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Direito Empresarial
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
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Prof.ª Cristiane Pauli
Prof. Douglas Azevedo
Prof.ª Luciana Aranalde
Sumário
Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 1ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, reco-
menda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.
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1.1.2. Empresário
Atualmente, existem no ordenamento jurídico duas categorias que são enquadradas no
conceito de empresário: a) o empresário individual; e b) a sociedade empresária.
Extinção da EIRELI: a Lei no 14.195/2021 revogou tacitamente o art. 980-A do CC e foi
somente a MP no 1.085/2021, convertida na lei 14.382/22, que revogou de forma expressa o
dispositivo, extinguindo, portanto, a EIRELI.
O empresário individual é uma pessoa natural, porém, de natureza jurídica. Como indica
o seu próprio nome, representa um tipo empresarial no qual não é admitida a existência de um
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sócio. Seu modelo já não é tão corriqueiro, tendo em vista que a escolha atrai a obrigação da
responsabilidade direta e ilimitada. Ou seja, o CPF e o CNPJ acabam interpenetrando-se.
A responsabilidade do empresário individual é direta e ilimitada. O Enunciado n o 5 das
Jornadas de Direito Comercial veio a indicar que primeiramente deve o empresário responder
com os bens da empresa, depois com os particulares.
Conforme referido, o art. 966 do CC conceitua o empresário, e seu parágrafo único deter-
mina: “não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício
da profissão constituir elemento de empresa”. Isso impõe destacar que aqueles que exercem
profissão intelectual (dentistas, contadores, médicos, advogados, professores etc.) não são con-
siderados empresários para os fins legais. A exceção é quando o exercício da profissão constituir
elemento de empresa, ou seja, quando exploram a profissão de forma a fazer desaparecer as
características personalíssimas do profissional.
O art. 972 do CC indica que, para que se possa exercer a atividade de empresário, é
necessário estar em pleno da capacidade civil e, ainda, não pode ser legalmente impedido. Um
exemplo disso é a restrição aos magistrados, que não podem ser empresários. Não se pode
confundir esse impedimento com a possibilidade de ser sócio/acionista que lhe é resguardada
desde que a responsabilidade seja limitada e não exerçam cargos de administração.
Caso aquele legalmente impedido exerça a atividade, irá responder pessoalmente pelas
obrigações contratadas. Nesse caso, precisamos diferenciar impedimento com incapacidade. O
art. 974 do CC indica que “poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assis-
tido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de
herança”. Assim, não se pode começar uma empresa individual sendo incapaz, contudo, é pos-
sível, em casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão
por morte, que a empresa continue as atividades dessa forma.
Como visto, o art. 974 do CC disciplina a questão referindo que, para tanto, é necessária
a autorização judicial e que, nesse caso, uma espécie de limitação da responsabilidade, referindo
que “não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da
sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela”. A questão deve estar clara
no alvará que concede a autorização.
O legislador previu no art. 975 do CC que “se o representante ou assistente do incapaz
for pessoa que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com
a aprovação do juiz, um ou mais gerentes”.
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Em relação ao empresário casado, a regra do art. 978 do CC merece muita atenção pois
refere textualmente que “o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal,
qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa
ou gravá-los de ônus real”. Contudo, há que destacar-se que o Enunciado no 58 das Jornadas
de Direito Comercial afirma que a regra apenas vale “desde que exista prévia averbação de
autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro
de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público”.
Porém, cumpre reforçar que, pelo CC, esse “porém” não existe.
O empresário deve observar sempre a regra do art. 979 do CC, mantendo o arquivamento
na Junta de todos os pactos e declarações antenupciais, bem como os títulos de doação, he-
rança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade. Ainda, desta-
que-se a previsão do art. 980 do CC, que determina que a “sentença que decretar ou homologar
a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação não podem ser opostos a terceiros,
antes de arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis”.
Por fim, um empresário pode ser representado pela sociedade empresária, que será
estudada com maiores detalhamentos na Seção 2. Contudo, para fins de caracterização, tem-se
que possui natureza jurídica de pessoa jurídica. Os sócios podem ser pessoa natural ou jurídica
e a responsabilidade dos sócios é subsidiária e limitada, ilimitada ou mista, a depender do tipo
societário eleito.
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Com isso é preciso entender que o estabelecimento comercial compreende tanto os bens
de natureza material quanto imaterial, utilizados para que possa se dar o exercício da atividade
econômica. Tem-se, portanto, um olhar à universalidade dos bens. Tanto é que é possível reali-
zar a venda do estabelecimento empresarial como um todo: o chamado contrato de trespasse,
conforme regulado no art. 1.144 do CC.
Percebe-se que, para que seja válido perante terceiros, é necessário o seu registro e pos-
terior publicação. Há que se pontuar que o CC determinou diversas regras aplicáveis ao tres-
passe, tendo em vista a sua evidente importância.
Assim, por exemplo, a regra insculpida no art. 1.145 do CC prevê que, antes da alienação,
deve ser providenciado o pagamento dos credores ou deve ser colhida uma autorização que
contenha o consentimento desses. Essa autorização se dá por meio de uma notificação cuja
resposta deve dar-se em trinta dias, sob pena de ser considerada uma autorização tácita.
Outro ponto de suma importância diz respeito à sucessão empresarial, prevista no art.
1.146 do CC: “o adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores
à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solida-
riamente obrigado pelo prazo de um ano [...]”. Esse prazo de um ano é contado, em relação aos
créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.
Obviamente tal regra é considerada apenas em relação às dívidas que podem ser nego-
ciadas, o que não se aplica no caso das dívidas de natureza tributária e trabalhista. Nesses casos
devem ser observadas as previsões do art. 133 do CTN e do art. 448 da CLT.
É lícito e usual que esses contratos venham com a previsão de uma cláusula de não con-
corrência. Em referência a isso, inclusive, o art. 1.147 do CC indica que “não havendo autoriza-
ção expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos
cinco anos subsequentes à transferência”. Nada impede de ser previsto um prazo menor, va-
lendo esse regramento no silêncio.
Por fim, vale mencionar o caso de sub-rogação nos contratos de exploração, pelo art.
1.148 do CC, que indica que “salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-roga-
ção do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem
caráter pessoal”. Refere ainda que nada impede que os terceiros rescindam o contrato em no-
venta dias, a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste
caso, a responsabilidade do alienante.
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EI FIRMA OU CNPJ
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A regra é de que a escrituração seja elaborada pelo contabilista, em idioma e moeda cor-
rente, a partir da obrigatoriedade da ordem cronológica de dia, mês e ano. Deve ser feita a au-
tenticação na Junta Comercial. Esses livros são sigilosos, salvo os casos de autorização judicial
ou para fins fiscalizatórios.
Lei no 14.195/2021: a Lei no 14.195/2021 esclarece que os órgãos e entidades envolvidos
no processo de registro de empresas deverão disponibilizar, de forma gratuita, informações que
permitam pesquisas prévias sobre as etapas de registro, inscrição, alteração e baixa de empre-
sas, além de informações para licenciamento e autorização de funcionamento. Antigamente a
gratuidade era apenas para pesquisa da denominação social.
Outro importante detalhe é que não poderão mais ser exigidos, no processo de registro
via REDESIM, quaisquer dados e informações que já constem da base de dados do governo
federal. Isso se deve à centralização de dados das empresas no CNPJ.
Além disso, o art. 6o-A da Lei no 11.598/2007 agora dispõe que, nos casos em que o grau
de risco da atividade seja considerado médio, o alvará de funcionamento e as licenças serão
emitidos automaticamente, sem análise humana.
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No caso de o instrumento de constituição social que será levado a registro conter repre-
sentação por procurador, é obrigatório exigir a respectiva procuração com poderes específicos
para o ato, bem com a aprovação prévia do órgão governamental competente, quando for o caso.
É preciso estar devidamente consignado no corpo do instrumento de constituição a declaração
de desimpedimento do administrador ou em ato separado, se não constar em cláusula própria.
Participação societária de empresa estrangeira: deve ser anexada ao instrumento de
constituição que será levado a registro a prova da existência legal da empresa e da legitimidade
de sua representação.
Participação societária de empresa pública: para sociedade de economia mista, autar-
quia ou fundação pública, é necessário juntar ao instrumento de constituição social a edição da
folha do Diário Oficial da União, do Estado ou do Município que contiver o ato de autorização
legislativa; ou citação, no contrato social, da natureza, número e data do ato de autorização
legislativa, bem como do nome, data e folha do jornal oficial em que foi publicada; fotocópia do
documento de identidade do representante legal; ficha de cadastro; comprovantes de pagamento
dos emolumentos dos serviços: recolhimento federal; recolhimento estadual.
Elementos: título; preâmbulo; corpo do contrato; cláusulas obrigatórias (Lei n o
8.934/1994); fecho. O instrumento contratual não poderá conter emendas, rasuras ou entreli-
nhas.
Obrigatoriamente constará do preâmbulo do instrumento de constituição social a qualifi-
cação completa dos sócios, pessoas físicas ou jurídicas, e ou de seus representantes. Caso
qualquer dos sócios seja representado por procurador, deve vir no preâmbulo do instrumento a
qualificação completa do mesmo.
O contrato social conterá: o nome empresarial (poderá ser razão social ou denominação
social – a razão social deve ser composta com sobrenome ou nome civil completo ou abreviada
de, pelo menos, um dos sócios); capital da sociedade; a participação de cada sócio; a forma e o
prazo de sua integralização; município da sede, com endereço completo, bem como o endereço
das filiais – se houver; declaração precisa e minuciosa do objeto social; prazo de duração da
sociedade; data de encerramento do exercício social, quando não coincidente com o ano civil; e
a nomeação do administrador, devidamente qualificado.
No final do instrumento contratual deverá constar local e data; nomes dos sócios e res-
pectivas assinaturas; nomes das testemunhas instrumentárias (duas, pelo menos) respectivas
assinaturas, com o número do documento da identidade (RG) e órgão expedidor e o visto de
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advogado, sendo este último não determinado para as Microempresas (ME) e as Empresas de
Pequeno Porte (EPP).
Podem ser sócios: desde que não haja empecilho legal, os absolutamente capazes e o
menor emancipado. Os menores, desde que devidamente representados.
Não podem ser sócios: os estrangeiros sem visto permanente.
Nome empresarial: obedecerá ao princípio da veracidade e da novidade, incorporando
os dados específicos ou complementares exigidos ou não proibidos em lei (tanto na razão social
como na denominação social deve haver a indicação do objeto social).
Capital social: as quotas serão correspondentes ao montante da contribuição de cada
sócio. Poderão ser utilizados para integralização de capital quaisquer bens, desde que suscetí-
veis de avaliação em dinheiro.
Filiais: é necessário que o instrumento de constituição para cada uma delas indique o
respectivo município e endereço completo.
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Quando o instrumento de alteração for requerido por deliberação majoritária, deverá cons-
tar do preâmbulo apenas o nome dos sócios que dela fazem parte e que a deliberação se faz
por maioria do capital.
O instrumento de alteração pode conter a hipótese de a sociedade adquirir quotas de sócio
quando houver quotas liberadas, ou seja, integralizadas, desde que o faça com fundos disponí-
veis e sem ofensa ao capital, por acordo dos sócios; e quotas não liberadas de sócio remisso
excluído, desde que o faça com fundos disponíveis e sem ofensa ao capital.
As alterações contratuais, quando registradas por instrumento particular, serão assinadas
por todos os sócios e por duas testemunhas, salvo na hipótese de determinação majoritária.
Em hipótese alguma os registros de instrumentos de alterações sociais representam a
constituição de nova sociedade.
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4. Realidade: a cifra do capital deve corresponder ao valor real das entradas feitas
pelos sócios;
5. Intangibilidade: os sócios não podem “beliscar” o capital social, ou seja, não po-
dem tocar neste fundo permanente enquanto a sociedade continua operando e os
credores não foram integralmente satisfeitos.
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União;
Estados, DF e Territórios; Associações;
Municípios; Estados estrangeiros; Sociedades;
Autarquias, inclusive as associa- Todas as pessoas regidas pelo Fundações;
ções públicas; Dir eito Interno Público. Organizações Religiosas;
Demais entidades de caráter pú- Partidos públicos.
blico criadas por lei.
Lembre-se de que as pessoas jurídicas de direito público estão submetidas a regime dis-
tinto das pessoas jurídicas de direito privado, na medida em que têm suas regras sujeitas ao
Direito Administrativo, submetendo-se ao princípio da estrita legalidade.
Quanto às pessoas jurídicas de direito privado, é importante saber que não se limitam
àquelas previstas no art. 44 do CC, podendo existir outras, tais como os sindicatos, as confede-
rações, as federações, dentre outras.
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Art. 50, § 5o, CC. Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da
finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.
Confusão patrimonial:
Art. 50, § 2o, CC. Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato
entre os patrimônios, caracterizada por:
I – Cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou
vice-versa;
II – transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de
valor proporcionalmente insignificante; e
III – outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
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2. Sociedade
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• Incapazes;
• Impedidos; • Holding.
• Pessoas casadas.
Enunciado 213 da III Jornada de Direito Civil: O art. 997, inc. II, “não exclui a possibilidade
de sociedade simples utilizar firma ou razão social”.
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Art. 1.059 do CC. Os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias reti-
radas, a qualquer título, ainda que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantia
se distribuírem com prejuízo do capital.
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Art. 997 do CC. [...] IV – A quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V – As prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
Verifica-se que as sociedades simples (e isso vale também para as demais sociedades
contratuais) não podem ser administradas por pessoa jurídica, já que o dispositivo usa a
expressão pessoas naturais para se referir aos administradores.
Também não podem administrar a sociedade as pessoas mencionadas no art. 1.011, § 1o
do CC:
Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os conde-
nados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por
crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a eco-
nomia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da con-
corrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdu-
rarem os efeitos da condenação.
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Caso o contrato social não designe expressamente seus administradores, aplica-se o art.
1.013 do CC: “a administração da sociedade, nada dispondo o contrato social, compete separa-
damente a cada um dos sócios”. Dispõem seus parágrafos: § 1 o: “se a administração competir
separadamente a vários administradores, cada um pode impugnar operação pretendida por ou-
tro, cabendo a decisão aos sócios, por maioria de votos”; § 2 o: “responde por perdas e danos
perante a sociedade o administrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que
estava agindo em desacordo com a maioria”.
E, ainda, o art. 1.014 do CC, que prevê que: “nos atos de competência conjunta de vários
administradores, torna-se necessário o concurso de todos, salvo nos casos urgentes, em que a
omissão ou retardo das providências possa ocasionar dano irreparável ou grave”.
Nada impede que os sócios, embora não tenham designado o administrador no próprio
contrato social, façam-no em ato separado posteriormente. Nesse caso, deve-se atentar apenas
para a imprescindibilidade de averbação do ato no órgão de registro da sociedade, em obediên-
cia ao art. 1.012 do CC: “o administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-
lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de requerer a averba-
ção, responde pessoal e solidariamente com a sociedade”.
A diferença entre o administrador nomeado no contrato social e o administrador nomeado
em ato separado está no fato de que os poderes daquele, caso seja sócio, são, em tese, irrevo-
gáveis, salvo por decisão judicial que reconheça a ocorrência de justa causa para a revogação.
Já os poderes de administrador não sócio ou de administrador designado em ato separado, ainda
que sócio, são revogáveis a qualquer tempo pela vontade dos demais, conforme prevê o art.
1.019 do CC:
São irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expressa
do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos
sócios. Parágrafo único. São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio
por ato separado, ou a quem não seja sócio.
Nota-se que sócio administrador contratualmente nomeado possui uma espécie de esta-
bilidade, podendo representar aos demais sócios um grave comprometimento de seus interes-
ses. Para afastar essa estabilidade, a nomeação dos administradores pode ser processada por
ato separado. Esse termo, para efeito de eficácia externa, deverá ser averbado à margem da
inscrição da sociedade. Importa mencionar que, ainda que nomeado administrador no próprio
contrato, o não sócio não está protegido contra a destituição.
A atividade do administrador é personalíssima, não podendo outrem exercer suas fun-
ções; o máximo permitido é a delegação de certas atividades a mandatários, nos termos do art.
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1.018 do CC: “ao administrador é vedado fazer-se substituir no exercício de suas funções, sendo-
lhe facultado, nos limites de seus poderes, constituir mandatários da sociedade, especificados
no instrumento os atos e operações que poderão praticar”.
Teoria orgânica: prevê o art. 1.022 do CC que “a sociedade adquire direitos, assume
obrigações e procede judicialmente por meio de administradores com poderes especiais, ou, não
os havendo, por intermédio de qualquer administrador”.
Os administradores são os representantes legais da sociedade. De acordo com a teoria
orgânica, o administrador não é tecnicamente representante, mas presentante (órgão integrante
da própria sociedade, que externa a sua vontade, ou seja, torna-a presente). Não obstante, o art.
1.011, § 2o, do CC dispõe que “aplicam-se à atividade dos administradores, no que couber, as
disposições concernentes ao mandato”.
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Não havendo mais bens sociais a serem executados, a responsabilidade dos sócios pelas
dívidas sociais remanescentes será determinada pelo tipo societário escolhido: na sociedade em
nome coletivo, todos responderão de forma ilimitada e solidária (art. 1.039 do CC); na sociedade
em comandita simples, apenas os comanditados responderão de forma ilimitada e solidária (art.
1.045 do CC); e na sociedade limitada, nenhum sócio responderá, salvo se o capital não estiver
integralizado, caso em que todos responderão solidariamente pelo que faltar a integralizar (art.
1.052 do CC).
Em se tratando de sociedade simples “pura”, a responsabilidade, em princípio, é ilimitada,
mas não solidária, conforme previsão do art. 1.023 do CC: “se os bens da sociedade não lhe
cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das per-
das sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária”.
Destaque-se, porém, que a parte final do dispositivo legal em questão ressalva a possibi-
lidade de pactuação de cláusula de responsabilidade solidária, tornando a responsabilidade
dos sócios da sociedade simples “pura”, nesse caso, igual à dos sócios de uma sociedade em
nome coletivo.
Essa cláusula de responsabilidade solidária é a prevista no art. 997, VIII, do CC, que
estabelece a possibilidade de o contrato social prever “se os sócios respondem, ou não, subsi-
diariamente, pelas obrigações sociais”.
Art. 1.025 do CC. O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das dívidas
sociais anteriores à admissão.
Art. 1.032 do CC. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdei-
ros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada
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a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual
prazo, enquanto não se requerer a averbação.
Os ministros da 3ª turma do STJ reconheceram que o sócio que sai da sociedade res-
ponde por dívidas sociais até dois anos após sua saída, mas destacaram que essa responsabi-
lidade se refere a dívidas anteriores à sua saída, e não a dívidas posteriores no julgamento do
REsp 1.537.521/RJ (STJ, rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva – 3ª T. – DJe 5 -2 -2019).
Art. 1.026 do CC. O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros bens do
devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou
na parte que lhe tocar em liquidação.
Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquida-
ção da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma do art. 1.031, será depositado em
dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após aquela liquidação.
Esse dispositivo admite a penhora de quotas para execução de dívida particular de sócio,
nesses casos, aplica-se a regra do art. 861 do CPC.
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demais casos de deliberação dos sócios, a maioria absoluta, se outra mais qualificada não for
prevista no contrato”.
Art. 1.010, § 2o, do CC. Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no
caso de empate, e, se este persistir, decidirá o juiz.
A maioria absoluta não diz respeito ao número de sócios votantes, mas ao valor de suas
quotas. A aferição do número de sócios votantes será importante, entretanto, quando pelo valor
das quotas houver empate na votação. Nesse caso, prevalecerá a decisão que teve o apoio da
maior quantidade de sócios. No caso de empate também no número de sócios, a matéria deverá
ser levada ao Poder Judiciário. Lembrando que, conforme art. 1.101, § 3 o, responderá por perdas
e danos sócio que, tendo interesses contrários a sociedade, participar de deliberação que aprove
graças a seu voto.
