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 Organização: é a reunião dos fatores de produção,

DIREITO EMPRESARIAL como matéria prima, mão de obra, tecnologia, capital.


Ausentes os fatores de produção, não será a atividade
1. TEORIA DA EMPRESA considerada como empresária.
A teoria da empresa é inspirada no Código Civil Italiano
de 1942, visando à unificação entre o Direito Civil e  Produção ou circulação de bens ou serviços: a ati-
Empresarial. No Brasil, com o advento da Lei 10.406/02, vidade a ser desenvolvida pode ser para produção de
houve a revogação parcial do CCom/1850, permane- bens (fábrica de automóveis), produção de serviços
cendo em vigor apenas as disposições relativas ao co- (banco Itaú), circulação de bens (concessionária de au-
mércio marítimo. tomóveis) ou circulação de serviços (agência de via-
gens).
A unificação não afetou a autonomia do Direito Empre-
sarial, que continua assegurada pela CF (art. 22, I). Com Esses pressupostos previstos no art. 966, CC, são cumu-
adoção da teoria dos atos de comércio, tem-se a substi- lativos. Faltando qualquer dos requisitos, a atividade
tuição da figura do comerciante pelo empresário. O será considerada de natureza simples, ou seja, não em-
empresário é aquele que exerce, profissionalmente, presária.
atividade econômica e organizada (art. 966, CC).
Podemos conceituar:
 Empresa (objeto de direito) atividade econômica e CAIU NA PROVA!
organizada, para produção ou circulação de bens ou
de serviços;
XXVII EXAME DE ORDEM UNIFICADO
Roberto desligou-se de seu emprego e decidiu investir
 Empresário (sujeito de direito) é aquele que exerce
na construção de uma hospedagem do tipo pousada
profissionalmente a atividade econômica através do
no terreno que possuía em Matinhos. Roberto contra-
estabelecimento;
tou um arquiteto para mobiliar a pousada, fez cursos
 Estabelecimento é o complexo de bens organiza- de hotelaria e, com os ensinamentos recebidos, con-
dos para o exercício da atividade empresarial (empre- tratou empregados e os treinou. Ele também contra-
sa) por empresário, EIRELI ou sociedade empresária. tou um desenvolvedor de sites de Internet e um pro-
fissional de marketing para divulgar sua pousada.
Não podemos confundir “empresário” com “estabele-
Desde então, Roberto dedica-se exclusivamente à
cimento”. O empresário é sujeito de direito, enquanto
pousada, e os resultados são promissores. A pousada
o estabelecimento é objeto de direitos.
está sempre cheia de hóspedes renovando suas estra-
tégias de fidelização; em breve, será ampliada em sua
capacidade. Considerando a descrição da atividade
1.1 EMPRESÁRIO econômica explorada por Roberto, assinale a afirmati-
O empresário pode ser pessoa física (empresário indivi- va correta.
dual) ou jurídica (EIRELI ou sociedades empresárias). O A) A atividade não pode ser considerada empresa em
conceito de empresário encontra-se no art. 966, CC. razão da falta tanto de profissionalismo de seu titular
Art. 966. Considere-se empresário quem exerce, quanto de produção de bens.
profissionalmente, atividade econômica e organi- B) A atividade não pode ser considerada empresa em
zada para a produção ou circulação de bens e ser-
razão de a prestação de serviços não ser um ato de
viços.
empresa.
C) A atividade pode ser considerada empresa, mas seu
Passemos à análise dos requisitos: titular somente será empresário a partir do registro na
 Profissionalismo: a atividade desenvolvida deve Junta Comercial.
ser exercida de forma habitual, e não de forma espo- D) A atividade pode ser considerada empresa e seu
rádica ou eventualmente. titular, empresário, independentemente de registro na
Junta Comercial.
 Atividade econômica: a criação de riquezas. A ati- RESPOSTA: D
vidade deve ter uma finalidade lucrativa. As atividades
sem fins lucrativos, como é o caso das associações e
fundações, não são consideradas empresárias.

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1.1.1 EXCLUÍDOS DA ATIVIDADE EMPRE- presária. Note que a atividade intelectual seria um ele-
mento de empresa, por ser mais um componente do
SÁRIA objeto, mais uma atividade dentre outras que são de-
Dentre o rol das atividades econômicas e organizadas senvolvidas no Pet Shop.
existentes, é necessário tratar daquelas excluídas do Nos termos do art. 15, Lei 8.906/94, a atividade jurídica
conceito de empresário, independente do seu objeto. exercida pelos advogados será sempre de natureza
simples, nunca empresária. É vedado que a advocacia
 PROFISSIONAL INTELECTUAL seja exercida em caráter de mercancia. A sociedade de
advogados é considerada como sociedade civil (termino-
O art. 966, parágrafo único, CC, excluí do conceito de
logia utilizada antes do advento do CC/02, hoje tratada
empresário o profissional intelectual de natureza artís-
como sociedade simples). O registro dos atos constituti-
tica, científica e literária, ainda que exerça a atividade
vos da sociedade de advogados e da sociedade unipes-
com concurso de auxiliares ou com a ajuda de colabora-
soal de advogados é realizado na Ordem dos Advogados
dores. Ou seja, o exercício das atividades exclusiva-
do Brasil perante o Conselho Seccional.
mente intelectual estará excluído do conceito de em-
presário.
O legislador optou por excluir as profissões intelectuais, CAIU NA PROVA!
sejam elas de natureza artística (pintor, músico, fotógra-
fo), científica (médico, advogado) ou literária (escritor), XV EXAME DE ORDEM UNIFICADO
do conceito de empresário quando a profissão for fator
principal da atividade desenvolvida. Se por exemplo, Alfredo Chaves exerce, em caráter profissional, ativi-
dois médicos resolvem abrir um consultório, a atividade dade intelectual de natureza literária, com a auxiliares.
exercida será de natureza simples (não empresária), O exercício da profissão constitui elemento de empre-
ainda que contratem uma secretária e uma copeira, sa. Não há registro da atividade por parte de Alfredo
independente da sua estrutura organizacional. Notem Chaves em nenhum órgão público. Com base nessas
que um consultório médico pode preencher todos os informações e nas disposições do Código Civil, assinale
requisitos do art. 966, CC, (profissionalismo, atividade a afirmativa correta.
econômica, organização e produção de serviço) e, ainda A) Alfredo Chaves não é empresário, porque exerce
assim, não ser empresária a atividade pelo fato de exer- atividade intelectual de natureza literária.
cerem exclusivamente a profissão intelectual.
B) Alfredo Chaves não é empresário, porque não pos-
A exclusão prevista no dispositivo ocorre por conta da sui registro em nenhum órgão público.
essência personalíssima da atividade, afastando os
profissionais intelectuais do âmbito mercantil, mesmo C) Alfredo Chaves é empresário, independentemente
que preencha todos os pressupostos da empresa. da falta de inscrição na Junta Comercial.

Ocorre que o legislador, na parte final do art. 966, pará- D) Alfredo Chaves é empresário, porque exerce ativi-
grafo único, CC, traz uma ressalva no sentido de que dade não organizada em caráter profissional.
atividade intelectual poderá ser considerada empresá- RESPOSTA: C
ria. Isso ocorrerá quando o exercício da profissão inte-
lectual constituir elemento de empresa, isto é, quando  EMPRESÁRIO RURAL OU SOCIEDADE RURAL
a profissão se tornar componente da atividade, deixan-
do de ser fator principal, ou seja, quando a atividade for A atividade rural explora as atividades agrícolas, pecuá-
absorvida pelos fatores de produção. rias, extrativismo, a extração e a exploração vegetal e
animal, a transformação de produtos agrícolas ou pecu-
Os profissionais liberais somente serão considerados ários realizadas pelo agricultor (desde que não alteradas
empresários quando a organização dos fatores de pro- sua característica in natura ou sua composição), ou seja,
dução formais importante que a atividade desenvolvida aquelas em que seu fator de produção principal é a
(Enunciado 194, II, JDC). terra.
Sendo assim, imagine que dois veterinários (profissio- A CF prevê no art. 170, IX, tratamento diferenciado
nais intelectuais) decidam montar uma sociedade - Pet para as empresas de pequeno porte(as microempresas
Shop, e que oferecessem, dentre os serviços de tosa, – ME e empresa de pequeno porte – EPP. O legislador
venda de produtos para animais e hospedagem, tam- teve a preocupação de dar um tratamento especial ao
bém o atendimento veterinário. Observadas as ativida- exercício da atividade econômica rural e ao pequeno
des que são desenvolvidas é possível verificar que a empresário.
profissão intelectual é absorvida pelos outros fatores de
produção, então essa atividade seria considerada em- Na redação do art. 970, CC, definiu-se que a lei deverá
assegurar tratamento jurídico favorecido, simplificado e

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diferenciado ao empresário rural e ao pequeno empre- exploração de culturas de soja e milho, bem como cri-
sário no tocante à inscrição e aos efeitos que dela de- ação intensiva de gado. A atividade em todas as fa-
correm, sendo assim excluídos da condição formal de zendas é voltada para exportação, com emprego in-
empresário. tenso de tecnologia e insumos de alto custo. Zacarias
não está registrado na Junta Comercial. Com base nes-
O empresário cuja atividade rural seja a sua principal
sas informações, é correto afirmar que
profissão poderá efetuar sua inscrição no Registro Pú-
blico de Empresa Mercantil (RPEM) da respectiva sede, A) Zacarias, por exercer empresa em caráter profissio-
hipótese em que será equiparado ao empresário (art. nal, é considerado empresário independentemente de
971, CC). O legislador facultou ao rural efetuar o seu ter ou não registro na Junta Comercial.
registro. É a única hipótese em que o registro será fa-
B) Zacarias, mesmo que exerça uma empresa, não será
cultativo.
considerado empresário pelo fato de não ter realizado
Para ser considerado empresário, para fins legais, o seu registro na Junta Comercial.
produtor rural deverá efetuar o seu registro (observadas
C) Zacarias não pode ser registrado como empresário,
as disposições do art. 968, CC) e reunir os pressupostos
porque, sendo engenheiro agrônomo, exerce profis-
para o exercício da atividade empresarial (profissiona-
são intelectual de natureza científica, com auxílio de
lismo, atividade econômica, organização e produção de
colaboradores.
bens ou circulação de bens). Quando o rural se inscrever
no Registro Público de Empresa Mercantil será equipa- D) Zacarias é um empresário de fato, por não ter reali-
rado ao empresário, sujeitando-se ao regime falimentar zado seu registro na Junta Comercial antes do início de
e de recuperação. sua atividade, descumprindo obrigação legal.
O mesmo tratamento será oferecido às sociedades RESPOSTA: B

empresárias que tenham por objeto atividade própria


de empresário rural e seja constituída ou transformada  COOPERATIVA
de acordo com um dos tipos de sociedade empresária,
cumpridas as formalidades do art. 968, CC. A sociedade A cooperativa é uma sociedade de pessoas, de natureza
poderá efetuar o seu registro no Registro Público de civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar
Empresa Mercantil (Junta Comercial) da respectiva serviços aos associados. Encontra-se regulada no CC/02
sede, hipótese em que será equiparada às sociedades (arts. 1.093 a 1.096), e na Lei 5.764/71.
empresárias (art. 984, CC). A sociedade cooperativa é criada por pessoas que, reci-
É possível ainda que o produtor rural que atenda as procamente, se obrigam a contribuir com bens ou ser-
condições mencionadas no art. 971, CC, possa constituir viços para o exercício de uma atividade econômica, de
uma Empresa Individual de Responsabilidade Limitada proveito comum, sem objetivo de lucro, podendo o seu
– EIRELI. Nas hipóteses em que o Rural efetuar o seu objeto versar sobre qualquer gênero de serviço, opera-
registro no RPEM e consequentemente for equiparado ção ou atividade.
ao empresário, sociedade empresária ou EIRELI empre- As sociedades cooperativas, por força do disposto no
sária, poderá se valer da Lei 11.101/05 e consequente- art. 982, parágrafo único, CC, não são consideradas
mente ter a sua falência decretada ou pedir recupera- empresárias, sendo sempre de natureza simples, inde-
ção judicial. pendentemente do seu objeto.
Outro aspecto que deve ser abordado é a natureza jurí- São características das sociedades cooperativas:
dica desse registro para o empresário ou sociedade cuja
Art. 1.094. (...)
principal atividade seja rural. O registro tem natureza
constitutiva, pois somente a inscrição no Registro Públi- I - variabilidade, ou dispensa do capital social;
co de Empresa Mercantil será capaz de equipará-lo ao II - concurso de sócios em número mínimo neces-
empresário ou sociedade empresária, uma vez que a sário a compor a administração da sociedade, sem
atividade do rural não é empresária, exceto se efetuar limitação de número máximo;
sua inscrição na Junta comercial, hipótese em que será
III - limitação do valor da soma de quotas do capi-
equiparado. tal social que cada sócio poderá tomar;
IV - intransferibilidade das quotas do capital a ter-
ceiros estranhos à sociedade, ainda que por heran-
CAIU NA PROVA! ça;

XX EXAME DE ORDEM UNIFICADO V - quorum, para a assembléia geral funcionar e


deliberar, fundado no número de sócios presentes
O engenheiro agrônomo Zacarias é proprietário de à reunião, e não no capital social representado;
quatro fazendas onde ele realiza, em nome próprio, a

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VI - direito de cada sócio a um só voto nas delibe- Sua inscrição deverá conter, obrigatoriamente:
rações, tenha ou não capital a sociedade, e qual-
quer que seja o valor de sua participação; Art. 968. (...)

VII - distribuição dos resultados, proporcionalmen- I - o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado ci-
te ao valor das operações efetuadas pelo sócio vil e, se casado, o regime de bens;
com a sociedade, podendo ser atribuído juro fixo II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa
ao capital realizado; que poderá ser substituída pela assinatura autenti-
VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os cada com certificação digital ou meio equivalente
sócios, ainda que em caso de dissolução da socie- que comprove a sua autenticidade, ressalvado o
dade. disposto no inciso I do § 1º do art. 4º da Lei Com-
plementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006;
III - o capital;
As sociedades cooperativas deverão arquivar o seu
IV - o objeto e a sede da empresa.
estatuto social na Junta Comercial do Estado (RPEM),
onde a entidade estiver sediada – momento no qual ela
irá adquirir personalidade jurídica (art. 18, Lei 5.764/71,
e art. 32, II, “a”, Lei 8.934/94) – e deverão adotar como 1.2.1 PRESSUPOSTOS E CAPACIDADE PARA
nome empresarial uma denominação, seguida da ex- SER EMPRESÁRIO
pressão “cooperativa”. É vedado que as cooperativas
Os pressupostos para caracterização do empresário
adotem como nome empresarial a espécie firma.
estão elencados no art. 966, CC. O empresário deve
A responsabilidade dos cooperados pode ser limitada exercer a atividade econômica (criação de riquezas com
(somente responderá pelo valor de suas cotas e pelos a finalidade de obtenção de lucro) com profissionalismo
prejuízos verificados nas operações sociais) ou ilimitada (não seja exercida de forma esporádica e sim habitual),
(responderá ilimitadamente e solidariamente pelas e organização (reunião dos fatores de produção – mão
obrigações sociais). de obra, tecnologia, insumo e capital), para a produção
ou a circulação de bens ou serviços.
As sociedades cooperativas serão de responsabilidade
limitada, quando a responsabilidade do associado pelos Mas, não obstante os pressupostos acima elencados
compromissos da sociedade se limitar ao valor do capi- para sua caracterização como empresário, o legislador
tal por ele subscrito, e ilimitada quando a responsabili- estabelece a capacidade plena para o exercício da ati-
dade do associado pelos compromissos da sociedade for vidade como empresário individual. Somente poderão
pessoal, solidária e não tiver limite (arts. 11 e 12, Lei exercer atividade como empresário individual aqueles
5.764/71). que estiverem em pleno gozo da sua capacidade civil e
não tiverem impedimento legal (art. 972, CC):
Sua administração será exercida por uma Diretoria ou
Conselho de Administração, composto exclusivamente Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário
de associados eleitos pela Assembleia Geral. O manda- os que estiverem em pleno gozo da capacidade ci-
to, em hipótese alguma, poderá ser superior a 4 anos, vil e não forem legalmente impedidos.
sendo obrigatória a renovação de, no mínimo, 1/3 do
Conselho de Administração.
Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem
Nas omissões do capítulo da sociedade cooperativa e civil, mas a capacidade civil para a prática de todos os
não havendo regulamentação na legislação especial, atos somente se inicia aos 18 anos completos. Sendo
aplica-se às cooperativas as disposições relativas às assim, os absolutamente incapazes (os menores de 16
sociedades simples. anos) e os relativamente incapazes (maiores de 16 anos
e menores de 18 anos, os ébrios habituais e viciados em
tóxicos, os pródigos e aqueles que, por causa transitória
1.2 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL ou permanente, não puderem exprimir a sua vontade)
não podem iniciar uma atividade como empresário
O Empresário Individual é a pessoa física que exerce individual.
empresa em nome próprio, suportando os riscos de-
correntes da sua atividade. O que definirá se atividade A incapacidade para os menores cessa através da eman-
é ou não empresária é a análise dos pressupostos para cipação, que poderá ser concedida nas seguintes hipó-
sua caracterização. teses (art. 5º, CC):
De acordo com o Código Civil, em seu art. 966, empre- a) pela concessão dos pais, ou um deles, na falta do
sário é todo aquele que exerce profissionalmente ati- outro, mediante instrumento público (independente-
vidade econômica organizada para a produção ou cir- mente de homologação judicial), ou por sentença do
culação de bens ou serviços.

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juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos mento do marco inicial em que o incapaz será autoriza-
completos; do a continuar a atividade.
b) pelo casamento; Na hipótese de o representante ou assistente do inca-
paz enquadrar-se em alguma das hipóteses de impe-
c) pelo exercício de emprego público efetivo;
dimento legal para exercício da atividade empresarial
d) pela economia própria; (como por exemplo, servidor público, militar na ativa,
aqueles condenados por crime falimentar não reabilita-
e) pela colação de grau em nível superior;
dos), dever-se-á nomear, com a aprovação do juiz, um
f) pelo estabelecimento comercial, ou pela existência ou mais gerentes. Sendo possível também fazê-lo em
de relação de emprego, desde que, em função dele, o todas as hipóteses em que o juiz entender conveniente.
menor tenha economia própria, estando assim apto a
Eventual nomeação de gerente não exime a responsabi-
praticar todos os atos da vida civil, inclusive tornar-se
lidade do representante ou assistente, que tem o dever
empresário.
de zelar e responder pelos atos praticados pelos geren-
A prova da emancipação deverá ser arquivada no regis- tes que nomeados, responsabilizando-se em comunicar
tro público de empresa mercantil. ao juiz todas as irregularidades, fraudes, imprudências
que forem detectadas, requerendo, se for o caso, a sua
O incapaz não pode iniciar uma atividade como empre-
revogação ou substituição do gerente.
sário, mas, em razão do princípio da preservação da
empresa, poderá continuar a empresa em duas hipóte- O uso da nova firma, quando concedida a autorização
ses – incapacidade superveniente e sucessão por morte, para continuação do exercício da atividade empresarial,
nos termos do art. 974, CC: por sucessão (antes exercida por seus pais ou pelo autor
Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de represen-
da herança), caberá, conforme o caso, ao gerente ou ao
tante ou devidamente assistido, continuar a em- representante ou assistente do incapaz ou o próprio
presa antes exercida por ele enquanto capaz, por incapaz quando houver autorização do juiz (ex. legitimi-
seus pais ou pelo autor de herança. dade ativa para o pedido de recuperação; legitimidade
passiva no processo de falência). Não é aplicada a hipó-
tese de nova firma quando a autorização é concedida
O incapaz poderá então continuar o exercício da em- em virtude da incapacidade superveniente, pois, nesse
presa desde que esteja assistido (relativamente inca- caso, não há alteração do titular da empresa. Inclusive,
paz) ou representado (absolutamente incapaz) nos eventual falência da empresa deverá ser dirigida ao
casos de incapacidade superveniente ou sucessão por incapaz (titular da empresa).
morte. Todavia, somente poderá fazê-lo através de
autorização judicial, após análise dos riscos e conveni-
ência em continuá-la não estando sujeitos ao resultado 1.2.2 IMPEDIMENTO PARA SER EMPRESÁ-
da empresa os bens particulares (pessoais, estranhos ao RIO INDIVIDUAL
acervo da empresa) que o incapaz já possuía ao tempo
da sucessão ou interdição. Tais bens deverão ser lista- O Código Civil dispõe, em seu art. 972, que podem exer-
dos no alvará de autorização concedido pelo juiz (art. cer atividade como empresários aqueles que estiverem
974, §§1º e 2º). em pleno gozo da capacidade civil e não forem impedi-
dos, mas, não elenca aqueles que têm impedimento
O objetivo da norma é a proteção do incapaz, uma vez legal.
que os atos praticados serão exercidos por seus repre-
sentantes ou assistentes, havendo uma limitação da sua Há diversas leis especiais no ordenamento jurídico que
responsabilidade aos bens que integram o estabeleci- contemplam o impedimento para o exercício da ativida-
mento. Por isso, torna-se indispensável o arquivamento, de própria de empresário a determinadas pessoas, em
na Junta Comercial, da autorização com o respectivo razão da profissão ou de circunstâncias especiais.
Alvará, listando os bens pessoais do incapaz para que se Podemos destacar como impedidos de serem empresá-
torne pública a limitação da sua responsabilidade. rios:
Essa autorização concedida tem caráter precário, po- a) os deputados federais e senadores (art. 54, II, “a”,
dendo o juiz revogá-la a qualquer tempo, depois de CF);
ouvidos os pais, tutores, ou representantes legais do
menor ou do interdito, sem prejuízos dos direitos adqui- b) funcionários públicos, sejam estaduais, municipais
ridos por terceiros (art. 974, § 1º, CC). A autorização, ou federais (art. 117, X, Lei 8.112/90);
bem como a sua eventual revogação, deverão ser arqui- c) Magistrados (art. 36, I e II, LOMAN – Lei Orgânica da
vadas no Registro Público de Empresa Mercantil da Magistratura Nacional);
respectiva sede, para que terceiros tenham conheci-
d) corretores de seguros (Lei 4.594/64);

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e) militares na ativa (três Armas) (art. 29, Lei ser condenado criminalmente pela prática do ato de
6.880/1980); exercício irregular. O militar, por exemplo, pode ser
condenado à pena privativa de liberdade (art. 204, DL
f) Membros do Ministério Público (art. 128, §5º, CF);
1.101/1969).
g) Deputados estaduais e vereadores (art. 29, IX, CF);
h) falidos, inclusive os sócios de responsabilidade ilimi- 1.2.3 RESPONSABILIDADE E PATRIMÔNIO
tada que ainda não estiverem reabilitados (art. 102,
Lei 11.101/05); A responsabilidade do empresário individual será ilimi-
tada. Ou seja, ele responderá perante os seus credores
i) condenados por qualquer crime previsto na Lei com todo o seu patrimônio pessoal.
11.101/05 (art. 101);
O seu patrimônio pessoal ficará sujeito ao resultado da
j) médicos para o exercício da simultâneo da farmácia,
atividade, respondendo com ele pelas obrigações con-
e os farmacêuticos, para o exercício simultâneo da
traídas. Não há uma separação patrimonial do patrimô-
medicina; nio empresarial (decorrente da atividade que ele exer-
l) despachantes aduaneiros, dentre outros que podem ce) e do patrimônio particular (pessoal). Porém, quanto
estar previstos em lei especial (art. 735, II, “e”, Decre- as obrigações decorrentes de sua atividade responderão
to 6.759/09); primeiramente perante os credores com os bens vincu-
lados a sua atividade econômica, e, se esses bens não
m) estrangeiros com visto provisório (art. 98, Lei
forem suficientes, com o seu patrimônio pessoal.
6.815/80).
Os impedimentos acima elencados são para o exercício
de atividade como empresário individual, via de regra, 1.2.4 NOME EMPRESARIAL
não há impedimento para que sejam sócios cotistas ou O Nome empresarial é o elemento que identifica o
acionistas (salvo as exceções previstas na legislação empresário. Pode ser encontrado no alvará de funcio-
especial), desde que não exerçam a função de adminis- namento, na declaração de firma individual, nos atos
tradores, como é o caso, por exemplo, dos magistrados constitutivos das sociedades empresárias, na carteira de
e militares na ativa. trabalho de seus funcionários, não se confundindo com
O impedimento para o exercício da atividade não signi- o título do estabelecimento (que atrai a clientela).
fica a incapacidade; o agente é capaz, mas, por proibi- O nome empresarial do empresário individual deverá
ção da lei, não poderá ser empresário. No entanto o ser uma firma individual. A firma contém o nome civil
impedimento não gera óbice para o exercício da ativi- completo ou abreviado do empresário, que pode vir
dade. Mesmo com a vedação legal, é possível encontrar precedido do seu apelido ou do objeto da empresa,
pessoas impedidas exercendo atividade própria de em- ficando a critério do empresário. Na hipótese de o nome
presário individual, sem o seu registro no órgão compe- escolhido ser igual a outro que já se encontra registrado
tente. Sendo assim, os atos por ele praticados são váli- por outro empresário, far-se-á obrigatória a inserção
dos e surtem efeitos no mundo jurídico, não podendo o do objeto para impedir nomes idênticos. O nome em-
impedido, posteriormente, alegar o impedimento para o presarial obedecerá aos princípios da veracidade e
não cumprimento de suas obrigações, vez que ninguém novidade.
pode beneficiar-se da própria torpeza

Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer 1.3 REGISTRO E ESCRITURAÇÃO


atividade própria de empresário, se a exercer, res-
ponderá pelas obrigações contraídas. Não obstante o registro não ser caracterizador da ativi-
dade como empresária, e sim os pressupostos previstos
no art. 966, CC, o empresário individual deverá efetuar
Por conta do impedimento, a situação será de irregula- sua inscrição no Registro Público de Empresa Mercantil
ridade, não sendo estendidas as prerrogativas próprias da respectiva sede, no prazo de 30 dias, contados da
de empresário ou sociedade empresária, como, por assinatura do ato constitutivo (art. 1.151, §§ 1º e 2º,
exemplo, pedir recuperação judicial. Sendo assim, aque- CC), hipótese em que os efeitos do registro serão ex-
le que tem impedimento e, ainda assim, exerce ativida- tunc.
de como empresário, responderá por todas as obriga- Ou seja, quando apresentado tempestivamente, o regis-
ções contraídas, podendo, inclusive, ser declarado fali- tro retroage à data de assinatura do ato constitutivo.
do, respondendo como empresário irregular. Ou seja, a
legislação pune essa irregularidade com a não aplicação Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário
de benesses que cabem à empresa constituída regular- no Registro Público de Empresas Mercantis da res-
mente e sua responsabilidade será ilimitada podendo pectiva sede, antes do início de sua atividade.

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A inscrição do empresário na Junta Comercial não é
requisito de sua caracterização, admitindo-se o exercí- SIREM
cio da empresa sem tal providência. O empresário irre-
gular reúne os requisitos do art. 966, CC, sujeitando-se Sistema de Registro Público
as normas do CC e da legislação comercial, salvo naquilo de Empresa Mercantil
em que for incompatível com a sua condição ou diante
de expressa disposição em sentido contrário.
A ausência do registro no prazo legal acarreta a respon-
sabilidade pelas perdas e danos das pessoas que deveri- DREI
(DNRC) - O DNRC foi substituído JUNTAS COMERCIAIS -
am requerer e não o fizeram. O registro, após o prazo
pelo DREI – Departamento de Subordinação administrativa ao
de 30 dias, tem efeito ex nunc, produzindo efeito a governo da unidade federativa
Registro Empresarial e Integração
partir da data de concessão (art. 36, Lei 8.934/94). de sua jurisdição.
– Disciplinado pelo Decreto
Na hipótese de o empresário instituir sucursal ou filial 8.001/13 (integra a estrutura da São subordinadas tecnicamente
sujeita à jurisdição de outro Registro Público de Empre- secretaria da Micro e Pequena ao DREI
sa Mercantil (ou seja, com endereço em outro Municí- Empresa).
pio não atendido pelo RPEM onde originalmente foi
registrado), deverá efetuar sua inscrição anexando a
prova do registro originário e, posteriormente, aver-
bando essa nova inscrição na Junta Comercial da respec- FUNÇÕES: funções técnicas - ÓRGÃOS LOCAIS
tiva sede. supervisora, orientadora, FUNÇÕES: Executora e
coordenadora e normativa, no Administradora dos serviços de
O registro tornará a atividade do empresário regular,
plano técnico; e supletiva, no registro
mas a ausência de sua inscrição não o descaracterizará plano administrativo
como empresário, daí a natureza jurídica do registro ser
declaratória e não constitutiva. Toda e qualquer altera-
ção deverá ser averbada no órgão competente, sob
pena de não poderem ser opostas a terceiros (senão
antes de averbado na Junta comercial).
Existem alguns atos que são praticados pela Junta Co-
Lei 8.9348/94, Art. 1º O Registro Público de Em- mercial e que precisam ser observados:
presas Mercantis e Atividades Afins, observado o
disposto nesta Lei, será exercido em todo o territó-
Dos leiloeiros, tradutores públicos e
rio nacional, de forma sistêmica, por órgãos fede-
intérpretes comerciais, trapicheiros e
rais, estaduais e distrital, com as seguintes finali- I - a matrícula e
administradores de armazéns-gerais;
dades: seu cancelamento:
(profissionais específicos – auxiliares do
I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segu- comércio)
rança e eficácia aos atos jurídicos das empresas
a) dos documentos relativos à constitu-
mercantis, submetidos a registro na forma desta
ição, alteração, dissolução e extinção
lei;
de firmas mercantis individuais, socie-
II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras dades mercantis e cooperativas;
em funcionamento no País e manter atualizadas as b) dos atos relativos a consórcio e
informações pertinentes; grupo de sociedade de que trata a Lei
III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do 6.404/76;
comércio, bem como ao seu cancelamento. c) dos atos concernentes a empresas
II - O arquivamen-
mercantis estrangeiras autorizadas a
to:
funcionar no Brasil;
Os serviços do Registro Público de Empresas Mercantis e d) das declarações de microempresa;
Atividades Afins serão exercidos, em todo o território e) de atos ou documentos que, por
nacional, de maneira uniforme, harmônica e interde- determinação legal, sejam atribuídos ao
pendente pelo SIREM, composto pelos seguintes ór- Registro Público de Empresas Mercantis
gãos: e Atividades Afins ou daqueles que
possam interessar ao empresário e às
empresas mercantis;

7
Dos instrumentos de escrituração das  Livros Facultativos
empresas mercantis registradas e dos
- Borrador: rascunho do diário
agentes auxiliares do comércio, na
III - Autenticação forma de lei própria. Exemplos: livros e - Caixa: entrada e saída R$
fichas escriturais
- Conta-corrente: contas individualizadas de clientes
ou fornecedores
- Estoque e Razão: movimento das mercadorias.
 ESCRITURAÇÃO
A escrituração do empresário individual, EIRELI e da Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autori-
sociedade empresária são obrigatórios, exceto para os dade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá
pequenos empresários nos termos do art. 170, CC. fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresá-
rio ou a sociedade empresária observam, ou não, em
O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei
seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou (Informativo 612, STJ). Essas formalidades não se apli-
não, com base na escrituração uniforme de seus livros, cam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscali-
em correspondência com a documentação respectiva, e zação do pagamento de impostos, nos termos estritos
a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de das respectivas leis especiais. Nesse sentido Súmulas
resultado econômico. 493 e 390, STF.
- Escrituração contábil: periódico
- Balanços financeiros: patrimonial e de resultado
1.4 ENQUADRAMENTO COMO ME OU
A escrituração deverá ficar sob a responsabilidade de EPP
contabilista legalmente habilitado, salvo nas hipóteses
em que não houver nenhum na localidade. A escritura- O intuito da Lei Complementar 123/06 é a simplificação
ção deverá ser realizada em idioma nacional e moeda do processo de abertura e fechamento das MEs (Mi-
corrente nacional e em forma contábil, por ordem cro- croempresas) e EPPs (Empresas de Pequeno Porte).
nológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco,
A LC 123/06 surge com o intuito de estabelecer normas
nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou trans-
gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido
portes para as margens.
a ser dispensado às microempresas e empresas de pe-
queno porte, no âmbito dos Poderes da União, dos
 Livros Obrigatórios Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, especial-
Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável mente no que se refere:
o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de LC 123/06, Art. 1º (...)
escrituração mecanizada ou eletrônica. Atenção: arts.
I - à apuração e recolhimento dos impostos e con-
1.180, parágrafo único, e 1185, CC
tribuições da União, dos Estados, do Distrito Fede-
ral e dos Municípios, mediante regime único de ar-
 Livros Especiais recadação, inclusive obrigações acessórias;

- Livro de registro obrigatório das duplicatas (art. 19, II - ao cumprimento de obrigações trabalhistas e
Lei 5.474/68) previdenciárias, inclusive obrigações acessórias;

- Livro de Registro de Ações Nominativas, para inscri- III - ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive
quanto à preferência nas aquisições de bens e ser-
ção, anotação ou averbação; livro de Transferência de
viços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao as-
Ações Nominativas, livro de Registro de Partes Benefi-
sociativismo e às regras de inclusão;
ciarias Nominativas e de Transferência de Partes Bene-
ficiarias Nominativas, o livro de Atas das Assembléias IV - ao cadastro nacional único de contribuintes a
Gerais; o livro de Presença dos Acionistas; Livro das que se refere o inciso IV do parágrafo único do art.
146, in fine, da Constituição Federal.
Atas de Reunião do Conselho de Administração (se
houver) e das Atas de Reunião da Diretoria, livros de
- Atas e Pareceres do Conselho Fiscal (art. 100. I, II, III, Consideram-se microempresas ou empresas de peque-
IV, V, VI, VII, Lei 6404/76). no porte, a sociedade empresária, a sociedade simples,
a empresa individual de responsabilidade limitada e o
- Um livro de entrada e saída de mercadorias escritu-
empresário a que se refere o art. 966, CC, devidamente
rado rigorosamente dia a dia para as empresas de ar-
registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no
mazéns gerais (art. 7º, Dec. Lei 1.102/1903)

8
Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, O Código Civil dispõe, em seu art. 968, § 4º, que o pro-
desde que: cesso de abertura, registro, alteração e baixa do micro-
empreendedor individual de que trata o art. 18-A, LC
Art. 3º (...)
123/06, bem como qualquer exigência para o início de
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano- seu funcionamento, deverá ter trâmite especial e sim-
calendário, receita bruta igual ou inferior a plificado, preferencialmente eletrônico, opcional para o
R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e
empreendedor, na forma a ser disciplinada pelo Comitê
II - no caso da empresa de pequeno porte, aufira, para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do
em cada ano-calendário, receita bruta superior a Registro e da Legalização de Empresas e Negócios –
R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e i- CGSIM.
gual ou inferior a R$4.800.000,00 (quatro milhões
e oitocentos mil reais). Ao MEI poderão ser dispensados: o uso da firma, com a
respectiva assinatura autografa, o capital, requerimen-
tos, demais assinaturas, informações relativas à nacio-
O art.72, LC 123/03, foi revogado pela LC 155/16, por- nalidade, estado civil e regime de bens, bem como re-
tanto, não se utiliza mais as expressões ME ou EPP ao messa de documentos, na forma estabelecida pelo CG-
final do nome empresarial. SIM.
Ao se enquadrar como ME ou EPP o empresário, a soci- O MEI faz o seu cadastro direito no portal do empreen-
edade empresária ou a EIRELI adquire diversas vanta- dedor sem nenhum custo, sendo dispensada a remessa
gens como, por exemplo: acesso ao crédito; benefícios dos documentos para a junta comercial, o uso da firma
na fiscalização, benefícios em licitações, legislação tra- com assinatura autografa, capital, obrigatoriedade dos
balhista e fiscal; escrituração, dentre outros. livros empresariais, dentre outros. Ou seja, o MEI não
preenche os requisitos do art. 966, CC, pois, em decor-
As sociedades anônimas, assim como as sociedades em
rência das atividades que ele exerce, muitas vezes ele
comandita por ações, não poderão ser enquadradas
não terá o pressuposto da organização (a reunião para
como ME ou EPP, em virtude de proibição expressa na
os fatores de produção, quais sejam: a) mão de obra; b)
LC 123/06 (art. 3º, §4º, X).
insumo; c) tecnologia; e d) capital), pois, na maioria dos
casos, ele mesmo irá desempenhar as atividades, não
sendo necessário sequer a impessoalidade no exercício
1.5 MICROEMPREENDEDOR INDIVIDU- da atividade, tampouco o capital (manicure; fotógrafo;
AL E PEQUENO EMPRESÁRIO dublador, etc.), sendo o seu procedimento de registro
completamente distinto da figura do empresário indivi-
O conceito do pequeno empresário, MEI, ME (microem-
dual, que deverá obedecer aos requisitos do art. 966,
presa) e EPP (empresa de pequeno porte) estão defini-
CC.
dos na LC nº123/06.
Tecnicamente podemos afirmar que o MEI não é o em-
O Microempreendedor Individual (MEI) é a pessoa que
presário por ausência dos requisitos legais previstos no
trabalha por conta própria e que se legaliza através do
art. 966, CC. Porém, é importante ressaltar que o legis-
portal do empreendedor, mas não poderá ter participa-
lador conceitua como MEI o empresário individual do
ção em outra empresa como sócio ou titular.
art. 966, CC, ou empreendedor com receita bruta anual
O art. 18-A, §1º, LC 123/06, conceitua o MEI como o de até R$ 81.000,00.
empresário individual (art. 966, CC), que tenha auferido
Entre as vantagens que são oferecidas pela lei podemos
receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$
destacar o registro no Cadastro Nacional de Pessoas
81.000,00, optante pelo Simples Nacional e que não
Jurídicas (CNPJ), o que facilita a abertura de conta ban-
esteja impedido de optar por esta sistemática, observa-
cária, o pedido de empréstimos e a emissão de notas
do o limite de R$ 6.750.00,00, multiplicados pelo núme-
fiscais. O MEI não é Pessoa Jurídica; o seu cadastro no
ro de meses compreendido entre o início da atividade e
RCPJ é realizado para fins de recolhimento de tributo e
o final do respectivo ano-calendário, consideradas as
encargos previdenciários, sendo facultada ao MEI a
frações de meses como um mês inteiro.
contratação de um empregado que receba o salário
A LC 128/08 criou condições especiais para os traba- mínimo ou o piso da sua categoria.
lhadores conhecidos como informais (autônomos) para
Além disso, o MEI será enquadrado no Simples Nacional
se tornar um MEI legalizado (como por exemplo: cabe-
e ficará isento dos tributos federais (Imposto de Renda,
leireiro, manicure, artesão, chaveiro, motoboy, humo-
PIS, Cofins, IPI e CSLL). Assim, pagará apenas o valor fixo
rista e contador de história, depilador, digitador, fotó-
mensal de R$5,00 de ISS, se a atividade for serviço e
grafo, etc). Não obstante, o legislador tratar o MEI como
R$1,00 de ICMS se for comércio ou indústria, ou o valor
empresário individual previsto no art. 966, CC, algumas
fixo de R$6,00 quando a atividade for comércio e servi-
considerações devem ser realizadas.

9
ço, em ambos os casos acrescido de 5% do salário míni- plementar que aufira receita bruta anual até o li-
mo para o INSS. Com essas contribuições, o Microem- mite previsto no § 1o do art. 18-A.
preendedor Individual tem acesso a benefícios co-
mo auxílio maternidade, auxílio doença, aposentadoria,
entre outros. Porém, para ser considerado pequeno empresário, não
aplicamos a vedação prevista para o MEI no art. 18-A,
§4º, da referida lei.
A Contribuição do MEI - Microempreendedor
1
Individual, para 2019 será de : Para ser considerado pequeno empresário, a lei estabe-
lece que o empresário deve estar devidamente registra-
MEIs / INSS ICMS/ISS Total
do na Junta Comercial e enquadrado como ME, mas a
Atividade - R$ - R$ - R$ sua receita bruta não pode ser superior a R$81.000,00.
O pequeno empresário é uma subespécie da Microem-
Comércio e presa (ME), sendo vedado a sua transformação em
Indústria - 49,90 1,00 50,90 sociedade empresária ou EIRELI, uma vez que a Lei
ICMS
limitou esse tratamento apenas ao empresário individu-
Serviços - al (cuja a receita bruta anual não pode ser superior a
49,90 5,00 54,90
ISS R$81.000,00).
Comércio e Ao pequeno empresário é dispensável a exigência de
Serviços - 49,90 6,00 55,90 escrituração uniforme de seus livros, levantamento
ICMS e ISS
anual de balanço patrimonial e de resultados econômi-
cos, benefícios que não são estendidos as ME e EPP, nos
O valor do Salário Mínimo é de R$
termos do art. 1.179, §2º, CC:
998,00 (novecentos e cinquenta e quatro re-
Art. 1.179. (...)
ais), por mês, conforme Decreto 9.961, de 1º
de janeiro 2019. § 2º É dispensado das exigências deste artigo o
pequeno empresário a que se refere o art. 970, CC.

Não poderá optar pela sistemática de recolhimento Não podemos confundir a figura do pequeno empresá-
prevista no caput do art. 18-A, o MEI cuja atividade seja rio com o MEI (microempreendedor individual).
tributada na forma dos Anexos V ou VI da LC 123/06,
salvo autorização relativa a exercício de atividade isola-
da, na forma regulamentada pelo CGSN, que possua
mais de um estabelecimento, que participe de outra
1.6 TRANSFORMAÇÃO DO REGISTRO
empresa como titular, sócio ou administrador, ou que DO EMPRESÁRIO EM SOCIEDADE EM-
contrate empregado. PRESÁRIA
O MEI e o pequeno empresário são figuras distintas. O O empresário individual poderá a qualquer tempo solici-
primeiro deverá efetuar sua inscrição no portal do em- tar no Registro Público de Empresa Mercantil a sua
preendedor, enquanto este efetuará seu registro na transformação de empresário individual para EIRELI ou
Junta Comercial do Estado da respectiva sede da empre- sociedade empresária, quando quiser admitir um ou
sa. mais sócios para o exercício da sociedade a ser constitu-
O art. 970, CC, dispõe que a Lei deverá assegurará tra- ída pela sua transformação.
tamento favorecido, diferenciado e simplificado ao
pequeno empresário quanto à inscrição e aos efeitos daí
decorrentes. 1.7 POSSIBILIDADE DE O INCAPAZ FI-
O conceito de pequeno empresário encontra-se previs- GURAR COMO SÓCIO
to no art. 68, LC 123/06:
O incapaz não pode iniciar uma atividade como empre-
Art. 68. Considera-se pequeno empresário, para sário individual, mas, nada impede que ele seja sócio de
efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e uma sociedade, desde que cumpra cumulativamente os
1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 seguintes requisitos:
(Código Civil), o empresário individual caracteriza-
do como microempresa na forma desta Lei Com- - Não ser administrador;
- O capital social estar integralizado;
1
http://www.portaldoempreendedor.gov.br/duvidas-frequentes. - O sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o
Acesso em fevereiro/2020. sócio absolutamente incapaz representado.

10
A impossibilidade de o incapaz não poder exercer o O legislador inovou (ainda que de forma tardia) quanto
cargo de administrador ocorre como forma de proteção à criação da EIRELI, trazendo a possibilidade de uma
ao seu patrimônio, uma vez que os administradores única pessoa titular da totalidade do capital social cons-
podem ser responsabilizados pessoalmente pela prática tituir uma empresa, limitando sua responsabilidade sem
de seus atos quando agirem com dolo ou culpa no de- a necessidade de pluralidade de sócios, como ocorre nas
sempenho de suas atribuições, quando excederem os sociedades Limitadas, Sociedade em nome coletivo,
limites impostos no contrato social, ou ainda atuarem dentre outros, por exemplo. A limitação da responsabi-
em desacordo com a lei. lidade e a ausência de pluralidade de pessoas, sem
dúvidas, é um estímulo para sua instituição.
A exigência da integralização do capital social somente
será aplicada às sociedades limitadas, uma vez que os
sócios respondem solidariamente pela integralização do
capital social (art. 1.052, CC). Nos tipos societários em 2.2 NATUREZA JURÍDICA E INSTITUI-
que os sócios respondem de forma ilimitada ou nas DOR DA EIRELI
sociedades anônimas, tal exigência não será aplicada,
Seria a EIRELI um novo ente jurídico personalizado ou
pois nesses tipos societários a integralização não influ-
uma sociedade unipessoal?
encia a proteção do incapaz (Enunciado 467, V, JDC).
A natureza jurídica da EIRELI é um tema divergente na
doutrina. A doutrina majoritária sustenta que ela repre-
1.8 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL CASADO senta um novo ente jurídico personificado, uma nova
modalidade de pessoa jurídica de direito privado, em
O Código Civil dispõe, em seu art. 978, que o empresá- razão da redação do inciso VI do art. 44, CC.
rio casado pode alienar ou gravar em ônus reais os
bens que pertençam ao patrimônio da empresa, inde- O Enunciado 03 da I Jornada de Direito Empresarial
pendente do regime de bens do casamento. A intenção (JDE), no mesmo sentido do Enunciado 469, V, Jornada
do legislador é, sem dúvidas, conferir maior autonomia de Direito Civil (JDC), sustenta que a EIRELI não é uma
ao empresário, no tocante aos bens que pertençam ao sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da
patrimônio da empresa. figura do empresário e da sociedade empresária.
Para aplicação no disposto no art. 978, CC, é necessário O legislador, na redação do caput do art. 980-A, CC,
que exista prévia averbação de autorização conjugal a afirma que a EIRELI poderá ser instituída por uma única
conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no pessoa titular da totalidade do capital social. Por força
cartório de registro de imóveis, com a consequente da Instrução Normativa 38, DREI, a EIRELI pode ser
averbação do ato a margem de sua inscrição no Registro instituída tanto por pessoa natural como por pessoa
Público de Empresa Mercantis. jurídica.
É importante frisar que a pessoa natural que instituir
uma EIRELI, só pode figurar numa única empresa dessa
2. EMPRESA INDIVIDUAL DE RES- modalidade. Tal restrição não é aplicada às EIRELI insti-
tuídas por Pessoa Jurídica.
PONSABILIDADE LIMITADA (EIRE-
LI)
CAIU NA PROVA!
2.1 NOÇÕES GERAIS
XXI EXAME DE ORDEM UNIFICADO
A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada –
EIRELI foi instituída através da Lei 12.441/11, publicada Rosana e Carolina pretendem reunir esforços para
em 12.07.2011, e entrando em vigor no dia 08.01.2012 empreender uma atividade econômica, constituindo
por força do art. 3º,§ 4º, que previu 180 dias de vacatio uma Empresa Individual de Responsabilidade Limitada
legis. (EIRELI). Essa iniciativa será possível se observada a
seguinte condição:
A EIRELI é uma nova modalidade de pessoa jurídica,
inserida no rol do art. 44, CC, que dispõe que A) Rosana poderá indicar Carolina como administrado-
ra, mas somente poderá figurar em uma única empre-
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
(...) sa dessa modalidade.

VI - as empresas individuais de responsabilidade B) Rosana e Carolina poderão ser coproprietárias de


limitada. todas as quotas, mas estas serão indivisíveis em rela-
ção a EIRELI, salvo para efeito de transferência.

11
C) não será cabível a desconsideração da personalida- Art. 980-A. (...)
de jurídica da EIRELI, diante da limitação de responsa- § 6º Aplicam-se à empresa individual de responsa-
bilidade de Carolina ao valor do capital social. bilidade limitada, no que couber, as regras previs-
tas para as sociedades limitadas.
D) a remuneração decorrente da cessão de direitos
patrimoniais de autor, de que sejam detentoras tanto
Rosana quanto Carolina, vinculados à atividade profis-
sional de ambas, poderá ser atribuída à EIRELI consti- 2.4 RESPONSABILIDADES DA EIRELI E
tuída para a prestação de serviços. DO INSTITUIDOR
RESPOSTA: A
A responsabilidade da EIRILI é ilimitada, ela sempre
responderá perante terceiros com todo o seu patrimô-
nio. O instituidor que terá responsabilidade limitada ao
2.3 PRESSUPOSTOS valor do capital social. Há uma separação do patrimônio
O legislador impôs dois pressupostos para instituição da pessoal do instituidor e do patrimônio da pessoa jurídica
EIRELI, quais sejam: (EIRELI).
- Capital social não inferior a 100 vezes o salário mí- O patrimônio da pessoa jurídica (EIRELI) é quem vai
nimo vigente, e; responder pelos atos praticados, respondendo pelas
suas dívidas, não se confundindo com o patrimônio da
- Integralização do capital social à vista.
pessoa natural que a constitui, por aplicação da regra da
Uma vez que o capital esteja subscrito e efetivamente separação patrimonial que se estabelece entre a pessoa
integralizado, não sofrerá nenhuma influência decorren- jurídica e o seu instituidor.
te de ulteriores alterações do salário mínimo.
A limitação da responsabilidade do instituidor não se
O capital poderá ser representado em uma só cota ou aplicará na prática de atos irregulares, caracterizada
de forma fracionada, desde que seja uma única pessoa por violação da lei (art. 1.080, CC) ou por abuso da per-
titular da totalidade do capital. A cota poderá ser cedida sonalidade jurídica (art. 50, CC), neste caso responderá
ou penhorada em razão de dívidas do instituidor. Na o instituidor pessoal e ilimitadamente pela irregulari-
hipótese da cessão de cotas, somente poderá ocorrer se dade que praticar através do instituto da desconsidera-
for realizada de forma integral (o valor de todo o capital ção da personalidade jurídica. Para aplicação da des-
social). consideração da personalidade jurídica pela teoria mai-
or (art. 50, CC) é necessário a comprovação de fraude.
O valor do capital social não inferior a 100 vezes o salá-
Nesse sentindo, art. 980-A, §7º, CC.
rio mínimo vigente poderá ser empecilho para as pesso-
as naturais que desejam instituir uma EIRELI, fomentan- Art. 980-A. (...)
do a criação das sociedades limitadas com “sócio laran-
§7º Somente o patrimônio social da empresa
ja” como forma de limitação da responsabilidade. Isso
responderá pelas dívidas da empresa indivi-
porque o legislador, além de fixar um valor mínimo para
dual de responsabilidade limitada, hipótese
o capital social (que não é baixo), ainda exige a sua inte-
em que não se confundirá, em qualquer situ-
gralização à vista, dificultando de certo modo a sua
ação, com o patrimônio do titular que a cons-
criação, uma vez que tal exigência não se aplica para
titui, ressalvados os casos de fraude.
constituição de sociedade limitada.
A integralização poderá ser realizada com dinheiro,
bens ou cessão de crédito (qualquer bem suscetível de Tal instituto deve ser aplicado em situações excepcio-
avaliação), não sendo permitido, em hipótese alguma, nais, em que se configurado abuso da personalidade
sua integralização em serviço. jurídica (seja por desvio de finalidade ou confusão pa-
trimonial). A Pessoa Jurídica não pode ser utilizada para
Na hipótese de integralização do capital social com
a prática de atos abusivos com a intenção de prejudicar
bens, haverá a sua transferência, passando o bem a
credores. Se isso ocorrer, poderão os credores invocar a
integrar o patrimônio da pessoa jurídica, podendo ser
desconsideração para adentrar ao patrimônio particular
alienado ou gravado em ônus reais a qualquer tempo,
do instituidor quando os bens da EIRELI não forem sufi-
sem a necessidade de outorga uxória.
cientes para pagamento dos credores.
A atribuição do valor do bem será conferida pelo institu-
idor, que responderá pela exata estimação dos bens
pelo prazo de 5 anos, contados da data do registro, nos 2.5 REGISTRO
termos do art. 1.055, §1º, CC. A utilização do referido
dispositivo é possível em razão da expressa previsão A EIRELI será considerada empresária ao explorar ativi-
legal do art. 980-A, §6º, CC: dade empresária (preenchendo os requisitos do art.

