrás satisfazer obrigações da sociedade
de um terceiro para não ser controlada/filiada, quando estas
responsabilizado pelas obrigações estiverem cometendo atos abusivos
da sociedade. ou estiver à beira da insolvência.

CAIU NA DPE-PE-CESPE-2018: “A desconsideração inversa da personalidade é aplicável às relações de consumo”. 8

DOS PREPOSTOS

O art. 1.169 do Código Civil aduz que o preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se substituir no
desempenho da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos atos do substituto e pelas obrigações por
ele contraídas. Além disso, salvo autorização expressa, o preposto não pode negociar por conta própria ou de
terceiro, nem participar, embora indiretamente, de operação do mesmo gênero da que lhe foi cometida, sob pena
de responder por perdas e danos e de serem retidos pelo preponente os lucros da operação.

O preposto pode ou não ser considerando o gerente.

Conforme o art. 1.172 do CC/02, será considerado gerente o preposto permanente no exercício da
empresa, na sede desta, ou em sucursal, filial ou agência. Além disso, quando a lei não exigir poderes especiais,
considera-se o gerente autorizado a praticar todos os atos necessários ao exercício dos poderes que lhe foram
outorgados. Na falta de estipulação diversa, consideram-se solidários os poderes conferidos a dois ou mais
gerentes.

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: “Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos
seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito”.9

DO CONTABILISTA E OUTROS AUXILIARES

Pessoal, o CC/02 ainda traz, com relação aos prepostos, texto sobre contabilista e outros auxiliares. É
importante anotar que os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos
encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o
fossem por aquele.

No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis, perante os preponentes, pelos
atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos.

8 CORRETO, sobretudo após a vigência do NCPC, que positivou a desconsideração inversa.


9 CORRETO. Art. 1.178. Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos

à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito. Parágrafo único. Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento,
somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia
autêntica do seu teor.

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RESPONSABILIDADE DOS PREPOSTOS


PERANTE OS PREPONENTES PERANTE TERCEIROS
Pessoalmente responsáveis pelos atos culposos Solidariamente (e com o preponente) responsáveis pelos
atos dolosos.

Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados NOS SEUS
ESTABELECIMENTOS e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito. No entanto, quando
tais atos forem praticados FORA DO ESTABELECIMENTO, somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes
conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor.

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1 (...) Da sociedade empresarial. Empresa Individual de responsabilidade limitada. Sociedade não personificada.
Sociedade personificada. Sociedade simples. Sociedade em nome coletivo. Sociedade em comandita simples.
Sociedade limitada. Sociedade cooperativa. Sociedades coligadas. Registro das sociedades. Transformação,
incorporação, fusão e liquidação.

Dando continuidade ainda ao ponto 1 de Direito Empresarial, estudaremos agora sobre o direito societário.

1. TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO

Inicialmente é necessário saber que uma sociedade é caracterizada por uma união de PESSOAS (universitas
personarum), com finalidade lucrativa e econômica. Diversamente ocorre nas universitas bonorum (ex.: fundação),
que se centralizam na figura de um patrimônio, com destinação certa.

Segundo o art. 981 do Código Civil, com o contrato de sociedade, pessoas 10 se obrigam reciprocamente a
contribuir, por meio de bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica, partilhando entre os mesmos
os resultados11 dessa atividade.

#FICALIGADO #VAIAPRENDEREMPRESARIALSIM: São dois os tipos societários que não admitem a contribuição dos
sócios por meio de serviços: a) sociedade limitada; e b) sociedade anônima.

Em regra, para que haja uma sociedade é necessário que haja dois ou mais sócios, no entanto existem
agora três exceções à pluralidade de sócios em uma pessoa jurídica: a) a sociedade unipessoal de advocacia b) a
sociedade subsidiária integral e c) a sociedade limitada unipessoal.

ATUALIZAÇÃO LEGISLATIVA!
Pessoal, antes em nosso ordenamento jurídico somente existiam duas hipóteses de sociedade unipessoal, que
estão retratadas nas letras “a” e “b” acima descritas. Ocorre que a Lei nº 13.874/19 (a chamada Lei da Liberdade
Econômica) alterou esse paradigma em nosso ordenamento, trazendo a figura da sociedade limitada unipessoal.

Veja a atual redação do art. 1.052 do Código Civil:

Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos
respondem solidariamente pela integralização do capital social.

§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições
sobre o contrato social. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Um dos objetivos do legislador foi tentar acabar com a figura do sócio que era simplesmente “figurativo” na
sociedade. Isso porque como as Limitadas exigiam dois sócios, pelo menos, era muito comum que um sócio
tivesse quase que a totalidade das cotas sociais e o outro sócio tivesse participação mínima, apenas para cumprir
com o requisito legal de pluralidade de sócios.

10 Pessoal, podemos ter uma pessoa jurídica como integrante de uma sociedade, são as famosas holdings.
11 Veja que quando eu falo resultado, estou englobando tanto lucro quanto eventuais prejuízos. Cuidado com as pegadinhas de prova!

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2. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES

QUANTO AO OBJETO SOCIAL


Calcado no conceito do art. 966 do Código Civil, a sociedade empresária é
aquela que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
2.1 SOCIEDADE EMPRESÁRIA
produção ou a circulação de bens ou serviços. É registrada perante a Junta
Comercial. Ex.: Sociedade Anônima.
O parágrafo único do art. 966 do Código Civil também explica o conceito de
sociedade simples quando diz que não se considera sociedade empresária o
2.2 SOCIEDADE SIMPLES exercício de profissão intelectual, de natureza literária, científica ou artística,
mesmo que com o concurso de auxiliares. É registrada perante o cartório. Ex.:
Cooperativas12.

QUANTO À CONSTITUIÇÃO E DISSOLUÇÃO


2.3 SOCIEDADES Como o nome sugere, são criadas por contrato social e aplicam-se as regras
CONTRATUAIS expressas no Código Civil quando da sua dissolução.

2.4 SOCIEDADES São criados por estatuto social, e aplicam-se as normas previstas na Lei 6.404
INSTITUCIONAIS (Lei que trata das Sociedades por Ações) para a sua dissolução.

QUANTO À RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS

2.5 SOCIEDADE DE Os sócios respondem até o limite do valor do capital que integralizou. Ex.:
RESPONSABILIDADE LIMITADA sociedade anônima.

2.6 SOCIEDADE DE Os sócios respondem pessoalmente (com seus patrimônios) pelas dívidas da
RESPONSABILIDADE ILIMITADA sociedade. Ex.: sociedade em comum.

2.7 SOCIEDADE DE Há sócios que respondem limitadamente e outros que respondem


RESPONSABILIDADE MISTA ilimitadamente. Ex.: sociedade em comandita (seja simples ou por ações).

CAIU NA DP-DF2019-CESPE: “Três amigos — Domingos, Gustavo e Pedro — formaram uma sociedade para exercer
atividade empresarial de floricultura. Redigiram um contrato social, mas não providenciaram a inscrição no registro
próprio. A atividade não foi bem e vários clientes, sentindo-se prejudicados, procuraram a Defensoria Pública,
pretendendo ser ressarcidos de valores que pagaram antecipadamente por contratos inadimplidos. Conforme relato
dos clientes, os contratos eram firmados pelo sócio Domingos, em nome da floricultura. A defensoria ajuizou as
ações cabíveis. Com relação a essa situação hipotética, julgue o item a seguir. Todos os sócios respondem solidária
e ilimitadamente pelas obrigações sociais e, na situação apresentada, não há que se falar em patrimônio em comum
dos sócios”.13

CAIU NA DPE-AP-2018-FCC: “Cleber e Maurício estabelecem uma sociedade, mas os atos constitutivos dessa
sociedade, embora elaborados e subscritos pelos interessados, não foram levados a registro. Maurício realizou
contrato com terceiro em nome da sociedade, sem que Cleber tenha participado da negociação. Nesta situação,

12 #LEISECAÉVIDA Segundo o parágrafo único do art. 982 do Código Civil: “Independentemente do objeto, considera-se empresária a
sociedade por ações e, simples, a cooperativa”.
13 ERRADO. Justificativa da banca: “Existe patrimônio especial em comum dos sócios, caracterizado pelos bens afetados ao exercício da

atividade e pelas dívidas dela decorrentes, conforme art. 988 do Código Civil e o Enunciado 210 do CEJ, a seguir. “Art. 988. Os bens e dívidas
sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum.” “Enunciado 210 CEJ – Art. 988: O patrimônio especial a
que se refere o art. 988 é aquele afetado ao exercício da atividade, garantidor de terceiro, e de titularidade dos sócios em comum, em face
da ausência de personalidade jurídica.”

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ambos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações contraídas, mas somente Maurício está
excluído do benefício de ordem”.14

QUANTO À COMPOSIÇÃO
Nesses casos há o chamado affectio societatis, ou seja, dá-se importância aos
2.8 SOCIEDADE DE PESSOAS
atributos pessoais de cada sócio. Por isso é necessário autorização dos demais
(INTUITU PERSONAE)
sócios para a entrada de um novo no quadro social.
2.9 SOCIEDADE DE CAPITAL Os atributos pessoais dos sócios são irrelevantes, por isso qualquer um pode
(INTUITU PECUNIAE) compor o quadro social, independentemente de anuência dos demais.

3. TIPOS SOCIETÁRIOS

Deve-se destacar e relembrar, conforme foi dito anteriormente, que a classificação em SOCIEDADE
EMPRESÁRIA E SOCIEDADE SIMPLES não se trata de uma classificação com base nos tipos societários, e sim
conforme o objeto social da pessoa jurídica. Temos, assim, a seguinte classificação:

SOCIEDADE EMPRESÁRIA SOCIEDADE SIMPLES


Na sociedade empresária, o objeto é o exercício de Na sociedade simples, por outro lado, o objeto é o
empresa (atividade econômica organizada p/ produção exercício de atividade não empresarial, como por
ou circulação de bens/serviços). exemplo a atividade intelectual exercida pelos sócios.
Nos termos do art. 983, há 5 (cinco) tipos societários: Adota-se a ideia de “atipicidade”, contudo, pode-se
(1) sociedade em nome coletivo, optar por qualquer dos cinco tipos legais.
(2) sociedade em comandita simples,
(3) sociedade em comandita por ações
(4) sociedade LTDA e
(5) Sociedade Anônima
Registro deve ser feito na Junta Comercial. Registro deve ser feito no Cartório.

As sociedades também se classificam em personificadas e não personificadas (imagem abaixo):

14CORRETO. Cuidado, pois o art. 990 do CC/02 prevê que todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais,
excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade. O art. 1.024, nesse sentido, prevê o benefício
de ordem nos seguintes termos: “Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de
executados os bens sociais”.

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Simples

Em nome
coletivo
Em comandita
simples
Personificadas
Limitada

Em comandita
por ações
Sociedades
Anônima

Em comum
Não
personificadas Em conta de
participação
CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: “No tocante às disposições gerais das sociedades e à sociedade em comum, é correto
afirmar que a sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja
constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, observadas as
formalidades legais, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que,
depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária”. 15

As sociedades anônimas não costumam aparecer em nossas provas, no entanto, tivemos uma recente
alteração - em 28 de julho de 2020, que talvez possa ser cobrada apenas por ser novidade. Estou me referindo à
Lei nº 14.030/2020, que dispõe sobre as assembleias e as reuniões de sociedades anônimas, de sociedades
limitadas, de sociedades cooperativas e de entidades de representação do cooperativismo durante o exercício de
2020; altera as Leis nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil); e dá outras providências (link no rodapé).16

Segundo o art. 4º da referida Lei nº 14.030/2020, a sociedade limitada cujo exercício social tenha sido
encerrado entre 31 de dezembro de 2019 e 31 de março de 2020 poderá, excepcionalmente, realizar a assembleia
de sócios a que se refere o art. 1.078 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), no prazo de 7 (sete)
meses, contado do término do seu exercício social.

Art. 4º A sociedade limitada cujo exercício social tenha sido encerrado entre 31 de
dezembro de 2019 e 31 de março de 2020 poderá, excepcionalmente, realizar a
assembleia de sócios a que se refere o art. 1.078 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (Código Civil), no prazo de 7 (sete) meses, contado do término do seu exercício
social.

Com essa mesma Lei nº 14.030/2020, também foi inserido o art. 1.080-A do Código Civil, que permite que
o sócio possa participar e votar a distância em reunião ou em assembleia, notadamente em razão do
distanciamento social causada pela Pandemia do novo coronavírus.

“Art. 1.080-A. O sócio poderá participar e votar a distância em reunião ou em assembleia,


nos termos do regulamento do órgão competente do Poder Executivo federal.

15 CORRETA. Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou
transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro
Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade
empresária.
16 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14030.htm. Acesso em: 03/05/2021.

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Parágrafo único. A reunião ou a assembleia poderá ser realizada de forma digital,


respeitados os direitos legalmente previstos de participação e de manifestação dos sócios
e os demais requisitos regulamentares.”

4. A AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA PELAS SOCIEDADES

Gente, essa conversinha já é velha e todo mundo sabe, mas não custa nada repetir que a existência da
personalidade jurídica das pessoas jurídicas se dá com o registro no órgão competente. No caso das sociedades
empresárias, como foi dito anteriormente, o registro se dará na Junta Comercial, já no caso das sociedades simples
o mesmo será feito no Cartório.

5. SOCIEDADES NACIONAIS, ESTRANGEIRAS E AUTORIZAÇÃO PARA FUNCIONAMENTO

É preciso saber que para uma sociedade ser considerada como nacional, faz-se necessário apenas que seja
criada de acordo com as leis brasileiras, além de possuir sede no Brasil. Por outro lado, acaba sendo óbvio afirmar
que aquela que não observar os requisitos expostos, será considerada como uma sociedade estrangeira. Nesses
casos, vale salientar que para o funcionamento destas é necessário, antes de realizar o registro na Junta Comercial,
uma autorização do Poder Executivo (art. 1.134 do CC). Além disso, o diploma civilista exige (art. 1.138) que a
sociedade estrangeira tenha um representante permanente no Brasil (é necessário a averbação do instrumento
que o nomeou junto ao ato constitutivo da sociedade), com poderes para resolver quaisquer questões, além de
receber citação judicial pela sociedade.