4.4.3. Retirada nos casos de prazo determinado ou indeterminado. Além dos casos pre-
vistos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade: I – se de prazo
indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de ses-
senta dias, a contar da notificação do último sócio. Nesta hipótese, observar-se-á o se-
guinte: a) passado o prazo, deverá ser providenciado arquivamento da notificação, que
poderá ser por qualquer forma que ateste a cientificação dos sócios; b) a junta anotará no
cadastro da empresa a retirada do sócio; c) a sociedade deverá, na alteração contratual
seguinte, regularizar o quadro societário; e II – se de prazo determinado, provando judici-
almente justa causa.
Ainda, deve-se observar o que trata o art. 1.030 sobre a exclusão do sócio:
Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído
judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumpri-
mento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou
aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026.
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a) o sócio remisso, por iniciativa da maioria dos demais sócios, poderá ser excluído
da sociedade, exclusão essa que se realizará de forma extrajudicial;
b) o sócio declarado falido ou civilmente insolvente, na forma das respectivas leis
de regência, bem como o sócio cuja quota for liquidada nos termos do parágrafo
único do art. 1.026 do Código, serão, de pleno direito, excluídos da sociedade, ex-
clusão essa que se dá, portanto, no plano extrajudicial;
c) o sócio que incorrer em falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou,
ainda, o sócio declarado incapaz por fato superveniente, poderão ser excluídos
por decisão da maioria dos demais sócios, mas a exclusão far-se-á judicialmente.
Importante salientar ainda que, no que diz respeito à apuração de haveres, o ideal é que
esteja disciplinado no próprio contrato social, estabelecendo:
a) O critério de apuração dos haveres (art. 606, CPC).
b) A forma e prazo de pagamento dos haveres (art. 604, §§ 1 o a 3o, CPC).
c) Os direitos do sócio durante a apuração dos haveres (art. 608, parágrafo único,
CPC).
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A regência supletiva não pode ser absoluta, somando-se ao texto da lei da sociedade
limitada todo o texto das normas das sociedades simples ou todo o texto da lei das sociedades
anônimas. Tal forma de regência encontra seus limites no critério de compatibilidade, enten-
dida esta como a necessidade de se respeitar as questões ligadas à natureza e às finalidades
econômicas e empresariais das sociedades, bem como de não lesar normas gerais e abstratas
não adstritas à vontade dos sócios.
Os limites de regência supletiva se aplicam tanto em relação à sociedade anônima como
em relação à sociedade simples.
Tratando-se de direitos disponíveis, reguláveis no contrato social por conta do contratua-
lismo da sociedade, as regras do contrato prevalecem em detrimento das normas de regên-
cia supletiva, ainda que, sobre a questão, o capítulo da sociedade limitada seja omisso.
A regência supletiva não deve implicar a transformação do tipo societário. Assim, a limi-
tada não deve transformar-se em subespécie de sociedade anônima ou subespécie de socie-
dade simples. Não pode ainda implicar a descaracterização, desnaturação, perda de flexibilidade
e adaptabilidade, que são as principais riquezas da sociedade limitada, juntamente com a res-
ponsabilidade limitada dos sócios.
Art. 997 do CC. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público,
que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I – nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas natu-
rais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II – denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III – capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer
espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV – a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V – as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VI – as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e
atribuições;
VII – a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII – se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
Cláusulas obrigatórias:
• Qualificação dos sócios: sócio incapaz, sócio impedido e sócios casados.
• Qualificação da sociedade: nome empresarial, objeto, sede e prazo.
• Capital social: funções, diferença para o patrimônio e “subcapitalização”.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 1.055 do CC. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma
ou diversas a cada sócio.
§ 1o Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente
todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade.
Art. 1.005 do CC. O sócio que, a título de quota social, transmitir domínio, posse ou uso,
responde pela evicção; e pela solvência do devedor, aquele que transferir crédito.
Art. 35, VII, ‘a’, da Lei no 8.934/1994: o contrato social deve conter “a descrição e identi-
ficação do imóvel, sua área, dados relativos à sua titulação, bem como o número da ma-
trícula no registro imobiliário”.
O arquivamento de contrato social com essa estipulação não é suficiente para transferir a
propriedade do imóvel do sócio para a sociedade. Deve-se observar o art. 64 da Lei no
33
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
8.934/1994. Após fazer o arquivamento do contrato social, pega-se a certidão da Junta Comer-
cial para que ela seja levada a registro no cartório de imóveis, e é isso o que operará a transfe-
rência de titularidade do bem.
34
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
acrescenta que a cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive para os fins do
parágrafo único do art. 1.003, a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos
sócios anuentes.
2.2.9.2. IN 81 do DREI
Item 4.4.2 do Manual de Registro da Sociedade Limitada:
Na omissão do contrato social, a cessão de quotas de uma sociedade limitada pode ser
feita por instrumento de cessão de quotas, total ou parcialmente, averbado junto ao
registro da sociedade, com a devida repercussão no cadastro e independentemente de
alteração contratual (Enunciado no 225 das Jornadas de Direito Civil.
Notas:
I. A reunião ou assembleia de sócios pode ser suprida, se substituída pela expressa
anuência escrita, no instrumento de cessão ou em outro, de detentores de mais de setenta
e cinco por cento do capital social da limitada em questão.
II. Será obrigatória, na primeira alteração contratual que sobrevier após a averbação da
cessão, a consolidação do Contrato Social, com o novo quadro societário.
35
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
2.2.11. Administração
A administração da sociedade compete a uma ou mais pessoas, que serão designadas
no contrato social ou em ato separado. Pode, também, haver a criação de um conselho de ad-
ministração.
É importante lembrar que, conforme parágrafo único do art. 1.060 do CC, a administração
atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente
adquiram essa qualidade.
Em 2022 houve uma importante alteração do art. 1.061, do CC, por meio da Lei nº 14.451,
de 2022, que diz respeito ao quórum necessário para aprovação de designação de administrado-
res, conforme segue:
Da mesma forma, houve alteração no que diz respeito à saída do sócio administrador,
conforme se depreende do art. 1.076, do CC.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 1.076. Ressalvado o disposto no art. 1.061, as deliberações dos sócios serão toma-
das (Redação dada pela Lei nº 13.792, de 2019)
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.451, de 2022) Vigência
II - pelos votos correspondentes a mais da metade do capital social, nos casos previstos
nos incisos II, III, IV, V, VI e VIII do caput do art. 1.071 deste Código; (Redação dada pela
Lei nº 14.451, de 2022) Vigência
III - pela maioria de votos dos presentes, nos demais casos previstos na lei ou no contrato,
se este não exigir maioria mais elevada.
Ou seja:
Deve ser
Capital não
aprovado por 2/3
integralizado
dos sócios
Administrador
não sócio
Capital
Maioria simples
integralizado
Administrador
Votos
Nomeado no
correspondentes
contrato
maioria simples
Administrador
sócio
Votos
Nomeado em
correspondentes
ato separado
maioria simples
Da saída do administrador:
Término do
Administrador
prazo
Saída do
Renúncia
Destituição
Art. 1.062 do CC. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo me-
diante termo de posse no livro de atas da administração.
§ 1° Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta se tornará
sem efeito.
§ 2° Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja aver-
bada sua nomeação no registro competente, mencionando o seu nome, nacionalidade,
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
estado civil, residência, com exibição de documento de identidade, o ato e a data da no-
meação e o prazo de gestão.
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Direito Empresarial
2.2.14. Assembleia
Depreende-se do art. 1.078 do CC que a assembleia deverá ser realizada pelo menos
uma vez ao ano, nos quatro meses seguintes ao término do exercício social, tendo como objetivo:
• Tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o
resultado econômico;
• Designar administradores, se for o caso;
• Tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do dia.
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credores da companhia, mas sócios e partes interessadas no sucesso da empresa, pois é dele
que advirá o retorno do investimento feito por eles.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
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Direito Empresarial
Preferida a escritura pública, será ela assinada por todos os subscritores, e conterá: a) a
qualificação dos subscritores, nos termos do art. 85; b) o estatuto da companhia; c) a re-
lação das ações tomadas pelos subscritores e a importância das entradas pagas; d) a
transcrição do recibo do depósito referido no número III do art. 80; e) a transcrição do
laudo de avaliação dos peritos, caso tenha havido subscrição do capital social em bens
(art. 8o); f) a nomeação dos primeiros administradores e, quando for o caso, dos fiscais.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
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Direito Empresarial
Deferido o arquivamento dos atos constitutivos da companhia pela Junta Comercial, de-
vem os administradores providenciar a publicação de tais atos na imprensa oficial de sua locali-
dade, nos termos do art. 98 da LSA: “arquivados os documentos relativos à constituição da
companhia, os seus administradores providenciarão, nos 30 (trinta) dias subsequentes, a publi-
cação deles, bem como a de certidão do arquivamento, em órgão oficial do local de sua sede”.
Cumpridas todas as formalidades anteriormente detalhadas, a sociedade anônima po-
derá, enfim, entrar em funcionamento. Assim, se a companhia começar a exercer suas atividades
antes de cumpridas as formalidades complementares ora em análise, será considerada irregular,
determinando, inclusive, o art. 99, parágrafo único, da LSA que “a companhia não responde
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
pelos atos ou operações praticados pelos primeiros administradores antes de cumpridas as for-
malidades de constituição, mas a assembleia geral poderá deliberar em contrário”. Isso significa
que os atos e operações praticados pelos primeiros administradores antes de cumpridas as for-
malidades de constituição são de responsabilidade deles, e não da companhia, salvo se a as-
sembleia geral, por exemplo, ratificar tais atos.
Finalmente, caso sobrevenha algum prejuízo para a companhia em razão de atraso na
satisfação de todas essas exigências formais da lei, prevê o art. 99 da LSA que os primeiros
administradores devem responder perante a sociedade, podendo esta ingressar com ação de
reparação civil contra eles: “os primeiros administradores são solidariamente responsáveis pe-
rante a companhia pelos prejuízos causados pela demora no cumprimento das formalidades
complementares à sua constituição”.
Ainda, as ações são classificadas quanto aos direitos conferidos aos acionistas. Assim,
podem ser ordinárias, preferenciais ou de fruição, conforme art. 15 da LSA.
1
O patrimônio líquido da S/A é calculado pela diferença entre o seu ativo e seu passivo.
47
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
As ações comuns são as ordinárias e segundo art. 110, cada ação ordinária corresponde
a um voto nas deliberações tomadas em assembleia geral.
Como mencionado no item 2.8.1, a Lei 14.195/2021 passou a disciplinar o voto plural
(artigo 110-A), e a principal mudança é a permissão para que as empresas emitam ações ordi-
nárias, com maior poder de voto. Na prática, a mudança permite que acionistas com uma parti-
cipação pequena no capital e no interesse econômico da companhia controlem os rumos da
empresa. O voto plural pode ter peso de até 10 votos.
Assim, uma empresa que tenha 100% do capital somente com ações ordinárias poderá
ter um controlador com 9,1% desses papéis especiais, considerando que cada "super ação ordi-
nária" tenha peso de 10 votos.
As ações preferenciais impõem vantagens ao seu titular. O art. 17 indica que podem
constituir: I - em prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo; II - em prioridade no
reembolso do capital, com prêmio ou sem ele; ou III - na acumulação das preferências e vanta-
gens de que tratam os incisos I e II.
Assim, por força do art. 18, as ações preferenciais garantem certas vantagens políticas.
Isso porque, "o estatuto pode assegurar a uma ou mais classes de ações preferenciais o direito
de eleger, em votação em separado, um ou mais membros dos órgãos de administração".
Uma questão que merece todo cuidado é o tema que trata do direito de voto nas ações
preferenciais. A questão é relevante tendo em vista que o art. 1112 indica que "estatuto poderá
deixar de conferir às ações preferenciais algum ou alguns dos direitos reconhecidos às ações
ordinárias, inclusive o de voto, ou conferi-lo com restrições".
Uma das categorias das ações preferenciais é a chamada golden share3. Trata-se da
possibilidade de uma classe possuir direito de veto, por exemplo. O art. 17, da LSA, indica que
tais ações podem ser usadas por qualquer ente da União.
Por fim, em relação às ações de fruição, tem-se que estas estão praticamente em de-
suso. Sua previsão está no art. 44 que refere que "estatuto ou a assembleia-geral extraordinária
2
§ 1º As ações preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício desse direito se a companhia, pelo prazo
previsto no estatuto, não superior a 3 (três) exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou
mínimos a que fizerem jus, direito que conservarão até o pagamento, se tais dividendos não forem cumulativos,
ou até que sejam pagos os cumulativos em atraso.
§ 2º Na mesma hipótese e sob a mesma condição do § 1º, as ações preferenciais com direito de voto restrito terão
suspensas as limitações ao exercício desse direito.
§ 3º O estatuto poderá estipular que o disposto nos §§ 1º e 2º vigorará a partir do término da implantação do em-
preendimento inicial da companhia.
3
A Lei 8.031/1990 institui o Plano Nacional de Desestatização e previu que “sempre que houver razões que o
justifiquem, a União deterá, direta ou indiretamente, ações de classe especial do capital social de empresas privati-
zadas, que lhe confiram poder de veto em determinadas matérias".
48
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
4
A amortização consiste na distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem redução do capital social, de
quantias que lhes poderiam tocar em caso de liquidação da companhia. As ações integralmente amortizadas pode-
rão ser substituídas por ações de fruição, com as restrições fixadas pelo estatuto ou pela assembléia-geral que
deliberar a amortização; em qualquer caso, ocorrendo liquidação da companhia, as ações amortizadas só concor-
rerão ao acervo líquido depois de assegurado às ações não a amortizadas valor igual ao da amortização, corrigido
monetariamente.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Outros direitos, por sua vez, são não essenciais. É o caso do direito de voto. O pará-
grafo único do art. 125 refere que "os acionistas sem direito de voto podem comparecer à as-
sembleia-geral e discutir a matéria submetida à deliberação". Ou seja, o direito de voz é garantido
a todos, porém, o de voto somente aos que podem exercê-lo em razão da natureza das ações
que possuem.
A LSA é muito clara no que diz respeito às ações que estão com alguma restrição (penhor,
alienação fiduciária, ou gravadas com usufruto):
Art. 113, da LSA O penhor da ação não impede o acionista de exercer o direito de voto;
será lícito, todavia, estabelecer, no contrato, que o acionista não poderá, sem consenti-
mento do credor pignoratício, votar em certas deliberações.
Parágrafo único. O credor garantido por alienação fiduciária da ação não poderá exercer
o direito de voto; o devedor somente poderá exercê-lo nos termos do contrato.
Art. 114, da LSA O direito de voto da ação gravada com usufruto, se não for regulado no
ato de constituição do gravame, somente poderá ser exercido mediante prévio acordo en-
tre o proprietário e o usufrutuário.
O voto pode ser considerado abusivo ou conflitante. Será considerado abusivo quando
o voto é exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter,
para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo
para a companhia ou para outros acionistas (Art. 115).
Por sua vez, o parágrafo único indica que
O acionista, além de responder pelos danos causados, pode ter suspenso em assembleia
o exercício dos direitos de voto (art. 120). A forma que se dão os votos é muito importante para
a compreensão de uma companhia.
Dentro do âmbito do Direito de Voto ganha grande relevância a definição legal de um
acionista controlador.
Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pes-
soas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Ou seja, não basta ser titular de grande parte das ações (percentual do capital votante
que confere maioria na assembleia e possibilidade de eleição da maioria dos administradores),
mas sim é preciso identificar se esse controle é utilizado efetivamente.
Um sócio majoritário não é necessariamente um sócio controlador. O art. 117 impõe que
"o acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de po-
der56". Assim, podem existir votos que são vistos como votos de controle societário (exercido
pelos sócios) ou de controle empresarial (exercido pelos administradores).
5
Art. 117, § 1º São modalidades de exercício abusivo de poder:
a) orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou lesivo ao interesse nacional, ou levá-la a favorecer
outra sociedade, brasileira ou estrangeira, em prejuízo da participação dos acionistas minoritários nos lucros ou no
acervo da companhia, ou da economia nacional;
b) promover a liquidação de companhia próspera, ou a transformação, incorporação, fusão ou cisão da companhia,
com o fim de obter, para si ou para outrem, vantagem indevida, em prejuízo dos demais acionistas, dos que traba-
lham na empresa ou dos investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;
c) promover alteração estatutária, emissão de valores mobiliários ou adoção de políticas ou decisões que não te-
nham por fim o interesse da companhia e visem a causar prejuízo a acionistas minoritários, aos que trabalham na
empresa ou aos investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;
d) eleger administrador ou fiscal que sabe inapto, moral ou tecnicamente;
e) induzir, ou tentar induzir, administrador ou fiscal a praticar ato ilegal, ou, descumprindo seus deveres definidos
nesta Lei e no estatuto, promover, contra o interesse da companhia, sua ratificação pela assembléia-geral;
f) contratar com a companhia, diretamente ou através de outrem, ou de sociedade na qual tenha interesse, em
condições de favorecimento ou não equitativas;
g) aprovar ou fazer aprovar contas irregulares de administradores, por favorecimento pessoal, ou deixar de apurar
denúncia que saiba ou devesse saber procedente, ou que justifique fundada suspeita de irregularidade.
h) subscrever ações, para os fins do disposto no art. 170, com a realização em bens estranhos ao objeto social da
companhia.
6
Art. 246. A sociedade controladora será obrigada a reparar os danos que causar à companhia por atos pratica-
dos com infração ao disposto nos Arts. 116 e 117.
§ 1º A ação para haver reparação cabe:
a) a acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do capital social;
b) a qualquer acionista, desde que preste caução pelas custas e honorários de advogado devidos no caso de vir a
ação ser julgada improcedente.
§ 2º A sociedade controladora, se condenada, além de reparar o dano e arcar com as custas, pagará honorários
de advogado de 20% (vinte por cento) e prêmio de 5% (cinco por cento) ao autor da ação, calculados sobre o va-
lor da indenização.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Administradores
Gerencial
detém o poder
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 1.043 do CC. O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a socie-
dade, pretender a liquidação da quota do devedor.
Parágrafo único. Poderá fazê-lo quando:
I – a sociedade houver sido prorrogada tacitamente;
II – tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição do credor,
levantada no prazo de noventa dias, contado da publicação do ato dilatório.
2.4.5. Dissolução
A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art.
1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência (art. 1.044 do CC.)
53
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 281. A sociedade poderá comerciar sob firma ou razão social, da qual só farão parte
os nomes dos sócios-diretores ou gerentes. Ficam ilimitada e solidariamente responsá-
veis, nos termos desta Lei, pelas obrigações sociais, os que, por seus nomes, figurarem
na firma ou razão social.
Parágrafo único. A denominação ou a firma deve ser seguida das palavras “Comandita
por Ações”, por extenso ou abreviadamente.
Art. 1.157. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada operará sob
firma, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar, bastando para formá-la aditar
ao nome de um deles a expressão “e companhia” ou sua abreviatura.
Parágrafo único. Ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas obrigações contraí-
das sob a firma social aqueles que, por seus nomes, figurarem na firma da sociedade de
que trata este artigo.
Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denomi-
nação aditada da expressão “comandita por ações”, facultada a designação do objeto so-
cial.
Art. 282. Apenas o sócio ou acionista tem qualidade para administrar ou gerir a sociedade,
e, como diretor ou gerente, responde, subsidiária mas ilimitada e solidariamente, pelas
obrigações da sociedade.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 1.091 do CC. Somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e,
como diretor, responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade.
§ 1º Se houver mais de um diretor, serão solidariamente responsáveis, depois de esgota-
dos os bens sociais.
§ 2º Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem limitação de
tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação de acionistas que representem
no mínimo dois terços do capital social.
§ 3º O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos, responsável pelas
obrigações sociais contraídas sob sua administração.
Art. 283. A assembleia geral não pode, sem o consentimento dos diretores ou gerentes,
mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou
diminuir o capital social, emitir debêntures ou criar partes beneficiárias nem aprovar a par-
ticipação em grupo de sociedade.
Art. 284. Não se aplica à sociedade em comandita por ações o disposto nesta Lei sobre
conselho de administração, autorização estatutária de aumento de capital e emissão de
bônus de subscrição.
Código Civil:
Art. 1.092 do CC. A assembleia geral não pode, sem o consentimento dos diretores, mu-
dar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou dimi-
nuir o capital social, criar debêntures, ou partes beneficiárias.
