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MANUAL DE DIREITO

EMPRESARIAL

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino á Distância
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Centro de
Ensino à Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação e/ou
reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer
meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de
entidade editora (Universidade Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância). O
não cumprimento desta advertência é passível a processos judiciais.

Autoria de: Nelson Manuel


Diplomado em direito pela Universidade Eduardo Mondlane

Universidade Católica de Moçambique (UCM)


Centro de Ensino à Distância (CED)
Rua Correia de Brito No 613 – Ponta-Gêa
Beira – Sofala

Telefone: 23 32 64 05
Cell: 82 50 18 440
Moçambique

Fax: 23 32 64 06
E-mail: ced@ucm.ac.mz
Website: www.ucm.ac.mz
Agradecimentos

A Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância e o


autor do presente manual, agradecem a colaboração de todos os que
tornaram possível a produção do manual.
Universidade Católica de Moçambique i

Índice
Visão geral 1
Benvindo a Inserir título do curso/Módulo aqui Inserir sub-título aqui ........................... 1
Objectivos do curso ....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 1
Como está estruturado este módulo................................................................................ 1
Ícones de actividade ...................................................................................................... 2
Acerca dos ícones ........................................................................................ 2
Habilidades de estudo .................................................................................................... 2
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 2
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 3
Avaliação ...................................................................................................................... 3

Unidade Inserir aqui no. da unidade 5


Inserir aqui o título da unidade ...................................... Erro! Marcador não definido.
Introdução ............................................................................................................ 5
Sumário ......................................................................... Erro! Marcador não definido.
Exercícios...................................................................... Erro! Marcador não definido.
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Visão geral
BEM-VINDOAO DIREITO EMPRESARIAL

Objectivos do curso
Quando terminar o estudo de Direito Empresarial o estudante será
capaz de:

 Compreender as razões da designação da disciplina;


 Reconhcer o Direito Empresarial como parte especial do direito
privado
 Usar o teorema de Desargues e seus casos particulares para resolver
Objectivos tarefas;
 Definir num quadrivértice (ou quadrilátero) o conjunto de quatros
pontos (ou rectas) que forma um quadruplo harmónico;
 Determinar num sistema de abcissas, (quando se toma um sistema de
pontos fundamentais), a posição de um quarto ponto de uma razão
anarmónica;
 Representar projectividades definidas entre pontuais ou feixes

Quem deveria estudar este


módulo
Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram
ser funcionáros públicos ou de outras entidde afim . Estendese a todos
que queiram consolidar os seus conhecimentos sobre a parte privado do
negócio.
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Como está estruturado este


módulo
Todos os módulos dos cursos produzidos por UCM - CED encontram-se
estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias
 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada do módulo, resumindo os aspectos-chave
que você precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos
vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu
estudo.

Conteúdo do módulo
O módulo está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos que inclui
livros, artigos ou sites na internet podem serem encontrados na pagina de
referencias bibliográficas.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de três ou
quatro unidades. Sempre que necessário, inclui-se na apresentação dos
conteúdos algumas actividades auxiliares que irão lhe ajudar a perceber a
exposição dos restantes conteúdos.

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do módulo. Os seus comentários serão
úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este módulo.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.
Neste módulo destacamos particularmente a marca ( ) que foi usada
para indicar as tarefas auxiliares que ajudarao-te a perceber os conteudos
expostos.
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Habilidades de estudo
Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores
resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os
bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficazes e por isso é
importante saber como estudar. Apresento algumas sugestões para que
possa maximizar o tempo dedicado aos estudos:

Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente


de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em
casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de
tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo
de 30 em 30 minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem
interrupção?

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da
matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já
domina bem o anterior. É preferível saber bem algumas partes da matéria
do que saber pouco sobre muitas partes.

Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque,
devido à falta de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a
ter-se dificuldades de concentração e de memorização para organizar toda
a informação estudada. Para isso torna-se necessário que: Organize na sua
agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar
durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o
utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e
a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma


necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A
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colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de


modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode
escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode
também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados
com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a
seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
desconhece;

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o
material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza,
alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone,
escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacteo pessoalmente.

Os tutores tem por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o


estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.

Todos os tutores tem por obrigação facilitar a interacção, em caso de


problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase
posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de natureza
geral. Contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.

Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de


expediente.

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem


a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode
apresentar duvidas, tratar questões administrativas, entre outras.
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O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque


apoio com os colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam
sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu
próprio saber e desenvolva suas competências.

a.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e
autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do
período presencial.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem
ser dirigidos ao tutor\docentes. Podem ser utilizadas diferentes fontes e
materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente
referenciados, respeitando os direitos do autor.

O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito)


palavras de um autor, sem o citar é considerado plagio. A honestidade,
humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem marcar a
realização dos trabalhos.

Avaliação
Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o
período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com
base no chamado regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por ti
desenvolvidos, durante o estudo individual, concorrem para os 25% do
cálculo da média de frequência da cadeira.
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Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões


presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de
frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da
cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar 3 (três) trabalhos, 2
(dois) teste e 1 (um) exame. Não estão previstas quaisquer avaliação oral.

Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como


ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações,
os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência
textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referencias utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação estão
indicados no manual. Consulte-os.
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Como está estruturado este


módulo

PLANO DE EXPOSIÇÃO
1. A DESIGNAÇÃO DA DISCIPLINA: PORQUÊ PRIVADO?
1.1. O Direito Empresaria é um ramo especial do direito privado.
1.2. O Direito Empresarial é o fundamento do privado e a base da
actividade dos empresarios.
2. Direito Empresarial
2.1. Definição e objecto
2.2. Classificação
2.2.1. Direito Empresarial geral
2.2.2. Direito Empresarial particular
3. As Fontes do Direito Empresarial

Todos os módulos dos cursos produzidos por inserir aqui nome da


instituição encontram-se estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias
 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo


O curso está estruturado em unidades. Cada unidade ncluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorer. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno final de cada
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do modulo.
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Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / modulo.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones


Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por
adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África
Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia.
Os ícones incluídos neste manual são... (ícones a ser enviados - para
efeitos de testagem deste modelo, reproduziram-se os ícones adrinka, mas
foi-lhes dada uma sombra amarela para os distinguir dos originais).
Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada
um com uma descrição do seu significado e da forma como nós
interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao
longo deste curso / módulo.
Clique aqui e seleccione Inserir elementos (imagem/tabela/nova unidade)
da janela do Modelo para Ensino à Distância. Escolha ou Todos os ícones
abstractos ou Todos os ícones adrinka da lista dada.

Habilidades de estudo
Inclua aqui alguns parágrafos curtos para aconselhar os alunos a planear o
seu tempo, dê dicas sobre tomada de notas, como estudar à distância, etc.

Precisa de apoio?
Apresente aqui pormenores do sistemas de apoio ao aluno: quem devem
contactar em caso de precisarem de apoio em relação a vários tipos de
problemas.
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Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
Para avaliação e auto avaliação os estudantes tera de resolver os exercicio
do manual e as tarefas que o docente der durantes as aulas, e ainda o
estudo indivual

Avaliação
Para avaliação os estudantes teram 3 testes , 3 trabalho e o exame final
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Unidade 01
Direito Empresarial:
Qualificação e regime jurídico

Plano de Exposição

1. Conceito de Direito Empresarial


2. Delimitação do objecto e ambito do direito empresaril
3. Concepção Subjectiva
4. Concepção Objcetiva
5. Concepção do direito moçambicano
6. interpretação e integração de lacunas
7. fontes do Direito Empresarial

Introdução

1. Noções

Entende-se por Direito Comercial o corpo de normas, conceitos e


princípios jurídicos que, no domínio do Direito Privado, regem os factos
e as relações jurídico comerciais.1

Para além de procurar definir o âmbito deste complexo normativo,


importa saber se é, ou não, justifocável delimitar o conceito de Direto
comercial e se este correponde a uma realidade substancial com
auonomia dogmática e científica.2

1
Miguel J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 13.
2
CUNHA, Paulo Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A.,
Coimbra, 2010, pp 1.
Universidade Católica de Moçambique 6

Trata-se, de um ramo de Direito Privado, por isso que cuida de


relações entre sujeitos colocados em pé de igualdade jurídica.

E é um ramo de Direito Privado Especial, já que estabelece uma


disciplina para as relações jurídicas que se constituem no campo do
comércio, a qual globalmente se afasta da que o Direito Civil, como ramo
comum, estabelece para a generalidade das relações jurídicas privadas.

O Direito Comercial é o ramo de Direito Privado que, historicamente


constituído e autonomizado para regular as relações dos comerciantes
relativas ao seu comércio, e visando, a satisfação de necessidades
peculiares a este sector da vida económica, se aplica também a outros
sectores da actividade humana que se entende conveniente sujeitar à
mesma disciplina jurídica.

Adopta-se um conceito normativo, jurídico-positivo: está sujeito ao


regime das normas jurídico-mercantins aquilo que estas normas
determinam que se inclui no seu âmbito de aplicação. A delimitação do
âmbito do Direito Comercial terá, pois, de basear-se nas próprias normas
jurídicas positivas, nomeadamente, nas chamadas normas qualificadoras:
as que se caracterizam como comercial certa matéria, dizendo que
pessoas são comerciantes e que negócios são comerciais.

O Direito Comercial é enformado por uma concepção essencial de


liberdade de iniciativa, liberdade de concorrência, mobilidade de pessoas
e mercadorias, objecto legítimo de lucro, internacionalismo das relações
económicas.

A concepção de direito comercial como direito da empresa baseia-se


na teoria de P. Hec, segundo a qual todas as normas do direito comercial
servem a necessidade dos actos jurídicos em massa ou em série, sendo
actos repetitivos e estandardizados. Pois, a característica da produção
industrial em massa que se vive a partir do período posterior à revolução
industrial exige normas especiais.

A crítica que se faz relativamente a concepção do direito de empresa


é no sentido de existirem actos comerciais praticados em massa sem que
sejam comerciais (por exemplo: Prestação de serviço por profissionais
Universidade Católica de Moçambique 7

liberais) e actos isolados considerados comerciais (por exemplo: o aceite


de uma única letra ou uma só compra para revenda).3

Weiland defende que o direito comercial deve findar-se na noção de


empresa, considerada como emprego de forças económicas (capital e
trabalho) visando a obtenção dum ganho ilimitado, daí que comporte
necessariamente um risco.

A vantagem desta concepção resume-se em sugerir uma definição do


direito comercial, a partir da regulamentação sobre o empresário e a sua
actividade, voltando, desse modo, a configurar-se em redor de uma
concepção subjectivista, embora de forma velada não como direito dos
comerciantes, mas sim como um direito das empresas produtoras de bens
e serviços para o mercado, nas quais aqueles intervêm como
intermediários.

Portanto, uma visão recreativa e igualizadora do direito comercial não


terá dificuldade em admitir que, com guarida já no Código Comercial de
1888, a concepção de direito de empresa tem vindo progressivamente a
afirmar-se no nosso direito comercial.4

É porém, necessário notar que a noção de empresa aparece no Código


Comercial Moçambicano, como elemento definidor primordial do direito
mercantil: com ela, visa-se contribuir como o escopo, a par da
conceitualização de actos de comércio artigo 4.º do Código Comercial, e
dos empresários comerciais artigo 3.º também do Código Comercial de
2006.

É justamente esta a noção de direito empresarial que vão ser o nosso


objecto de estudo neste módulo.

1.1 Evolução histórica do Direito Empresarial

Descohece-se exactamente quando terão surgidos as primeiras regras que


disciplinam a actividade jurídico – empresariais, mas a generalidade dos

3
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 38.
4
Miguel J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 27.
Universidade Católica de Moçambique 8

autores reporta – as ao ambiente da antiga Babilónia (Mesopatânea) e ao


Código de Hamurabi5.

No contexto europeu, o Direito Comercial redica nos contratos de câmbio


que se formaram na Idade Média, e em que uma determinada pessoa
procedia a um pagamento numa determinada moeda num certo local e
outra pessoa, beneficiária desse pagamento, viria a receber em diferente
local noutra moeda a quantia correspondente. É na Idade Média (Circa do
Sec. XII), nas cidades ialianas, que encontramos a primeira referência
segura a este ramo como conjunto autónomo de normas reguladoras da
actividade comercial.

Nesta época existiam uma série de afctores enolventes que constituíam


entraves e limitações ao comércio, como conhecemos hoje, e que
dificultam o que actualmente é extremamente simples. Por exemplo, a
usura não era de todo admissível e tão pouco eram os juros, pelo que não
era possível antecipá-lo (enquanto tais), o que presentemente é
absolutamente normal.

Inicialmente, o Direito Empresarial desenvolveu-se quando as pessoas


começaram a fazer transações em espaços geográficos afastados daqueles
em que estavam situadas.

Os pagamentos das mercadorias transportadas, adquiridas em locais


diferentes daqueles em que eram consumidas, se se continuassem a fazer
em moldes tradicionais – em contacto – envolviam riscos significativos
pela dificuldade de acessos e pelos assaltos frequentes. Começou então a
proceder-se a uma forma documentaria de pagamentos, mais simples, e
que estimulava a circulação de bens. A letra de câmbio constituiu a
primeira materialização deste fenómeno, viabilizando pagamentos à
distância e permitindo diferir a sua efectivação.

O desenvolvimento económico ocorrido na época madiaval estev


particularmente associado às transações efectuadas por via marítima,
sendo especialmenterelevantes as que ocorreram com as cidades-Estado
italianas, em especial Veneza e Génova.

5
CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial , Almedina, Comibra 2010
Universidade Católica de Moçambique 9

Não deve constituir surpresa, por isso, que um dos sectores deste ramos
de Direito que maior desenvolvimento tenha registado, tenha sido o
respeitante à actividade náutica.

O Direito marítimo encontra-se na origem do contrato de eomenda e do


tipo societário que lhe veio a corresponder: sociedade em comandita.

As mais antigas sociedades comerciais terão sido, certamente, as


sociedades simples correspondentes às actuais sociedades em nome
colectivo, que se caracterizavam por constituir o resultado da agregação
de esforços de duas ou mais pessoas na prossecução de uma actividade
económica com natureza comercial. Subjacente a estas sociedades estava
a lógica de que a “união faz a força” – em especial em época de parco
recursos – potenciando as participações dos diversos agentes que
agregavam num fim comum e unitário.

No século XII, o contrato de comenda veio permtir que aqueles que


temiama censura da Igreja relativamente ao exercício de actividade de
natureza especulativa, como sucede com o comércio, de fim totalmente
lucrativo, pudessem participar em actividades económicas mercantis sob
forma dissimulada. Surgiu então a sociedade em comandita, que se
caracteriza por agrupar dois tipos de sócio: o comanditário, que investe
um determinado montante, e que limita a sua res[ponsabilidade ao capital
que subscreve, e o comanditado que assume a direcção efectiva da
sociedade e a responsabilidade ilimitada pela sua actividade. Estas
sociedades conheceriam um período áureo na fase inicial dos
descobrimentos, permitindo conjugar os esforços financeiros do
investidorcapitalista com o envolvimento pessoal e directo de quem se
dispunha a dar car e assumir a responsabilidade ilimitad por uma empresa
(no sentido dinâmico do termo) mercantil.

Contudo, o florescimento da actividade económica transatlântica viria a


revelar a insuficiência destas formas de organização mercantil, que, a
partir do século XVII, cederiam o papel de actores principais às
companhias das Índias, verdadeiros ambriões das modernas sociedades
anónimas.

A conjugação de vontades de dois ou três sujeitos passou a não bastar


para financiar as expedições comerciais com países asiáticos ou do novo
mundo, que justificavam a constituição de verdadeiros frotas, que
Universidade Católica de Moçambique 10

requeriam a aglutinação de capitais em montantes particularmente


significativos. Nestas novas organizações, inicialmente sujeitas a
autorização do podercentral, a pessoa dos sócios esbatia-se perante a
necessidade da concentração de capitais avultados indispensáveis para
finaciar a actividade comercial que as novas organizações se propunham
prosseguir.6

1.2. A fragmentação do Direito Empresarial e a aglutinação dos


negócios jurídicos empresariais

No século XX, assistimos, por um lado, à generalização a todos os


sujeitos de negócios jurídicos e instrumentos que, até então, eram
privativos de Direito Empresarial e que se autonomizam – como sucedeu
inicialmente com certos títulos de crédito, como as letras e cheques – e à
fragmentação de diversas matérias que adquiriram relevo próprio e que
tendo uma origem e uma matriz comum com o Direito Empresarial, se
distinguem deset, a ponto de terem sede própria.7

O fim do século XX, em particular as últimas duas décadas, assistiu a um


processo social vertiginoso – facilitado pelo acréscimo e a potenciação do
crédito, que viria a perder correspondência com o mundo real, a que se
viria a associar um desenvolvimento notável de novos intrumentos
jurídicos para acompanharem a crescente multiplicidade de transcções.

No novo mercado de acesso generalizado e cad vez mais alargado, os


consumidores vieram a ocupar um papel também central, obrigandoa
repensar as fronteiras deste ramo e a equacionar o seu alargament, para
um verdadeiro Direito do Mercado.

1.3. A crise económica mundial espoletada pelo subprime

O futuro do Direito Empresarial

6
CUNHA, Paulo Olavo. Lições de Direito Comercial, Almedina, Coimbra, 2010.
7
No caso perticular do Direito empresarial português o Direito dos Valores
Mobiliários , caracterizado por inúmeras regras injuntivas, que tutelam
interesses públicos e da generalidade, aos direitos Bancário e Seguro, que
concentram não apenas actores (players) particularmente relevantes da
economia (em particular pelo lado da oferta) cfr. CUNHA, Paulo Olavo. Lições de
Direito Comercial, Almedina, Coimbra, 2010, pp. 14.
Universidade Católica de Moçambique 11

A crise enconómica mundial, espoletada pelo subprime – fenómeno


ocorrido em 2007 – pode obrigar a rever a disciplina das relações
económica e empresariais, em especial no que respeita à sua
regularização e supervisão do desempenho futuro dos agentes que
concedem crédito e que contribuítram no passado recente para a bolha da
economia, que conduziu diversos agentes económicos, alguns deles
universalmente conhecidos, como o Lehmann Brothers, à insolvência.

Recorde-se que o subprime teve, na sua origem, o crédito hopotecário que


era indicriminadamente concedido nom mercado norte-americano e o
empacotamento, que as instituições financeiras fizeram desses créditos
sob a forma de produtos estruturados que colocaram a nível planetário,
contaminando todos os mercados.

Acresce que, para além de sobrevaloração dos bens hipotecados, os


mesmos deixaram de ter mercado, vendo progressivamente reduzido o
seu valor, num cenário de inúmeros incumprimentos, pelo que deixaram
de ser aptos a construir uma garantia válida do créditos que asseguravam.

Com o fim da bolha especulativa, os mercados entraram numa profunda


crise da qual estõ a procurar recuperar lentamente e a economia sofreu
um forte ajustamento no que respeita à conjugação da ofersta (que se
manteve) com a procura (que sofreu uma redução muito sihnificativa).

É, pois, num cenário de profunda crise – certamente uma das maiores de


que há memória – que os mercados procuraram reagir, fortemente
sustentados nos apoios que os diversos Estados concederam à economia .

Neste quadro não surpreende que as relações económicas sejam


repensadas e que a concessão de crédito, que até 2008 foi manifestamente
excessiva, sofra óbvias limitações e passe a estar sujeita a um controlo
muito mais rigoroso, dificultando a manutenção do ritimo de
desenvolvimento a que vínhamos a assistir.

No entanto, a história revela-nos que os agentes económicos se adaptam


aos diversos ciclos e reagem às conjunturas desfavoráveis com que se vão
deparando. Cremos, e esperamos, que tal venha a acontecer uma vez
mais, e que o progresso tecnológico, em especial no domínio das
comunicações, contribua para reequacionar as relações de troca entyre os
agentes económicos e abra uma janela de oportunidades para o
Universidade Católica de Moçambique 12

desenvolvimento futuro dos mercados e dfas normas que disciplinam,


permitindo encarar com um optimismo moderado os próximoa anos.8

2. Delimitações do objecto e âmbito do Direito Empresarial

A primeira concepção que surgiu foi a concepção subjectivista,


segundo ela, o Direito empresarial é o conjunto de normas que regem os
actos ou actividades dos empresário relativos ao seu comércio.

Por seu turno, para a concepção objectivista9 , o Direito Empresarial é


o ramo de Direito que rege os actos de comércio, sejam ou não
comerciantes as pessoas que os pratiquem.

Não há sistemas puros: em ambos existem actos de comércio


objectivos e regras próprias da profissão do empresário. E, deste modo,
pode-se dizer que, na essência, a diferença entre as duas concepções se
resume a isto: no sistema subjectivista,10 só são empresariais os actos
praticados por empresários e no exercício do seu comércio, pelo que não
se admitem actos comerciais isolados ou avulso, mormente de não
empresários; já no sistema objectivista, uma vez que assenta nos actos de
comércio, independentemente de quem os pratica, são também como tais
considerados os actos ocasionais, mesmo que não praticados por
comerciantes ou alheios à actividade profissional de um comerciante,
desde que pertençam a um dos tipos de actos regulados na lei comercial.

3. Interpretação e integração de lacunas

O preceito fulcral para a análise desta questão é o art. 7º Código


Comercial, em cujos termos: “se as questões sobre direitos e obrigações
empresariais não puderem ser resolvidas, nem pelo texto da lei
comercial, nem pelo seu espírito, nem pelos casos análogos nela
prevenidos, serão decididas pelo Direito Civil”.

Em questões de interpretação da lei comercial, o Código Comercial


remete-se para o art. 9º CC.

8
CUNHA, Paulo Olavo. Lições de Direito Comercial, Almedina, Coimbra, 2010,
pp. 15.
9
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 35.
10
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 35
Universidade Católica de Moçambique 13

Em relação à integração de lacunas à uma disposição especial no


Código Comercial (art. 7º), em que, recorre-se às forças internas do
Direito Comercial e depois às forças externas, aplicando-se as normas de
Direito Civil.

As normas de Direito Comercial formam um corpo autónomo, o que


torna admissível a sua aplicação analógica dentro do campo do próprio
direito mercantil, e que não sucederia se fosse normas excepcionais (art.
11º CC).

O art. 7º CCom, permite o recurso às normas de Direito Civil para


preencher lacunas do Direito Comercial. Trata-se da concretização da
ideia de que o Direito Civil é direito subsidiário em relação ao Direito
Comercial.

O procedimento correcto a adoptar para definir o regime de uma


relação jurídica de Direito Comercial será o seguinte:

No primeiro momento, há que definir se tal relação jurídica é ou não


comercial, objectiva e subjectivamente. Para tal recorre-se às chamadas
normas delimitadoras do âmbito de aplicação do Direito Comercial – arts.
4º, 3º, CCom. Como é óbvio, se a relação jurídica não for comercial, será
civil.

Num segundo momento assente que um dado acto ou relação jurídica


é comercial, há que definir-lhe o regime. Poderão então surgir questões
de interpretação e de integração de lacunas da regulamentação comercial,
as quais serão deslindadas pelo art. 7º CCom.

4. Fontes de Direito Empresarial.11

a) A Lei

A fonte primordial do Direito Comercial é a lei, entendida no seu


sentido mais amplo, isto é, abrangendo a lei constitucional, a lei ordinária
e também as normas regulamentares.

b) Os usos e costumes

11
Miguel J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 32.
Universidade Católica de Moçambique 14

O art. 7º CCom, não se refere aos usos e costumes entre as fontes do


direito mercantil.

Quanto aos costumes, o Direito Comercial não os acolhe como fonte


de direito, aliás à semelhança do que sucede com o Direito Civil (art. 7º
CC). Assim a sua consagração como regras vinculativas, por via
jurisprudêncial, não é entre nós admissível na medida em que ela
contraria os comandos legais acerca das fontes de direito. Para o costume
ter relevância:

- Que exista uma lei expressa que determine a sua aplicação;

- Mesmo que haja, esses usos e costumes não podem contrariar o


princípio da boa fé.

c) Doutrina

As opiniões dos jurisconsultos poderão ser havidas como fonte de


direito na medida em que sejam tidas em conta pelos Tribunais e pelos
sujeitos de direito, mormente como reveladoras de princípios gerais, com
vista à integração de lacunas na lei.

d) Jurisprudência

Caracteriza-se na influência jus-criativa das correntes jurisprudenciais


que se vão uniformizando ou prevalecendo.

e) Fontes internacionais

São várias as convenções existentes que são recebidas no nosso


direito desde que sejam satisfeitos os requisitos no art. 18º da
Constituição da República de Moçambique:

- Convenções sobre as leis uniformes sobre letras, livranças e


cheques;

- Tratados e Convenções Internacionais;

- Decisões dos Tribunais

Exercícios
Universidade Católica de Moçambique 15

Exercícios
a) O que entente por direito
emprearial?
b) Qual é o ramo de direito a que
pertence o direito empresarial?
c) Qual é o objecto do direito
empresarial?
d) A doutrina distigue os actos de
comércio. Enuncie-os e e analise
cada um delas?
e) Quais são as fontes do Direito
Empresarial que conheces?