12
966, CC) ou será simples (quando não exercer empresa). de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
A personalidade jurídica da EIRELI se dá com o registro perdurarem os efeitos da condenação.
no órgão competente.
Se a EIRELI for de natureza empresária, o local do seu
registro será no Registro Público de Empresa Mercantil 3. ESTABELECIMENTO EMPRESA-
(Junta Comercial) da respectiva sede, sujeitando-se às
normas de recuperação e falência (Lei 11.101/05). Se a
RIAL
natureza for simples, o local do registro será no Registro
Civil de Pessoa Jurídica, sujeitando-se às normas de
3.1 NOÇÕES GERAIS
insolvência civil. Efetuado o registro no órgão compe- Considera-se estabelecimento todo complexo de bens
tente, adquirirá a personalidade jurídica. organizado para o exercício da empresa, por empresá-
rio ou por sociedade empresária (art. 1.142, CC).
O CC/02 adotou a expressão “estabelecimento”, mas,
2.6 NOME EMPRESARIAL podemos encontrar as expressões “fundo de empresa”
O nome empresarial da EIRELI poderá ser uma firma ou ou “azienda”. Estabelecimento não se confunde com o
denominação, acrescido da expressão EIRELI, deixando ponto empresarial (local físico onde o empresário ou a
transparecer a unipessoalidade e o tipo de responsabili- sociedade empresária se situa).
dade do instituidor. A omissão do vocábulo “EIRELI” A natureza jurídica do estabelecimento é de uma uni-
acarretará a responsabilidade ilimitada do administra- versalidade de fato, composta pelos bens corpó-
dor que a empregou (art. 1.158, §3º, CC). reos/materiais (mobiliários, utensílios, máquinas e e-
A denominação deverá designar o objeto social. Ressal- quipamentos, bem como mercadorias e produtos objeto
ta-se que na hipótese de utilização de firma, havendo a do negócio) e incorpóreos (marcas, patentes, desenho
substituição do instituidor, a firma social deverá ser industrial, nome empresarial, ponto empresarial, know-
obrigatoriamente alterada, devendo constar o nome do how). Os bens estão reunidos por força da vontade
novo instituidor, fazendo prevalecer o elemento huma- humana, e não por força de lei; por isso, sua natureza
no que inspira a sua composição. jurídica é de universalidade de fato.
O art. 90, CC, dispõe que

2.7 ADMINISTRADOR Art. 90. Constitui universalidade de fato a plurali-


dade de bens singulares que, pertinentes à mesma
A administração da EIRELI somente poderá ser exercida pessoa, tenham destinação unitária.
por pessoa natural, seja o próprio instituidor ou um
terceiro nomeado no contrato ou em ato separado. O
administrador da EIRELI deverá ter, no exercício de suas O titular do estabelecimento empresarial é o empresá-
funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo rio. O estabelecimento empresarial não é o sujeito de
e probo costuma empregar na administração de seus direitos, sendo sujeito de direitos o empresário ou a
próprios negócios. sociedade empresária. O estabelecimento empresarial
pode ser objeto de direitos quando ocorrer a sua alie-
O administrador que agir com dolo ou culpa no desem- nação.
penho de suas atribuições, com excesso de poderes, em
desacordo com o contrato social ou com a lei responde- O STJ, na edição da Súmula 451, admite a penhora da
rá pessoalmente e de forma ilimitada pela prática de sede do estabelecimento. Nesse mesmo sentido, temos
seus atos, por força do disposto nos arts. 1.015, III, e o Enunciado 488, V, JDC, admitindo também a penhora
1.016, CC. de website e de outros intangíveis relacionados com o
comércio eletrônico.
Os administradores também responderão ilimitadamen-
te nas hipóteses em que atuarem contra a lei ou extra-
polando os poderes previstos no contrato.
Não podem ser administradoras as pessoas que têm
impedimento legal, os condenados à pena que vede,
ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos;
3.2 TRESPASSE
ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou su- O contrato de trespasse não se confunde com a cessão
borno, concussão, peculato, ou contra a economia po- de cotas. No primeiro caso, temos a alienação do esta-
pular, contra o sistema financeiro nacional, contra as belecimento empresarial com a transferência de sua
normas de defesa da concorrência, contra as relações titularidade e de todos os seus bens, enquanto naquele

13
há transferência das cotas (não há mudança da titulari- nante restarem bens suficientes para solver o seu pas-
dade do estabelecimento, mas da figura do sócio). sivo, essa notificação será dispensável.
O estabelecimento empresarial pode ser objeto unitário
Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens sufi-
de direitos e negócios jurídicos translativos (transfe-
cientes para solver o seu passivo, a eficácia da ali-
rência da propriedade, como por exemplo: doação,
enação do estabelecimento depende do pagamen-
dação em pagamento, alienação do estabelecimento) to de todos os credores, ou do consentimento des-
ou constitutivos (não implica a transferência da propri- tes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a
edade, como por exemplo: arrendamento mercantil, partir de sua notificação.
contrato de locação, contrato de usufruto), desde que
sejam compatíveis com a sua natureza (art.1.143, CC).
A Lei 11.101/05, em seu art. 60, admite inclusive, o 3.2.2 EFEITOS DO TRESPASSE COM RELA-
trespasse como meio de recuperação. Nesse caso, o ÇÃO ÀS OBRIGAÇÕES ASSUMIDAS ANTE-
objeto da alienação estará livre de quaisquer ônus e não RIORMENTE
haverá sucessão do arrematante nas obrigações do
devedor, inclusive trabalhistas e decorrentes de aciden- O art. 1.146, CC, dispõe que o adquirente do estabele-
tes do trabalho e tributárias. Nesse mesmo sentido cimento responde pelo pagamento dos débitos anteri-
temos o Enunciado 47, I, Jornada de Direito Comercial. ores à transferência, desde que regularmente contabili-
zados, continuando o devedor primitivo solidariamente
obrigado pelo prazo de 1 ano, a partir da publicação,
3.2.1 EFEITOS DOCONTRATO EM RELAÇÃO quanto aos créditos vencidos, e, quanto aos outros, da
A TERCEIROS E AOS CREDORES data do vencimento.

Para que o contrato de trespasse, o arrendamento ou Ou seja, o adquirente (aquele que está comprando o
usufruto produzam efeitos perante terceiros, é necessá- estabelecimento) somente responderá pelas obrigações
ria sua averbação no Registro Público de Empresa Mer- que forem contabilizadas. Eventuais “caixas 2” não se-
cantil da respectiva sede, bem como a publicação na rão de responsabilidade do adquirente, e serão supor-
Imprensa Oficial. Do contrário, não será oponível a tadas exclusivamente pelo alienante.
terceiros. A publicação ocorre para que os credores Ainda no tocante às obrigações regularmente contabili-
possam tomar ciência da alienação. zadas, é importante ressalvar que o alienante continua-
Estarão dispensados de realizar a publicação de qual- rá solidariamente responsável com o adquirente pelo
quer ato societário, nos termos do art.71, LC 123/06, as prazo de 1 ano, contados:
Microempresas, Empresas de Pequeno Porte e Micro- - Das obrigações que já venceram, da publicação;
empreendedores Individuais.
- Quanto às obrigações vincendas, do seu vencimento.
No tocante aos efeitos, com relação aos credores, exis-
tem situações em que a publicidade não será suficiente
para configuração do trespasse, como ocorre, por e- 3.2.3 OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRA-
xemplo, se ao alienante não restarem bens suficientes BALHISTAS
para solver o seu passivo (em outras palavras, quitar
suas dívidas). É imprescindível nesta situação a notifica- Quanto às obrigações tributárias, a responsabilidade
ção (judicial ou extrajudicial) aos credores para se mani- poderá ser integral ou subsidiária. Dispõe o art. 133,
festem, expressa ou tacitamente (quando não se mani- CTN, que
festar no prazo legal), no prazo de 30 dias. Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito
Havendo impugnação dos credores quanto à alienação, privado que adquirir de outra, por qualquer título,
fundo de comércio ou estabelecimento comercial,
esta somente poderá ocorrer após o pagamento dos
industrial ou profissional, e continuar a respectiva
credores que a impugnaram. exploração, sob a mesma ou outra razão social ou
Ou seja, o trespasse depende de: sob firma ou nome individual, responde pelos tri-
butos, relativos ao fundo ou estabelecimento ad-
- Havendo bens suficientes para saldar o seu passivo: quirido, devidos até à data do ato:
apenas a publicação nos órgãos competentes;
I - integralmente, se o alienante cessar a explora-
- Quando não há bens suficientes: consentimento de ção do comércio, indústria ou atividade;
todos os credores; II - subsidiariamente com o alienante, se este
- Havendo impugnação dos credores: a alienação de- prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis
meses a contar da data da alienação, nova ativida-
penderá do pagamento de todos os credores que im-
pugnarem (art. 1.145, CC). Lembrando que, se ao alie-

14
de no mesmo ou em outro ramo de comércio, in- cia digna, conforme os ditames da justiça social, obser-
dústria ou profissão. vado, dentre outros, o princípio da livre concorrência.
A Constituição assegura a todos o livre exercício de
Se o alienante cessar a exploração da atividade empre- qualquer atividade econômica, independentemente de
sária, o adquirente responderá integralmente pelos autorização de órgãos públicos, salvo as hipóteses pre-
débitos tributários. Porém, se o alienante continuar a vistas em lei.
explorar atividade econômica, a responsabilidade do O art. 1.147, CC, excepciona a regra da livre concorrên-
adquirente será subsidiária à do alienante, somente cia, ao prever a cláusula de não concorrência, em que o
respondendo o adquirente caso o alienante não tenha alienante do estabelecimento empresarial não poderá
bens suficientes para saldar o débito. fazer concorrência com adquirente pelo prazo de 5
A responsabilidade mencionada no último caso será anos após a transferência, exceto se houver previsão
aplicada também no caso de o adquirente encerrar a expressa no contrato.
atividade, mas retomá-la no prazo de 6 meses. Em se tratando de arrendamento ou usufruto do esta-
Já no tocante às obrigações trabalhistas, a Consolidação belecimento, a cláusula de não concorrência irá perdu-
das Leis do Trabalho dispõe, em seu art. 448, que rar durante todo o contrato.
Art. 448. A mudança na propriedade ou na estru-
tura jurídica da empresa não afetará os contratos 3.2.5 OS CONTRATOS CELEBRADOS PELO
de trabalho dos respectivos empregados.
ALIENANTE
Se o contrato entre as partes não dispuser de forma
No mesmo sentido, interpretamos o art. 10, CLT, que
diversa, a transferência do estabelecimento importa a
dispõe que
sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados
Art. 10. Qualquer alteração na estrutura jurídica da para exploração do estabelecimento, como por exem-
empresa não afetará os direitos adquiridos por plo: os contratos de trabalho, fornecimento de energia
seus empregados. elétrica e contratos com a clientela.
Não haverá sub-rogação apenas em relação aos contra-
Ou seja, no que se refere às obrigações trabalhistas tos de caráter pessoal, ou seja, personalíssimos. Pode-
entre alienante e adquirente, haverá solidariedade por mos citar como contratos personalíssimos:
todas as obrigações anteriores à alienação. - Contrato de locação (art. 13, Lei 8.245/91): não pode
Existem duas exceções em que não haverá sucessão haver cessão da sublocação sem autorização do pro-
das obrigações do devedor inclusive tributárias, traba- prietário;
lhistas ou decorrentes de acidente do trabalho consa- - Franquia empresarial (art. 3º, Lei 8.955/94): indica-
gradas na Lei 11.101/05: ção do perfil completo do franqueado somente per-
- Na Recuperação Judicial: quando a alienação judicial manecendo com a anuência do franqueador.
for de filiais ou unidades produtivas isoladas do deve- É permitido ao terceiro, no prazo de 90 dias contados
dor (art. 60, parágrafo único, LRF), a alienação consti- da publicação da transferência, a rescisão do contrato
tui um dos meios de recuperação judicial previsto no na hipótese de justa causa, ressalvado, nesse caso, a
art. 50, LRF; e responsabilidade do alienante (quando ele mesmo ense-
- Na falência: na alienação conjunta ou separada de jar a justa causa).
ativos da empresa e de suas filiais o objeto da aliena- Nos termos do art. 1.149, CC,
ção estará livre de quaisquer ônus e não haverá suces-
são do arrematante nas obrigações do devedor, inclu- Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes ao es-
tabelecimento transferido produzirá efeito em re-
sive de natureza tributária e as derivadas de relação
lação aos respectivos devedores, desde o momen-
de trabalho ou decorrentes de acidente do trabalho
to da publicação da transferência, mas o devedor
(art. 141, II, LRF). ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.

Ora, a intenção do legislador não foi outra senão tutelar


3.2.4 CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA a boa-fé do terceiro que, desconhecendo o contrato de
A CF em seu art. 170, IV, estipula que a ordem econômi- trespasse, efetua o pagamento ao cedente, quando, na
ca, fundada na valorização do trabalho humano e na verdade, deveria pagar ao cessionário. Nesses casos,
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existên- restando comprovada a boa-fé de terceiro, este será

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desonerado da obrigação, devendo o cedente repassar Art. 251. A companhia pode ser constituída, medi-
ao cessionário os valores que recebeu. ante escritura pública, tendo como único acionista
sociedade brasileira

4. DIREITO SOCIETÁRIO b) Empresa Pública: quando o capital pertencer a uma


única pessoa de direito público;
4.1 CONCEITO E ELEMENTOS DA SOCI-
c) Sociedade Limitada Unipessoal, prevista no art. 1.052,
EDADE §§ 1º e 2º, CC.
O art. 44, CC, dispõe que Art. 1.052. (...)
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: § 1º A sociedade limitada pode ser constituída por
1 (uma) ou mais pessoas.
I - as associações;
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento
II - as sociedades;
de constituição do sócio único, no que couber, as
III - as fundações. disposições sobre o contrato social.
IV - as organizações religiosas;
V - os partidos políticos.  Sociedade Unipessoal temporária e derivada: inici-
VI - as empresas individuais de responsabilidade almente, são constituídas com pluralidade de sócios,
limitada. mas, no curso da sua vida societária, perdem a plurali-
dade, restando apenas um sócio. Ocorre nas hipóteses
do art. 1.033, IV, CC, e no art. 206, I, d, LSA. São chama-
O conceito de sociedade encontra-se expresso no art. das de temporárias, pois não podem permanecer uni-
981, CC, que dispõe que pessoais, devendo recompor o quadro societário no
prazo estipulado em lei.
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pes-
soas que reciprocamente se obrigam a contribuir,
com bens ou serviços, para o exercício de atividade CÓDIGO CIVIL/02 LEI 6.404/76 (L.S.A)
econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Art. 206. Dissolve-se a com-
Art. 1.033. Dissolve-se a panhia:
O contrato da sociedade é instrumentalizado através do sociedade quando ocorrer: I - de pleno direito:
contrato social, possuindo como natureza jurídica ser (...) d) pela existência de 1 (um)
um contrato plurilateral. IV - a falta de pluralidade de único acionista, verificada em
sócios, não reconstituída no assembleia-geral ordinária, se
Da redação do dispositivo, temos os elementos do con- o mínimo de 2 (dois) não for
trato de sociedade: pluralidade de sócios, contribuição prazo de cento e oitenta dias;
reconstituído até à do ano
para capital social, partilha dos resultados e affectio seguinte, ressalvado o dispos-
societatis. to no artigo 251;

 Pluralidade de sócios: dois ou mais sócios. A consti-


tuição da sociedade necessita da pluralidade de sócios.
Os sócios podem ser pessoas naturais ou jurídicas.  Contribuição dos sócios: obrigam-se os sócios a
contribuir para a formação do capital social. O capital é
Não obstante a pluralidade de sócios ser elemento es- a cifra contábil que corresponde aos valores que os
sencial para constituição da sociedade, devemos desta- sócios contribuíram para a formação do capital.
car as exceções em que a sociedade será unipessoal
temporária ou permanente, originária ou derivada. O capital social representa a garantia dos credores.
Podemos destacar como princípios norteadores do
 Sociedade Unipessoal originária e permanente: capital social:
temos três sociedades classificadas como originárias e
- Unidade (capital único);
permanentes.
- Fixidez (capital fixo, não pode ser variável – exceção
a) Sociedade subsidiária integral, prevista no art. 251,
cooperativa);
Lei das Sociedades por Ações (LSA). É aquela constituída
por escritura pública, tendo como único acionista uma - Intangibilidade (capital não pode ser utilizado para
sociedade brasileira. Exemplo: TRANSPETRO (subsidiária os outros fins que não sejam o objeto da sociedade);
integral da Petrobrás);
- Realidade (capital deve ser real, sob pena de respon-
sabilização dos sócios).

16
A integralização do capital social pode ser realizada Sociedade limitada Sociedade limitada
com dinheiro, bens ou cessão de crédito. Existe ainda a (arts. 1.052 a 1.087, CC) (arts. 1.052 a 1.087, CC)
possibilidade de integralização do capital social com
Sociedade anônima Sociedade simples pura
serviço, mas, essa modalidade de integralização somen-
(arts. 1.088 a 1.089) (arts. 977 a 1.038, CC)
te será aplicada nas sociedades simples puras e coope-
rativas (arts. 1.094, I, e 983, CC). Sociedades em comandita por
Sociedade cooperativa
ações
(arts. 1.093 a1.096, CC)
(arts. 1.090 a 1.092, CC)
 Partilha dos resultados: em regra, os sócios devem
repartir os lucros (resultado positivo) e as perdas (resul-  Quanto à personalidade jurídica das sociedades:
tado negativo). É vedada em nosso ordenamento a Sociedades personificadas e sociedades não personifi-
cláusula leonina, que impede o sócio de participar dos cadas.
lucros da sociedade (art. 1.008, CC).
 Quanto ao ato constitutivo: contratuais ou institu-
Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que ex-
cionais.
clua qualquer sócio de participar dos lucros e das
perdas.  Quanto ao vínculo: pessoa ou capital.
 Quanto à responsabilidade dos sócios: limitada,
A participação nas perdas não será aplicada às socie- ilimitada ou mista.
dades limitadas e às sociedades anônimas, pois, nessas  Quanto à nacionalidade: Sociedade Brasileira e
duas modalidades societárias, a responsabilidade dos Estrangeira.
sócios é limitada.

 Affectio societatis: Previsto no art. 5º, XX, CF. Repre- 4.3 REGISTRO DE PERSONALIDADE JU-
senta a afinidade, a vontade que os sócios possuem de RÍDICA
estarem unidos em busca de resultados comuns.
A inscrição do ato constitutivo (contrato social) no órgão
Em regra, as sociedades anônimas, por serem socieda- competente é obrigatória. A sociedade que não efetuar
des de capital, não têm a presença da affectio societatis. o seu registro no prazo previsto na lei será regida pelas
Porém, existe uma exceção manifestada pelo STJ nos normas de sociedade em comum (arts. 986 a 990, CC).
Informativos 357 e 487, de que, nas hipóteses de S.A de
capital fechado e cunho familiar (integradas por entes Os documentos necessários ao registro deverão ser
de uma mesma família), é possível a existência da af- apresentados no prazo de 30 dias, contados da lavratu-
fectio societatis. Nesses casos, a quebra da affectio ra dos atos respectivos, hipótese em que os efeitos do
societatis é consequência derivada dos deveres dos registro retroagem à data de constituição da sociedade
sócios, permitindo o exercício do direito de retirada ou a (efeito ex tunc). Porém, se o registro for efetuado após
exclusão do sócio. o prazo fixado no art. 1.151, §1º, CC (30 dias), os efeitos
serão ex nunc e, durante o período que permanecer
sem o registro, será considerada sociedade comum
4.2 CLASSIFICAÇÕES DAS SOCIEDADES (arts. 986 a 990, CC).

EMPRESARIAIS Nos termos dos art. 985, CC, a sociedade adquire perso-
nalidade jurídica com a inscrição dos seus atos constitu-
 Quanto ao objeto das sociedades: simples ou em- tivos, levados a registro no órgão competente. Enquan-
presária. to o empresário e as sociedades de natureza empresá-
 Quanto ao tipo societário: Tendo em vista o prin- ria efetuam suas inscrições no Registro Público de Em-
cípio da tipicidade, as sociedades adotarão um dos ti- presa Mercantil (RPEM), as sociedades de natureza
pos societários previstos em lei. simples efetuam seu registro no Registro Civil de Pessoa
Jurídica (RCPJ). A EIRELI poderá efetuar o seu registro no
RPEM (se for empresária) ou no RCPJ (se for simples).
EMPRESÁRIA (REGISTRO SIMPLES (REGISTRO
RPEM) RCPJ) Com a aquisição da personalidade jurídica, a sociedade
passa a assumir direitos e obrigações, adquirindo:
Sociedade em nome coletivo Sociedade em nome coletivo
(arts. 1.039 a 1.044, CC) (arts. 1.039 a 1.044, CC) - Patrimônio próprio: o patrimônio social não se con-
funde com o patrimônio particular dos sócios;
Sociedade em comandita Sociedade em comandita
simples simples
(arts. 1.045 a 1.051, CC) (arts. 1.045 a 1.051, CC)

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- Nome próprio: a sociedade passa a ter nome próprio Nesse sentindo, podemos afirmar que a desconsidera-
distinto dos seus membros. O nome pode ser uma ção da personalidade jurídica pode ser aplicada ainda
firma ou uma denominação; que não seja configurada a insolvência patrimonial,
desde que caracterizado o abuso da personalidade jurí-
- Nacionalidade própria: nacionalidade distinta dos
dica, seja por desvio de finalidade ou confusão patrimo-
seus membros; e
nial. Esse é o entendimento que vem sendo aplicado
- Domicílio próprio: sede social (domicílio) distinto pelo STJ (REsp. 1.729.554).
dos seus membros.
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídi-
ca, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
4.4 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONA- confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento
da parte, ou do Ministério Público quando lhe
LIDADE JURÍDICA couber intervir no processo, desconsiderá-la para
que os efeitos de certas e determinadas relações
Um dos efeitos da aquisição da personalidade jurídica é
de obrigações sejam estendidos aos bens particu-
a aquisição de patrimônio próprio. Com a aquisição da lares de administradores ou de sócios da pessoa
personalidade jurídica, o patrimônio da sociedade não jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
se confunde com o patrimônio particular dos sócios. abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
Não obstante a separação patrimonial da sociedade e § 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio
de seus respectivos sócios, com intuito de coibir a utili- de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com
zação da personalidade jurídica para prática de atos o propósito de lesar credores e para a prática de
fraudulentos, nasceu o instituto da desconsideração da atos ilícitos de qualquer natureza. (Incluído pela Lei
personalidade jurídica (disregard doctrine). Esse institu- nº 13.874, de 2019)
to tem como finalidade atingir os bens particulares dos § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausên-
administradores ou sócios, nas hipóteses de abuso da cia de separação de fato entre os patrimônios, ca-
personalidade. racterizada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de
2019)
A desconsideração não se confunde com a despersoni-
ficação. Esta acarreta a dissolução da sociedade e, con- I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obri-
gações do sócio ou do administrador ou vice-
sequentemente, a perda da personalidade jurídica. Já na
versa; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
desconsideração, há um afastamento momentâneo dos
efeitos da autonomia da personalidade jurídica, fazen- II - transferência de ativos ou de passivos sem efe-
do com que a responsabilidade recaia sobre os bens tivas contraprestações, exceto os de valor propor-
particulares dos administradores ou sócios da pessoa cionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)
jurídica.
III - outros atos de descumprimento da autonomia
Podemos destacar as seguintes hipóteses de desconsi- patrimonial. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
deração:
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste ar-
 Art. 50, CC tigo também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídi-
Enunciado 282, IV, JDC - O encerramento irregular
ca. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
das atividades da pessoa jurídica, por si só, não
basta para caracterizar abuso da personalidade ju- § 4º A mera existência de grupo econômico sem a
rídica. presença dos requisitos de que trata o caput deste
artigo não autoriza a desconsideração da persona-
lidade da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº
Essa teoria é adotada quando há configuração do abuso 13.874, de 2019)
da personalidade jurídica, causada pelo desvio de fina- § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera ex-
lidade (os poderes de administração são utilizados para pansão ou a alteração da finalidade original da ati-
interesse pessoal e não da sociedade) ou confusão pa- vidade econômica específica da pessoa jurídi-
trimonial (os patrimônios do sócio e da pessoa jurídica ca. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
se confundem). Para aplicação dessa teoria, é necessá-
rio o requerimento da parte ou do Ministério Público,
não podendo ser aplicada de ofício pelo juiz.
 Art. 28, Lei 8.078/90
Enunciado 281, IV, JDC - A aplicação da desconsi-
deração, prevista no art. 50, CC prescinde da de- O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da
monstração de insolvência da pessoa jurídica. sociedade quando, em detrimento do consumidor,
houver abuso de direito, excesso de poder, infração da

18
lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou con- Art. 34. A personalidade jurídica do responsável
trato social. A desconsideração também será efetivada por infração da ordem econômica poderá ser des-
quando houver falência, estado de insolvência, encer- considerada quando houver da parte deste abuso
de direito, excesso de poder, infração da lei, fato
ramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados
ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato
por má administração.
social.

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personali- Parágrafo único. A desconsideração também será
dade jurídica da sociedade quando, em detrimento efetivada quando houver falência, estado de insol-
do consumidor, houver abuso de direito, excesso vência, encerramento ou inatividade da pessoa ju-
de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou vio- rídica provocados por má administração.
lação dos estatutos ou contrato social. A desconsi-
deração também será efetivada quando houver fa-
lência, estado de insolvência, encerramento ou i-  Art. 133, §§ 1º e 2º, CPC - Teoria inversa
natividade da pessoa jurídica provocados por má
administração.
Essa modalidade de desconsideração é utilizada para
impedir que a pessoa jurídica seja utilizada para burlar
o regime de bens ou terceiros, atingindo o patrimônio
 Art. 28, § 5º, Lei 8.078/90 da sociedade por obrigação particular do sócio até o
limite do valor das suas cotas.
Será aplicada sempre que sua personalidade for, de
Enunciado 283, CJF. Art. 50. É cabível a desconsi-
alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
deração da personalidade jurídica denominada
causados aos consumidores (quando configurado dano
“inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu
ao consumidor). É necessária apenas a insolvência da da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens
sociedade, não sendo necessária a comprovação do pessoais, com prejuízo a terceiros.
abuso ou fraude da personalidade.
Art. 133. O incidente de desconsideração da per-
Art. 28. (...) sonalidade jurídica será instaurado a pedido da
§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa parte ou do Ministério Público, quando lhe couber
jurídica sempre que sua personalidade for, de al- intervir no processo.
guma forma, obstáculo ao ressarcimento de preju- § 1º O pedido de desconsideração da personalida-
ízos causados aos consumidores. de jurídica observará os pressupostos previstos em
lei.

 Art. 4º, Lei 9.605/98 § 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese


de desconsideração inversa da personalidade jurí-
Aplicação da desconsideração sempre que sua persona- dica.
lidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados à qualidade do meio ambiente (quando con-
figurado dano ambiental).  Relações trabalhistas (PROVIMENTO CGJT 1/2019)
Possibilidade de adoção da teoria da desconsideração
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídi- na justiça do trabalho, antes mesmo da alteração do
ca sempre que sua personalidade for obstáculo ao
Código Civil e da CLT. A CLT prevê expressamente a
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade
aplicação do instituto da desconsideração nas relações
do meio ambiente.
trabalhistas no art. 855-A:
Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o in-
 Art. 34, Lei 12.529/11 cidente de desconsideração da personalidade jurí-
dica previsto nos arts. 133 a 137 da Lei no 13.105,
A personalidade jurídica do responsável pela infração da de 16 de março de 2015 - Código de Processo Civil.
ordem econômica poderá ser desconsiderada
- Quando houver, por parte deste, abuso de direito,
excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito Nos termos do art. 134, CPC, o incidente de desconside-
ou violação dos estatutos ou do contrato social; ou ração da personalidade jurídica é cabível em todas as
fases do processo de conhecimento, no cumprimento
- Quando houver falência, estado de insolvência, en- de sentença e na execução fundada em título executivo
cerramento ou inatividade da pessoa jurídica provo- extrajudicial.
cados por má administração.
Ressalta-se que a desconsideração da personalidade
jurídica não será aplicada nas hipóteses de imputação
direta de responsabilidade do sócio ou administrador.

19
Nesses casos, a lei autoriza a responsabilização direta CC, e, subsidiariamente, em suas omissões, pelo capítu-
do sócio ou administrador (imputação direta de res- lo de sociedade simples. A exceção a essa regra são as
ponsabilidade) pela prática dos atos previstos nos dis- sociedades por ações em organização.
positivos:
A sociedade será comum nas seguintes hipóteses:
- Art. 1.080, CC: deliberações infringentes da lei ou
- Quando ela não possuir um contrato;
contrato;
- Quando ela tem contrato, mas, não foi levado a re-
- Art. 1.116, CC: quando agirem com culpa no desem-
gistro;
penho de suas atribuições;
- Quando levar o contrato a registro, mas, em órgão
- Art. 158, Lei 6.404/76: quando agir com culpa ou do-
incompetente.
lo, ou quando agir com violação à lei ou contrariamen-
te ao estatuto;
Destaca-se que, nos termos do Enunciado nº383, IV
- Art. 135, III, CTN: pelos atos praticados com excesso Jornada, CJF:
de poderes ou infração de lei, contrato social ou esta-
A falta de registro do contrato social (irregularida-
tuto.
de originária – art. 998) ou de alteração contratual
versando sobre matéria referida no art. 997 (irre-
gularidade superveniente – art. 999, parágrafo ú-
4.5 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS nico) conduzem à aplicação das regras da socie-
dade em comum (art. 986).
São sociedades que não possuem personalidade jurídi-
ca, são despersonificadas. Por serem despersonificadas,
não possuem nacionalidade, patrimônio, domicílio e Como a sociedade não adquire personalidade jurídica,
nome próprio. São sociedades despersonificadas: não terá capacidade e legitimação própria para o exer-
- Sociedade comum cício de direitos.

- Sociedade em conta de participação


 PROVA DA EXISTÊNCIA DA SOCIEDADE
Como esse tipo societário não tem seu ato constitutivo
4.5.1 SOCIEDADE COMUM (contrato) levado a registro, a prova da existência da
O contrato social dessa espécie segue as indicações do sociedade comum por terceiros pode ser provada de
art. 997, CC, e aplicam-se, subsidiariamente, as regras qualquer modo (documental, testemunhal, etc.), en-
da sociedade simples naquilo que for compatível, inclu- quanto os sócios, nas suas relações ou com terceiros,
sive no que diz respeito a sua dissolução. somente podem provar a existência da sociedade por
escrito.
A sociedade em comum é um tipo de sociedade desper-
sonificada. E, nessa condição, irá permanecer até que
efetue o seu registro no órgão competente.
CAIU NA PROVA!
É importante ressaltar que as diferenças existentes
entre as sociedades de fato, irregular e comum não mais XX EXAME DE ORDEM UNIFICADO
persistiram em nosso ordenamento. Hoje, tratamos as
sociedades de fato (não têm sequer contrato) e irregu- Sebastião e Marcelo constituíram uma sociedade sem
lares (registro em órgão incompetente) como comuns que o documento de constituição tivesse sido levado a
(não levaram seus atos constitutivos a registro) aplican- registro. Marcelo assumiu uma dívida em seu nome
do-lhes as normas referentes às sociedades comuns. pessoal, mas no interesse da sociedade. Barros é cre-
dor de Marcelo pela referida obrigação. Barros poderá
Uma vez inscrito seu ato constitutivo no órgão compe- provar a existência da sociedade
tente, a sociedade deixa de ser regulada pelo disposto
nos arts. 986 a 990, CC, passando a ser regulada pelas A) de qualquer modo, e os bens sociais respondem pe-
normas referentes ao tipo societário adotado. los atos de gestão praticados por Marcelo.
B) somente por escrito, e os bens sociais respondem
 CONCEITO pelos atos de gestão praticados por Marcelo.

O conceito encontra-se estampado no art. 996, CC, que C) de qualquer modo, e somente os bens particulares
considera comum a sociedade enquanto não inscritos de Marcelo respondem pelos atos de gestão por ele
seus atos constitutivos no Registro competente. Nesse praticados.
caso, serão regidas pelas normas dos arts. 996 a 990,

20
D) somente por escrito, e os bens particulares de Mar- - Não tem proteção de nome empresarial;
celo e Sebastião respondem pelos atos de gestão pra-
- Não pode participar de licitação;
ticados por Marcelo.
RESPOSTA: A - Não pode pedir recuperação extrajudicial (art. 161,
LRF),

 PATRIMÔNIO E RESPONSABILIDADE - Não pode se enquadrar como ME ou EPP (art. 3º, LC


123/06);
A responsabilidade dos sócios, enquanto não inscrito o
ato constitutivo (contrato) da sociedade no órgão com- - Livros de escrituração servem de prova contra os só-
petente, é ilimitada e solidária. cios (art. 226, CC).
Como não possui personalidade jurídica, ela não tem
nome e patrimônio próprio, constituindo o chamado 4.5.2 SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICI-
patrimônio especial os bens e dívidas sociais, dos quais
todos os sócios serão titulares em comum.
PAÇÃO
Enunciado 210, III, JDC - O patrimônio especial a
A sociedade em conta de participação é uma modalida-
que se refere o art. 988 é aquele afetado ao exer- de de sociedade despersonificada. Esse tipo societário é
cício da atividade, garantidor de terceiros, e de ti- diferente da sociedade em comum, tendo em vista que
tularidade dos sócios em comum, em face da au- nesta, após inscritos os atos constitutivos, a sociedade
sência de personalidade jurídica. deixa de ser despersonificada, passando a adotar um
dos tipos societários que escolheu. Já aquela, ainda que
inscrito seu ato constitutivo no órgão competente, per-
Dispõe o art. 989, CC, que os bens sociais respondem manece despersonificada. Por esta razão muitos doutri-
pelos atos de gestão praticados por qualquer dos só- nadores sustentam que a sociedade em conta de parti-
cios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que cipação não seria uma espécie de sociedade, mas sim
somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça um contrato de participação entre os sócios participan-
ou deva conhecer. tes e ostensivos.
Quando o patrimônio especial for esgotado, os sócios
responderão com seu patrimônio pessoal, uma vez que  CONCEITO
a responsabilidade do sócio é solidária e ilimitada. Apli-
ca-se à sociedade em comum a figura do benefício de A sociedade em conta de participação é regulada pelos
arts. 991 a 996, CC. Muitos doutrinadores criticam essa
ordem prevista no art. 1.024, CC.
modalidade de sociedade, tanto pela ausência de per-
Enunciado 212, III, JDC - Embora a sociedade co- sonalidade jurídica como também por não ter patrimô-
mum não tenha seus bens constritos por dívida nio próprio, domicílio, nome, características presentes
contraída em favor da sociedade, e não participou
nos demais tipos societários, tratando esse tipo societá-
do ato por meio do qual foi contraída a obrigação,
rio como um contrato de participação. Esse tipo socie-
tem o direito de indicar bens afetados às ativida-
des empresariais para substituir a constrição. tário não possui firma ou denominação (nome empre-
sarial). Quem negocia perante terceiros é o sócio osten-
sivo, sob seu nome e exclusiva responsabilidade.
O benefício de ordem prevê que primeiro devem ser Apesar das críticas existentes, trataremos a sociedade
exauridos os bens da sociedade (patrimônio especial) em conta de participação como um tipo societário des-
para, posteriormente, ser atacado o patrimônio pessoal personificado, não como um contrato de investimento.
de cada sócio, excluído desse benefício aquele que con- Esse tipo societário tem como finalidade a captação de
trata pela sociedade (art. 996, CC). recursos para realização de empreendimentos, muito
comum em construtoras, por exemplo.
 EFEITOS NEGATIVOS DA IRREGULARIDADE A sociedade em conta de participação dispensa todas as
Podemos destacar como efeitos negativos da ausência formalidades de constituição de uma sociedade, decor-
de registro no órgão competente: rendo de um contrato, que não precisa ser levado a
registro. Ou seja, é um tipo societário que independe de
- Não pode pedir recuperação (art. 48, LRF); qualquer formalidade para sua constituição, podendo
- Não pode pedir a falência do seu devedor (97, §1º, inclusive ser realizado de forma verbal.
LRF), mas pode ter sua falência decretada (art. 105, IV, No tocante à sua natureza jurídica, o tema é controver-
LRF); tido. Uma parte da doutrina sustenta que seria um con-
- Não tem proteção de marca (128, LPI); trato de participação/associação, por não manter rela-
ções com terceiros, enquanto outros sustentam ser uma

21
sociedade, ainda que não tenha personalidade jurídica, existência ser provada de qualquer forma, por todos os
pois apresenta elementos da sociedade e tem previsão meios admitidos em direito.
expressa no Código Civil.
Embora exista a ausência de formalidade quanto à sua
constituição, é importante que os sócios celebrem con-
 MODALIDADES DE SÓCIOS E SUAS RESPONSABILI- trato por escrito para delimitar as obrigações e deveres
DADES de cada um, evitando futuramente serem os sócios
participantes confundidos com os sócios de sociedade
Na sociedade em conta de participação temos duas
em comum, evitando riscos.
modalidades de sócios:
Mesmo não sendo obrigatório o registro, havendo con-
a) Sócio ostensivo: aquele que exerce unicamente em
trato social, este produzirá efeito somente entre os
seu nome individual e sob sua exclusiva responsabili-
sócios e a eventual inscrição de seu instrumento em
dade o objeto social, obrigando-se diretamente perante
qualquer registro não confere personalidade jurídica à
terceiros. Possui responsabilidade ilimitada. Não preci-
sociedade.
sa ser empresário ou sociedade empresária.
Não existe restrição quanto à pluralidade de sócios
 PATRIMÔNIO
ostensivos, e havendo pluralidade de sócios o contrato
deverá determinar a participação e atuação de cada um Como a sociedade em conta de participação não tem
deles. Nesse caso, cada um atuará em seu nome, res- personalidade jurídica, ela também não terá nacionali-
pondendo pelos atos que forem praticados, e as respec- dade, domicílio, nome ou patrimônio próprio. Mas,
tivas contas serão prestadas e julgadas no mesmo pro- gozará de capacidade processual, cabendo ao sócio
cesso. Não há entre os sócios ostensivos a solidarieda- ostensivo a representação em juízo, ativa e passiva-
de perante terceiros. mente (art. 75, IX, CPC). Os bens vertidos à consecução
do objeto são chamados de patrimônio especial, objeto
Caso o sócio ostensivo queira admitir outros sócios,
da conta de participação relativa aos negócios sociais.
será necessário o consentimento expresso dos demais,
salvo cláusula contratual dispondo de forma diversa. Nos termos do art. 994, § 1º, CC, a especialização pa-
trimonial somente produz efeitos em relação aos só-
Quando terceiro contrata com o sócio ostensivo, ele não
cios.
sabe da existência da sociedade em conta de participa-
ção.
 FALÊNCIA
b) Sócio participante/oculto: pode ser pessoa física ou Na hipótese de falência é necessário observar qual sócio
jurídica, que investe dinheiro ou fornece recursos à está falindo, se é o ostensivo ou participante/oculto.
sociedade, participando dos lucros ou prejuízos conse-
A falência for do sócio ostensivo, acarretará a dissolu-
quentes. Tem responsabilidade limitada ao valor do
ção da sociedade e a liquidação da respectiva conta,
investimento, não assumindo riscos pelo insucesso da
cujo saldo constituirá crédito quirografário. Ou seja, os
atividade perante terceiros com quem o sócio ostensivo
sócios participantes terão que habilitar os seus créditos
contratou.
no processo de falência do sócio ostensivo para receber
Os sócios participantes/ocultos podem fiscalizar a ges- os valores que têm direito, por conta da sociedade.
tão dos negócios sociais, porém, sem poder tomar par-
Já na falência do sócio participante, o contrato social
te nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob
fica sujeito às normas que regulam os efeitos da falência
pena de responder solidariamente com este pelas obri-
nos contratos bilaterais do falido.
gações em que intervier.
Se o sócio ostensivo não for empresário, não há que se
Terceiros não poderão demandar em face do sócio
falar em falência, mas em insolvência civil, regulada
oculto, exceto quando este tomar parte nas relações
pelo Código de Processo Civil.
diretamente (hipótese em que deixa de ser oculto, pas-
sando a responder solidariamente com o ostensivo Dispõe o art. 996, CC que “aplica-se à sociedade em
pelas obrigações em que intervir). conta de participação, subsidiariamente e no que com
ela for compatível, o disposto para a sociedade simples
(...)” (arts. 997 a 1.038, CC).
 CONSTITUIÇÃO E CONTRATO SOCIAL
A constituição da sociedade em conta de participação
independe de qualquer formalidade, podendo ser fir- 4.6 SOCIEDADESPERSONIFICADAS
mada de forma verbal ou por escrito. A ausência de um
contrato não impede a sua constituição, podendo a sua As sociedades personificadas são aquelas que adquirem
personalidade jurídica com a inscrição do seu ato cons-

22
titutivo no órgão competente. Encontram-se previstas Além das cláusulas que podem ser inseridas pelos só-
nos arts. 997 a 1.093, CC. São sociedades personificadas: cios, obrigatoriamente, o contrato mencionará:
- Sociedade simples; Art. 997. (...)

- Sociedade em nome coletivo; I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e


residência dos sócios, se pessoas naturais, e a fir-
- Sociedade em comandita simples; ma ou a denominação, nacionalidade e sede dos
sócios, se jurídicas;
- Sociedade em comandita por ações;
II - denominação, objeto, sede e prazo da socieda-
- Sociedade limitada e de;
- Sociedade anônima. III - capital da sociedade, expresso em moeda cor-
rente, podendo compreender qualquer espécie de
bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
4.6.1 SIMPLES (NÃO EMPRESÁRIA)
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o
Não podemos confundir a natureza jurídica das socieda- modo de realizá-la;
des (simples ou empresária) com o tipo societário (sim- V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja con-
ples, limitada, anônima, etc.). Neste tópico, trataremos tribuição consista em serviços;
exclusivamente da modalidade de sociedade simples
(chamada pela doutrina de “sociedade simples pura” ou VI - as pessoas naturais incumbidas da administra-
ção da sociedade, e seus poderes e atribuições;
“sociedade simples stricto sensu” para diferenciar de
natureza jurídica). Esse tipo societário (stricto sensu) foi VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas
criado exclusivamente para as sociedades de natureza perdas;
simples. VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiaria-
Ocorre que, não obstante termos um tipo societário mente, pelas obrigações sociais.
exclusivamente utilizado para as sociedades simples
(aquelas que não exercem empresa), o art. 983, CC,
As modificações do contrato social que tenham por
dispõe que as sociedades simples além de poderem
objeto matérias indicadas como obrigatórias no contra-
adotar o tipo societário “simples pura”, poderão utilizar
to, dependem do consentimento de todos os sócios; as
um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092, CC, ex-
demais poderão ser decididas por maioria absoluta de
ceto as sociedades por ações, sociedade anônima e
votos (sócios que representem a maioria do capital
sociedade em comandita por ações. Pois adotando co-
social), se o contrato não determinar a necessidade de
mo tipo societário uma sociedade por ações, o tipo
deliberação unânime (art. 999, CC).
prevalecerá sobre o objeto, e ela será considerada de
natureza empresária, por força do art. 982, parágrafo Todas as modificações e alterações, ou instituições de
único, CC. sucursal, filial ou agências, devem ser averbadas no
Registro Civil de Pessoa Jurídica.
 CONCEITO
 A FIGURA DO SÓCIO E SUA RESPONSABILIDADE
O tipo societário “sociedade simples pura” é destinado
àquelas atividades que estão excluídas do conceito de Os sócios podem ser pessoas físicas ou jurídicas.
empresário, uma vez que não exercem empresa (como,
No tocante à responsabilidade dos sócios, o tema é
por exemplo, sociedade para exercício exclusivo da
controvertido na doutrina. O art. 997, VIII, CC, estipula
profissão intelectual, atividade rural, e atividades não
que o contrato social irá determinar “se os sócios res-
organizacionais). Esse tipo societário regulamenta as
pondem ou não, subsidiariamente, pelas obrigações
antigas sociedades civis sem fins econômicos, que ga-
sociais”; enquanto o art. 1.023, CC, estipula que “se os
nharam a roupagem de sociedade simples.
bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respon-
dem os sócios pelo saldo, na proporção em que partici-
 ATO CONSTITUTIVO pem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabili-
dade solidária”.
A sociedade simples pura tem natureza contratual,
sendo o seu ato constitutivo um contrato social que A primeira corrente, defendida pelo STJ no Informativo
deve ser realizado de forma escrita, por instrumento 468 (Resp. 895.792-RJ), sustenta que a responsabilida-
público ou particular. de dos sócios na sociedade simples pura é ilimitada.
A inscrição da sociedade deve ser realizada no prazo Alguns doutrinadores divergem do STJ ao afirmarem
máximo de 30 dias após a sua constituição no Registro que os sócios poderão determinar no contrato social se
Civil de Pessoa Jurídica do local de sua sede. querem responder ou não, subsidiariamente e ilimita-

23
damente (art. 997, VIII) pelas dívidas sociais. E, não ser consideradas eventuais disposições contratuais
havendo responsabilidade subsidiária, os sócios res- restritivas à determinação de seu valor.
ponderiam na proporção de suas cotas. Afirmam ainda
Os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge que se
que a aplicação da responsabilidade solidária dos só-
separou judicialmente (casado em regime de comu-
cios, prevista no art. 1.023, CC, também depende de
nhão universal), não podem exigir desde logo a parte
cláusula contratual. Corroborando com essa segunda
que lhes couber na quota social (apuração de haveres),
corrente, pode-se destacar os Enunciados 479, V Jorna-
mas concorrem à divisão periódica dos lucros até que
da de Direito Civil do CJF, e Enunciado 10, I Jornada de
se liquide a sociedade, em atendimento à preservação
Direito Comercial.
da empresa (art. 1.027, CC).
Enunciado 479. Na sociedade simples pura (art.
983, parte final, do CC/2002), a responsabilidade Isso ocorre porque o cônjuge do sócio não adquire o
dos sócios depende de previsão contratual. Em ca- direito de ser sócio, assim como os herdeiros também
so de omissão, será ilimitada e subsidiária, con- não. Os herdeiros do cônjuge de sócio ou o cônjuge que
forme o disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do se separou judicialmente adquirem o valor das cotas do
CC/2002. de cujos (sócio falecido). Eles não fazem parte do qua-
dro societário, mas, participam dos lucros.
Enunciado 10. Nas sociedades simples, os sócios
podem limitar suas responsabilidades entre si, à  CONTRIBUIÇÃO E INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL
proporção da participação no capital social, ressal-
SOCIAL
vadas as disposições específicas.
As obrigações dos sócios se iniciam com a assinatura do
contrato (se este não fixar outra data), e terminam com
Ou seja, quando os bens da sociedade não lhe cobrirem a liquidação da sociedade.
as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na propor-
ção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula Uma das obrigações dos sócios que devemos destacar é
de responsabilidade solidária. a integralização do capital social que foi por ele subs-
crito. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previs-
Se o contrato previr cláusula de responsabilidade soli- tos, às contribuições estabelecidas no contrato social. A
dária, o credor da sociedade poderá exigir de um ou de subscrição do capital social significa o valor que aquele
todos os sócios o valor da dívida inteira quando à socie- sócio irá realizar (pagar) até que o capital social esteja
dade não restarem bens suficientes para pagamento do completamente integralizado (quando todos os sócios
credor. Do contrário, cada sócio responderá na propor- efetuam o pagamento de todas as suas cotas). O sócio
ção de suas cotas. que subscreve (se compromete no contrato social) e
Ainda que haja a cláusula expressa de responsabilidade não integraliza é chamado de sócio remisso.
solidária dos sócios, por conta da figura do benéfico de Dispõe o caput do art. 1.004, CC, que o sócio que deixar
ordem, os bens particulares dos sócios não podem ser de integralizar o capital social será notificado para efe-
executados por dívidas da sociedade senão depois de tuar o pagamento em 30 dias após a notificação. Não
executados os bens sociais (art. 1.024, CC). ocorrendo o pagamento, o sócio remisso responderá
Se o sócio da sociedade possui dívidas particulares e perante a sociedade pelo dano emergente da mora.
não há outros bens para saldar seu débito junto ao cre- Uma vez, verificada a mora, poderá a maioria dos de-
dor particular (somente as cotas que ele possui na soci- mais sócios preferir:
edade), este poderá fazer recair a execução sobre o
que ao sócio (devedor) couber nos lucros da sociedade, - Indenização;
ou na parte que lhe tocar em liquidação (se a sociedade - Exclusão do sócio remisso;
já estiver sendo dissolvida).
- Reduzir-lhe a quota ao montante já realizado (apli-
Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor cando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1º do
requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, art. 1.031, CC).
apurado na forma do art. 1.031 (apuração de haveres),
será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até As formas de integralização do capital social poderão
90 dias após aquela liquidação (art. 1.026, parágrafo ser:
único, CC), hipótese em que a sociedade excluirá de - Dinheiro;
pleno direito o sócio que teve suas cotas liquidadas. Na
apuração dos haveres do sócio, por consequência da - Bens: sócio que transferir domínio, posse ou uso
liquidação de suas quotas na sociedade para pagamento responderá pela evicção;
ao seu credor (art. 1.026, parágrafo único), não devem - Cessão de crédito: responderá pela solvência do de-
vedor o sócio que ceder o crédito; ou