2.4.8. Cooperativas
2.4.8.1. Tratamento constitucional: criação livre
55
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
56
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
2.4.8.8. Administração
A cooperativa será administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administração, com-
posto exclusivamente de associados eleitos pela Assembleia Geral, com mandato nunca
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
superior a quatro anos, sendo obrigatória a renovação de, no mínimo, 1/3 do Conselho de Admi-
nistração.
2.4.8.9. Fundos
Fundos de reserva são destinados a reparar perdas e a atender ao desenvolvimento de
suas atividades, constituído com 10%, pelo menos, das sobras líquidas do exercício, já os Fun-
dos de Assistência Técnica, Educacional e Social são destinados à prestação de assistência aos
associados, seus familiares e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa;
constituído, pelo menos, das sobras líquidas apuradas no exercício.
2.4.8.10. Associados
O ingresso nas cooperativas é livre a todos que desejarem utilizar os serviços prestados
pela sociedade, desde que façam a adesão aos propósitos sociais e preencham as condições
estabelecidas no estatuto. A previsão legal está contida nos arts. 30 e 31, ambos da Lei no
5.764/1971.
Além disso, o órgão normativo respectivo pode restringir a admissão de associados às
pessoas que exerçam determinada atividade ou profissão, ou que estejam vinculadas a determi-
nada entidade.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
2.5.1. Transformação
A transformação é operação pela qual a sociedade altera o seu tipo societário (por exem-
plo: uma sociedade limitada que passa a ser uma sociedade anônima). Não há mudança no
quadro societário, no patrimônio e nas obrigações. Não há que se falar em sucessão, e os bens
continuam sob mesma titularidade, sendo preciso apenas averbar no órgão de registro o novo
nome da sociedade.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 220, da Lei das S/A. A transformação é a operação pela qual a sociedade passa,
independentemente de dissolução e liquidação, de um tipo para outro. Parágrafo único. A
transformação obedecerá aos preceitos que regulam a constituição e o registro do tipo a
ser adotado pela sociedade.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
2.5.3. Incorporação
Na incorporação, não surgirá uma nova sociedade. Apenas a sociedade incorporada de-
saparecerá, e será sucedida pela sociedade incorporadora em todos os seus direitos e obriga-
ções (art. 1.116 do CC e art. 227 da LSA):
Art. 1.117. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá aprovar as bases
da operação e o projeto de reforma do ato constitutivo.
§ 1º A sociedade que houver de ser incorporada tomará conhecimento desse ato, e, se o
aprovar, autorizará os administradores a praticar o necessário à incorporação, inclusive a
subscrição em bens pelo valor da diferença que se verificar entre o ativo e o passivo.
§ 2º A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora compreenderá a nomeação dos
peritos para a avaliação do patrimônio líquido da sociedade, que tenha de ser incorporada.
Art. 227, § 3º. Aprovados pela assembleia geral da incorporadora o laudo de avaliação e
a incorporação, extingue-se a incorporada, competindo à primeira promover o arquiva-
mento e a publicação dos atos da incorporação.
2.5.4. Fusão
A fusão determina a extinção das sociedades que se unem, para formar sociedade
nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações (art. 1.119 do CC e art. 228 da LSA). Ou
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
2.5.5. Cisão
A cisão pode ser definida, sucintamente, como transferência de patrimônio de uma socie-
dade para outra. Se se transferem apenas alguns bens da sociedade cindida, há uma cisão
parcial. Por outro lado, havendo a transferência de todos os bens da sociedade cindida, há uma
cisão total, e nesse caso a sociedade cindida se extingue (art. 229 da LSA):
Art. 229. § 2o Na cisão com versão de parcela do patrimônio em sociedade nova, a ope-
ração será deliberada pela assembleia geral da companhia à vista de justificação que in-
cluirá as informações de que tratam os números do art. 224; a assembleia, se a aprovar,
nomeará os peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser transferida, e funcionará
como assembleia de constituição da nova companhia.
§ 3o A cisão com versão de parcela de patrimônio em sociedade já existente obedecerá
às disposições sobre incorporação (art. 227).
§ 4o Efetivada a cisão com extinção da companhia cindida, caberá aos administradores
das sociedades que tiverem absorvido parcelas do seu patrimônio promover o arquiva-
mento e publicação dos atos da operação; na cisão com versão parcial do patrimônio,
esse dever caberá aos administradores da companhia cindida e da que absorver parcela
do seu patrimônio.
§ 5o As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida serão atri-
buídas a seus titulares, em substituição às extintas, na proporção das que possuíam; a
atribuição em proporção diferente requer aprovação de todos os titulares, inclusive das
ações sem direito a voto.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Processo Ordinário
Heterocomposição:
decisão de um JEC
terceiro
Arbitragem
Métodos adequados
de resolução de Autocomposição:
conflitos solução consensual Negociação
entre parte
Conciliação
Autocomposição
Assistida:
partes chegam a um
consenso, com
auxílio de terceiro
Mediação
3.2. Arbitragem
Arbitragem é um método heterocompositivo e extrajudicial de solução de conflitos, por
meio do qual o terceiro imparcial (árbitro ou Tribunal Arbitral), escolhido pelas partes, profere
sentença para solucionar a controvérsia submetida à sua análise, nos limites fixados na conven-
ção de arbitragem.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral
mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o
compromisso arbitral.
• Cláusula compromissória;
• Compromisso arbitral.
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Direito Empresarial
§ 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo ou
tribunal, onde tem curso a demanda.
§ 2º O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular, assinado
por duas testemunhas, ou por instrumento público.
Art. 10. Constará, obrigatoriamente, do compromisso arbitral:
I - o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes;
II - o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso, a identifica-
ção da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros;
III - a matéria que será objeto da arbitragem; e
IV - o lugar em que será proferida a sentença arbitral.
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Direito Empresarial
• A LBA, nesse sentido, adotou, em seu art. 7.º, um mecanismo próprio para permitir
a execução específica da cláusula compromissória quando houver resistência de
uma das partes em instaurar o procedimento, por meio de sua instauração judicial.
• Negativo: derroga a jurisdição estatal, submetendo as partes à jurisdição dos árbi-
tros.
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Direito Empresarial
designadas, geralmente, por ordem processual. Raramente são feitos despachos de expediente,
visto que o procedimento tende a correr de forma espontânea.
Art. 19. Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo árbitro,
se for único, ou por todos, se forem vários.
§ 1o Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral que há necessi-
dade de explicitar questão disposta na convenção de arbitragem, será elaborado, junta-
mente com as partes, adendo firmado por todos, que passará a fazer parte integrante
da convenção de arbitragem.
3.2.9. Princípios
Princípio do contraditório
e da ampla defesa: arts. 5º,
LV da CF e 21, §2º da LBA
Princípio da igualdade:
art. 5º, caput e inciso I da
Princípios impositivos CF
(devem ser observados,
sob pena de nulidade do
procedimento arbitral)
Livre convencimento
Imparcialidade e
independência Jurídica
dos árbitros: art. 5º,
XXXVII e LIII da CF
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Direito Empresarial
Art. 21, § 3º. As partes poderão postular por intermédio de advogado, respeitada, sempre,
a faculdade de designar quem as represente ou assista no procedimento arbitral.
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Direito Empresarial
Art. 19, LA. Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo árbitro,
se for único, ou por todos, se forem vários.
§ 1o Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral que há neces-
sidade de explicitar questão disposta na convenção de arbitragem, será elaborado, junta-
mente com as partes, adendo firmado por todos, que passará a fazer parte integrante da
convenção de arbitragem.
§ 2o A instituição da arbitragem interrompe a prescrição, retroagindo à data do requeri-
mento de sua instauração, ainda que extinta a arbitragem por ausência de jurisdição.
3.2.11. Competência-competência
Oriundo do direito alemão, o princípio da “competência-competência” está contido no pa-
rágrafo único do art. 8º, da LA: “Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes,
as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato
que contenha a cláusula compromissória”.
Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a
recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.
Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos
da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui
título executivo.
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4. Contratos Empresariais
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Direito Empresarial
O estatuto material revogou grande parte do Código Comercial de 1850, circunstância que
deixou as relações empresariais sem um conjunto normativo próprio. Todavia, não foi apresen-
tada uma seção específica para tratar dessas relevantes relações, mesmo que nem todas as
regras obrigacionais civis sejam monoliticamente aplicadas ao Direito Empresarial e exista auto-
nomia entre ambas.
Importante sinalar que o Código Civil foi parcialmente alterado pela Lei n o 13.874/2019,
chamada de “Lei da Liberdade Econômica”, a qual promoveu importantes mudanças, em boa
parte aplicáveis aos contratos empresariais.
Art. 421 do CC. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do
contrato.
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da
intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.
Art. 421-A do CC. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e
simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa
presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido
também que:
I – as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a
interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de
resolução;
II – a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e
III – a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada.
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Direito Empresarial
vontade, ainda que não se despreze a potencial assimetria de informações ou de poder econô-
mico entre os envolvidos.
Na eventualidade de ser necessária uma readequação da avença, algo possível e even-
tualmente recomendável, a linha interpretativa não pode ser a mesma adotada nas legisla-
ções trabalhista, consumerista e mesmo a puramente civilista – afinal, como já afirmado,
apesar da revogação parcial do Código Comercial, o Direito Empresarial manteve sua auto-
nomia.
Oportuno, nesse momento, definir o exato alcance da legislação consumerista na relação
contratual da qual participem empresas. Como ensina a reiterada jurisprudência do Superior Tri-
bunal de Justiça (aqui representada pelo REsp n o 1599042 / SP, rel. Min. Luis Felipe Salomão,
rel. p/ Acórdão: Luis Felipe Salomão, 4ª T., j. 14-3-2017, DJe 9-5-2017):
consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza, como destinatá-
rio final, produto ou serviço oriundo de um fornecedor. Por sua vez, destinatário final,
segundo a teoria subjetiva ou finalista, adotada pela Segunda Seção desta Corte Superior,
é aquele que última a atividade econômica, ou seja, que retira de circulação do mercado
o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria, não
havendo, portanto, a reutilização ou o reingresso dele no processo produtivo. Logo,
a relação de consumo (consumidor final) não pode ser confundida com relação de insumo
(consumidor intermediário).
A partir dessa lição, percebemos que eventualmente o empresário será tratado como con-
sumidor, titular das garantias e normas protetivas do CDC. Normalmente atuará como “insumi-
dor”, e assim as regras aplicáveis serão as do próprio pacto, sob o pálio das regras gerais do
Código Civil e da Constituição Federal.
Postas tais premissas, percebe-se que o dirigismo contratual praticado pelo atual ordena-
mento jurídico (capitaneado pelos princípios da função social do contrato – art. 421 – e da probi-
dade e boa-fé – art. 422 – ambos do CC) atua de forma singular nas relações empresariais pelo
potencial efeito em toda a cadeia produtiva e econômica e o risco de irradiação dos efeitos inter-
ventivos para o mercado, tão sensível a quaisquer alterações não previstas ou precificadas. Jus-
tamente para definir melhor essa questão foi publicada a Lei no 13.874/2019, com as mudanças
já destacadas.
Se existe a importante função social do contrato, não se pode olvidar também a função
social da empresa como um dos pilares do Direito Empresarial.
De um lado, a necessidade de um sistema contratual socialmente justo, no qual os eco-
nomicamente mais frágeis ficam protegidos contra obrigações excessivamente onerosas; de ou-
tro, um importante princípio e vetor para o exercício da atividade econômica, tendo em vista que
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
o seu sentido advém da articulação entre os diversos princípios da ordem econômica constituci-
onal. Mais do que mera regra interpretativa e integrativa, a função social da empresa apresenta
abstenções e deveres positivos que orientam a atividade empresarial, de maneira a contemplar,
além dos interesses dos sócios, os interesses dos diversos sujeitos envolvidos, como é o caso
dos trabalhadores, dos consumidores, dos concorrentes, do poder público e da própria socie-
dade, compatibilizando os diversos interesses envolvidos na atividade econômica ao mesmo
tempo em que se busca a preservação da empresa e da atividade lucrativa.
No mesmo passo, percebe-se que as teorias da imprevisão e da onerosidade excessiva
(art. 478 do CC) não podem ser aplicadas indistintamente aos contratos empresariais, pois, como
anteriormente afirmado, uma certa dose de risco é seu elemento essencial.
O tratamento especial a incidir sobre os contratos empresariais também se justifica em
virtude do ambiente dinâmico e específico no qual estão inseridos. As regras comerciais miram
a rapidez de transações, e a otimização das ações e do ambiente econômico requerem uma
ampla margem de negociação dos contratos legalmente previstos, bem como demandam a
atipicidade contratual, possibilidade conferida às partes para a criação de contratos não pre-
vistos na legislação, amparados na expertise dos envolvidos e que visam atender necessida-
des de seus empreendimentos.
Os contratos atípicos não dispõem de regramentos próprios e estão expressamente con-
sagrados pelo art. 425 do CC. “é lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as nor-
mas gerais fixadas neste Código”.
Nesse tocante, leciona Paula Forgioni (Teoria Geral dos Contratos Empresariais. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 65):
Tratando-se de contrato atípico, a criação e interpretação devem ser fundadas nas regras
ordinárias aplicáveis aos contratos em geral e nos demais preceitos legais criados para situações
semelhantes. Haverá maior prevalência, claro, do princípio da força obrigatória dos contratos
(pacta sunt servanda), notadamente por se tratar de relação empresarial, admitindo-se a inge-
rência externa nas obrigações livremente pactuadas entre as partes somente em situações ex-
cepcionais.
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Direito Empresarial
20. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados entre em-
presários em que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se de insumos para sua
atividade de produção, comércio ou prestação de serviços.
21. Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em vista a
simetria natural das relações interempresariais.
23. Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer parâmetros ob-
jetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do pacto contratual.
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Direito Empresarial
25. A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no CC deve levar em conta
a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais, deve-se presumir a sofisti-
cação dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles acordada.
26. O contrato empresarial cumpre sua função social quando não acarreta prejuízo a di-
reitos ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não participantes da
relação negocial.
27. Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário, durante as negociações
do contrato empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar a prestação de
informações reservadas, confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de não colocar em
risco a competitividade de sua atividade.
28. Em razão do profissionalismo com que os empresários devem exercer sua atividade,
os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada na inex-
periência.
29. Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social do contrato e a
boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do CC), em conformidade com as especificidades dos
contratos empresariais.
Art. 481, CC. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir
o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.
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Direito Empresarial
compra e venda em atacado, ou poucas unidades de uma mesma mercadoria, quando então
teremos uma avença varejista.
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Direito Empresarial
do contrato, mas o domínio (portanto, a propriedade) somente será transferida após o pagamento
da última parcela, conforme os arts. 521 a 528 do CC.
Art. 521 do CC. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade,
até que o preço esteja integralmente pago. [...]
Art. 522 do CC. A cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e depende
de registro no domicílio do comprador para valer contra terceiros.
Art. 524 do CC. A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento em que
o preço esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador,
a partir de quando lhe foi entregue.
A venda com reserva de domínio restringe-se aos bens móveis e exige forma escrita,
pois, se não houver previsão expressa da reserva de domínio, aplicar-se-á a regra geral de que
a propriedade do bem móvel transfere-se com a tradição.
e) Venda sobre documentos: prevista nos arts. 529 a 532 do CC.
A tradição da coisa é substituída pela entrega de seu título representativo e de outros
documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos.
O pagamento, em regra, será feito na data e local da entrega dos documentos, que, es-
tando em ordem, não permite recusa sob alegação de defeito de qualidade ou estado da coisa
transacionada.
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Direito Empresarial
Assim, é o contrato no qual uma pessoa jurídica (arrendadora) arrenda a uma pessoa
física ou jurídica (arrendatária), por determinado tempo, um bem, móvel ou imóvel, de fabricação
nacional ou estrangeira (desde que autorizados pelo Conselho Monetário Nacional) comprado
pela primeira de acordo com as indicações da segunda.
O arrendador é o proprietário e possuidor indireto do bem (o que garante a viabilidade do
aforamento de reintegração de posse), sendo que a posse direta e o usufruto, durante a vigência
do contrato, são do arrendatário, o qual paga uma mensalidade para o exercício de tal direito. É
a marca central dessa espécie de operação e que a diferencia claramente de um financiamento
bancário, na qual o bem é de propriedade do mutuário, ainda que alienado, já no ato da compra.
No caso do leasing, o bem é adquirido pelo arrendador, que se torna seu proprietário. Este
concede o direito de uso do bem, mediante o pagamento de contraprestações, por um prazo
determinado. Ao fim do contrato, pode existir a possibilidade de compra do bem pelo arrendatá-
rio. Já no financiamento comum, a empresa compra o bem que deseja, utilizando recursos de
terceiros fornecedores do crédito, que reservam a si garantias de adimplemento. Ao quitar todas
as prestações, o adquirente se torna em definitivo titular do bem.
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Direito Empresarial
Esta distinção fica muito nítida no corriqueiro caso de aquisição de veículos, pois na hipó-
tese de leasing, os documentos são emitidos em nome da sociedade de arrendamento mercantil.
Com a quitação do contrato, o agente financeiro deverá, no prazo de até trinta dias úteis, após
recebimento destes documentos, remeter ao arrendatário o documento único de transferência
(DUT) do veículo devidamente assinado pela arrendadora, a fim de possibilitar que o arrendatário
providencie a respectiva transferência de propriedade do veículo junto ao departamento de trân-
sito do Estado (Lei no 11.649/2008).
Segundo a Lei no 6.099/1974, são requisitos básicos da contratação:
Dessa feita, percebemos que, ao final do contrato, caberá ao arrendatário solicitar a re-
novação da locação, encerrá-la ou adquirir o bem arrendado, mediante pagamento do valor
residual, menor do que o da sua aquisição inicial, se previamente fixado.
A partir dessas definições, podemos resumir as obrigações contratuais da seguinte forma:
Arrendador: adquirir o bem para ser dado em arrendamento; conceder a posse direta do
bem ao arrendatário; permitir seu pleno uso, embora mantenha a propriedade; vender o bem ao
final (caso haja interesse do arrendatário).
Arrendatário: pagar, na forma estabelecida, as prestações; conservar o bem arrendado,
respondendo pelos prejuízos que causar; encerrado o contrato, devolver o bem ao arrendador-
proprietário, caso não opte pela compra ou renovação do arrendamento.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
empresa, e esta última, ao adquirir o bem, em ato contínuo, o arrenda para a ven-
dedora. Existe então o retorno do bem para a primeira empresa.
3. Operacional ou renting: casos em que a sociedade é proprietária de bens e os dá
em arrendamento para terceiro, mediante o pagamento de determinadas parcelas.
Não há uma terceira pessoa nesta relação, porquanto o próprio fabricante ou ven-
dedor figurará como arrendante. Além disso, se compromete a prestar assistência
ao arrendatário por todo o período do arrendamento. Difere do modelo financeiro
pois neste sempre encontramos a obrigatoriedade do cumprimento da obrigação
contraída por todo o período do arrendamento, enquanto no leasing operacional o
contrato pode ser rescindido a qualquer momento pelo arrendatário desde que me-
diante aviso prévio.
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Direito Empresarial
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Direito Empresarial
aprouver enquanto vigorar o contrato; d) valor da dívida, juntamente com o seu prazo de venci-
mento e demais condições de pagamento; [5] taxa de juros e encargos.
Para a garantia ser assentada, em se tratando de veículo automotor, necessário o registro
no departamento de trânsito. Sendo bem imóvel, deve ser registrado no Ofício de Registro de
Imóveis.
A alienação fiduciária apresenta largas vantagens para o mercado de crédito. Traz segu-
rança jurídica, por prever a propriedade compartilhada sobre um bem (o devedor deixa de ter
propriedade plena sobre o bem e assim o credor fica protegido de situações inesperadas); me-
nos burocracia, por ser mais simples em seus atos formais de constituição e também para a
execução da garantia do que outros contratos, como a hipoteca; redução do risco de inadim-
plência, com a ampliação das garantias e da rapidez no procedimento de cobrança frente a
outros tipos de financiamento pois o processo de satisfação do crédito é mais ágil, refletindo
também na diminuição do grau de risco calculado nas operações de concessão de crédito. Se
houver o efetivo pagamento, o direito pleno de propriedade volta a ser do devedor. Caso não se
perfectibilize a quitação da dívida, o credor retomará a coisa, que juridicamente também é sua.