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 1 à 23.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 33-54.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 27.

PARTE I

Unidade 02
ACTOS DE COMÉRCIO
Introdução
Nesta parte o objecvto de estudo são os actos dop empresário comercial
Universidade Católica de Moçambique 16

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

Objectivos específicos:
1. Compreender os actos do empresário comercial
objectivos e subjectivos;
Objectivos 2. Interperetar o artigo 4.º do Código Comercial

Plano de Exposição

1. Noção de actos do empresario comercial

2. Sistema de determinação concebidos dos sctos


objectivos

3. Sidtema de definição

4. O artigo 4.º do Código Comercial

5. Classificação de actos de empresário comercial

6. Actos de comércio absoluto e por conexão ou


acessórios

7. Teoria do acessório

8. Actos substancialmente e formalmente


comerciais

Actos bilateralmente comerciais ou puros e actos


unilateralmente comerciais ou mistos

5. Noção de actos de empresário comercial;

Da leitura do art. 4º CCom emerge a ideia de que certos actos


jurídicos, ou seja, certos acontecimentos juridicamente relevantes são
considerados como comerciais. No entanto, a palavra “acto” deve ser
Universidade Católica de Moçambique 17

tomada num sentido mais amplo de que o compreendido no seu


significado básico corrente – o da conduta humana –, pois aqui ela
abrange:

a) Qualquer facto jurídico em sentido amplo, verificado na esfera


das actividades mercantis e ao qual sejam atribuídos efeitos
jurídicos, designadamente:

- Factos jurídicos naturais ou involuntários;

- Factos jurídicos voluntários, isto é, actos jurídicos, quer


lícitos, quer ilícitos;

- Negócios jurídicos voluntários, mormente de carácter


bilateral ou contratos.

b) Tanto os factos jurídicos isolados ou ocasionais, que podem ser


praticados, muitas vezes, por comerciantes ou por não
comerciantes, como os actos que fazem parte de uma actividade
comercial, ou seja, de uma massa, cadeia ou sucessão de actos
jurídicos interligados pela pertinência a uma mesma obrigação – e
por visarem a prossecução de fins comuns, quer do fim imediato
ou objecto – exploração de um determinado tipo de negócio –,
quer o fim mediato – consecução de lucros.

6. Distinção entre actos e actividade empresarial;

O corpo do art. 2º CCom, determina: são empresários comerciais as


pessoas singulares ou colectivas que, em seu nome, por si ou por
intermédio de terceiros, exercem uma empresa comercial, e as sociedades
comerciais, seguindo-se uma série de números que referem diversas
espécies de actividades económicas.

As actividades das empresas enumeradas o artigo 3.º estão


classificadas como actos do comércio objectivos.

O que em todo o caso ressalta evidente é que o art. 4º CCom, tem


destacada importância como norma qualificadora, quer pela relevância
nele atribuída à empresa no plano conceitual, que sobretudo por dele
decorrer a sujeição ao Direito Comercial de todos os actos que se
Universidade Católica de Moçambique 18

enquadrem nas actividades das empresas em questão, mesmo que não


tivessem se encarados isoladamente.

Os actos praticados no exercício de uma das actividades abrangidas


pelo art. 4º CCom, serão sempre actos de comércio, por não terem
“natureza essencialmente civil” e por serem praticados por um
empresário no âmbito com o seu comércio.

A actividade empresarial é, um encadeado de actos interligados e


duradouro, sendo o art. 3º CCom, que, no conjunto de actos que a
integram, nos permite valorar cada um deles em termos jurídico-
empresariais.

7. Conceito material da actividade empresarial

Não há, na lei comercial, uma definição material unitária de acto de


comércio. E por outro lado, na medida em que o art. 4º CCom, considera
comerciais, em regra, todos os actos do comerciante no exercício da sua
actividade, mais difícil parece encontrar um conceito que a todos
abrange, uma factualidade típica que englobe todos os actos na sua
multiplicidade.

8. Interpretação da alínea a) do art. 4º do Código comercial

Lê-se na alínea a) do art. 4º CCom: “serão considerados actos de


comércio, todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste
Código”.

Quer o legislador referir-se a actos que devem a sua qualidade de


actos de comércio à circunstância de se acharem regulados em
determinado diploma. Porque se trata de uma circunstância objectiva,
que nada tem a ver com os sujeitos que praticam esse acto, são eles
designados como actos de comércio objectivos.

a) Actos simultaneamente regulados na lei civil e na lei


comercial: em princípio, estes actos serão civis; no entanto, serão
comerciais quando neles se verificarem aquelas características
específicas que a lei comercial estabelece como atributivas da
comercialidade.
Universidade Católica de Moçambique 19

b) Actos exclusivamente regulados no Código Comercial: são os


que se acham directa e explicitamente referidos, de forma
genérica, na alínea a) do art. 4º CCom;

c) Actos regulados na legislação extravagante posterior ao Código


Comercial.

9. Interpretação do n.º 2, do art. 4º do Código Comercial

Pela n.º 2 do art. 4º CCom, são também considerados como actos de


comércio “todos os contratos e obrigações dos comerciantes que não
forem por natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto
não resultar”.

Trata-se pois, daqueles actos que são comerciais, não pelo factor
objectivo consistente na lei em que são regulados, mas sim pelo elemento
subjectivo consistente em serem praticados pelos comerciantes. Daí que
se denominem actos subjectivos: é a qualidade do sujeito que os pratica,
que lhes confere comercialidade.

A lei parte do princípio de que, sendo o comerciante um profissional


de comércio, actividade complexa cujo exercício implica a montagem e
orientação de uma organização potencialmente absorvente, deve-se partir
do pressuposto de que a sua actividade jurídica é, em regra, inerente à sua
actividade económica. Logo, até prova em contrário – pois a presunção é
iuris tantum – os actos do comerciante são actos de comércio por se
presumir estarem ligados à sua empresa mercantil.

Precisamente por tal presunção deve ser ilidivel, do n.º 2 parte do art.
4º CCom, admitindo duas ressalvas ao postulado base de que são actos de
comércio “todos os contratos e obrigações dos comerciantes”. Assim,
estes actos não serão actos de comércio:

- Se forem de natureza exclusivamente civil; e

- Se o contrário do próprio acto não resultar.

a) “De natureza exclusivamente civil”

É aquele (acto) que for essencialmente civil, ou seja, que não possa
ser praticado em conexão com o comércio, que não possa ser
Universidade Católica de Moçambique 20

“comercializado”, por ser impossível que tenha alguma conexão com o


exercício do comércio, nem poder deste derivar;

b) “Se o contrário do próprio acto não resultar”

Os actos dos comerciantes que não forem de natureza exclusivamente


civil serão comerciais, se deles mesmos não resultar que não têm relação
com o exercício do comércio do comerciante que os pratica.

Esta exegese pretende-se com a própria redacção do artigo: “o


contrário” reporta-se à frase do princípio do artigo: “serão considerados
actos de comércio…”. Os actos dos comerciantes serão considerados
comerciais se deles não resultar o contrário, isto é, que não são actos de
comércio, por não terem relação alguma com o comércio de quem os
praticou, ou seja, que não têm natureza nem causa mercantil.

É a interpretação que atende à razão de ser da norma: à presunção de


que os actos jurídicos praticados pelos comerciantes o são no exercício do
comércio. Logo, quando do próprio acto resultar que ele não tem
qualquer ligação ou pertinência ao comércio de quem o praticou, conclui-
se que ele não é um acto de comércio.

Em resumo, o art. 4, n.º 2º CCom, abrange como actos de comércio:

- Os que estiverem regulados no Código Comercial e em outras


leis em razão dos interesses do comércio: actos objectivos;

- E os que forem praticados por comerciantes – actos subjectivos


–, presumindo-se que o são no exercício ou em ligação com o seu
comércio; presunção esta que será elidível pela demonstração: ou
de que o acto é de natureza exclusivamente civil, por não poder ser
praticado em relação com o comércio; ou de que do próprio acto
resulta que é alheio à actividade comercial de quem o praticou.

Classificação dos actos de comércio

10. Actos de Comércio subjectivos e objectivos

São actos de comércio objectivos, os que são regulados na lei


comercial, em razão do seu conteúdo ou circunstâncias.12

12
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 89.
Universidade Católica de Moçambique 21

São actos de comércio subjectivos, aqueles que a lei atribui


comercialidade pela circunstância de serem tais actos conexos com a
actividade comercial dos seus autores.

11. Actos de comércio absoluto e por conexão ou acessórios

Os actos de comércio absolutos ou por natureza são comerciais


devido à sua natureza intrínseca, que radica do próprio comércio, na vida
mercantil. São actos gerados e tipificados pelas necessidades da vida
comercial.

Podem-se distinguir duas espécies de actos dentro desta categoria:

- Uns, – que são a maior parte – são actos absolutos em virtude


de serem os actos caracterizadores, típicos, essencialmente
integrantes daquelas actividades que tornam o objectivo material
do Direito Comercial;

- Outros são actos absolutos em razão da sua forma, ou do


objecto sobre o qual incidem.

Os actos de comércio por conexão ou acessórios são comerciais


apenas em virtude da sua especial ligação a um acto de comércio absoluto
ou a uma actividade qualificada de comercial.

12. Teoria do acessório13

Partindo da constatação de que certos actos, civis pelas suas


características, podem tornar-se comerciais por serem praticados em
ambiente comercial. Segundo a teoria do acessório, são actos de
comércio acessórios os actos praticados por um comerciante no exercício
do seu comércio, e além disso, os actos ligados a um acto de comércio
absoluto.

Assim, para esta teoria há duas categorias de actos de comércio: os


que estão ligados à actividade comercial de um comerciante; e, os que

13
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 93.
Universidade Católica de Moçambique 22

adquirem comercialidade por terem relação com o de um acto de


comércio por natureza.

Desta teoria nada de novo resultaria que o nosso direito não


reconhecesse já: os actos acessórios da primeira categoria são os actos
subjectivos (n.º 2 do art. 4º CCom); e os da segunda categoria, não sendo
subjectivos, serão objectivos, isto é, seriam os actos de comércio
simultaneamente objectivos e acessórios, os actos de conexão objectiva.

A teoria do acessório conduz a incluir nesta segunda categoria de


actos acessórios, certos actos que não são em face dos preceitos da nossa
lei: por ela, seriam também actos de comércio acessórios os actos
conexos com os actos de comércio objectivos e absolutos praticados por
um não comerciante.

13. Actos substancialmente e formalmente comerciais

Actos formalmente comerciais, os que são regulados na lei comercial


como um esquema formal, que permanece aberto para dar cobertura a um
qualquer conteúdo, mas abstraem no seu regime do objecto ou fim para
que são utilizados.

Actos substancialmente comerciais, os que têm comercialidade em


razão da própria natureza, ou seja, por representarem, em si mesmos,
actos próprios de actividades materialmente mercantis.

14. Actos de comércio causais e abstractos14

Diz-se causal, todo o acto que a lei regula em ordem a preencher ou a


realizar uma determinada e específica causa-função jurídico-económica.

É abstracto, aquele que se revela adequado a preencher uma


multiplicidade indeterminada de causas funções, podendo a relação
jurídica que dele resulta ter uma vida independente da relação que lhe deu
origem.

15. Actos bilateralmente comerciais ou puros e actos unilateralmente


comerciais ou mistos
14
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 95.
Universidade Católica de Moçambique 23

São bilaterais ou puros os actos que têm carácter comercial em


relação às duas partes. E são unilaterais ou mistos os actos que apenas
são comerciais em relação a uma das partes, e civis em relação à outra
(art. 5º CCom).15

Exercícios

Exercícios
Pronuncie-se sobre se os seguintes
contratos devem ser qualificados como
acto de comércio.

Se a resposta for afirmativa, indique se


o critério da sua comercialidade é
objectivo ou subjectivo e se são actos
de comércio puros ou mistos
a) Contrato de compra e venda de um
prédio urbano composto de vários
apartamentos que o comprador,
funcionário público reformado,
destina a arrendamento, sendo o
vendedor uma sociedade que o
contruir para vender.
b) Contrato prar o fabrico de uma
mobília para a residência de um
professor, sendo fabricante um
marceneiro que utiliza dois
empregados na sua oficina.
c) Contrato de trabalho celebrado entre
T, na qualidade de trabalhador, e P,
entidade patronal cuja actividade
consiste na construção de estradas,
portos e caminha de ferro.
d) Contrato de compra e vendaa de um
imóve; rústico, sendo o vendedor
um agricultor que nele vem
exercendo a sua ctividade agrícola
e o comprador um Estudante da
UCM-CED.
e) Contrato, de compra e venda de um

15
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 95.
Universidade Católica de Moçambique 24

imóvel rústico de que é


proprietário um agricultor que nele
vem exercendo a sua actividade
agrícola, o comprador destina o
prédio à exploração de uma
prdreira, actividade a qe se dedica
profissionalmente.
f) Compra e venda de um automóvel
em segunda mão, sendo vendedor
um estudante e comprador um
comerciante. O contrato não
fornece outros dados relevantes.
g) Contrato de doação de um quadro
pertencente a uma sociedade
comercial a favor de uma fundação
com fins culturais.

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 1 à 23.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 33-54.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 27.

Unidade 03
O EMPRESÁRIO COMERCIAL
Universidade Católica de Moçambique 25

Esta unidade tera o seguinte tema estudo:

PLANO DE EXPOSIÇÃO
1. Noção e importância de
empresario comercial;
2. O Empresario comercial em
nome individual;
3. Requisitos de acesso a qualidade
de empresário comecial;
4. Situações duvidosas quanto à
aquisição da qualidade de
empresário comercial.
5. Obrigações dos empresários
cometrciais.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

Objectivos específicos:
1. Explicar significado de Empresario comecial;
2. Compreender a revolução do fenómeno comercial;
3. Identificar o empresário em nome indivuadual ;
Objectivos 4. Conhecer os casoo duvidosos que se confudem com o empresário
comercial.

Noção de Empresário Comercial

16. Noção de empresário comerciante e a sua importância

O legislador não deu uma definição legal de empresário comercial,


mas sim, indica quais sãos as categorias legais de comerciantes (art. 2º
CCom).16

Tem-se segundo o entendimento tradicional do art. 2º CCom, por um


lado os comerciantes que são pessoas singulares – geralmente designados
por empresário comercial em nome individual – e os empresários
comerciais que são pessoas colectivas – as sociedades comerciais.

16
Miguel J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 75
Universidade Católica de Moçambique 26

No domínio do Direito Comercial, deve prevalecer, em geral, a noção


de empresário comercial que resulta do art. 2º CCom: empresário
comercial é quem, enquadrando-se numa das duas categorias do art. 2º
CCom, seja titular de uma empresa que exerça uma das actividades
comerciais, tais como as qualificam o art. 3º CCom, e as demais
disposições avulsas que caracterizam e englobam no Direito Comercial
certas actividades económicas.

A aquisição da qualidade de empresário comercial é sempre


originária, não podendo transmitir-se nem inter vivos, nem mortis causa.

Portanto, quem organizar ou adquirir uma empresa comercial terá de


preencher, em si mesmo, os requisitos necessários para obter de si a
qualidade de empresário comercial.

A alínea a) do art. 2.º CCom, refere-se a pessoas. Em geral, entende-


se que naquele alínea, só abrange pessoas singulares: os chamados
empresários comerciais em nome individual. Mas pode questionar-se se
ali se abrangerão também pessoas colectivas.

Há, três casos especiais quanto ao problema do art. Alínea a) do


artigo 2 CCom:

a) As sociedades civis em forma comercial: a solução tradicional,


que sustenta que não são empresários comerciais, porquanto, estão
sujeitas tais sociedades à matrícula. Ora, a matrícula no registo
comercial é um acto apenas aplicável aos empresários comerciais
e às demais entidades. As sociedades civis em forma comercial
não são, pois empresários comerciais, já que apenas estão sujeitas,
por equiparação, ao regime das sociedades comerciais, mas não
lhes és genericamente aplicável o regime dos empresários
comerciais.

b) Empresas públicas: não serão comerciantes, face a alínea b) do


art. 2. CCom? E se o não forem, deverão ser qualificadas como
comerciantes, mercê do respectivo regime estatutário geral? Em
face destas duas normas, entre si conjugadas, afigura-se que, se as
empresas públicas não são rigorosamente qualificáveis como
comerciantes, no entanto estão pela lei a eles equiparadas, no que
toca à capacidade jurídica e às normas aplicáveis às suas
Universidade Católica de Moçambique 27

actividades; e uma dessas normas será precisamente, a alínea a)


do art. 2º CCom. Conjugado com o artigo 15.º CCom.

17. Os Empresários Comerciais em nome individual. A


matrícula

O art. 17º/1 CCom, só abrange pessoas físicas: os usualmente


denominados empresários comerciais em nome individual.

Quando é que uma pessoas física se diz comerciante?

Em face do CCom, constata-se que a matrícula não é uma condição


nem necessária, nem suficiente, para a aquisição da qualidade de
comerciante.

Não basta estar matriculado como comerciante mesmo sem matrícula.


Esta não é, portanto, condição nem suficiente nem necessária da
aquisição da qualidade de comerciante em nome individual.

18. Requisitos de acesso à qualidade de empresário comercial

a) Personalidade jurídica

Quanto a este requisito, não há aqui a considerar quaisquer


especialidades face ao regime geral do Direito Civil.

Assim, além de assumir a personalidade jurídica das pessoas


singulares (art. 66º CC), a lei comercial atribui-a às sociedades
comerciais (art. 9º CCom) e às sociedades civis em forma comercial (art.
15º/2 CCom).

b) Capacidade Empresarial

A capacidade jurídica constitui a medida dos direitos e obrigações de


que uma pessoa é susceptível de ser sujeito (art. 9º CC) e que a doutrina
distingue entre a capacidade de gozo e a capacidade de exercício. Do
artigo 14º, resultam restrições à capacidade comercial sem fim lucrativo e
de Direito Público

Quanto à capacidade de exercício, deverá ter-se em conta o art. 9º


CCom, que enuncia dois princípios fundamentais: o da liberdade de
Universidade Católica de Moçambique 28

comércio e o da coincidência entre a capacidade civil e a capacidade


comercial.

A plena capacidade comercial depende de uma pessoa – singular ou


colectiva – ter capacidade civil e não estar abrangida por alguma norma
que estabeleça uma restrição ao exercício do comércio.

Podem os menores e os demais incapazes ser comerciantes?

O art. 2º CCom, ao exigir capacidade para a prática de actos de


comércio, pretende referir-se à capacidade jurídica de exercício, tanto
mais que alude ao carácter profissional do empresário comercial, o que
pressupõe uma prática habitual de actos geradores, mediadores ou
extintivos de direitos e obrigações.

Assim, parece que não pode conceber-se o exercício de uma profissão


deste já por um incapaz: o próprio conceito de profissão e, no caso, a
circunstância de ela se traduzir numa contínua e habitual prática de actos
e negócios jurídicos, sendo, portanto, absorvente e responsabilizante,
afigura-se incompatível com a situação jurídica de incapacidade.

c) Exercício profissional do empresário comércial

Pressupõe e concretiza-se através da prática de actos de comércio.


Mas não qualquer prática: só a prática em termos de profissão.

a) Não basta a prática de actos de comércio isolados ou ocasionais:


para se adquirir a qualidade de comerciante é indispensável a
prática regular, habitual, sistemática, de actos de comércio;

b) Não basta a prática, mesmo que habitual de quaisquer actos de


comércio: nem todos estes actos têm a mesma potencialidade de
atribuir a quem os pratique a qualidade de comerciante;

c) É indispensável para que haja profissionalidade que o indivíduo


pratique os actos de comércio de forma a exercer como modo de
vida uma das actividades económicas que a lei enquadra no
âmbito do direito mercantil;

d) Deve entender-se como indispensável que a profissão de


Universidade Católica de Moçambique 29

comerciante seja exercida de modo pessoal, independente e


autónomo, isto é, em nome próprio, sem subordinação a outrem;

e) É indispensável que o comerciante organize factores de


produção com vista à produção das utilidades económicas
resultantes de uma daquelas utilidades económicas que a lei
considera como comerciais.

Portanto, é comerciante quem possui e exerce uma empresa


comercial: quem é titular de uma organização daquelas que a lei
qualifica como empresas comerciais para através dela exercer uma
actividade comercial.

19. Situações duvidosas quanto à aquisição da qualidade de


empresário comercial

O art. 14º e 15/2º CCom, pretende evitar um alargamento excessivo


da categoria do empresário comercial.

Quer as pessoas de fim desinteressado, quer as pessoas colectivas de


fim interessado não económico, não podem ser comerciantes.

Mandatário comercial, a doutrina entende que não são empresários


comerciais, são sujeitos que a título profissional executam um mandato
comercial com representação.

Mandato mercantil, traduz-se na execução do mandato, pratica um


conjunto de actos (um ou mais) de comércio, realizados pelo mandatário
comercial, produzem efeitos jurídicos na esfera jurídica do mandante
representado (art. 465.º e 466.º).

a) Gerente

Quem em nome e por conta de um comerciante trata do comércio


desse comerciante, no lugar onde esse comerciante tenha ou peça para
actuar.

Tem um poder de representação, é um poder geral e compreensivo de


todos os actos pertencentes e necessários ao exercício do comércio para
que tenha sido dado, não são empresários comerciais.

b) Auxiliares de empresário comercial (art. 62º CCom)


Universidade Católica de Moçambique 30

São encarregados de um desempenho constante em nome e por conta


dos empresário comerciais de algum (s) dos ramos de tráfico.

c) Caixeiros (art. 65º CCom)

São empregados do comerciante, encarregados de funções várias. O


poder de representação do caixeiro (e dos auxiliares) é um poder de
representação menor que dos gerentes.

São classificados no Código Comercial como mandatários com


representação. Os poderes de representação podem resultar de outros
negócios jurídicos sem ser o contrato de mandato. Sendo subordinados,
praticam actos de comércio, por nome e por conta do empregador – para
aquele negócio não são empresários comerciantes.

e) Mediadores

Pessoa colectiva ou singular, que servem de elo de ligação entre


diversos sujeitos jurídicos, promove a celebração de negócios entre duas
pessoas. Executam actos de comércio, a sua actividade está incluída na
alínea b) do n.º 1, do artigo 3.º .

f) Agentes comerciais

Promove por conta de outrem a celebração de contratos. Operador


independente mediante retribuição. O essencial da sua actividade é a
promoção do contrato, pode celebrar também se tiver mandato para isso.

Obrigações dos empresários comerciais

20. Forma

O princípio da consensualidade ou liberdade de forma (art. 219º CC)


é por vezes aplicado de forma mais extensa no âmbito do direito
comercial: aqui o intuito de promover as relações mercantis, protegendo o
crédito e a boa fé, leva a promover a simplicidade da forma.17

17
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 89.
Universidade Católica de Moçambique 31

21. Solidariedade passiva

A solidariedade das obrigações não se presume: tem que resultar da


lei ou da vontade das partes (art. 461º CC), assim é, em direito comum,
ou seja, quanto às obrigações civis, nas quais, portanto, a regra é a
conjunção.

Mas não é assim nas obrigações comerciais, nas quais, salvo


estipulação em contrário, os co-obrigados são solidários, a menos que se
trate de actos de comércio unilaterais, nos quais não há solidariedade para
os obrigados em relação aos quais o acto não for comercial. Este regime
constitui a ressalva constante da artigo 461.º, e tem por escopo o reforço
do crédito, que constitui um dos princípios inspiradores do Direito
Comercial.

22. Responsabilidade dos bens dos cônjuges por dívidas do


empresário comercial

No actual regime dos efeitos do casamento sobre os direitos


patrimoniais dos cônjuges, prevalece o princípio constitucional da
igualdade de direitos e deveres, a ambos pertencendo a orientação da vida
em comum e a direcção da família (artigo 110.º/1 da Lei n.º10/20044, de
25 de Agosto – Lei da Família). No tocante às dívidas contraídas pelos
cônjuges, qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas
sem o consentimento do outro.