Por fim, deve-se destacar que mesmo se tratando de sociedade nacional, em alguns casos a lei exige que
haja a autorização do Poder Executivo Federal para o funcionamento de uma sociedade. Diz o art. 1.124 do CC que
após dada a autorização, a mesma caducará se a sociedade não der início ao seu funcionamento nos doze meses
(salvo quando for estipulado prazo distinto) seguintes à publicação do ato autorizativo. Além disso, é possível que
haja a cassação da autorização dada quando a sociedade infringir disposição de ordem pública ou praticar atos
contrários aos fins declarados no seu estatuto, como preconiza o art. 1.125 do CC.

6. CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADE ENTRE CÔNJUGES

O Código Civil admite a constituição de sociedade (seja ela empresária ou simples) que tenha como sócios
cônjuges (apenas entre estes ou também com terceiros), desde que não sejam casados no regime de separação
obrigatória de bens17, nem no da comunhão universal (art. 977). Vale destacar que não se aplica a referida vedação
aos casos de sociedades constituídas antes da vigência do Código Civil de 2002.

7. DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS

O nosso edital traz ponto sobre a sociedade cooperativa e a coligada. Abaixo trago inicialmente os artigos
do Código Civil sobre a sociedade cooperativa e posteriormente sobre a sociedade coligada, pois acreditamos que
sobre essa temática a lei seca seja suficiente:

Art. 1.093. A sociedade cooperativa reger-se-á pelo disposto no presente Capítulo, ressalvada a legislação especial.

Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:

I - variabilidade, ou dispensa do capital social;

17Lembrem-se que o regime de separação obrigatória de bens é imposto em casos como: a) quando houver necessidade de suprimento
judicial para casar; b) quando um dos cônjuges tiver mais de 70 anos de idade; e c) nas hipóteses do art. 1.523 do CC (corre lá e leia as causas
suspensivas do casamento!!).

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II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de
número máximo;

III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio poderá tomar;

IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança;

V - quorum , para a assembléia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios presentes à reunião, e
não no capital social representado;

VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o
valor de sua participação;

VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade,
podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado;

VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade.

Art. 1.095. Na sociedade cooperativa, a responsabilidade dos sócios pode ser limitada ou ilimitada.

§ 1 o É limitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde somente pelo valor de suas quotas e
pelo prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a proporção de sua participação nas mesmas operações.

§ 2 o É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde solidária e ilimitadamente pelas


obrigações sociais.

Art. 1.096. No que a lei for omissa, aplicam-se as disposições referentes à sociedade simples, resguardadas as
características estabelecidas no art. 1.094.

DAS SOCIEDADES COLIGADAS

Art. 1.097. Consideram-se coligadas as sociedades que, em suas relações de capital, são controladas, filiadas, ou de
simples participação, na forma dos artigos seguintes.

Art. 1.098. É controlada:

I - a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou da
assembléia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores;

II - a sociedade cujo controle, referido no inciso antecedente, esteja em poder de outra, mediante ações ou quotas
possuídas por sociedades ou sociedades por esta já controladas.

Art. 1.099. Diz-se coligada ou filiada a sociedade de cujo capital outra sociedade participa com dez por cento ou
mais, do capital da outra, sem controlá-la.

Art. 1.100. É de simples participação a sociedade de cujo capital outra sociedade possua menos de dez por cento
do capital com direito de voto.

Art. 1.101. Salvo disposição especial de lei, a sociedade não pode participar de outra, que seja sua sócia, por
montante superior, segundo o balanço, ao das próprias reservas, excluída a reserva legal.

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Parágrafo único. Aprovado o balanço em que se verifique ter sido excedido esse limite, a sociedade não poderá
exercer o direito de voto correspondente às ações ou quotas em excesso, as quais devem ser alienadas nos cento
e oitenta dias seguintes àquela aprovação

8. TRANSFORMAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E CISÃO

Esse ponto está expresso em nosso edital, portanto, vamos entender cada um deles.

A sociedade empresária muda de um tipo para outro. Em regra, exige votação unânime,
exceto se houver disposição em contrário no contrato social ou no estatuto. O sócio
TRANSFORMAÇÃO
dissidente poderá retirar-se da sociedade. Ex.: O caso de uma sociedade limitada que
se transforma em uma sociedade anônima.
Há a absorção de uma ou mais sociedades por outra. A sociedade que incorpora a(s)
outra(a) irá suceder-lhe em todos os direitos e obrigações, devendo ser aprovada por
INCORPORAÇÃO todos, na forma estabelecida para os respectivos tipos societários. A sociedade
incorporada é extinta, mas não surge uma nova sociedade, permanece apenas a
incorporadora.
Na fusão há a união de duas ou mais sociedades, que se extinguem, para formar uma
FUSÃO sociedade nova. Há a sucessão dos direitos e obrigações das sociedades fundidas, pela
nova sociedade criada.
A cisão se caracteriza pela transferência de patrimônio para um ou mais sociedades,
constituída ou não para esse fim. Poderá haver a cisão parcial, que ocorre quando há a
CISÃO
transferência apenas de parte do patrimônio, e a cisão total, quando há a transferência
de todos os bens.

9. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS

Essas são hipóteses de sociedades que na verdade NÃO possuem personalidade jurídica, e
consequentemente não possuem registro, seja na Junta Comercial ou em Cartório.

Perceba que o Código Civil traz dois tipos de sociedades não personificadas, quais sejam: a) Sociedade em
Comum; b) Sociedade em Conta de Participação.

Sociedade em
Não personificadas
comum
Sociedades
Sociedade em Conta
de Participação

Vamos ver as principais características de cada uma?

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• São as sociedades que ainda não tiveram os seus atos constitutivos inscritos no
órgão competente;

Não possui
de fato
contrato escrito
Sociedade em
comum
Há contrato, mas
Irregular ainda não
registrado
9.1 SOCIEDADE EM
COMUM
• Aplica-se subsidiariamente as regras das sociedades simples;
• Terceiros provam a existência da sociedade por qualquer meio, enquanto os sócios
só podem provar por escrito;
• O patrimônio da sociedade é composto pelos bens pertencentes aos sócios e que
forem usados no exercício da atividade. Haverá benefício de ordem em eventual
execução por atos praticados pela sociedade, devendo-se buscar primeiro os bens
pertencentes ao patrimônio social e apenas depois os bens pessoais dos sócios.
IMPORTANTE: Não haverá benefício de ordem quanto ao sócio que contratar pela
sociedade.
• Há nessa espécie de sociedade duas figuras: a) sócio ostensivo; b) sócio
participante. Aquele é quem efetivamente exerce o objeto social e se obriga em seu
próprio nome perante terceiros.
• Os sócios participantes não devem aparecer/negociar, se o fizerem responderão de
forma solidária junto ao sócio ostensivo.
• IMPORTANTE: Pessoal, reparem que a sociedade em conta de participação é
9.2 SOCIEDADE EM
informal e mesmo que seja registrada não adquirirá personalidade jurídica própria.
CONTA DE
É tanto que o art. 993 do Código Civil fala que eventual contrato social só terá efeito
PARTICIPAÇÃO
entre os sócios, além de o registro perante Junta Comercial ou Cartório não conferir
personalidade jurídica à mesma.
• Por fim, haverá a constituição de patrimônio especial através da contribuição dos
sócios (ostensivo e participantes) para o exercício do objeto social, no entanto, tal
patrimônio somente produzirá efeitos perante os sócios e não em face de terceiros,
conforme preconiza o art. 994, §1 do Código Civil.

Vejamos, agora as sociedades personificadas, sendo estas as mais importantes para nossa prova!

10. SOCIEDADES PERSONIFICADAS

Segundo André Santa Cruz, temos a seguinte divisão:

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Contudo, veremos apenas as sociedades importantes para as nossas provas de Defensoria Pública: em
nome coletivo, em comandita simples e limitada.

10.1 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO

• São sociedades compostas apenas por pessoas físicas, que responderão de forma solidária e ilimitada pelas
obrigações sociais (art. 1.039 do CC). Vale destacar que por isso o nome empresarial desses tipos
societários será composto de firma social;
• Poderão os sócios dispor, através de convenção posterior ou ato constitutivo, limitar entre si a
responsabilidade de cada um (não produz efeitos perante terceiros);
• Apenas sócios podem participar da administração;
• Aplica-se subsidiariamente as regras das sociedades simples.

10.2 SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES

• Existem dois tipos de sócios (o contrato social explicitará qual tipo de sócio é cada um): a) comanditados;
b) comanditários. Aqueles respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações sociais, enquanto
estes apenas pelo respectivo valor de suas cotas sociais.18
• O nome empresarial será composto por firma social, com os nomes apenas dos sócios comanditados, uma
vez que apenas estes respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações;

10.3 SOCIEDADE LIMITADA

• A responsabilidade dos sócios se restringe ao valor de suas quotas sociais, mas todos respondem
solidariamente pela integralização do capital social (art. 1.052 do CC);
• É constituída por meio de contrato social;
• Em caso de omissão quanto ao regramento previsto para as sociedades limitadas, haverá a aplicação das
regras destinadas às sociedades simples;
• Se houver a previsão expressa no contrato social, poderá também haver a regência supletiva da sociedade
limitada pelas normas das Sociedades Anônimas.
• O capital social será constituído por quotas iguais ou desiguais, não podendo ser integralizadas por meio
de serviços;
• A quota é indivisível quanto à sociedade, exceto se houver transferência;
• Se o contrato social não dispor de forma diversa, é possível a cessão de quotas a sócio independentemente
da audiência dos demais, e quanto a estranhos caso não haja a oposição de mais de um quarto do capital
social (em provas também pode aparecer “quórum de aprovação de 3/4”, o que, a rigor, é a mesma coisa,
mas dita de outra forma);
• A partir de 2017 o DREI passou a admitir a criação de quotas preferenciais 19 no âmbito das Sociedades
Limitadas, desde que estas prevejam no seu contrato social a aplicação supletiva da Lei das SA’s;
• O sócio remisso (aquele que não integralizou suas quotas): os sócios podem tomá-la para si ou transferi-la
a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora,
as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas (art.1.058 do CC), sendo necessário a maioria
absoluta do capital social;
• Segundo a Instrução Normativa 38/2017 do DREI: Se o contrato social contiver cláusula determinando a
regência supletiva da Lei de Sociedades por Ações, a sociedade limitada pode adquirir suas próprias quotas,
observadas as condições legalmente estabelecidas, fato que não lhe confere a condição de sócia
(Enunciado 391 da IV Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal);

18 Gravem esse macete e vocês sempre acertarão questões sobre responsabilidade na sociedade em comandita simples: o comanditADO é
um coitADO, responde ilimitADO; o comanditÁRIO não é otÁRIO, responde limitado.
19 As quotas preferenciais são aquelas que preveem certas vantagens para os seus titulares, como benefícios patrimoniais ou outros

benefícios especiais. Além disso, haverá a exclusão ou a restrição ao direito ao voto.

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• As Sociedades Limitadas apenas podem ser administradas por pessoas físicas.

#OLHEOPERIGO #CUIDADO: Como e em que hipóteses se dará a responsabilidade dos administradores das
Sociedades Limitadas? Vamos lá entender direitinho, povo lindo! Bem, em regra as Sociedades Limitadas irão
responder por todos os atos pertinentes à gestão da sociedade. DESTAQUE: Se a oneração ou a venda de bens
imóveis não constituir o objeto social da mesma, tais atos dependerão da anuência da maioria dos sócios.

No entanto, haverá hipóteses em que a sociedade não responderá pelos atos praticados em excesso pelos
administradores, podendo assim ser oposto a terceiros, conforme dispõe o parágrafo único do art. 1.015:

• Se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;


• Provando-se que era conhecida do terceiro;
• Tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

#APROFUNDANDO #CITANAORALQUEÉSUCESSO - O que é a teoria dos atos ultra vires societatis? Bem coleguinhas,
essa aqui você vai responder para o examinador e dizer: DE INVEJA EU NÃO MORRO, MAS MATO MUITA GENTE!
Vamos lá!

A teoria dos atos ultra vires se enquadra no inciso III do parágrafo único do art. 1.015 (supracitado), que nada mais
é do que a teoria que diz que a sociedade não responde pelos atos praticados por seus administradores que sejam
estranhos aos seus negócios.

Portanto, tal teoria busca proteger a pessoa jurídica da responsabilidade por atos que fujam da atribuição de seus
administradores. No entanto, deve-se ponderar o que foi dito aqui com a teoria da aparência e a boa-fé objetiva.
Show??

Sobre a assembleia dos sócios, vejamos o que estabelece o art. 1078:

Art. 1.078. A assembleia dos sócios deve realizar-se ao menos uma vez por ano, nos
quatro meses seguintes à ao término do exercício social, com o objetivo de:

I - tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o de


resultado econômico;

II - designar administradores, quando for o caso;

III - tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do dia.

§ 1º Até trinta dias antes da data marcada para a assembleia, os documentos referidos
no inciso I deste artigo devem ser postos, por escrito, e com a prova do respectivo
recebimento, à disposição dos sócios que não exerçam a administração.

§ 2º Instalada a assembleia, proceder-se-á à leitura dos documentos referidos no


parágrafo antecedente, os quais serão submetidos, pelo presidente, a discussão e
votação, nesta não podendo tomar parte os membros da administração e, se houver, os
do conselho fiscal.

§ 3º A aprovação, sem reserva, do balanço patrimonial e do de resultado econômico,


salvo erro, dolo ou simulação, exonera de responsabilidade os membros da
administração e, se houver, os do conselho fiscal.

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§ 4º Extingue-se em dois anos o direito de anular a aprovação a que se refere o parágrafo


antecedente.