O preço obtido com a venda da coisa será utilizado para satisfazer o pagamento que ainda tem
a receber, devolvendo-se eventual excedente.
Na hipótese de inadimplemento, a execução do contrato ocorre pela via extrajudicial. Em
outras palavras, a cobrança é mais ágil para o credor.
Exemplificando a simplificação e o fortalecimento do sistema de garantias ao credor, te-
mos dois temas repetitivos do STJ:
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Direito Empresarial
4.8. Locação
A locação de prédio urbano com finalidade comercial está submetida à lei especial, Lei n o
8.245/1991, e assim seguiu mesmo com a edição do Código Civil de 2002, segundo define seu
art. 2.036: “A locação de prédio urbano, que esteja sujeita à lei especial, por esta continua a ser
regida”.
No tocante, vale destacar a lição de Arnaldo Rizzardo:
Todavia, algumas exceções são trazidas pela legislação especial, definindo a regulação
pelo Código Civil (art. 1o, parágrafo único).
Enfim, a seção III da Lei no 8.245/1991 está dedicada para a locação não residencial.
O ponto mais sensível da locação empresarial reside no direito de renovação do contrato,
porquanto é natural da atividade mercantil a realização de elevados investimentos na estrutura
física do espaço locado, bem como na construção de uma relação imaterial com a clientela.
Começou com a Lei de luvas (Decreto n o 24.150. de 20 -04-1934), cuja sistemática era a
de proteção ao local onde o empresário estabelecia seu comércio. Assim a Lei de Locações (Lei
no 8.245/1991) manteve o instituto prevendo a possibilidade da ação renovatória, submetida a
uma série de requisitos:
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a reno-
vação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:
I – o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado;
II – o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos
escritos seja de cinco anos;
III – o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e
ininterrupto de três anos.
§ 1o O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou suces-
sores da locação; no caso de sublocação total do imóvel, o direito a renovação somente
poderá ser exercido pelo sublocatário.
§ 2o Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividades de
sociedade de que faça parte e que a esta passe a pertencer o fundo de comércio, o direito
a renovação poderá ser exercido pelo locatário ou pela sociedade.
§ 3o Dissolvida a sociedade comercial por morte de um dos sócios, o sócio sobrevivente
fica sub-rogado no direito a renovação, desde que continue no mesmo ramo.
§ 4o O direito a renovação do contrato estende-se às locações celebradas por indústrias e
sociedades civis com fim lucrativo, regularmente constituídas, desde que ocorrentes os
pressupostos previstos neste artigo.
§ 5o Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de um
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Direito Empresarial
ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do
contrato em vigor.
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Direito Empresarial
Os empreendimentos conhecidos por shopping center no Brasil não são núcleos de mer-
cancia com um surgimento espontâneo, mas uma tradução de uma evolução das técnicas
de administração empresarial. A orientar sua instalação há uma estratégia profissional,
buscando determinar uma “concentração territorial do comércio, anteriormente dissemi-
nado pelo espaço urbano nas ruas do centro ou nos subcentros comerciais”, engendrada
por empreendedores conscientes da envergadura da oportunidade, bem como dos lucros
de tais iniciativas. (MAMEDE, Gladston. Contrato de locação em shopping center: abusos
e ilegalidades. Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 26-28).
Não por outra razão o art. 54 da lei em comento estipula liberdade para a pactuação das
cláusulas no contrato de locação de espaço em shopping center firmado entre lojistas e empre-
endedores.
Tanto a confecção do contrato quanto a interpretação das suas cláusulas devem ter como
premissa os princípios maiores do sistema de Direito Empresarial, notadamente a autonomia da
vontade. Como já sinalizamos nos tópicos anteriores, o controle judicial sobre cláusulas (em
tese) abusivas em contratos empresariais é mais restrito, pois as negociações são entabuladas
entre profissionais da área empresarial. E quanto maior a sofisticação da avença, menor o âmbito
de intervenção estatal, sendo aceita como válida até a chamada cláusula de raio, para obstar
que o lojista com empreendimento dentro do shopping instale empreendimento idêntico nas pro-
ximidades.
Adiante, nessa espécie de locação, é muito usual a presença do 13 o aluguel. O STJ (REsp
no 1409849 /PR – rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino – 3ª T. – D Je 05 -05 -2016) se pronunciou
sobre a legalidade da cláusula, entendendo não ser abusiva a previsão que estabelece a du-
plicação do valor do aluguel no mês de dezembro.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
E se existe uma parcela variável, mostra-se necessária uma forma de fiscalizar a correção
desses pagamentos. A I Jornada de Direito Comercial do CJF pronunciou-se sobre o tema, no
Enunciado no 30: “Nos contratos de shopping center, a cláusula de fiscalização das contas do
lojista é justificada desde que as medidas fiscalizatórias não causem embaraços à atividade do
lojista.”
Em resumo: locação comercial está submetida à Lei n o 8.245/1991. As exceções estão
previstas na própria lei. Ação renovatória de locação comercial depende do implemento de re-
quisitos objetivos. Locação built to suit: o locador constrói ou promove substancial reforma em
seu imóvel com a finalidade de atender exigências específicas da empresa locatária. Locação
em shopping center: o art. 54 da Lei no 8.245/1991 estipula liberdade para pactuação das cláu-
sulas no contrato de locação firmado entre lojistas e empreendedores.
4.9. Factoring
No factoring, ou fomento mercantil, o empresário transfere a uma instituição financeira
(parabancária) a administração de determinado crédito. A operação caracteriza-se pela aquisi-
ção de direitos creditórios de contas a receber a prazo por um valor à vista, mediante a incidência
de taxas de juros e de serviços. Possibilita liquidez financeira imediata para empresas e não deve
ser confundida com a operação de crédito praticada por bancos.
Fran Martins assim o define: “O Contrato de Faturização ou Factoring é aquele em que
um comerciante cede a outro os créditos, na totalidade ou em parte, de suas vendas a terceiros,
recebendo o primeiro do segundo o montante desses créditos, mediante o pagamento de uma
remuneração” (Contratos e Obrigações Comerciais. Rio de Janeiro: Forense, 2002, 15. ed., p.
469).
Ainda que o contrato de fomento mercantil se forme entre faturizador e faturizado (o ven-
dedor do título), é de suma importância também a figura do comprador originário, uma vez que
são os créditos que o vendedor tem contra esse que são cedidos. Dessarte, temos como pres-
supostos sempre uma inicial venda à prazo e, havendo a cessão de crédito, o comprador deve
ser notificado da transação, para que efetue o pagamento do título ao faturizador.
Podemos então definir a operação em quatro etapas sucessivas: a) empresa vende seu
bem ou serviço a prazo, gerando um crédito no valor correspondente; b) a empresa (faturizada)
negocia este crédito com a faturizadora; c) de posse desse crédito, a factoring informa o com-
prador daquele bem ou serviço sobre o fato e a forma de cobrança; d) findo o prazo do negócio
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Em resumo: empresa vende seu bem ou serviço a prazo, gerando um crédito no valor
correspondente. A empresa (faturizada) negocia esse crédito com a faturizadora. De posse
desse crédito, a factoring informa o comprador daquele bem ou serviço sobre o fato e a forma
de cobrança. Findo o prazo do negócio de origem, a empresa compradora pagará o valor deste
crédito à faturizadora.
4.10. Franquia
O sistema de franquia foi inicialmente disciplinado no Brasil pela Lei n o 8.955/1994. Atu-
almente vigora a Lei no 13.966, de dezembro de 2019, que dispõe sobre o sistema de franquia
empresarial e expressamente revogou a normativa anterior:
Art. 1o Esta Lei disciplina o sistema de franquia empresarial, pelo qual um franqueador
autoriza por meio de contrato um franqueado a usar marcas e outros objetos de proprie-
dade intelectual, sempre associados ao direito de produção ou distribuição exclusiva ou
não exclusiva de produtos ou serviços e também ao direito de uso de métodos e sistemas
de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvido ou detido
pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem caracterizar relação de
consumo ou vínculo empregatício em relação ao franqueado ou a seus empregados, ainda
que durante o período de treinamento.
§ 1o Para os fins da autorização referida no caput, o franqueador deve ser titular ou reque-
rente de direitos sobre as marcas e outros objetos de propriedade intelectual negociados
no âmbito do contrato de franquia, ou estar expressamente autorizado pelo titular.
§ 2o A franquia pode ser adotada por empresa privada, empresa estatal ou entidade sem
fins lucrativos, independentemente do segmento em que desenvolva as atividades.
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Art. 35. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de representação comercial,
pelo representado:
a) a desídia do representante no cumprimento das obrigações decorrentes do contrato;
b) a prática de atos que importem em descrédito comercial do representado;
c) a falta de cumprimento de quaisquer obrigações inerentes ao contrato de representação
comercial;
d) a condenação definitiva por crime considerado infamante;
e) força maior.
De outro lado, o art. 36 do mesmo diploma aponta os motivos de rescisão pelo represen-
tante (grafia original da lei):
Art. 36. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de representação comercial,
pelo representante:
a) redução de esfera de atividade do representante em desacordo com as cláusulas do
contrato;
b) a quebra, direta ou indireta, da exclusividade, se prevista no contrato;
c) a fixação abusiva de preços em relação à zona do representante, com o exclusivo es-
copo de impossibilitar-lhe ação regular;
d) o não-pagamento de sua retribuição na época devida;
e) força maior.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
O contrato pode ser firmado por prazo determinado ou indeterminado. Uma vez prorro-
gado, torna-se a prazo indeterminado.
A Lei no 8.420/1992 inseriu na legislação original a vedação da cláusula del credere (art.
43). Esta cláusula corresponde à previsão contratual expressa que permita à parte representada
deduzir de comissões e vendas do representante comercial valores na hipótese de o negócio ser
cancelado ou desfeito. Há que se ter presente que a responsabilidade do representante comer-
cial deve ser limitada apenas à transação e à intermediação do negócio e nada mais, lembrando
que a representação comercial é atividade de meio na relação de venda. A responsabilidade de
aceitação da venda é do representado.
Havendo rescisão contratual imotivada, discute-se a pertinência de indenização, que de-
penderá se o prazo do contrato é determinado ou se o contrato é por prazo indeterminado.
Sendo determinado, a indenização corresponderá à média mensal multiplicada pela me-
tade dos meses que faltam para o fim do contrato. Se for prazo indeterminado, será 1/12 sobre
o valor total do contrato (Lei no 4.886/1965, art. 27, j e § 1o).
Ainda quanto à indenização, cumpre sinalar a conclusão da III Jornada de Direito Comer-
cial do CJF, em seu Enunciado no 82: “A indenização devida ao Representante, prevista no art.
27, alínea j, da Lei no 4.886/1965, deve ser apurada com base nas comissões recebidas durante
todo o período em que exerceu a representação, afastando-se os efeitos de eventual pagamento
a menor, decorrente de prática ilegal ou irregular da Representada reconhecida por decisão ju-
dicial ou arbitral transitada em julgado ”.
Em resumo: modalidade de contrato de colaboração. Não há vínculo societário ou em-
pregatício entre o representado e o representante comercial. Trata-se de atividade autônoma. O
representante comercial não tem poderes para concluir a negociação em nome do representado.
Vedada a inserção de cláusula del credere.
4.12. Distribuição
A criação, consolidação ou ampliação de mercados, através da colaboração empresarial,
pode resultar de aproximação ou de intermediação. O contrato de distribuição é modalidade de
colaboração empresarial que pode ser enquadrada em qualquer uma dessas espécies:
Aproximação: o colaborador identifica pessoas interessadas em adquirir produtos do ou-
tro empresário contratante. Na distribuição-aproximação, o distribuidor é remunerado por um
percentual (comissão) dos negócios que ajuda a realizar.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem
vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição,
a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição
quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada.
Parágrafo único. O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o repre-
sente na conclusão dos contratos.
Como se vê, o Código Civil regula em conjunto com o contrato de agência, o que resulta
em certa celeuma. O contrato de distribuição típico (distribuição-aproximação) está associado ao
contrato de agência. Nesta modalidade há maior ingerência do fornecedor sobre as atividades
do distribuidor.
Tem como cláusulas (implícitas ou explícitas) a de exclusividade de distribuição (pela qual
o distribuidor não pode trabalhar para outros proponentes na zona de atuação) e de exclusivi-
dade de zona (pela qual o proponente deve abster-se de realizar negócios na zona de atuação,
a não ser com os aproximados pelo distribuidor ou agente).
Para garantir o cumprimento dessas obrigações, a lei assegura ao distribuidor o direito à
remuneração pelos negócios realizados pelo proponente em desrespeito à cláusula de territori-
alidade, conforme dispõe o art. 714 do CC.
Art. 714. Salvo ajuste, o agente ou distribuidor terá direito à remuneração correspondente
aos negócios concluídos dentro de sua zona, ainda que sem a sua interferência.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Nos termos da iterativa jurisprudência desta Corte, a Lei n o 6.729/1979 (Lei Ferrari) não
se aplica a hipóteses diversas da distribuição de veículos automotores (STJ, REsp n o 680329
/RS, rel. Min. Raul Araújo, rel. p/ Acórdão: Raul Araújo, 4ª T., j. 22-4-2014, Dje 29- 4 -2014.).
4.14. Comissão
Delineado pelos arts. 693 a 709 do CC.
Trata-se de vínculo contratual em que um empresário (comissário) se obriga a realizar
negócios mercantis por conta de outro (comitente), mas em nome próprio, assumindo, portanto,
responsabilidade pessoal pelos atos praticados. Apesar de agir em nome próprio, não tem plena
liberdade e deve agir sempre considerando os limites estabelecidos pelo comitente.
Nesta forma de contratação, o comissário concretiza operações comerciais do interesse do
comitente, mediante um percentual (comissão). O comitente não participa dos negócios, podendo
até permanecer incógnito.
A comissão assemelha-se ao mandato. Em ambos, uma pessoa (comissário ou manda-
tário) se obriga a praticar atos em nome de outra pessoa (comitente ou mandante). A diferença
fundamental da comissão em relação ao mandato consiste na imputação da responsabilidade
perante terceiros. O comissário fica diretamente obrigado para com as pessoas com quem con-
tratar, sem que estas tenham ação contra o comitente, nem este contra elas, salvo se o comis-
sário ceder seus direitos a qualquer das partes (art. 694, CC).
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Por expressa previsão do Código Civil, admite o contrato de comissão a inserção da cláu-
sula del credere. Esta representa a obrigação do comissário de responder solidariamente com o
terceiro perante o comitente (ex.: o comissário vende café do comitente e dá prazo ao terceiro
para pagar, porém o terceiro não paga, devendo então o comissário pagar ao comitente). Inse-
rindo-se esta cláusula del credere, fará o comissário jus a uma remuneração maior em face do
risco assumido (art. 698 do CC).
Em resumo: empresário se obriga a realizar negócios em favor de outro, mas em nome
próprio. O comissário atua nos limites definidos pelo comitente. Remunerado via comissão. Pos-
sível a inserção da cláusula del credere.
4.15. Mandato
Extensamente regulamentado no CC, nos arts. 653 a 691.
O mandato mercantil é contrato no qual mandatário se obriga a praticar atos negociais em
nome e por conta do empresário mandante, que confia a outrem a gestão de um ou mais negó-
cios mercantis.
É materializado, concretizado, pela procuração outorgada ao mandatário.
Trata-se de contrato bilateral, pois gera deveres tanto para o mandante quanto para o
mandatário.
A principal obrigação do mandatário é praticar atos negociais, em nome e por conta do
mandante, observando, para tanto, as instruções e poderes dele recebidos. Também é obrigado
a prestar contas dos atos por ele praticados em nome do mandante, informando-lhe sobre tudo
o que se passa com os negócios.
Já o mandante é obrigado a cumprir as obrigações contraídas pelo mandatário (dentro
dos limites do mandato), bem como pagar o valor ajustado como remuneração. É igualmente
obrigado a ressarcir ao mandatário as perdas que este sofrer com a execução do mandato, sem-
pre que não resultem de culpa sua ou de excesso de poderes.
A extinção do mandato ocorre, segundo o art. 682 do CC, nas seguintes situações:
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Dica: conferido o mandato com a cláusula “em causa própria”, a sua revogação não terá
eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes (art. 685 do CC).
Em resumo: mandatário atua em nome do mandante, dentro das instruções recebidas.
Procuração é o instrumento do mandato. O mandato em causa própria não é extinto pelo faleci-
mento do mandante.
No Brasil, a história dos métodos adequados de resolução de conflitos tem uma defasa-
gem temporal de duas décadas em relação à experiência norte-americana, por exemplo, mas se
desenvolve por argumentos e etapas relativamente semelhantes: parte de uma crítica à demora
e aos custos da jurisdição estatal, ancora-se inicialmente na arbitragem privada para, mais tarde,
disseminar-se pela conciliação e mediação.
Assim tem-se:
• 1996 – Lei no 9.307 – Instituição da Lei de Arbitragem no Brasil;
• Resolução no 125/2010 do CNJ;
• Novo CPC;
• Lei no 13.140/2015 (Lei de Mediação).
98
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Métodos adequados de
resolução de conflitos
Autocomposição
Heterocomposição: Autocomposição:
assistida: as partes
decisão de um solução consensual
chegam a um consenso,
terceiro entre as partes
com auxilio de terceiro
Processo
JEC Arbitragem Mediação Conciliação Mediação
Ordinário
4.16.1. Mediação
Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder de-
cisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver
soluções consensuais para a controvérsia (art. 1 o, parágrafo único, Lei no 13.140/2015).
O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre
as partes, auxiliará os interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de
modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, solu-
ções consensuais que gerem benefícios mútuos (art. 165, § 3 o, do CPC).
Mediação
99
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
4.16.2. Conciliação
É exercida, normalmente, por força de lei e compulsoriamente por servidor público que
usa a autoridade de seu cargo para tentar promover a solução de controvérsias.
O conciliador é uma pessoa da sociedade que atua, de forma voluntária e após treina-
mento específico, como facilitador do acordo entre os envolvidos, criando um contexto propício
ao entendimento mútuo, à aproximação de interesses e à harmonização das relações. Conforme
art. 165, § 2o, do CPC “O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização
de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem”.
Na conciliação judicial o procedimento é iniciado pelo magistrado ou por requerimento
da parte, com a designação de audiência e a intimação das partes para o comparecimento (arts.
165 e seguintes e 331 do CPC). Já na conciliação pré-processual, a parte comparece à uni-
dade do Poder Judiciário apta a atendê-la, no caso, as unidades de conciliação já instaladas ou
os Juizados Especiais, que marca uma sessão na qual a outra parte é convidada a comparecer.
Na efetivação do acordo, o termo da conciliação se transforma em título executivo.
Na falta de acordo, é dado o encaminhamento para o ingresso em juízo pelas vias nor-
mais.
4.16.3. Mediação e conciliação no CPC
Depreende-se do art. 3o do CPC:
Em consonância com o referido artigo, o Código de Processo Civil prevê no art. 165 que
“Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela
realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de pro-
gramas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.”
Logo, constata-se claro avanço no que diz respeito ao incentivo à solução de conflitos por
vias não judiciais.
Os princípios aplicados no procedimento de conciliação e mediação estão elencados no
art. 166, do CPC. São eles: independência, imparcialidade, autonomia da vontade, confi-
dencialidade, oralidade, informalidade e decisão informada.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 166, CPC. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da indepen-
dência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade,
da informalidade e da decisão informada.
§ 1o A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do pro-
cedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por ex-
pressa deliberação das partes.
§ 2o Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o mediador,
assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos
ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação.
§ 3o Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar ambiente
favorável à autocomposição.
§ 4o A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos interessa-
dos, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais.
Alguns pontos principais precisam ser lembrados pelo aluno ao estudar o tema no Código
de Processo Civil, quais sejam:
Tentativa de conciliação no início da audiência de instrução e julgamento:
Art. 359, CPC. Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independentemente
do emprego anterior de outros métodos de solução consensual de conflitos, como a me-
diação e a arbitragem.
Art. 381, CPC. A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que: [...]