No caso das dívidas contraídas no exercício do comércio pelo


cônjuge empresário comercial, o legislador inverteu o ónus da prova: de
forma implícita, presume que elas foram contraídas pelo empresário
comercial em proveito comum do casal. E, portanto, estabelece que só
não será assim se for provado – em regra pelo cônjuge do empresário
comercial ou eventualmente por este – que as dívidas não foram
contraídas em proveito comum do casal.

A lei não se basta com o já apontado regime do art. 110/1 da Lei da


família, para a protecção dos interesses dos credores dos empresários
comerciais, a bem do próprio comércio. Vai mais além, pois o art. 111º/d
da Lei da Familia, determina que: “as dívidas comerciais do cônjuge
comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio”.
Universidade Católica de Moçambique 32

Mas o artigo 111.º da Lei da Família, já indica as dívidas da


responsabilidade de ambos os cônjuges, pelas quais respondem os bens
comuns do casal, sabendo-se que na falta ou insuficiência dos mesmos,
respondem solidariamente os bens próprios de qualquer dos cônjuges,
salvo quando casados no regime de separação de bens (artigo 115.º da Lei
da Família).

Por outro lado, o artigo 112.º indica quais são os casos de dividas da
exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges devedor e,
subsidiariamente, a sua meação nos bens (artigo 116.º, n.º 1, da Lei da
Família).

Assim, nenhuma dificuldade se pode pôr em relação às dívidas


contraídas por ambos os cônjuges em conjunto ou por um dos cônjuges
com o consentimento do outro, uma vez que em relação à elas aplica-se o
artigo 111.º, n.º 1, alínea a) da Lei da Família.

Em qualquer dos regimes de bens que não seja o de separação,


consideram-se da responsabilidade de amos os cônjuges as dívidas
contraídas por qualquer deles (artigo 111.º/d da Lei da Família. Assim
sendo, quando um dos cônjuges for empresário comercial, responderão
pelas dívidas que ele contrair no exercício da empresa os bens comuns do
casal e, na falta ou insuficiência desses bens, os bens próprios de ambos
os cônjuges, solidariamente (artigo 115.º, n.º 1).

Contudo, importará reter que tendo em consideração o disposto nos


artigo 111, n.º 1, da referida Lei da Família, o artigo 342.º do Código
Civil e artigo 4.º, n.º 2, do novo Código Comercial, no caso das dívidas
contraídas no exercício de uma empresa comercial, o legislador inverteu
o ónus de prova, fazendo presumir que tais dívidas foram contraídas em
proveito comum do casal, só não o serão se de ambos os cônjuges ou um
deles emergir prova que as dívidas Não foram contraídas em proveito
comum do casal.

Exercícios
Universidade Católica de Moçambique 33

Exercícios
António é proprietário duma loja de
tecidos e pronto a vestir. Desenvolve a sua
actividade com a colaboração de alguns
empregados e da mulher, com quem é
casado no regime de comunhão de
adquiridos.
Perunta-se:
1. António é empresário comercial?
2. Que bens respondem pelas dívidas
que António contrair na eploração
da loja.
3. Admita que António e sua mulher
deixam de trabalhar na loja e
nomeiam gerente um dos
empregados a quem conferem
plenos poderes de gestão. António
deixa de ser comerciante?
4. Admita que o gerente da loja
comunicou aos empregados que só
ele poderia fazer e receber
pagamentos e que, vilando esta
ordem um ds empregados recebeu
alguns pagamentos, não entregando
o dinheiro. Ao cliente que pagou ao
empregado, poderá ser exigido novo
pagamento?

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 1 à 23.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 33-54.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 27.
Universidade Católica de Moçambique 34

Unidade 04
OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS
EMPRESÁRIOS COMERCIAIS
Introdução
Esta unidade terá os seguintes temas de estudo

PLANO DE EXPOSIÇÃO
2.2.1. A Firma
2.2.2. Constituição da Firma
2.2.3. Princípios informadores da constituição da firma
2.2.4.

2.2.5. A jurisprudência como fonte de normas constitucionais

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

Objectivos específicos
1. Identificar o conceito objectivo e subjectivo da firma;
2. Analisar os princípio informadores da firma;
Objectivos 3. Compreender as vários tipos de firmaque existem na
ordem jurídica moçambicana.

Obrigações especiais dos empresários comerciais

23. A firma

O comércio é executado sob uma designação nominativa, que


constitui a firma. Há, porém, no direito comparado duas concepções
diversas de firma:

Para o conceito objectivo, a firma é um sinal distintivo do


estabelecimento comercial. Daí decorrem, como corolários, a
Universidade Católica de Moçambique 35

possibilidade de tal designação ser composta livremente e ser transmitida


com o estabelecimento, independentemente de acordo expresso.

Para o conceito subjectivo, a firma é um sinal distintivo do


comerciante – o nome que ele usa no exercício da sua empresa: é o nome
comercial do comerciante. Daí que, em relação ao comerciante
individual, nesta concepção, a firma deva ser formada, a partir do seu
nome civil e, em princípio intransmissível. 18

O art. 16º CCom19[2], está relacionado com o estatuto de dos


empresários comerciais. Considera-se a firma o nome comercial do
empresário comercial, sinal que os identifica ou individualiza também o
faz para alguns não empresário comerciais – sociedades civis não
comerciais.

24. Constituição da firma

A firma consoante os casos, pode ser formada com o nome de uma ou


mais pessoas (firma-nome), com uma expressão relativa ao ramo de
actividade, aditada ou não de elementos de fantasia (firma-denominação
ou simplesmente denominação), ou englobar uns e outros desses
elementos (firma mista).

Em todo o caso, ele será um sinal nominativo e nunca emblemático:


sempre uma expressão verbal, com exclusão de qualquer elemento
figurativo.

Sinais distintivos das diversas pessoas colectivas:

d) Firma do empresário comerciai Pequeno empresário (artigo


27.º do CCom):

Tem de ser composta pelo seu nome completo ou abreviado para


identificação, não podendo colocar em regra a abreviação de um só
vocábulo; pode ter expressões ou siglas; pode aditar uma alcunha ou
expressão alusiva à actividade comercial.

1818
Miguel J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 85
19[2]
Obrigações especiais dos empresários comerciantes
Universidade Católica de Moçambique 36

Tratando-se de Pequeno Empresário, além das regras de composição


da firma, enumeradas neste código, é obrigatório o aditamento da
Expressão “Pequeno Empresário” ou abreviadamente “PE”

e) Firma do Pequeno Empresário, Pessoa Singular (artigo 28.º


CCom)

A Firma do empresário comercial, pessoa singular, pode conter o


aditamento “Empresário Individual” ou, abreviadamente “PE”.

f) Firma das sociedades em nome colectivo (artigo 29.º CCom)

A firma do empresário comercial, pessoa singular, deve conter o


aditamento “Sociedade em Nome Colectivo” ou, abreviadamente “SNC”.

Aquele que, não sendo sócio, consentir que o seu nome ou firma
figure na firma de sociedade em nome colectivo responde solidariamente
com os sócios pelas obrigações sociais.

g) Firma das sociedades em comandita

A Firma das sociedades em comandita simples deve conter o


aditamento “Sociedade em Comandita” ou, abreviadamente “SC”; a firma
das sociedades em comandita por acções deve conter o aditamento
“Sociedade em Comandita por Acções” ou, “SCA”.

Aquele que, não sendo sócio comanditado, consentir em que o seu


nome ou firma seja utilizado na composição da firma de sociedade em
comandita responde solidariamente com os sócios comanditados pelas
obrigações.

h) Firma das sociedades de capital e indústria

A firma das sociedades de capital e indústria deve conte, o aditamento


“Sociedade de Capital e Indústria” ou abreviadamente, “SCI”

i) Firma das sociedades por quotas (artigo 32.º CCom)

A firma das sociedades por quotas deve conter o aditamento “Limitada”


ou, abreviadamente, “Lda”.
Universidade Católica de Moçambique 37

j) Firma das sociedades por quotas unipessoais (artigo 33.º


CCom)

A firma das sociedades por quotas unipessoais deve conter o aditamento


“Sociedade Unipessoal Limitada” ou, abreviadamente “Sociedade
Unipessoal Lda.”

k) Firma das sociedades anónimas (Artigo 34.º CCom)

A firma das sociedades anónimas deve conter o aditamento


“Sociedade Anónima” ou, abreviadamente, “SA”.

O nome do fundador, accionista controlador ou pessoa outra que


tenha concorrido para o êxito da empresa, pode integrar a denominação
empresarial.

l) Firma de outros empresários comerciais, pessoas colectivas

A firma dos empresários comerciais, pessoas colectivas, que não sejam


sociedades e nem agrupamentos de interesse económico, deve conter um
aditamento identificativo do tipo de pessoa colectiva de que se trata.

25. Princípios gerais (informadores) da constituição de firmas dos


empresários comerciais

a) Princípio da verdade (artigo 19.º CCom)

A firma deve corresponder à situação real do comerciante a quem


pertence, não podendo conter elementos susceptíveis de a falsear ou de
provocar confusão, quer quanto à identidade do comerciante em nome
individual e ao objecto do seu comércio, quer, no tocante às sociedades,
quanto à identificação dos sócios, ao tipo e natureza da sociedade, à (s)
actividade (s) objecto do seu comércio e outros aspectos a ele relativos.

b) Princípio da novidade (artigo 20.º CCom)

Marca a prioridade da firma já registada ou licenciada procurando


evitar surgir outra firma com a mesma denominação da existente.
Universidade Católica de Moçambique 38

É aferida no âmbito da exclusividade, podendo haver firmas


semelhantes se tiver âmbito de exclusividade diferente, a racio legis, é
não haver firmas iguais.

O juízo de confundabilidade (fundamentação de recurso) tem que ser


de fundamentação global, tem que atender aos elementos fundamentais
da firma. É o nome da firma que o juízo de valor tem-se de fundamentar.

c) Princípio da exclusividade (artigo 24.º CCom)

A firma goza dum âmbito territorial de protecção, não é


necessariamente o âmbito nacional.

No comerciante individual, se ele usar o seu nome, o âmbito de


protecção é correspondente territorial da conservatória onde está
registado.

Se ele aditar ao nome uma expressão distintiva já pode ser


reconhecida extensão em todo o território nacional.

A firma das Sociedades Comerciais goza de um âmbito nacional de


protecção, estendem a outros empresários individuais a responsabilidade
limitada as regras fundamentais relativas ao comerciante individual.

d) Princípio da unidade

O comerciante deve gerir a sua actividade sob uma única firma. O


empresário individual não pode usar mais do que uma firma.

Este princípio tem de ser confrontado com o fenómeno da


transmissão da firma, se houver transmissão de firma, afecta os princípios
que a lei refere?

Poria-se em causa o princípio da novidade se o alienante continuar a


usar a firma alienada. Pressupõe-se que o alienante perde a firma anterior,
para continuar, tem que formar uma nova firma – princípio da novidade.

O princípio da unidade é atingido se o alienante puder continuar a


utilizar a firma anterior? Resposta negativa, se alguém quiser adquirir a
firma do alienante, deve criar nova firma. Pode continuar a firma que
tem, tendo que exercer simultaneamente a exploração da firma adquirida.
Universidade Católica de Moçambique 39

Só pode utilizar a firma do alienante se continuar a explorar a firma do


alienante (artigo 36.º CCom), não se permitindo a subsistência de firmas
independentes. A lei permite a transmissão da firma (artigo 36.º CCom),
mas para isso à que preencher determinados requisitos:

· Transmissão tem que ocorrer em conexão com a transmissão do


estabelecimento (n.º 6, do artigo 36.º do CCom);

· Acordo das partes nesse sentido (negócio entre vivos);

· A indicação tem que ser dada ao novo titular de que sucedeu ao


antigo titular;

· A subsistência do estabelecimento adquirido, exigindo-se a


indicação da transmissão.

Por transmissão “mortis causa”, os sucessores também devem


continuar gerir o estabelecimento. A lei exige que haja/impõe uma
conexão da firma ao estabelecimento para que a continuidade na
identificação não se torne enganosa.

Preocupação de defesa de terceiros, porque eles recebem a garantia de


que se trata do exercício do mesmo estabelecimento.

Depende do requisito, e só há direitos exclusivos, após o registo


definitivo (art. 24.º do CCom).

Exercícios

Exercícios

1. António é proprietário de trse automóveis


pesados e uma carinha com os quais,
auxiliado por cinco empregados, desenvolve
a actividade de transporte de mercadoria.
2. Poderá António criar uma sociedade por
quotas unipessoal para desenvolvimento da
actividade de transporte de mercadorias?
Universidade Católica de Moçambique 40

3. Depois de constituir a sociedade unipessoal


por quotas, António poderá continuar a
utilizar a carinha pás as suas actividades
particulares?
4. Depois de Consituir a socidade unipessoal
por quotas, António pensa vender-lhe a
carinha nova que utiliza para os passeios da
família ao fim de semana, porque esta já está
próxima de 100.000.Km. Poderá fazer?

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 1 à 23.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 33-54.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 27.
Universidade Católica de Moçambique 41

Unidade 05
O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL
Introdução
Nesta unidade serão abordados os seguintes temastes temas

PLANO DE EXPOSIÇÃO:
1.1 Noção dee estabelecimento comercial
2.1 Elementos do estabelecimento comercial
3.1 Valor de estabelecimento comercial
4.1 Trespasse do estabelecimento comercial
5.1 Locação e usufruto do estabelecimento comercial
6.1 Penhora do estabelecimento comercial
7.1 Lugares destinados ao comércio.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Objectivos específicos:
 1. Identificar as vicissitudes constitucionais
 2. Analisar os tipos de vicissitudes constitucionais
Objectivos
Universidade Católica de Moçambique 42

O estabelecimento comercial

25. Noção de estabelecimento comercial20

Organização do empresário mercantil, conjunto de elementos do


comerciante que estão organizados pelo comerciante para exercer a sua
actividade comercial, de produção ou circulação de bens ou prestação de
serviços. Pressupõe:

- Um titular: ele é um conjunto de meios predestinados por um


empresário, titular de um determinado direito sobre ele, para
exercer a sua actividade;

- Um acervo patrimonial: engloba um conjunto de bens e


direitos, das mais variadas categorias e naturezas, que têm em
comum a afectação à finalidade coerente a que o comerciante os
destina;

- Um conjunto de pessoas: pode reduzir-se à pessoa do


empresário o seu suporte humano, nas formas mais embrionárias
da estrutura empresarial;

- É uma organização: os seus elementos não são meramente


reunidos, mas sim entre si conjugados, interrelacionados,
hierarquizados, segundo as suas específicas naturezas e funções
específicas, para que do seu conjunto possa emergir um resultado
global: a actividade mercantil visada;

- Organização funcional: a sua estrutura e configuração e a sua


identidade advêm-lhe de um determinado objecto, que é uma
actividade de um determinado ramo da economia.

26. Elementos do estabelecimento comercial

a) Elementos corpóreos

20
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 162.
Universidade Católica de Moçambique 43

Nesta categoria devem considerar-se as mercadorias que são bens


móveis destinados a ser vendidos, compreendendo as matérias-primas, os
produtos semi-acabados e os produtos acabados.

Faz também parte do imóvel onde se situem as instalações, quando o


seu dono seja o comerciante, pois se o não for, apenas integrará o
estabelecimento o direito ao respectivo uso.

b) Elementos incorpóreos

Aqui deve-se considerar os direitos, resultantes de contrato ou outras


fontes, que dizem respeito à vida do estabelecimento: o direito ao
arrendamento; direitos reais de gozo, etc.

c) Clientela

O nosso ordenamento consagra o direito à clientela, direito do


estabelecimento, abrangendo a clientela certa e clientela potencial, pode
ser deferido por acções de concorrência desleal que tutelam elementos
gerais da empresa.

d) O aviamento

A capacidade lucrativa da empresa, a aptidão para gerar lucros


resultantes do conjunto de factores nela reunidos. Exprime pois, uma
capacidade lucrativa e esta confere ao estabelecimento uma mais-valia
em relação aos elementos patrimoniais que o integram, a qual é tida em
conta na determinação do montante do respectivo valor global.

27. Negócios à volta do estabelecimento

A identidade jurídica do estabelecimento como, simultaneamente,


universalidade de direito e bem móvel incorpóreo, fornece uma base
conceptual adequada para a estruturação do regime jurídico dos negócios
jurídicos que o tomam como um todo.

a) O trespasse

É uma figura jurídica que recobre uma pluralidade de modalidades e


não um negócio uniforme.

Diz-se trespasse todo e qualquer negócio jurídico pelo qual seja


transmitido definitivamente e inter vivos um estabelecimento comercial,
Universidade Católica de Moçambique 44

como unidade. Ao alienante chama-se trespassante, e ao adquirente


trespassário.

Ficam porém, excluídos do âmbito do conceito os casos de


transmissão mortis causa.

Mas o que é essencial, para que haja trespasse, é que o


estabelecimento seja alienado como um todo unitário, abrangendo a
globalidade dos elementos que o integram (art. 71º/2 do CCom).

Pode, no entanto, algum ou alguns desses elementos ser


especificamente dele retirados e subtraídos à transmissão, que ainda
assim haverá trespasse.

A regulamentação legal do trespasse é suficiente para o


considerarmos assumido no nosso direito como um negócio nominado
(dentro da pluralidade de modalidades que pode recobrir), ainda que tal
regulamentação apenas diga respeito a aspectos parcelares do instituto.

Trata-se pois, de um acto de comércio objectivo, pois está regulado


em lei comercial avulsa e em termos que se destinam a satisfazer
necessidades específicas das actividades e empresas comerciais.

O primeiro aspecto do regime do trespasse focado na lei é o da


forma, já que o artigo 73.º do CCom, condicionam a validade deste
negócio jurídico à sua celebração por escritura pública, da qual
evidentemente, devem constar todos os seus elementos essenciais21 .

O segundo – art. 1117.º do Código Civil – consiste no direito de


preferência que é atribuído ao senhorio do prédio arrendado no caso de
trespasse por venda ou dação em cumprimento do estabelecimento.

É evidente que só ocorre a hipótese da norma quando o


estabelecimento se ache instalado num imóvel arrendado. Mas, como o
objecto do trespasse não é a relação jurídica de arrendamento, e sim o
estabelecimento como bem unitário, é óbvio que o exercício do direito de
preferência22[3] pelo senhorio terá que ter o mesmo objectivo, ou seja o

21
É indispensável que seja conjugado o regime do estabelecimento comercial
com o artigo 1118.º do Código Civil em vigor na República de Moçambique.
22[3]
Ao direito de preferência em questão aplicam-se também os arts. 416º a 418º e 1410º
CC.
Universidade Católica de Moçambique 45

estabelecimento, compreendendo todos os elementos que integram, tais


como o projectado trespasse os abrangeria.

Relativamente às dívidas do comerciante inerentes ao


estabelecimento, o adquirente do estabelecimento responde pelos débitos
derivados da respectiva exploração e anteriores ao trespasse, sem que o
alienante fique libertado, salvo se nisso consentirem os credores.
Consequentemente, haverá que respeitar, para que se transmitam as
dívidas, a exigência da concordância do credor de cada uma, como resulta
do disposto no artigo 77.º do CCom.

Do trespasse faz nascer para o trespassante, independentemente de


estipulação, a obrigação de não concorrência (desleal) ao trespassário,
isto é, de não exercer uma actividade análoga, em condições de local,
tempo e outras, que constituam uma forma eficaz de retomar a clientela
do estabelecimento alienado.

A violação deste dever constituirá concorrência ilícita, cuja sanção


constituirá na responsabilidade pela indemnização dos danos causados,
bem como na aplicação de uma sanção pecuniária compulsória ao
violador, enquanto persista na conduta ilícita, isto é, na exploração
concorrencial (artigo 76.º do CCom).

b) Usufruto

Tem o estabelecimento por objecto, um direito real limitado de gozo


constituído sobre coisa alheia e também tem de ser realizado por escritura
pública (artigo 78.º do CCom).

O usufrutuário adquire o direito à exploração do estabelecimento,


além dos poderes que lhe são atribuídos de uso directo (exploração) do
estabelecimento. Adquire também poderes de utilização indirecta,
contrariamente de alguém que tenha o mero direito de uso, quem tenha
usufruto pode locar também.

28. Cessão de exploração do estabelecimento comercial

Cessação de exploração do estabelecimento comercial é um contrato pelo


qual o titular de um estabelecimento comercial – cede – entrega a outrem
– cessionário por tempo determinado, mediante retribuição, para
exploração comercial. Dai, que o seu objectivo não seja o imóvel
Universidade Católica de Moçambique 46

propriamente dito, mas somente o estabelecimento integrado todos os


seus elementos, mantendo-se o exercício da actividade inicial, isto é, a
actividade comercial que vinha sendo desenvolvida pelo cedente. 23

A cessão de exploração do estabelecimento comercial pode assemelhar-se


ao arrendamento porque nele se processa a transmissão temporária e a
título oneroso a fruição do imóvel do cedente para o cessionário, mas não
passa de mera derivação do conceito de locação, uma vez que não é
regulada por regras limitativas da liberdade contratual, como, por
exemplo, as da cessão da posição contratual que nos casos de
arrendamento propriamente dito obrigam o locatário comunicar ao
locador, dentro do prazo de 15 dias, a cedência da coisa (alínea g) do
artigo 1038.º Código Civil), a da renovação ou prorrogação automática do
contrato de arrendamento.

Alias, o artigo 1085.º do Código Civil estabelece que não é havido como
arrendamento de prédio o contrato pelo qual se transfere temporariamente
e onerosamente para outrem, juntamente com a fruição do prédio a
exploração de um estabelecimento comercial ou industrial nele instalado,
a não ser que ocorram impeditivos de trespasse arrolados no n.º 2, do
artigo 1118.º do Código Civil.

29. Locação e usufruto do estabelecimento comercial

Sobre o usufruto ou locação do estabelecimento comercial, o artigo 78.º


do Código Comercial impõe que a administração do usufruto e do
locatário deve cingir-se na preservação da unidade dos elementos
constitutivos do estabelecimento comercial, sem lhe modificar o fim a
que se destina de modo a manter a eficiência da organização, naquelas
mesma relações contratuais o usufrutuário e o locatário , brigam-se a
zelar pelos bens integrados do administrados de bens de terceiros,

23
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 168.
Universidade Católica de Moçambique 47

inclusive pela guarda, podendo, na hipótese de alienação indevida vir a


responder como depositários infiéis.24

O legislador comercial teve a preocupação de proteger a clientela com a


aplicação à locação do estabelecimento comercial da regra do desvio de
clientela, como já foi dito, mas também do estatuído pelos artigo 74.º e
75.º.

É assim, que o artigo 74.º estabelece que o prazo da locação do


estabelecimento comercial é de 5 anos, se outro não for convencionado
pelas partes, e com vista a proteger o ponto empresarial onde se encontrar
o empresário comercial.

O artigo 75.º assegura o direito à renovação compulsória da locação, que


não pode ser mais do que uma vez, desde, que o contrato de locação
tenha sido celebrado por escrito, com prazo não inferior a cinco anos.

O empresário comercial locatário explora actividade comercia, no


mesmo ramo pelo prazo mínimo incorrupto de três anos.

A defesa da transferência global e unitária do estabelecimento comercial,


também encontra apoio textual no código de processo civil. Pois no seu
artigo 603.º alínea i), fala do valor de estabelecimento comercial ou
industrial, considerando como universalidade que compreende tanto o
activo como o passivo. Por seu turno, o artigo 1118.º, n.º 1, do Código
Civil permite que a transmissão por entre vivos da posição do
arrendamento se possa fazer sem dependência de autorização do
senhorio, em caso de trespasse do estabelecimento comercial ou
industrial.

30. Penhora e execução do estabelecimento comercial

24
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 170.
Universidade Católica de Moçambique 48

Segundo o artigo 81.º do Código Comercial, o estabelecimento comercial


pode ser penhorado e executado em acção proposta contra o empresário
comercial.

Após a penhora, o juiz indica um administrador do estabelecimento,


cargo que desempenhará na condição de depositário, de acordo coma as
regras do Código Comercial, relativamente ao usufruto ou locação do
estabelecimento comercial, sendo lícito às partes, no processo de
execução, ajustarem a forma de administração do estabelecimento
comercial e a escolha do administrador, hipótese em que o juiz da causa,
quando não prejudica interesse de terceiro, homologará o acordo, n.º s, 1,
2, e 3).

Já no processo de execução, o juiz pode conceder ao credor usufruto


judicial do estabelecimento comercial, quando repute menos gravoso ao
devedor e se mostre meio suficiente para o recebimento do valor da
dívida pelo credor.