Como vimos acima, a Lei nº 14.030/2020 estabeleceu, em seu artigo 4º, que a sociedade limitada cujo
exercício social tenha sido encerrado entre 31 de dezembro de 2019 e 31 de março de 2020 poderá,
excepcionalmente, realizar a assembleia de sócios a que se refere o art. 1.078 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 (Código Civil), no prazo de 7 (sete) meses, contado do término do seu exercício social.

Em razão dos impactos trazidos pela Pandemia do novo coronavírus, a mesma Lei nº 14.030/2020 também
criou, como vimos lá no início, o art. 1.080-A do Código Civil, que permite que o sócio possa participar e votar a
distância em reunião ou em assembleia.

“Art. 1.080-A. O sócio poderá participar e votar a distância em reunião ou em assembleia,


nos termos do regulamento do órgão competente do Poder Executivo federal.
Parágrafo único. A reunião ou a assembleia poderá ser realizada de forma digital,
respeitados os direitos legalmente previstos de participação e de manifestação dos sócios
e os demais requisitos regulamentares.”

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1 (...) Nome empresarial. Do estabelecimento.

NOME EMPRESARIAL

O nome empresarial é o elemento identificador da pessoa que exerce a atividade empresarial e subdivide-
se em firma (individual ou social) e denominação.

Segundo André Luiz Santa Cruz Ramos, a firma, que pode ser individual ou social, é
espécie de nome empresarial, formada por um nome civil – do próprio empresário, no
caso de firma individual, do titular, no caso de EIRELI, ou de um ou mais sócios, no caso
de firma social. O núcleo da firma é, pois, sempre um nome civil (por exemplo, André
FIRMA Ramos ou A. Ramos). Destaque-se ainda que, na firma, pode ser indicado o ramo de
atividade (nos exemplos já mencionados: André Ramos Cursos Jurídicos ou A. Ramos
Cursos Jurídicos). Trata-se, portanto, de uma faculdade, nos termos do art. 1.156, parte
final, do Código Civil, que dispõe claramente que o titular da firma pode aditar, se quiser,
expressão que designe de forma mais precisa sua pessoa ou o ramo de sua atividade. 20
A denominação, que pode ser usada por certas sociedades ou pela EIRELI – o empresário
individual somente opera sob firma –, pode ser formada por qualquer expressão
DENOMINAÇÃO linguística (o que alguns doutrinadores chamam de elemento fantasia) e a indicação do
objeto social (ramo de atividade), é obrigatória (vide arts. 1.158, § 2º, 1.160 e 1.161,
todos do Código Civil) (ANDRÉ LUIZ SANTA CRUZ SANTOS, p. 139).

Em resumo, é preciso diferenciar os seguintes termos:

Identifica a pessoa (física ou jurídica) que exerce a atividade empresarial. A proteção se


NOME EMPRESARIAL
dá com o registro perante a Junta Comercial (Estadual).
Identifica o produto ou o serviço. A proteção se dá com o registro perante o INPI-
MARCA21
Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Federal).
Identifica o estabelecimento em si. A rigor não existe proteção para o título do
estabelecimento comercial. No entanto, a Lei da Propriedade Intelectual (9.279/96)
permite a incidência do crime de concorrência desleal nesses casos, o que acaba dando
certa proteção ao título do estabelecimento:
TÍTULO DO
Art. 195, inciso V, Lei nº 9.279/96:
ESTABELECIMENTO
Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem:
V - usa, indevidamente, nome comercial, TÍTULO DE ESTABELECIMENTO ou insígnia
alheios ou vende, expõe ou oferece à venda ou tem em estoque produto com essas
referências;

20 Ramos, André Luiz Santa Cruz Direito empresarial/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2017, p. 130.
21 No informativo 660 do STJ, publicado em 6 de dezembro de 2019, entendeu-se que o prazo de vigência das patentes concedidas pelo

sistema mailbox é de 20 anos contados da data do depósito. O sistema denominado mailbox consistiu em mecanismo transitório adotado
para salvaguarda de pedidos de patentes relacionadas a produtos farmacêuticos e produtos agroquímicos, cuja tutela jurídica resultou da
internalização no País, em 01/01/1995, do Acordo TRIPS (Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio). O privilégio garantido pelas patentes de invenção, consoante previsto no art. 40, caput, da Lei de Propriedade Industrial, perdura
pelo prazo de 20 anos contados da data do respectivo depósito. Esse lapso temporal, segundo a regra do parágrafo único do mesmo
dispositivo, não pode – excetuadas as hipóteses de o INPI estar impedido de proceder ao exame do pedido por pendência judicial ou força
maior – ser inferior a 10 anos da respectiva concessão. Tratando-se, contudo, de patentes excepcionalmente depositadas pelo sistema
mailbox, a Lei de Propriedade Industrial, em suas disposições finais e transitórias (art. 229, parágrafo único), estabeleceu regra expressa
assegurando proteção limitada unicamente ao lapso de 20 anos contados do dia do depósito (conforme estipulado pelo citado art. 40, caput).
A norma que prescreve que o prazo de vigência de patente de invenção não deve ser inferior a 10 anos da data de sua concessão está
inserida em capítulo da LPI que versa sobre regras gerais, aplicáveis ao sistema ordinário de concessão de patentes, de modo que, à míngua
de remição legal específica, não irradia efeitos sobre matéria a qual foi conferido tratamento especial pela mesma lei. Portanto, segundo a
dicção legal, o privilégio analisado garante proteção a partir da data da concessão pelo órgão competente até o limite de 20 anos contados
do dia em que o pedido foi depositado.

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ESTABELECIMENTO COMERCIAL

Estabelecimento comercial é ponto expresso em nosso edital da DPE/GO.

Ele nada mais é que o complexo de bens (corpóreos ou incorpóreos) utilizados diretamente no exercício
da atividade empresarial (art. 1.142 do CC). Sendo assim, se inclui no conceito de estabelecimento empresarial o
imóvel da sede da empresa, os automóveis utilizados para fazer entregas dos produtos, maquinários, além de
marcas ou patentes pertencentes à mesma. Então, galerinha, nada de achar que o estabelecimento comercial é o
bem imóvel onde se desenvolve a atividade empresarial, porque na verdade esse é o conceito de PONTO
COMERCIAL ou PRÉDIO COMERCIAL.

ESTABELECIMENTO PONTO COMERCIAL


COMERCIAL (OU PRÉDIO COMERCIAL)
Complexo de bens (corpóreos ou incorpóreos) O imóvel propriamente dito em que a atividade
utilizados diretamente no exercício da atividade empresarial é desenvolvida.
empresarial. INCLUI o imóvel, marcas, patentes etc.
O conceito de estabelecimento comercial abrange o
conceito de ponto comercial.

Majoritariamente se entende que o estabelecimento comercial é uma universalidade (porque visto como
algo unitário) de fato, porque os bens que o compõem são definidos pela vontade da (o) sociedade
empresária/empresário.

Por outro lado, a doutrina minoritária defende que o mesmo é uma universalidade de direito, hipótese em
que prepondera a vontade da lei.

#FICALIGADO: A Lei Complementar 154 de 2016 passou a constar que o Microempreendedor Individual pode
utilizar sua própria residência como sede do estabelecimento.

O estabelecimento comercial pode ser transferido para terceiros por meio do contrato de TRESPASSE
(veremos com detalhes já já). Nesses casos, aquele que aliena o estabelecimento comercial não pode, em regra,
fazer concorrência aquele que o adquiriu. Quando não houver disposição expressa acerca do tema no contrato, o
prazo da chamada CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA será de 5 anos.

CAIU NA DPE-AP-FCC-2018: “Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer
concorrência ao adquirente nos cinco anos subsequentes à transferência; no caso de arrendamento ou usufruto
do estabelecimento essa proibição persistirá durante o prazo do contrato”. 22

#DIZERODIREITO É válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente.
Isso porque esse tipo de cláusula protege a concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de
clientela, sendo esses valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente. Assim, quando a relação estabelecida
entre as partes for eminentemente comercial, a cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com
sociedade empresária concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que por um prazo
certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e espacialmente). (...) STJ. 3ª Turma. REsp 1.203.109-
MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015 (Info 561).

22 CORRETO. Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos
cinco anos subsequentes à transferência. Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista
neste artigo persistirá durante o prazo do contrato.

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CONTRATO DE TRESPASSE

Bem lembra André Luiz Santa Cruz Ramos que embora estabelecimento empresarial não compreenda as
relações obrigacionais do seu titular, mas tão somente o complexo de bens, sejam eles materiais ou não, que o
empresário organiza para o exercício de sua atividade, isso não significa que o Código Civil não tenha se preocupado
com os efeitos obrigacionais decorrentes das negociações que envolvam o estabelecimento.23

Sobre o tema, claras são as palavras do autor:

(...) Em primeiro lugar, o Código Civil dispõe no seu art. 1.143 que “pode o
estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou
constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza”. Está aqui o Código se
referindo à possibilidade de o estabelecimento ser negociado como um todo unitário, ou
seja, como universalidade de fato. Claro que o estabelecimento pode ser objeto de
negociações singulares, como permite o art. 90, parágrafo único, do Código Civil.

Mas o que nos interessa, nesse ponto, é analisar a negociação do estabelecimento de forma unitária,
quando estaremos diante do chamado TRESPASSE, ou seja, do contrato oneroso de transferência do
estabelecimento empresarial. De acordo com o disposto no art. 1.144 do Código Civil, “o contrato que tenha por
objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois
de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas
Mercantis, e de publicado na imprensa oficial”. Vê-se, pois, que é condição de eficácia perante terceiros (não de
validade) o registro do contrato de trespasse na Junta Comercial e a sua posterior publicação (idem, p. 149/150).

TRESPASSE E LOCAÇÃO EMPRESARIAL

Fábio Ulhoa Coelho lembra24 que “na maioria dos casos, o estabelecimento empresarial se encontra em
prédio locado pela sociedade empresária. Quando assim é, o trespasse envolve necessariamente a cessão da
locação, que depende de autorização do locador (LL, art. 13) ou pode se ocasionar a rescisão desta em 90 dias
seguintes à sua publicação (CC, art. 1.148). O adquirente do estabelecimento empresarial situado em imóvel
locado, desse modo, deve negociar não apenas com o titular do fundo de empresa (o locatário), como também
com o dono do imóvel (o locador), pagando eventualmente luvas a esse último. A anuência do locador para a cessão
da locação pode ser expressa ou tácita, caracterizando-se a última pela sua inércia, no prazo de 30 dias, após a
notificação do trespasse. Se não manifestada a concordância do locador, por uma dessas formas, sujeita-se o
adquirente à retomada do imóvel, a qualquer tempo (LL, art. 9º, II). Além disso, o empresário não terá direito à
ação renovatória, ainda que preenchidos os requisitos legais característicos da locação empresarial, mesmo que o
locador não tenha manifestado oposição formal (LL, art. 13, § 1º). Independente de receber a notificação
pleiteando a autorização para a cessão, ou mesmo de respondê-la, pode o locador, nos 90 dias seguintes à
publicação do contrato de alienação na imprensa oficial, rescindir a locação, se houver justa causa”.

SUCESSÃO EMPRESARIAL

Realizado o trespasse de maneira regular, ou seja, respeitadas as determinações legais acima analisadas
(arts. 1.144 e 1.145 do Código Civil), é preciso analisar como o Código disciplina os efeitos da negociação unitária
do estabelecimento empresarial.

Segundo o professor André Luiz Santa Cruz, o art. 1.146 do Código Civil trata da chamada sucessão
empresarial, estabelecendo que:

23 Ramos, André Luiz Santa Cruz Direito empresarial/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2017, p. 149/150.
24 Coelho, Fábio Ulhoa Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa/Fábio Ulhoa Coelho. — 16. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012.

207.

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“o adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à


transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo
solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da
publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento”. Pode-se concluir, portanto,
que o adquirente do estabelecimento empresarial responde pelas dívidas existentes –
contraídas pelo alienante –, desde que regularmente contabilizadas, isto é, constantes
da escrituração regular do alienante, pois foram essas as dívidas de que o adquirente teve
conhecimento quando da efetivação do negócio, normalmente precedido de
procedimento denominado due diligence (medidas investigatórias sobre a real situação
econômica do empresário alienante e dos bens que compõem o seu estabelecimento
empresarial).” 25

No entanto, cuidado com o prazo no tocante à responsabilidade solidária do alienante, que pode ser
distinto quanto à sua contagem:

“Embora o adquirente assuma essas dívidas contabilizadas, o alienante fica


solidariamente responsável por elas durante o prazo de um ano. Tal prazo, todavia, será
contado de maneiras distintas a depender do vencimento da dívida em questão:
tratando-se de dívida já vencida, o prazo é contado a partir da publicação do contrato de
trespasse (vide art. 1.144 do Código Civil); tratando-se, em contrapartida, de dívida
vincenda, o prazo é contado do dia de seu vencimento. Assim, por exemplo, se uma dívida
contraída pelo alienante só vier a vencer após seis meses da publicação do contrato,
somente depois de transcorridos esses seis meses é que começará a fluir o prazo de um
ano referido no art. 1.146. Só após o término desse prazo é que cessará, enfim, a
solidariedade passiva do alienante relativa a essa dívida. É preciso deixar bastante claro,
também, que essa sistemática de sucessão obrigacional prevista no art. 1.146 do Código
Civil só se aplica às dívidas negociais do empresário, decorrentes das suas relações
travadas em consequência do exercício da empresa (por exemplo, dívidas com
fornecedores ou financiamentos bancários)”. (ANDRÉ L. SANTA CRUZ, idem, p. 151).

Alunos, devemos ter cuidado, no entanto, quando essa dívida se tratar de débitos tributários e dívidas
trabalhistas. Lembra o professor André26 que em se tratando, todavia, de dívidas tributárias ou de dívidas
trabalhistas, não se aplica o disposto no art. 1.146 do Código Civil, uma vez que a sucessão tributária e a sucessão
trabalhista possuem regimes jurídicos próprios, previstos em legislação específica (arts. 133 do CTN e 448 da CLT,
respectivamente).