II – a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio
adequado de solução de conflito;
Art. 515, CPC. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com
os artigos previstos neste Título: [...]
II – a decisão homologatória de autocomposição judicial;
III – a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza;
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 695, CPC. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências refe-
rentes à tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência de
mediação e conciliação, observado o disposto no art. 694.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Termo de mediação e
minuta do termo-pré-
mediação;
Antes do procedimento
Assegurar a participação
dos que possuem poder de
decisão;
Sempre os mesmos
participantes;
Reuniões separadas - o
Mediação empresarial
Cumprimento espontâneo;
Rompimento de traumas:
acompanhamento.
4.16.7. Arbitragem
Regida pela Lei no 9.307/1996, a arbitragem é um procedimento litigioso privado, con-
trolado por um profissional especializado e independente, que dita uma sentença e soluci-
ona o conflito entre as partes.
103
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 3o As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral
mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o
compromisso arbitral.
a) Cláusula compromissória: “convenção através da qual as partes em um contrato com-
prometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a
tal contrato ” (art. 4o da Lei no 9.307/1976).
b) Compromisso arbitral: convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbi-
tragem de uma ou mais pessoas, pode ser judicial ou extrajudicial (art. 9o da Lei no
9.307/1976).
Art. 4o A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um con-
trato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,
relativamente a tal contrato.
§ 1o A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no
próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira.
§ 2o Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente
tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua insti-
tuição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou
visto especialmente para essa cláusula. [...]
Art. 9o O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um
litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.
§ 1o O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo ou
tribunal, onde tem curso a demanda.
§ 2o O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular, assinado
por duas testemunhas, ou por instrumento público.
Art. 10. Constará, obrigatoriamente, do compromisso arbitral:
I – o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes;
II – o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso, a identifica-
ção da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros;
III – a matéria que será objeto da arbitragem; e
IV – o lugar em que será proferida a sentença arbitral.
Art. 11. Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter:
I – local, ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem;
II – a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por equidade, se assim for
convencionado pelas partes;
III - o prazo para apresentação da sentença arbitral;
IV - a indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem, quando
assim convencionarem as partes;
V - a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das despesas com
a arbitragem; e
VI – a fixação dos honorários do árbitro, ou dos árbitros.
Parágrafo único. Fixando as partes os honorários do árbitro, ou dos árbitros, no compro-
misso arbitral, este constituirá título executivo extrajudicial; não havendo tal estipulação, o
árbitro requererá ao órgão do Poder Judiciário que seria competente para julgar, originari-
amente, a causa que os fixe por sentença.
104
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
ou podem ainda delegar ao regulamento de uma instituição arbitral já existente (art. 5o da Lei no
9.307/1996).
Art. 5o Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum órgão
arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada
de acordo com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláu-
sula, ou em outro documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem.
Art. 6o Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a parte inte-
ressada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via postal
ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, con-
vocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar o compromisso arbitral.
Parágrafo único. Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo, recusar-se a
firmar o compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda de que trata o
art. 7o desta Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, originariamente, tocaria
o julgamento da causa.
Art. 7o Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da
arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer
em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal
fim.
§ 1o O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com o
documento que contiver a cláusula compromissória.
§ 2o Comparecendo as partes à audiência, o juiz tentará, previamente, a conciliação
acerca do litígio. Não obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à celebração, de
comum acordo, do compromisso arbitral.
§ 3o Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o juiz,
após ouvir o réu, sobre seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de dez dias, res-
peitadas as disposições da cláusula compromissória e atendendo ao disposto nos arts. 10
e 21, § 2o, desta Lei.
§ 4o Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros, ca-
berá ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único para a
solução do litígio.
§ 5o A ausência do autor, sem justo motivo, à audiência designada para a lavratura do
compromisso arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito.
§ 6o Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor, estatuir a res-
peito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único.
§ 7o A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Arbitralidade
Arbitragem subjetiva: é a aptidão que
certas pessoas possuem para
submeterem-se à arbitragem (ratione
personae).
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Na arbitragem por
equidade o árbitro
julgará o caso segundo o
seu bom senso,
coerência e justiça.
4.16.7.6. Árbitros
Quanto aos árbitros, disciplina o art. 13 da Lei n o 9.307/1996:
Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes.
§ 1o As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear,
também, os respectivos suplentes.
§ 2o Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados, desde
logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as partes ao órgão do
Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamento da causa a nomeação do
árbitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto no art. 7o desta Lei.
§ 3o As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos árbitros,
ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada.
§ 4o Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente do tribunal
arbitral. Não havendo consenso, será designado presidente o mais idoso.
§ 4o As partes, de comum acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo do regula-
mento do órgão arbitral institucional ou entidade especializada que limite a escolha do
árbitro único, coárbitro ou presidente do tribunal à respectiva lista de árbitros, autorizado
o controle da escolha pelos órgãos competentes da instituição, sendo que, nos casos de
impasse e arbitragem multiparte, deverá ser observado o que dispuser o regulamento apli-
cável.
§ 5o O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um secretário,
que poderá ser um dos árbitros.
§ 6o No desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, inde-
pendência, competência, diligência e discrição.
§ 7o Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes o adiantamento de verbas
para despesas e diligências que julgar necessárias
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 14. Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham, com as par-
tes ou com o litígio que lhes for submetido, algumas das relações que caracterizam os
casos de impedimento ou suspeição de juízes, aplicando-se-lhes, no que couber, os mes-
mos deveres e responsabilidades, conforme previsto no Código de Processo Civil.
§ 1o As pessoas indicadas para funcionar como árbitro têm o dever de revelar, antes da
aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à sua imparciali-
dade e independência.
§ 2o O árbitro somente poderá ser recusado por motivo ocorrido após sua nomeação. Po-
derá, entretanto, ser recusado por motivo anterior à sua nomeação, quando:
a) não for nomeado, diretamente, pela parte; ou
b) o motivo para a recusa do árbitro for conhecido posteriormente à sua nomeação.
Art. 15. A parte interessada em arguir a recusa do árbitro apresentará, nos termos do art.
20, a respectiva exceção, diretamente ao árbitro ou ao presidente do tribunal arbitral, de-
duzindo suas razões e apresentando as provas pertinentes.
Parágrafo único. Acolhida a exceção, será afastado o árbitro suspeito ou impedido, que
será substituído, na forma do art. 16 desta Lei.
Art. 16. Se o árbitro se escusar antes da aceitação da nomeação, ou, após a aceitação,
vier a falecer, tornar-se impossibilitado para o exercício da função, ou for recusado, assu-
mirá seu lugar o substituto indicado no compromisso, se houver.
§ 1o Não havendo substituto indicado para o árbitro, aplicar-se-ão as regras do órgão ar-
bitral institucional ou entidade especializada, se as partes as tiverem invocado na conven-
ção de arbitragem.
§ 2o Nada dispondo a convenção de arbitragem e não chegando as partes a um acordo
sobre a nomeação do árbitro a ser substituído, procederá a parte interessada da forma
prevista no art. 7o desta Lei, a menos que as partes tenham declarado, expressamente,
na convenção de arbitragem, não aceitar substituto.
Árbitro
Art. 18: o árbitro é juiz de fato e de direito,e a
sentença que proferir não fica sujeita a recurso
ou a homologação pelo Poder Judiciário.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Judicialização do
procedimento arbitral
(calendarização Art. 190 e 191 do CPC
Procedimento arbitral
procedimental)
pedidos.
O procedimento arbitral depende da vontade das partes para ser instaurado. As partes
precisam, voluntariamente, pactuar que a lide seja apreciada pelo juízo arbitral, abdicando da via
judicial.
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1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Art. 190, CPC. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito
às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às es-
pecificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções
previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de
inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em mani-
festa situação de vulnerabilidade.
Art. 191, CPC. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática
dos atos processuais, quando for o caso.
§ 1o O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão
modificados em casos excepcionais, devidamente justificados.
§ 2o Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização
de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.
111
1ª Fase | 41° Exame da OAB
Direito Empresarial
Princípio do contraditório e ampla defesa (art. 5o, LV, da CF e art. 21, § 2o, da Lei de
Arbitragem).
Princípios impositivos
Devem ser
observados, sob pena
de nulidade do
procedimento arbitral
Princípio do
contraditório e da Princípio da igualdade: Imparcialidade e
art. 5º, caput e inciso I independência jurídica
ampla defesa: arts. 5º, Livre convencimento dos árbitros: art. 5º,
LV da CF e 21, §2º da da CF XXXVII e LIII da CF
LBA
O contraditório consiste no direito que as partes têm de serem informadas a respeito dos
atos processuais e de poderem se manifestar a respeito. Esse princípio abrange a ampla de-
fesa, que representa a possibilidade dos litigantes de produzirem provas necessárias à sua de-
fesa.
Em obediência a esses princípios, o árbitro deve, necessariamente, garantir que as partes
tenham ciência dos pontos relevantes no processo e que tenham a oportunidade de se manifes-
tar.
Através da informação dos atos praticados por uma parte é que a outra poderá reagir.
Importante ressaltar que o que se protege é a oportunidade de manifestação, não havendo
afronta ao contraditório se, sabendo de seu direito, o contendor se mantiver inerte.
Deve haver cautela na comunicação dos atos processuais, ainda que seja da forma esti-
pulada pelas partes ou pela entidade arbitral, permitindo que os litigantes possam influir nas
decisões que serão tomadas. É dever do árbitro tratar de maneira igualitária as partes, sendo
imparcial e conferindo-lhes as mesmas oportunidades.
Já em relação ao livre convencimento, este corresponde à liberdade que o árbitro possui
de apreciar e avaliar as provas existentes no processo para constituir livremente a sua convicção.
Sendo a fundamentação obrigatória na sentença arbitral, o livre convencimento deve sempre ser
motivado (art. 26 da LBA).
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O procedimento arbitral depende da vontade das partes para ser instaurado, sendo as-
sim, as partes precisam, de forma livre, pactuar que a lide será apreciada pelo juízo arbitral,
abdicando da via judicial.
As partes também podem indicar os árbitros; o local da arbitragem; se optam por arbitra-
gem institucional ou ad hoc; podem escolher as regras de direito a serem aplicadas; se a arbi-
tragem será de direito ou de equidade; e o procedimento a ser aplicado. Nada as impede, tam-
bém, de alterar aquilo que pactuaram, com mútuo consentimento.
Não é obrigatória a participação de advogados no procedimento arbitral (art. 21, § 3 o,
LA). Sendo assim, a ausência do advogado na audiência não prejudica a realização do ato.
Art. 21, § 3o. As partes poderão postular por intermédio de advogado, respeitada, sempre,
a faculdade de designar quem as represente ou assista no procedimento arbitral.
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4.16.7.13. Efeitos
1. Dois efeitos:
a) O positivo é a concretização da jurisdição do árbitro, na medida que é ele quem
analisa, inicialmente, a viabilidade ou inviabilidade de sua atuação no processo ar-
bitral.
b) O negativo consiste no afastamento do juízo estatal dessa análise, que é poster-
gada para oportunidade posterior à sentença arbitral, nas hipóteses previstas no
art. 32 da LBA.
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De acordo o art. 260, § 3°, do CPC, a carta arbitral atenderá, no que couber, aos requisitos
a que se refere a carta de ordem, precatória e rogatória, devendo ser instruída com a convenção
de arbitragem e com as provas da nomeação do árbitro e de sua aceitação da função.
A análise do mérito e da pertinência da expedição ou não da carta será apreciada pelo
próprio juízo arbitral, sob o crivo do contraditório e de acordo com as regras do procedimento.
Ao Poder Judiciário, cabe apenas, no exercício do seu poder de império, promover direta ou sob
sua autoridade, o cumprimento das providências solicitadas .
O juízo estatal não reexamina o conteúdo da decisão arbitral, mas apenas lhe confere
efetividade como agente colaborador. Deste modo, por exemplo, não se avalia a pertinência da
oitiva da testemunha ou da necessidade de eventuais informações solicitadas aos Órgãos Públi-
cos, muito menos a adequação dessa ou daquela medida de urgência, apenas se processa seu
cumprimento.
Conforme expressamente previsto no parágrafo único do art. 22-C da LAB e no art. 189,
IV, do CPC, no “cumprimento da carta arbitral será observado o segredo de justiça, desde que
comprovada a confidencialidade estipulada na arbitragem”.
A confidencialidade da arbitragem pode ser comprovada por meio da estipulação expressa
das partes ou mediante previsão no próprio regulamento arbitral.
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4.16.7.15. A revelia
Na arbitragem, à revelia representa deixar de praticar atos durante o procedimento (não
indica árbitro, ausência de defesa, falta na audiência, omissão na produção de provas etc.) e
para qualquer uma das partes (solicitante/solicitados). Art. 22, § 3 o, da LBA:
Art. 22. Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes, ouvir teste-
munhas e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar necessárias,
mediante requerimento das partes ou de ofício. [...]
§ 3o A revelia da parte não impedirá que seja proferida a sentença arbitral.
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Art. 27. A sentença arbitral decidirá sobre a responsabilidade das partes acerca das custas
e despesas com a arbitragem, bem como sobre verba decorrente de litigância de má-fé,
se for o caso, respeitadas as disposições da convenção de arbitragem, se houver.
Art. 18, LA. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita
a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.
Art. 31, LA. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos
efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória,
constitui título executivo.
O parágrafo único do mesmo artigo detalha que: “a sentença arbitral será assinada pelo
árbitro ou por todos os árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou
alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato”.
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4.17.3. Investidor-anjo
Segundo a Lei Complementar no 182/2021, considera-se investidor-anjo: “aquele investi-
dor que não é considerado sócio nem tem qualquer direito a gerência ou a voto na administração
da empresa, não responde por qualquer obrigação da empresa e é remunerado por seus apor-
tes”.
Muito se confunde o investidor-anjo com o sócio oculto da Sociedade em Conta de Parti-
cipação, mas a diferença é clara:
Sócio oculto é aquele que irá investir no projeto, mas sem participar da gestão da em-
presa, e possui participação nos lucros finais, sem se envolver no processo.
Investidor- anjo é aquele que irá investir no projeto da sociedade e permanecer anônimo.
Assim, a principal diferença é que o primeiro tem a opção de participar da gestão, en-
quanto o segundo só investe, sem poder se envolver na gestão da startup.
5. Títulos de Crédito
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considerados bens móveis, por se sujeitarem aos princípios basilares da circulação de tais
bens, como, por exemplo, o princípio que prescreve que a posse de boa-fé possui valor de pro-
priedade; são títulos de apresentação, tendo em vista serem documentos essenciais para o
exercício do direito nele previsto. Ainda, os títulos de crédito são títulos executivos extrajudi-
ciais, pois contêm obrigações líquidas e certas.
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que estes não trazem uma ideia nova em relação à autonomia, mas apenas uma outra forma de
encará-la.
O princípio da abstração dispõe que, quando o título circula, ele se desvincula da
relação que lhe originou. Assim, tem-se que, enquanto o título está na relação cambiária que
lhe originou, existe uma vinculação entre esta relação e a origem do título, mas quando o título
é, por exemplo, endossado, a relação que originou a cártula não mais interessa.
Já o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé é a exata
manifestação do princípio da autonomia. Isto porque a atuação deste princípio preceitua que o
portador do título de boa-fé não será prejudicado por eventuais vícios que a relação origi-
nária do negócio jurídico venha a ter. Os vícios constantes na relação originária apenas podem
ser considerados nesta relação cambial, entre os sujeitos participantes desta. Quando o terceiro
adquire o título, de boa-fé, este o adquire sem sujeição a vícios da relação cambiária princi-
pal. Dessa forma, o portador do título não pode ser atingido por defesas relativas ao negó-
cio jurídico do qual ele não participou.
5.1.3.1. Endosso
Esse instituto é classificado como um ato cambiário necessário para a circulação de
títulos de crédito nominais à ordem, produzindo, principalmente, dois efeitos: a) transferência
da titularidade do crédito, b) responsabilidade do endossante, que se torna devedor indi-
reto do título.
O endosso deve ser realizado no verso do título, sendo que, nesse caso, basta a assi-
natura do endossante. Contudo, caso ele seja realizado no anverso da cártula, além da assina-
tura do endossante, é obrigatório que contenha a menção expressa de que se trata de endosso,
para que assim produza seus efeitos.
O endosso deve ser total ao valor da dívida do título, dessa forma, tem-se que é vedado
o endosso parcial, sendo considerado nulo. Ainda, o endosso não pode ser subordinado a
alguma condição, sendo que, caso esta exista, será considerada não escrita, conforme disci-
plina o art. 12 da Lei Uniforme de Genebra (LUG) e o art. 912 do CC.
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normalmente. Contudo, percebe-se que, no caso de o endosso ser realizado após o protesto do
título ou, após o prazo para protesto, este apenas valerá como cessão civil de crédito. Por fim,
tem-se que se presume realizado, antes do prazo para protesto, o endosso sem data.
5.1.3.5. Aval
O aval, por sua vez, é um ato cambiário pelo qual um terceiro, chamado aqui de avalista,
se responsabiliza pelo adimplemento da obrigação constante no título. Neste caso, o avalista
garante o cumprimento da obrigação do avalizado, respondendo, assim, de forma equiparada a
este. Tal instituto possui previsão no art. 30 da LUG e no art. 897 do CC.
O aval deve ser realizado no anverso do título, bastando apenas a assinatura do ava-
lista, porém, e caso o aval seja realizado no verso da cártula, além da assinatura do avalista,
é necessária a menção expressa de que se trata de aval.
Os avais simultâneos, também chamado de coavais, ocorrem quando duas ou mais pes-
soas avalizam um título conjuntamente, como forma de garantir a mesma obrigação cambial. A
responsabilidade assumida pelos avalistas nos avais simultâneos é solidária, razão pela qual o
avalista que adimplir a obrigação integralmente ao credor possui o chamado direito de regresso
contra os demais coavalistas apenas em relação à sua parte. Ou seja, caso sejam dois avalistas
e um pagou a totalidade da dívida, surge a este o direito de regresso contra o outro, apenas em
relação a metade da dívida.
Já os avais sucessivos, também conhecidos como aval do aval, acontecem quando al-
guém avaliza outro avalista. Nesta situação, todos os avalistas dos avalistas possuem a mesma
responsabilidade do avalizado, sendo que o avalista que pagar a totalidade da obrigação possui
direito de regresso em relação ao total da dívida em face dos demais.
Ademais, importante referir sobre o aval parcial. Este ocorre quando o avalista se respon-
sabiliza por parte do adimplemento da obrigação constante no título, por conseguinte, garantindo
apenas uma parte do cumprimento da obrigação do avalizado.
Como regra, o aval parcial é vedado (art. 897, parágrafo único, do CC). Contudo, este é
admitido caso haja expressa previsão legal na legislação especial. Neste sentido, temos que a
LUG prevê, em seu art. 30, a possibilidade de aval parcial para a letra de câmbio e a nota pro-
missória, enquanto a Lei do Cheque o prevê junto ao seu art. 29.
Já quanto à duplicata e considerando que sua legislação específica (Lei n o 5.474/1968) é
omissa quanto à possibilidade ou não de aval parcial, esta segue a regra geral do Código Civil,
ou seja, na duplicata não é permitido o aval parcial.
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5.1.4. Protesto
O protesto pode ser definido como o ato formal através do qual se atesta um fato relevante
para a relação cambial. O fato relevante pode ser: a) a falta de aceite do título; b) a falta de
devolução do título; ou c) a falta de pagamento do título.
No caso de protesto por ausência de aceite, este somente poderá ser efetuado antes do
vencimento da obrigação e após o decurso do prazo legal para aceite ou devolução. Se o pro-
testo for feito após o vencimento da obrigação, somente será efetuado por falta de pagamento.
Vejamos o que disciplina o art. 21 da Lei no 9.492/1997.
O protesto, em regra, apenas é indispensável se o credor quiser executar os codeve-
dores do título, como, por exemplo, os endossantes, razão pela qual se diz que o protesto
garante o direito de regresso em face dos devedores indiretos do título. Por outro lado, caso
o credor deseje executar apenas o devedor principal do título, o protesto se torna desneces-
sário.