E, decretado o usufruto judicial, perde o devedor o gozo do


estabelecimento comercial pelo tempo que for necessário ao pagamento
do crédito e dos encargos de execução (n.ºs, 4 e 5).

31. Lugares destinados ao comércio, Mercados, Feiras, Armazéns e


Lojas

O Código Comercial indica como lugares destinados ao comércio os


mercados, e feiras, armazéns gerais e armazéns ou lojas.

Os mercados e feiras devem funcionar em lugares, pelo tempo e no modo


que forem prescritos na legislação e regulamentos pertinentes (artigo
66.º).

Os armazéns gerais que são todos aqueles que forem autorizados pelo
Governo a receber em depósito, géneros e mercadorias funcionam
mediante caução e pelo preço fixado nas respectivas tarifas (artigo 67.º).
Universidade Católica de Moçambique 49

Os armazéns ou lojas de venda são os estabelecimento pelos empresários


comerciais não matriculados, sempre que tais estabelecimentos se
conservem abertos ao público por oito dias consecutivos, ou hajam sido
anunciados por meio de avisos avulsos ou jornais, o tenham os
respectivos letreiros usuais (artigo 68.º).25

Exercícios

Exercicios sobre as vicissitudes constitucionais

a) Afonso, comerciante, casado com Beatriz no regime de


comunhão de bens adquiridos, é titular de um
estabelecimento comercial de venda por grosso de
produtos têxteis. No âmbto da exploração deste
estabelecimento tinha celebrado com Camões,
empresário de fiação têxtil, um contrato de fornecimento
de diversos produtos. Enretanto, Afonso aliena a Danilo
o estabelecimeno comercial, retirado-se da vida
comercial. Neste momento restava a Camões, como
última fase da execução do contrato celebrado com
Afonso, fornecer uma determinada quantidade de uma
fibra especial, devendo aquele proceder ao pagamento da
correspondente contrapartida de 15 000 Meticais.
Camões realiza o fornecimeto do material, mas afonso
recusa-se a proceder o pagamento, alegando já não ser o
titular do estabelecimento. Igualmente, Danilo, entretanto
interpelado por Camões, recusa efectur o pagamento,
invocando, por seu turno, não ter sido parte no contrato.
25
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 171.
Universidade Católica de Moçambique 50

Analise a hipótese com base nos conhecimento


apreendidos no direito comercial, e fundamente
sempre com base na lei as suas respostas.
b) António é um jovem empreendedor que pretnde criar
uma empresa que se didicará à instalação de painéis
solares e representação de uma impiortante fábrica
nacional. Responda fundadamente com base na lai.
1. Fernande é funcionáqria dos Transportes Públicos da
Beira, esta é um estabelecimento comercial?
2. Fernada tambémtem uma barraca na Praia Nova, será
esta barraca um estabeecimento comercial?

c) A sociedade “Glória ao Glorioso – equipamentos


desportivos, Lda” pertencente em quotas iguais aos
sócios gerentes Eusébio e Humberto Coelho, tem
uma rede de estabelecimentos de venda ao público
nas principais cidades do país. Asociedade, em
Janeiro de 2007, vendeu a Shéu o estabelecimento
situado na Beira. Em Maio de 2007, Humberto
Coelho abre, a dois quarteirões de dustância um
estebelecimento destinado ao comércio de artigo
desportivos.Shéu, incomodado com a situação,
interpela Humberto Coelho para ele mudar de
ramo de negócio, ao que este responde
negativamente afirmando não ter sido sido ele o
trespassante do estebelecimento, mas sim a
sociedade “Glória ao Glorioso – equipamentos
desportivos Lda ”. Quid iuris.

d) Rodrigues intentou, a 04 de Setembro de 2007,


uma acção declarativa solicitando que Carla fosse
condenada a pagar-lhe a quantia de 300 mil
meticais. Para tanto alegou que Carla lhe
trespassou, pelo valor de 500mil meticais, um
estabelecimento instalado no Centro Comercial da
Universidade Católica de Moçambique 51

Beira, e que volvidos oito meses, terá procedido à


abertura de uma loja, dois pisos acima
“denominado não compre pão na pastelaria abaixo
da nossa, Lda”, onde pasou a exercer actividade
semelhante à que realiza na trespassada, facto que
teve imediatamente redução na sua clientela, que
passou a frequentar o espaç da ré, nas vendas e nos
lucros. Atente aos seguintes factos: A actividade
comercial exercida nos dois estebelecimentos
resumia-se à pastelaria e padaria. Rodrigues
dispunha de outras pastelarias, as quais, pese
embora o facto de, em tempos, terem beneficiado
de muitos clientes, actualmente estavam em crise,
em função de uma flagarnte decadência na
prestação de serviços.

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 1 à 23.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 33-54.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 27.
Universidade Católica de Moçambique 52

Unidade 06

DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Introdução
Nesta unidade serão discutidos os seguintes assuntos:

PLANO DE EXPOSIÇÃO

1.1 Conceito.
2.1 Função de títulos de crédito.
3.1 Característicad dos títulos de crédito.
4.1 Incorporação.
5.1 Literalidade.
6.1 Autonomia.
7.1 Circulabilidade.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Objectivos específicos:
 Compreender os negócios cartulares an sua íntegra.
 Aqnalizar os vários títulos de crédito qua existem na ordem
Objectivos moçambicana.
 Distinguir o regime de cada um dos títulos de crédito.
Universidade Católica de Moçambique 53

Títulos de crédito

32. Conceito

Na transacção comercial, com maior nitidez no mútuo e na venda a prazo


identificam-se dois conceitos, de carácter intrínseco plenamente variado,
que são o crédito e o prazo.

O mútuo é o contrato pelo qual um dos contraentes (o mutuante) dar por


emprestado ao outro (mutuário) dinheiro ou determinada coisa fungível,
obrigando este último a restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade.

A venda a prazo é o contrato pelo qual uma das partes (o vendedor) troca
um determinado objecto ou mercadoria por um preço a ser pago
posteriormente, ou seja, no futuro, pela outra parte ( o comprador).

Tudo se passa na base de confiança do mutuante ou vendedor na


honestidade e solvabilidade do vendedor e de prestação quer de um quer
de outro decorrer dentro de um certo prazo, verificado, desse modo, o
chamado carácter futuro ou deferido da prestação do devedor.26

33. O Crédito

É essencialmente a troca de uma prestação presente por uma


prestação futura, ou seja, o diferimento no tempo de uma contra
prestação.

O conceito de crédito comporta dois pressupostos básicos:

a) A confiança do credor na honestidade e solvabilidade do


devedor, isto é, na sua aptidão moral e patrimonial para cumprir a
obrigação no prazo concedido, ou, pelo menos o valor das
garantias (pessoais ou reais) constituídas pelo devedor para
assegurar a efectivação da prestação a que obrigou;

26
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 304.
Universidade Católica de Moçambique 54

b) Decurso do tempo entre a prestação actual do credor e a prestação


futura do devedor, normalmente fixado num período certo ou a
prazo; ou, o carácter futuro ou diferido da prestação do devedor.

A promoção do crédito seja um dos objectivos fundamentais do


direito comercial, cuja prossecução está na base e justifica a especialidade
do regime dos actos do comércio.

34. Função e conceito de título de crédito

Todo o documento necessário para exercer um direito, que é um


direito literal, autónomo, abstracto, que está mencionado nesse próprio
documento; verifica a incorporação do direito nesse título de que somos
detentores.

Esse direito que está ínsito nesse título, é designado no nosso sistema
por um direito cartolar, há uma incorporação expressa, uma conexão
directa entre tal documento e o direito que se é titular.27

O título de crédito, tem uma eficácia que ultrapassa a de mera


constituição do direito ao título adere permanentemente ao direito, de
modo tal que aquele é indispensável para que o direito possa ser exercido
e transmitido, ou seja, para que o seu titular possa dispor dele. Os títulos
de crédito são documentos dispositivos.

35. Características gerais dos títulos de crédito

A confiança constitui a base do desempenho dos títulos de crédito.


Para que essa confiança exista, é essencial que o regime para eles traçado
proteja ao máximo os interesses do titular do direito, do devedor e
daqueles que venham a adquiri-los de boa fé. Todos eles se disporão a
aceitar a emissão e transmissão dos títulos se puderem ter absoluta
confiança em que:

a) O titular é quem tem o título em seu poder e por isso está


habilitado para exercer o direito nele referido;

27
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 305.
Universidade Católica de Moçambique 55

b) Cada titular poderá com toda a facilidade transmitir esse título,


para realizar o valor dele, sem necessitar de esperar pelo
cumprimento da obrigação correspondente ao direito nele
mencionado.

c) O teor literal do título correspondente ao direito que ele


representa; e

d) A posição jurídica do actual detentor do título não poderá ser


posta em causa pela invocação de excepções oponíveis aos
anteriores detentores do título

36. Princípio da incorporação ou legitimação

A detenção do título é indispensável para o exercício e a transmissão


do direito nele mencionado (quem for titular de um título é titular de um
direito).

Tal característica consiste em que a posse do título legítima o


portador para exercer ou transmitir o direito. É mais preciso, designar esta
característica por legitimação activa visto que ela se refere à posição
jurídica do sujeito activo do crédito, à sua aptidão para exercê-lo ou
transmiti-lo.

A posse, ou melhor a detenção material do título segundo as regras de


circulação que para ele estão defendidas, que confere ao seu possuidor a
legitimação formal para exercer ou transmitir o direito que o título refere.

O regime jurídico dos títulos de crédito assenta numa presunção de


boa fé dos sucessivos detentores do título, através da qual se cimenta e
robustece a formação e manutenção da confiança que constitui a base da
aceitação destes documentos.

Há igualmente que considerar uma legitimação passiva, relativa à


posição e interesse do devedor: este pode desonerar validamente da sua
obrigação, correspondente ao direito cartolar, se a cumprir perante o
detentor do título segundo a respectiva lei de circulação.

37. Princípio da circulabilidade


Universidade Católica de Moçambique 56

Os títulos de crédito destinam-se a circular, o que significa que, a sua


própria destinação jurídico-económica implica a potencialidade de serem
transmitidos da titularidade de uma pessoa para a outra sucessivamente,
acarretando cada transmissão do direito sobre o título a transmissão do
direito por ele representado, do direito cartolar.

Porque assim é, os documentos que não comportem a possibilidade


de circulação não podem ser considerados como títulos de crédito.

38. Princípio da literalidade

O direito que está incorporado no título, é um direito literal, porque o


documento vale nos precisos termos que constam no próprio documento.
O direito cartolar é aquele que está no documento independentemente da
forma como foi constituído, da relação subjacente do mesmo.

39. Princípio da autonomia

O tal direito cartolar (incorporado no documento), é em si um direito


autónomo, porque a relação cambiária tem vida própria, não está
dependente de qualquer relação subjacente a essa letra de câmbio.
Importa distinguir dois sentidos:

a) Autonomia face ao direito subjacente

O direito cartolar tem a sua origem numa relação jurídica logicamente


anterior ao surgimento do título de crédito – a relação subjacente ou
fundamental – e que ele é novo e diferente do direito subjacente ou
fundamental, tendo um regime próprio.

Assim, o direito cartolar é autónomo do direito subjacente, e por isso


não podem ser opostos ao portador do título, em princípio, meios de
defesa (excepções) emergentes da relação fundamental (artigo 720.º do
CCom).

b) Autonomia face aos portadores anteriores

O direito cartolar é autónomo, segundo este sentido, porque cada


possuidor do título ao adquiri-lo segundo a sua lei de circulação “adquire
o direito nele referido de um modo originário, isto é, independentemente
da titularidade do seu antecessor e dos possíveis vícios dessa
Universidade Católica de Moçambique 57

titularidade” como se o direito tivesse “nascido ex-novo nas suas mãos”


(artigo 719.º do CCom)

40. Princípio da abstracção

O negócio cambiário é abstracto porque, esse negócio permite


preencher um conjunto de funções económico-jurídicas (ex. compra e
venda).

A obrigação cambiária pressupõe sempre a existência de uma relação


jurídica subjacente, a relação pode preencher uma diversidade de funções
económico-jurídicas, a obrigação cambiária só tem um fim – pagamento
ou garantia de pagamento. Não é por esse fim que determina o negócio
cambiário. O negócio cambiário é determinado por outro negócio
celebrado entre as partes – a convenção executiva – é a causa próxima do
negócio cambiário, as partes determinam (através de convenção
executiva) a função desse negócio (artigo 720.º do CCom).

41. Títulos impróprios

Habitualmente não são considerados como títulos de crédito certos


documentos que, muito embora tenham, em geral, as mesmas
características daquelas todavia se afastam deles no tocante à sua função
jurídico-económica e, por isso, quanto à característica da circulabilidade,
sendo designados como títulos impróprios.

Dentro destes documentos, é usual distinguir ainda duas categorias:


os títulos de legitimação e os comprovantes de legitimação.

a) Títulos de legitimação, têm por função conferir ao seu possuidor


a legitimação (activa) para o exercício de certos direitos e,
consequentemente, também conferem à outra parte a correspectiva
legitimação passiva.

b) Comprovantes de legitimação, conferem igualmente a


legitimação activa e passiva relativamente ao exercício de certos
direitos, mas nem sequer têm a possibilidade de circular por serem
intransmissíveis.
Universidade Católica de Moçambique 58

Tipologia

42. Critério da causa-função, ou do nexo com a relação subjacente

Consideram-se duas espécies de títulos:

São causais os títulos que se destinam a realizar uma típica e única


causa-função jurídico-económica, inerente a um determinado tipo de
negócio jurídico subjacente, do qual resultam direitos cuja transmissão e
exercício o título de crédito se destina a viabilizar ou facilitar.

Os títulos abstractos são aqueles que não têm uma causa-função


típica, pois são aptos a representar direitos emergentes de uma
pluralidade indefinidamente vasta de causas-funções. Além disso, estes
títulos são independentes da respectiva causa: em princípio, o devedor
não pode invocar contra o portador do título, excepções fundadas na
relação subjacente, que é a causa (mediata) da sua obrigação e do
correlativo direito do portador.

43. Critério do conteúdo do direito cartolar

A maior parte dos títulos de crédito hoje em uso incorporam direitos


de crédito em sentido estrito, geralmente direitos a uma prestação
pecuniária, e por isso se designam como títulos de crédito propriamente
ditos.

Outros títulos, entretanto, denominam-se títulos representativos,


porque incorporam direitos sobre determinadas coisas, em geral
mercadorias.

Em terceiro lugar existem os títulos de participação social, assim


designados por incorporarem uma situação jurídica de participação social,
ou seja, o complexo de direitos e obrigações que integra a qualidade de
sócio de uma sociedade.

44. Critério do modo de circulação

Segundo este critério os títulos podem ser ao portador, à ordem e


nominativos.
Universidade Católica de Moçambique 59

a) Títulos ao portador: não identificam o seu titular e transmitem-


se por mera tradição manual, por entrega real do documento (art.
663º CCom): o titular é quem for o detentor do documento.

b) Títulos à ordem: mencionam o nome do seu titular, tendo este,


para transmitir o título – e, com ele, o direito cartular –, apenas de
nele exarar o endosso (art. 671º CCom): uma declaração escrita,
no verso do título, ordenando ao devedor que cumpra a obrigação
para com o transmissário e/ou manifestando a vontade de
transmitir para este o direito incorporado.

c) Títulos nominativos: mencionam o nome do seu titular e a sua


circulação exige um formalismo complexo, do qual é exemplo
modelar o regime da circulação das acções nominativas (n.º 3, do
artigo 635.º do CCom): para que a sua transmissão seja válida,
deve ser exarada no próprio título, pelo transmitente, uma
declaração de transmissão, bem como nele seja lavrado o
pertence, isto é, que no local adequado seja inserido o nome do
novo titular; além disso, é ainda necessário o averbamento do acto
no livro de registo de acções da sociedade emitente.

45. Critério da natureza da entidade emitente

São títulos públicos aqueles que são emitidos pelo Estado e por
outros entes públicos legalmente habilitados para tanto, aos quais se
refere o art. 673º CCom, como “títulos públicos negociáveis”. São
principalmente, os títulos da dívida pública.

Todos os demais títulos de crédito são títulos privados, por as pessoas


ou entidades que os emitem não terem a natureza de entes públicos, ou
porque, quando tenham essa natureza, actuam de forma indiferenciada em
relação aos entes privados, colocando-se no mesmo plano de actuação
destes. É o que se passa por exemplo, quando um qualquer organismo ou
serviço público emite cheques para efectuar os seus pagamentos.

46. Principais títulos de crédito

a) A letra
Universidade Católica de Moçambique 60

É um título de crédito, através do qual o emitente do título – sacador


– dá uma ordem de pagamento – saque – de uma dada quantia, em dadas
circunstâncias de tempo e lugar, a um devedor – sacado – ordem essa a
favor de uma terceira pessoa – o tomador.

Como título de crédito é rigorosamente formal, a letra é destinada à


circulação, a qual se efectua através de endosso, sendo portanto, um título
à ordem. O tomador poderá, portanto, assumir a qualidade de endossante,
transmitindo a letra a um endossado, o qual, por sua vez, poderá praticar
acto idêntico a favor de um outro acto endossado e assim por diante.

O principal obrigado em virtude da letra é o aceitante, que assume a


obrigação de pagar a quantia nela mencionada ao portador legitimado por
uma série ininterrupta e formalmente correcta de endossos, ao tempo do
vencimento e no local devido.

b) A livrança

Menciona uma promessa de pagamento, de uma certa quantia, em


dadas condições de tempo e lugar, pelo seu subscritor ou emitente, a
favor do tomador ou de um posterior endossado que for seu portador
legítimo no vencimento.

A livrança é, também um, título à ordem, transmissível por endosso e,


rigorosamente formal, como se constata pelos requisitos mencionados no
art. 778º CCom.

c) O cheque

Exprime uma ordem de pagamento de determinada quantia, dada por


um sacador a um sacado, que tem a peculiaridade de ser necessariamente
um banqueiro, uma instituição de crédito habilitada a receber depósitos
de dinheiro mobilizáveis por esta forma, e a favor de uma pessoa
denominada tomador, portanto um meio de pagamento ao próprio
depositante ou a terceiro, a realizar pelas forças do depósito existente na
instituição de crédito.

47. A destruição e extravio do documento: a reforma dos títulos de


crédito
Universidade Católica de Moçambique 61

O título de crédito é um objecto material, um documento escrito


geralmente em papel, o que o torna muito facilmente perecível ou
degradável, assim como sujeito a numerosas causas de perda ou extravio,
voluntárias ou involuntárias.

Ora, a característica da incorporação ou legitimação implica que só


pode ser exercido ou transmitido o direito cartolar mediante a posse
material do título. E, por isso, a destruição do documento implica a
destruição do título de crédito, pois impossibilita o exercício ou
transmissão do respectivo direito.

A reforma consiste na reconstituição do título, através da emissão de


um novo documento, equivalente ao que foi destruído ou extraviado,
possibilitando assim a incorporação do direito no novo título, ou seja, que
o titular fique de novo legitimado para o seu exercício ou para fazer
circular o direito. E isto porque o título reformado equivale juridicamente
ao que desapareceu, como se fosse o mesmo documento (art. 484º
CCom).

48. Extinção do direito cartolar

O título de crédito também se extingue quando ocorre a extinção do


direito nele incorporado, a qual pode ficar a dever-se à generalidade das
causas de extinção das obrigações.

O cumprimento constitui a forma natural e mais frequente de extinção


do direito cartular. Deve porém notar-se que só assim acontece com o
cumprimento efectuado pelo obrigado principal, quando existam outros
co-obrigados garantes: se forem estes a pagar ao portador, ficam
investidos no direito cartolar em via de regresso.

Além disso, o cumprimento deve ser acompanhado da cessação da


circulação do título, pela sua entrega ao obrigado a efectuar o pagamento,
para que não suceda que, apesar de cumprida a obrigação, o título
continue a circular, correndo o obrigado o risco

de ter de pagar duas vezes (artigo 741.º do CCom).

A letra de câmbio
Universidade Católica de Moçambique 62

49. Requisitos formais da letra

1º A palavra “letra”:

Tem que constar no próprio texto do título e tem de ser expressa na


língua que é utilizada para a reclamação do título, este requisito adverte
logo as pessoas, para a natureza do título e para o seu regime jurídico,
alínea a) do n.º 1, do artigo 704.º do CCom.

2º Mandato puro e simples de pagar uma quantia


determinada:

Tem de conter uma ordem de pagamento que deve ser pura e simples
e respeitar uma quantia determinada, essa ordem de pagamento emite a
letra e confere à letra, ao título uma identidade própria com o título de
crédito, que tem o regime da letra. O sistema jurídico exige que a ordem
de pagamento puro e simples, não pode ter cláusulas acessórias que
condicionem ou restrinjam o sentido e o alcance da letra (do título). O
saque é um acto jurídico que é incondicionável, tanto assim é, que a
alínea b) do n.º 1, do artigo 704.º CCom, vem dizer que a condição que
seja posta no saque “não produzirá efeito como a letra”.

3º O nome daquele que deve pagar (sacado):

O sacado da letra tem de indicar expressamente a pessoa à qual a


ordem de pagamento é dirigida, identificando a pessoa pelo nome
completo, ou quando de forma abreviada esse nome tem de estar de tal
forma expresso, para que seja possível a concreta identificação do sacado
sem recurso a outros meios de prova, alínea f) fo n.º 1, do artigo 704.º
CCom.

4º Época de pagamento:

Data de vencimento da letra (artigo 736.º do CCom), pode ser


pagável – sacada:

- À vista, ou seja, pagável no acto de apresentação ao sacado


(alínea a) do n.º 1, do artigo 705.º CCom);

- A um certo termo de vista, isto é, vence-se decorrido um certo


prazo sobre o aceite ou o protesto por falta de aceite ;
Universidade Católica de Moçambique 63

- A um certo termo de data, quer dizer, decorrido um certo prazo


sobre a data do saque;

- Como pagável no dia fixado, na própria letra para esse efeito.

Se na letra não houver qualquer menção da época do pagamento,


determina supletivamente que a letra se entenderá pagável à vista.

5º Identificação do lugar a efectuar o pagamento:

Se esta referência não constar do título é suprida, nos termos da alínea


c) do n.º 1.º do artigo 705.º do CCom, valendo para este efeito, o lugar
indicado ao lado do nome do sacado, como seu domicílio.

Relaciona-se com este requisito a regra, que permite a chamada letra


domiciliada, isto é, pagável no domicílio de um terceiro. O uso mais
corrente desta faculdade consiste na identificação como local de
pagamento de uma dependência de um banco.

6º O nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser


paga (tomador):

Também a indicação do nome do tomador deve ser feita de modo a


possibilitar a sua identificação, em termos semelhantes aos referidos
quanto ao nome do sacado. Alínea f) do artigo 704.º CCom, permite que
o sacador se identifique a si próprio como tomador.

7º Indicação da data e lugar em que a letra é paga:

Se verificar a falta da data do saque, terá como consequência a não


produção de efeitos daquele título como letra (alínea g) do artigo704.º
CCom), se faltar o lugar, vale como lugar aquele que foi indiciado ao
lado do nome do sacador.

8º Assinatura de quem passa a letra (sacador)

O saque é o acto gerador da letra, que implica o nascimento da


obrigação cambiária do sacador, por essa razão é que o sacador tem de
assinar a letra. O sacado só assume a obrigação mencionada nesse título
(obrigação cambiária) se e quando aceitar a ordem dada pelo sacador,
assinando de forma transversal no rosto do título da letra, e é esse acto de
assinar do sacado que se denomina por aceite que converte o sacado em
aceitante da letra (alínea h) do n.º 1, do artigo 704.º do CCom).
Universidade Católica de Moçambique 64

50. A letra em branco ou incompleta

A partir de todos os elementos essenciais enumerados, sobre o


suporte mecânico da letra, o título fica completado nos elementos
essenciais constitutivos do título letra de câmbio, portanto, esse
instrumento, esse título fica a desempenhar a função para que esse título
foi emitido por lei.

É muito frequente na prática a emissão de letras que falta um ou mais


dos requisitos do, conquanto delas conste pelo menos uma assinatura feita
com a intenção de contrair uma obrigação cambiária28[4].

É o que se denomina geralmente de letra em branco para haver uma


letra em branco é necessário que preencha determinados requisitos:

1) Necessário que o instrumento, contenha já a assinatura de um dos


obrigados cambiários;

2) Que haja o acordo prévio de preenchimento dos elementos


restantes.