Ainda, esclarece o seguinte:

“(...) Essa sistemática do art. 1.146 do Código Civil, sobretudo os seus efeitos
obrigacionais, só se aplica “quando o conjunto de bens transferidos importar a
transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial” (Enunciado 233 do CJF).
A observação é extremamente importante, uma vez que a natureza jurídica de
universalidade de fato do estabelecimento empresarial dificulta muitas vezes a
identificação de quando há ou não o trespasse. A exigência, pois, de que, para a
caracterização do trespasse e consequente produção dos seus efeitos jurídicos,
sobretudo obrigacionais, se verifique a transmissão da funcionalidade do
estabelecimento como tal configura um relevante critério objetivo que ajuda a

25 Ramos, André Luiz Santa Cruz Direito empresarial/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2017, p. 151/152.
26 Ramos, André Luiz Santa Cruz Direito empresarial/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:

MÉTODO, 2017, p. 151.

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identificar, de forma mais precisa, as situações em que realmente se aperfeiçoa o


contrato de trespasse.” (André Santa Cruz, idem, p. 151).

Resumindo, no caso da responsabilidade tributária, considerando o art. 133, a sistemática geral é a


seguinte:

INTEGRALMENTE (se o
Pessoa Natural ou alienante cessar a
Jurídica de Direito exploração do comércio,
Privado que adquire indústria ou atividade)
de outra:

1 - FUNDO DE Responderá pelos tributos,


COMÉRCIO OU SUBSIDIARIAMENTE com
relativos ao fundo ou o alienante (se este
ESTABELECIMENTO; e
estabelecimento adquirido, prosseguir na exploração
ou iniciar dentro de seis
devidos até à data do ato: meses a contar da data da
2 - Continua a alienação, NOVA
respectiva exploração, ATIVIDADE NO MESMO
sob a mesma ou outra OU EM OUTRO RAMO DE
razão social ou sob COMÉRCIO, INDÚSTRIA
firma ou nome OU PROFISSÃO.
individual

A exceção encontra-se no §1º do art. 133, CTN, eis que essa responsabilidade não se aplica na hipótese de
alienação judicial:

1 – em processo de falência (para auxiliar no procedimento de realização de capital para


pagamento do passivo); e

2 – de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial


(igualmente para estimular a recuperação da companhia).

Já o §2º traz a exceção da exceção, já que mesmo que haja situação de falência ou recuperação judicial, a
responsabilidade tributária será a do esquema retratado acima nos casos em que o adquirente for (visa evitar burlas
ao sistema tributário):

1 – sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou
em recuperação judicial;

2 – parente, em linha reta ou colateral até o 4º grau, consanguíneo ou afim, do devedor falido ou em
recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; ou
3 – identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a
sucessão tributária.

Já no que tange a responsabilidade TRABALHISTA, a CLT (art. 448 c/c art. 448-A) traz uma sistemática
simples:

1 – Se houver mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa, não haverá afetação nos contratos de
trabalho dos respectivos empregados (art. 448).
2 – Restando caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores, as obrigações trabalhistas (até mesmo aquelas
surgidas antes da sucessão) são de responsabilidade do sucessor.

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3 – Restada comprovada fraude na transferência, a sucedida responde de forma solidária com a sucessora.

Segundo o STJ, a sucessão civil e processual dos sócios de sociedade limitada, extinta por meio do distrato,
poderá ser efetivada por meio do procedimento de habilitação, mas não pela via da desconsideração da
personalidade jurídica:

A extinção da pessoa jurídica se equipara à morte da pessoa natural (art. 110 do


CPC/2015), atraindo a sucessão material e processual com os temperamentos
próprios do tipo societário e da gradação da responsabilidade pessoal dos sócios.
Em sociedades de responsabilidade limitada, após integralizado o capital social, os
sócios não respondem com seu patrimônio pessoal pelas dívidas titularizadas pela
sociedade, de modo que o deferimento da sucessão dependerá intrinsecamente
da demonstração de existência de patrimônio líquido positivo e de sua efetiva
distribuição entre seus sócios. A demonstração da existência de fundamento
jurídico para a sucessão da empresa extinta pelos seus sócios poderá ser objeto de
controvérsia a ser apurada no procedimento de habilitação, que é previsto no art.
687 do CPC/2015, aplicável por analogia à extinção de empresas no curso de
processo judicial. A desconsideração da personalidade jurídica não é, portanto, via
cabível para promover a inclusão dos sócios em demanda judicial, da qual a
sociedade era parte legítima, sendo medida excepcional para os casos em que
verificada a utilização abusiva da pessoa jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp 1.784.032-
SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 02/04/2019 (Info 646). (DIZER O
DIREITO).

Também é bom lembrar que ex-sócio de sociedade limitada não é responsável por obrigação contraída
após sua saída da empresa, como já decidiu o STJ:

Na hipótese de cessão de quotas sociais, a responsabilidade do cedente pelo prazo


de até 2 anos após a averbação da respectiva modificação contratual restringe-se
às obrigações sociais contraídas no período em que ele ainda ostentava a
qualidade de sócio, ou seja, antes da sua retirada da sociedade. STJ. 3ª Turma. REsp
1537521/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/02/2019.

ESCRITURAÇÃO

Pessoal, aquele que exerce atividade empresarial (seja empresário individual, sociedade empresária ou
EIRELI) tem a obrigação de manter a devida escrituração de livros empresariais (leia o art. 1.179 do CC). Sobre esse
assunto, é preciso saber que o chamado LIVRO DIÁRIO é o único obrigatório para todos aqueles que exerçam
atividade empresarial (segundo o art. 1.180 do CC, o livro Diário poderá ser substituído por fichas no caso de
escrituração mecanizada ou eletrônica). Além disso, são exemplos de livros facultativos: livro estoque, livro caixa e
livro razão.

Para a regularidade da escrituração, é necessário que sejam respeitados alguns requisitos (classificados
pela doutrina como intrínsecos e extrínsecos):

Exige-se que a escrituração seja feita em idioma e moeda corrente nacionais e em


forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco,
INTRÍNSECOS
nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transporte para as margens (art. 1.183
do CC).
Autenticação do livro perante a Junta Comercial (com termo de abertura e de
EXTRÍNSECOS
encerramento).

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Além disso, toda a escrituração deverá ser feita por contador legalmente habilitado, exceto quando não
houver nenhum na localidade (art. 1.182 do CC).

Informações importantes acerca do tema:

• Para que os livros empresariais façam prova (em uma ação judicial) a favor daquele que exerce a atividade
empresarial (note que evitamos utilizar o termo empresário porque ele estaria tecnicamente incorreto 27), é
necessário que os mesmos estejam devidamente escriturados, nos termos do que foi até então exposto;
• Por outro lado, os livros poderão fazer prova contra aquele que exerce a atividade empresarial mesmo que
não estejam regularmente escriturados;
• Inexiste uma sanção imediata para o descumprimento das regras de escrituração; no entanto, caso haja a
decretação de falência ou a recuperação extrajudicial ou judicial, restará caracterizada a prática de crime
falimentar;
• É dever da pessoa que exerce atividade empresarial entregar os livros escriturados no cartório judicial,
quando houver a decretação de falência (é o que dispõe o inciso II do art. 104 da Lei nº 11.101 de 2005, que trata
sobre falência e recuperação judicial e extrajudicial de empresas). Caso não haja a entrega, é possível a
configuração do crime de desobediência, conforme preconiza o parágrafo único do artigo retro mencionado;
• A escrituração contábil é indivisível, por isso caso existam pontos favoráveis e pontos desfavoráveis ao
autor dos livros, deverão ser considerados como um todo (art. 419 do CPC);
• Caso haja falsificação dos livros, responderá o responsável por falsificação de documento público (os livros
empresariais são considerados documentos públicos por equiparação);

CAIU NA DPE-ES-2016-FCC: “Entre os meios de prova admissíveis acham-se os livros dos empresários, mas o juiz só
poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões
relativas à sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de
falência”.28
#FICALIGADO #ALUNORDPSABE Conforme dispõe o § 2º do art. 1.179 do CC, a escrituração é dispensável para os
pequenos empresários. No entanto, o artigo não explica o que é esse pequeno empresário. A lei complementar
123 de 2006 traz no seu art. 3º, incisos I e II, respectivamente, os conceitos de microempresa e empresa de
pequeno porte (a classificação pode ser dada tanto para sociedades empresárias, EIRELI’s e ao empresário
individual).

Por fim, pessoal, temos que entender que o acesso aos livros comerciais por terceiros não pode ocorrer a
qualquer tempo e sem uma razão prevista em lei. Aplica-se, no que se refere ao acesso aos livros comerciais o
princípio da sigilosidade. Expõe o art. 1.190 do CC que fora os casos autorizados na lei, nenhuma autoridade, seja
juiz ou tribunal pode ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou
não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei.

Dito isto, podemos fazer uma divisão no que se refere à possibilidade de exibição de livros comerciais em:

A exibição dos livros poderá ser determinada (a requerimento ou ex officio)


parcialmente em qualquer ação judicial, como na apreciação de um pedido cautelar,
PARCIAL desde que na presença do empresário ou da sociedade empresária, bem como de um
representante por estes nomeado, para extrair o que for necessário para o deslinde do
processo. (§ 1º do art. 1.191 do CC).

27 Entenda: a sociedade é empresária, o empresário individual é empresário, mas aqueles que têm quota parte em uma sociedade empresária

são sócios e não empresários.


28 CORRETO. Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver

questões relativas à sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência.

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Ocorrerá apenas29 nos casos que envolvam: a) sucessão; b) falência; c) comunhão ou


TOTAL
sociedade e d) administração ou gestão à conta de outrem. (art. 1.191, caput, CC)

• A sigilosidade não se aplica às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização quanto ao pagamento


de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais (art. 1.193 do CC);
• Se os livros estiverem em outra jurisdição, nela será feito o exame, perante o respectivo juiz (§ 2º do art.
1.191 do CC);
• Caso haja recusa na exibição dos livros, estes serão apreendidos judicialmente. Além disso, nos casos de
exibição parcial, ter-se-á como verdadeiro o alegado pela parte contrária para se provar pelos livros (caput do art.
1.192 do CC);
• Súmula 260 do STF: O exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado às transações entre os
litigantes;
• Súmula 390 do STF: A exibição judicial de livros comerciais pode ser requerida como medida preventiva;
• Súmula 439 do STF: Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais,
limitado o exame aos pontos objeto da investigação;

EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI)

André Luiz Santa Cruz, um dos maiores nomes do Direito Empresarial30, assim estabelece:

“atendendo aos reclamos antigos da doutrina comercialista e do meio empresarial, o


legislador brasileiro finalmente criou a figura da empresa individual de responsabilidade
limitada, por meio da Lei nº 12.441/2011, que alterou alguns dispositivos do CC e
acrescentou outros. O legislador deveria ter optado por duas figuras jurídicas: (i)
empresário individual de responsabilidade limitada ou (ii) sociedade limitada unipessoal.
No primeiro caso, o empresário individual, pessoa física, ao iniciar o exercício de uma
atividade empresarial, constituiria para tanto um patrimônio de afetação, que não se
confundiria com seu patrimônio pessoal, e o registraria na Junta Comercial. Assim, as
dívidas que contraísse em função do exercício de sua atividade empresarial, em princípio,
não poderiam ser executadas no seu patrimônio pessoal. No segundo caso, seria
suprimida a exigência de pluralidade de sócios para a constituição de sociedade limitada,
o que permitiria que uma pessoa, sozinha, fosse titular de 100% das quotas do seu capital
social. Assim, o patrimônio social não se confundiria com o patrimônio pessoal do sócio,
o qual não poderia, em princípio, ser executado para garantia de dívidas sociais. Em
ambos os casos, o objetivo seria o mesmo: permitir que um determinado empreendedor,
individualmente, exercesse atividade empresarial limitando sua responsabilidade, em
princípio, ao capital investido no empreendimento, ficando os seus bens particulares
resguardados. Isso funcionaria como um estímulo ao empreendedorismo e acabaria com
a prática, tão comum no Brasil, de constituição de sociedades limitadas em que um dos
sócios tem percentual ínfimo do capital social (geralmente 1%) e nenhuma participação
na gestão dos negócios sociais.”

Sobre EIRELI, Fábio Ulhoa Coelho31 (quem nunca estudou por ele na faculdade atire a primeira pedra)
também faz importantes apontamentos que precisamos saber:

29 Fica ligado que nos casos envolvendo Sociedades Anônimas é possível a exibição total quando houver o requerimento de acionistas que
representem pelo menos 5% do capital social da sociedade empresária, se forem apontados atos violadores da lei ou do estatuto, bem como
se houver fundadas suspeitas de graves irregularidades praticadas por qualquer dos órgãos da companhia (art. 105 da Lei nº 6.404 de 1976,
que regula as SA’s).
30 P. 78/79.
31 Coelho, Fábio Ulhoa Curso de direito comercial, volume 2: direito de empresa/Fábio Ulhoa Coelho. — 16. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012,

p. 465.

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(...) A sociedade limitada unipessoal, no direito brasileiro, foi designada de “Empresa


Individual de Responsabilidade Limitada”, EIRELI (CC, art. 980-A). Ao examinar-se a
classificação das sociedades segundo a quantidade de sócios, criticou-se a opção do
legislador e demonstrou-se que a interpretação sistemática do direito positivo conduz à
conclusão de que não se trata de nova espécie de pessoa jurídica, mas do nomem juris
dado à sociedade limitada unipessoal. Como uma sociedade limitada, a EIRELI sujeita-se
às regras desse tipo societário (CC, art. 980-A, § 6º). Vale dizer, o sócio único deve
subscrever o contrato social, levá-lo a registro na Junta Comercial, escolher o
administrador, aprovar as contas da administração e as demonstrações contábeis a cada
exercício (formalizando, se quiser, sua decisão em ata de assembleia ou reunião de sócio),
introduzir no ato constitutivo as alterações que reputar necessárias, orientar os negócios
sociais etc.32

IMPORTANTE: Com o advento da Medida Provisória nº 881/2019 ("MP da Liberdade Econômica"), convertida na
Lei nº 13.874/2019, foi instituída, no Brasil, a sociedade limitada unipessoal, tendo em vista que o art. 1.052 do
Código Civil passou a ter dois parágrafos, vejam:

Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos
respondem solidariamente pela integralização do capital social.