5.1.4.1. Saque
O saque é a emissão de um título de crédito, ou seja, é a sua criação. Assim, quem realiza
a emissão do título é chamado de sacador. Nas diferentes espécies de títulos de créditos típicos
ou nominados, a figura do saque pode dar origem a situações jurídicas distintas, o que estuda-
remos em outro momento.
5.1.4.2. Aceite
O aceite é o ato por meio do qual o sacado assume a obrigação cambial, se tornando o
devedor principal do título. O aceite ocorre apenas em títulos típicos ou nominados que estrutu-
ram uma ordem de pagamento, como é o caso da letra de câmbio e da duplicata.
O aceite pode ser facultativo, como ocorre na letra de câmbio, sendo que, após realizado
o aceite, ele se torna irretratável ou obrigatório, como ocorre na duplicata, salvo exceções que
serão tratadas em ponto específico.
Pelo fato de o aceite na duplicata ser obrigatório, ele pode ser expresso (ordinário) ou
presumido (por presunção). Além disso, na letra de câmbio, o aceite pode ser limitativo, por meio
do qual o sacado aceita apenas parte do valor do título ou, modificativo, que ocorre quando o
sacado altera alguma condição de pagamento do título.
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Como visto, a cláusula não aceitável impõe ao tomador a obrigação de só procurar o sa-
cado para o aceite na data do vencimento da cártula. Tal cláusula se perfaz em verdadeira ga-
rantia ao sacador de que não será surpreendido com o vencimento antecipado do título.
No que se refere ao prazo de protesto da letra de câmbio, o art. 44 da LUG nos traz essa
definição. Assim, temos dois prazos distintos para protesto: a) em caso de recusa de aceite ou
b) em caso de falta de pagamento. Em relação ao protesto por recusa de aceite, tem-se que o
protesto pode ser realizado ainda no prazo de apresentação do título ou até o primeiro dia útil
subsequente ao término do prazo ou da recusa, que gera o vencimento antecipado. Já no se-
gundo caso, protesto por falta de pagamento, o prazo é de até dois dias úteis contados do ven-
cimento do título.
Ressalta-se que, caso o credor perca o prazo para realizar o protesto, em consequência
este perde o direito de cobrar os coobrigados.
No mais, o prazo prescricional para ação de execução da letra de câmbio é determi-
nado pelo art. 70 da LUG, sendo: a) três anos contra o devedor principal (sacado), contados da
data de vencimento; b) um ano contra os codevedores (sacador e endossantes), contados da
data do protesto e, c) seis meses, a contar do dia do pagamento, quando for o caso de exercício
de direito de regresso entre codevedores.
O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente é de cinco anos, conta-
dos a partir do dia seguinte ao vencimento do título, de acordo o que dispõe a Súmula n o 504 do
Superior Tribunal de Justiça, aqui utilizada por analogia: “O prazo para ajuizamento de ação
monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar
do dia seguinte ao vencimento do título”.
Ademais, quanto ao prazo para interposição de ação de cobrança em face do sacador ou
do aceitante, este dependerá da causa que deu origem ao título, podendo ser utilizado o prazo
de dez anos, de acordo com o art. 205 do CC ou os prazos fixados junto ao art. 206 do mesmo
diploma legal.
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LUG de subscritor), que é quem emite a nota e promete pagar determinada quantia a alguém,
e b) a do tomador, em favor de quem a nota é emitida e que receberá a importância prometida.
Assim como a letra de câmbio, a nota promissória deve atender aos requisitos essenci-
ais previstos em lei para que possua valor como título de crédito. Tais requisitos possuem
previsão no art. 75 da LUG, sendo eles: a) a expressão nota promissória, que é uma cláusula
cambiária; b) uma promessa incondicional de pagamento de quantia determinada; c) o
nome do tomador; d) a data do saque; e) a assinatura do sacador; e f) o lugar do saque ou
a menção de um lugar junto ao nome do sacador.
Verifica-se, assim, que a nota promissória se submete ao mesmo regime jurídico da letra
de câmbio. Contudo, ambos os títulos de crédito possuem suas distinções. Primeiramente, a
letra de câmbio se estrutura como ordem de pagamento, enquanto a nota promissória é uma
promessa de pagamento. Dessa forma, não se aplicam em face da nota promissória as regras
sobre o aceite (cláusula não aceitável, prazo de respiro, vencimento antecipado por recusa do
aceite etc.).
Vale ressaltar que o prazo de prescrição para a interposição de ação de execução em
face do sacador é igual ao da letra em relação ao aceitante: três anos contados do venci-
mento (art. 70 da LUG). Se a execução for em face do endossante, o prazo é de um ano, con-
tado da data do protesto tempestivo ou do vencimento, se o protesto for dispensado, e de
seis meses, a contar do dia do pagamento, quando for o caso de exercício de direito de
regresso entre codevedores.
Ademais cumpre mencionar o entendimento do Superior Tribunal de Justiça sobre a acei-
tação de propositura de ação monitória para a nota promissória prescrita. Vejamos o que prevê
a Súmula no 504 do Superior Tribunal de Justiça: “O prazo para ajuizamento de ação monitória
em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia se-
guinte ao vencimento do título”.
Verifica-se assim que, apesar de prescrita a nota promissória, perdendo, assim, sua
força executiva, o credor desta ainda pode requerer o seu pagamento no prazo de cinco anos
a contar do dia seguinte ao vencimento do título.
Já quanto ao prazo para interposição de ação de cobrança em face do sacador, este,
igualmente como ocorre na letra de câmbio, dependerá da causa que deu origem ao título,
podendo ser utilizado o prazo de dez anos, de acordo com o art. 205 do CC ou os prazos fixa-
dos junto ao art. 206 do mesmo diploma legal.
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Relativamente ao prazo para protesto da nota promissória, tem-se que é de dois dias
úteis após a recusa de pagamento ou do seu vencimento. Além disso, como já frisado acerca
da letra de câmbio, para que possam ser vinculados os coobrigados, o protesto é indispen-
sável.
Ademais, e nos termos da Súmula no 258 do Superior Tribunal de Justiça “a Nota Promis-
sória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez
do título que a originou”.
5.3.2. Duplicata
A duplicata possui sua regulamentação específica na Lei no 5.474/1968 – Lei das Dupli-
catas, sendo um título causal, isto é, só pode ser emitida para documentar determinadas relações
jurídicas pré-estabelecidas por sua legislação, sendo elas: a) uma compra e venda mercantil ou
b) um contrato de prestação de serviços.
A questão de a duplicata ser um título causal não retira dela a aplicação do princípio da
abstração, sendo assim, a duplicata, igualmente aos demais títulos em espécie, se desvincula
do negócio jurídico que lhe deu origem após ser aceita. A causalidade da duplicata significa tão
somente que ela só pode ser emitida nas causas em que a lei admite expressamente a sua
emissão. Em caso de ser posta em circulação através de endosso, o sacado não pode opor ao
terceiro de boa-fé exceções pessoais que possui contra o sacador.
Na prática, a duplicada mais utilizada é a que representa uma compra e venda mercan-
til. Frisa-se que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu a nulidade da duplicata emitida em
contrato de leasing.
Em relação às posições jurídicas existentes na duplicata, temos o sacado, que é o de-
vedor, podendo ser um comprador ou um tomador de serviços, e o sacador, que é o credor,
o qual pode ser um vendedor ou um prestador de serviços.
Além de ser um título causal, a duplicata é um título de modelo vinculado, ou seja, sua
emissão deve obedecer aos padrões fixados pelo Conselho Monetário Nacional. Percebe-
se que, diferentemente do que ocorre com as notas promissórias e as letras de câmbios, as
duplicatas somente podem ser emitidas com dia certo ou à vista, sendo vedada sua emis-
são com vencimento a certo termo da vista e a certo termo da data.
Após sua emissão, obedecendo aos requisitos anteriormente listados, a duplicata deve
ser enviada ao sacado para que ele a pague (duplicata à vista) ou a aceite e devolva (duplicata
a prazo).
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Ademais, importa referir que a duplicata é um título estruturado como ordem de paga-
mento, sendo que seu aceite é obrigatório, isto é, emitido o título, com base na fatura ou nota
fiscal que documenta a venda, o sacado é obrigado a aceitá-lo. Além disso, ainda que o sacado
não assine o título, aceitando-o expressamente, assumirá a obrigação que nele consta.
Contudo, explica-se que o aceite obrigatório da duplicata não significa aceite irrecu-
sável. A obrigatoriedade do aceite neste título significa que, caso o sacado o recuse, este deve
apresentar uma justificativa plausível para tanto. E é neste sentido que disciplinam os arts. 8 o
e 21 da Lei das Duplicatas.
Assim, após a realização da remessa do título, cabe ao sacado aceitar a duplicata e de-
volvê-la, salvo se tiver razões para recusá-la (conforme já mencionado anteriormente), caso em
que deve fazê-lo de forma escrita e justificada, de acordo com o que prevê o art. 7o da Lei das
Duplicatas.
Art. 7o. A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo comprador ao apre-
sentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua apresentação, devida-
mente assinada ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta
do aceite.
§ 1o Havendo expressa concordância da instituição financeira cobradora, o sacado poderá
reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, desde que comunique, por es-
crito, à apresentante o aceite e a retenção.
§ 2o A comunicação de que trata o parágrafo anterior substituirá, quando necessário, no
ato do protesto ou na execução judicial, a duplicata a que se refere.
Frisa-se que, considerando que o aceite no regime da duplicata é obrigatório, ele inde-
pende de ser expresso, ou seja, neste título de crédito o aceite pode ser expresso – ordinário –
ou presumido – por presunção.
O aceite expresso é aquele realizado na própria cártula, no local indicado para tanto. Já o
aceite presumido ocorre quando o devedor recebe, sem reclamação, as mercadorias adquiridas
e enviadas pelo credor. Neste caso, o simples fato de o devedor receber as mercadorias sem
recusa formal já caracteriza o aceite do título. Atualmente, na prática, a regra é a utilização do
aceite presumido.
Ademais, tem-se ainda um terceiro tipo de aceite, o aceite por declaração ou comunica-
ção. Tal modalidade é feita por uma instituição financeira ou pelo próprio devedor, sendo reali-
zada através de uma assinatura que declara o aceite.
A principal diferença entre o aceite expresso e o presumido ocorre quando da execução
da duplicata. A duplicata com aceite expresso é um título de crédito perfeito e acabado, podendo
ser executada sem a exigência de maiores formalidades, bastando a apresentação do título. Já
para a execução de duplicata aceita por presunção, além da apresentação do título, são
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necessários o protesto (mesmo que a execução seja dirigida contra o devedor principal) e o
comprovante de entrega das mercadorias, conforme preceitua o art. 15 da Lei das Duplicatas.
Em relação ao pagamento da duplicata, como já vimos, este pode ser dar à vista ou a
prazo. Quanto o pagamento for realizado a prazo, pode ser emitida uma duplicata única, dis-
criminando todas as parcelas e seus vencimentos, ou uma série de duplicatas, uma para cada
prestação, distinguindo-as por letras do alfabeto (art. 2o, § 3o, da Lei das Duplicatas).
Relativamente ao protesto da duplicata, tem-se que este pode ser realizado por três ra-
zões: a) por falta de aceite; b) por falta de devolução do título; ou c) por falta de pagamento,
conforme disciplina o art. 13 da Lei das Duplicatas.
No caso da especificação contida no § 1o do art. 13 do já referido dispositivo legal, tem-se
que o protesto por indicações é realizado quando há a retenção (não devolução) do título
por parte do sacado (comprador/devedor). Nesta situação, o sacador (vendedor/credor) não
possui o título em sua posse, motivo pelo qual deve fornecer ao cartório de protesto de títulos
as indicações da duplicata emitida, retiradas da fatura e do Livro de Registro de Duplicatas
(art. 19, Lei das Duplicatas).
Ademais, a ação de execução da duplicata prescreve em: a) três anos, a contar do
vencimento do título, contra o devedor principal e seus avalistas; b) um ano, do protesto
ou do vencimento (quando dispensado o protesto), contra os codevedores e seus avalis-
tas; e c) um ano, para ação de regresso contra os codevedores, a contar do dia em que
pagou o título ou foi acionado, nos termos do art. 18 da Lei das Duplicatas.
Já quanto ao prazo para propositura de ação monitória em face do sacado, temos que
é de cinco anos, conforme preceitua a Súmula no 504 do Superior Tribunal de Justiça (utilizada
por analogia) e o art. 206, § 5 o, I do CC. Com isso, segundo a súmula n o 504, tem-se o prazo
para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força execu-
tiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.
No que se refere ao prazo para ajuizamento de ação de cobrança em face do sacado,
tem-se que é de dez anos a contar do vencimento do título, nos termos do art. 205 do CC.
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datado” configura dano moral, de acordo com o previsto na Súmula n o 370 do Superior Tribunal
de Justiça.
Além disso, deve constar no cheque o local de sua emissão, que deve ser o mesmo
onde o emitente se encontra no momento de seu preenchimento. Tal informação é de suma
importância, pois irá determinar a duração do prazo de apresentação do título ao banco sa-
cado, conforme estudaremos em breve. No mais, a assinatura do emitente é fundamental,
sendo que esta será conferida pela instituição financeira antes de efetuar o pagamento da cár-
tula.
Por se tratar de um título de crédito, o cheque possui implícita a cláusula à ordem, o que
admite sua circulação via endosso. Contudo, o sacador do cheque pode fazer constar, expres-
samente, a cláusula não à ordem, caso em que fica impedida sua circulação via endosso,
não impedindo, entretanto, que este circule via cessão civil de crédito. Neste caso, a circula-
ção da cártula não se submete às regras do regime jurídico cambiário, mas sim do regime
jurídico civil.
Esclarece-se, ainda, que, em caso de circulação do título via cessão civil de crédito, o
cessionário não possui imunidade em relação às exceções pessoais que o emitente venha
a suscitar, ainda que seja um terceiro de boa-fé.
No mais, há algumas modalidades específicas de cheque, dispostas na legislação es-
pecial. A primeira a ser citada é o cheque cruzado, que possui previsão junto aos arts. 44 e 45
da Lei do Cheque.
Como sabemos, o cheque cruzado é muito utilizado na prática comercial. “Cruzar” um
cheque significa fazer dois traços transversais e paralelos no anverso do título. A finalidade
deste cruzamento é justamente trazer segurança à liquidação de cheques ao portador, tendo
em vista que o cheque cruzado só pode ser pago a um banco ou a um cliente de banco,
através de crédito em conta, evitando seu desconto na “boca do caixa”.
Ademais, o cruzamento pode ser realizado em branco ou em preto. No cruzamento em
branco – também conhecido como cruzamento geral – apenas são apostos os dois traços no
título, podendo ser mencionada a expressão “banco” entre os traços. Já no cruzamento em
preto – também chamado de cruzamento especial –, além da aposição dos dois traços, é
mencionado um banco entre estes (coloca-se o nome da instituição financeira ou seu número
junto ao Banco Central), o que faz com que o cheque apenas possa ser pago ao banco identi-
ficado ou a um cliente deste, mediante crédito em conta-corrente.
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A lei específica do cheque disciplina também o cheque visado, junto ao seu art. 7o. O
cheque visado é aquele em que o banco confirma, mediante assinatura no verso do título,
que o sacado possui fundos suficientes para o pagamento do valor referenciado na cártula.
De acordo com o que a lei preceitua, somente o cheque nominativo que ainda não tiver sido
endossado pode receber o visto do banco.
Após visar um cheque, o banco garante que o sacador possui fundos e assegura o
pagamento do título durante o prazo de apresentação. Salienta-se que o visto dado pelo
banco não se confunde com um aceite, não implicando nenhuma assunção de obrigação
cambial por parte do banco, nem exonerando o emitente e eventuais codevedores (endos-
sante, por exemplo) da responsabilidade pelo pagamento do título.
O cheque administrativo é previsto no inciso III do art. 9o da Lei do Cheque, sendo emi-
tido por um banco contra ele mesmo, para ser liquidado em uma de suas agências. Nesta
modalidade, o banco é o emitente e o sacado, ao mesmo tempo.
Por fim, a lei ainda menciona o cheque para ser creditado em conta, junto ao seu art.
46. Nesta espécie de cheque, o sacado não pode pagar o título em dinheiro, por expressa
vedação exposta no anverso do título pelo sacado. Tal vedação consiste na expressão “para
ser creditado em conta” (de acordo com o que a lei preceitua) ou da menção ao número da
conta do beneficiário entre os traços de cruzamento (como é realizado na prática). Neste
caso, o pagamento do título pelo banco sacado deve ser realizado através de lançamento con-
tábil (crédito em conta, transferência ou compensação).
O ato de “sustar” um cheque possui previsão legal junto aos arts. 35 e 36 da Lei do Che-
que. Como visto, a primeira hipótese legal que autoriza o cheque a ser “sustado” é a revogação
ou contraordem, que somente produz efeitos após expirado o prazo de apresentação do
título, devendo ser apresentadas as razões que motivam o ato. A segunda hipótese é a da
oposição, que pode ser realizada dentro do prazo de apresentação do título, devendo o emi-
tente apresentar relevante razão de direito para tanto. Contudo, a própria lei disciplina que
não cabe ao banco sacado realizar uma análise da relevância da razão invocada pelo emi-
tente. Assim, a exigência, feita pelos bancos na prática, de apresentação de boletim de ocorrên-
cia para realizar a sustação do cheque é descabida.
Contudo, o prejudicado pela sustação do cheque pode responsabilizar o emitente, caso
entenda que houve abuso de direito. Pode, ainda, ser requerida a responsabilização penal do
emitente pela prática do crime de estelionato (art. 171, § 2o, VI, do CP).
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Assim, em caso de seu não pagamento, o portador da cártula pode promover ação de
execução de título extrajudicial contra o emitente e demais eventuais codevedores do título.
O prazo para promover essa ação de execução do cheque é de seis meses, contados
a partir do término do prazo de apresentação (art. 59 da Lei do Cheque). Dessa forma, evi-
dencia-se que, independentemente de quando o cheque foi apresentado ao banco sacado, o
prazo de prescrição da ação de execução só se inicia após o término do prazo de apresentação.
No mais, frisa-se que por óbvio prescrito o cheque, não poderá mais ser executado. Con-
tudo, é possível ainda a propositura de ação de enriquecimento ilícito (ou ação de locupleta-
mento) contra o emitente e os demais coobrigados, conforme previsão do art. 61 da Lei do Che-
que. Tal ação prescreve em dois anos, após a prescrição para propositura da ação de execução
do cheque.
A ação de enriquecimento ilícito – ou ação de locupletamento – é uma ação cambial, que
segue o rito ordinário de uma ação de conhecimento, tendo em vista que o cheque prescrito
perde sua executividade. Contudo, o cheque preserva suas características intrínsecas de tí-
tulo de crédito, tal como sua autonomia e consequente inoponibilidade das exceções pes-
soais ao terceiro de boa-fé.
No mais, o cheque ainda pode ser cobrado via ação de cobrança, após terminado o prazo
de prescrição da ação de enriquecimento ilícito – ou ação de locupletamento, desde que seja
comprovado o seu não pagamento e a relação causal que originou o título (art. 62 da Lei
do Cheque).
Esta ação de conhecimento não configura uma ação cambial, sendo que nela o portador
do cheque não mais se beneficia dos predicados decorrentes dos princípios cambiários.
Assim, nesta ação o devedor do título pode discutir a causa que originou o cheque e opor
quaisquer exceções contra o autor da demanda.
Ademais, cumpre mencionar que já é consolidada a jurisprudência no sentido de que é
totalmente cabível a propositura de ação monitória de cheque prescrito. É neste sentido
que as Súmulas nos 299 e 503 do Superior Tribunal de Justiça foram editadas. Vejamos:
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regras do concurso de credores previstas no Código de Processo Civil. Além disso, a LRF igual-
mente não se aplica a fundações, partidos políticos, organizações religiosas e sociedades
simples.
Ainda, o art. 2o da LRF preceitua as demais pessoas jurídicas que não se submetem ao
seu regime. Referente às empresas públicas e sociedades de economia mista, tem-se que,
ainda que sejam exploradoras de atividade econômica, as regras da LRF não são a elas
aplicadas.