A letra em branco é em certo sentido uma letra incompleta, porque


não contém no momento da sua emissão, de todos os elementos que se
deve revestir, ao contemplar a letra em branco, denominava-a de letra
incompleta. Ou numa acepção mais restrita, as duas designações,
designam realidades distintas: letra em branco, aquela que tem atrás de si
um acordo para o preenchimento ulterior da letra de formação sucessiva.
Enquanto que na letra incompleta, título incompleto, título nulo, que não
poderá valer como letra por falta dos elementos essenciais.

51. Os negócios jurídicos cambiários, o saque

Negócio jurídico cambiário que cria o título de crédito unilateral,


abstracto que prescinde da causa.

Esse acto jurídico tem por objecto uma ordem que resulta da letra,
ordem que é dirigida ao sacado para que esse pague ao tomador ou pague
à ordem do tomador uma certa quantia.

O conteúdo desse negócio envolve sempre uma promessa que é feita


pelo sacador de que o sacado obedecerá sempre a essa ordem, que o
28[4]
Em geral do sacador ou do aceitante.
Universidade Católica de Moçambique 65

sacado pagará se isso não se verificar, é o próprio sacador que assume


essa responsabilidade29[5].

A emissão da letra é sempre consubstanciada no saque (ordem de


pagamento incondicional). Tem como modalidades:

- À ordem do próprio sacador;

- Contra o próprio sacador;

- Por ordem e conta de terceiro.

Ao subscrever o saque, o sacador assume todas as obrigações


cambiárias referidas no, aí se estabelece que o sacador é o garante tanto
na aceitação como do pagamento da letra.

O portador que tenha um direito de acção pode pagar-se através do


saque de uma letra à vista, sacada necessariamente sobre um dos co-
obrigados, pagável no domicílio desse co-obrigado – habilitará o credor
cambiário a realizar imediatamente o seu direito se tiver meio de obter.

Pode também incumbir juros e encargos resultantes do não


pagamento da letra.

52. O aceite (arts. 724º a 732º do CCom )

É a declaração de vontade pela qual o destinatário do saque – sacado


– assume a obrigação cambiária principal, ou seja, a de pagar, à data do
vencimento, a quantia mencionada na letra a quem for o portador
legítimo desta (art. 731.º do CCom), passando a designar-se como
aceitante.

O aceite é necessariamente escrito e assinado pelo sacado na letra.


Exprime-se pela palavra “aceite” ou outra equivalente, mas considera-se
bastante a assinatura do sacado no rosto ou anverso da letra (artigo 728.º
do CCom). Usualmente, o aceite é feito por assinatura transversal do
sacado no lado esquerdo do rosto da letra.

O aceite tem de ser puro e simples (artigo 729.º), não podendo, ser
sujeito a qualquer condição ou aditado de qualquer modificação ao
conteúdo da letra, sob pena de se ter como recusado, o que faculta de

29[5]
O saque é o acto jurídico que cria o título de crédito, neste caso a letra.
Universidade Católica de Moçambique 66

imediato ao portador exercer o direito de regresso contra os de mais co-


obrigados cambiários. Mas daí não advém a nulidade do aceite, tendo-se
o aceitante por obrigado nos termos da sua declaração. A lei permite, no
entanto, que o aceite seja parcial, isto é, restrito a uma parte da quantia do
saque.

Se não for feito o aceite pelo sacado, poderá sê-lo por outra pessoa: é
o chamado aceite por intervenção, que pode ocorrer devido a uma
incumbência expressa na própria letra pelo sacador, um endossante ou um
avalista (artigo 728.º do CCom), ou espontaneamente, sem incumbência
(artigo 759.º do CCom).

53. Endosso

O endosso realiza o que alguns chamam “a dinâmica da letra”.


Constitui este acto uma nova ordem de pagamento, dada pelo
endossante30[6] ao sacador para que pague a letra, no vencimento, ao
portador, através de uma declaração no verso da letra seguida da
assinatura.

O endosso deve ser puro e simples (artigo 715.º do CCom). Por


vezes, limita-se à assinatura do endossante, constituindo então o chamado
endosso em branco (artigo 716.º do CCom). Três modalidades legítimas
de endosso em branco:

a) O endosso que contém a ordem de pagamento, a assinatura do


endossante, mas omite o nome do endossante;

b) O endosso constituído unicamente pela assinatura do endossante


no verso da letra ou folha anexa;

c) Endosso ao portador, fórmula: “pague-se ao portador”.

O Código Comercial prevê que qualquer dos endossantes que tenha


pago uma letra pode riscar o seu endosso e dos endossantes subsequentes
(artigo 753.º do CCom).

a) Endosso por procuração

Quando o endosso contém a menção – “valor a cobrar” ou “para


cobrança” ou “por procuração” – ou quando o endosso contém qualquer
30[6]
O tomador ou um posterior endossado.
Universidade Católica de Moçambique 67

menção que implique um simples mandato, o artigo 721.º do CCom, diz


que o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só
pode endossar na qualidade de procurador. O mandato não se extingue
por morte ou por incapacidade legal que sobrevenha ao mandatário.

b) Endosso em garantia

Valor em garantia, valor em penhor, ou quando o endosso contenha


qualquer outra expressão que implique uma caução. O artigo 722.º do
CCom, diz que o portador pode exercer todos os direitos emergentes da
letra, mas um endosso que seja feito por ele, só vale como endosso a
título de procuração. Todos os co-obrigados não podem invocar contra o
portador, as excepções fundadas sobre as relações pessoais deles com o
endossante, a menos que o portador ao receber a letra tenha procedido
conscientemente em detrimento.

54. O aval

Constitui um negócio cambiário unilateral, pelo qual um terceiro ou


mesmo um signatário se obriga ao seu pagamento, como garante de um
dos co-obrigados cambiários (artigos 733.º e 734.º do CCom). Na falta de
indicação expressa do avalizado, a lei indica supletivamente que o aval
valerá a favor do sacador (artigo 734.º do CCom).

O aval pode respeitar à totalidade ou apenas a parte do montante da


obrigação do avalizado (artigo 733.º do CCom).

O aval é uma garantia pessoal, que tem como característica própria,


por não conceder ao avalista o benefício da exclusão prévia, o avalista é
solidariamente responsável (artigos 735.º e 753.º ambos do CCom) com
os outros subscritores posteriores da letra.

55. Pagamento por intervenção

Pode realizar-se em todos os casos em que o portador de uma letra,


aceitável, tem o direito de acção antes do vencimento (artigo 758.º do
Código Comercial). Nas hipóteses de recusa total ou parcial do aceite ou
nos casos de falência do sacado (artigo 747.º CCom).
Universidade Católica de Moçambique 68

Quando for indicada uma pessoa como aceitante por intervenção, o


portador da letra, nunca pode exercer o seu direito de acção antes do
vencimento contra aquele que indicou essa pessoa e contra os signatários
subsequentes, a não ser que tenha apresentado a letra à pessoa designada
e que caso esta tenha recusado o aceite, se tenha feito protesto.

O Código Comercial, admite expressamente, sobre certas condições a


figura da letra não aceitável, isto é, a letra que fica proibida de ser
apresentada ao aceite. O artigo 724.º do CCom, estatui que o sacador
pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite excepto se tratar
de uma letra pagável em domicílio de terceiro, ou de uma letra pagável
em localidade diferente do domicílio do sacado ou de uma letra sacada a
termo de vista.

56. Características da obrigação cambiária

a) Incorporação ou legitimação: só o possuidor legítimo da letra


pode exercer o direito cartolar ou transmiti-lo, isto é, só ele tem
legitimação activa;

b) Literalidade: o conteúdo do direito cartolar e da obrigação a ele


correspectiva são literais, e consequentemente, não podem ser
invocados contra o portador de boa fé quaisquer factos ou
circunstancias que extingam, modifiquem ou impeçam o seu
direito, a não ser que transpareçam do próprio texto do título.

c) Circulabilidade: a letra é manifestamente vocacionada para a


circulação, como título à ordem que é, demonstra-o o regime do
endosso.

d) Autonomia: comporta dois sentidos distintos:

· Autonomia do direito cartolar (artigo 720.º CCom): são


inoponíveis ao portador, as excepções decorrentes das relações
pessoais do obrigado cambiário com os portadores anteriores
ou com o sacador.

· Autonomia do direito sobre o próprio título: significa, que o


adquirente do título é um adquirente originário, cujo direito
sobre a letra não está sujeito à arguição de ser ilegítima a sua
Universidade Católica de Moçambique 69

posse, em virtude da ilegitimidade de qualquer dos ante


possuidores (artigo 719.º do CCom).

e) Abstracção: a característica da abstracção da obrigação


cambiária diz respeito em face da relação subjacente ou
fundamental preexistente. Dois sentidos:

1) Porque não tem causa-função típica, antes pode prosseguir


uma multiplicidade de causas-funções, inerentes a diversos
negócios jurídicos que podem estar na origem da relação
subjacente: compra e venda, mútuo, etc.

2) Porque a obrigação cambiária é independente da causa, e por


consequência, não sofre as consequências dos vícios da sua
causa, isto é, são inoponíveis a portador mediato e de boa fé as
chamadas excepções causais, ou sejam as resultantes de
possíveis vícios da relação subjacente ou fundamental (artigo
719.º do CCom).

f) Independência recíproca: a nulidade de uma das obrigações


que a letra incorpora não se comunica às demais (artigo 710º do
CCom ).

57. Vencimento e pagamento da letra

A ordem de pagamento que está inscrita numa letra de câmbio surge


desde a sua origem histórica dessa letra, marcada por uma dilação de
vencimento sobre a data da sua emissão.

A lei no artigo 736.º do CCom, diz expressamente que as letras com


vencimentos diferentes ou com vencimentos sucessivos, são nulas.

As letras são pagáveis à vista, vencem-se mediante a simples


apresentação ao sacado, o que deverá ser feito no prazo de um ano a
contar da sua data, podendo o sacador aumentar ou reduzir esse prazo e
os endossantes encurtá-lo (artigo 737.º do CCom). Também pode o
sacador estabelecer que a letra não seja apresentada antes de certa data,
contando-se então o prazo a partir desta (artigo 734.º do CCom).
Universidade Católica de Moçambique 70

Na letra a certo termo de vista, o prazo de vencimento conta-se do


aceite ou do protesto por falta dele, entendendo-se o aceite não datado
como feito no último dia do prazo (artigo 738.º).

Quanto às letras com vencimento em data certa ou a certo termo de


data, deverão ser apresentadas a pagamento na data do vencimento ou
num dos dois dias úteis seguintes (artigo 741.º do CCom).

58. Protesto

A falta de aceite ou a falta de pagamento devem ser certificadas


através do protesto: trata-se de um acto jurídico declarativo, não
negocial, praticado perante um notário, destinado a comprovar e a dar
conhecimento aos intervenientes na cadeia cambiária da falta do aceite ou
do pagamento, bem como a salvaguardar a integridade do direito do
portador.

Há dois protestos diferentes:

a) O protesto por falta de aceite: certifica que o sacado se recusou


a aceitar a letra que para tal lhe foi apresentada, ou que apenas a
aceitou parcialmente;

b) O protesto por falta de pagamento: comprova que foi recusado o


pagamento da letra para tal apresentada ao sacado e é feito contra
este, já que, ao aceitar, se obrigou a pagá-la no vencimento (artigo
747.º do CCom).

59. Prescrição

O direito cartolar está sujeito a prazos de prescrição extintiva,


diferentes consoante as posições dos sujeitos cambiários (artigo 773º do
CCom ):

a) Contra o aceitante, três anos a contar do vencimento;

b) Do portador contra o sacador e os endossantes, de um ano a


contar da data do protesto, ou do vencimento quando exista uma
cláusula “sem protesto”.
Universidade Católica de Moçambique 71

c) Dos endossantes contra os outros e contra o sacado, de seis


meses a contar da data em que o endossante pagou ou foi
accionado.

60. Acções de regresso

Todos os subscritores de uma letra são solidariamente responsáveis


pelo pagamento dela perante o portador, o qual poderá accionar todos ou
alguns deles, por qualquer ordem, sem prejuízo de poder vir a accionar os
restantes. Tem o mesmo direito o subscritor da letra que a tenha pago,
quanto à acção de regresso (artigo 710º do CCom).

61Lei Uniforme relativa ao Cheque

O Cheque é um meio de pagamento pelo qual uma pessoa – emitente ou


sacador – ordena a um abanco – sacado – para que este pague à pessoa
nele mencionada, à sua ordem, ou ao portador - tomador ou beneficiário
– com fundos que ali depositou – previsão – a quantia em dinheiro dela
contante.31

Assim, três elementos fazem parte na relação originária: o emitente ou


sacador, que é a pessoa que emite cheque; o sacado que é a pessoa
ordenada, ou seja, a quem se dirige a ordem, necessariamente um
banqueiro, instituição onde se encontram depositados fundos à disposição
do sacador; o tamador ou portador, que é a pessoa beneficiária do
pagamento, ou seja, em favor da qual o cheque é emitido.

Dai que, ao contrário da letra, a movimentação de cheque exige a


existência de um depósito de fundos no banqueiro, uma instituição de
crédito autorizada legalmente a receber depósito de dinheiros, servindo
aquele para o depositante dispor de fundos não só para si como
pagamento a uma terceira pessoa.

31
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 325.
Universidade Católica de Moçambique 72

62.Regime jurídico do cheque32

A disciplina jurídica do cheque consta da Lei Uniforme Relativa ao


Cheque (LURC), inserida no actual Código Comercial (artigos 782.º a
838.º). A LURC é constituída pelo anexo I da Convenção estabelecendo
uma lei uniforme em matéria de cheques, que é a convenção de Genebra
de 07 de Junho de 1930 e pelo Anexo II no qual se mencionam certas
reservas a que as Altas Partes Contratantes podem subordinar a obrigação
de adopção da Lei Uniforme Relativa ao Cheque nos seus territórios.

De realçar que sobre a matéria de cheques, foram adoptados mais dois


diplomas legais importantes:

- O decreto - lei n.º 182/74, de 02 de Maio, que estabeleceu a


obrigatoriedade de aceitação do cheque como meio de pagamento,
também agravando a sanção aplicável ao criem de emissão de cheque
sem provisão

- A Lei 5/98, de 15 de Junho que insere medidas tendentes a promover o


prestígio e dignidade do cheque como meio de pagamento, com realce
para as medidas que permitem aos bancos exercerem melhor controlo
relativamente ao [processo da atribuição de cheques ao clientes e da sua
utilização.

63. Função

Assim como a letra, o cheque exprime uma ordem de pagamento, de


certo montante, dada pelo sacador ao sacado, devendo este ser
necessariamente um banqueiro que tenha fundos – provisão – à
disposição do sacador (artigo 784.º do CCom).

32
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 325.
Universidade Católica de Moçambique 73

Dai que o cheque seja um meio de pagamento, quer ao próprio sacador –


depositante – quer a terceiro, a efectivar-se em função da provisão
existente na instituição de crédito. Além daquela função( meio de
pagamento), tem uma outra; pois o cheque, sendo livremente
transmissível, desempenha, muitas vezes, a função de transmissor de
crédito, atribuído dessa forma, o direito ao pagamento do montante nele
inscrito pelo banco sacado.

64. Função económica

- Serve como meio de pagamento, é um título de crédito formal porque


enuncia uma ordem de pagamento do emitente do cheque ao banqueiro a
favor de uma pessoa que pode ser o próprio sacador ou portador.

- É um instrumento de crédito, dado que pela sua circulação se


movimenta o crédito sobre o banqueiro sacado, permitindo, assim,
dispensar a circulação numerária.

- é um instrumento de compensação, uma vez que permite liquidação


recíproca, através das câmaras de compensação evitando ao estado e ao
banco central custos elevados na emissão e manutenção de notas e
moedas.33

65. Obrigações

Tal como os demais títulos de cambiários, no cheque o sacador e os


endossantes tornam-se solidariamente responsáveis, pelo pagamento do
cheque quando falte o cumprimento do sacado, Porquanto:

- O sacador assume a obrigação de pagar, quando o sacado não honre a


ordem de pagamento, considerando-se toda a declaração pela qual

33
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 326.
Universidade Católica de Moçambique 74

pretenda eximir-se à garantia do pagamento com não escrita ( artigo 793.º


do CCom).

- O endossante, salvo cláusula em contrário garnte o pagamento e o


endossado pode proibir um novo endosso, e neste caso não garante o
pagamento às pessoas a quem o cheque for posteriormente endossado
(artigo 799.º do CCom). Esta disposição revela estar-se no âmbito do
endosso translativo, o qual, como estabelece o artigo 798.º do CCom,
transmite todos os direitos resultantes do cheque.

- Todas as pessoas obrigadas em virtude de um cheque são solidariamente


responsáveis para com om portador e este tem o direito contra todas as
pessoas obrigadas em virtude de uma cheque, individual ou
colectivamente, sem necessidade de observar a ordem segundo a qual elas
se obrigam. O mesmo direito tem signatário que pague o cheque (artigo
825.º n.ºs, 1, 2,e 3).

66. Características

Apontam-se como características do cheque as já referidas relativamente


aos demais títulos de crédito:

a) Incorporação ou legitimação: só o possuidor legítimo da letra


pode exercer o direito cartolar ou transmiti-lo, isto é, só ele tem
legitimação activa;

b) Literalidade: o conteúdo do direito cartular e da obrigação a ele


correspectiva são literais, e consequentemente, não podem ser
invocados contra o portador de boa fé quaisquer factos ou
circunstancias que extingam, modifiquem ou impeçam o seu
direito, a não ser que transpareçam do próprio texto do título.

c) Circulabilidade: a letra é manifestamente vocacionada para a


circulação, como título à ordem que é, demonstra-o o regime do
endosso.

d) Autonomia: característica que se manifesta pelo facto de o direito


incorporado pelo cheque sacado ao banqueiro, chamado direito
Universidade Católica de Moçambique 75

cartular, ser diferente do direito que lhe originou, chamado direito


subjacente.34

Quanto ao modo da sua transmissão os cheque classificam-se em:

- Cheque à ordem, os que contém o nome do beneficiário da ordem de


pagamento, podendo serem transmitidos por endosso (artigo 786.º n.º 1,
alínea a) e 795.º, n.º 1, chamando-se, por alguns, a partir do momento
cheque nominativo.

- Cheques ao portador, os que não contém o nome do beneficiário da


ordem, (artigo 786.º, n.º 1, alínea c) e n.ºs, 2 e 3) e, assim, transmissíveis
por mera entrega real;

- Cheques pagáveis com cláusula não a ordem, os quais apenas são


transmissíveis pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária
(artigo 795.º, n.º 2).

67. Cheques especiais

Outras formas de garantia são cheque visado, o cheque cruzado, o cheque


a levar em conta, o cheque comprado, o cheque de viagem e o cheque
pré-datado. Visam não apenas garantir ao portador o recebimento da
quantia nele mencionada, mas também, afastar as nefastas consequências
de destruição ou extravio do cheque, excepcionado o cheque pré-datado
que apenas visa garantir ao portador o recebimento da quantia nele
mencionado.

68. Cheque visado

O cheque visado é emitido a pedido do seu sacador ou do portador ao


banco sacado, para o que este insere uma menção de visto, garantindo,
dessa forma, ao interessado que o sacador tem fundos disponíveis na sai
conta equivalentes à quantia visada, menção que pode ser feita na face ou
no verso, utilizando-se expressões como “visto”, “visado”, “bom para

34
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 328.
Universidade Católica de Moçambique 76

pagamento”, ou outra fórmula equivalente, com indicação de prazo de


sua apresentação para pagamento, período durante o qual opera o
bloqueio da conta do sacador.

69. Cheque cruzado35

O cheque cruzado é o que é cruzado pelo sacador ou portador, por meio


de duas linhas paralelas traçadas na face do cheque, podendo ser geral ou
parcial, mas tanto a inutilização do cruzamento com a do nome do
banqueiro indicado considera-se como não feita (artigo 818.º do CCom e
819.º). A emissão do cheque cruzado procura afastar os danos resultantes
da falsificação, extravio ou furto do mesmo. Pois, a obrigação imposta ao
banco de identificar o respectivo apresentante, impede, certamente, o seu
pagamento a um portador ilegítimo.

70. Cheque a levar em conta

O cheque a levar em conta cujo regime encontra-se no artigo 820.º


CCom, é aquele em que o sacado ou portador proíbe o seu pagamento em
numerário inserido na face do cheque transversalmente a menção para
levar e conta ou para equivalente (n.º 1, do artigo 820.º do CCom).

Assim, o mesmo não pode ser pago por caixa, mas sim só por lançamento
no crédito da conta, transferência de uma conta para outra ou
compensação, valendo o lançamento de escrita como pagamento, n.º 2, do
artigo 820.º do CCom.

A inutilização daquela menção considera-se como não feita e o sacado


que deixar de observar as disposições acima referidas é responsável pelo
prejuízo que dai possa resultar até uma importância igual ao valor do
cheque (n.ºs, 3 e 4).

71. Cheque comprado e cheque de viagem

35
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 331.
Universidade Católica de Moçambique 77

O cheque comprado é aquele em que o banco emite contra si mesmo,


sendo, portanto, ao mesmo tempo o sacador e o sacado. Utiliza-se por
pessoas que, em vez de se munirem de numerário ou outra forma de
pagamento, pretenderem remeter ou levar fundos para outra praça.
Bastará, pois, que tais pessoas os comprem num pago para que este tipo
de cheque é o chamado cheque de viagem caracterizado por conter a
assinatura do tomador, aposta no cheque no momento da sua aquisição
por compra, devendo o mesmo vir a fazer uma segunda assinatura quando
pretenda receber o montante nele mencionado ou transferí-lo. 36

72. Cheque bancário

O cheque bancário é aquele em que o banco emite sobre uma filial ou


agencia ou por estas entre si à ordem de determinada pessoa (artigo 787,
.º 3 CCom).

Emite-se, normalmente, a pedido de um cliente do banco, por débito da


sua conta, ou a pedido de qualquer outra pessoa, mediante a entrega do
valor correspondente ao banco que o emite. É um meio de pagamento
bastante utilizado na liquidação de operações relacionadas com o
comércio internacional de mercadorias.

73. Cheque pré-datado

O cheque pré-datado é aquele em que a pedido do ser sacador, mediante


acordo com o beneficiário, aquele apõe data posterior a que o cheque é
efectivamente emitido. Trata-se, na verdade, de cheque pós-datado, e não
pré-datado, como o mesmo é comummente chamado em Moçambique. É
emitido para garantia de uma obrigação, o que contraria a lei segundo o
qual o cheque tem natureza de um meio de pagamento, uma vez que é
pagável à vista, considerando-se como não escrita qualquer menção em
contrário (artigo 809.º n.º 1).

36
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 332.
Universidade Católica de Moçambique 78

Muito embora se saiba que, em princípio, no momento de emissão não


tem cobertura, o cheque pós-datado é muito usado na prática comercial
moçambicana, por razões várias, das quais podemos salientar as indicadas
por José Maria Pires:37 a facilidade de preenchimento do cheque e o estar
sujeito a taxa de imposto mais baixa do que a letra, sem deixar de colocar
nas mãos do beneficiário um crédito.

É a necessidade de conter estes requisitos indicados taxativamente na


lei, sob pena de nulidade, que faz com que como a letra e a livrança, o
cheque seja um

Exercícios

Exercícios

A Sociedade MSSF, SA. Sacou sobre a firma Bom Pagador, Lda. uma letra no
valor de trinta mil meticais, à ordem de Magrinho, que tinha falsificado notas de
dólares com as quais a MSFF, SA. Havia adquirido novos equipamentos de
produção.
Uma vez que Magrinho era foragido e conhecido pala sua conduta ilícita decidiu
endossar a letra a favor de tigrinho, seu irmão, a quem devia pelo fornecimento
de produtodos químicos.
Todavia, quando tigrinho apresentou a letra para o pagamento, o Bom Pagador,
Lda. declarou que não lhe pagaria nada, pois, magrinho deivia-lhe cinquenta mil
meticais, além disso tinha a certeza absoluta de que a latra ora apresenada seria o
pagamento por um qualquer trabalho ilegal, circunsância que nos termos da lei a
impediria de proceder a qualquer aceite ou pagamento.
Magrinho ficou consternado com a situação e em seguida procurou um ilustre
técnico do curso de Administração Pública, por conicidencia da UCM-CED, que
lhe disse que nos termos do artigo 280.º do CC, todos os negócios cujo objecto é

37
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 332.
Universidade Católica de Moçambique 79

ilícito, seriam nulos não produzindo efeito na ordem jurídica.


Quid júris.

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 252 à 324.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 303-
343.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 437 à 490.