§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições
sobre o contrato social. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) é uma espécie de pessoa jurídica de direito
privado composta por uma única pessoa (física ou jurídica), e de responsabilidade limitada, como o próprio nome
anuncia. Está prevista no art. 980-A do CC/02.

Precisamos saber que a criação da EIRELI trouxe muitas vantagens para aqueles que desejavam exercer
atividade empresarial, já que com ela há a possibilidade de constituição de uma pessoa jurídica por uma única
pessoa33, diferentemente do que ocorria antes. É tanto que antigamente era fácil verificar a existência de pessoas
jurídicas com sócios meramente formais, por assim dizer, apenas para a criação da pessoa jurídica.

A Lei da Liberdade Econômica também incluiu o §7º ao art. 980-A do Código Civil, vejam:

§7º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de responsabilidade
limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constitui,
ressalvados os casos de fraude. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Além disso, uma segunda vantagem é a LIMITAÇÃO da responsabilidade no exercício da atividade


empresarial. Caso uma pessoa física exercesse atividade empresarial antes do surgimento da EIRELI no Brasil, e não
desejasse (ou simplesmente não conseguisse) algum sócio para criar uma sociedade, exerceria a atividade como
empresário individual, o que lhe acarretaria responsabilidade ilimitada, sendo possível assim que o seu patrimônio
pessoal fosse atingido de forma indiscriminada.

32 No entanto, insta salientar que a posição de Ulhoa não é a que prevalece em relação à EIRELI; isso porque a corrente majoritária entende
que EIRELI é um novo tipo de pessoa jurídica no ordenamento, não se confundindo com a figura da sociedade limitada nem com a do
empresário individual.
33 Antigamente havia uma grande discussão na doutrina acerca da possibilidade ou não de pessoa jurídica constituir EIRELI. Atualmente, no

entanto, essa polêmica encontra-se superada, já que o DREI determinou através da Instrução Normativa nº 47 de 2018 que a Empresa
Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI poderá ser constituída tanto por pessoa natural quanto por pessoa jurídica, nacional ou
estrangeira. Também fixou que a pessoa jurídica pode figurar em mais de uma EIRELI.

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NOMENCLATURA DA EIRELI

Sobre a nomenclatura, André Luiz Santa Cruz é claro ao ensinar que o legislador preferiu chamar o novel
instituto de “empresa individual de responsabilidade limitada”, sendo que o mais correto seria chamar o instituto
criado de “empresário individual de responsabilidade limitada”, porque empresa é a atividade desenvolvida.

(...) Nós, autores e professores de direito empresarial, sempre explicamos aos nossos
leitores e alunos a distinção entre empresa (atividade econômica organizada) e
empresário (pessoa que exerce atividade econômica organizada). Infelizmente, o
legislador não conhece tal distinção. Obviamente, o mais correto seria chamar o instituto
criado de “empresário individual de responsabilidade limitada”, porque empresa é a
atividade desenvolvida.34

CAPITAL SOCIAL MÍNIMO DA EIRELI

Regra polêmica sobre a EIRELI é a que exige capital mínimo (igual ou superior a 100 vezes o valor do maior
salário mínimo vigente no país) para a sua constituição.

Art. 980-A, Código Civil: A empresa individual de responsabilidade limitada será


constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente
integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no
País. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)

Contudo, no final de 2020, o plenário virtual do STF reconheceu a constitucionalidade da exigência de


capital mínimo para a constituição de EIRELI. O dispositivo legal do Código Civil que criou a EIRELI exige que ela
tenha capital integralizado não inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo vigente no País (art. 980-A), como vimos
acima. Na mesma época em que o dispositivo entrou em vigor, o Partido Popular Socialista ajuizou a ADI 4637,
alegando que a exigência feriria os arts. 7º, inciso IV e 170 (princípio da livre iniciativa), caput da CF/1988.

Gilmar Mendes ponderou que essa regra constitucional (7º, inciso IV da Constituição) não tem o sentido
que muitos lhe atribuem: é legítimo usar o salário-mínimo como referencial, e muitas leis o fazem; o que não se
admite é "uma forma de indexação nem qualquer sorte de vinculação que pudesse interferir ou prejudicar os [seus]
reajustes periódicos".

Por outro lado, no que diz respeito à possível violação do princípio da livre iniciativa, Gilmar Mendes
também não acolheu o argumento, tendo em vista que a exigência de capital mínimo não se refere ao exercício de
atividade econômica em si, mas apenas ao uso da EIRELI para tanto.

NOME EMPRESARIAL DA EIRELI

A empresa individual de responsabilidade limitada pode usar tanto firma quanto denominação (assunto
que abordaremos com mais detalhes adiante), e a expressão EIRELI deve constar obrigatoriamente do nome
empresarial, ao final dele.

CONSTITUIÇÃO DE MAIS DE UMA EIRELI

Um detalhe interessante (e polêmico) bem lembrando por André Luiz Santa Cruz sobre a EIRELI é a regra
do § 2º do art. 980-A do CC, segundo a qual “a pessoa NATURAL que constituir empresa individual de
responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade”.

34 Idem, 81.

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Sobre o tema, o autor alega não conseguir enxergar razão para essa regra.

Se o objetivo da EIRELI é criar uma espécie de patrimônio de afetação para permitir que
um empreendedor goze da limitação de responsabilidade sem precisar constituir
sociedade com outrem, por que limitar essa prerrogativa? E se ele decidir empreender
em áreas distintas, como deverá proceder? Constituirá uma EIRELI para explorar um
empreendimento, mas no segundo terá que constituir sociedade? Não faz sentido.
Imagine-se, por exemplo, que um empreendedor possui uma lanchonete, para cuja
exploração ele constituiu uma EIRELI. Depois de algum tempo, ele decide explorar
também a atividade de prestação de serviços de informática, em outro local. Por que
negar-lhe a possibilidade de constituir outra EIRELI para tanto? Essa regra precisa ser
revista, a fim de não limitar o número de EIRELI que uma mesma pessoa natural pode
constituir.35

As informações mais importantes sobre EIRELI:

• Para a sua constituição é necessário a integralização de pelo menos 100 vezes o valor do salário mínimo
vigente no país;
• A integralização pode se dá através de bens e dinheiro, mas não por serviços;
• É possível a constituição de EIRELI pela concentração de quotas de outras modalidades societárias em um
único sócio, independentemente do que tenha motivado tal concentração;
• Haverá a aplicação subsidiária das regras da sociedade limitada às EIRELI’s;
• PJ pode constituir mais de uma EIRELI (instrução normativa do DREI) mas pessoa física apenas uma (§ 2º
do art. 980-a do CC).
CAIU NA DPE-PA-2014-FMP CONCURSOS: A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por
uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que deverá ser superior a 100
cem vezes o maior salário-mínimo vigente no País.36

35 Ramos, André Luiz Santa Cruz Direito empresarial/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2017, p. 84/85.
36 ERRADO. Cuidado, amigos. O art. 980-A, "caput", prevê que a empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma

única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que NÃO SEJA INFERIOR A 100 (CEM) VEZES O MAIOR SALÁRIO
MÍNIMO VIGENTE DO PAÍS.

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2. Dos títulos de crédito: Disposições gerais, títulos ao portador, títulos à ordem e títulos nominativos. Títulos em
espécie: letra de câmbio, nota promissória, duplicata de compra e venda mercantil e de prestação de serviços,
cheque.

Futuros e Futuras Defensoras Públicas do Estado de Goiás, esse ponto, sem dúvidas, é um dos mais
importantes para nossa prova dentro de Direito Empresarial. Peço que tomem uma água, levantem um pouco da
cadeira para descansar a coluna, e voltem revigorados, como diria Gil do Vigor.

Pronto. Tudo certo? Então vamos! #TÔPREPERADO #BORASERDEFENSOR

1. TÍTULOS DE CRÉDITO

Iniciaremos com o conceito de títulos de crédito na visão do mestre Fábio Ulhoa Coelho37:

“Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e


autônomo, nele mencionado. Esse conceito, formulado por Vivante e aceito pela
unanimidade da doutrina comercialista, sintetiza com clareza os elementos principais da
matéria cambial. Nele se encontram, ademais, referências aos princípios básicos da
disciplina do documento (cartularidade, literalidade e autonomia), de forma que o seu
detalhamento permite a apresentação da teoria geral do direito cambiário. É uma
alternativa para o estudo do tema, mas a doutrina costuma iniciar a abordagem desse
ramo do direito comercial, com uma referência ao conceito de crédito, destacando que
ele se funda numa relação de confiança entre dois sujeitos: o que o concede (credor) e o
que dele se beneficia (devedor). Refere-se, comumente, à importância da circulação do
crédito para a economia e introduz os títulos de crédito como seu principal instrumento”.

2. PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Veremos agora os princípios e características dos títulos de crédito, que em tese podem ser resumidos na
seguinte imagem:

André Luiz Santa Cruz, 2017, p. 544.

37 Coelho, Fábio Ulhoa Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa/Fábio Ulhoa Coelho. — 16. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012,
p. 487.

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2.1 Cartularidade

Para F. Ulhoa38, “título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo,
nele mencionado. Desse adjetivo do conceito se pode extrair a referência ao princípio da cartularidade, segundo o
qual o exercício dos direitos representados por um título de crédito pressupõe a sua posse. Somente quem exibe
a cártula (isto é, o papel em que se lançaram os atos cambiários constitutivos de crédito) pode pretender a
satisfação de uma pretensão relativamente ao direito documentado pelo título. Quem não se encontra com o título
em sua posse, não se presume credor.”

COMÉRCIO ELETRÔNICO: André Luiz Santa Cruz (2017, p.533 39) lembra que “o bitcoin é uma criptomoeda que
utiliza uma tecnologia ponto a ponto (peer-to-peer) para criar um sistema de pagamentos on-line que não depende
de intermediários e não se submete a nenhuma autoridade regulatória centralizadora. O código do bitcoin é aberto,
seu design é público, não há proprietários ou controladores centrais e qualquer pessoa pode participar do seu
sistema de gerenciamento coletivo. Enfim, o bitcoin é uma inovação revolucionária porque é o primeiro sistema de
pagamentos totalmente descentralizado. O comércio eletrônico tradicional é sempre feito através de
intermediários (uma operadora de cartão de crédito, uma instituição financeira ou uma empresa de pagamentos
on-line, como o PayPal) e lastreado em uma moeda oficial (dólar, real, euro, etc.). As transações com bitcoins, por
sua vez, não dependem de intermediários e não são lastreadas em uma moeda oficial, mas no próprio bitcoin.
Portanto, não se trata apenas de um novo sistema de pagamentos, mas de uma nova moeda.”

2.2 Literalidade

Vimos que título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo. A
doutrina estabelece que “Quando se diz que o título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito
literal nele representado, faz-se referência expressa ao princípio da literalidade, segundo o qual o título de crédito
vale pelo que nele está escrito. Nem mais, nem menos”.40

2.3 Autonomia

Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele
mencionado. Isso já vimos! Segundo o princípio da autonomia, quando um único título documenta mais de uma
obrigação, a eventual invalidade de qualquer delas não prejudica as demais.

Estabelece a doutrina:

(...) Por esse princípio, entende-se que o título de crédito configura documento
constitutivo de direito novo, autônomo, originário e completamente desvinculado da
relação que lhe deu origem. Assim, as relações jurídicas representadas num determinado
título de crédito são autônomas e independentes entre si, razão pela qual o vício que
atinge uma delas, por exemplo, não contamina a(s) outra(s). Melhor dizendo: o legítimo
portador do título pode exercer seu direito de crédito sem depender das demais relações
que o antecederam, estando completamente imune aos vícios ou defeitos que
eventualmente as acometeram.41

38 Idem, p. 490.
39 Ramos, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2017, p. 533.
40 Ramos, André Luiz Santa Cruz Direito empresarial: volume único/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São

Paulo: MÉTODO, 2020, p. 879.


41 Ramos, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São

Paulo: MÉTODO, 2020, p. 879.

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Por fim, pessoal, vocês precisam saber que decorrentes do princípio da autonomia (visto acima), há dois
outros importantes princípios – ou subprincípios, como preferem alguns autores, uma vez que não trazem
nenhuma ideia nova em relação à autonomia, mas apenas uma outra forma de se encarar este princípio 42.

Alerta André Luiz Santa Cruz (2017, p. 549/550) 43, que se trata dos subprincípios da abstração e da
inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé.

Segundo o subprincípio da abstração, pontua o autor:

“Entende-se que quando o título circula, ele se desvincula da relação que lhe deu origem.
Assim, no exemplo dado anteriormente, quando “B” endossou o título para “C”, fazendo-
o circular, tal título se desvinculou da operação que lhe deu origem – a compra e venda
do carro. A abstração significa, portanto, a completa desvinculação do título em relação
à causa que originou sua emissão.”

Quanto ao princípio da inoponibilidade das exceções44 pessoais ao terceiro de boa-fé, esclarece Santa
Cruz45:

(...) Nada mais é do que a manifestação processual do princípio da autonomia. Assim,


ainda utilizando o exemplo acima mencionado, se “A”, procurado por “C”, não paga a
dívida constante do título, “C” poderá executar “A”, e este, ao apresentar os embargos,
não poderá opor o vício existente na relação originária, travada entre “A” e “B”. Com
efeito, os vícios relativos à relação que originou o título são oponíveis apenas contra “B”,
mas não contra “C”, terceiro de boa-fé que recebeu o título legitimamente. Afinal, em
função do princípio da autonomia, o portador legítimo do título de crédito exerce um
direito próprio e autônomo, desvinculado das relações jurídicas antecedentes, por força
do subprincípio da abstração. Sendo assim, o portador do título não pode ser atingido
por defesas relativas a negócio do qual ele não participou. O título chega a ele
completamente livre dos vícios que eventualmente adquiriu em relações pretéritas.