24
- Serviço: o sócio não pode, salvo convenção em con- Art. 999. As modificações do contrato social, que
trário, empregar-se em atividade estranha à socieda- tenham por objeto matéria indicada no art. 997,
de, sob pena de ser privado de seus lucros e dela ex- dependem do consentimento de todos os sócios;
as demais podem ser decididas por maioria absolu-
cluído, sendo vedada a cláusula leonina que exclua
ta de votos, se o contrato não determinar a neces-
qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas.
sidade de deliberação unânime.
Destaca-se que, nos termos do art. 1.009, CC,
Art. 1.009. A distribuição de lucros ilícitos ou fictí-
Nos termos do art. 1.010, § 3º, CC,
cios acarreta responsabilidade solidária dos admi-
nistradores que a realizarem e dos sócios que os Art. 1.010. (...)
receberem, conhecendo ou devendo conhecer-
§3º Responde por perdas e danos o sócio que,
lhes a ilegitimidade.
tendo em alguma operação interesse contrário ao
da sociedade, participar da deliberação que a a-
prove graças a seu voto.
Os lucros não se confundem com o pró-labore (valor
devido ao sócio pela administração/trabalho que ele
desempenha na sociedade). Para o sócio que contribui para o capital social com
serviço, a regra é que ele não participa das deliberações
 CESSÃO DE COTAS que dependam de votos de maioria do capital social,
uma vez que ele não é titular de nenhuma cota. Mas,
Os sócios não podem ser substituídos no exercício das participarão da votação todos os sócios (que contribuí-
suas funções sem o consentimento dos demais sócios, ram para o capital com dinheiro ou serviço) nas deci-
expresso em modificação do contrato social. sões que dependam de maiorias dos sócios (e não do
Caso o sócio não tenha mais interesse em participar do capital).
quadro societário, ele poderá ceder as suas cotas. Para
isso, é necessária a respectiva modificação no contrato  ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE
social, bem como o consentimento dos demais sócios;
do contrário, não terá eficácia quanto a estes e à socie- A administração é um órgão que representa a socieda-
dade. de. O administrador age em nome da sociedade, repre-
sentando seus interesses, sendo responsável pelo cum-
As obrigações do sócio perante a sociedade e terceiros primento do objeto social, executando a vontade da
não cessam com a cessão de cotas, ficando o cedente sociedade.
solidariamente responsável com o cessionário (novo
sócio) pelo prazo de 2 anos depois de averbada a modi- O administrador da sociedade deverá ser obrigatoria-
ficação. mente, uma pessoa natural, sócio ou não, por força do
art. 997, VI, CC, sendo vedada a administração por pes-
O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se soa jurídica. O administrador não poderá ser substituído
exime das dívidas sociais anteriores à admissão. Se o no exercício da sua função, sendo-lhe facultado consti-
contrato opuser limitação à responsabilidade do sócio tuir mandatário, especificando todos os atos que este
cessionário, esta não poderá ser oponível a terceiros, pode praticar (art. 1.018, CC).
por força do disposto no art. 1.025, CC.
Não podem exercer o cargo de administrador aqueles
que têm impedimento legal, bem como os previstos no
 DELIBERAÇÕES SOCIAIS art. 1.011, §1º, CC, como, por exemplo, aqueles conde-
As deliberações dos sócios serão tomadas por maioria nados por crime falimentar, de prevaricação, suborno,
do capital social (maioria de votos segundo o valor das economia popular, peculato, dentre outros.
cotas de cada um). Para formação da maioria absoluta, Se o contrato for omisso quanto à administração da
são necessários votos correspondentes a mais da meta- sociedade, esta competirá separadamente a cada sócio.
de do capital. Havendo empate, prevalece a decisão Nesse caso, cada um poderá impugnar operação pre-
sufragada pelo maior número de sócios, e, se este per- tendida por outro, cabendo a decisão aos sócios, por
sistir, decidirá o juiz. maioria de votos, respondendo por perdas e danos
Destaca-se que o contrato social ou a lei poderão exigir, perante a sociedade o administrador que realizar opera-
dependendo da matéria em discussão, quórum unânime ções, sabendo ou devendo saber que estava agindo em
dos sócios ou de 2/3 ou de 3/4 do capital. A lei, por desacordo com a maioria (1.013, §2º, CC).
exemplo, determina que as alterações contratuais das A nomeação do administrador poderá ocorrer no con-
matérias previstas no art. 997, CC, exigem quórum de trato social ou em ato separado. Se for nomeado em
unanimidade dos sócios. ato separado, deverá averbá-lo à margem da inscrição

25
da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de reque- - Tratando-se de operação evidentemente estranha
rer a averbação, responderá pessoal e solidariamente à aos negócios da sociedade.
sociedade.
Por isso, é importante que os credores que contratam
com a sociedade verifiquem no contrato social se o
Sócio nomeado em ato administrador tem ou não poderes para a celebração
Sócio nomeado no contrato
separado daquele ato, sob pena de a sociedade poder opor àque-
les o excesso praticado pelo administrador para eximir-
Os poderes podem ser
Não pode ser substituído, salvo se da obrigação.
revogados a qualquer tem-
justa causa.
po. Os administradores têm a obrigação de prestar contas
justificadas aos sócios de sua administração, apresen-
tando-lhes o inventário anualmente, bem como o ba-
O sócio nomeado no contrato social como administra- lanço patrimonial e o de resultado econômico.
dor não poderá ser destituído (poderes são irrevogá-
veis), salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a O balanço é preparado levando-se em consideração os
pedido de qualquer dos sócios. Já o administrador, sócio valores resultantes do ativo (dinheiro, imóvel, cessão de
ou não, nomeado em ato separado, poderá ter seus crédito) e passivo (empréstimos, pagamentos devidos
poderes revogados a qualquer tempo. aos trabalhadores, impostos). Se o patrimônio líquido
(ativo menos passivo) for superior ao capital, a socieda-
Quando o contrato for omisso, os administradores po- de poderá distribuir lucros. No entanto, se o patrimônio
derão praticar todos os atos pertinentes à gestão da líquido for inferior ao capital, a sociedade não poderá
sociedade, exceto a alienação de imóvel, que depende distribuir lucros (intangibilidade do capital social). Se o
de voto da maioria do capital (art. 1.015, CC), a não ser fizer, estará configurada a distribuição dolosa de lucros
quando o objeto da sociedade for a compra e venda de (art. 1.009, CC), levando à responsabilidade solidária dos
imóveis. administradores que a realizaram e dos sócios que a
O administrador não atua em nome próprio, mas em receberam.
nome da sociedade, de modo que aplicamos aos atos
realizados pelo administrador a teoria da aparência.  RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO A UM
Essa teoria preconiza que os atos realizados pelo admi- SÓCIO - DISSOLUÇÃO PARCIAL
nistrador são de responsabilidade da sociedade, res-
pondendo esta perante terceiros. A sociedade poderá ser resolvida em relação a um de-
terminado sócio em algumas hipóteses contempladas
Responde solidariamente à sociedade somente o ad- nos arts. 1.028 a 1.030, CC. O procedimento de dissolu-
ministrador que agir com dolo ou culpa no desempe- ção está contemplado nos arts. 599 a 609, CPC, chama-
nho de suas atribuições, ou quando agir contrário a lei do de dissolução parcial, expressão utilizada anterior-
ou ao contrato social. A responsabilidade do adminis- mente pela doutrina quando a sociedade se resolvia em
trador é subjetiva (necessária a comprovação de dolo relação a um sócio.
ou culpa). Nesses casos, o credor demanda diretamente
a sociedade (teoria da aparência) e esta terá ação de
regresso em face do administrador para recuperar os
prejuízos causados. DISSOLUÇÃO
PARCIAL
Porém, existem situações em que podemos afastar a
responsabilidade da sociedade, responsabilizando dire-
tamente o administrador, quando restar comprovado o Exclusão Exclusão de pleno
excesso de poderes decorrentes dos atos praticados por Morte - Retirada -
judicial - art. direito - art. 1.030,
ele. art. 1.028, CC art. 1.029, CC 1.030, CC parágrafo único, CC
O art. 1.015, parágrafo único, CC, determina a possibili-
dade de responsabilidade direta do administrador,
afastando a responsabilidade da sociedade. O excesso
por parte dos administradores somente poderá ser
oposto a terceiros se ocorrer ao menos uma das seguin-  MORTE DE UM DOS SÓCIOS
tes hipóteses:
Uma das hipóteses de dissolução parcial está consagra-
- A limitação de poderes estiver inscrita ou averbada da no art. 1.028, CC. Havendo a morte de um dos só-
no registro próprio da sociedade; cios, nós teremos a liquidação de suas cotas, salvo
- Provando-se que era conhecida do terceiro; - Se o contrato dispuser diferentemente;

26
- Se os sócios remanescentes optarem pela dissolução  EXCLUSÃO DE PLENO DIREITO
da sociedade;
Temos ainda a hipótese de exclusão de pleno direito do
- Se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substi- sócio que tenha sido declarado falido ou aquele que
tuição do sócio falecido. tenha tido a sua cota liquidada (art. 1.026, CC). Nessa
hipótese não há necessidade de um processo judicial,
Ou seja, herdeiro não adquire automaticamente a
pois ocorrendo qualquer uma dessas hipóteses o sócio
qualidade de sócio, pois a regra é a liquidação das co-
poderá ser excluído.
tas.

 APURAÇÃO DE HAVERES
 RETIRADA
Dispõe o art. 1.031, CC, que, nos casos de dissolução
A Constituição em seu art. 5º, XX, garante que ninguém
parcial (em que a sociedade se resolver em relação a
é obrigado a associar-se ou a permanecer associado.
um sócio), teremos a liquidação de sua cota (salvo se o
Nesse sentido, o sócio que não deseje permanecer no
contrato não dispuser de forma diversa) com base na
quadro societário poderá ceder as suas cotas a um
situação patrimonial da sociedade, que será verificada
cessionário (art. 1.003, CC) e ficará solidariamente a
em balanço especial levantado para essa finalidade.
este responsável, pelo prazo de 2 anos a contar da
averbação. Ao ocorrer a dissolução parcial, a cota liquidada será
paga em dinheiro, no prazo de 90 dias, contado da
Porém, além da cessão de cotas, é possível que o sócio
liquidação, salvo se o contrato ou as partes dispuserem
exerça o seu direito de recesso (direito de retirada), ou
de forma diversa.
seja, o seu direito de se retirar da sociedade mediante o
pagamento do valor de suas cotas, através da apuração Em todas as hipóteses de resolução da sociedade, o
de haveres. Duas soluções foram adotadas a depender capital social sofrerá alteração com a respectiva redu-
do prazo de duração da sociedade: ção, salvo se os demais sócios suprimirem o valor de
suas cotas.
- Sociedade por prazo indeterminado: ocorrerá medi-
ante notificação aos demais sócios, com antecedência Importante ressaltar que a retirada, exclusão ou morte
mínima de sessenta dias; do sócio não o exime, ou a seus herdeiros, da respon-
- Sociedade por prazo determinado: provando-se, ju- sabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até 2
dicialmente, justa causa. anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos
dois primeiros casos, pelas obrigações posteriores e em
Enquanto o exercício do direito de retirada da sociedade
igual prazo, enquanto não se requerer a averbação (art.
por prazo indeterminado é realizado extrajudicialmen-
1.032, CC).
te, através de simples notificação, a retirada por prazo
determinado deve ser realizada judicialmente, uma vez
que deverá ser comprovada a justa causa. Em ambas as  DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE
hipóteses (retirada em sociedade por prazo determina-
Diferente do que ocorre com a dissolução parcial, em
do ou indeterminado, nos trinta dias subsequentes à
que a sociedade se resolve em relação a um dos sócios,
notificação), podem os demais sócios optar pela dissolu-
na dissolução de pleno direito ou judicial teremos a
ção da sociedade.
liquidação da sociedade.

 EXCLUSÃO JUDICIAL
 DISSOLUÇÃO DE PLENO DIREITO
Outra hipótese em que a sociedade se resolve em rela-
As causas que dão origem à dissolução estão contem-
ção a um sócio é a sua exclusão. Além da exclusão do
pladas no art. 1.033, CC. É chamada de dissolução de
sócio remisso, prevista no art. 1.004, parágrafo único,
pleno direito, que ocorrerá nas seguintes hipóteses:
CC, temos a exclusão judicial contemplada no art.
1.030, CC. Art. 1.033. (...)

Tal instituto é utilizado para excluir sócio minoritário ou I - o vencimento do prazo de duração, salvo se,
majoritário, uma vez que a deliberação ocorre mediante vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a
sociedade em liquidação, caso em que se prorro-
a iniciativa da maioria dos demais sócios (Informativo
gará por tempo indeterminado;
616, STJ), nas hipóteses:
II - o consenso unânime dos sócios;
- Por falta grave no cumprimento de suas obrigações
(deverá ser provada, não basta a simples alegação); III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta,
- Incapacidade superveniente (sentença transitada em na sociedade de prazo indeterminado;
julgado na esfera civil). IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstitu-
ída no prazo de cento e oitenta dias;

27
V - a extinção, na forma da lei, de autorização para deverão conter todos os requisitos previstos no art. 997,
funcionar. CC, resguardadas suas peculiaridades.

Importante ressaltar que, na hipótese do inciso IV, a  LEGISLAÇÃO APLICÁVEL


sociedade não será dissolvida caso o sócio remanescen- A sociedade limitada encontra-se regulada no Capítulo
te requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, IV, dos arts. 1.052 a 1.087, CC. Na omissão desse capítu-
a transformação do registro da sociedade para empre- lo, o art. 1.053, CC, determina que se aplica a sociedade
sário individual ou para empresa individual de respon- limitada, naquilo em que forem compatíveis, as normas
sabilidade limitada, inclusive na hipótese de concentra- de sociedade simples previstas dos art. 997 a 1.038, CC.
ção de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, A aplicação é subsidiária, não sendo necessário previ-
observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a são contratual.
1.115, CC (art. 1.033, parágrafo único, CC).
Dispõe o art. 1.053, parágrafo único, CC, a possibilidade
Após a dissolução de pleno direito, os administradores de o contrato social prever ainda a aplicação supletiva
da sociedade providenciarão a investidura do liquidan- das normas da Lei 6.404/76 (LSA) às sociedades limita-
te. Se não estiver designado no contrato social, o liqui- das. Se o contrato social não determinar a possibilidade
dante será eleito por deliberação dos sócios, podendo a de aplicação supletiva, ainda assim as normas da LSA
escolha recair em pessoa estranha à sociedade. O liqui- poderão ser aplicadas às LTDAs desde que o assunto
dante será destituído a qualquer tempo nas hipóteses seja omisso no Código Civil (aplicação por analogia - art.
consagradas no art. 1.038, §1º, CC. 4º, LINDB).

 DISSOLUÇÃO JUDICIAL  RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS


Além dessas hipóteses de dissolução de pleno direito, A sociedade limitada é um dos tipos societários mais
temos a possibilidade da dissolução judicial a requeri- utilizados em razão da responsabilidade dos sócios. A
mento de qualquer dos sócios, quando: sociedade limitada responde perante os seus credores
Art. 1.034. (...) ilimitadamente (com todo o seu patrimônio), havendo a
limitação da responsabilidade apenas para os sócios.
I - anulada a sua constituição;
Cada sócio tem a sua responsabilidade restrita ao valor
II - exaurido o fim social, ou verificada a sua inexe- de sua cota, mas todos respondem solidariamente pela
quibilidade. integralização do capital social.

O contrato social da sociedade poderá ainda prever


outras causas de dissolução, a serem verificadas judici-
CAIU NA PROVA!
almente, quando contestadas.
XXIV EXAME DE ORDEM UNIFICADO
Na dissolução judicial, a nomeação do liquidante será
Miguel e Paulo pretendem constituir uma sociedade
realizada pelo juiz.
do tipo limitada porque não pretendem responder
Ao ocorrer a dissolução, os administradores deverão se subsidiariamente pelas obrigações sociais. Na consulta
abster de praticar as operações que antes realizavam e a um advogado previamente à elaboração do contra-
irão se restringir à gestão própria dos negócios inadiá- to, foram informados de que, nesse tipo societário,
veis. Se após a dissolução permanecerem praticando os todos os sócios respondem
atos de gestão, responderão solidária e ilimitadamen-
A) solidariamente pela integralização do capital social.
te.
B) até o valor da quota de cada um, sem solidariedade
entre si e em relação à sociedade.
C) até o valor da quota de cada um, após cinco anos da
data do arquivamento do contrato.
4.6.2 SOCIEDADE LIMITADA
D) solidariamente pelas obrigações sociais.
Trata-se do tipo societário mais novo em nosso orde-
RESPOSTA: A
namento. A sociedade limitada é um tipo societário
personificado que se encontra previsto nos arts. 1.052 a
1.087, CC. Pode ser de natureza empresária ou simples.
Notem que a solidariedade entre os sócios é apenas
A sociedade limitada será constituída por um contrato pela integralização do capital perante terceiros. Uma
que pode ser por instrumento público ou particular e

28
vez integralizado o capital, cada sócio tem a sua respon- cifra contábil resultante da contribuição do sócio, o
sabilidade limitada ao valor de suas cotas. patrimônio é formado pelo ativo e o passivo da socieda-
de.
Existem, porém, algumas hipóteses em que os sócios
responderão pelas obrigações sociais: O capital social é a cifra contábil (presente em todas as
sociedades) que resultará da contribuição dos sócios. O
- Art. 1.080, CC: quando os sócios aprovarem delibe-
capital social é divido em cotas iguais ou desiguais,
rações infringentes do contrato ou da lei;
cabendo uma ou diversas a cada sócio. O sistema ado-
Art. 1.080. As deliberações infringentes do contra- tado é a divisão de cotas por igual valor. O valor nomi-
to ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade nal das cotas deve vir expresso no contrato social.
dos que expressamente as aprovaram.
O nosso ordenamento veda as chamadas cláusulas leo-
ninas, que excluem os sócios de participarem dos lucros
- Nas hipóteses de execução trabalhista (aplicação na da sociedade. Todavia, a distribuição de lucros pelos
desconsideração da personalidade jurídica), sendo ne- sócios fica condicionada à obtenção efetiva de lucros
cessária apenas a insolvência da sociedade para sua pela sociedade.
aplicação;
Pelo princípio da intangibilidade do capital social, não
pode haver a distribuição de lucros quando esta se der
- Dívidas de INSS (Lei 11.941/09); em prejuízo do capital social. Nos casos de distribuição
de lucros “fictícios”, os sócios serão obrigados à reposi-
ção dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer
- Art. 1.055, §1º, CC: responsabilidade solidária pela título, ainda que autorizados pelo contrato, quando tais
exata estimação dos bens; lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo do capi-
Art. 1.055. (...) tal.
§ 1º Pela exata estimação de bens conferidos ao Os lucros não se confundem com o pró-labore, uma vez
capital social respondem solidariamente todos os que este será devido ao sócio que habitualmente preste
sócios, até o prazo de cinco anos da data do regis- serviço para a sociedade como administrador.
tro da sociedade.
A sociedade limitada pode prever em seu contrato soci-
al as cotas preferenciais, conferindo aos sócios algumas
- Art. 1.059, CC: distribuições de lucros fictícios; preferências (exemplo: prioridade no recebimento de
dividendos), desde que não restrinja os seus direitos
Art. 1.059. Os sócios serão obrigados à reposição
como cotistas (exemplo: recebimento de lucros; exclu-
dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer títu-
lo, ainda que autorizados pelo contrato, quando são de algum direito em face dos interesses dos demais
tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo sócios; não poderão proibir o direito de voto).
do capital. As cotas ou ações podem ser penhoradas por dívida
particular dos sócios, observada a ordem de preferência
do art. 835, IX, CPC, c/c art. 876-A, §7º, CPC. No caso de
- Quando o ato constitutivo da sociedade não for le-
penhora das cotas, a sociedade será intimada para que
vado a registro no órgão competente (será regida pe-
os sócios possam exercer o direito de preferência para
las disposições de sociedade comum);
aquisição das cotas levadas à penhora.
Em relação à sociedade, a cota é indivisível, salvo para
- Art. 50, CC: quando os sócios atuarem com abuso da efeito de transferência (em que deve ser observado o
personalidade. art. 1056, CC).
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídi-
Na sociedade limitada, é possível o condomínio de cota.
ca, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela
confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a reque- Nesse caso, os direitos a ela inerentes somente podem
rimento da parte, ou do Ministério Público quando ser exercidos pelo condômino representante ou pelo
lhe couber intervir no processo, que os efeitos de inventariante do espólio de sócio falecido, uma vez que
certas e determinadas relações de obrigações se- os direitos dos sócios não podem ser exercidos de forma
jam estendidos aos bens particulares dos adminis- fracionada.
tradores ou sócios da pessoa jurídica.

 INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL


 CAPITAL SOCIAL E COTAS Uma das obrigações dos sócios é a integralização do
Não devemos confundir capital social com patrimônio valor de suas cotas. O sócio que subscreve e não inte-
da sociedade. Enquanto o capital social representa a graliza é chamado de sócio remisso. A sociedade irá

29
notificar esse sócio para que este, no prazo de 30 dias a de imóvel à sociedade, por instrumento particular,
contar da notificação, integralize as cotas que foram quando o instrumento de contrato previr:
subscritas. Não havendo a integralização das cotas, a
- Descrição e identificação do imóvel, sua área, dados
sociedade poderá:
relativos à sua titulação, bem como o número da ma-
- Ajuizar a ação de execução (contrato social é título trícula no registro imobiliário;
executivo extrajudicial);
- A outorga uxória ou marital, quando necessária;
- Redução da participação do sócio ao montante já
Após a averbação do contrato social por instrumento
realizado;
particular, a Junta Comercial emitirá uma certidão que
- Excluir o sócio remisso da sociedade, reduzindo o comprova a transferência do bem para a sociedade (art.
capital social; ou os sócios poderão excluir o sócio re- 64, Lei 8.934/94). Havendo desincorporação desse bem
misso e tomar para si ou transferir as cotas para ter- imóvel, a escritura pública será obrigatória.
ceiros;
O ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) não
- Indenização pelos danos emergentes da mora (art. incidirá na hipótese de o capital social ser integralizado
1.004, parágrafo único, CC, c/c art. 1.058, CC). com imóvel ou na sua desincorporação (art. 156, §2º, I,
CF, c/c art. 36, parágrafo único, CTN).
Na hipótese de os sócios optarem pela redução da par-
ticipação do sócio remisso ao montante já integraliza- Se a integralização do capital social ocorrer com cessão
do, haverá algumas opções quanto ao valor das cotas de crédito, aplicaremos o disposto no art. 1.005, CC, que
que não foram integralizadas. A primeira é optar pela trata da solidariedade entre o devedor e o cedente
redução do valor do capital social; a segunda é aquisi- (sócio que cedeu o crédito como forma de integraliza-
ção das cotas que não foram integralizadas pela socie- ção do capital). Afastamos a aplicação da regra do art.
dade, pelos sócios ou por um terceiro. Se a própria 296, CC, que dispõe que o cedente não responde pela
sociedade adquirir as cotas do sócio remisso, nesse solvência do devedor.
caso, haverá supressão do direito de voto (a sociedade
não vota, e sim os sócios) e do direito à participação
 CESSÃO DE COTAS
nos lucros da sociedade (os lucros são repartidos entre
os sócios). No momento em que forem adquiridas por O contrato social deverá especificar se as cotas podem
terceiros ou pelos sócios, tais vedações não serão apli- ou não ser transferidas, havendo omissão do contrato,
cadas. A aquisição das cotas pela sociedade pode estar a cessão de cotas entre os sócios é livre. Ou seja, o
prevista expressamente no contrato, pode ocorrer pela sócio pode ceder sua cota, total ou parcialmente, a
aplicação supletiva das normas da LSA nas LTDAs ou por quem seja sócio, independentemente da anuência dos
decisão unânime dos sócios. demais.
Nas hipóteses de exclusão, a sociedade deverá ressarcir Se, porém, a cessão de cotas ocorrer entre um sócio e
ao sócio excluído o que este já houver pago, deduzidos um terceiro, estranho ao contrato social, não poderá
os juros da mora, as prestações estabelecidas no contra- haver a oposição de titulares de mais de 1/4 do capital
to mais as despesas (art. 1.058, CC). social (25% capital social). Se os sócios que representam
mais de 1/4 do capital social não manifestarem objeção
O capital social pode ser integralizado à vista ou a prazo
à cessão de cotas, esta poderá ser realizada, com a res-
(parcelado) com dinheiro, bens; e crédito. É vedada a
pectiva averbação no RPEM, uma vez que a cessão de
contribuição do sócio que consista em serviço, chama-
cotas somente terá eficácia quanto à sociedade e a
do de “sócio indústria” (art. 1.055, §1º, CC).
terceiros a partir da averbação do respectivo instrumen-
Exceto nas hipóteses de regência supletiva da LSA (art. to, subscrito pelos sócios anuentes (art. 1.057, parágra-
8, LSA), se o capital social for integralizado com bens, os fo único, CC).
sócios indicarão o seu valor no contrato social – nesse
Ocorrendo a cessão de cotas, aplicamos o disposto no
caso, pela exata estimação conferida ao capital social,
art. 1.003, parágrafo único, e 1.032, CC, que estipula a
responderão solidariamente todos os sócios pelo prazo
solidariedade do cedente (sócio que cedeu as cotas)
de 5 anos, contados da data do registro da sociedade
com o cessionário (sócio que adquiriu as cotas) pelo
(art. 1.056, §1º, CC).
prazo de 2 anos, contados da averbação.
A regra é a escritura pública para integralização do
capital social com bens imóveis. Tal regra é excetuada  NOME EMPRESARIAL
pelo disposto no art. 35, VII, Lei 8.934/94, que afirma
não ser necessária a escritura pública aos contratos A sociedade limitada pode adotar como nome empresa-
sociais ou suas alterações em que haja a incorporação rial o uso da firma social ou denominação integradas
pela palavra final “limitada” ou a sua abreviatura (LT-
DA).

30
Se adotar como nome empresarial a firma social, esta integralizado. Art. 1.071, III, c/c
será composta com o nome de um ou mais sócios, des- Art. 1.063 § 1º, CC art. 1.076, II, CC.
de que sejam pessoas físicas, de modo indicativo da
Destituição de ad-
relação social. Já a denominação deve designar o obje-
Nomeação de admi- ministrador nomea-
to da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome do no contrato
nistrador no contrato
de um ou mais sócios. social: 3/4 do capital social: Quórum de
Os administradores que empregarem a firma ou deno- social. aprovação de mais
SÓCIO NOMEADO da metade do capi-
minação sem o vocábulo “limitada”, respondem solidá- NO CONTRATO Art. 1.076, I, CC
tal social 1/2
ria e ilimitadamente perante terceiros. O uso da firma (maioria absoluta)
social ou denominação social é privativo dos adminis- salvo disposição
tradores que tenham os necessários poderes (art. 1.064, contratual.
CC). Art. 1.063 § 1º, CC
Nomeação feita em
 REGISTRO ato separado depen- Destituição de ad-
de de quórum de ministrador nomea-
Como a sociedade limitada pode ser de natureza sim- do em ato separado:
aprovação de mais da
ples ou empresária, o local de registro dependerá da SÓCIO NOMEADO o quórum de apro-
metade do capital
natureza da sociedade. EM ATO SEPARADO social 1/2 (maioria vação de mais da
absoluta). metade do capital
Se a sociedade limitada for de natureza simples (não social 1/2 (maioria
exerce empresa) o local de registro será o Registro Civil Arts. 1.071, II, c/c Art. absoluta).
de Pessoa Jurídica (RCPJ). Por exemplo, uma sociedade 1.076, II, CC.
formada por dois profissionais intelectuais.
Se a sociedade limitada for de natureza empresária Quando a nomeação do administrador for realizada em
(exerce empresa – art. 966, caput, CC) o local do registro ato separado, será necessária a respectiva averbação
será o Registro Público de Empresa Mercantil (RPEM). do ato de nomeação e investidura no cargo através de
termo de posse no livro de atas da administração. E,
 ADMINISTRAÇÃO não sendo o termo assinado nos 30 dias seguintes à
designação, a nomeação não terá efeito (art. 1.061, §§
O administrador pode ser ou não sócio da sociedade, 1º e 2º, CC).
desde que seja pessoa física (natural), uma vez que
aplicamos subsidiariamente, nas omissões do capítulo Dispõe o art. 1.065, CC, que o administrador, ao término
das limitadas, as normas do capítulo de sociedade sim- de cada exercício social, procederá à elaboração do
ples (art. 997, VI, CC, e art. 1.061, §2º, CC). inventário, do balanço patrimonial e do balanço de
resultado econômico.
A administração poderá ser realizada por uma ou mais
pessoas designadas no contrato social ou em ato sepa- Os poderes do administrador serão fixados no contrato
rado. Se a administração for atribuída no contrato a social e, no silêncio, os administradores poderão prati-
todos os sócios, tal atribuição não será estendida de car todos os atos regulares de gestão, exceto a venda ou
pleno direito aos que posteriormente adquiram a quali- a alienação (art. 1.015, CC).
dade de sócios (art. 1.060, parágrafo único, CC). Se o administrador agir respeitando os poderes que a
A nomeação e a destituição do administrador, sócio ou ele forem designados no contrato, ou aqueles no exercí-
não, nomeado no contrato social ou em ato separado, cio regular gestão, não responderá pessoalmente pelas
dependerão dos seguintes quóruns de aprovação: obrigações sociais e seus atos obrigarão a sociedade.
O administrador não responde pelos atos ordinários que
praticar em nome da sociedade (art. 1.022, CC). Por isso,
a responsabilidade do administrador é subjetiva, pois
ADMINISTRADOR NOMEAÇÃO DESTITUIÇÃO depende da apreciação de dolo ou culpa na sua atua-
Quórum de aprova- ção. É necessário, porém analisar algumas situações em
Quórum de aprova- que os administradores respondem.
ção de mais da
ção de unanimidade
metade do capital
NÃO SÓCIO NO- enquanto o capital Sua responsabilização ocorrerá por seus atos comissivos
social 1/2 (maioria
MEADO NO CON- social não estiver (age com excesso) e omissivos (deixa de agir) ou nas
absoluta) indepen-
TRATO OU EM ATO integralizado. hipóteses previstas no art. 1.015, parágrafo único, CC,
dente da nomeação
SEPARADO Quórum de aprova- (trabalhadas no tópico de sociedade simples), hipótese
ser no contrato
ção de 2/3 ou em ato separa- em que a responsabilidade da sociedade será afastada.
se o capital estiver do.

31
Na hipótese de responsabilidade tributária do adminis- A investidura do membro ou suplente do conselho fiscal
trador, o STJ tem entendimento de que o administrador depende da assinatura do termo de posse lavrado no
não será responsabilizado se restar comprovado que o livro de atas e, não sendo realizada nos 30 dias seguin-
tributo não foi recolhido pela sociedade por não possu- tes ao da eleição, está se tornará sem efeito (art. 1.067,
ir recursos suficientes (art. 135, III, CTN). CC).
A remuneração dos membros do conselho fiscal será
 CONSELHO FISCAL fixada, anualmente, pela assembleia dos sócios que os
eleger.
O conselho fiscal é órgão de atuação facultativa nas
sociedades limitadas. Se existir, sua composição será de
três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios  DELIBERAÇÕES DOSSÓCIOS
ou não, residentes no País.
Os sócios têm o direito de participar das deliberações
É assegurado aos sócios minoritários, que representa- sociais (art. 1.072 c/c art. 1.010, CC). As deliberações
rem pelo menos 1/5 do capital social, o direito de ele- poderão ser tomadas por reunião ou assembleia, con-
ger, separadamente, um dos membros do conselho forme previsto no contrato, sendo obrigatória a realiza-
fiscal e o respectivo suplente. ção por assembleia quando o número de sócios for
superior a 10.
A eleição dos membros do conselho fiscal será realizada
em assembleia anual (art. 1.066, CC, c/c art. 1.078, CC). As decisões que dependem de deliberação dos sócios
deverão observar o quórum do art. 1.076, CC, de acordo
A competência do conselho fiscal é fiscalização dos atos
com as matérias do art. 1.071, CC.
de administração e sua atuação além das hipóteses
previstas no contrato ou aquelas elencadas abaixo:
QUÓRUM (ressalvado o
Art. 1.069. (...) MATÉRIA
disposto nos art. 1.061, CC)
I - examinar, pelo menos trimestralmente, os livros
e papéis da sociedade e o estado da caixa e da car- I - a aprovação das contas da Pela maioria dos votos presen-
teira, devendo os administradores ou liquidantes administração; tes
prestar-lhes as informações solicitadas; II - a designação dos adminis-
Mais da 1/2 do capital social
II - lavrar no livro de atas e pareceres do conselho tradores, quando feita em ato
(maioria absoluta)
fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I separado;
deste artigo; III - a destituição dos adminis- Mais da 1/2 do capital social
III - exarar no mesmo livro e apresentar à assem- tradores; (maioria absoluta)
bléia anual dos sócios parecer sobre os negócios e IV - o modo de sua remunera-
as operações sociais do exercício em que servirem, Mais da ½ do capital social
ção, quando não estabelecido
tomando por base o balanço patrimonial e o de re- (maioria absoluta)
no contrato;
sultado econômico;
V - a modificação do contrato Pelos votos correspondentes a
IV - denunciar os erros, fraudes ou crimes que des-
social; no mínimo 3/4 do capital social
cobrirem, sugerindo providências úteis à socieda-
de; VI - a incorporação, a fusão e a
dissolução da sociedade, ou a Pelos votos correspondentes a
V - convocar a assembléia dos sócios se a diretoria
cessação do estado de liquida- no mínimo 3/4 do capital social
retardar por mais de trinta dias a sua convocação
ção;
anual, ou sempre que ocorram motivos graves e
urgentes; VII - a nomeação e destituição
Pela maioria dos votos presen-
dos liquidantes e o julgamento
VI - praticar, durante o período da liquidação da tes (maioria simples)
das suas contas;
sociedade, os atos a que se refere este artigo, ten-
do em vista as disposições especiais reguladoras da
liquidação.
O anúncio da convocação da assembleia de sócios será
publicado 3 vezes em órgão oficial e jornal de grande
O art. 1.068 § 1º, CC, traz o rol dos impedidos de faze- circulação, devendo ser respeitado o prazo mínimo da
rem parte do conselho fiscal. Além dos inelegíveis e- data da 1ª publicação (8 dias antes da assembleia) e 2ª
numerados no § 1º do art. 1.011, CC, não poderão fazer publicação (5 dias antes da assembleia). Dispensam-se
parte os membros dos demais órgãos da sociedade ou as formalidades do art. 1.152, §3º, CC, quando todos os
de outra por ela controlada, os empregados de quais- sócios comparecerem ou declararem-se, por escrito,
quer delas ou dos respectivos administradores, o cônju- cientes do local, data, hora e ordem do dia.
ge ou parente destes até o terceiro grau.

32
A reunião ou assembleia tornam-se dispensáveis quan- preferência de 25% na subscrição das novas cotas, no
do todos os sócios decidirem por escrito, sobre a maté- prazo de 30 dias, contados da data da deliberação.
ria que seria objeto de deliberação (art. 1.072, § 3º, CC).
Já a redução do capital social somente poderá ocorrer
O quórum de instalação da assembleia em 1ª convoca- nas hipóteses previstas no art. 1.082, CC:
ção deverá ser de 3/4 do capital social e, em 2ª convo-
- Depois de integralizado, se houver perdas irrepará-
cação, com qualquer número (art. 1.074, CC).
veis, reduzindo o capital proporcionalmente ao valor
A legitimidade para convocação da assembleia perten- nominal das cotas, tornando-se efetiva a partir da a-
ce ao administrador, mas também poderão ser convo- verbação;
cadas pelos sócios ou conselho fiscal nas hipóteses elen-
- Se excessivo em relação ao objeto da sociedade, res-
cadas no art. 1.073, CC.
tituindo-se parte do valor das cotas aos sócios, ou dis-
As deliberações que sejam tomadas em conformidade pensando-se as prestações ainda devidas, com dimi-
com a lei ou o contrato vinculam todos os sócios, ainda nuição proporcional, do valor nominal das cotas.
que ausentes ou dissidentes.
A deliberação que aprova a redução deverá ser publica-
A sociedade deverá realizar uma assembleia, ao menos da abrindo-se prazo de 90 dias aos credores quirografá-
uma vez por ano, nos 4 meses seguintes ao término do rios para manifestarem oposição. A redução só ocorre-
exercício social, com objetivo de tomar as contas do rá se não houver impugnação dos credores ou na hipó-
administrador e deliberar sobre o balanço patrimonial e tese de comprovação do pagamento ou de depósito do
o resultado econômico, além de designar administrado- valor devido ao credor que impugnou o ato. Depois de
res, quando for necessário, e tratar de outras matérias satisfeitas as condições, proceder-se-á à respectiva
da ordem do dia. averbação no órgão competente.
Extingue-se em 2 anos o direito de anular a aprovação
do balanço patrimonial e resultado econômico (art.  RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO A SÓCIO
1.078 e seus §§) que, quando aprovadas, desoneram os DISSOLUÇÃO PARCIAL
administradores e membros do conselho fiscal (se hou-
Além das hipóteses de resolução da sociedade em rela-
ver).
ção a um sócio (dissolução parcial), trabalhadas no tópi-
co de sociedade simples, que serão aplicadas as socie-
 AUMENTO E REDUÇÃO DO CAPITAL SOCIAL dades limitadas, o capítulo de limitadas contempla ou-
tra hipótese de dissolução parcial prevista do art. 1.085,
O capital social da sociedade, após estar devidamente
CC. Sendo assim, a dissolução parcial poderá ocorrer
integralizado, pode sofrer aumento pelos sócios com a
nas seguintes hipóteses: morte (art. 1.028, CC), retirada
respectiva alteração no contrato social, averbada no
(art. 1.029, CC), exclusão judicial (art. 1.030, CC), exclu-
órgão competente.
são de pleno direito (Art. 1.030, parágrafo único, CC),
Na hipótese de aumento do capital social, também direito de recesso (art. 1.077, CC) e exclusão extrajudi-
aplicaremos a regra do art. 1.052, CC, no tocante à res- cial (art. 1.085, CC).
ponsabilidade solidária dos sócios pela integralização do
Havendo a morte de um dos sócios, nós teremos a li-
capital social. Para realização do aumento do capital é
quidação de suas cotas, salvo
necessário voto favorável de 3/4 do capital social (art.
1.076, I, CC). - Se o contrato dispuser diferentemente;
Na hipótese de aumento do capital social, os sócios - Se os sócios remanescentes optarem pela dissolução
terão o prazo de 30 dias após a deliberação que aprova da sociedade;
o aumento do capital social para exercer o seu direito
- Se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substi-
de preferência na proporção de suas cotas. Decorrido
tuição do sócio falecido.
esse prazo e após os sócios ou terceiros assumirem as
novas cotas, haverá uma reunião ou assembleia para Enunciado 221, III, JDC - Diante da possibilidade de
que seja aprovada a modificação do contrato. O exercí- o contrato social permitir o ingresso na sociedade
cio do direito de preferência pode ser objeto de cessão do sucessor de sócio falecido, ou de os sócios a-
cordarem com os herdeiros a substituição do sócio
nos termos do art. 1.081, §2º, CC.
falecido, sem liquidação da cota em ambos os ca-
O aumento do número de cotas gera o exercício do sos, é licita a participação de sócio de sócio menor
direito de preferência aos sócios na proporção de suas em sociedade limitada, estando o capital integrali-
cotas. Exemplo: A sociedade ABC LTDA é formada pelos zado, em virtude de inexistência de vedação no CC.
sócios Jarbas, Luiz Paulo, Barbara e Eduardo. Se cada um
detém 25% do valor das cotas, cada um terá o direito de

33
A Constituição em seu art. 5º, XX, garante que ninguém Parágrafo único. Ressalvado o caso em que haja
é obrigado a associar-se ou a permanecer associado. apenas dois sócios na sociedade, a exclusão de um
Nesse sentido, o sócio que não deseje permanecer no sócio somente poderá ser determinada em reunião
ou assembleia especialmente convocada para esse
quadro societário poderá ceder as suas cotas a um
fim, ciente o acusado em tempo hábil para permi-
cessionário (art. 1.003, CC) e ficará solidariamente a
tir seu comparecimento e o exercício do direito de
este responsável, pelo prazo de 2 anos a contar da defesa.
averbação.
Outra hipótese em que a sociedade se resolve em rela-
ção a um sócio é a sua exclusão. Além da exclusão do No direito de recesso ou nas hipóteses de exclusão ou
sócio remisso, prevista no art. 1.004, parágrafo único, morte, o sócio continua responsável pelas obrigações
CC, temos a exclusão judicial contemplada no art. sociais anteriores pelo prazo de 2 anos, contados da
1.030, CC. data da averbação da saída do sócio.

Tal instituto é utilizado para excluir sócio minoritário ou Em todas as hipóteses de dissolução parcial, as cotas
majoritário, uma vez que a deliberação ocorre mediante deverão ser liquidadas e pagas em dinheiro, no prazo
a iniciativa da maioria dos demais sócios (Informativo de 90 dias, salvo acordo ou estipulação contratual em
616, STJ - REsp 1.653.421-MG), nas hipóteses: sentido diverso.

- Por falta grave no cumprimento de suas obrigações Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resol-
(deverá ser provada, não basta a simples alegação); ver em relação a um sócio, o valor da sua quota,
considerada pelo montante efetivamente realiza-
- Incapacidade superveniente (sentença transitada em
do, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em
julgado na esfera civil).
contrário, com base na situação patrimonial da so-
Temos ainda a hipótese de exclusão de pleno direito do ciedade, à data da resolução, verificada em balan-
sócio que tenha sido declarado falido ou aquele que ço especialmente levantado.
tenha tido a sua cota liquidada (art. 1.026, CC). Nessa § 1º O capital social sofrerá a correspondente re-
hipótese não há necessidade de um processo judicial, dução, salvo se os demais sócios suprirem o valor
pois ocorrendo qualquer uma dessas hipóteses o sócio da quota.
poderá ser excluído. § 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no
Na hipótese de exclusão extrajudicial, são necessários prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo
acordo, ou estipulação contratual em contrário.
os seguintes requisitos:
- É necessário deliberação com a maioria dos sócios,
representando mais de 1/2 do capital social;  DIREITO DE RECESSO
- Praticar a falta grave (justa causa praticada pelo só- A doutrina diverge sobre a possibilidade de aplicação do
cio); art. 1.029, CC, quanto ao exercício do direito de retirada
do sócio para as sociedades limitadas. Alguns sustentam
- Previsão contratual autorizando a exclusão por justa
não ser possível a aplicação do referido dispositivo,
causa;
devendo-se aplicar o disposto no art. 1.077, CC. Outros
- A deliberação em assembleia ou reunião especial- sustentam ser possível a aplicação do art. 1.029, desde
mente convocada para essa finalidade, ciente o sócio que haja a quebra da affectio societatis, justificando a
que pretende ser excluído para que possa exercer o retirada do sócio dissidente. Porém, além da cessão de
seu direito de defesa/voz (ampla defesa e contraditó- cotas, é possível que o sócio exerça o seu direito de
rio). retirada, ou seja, o seu direito de se retirar da socieda-
de mediante o pagamento do valor de suas cotas, atra-
Se o sócio que for excluído considerar que não havia a
vés da apuração de haveres. Duas soluções foram ado-
justa causa (falta grave), tal decisão poderá ser objeto
tadas a depender do prazo de duração da sociedade:
de apreciação pelo Poder Judiciário.
- Sociedade por prazo indeterminado: ocorrerá medi-
Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, ante notificação aos demais sócios, com antecedência
quando a maioria dos sócios, representativa de mínima de sessenta dias;
mais da metade do capital social, entender que um
ou mais sócios estão pondo em risco a continuida- - Sociedade por prazo determinado: provando-se, ju-
de da empresa, em virtude de atos de inegável dicialmente, justa causa.
gravidade, poderá excluí-los da sociedade, median-
O direito de recesso encontra-se consagrado no art.
te alteração do contrato social, desde que prevista
neste a exclusão por justa causa.
1.077, CC, dispondo que quando houver modificação do
contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou

34
dela por outra, terá o sócio que dissentiu o direito de
retirar-se da sociedade, nos 30 dias subsequentes à  CARACTERÍSTICAS DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS
reunião, aplicando-se, no silêncio do contrato social
As Sociedades Anônimas são regidas pela Lei 6.404/76
antes vigente, o disposto no art. 1.031, CC.
e, diferentemente das sociedades reguladas pelo Código
Nesses casos, o direito de recesso deverá ser realizado Civil, elas possuem características peculiares.
no prazo de 30 dias contados da data de realização da
As sociedades anônimas (companhias) são sociedades
reunião ou assembleia que deliberou acerca das maté-
institucionais, seu ato constitutivo é um estatuto social.
rias previstas no art. 1.077, CC.
As sociedades por ações são sempre de natureza em-
Uma vez realizado o recesso, a sociedade terá que fazer
presária, independentemente do seu objeto, ou seja,
o reembolso do valor das cotas do sócio dissidente,
ainda que não explore atividade econômica e organiza-
com base em balanço especial, que observará o dispos-
da. Por tratar-se de companhia mercantil, qualquer que
to no art. 1.031, CC (Informativo 558 - REsp 1.335.619-
seja o seu objeto, ela rege-se pelas leis e usos do co-
SP).
mércio. O objeto da companhia pode ser qualquer em-
As cotas do sócio dissidente deverão ser liquidadas e presa que tenha fim lucrativo, desde que não seja con-
pagas em dinheiro, no prazo de 90 dias, salvo acordo trário à Lei, à ordem pública e aos bons costumes.
ou estipulação contratual em sentido diverso (art. 1031,
A regra é que as companhias são sociedades capitalis-
§2º, CC).
tas (intuito pecúnia); prevalece a contribuição pecuniá-
ria de cada acionista para formação do capital social,
 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE pouco importando a figura dos sócios (acionistas). Por
isso, via de regra, as ações da companhia são transferí-
Aplicamos à limitada as hipóteses de dissolução de
veis a terceiros livremente, salvo as exceções em que o
pleno direito do art. 1.033, dissolução judicial art.1.034,
estatuto de companhia fechada impõe limitações à
CC, e ainda pela decretação da falência prevista no art.
circulação de ações nominativas (art. 36, LSA).
1.044, CC (quando for de natureza empresária), por
força do disposto no art. 1.087, CC. O capital social da companhia é divido em ações, dife-
rentemente das sociedades contratuais em que o capital
A sociedade, uma vez dissolvida, ainda não é considera-
social é divido em cotas.
da extinta, devendo ser nomeado liquidante. Após o
pagamento de todo o passivo e partilhado o remanes- A responsabilidade dos acionistas é limitada ao preço
cente, o liquidante convocará assembleia para presta- de emissão de suas ações subscritas ou adquiridas. Não
ção das contas. Aprovadas as contas, a liquidação será existe na sociedade anônima solidariedade pela integra-
encerrada e a sociedade será extinta com a averbação lização do capital social, como ocorre nas sociedades
no registro próprio da respectiva ata da assembleia, limitadas. Sendo assim, uma vez realizado o pagamento
findando a sua personalidade jurídica. O sócio dissiden- das ações subscritas ou adquiridas, os acionistas não
te terá o prazo de 30 dias para promover ação que têm responsabilidades pelas dívidas (salvo as exceções
couber (art. 1.108 e 1.109, CC). previstas em lei, como por exemplo, desconsideração da
personalidade jurídica), e sim a sociedade, que respon-
Art. 1.108. Pago o passivo e partilhado o remanes- derá sempre perante os credores com todo o seu patri-
cente, convocará o liquidante assembleia dos só- mônio.
cios para a prestação final de contas.

Art. 1.109. Aprovadas as contas, encerra-se a li- CAIU NA PROVA!


quidação, e a sociedade se extingue, ao ser aver-
bada no registro próprio a ata da assembleia. XXVI EXAME DE ORDEM UNIFICADO
Parágrafo único. O dissidente tem o prazo de trinta
Leandro, Alcides e Inácio pretendem investir recursos
dias, a contar da publicação da ata, devidamente
oriundos de investimentos no mercado de capitais pa-
averbada, para promover a ação que couber.
ra constituir uma companhia fechada por subscrição
particular do capital. A sociedade será administrada
por Inácio e sua irmã, que não será sócia. Consideran-
4.6.3 SOCIEDADE ANÔNIMA do-se o tipo societário e a responsabilidade legal dos
Diferentemente das sociedades contratuais reguladas sócios a ele inerente, assinale a afirmativa correta.
pelo Código Civil, as sociedades por ações são reguladas
A) Leandro, Alcides e Inácio responderão limitadamen-
pela Lei 6.404/76 (LSA). Esse tipo societário é um dos
te até o preço de emissão das ações por eles subscri-
mais utilizados na prática, no Brasil, tornando-se extre-
tas.
mante atrativo para empreendimentos de grande porte.