Unidade 07
CONCEITO DE EMPRESA E TIPOS
DE SOCIEDADES COMERCIAIS
Introdução
Nesta unidade serão discutidos os seguintes assuntos
2.11 Acepção da empresa.
Universidade Católica de Moçambique 80

2.12 Empress como sujeito.


2.13 Empresa como objecto.
2.14 Elementos da Empresa comercial.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

PLANO DE EXPOSIÇÃO

1.1 Conceito de Emprea e tipo de sociedades comerciais


2.1 Conceito de empresa.
3.1 Elemento pesoal.
4.1 Elemento patrimonial.
5.1 Elemento finalístico.
6.1 Elemento teleológico.
7.1 Objecto comercial.
8.1 Tipo comercial.
9.1 Forma comercial.
10.1 Princípio da tipicidade.
11.1 Tipos de sociedades comerciais.
12.1 Personalidade jurídica.
13.1 Capacidade jurídica.
14.1 Classificação das sociedades comerciais
15.1 Distinção das sociedades comerciais
16.1 Responsabilidade da sociedades pelas dívidas
comerciais.
17.1 Regime das participações.

 Objectivos específicos:
 Identificar os vários tiopos de sociedade que existem em moçambique.
 Conhecer o regime das participações em cad uma das sociedades.
Objectivos

74. Conceito de empresa e tipos de sociedades comerciais

1. Introdução
Universidade Católica de Moçambique 81

As sociedades comerciais são a estrutura típica das empresas nas


economias de mercado, embora a empresa possa revestir outras formas
jurídicas.

Nos termos do n.º 2, do artigo 82.º do CCom, as sociedades


comerciais têm necessariamente por objecto a prática de actos de
comércio e as sociedades que tenham por objecto a prática de actos de
comércio devem revestir um dos tipos previstos no Código.

75 . Conceito de empresa comercial

A empresa é a célula base da economia moderna.

A disposição fundamental para a determinação do conceito de


empresa em Direito Empresarial é o artigo 3.º do CCom38[1].

Do elenco de empresas apresentado neste artigo ressalta a conjugação


de factores de produção – pessoas e bens – o exercício de actividades
económicas nos diversos sectores, e a existência de um complexo
organizacional estável.

O nosso ordenamento positivo não nos fornece um conceito completo


de sociedade comercial artigo 83.º do CCom. Este preceito apenas refere
quais são os requisitos para que uma sociedade se considere comercial
(objecto comercial e tipo comercial), mas não diz o que é uma sociedade.

Tem-se que recorrer à lei civil, como direito subsidiário (art. 7º


CCom). A sociedade comercial é uma sociedade, obedecendo às
características definidoras do art. 980º CC39[2], acrescidas dos requisitos
específicos do art. 83.º CCom.

38[1]
Artigo 3º – Empresas comercial
Considera-se empresa comercial toda a organização de factores de produção para o
exercício de uma actividade económica destinada à produção, para troca sistemática e
vantajosa, designadamente:
1º Actividade industrial dirigida à produção de bens ou serviço;
2º Da actividade de intermediação na circulação de bens;
3º Da actividade agrícola e piscatória;
4º Das actividades bancárias e seguradora;
5º Das actividades auxiliares das precedentes;
N.º º – Exceptuam-se do disposto no número anterior a organização de factores de
produção para o exercício de uma actividade económica que não seja autonomizáveis do
sujeito que a exerce.

39[2]
Artigo 980º – Noção
Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir
com bens ou serviços para o exercício em comum de certa actividade económica, que não
sejam de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa actividade.
Universidade Católica de Moçambique 82

Em face do art. 980º CC deparam-se quatro elementos do conceito


geral de sociedade:

1) Elemento pessoal: pluralidade de sócios;

2) Elemento patrimonial: obrigação de contribuir com bens ou


serviços;

3) Elemento finalístico (fim imediato ou objecto): exercício em


comum de certa actividade económica que não seja de mera
fruição;

4) Elemento teleológico: repartição dos lucros resultantes dessa


actividade.

O artigo 83.º do CCom40[3], aponta dois elementos específicos do


conceito de sociedade comercial:

1) Objecto comercial: prática de actos de comércio;

2) Tipo comercial: adopção de um dos tipos configurados e


disciplinados na lei comercial.

Pode-se definir empresa, como uma organização de pessoas e bens


que tem por objecto o exercício de uma actividade económica, em
economia de mercado.

76. Elemento pessoal

Nele compreendem-se, quer o empresário e outros investidores de


capitais, quer os trabalhadores.

Qualquer destas entidades tem, de uma forma ou de outra, interesse


no desenvolvimento e êxito da empresa, seja para rentabilização dos
capitais investidos, seja para promoção pessoal, estabilidade e retribuição
do trabalho.

Em princípio, e porque a lei o define como um contrato, o acto


gerador da sociedade deve ser celebrado por pelo menos duas partes, dois
sujeitos de direito. É o que expressamente refere o artigo 328.º do CCom.

40[3]
São sociedades comerciais aquelas que tenham por objecto a prática de actos de
comércio e adoptem o tipo de sociedade em nome colectivo, de sociedade por quotas, de
sociedade anónima, de sociedade em comandita simples ou de sociedade em comandita
por acções.
Universidade Católica de Moçambique 83

Todavia esta norma, in fine, abre uma brecha em tal princípio, ao admitir
que a lei “permita que a sociedade seja constituída por uma só pessoa”.

A regra da pluripessoalidade vale tanto para a sociedade – contrato


como para a sociedade – instituição. E, do mesmo modo, deverá pôr-se a
questão da admissibilidade de excepções àquela regra, ou seja, de
sociedade com um só sócio (sociedades unipessoais), tanto no que toca ao
momento da constituição da sociedade, como no que toca à subsistência
com um só sócio de uma sociedade já existente.

77. Elemento patrimonial

O art. 980º CC, consagra um segundo elemento do conceito de


sociedade, consiste na chamada obrigação de entrada, através da qual os
sócios efectuam contribuições que irão formar o património inicial da
sociedade.

Esta norma limita-se a exigir, para que surja a sociedade, que os


sócios se obriguem a contribuir com bens ou serviços, mas não exige a
efectivação dessas contribuições logo no momento inicial, podendo ser
deixada para mais tarde, ao menos em parte.

As contribuições dos sócios podem revestir, a natureza de bens ou


serviços.

As contribuições ou entradas dos sócios desempenham três funções


da máxima importância para a sociedade.

a) Formam no seu conjunto, o fundo comum ou património com o


qual a sociedade vai iniciar a sua actividade;

b) Definem a proporção da participação de cada sócio na sociedade;

c) Fixam o capital social.

78. Elemento finalístico (fim imediato ou objectivo): a actividade


social

No que diz respeito às sociedades em geral, a referência do art. 980º


CC, ao exercício de uma actividade económica visa abranger todas as
actividades destinadas à produção de bens ou utilidades de qualquer
Universidade Católica de Moçambique 84

natureza, materiais ou imateriais, enquadráveis em qualquer dos sectores


da economia.

No que respeita às sociedades comerciais, é evidente que as


actividades económicas a que se dediquem terão se ser aquelas que se
enquadrem no âmbito do comércio em sentido jurídico-formal.

Por outro lado, o art. 980º CC, exige que a actividade económica seja
certa, o que significa, obviamente, que ela deverá ser definida,
determinada de forma concreta e específica, de modo a não se adquirirem
indicações tão vagas do escopo social que acabem por se traduzir numa
incerteza da actividade ou actividades a que a sociedade se destine.

79. Elemento teleológico: o fim lucrativo

O fim último da reunião dos sócios, com os respectivos contributos


para o exercício da actividade comum, terá de consistir na obtenção de
um enriquecimento patrimonial, de um lucro, e não de outras vantagens
ideais ou mesmo materiais.

A fórmula do art. 980º CC, parece incutir uma noção muito estrita de
lucro: tratar-se-ia de um aumento de património gerado na própria
sociedade, para ser depois repartido entre os sócios, seja periodicamente,
seja no final da existência da sociedade.

O elemento teleológico não consiste apenas no intuito de que a


sociedade reduza lucros: é necessário que ela vise também a repartição
destes pelos sócios (art. 980º CC).

· Direito (abstracto) aos lucros, que é inerente ao conceito de


sociedade;

· Direito (concreto) aos dividendos, isto é, à distribuição


periódica de lucros, o qual resulta da deliberação que os sócios
tomem de os distribuir.

80. Objecto comercial

Para que uma sociedade seja comercial, ela deverá ter “por objecto a
prática de actos de comércio” (artigo 83.º do CCom). Assim, o primeiro
elemento conceitual específico das sociedades comerciais consiste no
Universidade Católica de Moçambique 85

objecto comercial. No que toca às sociedades comerciais, portanto, o


elemento finalístico, também designado, por fim imediato ou objectivo da
sociedade, tem uma conotação própria: ele deve ter carácter comercial.

O objecto da sociedade consiste nos actos ou actividades que,


segundo a vontade dos sócios, ela deverá praticar e prosseguir. Por
conseguinte, é o carácter comercial desses actos e actividades que atribui
às sociedades o carácter de comerciantes (artigo 2.º CCom).

Deverá tratar-se, pois, de actos de comércio objectivos (artigo 4º, n.º


1 CCom) e de actividades qualificadas de comerciais pelo art. 3º CCom,
ou por outras normas qualificadoras.

81. Forma comercial

Para que uma sociedade seja comercial é ainda necessário que revista
forma comercial, comporta dois sentidos:

1) Primeiro, ela significa que a sociedade deverá revestir um dos


tipos caracterizados e regulados na lei comercial;

2) Num outro sentido, ela exprime a obrigatoriedade de a sociedade


respeitar, na sua constituição, os requisitos formais estabelecidos
na lei comercial.

A primeira das acepções reporta-se ao princípio da tipicidade ou


numerus clausus, que o legislador adoptou quanto às sociedades
comerciais.

Ainda por motivos de ordem pública, o legislador admite um número


muito restrito de tipos sociais. Estes distinguem-se, através de três
características:

1) Responsabilidade dos sócios pela obrigação de entrada: trata-se


de característica fundamental, pois identifica a responsabilidade
dos sócios para com a sociedade no que toca à formação do
património inicial desta;

2) Responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade: é outro


aspecto de suma importância, pois por ele se fica a saber se os
sócios são ou não responsáveis, perante os credores da sociedade
pelas dívidas desta;
Universidade Católica de Moçambique 86

3) Modalidades de composição e titulação das participações na


sociedade: trata-se de um aspecto que, embora secundário, reveste
muitas vezes importância assinalável, pois permite caracterizar a
natureza e a forma de cada parte do sócio na sociedade.

82. Princípio da tipicidade

As sociedades que tenham por objecto a prática de actos de comércio


devem adoptar um dos tipos previstos no Código das Sociedades
Comerciais (artigo 83.º do CCom). A esta obrigatoriedade de adopção de
um dos tipos previstos na lei, a doutrina chama princípio da tipicidade
das sociedades comerciais.

Este princípio constitui uma restrição ao princípio da autonomia


privada, em especial na sua vertente de liberdade contratual. Ao invés do
estatuído no art. 405º/1 CC, as partes não têm a faculdade de celebrar
contratos de sociedade comercial diferentes dos previstos na lei.

O princípio da tipicidade só restringe, contudo uma das facetas da


autonomia privada. As partes no contrato não podendo embora adoptar
um tipo diferente dos previstos no Código das Sociedades Comerciais – o
que traduz uma restrição à liberdade de fixação do conteúdo do contrato –
já podem decidir livremente se contratam – liberdade de contratar em
sentido estrito – assim como podem escolher também livremente com
quem contratam – liberdade de escolha dos outros contraentes. O artigo
83.º CCom deixa pois intacta a liberdade de contratar em sentido estrito e
a liberdade de escolha da contraparte no contrato.

O princípio da tipicidade só abrange as sociedades que tenham por


fonte um negócio jurídico – as sociedades criadas ope legis podem
desviar-se dos tipos previstos no Código das Sociedades Comerciais, uma
vez que tais sociedades provêm de instrumentos normativos de valor
hierárquico idêntico ao do próprio Código das Sociedades Comerciais
onde o princípio da tipicidade se estabelece.

83. Tipos de sociedades comerciais

Nos termos do art. 82º CCom, as sociedades que tenham por objecto
o exercício de uma actividade comercial têm de adoptar um dos tipos
Universidade Católica de Moçambique 87

previstos no Código Comerciail. Este prevê quatro tipos de sociedades


comerciais:

a) Sociedades em nome colectivo: são as chamadas sociedades de


responsabilidade ilimitada, por os sócios poderem responderem
pessoalmente com todo o seu património pelas dívidas da
sociedade, depois de esgotado o património desta (artigo 253.º
CCom).

b) Sociedades por quotas: são de longe, o tipo societário mais


utilizado na prática por corresponder à estrutura típica da pequena
e média empresa. A sua característica principal é a elasticidade do
regime jurídico constituído por grande número de disposições
supletivas, que podem ser afastadas pelos estatutos, ajustando a
sociedade às necessidades concretas de cada empresa,
nomeadamente aproximando-a das sociedades de pessoa
dificultando ou mesmo impedindo a transmissão das quotas ou
optando por um modelo mais próximo das sociedades de capitais
com livre transmissibilidade das quotas, artigo 283.º do CCom.

c) Sociedades anónimas: são o tipo característico da empresa de


maior dimensão, e deverão ser pelo menos, três accionistas. Os
accionistas respondem apenas pela realização das acções de que
são titulares, artigo 331.º do CCom.

d) Sociedades em comandita: são um tipo misto em que existem


sócios de responsabilidade ilimitada – os comanditados – e os
sócios de responsabilidade limitada – os comanditários, de acordo
com o postulado no artigo 270.º do CCom.

e) Sociedade de capital e Indústria: são um tipo de sociedade que


possui sócios que contribuem para formação de capital com
dinheiro, crédito ou outros bens materiais e que limitam a sua
responsabilidade ao valor da contribuição com que subscreveram
para o capital, e possui também sócios que não contribuem para o
mesmo capital, mas apenas ingressam na sociedade com o seu
trabalho, e que estão isentos de qualquer responsabilidade pelas
dívidas sociais.
Universidade Católica de Moçambique 88

84. A personalidade jurídica

As sociedades de todos os tipos gozam de personalidade jurídica a


partir do registo definitivo (art. 5º CSC). E gozam dessa personalidade
jurídica tanto em relação a terceiros, como em relação aos próprios
sócios.

Assim, é a sociedade que adquire a qualidade de comerciante em


consequência do exercício da actividade social e não os sócios. Por isso, é
a sociedade que está sujeita às obrigações impostas aos comerciantes e
não os seus sócios. Além disso, a sociedade pode ter direitos contra os
seus sócios.

Com a constituição da sociedade, os bens com que os sócios entram


para esta revertem para o seu património e os credores pessoais dos
sócios apenas poderão penhorar as respectivas participações sociais a
partir do momento em que as sociedades adquirem personalidade
jurídica.

Pelo contrário, pelas dívidas da sociedade, apenas responde em


princípio o património social. Contudo, para além das sociedades em
nome colectivo, em que os sócios respondem solidariamente e
subsidiariamente pelas dívidas da sociedade, outras situações existem de
“transparência” da personalidade jurídica.

85. Capacidade de direito

A capacidade de direito das sociedades comerciais como pessoas


colectivas está delimitada pelo seu objecto (art. 93º CCom). Mas, aqui há
que distinguir o objecto mediato, que é a realização de lucros –
necessários, para todas as sociedades (art. 980º CC) – do objecto
imediato, a actividade comercial concreta que a sociedade se propõe
exercer e que deve constar dos estatutos (artigo 86.º CCom).

Esta distinção é importante, porque o princípio da especialidade, que


limita a capacidade jurídica das pessoas colectivas aos actos necessários
ou convenientes à prossecução dos seus fins (art. 160º CC) só tem
aplicação nas sociedades comerciais, ao objecto mediato – finalidade
lucrativa – servindo o objecto imediato apenas para limitar os poderes de
Universidade Católica de Moçambique 89

representação dos administradores e, mesmo assim, só verificadas certas


condições.

86. Tipos societários

Para que uma firma seja comercial é essencial que revista a forma
comercial, ou seja, um dos tipos societários regulados na lei comercial,
devendo a sociedade respeitar na sua constituição as normas reguladas na
lei comercial. Daí, que o artigo 82.º, n.º 1, do Código comercial
estabeleça que as sociedades que tenham por objecto o exercício de uma
empresa comercial têm de adoptar um dos tipos societário previstos no
código comercial.

- sociedade em nome colectivo;

- sociedade de capital e indústria;

- sociedade em comandita;

- sociedade por quotas;

- sociedade anónima.

Por sua vez, o n.º 2, do mesmo artigo estabelece que as demais


sociedades, ou seja, as chamadas sociedades civis sob forma comercial ou
sociedades civis puras, como as chama Cunha Gonçalves, que tenham por
objecto o exercício de uma empresa comercial devem constituir-se
segundo um daqueles tipos de sociedade. Quer dizer, segundo o Código
Comercial, não são incluídas nos tipos societários comerciais as
sociedades civis, dado não terem por objecto a prática de um ou mais
actos de comércio.

Daí, reiteramos, que não possuam de antemão, considerar-se como


empresário comercial definido no artigo 2.º do Código Comercial.41

Mas claro é o Código de Processo Civil (CPC), uma vez que reserva a
falência para os comerciantes, no nosso caso, empresários comerciais

41
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp187.
Universidade Católica de Moçambique 90

(artigo 1135.º CPC) e a insolvência par os não comerciantes (artigo


1313.º CPC), reserva que não é absoluta porque pode haver não
comerciantes sujeita à falência, os sócios de responsabilidade ilimitada
(artigo 1291.º CPC).

Sendo assim, vigora o princípio da tipicidade ou de "numerus clausus",


quer dizer não são possíveis tipos societários diferentes dos previstos na
referida disposição legal o que permite conhecer a quantidade e quais os
tipos societários que existem e aparentam limitar a liberdade contratual,
relativamente à sua conformação.

Tais limitações ao princípio da autonomia da vontade sobre a escolha dos


tipos societário é também de regulamentação interna de cada tipo
impõem-se por motivo de segurança jurídica, com vista à protecção dos
interesses daquele que passarem a relacionar-se com a sociedade sem
terem praticamente a possibilidade de conhecer em pormenor as
condições do contrato.

87. Classificação

É possível classificar os tipos de sociedade comerciais em sociedades de


pessoas e sociedades de capitais.

As primeiras caracteriza-se pela relevância das pessoas dos sócios em


diversos aspectos do regime de cada sociedade, tais como o nome do
sócio constar da firma, a sua intervenção directa na gestão da sociedade, a
importância do seu poder de voto nas deliberações sobre diversa matéria,
incluindo a entrada de novos sócios, a necessidade da sua manutenção
como sócio para que a sua saída não ponha em risco a sobrevivência da
sociedade, é o caso das sociedade em nome colectivo, as sociedades de
capitais e indústria e as sociedades em comandita simples cuja actividade
assenta essencialmente na confiança mútua dos seus sócios e no crédito
que merecem.
Universidade Católica de Moçambique 91

As sociedades de capitais são um grupo aberto de pessoas - os sócios -


cuja personalidade é deveras secundária relativamente à importância do
capital, tanto nas relações entre sócios, como nas relações entre a
sociedade e terceiros.

No rol das sociedades de capitais incluem-se as sociedades anónimas, as


sociedades em comandita por acções e as sociedades por quotas, pelo
menos em muitos casos e segundo a doutrina.42

88. Distinção

Quanto aos critérios de distinção, os diversos tipos societário distinguem-


se uns dos outros em função do regime de responsabilidade dos sócios,
pelas dívidas da sociedade, do regime das participações sociais e do
regime da organização.

Todo o sócio é obrigado a entrar para a sociedade com bens susceptíveis


de penhora ou, tratando-se de sócios de indústria, com qualquer tipo de
serviço, como ocorrem nas sociedades de capital e indústria que se
caracterizam por possuir s'ocios com encargo de contribuir para a
sociedade com capital e outros só com indústria (artigo 107.º do CCom).

As contribuições em bens podem consistir em dinheiro, créditos, títulos


de cr'edito, móveis.

89. Regime da responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade

Quanto ao regime de responsabilidade dos sócios pelas dívidas da


sociedade para com terceiros:

42
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 191.
Universidade Católica de Moçambique 92

a) Nas sociedades em nome colectivo, os sócios capitalistas subescrevem


a totalidade do seu capital, em valores fixo e sem a consequente divisão
em quotas, limitando a sua responsabilidade ao valor da sua contribuição
para o capital social, ou seja, respondendo individualmente tanto pela sua
entrada, como pelas obrigações da sociedade subsidiariamente em relação
à sociedade e solidariamente com os outros sócio ( artigo 253.º, n.ºs, 1 e
3), sendo certo que excutido o património da sociedade, os credores da
mesma podem conseguir o pagamento dos seus créditos através da
execução dos bens pessoais de qualquer dos sócios, tendo este o direito
de regresso contra os restantes sócios, na proporção em que cada um deve
quinhoar nas perdas da sociedade (artigo 253.º, n.º 2 do CCom).

São também, chamadas sociedades de pessoas, uma vez nelas o factor


pessoal tem importância bastante significativa, até porque, como já foi
dito, os respectivos sócios são solidariamente responsáveis pelas dívidas
da sociedade. Também têm a designação de sociedades fechadas, porque
as partes sociais podem ser transmitidas entre vivos com consentimento
de todos os sócios (artigo 259.º, n.º 1) e mesmo a transmissão mortis
causa só pode ocorrer obedecendo-se o preceituado sobre a continuação
da sociedade com os herdeiros, a sua dissolução, a divisão da parte do
falecido ou encabeçá-la em algum ou alguns deles (artigo 261.º do
CCom)

António Perreira de Ameida considera vantajosa a constituição deste tipo


de sociedade dado permitir fácil acesso ao credito por causa de
responsabilidade ilimitada dos sócios.

b) Os sócio capitalistas das sociedades de capital e indústria têm as


obrigações descritas no número anterior. Quanto aos sócio de capital e
indústria, o artigo 278.º isenta-os de qualquer responsabilidade pelas
dívidas e só poderam exercer o cargo de administradores quando prestem
caução previamente fixada no contrato de sociedade (n.º 1 e 2).
Universidade Católica de Moçambique 93

De qualquer modo, o artigo 279.º do Código Comercial, impõe que os


estatutos da sociedade de capital e indústria devem, essencialmente,
conter: a especificação das obrigações do sócio ou sócios de indústria; a
percentagem que cabe aos sócios de indústria nos lucros sociais.

c) As sociedades em comandita podem revestir uma das duas


modalidades: sociedade em comandita simples cujo capital é realizado
por participações e sociedade em comandita por acções coma as
participações dos sócios comanditários, respondendo somente pelas
respectivas entradas: oa sócio comanditados que respondem pelas dívidas
da sociedade nos memso moldes dos sócios da sociedade em nome
colectivo; os sócios comanditários que como ocorre nas sociedades
anónimas não respondem por quaisquer dívidas.

Por isso, o artigo 271.º do CCom estabeece que são elementos distintivos
neste tio de sociedade, a sociedade em nome colectivo, que compreende
os sócios comanditados, e a comandita de fundos. Cada sócio
comanditário responde apenas pela realização da sua participação de
capital, não podendo contribuir com indústria, os sócios comanditados
respondem pelas obrigações sociais nos termos previstos para os sócios
da sociedade em nome colectivo.

Acresce que uma sociedade por quotas ou uma sociedade anónima podem
ser sócio comanditados.

d) As sociedades por quotas são sociedades comerciais que só se


constituem com capital social adequado a realização do capital social, que
for fixado pelos sócios ou accionistas, conforme a alteração introduzida
pelo Decreto-lei n.º 2/2009, de 24 de Abril.

Os sócios apenas são obrigados a outra participações quando a lei ou o


contrato de sociedade assim o estabelecer (artigo 283.º, n.º 3 do CCom).
Universidade Católica de Moçambique 94

E no mesmo contrato de sociedade também podem assumir a


responsabilidade, perante os credores da sociedade, por dívidas desta até
uma certa importância, tanto solidariamente com a sociedade, como
apenas subsidiariamente em relação a mesma (artigo 287.º do CCom).

O novo Código Comercial acrescentou às tradicionais sociedades


comerciais para além da sociedade de capital e indústria, um sub tipo da
sociedade por quotas de responsabilidade limitada, denominada
sociedade por quotas unipessoal. Pois, o seu artigo 328.º do CCom
estabelece que qualquer pessoa singular pode constituir uma sociedade
por quotas de cujo capital, que constitui uma única quota, seja
inicialmente o único titular, que se rege pelas disposições do respectivo
capítulo e, com ad necessárias adaptações, pelas disposições aplicam-se
as sociedades por quotas originariamente unipessoais, enquanto a
unipessoal se mantiver, e às sociedades por quotas supervenientemente
unipessoais, decorridos que sejam noventa dias sem ter sido reconstituída
a pluralidade de sócio.

e) As sociedades anónimas são sociedades de capitais de maior dimensão.