Em resumo sobre o que estudamos, temos o seguinte:

PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

1 - CARTULARIDADE46 É necessária a apresentação do título para exercer o direito nele contido. Quando
(DOCUMENTO houver a transferência do crédito é preciso que haja a tradição (transferência) do
NECESSÁRIO) título.
2 - LITERALIDADE Só é exigível aquilo que está contido expressamente no título.
Significa que cada pessoa que se comprometer no título assume uma obrigação,
independente das obrigações pelos outros assumidas, não existindo vinculação das
3 - AUTONOMIA
obrigações. Conforme doutrina, se subdivide em: abstração e inoponibilidade das
exceções pessoais, que veremos abaixo.
Se caracteriza pela desvinculação do título de crédito ao negócio jurídico que o
3.1 - ABSTRAÇÃO originou. Portanto, caso haja algum vício na relação jurídica que gerou a emissão
do título de crédito, não poderá tal vício contaminá-lo.

42 André Luiz Santa Cruz, 2017, p. 549/550.


43 Direito empresarial/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
44 Gente, a expressão exceção é utilizada em seu sentido técnico-processual, significando defesa.
45 Idem, 551.
46 Embora exista o princípio da cartularidade, deve-se destacar que atualmente, com a expansão do mundo digital, há os chamados títulos

de crédito eletrônicos, o que a doutrina chama de “desmaterialização” dos títulos de crédito.

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Ao credor de boa-fé não se poderá opor exceções pessoais que o devedor possua
3.2 - INOPONIBILIDADE
em face do credor originário. Uma vez que o título tenha circulado adequadamente,
DAS EXCEÇÕES PESSOAIS
e o credor esteja de boa-fé, o devedor deve cumprir com a obrigação.

Outras informações importantes acerca dos títulos de crédito:

• São bens móveis;


• São títulos executivos extrajudiciais;
• São documentos formais;
• São títulos de apresentação.

3. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

QUANTO À TRANSFERÊNCIA
Há a transferência com a simples tradição do título; portanto, aquele que tem a posse deste é
considerado como credor, mesmo sem qualquer identificação nominal. Em regra, não são
3.1 AO
admitidos os títulos ao portador no ordenamento jurídico brasileiro, conforme dispõe o art. 907
PORTADOR
do CC: é nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial.
É feita a identificação do credor no título, de modo que a mera tradição não transfere o crédito.
3.2 NOMINAIS Aqui conhecemos um instituto bastante importante e conhecido no direito cambial, o endosso.
É por meio deste que é feita a transferência dos títulos nominais à ordem.

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: “Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a
excludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de termos e
formalidades prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações”. 47

Gente, há uma classificação feita quanto à forma como é realizada a transferência dos títulos de crédito.
Vamos entender?

3.3 CLÁUSULA À ORDEM 3.4 CLÁUSULA NÃO À ORDEM


É a regra nos títulos de crédito, uma vez que a Como foi dito, a regra é que os títulos sejam nominais à
cláusula à ordem se refere à possibilidade de o ordem (transferência por endosso). No entanto, é
título ser transferido por meio de endosso, possível a previsão da chamada cláusula não à ordem,
facilitando sua circulação. quando a transferência ocorrerá por meio de cessão de
crédito.
Com o endosso, a responsabilidade do crédito Com a cessão de crédito, a responsabilidade do cedente
permanece (embora diluída) com aquele que se restringe às hipóteses de inexistência do crédito (pro
realizou a transferência, chamado de endossante, soluto).
uma vez que será codevedor do respectivo crédito
(pro solvendo).

Para entender tudo, vamos de mais uma tabela????

3.5 ENDOSSO 3.6 CESSÃO DE CRÉDITO


• Tem dois efeitos: transferir a titularidade do • Títulos nominais não à ordem;
crédito e responsabilizar o endossante como • Trata-se de um contrato (negócio jurídico,
codevedor; portanto);
• Títulos nominais à ordem;

47 CORRETO. Art. 890 do CC/02. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a excludente de
responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de termos e formalidade prescritas, e a que, além dos
limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações.

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• É um ato unilateral;
• Não é possível o endosso parcial;
• É possível a realização de vários endossos,
sem limite;
• A assinatura do endossante deve ser feita no
verso do título;
• Excepcionalmente, pode ser feito no anverso,
desde que, conste que se trata de endosso,
junto com a assinatura do endossante;

ENDOSSO EM BRANCO E EM PRETO: você sabia que o endosso pode ser em branco ou em preto? Pois é. Segundo
o escólio de André Luiz Santa cruz, “o endosso em branco é aquele que não identifica o seu beneficiário, chamado
de endossatário. Nesse caso, simplesmente o endossante assina no verso do título, sem identificar a quem está
endossando, o que acaba, na prática, permitindo que o título circule ao portador, ou seja, pela mera tradição da
cártula. O beneficiário de endosso em branco pode, então, tomar basicamente três atitudes: (i) transformá-lo em
endosso em preto, completando-o com o seu nome ou de terceiro; (ii) endossar novamente o título, em branco ou
em preto; ou (iii) transferir o título sem praticar novo endosso, ou seja, pela mera tradição da cártula (art. 14 da Lei
Uniforme e art. 913 do Código Civil). O endosso em preto, por sua vez, é aquele que identifica expressamente a
quem está sendo transferida a titularidade do crédito, ou seja, o endossatário. Assim, só poderá circular novamente
por meio de um novo endosso, que poderá ser em branco ou em preto. Nesse caso, pois, o endossatário, ao
recolocar o título em circulação, assumirá a responsabilidade pelo adimplemento da dívida, uma vez que deverá
praticar novo endosso”.

Em resumo:

3.7 ENDOSSO EM BRANCO 3.8 ENDOSSO EM PRETO


O endosso em branco é aquele que não identifica o O endosso em preto, ao contrário do em branco, é aquele
seu beneficiário. que identifica expressamente a quem está sendo
transferida a titularidade do crédito.

É bom saber que a doutrina também aponta a distinção entre endosso próprio e impróprio.

O endosso próprio é aquele que produz normalmente os seus efeitos, isto é: 1) a transferência da
titularidade do crédito e 2) a responsabilização do endossante como codevedor.

No entanto, no impróprio o endosso não produz esses efeitos. Isso porque “o endosso impróprio tem a
finalidade apenas de legitimar a posse de alguém sobre o título, permitindo-lhe, assim, o exercício dos direitos
representados na cártula”48. A doutrina divide o endosso impróprio em duas modalidades diferentes: a) endosso-
caução; e b) endosso-mandato.

48Ramos, André Luiz Santa Cruz Direito empresarial: volume único/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020, p. 948.

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Endosso

Próprio Impróprio

Em Endosso- Endosso-
Em preto
branco caução mandato

Como vocês podem perceber da leitura do organograma acima, no endosso próprio (seja em branco ou
em preto) há a produção dos efeitos normais (que são aqueles vistos acima). No endosso impróprio não, e há duas
modalidades, as quais veremos agora.

3.9 ENDOSSO-CAUÇÃO 3.10 ENDOSSO-MANDATO


O endosso-caução é também chamado pela É chamado também de endosso-procuração, tendo
doutrina de endosso-pignoratício ou de endosso- previsão no art. 18 da Lei Uniforme e no art. 917 do
garantia, estando previsto no art. 19 da Lei Uniforme Código Civil.
e no art. 918 do Código Civil.
Segundo a doutrina, “por meio dele, o endossante
Segundo André Luiz Santa Cruz (2020, p. 950/951), confere poderes ao endossatário – por exemplo, uma
“caracteriza-se quando o endossante transmite o instituição financeira – para agir como seu legítimo
título como forma de garantia de uma dívida representante, exercendo em nome daquele os direitos
contraída perante o endossatário. Nesse caso, o constantes do título, podendo cobrá-lo, protestá-lo,
endosso-caução é feito com o uso das expressões executá-lo etc. Faz-se o endosso-mandato, segundo a Lei
“valor em garantia”, “valor em penhor” ou outra que Uniforme, mediante a colocação, junto ao endosso, das
implique uma caução. Havendo o endosso-caução, o expressões “para cobrança”, “valor a cobrar” ou “por
endossatário não assume a titularidade do crédito, procuração”.” (SANTA CRUZ, 2020, p. 948/949).
ficando o título em sua posse apenas como forma de
garantia da dívida que o endossante contraiu Enunciado 476 da Súmula do STJ: “O endossatário de
perante ele. Caso o endossante pague a dívida título de crédito por endosso-mandato só responde por
contraída, portanto, resgata o título; caso, todavia, a danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os
dívida não seja honrada, o endossatário poderá poderes de mandatário”.
executar a garantia e passar, então, a possuir a
titularidade plena do crédito”.

Além disso, existem outros dois institutos bastante parecidos e que podem ser usados pelo examinador
para te confundir na sua prova: a) fiador e b) avalista.

Você já ouviu falar que fulano é avalista ou fiador de um parente, mas nunca entendeu o que isso quer
dizer e qual a diferença entre os dois?

Vamos destrinchar tudo para vocês, pessoal!

Primeiro temos que saber que ambos são tipos de garantias fidejussórias, ou seja, são espécies de garantias
em que alguém (avalista e fiador) assegura o cumprimento de uma obrigação, caso o devedor principal não o faça.

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O avalista e o fiador responderão, nesses casos, com o seu patrimônio - e não com um bem específico, por isso são
também chamadas de garantias pessoais.

Dito isto, vamos entender as principais diferenças entre uma e outra:

3.11 AVAL 3.12 FIANÇA


• Instituto do Direito Cambial; • Instituto do Direito Civil;
• Autônomo; • Segue o princípio da gravitação jurídica (o acessório
• Deve ser feito no próprio título; segue o principal);
• Não há benefício de ordem. • Pode ser feito fora do título, em instrumento
distinto;
• Há benefício de ordem.

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: “O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma
determinada, não admite garantia por aval, embora possa ser concedido aval parcial”. 49

QUANTO AO MODELO
Não há forma pré-estabelecida para a sua emissão, ou seja, não existe um padrão obrigatório.
3.13 LIVRE
Ex.: letra de câmbio e nota promissória.
3.14 A sua emissão é feita através de um padrão pré-estabelecido, específico, um padrão
VINCULADO obrigatório. Ex.: cheque.

QUANTO À ESTRUTURA
Existem três “pessoas” que configuram três situações jurídicas diferentes:
SACADOR: aquele que emite o título.
SACADO: em face de quem o título é emitido.
TOMADOR: quem irá receber o crédito respectivo.
3.15 ORDEM DE
PAGAMENTO Ex.: letra de câmbio e cheque.

Da para visualizar bem como funciona a ordem de pagamento imaginando a emissão de


um cheque: aquele que emite o cheque é o sacador, já o banco é o sacado e o tomador
é o destinatário do cheque.
Nessas hipóteses é possível encontrar apenas duas figuras, que configuram duas
3.16 PROMESSA DE
situações jurídicas distintas: sacador (aquele que emite o título) e tomador (quem
PAGAMENTO
receberá o crédito).

QUANTO ÀS HIPÓTESES DE EMISSÃO


Há situações específicas nas quais são admitidas por lei para a sua emissão do título. Ex.:
3.17 CAUSAIS
duplicata, que só pode ser utilizada em compras mercantis ou para prestação de serviços.
3.18 NÃO
Pode ser emitido em qualquer situação.
CAUSAIS

Veja a tabela feita por André Luiz Santa Cruz (2017, p. 554)50 que resumo tudo que foi dito.

49 ERRADO. Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval.
50 Direito empresarial/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

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4. TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE

Agora veremos os aspectos mais importantes sobre os títulos de crédito, entre eles: a) cheque; b) letra de
câmbio, c) nota promissória; d) duplicata.

Vamos começar pelo cheque.

4.1 CHEQUE

CHEQUE
o Trata-se de uma ordem de pagamento à vista feita em face de um banco. Por isso, envolve três figuras:
sacador (quem emite o título), sacado (aquele para quem se destina a ordem) e tomador (o beneficiário).

o Embora o cheque seja ordem de pagamento à vista, entende-se que é possível o acordo entre as partes
para a apresentação de cheque pré-datado. Por isso o STJ editou o Enunciado de Súmula 370:
Caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado.

o Deve ser preenchido o local de emissão do título, para saber qual a praça e os respectivos prazos de
apresentação51:

o A prescrição do cheque ocorrerá dentro de 6 meses a partir de expirado o prazo de apresentação do


cheque;

o Deve haver a menção expressa do valor a ser pago, tanto por números quanto por extenso. Caso haja
divergência entre um e outro, prevalecerá o que estiver disposto por extenso;

o Enunciado de Súmula 503 do STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de
cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na
cártula;

Vamos entender as modalidades específicas do cheque segundo André Luiz Santa Cruz52.

“Cheque cruzado: Previsto nos arts. 44 e 45 da Lei do Cheque. É muito utilizado na praxe
comercial. O cruzamento consiste na aposição de dois traços transversais e paralelos no
anverso do título, e tem por objetivo conferir segurança à liquidação de cheques ao

51 O prazo de apresentação vai influenciar na possibilidade de cobrar ou não de eventuais codevedores do título.
52 Idem, p. 576/577.

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portador. Isso porque ao ser feito o cruzamento o cheque só pode ser pago a um banco
ou a um cliente do banco, mediante crédito em conta, o que evita, consequentemente,
o seu desconto na boca do caixa.