35
B) Leandro, Alcides e Inácio responderão limitadamen- A companhia aberta é aquela cujos valores mobiliários
te até o valor das quotas por eles subscritas, mas soli- (ações debêntures, bônus de subscrição, certificado de
dariamente pela integralização do capital. depósito de valores mobiliários e comercial paper) de
emissão estão ou não admitidos à negociação no mer-
C) Leandro, Alcides e Inácio responderão ilimitada, so-
cado de valores mobiliários (bolsa de valores e mercado
lidária e subsidiariamente pelas obrigações sociais.
de balcão). Ressalta-se que o fato de a companhia ser
D) Leandro e Alcides responderão limitadamente até o aberta não significa dizer que ela tenha que negociar
preço de emissão das ações por eles subscritas, e Iná- seus valores mobiliários. Por essa razão, a lei menciona
cio, como administrador, ilimitada e subsidiariamente, que seus valores mobiliários podem ou não ser admiti-
pelas obrigações sociais. dos à negociação, ficando a critério da companhia ne-
RESPOSTA: A gociá-los ou não.
Para que as companhias abertas possam negociar seus
 NOME EMPRESARIAL – DENOMINAÇÃO valores mobiliários no mercado de valores mobiliários é
necessário registro na Comissão de Valores Mobiliários
As sociedades anônimas operam sob denominação - CVM (art. 21, Lei 6.385/76), sendo vedada, portanto, a
designativa do objeto social, integradas pelas expres- distribuição pública de valores mobiliários no mercado
sões “sociedade anônima” ou “companhia”, por extenso sem prévio registro na Comissão de Valores Mobiliá-
ou de forma abreviada, devendo a última ser emprega- rios (Art. 19, Lei 6.385/76).
da no início ou no meio do nome empresarial. Exem-
plos: “Companhia Vale do Rio Doce” e “Via Varejo S/A”. A Comissão de Valores Mobiliários poderá classificar as
companhias abertas em categorias, segundo as espécies
A sociedade anônima que utilizar a expressão “compa- e classes dos valores mobiliários por ela emitidos nego-
nhia” não poderá inseri-la ao final do nome empresarial ciados no mercado, e especificará as normas sobre
(art. 3º, LSA), somente podendo a expressão “Cia.” companhias abertas aplicáveis a cada categoria. Nos
constar no início ou no meio do nome empresarial (E- termos do art. 2º, da Instrução Normativa 480/09, fo-
xemplo:“Companhia Siderúrgica”). Tal restrição é im- ram criadas duas categorias:
posta para não haver confusão entre o nome empresa-
rial da Sociedade Anônima com as sociedades em nome 1. Categoria A: que autoriza a negociação de quais-
coletivo ou comandita por ações. quer valores mobiliários do emissor em mercados re-
gulamentados de valores mobiliários;
Permitiu o legislador tanto no Código Civil como na LSA
que possa constar no nome empresarial o nome do 2. Categoria B: que autoriza a negociação de valores
acionista, fundador ou pessoa que haja concorrido para mobiliários do emissor em mercados regulamentados
o bom êxito da empresa (art.1.160, parágrafo único, CC de valores mobiliários, exceto: ações e certificados de
c/c art. 3º, §1º, LSA). Exemplo: “Eckstein Siderúrgica depósitos de ações; ou valores mobiliários que confi-
S.A.” ram ao titular o direito de adquirir as ações e certifi-
cados de depósitos de ações, em consequência da
Nos atos e publicações referentes à companhia em conversão ou do exercício dos direitos que lhe são ine-
constituição, sua denominação deverá ser aditada da rentes, desde que emitidos pelo próprio emissor ou
cláusula “em organização”. por sociedade pertencente ao grupo emissor.
As espécies de valores mobiliários que podem ser emi-
 ESPÉCIES DE COMPANHIA
tidas por uma companhia encontram-se enumeradas no
As sociedades anônimas podem ser companhia aberta art. 2º, Lei 6.385/76:
ou companhia fechada. O art. 4º, LSA, determina que a Art. 2º (...)
companhia é aberta ou fechada conforme os valores
mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à I - as ações, debêntures e bônus de subscrição;
negociação no mercado de valores mobiliários. II - os cupons, direitos, recibos de subscrição e cer-
tificados de desdobramento relativos aos valores
A companhia fechada é aquela que não negocia os seus
mobiliários referidos no inciso II;
valores mobiliários (ações debêntures, bônus de subs-
crição, certificado de depósito de valores mobiliários e III - os certificados de depósito de valores mobiliá-
comercial paper) no mercado de valores mobiliários rios;
(bolsa de valores e mercado de balcão). Nas companhi- IV - as cédulas de debêntures;
as fechadas a captação de recursos não se dá por apelo
V - as cotas de fundos de investimento em valores
à poupança pública, mas sim por investimento dos
mobiliários ou de clubes de investimento em
próprios acionistas. quaisquer ativos;
VI - as notas comerciais;

36
VII - os contratos futuros, de opções e outros deri- adesão de regras societárias, conhecidas como “boas
vativos, cujos ativos subjacentes sejam valores práticas de governança coorporativa”. O objetivo dessas
mobiliários; regras, dentre outros, é ampliar os direitos dos acionis-
VIII - outros contratos derivativos, independente- tas, melhorar a qualidade das informações prestadas
mente dos ativos subjacentes; e pela companhia e determinar a resolução de conflitos
societários por meio de uma Câmara de Arbitragem,
IX - quando ofertados publicamente, quaisquer
outros títulos ou contratos de investimento cole- oferecendo aos investidores uma segurança mais ágil e
tivo, que gerem direito de participação, de parce- especializada.
ria ou de remuneração, inclusive resultante de
O Mercado de Balcão realiza as operações que ocorrem
prestação de serviços, cujos rendimentos advêm
fora da Bolsa de Valores. O Mercado de Balcão opera
do esforço do empreendedor ou de terceiros.
no chamado mercado secundário (revenda) ou no mer-
cado primário (subscrição). O mercado primário é aque-
O mercado de valores mobiliários compreende a bolsa le em que o titular negocia diretamente com a compa-
de valores e mercado de balcão. nhia para compra. Por exemplo: quando a companhia
aumenta o seu capital social e coloca novas ações no
mercado.
 MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS - MERCADO
DE CAPITAIS O Balcão Organizado (ambiente informatizado e trans-
parente de registro) possui uma estrutura organizada
O mercado de capitais se divide em: para negociação de valores mobiliários e títulos. No
- Bolsa de valores; e Brasil, a instituição responsável por administrar o mer-
cado de balcão organizado é a Sociedade Operadora do
- Mercado de balcão (balcão organizado e balcão não Mercado de Ativos - SOMA. Podem operar na SOMA,
organizado). por exemplo, as corretoras de valores.
A Bolsa de Valores no Brasil é organizada na forma de Considera-se realizada em mercado de balcão não or-
uma sociedade anônima e opera sob a supervisão (regu- ganizado (não existe um local físico ou um sistema que
lação e fiscalização) da CVM. Dentre os valores mobiliá- seja eletrônico organizado) a negociação de valores
rios que podem ser negociados na Bolsa de Valores os mobiliários em que intervêm, sem que o negócio seja
principais são as ações. registrado em mercado organizado, como intermediá-
A Bolsa de Valores opera no chamado mercado secun- rias,
dário. A negociação no mercado secundário ocorre Lei 6.385/76. Art. 15. (...)
quando os acionistas da companhia têm interesse em
I - as instituições financeiras e demais sociedades
vender suas ações subscritas (mercado primário) ou
que tenham por objeto distribuir emissão de valo-
adquiridas (mercado primário). Ou seja, os acionistas
res mobiliários:
que desejam vender suas ações o fazem colocando-as à
disposição na Bolsa de Valores. a) como agentes da companhia emissora;

Importante destacarmos o Novo Mercado composto


2 b) por conta própria, subscrevendo ou comprando
a emissão para a colocar no mercado;
por empresas que voluntariamente se comprometem a
3
adotar as práticas de governança coorporativa adicio- II - as sociedades que tenham por objeto a compra
nais às exigências previstas na legislação. Para que a de valores mobiliários em circulação no mercado,
companhia possa entrar no chamado Novo Mercado, é para os revender por conta própria;
necessária a assinatura de um contrato que implica a III - as sociedades e os agentes autônomos que e-
xerçam atividades de mediação na negociação de
2
http://web.archive.org/web/20091029104348/http://www.bove valores mobiliários, em bolsas de valores ou no
spa.com.br/empresas/novomercadoniveis/novomercado.asp. mercado de balcão;
Acessado em fevereiro de 2020.
3
“Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e Instrução Normativa 461/07. Art. 3º. Considera-se
demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, mercado organizado de valores mobiliários o es-
envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de admi-
paço físico ou o sistema eletrônico, destinado à
nistração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais
negociação ou ao registro de operações com valo-
partes interessadas. As boas práticas de governança corporativa
convertem princípios básicos em recomendações objetivas, ali-
res mobiliários por um conjunto determinado de
nhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor pessoas autorizadas a operar, que atuam por conta
econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso própria ou de terceiros.
a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organiza-
ção, sua longevidade e o bem comum”. Disponível em:
http://www.ibgc.org.br/index.php/governanca/governanca-
corporativa. Acesso em fevereiro/2020.

37
Nos termos do art. 4º, parágrafo único, Instrução Nor- Valores Mobiliários, da parte do capital realizado em
mativa 461/07, CVM, também será considerada como dinheiro.
de balcão não organizado a negociação de valores mo-
O fundador deverá depositar o valor (10% de entrada)
biliários em que intervém, como parte, integrante do
no prazo de 5 dias contados do recebimento das quanti-
sistema de distribuição, quando tal negociação resultar
as, em nome do subscritor e em favor da sociedade em
do exercício da atividade de subscrição de valores mobi-
organização, que só poderá levantá-lo após haver adqui-
liários por conta própria para revenda em mercado ou
rido personalidade jurídica.
de compra de valores mobiliários em circulação para
revenda por conta própria. Na hipótese da companhia não se constituir dentro de 6
meses da data do depósito, as quantias depositadas
deverão ser restituídas pelo banco diretamente aos
 CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA
subscritores.
A constituição de uma sociedade anônima tem um pro-
cedimento próprio, diferente da constituição das socie-
 SUBSCRIÇÃO PÚBLICA
dades reguladas pelo Código Civil, que se realiza através
de um contrato. A constituição da companhia por subscrição pública
ocorre nas hipóteses em que há clamor aos investido-
O procedimento de constituição das sociedades anôni-
res/público. Não existe um grupo de pessoas pré-
mas envolve três etapas distintas:
determinado, há um apelo ao público para os que dese-
jam investir na sociedade em constituição.
A subscrição pública depende da divulgação ao público
CONSTITUIÇÃO DA em geral, por quaisquer meios, como por exemplo,
SOCIEDADE corretores, agentes, estabelecimentos abertos ao públi-
ANÔNIMA co (lojas), serviços públicos de comunicação, folhetos,
prospectos ou anúncios destinados ao público em geral.
Para subscrição pública é necessário ainda o prévio
Requisitos Constituição Providências
preliminares propriamente dita complementares registro da emissão na Comissão de Valores Mobiliá-
rios. O pedido de registro de emissão obedecerá às
normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários
e será instruído com:
- O estudo de viabilidade econômica e financeira do
empreendimento;
No tocante aos requisitos preliminares para constitui-
ção da companhia é necessário (art. 80, LSA): - O projeto do estatuto social;

I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de - O prospecto, organizado e assinado pelos fundado-
todas as ações em que se divide o capital social fixado res e pela instituição financeira intermediária.
no estatuto; Sem o registro na CVM não será possível à subscrição
A subscrição das ações pode ser realizada por uma pes- pública.
soa física ou jurídica. O termo subscrever significa ad- A CVM poderá condicionar o registro a modificações no
quirir as ações, comprometendo-se com o pagamento estatuto ou no prospecto e denegá-lo por inviabilidade
(realização), nos termos acordados. A subscrição poderá ou temeridade do empreendimento, ou inidoneidade
ser pública ou privada. dos fundadores, mas a negativa deverá ser pautada em
fundamentos legais.
II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento),
Além do prévio registro na CVM, será necessário que a
no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas
intermediação seja realizada por uma instituição finan-
em dinheiro; 4
ceira (underwriting) , que será remunerada pelo serviço
Importante salientar que existem companhias que pos- desempenhado.
suem um valor de realização de entrada superior a 10 %,
como ocorre, por exemplo, com as instituições financei-
ras, cujo valor de realização de entrada é de 50% (art.
27, Lei 4.595/64). 4
O contrato de intermediação realizado entre a companhia e a
instituição financeira é chamado de “underwriting”. A instituição
financeira será responsável por colocar a subscrição pública das
III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro
ações no mercado de capitais e receberá uma remuneração pelo
estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de serviço realizado.

38
O projeto de estatuto é indispensável e deverá satisfa- Na assembleia, presidida por um dos fundadores e se-
zer a todos os requisitos exigidos para os contratos das cretariada por subscritor, será lido o recibo de depósito,
sociedades mercantis em geral e aos peculiares às com- bem como discutido e votado o projeto de estatuto.
panhias, e conterá as normas pelas quais se regerá a
Cada ação dá direito a um voto, independentemente de
companhia (art. 83, LSA).
sua espécie ou classe. A maioria não tem poder para
O prospecto deverá mencionar, com precisão e clareza, alterar o projeto de estatuto.
as bases da companhia e os motivos que justifiquem a
Verificando-se que foram observadas as formalidades
expectativa de bom êxito do empreendimento e em
legais e não havendo oposição de subscritores que re-
especial aqueles previstos no art. 84, LSA, como por
presentem mais da metade do capital social, o presiden-
exemplo: valor do capital a ser subscrito; modo de sua
te declarará constituída a companhia, procedendo-se, a
realização; número e espécies de ações em que divide o
seguir, à eleição dos administradores e fiscais (art. 87,
capital social; valor nominal das ações; instituição finan-
§3º, LSA).
ceira intermediária do lançamento; dentre outros.
Depois de lida e aprovada pela assembleia, todos os
No ato da subscrição das ações a serem realizadas em
subscritores presentes deverão assinar (ou quantos
dinheiro, o subscritor pagará a entrada e assinará a lista
bastem à validade da deliberação) a ata da reunião
ou o boletim individual autenticado pela instituição
(lavrada em duplicata). Um exemplar será destinado ao
autorizada a receber as entradas, qualificando-se pelo
registro de comércio e o outro ficará em poder da com-
nome, nacionalidade, residência, estado civil, profissão
panhia.
e documento de identidade, ou, se pessoa jurídica, pela
firma ou denominação, nacionalidade e sede, devendo A doutrina dominante entende que a Sociedade adquire
especificar o número das ações subscritas, a sua espécie personalidade jurídica com a constituição propriamente
e classe, se houver mais de uma, e o total da entrada dita e não com o arquivamento e publicação dos atos
(art. 85, LSA). constitutivos.
A subscrição poderá ser feita, nas condições previstas
no prospecto, por carta à instituição, com as declara-  SUBSCRIÇÃO PARTICULAR
ções prescritas acima e através de pagamento da entra-
A subscrição particular, diferentemente da subscrição
da. pública, não se faz por clamor aos investidores/público
Depois de encerrada a subscrição e havendo subscrito em geral, não depende de autorização prévia da CVM e
todo o capital social e depositado a entrada na institui- contratação de instituição financeira como intermediá-
ção financeira, a fase preliminar de constituição estará ria. Na subscrição particular os próprios fundadores
encerrada, dando-se início à fase de constituição propri- escolhem seus investidores até que todo o capital este-
amente dita. ja subscrito (considerando-se fundadores todos os
subscritores).
Os fundadores deverão convocar a assembleia geral
que deverá promover a avaliação dos bens (se a inte- A constituição da companhia por subscrição particular
gralização ocorrer com bens é necessária a avaliação por do capital pode fazer-se por:
3 peritos ou por uma pessoa jurídica especializada) e
 Deliberação dos subscritores em assembleia geral:
deliberar sob a constituição da companhia.
nesse caso deverá ser observado o procedimento pre-
Os anúncios de convocação da assembleia deverão visto nos arts. 86 e 87, LSA, devendo ser entregues à
mencionar hora, dia e local da reunião e serão inseridos assembleia o projeto do estatuto, assinado em duplicata
nos jornais em que houver sido feita a publicidade da por todos os subscritores do capital, e as listas ou bole-
oferta de subscrição. tins de subscrição de todas as ações.

INSTALAÇÃO DA ASSEMBLEIA DE CONSTITUIÇÃO Convocação de Assembleia Assembleia de Constituição


Com a presença de subscritores que re- Art. 86. Encerrada a subscrição Art. 87. A assembleia de consti-
1º convocação: presentem, no mínimo, metade do capital e havendo sido subscrito todo o tuição instalar-se-á, em primei-
social. capital social, os fundadores ra convocação, com a presença
convocarão a assembleia-geral de subscritores que represen-
2º Convocação: Com qualquer número. tem, no mínimo, metade do
que deverá:
capital social, e, em segunda
I - promover a avaliação dos
convocação, com qualquer
bens, se for o caso (artigo 8º);
número.(Vide Decreto-Lei nº

39
II - deliberar sobre a constitui- 2.296, de 1986) no Registro Público de Empresa Mercantil (junta comer-
ção da companhia. § 1º Na assembleia, presidida cial) deverá ser realizado dentro de 30 dias contados
Parágrafo único. Os anúncios de por um dos fundadores e secre- de sua assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos do
convocação mencionarão hora, tariada por subscritor, será lido arquivamento.
dia e local da reunião e serão o recibo de depósito de que
inseridos nos jornais em que trata o número III do artigo 80, A publicação deverá ocorrer na Impressa Oficial ou em
houver sido feita a publicidade bem como discutido e votado o jornal de grande circulação (art. 98, LSA).
da oferta de subscrição. projeto de estatuto.
Como mencionado, a constituição de uma companhia
§ 2º Cada ação, independen- por subscrição particular poderá ocorrer por escritura
temente de sua espécie ou
pública ou assembleia geral, enquanto na subscrição
classe, dá direito a um voto; a
maioria não tem poder para
pública somente poderá se dar por assembleia geral.
alterar o projeto de estatuto. Se a companhia tiver sido constituída por escritura pú-
§ 3º Verificando-se que foram blica, bastará o arquivamento de certidão do instrumen-
observadas as formalidades to.
legais e não havendo oposição
de subscritores que represen- Se a companhia for constituída por deliberação em
tem mais da metade do capital Assembleia Geral, deverão ser arquivados todos os
social, o presidente declarará documentos previstos no art. 95, LSA.
constituída a companhia, pro-
cedendo-se, a seguir, à eleição Caberá ao Registro Público de Empresa Mercantil verifi-
dos administradores e fiscais. car se estão presentes os requisitos legais obrigatórios
§ 4º A ata da reunião, lavrada para constituição da companhia e as cláusulas do con-
em duplicata, depois de lida e trato, sendo vedadas cláusulas contrárias à lei, à ordem
aprovada pela assembleia, será pública ou aos bons costumes.
assinada por todos os subscri-
tores presentes, ou por quan-
Se ficar constatada qualquer irregularidade ou ausência
tos bastem à validade das de documento e o arquivamento for negado, os primei-
deliberações; um exemplar ros administradores deverão convocar imediatamente a
ficará em poder da companhia assembleia geral para sanar a falta ou irregularidade, ou
e o outro será destinado ao autorizar as providências que se fizerem necessárias.
registro do comércio. Depois de sanado, a Junta Comercial arquivará o ato
constitutivo.
Os prejuízos causados pela demora no cumprimento
das formalidades complementares à sua constituição
 Por escritura pública: que deverá ser assinada por
serão de responsabilidade solidária dos primeiros ad-
todos os subscritores, e conterá:
ministradores, não respondendo a companhia, salvo
- A qualificação dos subscritores, nos termos do art. deliberação em contrário na assembleia, pelos atos e
85, LSA; operações por ela praticados antes de cumpridas as
formalidades de constituição.
- O estatuto da companhia;
- A relação das ações tomadas pelos subscritores e a  CAPITAL SOCIAL
importância das entradas pagas;
O capital é a cifra contábil que corresponde aos valores
- A transcrição do recibo do depósito referido no nú- que os acionistas contribuíram para a formação do capi-
mero III do art. 80, LSA; tal. O capital social representa a garantia dos credores.
- A transcrição do laudo de avaliação dos peritos, caso Podemos destacar como princípios norteadores do
tenha havido subscrição do capital social em bens (art. capital social:
8º, LSA); - Unidade (capital único);
- A nomeação dos primeiros administradores e, quan- - Fixidez (capital fixo, não pode ser variável – exceção
do for o caso, dos fiscais (art. 88, §2º, LSA). cooperativa);

Depois de cumpridos os requisitos preliminares e reali- - Intangibilidade (capital não pode ser utilizado para
zada a constituição propriamente dita, passamos à aná- os outros fins que não sejam o objeto da sociedade);
lise das providências complementares. - Realidade (capital deve ser real, sob pena de respon-
A companhia não poderá funcionar sem arquivar e pu- sabilização dos sócios).
blicar seu ato constitutivo (estatuto). O arquivamento

40
Não devemos confundir capital social com patrimônio a, competindo aos primeiros diretores cumprir as for-
da sociedade. Enquanto o capital social representa a malidades necessárias à respectiva transmissão.
cifra contábil resultante da contribuição do acionista, o
Se a assembleia não aprovar a avaliação, ou o subscritor
patrimônio é formado pelo ativo e o passivo da socie-
não aceitar a avaliação aprovada, ficará sem efeito o
dade.
projeto de constituição da companhia.
O capital social da companhia será fixado no estatuto e
Os avaliadores e o subscritor responderão perante a
deverá ser expresso em moeda nacional.
companhia, os acionistas e terceiros, pelos danos que
As formas de integralização do capital social na socieda- lhes causarem por culpa ou dolo na avaliação dos bens
de anônima podem ser com dinheiro, bens (materiais (superavaliação), sem prejuízo da responsabilidade
ou imateriais) ou créditos (todo crédito de natureza penal em que tenham incorrido; no caso de bens em
móvel). condomínio, a responsabilidade dos subscritores é
solidária.
O subscritor ou acionista responderá pela solvência do
devedor, quando a entrada consistir em crédito. Do mesmo modo, a responsabilidade civil dos subscrito-
res ou acionistas que contribuírem com bens para for-
A contribuição pode ser realizada com qualquer espécie
mação do capital social é idêntica à do vendedor.
de bens, desde que suscetível de avaliação em dinheiro,
como por exemplo: patente de invenção, imóvel, carro, Na falta de declaração expressa em contrário, os bens
dentre outros,sendo vedada a contribuição do sócio transferem-se à companhia a título de propriedade.
que consista em serviço.
A incorporação de imóveis para formação do capital  ACIONISTAS
social não exige escritura pública. Nos termos do art. 35,
O acionista é obrigado a realizar, nas condições previs-
VII, Lei 8.934/94, não é necessária a escritura pública
tas no estatuto ou no boletim de subscrição, a prestação
aos contratos sociais ou suas alterações em que haja a
correspondente às ações subscritas ou adquiridas.
incorporação de imóvel à sociedade, por instrumento
particular, quando o instrumento de contrato previr: O acionista que subscreve e não integraliza é chamado
de sócio remisso. Nessa hipótese, se ele não fizer o
- Descrição e identificação do imóvel, sua área, dados pagamento nas condições previstas no estatuto ou bole-
relativos à sua titulação, bem como o número da ma- tim, ou na chamada, ficará de pleno direito constituído
trícula no registro imobiliário; em mora, sujeitando-se ao pagamento dos juros, da
- A outorga uxória ou marital, quando necessária; correção monetária e da multa que o estatuto determi-
nar,esta não superior a 10% do valor da prestação.
Após a averbação do contrato social por instrumento
particular, a Junta Comercial emitirá uma certidão que
comprova a transferência do bem para a sociedade (art. Verificada a mora do acionista, a
64, Lei 8.934/94). Havendo desincorporação desse bem companhia pode:
imóvel, a escritura pública será obrigatória.
O ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) não
incidirá na hipótese de o capital social ser integralizado
com imóvel ou na sua desincorporação (art. 156, §2º, I, Promover contra o acionista, e os que com ele
CF, c/c art. 36, parágrafo único, CTN). forem solidariamente responsáveis (art. 108), Mandar vender as
processo de execução para cobrar as importâncias ações em bolsa de
Na sociedade anônima existe a obrigatoriedade de a devidas, servindo o boletim de subscrição e o aviso valores, por conta e
avaliação desses bens ser realizada por 3 peritos ou de chamada como título extrajudicial nos termos risco do acionista.
por uma empresa especializada. A nomeação desses do CPC.
peritos ou da pessoa jurídica especializada será realiza-
da na assembleia geral dos subscritores.
Deverá ser elaborado um laudo fundamentado pelos
peritos ou pessoa jurídica especializada com os critérios Constituem direitos essenciais de todos os acionistas:
de avaliação e os elementos de comparação, acompa- LSA. Art. 109. (...)
nhados dos documentos relativos aos bens avaliados.
I - participar dos lucros sociais;
Os bens não poderão ser incorporados ao patrimônio
da companhia por valor acima do que lhes tiver dado o II - participar do acervo da companhia, em caso de
subscritor. liquidação;

Se o subscritor aceitar o valor aprovado pela assemblei- III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão
a, os bens incorporar-se-ão ao patrimônio da companhi- dos negócios sociais;

41
IV - preferência para a subscrição de ações, partes Ressalta-se que as companhias de capital autorizado,
beneficiárias conversíveis em ações, debêntures ou seja, que contenham autorização em seu estatuto
conversíveis em ações e bônus de subscrição, ob- para aumento do capital social, independem de refor-
servado o disposto nos artigos 171 e 172;
ma estatutária. Nessa hipótese a autorização de au-
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nes- mento deverá especificar:
ta Lei.
- O limite de aumento, em valor do capital ou em nú-
mero de ações, e as espécies e classes das ações que
A assembleia geral poderá suspender o exercício dos poderão ser emitidas;
direitos do acionista que deixar de cumprir obrigação - O órgão competente para deliberar sobre as emis-
imposta pela lei ou pelo estatuto, cessando a suspensão sões, que poderá ser a assembleia geral ou o conselho
logo que cumprida a obrigação. de administração;
Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural - As condições a que estiverem sujeitas as emissões;
ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acor-
do de voto, ou sob controle comum, que: - Os casos ou as condições em que os acionistas terão
direito de preferência para subscrição, ou de inexis-
- É titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de tência desse direito (art. 168, LSA).
modo permanente, a maioria dos votos nas delibera-
ções da assembleia geral e o poder de eleger a maioria
III - por conversão, em ações, de debêntures ou parte
dos administradores da companhia;
beneficiárias e pelo exercício de direitos conferidos por
- Usa efetivamente seu poder para dirigir as ativida- bônus de subscrição, ou de opção de compra de ações
des sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da (art. 166, IV, LSA);
companhia.
Existe possibilidade de a companhia emitir valores mo-
O acionista controlador deve usar o poder com o fim de biliários conversíveis em ações. Nesse caso, o titular se
fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua torna acionista.
função social, e tem deveres e responsabilidades para
com os demais acionistas da empresa, os que nela tra- IV - por deliberação da assembleia geral extraordinária
balham e para com a comunidade em que atua, cujos convocada para decidir sobre reforma do estatuto soci-
direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender. al, no caso de inexistir autorização de aumento, ou de
Sendo assim, existem hipóteses resguardadas na lei em estar a mesma esgotada.
que o acionista controlador responde pelos danos cau- Em todas as hipóteses de aumento autorizadas em lei,
sados por atos praticados com abuso de poder. As hipó- dentro dos 30 dias subsequentes à efetivação do au-
teses de abuso de poder estão previstas no art. 117, mento, a companhia requererá ao registro do comércio
§1º, LSA. a sua averbação ou o arquivamento da ata da assem-
bleia de reforma do estatuto.
 AUMENTO E REDUÇÃO DO CAPITAL SOCIAL
V - mediante capitalização de lucros ou de reservas -
O capital social representa a garantia dos credores,
nesse caso, o aumento importará alteração do valor
portanto, o seu aumento não depende de anuência dos
nominal das ações ou distribuições das ações novas,
credores, mas dos requisitos legais. As hipóteses de
correspondentes ao aumento, entre acionistas, na pro-
aumento e redução do capital social estão consagradas
porção do número de ações que possuírem.
na Lei.
 AUMENTO DO CAPITAL SOCIAL VI - mediante subscrição pública ou privada de novas
ações - depois de realizados 3/4, no mínimo, do capital
O capital social poderá ser aumentado, nas seguintes
social, a companhia pode aumentá-lo mediante subscri-
hipóteses:
ção pública ou particular de ações.
I - por deliberação da assembleia-geral ordinária, para
correção da expressão monetária do seu valor (artigo Em todas as hipóteses de aumento do capital, os acio-
167) - não se adota mais essa modalidade. nistas terão direito de preferência para a subscrição do
aumento de capital na proporção do número de ações
II - por deliberação da assembleia geral ou do conselho que possuírem. O prazo decadencial para que os acio-
de administração, observado o que a respeito dispuser nistas exerçam seu direito de preferência será fixado no
o estatuto, nos casos de emissão de ações dentro do estatuto ou a assembleia geral poderá fixar prazo deca-
limite autorizado no estatuto; dencial não inferior a 30 dias, para exercício do direito
de preferência. O direito de preferência poderá ser

42
cedido pelo acionista. O exercício do direito de prefe-
rência também ocorre nas hipóteses elencadas no art.
171, § 3º, LSA.
Art. 171. (...)
§ 3º Os acionistas terão direito de preferência para Com oposição do Credor Sem oposição do
subscrição das emissões de debêntures conversí- credor quirografário debenturis- credor quirografário
veis em ações, bônus de subscrição e partes bene- quanto à redução ta quanto à redução
ficiárias conversíveis em ações emitidas para alie-
nação onerosa; mas na conversão desses títulos
em ações, ou na outorga e no exercício de opção Aprovação da
de compra de ações, não haverá direito de prefe- redução depende Arquivamento
Prova do pagamento
rência. de maioria reuni- da ata da as-
dos credores que
da em assembleia sembleia geral
opuseram objeção
especial
ou depósito judicial
 REDUÇÃO DO CAPITAL SOCIAL da importância
Como o capital social representa a garantia dos credo-
res, estes terão direito a se manifestar quanto à redução
do capital social. As hipóteses de redução encontram-se
A redução do capital social com restituição aos acionis-
contempladas na Lei:
tas de parte do valor das ações, ou pela diminuição do
- Quando houver perdas ao capital: até o limite do valor destas, quando não integralizadas, à importância
montante do prejuízo acumulado (art. 173, LSA); das entradas, só se tornará efetiva 60 dias após a publi-
cação da ata da assembleia geral que a tiver delibera-
- Quando julgá-lo excessivo (art. 173, LSA);
do, ressalvadas as hipóteses de redução do capital de-
Nas duas primeiras hipóteses contempladas no art. 173, corrente do exercício do direito de recesso ou ainda
LSA, a redução será deliberada pela assembleia geral. caducidade das ações do acionista remisso.
Dispõe o art. 173, §3º, LSA, que a proposta de redução
Não é possível, portanto, a redução do capital social se
do capital social, quando de iniciativa dos administrado-
não houver o pagamento dos credores que estão insa-
res, não poderá ser submetida à deliberação da assem-
tisfeitos com a redução.
bleia geral sem o parecer do conselho fiscal, se em fun-
cionamento. Os credores quirografários por títulos anteriores à data
da publicação da ata poderão, mediante notificação (de
- Redução do capital social decorrente do exercício do que se dará ciência ao registro do comércio da sede da
direito de recesso (art. 45, § 6º, LSA), e; companhia), opor-se à redução do capital; decairão
- Caducidade das ações do acionista considerado re- desse direito os credores que não o exercerem dentro
misso (art. 107, §4º, LSA). do prazo.

Cuidado!!
O art. 174, §3º, LSA, determina que se houver
em circulação debêntures emitidas pela com-
panhia, a redução do capital, nos casos previs-
tos nesse artigo, não poderá ser efetivada sem
prévia aprovação pela maioria dos debenturis-
tas, reunidos em assembleia especial.

Após o término do prazo de 60 dias, a ata da assembleia


geral poderá ser arquivada se não tiver havido oposição
ou, se tiver havido oposição de algum credor, desde que
feita a prova do pagamento do seu crédito ou do depó-
REDUÇÃO DO sito judicial da importância respectiva.
CAPITAL SOCIAL
 VALORES MOBILIÁRIOS QUE PODEM SER EMITIDOS
POR UMA COMPANHIA

Publicação da ata da
assembleia deliberan-
do sobre a redução
60 dias
43
A Lei 6.385/76, em seu art. 2º, elenca os valores mobili- para preservação da realidade do capital social. Explica-
ários que podem ser emitidos por uma companhia. O se: vamos supor que a Sociedade Eckstein Siderúrgica
primeiro que merece destaque são as ações. S.A. tenha emitido ações sem valor nominal, pelo preço
de emissão de R$2,00. Se o capital social da Companhia
for de R$200.000,00 e ela tiver emitido 50.000 ações,
 AÇÕES
existe um prejuízo para o capital social, um deságio de
A ação é um valor mobiliário. Trata-se de bem móvel e R$100.000,00.
indivisível em relação à sociedade, representativa de
direitos patrimoniais e pessoais. Os direitos que os acio-
Capital social – R$200.000,00 = R$4,00
nistas possuem em face da companhia decorrem da (valor nominal)
titularidade das ações.
Ações emitidas – 50.000
Em regra, a companhia não poderá negociar com as
próprias ações, salvo nas hipóteses de:
As ações seriam emitidas com deságio (preço de emis-
- As operações de resgate, reembolso ou amortização são de R$2,00), ou seja, valor inferior ao valor nominal
previstas em lei; (R$4,00), o que não é permitido. Se ocorrer emissão de
- A aquisição, para permanência em tesouraria ou ações com deságio, teremos a nulidade do ato ou ope-
cancelamento, desde que até o valor do saldo de lu- ração e responsabilidade dos infratores, sem prejuízo da
cros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do ação penal que no caso couber.
capital social, ou por doação; Agora, nas hipóteses em que o preço de emissão da
- A alienação das ações adquiridas nos termos da alí- ação é superior ao valor nominal, a diferença existente é
nea b e mantidas em tesouraria; chamada de ágio.

- A compra quando, resolvida a redução do capital Utilizando o mesmo exemplo acima, porém se o preço
mediante restituição, em dinheiro, de parte do valor de emissão da ação for de R$6,00, o valor arrecadado
das ações, o preço destas em bolsa for inferior ou i- seria de R$300.000,00. Se o capital social é de
gual à importância que deve ser restituída. R$200.000,00 e foram emitidas 50.000 ações, teremos
um ágio de R$100.000,00.
 Classificação das ações
Capital social – R$200.000,00 = Valor de emissão
1. Quanto ao valor: as ações podem ou não ter valor R$4,00 (valor nominal) R$6,00
nominal.
Ações emitidas – 50.000
O número de ações em que se divide o capital social,
bem como se elas terão ou não valor nominal, será
fixado no estatuto social. A emissão das ações por preço superior ao valor nomi-
nal (ou seja, ágio) deve ser a regra em nosso ordena-
a) Ação com valor nominal mento. A contribuição dos subscritores que for superior
ao valor nominal constituirá reserva do capital. No e-
A ação terá um valor nominal quando este for expresso xemplo acima teríamos uma reserva de capital de
no estatuto e será o mesmo para todas as ações da R$100.000,00.
companhia.
Enquanto o capital social pode ser utilizado livremente
O valor nominal da ação é alcançado pela operação pela companhia para consecução do objeto, a reserva
aritmética (divide-se o capital social pelo número de de capital somente poderá ser utilizada para:
ações emitidos pela companhia).
Art. 200. (...)

Capital social – R$500.000,00 = R$2,00 I - absorção de prejuízos que ultrapassarem os lu-


cros acumulados e as reservas de lucros (artigo
Ações emitidas – 250.000,00 189, parágrafo único);
II - resgate, reembolso ou compra de ações;

Exemplo: Imagine que a “Eckstein Siderúrgica S.A” tenha III - resgate de partes beneficiárias;
estabelecido um capital social de R$ 500.000,00 e tenha IV - incorporação ao capital social;
emitido 250.000 ações. O valor nominal de cada ação
V - pagamento de dividendo a ações preferenciais,
será de R$2,00.
quando essa vantagem lhes for assegurada (artigo
É vedado que a companhia emita ações por preço que 17, § 5º).
seja inferior ao seu valor nominal. Isso é fundamental

44
a) Ações Ordinárias
b) Ação sem valor nominal
As ações ordinárias ou também chamadas de ações
Quando o estatuto não fixar o valor nominal, estaremos comuns conferem aos seus titulares direitos essenciais a
diante de ações que não possuem valor nominal (sem todos os acionistas, sem nenhuma restrição. Cada ação
valor nominal). Porém, ainda que a ação seja sem valor ordinária corresponde 1 voto nas deliberações da as-
nominal, é possível realizar a operação aritmética para sembleia geral, se o estatuto não estabelecer limitação
se calcular o valor. Para tanto é necessário dividir o ao número de votos de cada acionista.
capital social pelo número de ações emitidas pela com-
panhia. A assembleia e o estatuto não poderão privar os acio-
nistas dos direitos essenciais, elencados no art. 109,
Nas hipóteses de ações sem valor nominal, sua negocia- LSA.
ção ocorrerá pelo chamado valor de negocia-
ção/mercado. As ações ordinárias de uma companhia podem ou não
ter classes diferentes a depender se a companhia é
Determina o art. 14, da LSA que o preço de emissão das aberta ou fechada.
ações sem valor nominal será fixado, na constituição da
companhia, pelos fundadores, e no aumento de capital, As ações ordinárias de companhia aberta serão todas
pela assembleiageral ou pelo conselho de administração iguais, não sendo possível serem emitidas ações ordiná-
(arts. 166 e 170, § 2º). rias de mais de uma classe.

Existem diversos critérios que podem ser utilizados para Já as ações ordinárias de companhia fechada poderão
definição do valor de uma ação,podendo ser atribuídos ser de uma ou mais classes em função de:
à ação 5 valores que merecem análise: valor nominal, Art. 16. (...)
valor de emissão, valor patrimonial, valor de negociação
I - conversibilidade em ações preferenciais;
e valor econômico.
II - exigência de nacionalidade brasileira do acionis-
ta;
VALOR NOMINAL
III - direito de voto em separado para o preenchi-
capital social (dividido)
mento de determinados cargos de órgãos adminis-
número de ações trativos.

VALOR DE EMISSÃO
é determinado pela companhia no momento Como por exemplo:
da emissão das ações (constituição ou - Ação ordinária A: direitos comuns + direito de voto
aumento do capital)
em assembleia + conversibilidade em ações preferên-
cias.
VALOR PATRIMONIAL (real)
- Ação ordinária B: direitos comuns + direito de voto
A ação pode patrimonio liquido (dividido) número de
ações
em assembleia + direito de voto em separado para
ter
preencher os cargos de órgãos administrativos.
Quando não previstas no estatuto, para que sejam alte-
VALOR ECÔNOMICO realizado através de
radas as diversidades de classes é necessário o consen-
estudo técnicos por peritos
timento de todos os titulares das ações atingidas.

VALOR DE NEGOCIAÇÃO (valor corrente/de b) Ações Preferenciais


mercado) As ações preferenciais são aquelas que conferem ao seu
é definido pelas partes (comprador e titular algum tipo de preferência ou vantagem, seja
vendedor) levando-se em consideração o patrimonial ou política. O estatuto poderá deixar de
mercado de balcão e bolsa de valores conferir às ações preferenciais algum ou alguns dos
direitos reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de
voto, ou conferi-lo com restrições, desde que não retire
do acionista os direitos essenciais previstos no art. 109,
2. Quanto aos direitos: as ações conforme a natureza LSA:
dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares,
Art. 109. (...)
podem ser: ordinárias, preferenciais, ou de fruição. A
companhia pode emitir diferentes classes e espécies de I - participar dos lucros sociais;
ações.

45
II - participar do acervo da companhia, em caso de As ações preferenciais que não confiram ao titular
liquidação; direito de voto ou que contenham restrição ao direito
III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão de voto somente serão admitidas à negociação no mer-
dos negócios sociais; cado de valores mobiliários se a elas for atribuída pelo
menos uma das seguintes preferências ou vantagens
IV - preferência para a subscrição de ações, partes
previstas no art. 17, §1º, LSA:
beneficiárias conversíveis em ações, debêntures
conversíveis em ações e bônus de subscrição, ob- Art. 17. § 1º (...)
servado o disposto nos artigos 171 e 172;
I - direito de participar do dividendo a ser distribu-
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nes- ído, correspondente a, pelo menos, 25% (vinte e
ta Lei. cinco por cento) do lucro líquido do exercício, cal-
culado na forma do art. 202, de acordo com o se-
guinte critério:
No tocante às vantagens patrimoniais concedidas, as
a) prioridade no recebimento dos dividendos men-
ações preferenciais podem consistir em: cionados neste inciso correspondente a, no míni-
- Prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mí- mo, 3% (três por cento) do valor do patrimônio lí-
quido da ação; e
nimo: a divisão de dividendos somente é possível se a
companhia obtiver lucros. O art. 17, §3º, LSA, elenca b) direito de participar dos lucros distribuídos em
que os dividendos, ainda que fixos ou cumulativos, igualdade de condições com as ordinárias, depois
não poderão ser distribuídos em prejuízo do capital de a estas assegurado dividendo igual ao mínimo
social, salvo quando, em caso de liquidação da com- prioritário estabelecido em conformidade com a a-
línea a; ou
panhia, essa vantagem tiver sido expressamente asse-
gurada; II - direito ao recebimento de dividendo, por ação
preferencial, pelo menos 10% (dez por cento)
- Prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou maior do que o atribuído a cada ação ordinária;
sem ele; ou ou
- Cumulação das vantagens acima: prioridade na dis- III - direito de serem incluídas na oferta pública de
tribuição de dividendos, fixo ou mínimo, e prioridade alienação de controle, nas condições previstas no
5
no reembolso do capital social. art. 254-A , assegurado o dividendo pelo menos
igual ao das ações ordinárias (tagalong).
As ações preferenciais podem ou não conferir ao titular
direito de voto. Sendo assim, existem diversas classes A Lei 10.303/01 criou uma classe especial de ação pre-
de ações preferenciais que podem ser lançadas pela ferencial (Golden Share). Essa classe especial foi criada
companhia, como por exemplo: em razão das companhias fruto de desestatização, cri-
- Ação preferencial com prioridade na distribuição de ando uma ação preferencial para Estado (qualquer ente
dividendo, fixo ou mínimo, mas sem direito de voto; público que controle a companhia), que além de outros
poderes que podem ser especificados, conferem o po-
- Ação preferencial com prioridade na distribuição de der de veto nas deliberações em assembleia geral nas
dividendo, fixo ou mínimo, mas com direito de voto; matérias determinadas.
- Ação preferencial com prioridade no reembolso do Estabelece o art. 17, §7º, LSA, que, nas companhias
capital com direito de voto. objeto de desestatização, poderá ser criada ação prefe-
Os direitos, preferências ou restrições a serem atribuí- rencial de classe especial, de propriedade exclusiva do
dos às ações a serem criadas devem ser fixadas no esta- ente desestatizante, à qual o estatuto social poderá
tuto, com precisão e minúcia. conferir os poderes que especificar, inclusive o poder de

As ações preferenciais sem direito a voto, ou que este-


jam sujeitas à restrição no exercício do direito de voto, 5
A tagalong é um mecanismo de proteção (garantia) ao sócio
não podem ultrapassar 50% do total das ações emitidas minoritário, garantindo que o acionista minoritário possa sair da
pela companhia. sociedade na hipótese de o controle da companhia ser assumido
por um investidor que não pertencia ao quadro societário.
No entanto, se a companhia deixar de pagar os dividen- LSA, Art. 254-A. A alienação, direta ou indireta, do controle de
dos, fixos ou mínimos, a que os acionistas preferenciais companhia aberta somente poderá ser contratada sob a condição,
fazem jus, pelo prazo do estatuto (que não pode ser suspensiva ou resolutiva, de que o adquirente se obrigue a fazer
superior a 3 exercícios consecutivos), os acionistas terão oferta pública de aquisição das ações com direito a voto de pro-
priedade dos demais acionistas da companhia, de modo a lhes
direito de voto (art. 111, §1º, LSA).
assegurar o preço no mínimo igual a 80% (oitenta por cento) do
valor pago por ação com direito a voto, integrante do bloco de
controle.

46
veto às deliberações da assembleia geral nas matérias Nota-se que as ações preferenciais ou ordinárias que
que especificar. forem integralmente amortizadas poderão ser substi-
tuídas pela ação de gozo ou fruição, portanto, é uma
No tocante às vantagens políticas, o estatuto pode
faculdade da companhia a substituição. De qualquer
assegurar a uma ou mais classes de ações preferenciais
forma, se o acionista tiver suas ações totalmente amor-
o direito de eleger, em votação em separado, um ou
tizadas, ele somente participará do acervo da compa-
mais membros dos órgãos de administração ou subor-
nhia após os outros acionistas, que não tiveram suas
dinar as alterações estatutárias que especificar à apro-
ações amortizadas, terem recebido sua parte.
vação, em assembleia especial, dos titulares de uma ou
mais classes de ações preferenciais.
O estatuto da companhia com ações preferenciais de- 3. Quanto à forma de circulação: as ações quanto à
clarará as vantagens ou preferências atribuídas a cada forma de circulação podem ser nominativas ou escritu-
classe dessas ações e as restrições a que ficarão sujeitas, rais (eletrônicas). Nem sempre foi assim, pois até 1990
e poderá prever o resgate ou a amortização, a conver- as ações podiam circular também ao portador (art. 33,
são de ações de uma classe em ações de outra e em LSA) ou endossáveis (art. 32, LSA), porém, tais formas de
ações ordinárias, e destas em preferenciais, fixando as circulação foram revogadas pela Lei 8.021/90.
respectivas condições.
As ações podem ou não ser representadas por um cer-
tificado.
c) Ações de Gozo ou Fruição
As ações de gozo ou fruição são as ações ordinárias ou a) Ações Nominativas
preferenciais que foram integralmente amortizadas. A
As ações nominativas são aquelas em que o nome do
amortização consiste na distribuição aos acionistas, a
titular da ação (acionista) é inserido no livro de “Regis-
título de antecipação e sem redução do capital social, de
tro de Ações Nominativas” ou pelo extrato que seja
quantias que lhes poderiam tocar em caso de liquidação
fornecido pela instituição custodiante, na qualidade de
da companhia.
proprietária fiduciária das ações. A propriedade se pre-
A amortização pode ser integral ou parcial e abranger sume com o registro.
todas as classes de ações ou só uma delas. Nas ações
Sendo assim, a transferência das ações nominativas
que foram parcialmente amortizadas não haverá a subs-
opera-se por termo lavrado no livro de “Transferência
tituição por ação de gozo ou fruição.
de Ações Nominativas”, datado e assinado pelo cedente
Pode ser que a companhia não tenha como realizar a e pelo cessionário, ou seus legítimos representantes.
amortização total de todas as ações; nesse caso, a a-
A hipótese da transferência das ações nominativas em
mortização que não abranger a totalidade das ações de
virtude de transmissão por sucessão universal ou lega-
uma mesma classe será feita mediante sorteio.
do, de arrematação, adjudicação ou outro ato judicial,
Vamos imaginar que o Centro Reabilitação S.A. resolva ou por qualquer outro título, somente se concretizará
amortizar as ações da companhia. Nesse caso, será mediante averbação no livro de “Registro de Ações
calculado o valor patrimonial da ação no momento da Nominativas”, à vista de documento hábil, que ficará em
amortização, e tais quantias serão pagas aos acionistas poder da companhia.
das classes sorteadas. Ou seja, o acionista acaba rece-
Na transferência das ações nominativas adquiridas em
bendo a título de antecipação o investimento que ele
bolsa de valores, o cessionário será representado, inde-
realizou, mas continua usufruindo de todos os seus
pendentemente de instrumento de procuração, pela
benefícios. Esse acionista (que detinha ação ordinária ou
sociedade corretora, ou pela caixa de liquidação da
preferencial) mantém todos os seus direitos como acio-
bolsa de valores.
nista, porém só concorreu ao acervo líquido depois de
realizado o pagamento das ações que não foram amor- O art. 36, LSA, determina que o estatuto da companhia
tizadas. fechada pode impor limitações à circulação das ações
nominativas, contanto que regule minuciosamente tais
O art. 44, §5º, determina que as ações integralmente
limitações e não impeça a negociação, nem sujeite o
amortizadas poderão ser substituídas por ações de frui-
acionista ao arbítrio dos órgãos de administração da
ção, com as restrições fixadas pelo estatuto ou pela
companhia ou da maioria dos acionistas. A limitação à
assembleia geral que deliberar a amortização; em qual-
circulação criada por alteração estatutária somente se
quer caso, ocorrendo liquidação da companhia, as ações
aplicará às ações cujos titulares com ela expressamente
amortizadas só concorrerão ao acervo líquido depois de
concordarem, mediante pedido de averbação no livro
assegurado às ações não a amortizadas valor igual ao da
de “Registro de Ações Nominativas”.
amortização, corrigido monetariamente.