De acordo com o Código Comercial, o sócio deste tipo de sociedade


compromete-se até ao valor das suas acções, isto é, a responsabilidade
dos respectivos sócios é limitada ao valor das acções com que subscreve
para o capital que deve ser dividido em acções (artigo 331.º, n.º 1, e
365.º). Daí, que apenas a sociedade se apresentaresponsável, perante os
seus credores pelas dívidas. O seu número de sócio nunca pode ser
inferior a 3, salvo quando a lei assim o dispense, ou quando se trate de
sociedade em que o Estado, directamente ou por intermédio de empresa
públicas, empresas estatais ou outras entidades equiparadas por lei para
esse efeito, fique como accinista. Nestes caso, podem, constituir-se com
um único sócio (artigo 332.º do CCom).

Do confronto com as sociedades por quotas, constata-se que realizando-


se na integra o capital nas sociedades por quotas, e quando os sócios não
estipulem prestações suplementares (artigo 311.º), a responsabilidade dos
Universidade Católica de Moçambique 95

respectivos sócios - quotista - é semelhante à responsabilidade dos


accionistas, que é limitada ao valor do capital subscrito e integralmente
realizado. Porém, mantém diferenças em determinados aspectos do
respectivo regime jurídico.

Sendo a sociedade anónima uma sociedade de capitais pura, as suas


acções são, geralmente, de livre transmissão, desde que a sociedade na
sua constituição, tenha obedecido aos preceitos legais aplicáveis (artigo
347.º do CCom).

90. Regime das participações

Quanto ao regime das participações sociais, os tipos societários diferem


uns dos outro, pela seguinte forma:

a) Nas sociedades em nome colectivo, o capital é dividido em partes


sociais, realizado em dinheiro ou em espécie, devendo ser múltiplo de
cinquenta meticais (artigo 112.º, n.º 1); as participações sociais só podem
ser trans,itidos, poe acto entre vivos, com consentimento de todos os
outros sócios(artigo 259.º do CCom).

b) Nas sociedades por quotas cabe aos sócios e os accionistas fixar o


capital social adequando a realização do capital social (artigo 289.º, 2)
está dividido em quotas (artigo 283.º, .º 1), devendo o valor nominal de
cada quota ser expesso em moeda nacional.

c) Nas sociedades anónimas o capital dividido em acções (artigo 331.º)


devendo cada uma constar de título em que do título em que esteja
incorporado (artigo 369.º, n.º 1) e são sempre livremente transmissíveis,
desde que a sociedade, na sua constituição, tenha obedecido aos preceitos
legais aplicáveis (artigo 347.º do CCom), e quando sejam nominativos
escriturais, a sua transmissão dá-se pelo lançamento da operação, pela
instituição bancária dspositária, nos seus livros ou controlos, conforme o
disposto no artigo 362.º do CCom).
Universidade Católica de Moçambique 96

d) Na sociedade em comandita em nome coelctivo, que corresponde os


sócios comanditados, entrando com as partes sociais representadas em
dinheiro ou espécie, conforme foi dito anteriormente e a sociedade
anónima, que corresponde a comandita de fundos, ou seja, a comandita
por accções livremente transmissíveis, conforme foi dito anteriormente.

Exercícios

Exercícios
1. Rui e Costa, dois maetro e conhecedores de música
clássica, querem contrsuir uma sociedade para organizar
espectáculos de ópera, mas única e exclusivamente nos
meses de Julho e Agosto de 2012 e 2013. Podem fazê-lo?
2. Ramires pretende criar uma sociedade com a designação
RR, Sociedade Unipessoa; SA. Pode fazê-lo?
3. Suponha que Moreira e Quim, donos de uma enorme
fortuna, pretendem criar uma sociedade por quotas cujo
objecto social é a integração de imigrantes de Zimbabue
no sociedade moçambicana, dando-lhe aulas de
português e asegurando-lhes mprego sem contrapartida
financeira. O pacto social foi redigido em 27 de Mauio
de 2012 e a sociedade foi registada a 03 de Junho de
2012. Quid Iuris
4. A Sociedade Panificadora Ideal, Limitad tem objecto
social a produção e comercialização de pão e bolos. Um
dia, achando que o negócio dos bolos era pouco
lucrativo, a panificadora iniciou um negócio de
tecnologia de informação, adquirindo um site na internet
dedicado à compra e venda de roupas usadas. É este
negócio válido?
Universidade Católica de Moçambique 97

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 252 à 324.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 303-
343.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 437 à 490.
Universidade Católica de Moçambique 98
Universidade Católica de Moçambique 99

Unidade 08
CONTRATO DE COMPRA E
VENDA
Introdução
Apresente aqui uma breve introdução ao conteúdo desta unidade / lição.

 Noção de contrato de compra e venda


 A forma do contratoo de compra e venda
 Os efeitos essenciais do contrato de compra e venda
 Modalidades de contrato de compra e venda
 Perturbações típicas do contrato de compra e venda.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Objectivos especificos
 Noções gerais do comtrato de compra e venda.
 Obrigações das partes no contrato de compra e venda.
Objectivos

91. CONTRATO DE COMPRA E VENDA

Introdução

1. Noção e aspectos gerais

O contrato de compra e venda é aquele que desempenha maior e mais


importante função económica.

Encontra-se deferido nos arts. 874º segs. CC, aplicando-se além das
suas regras próprias, os princípios e preceitos comuns a todos os
contratos.
Universidade Católica de Moçambique 100

A partir da definição do art. 874º CC, é possível identificar com


clareza os seguintes efeitos essenciais da compra e venda enumerados no
art. 879º CC:

- Um efeito real – a transferência da titularidade de um direito;

- Dois efeitos obrigacionais:

a) A obrigação recai sobre o vendedor de entregar a coisa


vendida;

b) A obrigação para o comprador de pagar o correlativo preço.

Há na compra e venda, a transmissão correspectiva de duas


prestações: por um lado, a transmissão do direito de propriedade ou de
outro direito; por outro lado, o pagamento do preço.

Do teor do art. 874º CC, resulta claramente a atribuição de natureza


real, e não apenas obrigacional ao contrato de compra e venda o que
resulta também do art. 879º-a CC (vide arts. 578º/1, 408º/1 – 1317º-a CC)
trata-se de uma concepção tradicional, segundo a qual a transmissão da
coisa tem por causa o próprio contrato, embora, por circunstâncias várias,
o objecto possa ficar dependente de determinação, quando se trate de
coisa futura, ou haja reserva de propriedade (art. 409º CC). O que não
pode é estabelecer-se que a transferência do direito fique dependente de
nova convenção, sem se desfigurar, com isso, a natureza do primeiro
contrato.

Esta função translativa ou real do contrato não impede que dele


nasçam também obrigações a cargo do vendedor e do comprador.

Da definição dada pelo art. 874º CC, resultam características


fundamentais da compra e venda, que é um contrato oneroso (art. 612º
CC), bilateral (arts. 428º segs. CC), com prestações recíprocas (art. 424º
CC) e dotado de eficácia real ou translativa.

92. Forma do contrato de compra e venda

Via de regra os contratos celebrados pelos particulares são


consensuais. Formam-se mediante o simples acordo dos contraentes.

A esta regra não faz excepção a compra e venda. Ela pode ser
celebrada através de qualquer das formas admitidas por lei, para a
Universidade Católica de Moçambique 101

declaração negocial (arts. 217º a 220º CC). Apenas nalguns casos foram
estabelecidas certas exigências de forma (art. 875º CC).

Contrato de compra e venda de bens imóveis está sujeito a registo,


dependendo deste a sua eficácia em relação a terceiros.

Do registo deve ainda constar a cláusula de reserva de propriedade,


quando a alienação respeite a coisa imóvel ou móvel sujeita a registo (art.
409º/2 CC), bem como a cláusula para pessoa a nomear, nas mesmas
condições (art. 456º CC).

A exigência da escritura pública vale não só para a transmissão da


propriedade, mas também para a transmissão ou constituição de qualquer
outro direito sobre imóveis a que se refere o art. 204º/1-a), b), c) CC.

Do disposto no art. 875º CC resulta:

a) Que o contrato é nulo se for celebrado sem forma nele consignada;

b) Que o contrato só poderá considerar-se celebrado, quando a


transmissão da propriedade se operar, depois de lavrado o respectivo
título.

Efeitos essenciais

93. O efeito real

Distinguem-se tradicionalmente dois tipos de venda: a venda


obrigatória e a venda real.

Nos ordenamentos que conferem simples carácter obrigatório à


compra e venda entre vendedor e comprador apenas se criam e produzem
relações de crédito. Cada um dos contraentes apenas têm direito a exigir
do outro uma prestação:

Ao vendedor cabe o direito de exigir do comprador o preço;

Ao comprador cabe o direito de reclamar a transmissão ou


alienação do objecto vendido.

Nos arts. 408º, 874º, 879º-c CC, decorre a eficácia real. Os arts. 874º e
879º-c CC, referem-se especificamente à compra e venda, o art. 408º CC,
consagra em termos gerais a eficácia real dos contratos.
Universidade Católica de Moçambique 102

No nosso direito, o contrato de compra e venda como contrato de


alienação de coisa determinada (art. 408º/1 CC) reveste natureza real. A
transmissão da propriedade da coisa vendida, ou a transmissão do direito
alienado, tem como causa o próprio contrato, embora esses efeitos
possam ficar dependentes de um facto futuro. Algumas situações estão
previstas no art. 408º/2 CC, referindo-se o art. 409º CC43 [1], à reserva de
propriedade, que é uma outra hipótese em que a transmissão, tendo
embora por causa a compra e venda se protela para um momento
posterior. Quem compra uma coisa sujeita ao direito de preferência fica,
enquanto não decorrer o prazo de exercício desse direito, em situação
análoga à de quem contrata sob condição resolutiva.

Os arts. 874º e 879º CC, incluem entre os efeitos da compra e venda a


transmissão da propriedade de uma coisa ou doutro direito.

Consegue-se conciliar o art. 408º/1 CC, com a afirmação categórica


do art. 879º-a CC, no sentido da transmissão da titularidade da coisa
constituir efeito essencial da compra e venda.

Desta forma, também consegue-se harmonizar o art. 408º/1 CC, com o


disposto no n.º 2 do art. 408º CC. Aí o legislador especificou o momento
da transferência de certas coisas com características especiais, sempre
com a preocupação de não estabelecer qualquer ligação genética entre a
transmissão de uma coisa ou a titularidade de um direito e os factos que
marcam o momento dessa transmissão.

Ao lado da sua natureza real, a compra e venda tem também natureza


obrigatória ou obrigacional. O vendedor, por um lado, fica obrigado a
entregar a coisa (art. 879º-b CC) e o comprador, por outro lado, a pagar o
preço (art. 879º-c CC). A transmissão da propriedade não fica, porém,
dependente do cumprimento destas obrigações, embora, em alguns casos,
o não cumprimento possa dar lugar à possibilidade de resolução do
contrato.

Enumeram-se no art. 879º CC, apenas os efeitos essenciais da compra


e venda, depois que no art. 874º CC se definiu através da causa negotti, a

43[1]
A reserva de propriedade (art. 409º/ CC) é uma venda condicional, em que a condição
se restringe à transferência do domínio, reserva que, no entanto, não pode ser feita sem
limite de tempo, caso em que a alienação seria nula. A reserva de propriedade e a venda a
prestações não se confundem. Aquela é compatível com a venda em que o pagamento
diferido do prazo se faça por uma só vez e a estipulação da prestação não obsta a uma
eficácia imediata.
Universidade Católica de Moçambique 103

função económico-social típica da compra e venda. Note-se porém, que a


obrigação de entrega nem sempre existe, como sucede, quer nos casos em
que a coisa transferida já se encontra na posse do comprador, quer
naqueles em que a transferência não tem por objecto direitos reais, mas
direitos de crédito, por exemplo.

A compra e venda tem sempre carácter real. Um contrato do qual não


decorra a transmissão da titularidade de uma coisa ou direito não poderá
nunca qualificar-se como compra e venda, mesmo quando reunidos os
demais requisitos e efeitos deste contrato.

94. Os efeitos obrigacionais

O dever de entrega da coisa

Trata-se da transferência da titularidade da coisa ou do direito


vendido. Além desse direito real a compra e venda produz dois outros
efeitos essenciais, de carácter obrigacional:

1) A obrigação que recai sobre o vendedor de entregar a coisa;

2) A obrigação que impende sobre o comprador de pagar o


correlativo preço.

O Código Civil contém um artigo relativo à obrigação de entrega da


coisa – o art. 882º CC.

A obrigação por parte do vendedor de entregar a coisa, está expressa


no art. 879º-b CC, importa para o vendedor o dever de investir o
comprador na posse efectiva dos direitos transmitidos para que o
adquirente os possa fruir plenamente (arts. 1263º-b; 1264º CC). A
obrigação de entrega é normalmente contemporânea da transmissão do
direito ou posterior a ela; mas pode, excepcionalmente, ser anterior, como
na venda com reserva de propriedade (art. 409º CC).

O art. 882º/1 CC, procura resolver os problemas do deferimento ou


protelar no tempo da obrigação de entrega da coisa. É que, não sendo
entregue no momento da celebração do contrato o seu estado pode variar
até à altura da respectiva entrega.

Decorre do art. 882º/1 CC que:


Universidade Católica de Moçambique 104

a) Se a coisa adquirir vícios ou perder qualidades entre o momento


da venda e o da entrega, são aplicáveis as regras relativas ao não
cumprimento das obrigações (art. 790º CC);

b) O vendedor tem obrigação de guardar a coisa, o que implica o


dever de abstenção de tudo o que é inconciliável com a prestação.

A obrigação de entregar a coisa no estado em que se encontrava no


tempo da venda envolve, implicitamente, a obrigação de guardar a coisa
que neste caso aparece como obrigação instrumental e não como
obrigação fundamental ou autónoma44[2]. Este dever de custódia do
vendedor tem se ser cumprido com o mesmo grau de diligência, quer a
entrega se faça dentro do prazo convencionado, quer se faça
posteriormente, ainda que a solicitação do comprador que não tenha
possibilidade, se não mais tarde, de levantar ou retirar a coisa.

No art. 882º/2 CC, o legislador procurou fixar no âmbito da obrigação


de entrega; por força deste preceito essa obrigação abrange, salvo
estipulações em contrário as partes integrantes, os frutos pendentes e os
documentos relativos à coisa ou direito vendido.

Extraem-se as seguintes conclusões do art. 882º/2 CC:

- O momento relevante para a fixação do âmbito da obrigação é o


correspondente à data de venda;

- Deste modo, abrangido pela obrigação de entrega são apenas as


partes integrantes ou frutos pendentes ao termo da venda;

- Excluem-se as partes integrantes ligadas à coisa em momento


ulterior ao da venda. O mesmo vale para os frutos produzidos
depois desta data.

95. O dever de pagar o preço

Preço é por definição a expressão do valor em dinheiro, ou, “a medida


de valor expressa, típica e exclusivamente em dinheiro”. Isto não basta,
obviamente, a que o comprador, com o acordo do vendedor, pague em
bens diferentes de dinheiro.

44[2]
Caso do depósito.
Universidade Católica de Moçambique 105

O modo de realização do pagamento cabe no âmbito da autonomia da


vontade das partes.

De acordo com as regras do art. 883º CC, relevará em primeiro lugar o


preço fixado por entidade pública, na falta dele recorre-se
sucessivamente:

- Ao preço normalmente praticado pelo vendedor à data da


conclusão do contrato;

- Ao preço do mercado ou bolsa no momento do contrato e no lugar


em que o comprador deve cumprir;

- Ao tribunal.

Uma vez fixado o preço importa apurar qual o lugar do seu pagamento
(art. 885º CC).

Se a venda ficar, por força do art. 292º CC, ou qualquer outro preceito
legal limitada a parte do seu objecto, o preço respeitante à parte válida do
contrato será o que neste figurar, se houver sido descriminado como
parcela do preço global (art. 884º/1 CC).

Modalidades

96. Venda com reserva de propriedade

O art. 409º/1 CC, permite porém, ao vendedor reservar para si a


propriedade da coisa até ao cumprimento total ou parcial das obrigações
da outra parte ou até a verificação de qualquer outro evento.

Com este artigo (art. 409º CC) pretende-se que o credor do preço fique
numa situação privilegiada. Se não houvesse a reserva, no caso de não
pagamento, o devedor poderia apenas executar o património do
comprador tendo de suportar na execução a concorrência dos outros
credores.

É nula a cláusula de reserva de propriedade de uma coisa que se vai


tomar parte constitutiva de outra coisa.

A venda com reserva de propriedade é uma alienação sob condição


suspensiva; suspende-se o efeito translativo mas os outros efeitos do
Universidade Católica de Moçambique 106

negócio produzem-se imediatamente. O evento futuro de que depende a


transferência da propriedade será em regra, o cumprimento total ou
parcial das obrigações da outra parte.

O princípio de que a transferência da propriedade da coisa vendida e


determinada se opera por mero efeito do contrato pode ser afastada por
vontade das partes mediante o pacto de reserva de domínio previsto no
art. 409º CC. A convenção de que a coisa vendida deveria ser segurada a
favor do vendedor até completa liquidação do preço e a de que só após o
integral pagamento do peão seria a coisa registada em nome dos
compradores não revelam inequivocamente que as partes tenham
estipulado uma cláusula de reserva de propriedade para o vendedor até
àquele pagamento integral.

No tocante à forma, a cláusula de reserva de propriedade está sujeita


às mesmas formalidades que o contrato no qual se acha inserida.

Assim, se o contrato de compra e venda respeitar a coisa imóvel ou


móvel sujeita a registo, a cláusula de reserva de propriedade só será
oponível a terceiros se estiver registada.

97. Venda a retro

O vendedor reserva para si o direito de reaver a propriedade da coisa


ou direito vendido mediante a restituição do preço. Na venda a retro o
vendedor tem a possibilidade de resolver o contrato de compra e venda
(art. 927º CC).

O exercício deste direito do vendedor tem como consequência a


aplicação do disposto nos arts. 432º segs. CC, em tudo quanto não for
afastado pelo regime específico da venda a retro.

O art. 928º/2 CC, proíbe o comprador de exigir o reembolso de uma


quantia superior à paga por ele próprio. No excesso é que poderiam
ocultar-se juros usurários, deste modo proibidos.

A existência de um prazo imperativo (art. 929º CC45[3]) para o


exercício do direito de resolução não impede as partes de, dentro desse

45[3]
Dois ou cinco anos a contar à data da venda
Universidade Católica de Moçambique 107

prazo resolutivo, fixarem um prazo suspensivo, de modo apenas permitir


a resolução do contrato decorrido certo período.

Em regra a resolução dos contratos ou negócios jurídicos não


prejudica os direitos adquiridos por terceiros (art. 435º/1 CC).

98. Venda a prestações

Como forma de tornar mais activa a circulação de bens e de permitir o


gozo dos benefícios por eles proporcionados ao maior número possível de
pessoas o nosso legislador consagrou a venda a prestações – arts. 934º
segs. CC.

O princípio geral regulador das dívidas cuja liquidação pode ser


fraccionada consta do art. 781º CC. Por força deste preceito, se uma
obrigação puder ser liquidada em duas ou mais prestações, a não
realização de uma delas importa o vencimento de todas. Existem porem
regras especiais na compra e venda. Trata-se dos arts. 886º, 934º e 935º
CC. O art. 886º CC, aplica-se de uma forma geral a todos os casos de não
pagamento de preço pelo comprador e estabelece que, transmitida a
propriedade da coisa, e feita a sua entrega, o vendedor não pode via de
regra, resolver o contrato por falta de pagamento. O art. 934º CC, aplica-
se especificamente aos casos de falta de pagamento de uma das
prestações em contratos de compra e venda a prestações.

As consequências por falta de pagamento de uma prestação


enunciadas no art. 934º CC, são, resumidas por Baptista Lopes:

c) Se não tiver havido reserva de propriedade, transmitida a


propriedade da coisa, ou o direito sobre ela, e feita a entrega, o
vendedor não pode resolver o contrato por falta de pagamento do preço
(art. 886º CC).

Só assim não será se tiver havido convenção em contrário que, no


caso de o comprador não efectuar o pagamento de algumas prestações
do preço, perderá a favor do vendedor as quantias entregues, ficando
este com o direito de reaver a coisa, objecto do contrato.

d) Se tiver havido reserva de propriedade, uma vez entregue a coisa


vendida ao comprador, há lugar à resolução do contrato, se não for feito
Universidade Católica de Moçambique 108

o pagamento de qualquer prestação, desde que esta exceda 1/8 do preço


total (art. 934º CC).

Se a coisa não for entregue ao comprador, aplicam-se as regras


gerais sobre a mora e não cumprimento das obrigações.

Haverá também lugar à resolução do contrato se houver falta de


pagamento de duas ou mais prestações que, no seu conjunto, excedem
1/8 do preço total, embora cada de per si não exceda tal proporção.

e) Quer haja, quer não haja reserva de propriedade, o comprador,


pela falta de pagamento de uma só prestação que não exceda a oitava
parte do preço total, não perde o benefício do prazo relativamente às
prestações seguintes, salvo se houver sido convencionado o contrário
(art. 934º CC).

Também aqui, a falta de pagamento de duas ou mais prestações que


no seu conjunto, excedam 1/8 do preço importa a perda do referido
benefício.

O art. 935º CC, define o regime da cláusula penal no caso de o


comprador não cumprir. A estipulação de uma cláusula penal é admitida
para os diversos contratos, e de forma genérica, no art. 810º CC, como
meio de fixação prévio de uma indemnização pelo não cumprimento de
obrigações.

Em princípio, nos termos do art. 935º/1 CC, não pode a pena


ultrapassar metade do preço. O que pode é estimular-se a ressarcibilidade
de todo o prejuízo sofrido, não funcionando, neste caso, qualquer limite,
pois a cláusula deixa de ser usurária. Se a pena exceder aquele limite é
automaticamente reduzida para metade (art. 935º/2 CC).

Perturbações típicas do contrato de compra e venda

99. Venda de bens alheios

A caracterização da venda de bens alheios auxiliam os preceitos dos


arts. 893º e 904º CC. Assim, se as partes considerarem o bem objecto da
venda como efectivamente alheio, pode supor-se que o contrato se
realizou na perspectiva de que a coisa viesse a integrar o património do
Universidade Católica de Moçambique 109

alienante: se assim for, segue-se o regime da venda de bens futuros (art.


880º CC). Por sua vez, o alcance do art. 904º CC é o de ressalvar a
hipótese do art. 893º CC e, sobretudo, o de cominar com a nulidade
qualquer venda que incida sobre bem de que ambos os contraentes
conheçam a falta de poder de disposição por parte do alienante. Daqui
decorre que o preceituado nos arts. 892º segs. CC pressupõe sempre a
ignorância de uma das partes acerca do carácter alheio da coisa.

O Código Civil comina com a nulidade, a venda de bens alheios (art.


892º CC). Trata-se de uma sanção que apenas se refere à relação entre
vendedor e comprador. No que respeita ao verdadeiro titular do bem, a
venda é ineficaz.

A nulidade não se apresenta como decorrência da eficácia real da


compra e venda. Na verdade, esta eficácia limita-se a exprimir a
idoneidade da constituição de uma obrigação de transmitir a cumprir
mediante acto posterior, produzindo o efeito translativo. A compra e
venda não postula, pois, no nosso direito, uma indispensável transmissão
da propriedade no momento da conclusão do contrato como seu requisito
de validade.

A venda de coisa alheia só é nula se o vendedor carecer de


legitimidade para a realizar. Se é um representante46[4] do proprietário ou
titular do direito, o acto pode ser válido, no caso de o título ou a lei lhe
conferirem poderes para o celebrar e é, geralmente anulável, se o não
puder legalmente realizar.

O regime geral da nulidade nos negócios jurídicos, prescritos nos arts.


285º segs. CC é afastado do regime da venda de bens alheios em vários
aspectos. À parte da possibilidade e obrigatoriedade da convalidação do
contrato (arts. 895º e 897º CC), estabelecem-se no art. 892º CC, duas
limitações ao princípio geral da legitimidade expresso no art. 286º CC.
Por outro lado, o vendedor não pode opor a nulidade a comprador de boa
fé (não importa que aquele esteja de boa ou má fé); por outro lado, o
comprador que se comportou com dolo (art. 253º CC) também a não pode
opor ao vendedor de boa fé.