Já no que tange às instituições financeiras públicas ou privadas, cooperativas de crédito,
consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência
à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades equiparadas a
estas, a LRF não é aplicada, pois se trata de agentes econômicos que atuam em mercados
regulados e possuem legislações específicas que disciplinam o tratamento jurídico concedido a
suas insolvências, submetendo-se aos procedimentos especiais de liquidação extrajudicial.
Ainda, insta indicar que, com a alteração advinda no início de 2021, o produtor rural e as
cooperativas médicas podem pleitear recuperação judicial.
Em relação ao foro competente para julgar e processar os procedimentos recupera-
cionais e falimentares, tem-se que é o juízo do local do principal estabelecimento do deve-
dor ou da filial da empresa que tenha sede fora do Brasil (art. 3o, LRF). Importante referir que
o local do principal estabelecimento do devedor nem sempre é o local da sede da empresa,
tendo em vista que considera-se como principal estabelecimento o que concreta maior vo-
lume de negócios.
Dessa forma o que se tem é a criação do juízo universal, sendo que as obrigações do
empresário ou da sociedade empresária são atraídas para este juízo, não se falando mais em
relações jurídicas bilaterais, eis que se estabelece um foro comum, no qual as relações jurídi-
cas da empresa não são mais consideradas como unidades esparsas, mas como parte de
um patrimônio.
Na LRF a atuação do Ministério Público ficou restrita às hipóteses expressamente pre-
vistas em lei, como, por exemplo, nos casos em que haja indícios de responsabilidade penal do
devedor (art. 22, § 4o, da LRF) e em que for determinada a alienação de bens do devedor (art.
142, § 7o, da LRF), entre outras.
Ademais, a decretação da falência ou o deferimento da recuperação judicial suspende o
curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor. Devemos ter
cuidado especial com a expressão “todas”, utilizada no dispositivo legal, haja vista que algumas
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ações não possuem seus trâmites suspensos. Tais informações possuem previsão no art. 6 o da
LRF.
Observa-se que as ações que demandam quantias ilíquidas têm prosseguimento no
juízo em que estiverem sendo processadas. O mesmo ocorre com as ações trabalhistas que
seguem seus trâmites até a apuração do respectivo crédito, o qual será incluído no Quadro
Geral de Credores com o valor determinado na sentença. Ainda, as execuções fiscais não são
suspensas com o deferimento da recuperação judicial, salvo por questão de concessão
de parcelamento pelo fisco.
Ainda, ressalta-se que o requerimento de recuperação judicial ou de falência torna o juízo
prevento, isto é, previne a jurisdição para qualquer outro pedido dessa natureza, relativo
ao mesmo devedor.
A partir do art. 7o até o art. 20 da LRF temos o tratamento concedido para a verificação
e habilitação dos créditos nos processos recuperacionais e falimentares. O art. 7o preceitua
que a verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, a partir dos livros
contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apre-
sentados pelos credores. Após ser publicado o edital de decretação da falência ou de processa-
mento da recuperação judicial, os credores possuem o prazo de 15 (quinze) dias para apre-
sentar suas habilitações ou divergências de crédito, diretamente ao administrador judicial.
Após o término deste prazo, o administrador judicial possui o prazo de quarenta e
cinco dias para confeccionar a sua relação de credores e posterior publicação de edital. Além
disso, no edital da relação de credores do administrador judicial deve constar o local, o horário e
o prazo comum em que os credores, o Comitê, o Ministério Público ou os sócios do devedor
podem ter acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração desta relação.
O art. 7o-A da LRF, incluído pela Lei no 14.112 de 2020, disciplina que, em processos
falimentares, após a realização das intimações e publicação do edital de decretação da Falên-
cia, incumbe ao juiz a instauração – de ofício – para cada Fazenda Pública credora, inci-
dente de classificação de crédito público, determinando a intimação eletrônica da Fazenda
credora para que, no prazo de trinta dias, apresente ao administrador judicial ou ao juízo –
considerando o momento processual – a relação completa de seus créditos inscritos em dí-
vida ativa, acompanhada dos cálculos, da classificação e das informações sobre a situa-
ção atual.
Além disso, o § 1o do art. 7o-A da LRF dispõe que considera-se Fazenda Pública credora
aquela constante na relação presente no edital de decretação de falência ou a que alegue
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nos autos, após intimada, possuir crédito contra o falida. Ainda, os créditos não definitivamente
constituídos, não inscritos em dívida ativa ou com exigibilidade suspensa podem ser in-
formados em momento posterior (art. 7o-A, § 2o, LRF).
Após o encerramento do prazo para a Fazenda Pública apresentar seus créditos, o falido,
os demais credores e o administrador judicial possuem o prazo de quinze dias para objeções
sobre os cálculos e a classificação dos créditos da Fazenda Pública (art. 7o-A, § 3o, I, LRF).
Findo tal prazo, a Fazenda Pública será intimada para, no prazo de dez dias, prestar esclare-
cimentos sobre as eventuais objeções apresentadas (art. 7 o-A, § 3o, II, LRF). Ressalta-se que
os créditos serão objeto de reserva integral até o julgamento definitivo, quando rejeitados
os argumentos apresentados (art. 7o-A, § 3o, III, LRF).
Já os créditos incontroversos e exigíveis serão imediatamente incluídos no Quadro
Geral de Credores, observada a sua classificação (art. 7o-A, § 3o, IV, LRF). Ademais, o juiz,
antes de homologar o Quadro Geral de Credores, concederá prazo comum de dez dias para
que o administrador judicial e a Fazenda Pública se manifest em sobre a situação atual do crédito
objeto de reserva, para que, findo o prazo, decida acerca da necessidade de mantê-lo (art. 7o-A,
§ 3o, V, LRF). Cumpre ressaltar que não há condenação em honorários sucumbenciais neste
incidente de habilitação de crédito da Fazenda Pública (art. 7 o-A, § 8o, LRF).
O art. 8o da LRF traz o prazo de dez dias, contados da publicação do edital da relação
de credores do administrador judicial, para que os interessados apresentem, diretamente ao
juízo universal, eventuais impugnações de crédito contra a referida relação de credores, apon-
tando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou
classificação de crédito relacionado. A impugnação de crédito será autuada em apartado,
sendo dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os documentos que o impugnante con-
siderar pertinente e com a indicação de provas consideradas necessárias (art. 13, LRF).
Os requisitos necessários para que o credor realize sua habilitação de crédito – direta-
mente ao administrador judicial – estão dispostos no art. 9o da LRF.
Além disso, caso o credor perca o prazo de quinze dias para apresentar sua habilitação
de crédito ao administrador judicial, ele ainda poderá apresentá-la, contudo esta será recebida
como habilitação retardatária, possuindo alguns efeitos importantes (art. 10, LRF). A primeira
consequência da habilitação retardatária que cumpre mencionar é que, no caso de recuperação
judicial – salvo créditos derivados da relação de trabalho –, os credores não terão direito a
voto nas deliberações da Assembleia Geral de Credores (art. 10, § 1o, LRF). Já na falência,
os titulares de créditos retardatários perderão o direito a eventuais rateios realizados,
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podendo ser requerida pelo credor a reserva do valor para satisfação do seu crédito (art. 10,
§§ 3o e 4o, LRF).
Ademais, caso, quando houver a Assembleia Geral de Credores, o valor do crédito cons-
tante na habilitação retardatária não tenha sido incluído no quadro geral de credores homo-
logado, o credor, assim como ocorre na recuperação judicial, perderá o direito ao voto.
No mais, cumpre ainda referir que as habilitações retardatárias que forem apresentadas
antes da homologação do quadro geral de credores serão recebidas como impugnação
de crédito (art. 10, § 5o, LRF). Caso o quadro geral de credores já tenha sido homologado, o
procedimento para habilitação de créditos é o ordinário, previsto no Código de Processo Civil,
requerendo ao juízo da falência ou da recuperação judicial a retificação do quadro geral para
inclusão do respectivo crédito (art. 10, § 6o, LRF).
Ademais, os §§ 7o, 8o, 9o e 10 do art. 10 da LRF restaram incluídos pela Lei n o 14.112, de
2020. Neste sentido, tem-se que o quadro geral de credores será confeccionado com o jul-
gamento das impugnações tempestivas e habilitações e impugnações retardatárias que
tiverem decisão até o momento da sua formação (art. 10, § 7o, LRF).
Por fim, o § 10 do art. 10 da LRF dispõe que o credor possui o prazo máximo de três
anos, contados da data de publicação da sentença de decretação de falência, para apresentar
pedido de habilitação ou reserva de crédito, sob pena de decadência.
No que se refere à impugnação de créditos, os credores cujos créditos forem impugna-
dos possuem o prazo de cinco dias para contestar a impugnação (art. 11, LRF). Após trans-
corrido tal prazo, o devedor e o comitê de credores (caso haja) serão intimados para se mani-
festarem da impugnação no prazo comum de cinco dias. Por fim, o juiz intimará o adminis-
trador judicial para emitir parecer, também no prazo de cinco dias, devendo juntar à sua
manifestação o laudo elaborado pelo profissional ou empresa especializada e todas as informa-
ções existentes nos livros fiscais e demais documentos do devedor acerca do crédito objeto da
impugnação (art. 12, LRF).
Transcorridos tais prazos, os autos irão conclusos ao juiz. O art. 15 da LRF dispõe as
medidas a serem tomadas pelo juiz. A decisão judicial que julgar a impugnação é atacável
por agravo (art. 17, LRF). Caso não haja impugnações, o juiz homologará, com efeito de
quadro geral de credores, a relação de credores pelo administrador judicial, ressalvado o
disposto no art. 7o-A da LRF (art. 14, LRF).
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não seja formado, deve o administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, o juiz exercer
suas atribuições (art. 28, LRF).
A composição do comitê de credores é discriminada no art. 26 da LRF, sendo a se-
guinte:
a) Um representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com dois suplen-
tes;
b) Um representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia
ou privilégios especiais, com dois suplentes;
c) Um representante indicado pela classe de credores quirografários e com privilégios
gerais, com dois suplentes;
d) Um representante indicado pela classe de credores representantes de microem-
presas e empresas de pequeno porte, com dois suplentes.
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prerrogativa do credor votar de com acordo com seu juízo de conveniência e interesse (art. 39,
§ 6o, LRF). No mais e relativamente à cessão ou promessa do crédito habilitado, esta deverá ser
imediatamente comunicada ao juízo da recuperação judicial (art. 39, § 7o, LRF).
Os credores podem ser representados nas deliberações da AGC por mandatário ou re-
presentante legal, desde que o documento hábil que comprove os poderes ou a indicação das
folhas dos autos do processo em que se encontre o documento seja entregue ao AJ, com no
mínimo, vinte e quatro horas de antecedência da data do ato (art. 37, § 4 o, LRF).
Os sindicatos de trabalhadores poderão representar seus associados titulares de crédi-
tos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho que não compa-
recerem, pessoalmente ou por procurador, à assembleia (art. 37, § 5 o, LRF).
A Assembleia Geral de Credores, nos processos de recuperação judicial, é dividida em
quatro classes: a) a primeira, formada por credores titulares de créditos derivados da legis-
lação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; b) a segunda, formada por cre-
dores titulares de créditos com garantia real; c) a terceira, formada por titulares de créditos
quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados; d) a quarta,
formada por titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno
porte (art. 41, LRF).
Em tese, as deliberações em AGC são aprovadas por voto favorável dos credores que
representem mais da metade do valor total dos créditos presentes, ou seja, por maioria
simples. Contudo, a LRF prevê exceção à regra geral, no caso de deliberações a respeito de:
a) aprovação, rejeição ou alteração do plano de recuperação judicial; b) composição do
comitê de credores; c) alternativa de realização do ativo em processos falimentares (art.
42, LRF).
Assim, relativamente às deliberações sobre a composição do comitê de credores, tem-se
a votação de cada classe separadamente, para a escolha dos seus respectivos membros (art.
44, LRF).
A respeito da votação para deliberação do plano de recuperação judicial, tem-se a pre-
visão do art. 45 da LRF, que preceitua que cada classe vota separadamente, sendo necessária
a aprovação do plano por todas.
Assim, na classe dos credores com garantia real e na classe dos credores quirogra-
fários, com privilégio especial ou geral e subordinados, a aprovação depende do voto fa-
vorável dos credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presen-
tes e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores da classe presentes.
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judicial do produtor rural, devido ao fato de ele não ser obrigado a se registrar na Junta Co-
mercial, o § 2o do art. 48 da LRF – de acordo com a Lei no 14.112/2020 – preceitua que a com-
provação do prazo de dois anos de atividade regular pode ser através da Escrituração Con-
tábil Fiscal (ECF), ou por meio de obrigação legal de registros contábeis que venha a subs-
tituir a ECF, desde que tenha sido entregue tempestivamente.
Para além e conforme já referido, o instituto da recuperação judicial é um importante me-
canismo apto a auxiliar na superação da crise econômico-financeira que uma empresa ve-
nha a estar passando. Neste sentido, o art. 50 da LRF dispõe alguns meios para que a supe-
ração ocorra. Importante frisar que tal rol é apenas exemplificativo, podendo existir outros,
como bem especifica o referido dispositivo legal.
Caso não estejam presentes todos os requisitos da petição inicial, o juiz pode pedir
que o devedor emende a inicial, apresentando as determinações faltantes. Por outro lado, es-
tando presentes os requisitos do art. 51 da LRF e os do art. 319 do CPC, o juiz deferirá o
processamento da recuperação judicial. Frisa-se que, neste momento processual, o juiz não
está concedendo ao devedor a recuperação judicial, mas sim apenas determinando o seu pro-
cessamento.
O art. 51-A restou criado pela Lei no 14.112, de 2020, preceituando a possibilidade de
“constatação prévia”, que se traduz na possibilidade de, após o pedido de recuperação ju-
dicial ser distribuído, o juiz, se reputar necessário, nomear profissional de sua confiança,
com capacidade técnica e idoneidade, para promover a constatação exclusivamente das re-
ais condições de funcionamento da requerente e da regularidade e da completude da do-
cumentação apresentada junto à exordial.
Dessa forma e com o deferimento do processamento da RJ, o juiz tomará as providências
contidas no art. 52 da LRF, sendo elas: a) a nomeação do administrador judicial; b) a determina-
ção da dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas ativi-
dades, observado o disposto no § 3 o do art. 195 da CF e no art. 69 da LRF; c) a determinação
da suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, salvo exceções; d) a determi-
nação ao devedor de apresentação das contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a
recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores; e e) a ordenação de inti-
mação eletrônica ao Ministério Público e às Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e
Municipais em que o devedor tiver estabelecimento, a fim de que tomem conhecimento da recu-
peração judicial e informem eventuais créditos perante o devedor, para divulgação aos demais
interessados.
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decisão é atacável por agravo de instrumento, nos termos do § 2o do art. 59 da LRF. Ainda,
dessa decisão serão intimados eletronicamente as Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Dis-
trital e Municipais em que o devedor tiver estabelecimento (art. 59, § 3 o, LRF).
Após ter concedida sua recuperação judicial, o devedor nela permanece até que sejam
cumpridas todas as obrigações previstas no plano que se vencerem em até dois anos
depois da concessão da RJ, independentemente do eventual período de carência (art. 61,
LRF). Durante este período, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano enseja
a convolação da recuperação judicial em falência (art. 61, §1o, LRF).
No caso de descumprimento das obrigações após o período de dois anos, qualquer
credor poderá requerer a execução específica ou a falência do devedor (art. 62, LRF).
A recuperação judicial, em princípio, não retira do titular da empresa o direito de ad-
ministração dos bens. Nesse sentido, o art. 64 da LRF preceitua as hipóteses em que devem
ser destituídos. Na eventualidade de ser declarada a destituição dos sócios administrado-
res, deve-se ser convocada a Assembleia Geral de Credores, a fim de deliberarem sobre o nome
do gestor judicial que assumirá a administração das atividades do devedor, nos termos do
art. 65 da LRF. Ademais, o § 1o do referido artigo indica que, enquanto a assembleia geral não
tiver escolhido quem será o gestor judicial, deve o administrador judicial exercer tal fun-
ção.
A Lei no 14.112/2020 inovou ao criar a Seção IV-A – Do Financiamento do Devedor e
do Grupo Devedor durante a Recuperação Judicial, incluindo dispositivos que irão abordar o
tema. Neste sentido, tem-se que o art. 69-A disciplina a possibilidade de o juiz autorizar, durante
a RJ, a celebração de contratos de financiamento com o devedor, garantidos pela oneração ou
pela alienação fiduciária de bens e direitos, seus ou de terceiros, pertencentes ao ativo não
circulante, para financiar as suas atividades e as despesas de reestruturação ou de preservação
do valor de ativos, após ouvido o comitê de credores. Essas modalidades de dip financing.
A Seção IV-B – Da Consolidação Processual e da Consolidação Substancial emergiu
com a nova redação dada pela Lei nº 14.112/ 2020 e surgiu com o objetivo de consolidar algo
que há tempos vinha sendo discutido pela jurisprudência, sendo que o art. 69-G dispõe, em
breves linhas, que os devedores que atendam aos requisitos elencados pela LRF e que integrem
um grupo econômico poderão requerer a recuperação judicial na forma de consolidação proces-
sual.
Neste caso, é incumbência de cada devedor apresentar – individualmente – a docu-
mentação exigida no art. 51 da LRF (art. 69-G, § 1o, LRF). A competência para deferir a RJ é
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a do juízo do local do principal estabelecimento entre os dos devedores (art. 69-G, § 2o,
LRF). O § 3o deste art igo dispõe que “exceto quando disciplinado de forma diversa, as demais
disposições da LRF aplicam-se aos casos de que trata esta Seção”.
No caso de a documentação de cada devedor ser aprovada, será nomeado apenas um
administrador judicial para auxiliar o juiz na condução do processamento da RJ (art. 69-H,
LRF).
A consolidação processual acarreta a coordenação de atos processuais, garantindo
a independência dos devedores, dos seus ativos e dos seus passivos (art. 69-I, LRF). Além
disso, os meios de recuperação serão propostos independentes por cada devedor, sendo
estes específicos para a composição de seus passivos, admitindo-se, contudo, a sua apresen-
tação em plano único (art. 69-I, § 1o, LRF).
O art. 69-J dispõe que é faculdade do juiz, em caráter excepcional, autorizar a consoli-
dação substancial de ativos e passivos dos devedores integrantes do mesmo grupo eco-
nômico que estejam em RJ sob consolidação processual – independentemente da realiza-
ção de Assembleia Geral de Credores – no caso de ficar constatada a interconexão e a confu-
são entre ativos ou passivos dos devedores, de modo que não seja possível identificar a
sua titularidade sem excessivo dispêndio de tempo ou de recursos, cumulativamente com a
ocorrência de, no mínimo, duas das seguintes hipóteses: a) existência de garantias cruzadas;
b) relação de controle ou de dependência; c) identidade total ou parcial do quadro socie-
tário ; e d) atuação conjunta no mercado entre os postulantes.
Além disso, o art. 73 da LRF dispõe algumas hipóteses em que será decretada a falência
do devedor durante o processo de recuperação judicial. Tais regras tiveram alterações em suas
redações e acréscimos de possibilidades na Lei n o 14.112/2020.
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360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e, em caso de empresa de pequeno porte (EPP),
aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta
mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitenta mil reais) (art. 3 o, LC
no 123/2016).
Inicialmente cumpre destacar que o pedido de recuperação judicial com base no plano
especial é uma faculdade para as empresas enquadradas como ME ou EPP, ou seja, os
devedores classificados como microempresa ou empresa de pequeno porte devem optar em
sua petição inicial pela apresentação de plano especial ou plano normal de recuperação
judicial (art. 70, § 1o, LRF).
Para que o produtor rural possa apresentar plano especial de recuperação judicial, o
valor da causa não pode exceder a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais) (art.
70-A, LRF). Destaca-se, contudo, que independentemente da opção do devedor, este deverá
preencher os requisitos do art. 48 da LRF, bem como apresentar a documentação exigida no art.
51 da LRF, com as devidas ressalvas já constantes na lei.
O prazo para a apresentação do plano especial é de sessenta dias, assim como ocorre
no plano normal (art. 71, LRF). As condições para apresentação desse plano especial limi-
tam-se ao previsto no dispositivo legal anteriormente referido.