47
Se as ações nominativas possuírem certificados, o art. Averbação do res-
24, LSA, determina que os certificados das ações sejam pectivo instrumento No livro de “Registro
AÇÕES
escritos em vernáculo. A responsabilidade da Compa- no livro de “Registro de Ações Nominati-
nhia e dos diretores na omissão de qualquer dessas NOMINATIVAS de Ações Nominati- vas”.
declarações, garante aos acionistas direito à indenização vas”.
por perdas e danos. Averbação do res-
pectivo instrumento
Nos livros da institui-
b) Ações Escriturais nos livros da institui-
ção financeira, que os
AÇÕES ção financeira, a qual
As ações escriturais são incorpóreas, dispensam a emis- anotará no extrato da
ESCRITURAIS será anotada no
conta de depósito
são de certificado. São aquelas mantidas em contas de extrato da conta de
fornecida ao acionista.
depósito, em nome de seus titulares, na instituição que depósito fornecido
designar, desde que esta seja autorizada pela CVM para ao acionista.
manter serviços de escrituração de ações e de outros
valores mobiliários.
Quando ocorre a averbação, a promessa de venda da
A propriedade da ação escritural presume-se pelo re- ação e o direito de preferência à sua aquisição são opo-
gistro na conta de depósito das ações, aberta em nome níveis a terceiros.
do acionista nos livros da instituição depositária.
A transferência da ação escritural opera-se pelo lança-  Amortização, resgate e reembolso das ações
mento efetuado pela instituição depositária em seus
livros, a débito da conta de ações do alienante e a crédi- O estatuto ou a assembleia geral extraordinária pode
to da conta de ações do adquirente, à vista de ordem autorizar a aplicação de lucros ou reservas no resgate
escrita do alienante, ou de autorização ou ordem judici- ou na amortização de ações, determinando as condições
al, em documento hábil que ficará em poder da institui- e o modo de proceder-se à operação.
ção. Ou seja, a transferência depende apenas da ordem O resgate consiste no pagamento do valor das ações
do alienante por escrito, e esta ficará arquivada na para retirá-las definitivamente de circulação, com redu-
instituição, para comprovação da operação de transfe- ção ou não do capital social. Mantido o mesmo capital,
rência da ação. será atribuído, quando for o caso, novo valor nominal às
A comprovação da titularidade da ação ocorre por meio ações remanescentes.
de extrato da conta de depósito das ações escriturais, A amortização consiste na distribuição aos acionistas, a
fornecido pela instituição depositária ao acionista sem- título de antecipação e sem redução do capital social, de
pre que solicitado. O acionista também poderá solicitar quantias que lhes poderiam tocar em caso de liquidação
o extrato ao término de todo mês em que for movimen- da companhia. A amortização pode ser integral ou par-
tada e, ainda que não haja movimentação, ao menos cial e abranger todas as classes de ações ou só uma
uma vez por ano. delas.
Se o estatuto autorizar, desde que observados os limites O reembolso é a operação pela qual, nos casos previstos
máximos fixados pela CVM, a instituição depositária em lei, a companhia paga aos acionistas dissidentes de
poderá cobrar do acionista o custo do serviço de trans- deliberação da assembleia geral o valor de suas ações.
ferência da propriedade das ações escriturais, respon-
dendo a companhia pelas perdas e danos causados aos
 PARTES BENEFICIÁRIAS
interessados por erros ou irregularidades no serviço de
ações escriturais, sem prejuízo do eventual direito de Diferentemente das ações, que representam valor mo-
regresso contra a instituição depositária. biliário de emissão obrigatória pela sociedade anônima,
existem outros títulos que podem ser emitidos como
É permitida a constituição de direitos reais ou outros
forma de captação de recursos da companhia, mas que
ônus das ações, e seu registro ocorre mediante:
não são de emissão obrigatória, como por exemplo, as
partes beneficiárias.
As partes beneficiárias são títulos negociáveis, sem
valor nominal e estranhos ao capital social, emitidos
pela sociedade, que conferem ao seu titular o direito de
crédito eventual, consistente na participação dos lucros
USUFRUTO, FIDEI- anuais da companhia.
PENHOR
COMISSO, ALIENA-
OU CAUÇÃO Somente as companhias fechadas podem emitir partes
ÇÃO FIDUCIÁRIA
beneficiárias, sejam a título gratuito ou oneroso, sendo

48
vedada a emissão por companhias abertas. Se o título conferirão aos titulares os mesmos direitos, sendo con-
for emitido de forma gratuita para fundadores, terceiros sideradas unitárias, não podendo haver distinção entre
ou acionistas como forma de contraprestação de servi- os credores, como por exemplo, antecipar o pagamento
ços prestados à companhia, o prazo de duração não para alguns debenturistas.
ultrapassará 10 anos, salvo as destinadas a sociedades
No momento de emissão das debêntures, a escritura ou
ou fundações beneficentes dos empregados da compa-
certificado deverá estipular se elas serão simples ou
nhia.
conversíveis em ações.
A participação nos lucros a ser atribuída à parte benefi-
As debêntures podem ser de quatro espécies diferentes:
ciária, inclusive para formação de reserva de resgate,
não pode ser superior a 1 décimo dos lucros da socie- - Garantia real;
dade. É proibida a criação de mais de uma classe ou
- Garantia flutuante;
série de partes beneficiárias.
- Não gozar de preferência; e
O titular da parte beneficiária não pode ter nenhum
direito privativo de acionista, salvo o de fiscalizar os - Subordinada aos demais credores da companhia.
atos dos administradores.
O estatuto poderá prever a conversão das partes bene-
ficiárias em ações, mediante capitalização de reserva GARANTIA REAL: Garantido por bens
criada para esse fim. do ativo da companhia

Para redução ou modificação de vantagens conferidas


às partes beneficiárias é necessário aprovação por, no
mínimo, metade dos seus titulares, reunidos em as- GARANTIA FLUTUANTE: Assegura
sembleia geral especial; do contrário, a redução ou privilégio geral sobre o ativo da
companhia.
modificação não terá eficácia. A convocação da assem-
bleia será realizada através da imprensa, com antece- ESPÉCIES DE
dência de no mínimo 1 mês. Se, após 2 convocações, DEBÊNTURES
SUBORDINADA: Não gozam de
deixar de se instalar por falta de número, a próxima nenhuma garantia, preferindo apenas
convocação somente poderá ocorrer após 6 meses. os acionistas no ativo remanescente,
no caso de liquidação.
Cada parte beneficiária dá direito a 1 voto, não poden-
do a companhia votar com os títulos que possuir em
tesouraria. NÃO GOZAR DE PREFERENCIAL OU
QUIROGRAFÁRIA: concorre em
A emissão de partes beneficiárias poderá ser feita com a igualdade com os todos os credores
nomeação de agente fiduciário dos seus titulares, ob- quirografários da companhia.
servado, no que couber, o disposto nos arts. 66 a 71.

 DEBÊNTURES
As debêntures são valores mobiliários emitidos pela A emissão de debêntures, via de regra, é de competên-
companhia com a finalidade de captação de recursos, cia privativa da assembleia geral. Se o estatuto social
tratando-se de um “mútuo”. Se a companhia necessita não vedar, nas companhias abertas o conselho de admi-
de dinheiro para investir, ao invés de pegar um emprés- nistração poderá deliberar sobre a emissão de debêntu-
timo no banco com taxas de juros altas, ela emite as res desde que elas sejam não conversíveis em ações.
debêntures para captar recursos. Nada impede, porém, Se o estatuto autorizar, na companhia aberta o conse-
que ela também seja emitida com outro objetivo, como lho de administração, dentro dos limites do capital
novação, penhor, dentre outros. autorizado, poderá deliberar sobre a emissão de debên-
A debênture poderá assegurar ao seu titular juros, fixos tures conversíveis em ações, especificando o limite do
ou variáveis, participação no lucro da companhia e aumento de capital decorrente da conversão das debên-
prêmio de reembolso. Se a companhia não realizar o tures, em valor do capital social ou em número de a-
pagamento no prazo estipulado, o credor poderá execu- ções, e as espécies e classes das ações que poderão ser
tá-la. emitidas.
A debênture confere ao seu titular o direito de crédito Nenhuma emissão de debêntures será feita sem que
em face da companhia nas condições constantes na tenham sido satisfeitos os seguintes requisitos:
escritura de emissão e, se houver, no certificado. As
debêntures de mesma série terão igual valor nominal e

49
REQUISITOS PARA EMISSÃO DE DEBÊNTURES: Debenturistas que representem no mínimo
1º convocação
a metade das debêntures em circulação
I - arquivamento, no
registro do comércio, e II - inscrição 2º convocação Qualquer número
III - constituição
publicação da ata da da escritura
das garantias
assembleia geral, ou do de emissão no
reais, se for o
conselho de administra- registro do
caso.
Nas deliberações da assembleia de debenturista, a cada
ção, que deliberou sobre comércio; debênture caberá um voto.
a emissão;

 BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO
Os registros do comércio manterão livro especial para O bônus de subscrição é um valor mobiliário que confe-
inscrição das emissões de debêntures, no qual serão re ao seu titular, nas condições previstas no certificado,
anotadas as condições essenciais de cada emissão. o direito de preferência para subscrição de novas ações
Como as debêntures podem ser emitidas sem emissão do capital social.
de certificado, a escritura de emissão pode estabelecer Somente é possível a emissão dessa espécie de valor
que as debêntures fossem mantidas em contas de cus- mobiliário se a companhia for de capital autorizado, ou
tódia, em nome de seus titulares, na instituição que seja, quando o estatuto previr o aumento do capital
designar. Na hipótese de emissão de debêntures com independentemente de reforma estatutária.
certificados, estes deverão conter os requisitos do art.
64, LSA. Os bônus de subscrição terão forma nominativa e serão
representados por um certificado.
Para que a proteção dos direitos e defesa dos interesses
dos debenturistas seja preservada, a lei criou a figura do A competência para deliberação sobre emissão de bô-
agente fiduciário dos debenturistas. Nos termos do art. nus de subscrição compete à assembleia geral, se o
69, LSA, a escritura de emissão poderá ainda atribuir ao estatuto não a atribuir ao conselho de administração.
agente fiduciário as funções de autenticar os certifica- O art. 78, LSA, determina que a emissão do bônus de
dos de debêntures, administrar o fundo de amortização, subscrição pode ser de forma gratuita, como vantagem
manter em custódia bens dados em garantia e efetuar adicional aos subscritores de ações ou debêntures, ou
os pagamentos de juros, amortização e resgate. de forma onerosa, e neste caso prevalece o direito de
Os agentes fiduciários devem ser pessoas naturais que preferência dos acionistas para subscrição do bônus de
satisfaçam os requisitos para o cargo de órgão da admi- subscrição na proporção de suas ações.
nistração e as instituições financeiras devem ser autori- O certificado de bônus de subscrição conterá as declara-
zadas pelo Banco Central do Brasil e ter por objeto a ções previstas nos arts. 24, I a IV, e 79, LSA.
administração ou custódia de bens de terceiros. As ve-
dações para ocupar o cargo encontram-se expressamen-
te no art. 66, §3º, LSA.  NOTAS PROMISSÓRIAS (COMMERCIAL PAPER)

Quaisquer assuntos de interesse dos debenturistas As companhias poderão emitir notas promissórias
poderão ser deliberados em assembleia. A convocação (commercial paper) para colocação pública como forma
para assembleia de debenturistas poderá ser convoca- de captação de recursos, ao invés de realizar emprésti-
da: mo junto às instituições financeiras com juros altos.

- Pelo agente fiduciário; As notas promissórias conferirão a seus titulares direito


de crédito contra a companhia. A data de emissão da
- Pela companhia emissora; nota promissória deverá corresponder à data exata em
- Por debenturistas que representem 10%, no mínimo, que houve a integralização.
dos títulos em circulação; e No momento da subscrição deverá ocorrer a integrali-
zação, em moeda corrente nacional e à vista.
- Pela Comissão de Valores Mobiliários.
O prazo de vencimento das notas promissórias, conta-
dos da data de emissão, será de:

QUÓRUM DE INSTALAÇÃO DA
PRAZO MÍNIMO PRAZO MÁXIMO
ASSEMBLEIA DE DEBENTURISTAS DE RESGATE DE RESGATE

50
Companhia aber- ENCERRAMENTO DE DISTRIBUIÇÃO
30 dias 360 dias
ta DE NOTAS PROMISSÓRIAS
Companhia fe- Companhia Aberta 180 dias
30 dias 180 dias
chada
Companhia Fechado 90 dias

O resgate da nota promissória deve ocorrer na data de


seu vencimento, mas, havendo expressa anuência do As informações referentes à distribuição são de respon-
titular, poderá ocorrer o seu resgate antecipadamente. sabilidade da companhia emissora, que deverá comuni-
É possível a realização do resgate parcial ou total. O car à CVM qualquer inadimplência quanto ao cumpri-
resgate parcial deve ocorrer mediante leilão ou sorteio. mento das obrigações contraídas perante os titulares
das notas promissórias.
Uma vez que a nota promissória é regatada pela com-
panhia, não poderá ser negociada novamente, devendo Compete à CVM suspender a distribuição das notas
ser extinta, impossibilitando a manutenção em tesoura- promissórias se ficar constatado:
ria. - Ser fraudulenta ou ilegal, ainda que após efetuado o
A competência para emissão de notas promissórias será registro;
fixada no estatuto, podendo ser: - A oferta, lançamento, promoção ou a divulgação es-
- Assembleia de acionistas; ou tarem ocorrendo sem o devido registro, ou em condi-
ções diversas das constantes na Instrução CVM Nº
- Órgãos da administração. 134/90, ou do registro, ou com informações falsas, do-
O art. 10, da Instrução Normativa Nº134, CVM, elenca losas, ambíguas ou imprecisas.
os assuntos que devem ser objeto da deliberação da
emissão de notas promissórias.  ÓRGÃOS DA S.A.
Para emitir essa espécie de valor mobiliário é necessário As companhias possuem diversos órgãos, cada um com
que o registro de distribuição seja requerido à CVM pela a sua competência determinada pela Lei. Os quatro
própria companhia ou através de instituição integrante principais órgãos de uma companhia são: Assembleia
do sistema de distribuição de valores mobiliários. Geral, Conselho Fiscal, Diretoria e Conselho de Admi-
nistração. Além desses órgãos, o Estatuto Social poderá
deliberar sobre a criação de outros.

A DISTRIBUIÇÃO PÚBLICA DE NOTAS  ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES


PROMISSÓRIAS SÓ PODE
SER INICIADA APÓS: A Assembleia Geral é um órgão de deliberação e tem
poderes para decidir sobre todos os negócios relativos
ao objeto da companhia e adotar as resoluções que
III - Colocação do julgar conveniente a sua defesa e desenvolvimento.
II - Publicação do
I - Concessão do prospecto à disposição
registro pela CVM
anúncio de início
para a necessária
A competência da Assembleia Geral vem determinada
de distribuição no art. 122, LSA:
entrega aos investidores
Art. 122. (...)
I - reformar o estatuto social;
II - eleger ou destituir, a qualquer tempo, os admi-
O prospecto é o documento que contém os dados bási- nistradores e fiscais da companhia, ressalvado o
disposto no inciso II do art. 142;
cos sobre a operação e a companhia emissora, devendo
constar as informações detalhadas sobre o lançamento III - tomar, anualmente, as contas dos administra-
da companhia emissora, do garantidor, da ata da reuni- dores e deliberar sobre as demonstrações financei-
ão que deliberar sobre a emissão e a cópia do contrato. ras por eles apresentadas;

A distribuição de notas promissórias deve ser encerrada IV - autorizar a emissão de debêntures, ressalvado
o o o
o disposto nos §§ 1 , 2 e 4 do art. 59;
no prazo de 90 dias, para a emissão por companhia
fechada, e no prazo de 180 dias, para a emissão por V - suspender o exercício dos direitos do acionista
companhia aberta, contados a partir do deferimento do (art. 120);
registro pela CVM.

51
VI - deliberar sobre a avaliação de bens com que o dores não atenderem, no prazo de 8 dias, a pedido de
acionista concorrer para a formação do capital so- convocação de assembleia para instalação do conse-
cial; lho fiscal.
VII - autorizar a emissão de partes beneficiárias;
VIII - deliberar sobre transformação, fusão, incor- CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLEIA
poração e cisão da companhia, sua dissolução e li- PUBLICAÇÃO POR NO MÍNIMO 3X
quidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-
lhes as contas; e O anúncio de convocação deverá conter: local, data e hora da
assembleia, a ordem do dia, e, no caso de reforma do estatuto,
IX - autorizar os administradores a confessar falên-
a indicação da matéria.
cia e pedir concordata.
Primeira convocação Segunda convocação
O prazo de antece-
Existem duas espécies de assembleia: Assembleia Geral dência é de no mí- Será publicado novo
Ordinária (AGO) e Assembleia Geral Extraordinária COMPANHIA nimo de 8 (oito) dias, anúncio, com ante-
(AGE). A AGE poderá ocorrer a qualquer tempo para FECHADA a partir da publica- cedência mínima de
deliberar sobre as matérias previstas no art. 122, LSA, ção do primeiro 5 (cinco) dias;
que não sejam de competência privativa da AGO. A AGO anúncio;
e a AGE poderão ser, cumulativamente, convocadas e O prazo de antece- O prazo de antece-
realizadas no mesmo local, data e hora, instrumenta- COMPANHIA
dência será de 15 dência será de 8
das em ata única. ABERTA
(quinze) dias (oito) dias.
Existem no art. 132, LSA, matérias que serão de compe-
tência exclusiva da AGO:
Importante salientar que, nas companhias fechadas, o
Art. 132. Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros acionista que representar 5% ou mais do capital social
meses seguintes ao término do exercício social, será convocado por telegrama ou carta registrada.
deverá haver 1 (uma) assembléia-geral para:
Mesmo a lei exigindo que sejam cumpridas as formali-
I - tomar as contas dos administradores, examinar,
dades de convocação, se todos os acionistas compare-
discutir e votar as demonstrações financeiras;
cem à assembleia, ainda que não tenham sido cumpri-
II - deliberar sobre a destinação do lucro líquido do das todas as formalidades, a assembleia será considera-
exercício e a distribuição de dividendos; da regular.
III - eleger os administradores e os membros do
conselho fiscal, quando for o caso; QUORUM DE INSTALAÇÃO
IV - aprovar a correção da expressão monetária do
Com a presença de acionistas que repre-
capital social (artigo 167).
1º CONVOCAÇÃO sentem, no mínimo, 1/4 (um quarto) do
capital social com direito de voto

A competência para convocação será do conselho de 2º CONVOCAÇÃO Instalar-se-á com qualquer número
administração, se houver, ou dos diretores, observada a
previsão estatutária.
Todos os acionistas da companhia podem comparecer à
A assembleia geral pode também ser convocada: assembleia geral e discutir a matéria submetida à deli-
- Pelo conselho fiscal, nos casos previstos no inciso V, beração, inclusive os acionistas sem direito de voto.
do art. 163, LSA; Antes de abrir-se a assembleia, os acionistas assinarão o
“Livro de Presença”, indicando o seu nome, nacionali-
- Por qualquer acionista, quando os administradores dade e residência, bem como a quantidade, espécie e
retardarem, por mais de 60 dias, a convocação nos ca- classe das ações de que forem titulares.
sos previstos em lei ou no estatuto;
Se a AGE tiver como objeto a reforma do estatuto o
- Por acionistas que representem 5%, no mínimo, do quórum de convocação e deliberação será diferenciado,
capital social, quando os administradores não atende- observada a tabela abaixo:
rem, no prazo de 8 dias, a pedido de convocação que
apresentarem, devidamente fundamentada, com indi-
cação das matérias a serem tratadas;
AGE - REFORMA DE ESTATUTO
- Por acionistas que representem cinco por cento, no
mínimo, do capital votante, ou 5%, no mínimo, dos Quórum de 1º convocação 2º convocação
acionistas sem direito a voto, quando os administra- convocação:
Presença de acionistas Com qualquer

52
que representem 2/3 número bros do conselho fiscal não podem ser outorgadas a
(dois terços), no mí- outro órgão.
nimo, do capital com
direito a voto O art. 163, LSA elenca as competências do conselho
fiscal. Os membros do conselho fiscal têm os mesmos
deveres dos administradores e respondem pelos danos
Após a instalação válida da Assembleia Geral, deverá ser resultantes de omissão no cumprimento de seus deve-
observado o quórum de deliberação. res e de atos praticados com dolo ou culpa, violação à
lei ou estatuto.
QUORUM DE DELIBERAÇÃO Os membros do conselho fiscal respondem solidaria-
mente por omissão no cumprimento de seus deveres.
Serão tomadas por maioria absoluta de
Ressalvadas as Para se eximir da responsabilidade solidária, o membro
votos (50% + UM VOTO presente em
exceções pre- dissidente precisa consignar sua divergência em ata da
assembleia), não se computando os votos
vistas em Lei reunião do órgão e comunicá-la aos órgãos da adminis-
em branco
tração e à assembleia geral.
O estatuto pode aumentar o quórum
Companhia
exigido para certas deliberações, desde
fechada
que especifique as matérias  DIRETORIA
Se o estatuto não estabelecer procedimen- A diretoria é um órgão executivo de existência obrigató-
to de arbitragem e não contiver norma ria. A administração da companhia compete, conforme
diversa, a assembleia será convocada, com dispuser o estatuto, ao Conselho de Administração e à
intervalo mínimo de 2 meses, para votar a
Se houver em- Diretoria. E quando não houver conselho de administra-
deliberação; se permanecer o empate e os
pate ção, caberá apenas à diretoria. A representação da
acionistas não concordarem em designar a
decisão a um terceiro, caberá ao Poder companhia é privativa dos diretores, sendo o conselho
Judiciário decidir, no interesse da compa- de administração um órgão de deliberação colegiado.
nhia
A Diretoria será composta por 2 ou mais diretores (pes-
QUÓRUM DE DELIBERAÇÃO QUALIFICADO soas naturais e residentes no país), eleitos e destituíveis
a qualquer tempo pelo Conselho de Administração, ou,
Quórum de apro- Aprovação de acionistas que represen-
se inexistente, pela assembleia geral, devendo o estatu-
vação: tem metade, no mínimo, das ações com
direito a voto, se maior quórum não for
to estabelecer:
(matérias previs- exigido pelo estatuto da companhia cujas Art. 143. (...)
tas no art. 136, ações não estejam admitidas à negocia-
LSA) ção em bolsa ou no mercado de balcão I - o número de diretores, ou o máximo e o mínimo
permitidos;
II - o modo de sua substituição;
Existem algumas matérias que possuem quórum de
III - o prazo de gestão, que não será superior a 3
deliberação qualificado, as matérias estão previstas no
(três) anos, permitida a reeleição;
art. 136, LSA.
IV - as atribuições e poderes de cada diretor.
A aprovação das matérias previstas nos incisos I a VI e IX
do art. 136 dá ao acionista dissidente o direito de reti-
rar-se da companhia, mediante reembolso do valor das Poderão ser eleitos para cargo de diretor os membros
suas ações (art. 45), observadas as normas previstas no do conselho de administração limitados até 1/3, ou seja,
art. 137, LSA. poderá haver cumulação do cargo de diretor com
membro do conselho de administração.
 CONSELHO FISCAL Compete à diretoria a representação da companhia e a
O conselho fiscal é um órgão de fiscalização. Embora prática dos atos necessários ao seu funcionamento
seja um órgão obrigatório, o seu funcionamento é fa- regular, podendo, nos limites de suas atribuições e
cultativo. A eleição dos membros do conselho fiscal será poderes, constituir mandatários da companhia, devendo
realizada na assembleia geral por maioria. ser especificados no instrumento os atos ou operações
que poderão praticar e a duração do mandato, que, no
Podem ser eleitas para o conselho fiscal pessoas natu- caso de mandato judicial, poderá ser por prazo inde-
rais, residentes no país, diplomadas em curso de nível terminado.
universitário, ou que tenham exercido por prazo mínimo
de 3 anos cargo de administrador de empresa ou de
conselheiro fiscal. As atribuições delegadas aos mem-  CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

53
O conselho de administração é um órgão de delibera- cento) do capital social, que não houverem exerci-
ção colegiado, com atribuições e poderes indelegáveis. do o direito previsto no estatuto, em conformida-
Serão eleitas pessoas naturais residentes no país ou de com o art. 18.
não.
Em regra, é um órgão facultativo. Nas companhias fe- A competência do Conselho de Administração está
chadas a administração poderá ocorrer somente pela prevista no art. 142, LSA.
Diretoria ou conjuntamente pela Diretoria e Conselho
de Administração. Porém, nas sociedades de economia
 DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA COM-
mista, companhias abertas e de capital autorizado, o
PANHIA
Conselho de Administração é órgão obrigatório, portan-
to, a administração será exercida sempre de forma dual Neste tópico iremos trabalhar o procedimento de disso-
pela Diretoria e pelo Conselho de Administração. lução (motivo de encerrar a companhia), liquidação
(apuração de todo o patrimônio e partilha) e, conse-
O Conselho de Administração será composto por, no
quentemente, extinção das companhias (término da
mínimo, 3 membros, eleitos pela assembleia geral e por
existência).
ela destituíveis a qualquer tempo, devendo o estatuto
estabelecer:
 DISSOLUÇÃO DA COMPANHIA
Art. 140. (...)
I - o número de conselheiros, ou o máximo e mí- A dissolução da companhia poderá ocorrer de três for-
nimo permitidos, e o processo de escolha e substi- mas:
tuição do presidente do conselho pela assembléia - De pleno direito;
ou pelo próprio conselho;
II - o modo de substituição dos conselheiros;
- Por decisão judicial; ou

III - o prazo de gestão, que não poderá ser superior - Por decisão de autoridade administrativa competen-
a 3 (três) anos, permitida a reeleição; te, nos casos e na forma previstos em lei especial.
IV - as normas sobre convocação, instalação e fun-
cionamento do conselho, que deliberará por maio- DISSOLUÇÃO DA COMPANHIA
ria de votos, podendo o estatuto estabelecer quo-
rum qualificado para certas deliberações, desde DECISÃO ADMI-
PLENO DIREITO DECISÃO JUDICIAL
que especifique as matérias. NISTRATIVA
a) Pelo término do
prazo de duração;
A eleição dos conselheiros ocorre através de delibera- a) Quando anulada a
b) Nos casos previstos
ção em AGO, por maioria dos votos. O art. 141, LSA, sua constituição, em
no estatuto;
elenca que, na eleição dos conselheiros, é facultado aos ação proposta por
c) Por deliberação da qualquer acionista;
acionistas que representem no mínimo 0,1 (um décimo) assembleia geral (art.
do capital social com direito a voto, esteja ou não pre- b) Quando provado
136, X, LSA)
que não pode pre-
visto no estatuto, requerer a adoção do processo de d) Pela existência de 1 encher o seu fim,
voto múltiplo, atribuindo-se a cada ação tantos votos (um) único acionista, em ação proposta Nos casos e na
quantos sejam os membros do conselho, e reconhecido verificada em assem- por acionistas que forma previstos
ao acionista o direito de cumular os votos num só can- bleia geral ordinária, se representem 5% em lei especial.
didato ou distribuí-los entre vários. o mínimo de 2 (dois) (cinco por cento) ou
não for reconstituído mais do capital
Terão direito de eleger e destituir um membro e seu até à do ano seguinte, social;
suplente do Conselho de Administração, em votação em ressalvado o disposto
c) Em caso de falên-
separado na assembleia geral, excluído o acionista con- no artigo 251 da LSA;
cia, na forma previs-
trolador, a maioria dos titulares (acionistas minoritá- e) Pela extinção, na ta na respectiva lei;
rios), respectivamente: forma da lei, da autori-
zação para funcionar.
Art. 141. § 4º (...)
I - de ações de emissão de companhia aberta com
direito a voto, que representem, pelo menos, 15%
(quinze por cento) do total das ações com direito a
voto; e
II - de ações preferenciais sem direito a voto ou  LIQUIDAÇÃO DA COMPANHIA
com voto restrito de emissão de companhia aber-
ta, que representem, no mínimo, 10% (dez por

54
Compete à assembleia geral, se o estatuto for omisso,  EXTINÇÃO DA COMPANHIA
determinar o modo de liquidação e nomear o liquidan-
Uma vez dissolvida a companhia e realizada a liquida-
te. No caso de liquidação da companhia é obrigatório o
ção, ela será extinta. A extinção poderá ocorrer de duas
funcionamento do Conselho Fiscal.
formas:
O liquidante deverá representar a companhia e praticar
- Pelo encerramento da liquidação; ou
todos os atos necessários à liquidação, inclusive a alie-
nação de bens móveis ou imóveis, transigir, receber e - Pela incorporação ou fusão, e pela cisão com versão
dar quitação, sempre usando a denominação social de todo o patrimônio em outras sociedades.
seguida das palavras “em liquidação”.
O liquidante realizará todo o ativo para pagamento do
passivo. Se o ativo for superior ao passivo, o liquidante 5. TÍTULOS DE CRÉDITO
poderá, sob sua responsabilidade pessoal, pagar inte-
gralmente as dívidas vencidas. Os títulos de crédito típicos são aqueles regulados por
leis especiais (cheque, duplicata, letra de câmbio e nota
São deveres do liquidante: promissória), enquanto os títulos atípicos são discipli-
Art. 210. (...) nados pelo Código Civil (arts. 887 a 926, CC).
I - arquivar e publicar a ata da assembleia geral, ou O Código Civil é aplicado de forma direta aos títulos
certidão de sentença, que tiver deliberado ou de- atípicos; e, aos títulos típicos, somente quando houver
cidido a liquidação; omissão na lei especial. Sendo assim, se houver diver-
II - arrecadar os bens, livros e documentos da gência entre o disposto em lei especial e o Código Civil,
companhia, onde quer que estejam; prevalecerá a lei especial (art. 903, CC).
III - fazer levantar de imediato, em prazo não supe- São características dos títulos:
rior ao fixado pela assembleia geral ou pelo juiz, o
balanço patrimonial da companhia;
- Natureza comercial;

IV - ultimar os negócios da companhia, realizar o - Documento formal;


ativo, pagar o passivo, e partilhar o remanescente
- Bem móvel;
entre os acionistas;
V - exigir dos acionistas, quando o ativo não bastar
- Título de apresentação;
para a solução do passivo, a integralização de suas - Título certo e líquido;
ações;
- Obrigação quesível (QUERABLE) e
VI - convocar a assembleia geral, nos casos previs-
tos em lei ou quando julgar necessário; - Natureza prosolvendo.
VII - confessar a falência da companhia e pedir
concordata, nos casos previstos em lei;
VIII - finda a liquidação, submeter à assembleia ge-
5.1 LETRA DE CÂMBIO
ral relatório dos atos e operações da liquidação e A letra de câmbio é regulada pelo Decreto-lei 57.663/66
suas contas finais; (Lei Uniforme de Genebra - LUG). Nas reservas que
IX - arquivar e publicar a ata da assembleia geral foram adotadas pelo Brasil, aplicaremos o Decreto
que houver encerrado a liquidação. 2.044/1908 e, consequentemente, o disposto no Código
Civil.

Pago o passivo e rateado o ativo remanescente, o liqui-


dante convocará a assembleia geral para a prestação 5.1.1 CLASSIFICAÇÃO DA LETRA DE CÂM-
final das contas e, uma vez aprovadas, encerra-se a BIO
liquidação e a companhia se extingue. Caberá ao acio-
nista dissidente, no prazo de 30 dias a contar da publi- A letra de câmbio representa uma ordem de pagamen-
cação da ata, promover a ação que lhe couber se enten- to dada pelo sacador contra o sacado, para que este,
der necessário. aceitando o título, pague a um determinado terceiro
“beneficiário” do título. Por representar uma ordem de
As responsabilidades do liquidante são as mesmas do pagamento, podemos destacar três figuras iniciais:
administrador, e os deveres e responsabilidades dos
administradores, fiscais e acionistas subsistirão até a  Sacador: aquele que dá a ordem de pagamento. O
extinção da companhia. sacador é garantidor da aceitação e do pagamento
(art. 9º, LUG). Assume na cadeia cambial a posição de
devedor indireto (coobrigado) pelo pagamento, sendo

55
necessário o protesto do título dentro do prazo para
que o credor possa garantir o seu direito à execução Dos requisitos acima elencados podemos destacar como
em face de todos os coobrigados. requisitos supríveis, ou seja, que não gera a invalidade
 Sacado: aquele que recebe a ordem de pagamen- pela ausência e pode ser complementado posterior-
to. Se apuser a sua assinatura aceitando a ordem de mente, os previstos no art. 2º, LUG:
pagamento, deixa de ser chamado sacado e passa a - A época do pagamento (entende-se pagável à vista);
ser chamado de aceitante, tornando-se o devedor di-
reito/principal pelo pagamento. Para cobrança do de- - O lugar do pagamento;
vedor principal, o protesto é ato facultativo.
- Sem indicação do lugar onde foi passada (considera-
 Beneficiário: Aquele que detém o direito de crédi- se como tendo sido emitida no lugar designado, ao
to (credor); lado do nome do sacador).

• Sacador Devedor indireto 5.1.3 DISPOSIÇÕES GERAIS


• Sacado Devedor direto (se aceitar)
Se a letra contém assinaturas de pessoas incapazes de
• Credor Beneficiário se obrigarem por letras, assinaturas falsas, assinaturas
de pessoas fictícias, ou assinaturas que por qualquer
outra razão não poderiam obrigar as pessoas que assi-
A letra de câmbio, quanto à forma de circulação, é um naram a letra, ou em nome das quais ela foi assinada, as
título nominal que, em regra, circula com cláusula à obrigações dos outros signatários nem por isso deixam
ordem. Independente de previsão expressa no título, a de ser válidas. Isso decorre da aplicação do princípio da
letra de câmbio e a nota promissória poderão circular autonomia, uma vez que as obrigações cambiárias são
por endosso, salvo se for inserida no título a “cláusula autônomas e independentes entre si (art. 7º, LUG).
não à ordem”, hipótese em que a circulação do título
Na hipótese de divergência entre a indicação da quantia
somente poderá ocorrer por cessão de crédito.
por extenso e em algarismos, prevalece a por extenso
Quanto ao modelo é livre, não exige uma padronização, (art. 6º, LUG).
desde que sejam preenchidos os requisitos formais.
No tocante à hipótese de emissão a letra de câmbio 5.1.4 DECLARAÇÕES CAMBIAIS
pode ser emitida por qualquer motivo (ou seja, é título
abstrato), uma vez que a lei não elenca as suas hipóte- Neste tópico serão abordadas as principais declarações
ses de emissão. Seja para pagamento de uma dívida de cambiais da letra de câmbio: saque, aceite, endosso e
jogo ou a compra de um enxoval para casamento. aval.

5.1.2 REQUISITOS DA LETRA DE CÂMBIO 5.1.4.1 SAQUE


O saque é uma declaração cambial originária e essenci-
O art. 1º, LUG, elenca os requisitos da letra de câmbio:
al de criação do título de crédito. Obrigatoriamente,
Art. 1º (...) será escrita, já que o título de crédito se materializa por
1. A palavra “letra”, inserta no próprio texto do meio de uma cártula/documento.
título, expressa na língua empregada para redação A natureza jurídica do saque é de declaração unilateral
do mesmo;
de vontade (ato jurídico).
2. O mandato puro e simples de pagar uma quan-
tia determinada; Importante destacar nos títulos os requisitos extrínse-
cos e intrínsecos que devem ser respeitados no mo-
3. O nome de quem deve pagar; mento do saque:
4. A época do pagamento;
- Intrínsecos: subjetivos - agente capaz, objeto lícito,
5. A indicação do lugar em que se deve efetuar o possível e determinável e forma prescrita em lei. São
pagamento; os requisitos comuns a todos os atos jurídicos lícitos
6. O nome da pessoa a quem ou à ordem de (art. 185 c/c art. 104, CC).
quem deve se paga; - Extrínsecos: objetivos (essenciais) - são aqueles indi-
7. A indicação da data e do lugar onde a letra é cados pela lei cambiária para formalizar a validade do
passada; título.
8. A assinatura de quem passa a letra de câmbio.

56
5.1.4.2 ACEITE ser apresentado ao sacado no prazo máximo de 1 ano a
contar da data de emissão, podendo esse prazo ser
O aceite encontra-se disposto nos arts. 21 a 29, LUG. É reduzido ou alongado de acordo com a vontade do
uma declaração cambial facultativa (livre manifestação sacador (art. 34, LUG). Os endossantes não podem alon-
do sacado), eventual e sucessiva, obrigando-se com a gar, mas podem reduzir esse prazo de apresentação.
ordem de pagamento que foi proferida. É o ato pelo
qual o sacado se torna devedor principal/direto pelo Nas letras sacadas com modalidade de vencimento
pagamento. “data certa” ou “certo termo de data” ou “à vista”, po-
derá o sacador estipular que a mesma não será apresen-
tada para aceite (cláusula não aceitável) antes do ven-
 CARACTERÍSTICAS DO ACEITE
cimento ou antes de determinada data (art. 22, LUG).
O aceite é manifestado pela simples assinatura do Com isso, o sacador impede que ocorra o vencimento
sacado, quando realizado no anverso do título. Se, po- antecipado do título.
rém, a assinatura ocorrer no verso do título, será repre-
O sacador não poderá impedir que a letra seja apresen-
sentado pelas expressões “aceito” ou “aceitamos” (art.
tada para aceite nas seguintes hipóteses (art. 22, alínea
25, LUG).
2, LUG):
Na hipótese de o sacado apor a sua assinatura na letra,
ele passa a ser chamado de aceitante e se obriga a reali- - Letra pagável em domicílio de terceiro;
zar o pagamento até a data do vencimento. - Letra pagável em localidade diferente do domicílio
Na hipótese de recusa do sacado em aceitar o título, do sacado;
não será necessário que o mesmo justifique sua recusa, - Letra sacada a certo termo de vista.
tendo em vista que o aceite na letra de câmbio é ato
facultativo que decorre da manifestação unilateral de Nas letras com vencimento “à certo termo de vista” a
vontade do sacado, mas será necessário o protesto do apresentação para aceite se faz necessária, uma vez que
título por falta de aceite para cobrar dos devedores o prazo de vencimento só começa a correr pela data do
indiretos (sacador, endossante e seus avalistas). aceite ou pela data do protesto (recusa de aceite).
Exemplo: vencimento em 90 dias a certo termo de vista.
O aceite não admite condição, termo ou encargo, ele é O prazo de 90 dias somente começará a correr no mo-
ato puro e simples. O aceite completa o título, mas a mento em que a letra for apresentada para aceite ao
sua inexistência não o invalida. Se o sacado não aceitar, sacado. Ou seja, o título depende de apresentação para
a responsabilidade recairá sobre o sacador (devedor aceite para que o prazo comece a correr. A falta ou
indireto), bem como sobre eventuais endossantes (de- recusa de aceite é comprovada pelo protesto do título.
vedores indiretos) ou avalistas do sacador e do endos-
sante (devedores indiretos) após o devido protesto do Se o sacador quiser, poderá inserir no título uma cláusu-
título. la não aceitável, para proibir que o título seja apresen-
tado para aceite antes do dia designado como seu ven-
Se o sacado aceitar a ordem de pagamento da letra de cimento.
câmbio apondo sua assinatura na letra, se torna o prin-
cipal obrigado (devedor direito) pelo seu pagamento. O aceite não é aplicado na nota promissória e no che-
que.
O aceite deve ser inserido pelo sacado ou por seu
mandatário com poderes especiais. O sacado pode solicitar ao portador que a letra lhe seja
apresentada uma segunda vez no dia seguinte ao da
primeira apresentação, não estando obrigado a deixar a
 APRESENTAÇÃO DA LETRA PARA ACEITE
letra nas mãos do aceitante. Também chamado pela
A letra de câmbio deverá ser apresentada para aceite doutrina de “prazo de respiro”.
do sacado em seu domicílio até a data de vencimento
do título. Se a letra for pagável no domicílio do sacado,  ACEITE LIMITATIVO, MODIFICATIVO E RISCADO
este pode, no ato do aceite, indicar para que seja efetu-
ado o pagamento em outro domicílio no mesmo lugar. Não obstante o aceite ser ato puro e simples, o sacado
A apresentação do título para aceite poderá ser realiza- poderá limitá-lo a uma parte da importância sacada,
da pelo portador ou detentor do título. ocorrendo o aceite limitativo. O aceite limitativo, toda-
via, gera o vencimento antecipado do título apenas da
Após o vencimento do título, a apresentação do mesmo importância que não foi aceita (arts. 26, 43 e 51, LUG).
será para pagamento (art. 21, LUG). Se a letra de câm-
bio for emitida na modalidade à vista, a apresentação Na hipótese de aceite limitativo, o credor terá que pro-
da letra será para pagamento e não para aceite, uma testar o título por recusa parcial de aceite para cobrar
vez que o título vencerá no momento da sua apresenta- dos devedores indiretos, imediatamente, a parte que
ção. Nessa modalidade de vencimento, o título deverá não foi aceita. Se um dos obrigados indiretos efetuar o

57
pagamento da parte que não foi aceita, poderá exigir 5.1.4.3 ENDOSSO
que seja dada a respectiva quitação na letra, devendo o
portador entregar àquele que efetuou o pagamento O endosso é uma declaração unilateral de vontade que
uma cópia autenticada da letra e do respectivo protesto objetiva a transferência dos direitos cambiais (transfe-
para ao exercício do seu direito de regresso. rência dos títulos). Em regra, os títulos circulam com
cláusula à ordem, sendo transmissíveis pela via do en-
Já o aceite modificativo, aquele em que o sacado altera dosso. No endosso, salvo cláusula em contrário, o en-
algum requisito do título, não é permitido, equivalendo dossante garante o pagamento.
a uma recusa de aceite, ficando o aceitante obrigado
nos termos do seu aceite. A transferência do título via endosso somente será pro-
ibida quando inserida no título a “cláusula não à or-
A LUG veda que o aceitante faça qualquer modificação dem”, hipótese em que o título será transmissível pela
na letra, no momento do seu aceite, exceto a limitação forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de
do aceite prevista no art. 26, alínea 1, LUG. crédito (a cláusula não à ordem não impede a circulação
Na hipótese de recusa de aceite ou aceite modificativo do título, mas tão somente a realização e os efeitos do
ou aceite por honra, após a realização do protesto po- endosso). Na cessão de crédito, o cedente não garante o
derá ocorrer o aceite por intervenção, previsto no art. pagamento ao cessionário.
56, LUG. Nessa modalidade de aceite, um terceiro (que O endosso é ato puro e simples, não admite termo,
não é o sacado) honra a ordem proferida pelo sacador, condição ou encargo, sendo representado pela simples
apondo a sua assinatura no título (sendo necessária a assinatura no verso do título (dorso), ou numa folha
anuência do portador), tornando-se devedor direto ligada a esta (anexa). Qualquer condição a que ele seja
cambiário do título. No aceite por intervenção, o tercei- subordinado considera-se como não escrita.
ro que aceita o título responde da mesma forma que o
sacado (que aceita o título). A LUG proíbe que o endosso seja realizado de forma
parcial (endosso parcial é nulo), devendo o endossante,
O terceiro interveniente que aceita o título deve indicar no momento de transferência da cártula ao seu endos-
por honra de quem se faz a intervenção e, na falta de satário, realizar o endosso de todo o valor previsto no
indicação, entende-se que interveio em face do sacador título.
do título. Se na data de vencimento do título não houver
o pagamento espontâneo por parte do aceitante inter-
veniente, responderão os demais obrigados pelo paga-  PECULIARIDADES E EFEITOS DO ENDOSSO
mento da letra (sacador, avalista do sacado, endossante O endosso é uma forma de transferência própria, inter
e avalista do endossante), por serem devedores indire- vivos e cambial. Aquele que transfere o título pela via
tos pelo pagamento. do endosso chama-se endossante e o novo credor en-
O aceite é irretratável; todavia, o aceitante pode, antes dossatário.
de restituir a letra para o portador, riscar o seu aceite, Podemos destacar as seguintes peculiaridades:
hipótese em que o aceite será considerado como recu-
sado. O ato de riscar o aceite na letra deverá ser reali- - Ilimitado: não existe restrição quanto à quantidade
zado antes da restituição da letra. de endossos a serem realizados no título;

Se o sacado tiver informado por escrito ao portador ou a - Incondicional: significa dizer que em hipótese algu-
qualquer outro signatário da letra que a aceita, ficará ma admite condição;
obrigado com este nos termos do seu aceite (art. 29, - Não pode ser parcial: proibição expressa da lei geral
alínea 2, LUG). e especial, neste sentido (art. 12, LUG, art. 18, §1º, LC
A recusa de aceite ou falta de aceite deve ser compro- e art. 912, parágrafo único, CC);
vada pelo protesto realizado no prazo legal. A recusa de - Não pode ser riscado, considerando-se não escrita
aceite é a manifestação válida de vontade do sacado em qualquer cláusula nesse sentido.
não aceitar a ordem de pagamento dada pelo sacador,
enquanto a falta de aceite é a ausência de manifestação A partir do endosso, há a concretização do princípio da
válida de vontade, podendo ocorrer, por exemplo, abstração, uma vez que o título se desvincula do negó-
quando o sacado não é encontrado. Em ambos os casos, cio jurídico que lhe deu origem.
recusa de aceite ou falta de aceite, o sacador é obrigado Com o endosso, é inaugurada a cadeia e a solidariedade
tanto pela aceitação como pelo pagamento, mas, nas cambial, já que todo aquele que endossa um título se
duas hipóteses, para que o credor possa exercer o seu torna garantidor solidário pelo pagamento, salvo cláu-
direito de ação em face do sacador deverá protestar o sula em sentido contrário (endosso sem garantia).
título.
Assim, podemos dizer que o endosso produz, basica-
mente, os seguintes efeitos:

58
- Transferência de propriedade/titularidade do crédi- - Remeter a letra a um terceiro, sem preencher o es-
to; paço em branco e sem a endossar (art. 14, alínea 2,
LUG).
- O endossante se torna garantidor do pagamento
(devedor indireto). Se o devedor principal/direto não O portador legítimo é o detentor de uma letra que justi-
pagar, o endossatário (credor) poderá cobrar do en- fica o seu direito por uma série ininterrupta de endos-
dossante. sos, mesmo se o último for em branco.
O Código Civil, em seu art. 914, dispõe que o endossan-
te, salvo cláusula em sentido contrário, não se respon- 2. Quanto à natureza
sabiliza pelo pagamento do título. A redação do men- a) Endosso Próprio: é o endosso típico/translativo, que
cionado dispositivo diverge do previsto na lei especial transfere os direitos cambiais previstos no título de
(art. 15, LUG; art. 77, LUG; art. 21, Lei de Cheque; art. crédito, e responsabiliza o endossante como garantidor
25, Lei de Duplicata) que determina que o endossante da obrigação.
garante o pagamento, salvo cláusula em contrário.
Nesse caso, aplicaremos o princípio da especialidade, Súmula 475, STJ. Responde pelos danos decorren-
ou seja, a lei especial prevalecerá sobre a geral, sendo tes de protesto indevido o endossatário que rece-
be por endosso translativo título de crédito con-
aplicável o art. 914, CC, apenas para os títulos atípicos
tendo vício formal extrínseco ou intrínseco, fican-
regulados pelo Código Civil (não regulados por lei espe- do ressalvado seu direito de regresso contra os
cial). endossantes e avalistas.
Se o endosso for realizado por pessoa incapaz, se cons-
tar assinatura de pessoas fictícias ou, ainda, assinatura
falsificada, esses vícios na cadeia cambial não compro- b) Endosso Impróprio: não produz os efeitos do endos-
meterão as demais obrigações cambiárias, tendo em so próprio, tendo em vista que tal endosso tem como
vista que as obrigações são autônomas e independentes função apenas a legitimação da posse de alguém sobre
entre si. o título, permitindo o exercício dos direitos representa-
dos na cártula.

 CLASSIFICAÇÃO DO ENDOSSO O endosso impróprio se subdivide em:

No tocante à classificação do endosso, podemos desta- - Endosso mandato: também chamado de endosso
car a forma de circulação, natureza e tempo. procuração (art. 18, LUG, e art. 917, CC);

1. Quanto à circulação - Endosso caução: também chamado de pignoratício


(art. 19, LUG e 918, CC).
a) Endosso em Preto: O endossante, ao transferir o
título, identifica o endossatário (o novo beneficiário do O endosso mandato é aquele em que não há transfe-
título) na cártula. Quando o endosso for realizado em rência da propriedade, mas somente da posse do título
preto, somente poderá ser transferido o título posteri- de crédito. Há a constituição de um contrato de manda-
ormente por via de novo endosso, não sendo possível a to entre o mandante (endossante) e o endossatário
cessão de crédito. (mandatário). O endossante-mandante deve indicar o
endossatário-mandatário, e deve realizar um endosso
em preto, lançado no próprio título (princípio da literali-
b) Endosso em Branco: O endossante, ao transferir o
dade).
título, não identifica o nome do novo beneficiário na
cártula, não há qualquer anotação referente à circula- O endossatário-mandatário poderá exercer todos os
ção. O título, na prática, é transferido ao portador, sem direitos constantes na cártula, mas só poderá endossá-
que haja um beneficiário específico, bastando a simples la na qualidade de procurador. Na hipótese do endosso
tradição. Nos termos da Súmula 387, STF, a cambial mandato, são inseridas as expressões “valor a cobrar”,
emitida ou aceita com omissões ou em branco poderá ou “por procuração”, ou outra equivalente. O mandato
ser completada pelo credor de boa-fé, antes da cobran- que resulta de um endosso por procuração não se ex-
ça ou do protesto. tingue por morte ou por sobrevinda incapacidade legal
do mandante (na lei está escrito mandatário, mas en-
Se o endosso for realizado em branco, o portador pode-
tende-se mandante - art. 18, alínea 3, LUG).
rá:
O STJ tem entendido que o banco ou instituição finan-
- Preencher o espaço em branco, quer com o seu no-
ceira como endossatário-mandatário, só será responsa-
me, quer com o nome de outra pessoa;
bilizado por eventuais danos causados ao devedor
- Endossar novamente a letra em branco ou a favor de quando comprovado que atuou culposamente ou dolo-
outra pessoa; samente no desempenho de suas atribuições, ou quan-

59
do extrapolar os poderes conferidos pelo endossante- mento à vista, não podendo ser dado em garantia de
mandante: uma obrigação.
Súmula 476, STJ. O endossatário de título de crédi-
to por endosso-mandato só responde por danos 3. Quanto ao tempo
decorrentes de protesto indevido se extrapolar os
poderes de mandatário. a) Endosso Ordinário: é o endosso realizado até a data
de vencimento do título.

CAIU NA PROVA! b) Endosso Póstumo: é o endosso realizado após o pro-


testo por falta de pagamento ou depois de expirado o
XXVIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO prazo fixado para o protesto, produzindo efeito de ces-
são de crédito, art. 20, LUG (na cessão de crédito o ce-
Filadélfia emitiu nota promissória à vista em favor de dente não garante o pagamento do título ao cessioná-
Palmas. Antes da apresentação a pagamento, Palmas rio).
realizou endosso-mandato da cártula para Sampaio.
De posse do título, é correto afirmar que Sampaio O art. 920, CC dispõe em sentido contrário, afirmando
que o endosso realizado após o vencimento produz os
A) poderá exercer todos os direitos inerentes ao título, mesmos efeitos do anterior. Em caso de conflito, aplica-
inclusive realizar novo endosso sem as restrições da- se a lei especial para os títulos típicos (possuem legisla-
quele realizado em cobrança. ção própria) que não são regulados diretamente pelo
B) poderá transferir o título na condição de procura- Código Civil (art. 903). O Código Civil regula os títulos
dor da endossante ou realizar endosso em garantia atípicos, situação em que se aplica o disposto no art.
(endosso pignoratício). 920.

C) somente poderá transferir a nota promissória, por


meio de novo endosso, na condição de procurador da  ENDOSSO SEM GARANTIA E CLÁUSULA PROIBITIVA
endossante. DE NOVO ENDOSSO

D) não poderá realizar qualquer endosso do título, A LUG dispõe em seu art. 15, alínea 1, que o endossan-
pois caso o faça será considerado como parcial, logo te, salvo cláusula em contrário, é garante (garantidor)
nulo. tanto da aceitação como do pagamento da letra.
RESPOSTA: C Para que o endossante não seja responsabilizado pelo
pagamento, ao realizar o endosso, deverá inserir uma
Já no endosso caução não ocorre à transferência da “cláusula sem garantia”. A referida cláusula, ao ser
propriedade, já que o título não é dado em pagamento, inserida no título no momento do endosso, isenta o
mas como caução em garantia da dívida contraída pelo endossante da responsabilidade pelo pagamento do
devedor da caução (endossante). O endosso é realizado título em caso de inadimplemento. Ou seja, uma vez
como garantia pignoratícia. O credor da caução (endos- inserida a cláusula no momento do endosso, o endos-
satário) mantém o título sobre sua posse, como uma sante não garante o pagamento para ninguém da cadeia
forma de garantia da obrigação. O credor da caução cambial.
poderá mover as ações cambiárias cabíveis e realizar o O endossante pode proibir um novo endosso inserindo
protesto do título, uma vez que o credor da caução no título a cláusula proibitiva de novo endosso. Uma
(endossatário) age em seu nome próprio, visando o seu vez inserida tal cláusula, o endossante só garante o
interesse. pagamento para o seu endossatário. O endossatário que
O endosso caução deve conter a menção "valor em descumprir a proibição de novo endosso realizada pelo
garantia", "valor em penhor" ou qualquer outra menção endossante e transferir o título via endosso retira da-
que implique uma caução. O portador pode exercer quele que lhe endossou o título a responsabilidade pelo
todos os direitos emergentes da letra, mas, um endosso pagamento. Ou seja, o endossante que insere a cláusula
feito por ele só vale como endosso a título de procura- proibitiva de novo endosso, não garante o pagamento
ção. Os coobrigados não podem invocar contra o por- às pessoas a quem a letra for posteriormente endossa-
tador as exceções fundadas sobre as relações pessoais da pelo seu endossatário. A cláusula proibitiva de novo
deles com o endossante, a menos que o portador, ao endosso está prevista no art. 15, alínea 2, LUG:
receber a letra, tenha procedido conscientemente em O endossante pode proibir um novo endosso, e,
detrimento do devedor (art. 19, LUG). nesse caso, não garante o pagamento às pessoas a
quem a letra for posteriormente endossada.
Essa modalidade de endosso não é aplicada ao cheque,
uma vez que o cheque representa uma ordem de paga-

60
GAEL  QUADRO COMPARATIVO ENTRE ENDOSSO E CES-
SÃO ORDINÁRIA DE CRÉDITO
SACADOR - devedor indireto

ENDOSSO CESSÃO CIVIL DE CRÉDITO


LUANN A) Natureza cambiária –
A) Transferência de direitos
Instituto de circulação cam-
SACADO - Devedor direito se aceitar a letra comuns. Circulação de qual-
bial. Circulação dos títulos de
quer direito de crédito.
crédito.