Cheque visado: Previsto no art. 7º da Lei do Cheque. É aquele em que o banco confirma,
mediante assinatura no verso do título, a existência de fundos suficientes para
pagamento do valor mencionado. Segundo a lei, somente pode receber o visto do banco
o cheque nominativo que ainda não tiver sido endossado.

Cheque administrativo (art. 9º, inciso III, da Lei do Cheque). É aquele emitido por um
banco contra ele mesmo, para ser liquidado em uma de suas agências. O banco, portanto,
é ao mesmo tempo emitente e sacado. O cheque administrativo tem exercido uma
importante função no mercado, a de conferir segurança a operações com valores altos:
primeiro, porque dispensa o pagador de movimentar o alto valor em papel-moeda;
segundo, porque o recebedor tem a certeza quase absoluta de que o título será honrado.
Afinal, o cheque está sendo emitido por um banco, razão pela qual a chance de esse título
não ser descontado por insuficiência de fundos é praticamente igual a zero.

Cheque para ser creditado em conta (art. 46 da Lei do Cheque), é aquele que o sacado
não pode pagar em dinheiro, por expressa proibição colocada no anverso do título pelo
próprio emitente, consistente na colocação da expressão “para ser creditado em conta”
(como manda a lei) ou da menção ao número da conta do beneficiário entre os traços do
cruzamento (como é feito na prática). Nesse caso, o banco sacado deve proceder ao
pagamento do cheque por meio de lançamento contábil (crédito em conta, transferência
ou compensação).”

Sobre o cheque, temos os seguintes personagens53:

a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;


b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele que tem o direito de
portador): receber o valor escrito no cheque.

O que é o prazo de apresentação?

Segundo Márcio Cavalcante54, “é o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco
sacado, a fim de receber o valor determinado na cártula. Ex.: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O
prazo de apresentação é o tempo que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e receber o valor.”

De quanto é o prazo de apresentação?

Entenda na tabela abaixo feita por Márcio Cavalcante55:

53 Disponível em: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/01/info-658-stj.pdf. Acesso em: 28/04/2021.


54 Disponível em: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/01/info-658-stj.pdf. Acesso em: 28/04/2021.
55 Disponível em: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/01/info-658-stj.pdf. Acesso em: 28/04/2021.

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30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do pagamento Se o cheque for de praça diferente (município onde
(município onde foi assinado é o município da agência foi assinado é diferente do município da agência
pagadora). pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da emissão do cheque O prazo será de 60 dias se o local da emissão do
(preenchido pelo emitente) for o mesmo lugar do cheque (preenchido pelo emitente) for diferente do
pagamento (local da agência pagadora impressa no lugar do pagamento (local da agência pagadora
cheque). Nesse caso, diz-se que o cheque é da mesma impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o
praça (mesmo município). cheque é de outra praça.

Ex.: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o Ex.: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP),
emitente datou e assinou São Paulo (SP) como local da o emitente datou e assinou Manaus (AM) como local
emissão. da emissão.

Para que serve esse prazo?

A doutrina56 lembra três finalidades:

“1) o fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução


do cheque.

2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento


dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o direito
de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente do cheque e seus
avalistas. Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda
que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação
cambiária.

3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa
de pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos
disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável (art. 47, § 3o, da Lei n. 7.357/85).”

JULGADO IMPORTANTE: É possível a oposição de exceção pessoal ao portador de cheque prescrito. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.669.968-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/10/2019 (Info 658).

CAIU NA DPE-MA-2018-FCC: “De acordo com a jurisprudência consolidada do STJ a respeito do cheque, o prazo
para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar
do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula”57.

4.2 LETRA DE CÂMBIO

É espécie de ordem de pagamento, assim como o cheque, e por isso envolve três figuras: 1) sacador (quem
emite o título), 2) sacado (aquele para quem se destina a ordem) e 3) tomador (o beneficiário).

Lembra André Luiz Santa Cruz Ramos (2020, p. 888) que “a letra de câmbio é considerada pelos
doutrinadores como o título mais apropriado para servir de referência no estudo da teoria geral dos atos cambiários,

56Disponível em: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/01/info-658-stj.pdf. Acesso em: 28/04/2021.


57CORRETO. Súmula 503 – STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é
quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula.

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em razão de sua estrutura permitir, com mais facilidade, o exame dos aspectos mais relevantes relacionados à
constituição e à exigibilidade do crédito cambial.”58
Alguns autores afirmam que a letra de câmbio não teria tido aceitação no Brasil por possuir uma sistemática
interessante: é emitida por alguém para que outro aceite e pague. Enfim, é um título de crédito que depende
sobremaneira da boa-fé.59

A letra de câmbio deve ser emitida preenchendo os seus requisitos essenciais, estabelecidos na legislação
(arts. 1º e 2º da Lei Uniforme):

a) a expressão letra de câmbio (cláusula cambiária);


b) uma ordem incondicional para pagamento de quantia determinada;
c) o nome do sacado;
d) o nome do tomador;
e) a assinatura do sacador;
f) a data do saque;
g) o lugar do pagamento ou a menção de um lugar junto ao nome do sacado;
h) o lugar do saque ou a menção de um lugar junto ao nome do sacador.

Podemos trazer as seguintes informações relevantes sobre a letra de câmbio:

• O título será levado até o sacado para que seja realizado o aceite. O mesmo não
tem a obrigação de aceitar, mas caso o faça, se tornará devedor principal do título;

• Uma vez realizado o aceite, este é irretratável;

• Se não for realizado o aceite, haverá a antecipação do vencimento do título. O


sacador pode acrescentar “cláusula não aceitável”, que impedirá o vencimento
antecipado da letra de câmbio caso não seja aceita pelo sacado;

• Pode haver o chamado “prazo de respiro”, quando o sacado pede que a letra seja
apresentada novamente em um prazo de 24 horas.

Prazos prescricionais:

03 ANOS DO VENCIMENTO Contra o devedor principal


01 ANO DA DATA DO PROTESTO Contra os codevedores
06 MESES DO DIA DO PAGAMENTO Regresso contra codevedores

SE LIGA, ALUN@ RDP: em relação ao protesto, atentem-se para o fato de que existe o chamado protesto
OBRIGATÓRIO e o protesto FACULTATIVO.

Na primeira modalidade (protesto obrigatório), este é tido como sendo necessário por trazer a possibilidade
de cobrança contra codevedores do título de crédito.

Por outro lado, o protesto será facultativo se for realizado em face do devedor principal, eis que objetiva, tão
somente, a caracterizar a impontualidade do pagamento, com todas as consequências advindas dessa
situação.

58 Ramos, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020, p. 888.
59 Ramos, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020, p. 888.

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Frisa-se que parte da doutrina entende que, a rigor, todo protesto é facultativo. Isso porque se o credor não
protestou o título, o fez porque não quis e a única consequência disso é que, a depender do caso concreto,
perderá o direito de cobrança (como no caso contra codevedores).

AÇÃO CAMBIÁRIA: nada mais é que uma ação executiva típica. Seu objetivo é a cobrança do título cambiário, como,
por exemplo, a letra de câmbio.

AÇÃO EXTRACAMBIAL: Segundo Fábio Ulhoa Coelho, prescrita a execução, ninguém poderá ser acionado em
virtude da letra de câmbio, por exemplo. No entanto, se a obrigação que se encontrava representada pelo título
de crédito tinha origem extracambial, seu devedor poderá ser demandado por ação de conhecimento (Dec. nº
2.044/08, art. 48) ou por monitória, nas quais a letra serve, apenas, como elemento probatório.60

Por fim, segundo o STJ, na letra de câmbio não aceita, não há obrigação cambial que vincule o sacado, e
assim, o sacador somente tem ação extracambial contra o sacado não aceitante, cujo prazo prescricional não sofre
as interferências do protesto do título de crédito. REsp 1.748.779-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
por unanimidade, julgado em 19/05/2020, DJe 25/05/2020.

Trago abaixo o resumo do Inf. 672 que tratou sobre o tema:

“Cinge-se a discussão a determinar se o protesto da letra não aceita e que não circula
tem o condão de interromper o prazo prescricional da dívida que serviu de causa
subjacente para a emissão do título de crédito. Entre os efeitos do protesto, o Código
Civil prevê, em seu art. 202, III, a possibilidade de que o protesto cambial interrompa a
prescrição. É necessário, no entanto, estabelecer o efetivo alcance dessa disposição do
diploma material civil, a fim de se afastar equívocos interpretativos que poderiam
conduzir a efeitos indesejados pela norma. Deve-se entender que a prescrição
interrompida pelo protesto cambial se refere, conforme aduz a doutrina, única e
exclusivamente à "ação cambiária, regra que se aplica por não existir na legislação
cambiária norma sobre a matéria", e, ademais, somente tem em mira a pretensão dirigida
ao responsável principal e, eventualmente, aos devedores indiretos do título, entre os
quais não se enquadra o sacado não aceitante. De fato, por força do princípio da
autonomia das relações cambiais – segundo o qual a relação jurídica causal que enseja a
emissão do título e a relação cambiária são completamente distintas, não estando, nos
termos da doutrina, "o cumprimento das obrigações assumidas por alguém no título
vinculado a outra obrigação qualquer, mesmo ao negócio que deu lugar ao nascimento
do título", a interrupção da prescrição deve atingir unicamente a ação cambiária. Dessa
forma, na letra de câmbio não aceita, não há obrigação cambial que vincule o sacado e,
assim, o sacador somente tem ação extracambial contra o sacado não aceitante, cujo
prazo prescricional não sofre as interferências do protesto do título de crédito. Ademais,
o prazo prescricional da ação cambial interrompida pelo protesto se refere àquela que
pode ser exercitada pelo portador contra o responsável principal e os devedores
indiretos. Isso é, por sua vez, decorrência da leitura do art. 70 da Lei Uniforme de
Genebra, que é regra especial em relação ao Código Civil quanto ao tema e que
estabelece, em seu caput, o prazo de 3 anos para a ação contra o aceitante e, em sua
alínea primeira, o prazo de um ano para as ações do portador contra os endossantes e
contra o sacador, a contar da data do protesto feito em tempo útil, e do art. 71 do
referido diploma legislativo, segundo o qual "a interrupção da prescrição só produz efeito
em relação à pessoa para quem a interrupção foi feita". Portanto, nas letras de câmbio
sacadas na vigência do Código Civil/2002 e nas quais não tenha havido aceite pelo sacado,

60 Coelho, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa/Fábio Ulhoa Coelho. — 16. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012.
1, p. 553.

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seu protesto somente produz efeito interruptivo sobre o prazo prescricional sobre as
ações cambiárias do portador sobre o aceitante ou sobre o sacador e os demais
devedores indiretos, na hipótese de ter ocorrido sua circulação.”

4.3 NOTA PROMISSÓRIA

É espécie de promessa de pagamento, por isso envolve duas figuras: o sacador (aquele que emite o título
de crédito) e o tomador (o beneficiário). É aplicado o regime jurídico da letra de câmbio, exceto no que lhe for
incompatível.

Para que não haja confusão entre os dois títulos de crédito, vejam as ponderações do professor André
Santa Cruz61:

(...) A letra de câmbio é uma ordem de pagamento, enquanto a nota promissória é uma
promessa de pagamento. Sendo assim, são inaplicáveis às notas promissórias as regras
sobre aceite (cláusula não aceitável, prazo de respiro, vencimento antecipado por recusa
do aceite, entre outras). Por essa razão, pode-se pensar que a nota promissória poderia
ser sacada com dia certo, à vista e a certo termo da data, mas não poderia ser sacada a
certo termo da vista, justamente por não depender de aceite. Ocorre que a própria Lei
Uniforme admite, em seu art. 78, a emissão de nota promissória a certo termo da vista,
caso em que o título deverá ser levado ao visto do subscritor no prazo de um ano a contar
do saque da nota. Após o visto do subscritor, começará então a correr um certo prazo, já
estipulado desde a emissão, após o qual considera-se vencido o título.

Enunciados de Súmula importantes sobre nota promissória:

ANOTA AÍ ESSES ENUNCIADOS


Enunciado de Súmula 258 do STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de
autonomia em razão da iliquidez do título que a originou;

Enunciado de Súmula 504 do STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota
promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte do vencimento do título.

Não podemos esquecer da Súmula 60 do STJ, que traz a chamada “cláusula-mandato”:

Súmula 60-STJ: “É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no
exclusivo interesse deste”.

Segundo a doutrina de André Luiz Santa Cruz:

“Tal enunciado sumular se refere à chamada cláusula-mandato, a qual era comumente


colocada em contratos bancários, constituindo a própria instituição financeira, ou às
vezes uma empresa coligada a ela, como procuradora do cliente contratante. Assim, em
caso de inadimplemento da obrigação contratual, o banco ou a sua coligada, conforme o
caso, emitia um título de crédito (nota promissória) em seu próprio favor, no valor da
dívida, na condição de mandatária do cliente devedor. Com isso, estaria sanado o
problema da eventual iliquidez. O entendimento consolidado pelo STJ na sua Súmula 60,
transcrita acima, foi firmado, sobretudo, com base na interpretação do art. 51, inciso VIII,
do Código de Defesa do Consumidor, segundo o qual são nulas de pleno direito as

61 Direito empresarial/André Luiz Santa Cruz Ramos. – 7º ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017, p. 562.

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cláusulas contratuais que “imponham representante para concluir ou realizar outro


negócio jurídico pelo consumidor”.”

CAIU NA DPE-AC-2017-CESPE: “A referida nota é uma promessa de pagamento” 62.