Ademais, temos que o pedido de recuperação judicial com base em plano especial
não acarreta a suspensão do curso da prescrição e das ações e execuções por créditos
não abrangidos pelo plano (art. 71, parágrafo único, LRF). Ainda, os credores não abrangi-
dos no plano especial não possuem seus créditos habilitados na RJ (art. 70, § 2o, LRF).
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6.9. Falência
O procedimento falimentar ocorre quando a crise econômico-financeira de uma em-
presa se torna invencível, ou seja, não se localizam mais possibilidades de recuperação para a
empresa. Outrossim, e como ocorre com os legitimados para a recuperação judicial, a falência é
destinada somente a empresários e sociedades empresárias, ou seja, é vedado o uso do
instituto para empresas públicas, sociedades de economia mista, instituições financeiras, entre
outras.
Importante referir que a falência é vista como uma execução coletiva concursal, haja
vista ser arrecadado o ativo do falido para ser realizado o pagamento dos credores, ou seja,
o pagamento do passivo. Além disso, são previstas punições aos atos considerados crimi-
nosos eventualmente praticados pelo falido.
Ademais e a se considerar o processo falimentar como uma execução coletiva concur-
sal, evidencia-se a submissão de todos os credores ao princípio do par conditio creditorum,
o qual indica a necessidade de ser concedido a todos os credores do devedor um tratamento
igualitário.
O art. 75 da LRF estabelece que, ao promover o afastamento do devedor de suas
atividades, a falência possui como objetivos: a) preservar e otimizar a utilização produtiva dos
bens, dos ativos e dos recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa; b) permitir a
liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação eficiente de recursos na eco-
nomia; e c) fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere
do empreendedor falido à atividade econômica.
O instituto falimentar pressupõe a necessidade de formação do juízo universal. Neste
aspecto, cumpre ressaltar que a competência para a arrecadação de todos os bens e para a
suspensão das execuções individuais pertence a este juízo universal, objetivando-se, assim, ga-
rantir que todos os credores sejam submetidos ao processo falimentar, sendo classificados e
satisfeitos de acordo com a natureza de suas obrigações.
No que tange ao sujeito ativo da falência, temos que, conforme dispõe o art. 97 da LRF,
podem requerer a falência do devedor: a) o próprio devedor, neste caso se trata de uma
liquidação voluntária, chamada de autofalência; b) o cônjuge supérstite, herdeiros ou in-
ventariante do devedor, tratando-se de uma liquidação póstuma; c) o sócio cotista ou aci-
onista do devedor; e d) qualquer credor, se configurando em uma liquidação involuntária.
Em relação à resposta do devedor quanto ao pedido de decretação de sua falência, temos
que o prazo é de dez dias, de acordo com o art. 98 da LRF. Na contestação o devedor pode
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No que tange aos recursos cabíveis, da sentença que denega o pedido cabe apelação,
enquanto a decisão que decreta a falência é atacável por agravo de instrumento (art. 100,
LRF).
Neste sentido, o art. 99 da LRF estabelece o conteúdo que deve estar presente na sen-
tença que decretar a falência. Ademais, e a se considerar que a sentença que decreta a falên-
cia inicia o procedimento falimentar propriamente dito, esta é uma decisão interlocutória
especial, tendo em vista que se interlocuta entre a cognição e a execução. A natureza jurí-
dica dessa sentença é híbrida, sendo ao mesmo tempo constitutiva e declaratória. Possui
efeito ex nunc, ou seja, da constituição em diante, enquanto o decreto falimentar possui
efeito ex tunc, tendo em vista que será fixado o termo legal da falência em até noventa dias
anteriores ao seu pedido.
Assim, importante frisar que a fixação do termo legal da falência, conforme dispõe o
inciso II do art. 99, é importantíssima, haja vista ser a partir dessa fixação que se torna possível
determinar a presunção de fraude e a consequente ineficácia de certos atos praticados
pelo devedor. Este lapso temporal é conhecido como período suspeito.
Relativamente à determinação de suspensão das ações e execuções individuais movidas
em face do falido, salvo as ações que demandam quantias ilíquidas e as reclamatórias trabalhis-
tas, tem-se que, diferentemente do que ocorre na recuperação judicial, em que são suspensas
pelo prazo de cento e oitenta dias, na falência, a suspensão perdura por todo o processo
falimentar.
Em relação às execuções fiscais, tem-se que é competência do juízo da execução decidir
quanto ao valor do crédito, à exigibilidade e à existência, nos termos do art. 7 o-A, § 4o, II, LRF e,
a habilitação e classificação de tal crédito acontecerá no incidente processual previsto no caput
do art. 7o-A da LRF. Veja-se que as execuções fiscais ficarão suspensas até o fim do feito fali-
mentar, sendo possível seu prosseguimento em face dos corresponsáveis (art. 7 o-A, V, LRF).
Ademais, a decretação da falência inaugura o juízo universal, que é indivisível e com-
petente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, salvo
as ações trabalhistas, fiscais e as não reguladas na LRF, nas quais o falido figure como autor ou
litisconsorte ativo, de acordo com o previsto no art. 76 da LRF.
No mais, a decretação da quebra determina o vencimento antecipado das dívidas do
devedor, realizando o abatimento proporcional dos juros e a conversão dos créditos em moeda
estrangeira para a moeda brasileira, considerando o câmbio da data da decisão judicial (art. 77,
LRF). Isso ocorre, haja vista, a exigência de ser confeccionada a relação de credores.
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legal dispõe que a venda dos bens pode iniciar antes mesmo da formação do Quadro Geral de
Credores.
A alienação do ativo ocorrerá sob uma das modalidades típicas preceituadas no art. 142
da LRF, sendo através de leilão eletrônico, presencial ou híbrido; processo competitivo or-
ganizado promovido por agente especializado e de reputação ilibada, cujo procedimento
deverá ser detalhado em relatório anexo ao plano de realização do ativo ou ao plano de
recuperação judicial, conforme o caso, ou qualquer outra modalidade, desde que aprovada
nos termos da LRF.
Como já exposto e a respeito da verificação e habilitação de créditos, temos que, já na
decisão que decreta a quebra do devedor, o juiz toma duas medidas importantes para tanto, o
fato de ordenar ao falido que apresente, no prazo máximo de cinco dias, a sua relação nominal
de credores e a explicação sobre o prazo para as habilitações de crédito.
De acordo com o já estudado, a classificação dos créditos ocorre a fim de possibilitar a
reunião de credores de acordo com a similaridade de seus créditos, objetivando tratamento idên-
tico perante a liquidação dos ativos no processo falimentar. Assim, objetiva-se atingir o princípio
do par conditio creditorum.
Antes de expor a classificação de créditos concursais, necessário abordar os chamados
créditos extraconcursais.
Os créditos extraconcursais referidos estão descritos no art. 84 da LRF, sendo eles: I-
A) as quantias referidas nos arts. 150 e 151 da LRF; I-B) o valor efetivamente entregue ao deve-
dor em recuperação judicial pelo financiador, em conformidade com o disposto na Seção IV-A
da LRF (dip financing); I-C) os créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme previsto no
art. 86 da LRF; I-D) as remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus auxiliares, os
reembolsos devidos a membros do comitê de credores, e os créditos derivados da legislação
trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decre-
tação da falência; I-E) as obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a
recuperação judicial, nos termos do art. 67 da LRF, ou após a decretação da falência; II) as
quantias fornecidas à massa falida pelos credores; III) as despesas com arrecadação, adminis-
tração, realização do ativo, distribuição do seu produto e custas do processo de falência; IV) as
custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa falida tenha sido vencida; V)
os tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a or-
dem estabelecida no art. 83 da LRF.
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Evidencia-se, assim, que os créditos extraconcursais são créditos que surgiram após
a decretação da falência, em decorrência dela. Sendo assim, são dívidas da própria massa
falida, e não do devedor falido. Neste sentido, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça
decidiu que os honorários advocatícios resultantes de trabalhos prestados à massa falida após
a decretação da quebra são classificados como créditos extraconcursais.
Após os pagamentos das restituições em dinheiro e dos créditos extraconcursais, inicia-
se o pagamento dos credores constantes no Quadro Geral de Credores, os chamados créditos
concursais, que seguem uma ordem de classificação legal.
Essa ordem de classificação legal é estabelecida no art. 83 da LRF, sendo ela: I – os
créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a cento e cinquenta salários mínimos por
credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; II – os créditos gravados com direito real de
garantia até o limite do valor do bem gravado; III – os créditos tributários, independentemente da
sua natureza e do tempo de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas tributá-
rias; IV – os créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste
artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao
seu pagamento; e c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem
o limite estabelecido no inciso i do caput deste artigo; V – as multas contratuais e as penas
pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, incluídas as multas tributárias; VI –
os créditos subordinados, a saber: a) os previstos em lei ou em contrato; e b) os créditos dos
sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja contratação não tenha observado
as condições estritamente comutativas e as práticas de mercado; VII – os juros vencidos após a
decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta lei.
Ademais, indica-se que a Lei no 14.112/ 2020 excluiu da classificação de créditos con-
cursais os créditos com privilégio geral e com privilégio especial, incluindo-os nos crédi-
tos quirografários, conforme preceituado no § 6o do art. 83 da LRF.
Além disso, os créditos cedidos, a qualquer título, manterão sua natureza e classificação
(art. 83, § 5o, LRF).
A limitação de pagamento de até cento e cinquenta salários mínimos por trabalhador não
engloba os créditos decorrentes de acidente de trabalho, os quais concorrem como créditos pre-
ferenciais pela totalidade do seu valor.
Sobre créditos concursais, tem-se que os créditos devidos aos representantes comerciais
autônomos a título de comissões (art. 44 da Lei n o 4.886/1965), os créditos referentes a
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honorários advocatícios e quaisquer créditos que tenham natureza alimentar são créditos que
possuem equiparação à trabalhistas para fins de classificação na falência.
Os créditos com garantia real, até o limite do bem gravado, estão em segundo lugar na
ordem de classificação legal (art. 83, II, LRF). Necessário mencionar que o valor considerado do
bem objeto de garantia real é o arrecadado com a sua venda ou, no caso de venda em bloco, o
valor da sua avaliação individual (art. 83, § 1 o, LRF). Além disso, o § 2o do art. 83 da LRF inteli-
gência que, da massa falida, não são exigíveis os valores referentes ao direito de sócio ao rece-
bimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.
Os créditos tributários estão dispostos em terceiro lugar na ordem de classificação le-
gal, sem ter em conta sua natureza e tempo de constituição, com exceção das multas tributárias.
Já as multas tributárias são classificadas em sétimo lugar, juntamente com as outras penas
pecuniárias e multas contratuais.
Os créditos com privilégio especial e com privilégio geral eram classificados em quarto
e quinto lugar, respectivamente. Contudo, com a reforma da LRF, suas disposições foram re-
vogadas, fazendo parte, a partir de então, dos créditos quirografários.
Os créditos quirografários, que são os que não possuem nenhuma espécie de prefe-
rência ou garantia, estão em sexto lugar na ordem de classificação. Como exemplo de tais
créditos temos os decorrentes de obrigações contratuais ou cambiais não adimplidas.
Além disso, classificam-se como quirografários o saldo do crédito trabalhista ou equipa-
rado, excedente a cento e cinquenta salários-mínimos, e o saldo do crédito com garantia real,
cujos valores arrecadados com a alienação dos bens vinculados não tenham sido suficientes.
Ademais e conforme já mencionado, os créditos com privilégio geral ou especial passa-
ram a fazer parte dos créditos quirografários a partir da reforma da LRF.
As multas contratuais e tributárias e as penas pecuniárias por infração de leis penais
ou administrativas se encontram em sétimo lugar na ordem legal de classificação. Assim, ape-
sar de a LRF permitir a cobranças de tais penas à falida, sua classificação está abaixo dos cré-
ditos quirografários.
Os créditos subordinados, que são basicamente os créditos dos próprios sócios da fa-
lida, são classificados em oitavo lugar.
Por fim, os juros vencidos após a decretação da falência se classificam em nono lugar,
nos termos da previsão contida no art. 124 da LRF.
Como vimos, o objetivo do processo falimentar é a liquidação do ativo para o pagamento
do passivo.
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Antes de iniciar o pagamento dos credores concursais descritos no quadro geral de cre-
dores, o administrador judicial tem que realizar alguns pagamentos com os recursos que possui
em caixa. Como exemplos deste caso, temos o que preceitua o art. 150 da LRF, que dispõe que
as despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência,
inclusive na hipótese de continuação provisória das atividades, serão pagas pelo administrador
judicial com os recursos disponíveis em caixa, e o art. 151 da LRF, que preceitua que os créditos
trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos três meses anteriores à decre-
tação da falência, até o limite de cinco salários mínimos por trabalhador, serão pagos tão
logo haja disponibilidade em caixa. Percebe-se, portanto, que tais pagamentos devem ser re-
alizados a partir do momento em que se tenha disponibilidade de valores em caixa.
Além disso, também devem ser pagos, antes dos credores concursais, as restituições
em dinheiro deferidas pelo juiz e os créditos extraconcursais (art. 149, LRF).
O pagamento dos credores concursais, como estudado, deve observar a ordem legal de
classificação prevista no art. 83 da LRF.
7. Propriedade Industrial
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Modelo de utilidade:
Já o art. 10 nos ilustra o que não pode ser considerado uma invenção. São muitos
incisos, mas associem sempre a algo derivado da criatividade humana e com aplicação prática
na indústria. Por exemplo, descobrir algo é diferente de inventar algo. Na descoberta, o objeto já
existia. No ato de inventar, algo novo é criado. Obras artísticas são protegidas pela lei de direitos
autorais, e não pela LPI. Ainda, vale destacar que softwares independentes (aplicativos, por
exemplo) são protegidos pela Lei de Softwares, contudo, se estivermos falando de um software
acoplado em uma criação, esta poderá ser patenteada junto do software.
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Direito Empresarial
Após concedida, a patente vigorará por: 20 anos, se for invenção, e 15 anos, se for modelo
de utilidade. Importante atentar que o prazo passa a contar da data do depósito, ou seja,
do dia em que houve o encaminhamento do pedido ao INPI, e não da concessão.
Os direitos concedidos ao titular da patente encontram-se no art. 41 e subsequentes. Vi-
olação a estes direitos gerarão indenizações, que, conforme art. 44, retroagem à data da publi-
cação pelo INPI.
I – Voluntária (art. 61) – ato de vontade do autor da patente, que deseja, voluntariamente,
licenciar outrem para realizar a exploração. Tal ato deverá ser averbado junto ao INPI para
que produza efeitos – a contar de sua publicação. Caso a parte que esteja utilizando,
mediante licença, patente, venha a melhorá-la, tal melhoria lhe pertence (art. 63).
II – Por oferta (art. 64) – cuida-se de espécie de “leilão” – o titular da patente solicita ao
INPI que este a coloque em oferta para fins de exploração. Ou seja, o INPI anuncia a oferta
e em suas revistas no intuito de atrair interessados.
III – Compulsória (art. 68) – caso o titular exerça a patente de forma abusiva, ou pratique
abuso de poder econômico (decisão administrativa do CADE), poderá ter sua patente li-
cenciada de forma compulsória após decisão administrativa ou judicial. Isso significa que,
em virtude da má utilização da patente, o ente público permite que outras empresas a
utilizem, desde que preenchidos requisitos (legítimo interesse e capacidade de produção).
O titular não deixa de ser dono da patente, apenas perderá a exclusividade na exploração
econômica da mesma. O art. 69 apresenta as hipóteses de defesa daquele que está sendo
alvo de licenciamento compulsório:
Fala-se, ainda, em licença compulsória nos casos do art. 70, se preenchidos alguns re-
quisitos cumulativamente:
Por fim, há a patente compulsória nos casos de emergência nacional ou interesse público
(art. 71).
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Direito Empresarial
Nesses casos, se o titular não for capaz de suprir demanda emergencial (como uma epi-
demia, por exemplo), poderá haver a licença da patente de ofício – sem prejuízo dos direitos do
titular. Trata-se de medida temporária para suprir alguma questão emergencial.
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Para fins jurídicos, qualquer que seja o tipo de marca, a proteção é idêntica.
2. Requisitos das marcas:
a) Novidade relativa: a marca precisa ser nova dentro da sua classe, quer dizer, seu
ramo de atividade. O INPI possui uma lista com diversos segmentos mercadológi-
cos e, ao fazer o registro, o titular deve especificar a qual classe o produto pertence.
Assim, a marca precisa ser novidade dentro daquela classe, sendo perfeitamente
possível marcas com o mesmo nome coexistirem, contanto que em segmentos dis-
tintos. Ex.: desinfetante VEJA e revista VEJA. Não há como haver confusão entre
os consumidores.
b) Não colidência com marca de alto renome ou notória: a marca não pode incidir
nas hipóteses previstas nos arts. 125 e 126 da LPI (veremos a seguir).
c) Ausência de impedimento legal: o art. 124 da LPI apresenta um rol de diversos
incisos apontando o que não é registrável como marca. A ideia central do artigo é,
por um lado, proteger o consumidor, que não pode ser enganado, e, em um segundo
momento, proteger o titular legítimo de marca e evitar que este seja prejudicado.
Assim, temos incisos versando, por exemplo, sobre a proibição da utilização de ban-
deiras na marca (o que passa a ideia de que o produto foi fabricado em outro país),
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Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada pro-
teção especial, em todos os ramos de atividade.
Art. 126. A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do art.
6o bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, goza
de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada
no Brasil.
Vigência da marca: o registro da marca vigorará pelo prazo de dez anos, contados da
data da concessão do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos. Ou seja,
diferente dos outros bens da propriedade industrial, a marca pode, em tese, vigorar para sempre,
contanto que seja renovada a cada dez anos.
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Para plena compreensão da lei e seus efeitos, é necessário conhecer alguns conceitos
importantes por ela introduzidos, como a diferença entre dados pessoais e dados pessoais sen-
síveis. O primeiro refere-se às informações relacionadas a pessoa natural que a tornam identifi-
cada ou identificável (RG, CPF, nome, endereço, etc.). O segundo, por sua vez, versa sobre os
dados que envolvem origem racial, étnica, convicção religiosa, condição de saúde, vida sexual e
afins, os quais exigem cuidados muito específicos, no intuito de proteger o titular de possíveis
condutas discriminatórias.
Outro importante conceito é o do tratamento de dados, que consiste em toda operação
realizada com dados pessoais, como as que se referem a coleta, produção, recepção, classifi-
cação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento,
armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação, comunicação,
transferência, difusão ou extração.
O tratamento é realizado conforme os princípios previstos na LGPD em seu artigo 6º. Entre
eles, cabe destacar o da finalidade, que dispõe sobre a necessidade do tratamento de dados
possuir um propósito legítimo e devidamente informado ao titular; necessidade, o qual impõe
uma limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realização de suas finalidade e; trans-
parência, segundo o qual os titulares devem ter garantia de informações claras e precisas sobre
a realização do tratamento de seus dados pessoais.
Já o art. 7º da LGPD elenca as hipóteses nas quais o tratamento de dados poderá ocorrer.
Aqui cabe ressaltar a hipótese do consentimento, ou seja, o titular de dados precisa fornecer o
seu consentimento para que o mesmo seja tratado. Tal medida exige toda uma readequação nos
contratos firmados pelos empresários, bem como a adoção de medidas no âmbito digital para
que reste claro o consentimento fornecido pelo titular de dados.
Outra medida que exige adequação dos empresários vem prevista no art. 18, o qual des-
creve os direitos dos titulares de dados. Assim, todo titular têm o direito de obter do controlador
informações sobre a existência do tratamento de dados, possuir acesso aos seus dados pessoais
em tratamento e sua devida correção, caso incompletos ou desatualizados, assim como a sua
anonimização, bloqueio ou eliminação de dados.
Por fim, cabe mencionar os agentes de tratamento de dados previstos pela LGPD, a saber,
o controlador, o operador e o encarregado. O controlador é quem fornece as instruções acerca
do tratamento de dados, que são realizados pelo operador. Já o encarregado é alguém indicado
pelo controlador para atuar como canal de comunicação entre o controlador, os titulares de dados
e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
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