MATHEUS B) É uma declaração unilate-


B) É um contrato bilateral
ral, que tem por objetivo a
cuja finalidade é a transfe-
credor - Endossante (devedor indireto) transferência do direito
rência de direitos comuns.
cambial.
C) É ato formal, e solene.
JOÃO GABRIEL Deve ser escrito no título C) Ato não solene, podendo
(princípios da literalidade). ser realizado, inclusive, por
Endossatário de Matheus e Endossante de Brayan (devedor Indireto)
Em regra, deve ser lançado ato separado.
no dorso do título.

BRAYAN D) Por tratar-se de obrigação


D) Pode ser submetido à
pura e simples, não admite
condição, termo ou encargo.
Endossatário - credor condição.
E) Abstrato E) Causal
(Endosso com cláusula proibitiva novo endosso)
F) Transfere direitos deriva-
F) Transfere direitos autô- dos, já que o cedente transfe-
Exemplificando: Imagine que Gael saca uma letra de
nomos (princípio da auto- re os mesmos direitos que
câmbio em face de Luann, tendo como beneficiário nomia), art. 915 e 916, NCC. possui para o cessionário. Art.
Matheus. Matheus, credor do título, endossa (deixa de 294, CC.
ser credor e passa a ser endossante) o título para João
Gabriel, com cláusula proibitiva de novo endosso. Ma- G) Endossante garante o G) Cessionário não garante o
pagamento pagamento
theus só garante o pagamento para o seu endossatário -
João Gabriel. Se João Gabriel endossar o título posteri- H) Não pode opor exceções H) Pode opor exceções pes-
ormente para Brayan, Matheus não garante o pagamen- pessoais soais
to a Brayan. I) Não pode ser parcial I) Pode ser parcial
O Código Civil, em seu art. 890, proíbe que seja inserido
no título a cláusula proibitiva de novo endosso. Nesse
caso, por força do princípio da especialidade (art. 903, 5.1.4.4 AVAL
CC) só aplicaremos o disposto no Código Civil quando a
Trata-se de garantia fidejussória cambial. Sua natureza
lei especial for omissa ou para os títulos atípicos (regu-
jurídica é de declaração unilateral de vontade. Ressalta-
lados pelo Código Civil).
se que o aval dispensa de outorga uxória ou marital
quando tratar-se de títulos típicos (REsp 1.526.560-
MG).
O aval pode ser prestado por um terceiro ou pelo pró-
prio signatário da letra. Deve ser lançado no próprio
título ou em uma folha anexa, no anverso (face anterior
ou na frente) do título, pelas expressões “bom para
aval” ou por qualquer fórmula equivalente.
No momento de prestar o aval, o avalista deve indicar a
pessoa a quem está avalizando o título. Na falta de
indicação, entender-se-á como avalizado o sacador do
título (art. 31, alínea 2, LUG).
A responsabilidade do avalista é idêntica à do seu avali-
zado e sua obrigação se mantém, ainda que a do seu
avalizado seja nula, exceto por vício de forma. Sendo
assim, avalista de devedor direto (principal) será deve-

61
dor direto (protesto facultativo). Já na hipótese de pelo devedor por 120(cento e vinte) dias, sem altera-
avalizar um devedor indireto, responderá de forma ção da data de vencimento indicada no título. O bene-
indireta (protesto obrigatório). ficiário exigiu dois avalistas simultâneos, e o devedor
apresentou Montenegro e Bento, que firmaram avais
A responsabilidade do avalista também é solidária. Não
em preto no título. Sobre esses avais e a responsabi-
havendo pagamento do título, o avalista poderá ser
lidade dos avalistas simultâneos, assinale a afirmativa
demandado pelo portador solidariamente, com os de-
correta.
mais na cadeia cambial, ou individualmente. Se quem dá
o aval (dador do aval) paga a letra, fica sub-rogado nos A) por ser vedado, no direito brasileiro, o aval póstu-
direitos emergentes da letra contra a pessoa a favor de mo, os avais simultâneos são considerados não escri-
quem foi dado o aval e contra os obrigados para com tos, inexistindo responsabilidade cambial dos avalis-
esta em virtude da letra. tas.
B) O aval lançado na nota promissória após o venci-
 CLASSIFICAÇÃO DO AVAL mento ou o protesto tem efeito de fiança, responden-
do os avalistas subsidiariamente perante o portador.
1. Quanto ao valor
C) O aval póstumo produz os mesmos efeitos do ante-
a) Aval Total: o avalista garante toda a obrigação do
riormente dado, respondendo os avalistas solidaria-
avalizado. Avaliza o valor integral do título.
mente e autonomamente perante o portador.
b) Aval Parcial: o avalista não avaliza todo o valor do D) O aval póstumo é nulo, mas sua nulidade não se
título, apenas uma parte. estende à obrigação firmada pelo subscritor (avaliza-
do), em razão do princípio da autonomia.
Exemplo: Uma letra de câmbio é emitida no valor de
RESPOSTA: C
R$500,00. O avalista avaliza apenas uma parte da im-
portância sacada (R$200,00).
Em que pese haver previsão para o aval parcial na LUG, b) Aval Antecipado: é aquele em que o avalista avaliza a
o art. 897, parágrafo único, CC, expressamente vedou obrigação antes do aceite no título.
tal possibilidade. Por outro lado, o art. 903, CC, precei-
Já na letra de câmbio, como o aceite é facultativo, o
tua que deve prevalecer o disposto nas leis especiais.
tema é divergente quanto à eficácia ou não do aval
Sendo assim, se a lei especial autorizar o aval, esta
antecipado quando o avalizado (aceitante) não assumir
prevalecerá (art. 30, LUG; art. 29. Lei 7.357/85; e art.
a obrigação. A primeira corrente entende que o aval
25, Lei 5.474/68). A vedação do aval parcial somente
realizado antes do aceite no título é válido, mesmo que
será aplicada aos títulos atípicos, regulados pelo Código
o avalizado não assuma obrigação. Já a segunda corren-
Civil, ou para os títulos típicos (que tem lei especial
te sustenta que seria ineficaz o aval prestado antecipa-
regulamentadora) cuja lei for omissa quanto à possibili-
damente, se o avalizado não assumir a obrigação.
dade de aplicação do aval parcial.

3. Aval em Branco e Aval em Preto


2. Quanto ao tempo
O avalista pode ou não indicar quem será o seu avaliza-
a) Aval Posterior ao Vencimento (póstumo): Aquele
do.
realizado após o vencimento do título, mas antes do
protesto, produz os mesmos efeitos do anterior (art. a) Aval em Branco (Geral): o avalista não identifica no
900, CC). título quem ele está avalizando. Nesse caso, entende-se
como avalizado o sacador.
Na letra de câmbio e nota promissória o aval póstumo
produz os mesmos efeitos do anteriormente dado, res-
pondendo os avalistas solidária e autonomamente pe- b) Aval em Preto (Especial): o avalista identifica no
rante o portador. título quem é o seu avalizado.

4. Aval Sucessivo e Aval Simultâneo


CAIU NA PROVA!
O aval pode ser lançado por uma (simples) ou mais pes-
XXVI EXAME DE ORDEM UNIFICADO soas (plural). Quando realizado por mais de uma pessoa
(plural), poderá ser sucessivo ou simultâneo.
Três Coroas Comércio de Artigos Eletrônicos Ltda.
subscreveu nota promissória em favor do Banco Dois a) Aval Simultâneo (Co-aval): duas ou mais pessoas
Irmãos S.A. com vencimento a dia certo. Após o ven- avalizam o título conjuntamente e garantem, de forma
cimento, foi aceita uma proposta de moratória feita simultânea, a mesma obrigação cambial. No aval simul-

62
tâneo existe relação jurídica externa e interna. Entre os
coavalistas existe uma relação jurídica de direto interno,
sendo assim, se a obrigação é avalizada por dois avalis- 5.1.5 MODALIDADES DE VENCIMENTO
tas e um deles for demandado individualmente e efetu-
As modalidades de vencimento previstas na LUG podem
ar o pagamento do título, só poderá cobrar do outro
ser por prazo determinado (data certa ou certo termo
avalista, em ação de regresso, a metade do valor. Isto
de data) ou indeterminado (à vista ou certo termo de
ocorre porque a responsabilidade existente entre os
vista).
avalistas, no aval simultâneo, é solidária civil e não
cambiária (Súmula 189, STF). O avalista, porém, poderá  VENCIMENTO POR PRAZO DETERMINADO
cobrar do seu avalizado a quantia integral (pois entre
eles a solidariedade é de natureza cambiária). Nessas modalidades de vencimento, em razão de o
credor ter a data de vencimento determinada, não é
cabível cláusula de juros.
b) Aval Sucessivo (Aval do Aval): No aval sucessivo, o
sujeito da relação cambiária é avalizado por um avalista  Data Certa: não há necessidade de qualquer conduta
e, posteriormente, este avalista é avalizado por outro do credor, já que o vencimento de uma obrigação posi-
avalista e assim sucessivamente. Entre os avalistas, a tiva e líquida já constitui o devedor em mora (mora
solidariedade é cambiária, não havendo uma relação exre). Exemplo: 17/10/2018.
jurídica de direito interno, mas somente a relação jurídi-
ca externa cambiária. O avalista que efetuar o pagamen-  Certo Termo de Data: o vencimento começa a con-
to poderá entrar com ação de regresso em face do seu tar do momento da emissão do título. Exemplo: 90 dias
avalizado, pleiteando o valor integral do título. a certo termo de data. O prazo de contagem dos 90 dias
conta-se da data de emissão. Se o título for emitido em
 QUADRO COMPARATIVO ENTRE O AVAL E A FIAN- 01/01/2016, vencerá em 90 dias contados da data de
ÇA emissão.

AVAL FIANÇA  VENCIMENTO POR PRAZO INDETERMINADO


A) Próprio do direito cambiário, A) Próprio do direito civil, Nessa modalidade de vencimento, em razão da data ser
aplica-se aos títulos de créditos. garante qualquer obrigação. indeterminada e necessitar de um ato do credor para
que ocorra o seu vencimento, é cabível cláusula de
B) Declaração unilateral. B) Contrato.
juros.
C) Deve ser prestado diretamente no
C) A fiança pode ser feita  À Vista: o título vence no momento da apresentação
título,
em contrato à parte. ao sacado. O título é apresentado para pagamento e
em razão do princípio da literalidade.
não para aceite. O portador terá o prazo de 1 ano, con-
D) A obrigação do avalista, D) A obrigação do fiador é tado da data de emissão para apresentar o título ao
em relação aos demais coobrigados, é subsidiaria sacado (art. 34, I, LUG).
solidária. com o seu afiançado.
E) Obrigações autônomas. A obrigação  Certo Termo de Vista: O prazo para vencimento do
do avalista E) O contrato de fiança é título começa a correr quando o sacado aceitar o título
se mantém, ainda que a do seu avali- contrato acessório (art. 824,
ou quando for realizado o protesto por falta de aceite.
zado CC).
seja nula, exceto por vício de forma. O termo inicial do prazo de vencimento é a partir do
aceite ou do protesto. O portador deverá apresentar o
F) Possibilidade de aval parcial nos título para aceite no prazo máximo de 1 ano, contado da
títulos típicos (art. 29, Lei 7357/85 e data de emissão. Exemplo: “90 dias a certo termo de
art. 30 LUG). O Código Civil, em seu F) A fiança poderá
vista”. O prazo de 90 dias começa a correr quando o
art. 897, parágrafo único, não admite o ser parcial ou total.
aval parcial (aplicável aos títulos atípi-
portador apresentar o título ao sacado (art. 35, LUG).
cos).
Nas letras de câmbio com modalidade de vencimento à
G) Inoponibilidade das exceções pes- G) Oponibilidade das exce-
vista ou certo termo de vista, poderá o sacador estipu-
soais em face de terceiro de boa-fé. ções
Art. 17, LUG c/c art. 916, CC. pessoais (art. 837, CC). lar cláusula de juros, por se tratarem de modalidades
de vencimento por prazo indeterminado (art. 5º, LUG).
H) Solidariedade cambial, pode-se H) Não há solidariedade e sim O Código Civil dispõe de forma diversa da lei especial ao
demandar individualmente ou solida- subsidiariedade, possibilidade estabelecer, em seu art. 890, que se considera não
riamente todos da cadeia cambial. Não de aplicação do benefício de escrita no título a cláusula de juros. Aplicaremos o
há benefício de ordem. ordem ( art. 827, CC). disposto no art. 890, CC, para os títulos atípicos ou para
aqueles cuja legislação especial for omissa.

63
Nas modalidades de vencimento por data certa e certo - Aceitante (sacado) da letra de câmbio;
termo de data, não é possível a estipulação de cláusula
- Avalista do aceitante (sacado) na letra de câmbio;
de juros. Se for inserida nessas modalidades de venci-
mento por prazo indeterminado, considera-se não escri- - Sacado na duplicata;
ta.
- Avalista do sacado na duplicata;
- Sacador da nota promissória;
5.1.6 PAGAMENTO, PROTESTO E AÇÃO
- Avalista do sacador da nota promissória;
POR FALTA DE PAGAMENTO DA LETRA DE
CÂMBIO - Sacador do cheque;

O portador deve apresentar a letra para pagamento na - Avalista do sacador cheque.


data do seu vencimento ou no 1º dia útil seguinte ao
vencimento exceto para as letras com vencimento à O protesto será obrigatório para cobrar dos obrigados
vista, considerando que vencem no momento da sua indiretos:
apresentação. Por força da reserva no anexo II da LUG,
- Sacador da letra de câmbio;
art. 5º, aplicamos o disposto no art. 20, Decreto
2.044/08. - Avalista do sacador da letra de câmbio;
Art. 20. A letra deve ser apresentada ao sacado ou - Sacador da duplicata;
ao aceitante para o pagamento, no lugar designa-
do e no dia do vencimento ou, sendo este dia feri- - Avalista do sacador da duplicata;
ado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena
de perder o portador o direito de regresso contra o
- Endossantes;
sacador, endossadores e avalistas. - Avalista dos endossantes.
O protesto por falta de aceite deve ser realizado duran-
O portador não pode se recusar ao pagamento parcial. te o prazo de apresentação do título no local de paga-
Havendo pagamento parcial, o sacado poderá exigir que mento.
desse pagamento lhe seja dada quitação na letra. Já o protesto por falta de pagamento da letra de câm-
Não havendo o pagamento espontâneo, na data de bio e da nota promissória deverá ser realizado em 1 dia
vencimento, por parte do devedor direto (principal), o útil após o vencimento do título. Por força do art. 9º,
portador terá de levar o título a protesto para garantir anexo II, LUG, afastamos o disposto no art. 44, alínea 2,
o seu direito de ação em face dos devedores indiretos LUG, e aplicamos o art. 28, Decreto 2.044/08. O protes-
pelo pagamento. to da duplicata deverá ser realizado em até 30 dias,
contados do vencimento (art. 13, §4º, LD). Já o protesto
O Protesto é regulado pela Lei 9.492/97. Trata-se de ato do cheque deverá ser realizado antes de expirado o
cartorário formal e solene no qual se prova a inadim- prazo de apresentação, qual seja, 30 dias quando for
plência e o descumprimento de obrigação originada em emitido no lugar em que houver de ser pago (mesma
títulos e outros documentos. praça) e 60 dias quando emitido em outro lugar do País
O protesto deverá ser realizado segundo o art. 21, Lei ou do exterior (praça diversa) (art. 48 c/c art. 33, LC).
9.492/97, quando houver:
- Falta de pagamento (todos os títulos); PRAZO PARA REALIZAÇÃO DO PROTESTO
- Recusa de aceite (duplicata ou letra de câmbio); ou TÍTULO PRAZO
- Falta de devolução (retenção indevida) do título (art. LETRA DE CÂMBIO 1 dia útil
21, §3º, Lei 9.492/97). NOTA PROMISSÓRIA 1 dia útil
Antes de expirado o prazo de apre-
Art. 21. O protesto será tirado por falta de paga-
sentação
mento, de aceite ou de devolução. CHEQUE
(30 dias mesma praça e 60 dias
praça diversa)
Se o protesto não for efetuado em tempo hábil, o por- DUPLICATA 30 dias (contados do vencimento)
tador perde o direito de ação em face dos devedores
indiretos.
Podemos destacar como principais efeitos do protesto:
O protesto será facultativo para cobrar dos obrigados
diretos (principais) do título:

64
- Interrompe o prazo prescricional, art. 202, III, CC (a- ciente a declaração de anuência passada pelo
fastada a aplicação da Súmula 153, STF); credor endossante.

- Viabiliza o direito de ação em face dos devedores


indiretos; Quando o pedido de cancelamento for fundado em
qualquer outro motivo que não seja o pagamento do
- Protesto por falta de aceite gera o vencimento ante-
título ou documento da dívida, será efetuado por de-
cipado do título;
terminação judicial, após o pagamento dos emolumen-
- Autoriza o pedido de falência com base na impon- tos ao Tabelião (Inf. 562, STJ - REsp 813.381-SP).
tualidade do devedor (protesto especial – pode ser
O protesto poderá ser dispensado quando o sacador,
realizado até a prescrição do título - arts. 10 e 94, I,
um endossante ou um avalista inserir no título a cláusu-
LRF);
la “sem despesas” ou “sem protesto”, ou outra cláusula
- Fixa o marco inicial da falência (art. 99, II, LRF). equivalente, dispensando o portador de fazer um pro-
testo por falta de aceite ou falta de pagamento, para
O protesto será registrado no prazo de 3 dias úteis
poder exercer os seus direitos de ação.
contados da protocolização. Uma vez protocolizado o
título, o tabelião de protesto expedirá intimação ao Se a cláusula “sem despesa” for escrita pelo sacador
devedor via comunicação com AR (aviso de recebimen- produzirá os seus efeitos em relação a todos os signatá-
to) ou documento equivalente para que esse se mani- rios da letra; se for inserida por um endossante ou por
feste quanto ao título apresentado (arts. 12 e 14, Lei avalista, só produzirá efeito em relação a esse endos-
9.492/97). Antes da lavratura do protesto, poderá o sante ou avalista.
apresentante retirar o título desde que pagos os emo-
Dispõe o art. 45, LUG, que, no caso de a letra conter a
lumentos e demais despesas.
cláusula “sem despesas”, o portador deve avisar da
Após a intimação do devedor, durante os 3 dias seguin- falta de aceite ou de pagamento ao seu endossante e
tes, poderão ocorrer as seguintes situações: ao sacador dentro dos 4 dias úteis que se seguirem ao
dia do protesto ou da apresentação. Cada um dos en-
- O devedor ficar inerte: hipótese em que o tabelião
dossantes deve, por sua vez, dentro dos 2 dias úteis que
lavra o protesto;
se seguirem ao do recebimento do aviso, informar ao
- O devedor comparecer ao cartório para aceitar, pa- seu endossante do aviso que recebeu, indicando os
gar ou devolver o título; nomes e endereços dos que enviaram os avisos prece-
dentes e assim sucessivamente, até se chegar ao saca-
- O devedor ajuíza uma medida cautelar de sustação
dor. Os prazos acima indicados contam-se a partir do
de protesto (medida judicial - art. 17, Lei 9.492/97);
recebimento do aviso precedente.
Não cabe ao tabelião de protesto analisar a prescrição
Dispõe o art. 53, LUG, que o portador perde os seus
ou decadência do título, mas tão somente os seus requi-
direitos de ação contra os endossantes, contra o saca-
sitos formais.
dor e contra os outros coobrigados, à exceção do acei-
Uma vez lavrado o protesto, restará ao devedor efetuar tante, depois de expirados os prazos fixados:
o pagamento (extrajudicial) ou realizar o pedido de
- Para a apresentação de uma letra à vista ou a certo
cancelamento de protesto, previsto no art. 26, Lei
termo de vista;
9.492/97. Quando o pedido de cancelamento for reali-
zado em razão do pagamento do título, deverá ser soli- - Para se fazer o protesto por falta de aceite ou por
citado diretamente no Tabelionato de Protesto de Títu- falta de pagamento;
los.
- Para a apresentação à pagamento no caso da cláusu-
Art. 26. O cancelamento do registro do protesto la “sem despesas”.
será solicitado diretamente no Tabelionato de
Protesto de Títulos, por qualquer interessado, Na falta de apresentação ao aceite, no prazo estipulado
mediante apresentação do documento protestado, pelo sacador, o portador perde os seus direitos de ação,
cuja cópia ficará arquivada. tanto por falta de pagamento como por falta de aceite.
§ 1º Na impossibilidade de apresentação do origi-
nal do título ou documento de dívida protestado,
será exigida a declaração de anuência, com identi-
ficação e firma reconhecida, daquele que figurou
no registro de protesto como credor, originário ou
por endosso translativo.
§ 2º Na hipótese de protesto em que tenha figura-
do apresentante por endosso-mandato, será sufi-

65
5.1.7 PRAZO PRESCRICIONAL DA LETRA DE derá da mesma forma que o aceitante na letra de câm-
bio.
CÂMBIO E NOTA PROMISSÓRIA (ART. 71,
LUG)
• Subscritor/ Emitente (sacador) Devedor direto
Uma vez vencido o título e não pago, o portador poderá
• Beneficiário Credor
ajuizar ação de execução de título extrajudicial, obser-
vados os prazos abaixo:

5.2.2 CLASSIFICAÇÃO DA NOTA PROMIS-


PRAZO PRESCRICIONAL SÓRIA
DEVEDOR PROTESTO PRAZO AÇÃO As notas promissórias, no tocante à sua estrutura, re-
presentam uma promessa de pagamento.
Devedor direto
Três anos da
(principal) - Protesto é Ação de Quanto ao modelo, são livres, ou seja, podem ser emiti-
data do ven-
sacado e seus facultativo Execução das pelo subscritor desde que preenchidos os requisitos
cimento
avalistas formais (art. 75, LUG), não seguem nenhuma padroniza-
A cobrança dos ção.
Compreende
codevedores: Protesto é Quanto à hipótese de emissão, são abstratas e podem
o prazo de 1 Ação de
sacador, endos-
obrigatório ano a contar Execução ser emitidas por qualquer motivo.
santes e seus
do protesto
avalistas Em regra, circulam com cláusula à ordem, sendo trans-
O prazo é de feridas através da figura do endosso. Os títulos com
As ações dos cláusula à ordem somente podem ser transferidos por
6 meses, a Ação de
codevedores uns endosso (endossante garante o pagamento, salvo cláu-
contar do Regresso
contra os outros
pagamento sula em contrário), e os títulos com cláusulas não à
ordem por cessão de crédito (cedente não garante o
pagamento).
Uma vez prescrito o título este perde a força executiva,
Aplicamos à nota promissória, por força do art.77, LUG,
mas, o portador poderá ainda ajuizar ação monitória. A
as disposições relativas à letra de câmbio, naquilo em
ação monitória só poderá ser proposta em face do
que forem compatíveis, no tocante a
devedor direto (principal) do título. O prazo prescricio-
nal para o ajuizamento da ação monitória em face de - Endosso (arts. 11 a 20);
emitente da nota promissória sem força executiva é
quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do - Vencimento (arts. 33 a 37);
título (Súmula 504, STJ). - Pagamento (arts. 38 a 42);
- Direito de ação por falta de pagamento (arts. 43 a 50
5.2 NOTA PROMISSÓRIA e 52 a 54);
- Pagamento por intervenção (arts. 55 e 59 a 63);
A nota promissória, assim como a letra de câmbio, tam-
bém é regulada pelo Decreto-lei 57.663/66, nos arts. 75 - Cópias (arts. 67 e 68);
a 78.
- Alterações (art. 69);
- Prescrição (arts. 70 e 71);
5.2.1 FIGURAS NA NOTA PROMISSÓRIA
- Feriados, contagem de prazos e interdição de dias de
A nota promissória representa uma promessa de paga- perdão (arts. 72 a 74);
mento em que o subscritor se compromete a efetuar o
pagamento a um determinado credor. Inicialmente, - Disposições relativas às letras pagáveis no domicílio
temos duas figuras: de terceiro ou numa localidade diversa da do domicílio
do sacado (arts. 4º e 27);
 Promitente/emitente/subscritor;
- Estipulação de juros (artigo 5º), divergências das in-
 Credor/ beneficiário do título. dicações da quantia a pagar (art. 6º);
O subscritor da nota promissória assume o compromis- - Consequências da aposição de uma assinatura, nas
so de efetuar o pagamento de determinada pessoa, condições indicadas no art. 7º;
sendo o devedor direto/principal pelo pagamento da
nota promissória e, nos termos do art. 78, LUG, respon-

66
- Assinatura de uma pessoa que age sem poderes ou protesto (art. 25) cuja data serve de início ao termo de
excedendo os seus poderes (art. 8º) vista.
- Letra em branco (art. 10);
- Aval (arts. 30 a 32); no caso previsto na última alínea 5.2.4 SÚMULAS IMPORTANTES
do art. 31, se o aval não indicar a pessoa por quem é O STJ já se manifestou sobre alguns temas envolvendo o
dado, entender-se-á ser pelo subscritor da nota pro- a nota promissória:
missória.
Súmula 233, STJ. O contrato de abertura de crédi-
to, ainda que acompanhado de extrato da conta
5.2.3 REQUISITOS DA NOTA PROMISSÓRIA corrente, não é título executivo.

Assim como a letra de câmbio, a nota promissória pos- Súmula 247, STJ. O contrato de abertura de crédi-
sui requisitos essenciais e supríveis. Dispõe o art. 75, to em conta corrente, acompanhado do demons-
LUG, que a nota promissória deverá conter: trativo de débito, constitui documento hábil para o
Art. 75. (...) ajuizamento da ação monitória.

1. Denominação "nota promissória" inserta no


próprio texto do título e expressa na língua em- Súmula 258, STJ. A nota promissória vinculada a
pregada para a redação desse título; contrato de abertura de crédito não goza de auto-
nomia em razão da iliquidez do título que a origi-
2. A promessa pura e simples de pagar uma nou.
quantia determinada;
3. A época do pagamento; Súmula 504, STJ. O prazo para ajuizamento de a-
ção monitória em face do emitente de nota pro-
4. A indicação do lugar em que se efetuar o pa-
missória sem força executiva é quinquenal, a con-
gamento;
tar do dia seguinte ao vencimento do título.
5. O nome da pessoa a quem ou à ordem de
quem deve ser paga;
6. A indicação da data e do lugar em que a nota Além da possibilidade de ajuizamento da ação de execu-
promissória for passada; ção é cabível a ação de locupletamento ilícito, pautada
no art. 48, do Decreto 2.044/1908. Tal ação prescreve
7. A assinatura de quem passa a nota promissória em 3 anos contados do dia em que restar consumados a
(subscritor).
prescrição da ação executiva.

Se faltarem quaisquer dos requisitos acima elencados, o Informativo 580, STJ. (...) Como o Decreto n.
2.044/1908 não prevê prazo prescricional específi-
título não produzirá efeito como nota promissória, exce-
co para o exercício dessa pretensão – diferente-
to nas hipóteses dos requisitos supríveis elencados no
mente da Lei do Cheque, cujo art. 61 prescreve o
art. 76, alíneas 1, 2 e 3, LUG. Dentre os requisitos acima prazo de dois anos, contado do dia em que se con-
elencados, destacam-se três que são considerados sumar a prescrição da ação executiva –, utiliza-se o
supríveis: prazo previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC, de acor-
do com o qual prescreve em “três anos” “a preten-
- A época do pagamento (considera-se à vista); são de ressarcimento de enriquecimento sem cau-
- Lugar do pagamento (lugar onde o título é passado); sa”. (REsp 1.323.468-DF).
e
- Local onde a nota é passada (lugar designado ao lado Importante salientar que segundo entendimento do STJ
do subscritor). no REsp. 1.323.468-DF, independentemente da com-
provação da relação jurídica subjacente, a simples apre-
No tocante às modalidades de vencimento em uma
sentação de nota promissória prescrita é suficiente para
nota promissória, na hipótese das letras emitidas pagá-
embasar a ação de locupletamento pautada no art. 48,
veis a certo termo de vista devem ser apresentadas ao
Decreto 2.044/1908.
visto dos subscritores no prazo de 1 ano da data da
emissão (art. 78 c/c art. 23, LUG).
O prazo para o início da contagem do termo de vista 5.3 CHEQUE
conta-se da data do visto dado pelo subscritor. A recusa
do subscritor a dar o seu visto é comprovada por um Hoje, em nosso ordenamento, o cheque é regulado pela
Lei 7.357/85, que substituiu a LUC (Lei Uniforme de
Cheque - DL 57.595/66).

67
não à ordem circulam através da cessão de crédito. A
5.3.1 CLASSIFICAÇÃO DO CHEQUE cláusula não à ordem deve ser expressa no título. A
regra é a circulação dos títulos através do endosso.
No tocante à estrutura dos títulos, o cheque representa
uma ordem de pagamento à vista. Na ordem de paga- Quanto à hipótese de emissão, o cheque é de emissão
mento, o sacador ordena ao sacado que este pague a abstrata, podendo ser emitido por qualquer motivo,
um determinado credor. uma vez que a lei não elenca as hipóteses de emissão.

Na ordem de pagamento, temos três figuras distintas: No tocante ao modelo, o do cheque é vinculado, ou
seja, além dos requisitos essenciais, ele deverá obede-
 O sacador (aquele que emite o título) dando a or- cer a uma padronização (elaborado pelo Banco Central -
dem de pagamento; BACEN) a qual todas as instituições financeiras deverão
seguir.
 O sacado (contra quem o título é sacado), recebendo
a ordem de pagamento;
5.3.2 REQUISITOS DO CHEQUE
 O tomador (também chamado de beneficiário) em O art. 1º, Lei 7.357/85, elenca os requisitos do cheque,
favor de quem o título é emitido, ou seja, aquele que estabelecendo que deverá conter:
irá receber o valor estipulado no título.
Art. 1º (...)
I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto
• Sacador Correntista (Devedor direto) do título e expressa na língua em que este é redi-
• Sacado Banco ou Instituição financeira gido;

• Beneficiário Portador - Credor II - a ordem incondicional de pagar quantia deter-


minada;
III - o nome do banco ou da instituição financeira
O emitente garante o pagamento, sendo considerado que deve pagar (sacado);
devedor principal/direto, considerando-se não escrita a
IV - a indicação do lugar de pagamento;
declaração pela qual se exima dessa garantia (art. 15,
LC). V - a indicação da data e do lugar de emissão;

O sacado (banco ou instituição financeira que recebe a VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu
ordem de pagamento) não tem nenhuma responsabili- mandatário com poderes especiais.
dade pelo pagamento do título. A única modalidade de
cheque em que a instituição financeira responde pelo
O título em que faltar qualquer dos requisitos legais não
pagamento é na hipótese de emissão do cheque admi-
vale como cheque, salvo nos casos dos requisitos suprí-
nistrativo. Nessa modalidade de cheque, a instituição
veis: lugar de pagamento e lugar de emissão.
financeira saca o cheque contra ela mesma (será ao
mesmo tempo sacador e sacado), por isso responde Não obstante o art. 2º, LC, elencar os requisitos conside-
diretamente pelo pagamento. rados como supríveis, não podemos esquecer que o
cheque é de modelo vinculado; então, na prática, tais
A circulação do cheque poderá ser nominal ou ao por-
requisitos sempre estarão presentes.
tador. A Lei de Cheque é a única que a autoriza a emis-
são de títulos ao portador quando o valor for inferior a Nos termos da Súmula 387. STF: “a cambial emitida ou
R$100,00 reais. Os títulos ao portador são aqueles que aceita com omissões pode ser completada pelo credor
circulam pela mera tradição (entrega), não sendo neces- de boa-fé antes da cobrança ou do protesto”. Ou seja, o
sário o endosso para que possam circular (art. 904, CC). portador de boa-fé poderá completar o título antes do
protesto ou do ajuizamento da ação cabível.
Já os títulos que circulam nominalmente são aqueles
que identificam o nome do beneficiário no título. Os Em observância aos princípios da autonomia e inde-
títulos emitidos dessa forma podem ser com cláusula “à pendência previstos no art. 13, LC, as obrigações são
ordem” ou ainda “não à ordem”. independentes e autônomas entre si. Não pode o deve-
dor opor exceções pessoais ao portador de boa-fé, que
Sempre que o título estiver nominal, a sua transferên-
teria com o seu credor originário.
cia deverá ocorrer por endosso (cláusula à ordem) ou
por cessão de crédito (cláusula não à ordem). Os títulos No mesmo sentido, dispõe o art. 16, LC, que, quando
com cláusula à ordem somente podem ser transferidos um cheque estiver incompleto no ato de sua emissão e
por endosso (endossante garante o pagamento, salvo for completado, ainda que sem a observância do con-
cláusula em contrário), enquanto os títulos com cláusula vencionado com o emitente, tal fato não poderá ser

68
oposto ao portador, exceto se comprovado que este ta à compradora Rebeca um cheque administrativo.
agiu de má-fé. Nesse caso, o Banco Itaú emitirá o cheque administrati-
vo cobrando da correntista (Rebeca) não só o valor de
R$500.000,00 reais, como também as taxas e encargos
5.3.3 PECULIARIDADES DO CHEQUE referentes à transação efetuada. Essa modalidade de
Para que o cheque tenha validade, deverá ser emitido cheque é muito utilizada nas negociações privadas, uma
contra banco, ou instituição financeira que lhe seja vez que confere maior segurança as partes.
equiparada. O cheque administrativo, no tocante ao endosso, será
O sacador, quando emite o cheque, deve ter fundos limitado, podendo ser endossado uma única vez.
disponíveis em poder do sacado. Não obstante o cheque
ser uma ordem de pagamento à vista, a existência dos  Cheque visado (art. 7º, LC)
fundos somente será verificada no momento da apre-
O cheque visado tem um visto do gerente da conta do
sentação do cheque ao sacado para pagamento e não
correntista, garantindo a existência de fundos. Essa
na data de sua emissão.
modalidade ocorre quando o sacado, a pedido do emi-
Podemos considerar como fundos disponíveis: tente ou do portador legitimado, lançar e assinar, no
Art. 4º, § 2º (...) verso do cheque não ao portador e ainda não endossa-
do, visto, certificação ou outra declaração equivalente,
a) os créditos constantes de conta-corrente bancá- datada e por quantia igual à indicada no título.
ria não subordinados a termo;
b) o saldo exigível de conta-corrente contratual; Art. 7º Pode o sacado, a pedido do emitente ou do
portador legitimado, lançar e assinar, no verso do
c) a soma proveniente de abertura de crédito.
cheque não ao portador e ainda não endossado,
visto, certificação ou outra declaração equivalente,
datada e por quantia igual à indicada no título.
Por ser uma ordem de pagamento à vista, o cheque não
admite cláusula de juros (art. 10, LC).
Erro de português no momento do saque do cheque Quando o sacado lançar o visto no cheque, ele estará
não o anula. Havendo divergência entre o algarismo e obrigado a debitar da conta do sacador a quantia indi-
por extenso prevalecerá o extenso, uma vez que a sua cada no cheque. O valor reservado ficará disponível
falsificação é mais difícil. Necessário salientar que o para o portador durante o prazo de apresentação (30
BACEN tem considerado a retificação proibida. dias quando o cheque for da mesma praça e 60 dias
quando o cheque for de praça diferente). Após o prazo
de apresentação, o sacado creditará na conta do emi-
5.3.4 MODALIDADES DE CHEQUE tente do cheque a quantia que havia sido reservada,
perdendo o visto o seu valor de garantir a existência de
 Cheque administrativo (art. 9º, III, LC) fundos.
O cheque administrativo é a única modalidade em que a
instituição financeira será responsabilizada pelo paga-  Cheque Cruzado (art. 44, LC)
mento do cheque. Representa modalidade de cheque
em que a instituição financeira saca o título contra ela O cruzamento no cheque poderá ser realizado pelo
mesma (sendo ao mesmo tempo sacador e sacado). emitente ou o portador do cheque. O cruzamento é
representado pela oposição de dois traços paralelos no
Art. 9º O cheque pode ser emitido: anverso (na parte da frente do título).

(...)
Art. 44. O emitente ou o portador podem cruzar o
III - contra o próprio banco sacador, desde que não cheque, mediante a aposição de dois traços parale-
ao portador. los no anverso do título.

A emissão dessa modalidade de cheque visa a garantir Quando o cheque estiver cruzado, o cruzamento evita a
determinadas negociações. Exemplo: Rebeca, correntis- apresentação para pagamento (ou seja, recebê-lo na
ta do Banco Itaú, quer comprar a casa de Laís, avaliada “boca do caixa”), e somente poderá ser apresentado
em R$500.000,00 reais. Fica acordado entre comprado- para depósito. O cruzamento não impede que o cheque
ra e vendedora que o pagamento será realizado com seja endossado.
cheque. A vendedora Laís teme que, em face de um Existem duas modalidades de cruzamento:
valor tão alto, o cheque não tenha fundos. Então, solici-

69
- Cruzamento geral: quando entre os dois traços não 5.3.5 DECLARAÇÕES CAMBIAIS
houver nenhuma indicação ou existir apenas a indica-
ção “banco’’, ou outra equivalente. Somente poderá No tocante as declarações cambiais constantes do che-
ser pago pelo sacado a banco ou a cliente do sacado, que, iremos abordar neste tópico o saque, endosso e
mediante crédito em conta. aval. Não aplicamos ao cheque o aceite, pois esta moda-
lidade de declaração cambial aplica-se apenas as letras
- Cruzamento especial: se entre os dois traços existir de câmbio e duplicata.
a indicação do nome do banco. Somente poderá ser
pago pelo sacado ao banco indicado, ou, se este for o
sacado, a cliente seu, mediante crédito em conta.  SAQUE
Quando o cheque possuir vários cruzamentos especi- O saque é uma declaração unilateral, eventual e suces-
ais só poderá ser pago pelo sacado no caso de dois siva. No cheque, o emitente saca uma ordem de paga-
cruzamentos, um dos quais para cobrança por câmara mento ao sacado para que este pague a um determina-
de compensação (art. 45, §2º, LC). do credor. Não existe no cheque a figura do aceite.
Havendo fundos disponíveis na conta do emitente, o
A Lei de Cheque admite, em seu art. 44, §2º, a conver- sacado promoverá o seu pagamento.
são do cruzamento geral em especial, bastando que
insira no cruzamento o nome da instituição financeira.  ENDOSSO E AVAL
Porém, o cruzamento especial não poderá ser conver-
tido em geral. Quando o cheque for emitido com cláusula à ordem, a
sua circulação se dá através da figura do endosso. En-
A instituição financeira só poderá adquirir cheque cru- quanto os cheques emitidos com cláusula não à ordem
zado de cliente seu ou de outro banco. Só pode cobrá-lo circulam através da cessão de crédito.
por conta de tais pessoas (art. 45, §1º, LC)
O endosso é ato puro e simples, não admitindo condi-
O sacado ou banco portador responderão pelos danos ção, considerando-se não escrita qualquer condição que
decorrentes da não observância das disposições relati- seja a ele subordinada.
vas ao cruzamento, até o limite do montante do cheque.
O endosso parcial e o endosso do sacado são nulos. O
endosso é representado pela simples assinatura do
 Cheque para crédito em conta (art. 46, LC)
endossante no verso do cheque ou na sua folha de a-
O cheque, para ser creditado em conta, é uma modali- longamento.
dade exclusiva para depósito, proibindo que o cheque
No tocante à classificação do endosso, aplicamos ao
seja pago em dinheiro ou endossado.
cheque o que foi abordado em letra de câmbio. Não
podemos deixar de destacar que o cheque, por ser uma
Art. 46. O emitente ou o portador podem proibir ordem de pagamento à vista, não admite a modalidade
que o cheque seja pago em dinheiro mediante a
de endosso caução. Mas, as disposições sobre o endos-
inscrição transversal, no anverso do título, da cláu-
sula ‘’para ser creditado em conta’’, ou outra equi- so mandato são aplicadas e encontram-se estampadas
valente. Nesse caso, o sacado só pode proceder a no art. 26, LC.
Iançamento contábil (crédito em conta, transfe- O mesmo ocorre com a figura do aval. O pagamento de
rência ou compensação), que vale como pagamen-
um cheque pode ser garantido no todo ou em parte por
to. O depósito do cheque em conta de seu benefi-
ciário dispensa o respectivo endosso. um avalista, não podendo o sacado figurar como avalis-
ta do emitente. O aval também será lançado diretamen-
te no cheque ou na sua folha de alongamento no anver-
Pode ser inserida pelo emitente ou portador, mediante so do cheque (na parte da frente).
a inscrição transversal, no anverso do título, da cláusula Não indicando o avalizado, entende-se como dado em
“para ser creditado em conta’’, ou outra equivalente. favor do emitente. O avalista responde da mesma for-
Uma vez inserida a cláusula no cheque, a inutilização ma que seu avalizado, a obrigação do avalista se man-
será considerada como inexistente. tém ainda que a do seu avalizado seja nula, exceto por
O sacado que não observar as disposições precedentes vício de forma. Quando o avalista efetua o pagamento
responderá pelos danos até o limite do montante do do cheque adquire todos os direitos dele resultantes.
cheque.
Tal modalidade caiu em desuso, uma vez que pode ser
substituída pelo cheque nominal, cruzado e não à or-
dem.

70
6
CAIU NA PROVA! pós-datado. A doutrina e jurisprudência aceitam a
modalidade do cheque pós-datado, consignando que a
XXIV EXAME DE ORDEM UNIFICADO apresentação antecipada do cheque para pagamento
pelo beneficiário acarreta dano moral ao sacador. Tal
Um cliente apresenta a você um cheque nominal à or- entendimento encontra-se pacificado pelo STJ através
dem com as assinaturas do emitente no anverso e do da Súmula 370.
endossante no verso. No verso da cártula, também
consta uma terceira assinatura, identificada apenas Na hipótese em que o cheque é apresentado a câmara
como aval pelo signatário. Com base nessas informa- de compensação, a apresentação equivale para o paga-
ções, assinale a afirmativa correta. mento (art. 34, LC).

A) O aval dado no título foi irregular, pois, para a sua Quando o portador apresenta o cheque durante o seu
validade, deveria ter sido lançado no anverso. prazo de apresentação (art. 33, LC), ele mantém o direi-
to de ação contra todos os coobrigados. Porém, não
B) A falta de indicação do avalizado permite concluir apresentado o cheque no prazo legal, consequente-
que ele pode ser qualquer dos signatários (emitente mente, perde o direito de execução em face dos coo-
ou endossante). brigados pelo pagamento, e contra o emitente se este
C) O aval dado no título foi na modalidade em branco, tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresenta-
sendo avalizado o emitente. ção e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe
seja imputável.
D) O aval somente é cabível no cheque não à ordem,
sendo considerado não escrito se a emissão for à or- Ressalta-se que a perda do direito de ação em face do
dem. emitente somente ocorrerá na hipótese acima elencada,
prevista no art. 47, §3º, LC. O STF, por meio da Súmula
RESPOSTA: C
600, consignou que cabe ação executiva em face do
emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado
Aplicamos no tocante ao endosso e aval do cheque as o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não
disposições que foram tratadas quanto ao endosso e prescrita a ação cambiária.
aval na letra de câmbio.
Ou seja, ainda que o portador não tenha apresentado o
cheque no prazo legal (30 dias - mesma praça; 60 dias -
5.3.6 DA APRESENTAÇÃO E DO PAGA- praça diversa), ele poderá promover a execução do
título em face dos devedores principais (emitente e
MENTO DO CHEQUE avalistas), desde que o cheque ainda não esteja prescri-
O cheque é uma ordem de pagamento à vista vencendo to (prazo prescricional de 6 meses, contados do térmi-
no momento em que é apresentado ao sacado, conside- no do prazo de apresentação).
rando-se não escrita qualquer menção em sentido con-
A Lei de Cheque autoriza que o pagamento ao portador
trário. Desta forma, ainda que o sacador tenha lançado
seja realizado mesmo após o prazo de apresentação,
no título uma data retroativa ou futura para pagamento
desde que não prescrito o cheque, exceto se o emitente
(cheque pré-datado/pós-datado) o mesmo será pago no
lançar uma contraordem (revogação). Ou seja, após o
momento da sua apresentação ao sacado, desde que
término do prazo de apresentação, mas durante o prazo
haja provisão de fundos disponíveis.
prescricional de 6 meses, pode o sacado promover o
O prazo de apresentação do cheque depende da praça pagamento do cheque ao portador.
de emissão. Nos termos do art. 33, LC, o cheque deverá
Quando o emitente quer impedir o pagamento do che-
ser apresentado para pagamento no prazo de 30 dias
que após o prazo de apresentação pelo sacado, ele
quando for de mesma praça (emitido no lugar onde
lança a contraordem ou a revogação. O objetivo é, jus-
houver sido pago) e 60 dias se for de praça diversa
tamente, impedir que o sacado efetue o pagamento do
(quando emitido em outro lugar do País ou do exterior).
cheque após transcorrido o prazo de apresentação.
O prazo começa a correr a contar do dia seguinte à
emissão estampada na cártula. A revogação pode ser lançada pelo emitente sempre
que o cheque for pagável no Brasil, dada por aviso epis-
Se o cheque for emitido em lugares que tenham calen-
tolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razões
dários diversos, será considerado como de emissão o dia
que o motivaram a promover a revogação. Não cabe ao
do calendário do lugar do pagamento (art.33, parágrafo
sacado avaliar as razões do emitente, mas somente
único, LC).
promover a revogação. Apenas judicialmente podem ser
Não obstante o cheque ser uma ordem de pagamento à
vista, na prática, é muito comum sua utilização como 6
INF. 528, Resp. 1.124.709-TO – “A pós-datação de cheque não
modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do
título (...)”.

71
contestadas as razões do emitente. A contraordem é Os efeitos da sustação são imediatos, operando-se,
definitiva. inclusive, durante o prazo de apresentação. Uma vez
sustado o cheque, o sacado não poderá realizar o seu
Contudo, a revogação (contraordem) somente produzi-
pagamento.
rá efeitos após o prazo de apresentação. Durante o
período de apresentação, poderá o sacado promover o
pagamento do cheque. E, não sendo promovida a revo- Sustação/Oposição - art. Revogação/Contraordem -
gação, pode o sacado pagar o cheque até que decorra o 36, LC art. 35, LC
prazo de prescrição nos termos do art. 59, LC (art. 35,
Impedir o pagamento Impedir o pagamento
caput e parágrafo único, LC).
Pode ser promovida pelo
O prazo de apresentação tem uma grande relevância, Somente pode ser promovida
emitente ou portador legí-
conforme apontado abaixo: pelo emitente do cheque.
timo do cheque.
Por escrito, justificando a Por escrito, com as razões moti-
O valor debitado da conta do emitente, quando relevante razão de direito vadoras do ato.
emitido cheque visado,
Art. 7, fica disponível em favor do portador durante o prazo Só produz efeitos a partir do
§1º, LC de apresentação. Produz efeitos imediatos prazo de apresentação do che-
Após esse período, o valor será credito à conta do que: 30 ou 60 dias;
emitente. Pode ser cancelada Não pode ser cancelada
O endosso póstumo (aquele realizado após o prazo Tem caráter temporário. É definitiva.
Art. 27,
de apresentação ou após o protesto) produz efeito
LC
de cessão de crédito.
Art. 35, 5.3.7 DA AÇÃO POR FALTA DE PAGAMEN-
A revogação ou contraordem só produz efeito
parágrafo
após o prazo de apresentação. TO
único, LC
O portador perde o direito de ação em face de en- Na hipótese de não pagamento, o portador do cheque
Art. 47, II,
dossantes e seus avalistas se não promover a apre- poderá promover a sua execução contra o emitente e
LC
sentação do cheque do prazo legal. seus avalistas, bem como contra seus endossantes e
O portador perde o direito de ação em face do emi- avalistas, se o cheque for apresentado em tempo hábil
Art. 47, tente se este tinha fundos disponíveis durante o (durante o prazo de apresentação previsto no art. 33,
§3º, LC prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão LC) e se a recusa de pagamento for comprovada pelo
de fato que não lhe seja imputável. protesto ou por declaração do sacado, escrita e datada
sobre o cheque, com a indicação do dia da apresentação
O prazo prescricional de 6 meses para ajuizamento
Art. 59, ou, ainda, por declaração escrita e datada por câmara
da ação de execução é contado do término do prazo
LC de compensação.
de apresentação.
7
O portador ficará dispensado de realizar o protesto
quando a recusa de pagamento for comprovada:
Não podemos confundir a revogação com a sustação. A
sustação está prevista no art. 36, LC. - Pela declaração do sacado, escrita e datada sobre o
cheque, com a indicação do dia da apresentação; ou
O emitente do cheque ou portador legitimo pode,
mesmo durante o prazo de apresentação, sustar o seu - Declaração escrita e datada sobre a câmara de com-
pagamento através de manifestação por escrito ao pensação.
sacado, desde que fundado em relevante razão de direi- O portador ficará também dispensado de realizar o
to. Não cabe ao sacado julgar a relevância invocada pelo protesto do título na hipótese de o emitente inserir a
oponente. cláusula sem despesa/sem protesto. Tal cláusula dis-
É mister salientar a importância do emitente ou porta- pensa o protesto do título para o portador promover a
dor informar a relevante razão de direito no momento ação de execução. Ressalta-se que a cláusula sem des-
da sustação ou revogação, uma vez que, nos termos do pesa ou sem protesto, quando inserida pelo endossante
art. 171, §2º, VI, Código Penal, constitui crime de esteli-
onato a emissão de cheque sem provisão de fundos e a 7
Inf. 528, STJ – Resp. 1.124.709-TO – “É possível o protesto de
frustração do seu pagamento. A sustação ou revogação cheque nominal à ordem, por endossatário terceiro de boa-fé,
do cheque pode ocorrer quando houver furto, roubo, após o decurso do prazo de apresentação, mas antes da expiração
extravio do talão, etc. do prazo para ação cambial de execução, ainda que, em momento
anterior, o título tenha sido sustado pelo emitente em razão do
inadimplemento do negócio jurídico subjacente à emissão da
cártula (...)”.