4.4 DUPLICATA

A duplicata é um exemplo de título causal, visto que só pode ser emitida nas hipóteses de prestação de
serviços e compra e venda mercantil. Destacamos aqui alguns prazos prescricionais que podem aparecer na sua
prova:

01 (UM) ANO Contra codevedores e seus avalistas


01 (UM) ANO Contra codevedores
03 (TRÊS) ANOS Contra devedor principal e seus avalistas

CAIU NA DPE-AP-2018-FCC: “No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação
como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque
do vendedor pela importância faturada ao comprador”.63

CAIU NA DPE-AP-2018-FCC: “A venda mercantil para pagamento contra a entrega da mercadoria ou do


conhecimento de transporte, sejam ou não da mesma praça vendedor e comprador, ou para pagamento em prazo
inferior a trinta dias, contado da entrega ou despacho das mercadorias, poderá representar-se por duplicata, em
que se declarará que o pagamento será feito nessas condições”.64

4.4.1 DUPLICATA VIRTUAL


Por fim, registrem em seus cadernos que a Lei nº 13.775/2018 passou a prever a possibilidade de emissão da
duplicata virtual, ou como é chamada pela lei, duplicata escritural, que ocorrerá por intermédio de sistema
eletrônico.

62 CORRETO.
63 CORRETO.
64 CORRETO.

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3. Arrendamento mercantil: evolução histórica, conceito, elementos do contrato, obrigações dos sujeitos,
modalidades, revisão e cláusulas abusivas (...)

CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL

André Santa Cruz traz, em sua obra sobre Direito Empresarial, a exata conceituação do contrato de
arrendamento mercantil (também chamado de leasing).

Nesse sentido o escólio do professor:

“Pode-se definir o contrato de arrendamento mercantil, também chamado de leasing,


como um contrato especial de locação que assegura ao locatário a prerrogativa de
adquirir o bem alugado ao final da avença, pagando, nesse caso, uma diferença chamada
de valor residual.

(...) Em síntese: o leasing ou arrendamento mercantil é um contrato de locação em que


se asseguram ao arrendatário três opções ao final do aluguel: (i) renovar a locação; (ii)
encerrar o contrato, não mais renovando a locação; (iii) comprar o bem alugado,
pagando--se o valor residual.

(...) O leasing pode ter por objeto tanto bens móveis quanto bens imóveis, e esses bens
podem ser de fabricação nacional ou estrangeira, desde que autorizados pelo Conselho
Monetário Nacional, nos termos do art. 10 da Lei 6.099/1974” (2020, p. 1.122/24). 65

No contrato de leasing, há a locação de um bem (móvel ou imóvel), com a possibilidade (e não o dever) de
que aquele bem seja adquirido ao final do contrato, desde que haja o pagamento de uma diferença, chamada de
valor residual.

A doutrina sustenta a existência de pelo menos duas espécies de leasing: (i) financeiro e (ii) operacional.

A diferença básica entre o leasing financeiro e o operacional é que no leasing financeiro o bem arrendado
não pertence à arrendadora, mas é indicado pelo arrendatário. Por outro lado, no leasing operacional, o bem
arrendado já é da arrendadora, que então apenas o aluga ao arrendatário, sem ter o custo inicial de aquisição do
bem, comprometendo-se também a prestar assistência técnica, consoante estabelece a doutrina:

“(...) O leasing financeiro é a modalidade típica de arrendamento mercantil, em que o


bem arrendado não pertence à arrendadora, mas é indicado pelo arrendatário. Ela então
deverá adquirir o bem indicado para depois alugá-lo ao arrendatário. Veja-se que nessa
espécie de leasing, como a arrendadora tem um alto custo inicial, em razão da
necessidade de adquirir o bem indicado pelo arrendatário, as prestações referentes ao
aluguel devem ser suficientes para a recuperação desse custo. Por isso, caso seja feita a
opção final de compra pelo arrendatário, o valor residual será de pequena monta.

O leasing operacional, por sua vez, se caracteriza pelo fato de o bem arrendado já ser da
arrendadora, que então apenas o aluga ao arrendatário, sem ter o custo inicial de
aquisição do bem, comprometendo-se também a prestar assistência técnica. Aliás,
justamente pelo fato de a arrendadora não ter esse custo inicial de aquisição do bem, no
leasing operacional a soma das prestações do aluguel não pode ultrapassar 75% do valor

65Ramos, André Luiz Santa Cruz Direito empresarial: volume único / André Luiz Santa Cruz Ramos. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020.

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do bem. Portanto, nessa modalidade de arrendamento mercantil o valor residual, em


caso de opção final de compra, geralmente é alto.” (2020, p. 1.124). 66

A título de conhecimento, a doutrina traz também outra modalidade específica de leasing, chamada de
lease back ou leasing de retorno.

“(...) Neste, o bem arrendado era de propriedade do arrendatário, que o vende à


arrendadora para depois arrendá-lo, podendo, obviamente, readquirir o bem ao final do
contrato, caso se utilize da opção de compra pagando o valor residual”. (2020, p. 1.124).

Por fim, saibam que o contrato de leasing tem diferença significativa com o de alienação fiduciária em
garantia.

Primeiro ponto é que o leasing é, na verdade, uma locação, havendo a possibilidade (como vimos, e não o
dever) de compra ao final. Pode acontecer, por exemplo, do arrendatário não querer adquirir o bem.

Por outro lado, o contrato de alienação fiduciária em garantia é um contrato de aquisição de um bem,
porque de fato ele instrumentaliza uma venda. Quanto à forma de cobrança do devedor em caso de
inadimplemento, no caso do leasing utiliza-se de uma ação de reintegração de posse, no contrato de alienação
fiduciária, a ação é a busca e apreensão. Veja, portanto, que há significativas diferenças entre o contrato de leasing
e o de alienação fiduciária em garantia.

Ademais, bom saber que a Súmula 369 foi editada em 2009, e estabelece que “no contrato de
arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do
arrendatário para constituí-lo em mora”.

66Ramos, André Luiz Santa Cruz Direito empresarial: volume único / André Luiz Santa Cruz Ramos. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020.

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4. Jurisprudência dos Tribunais Superiores na matéria constante do programa de Direito Empresarial.

Abaixo, traremos as súmulas e informativos mais importantes relativos ao programa de Direito Empresarial do
nosso edital da DPE/GO, extraído do site www.buscadordizerodireito.com

TÍTULOS DE CRÉDITOS

O ajuizamento da ação de busca e apreensão, com a citação válida do devedor, interrompe o prazo prescricional
para propor a execução lastreada em cédula de crédito comercial.

O ajuizamento da ação de busca e apreensão fundada no inadimplemento da cédula de crédito comercial garantida
por alienação fiduciária, com a citação válida do devedor, interrompe o prazo para propor ação de execução com
base no mesmo título de crédito. STJ. 4ª Turma. REsp 1135682-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
13/04/2021 (Info 692).

É possível a oposição de exceção pessoal ao portador de cheque prescrito

O cheque é um título de crédito. Logo, submete-se aos princípios da literalidade, da abstração, da autonomia das
obrigações cambiais. Uma das decorrências da autonomia é o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais
ao terceiro de boa-fé, consagrado pelo art. 25 da Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85): Art. 25. Quem for demandado
por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o
emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do
devedor. Assim, em regra, o emitente do cheque não pode invocar exceções pessoais contra o terceiro de boa-fé
que recebeu o título. Ex: o emitente não pode deixar de pagar ao terceiro de boa-fé que recebeu o cheque por
endosso alegando que o endossatário (destinatário original do cheque) não cumpriu sua obrigação contratual. Essa
regra, contudo, não se aplica no caso de cheque prescrito. É possível a oposição de exceção pessoal ao portador
de cheque prescrito. Isso porque se o cheque está prescrito, ele perde as suas características cambiárias, tais quais
a autonomia, a independência e a abstração. Assim, como o cheque prescrito perde a autonomia, não se aplica
mais o conhecido princípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé previsto no art. 25 da
Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85). STJ. 3ª Turma. REsp 1669968-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/10/2019
(Info 658).

O dever de garantia do emitente do cheque, previsto no art. 15 da Lei nº 7.357/85, não pode ser afastado com
fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva

O emitente garante o pagamento do valor contido no cheque, considerando-se não escrita a declaração pela qual
se exima dessa garantia (art. 15 da Lei nº 7.357/85). Esse dever de garantia do emitente do cheque não poder ser
afastado com fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva. Não há lacuna neste caso. Na ausência
de lacuna, não cabe ao julgador se valer de um costume para afastar a aplicação da lei, sob pena de ofensa ao art.
4º da LINDB. De igual modo, a flexibilização do art. 15 da Lei nº 7.357/85, sob o argumento do princípio da boa-fé
objetiva, não tem o condão de excluir o dever de garantia do emitente do cheque, sob pena de se comprometer a
segurança na tutela do crédito, pilar fundamental das relações jurídicas dessa natureza. STJ. 3ª Turma. REsp
1787274/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647).

Súmula 475-STJ: Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso
translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de
regresso contra os endossantes e avalistas. • Aprovada em 13/06/2012, DJe 19/06/2012.

Súmula 476-STJ: O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de
protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário. • Aprovada em 13/06/2012, DJe 19/06/2012.

APOSTILA ÚNICA| RETA FINAL - DPE/GO 51


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CURSO RDP
EMPRESARIAL

Súmula 299-STJ: É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito. • Aprovada em 18/10/2004, DJ
22/11/2004.

Súmula 189-STF: Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos.

Súmula 387-STF: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de
boa-fé antes da cobrança ou do protesto

Súmula 60-STJ: É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no
exclusivo interesse deste.

Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao
sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.

Súmula 26-STJ: O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações
pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário.

Súmula 93-STJ: A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização
de juros.

Súmula 370-STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.

Súmula 503-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva
é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula.

Súmula 531-STJ: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a
menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.

Súmula 504-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força
executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.

Local onde deverá ser realizado o protesto de cédula de crédito bancário garantida por alienação fiduciária

É possível, à escolha do credor, o protesto de cédula de crédito bancário garantida por alienação fiduciária, no
tabelionato em que se situa a praça de pagamento indicada no título ou no domicílio do devedor. STJ. 2ª Seção.
REsp 1398356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579).

Execução de duplicata virtual


É possível o ajuizamento de execução de duplicata virtual, desde que devidamente acompanhada dos instrumentos
de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria e da prestação do serviço. STJ. 3ª Turma.
AgRg no REsp 1559824/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 03/12/2015.

Devolução de cheque sem provisão de fundos e responsabilidade civil de instituição bancária


O banco sacado não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação ajuizada com o objetivo de reparar os
prejuízos decorrentes da devolução de cheque sem provisão de fundos emitido por correntista. Ex: João emitiu um
cheque em favor de Paulo. Este foi até o banco tentar sacar a quantia, mas o cheque foi recusado por falta de
fundos. Paulo ajuizou ação de indenização contra o banco alegando que houve má prestação do serviço bancário.
Isso porque a instituição financeira deveria ser mais cautelosa e diligente ao fornecer talonário de cheques aos seus
clientes, verificando se são bons pagadores, se possuem renda suficiente, se já têm conta há muito tempo etc. Tal
pedido não encontra amparo na jurisprudência do STJ. STJ. 4ª Turma. REsp 1509178-SC, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 20/10/2015 (Info 574).

APOSTILA ÚNICA| RETA FINAL - DPE/GO 52


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DIREITO SOCIETÁRIO

Compete à Justiça Comum julgar a participação de trabalhadores ativos e aposentados no conselho de


administração de sociedades anônimas
Não é da Justiça do Trabalho a competência para julgar ação na qual se pede a anulação da eleição realizada para
escolher o representante dos trabalhadores no conselho de administração da sociedade anônima. STJ. 2ª Seção.CC
164709/MG, Rel. p/ acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 28/04/2021 (Info 694).

A sucessão civil e processual dos sócios de sociedade limitada, extinta por meio do distrato, poderá ser efetivada
por meio do procedimento de habilitação, mas não pela via da desconsideração da personalidade jurídica
A extinção da pessoa jurídica se equipara à morte da pessoa natural (art. 110 do CPC/2015), atraindo a sucessão
material e processual com os temperamentos próprios do tipo societário e da gradação da responsabilidade pessoal
dos sócios. Em sociedades de responsabilidade limitada, após integralizado o capital social, os sócios não
respondem com seu patrimônio pessoal pelas dívidas titularizadas pela sociedade, de modo que o deferimento da
sucessão dependerá intrinsecamente da demonstração de existência de patrimônio líquido positivo e de sua efetiva
distribuição entre seus sócios. A demonstração da existência de fundamento jurídico para a sucessão da empresa
extinta pelos seus sócios poderá ser objeto de controvérsia a ser apurada no procedimento de habilitação, que é
previsto no art. 687 do CPC/2015, aplicável por analogia à extinção de empresas no curso de processo judicial. A
desconsideração da personalidade jurídica não é, portanto, via cabível para promover a inclusão dos sócios em
demanda judicial, da qual a sociedade era parte legítima, sendo medida excepcional para os casos em que verificada
a utilização abusiva da pessoa jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp 1.784.032-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 02/04/2019 (Info 646).

Ex-sócio de sociedade limitada não é responsável por obrigação contraída após sua saída da empresa
Na hipótese de cessão de quotas sociais, a responsabilidade do cedente pelo prazo de até 2 anos após a averbação
da respectiva modificação contratual restringe-se às obrigações sociais contraídas no período em que ele ainda
ostentava a qualidade de sócio, ou seja, antes da sua retirada da sociedade. Ex: o sócio João retira-se da sociedade
e a averbação dessa alteração social é levada à Junta Comercial em 18/02/2014. Dessa última data conta-se o prazo
de 2 anos para que os credores ou a sociedade o acionem pelas obrigações contraídas até 18/02/2014. Essa é a
interpretação dos arts. 1.003, parágrafo único, 1.032 e 1.057, parágrafo único, do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp
1537521/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/02/2019.

Prescrição em caso de ação de exigir contas pelo pagamento de dividendos e outros rendimentos
A pretensão do titular de ações de exigir contas da sociedade anônima referente ao pagamento de dividendos,
juros sobre capital próprio e demais rendimentos inerentes às respectivas ações prescreve em três anos.
Fundamento: art. 287, II, “a”, da Lei nº 6.404/76. STJ. 3ª Turma. REsp 1608048-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 22/05/2018 (Info 627).

APOSTILA ÚNICA| RETA FINAL - DPE/GO 53

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