72
ou avalista do endossante, somente dispensará o pro- Depois de expirado o prazo para ajuizamento da ação de
testo para aquele que a inseriu. execução, poderá o portador ajuizar ação de enrique-
cimento ilícito contra o emitente ou outros obrigados
Para a cobrança do obrigado direto/principal pelo pa-
que tiverem se locupletado pelo não pagamento do
gamento, o protesto é ato facultativo; mas, para cobrar
cheque. A ação de locupletamento ilícito é subsidiaria à
dos coobrigados (endossantes e seus avalistas), o pro-
ação de execução. O prazo para ajuizamento da ação de
testo é ato obrigatório, exceto nas hipóteses do art. 47,
enriquecimento ilícito é de 2 anos, contados do dia em
§1º, LC, que suprem o protesto.
que for consumada a prescrição. A ação de locupleta-
O protesto ou as declarações previstas no art. 47, II, LC, mento ilícito somente poderá ser proposta em face do
quanto ao não pagamento do cheque, devem ser reali- emitente ou daqueles cuja quem o locupletamento
zados antes de expirado o prazo de apresentação. Por- reste comprovado.
tanto, se o cheque for de mesma praça (mesmo local de
Alternativamente à ação de enriquecimento ilícito, po-
emissão e pagamento) terá o portador o prazo de 30
derá o portador ajuizar ação monitória. A ação monitó-
dias, contados da emissão, para lavratura do protesto.
ria é cabível para cobrança de documento escrito que
Ou, se for o cheque de praça diversa, o prazo de 60 dias
perdeu a força executiva. O STJ já sumulou entendi-
(local de emissão diferente do local de pagamento),
mento no enunciado nº 299, dispondo que é possível o
também contados da emissão do título.
ajuizamento da ação monitória para a cobrança de
O local de realização do protesto será o lugar de paga- cheque prescrito.
mento ou do domicílio do emitente (antes de expirado o
A ação monitória somente poderá ser proposta em
prazo de apresentação). Quando o cheque for encami-
face do emitente. Nos termos da Súmula 503, STJ, o
nhado a protesto, a sua entrega deverá ser prenotada
prazo para ajuizamento da ação monitória em face do
em livro especial. O protesto deverá ser tirado no prazo
emitente de cheque sem força executiva é quinquenal,
máximo de 3 dias úteis (contados do recebimento do
a contar do dia seguinte à data de emissão estampada
título). Após o pagamento do cheque, poderá o protesto
na cártula.
ser cancelado, a pedido de qualquer interessado.
A Lei de Cheque também contempla a possibilidade de
Dispõe o art.49, LC, que o portador deve dar aviso da
propositura da ação causal, prevista no art. 62, LC.
falta de pagamento a seu endossante e ao emitente,
Quando não houver prova da novação, a emissão ou
nos 4 dias úteis seguintes ao do protesto ou das decla-
transferência do cheque não excluirá a ação fundada na
rações previstas no art. 47, LRF, ou, havendo cláusula
relação causal, feita a prova de não pagamento. O prazo
“sem despesa’’, ao da apresentação. Posteriormente,
para ajuizamento é de 5 anos (art. 206, §5º, I, LC), sendo
cada endossante deverá comunicar ao seu endossatário,
o seu termo inicial a data de vencimento da obrigação.
até que se chegue ao emitente (os prazos são contados
do recebimento do aviso precedente). Quando o título é emitido em caráter pro solvendo, a
emissão do título não gera a sua quitação, somente
Todos os obrigados são solidariamente responsáveis
após a devida compensação.
pelo pagamento do cheque. O portador poderá de-
mandar em face de todos os obrigados, individual ou
coletivamente.
Aquele que efetuar o pagamento do cheque poderá
exigir de seus garantes a importância que foi paga, de-
vidamente corrigidos com juros (contados do pagamen-
to), as despesas e a compensação pela perda do valor
aquisitivo da moeda. Os juros que podem ser cobrados
são moratórios e não compensatórios, uma vez que a
Lei de Cheque veda a cobrança de juros compensatórios
(art. 10, LC).

5.3.8 DA PRESCRIÇÃO E COBRANÇA


Dispõe o art. 59, LC, que o cheque prescreve em 6 me-
ses, contados do término da apresentação, para ajuiza-
mento da ação de execução. O mesmo prazo será apli-
cado para ação de regresso de um obrigado contra
outro, contado o prazo da data de pagamento do che-
que ou da data em que for demandado.

73
 Prazos e ações cabíveis na Lei de Cheque: 5.4.1 HIPÓTESE DE EMISSÃO DAS DUPLI-
CATAS
PRAZOS PRESCRICIONAIS
A duplicata é um título de crédito quanto à hipótese de
AÇÃO PROTESTO PRAZO emissão causal, uma vez que só pode ser emitida nas
hipóteses previstas em lei:
Ação de execu- 6 meses contados
ção em face do O PROTESTO É FACUL- do término do - Compra e venda mercantil (art. 1º, LD);
emitente e seus TATIVO. prazo de apresen-
avalistas: tação. - Prestação de serviço (art. 20, LD).
O PROTESTO É ATO Dispõe o art. 1º, Lei 5.474/68, que regula as duplicatas,
OBRIGATÓRIO. que:
Pode ser substituído Art. 1º Em todo o contrato de compra e venda
pelas declarações do mercantil entre partes domiciliadas no território
Ação de regresso art. 47, II, LC. Art. 47, 6 meses contados brasileiro, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias,
em face dos §1º, LC do término do contado da data da entrega ou despacho das mer-
endossantes e O protesto deverá ser prazo de apresen- cadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura
seus avalistas realizado durante o tação. para apresentação ao comprador.
prazo de apresentação
(30 dias se for de mes-
ma praça e 60 dias se Do mesmo modo, o art. 20, Lei 5.474/68, dispõe que as
for de praça diversa) empresas poderão emitir fatura e duplicata para docu-
6 meses (conta- mentar prestação de serviço.
dos do pagamen-
NÃO É NECESSÁRIO O A fatura, portanto, é documento de emissão obrigató-
Ação de regresso to ou da data em
PROTESTO ria nas relações de compra e venda ou prestação de
que for demanda-
do) serviço com pagamento (a prazo) superior a 30 dias.

O prazo para A fatura relacionada à compra e venda mercantil traz a


ajuizamento da discriminação das mercadorias que foram vendidas
ação de enrique- (quantidade, especificação da mercadoria, preço, etc.).
Ação de enrique- NÃO É NECESSÁRIO O cimento ilícito é A lei convenciona ao vendedor indicar somente os nú-
cimento ilícito PROTESTO de 2 anos, conta- meros e valores das notas parciais expedidas por ocasi-
dos do dia em que ão das vendas, despacho ou entrega da mercadoria. E,
for consumada a
na prestação de serviço, a fatura irá discriminar os servi-
prescrição.
ços que foram prestados.
É de 5 anos, a
contar do dia No ato da emissão da fatura, poderá o vendedor extrair,
NÃO É NECESSÁRIO O seguinte à data de além da fatura, uma duplicata para circulação com
Ação monitória emissão estampa- efeito comercial. A duplicata deverá conter todas as
PROTESTO
da na cártula. informações que tiverem sido fornecidas na fatura,
sendo, portanto, a duplicata documento de emissão
facultativa. O legislador veda que o vendedor emita
O prazo para
outro título para documentar o saque do vendedor pela
ajuizamento é de
5 anos (art. 206,
importância faturada ao comprador (Informativo nº 18
NÃO É NECESSÁRIO O §5º, I, LC), sendo do STJ).
Ação causal
PROTESTO o seu termo inicial
a data de venci-
mento da obriga- 5.4.2 REQUISITOS DA DUPLICATA
ção.
A duplicata conterá os seguintes requisitos:
- A denominação “duplicata”, a data de sua emissão e
o número de ordem;
5.4 DUPLICATA
- O número da fatura;
A duplicata é regulada pela Lei 5.474/68. Trata-se de um
título nacional e somente pode ser emitido por empre- - A data certa do vencimento ou da declaração de ser
sários, EIRELI ou sociedades empresárias. a duplicata à vista;
- O nome e domicílio do vendedor e do comprador;

74
- A importância à pagar, em algarismos e por extenso; Isto ocorrerá porque o vendedor está obrigado a emitir
a fatura sempre que a compra e venda for a prazo, cujo
- A praça de pagamento;
pagamento será realizado 30 dias após a entrega da
- A cláusula não à ordem; mercadoria ou despacho das mercadorias. Ou seja,
enquanto a fatura é de emissão obrigatória, a duplica-
- A declaração do reconhecimento de sua exatidão e ta é de emissão facultativa e não poderá corresponder
da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo compra- a mais de uma fatura.
dor, como aceite cambial;
A remessa da duplicata ao comprador pode ser realiza-
- A assinatura do emitente. da pelo próprio vendedor, seus representantes, procu-
Não existem, na lei de duplicatas, requisitos supríveis: radores ou, ainda, por instituição financeira, que deve-
todos os requisitos são essenciais. Faltando qualquer rão apresentá-la ao comprador na praça ou no lugar do
dos requisitos determinados pela lei, o título fica vicia- seu estabelecimento.
do, não sendo considerado título executivo. A duplicata deverá ser remetida pelo vendedor ao
comprador em até 30 dias contadas da data de sua
emissão.
5.4.3 FIGURAS, REMESSA E DEVOLUÇÃO
DA DUPLICATA Se a emissão da duplicata for por intermédio de procu-
radores, representantes ou instituição financeira, o
A duplicata é um título que representa uma ordem de prazo ficará reduzido a 10 dias, contados da data de seu
pagamento. No momento do saque, há três figuras recebimento na praça de pagamento. Nessas hipóteses,
iniciais (pode-se ter ainda a figura de um avalista ou os intermediários poderão devolvê-la depois de assina-
endossante): da ou conservá-la em seu poder até o seu vencimento, a
 Sacador - vendedor: É aquele que dá ordem de pa- critério do vendedor.
gamento ao sacado;Obrigado Indireto pelo pagamen- Na hipótese de a duplicata ser emitida com a modalida-
to. de de vencimento à vista, não há devolução por parte
do comprador, uma vez que o título vence no momento
 Sacado - comprador: Recebe a ordem de pagamento
da apresentação ao sacado.
do sacador. Obrigado Direito pelo pagamento.
Porém, se a modalidade de vencimento for data certa, o
 Tomador - credor: é o próprio sacador da duplicata e
comprador deverá devolver a duplicata devidamente
também credor.
assinada, no prazo de 10 dias, contados da apresenta-
ção. Se, todavia, o sacado não aceitar a duplicata, a
• Sacador Vendedor ou prestador de serviço recusa de aceite deverá ocorrer por escrito e ser fun-
• Sacado Comprados/quem contratou o serviço damentada contendo as razões da falta de aceite.

• Credor Beneficiário - próprio sacador ou prestador


5.4.4 DECLARAÇÕES CAMBIAIS
A duplicata é o único título em que as figuras do saca-  SAQUE
dor e do credor se confundem, num primeiro momen- O saque é uma declaração unilateral, eventual e suces-
to, por tratarem-se da “mesma figura”. Podemos utilizar siva. Na duplicata, o saque será realizado pelo devedor.
o seguinte exemplo:
A Sociedade Globex S.A (PONTO FRIO), comprador,  ACEITE
entra em contato com a sociedade LG Eletronics (LG) e
efetua a encomenda de 100 aparelhos de celular no
valor de R$100.000,00, saindo o preço unitário de cada
um a R$1.000,00, sendo ajustado entre as partes que o ESPÉCIES DE ACEITE
pagamento será realizado em 90 dias contados da data
da entrega da mercadoria através de uma duplicata.
ACEITE POR
Como estamos diante de uma compra e venda mercan- ACEITE ORDINÁRIO ACEITE TÁCITO
til, o único documento que pode ser emitido pelo ven- COMUNICAÇÃO
dedor para documentar essa compra e venda a prazo
será a duplicata. No exemplo acima, como a compra e
venda foi realizada a prazo e o pagamento será realiza-
do em 90 dias, o vendedor terá que extrair não só a
fatura como também a duplicata.

75
O aceite é uma declaração unilateral eventual e suces- Ocorrendo a perda ou extravio, deverá o vendedor
siva e deve ser prestado no próprio título. No tocante extrair uma segunda via da duplicata, chamada triplica-
ao aceite na duplicata, ele poderá ocorrer em três mo- ta. A triplicata terá os mesmos efeitos, formalidades e
dalidades: requisitos da duplicata.
- Aceite comum ou ordinário: ocorrerá quando o saca-
do opuser a sua assinatura no título, tornando-se deve-  RECUSA DE ACEITE
dor direto/principal pelo pagamento do título. A recusa de aceite poderá ocorrer nas hipóteses em que
eu tenha compra e venda mercantil ou prestação de
- Aceite por comunicação (art. 7º, § 1º, LD): é a possibi- serviço, nos termos dos arts. 8º e 21, LD.
lidade de o devedor direto/principal reter o título (du-
Em se tratando de uma compra e venda mercantil,
plicata), mas, remeter uma comunicação escrita de
aplicamos o art. 8º, LD. O aceite na duplicata poderá ser
que o aceita.
recusado pelo comprador sempre que houver:
Havendo expressa concordância da instituição financei- Art. 8º (...)
ra cobradora, o sacado poderá reter a duplicata em seu
poder até a data do vencimento, desde que comunique I - avaria ou não recebimento das mercadorias,
ao apresentante, por escrito, o aceite e a retenção. quando não expedidas ou não entregues por sua
conta e risco;
Quando o sacado remete uma comunicação por escrito
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na
dizendo que aceita, mas retém o título, ele impede a quantidade das mercadorias, devidamente com-
circulação do título. O aceite por comunicação é uma provados;
exceção ao princípio da cartularidade. Essa modalidade
de aceite só existe na duplicata. III - divergência nos prazos ou nos preços ajusta-
dos.

- Aceite tácito: tendo em vista que as duplicatas só


podem ser emitidas quando houver compra e venda Quando a duplicata for emitida para prestação de servi-
mercantil e prestação de serviço, o aceite é obrigatório, ço, aplicamos o disposto no art. 21, LD. O sacado tam-
só sendo possível recusa nos termos dos arts. 7º, 8º e bém poderá recusar o aceite quando houver:
21, LD. O aceite tácito, na duplicata, representa uma
Art. 21. (...)
exceção ao princípio da literalidade, uma vez que, mes-
mo sem a assinatura do sacado, o título poderá ser I - não correspondência com os serviços efetiva-
levado a protesto e embasar uma ação de execução. mente contratados;

Essa modalidade de aceite está prevista no art. 15, II, II - vícios ou defeitos na qualidade dos serviços
LD. A duplicata, mesmo sem o aceite, poderá ser execu- prestados, devidamente comprovados;
tada, desde que cumpridos cumulativamente os seguin- III - divergência nos prazos ou nos preços ajusta-
tes requisitos: dos.

- Haja sido protestada;


- Esteja acompanhada de documento hábil comproba- A recusa de aceite deverá ocorrer no próprio título,
tório da entrega e recebimento da mercadoria; e elencando os motivos pelo qual o sacado não poderá se
- O sacado não tenha, comprovadamente, recusado o recusar ao aceite. Em qualquer das hipóteses dos arts.
aceite no prazo, nas condições e pelos motivos previs- 8º ou 21, LD, o sacador ou portador não poderá protes-
tos nos arts. 7º e 8º, LD. tar o título.
O vendedor deverá levar o título a protesto com o com-
provante de entrega da mercadoria e desde que não  ENDOSSO E AVAL
haja uma recusa expressa. O aceite presumido decorre
da ausência de motivo que justifique a recusa de aceite A duplicata deverá ser emitida com cláusula à ordem, o
quando não houver qualquer vício no cumprimento da que significa que somente poderá circular através do
obrigação contratual que tiver dado causa à emissão do endosso. Aplicamos na duplicata o que foi abordado no
título. capítulo de letra de câmbio quando do estudo do insti-
tuto do endosso.
Na duplicata, diferentemente do que ocorre na letra de
câmbio, o aceite é ato obrigatório, ou seja, emitido o O mesmo ocorrerá no tocante ao aval, dispondo o art.
título com base na fatura ou nota fiscal que documenta 12, LD, que o pagamento de uma duplicata pode ser
a venda, o devedor é obrigado a aceitá-lo. garantido por um avalista, sendo a sua obrigação equi-
parada àquele cujo nome indicar. Se o avalista não

76
indicar o seu avalizado, entende-se como avalizado Local onde será
comprador/sacado. Hipóteses Prazo retirado o
protesto
Nesse sentido, o STJ, no Informativo 640, firmou a tese
no sentido de que a duplicata mercantil, apesar de cau- 1. Falta de aceite 30 dias, con-
sal no momento da emissão, com o aceite e a circulação tados da data Praça do paga-
2. Falta de devolução
adquire abstração e autonomia, desvinculando-se do de seu ven- mento
3. Falta de pagamento cimento.
negócio jurídico subjacente, impedindo a oposição de
exceções pessoais a terceiros endossatários de boa-fé,
como a ausência ou a interrupção da prestação de servi-
Dispõe o art. 13, §2º, LD, que, na hipótese de o portador
ços ou a entrega das mercadorias.
não tirar o protesto da duplicata em forma regular e
O aval posterior ao vencimento do título produzirá os dentro do prazo da 30 dias, contado da data de seu
mesmos efeitos. vencimento, perderá o direito de regresso contra os
endossantes e respectivos avalistas.
Aplicamos às duplicatas o disposto no capítulo de letra
de câmbio, que trata dos referidos assuntos, por força O protesto é retirado mediante a apresentação da du-
de previsão expressa na Lei de Duplicata (art. 25, LD). plicata ou da triplicada ou, ainda, protesto por indica-
Aplicam-se à duplicata as disposições relativas ao aval e ção (Informativo 457, STJ) do portador, na falta de devo-
endosso na omissão da LD. lução do título.
Também será utilizado o protesto por indicação nas
5.4.5 PROTESTO hipóteses de duplicata virtual. A duplicata virtual repre-
senta um título executivo extrajudicial e poderá ser
protestada por indicação.

PROTESTO A exibição do título não é imprescindível para ajuiza-


mento da execução. A Lei 9.492/97, que regulamenta o
protesto do título, admite a possibilidade do protesto
por indicação (Informativo 457, STJ) e dispõe que pode-
FALTA DE
FALTA DE rão ser recepcionadas as indicações a protestos das
FALTA DE ACEITE DEVOLUÇÃO -
PAGAMENTO Duplicatas Mercantis e de Prestação de Serviços, por
INDICAÇÃO
meio magnético ou de gravação eletrônica de dados,
sendo de inteira responsabilidade do apresentante os
dados fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a
O protesto do título poderá ser ato obrigatório ou fa- mera instrumentalização das mesmas (art. 8º , parágra-
cultativo, a depender de quem se quer executar. fo único, Lei 9.492/97; art. 889, §3º, CC; e MP 2.200/01 -
O protesto do título sempre será ato obrigatório para ICP - Brasil).
cobrança do devedor indireto (sacador, endossante e
avalistas do sacador e dos endossantes).
5.4.6 PRESCRIÇÃO E COBRANÇA
Já para cobrança do devedor principal, o protesto será
O art. 18, LD, elenca os prazos para ajuizamento das
ato facultativo. O art. 15, I, LD, estipula que a duplicata
ações de cobrança, que serão distintos a depender de
ou triplicata que contiver o aceite do sacado poderá ser
tratar-se de devedor principal ou indireto.
protestada ou não.
O protesto do título poderá ocorrer por falta de aceite,
de devolução ou pagamento. Se o portador do título
não realizar o protesto por falta de aceite ou devolução,
nada impede que seja realizado o protesto por falta de
pagamento.
O local onde deve ser retirado o protesto do título será
na praça de pagamento.

77
registradas no RCPJ (Registro Civil de Pessoa Jurídica),
DEVEDOR PROTESTO PRAZO AÇÃO
que passarão pelo instituto da insolvência civil.
Em regra, o
protesto é
Devedor prin-
facultativo 3 anos, con- 6.2 EXCLUÍDOS DA LEI 11.101/05
ATENÇÃO: se tados da data Ação de
cipal/sacado e O art. 2º dispõe que não se aplica a Lei 11.101/05 para:
o aceite for do vencimen- Execução
seus avalistas.
presumido o to. Art. 2º (...)
protesto
será. I - empresa pública e sociedade de economia mis-
ta;
A cobrança dos Compreende
II - instituição financeira pública ou privada, coope-
codevedores: o prazo de 1
Protesto é Ação de rativa de crédito, consórcio, entidade de previdên-
ano, a contar
Endossantes e obrigatório. Execução cia complementar, sociedade operadora de plano
da data do
seus avalistas de assistência à saúde, sociedade seguradora, so-
protesto.
ciedade de capitalização e outras entidades legal-
De qualquer mente equiparadas às anteriores.
dos coobriga-
O prazo é de
dos, contra os
1 ano, a Ação de
demais (code- Nos casos disciplinados no art. 2º, II, deverá ser obser-
contar do Regresso
vedor paga o vado o procedimento previsto na lei especial. E nos
pagamento.
devedor ante- termos do art. 197, LRF, enquanto não forem aprovadas
rior).
as respectivas leis específicas, aplica-se a Lei 11.101/05
de forma subsidiaria, no que couber, aos regimes previs-
tos no Decreto-Lei 73/66, na Lei 6.024/74, no Decreto-
No tocante ao procedimento adotado para cobrança da
Lei 2.321/87, e na Lei 9.514/97.
duplicata ou da triplicata, será adotado o procedimento
ordinário, desde que presentes os requisitos do art. 16,
LD.
6.3 JUÍZO COMPETENTE
O juízo competente para homologar o plano de recupe-
6. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO ração extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou
decretar a falência é o juízo do principal estabelecimen-
O processo de recuperação e falência de uma empresa to do devedor ou da filial da empresa que tenha sede
encontra-se disciplinado na Lei 11.101/05, que substitu- fora do Brasil.
iu o Decreto-Lei 7.661/45.
O local do principal estabelecimento é o local de onde
A recuperação pode ser extrajudicial (arts. 161 a 167, partem as principais decisões, onde se concentra a ad-
LFR) ou judicial, podendo esta ser: ministração da empresa, o local mais importante onde é
- Recuperação judicial ordinária (arts. 47 a 69, LRF) ou exercida a atividade.

- Recuperação judicial especial (art. 70 a art. 72, LRF).


Enquanto a recuperação é um instituto que tem por CAIU NA PROVA!
objetivo viabilizar a superação da crise econômica do
devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte pro- XXIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO
dutora, o emprego dos trabalhadores e dos interesses Você participou da elaboração, apresentação e nego-
dos credores, a falência tem por objetivo a satisfação ciação do plano de recuperação extrajudicial de deve-
dos credores, através da liquidação da empresa. dor sociedade empresária. Tendo sido o plano assina-
Em razão do princípio da par condicio creditorum, é do por todos os credores por ele atingidos, seu cliente
assegurada a todos os credores a paridade no tratamen- o contratou para requerer a homologação judicial. As-
to e a igualdade na execução concursal. sinale a opção que indica o juízo em que deverá ser
apresentado o pedido de homologação do plano de
recuperação extrajudicial.
6.1 APLICAÇÃO DA LEI A) O juízo da sede do devedor.
A Lei 11.101/05 somente será aplicada aos empresários, B) O juízo do principal estabelecimento do devedor.
EIRELI (natureza empresária) e sociedades empresárias,
C) O juízo da sede ou de qualquer filial do devedor.
não sendo aplicadas às sociedades de natureza simples,

78
D) O juízo do principal estabelecimento ou da sede do desempenhar seu cargo e assumir suas responsabilida-
devedor. des. Se o administrador judicial não comparecer, o juiz
RESPOSTA: B nomeará outro.
Se a escolha do administrador recair sobre a pessoa
Os processos que envolvam a recuperação ou falência jurídica, nesse caso, no momento da assinatura do ter-
de uma empresa serão sempre processados na justiça mo de compromisso, será declarado o nome do respon-
estadual e será chamado de “juízo universal”. sável pela condução do processo (art. 21, parágrafo
único, LRF).
A competência é absoluta: uma vez fixado o juízo com-
petente, todas as ações creditícias da empresa serão
8
atraídas por esse juízo, que se torna prevento . O juiz 6.5.1.1 ATRIBUIÇÕES DO ADMINSITRADOR
pode se declarar incompetente de ofício, independen- JUDICIAL
temente de provocação da parte pela via de exceção.
Pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição ou As atribuições do administrador judicial estão contem-
tempo, desde que antes do trânsito em julgado. O juízo, pladas no art. 22, LRF.
uma vez fixado, torna-se prevento.
6.5.1.2 REMUNERAÇÃO DO ADMINISTRADOR
JUDICIAL
6.4 OBRIGAÇÕES QUE NÃO SÃO EXÍGI-
Caberá ao juiz fixar o valor e a forma de remuneração
VEIS DO DEVEDOR do administrador judicial, observado o teto previsto no
Nos termos do art. 5º, LRF, não são exigíveis do devedor art. 24, §§ 1º e 5º, LRF. O critério de fixação da remune-
as obrigações a título gratuito, pois não existe perda, ração do administrador judicial deverá levar em consi-
bem como as despesas que os credores fizerem para deração a capacidade de pagamento do devedor, soma-
tomar parte na recuperação judicial ou na falência, da ao valor praticado no mercado e à complexidade dos
salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o trabalhos que serão desempenhados.
devedor. Se cada credor custear as suas despesas com o Nas hipóteses em que o devedor não esteja enquadra-
processo, as chances de pagar um maior número de do como ME ou EPP, a remuneração não poderá ultra-
credores aumentam. passar o teto de até 5% do valor devido aos credores na
recuperação ou da venda dos bens na falência. Porém,
nas hipóteses em que estivermos diante de um devedor
6.5 ÓRGÃOS AUXILIARES DO JUÍZO enquadrado como ME ou EPP a remuneração não pode-
Os órgãos auxiliares do juízo encontram-se previstos nos rá ultrapassar o teto de 2%.
arts. 21 a 46, LRF. São três órgãos: Administrador Judi- Existem hipóteses em que o administrador judicial po-
cial, Comitê de Credores e Assembleia Geral de Credo- derá, após autorização judicial, contratar auxiliares.
res. Nesse caso, a remuneração também será fixada pelo juiz
levando em consideração a complexidade dos trabalhos
que serão desempenhados e os valores praticados no
6.5.1 ADMINISTRADOR JUDICIAL mercado.
O administrador judicial é um órgão auxiliar do juiz o- Quem irá custear a remuneração do administrador
brigatório, que estará presente no procedimento de judicial, bem como de seus auxiliares será o devedor, na
Recuperação e na Falência. hipótese de recuperação judicial, e a massa falida nas
Ao juiz compete escolher um profissional idôneo, prefe- hipóteses de falência.
rencialmente um advogado, contador, economista, Importante ressaltar que os administradores judiciais,
administrador ou pessoa jurídica especializada. assim como seus auxiliares,são considerados credores
Após a nomeação do administrador judicial, este será extraconcursais e ocupam a 1ª posição na ordem de
intimado pessoalmente para, em 48h, assinar na sede pagamento prevista no art. 84, LRF.
do juízo o termo de compromisso de bem e fielmente
6.5.1.3 IMPEDIMENTOS PARA O CARGO DE
8
Informativo. 598, STJ. No tocante à Recuperação Judicial, uma
ADMINSITRADOR JUDICIAL
vez deferido o pedido de recuperação judicial, fica obstada a Estão impedidos de fazer parte do comitê de credores
prática de atos expropriatórios por juízo distinto daquele onde
tem curso o processo recuperacional, independentemente da
ou ocupar o cargo de administrador judicial quem, nos
natureza da relação jurídica havida entre as partes. Resp. últimos 5 anos, no exercício do cargo de administrador
1.630.702-RJ. deixou de prestar contas, foi destituído, teve as contas

79
desaprovadas ou tiver relação de parentesco até o 3º II - 1 (um) representante indicado pela classe de
grau com o devedor, seus administradores, controlado- credores com direitos reais de garantia ou privilé-
res ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo gios especiais, com 2 (dois) suplentes;
ou dependente (art. 30, LRF). III - 1 (um) representante indicado pela classe de
credores quirografários e com privilégios gerais,
com 2 (dois) suplentes;
6.5.1.4 DESTITUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DE
IV - 1 (um) representante indicado pela classe de
ADMINISTRADOR JUDICIAL credores representantes de microempresas e em-
Tanto o administrador judicial como os membros do presas de pequeno porte, com 2 (dois) suplentes.
comitê poderão ser destituídos de seu cargo, nas hipó-
teses de desobediência aos preceitos da lei, descum-
primento dos deveres, omissão, negligência ou prática A ausência de indicação de credores por qualquer das
de ato lesivo às atividades do devedor e a terceiros. classes, não prejudica a composição do Comitê, que
Será ainda destituído o administrador judicial que, após poderá funcionar com número inferior ao previsto no
ser intimado pessoalmente pelo juiz no prazo de 5 dias, art. 26, LRF.
não apresentar suas contas e relatórios (art. 23, pará- Não havendo comitê de credores, suas atribuições serão
grafo único, LRF). A destituição é uma punição, acarre- desempenhadas pelo administrador judicial e, na in-
tando a perda do direito da remuneração para o admi- compatibilidade (art. 27, I, “a”, LRF), pelo juiz.
nistrador judicial.
Já a substituição ocorre nas hipóteses em que o admi-
nistrador judicial tem relevante razão de direito, por
6.5.3 ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES
exemplo, está doente e impedido de prosseguir nas suas A Assembleia Geral de Credores é um órgão de delibe-
atribuições. A substituição acarreta o pagamento da ração. Os credores são reunidos em quatro classes para
remuneração proporcional, salvo nas hipóteses em que deliberar sobre as atribuições previstas no art. 35, LRF.
renunciar sem relevante razão de direito ou for destitu-
ído de suas funções por desídia, culpa, dolo, descum-
primento das obrigações fixadas na lei, hipóteses em 6.5.3.1 ATRIBUIÇÕES DA ASSEMBLEIA GERAL
que perderá o direito à remuneração. DE CREDORES
As atribuições do Comitê encontram-se contempladas
no art. 35, LRF.
6.5.2 COMITÊ DE CREDORES
O comitê de credores é um órgão facultativo, constituí-  NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL:
do por deliberação de qualquer das classes de credores
na Assembleia Geral. Os membros do Comitê de Credo- Art. 35. I - (...)
res não terão direito à remuneração, mas poderão ser a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de
reembolsados das despesas realizadas para realização recuperação judicial apresentado pelo devedor;
de atos que estejam previstos na LRF.
b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha
de seus membros e sua substituição;
6.5.2.1 ATRIBUIÇÕES DO COMITÊ c) (VETADO)

As atribuições do Comitê encontram-se previstas no art. d) o pedido de desistência do devedor, nos termos
27, LRF. do § 4º do art. 52 desta Lei;
e) o nome do gestor judicial, quando do afasta-
mento do devedor;
6.5.2.2 COMPOSIÇÃO DO COMITÊ DE CREDO-
f) qualquer outra matéria que possa afetar os inte-
RES resses dos credores;
O Comitê de Credores é composto pelos credores do
devedor. Sua composição foi alterada pela Lei Comple-
mentar 147/14, que inseriu o inciso IV ao art. 26, LRF.  NA FALÊNCIA:
Cada classe é composta por um representante com dois Art. 35. II - (...)
suplentes.
a) (VETADO)
Art. 26. (...)
b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha
I - 1 (um) representante indicado pela classe de de seus membros e sua substituição;
credores trabalhistas, com 2 (dois) suplentes;

80
c) a adoção de outras modalidades de realização III - titulares de créditos quirografários, com privi-
do ativo, na forma do art. 145 desta Lei; légio especial, com privilégio geral ou subordina-
dos;
d) qualquer outra matéria que possa afetar os inte-
resses dos credores. IV - titulares de créditos enquadrados como micro-
empresa ou empresa de pequeno porte.

Importante frisar que esse rol previsto no art. 35 da LRF


é exemplificativo, uma vez que a assembleia poderá ser A aprovação pela Assembleia ocorrerá quando a pro-
convocada pelo juiz para deliberar sobre quaisquer posta obtiver votos favoráveis de credores que repre-
outras matérias que sejam de interesse dos credores. sentem mais da metade do valor total dos créditos pre-
sentes à assembleia geral, exceto nas deliberações so-
A convocação da assembleia geral será realizada pelo
bre o plano de recuperação judicial, nos termos da alí-
juiz através de edital publicado em órgão oficial e em
nea a do inciso I do caput do art. 35, LRF, na composição
jornais de grande circulação nas localidades da sede e
do Comitê de Credores ou forma alternativa de realiza-
de suas filiais, quando houver. A convocação também ção do ativo, nos termos do art. 145, LRF.
poderá ser realizada pelos credores que representem ao
menos 25% dos créditos de uma determinada classe Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial,
(art. 36, §2º, LRF). todas as classes de credores deverão aprovar a propos-
ta. A aprovação correrá nos seguintes termos:
A convocação deverá ser realizada com antecedência
mínima de 15 (quinze) dias e conterá: - Nas classes referidas nos incisos II e III do art. 41, L-
RF, a proposta deverá ser aprovada por credores que
Art. 36. (...)
representem:
I - local, data e hora da assembléia em 1ª (primei-
ra) e em 2ª (segunda) convocação, não podendo a) mais da metade do valor total dos créditos pre-
esta ser realizada menos de 5 (cinco) dias depois sentes à assembleia e, cumulativamente
da 1ª (primeira);
b) pela maioria simples dos credores presentes;
II - a ordem do dia;
- Na classe prevista no inciso I e IV do art. 41, LRF, a
III - local onde os credores poderão, se for o caso, proposta deverá ser aprovada apenas pela maioria
obter cópia do plano de recuperação judicial a ser simples dos credores presentes, independentemente
submetido à deliberação da assembléia.
do valor de seu crédito.

O credor pode ser representado na assembleia por


mandatário ou representante legal desde que cumpri- 6.6 PROCEDIMENTO DE VERIFICAÇÃO E
das as exigências do art. 37, §4º, LRF. HABILITAÇÃO DE CRÉDITOS
O voto do credor na assembleia é proporcional ao valor A Lei 11.101/05 estabelece no seu Capítulo II, Seção II,
de seu crédito. Não terão direito a voto e não serão disposições comuns do procedimento de verificação e
considerados para fins de verificação do quórum de habilitação dos créditos que serão aplicáveis para recu-
instalação e de deliberação os titulares de créditos exce- peração judicial e falência.
tuados na forma dos §§ 3º e 4º do art. 49, LRF.
Na recuperação judicial, o procedimento de verificação
e habilitação de crédito se inicia com a publicação da
6.5.3.2 COMPOSIÇÃODA ASSEMBLEIA GERAL decisão de deferimento do processamento da recupe-
DE CREDORES ração, prevista no art. 52, §1º, LRF. Já na falência, ocor-
re com a publicação do edital que contém a íntegra da
A composição da Assembleia Geral de Credores está decisão que a decreta, prevista no art. 99, §único, LRF.
prevista no art. 41, LRF. Os credores são separados por
classes. A composição sofreu alteração pela Lei Com- Tanto na falência como na recuperação, nos termos do
plementar 147/14, incluindo uma quarta classe exclusi- art. 7º, §1º, LRF, os credores terão o prazo de 15 dias
va para os titulares de credores enquadrados como para apresentarem suas habilitações ou divergências,
Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP). junto ao administrador.
Após o prazo no art. 7º, §1º, LRF, o Administrador Judi-
Art. 41. (...) cial deverá publicar edital contendo a relação de credo-
I - titulares de créditos derivados da legislação do res no prazo de 45 dias. No tocante à publicação desse
trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; edital, o STJ já se manifestou no Informativo 633, dizen-
do que é imprescindível a publicação na Imprensa Ofi-
II - titulares de créditos com garantia real;
cial do edital (REsp 1.758.777-PR).

81
Na recuperação judicial ou na falência os prazos que
serão aplicados serão idênticos, conforme gráfico a
seguir:
O procedimento de verificação e habilitação de crédito,
Art. 7º, § 1º, LRF quando realizado dentro do prazo, segue o quadro ex-
Publicação do edital posto acima. Não é necessária a contratação de um
advogado para realizar a habilitação, basta procurar o
administrador judicial.
As impugnações serão autuadas em separado, nos ter-
mos do art. 8º, parágrafo único, LRF, e dirigidas ao juiz
Art. 52, § 1º, LRF Art. 99, parágrafo por meio de petição, devendo ser instruídas com os
Prazo de 15 dias para único, LRF
documentos necessários para comprovação do seu
os credores apresen- Prazo de 15 dias para
tarem habilitação ou os credores apresenta-
direito.
divergência - junto ao rem habilitação ou Nas hipóteses em o credor perde o prazo para habilita-
administrador judicial divergência - junto ao ção de crédito, será possível a realização de sua habili-
administrador judicial
tação de forma retardatária, na forma do art. 10, caput
e §5º, LRF.
Art. 7º, § 2º, LRF Para realização de habilitação retardatária é necessário
Prazo de 45 dias para o que o Quadro Geral de Credores (QGC) não esteja ho-
Administrador Judicial pu- mologado. As habilitações, quando apresentadas, serão
blicar edital com a relação recebidas como impugnações e processadas na forma
de credores
dos arts. 13 a 15, LRF.
As habilitações retardatárias são dirigidas ao juiz assim
Art. 8º, LRF como as impugnações, diferentemente do que ocorre
Prazo de 10 dias para os com as habilitações tempestivas do art. 7º, §1º, LRF, que
credores, comitê, devedor, são dirigidas ao Administrador Judicial.
sócios ou MP apresentarem
impugnações Na hipótese do Quadro Geral de Credores já ter sido
homologado pelo Juiz, aqueles que não habilitaram seus
créditos poderão, observado o procedimento ordinário
previsto no art. 10º, § 6º, LRF, propor ação de retifica-
ção do quadro geral de credores (Inf. 567, STJ -
Art. 14, LRF Art. 8, parágrafo único, LRF REsp1.371.427-RJ) para inclusão do respectivo crédito.
Sem impugnação, o Com impugnação
juiz homologa o Qua- Nas habilitações retardatárias, impugnações ou ação de
dro-Geral de Credores retificação será necessária a contratação de um advoga-
- QGC Art. 11, LRF do, por tratar-se de procedimento litigioso.
5 dias para o credor
Até que ocorra o encerramento da recuperação judicial
impugnado contestar
ou da falência o Administrador Judicial, Comitê, Credo-
res ou o representante do Ministério Público, poderá,
observado o procedimento ordinário, propor Ação Revi-
Art. 12, LRF sional do Quadro Geral de Credores, para pedir a exclu-
5 dias para o devedor e
são, outra classificação ou a retificação de qualquer
comitê apresentarem
manifestação
crédito, nas hipóteses de descoberta de falsidade, dolo,
simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos
ignorados na época do julgamento do crédito ou da
Art. 15, LRF
Autos conclusos ao juiz - Após inclusão do quadro geral de credores.
Art. 12, parágrafo único, LRF
o julgamento das impugna- 5 dias para Administrador
ções, haverá a homologação judicial emitir um parecer
do QGC (Arts. 15 e 18, LRF) 6.7 RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Nos termos da Lei 11.101/05, existem duas modalidades
de recuperação judicial:
Art. 17, LRF
Da decisão sobre a impugna- - Recuperação judicial ordinária (arts. 47 a 69, LRF) ou
ção - Recurso cabível: Agravo
- Recuperação judicial especial (art. 70 a art. 72, LRF).

82
O STJ firmou entendimento, no Informativo 598, no c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou
sentido de que o destino do patrimônio da sociedade realizar operações prejudiciais ao seu funciona-
em processo de recuperação judicial não pode ser atin- mento regular;
gido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele d) simular ou omitir créditos ao apresentar a rela-
onde tramita o processo de reerguimento, sob pena de ção de que trata o inciso III do caput do art. 51
violação ao princípio maior da preservação da atividade desta Lei, sem relevante razão de direito ou ampa-
empresarial. Nesse sentido, o juízo onde tramita o pro- ro de decisão judicial;
cesso de recuperação judicial é o competente para V - negar-se a prestar informações solicitadas pelo
decidir sobre o destino dos bens e valores objeto de administrador judicial ou pelos demais membros
execuções singulares movidas contra a recuperanda, do Comitê;
ainda que se trate de crédito decorrente de relação de VI - tiver seu afastamento previsto no plano de re-
consumo (REsp 1.630.702-RJ). cuperação judicial.
Como o pedido de recuperação judicial não implica, em
regra, o afastamento do devedor ou dos administrado-
res da condução da atividade empresarial e, ainda que Verificada qualquer das hipóteses acima indicadas, o
nos termos do art. 66, Lei 11.101/05 a única restrição juiz destituirá o administrador, que será substituído na
imposta ao devedor diga respeito à impossibilidade, sob forma prevista nos atos constitutivos do devedor ou do
determinadas condições, de alienar ou onerar bens ou plano de recuperação judicial.
direitos de seu ativo permanente,o STJ no Informativo Se houver o afastamento do devedor em qualquer das
641, firmou entendimento que as Empresas em proces- hipóteses contempladas no art. 64, LRF, o juiz convoca-
so de recuperação judicial podem celebrar contratos de rá a assembleia geral de credores para deliberar sobre
factoring sem prévia autorização judicial (REsp o nome do gestor judicial que assumirá a administra-
1.783.068-SP). ção das atividades do devedor.

6.7.1.1 OBJETIVO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL


6.7.1 RECUPERAÇÃO JUDICIAL ORDINÁRIA
A recuperação judicial surge com o objetivo de viabili-
Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos
zar a superação da crise econômico-financeira do de-
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.
vedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produ-
Dispõe o art. 64, LRF, que, durante o procedimento de tora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses
recuperação judicial, o devedor ou seus administradores dos credores, promovendo, assim, a preservação da
serão mantidos na condução da atividade empresarial, empresa, sua função social e o estímulo à atividade
sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administra- econômica.
dor judicial, salvo se qualquer deles:
Quando o devedor está enfrentando uma crise econô-
Art. 64. (...) mica e quer evitar a sua falência, ele pode utilizar o
I - houver sido condenado em sentença penal tran- instituto da recuperação judicial.
sitada em julgado por crime cometido em recupe-
ração judicial ou falência anteriores ou por crime
6.7.1.2 LEGITIMADOS
contra o patrimônio, a economia popular ou a or-
dem econômica previstos na legislação vigente; Possui legitimidade para requerer a recuperação judicial
II - houver indícios veementes de ter cometido o próprio devedor, o cônjuge sobrevivente, herdeiros
crime previsto nesta Lei; do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
III - houver agido com dolo, simulação ou fraude Cuidado! Os credores não têm legitimidade para reque-
contra os interesses de seus credores; rer a recuperação judicial do seu devedor.
IV - houver praticado qualquer das seguintes con- Aqueles que exercem atividade rural (arts. 971 e 984,
dutas: CC) e possuem registro na Junta Comercial poderão
a) efetuar gastos pessoais manifestamente exces- pedir recuperação e ter sua falência decretada.
sivos em relação a sua situação patrimonial;
b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza 6.7.1.3 REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA
ou vulto, em relação ao capital ou gênero do negó-
RECUPERAÇÃO
cio, ao movimento das operações e a outras cir-
cunstâncias análogas;  Requisitos substanciais (art. 48, LRF): poderá reque-
rer recuperação judicial o devedor que, no momento do
pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de

83
dois anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumu- 11.101/05, “bem de capital” é o bem corpóreo (móvel
lativamente: ou imóvel) utilizado no processo produtivo da empresa
recuperanda e que não seja perecível nem consumível
- Não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extin-
(Inf.634, STJ - REsp 1.758.746-GO).
tas, por sentença transitada em julgado, as responsa-
bilidades daí decorrentes; Essa exceção prevista na parte final do art. 49, §3º, LRF,
não se aplica às empresas que tenham objeto aéreo de
- Não ter, há menos de cinco anos, obtido a concessão
qualquer natureza ou de infraestrutura aeronáutica,
de recuperação judicial;
nos termos do art. 197, LRF. Sendo assim, em nenhuma
- Não ter, há menos de cinco anos, obtido a concessão hipótese ficará suspenso o exercício do direito derivado
de recuperação judicial, no caso das empresas de pe- de contratos de locação, arrendamento mercantil ou de
queno porte ou microempresas; qualquer outra modalidade de arrendamento de aero-
nave e suas partes. Os créditos decorrentes desses con-
- Não ter sido condenado ou não ter, como adminis- tratos não se submeterão aos efeitos da recuperação,
trador ou sócio controlador, pessoa condenada por prevalecendo os direitos de propriedade sobre a coisa e
qualquer dos crimes previstos nesta lei. as condições contratuais originalmente definidas em lei.

 Requisitos formais: A petição inicial deverá ser ins-


truída com os documentos elencados no art. 51, LRF. 6.7.1.5 CONSTITUEM MEIOS DE RECUPERA-
ÇÃO JUDICIAL
6.7.1.4 CRÉDITOS NÃO SUJEITOS À RECUPE- O art. 50, LRF, estabelece alguns meios de recuperação
RAÇÃO JUDICIAL que podem ser utilizados, como por exemplo:

Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos - Alteração do controle societário;


existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. - Trespasse ou arrendamento de estabelecimento;
É necessário ficar atento aos contratos que não estarão - Usufruto da empresa;
sujeitos ao efeito da recuperação, prevalecendo os
direitos de propriedade sobre a coisa e as condições - Emissão de valores mobiliários;
contratuais: - Administração compartilhada;
- Constituição de sociedade de credores;
Art. 49, Credor titular da posição de proprietário fiduciá-
§3º, LRF rio de bens móveis ou imóveis; - Cisão, incorporação, fusão ou transformação de so-
Art. 49, ciedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão
Credor de arrendador mercantil; de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios,
§3º, LRF
nos termos da legislação vigente; dentre outros.
Credor de proprietário ou promitente vendedor
Art. 49, de imóvel cujos respectivos contratos conte-
§3º, LRF nham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabi- 6.7.1.6 DECISÃO DE DEFERIMENTO DO PRO-
lidade, inclusive em incorporações imobiliárias; CESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO
Art. 49, Credor de proprietário em contrato de venda
Presentes os requisitos do art. 48 e atendidas as docu-
§3º, LRF com reserva de domínio;
mentações do art. 51, o juiz deferirá o processamento
Da importância entregue ao devedor, em moeda da recuperação judicial. Dessa decisão interlocutória, o
Art. 49, corrente nacional, decorrente de adiantamento STJ, no Informativo 635, entendeu ser possível a inter-
§4º, LRF a contrato de câmbio para exportação (inciso II posição de Agravo de Instrumento, mesmo sem previ-
do art. 86, LRF).
são expressa no art. 1.015, parágrafo único, CPC (REsp
1.722.866-MT).
Os créditos previstos no art. 49, §3º, LRF, não se subme- Não podemos confundir a decisão de deferimento do
terão aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão processamento da recuperação com a decisão de con-
os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições cede a recuperação. A primeira dá a início à chamada
contratuais. No entanto, se os bens forem de capital e fase deliberativa, enquanto a segunda, à fase executiva
essenciais às atividades do devedor, não se permite a de cumprimento do plano de recuperação.
retirada ou venda pelo credor no prazo de 180 dias (art.
Nos termos do art. 52, LFR, no mesmo ato de deferi-
6º, §4º, LRF).
mento, o juiz:
O STJ, no informativo 634, firmou entendimento de que,
Art. 52. (...)
para efeito de aplicação do final do § 3º do art. 49, Lei

84
I - nomeará o administrador judicial, observado o
disposto no art. 21 desta Lei; A decisão que defere
II - determinará a dispensa da apresentação de o processamento da
certidões negativas para que o devedor exerça su- recuperação judicial:
as atividades, exceto para contratação com o Po- Não suspende
der Público ou para recebimento de benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, observando o dis-
posto no art. 69 desta Lei;
Art. 6º, §1º, LRF Art. 6º, §7º, LRF
III - ordenará a suspensão de todas as ações ou e- Art. 6º, §2º, LRF
Ações que deman- Execuções de
xecuções contra o devedor, na forma do art. 6º Ações de natu-
dem quantia ilí- natureza fiscal
desta Lei, permanecendo os respectivos autos no reza trabalhista
quida
juízo onde se processam, ressalvadas as ações pre-
vistas nos §§ 1º, 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as re-
lativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º e
4º do art. 49 desta Lei;

Os contratos que não se


submetem aos efeitos da
A decisão que defere o processamento da recuperação
recuperação judicial:
suspende o curso da prescrição e de todas as ações e Art. 49, §§3º e 4º, LRF
execuções em face do devedor pelo prazo de 180 dias
(art. 6º § 4º, LRF).
A suspensão de que trata o art. 52, III, LRF, em hipótese 1. Credor titular da
9
alguma, excederá o prazo improrrogável de 180 dias , posição de proprietário
contados do deferimento do processamento da recupe- fiduciário de bens
ração judicial, restabelecendo-se após o decurso do móveis ou imóveis;
prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar Art. 49, §3º, LRF
suas ações e execuções independentemente de pronun-
ciamento judicial (art. 6º, § 4º, LRF).
Contudo, no tocante à suspensão de que trata o art. 52, 2. Arrendador
III, LRF, não serão suspensas as obrigações que deman- mercantil;
Art. 49, §3º, LRF
dem quantia ilíquida (art. 6º, §1º, LRF), as ações que
tramitam na justiça do trabalho (art. 6º, §2º, LRF) e as
execuções fiscais (art. 6º, §7º, LRF), assim como os con-
3. Proprietário ou promitente
tratos previstos no art. 49, §3º e §4º não se submetem vendedor de imóvel cujos respec-
aos efeitos da recuperação. tivos contratos contenham cláusu-
la de irrevogabilidade ou irretrata-
bilidade, inclusive em incorpora-
ções imobiliárias;
Art. 49, §3º, LRF

4. Proprietário em
contrato de venda com
reserva de domínio;
Art. 49, §3º, LRF

5. Importância entregue
ao devedor decorrente
de adiantamento de
câmbio para exportação
9
Mesmo a referida lei mencionando que em hipótese alguma o Art. 49, §4º, LRF
prazo de 180 dias poderá ser prorrogado, na prática, tem ocorrido
a prorrogação quando o retardamento do feito não for imputado
ao devedor, como ocorreu com a empresa OI. Nesse sentido,
temos a redação do enunciado 42 – I J.D.Comercial. O prazo de
suspensão previsto no art. 6º§4, LRF pode excepcionalmente ser
prorrogado, se o retardamento do feito não puder ser imputado
ao devedor.

85
III - laudo econômico-financeiro e de avaliação dos
bens e ativos do devedor, subscrito por profissio-
Art. 52. (...) nal legalmente habilitado ou empresa especializa-
IV - determinará ao devedor a apresentação de da.
contas demonstrativas mensais enquanto perdurar
a recuperação judicial, sob pena de destituição de
seus administradores; Assim que o plano for apresentado pelo devedor, será
publicado um edital contendo aviso aos credores, e o
V - ordenará a intimação do Ministério Público e a
comunicação por carta às Fazendas Públicas Fede- juiz fixará os prazos para apresentação das objeções
ral e de todos os Estados e Municípios em que o previstas no art. 55, LRF.
devedor tiver estabelecimento.
O devedor tem a liberdade de elaborar o plano de recu-
peração, podendo se utilizar de um dos meios previstos
no art. 50, LRF, sem, contudo, deixar de observar as
Uma vez concedido o deferimento do processamento
ressalvas apresentadas pelo legislador no tocante aos
da recuperação judicial o devedor não poderá desistir
créditos de natureza trabalhista, previstos no art. 54,
do plano de recuperação judicial, salvo se obtiver apro-
LRF.
vação da desistência na assembleia geral de credores
(art. 52, §4º, LRF). O plano de recuperação judicial não poderá prever
prazo superior a 1 ano para pagamento dos créditos
Após o deferimento do processamento da recuperação
derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de
judicial, o juiz ordenará a expedição de edital, para
acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de
publicação no órgão oficial, que conterá:
recuperação judicial.
Art. 52, § 1º (...)
Outra ressalvada apresentada pelo legislador ainda no
I - o resumo do pedido do devedor e da decisão tocante aos créditos trabalhistas encontra-se prevista
que defere o processamento da recuperação judi- no art. 54, parágrafo único:
cial;
Art. 54. (...)
II - a relação nominal de credores, em que se dis-
crimine o valor atualizado e a classificação de cada Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever
crédito; prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento,
até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por tra-
III - a advertência acerca dos prazos para habilita- balhador, dos créditos de natureza estritamente
ção dos créditos, na forma do art. 7º, § 1º, desta salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao
Lei, e para que os credores apresentem objeção ao pedido de recuperação judicial.
plano de recuperação judicial apresentado pelo
devedor nos termos do art. 55 desta Lei.

Aplica-se, após a publicação do edital, o procedimento


de verificação e habilitação de crédito que já foi estuda-
do.

6.7.1.7 APRESENTAÇÃO DO PLANO DE RECU-


PERAÇÃO JUDICIAL
Publicada a decisão de defere o processamento da re-
cuperação judicial, começa a correr o prazo improrro-
gável de 60 dias, para o devedor apresentar o Plano de
Recuperação em juízo, sob pena de convolação em
falência.
O plano do devedor deverá conter:
Art. 53. (...)
I - discriminação pormenorizada dos meios de re-
cuperação a ser empregados, conforme o art. 50
desta Lei, e seu resumo;
II - demonstração de sua viabilidade econômica; e

86
Segue abaixo o cronograma da apresentação do plano Existem três hipóteses em que o juiz irá conceder a
de recuperação judicial e seus desmembramentos: recuperação judicial:

Apresentação do plano Aprovação tácita - O juiz concederá a


Art. 53, LRF recuperação com base no plano que
SEM OBJEÇÃO
não sofrer objeções, na forma do art.
58, LRF
O juiz concederá a recuperação com
Com objeções de Sem objeções de credo- base no plano que sofreu objeção, mas
credores ao plano res ao plano - art. 58, LRF COM OBJEÇÃO foi aprovado na assembleia (nos ter-
mos art. 45, LRF), na forma do art. 58,
LRF
Juiz convoca a Juiz concede a recupe-
Assembleia Geral ração judicial O juiz concederá a recuperação com
de Credores Art. 58, LRF base no plano que houver
Art. 56, LRF COM OBJEÇÃO sido rejeitado pela assembleia, mas
preenche os requisitos do art. 58, §1º,
LRF
Plano aprovado
Plano rejeitado pela pela Assembleia
Assembleia Gera de Geral de Credo-
Credores A regra prevista no art. 56, §4º, LRF, determina que,
res, na forma do
art. 45, LRF
rejeitado o plano na assembleia, o juiz decretará a fa-
lência do devedor. Ocorre que, excepcionalmente, o
O juiz decreta a legislador regula em seu art. 58, §1º, LRF, a possibilida-
falência com base de de o juiz conceder a recuperação judicial (CRAM
no art. 56, §4º, LRF
DOWN) com base no plano que não tiver obtido apro-
Cram down - o juiz conce-
vação na forma do art. 45, LRF, desde que, na mesma
de a recuperação judicial
mesmo sem o plano ter assembleia, tenha obtido, cumulativamente:
sido aprovado, desde que Art. 58, § 1º (...)
presentes os requisitos do
art. 58, § 1º, LRF I - o voto favorável de credores que representem
mais da metade do valor de todos os créditos pre-
sentes à assembléia, independentemente de clas-
ses;
Uma vez apresentado o plano pelo devedor, no prazo
II - a aprovação de 2 (duas) das classes de credores
improrrogável de 60 dias, qualquer credor poderá opor
nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja so-
objeção. Se não houver objeção, o juiz concederá a mente 2 (duas) classes com credores votantes, a
recuperação judicial nos termos do art. 58, LRF. Já nas aprovação de pelo menos 1 (uma) delas;
hipóteses em que forem apresentadas objeções, o juiz
deverá convocar a assembleia geral de credores para III - na classe que o houver rejeitado, o voto favo-
rável de mais de 1/3 (um terço) dos credores,
deliberar sobre o plano. A assembleia deverá ocorrer no
computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45
prazo máximo de 150 dias contados do deferimento do desta Lei.
processamento da recuperação judicial.
O plano submetido à assembleia poderá ser aprovado,
rejeitado ou poderá sofrer alterações, neste último O plano de recuperação judicial implica novação dos
caso, desde que haja expressa concordância do devedor créditos anteriores ao pedido e obriga o devedor e to-
e em termos que não impliquem diminuição exclusiva- dos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garanti-
mente dos direitos dos credores ausentes. as, observado o art. 50, §1º, LRF.

6.7.1.8 FASE EXECUTIVA NA RECUPERAÇÃO


JUDICIAL
Uma vez concedida a recuperação judicial, iniciamos a
chamada fase executiva, ou seja, de cumprimento do
plano de recuperação. A decisão que concede a recupe-
ração judicial constitui título executivo judicial. Essa
decisão é passível de agravo, que pode ser interposto
por qualquer credor ou pelo Ministério Público.

87
FASE EXECUTIVA O plano de recuperação judicial deverá ser apresentado
O devedor permanecerá em recuperação no prazo de 60 dias, na forma do art. 53, LRF e limitar-
judicial até que se cumpram todas as obri- se-á às seguintes condições:
gações previstas no plano que se vencerem Art. 71. (...)
até 2 (dois) anos depois da concessão da
I - abrangerá todos os créditos existentes na data
recuperação judicial. do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os
decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fis-
cais e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49;
II - preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis)
Se o devedor cumprir Se o devedor descum- parcelas mensais, iguais e sucessivas, acrescidas
o plano nesse período prir o plano nesse de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de
de 2 anos período de 2 anos Liquidação e de Custódia - SELIC, podendo conter
ainda a proposta de abatimento do valor das dívi-
das;
O juiz encerra a O juiz convola em
recuperação judicial falência III - preverá o pagamento da 1ª (primeira) parcela
por sentença art. 61, §1º, LRF no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias,
art. 63, LRF contado da distribuição do pedido de recuperação
judicial;

Se o devedor descumprir a) execução específica IV - estabelecerá a necessidade de autorização do


o plano após a sentença juiz, após ouvido o administrador judicial e o Comi-
de encerramento, o tê de Credores, para o devedor aumentar despe-
credor poderá escolher - b) execução do devedor sas ou contratar empregados.
art. 62, LRF art. 94, III, g, LRF

O pedido de recuperação judicial com base em plano


especial não acarreta a suspensão do curso da prescri-
O devedor permanecerá em recuperação judicial até ção nem das ações e execuções por créditos não a-
brangidos pelo plano.
que se cumpram todas as obrigações previstas no plano
que se vencerem até 2 anos depois da concessão da Caso o devedor de que trata o art. 70, LRF, opte pelo
recuperação judicial. pedido de recuperação judicial com base no plano espe-
cial não será convocada assembleia geral de credores
Se o devedor não descumprir o plano nos 2 anos seguin-
para deliberar sobre o plano, e o juiz concederá a recu-
tes, o juiz decretará por sentença o enceramento a
recuperação judicial. peração judicial se atendidas as demais exigências pre-
vistas na Lei.
Se o plano de recuperação contemplar pagamento dos
O juiz também julgará improcedente o pedido de recu-
credores com prazo superior a 2 anos, nesse caso o
devedor permanecerá realizando o pagamento do plano peração judicial e decretará a falência do devedor se
de seus credores extrajudicialmente. Se houver o des- houver objeções, nos termos do art. 55, de credores
titulares de mais da metade de qualquer uma das clas-
cumprimento do plano de recuperação após a sentença
ses de créditos previstos no art. 83, computados na
de encerramento, caberá ao credor requerer a execu-
ção específica ou a falência nos termos do art. 94, III, forma do art. 45, LRF.
“g”, LRF.

6.8 CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO


6.7.2 RECUPERAÇÃO JUDICIAL ESPECIAL JUDICIAL EM FALÊNCIA
Os empresários, EIRELI (empresária) ou sociedades em- O art. 73, LRF, elenca as hipóteses em que haverá a
presárias que estejam enquadradas como Microempre- convolação da recuperação judicial em falência. Segue
sas (ME) ou Empresa de Pequeno Porte (EPP) e estejam abaixo o quadro:
atravessando uma crise econômico-financeira poderão
solicitar pedido de recuperação judicial ordinário ou
especial.
A petição inicial deverá obedecer aos requisitos dos
arts. 48 e 51, LRF.

88
IV - não ter sido condenado ou não ter, como ad-
ministrador ou sócio controlador, pessoa conde-
Por deliberação da assembléia
nada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
geral de credores, na forma
do art. 42, LRF;

O pedido de homologação do plano de recuperação


extrajudicial não acarretará suspensão de direitos,
Pela não apresentação, pelo ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido
devedor, do plano de
de decretação de falência pelos credores não sujeitos ao
recuperação no prazo do art.
O juiz decretará a falência 53, LRF
plano de recuperação extrajudicial.
durante o processo de O plano não poderá contemplar o pagamento anteci-
recuperação judicial nas pado de dívidas nem tratamento desfavorável aos
seguintes hipóteses: Quando houver sido rejeitado credores que a ele não estejam sujeitos.
o plano de recuperação, nos
Existem créditos que não podem estar contemplados no
termos do § 4o do art. 56, LRF;
plano de recuperação extrajudicial, conforme abaixo:

Por descumprimento de
Créditos trabalhistas ou decorrentes de
qualquer obrigação assumida
acidente do trabalho
no plano de recuperação, na
forma do § 1o do art. 61, LRF

Créditos tributários
Na convolação da recuperação em falência, os atos de
administração, endividamento, oneração ou alienação
praticados durante a recuperação judicial presumem-se
Contratos previstos no art. 49, § 3º, LRF
válidos.
- Proprietário fiduciário de bens móveis
ou imóveis;
- Arrendamento Mercantil;
6.9 RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL O plano de - Proprietário ou promitente vendedor de
A recuperação extrajudicial encontra-se prevista nos recuperação imóvel cujos respectivos contratos
arts. 161 a 167, LRF. Nessa modalidade de recuperação extrajudicial não contenham cláusula de irrevogabilidade
todo procedimento de deliberação ocorre fora do juízo, poderá ou irretratabilidade, inclusive em
extrajudicialmente. contemplar: incorporações imobiliárias;
- Proprietário de venda com reserva de
O devedor que deseje obter a homologação do plano à domínio.
recuperação extrajudicial, além dos requisitos previstos
no art. 48, LRF, não pode ter pendente pedido de recu-
peração judicial ou ter se beneficiado de recuperação
judicial ou homologação de outro plano de recupera-
Contratos previstos no art. 49, § 3º, LRF
ção extrajudicial há menos de 2 anos.
Quantias entregues ao devedor
decorrente de adiantamento de cambio
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o
para exportação art. 86, II, LRF
devedor que, no momento do pedido, exerça regu-
larmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e
que atenda aos seguintes requisitos, cumulativa-
mente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas ex-
tintas, por sentença transitada em julgado, as res-
ponsabilidades daí decorrentes; Tendo em vista as ressalvas quanto aos créditos traba-
lhistas e tributários na recuperação extrajudicial, o pla-
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido no somente poderá contemplar cinco espécies de cre-
concessão de recuperação judicial;
dores:
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido
concessão de recuperação judicial com base no - Credores com garantia real;
plano especial de que trata a Seção V deste Capítu- - Credores com privilegio especial;
lo;

89
- Credores com privilegio geral; II - não serão computados os créditos detidos pelas
pessoas relacionadas no art. 43 deste artigo.
- Credores quirografários; e
§ 4º Na alienação de bem objeto de garantia real, a
- Credores subordinados. supressão da garantia ou sua substituição somente
serão admitidas mediante a aprovação expressa do
A sentença de homologação do plano de recuperação credor titular da respectiva garantia.
extrajudicial constituirá título executivo judicial. Após a
distribuição do pedido de homologação, os credores § 5º Nos créditos em moeda estrangeira, a varia-
ção cambial só poderá ser afastada se o credor ti-
não poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a
tular do respectivo crédito aprovar expressamente
anuência expressa dos demais signatários.
previsão diversa no plano de recuperação extraju-
Na hipótese prevista no art. 162, LRF, o devedor poderá dicial.
requerer a homologação em juízo do plano de recupe-
ração extrajudicial, juntando sua justificativa e o docu-
mento que contenha seus termos e condições, com as Recebido o pedido de homologação, o juiz ordena a
assinaturas dos credores que a ele aderiram. O pedido publicação de edital no órgão oficial e jornais de grande
de homologação, nesse caso, representa uma faculdade circulação nacional ou das localidades da sede e das
do devedor. filiais do devedor, convocando todos os credores do
devedor para apresentação de suas impugnações ao
Porém, na hipótese prevista no art. 163, LRF, o devedor plano de recuperação extrajudicial no prazo de 30 dias.
deverá requerer a homologação de plano de recupera-
ção extrajudicial para que consiga atingir a todos os Somente pode ser alegado nas impugnações:
credores, inclusive aqueles que votaram desfavoravel- Art. 164, § 3º (...)
mente à aprovação do plano. Nota-se que, para que o
I - não preenchimento do percentual mínimo pre-
plano obrigue a todos os credores por ele abrangidos, visto no caput do art. 163 desta Lei;
deverá haver a assinatura por credores que represen-
tem mais de 3/5 de todos os créditos de cada espécie II - prática de qualquer dos atos previstos no inciso
por ele abrangidos. III do art. 94 ou do art. 130 desta Lei, ou descum-
primento de requisito previsto nesta Lei;
Uma vez homologado, o plano obriga a todos os credo-
III - descumprimento de qualquer outra exigência
res das espécies por ele abrangidos, exclusivamente em legal.
relação aos créditos constituídos até a data do pedido
de homologação.
Sendo apresentada impugnação, será aberto prazo de 5
Art. 163. O devedor poderá, também, requerer a dias para que o devedor sobre ela se manifeste. Após
homologação de plano de recuperação extrajudici- esse período, os autos serão conclusos para que o juiz
al que obriga a todos os credores por ele abrangi- possa apreciar as impugnações e decidir ou não pela
dos, desde que assinado por credores que repre-
homologação.
sentem mais de 3/5 (três quintos) de todos os cré-
ditos de cada espécie por ele abrangidos. Ressalta-se que a não homologação do plano não acar-
§ 1º O plano poderá abranger a totalidade de uma reta a falência do devedor. O devedor poderá, cumpri-
ou mais espécies de créditos previstos no art. 83, das as formalidades, apresentar novo pedido de homo-
incisos II, IV, V, VI e VIII do caput, desta Lei, ou logação de plano de recuperação extrajudicial. O plano
grupo de credores de mesma natureza e sujeito a de recuperação extrajudicial produz efeitos após sua
semelhantes condições de pagamento, e, uma vez homologação judicial. É lícito, contudo, que o plano
homologado, obriga a todos os credores das espé- estabeleça a produção de efeitos anteriores à homolo-
cies por ele abrangidas, exclusivamente em relação gação, desde que exclusivamente em relação à modifi-
aos créditos constituídos até a data do pedido de
cação do valor ou da forma de pagamento dos credores
homologação.
signatários.
§ 2º Não serão considerados para fins de apuração
do percentual previsto no caput deste artigo os
créditos não incluídos no plano de recuperação ex-
trajudicial, os quais não poderão ter seu valor ou
condições originais de pagamento alteradas.
§ 3º Para fins exclusivos de apuração do percentu-
al previsto no caput deste artigo:
I - o crédito em moeda estrangeira será convertido
para moeda nacional pelo câmbio da véspera da
data de assinatura do plano; e

90
6.10 FALÊNCIA 6.10.3 FUNDAMENTOS DO PEDIDO DE FA-
O instituto da falência encontra-se disciplinado nos arts. LÊNCIA
75 a 160, LRF.

FUNDAMENTOS DO PEDIDO DE
6.10.1 DISPOSIÇÕES GERAIS FALÊNCIA
A falência, ao promover o afastamento do devedor de
suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização a) IMPONTUALIDADE b) EXECUÇÃO
produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos da INJUSTIFICADA c) ATOS DE FALÊNCIA
FRUSTRADA
empresa, inclusive os intangíveis. ART. 94, III, LRF
ART. 94, I, LRF ART. 94, II, LRF
O juízo da falência é indivisível e competente para
conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negó-
cios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais
e aquelas não reguladas na Lei de Falências em que o Será decretada a falência do devedor em caso de:
falido figurar como autor ou litisconsorte ativo.  Impontualidade Injustificada: sem relevante razão
de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos protesta-
6.10.2 LEGITIMADOS PARA O PEDIDO DE dos cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários
FALÊNCIA mínimos na data do pedido de falência.
É legitimado para pedir a falência o próprio devedor, o Para que o pedido de falência seja instruído com título
cônjuge sobrevivente, herdeiro do devedor ou inventa- executivo extrajudicial de valor superior a 40 salários
riante, o cotista ou acionista do devedor ou qualquer mínimos, não são necessários indícios de insolvência
credor. patrimonial do devedor (Informativo 596, STJ - REsp.
1.433.652-RJ).
Quando o pedido de falência for requerido pelo próprio
devedor estaremos diante da chamada autofalência, O STJ firmou entendimento, no Informativo 547, de que
contemplada nos arts. 105 a 107, LRF. Trata-se, neste a duplicata virtual protestada por indicação é título
caso, de um procedimento de jurisdição voluntária executivo apto a instruir o pedido de falência com base
(não há lide). Não há sanção para o devedor que não na impontualidade do devedor (REsp 1.354.776-MG).
requer a sua própria falência.
Os Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de
Quando o pedido de falência for realizado pelo cre- perfazer o limite mínimo de 40 salários mínimos. A im-
dor/empresário deverá ser apresentada em juízo a cer- pontualidade injustificada é comprovada através do
tidão do Registro Público de Empresas que comprove a protesto do título, podendo este ser para fins falimen-
regularidade de suas atividades. Ou seja, credores que tares (nas hipóteses de títulos representados por con-
estejam em situação de irregularidade perante a Junta tratos), nos termos do art. 94, §3º, LRF, ou cambiário
Comercial não poderão pedir a falência do devedor. O (na hipótese de títulos de crédito). Nesse sentindo é a
legislador prevê ainda que os credores que não tiverem Súmula 258, STJ:
domicílio no Brasil deverão prestar caução relativa à
Comprovada a prestação de serviço, a duplicata
custa e ao pagamento da indenização de que trata o art. não aceita, mas protestada é título hábil para ins-
101, na hipótese de o pedido de falência ser doloso e for truir um pedido de falência.
julgado improcedente pelo juiz.

No tocante ao protesto especial, realizado exclusiva-


mente para fins falimentares, o STJ, no Informativo 572
(REsp 1.249.866-SC), firmou entendimento no sentido
de permitir que seja realizado no prazo de até 6 meses,
contados do término do prazo de apresentação (prazo
prescricional da ação cambial). A realização do protesto
durante o prazo de apresentação se aplica apenas ao
protesto obrigatório, dirigido aos devedores indiretos
do cheque (endossantes e avalistas do endossante).
Devemos destacar que o STJ, no Informativo 637, en-
tendeu que a existência de cláusula compromissória
não afeta a executividade do título de crédito inadim-

91
plido e não impede a deflagração do procedimento 6.10.4 DEFESAS DO DEVEDOR NA FALÊN-
falimentar, fundamentado no art. 94, I, Lei 11.101/05
(REsp 1.733.685-SP).
CIA
Na hipótese de o pedido de falência ser com base na Quando o pedido de falência for realizado pelo credor,
impontualidade, o art. 96, LRF, elenca as defesas que será aberto prazo para que o devedor possa apresentar
podem ser apresentadas pelo devedor. suas defesas. Existem três defesas que podem ser apre-
sentadas pelo devedor:

 EXECUÇÃO FRUSTRADA: executado por qualquer


quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à
penhora bens suficientes dentro do prazo legal. DEFESAS DO DEVEDOR NA
O pedido de falência será instruído com certidão expe- FALÊNCIA
dida pelo juízo em que se processa a execução. Não há
necessidade de realização de protesto e também não
RECUPERAÇÃO
se exige valor mínimo para o pedido. DEPÓSITO ELISIVO
JUDICIAL
CONTESTAÇÃO no prazo da contestação
no prazo da
 ATOS DE FALÊNCIA: pratica qualquer dos seguintes prazo de 10 dias 10 dias -art. 98, LRF
contestação
atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação art. 98, LRF 10 dias somente nas hipóteses
judicial: do art. 94, I e 94, II, LRF
art. 95, LRF
Art. 94, III - (...)
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos
ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para
realizar pagamentos; É importante ressaltar que todas as defesas devem ser
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, apresentadas no prazo de 10 dias.
com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar
credores, negócio simulado ou alienação de parte
O depósito elisivo consiste no depósito pelo devedor,
ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou no prazo da contestação, do valor correspondente ao
não; total do crédito, acrescido de correção monetária, juros
e honorários advocatícios. O depósito elisivo impede a
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou
decretação da falência nas hipóteses de impontualida-
não, sem o consentimento de todos os credores e
sem ficar com bens suficientes para solver seu pas-
de injustificada e execução frustrada. Se o pedido de
sivo; falência for julgado procedente, o juiz ordenará o levan-
tamento do valor pelo autor. Se o pedido de falência for
d) simula a transferência de seu principal estabele- julgado improcedente, o juiz determinará o levantamen-
cimento com o objetivo de burlar a legislação ou a
to pelo réu. Não cabe deposito elisivo para atos de
fiscalização ou para prejudicar credor;
falência.
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida con-
traída anteriormente sem ficar com bens livres e
desembaraçados suficientes para saldar seu passi- 6.10.5 DECISÃO QUE JULGA PROCEDENTE
vo;
OU IMPROCEDENTE O PEDIDO DE FALÊN-
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado
e com recursos suficientes para pagar os credores,
CIA
abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de Na hipótese de improcedência do pedido de falência, se
seu domicílio, do local de sua sede ou de seu prin- ficar comprovado o requerimento doloso pelo autor,
cipal estabelecimento;
este será condenado a indenizar o devedor/réu pelas
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obriga- perdas e danos sofridos em liquidação de sentença. Da
ção assumida no plano de recuperação judicial. sentença que julga a improcedência do pedido cabe
apelação. Da decisão que decreta a falência cabe agra-
vo.
Os atos de falência caracterizam-se por condutas que,
quando praticadas pelo devedor, podem ensejar a de-
cretação da falência. 6.10.6 DECISÃO QUE DECRETA A FALÊNCIA
Nos termos do art. 99, LRF, a sentença que decretar a
falência dentre outras determinações:
Art. 99. (...)

92
I - conterá a síntese do pedido, a identificação do Art. 99. (...)
falido e os nomes dos que forem a esse tempo
VI - proibirá a prática de qualquer ato de disposi-
seus administradores;
ção ou oneração de bens do falido, submetendo-os
II - fixará o termo legal da falência, sem poder re- preliminarmente à autorização judicial e do Comi-
trotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias contados tê, se houver, ressalvados os bens cuja venda faça
do pedido de falência, do pedido de recuperação parte das atividades normais do devedor se autori-
o
judicial ou do 1 (primeiro) protesto por falta de zada a continuação provisória nos termos do inciso
pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os XI do caput deste artigo;
protestos que tenham sido cancelados;
VII - determinará as diligências necessárias para
salvaguardar os interesses das partes envolvidas,
podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou
Todos os atos que forem praticados durante a fixação de seus administradores quando requerida com
desse termo legal da falência consideram-se suspeitos. fundamento em provas da prática de crime defini-
A fixação do termo legal, contudo, não poderá retrotrair do nesta Lei;
por mais de 90 dias, que serão contatados do primeiro
VIII - ordenará ao Registro Público de Empresas
protesto por falta de pagamento, do pedido de falência
que proceda à anotação da falência no registro do
ou do pedido de recuperação judicial. devedor, para que conste a expressão “Falido”, a
Exemplificando: vamos imaginar que a Sociedade ABC data da decretação da falência e a inabilitação de
LTDA tenha emitido um cheque no dia 19/08/2017, no que trata o art. 102 desta Lei;
valor de R$50.000,00, para a Sociedade XYZ LTDA, e o IX - nomeará o administrador judicial, que desem-
cheque não tivesse provisão de fundos. Nesse caso, a penhará suas funções na forma do inciso III do ca-
Sociedade XYZ LTDA encaminha o título para protesto put do art. 22, LRF sem prejuízo do disposto na alí-
no dia 25/08/2017 e ajuíza pedido de falência no dia nea a do inciso II do caput do art. 35 desta Lei;
29/10/2017. Assim, o juiz poderá fixar como termo legal X - determinará a expedição de ofícios aos órgãos e
da falência até 90 dias antes do primeiro protesto repartições públicas e outras entidades para que
(29/10/2017) – por exemplo, 20/05/2017. informem a existência de bens e direitos do falido;
XI - pronunciar-se-á a respeito da continuação pro-
Art. 99. (...) visória das atividades do falido com o administra-
dor judicial ou da lacração dos estabelecimentos,
III - ordenará ao falido que apresente, no prazo
observado o disposto no art. 109 desta Lei;
máximo de 5 (cinco) dias, relação nominal dos cre-
dores, indicando endereço, importância, natureza XII - determinará, quando entender conveniente, a
e classificação dos respectivos créditos, se esta já convocação da assembleia-geral de credores para
não se encontrar nos autos, sob pena de desobe- a constituição de Comitê de Credores, podendo a-
diência; inda autorizar a manutenção do Comitê eventual-
mente em funcionamento na recuperação judicial
IV - explicitará o prazo para as habilitações de cré-
quando da decretação da falência;
dito, observado o disposto no § 1º do art. 7º desta
Lei; XIII - ordenará a intimação do Ministério Público e
a comunicação por carta às Fazendas Públicas Fe-
deral e de todos os Estados e Municípios em que o
Aplica-se o procedimento de verificação de habilitação devedor tiver estabelecimento, para que tomem
de crédito. conhecimento da falência.

Art. 99. (...)


O art. 99, parágrafo único, LRF, determina que
V - ordenará a suspensão de todas as ações ou e-
xecuções contra o falido, ressalvadas as hipóteses Art. 99. (...)
previstas nos §§ 1º e 2º do art. 6º desta Lei; Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de
edital contendo a íntegra da decisão que decreta a
falência e a relação de credores.
Importante frisar que somente as ações que demandem
quantia ilíquida, assim como as ações de natureza traba-
lhista não serão suspensas pela decretação da falência. 6.10.7 INABILITAÇÃO EMPRESARIAL - DI-
Elas continuam correndo até que seja apurado o valor
do respectivo crédito.
REITOS E DEVERES DO FALIDO
Quando há decretação da falência, em regra, essa fa-
lência não é estendida aos sócios (sociedades em que
os sócios respondem de forma limitada), exceto nas
sociedades com sócios ilimitadamente responsáveis,

93
pois a decretação da falência da sociedade também do falido e do sócio ilimitadamente responsável na for-
acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mes- ma prescrita em lei.
mos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade
Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e
falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar
podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o
contestação, se assim o desejarem.
cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da
O falido fica inabilitado para exercer qualquer ativida- massa falida ou for necessário à manutenção e preser-
de empresarial a partir da decretação da falência até a vação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
sentença que extingue suas obrigações, perdendo o
O contratante pode interpelar o administrador judicial,
direito de administrar os seus bens ou deles dispor. Mas
no prazo de até 90 dias, contado da assinatura do termo
o falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da
de sua nomeação, para que, dentro de 10 dias, declare
falência, requerer as providências necessárias para a
se cumpre ou não o contrato.
conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e
intervir nos processos em que a massa falida seja parte A declaração negativa ou o silêncio do administrador
ou interessada, requerendo o que for de direito e inter- judicial confere ao contraente o direito à indenização,
pondo os recursos cabíveis. cujo valor, apurado em processo ordinário, constituirá
crédito quirografário.
Findo o período de inabilitação, o falido poderá reque-
rer ao juiz da falência que proceda à respectiva anota- O administrador judicial, mediante autorização do Comi-
ção em seu registro. tê, poderá dar cumprimento ao contrato unilateral se
esse fato reduzir ou evitar o aumento do passivo da
massa falida ou for necessário à manutenção e preser-
6.10.8 DA ARRECADAÇÃO E DA CUSTÓDIA vação de seus ativos, realizando o pagamento da pres-
DOS BENS tação pela qual está obrigado (art. 119, LRF).

Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o


administrador judicial efetuará a arrecadação dos bens 6.10.10 PEDIDO DE RESTITUIÇÃO
e documentos e a avaliação dos bens, separadamente
ou em bloco, no local em que se encontrem, requeren- No momento de proceder à arrecadação dos bens, o
do ao juízes medidas necessárias para esses fins. E have- administrador judicial pode acabar arrecadando bens
rá a lacração do estabelecimento nas hipóteses em que que não pertencem à massa falida. Portanto, aqueles
houver risco de execução na arrecadação, para preser- que tiverem seus bens arrecadados erroneamente
vação da massa falida ou quando for de interesse dos poderão pedir restituição.
credores. Existem três modalidades de restituição previstas nos
Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do adminis- arts. 85 e 86, Lei 11.101/05, que merecem destaque:
trador judicial ou de pessoa por ele escolhida, sob
responsabilidade daquele, podendo o falido ou qualquer
de seus representantes ser nomeado depositário dos
bens. MODALIDADES DE
RESTITUIÇÃO
O falido poderá acompanhar a arrecadação e a avalia-
ção. O produto dos bens penhorados ou por outra for-
ma apreendidos entrará para a massa, cumprindo ao Restituição
juiz deprecar, a requerimento do administrador judicial, Restituição extraordinária de Retituição em
às autoridades competentes, determinando sua entre- ordinária de coisa coisa dinheiro
ga. Não serão arrecadados os bens absolutamente Art. 85, LRF Art. 85, parágrafo Art. 86, I, II e III, LRF
impenhoráveis. Ainda que haja avaliação em bloco, o único, LRF
bem objeto de garantia real será também avaliado sepa-
radamente, para os fins do § 1º do art. 83, LRF.

6.10.9 DOS EFEITOS DA DECRETAÇÃO DA Na primeira hipótese, o proprietário solicita a restitui-


FALÊNCIA SOBRE AS OBRIGAÇÕES DO DE- ção ordinária de coisa que tenha sido arrecada pelo
administrador judicial, ou que se encontrasse em poder
VEDOR do falido na época da decretação da falência. O bem
A decretação da falência sujeita todos os credores, que arrecadado não pertence à massa falida. Sendo assim,
somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens determina o art. 85, LRF que

94
Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no pro-
cesso de falência ou que se encontre em poder do
devedor na data da decretação da falência poderá
6.10.11 INEFICÁCIA E REVOGAÇÃO DOS
pedir sua restituição. ATOS PRATICADOS ANTES FALÊNCIA
A ação revocatória é utilizada nas hipóteses em que se
Atenção! O possuidor não tem legitimidade para pedir pleiteia declarar um ato ineficaz ou pedir a revogação
restituição. de um ato que tenha sido praticado pelo devedor. A
palavra revocar significa mandar voltar, ou seja, retornar
Na segunda hipótese, temos a restituição extraordiná- para a massa falida bens ou quantias.
ria de coisa, na hipótese de venda a crédito, que tenha
sido entregue ao devedor até 15 dias antes do requeri- Existem duas hipóteses contempladas na Lei: a primeira
mento de falência e ainda não tenha sido alienada. Para trata-se de atos ineficazes (art. 129, LRF); e a segunda,
que seja realizado o pedido de restituição extraordinária de atos que podem ser revogados (art. 130, LRF).
de coisa, com base no art. 85, parágrafo único, LRF, é Nas hipóteses contempladas no art. 129, LRF, não im-
necessária a presença dos três requisitos: porta a intenção de fraudar credores, ou se o contratan-
- Venda a crédito; te tinha ou não conhecimento do estado de crise eco-
nômico-financeira do devedor; uma vez praticado o ato,
- Entregue até 15 dias antes do requerimento de fa- pode o juiz, de ofício, declará-lo ineficaz.
lência; e
São hipóteses de atos ineficazes previstos no art. 129,
- Que ainda não tenha sido alienada. LRF:
Além das hipóteses de restituição ordinária e extraordi- Art. 129. (...)
nária de coisa, temos as restituições em dinheiro con- I - o pagamento de dívidas não vencidas realizado
sagradas no art. 86, LRF, nos seguintes termos: pelo devedor dentro do termo legal, por qualquer
Art. 86. (...) meio extintivo do direito de crédito, ainda que pe-
lo desconto do próprio título;
I - se a coisa não mais existir ao tempo do pedido
de restituição, hipótese em que o requerente re- II - o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis re-
ceberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de alizado dentro do termo legal, por qualquer forma
ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em que não seja a prevista pelo contrato;
ambos os casos no valor atualizado; III - a constituição de direito real de garantia, inclu-
II - da importância entregue ao devedor, em moe- sive a retenção, dentro do termo legal, tratando-
da corrente nacional, decorrente de adiantamento se de dívida contraída anteriormente; se os bens
a contrato de câmbio para exportação, na forma dados em hipoteca forem objeto de outras poste-
do art. 75, §§ 3º e 4º , da Lei nº 4.728, de 14 de ju- riores, a massa falida receberá a parte que devia
lho de 1965, desde que o prazo total da operação, caber ao credor da hipoteca revogada;
inclusive eventuais prorrogações, não exceda o IV - a prática de atos a título gratuito, desde 2
previsto nas normas específicas da autoridade (dois) anos antes da decretação da falência;
competente;
V - a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois)
III - dos valores entregues ao devedor pelo contra- anos antes da decretação da falência;
tante de boa-fé na hipótese de revogação ou ine-
ficácia do contrato, conforme disposto no art. 136 VI - a venda ou transferência de estabelecimento
desta Lei. feita sem o consentimento expresso ou o paga-
mento de todos os credores, a esse tempo existen-
tes, não tendo restado ao devedor bens suficientes
Além dessas hipóteses de restituição, a Súmula 417, para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30
(trinta) dias, não houver oposição dos credores,
STF, contempla ainda a possibilidade de pedido de
após serem devidamente notificados, judicialmen-
restituição de dinheiro em poder do falido, recebido
te ou pelo oficial do registro de títulos e documen-
em nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, tos;
não tiver disponibilidade. É o que ocorre com as restitu-
ições ao Instituto Nacional do Seguro Pessoal (INSS) das VII - os registros de direitos reais e de transferên-
cia de propriedade entre vivos, por título oneroso
importâncias que tenham sido descontadas pelo em-
ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis rea-
pregador e que não foram recolhidas ao INSS (art. 51, lizados após a decretação da falência, salvo se tiver
parágrafo único, Lei 8.212/91). havido prenotação anterior.
Nos casos em que não couber pedido de restituição, fica
resguardado o direito dos credores de propor embargos
de terceiros. A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz,
alegada em defesa ou pleiteada mediante ação própria

95
ou incidentalmente no curso do processo. O prazo para contratado pelo administrador judicial para defender
que o ato seja declarado ineficaz é até o encerramento os direitos e interesses da massa deverá
da falência.
A) requerer, no juízo da falência, a instauração do in-
Já a ação revocatória por revogação depende de provo- cidente de desconsideração da personalidade jurídica.
cação. Para o seu cabimento é necessário que estejam
B) ajuizar ação revocatória em nome da massa falida
presentes três requisitos:
no juízo da falência.
- Ato praticado com a intenção de prejudicar credo-
C) ajuizar ação pauliana em nome do administrador
res;
judicial no juízo cível.
- Provado conluio fraudulento entre o devedor e o
D) requerer, no juízo da falência, o sequestro dos bens
terceiro que com ele contratar; e
dos primos do empresário como medida antecedente
- O efetivo prejuízo sofrido pela massa falida. à ação de responsabilidade civil.
RESPOSTA: B
A ação revocatória por revogação, deverá ser proposta
(legitimados ativos) pelo administrador judicial, por
qualquer credor ou pelo Ministério Público, no prazo de 6.10.12 REALIZAÇÃO DO ATIVO
3 anos, contado da decretação da falência. Ultrapassado
esse prazo, não será possível a propositura da revocató- Logo após a arrecadação dos bens, com a juntada do
ria por revogação. respectivo auto ao processo de falência, será iniciada a
realização do ativo.
A ação revocatória por revogação pode ser promovida
contra (legitimados passivos): A alienação dos bens será realizada de uma das seguin-
tes formas, observada a seguinte ordem de preferência:
Art. 133. (...)
Art. 140. (...)
I - contra todos os que figuraram no ato ou que por
efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficia- I - alienação da empresa, com a venda de seus es-
dos; tabelecimentos em bloco;
II - contra os terceiros adquirentes, se tiveram co- II - alienação da empresa, com a venda de suas fili-
nhecimento, ao se criar o direito, da intenção do ais ou unidades produtivas isoladamente;
devedor de prejudicar os credores;
III - alienação em bloco dos bens que integram ca-
III - contra os herdeiros ou legatários das pessoas da um dos estabelecimentos do devedor;
indicadas nos incisos I e II do caput deste artigo.
IV - alienação dos bens individualmente considera-
dos.
A sentença que julgar procedente a ação revocatória
determinará o retorno dos bens à massa falida em
O juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à
espécie, com todos os acessórios, ou o valor de merca-
orientação do Comitê, se houver, ordenará que se pro-
do, acrescidos das perdas e danos. Da sentença, o recur-
ceda à alienação do ativo em uma das seguintes moda-
so cabível é a apelação.
lidades:
Art. 142. (...)
CAIU NA PROVA! I - leilão, por lances orais;
II - propostas fechadas;
XXIV EXAME DE ORDEM UNIFICADO
III - pregão.
O empresário individual Ives Diniz, em conluio com
seus dois primos, realizou empréstimos simulados a
fim de obter crédito para si; por esse e outros motivos, O juiz homologará qualquer outra modalidade de reali-
foi decretada sua falência. No curso do processo fali- zação do ativo, desde que aprovada pela assembleia
mentar, o administrador judicial verificou a prática de geral de credores, inclusive com a constituição de socie-
outros atos praticados pelo devedor e seus primos, dade de credores ou dos empregados do próprio deve-
antes da falência; entre eles, a transferência de bens dor, com a participação, se necessária, dos atuais sócios
do estabelecimento a terceiros lastreados em paga- ou de terceiros.
mentos de dívidas fictícias, com nítido prejuízo à mas-
sa. De acordo com o enunciado e as disposições da Lei
de Falência e Recuperação de Empresas, o advogado

96
6.10.13 PAGAMENTO DOS CREDORES Art. 84. (...)
I - remunerações devidas ao administrador judicial
O administrador judicial é o responsável por realizar os
e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação
pagamentos na falência. do trabalho ou decorrentes de acidentes de traba-
Antes de estudarmos a ordem de pagamento desses lho relativos a serviços prestados após a decreta-
créditos, é importante ressaltar que as despesas previs- ção da falência;
tas nos arts. 150 e 151, LRF, são pagas pelo administra- II - quantias fornecidas à massa pelos credores;
dor judicial tão logo haja disponibilidade em caixa.
III - despesas com arrecadação, administração, rea-
Essas despesas são as seguintes: lização do ativo e distribuição do seu produto, bem
- As despesas cujo pagamento antecipado seja indis- como custas do processo de falência;
pensável à administração da falência, inclusive na hi- IV - custas judiciais relativas às ações e execuções
pótese de continuação provisória das atividades pre- em que a massa falida tenha sido vencida;
vistas no inciso XI do caput do art. 99, LRF (art. 150, V - obrigações resultantes de atos jurídicos válidos
LRF); e praticados durante a recuperação judicial, nos
- Os créditos trabalhistas de natureza estritamente termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação
da falência, e tributos relativos a fatos geradores
salarial vencidos nos 3 meses anteriores à decretação
ocorridos após a decretação da falência, respeita-
da falência, até o limite de 5 salários mínimos por tra- da a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.
balhador (art. 151, LRF).
Após o pagamento dessas despesas, que são considera-
das indispensáveis à administração da falência e dos Os credores concursais são credores do falido. A falên-
créditos de natureza trabalhista vencidos nos últimos cia não retira dos credores, nem altera, as garantias
três meses antes da falência, teremos o pagamento dos legais e convencionais legitimamente fundadas; apenas
credores, que deverá obedecer a ordem prevista no art. modifica o exercício dos direitos. O concurso de credo-
149, LRF: res vem pautado em critérios de preferências, justifica-
das pela qualidade ou causa do crédito. Com a provi-
dência, busca-se evitar tratamentos iníquos e assegurar
1º - RESTITUIÇÕES a par conditio creditorum.
EM DINHEIRO
ART. 86, III, LRF

ORDEM DE
2º - CREDORES
PAGAMENTO DOS EXTRACONCURSAIS
CREDORES - ART.
ART. 84, LRF
149, LRF

3º - CREDORES
CONCURSAIS
ART. 83, LRF

O art. 149, LRF, determina que, após o pagamento das


restituições em dinheiro (art. 86, parágrafo único), serão
pagos os créditos extraconcursais (art. 84, LRF) e, após
consolidado o quadro geral de credores, as importâncias
recebidas com a realização do ativo serão destinadas ao
pagamento dos credores concursais (art. 83, LRF), res-
peitados os demais dispositivos previstos na lei e as
decisões judiciais que determinam reserva de importân-
cias.
Os créditos extraconcursais são aqueles oriundos após
a decretação da falência. São credores da massa falida e
não do falido (os credores concursais).
Serão considerados créditos extraconcursais e serão
pagos com precedência sobre os mencionados no art.
83, LRF, na ordem a seguir, os relativos a:

97
A classificação dos créditos concursais na falência obe-
dece à seguinte ordem:

CRÉDITOS CONCURSAIS
Art. 83, I, LRF Os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salá-
TRABALHISTA rios-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;

Art. 83, II, LRF


Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
GARANTIA REAL
ART. 83, III, LRF Créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, exce-
TRIBUTÁRIO tuadas as multas tributárias;

b) Os assim c) Aqueles a cujos


a) Os previstos d) Aqueles em favor dos
definidos em titulares a lei
Art. 83, IV, LRF no art. 964 da Lei microempreendedores
outras leis civis confira o direito
nº 10.406, de 10 individuais e das micro-
PRIVILÉGIO ESPECIAL e comerciais, de retenção sobre
de janeiro de empresas e empresas de
salvo disposição a coisa dada em
2002; pequeno porte.
contrária, LRF; garantia;
c) os assim definidos em
Art. 83, V, LRF a) os previstos no art. 965 da
b) os previstos no pará- outras leis civis e comerci-
Lei nº 10.406, de 10 de janei-
PRIVILÉGIO GERAL grafo único do art. 67, LRF ais, salvo disposição con-
ro de 2002;
trária a LRF;
a) aqueles não b) os saldos dos créditos não C) os saldos dos créditos deriva-
Art. 83, VI, LRF previstos nos cobertos pelo produto da dos da legislação do trabalho que
QUIROGRAFÁRIO demais incisos do alienação dos bens vinculados excederem o limite estabelecido
art. 83, LRF; ao seu pagamento; no inciso I do caput do art. 83, LRF;

Art. 83, VII, LRF As multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrati-
MULTA vas, inclusive as multas tributárias;

Art. 83, VIII, LRF a) os assim previstos em lei ou em b) os créditos dos sócios e dos adminis-
SUBORDINADO contrato; tradores sem vínculo empregatício.

CAIU NA PROVA!
XX EXAME DE ORDEM UNIFICADO
A sociedade Boaventura & Cia. Ltda. obteve concessão A) O crédito será classificado na falência como quiro-
de recuperação judicial, mas por insuperáveis proble- grafário.
mas de fluxo de caixa a recuperação foi convolada em B) O crédito será classificado na falência como extra-
falência. Um dos fornecedores de produtos agrícolas à concursal.
devedora antes do pedido de recuperação judicial era
Barra do Jacaré EIRELI ME. Contudo, com o pedido de C) O crédito será classificado na falência como com
recuperação judicial e inclusão do crédito no plano, a privilégio geral.
fornecedora interrompeu imediatamente a entrega D) O crédito será classificado na falência como com
dos produtos e resiliu o contrato. Os créditos estão privilégio especial.
representados por duplicatas de venda, sendo o valor
RESPOSTA: D
total de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil re-
ais), exigíveis antes da recuperação judicial e ainda
não pagos. Com base nessas informações e na regra
estabelecida na Lei nº 11.101/2005, assinale a afirma-
tiva correta.

98
6.10.14 EXCERRAMENTO DA FALÊNCIA E III - o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado
do encerramento da falência, se o falido não tiver
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO FALIDO sido condenado por prática de crime previsto nes-
ta Lei;
Concluída a realização de todo o ativo e distribuído o
produto entre os credores, o administrador judicial IV - o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado
apresentará suas contas ao juiz no prazo de 30 dias. As do encerramento da falência, se o falido tiver sido
contas, acompanhadas dos documentos comprobató- condenado por prática de crime previsto nesta Lei.
rios, serão prestadas em autos apartados que, ao final,
serão apensados aos autos da falência.
Configurada qualquer dessas hipóteses, o falido poderá
O juiz ordenará a publicação de aviso de que as contas requerer ao juízo da falência que suas obrigações sejam
foram entregues e se encontram à disposição dos inte- declaradas extintas por sentença. Verificada a prescri-
ressados, que poderão impugná-las no prazo de 10 ção ou extintas as obrigações, o sócio de responsabili-
dias. Decorrido o prazo do aviso e realizadas as diligên- dade ilimitada também poderá requerer que seja decla-
cias necessárias à apuração dos fatos, o juiz intimará o rada por sentença a extinção de suas obrigações na
Ministério Público para manifestar-se no prazo de 5 falência.
dias, findo o qual o administrador judicial será ouvido se
A sentença que declarar extintas as obrigações será
houver impugnação ou parecer contrário do Ministério
comunicada a todas as pessoas e entidades informadas
Público.
da decretação da falência. Da sentença cabe apelação.
A sentença que rejeitar as contas do administrador
Após o trânsito em julgado, os autos serão apensados
judicial fixará suas responsabilidades, poderá determi-
aos da falência.
nar a indisponibilidade ou o sequestro de bens e servirá
como título executivo para indenização da massa. Da
sentença cabe apelação.
6.11 DISPOSIÇÕES PENAIS - CRIMES EM
Julgadas as contas do administrador judicial, ele apre-
sentará o relatório final da falência no prazo de 10 dias,
ESPÉCIES
indicando o valor do ativo e o do produto de sua realiza- A Lei 11.101/05, em seu Capítulo VII, elenca as disposi-
ção, o valor do passivo e o dos pagamentos feitos aos ções penais que tratam dos crimes falimentares. Os
credores, e especificará justificadamente as responsabi- crimes são de Ação Pública Incondicionada. O prazo
lidades com que continuará o falido. para oferecimento da denúncia regula-se pelo art. 46,
Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência Código de Processo Penal, salvo se o Ministério Público,
por sentença. A sentença de encerramento da falência estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar a
poderá ocorrer com extinção das obrigações do falido apresentação da exposição circunstanciada de que trata
ou sem extinção das obrigações, de forma que configu- o art. 186, LRF, devendo, em seguida, oferecer a denún-
ram institutos diferentes. cia em 15 dias.

A sentença de encerramento ocorrerá nas hipóteses em Os crimes previstos na Lei 11.101/05 encontram-se
que já houver sido realizado o ativo e pago o passivo. Já descritos nos arts. 168 a 178. LRF.
a extinção das obrigações do falido ocorre quando esti- Na falência, na recuperação judicial e na recuperação
ver caracterizada qualquer das hipóteses previstas no extrajudicial de sociedades, os seus sócios, diretores,
art. 158, LRF. gerentes, administradores e conselheiros, de fato ou de
A sentença de encerramento será publicada por edital e direito, bem como o administrador judicial, equiparam-
dela caberá apelação. se ao devedor ou falido para todos os efeitos penais
decorrentes da Lei, na medida de sua culpabilidade.
A extinção das obrigações do falido ocorre nas seguintes
hipóteses: São efeitos da condenação por crime previsto na Lei
11.101/05:
Art. 158. Extingue as obrigações do falido:
Art. 181. (...)
I - o pagamento de todos os créditos;
I - a inabilitação para o exercício de atividade em-
II - o pagamento, depois de realizado todo o ativo, presarial;
de mais de 50% (cinqüenta por cento) dos créditos
quirografários, sendo facultado ao falido o depósi- II - o impedimento para o exercício de cargo ou
to da quantia necessária para atingir essa porcen- função em conselho de administração, diretoria ou
tagem se para tanto não bastou a integral liquida- gerência das sociedades sujeitas a esta Lei;
ção do ativo; III - a impossibilidade de gerir empresa por manda-
to ou por gestão de negócio.

99
Os efeitos da condenação não são automáticos, deven-
do ser motivadamente declarados na sentença, e perdu-
rarão até 5 anos após a extinção da punibilidade, po-
dendo, contudo, cessar antes pela reabilitação penal.
Nos termos do art. 181, § 2º, transitada em julgado a
sentença penal condenatória, será notificado o Registro
Público de Empresas para que tome as medidas neces-
sárias para impedir novo registro em nome dos inabili-
tados.

100

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