A boa fé nestes casos consiste na ignorância de que a coisa vendida


não pertencia ao vendedor.
46[4]
Voluntário ou legal.
Universidade Católica de Moçambique 110

O sistema de inoponibilidades instituído oferece à parte de boa fé o


direito de se prevalecer da eficácia do contrato. Não que lhe confira o
direito ao cumprimento do dever de entrega do preço ou do dever de
entrega da coisa, pois foram precisamente estes deveres que a lei quis
impedir que nascessem ao cominar a nulidade. O alcance da
inoponibilidade é outro: conferir à parte de boa fé determinadas posições
apesar da invalidade dos deveres primários de prestação, as quais teriam
de pressupor em princípio a inobservância de deveres primários de
prestação perfeitamente válidos e eficazes.

Como consequência da sanção da nulidade, deve a coisa ser restituída


ao vendedor pelo comprador, independentemente da boa ou má fé
daquele. A correspectiva obrigação de restituir o preço segue, no entanto,
um regime parcialmente diferente do que resultaria da aplicação do art.
289º CC.

A venda de bens alheios, sendo nula convalida-se logo que o vendedor


adquira a propriedade do bem vendido. O efeito translativo opera então,
embora com eficácia ex nunc (art. 895º CC). A sanabilidade do vício ex
lege funda-se na vontade presumível do comprador ou vendedor de boa
fé, cuja realização deixou de estar impedida pelo obstáculo da alienidade
da coisa. Não há pois intenção de fazer percludir ao contraente de boa fé
a posição decorrente da nulidade do negócio. Daí, no art. 896º CC, a
enumeração de factos impeditivos da convalidação, cuja ocorrência
evidencia a vontade de contraente protegido se prevalecer da nulidade.

Para além da previsão desta convalidação ipso facto, a lei impõe ao


vendedor a obrigação de convalidar o contrato em atenção à boa fé do
comprador (art. 897º/1 CC). Trata-se de proteger o interesse de
cumprimento do comprador, através da aquisição, pelo vendedor, da
propriedade do bem vendido. Estruturalmente, a obrigação em causa
representa a sobrevivência modificada da obrigação de garantia da
produção do efeito translativo da venda dada pelo vendedor ao
comprador da boa fé. Nestes casos, pode o comprador de boa fé requerer
ao tribunal a fixação de prazo para o cumprimento da obrigação,
decorrido o qual o contrato seja definitivamente havido como nulo (art.
897º/2 CC).
Universidade Católica de Moçambique 111

A lei afasta, a cumulação do pedido indemnizatório pela nulidade da


venda como decorrente do incumprimento da obrigação de convalidar
quando estejam em causa prejuízos comuns (art. 900º/1 CC). E para
evitar a duplicação do ressarcimento dos lucros cessantes nos casos de
dolo do vendedor, manda o comprador optar entre a indemnização dos
lucros cessantes pela celebração do contrato nulo e dos lucros cessantes
pela falta ou retardamento da convalidação (art. 900º/2 CC).

A regulamentação da venda de bens alheios é completada por três


preceitos: o art. 901º CC nos termos do qual o vendedor garante
solidariamente com o dono do bem a obrigação que a este incumba de
reembolsar o comprador de boa fé das benfeitorias que ele houver
realizado47 [5], o art. 902º CC que estende com certas adaptações anteriores
aos casos em que os bens sejam apenas parcialmente alheios e o contrato
deva valer na parte restante por aplicação do princípio da redução; e o art.
903º CC que prevê a possibilidade e as consequências da derrogação
convencional dos preceitos relativos À venda de bens alheios.

100. Venda de bens onerados

Encontram-se situações nas quais, apesar de o direito ter sido


transferido para o comprador por efeito da venda, ele não corresponde
contudo, na sua configuração concreta ao interesse do comprador. O vício
de direito revela como tal em sede de venda de bens onerados sempre que
se traduza na sujeição deste “a alguns ónus ou limitações que excedam os
limites inerentes aos direitos da mesma categoria” (art. 905º CC). Cabem
no âmbito da venda de bens onerados tanto a constituição sobre o bem de
direitos reais de gozo de natureza controvertida, são no entanto eficazes
em relação ao comprador.

Supõe-se a existência de encargos ou ónus que incidam sobre o direito


transmitido (vícios de direito) e não a existência de vícios da coisa.

São vícios do direito um usufruto, uma hipoteca, um privilégio por


obrigação anterior que se venha a executar, um penhor, uma servidão, etc.

Havendo ónus ou limitações que excedam os limites normais aos


direitos de certa categoria, a venda é anulável por erro (art. 251º CC) ou

47[5]
Ver também art. 1273º CC.
Universidade Católica de Moçambique 112

dolo (art. 254º CC), desde que no caso de verificarem os requisitos legais
da anulabilidade.

Na definição do regime de tutela do comprador de bem onerado (art.


905º CC) ou defeituoso (art. 913º CC) há que separar três grupos de
hipóteses:

1º Grupo, abrange “aquelas em que o comprador exprime uma


vontade relativa ao dever-ser da coisa, às suas características e
qualidades, que é diversa daquela que teria se não tivesse em erro
quanto às qualidades de que a coisa carece para o fim que tem em vista –
erro sobre os motivos.

2º Grupo, identificada correctamente a coisa no seu dever-ser, o


comprador erra na expressão ou declaração dessa vontade indicando dada
coisa concreta como exemplar portador daquela característica e
qualidades, que afinal se verifica não as ter: há erro na declaração que,
também ele pode ser simples ou qualificado por dolo do vendedor.

3º Grupo, reentrarão as hipóteses em que, tendo o comprador formado


correctamente a sua vontade negocial, não há qualquer problema de erro,
mas tão-só de incumprimento, ou de parcial (qualitativamente) ou
defeituoso cumprimento.

A venda de bens onerados é nos termos do art. 905º CC, anulável a


requerimento do comprador, sempre que este tenha agido com
desconhecimento da limitação do direito. Conforme o teor do preceito
indicia-se, quis-se reconduzir a tutela do comprador à doutrina geral do
erro (e do dolo) num desvio às opções quanto à venda de bens alheios. O
direito de anulação em causa só se verifica se estiverem presentes os
requisitos legais da anulabilidade, isto é, se o erro for essencial e se a
essencialidade for recognoscível pelo vendedor (art. 247º CC). Trata-se
de factos constitutivos do direito, cuja prova compete, segundo as regras
gerais, ao comprador (errante).

Em consequência com o lugar paralelo do art. 895º CC, o legislador


previu explicitamente no art. 906º CC que a sanação do vício que atinge o
contrato se dê por mero efeito do desaparecimento, por qualquer modo,
dos ónus ou limitações a que o direito estava sujeito, a menos que o ónus
ou as limitações tenham produzido já prejuízo ao comprador,
Universidade Católica de Moçambique 113

presumindo-se então que a anulação é do interesse do comprador, e ainda,


naturalmente, quando a acção de anulação tenha sido já interposta em
juízo (art. 906º/2 CC). Tal como se afirmou quanto à venda de bens
alheios, o convalescimento visa beneficiar o comprador e não cercear os
seus meios de defesa.

Para além desta sanação automática (com eficácia ex nunc), o art. 907º
CC impõe ao vendedor a obrigação de expurgar o direito dos ónus ou
limitações existentes, podendo-lhe ser fixado um prazo para o efeito (a
doutrina paralela do art. 897º CC48[6]). Trata-se aqui de proteger o
interesse do comprador na aquisição de um direito livre de limitações
(interesse de cumprimento).

O regime legal da venda de bens onerados balança aparentemente


entre dois pólos incompatíveis. Há, no fundo, que reinterpretar à luz das
considerações precedentes, e dizer assim que ele regulamenta
essencialmente uma perturbação do programa obrigacional estabelecido
pelo contrato. As declarações das partes são de interpretar no sentido de
que se quis transmitir (adquirir) um direito livre de ónus ou de limitações
anormais. Desta forma, o art. 905º CC na sua primeira parte, funciona
como regra materialmente interpretativa que desonera o comprador da
prova daquele sentida das obrigações negociais. O direito transferido por
efeito do contrato na reveste, na medida dos ónus ou limitações
apontadas, as características que o pacto lhe assinalou. Há
incumprimento, mais exactamente, cumprimento defeituoso, e os meios
de tutela do comprador são fundados no contrato, como remédios contra
o rompimento do projecto contratual que se estabelecera. Para as fazer
valer, o adquirente só terá, em regra, que fazer a prova da deficiência do
direito transmitido, cabendo à contraparte a demonstração de que ele
conhecia de antemão o vício do direito.

101. Venda de coisas defeituosas

Os vícios da coisa vendida são, em princípio, equiparados pelo art.


913º CC, aos vícios de direito, sendo-lhes aplicáveis as mesmas

48[6]
O n.º 3 do art. 907º CC prevê um dever secundário que impende sobre o vendedor
quanto à obrigação de transmitir o direito livre de ónus ou encargos. Esse dever existe
também fora dos caos em que tenha havido obrigação de fazer convalescer o contrato.
Universidade Católica de Moçambique 114

disposições devidamente adaptadas, em tudo quanto não seja


modificativo pelas disposições seguintes.

Dir-se-ia assim, que, por força do art. 905º CC, os vícios da coisa não
constituem fundamento autónomo da anulação integrando-se nos regimes
do erro e do dolo.

O art. 913º CC, cria um regime especial para as quatro categorias de


vícios que nele são destacadas:

f) Vícios que desvalorize a coisa;

g) Vícios que impeça a realização do fim a que ela é destinada;

h) Falta das qualidades asseguradas pelo vendedor;

i) Falta das qualidades necessárias para a realização do fim a coisa se


destina.

De notar, a propósito ainda do âmbito previsto do art. 913º CC que


aparecem aí parificados os casos em que o vendedor assegurou certas
qualidades da coisa ao comprador, e as hipóteses em que, falando embora
qualquer declaração desse género, a coisa apresentava vícios ou falta de
qualidades. Parece, no entanto, justo, admitir-se uma maior severidade de
regime para o vendedor do primeiro grupo de situações. A prática
negocial conhece, na verdade, hipóteses em que o vendedor por isso que
garantiu ao adquirente certas qualidades da coisa, deve responder
objectivamente pela sua ausência.

Como disposição interpretativa manda o n.º 2 do art. 913º CC atender,


parta a determinação do fim da coisa vendida, à função normal das coisas
da mesma categoria.

O regime da venda de coisas defeituosos visa essencialmente definir


os termos e a medida em que o comprador pode alijar de si o risco do
desvalor da coisa que lhe exclui ou diminui a utilizabilidade. Os arts. 913º
segs. CC não se aplicam pois automaticamente àquelas situações em que
estão em causa danos ulteriores causados pelo defeito de que o bem
padecia. O tratamento destas espécies gravita, segundo os autores, em
torno de três orientações. A primeira propende para a aplicação das regras
comuns do cumprimento defeituoso. Outra mais recente, enquadra estes
casos na responsabilidade aquiliana (arts. 483º segs. CC), por considerar
que os danos subsequentes não estão incluídos no perímetro do contrato.
Universidade Católica de Moçambique 115

Finalmente, a última advoga que sobre o vendedor impendem


determinados “deveres de protecção”, de origem não-negocial,
destinados a proteger o património ou a saúde do comprador na medida
em que possam ser afectados pelo contrato, e por cuja violação o
vendedor responde nos moldes da responsabilidade contratual.

Os efeitos da venda de coisa defeituosa obtêm-se por remissão para o


disposto da venda de bens onerados, na medida em que este último
regime seja compatível com os preceitos nos arts. 914º a 922º CC (art.
913º CC). Por isso nos aproveitam nesta sede as considerações já feitas
aquando do estudo daquele outro regime

O comprador tem antes de mais o direito de anular o contrato (art.


905º CC ex vi do art. 913º CC). Consegue assim reaver o preço pago pela
coisa, libertando-se de ter de suportar a não conformidade daquela com o
seu interesse.

Se tiver havido dolo do vendedor, a acção de anulação deverá ser


proposta no prazo de uma não ao contar do momento em que cessou o
vício, mas poderá sê-lo a todo o momento, enquanto o negócio não tiver
sido cumprido (art. 287º/1 e 2 CC).

Não havendo dolo, mas simples erro, o comprador terá de denunciar


ao vendedor o defeito no prazo de trinta dias a contar do seu
conhecimento e dentro de seus meses após a entrega da coisa; e poderá
intentar a acção de anulação competente até seis meses após a denúncia,
embora a todo o tempo enquanto o negócio não tiver sido cumprido (art.
916º e 917º CC). A não observância destes requisitos implica a
caducidade do direito.

O comprador tem também o direito de exigir do vendedor a reparação


da coisa ou, se for necessário e esta tiver natureza fungível, a substituição
dela. Trata-se de um meio de defesa baseado no contrato e destinado à
correcção de uma prestação inexacta em face de conteúdo contratual. Por
isso, e porque já se está fora do que se encontra especificamente disposto
quanto à acção redibitória, ao comprador basta-lhe provar a deficiência da
coisa e será o vendedor quem, sendo caso disso, terá de alegar e
demonstrar que o adquirente conhecia o defeito da coisa. Por outras
palavras: exceptuando o caso particular do art. 905º CC (ex vi do art. 913º
CC), o erro do comprador não é facto constitutivo dos direitos que a lei
Universidade Católica de Moçambique 116

lhe confere e que a ele caiba provar; é a sua ausência a que preclude esses
direitos, pelo que, como facto impeditivo, o ónus da sua prova recai sobre
o alienante.

Diz a lei que o vendedor não tem, contudo, que proceder à reparação
ou substituição da coisa se desconhecia sem culpa o vício ou a falta de
qualidade de que ela padecia. Ele fica pois eximido dessa obrigação,
suplementar relativamente aos seus planos iniciais, em atenção à lisura e
não-censurabilidade da sua conduta.

O direito de anular o contrato podem ir unidas pretensões


indemnizatórias. Se o vendedor agiu com dolo, indemniza o interesse
contratual negativo (art. 908º ex vido art. 913º CC). Se houve erro simples
do comparador, há também em princípio de indemnização nos termos do
art. 909º CC a menos, agora que o vendedor ilida a presunção de culpa
que sobre ele impende (art. 909º CC ex vi do art. 915º, art. 799º/1 CC).

Os pressupostos fundamentais do regime especial consagrado nos arts.


913º segs. CC, assentam mais nas notas objectivas das situações por ela
abrangidas do que na situação subjectiva do erro em que, alguns casos, se
encontre o comprador, ao contrário do regime da anulação do contrato,
também aplicável ao caso com algumas adaptações, que repousa
essencialmente na situação subjectiva do comprador e no
reconhecimento, por parte do vendedor, da essencialidade do elemento ou
atributo da coisa sobre o qual o erro incidiu.

Observe-se que o regime estabelecido nos arts. 913º segs. CC, se


refere apenas às cosias defeituosas (às coisas com defeito) e que, entre os
defeitos da coisa, se aplica somente aos defeitos essenciais, seja porque a
desvalorizam na sua afectação normal, seja porque a privam das
qualidades asseguradas pelo vendedor.

O comprador tem o direito de anular o contrato (art. 905º - art. 913º


CC). Consegue-se assim reaver o preço pago pela coisa libertando-se de
ter de suportar a não conformidade daquela com o seu interesse.

O comprador tem também o direito de exigir do vendedor a reparação


da coisa, ou, se for necessário e esta tiver natureza fungível, a
substituição dela.
Universidade Católica de Moçambique 117

O vendedor não tem, contudo que proceder à reparação ou


substituição da coisa se desconhecia sem culpa o vício ou a falta de
qualidade de que ela padecia.

Do art. 913º CC resulta:

a) Se a coisa ou o direito tiverem alguns vícios referidos no art. 913º


CC, que excedam os limites normais, o contrato é anulável por
erro ou dolo desde que no caso se verifiquem os requisitos da
anulabilidade só ao comprador sendo lícito pedir a anulação;

b) Desaparecidos os vícios da coisa, fica sanada a anulabilidade do


contrato, quer persistirá se a existência dos vícios já houver
causado prejuízo ao comprador, ou se este tiver já pedido a
anulação da compra e venda;

c) Em caso de dolo, o vendedor, anulado o contrato, deve indemnizar


o comprador do prejuízo que este não sofria se a compra e venda
não tivesse sido celebrada;

d) Se o vendedor se constituir em responsabilidade por não sanar a


anulabilidade do contrato, a correspondente indemnização acresce
àquela a que o comprador trem direito por virtude do erro ou dolo,
salvo estipulação em, contrário. Mas no caso de ter havido dolo,
terá o comprador de escolher entre a indemnização dos lucros
cessantes pela celebração do contrato que veio a ser anulado e a
dos lucros cessantes pelo facto de não ser sanada a anulabilidade;

e) Se as circunstâncias mostrarem que, sem erro ou dolo, o


comprador teria igualmente adquirido os bens, mas por preço
inferior, apenas lhe caberá o direito à redução do preço, em
harmonia com os defeitos da coisa, além da indemnização que no
caso couber.

O disposto no art. 914º CC postula realmente um incumprimento. Não


se pode dizer com segurança o mesmo das pretensões indemnizatórias
conferidas ao comprador ao abrigo dos arts. 908º e 909º CC porque elas
se restringem à área do interesse contratual negativo. Todavia, basta
aquela primeira asserção para obrigar à reexplicação dogmática do
instituto, porque, o erro e o cumprimento excluem-se forçosamente.
Havendo erro, o incumprimento do negócio, ainda que pela reparação ou
Universidade Católica de Moçambique 118

substituição da coisa, nunca satisfará o comprador porque é o próprio


contrato que se não apresenta como idóneo à satisfação do seu interesse.
Mas se aquela reparação ou substituição o servem realmente, então a
vontade do comprador abrangia de facto as qualidades, e o acordo
negocial, a ser pontualmente executado, adequa-se aos fins que lhe
presidiram, pelo que o problema só pode ser de incumprimento.

Exercícios

Exercícios
1. Em que consite o contrato de compra e venda, justifica a tua
resposta com base na lei.

2. Qiaus são os efeitos do contrato de compra e venda? Justifica a


sua resposta com base na lei.

3. É possível a celebração de um contrato de compra e venda de


bens onerados? Justifica a tua resposta com base na lei.

4. É possível um pai de família procedr a venda do imóvel de


família sem o consentimento dos filhos? Justifica a tua resposta
com base na lei.
Universidade Católica de Moçambique 119

Unidade 09
O CONTRATO DE SOCIEDADE
Introdução
Neste capítolo se abordarão os seguintes temas:
PLANO DE EXPOSIÇÃO
1.1 Conceito de contrato de sociedade.
2.1 Elementos constitutivos contrato de sociedade.
3.1 Objecto do contrato de sociedade.
4.1 Características qualificativa do contrato de sociedade.
5.1 Deveres acessórios imposto pelo princípio da boa fé.
6.1 Responsabilidade pelas obrigações sociais.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Objectivos específicos:
 Conceituar o contrato de sociedade
 Explicar os elemtnso que devem conter no contrato ed sociedade.
Objectivos

CONTRATO DE SOCIEDADE

Elementos de características qualificativas do contrato de sociedade

102. Conceito de sociedade

A definição parece lacunosa por não incluir o elemento organização


conformador de toda a actividade societária.
Universidade Católica de Moçambique 120

O art. 980º CC não dá uma definição de sociedade, mas do contrato de


sociedade.

São três os requisitos essenciais do contrato de sociedade referidos no


art. 980º CC: a contribuição dos sócios, o exercício em comum de certa
actividade económica que não seja de mera fruição e a repartição dos
lucros.

A contribuição será de bens ou serviços. Podem os sócios contribuir


com a propriedade ou titularidade de bens, simplesmente com o seu uso e
fruição (art. 984º CC) ou com a prestação de determinada actividade ou
com os resultados desta. Falando intencionalmente na obrigação de
contribuir, o art. 980º CC não exige uma contribuição imediata.

Atenta a natureza obrigacional que o contrato no fundo reveste,


qualquer dos sócios, se o outro ou outros não realiza a prestação a que
ficou adstrito, pode exigir do faltoso ou faltosos a contribuição em dívida.
Essa prestação não se destina, porém, a quem tem o poder de a exigir,
mas ao conjunto dos sócios. Neste aspecto se distingue o contrato de
sociedade do contrato de troca ou permuta, em que a prestação de cada
um dos contraentes se destina ao património do outro.

A actividade a exercer em comum – o fim comum a todos os sócios –


deve ser determinada (certa). Não podem constituir-se sociedades para
fins indeterminados. Estes têm de ser sempre especificados ou
individualizados no contrato, embora possam ser vários, esses fins.

O fim comum deve consistir numa actividade económica, o que


significa que dela deve resultar um lucro patrimonial, embora se não deva
confundir actividade económica com simples produção de bens, pois a
economia abrange outras actividades além da produção.

A sociedade tem sempre por objecto repartição de lucros, não


bastando que o sócio lucre directamente através da actividade em comum.

Às sociedades civis são aplicáveis, subsidiariamente as disposições


que regulam as pessoas colectivas, quando a analogia das situações o
justifique (art. 157º CC).

A organização é a forma coordenada de prossecução do objecto.


Universidade Católica de Moçambique 121

103. Elementos constitutivos da sociedade

O instrumento: contribuição com bens ou serviços.

Sem esta contribuição frustrar-se-ia a possibilidade de surgirem os


outros elementos. Se o fim do contrato de sociedade é a obtenção de
lucros e o lucro representa o aumento do valor do património no termo da
actividade social, ou dos seus ciclos periódicos, em relação aos elementos
utilizados para produzi-lo, é óbvio que a atribuição, por parte dos sócios,
dos meios necessários ao exercício da actividade social, constitui
elemento essencial do contrato.

As entradas dos sócios, destinam-se funcionalmente a possibilitar o


exercício de uma empresa. Ora, no contrato de sociedade esse exercício
vem a ser prosseguido através de uma organização. Assim, o título do
direito de crédito correspondente terá de ser a própria organização e,
portanto, a sociedade enquanto entidade jurídica.

104. Objecto

Exercício em comum de uma actividade económica que não seja de


mera fruição.

O que caracteriza a sociedade é, a funcionalização atribuída a essas


prestações que só se tornam relevantes em ordem À prossecução em
comum de determinada actividade. Essa actividade que os sócios se
propõem exercer vem a constituir o segundo elemento do contrato de
sociedade, o chamado objecto social.

O art. 980º CC exige que a actividade a desenvolver pelos seus sócios


seja certa, pelo que se faltar essa determinação o contrato não pode deixar
de considerar-se nulo por indeterminabilidade do objecto (art. 280º/1
CC).

Porém, para se poder falar em sociedade é ainda necessário:

- Que essa actividade tenha conteúdo económico, não podendo este


consistir na mera fruição;

- Que essa actividade seja exercida em comum pelos sócios.


Universidade Católica de Moçambique 122

105. A organização

Estrutura coordenada da gestão da actividade societária.

Esse contraste sócio-sociedade é resolvido através da interposição de


uma organização, destinada a gerir a prossecução desse objecto. Daí o
surgimento de todo um sistema de órgãos, através dos quais se prossegue
a execução do contrato (arts. 985º segs. CC). Deste elemento deriva, por
um lado, o carácter extraordinariamente complexo da posição jurídica dos
sócios que, para além das obrigações que assumiram pelo contrato, ficam
sujeitos ao poder potestativo da organização que criaram, constrangedor
da sua actividade.

106. O fim

A repartição dos lucros.

O fim para o qual converge toda a actividade societária é a repartição


dos lucros. Constitui este, com efeito, o momento da realização do
interesse individual dos sócios, por força do qual se subordinaram ao
interesse social na prossecução do objecto. Por essa mesma razão é que o
art. 980º CC vem considerar elemento do conceito de sociedade o fim de
repartir os lucros e não a sua produção.

Faltando o elemento fim lucrativo não existe sociedade, mas sim


associação (art. 157º CC).

107. Características qualificativas do contrato de sociedade

a) A sociedade como contrato consensual

O contrato de sociedade exige apenas a sua celebração pelas partes


para se constituir, não sendo necessário uma efectiva atribuição de bens à
sociedade. O preenchimento do elemento instrumental deste contrato
verifica-se com a simples assunção de obrigações por parte dos sócios.
Por essa razão a sociedade não é um contrato real quod constitutionem,
mas antes um contrato consensual.

b) A sociedade civil como contrato primordialmente não formal


Universidade Católica de Moçambique 123

O art. 981º CC não exige a observância de forma especial para a


constituição de sociedades civis vigorando portanto quanto a estas a regra
geral do art. 219º CC. O art. 981º CC excepciona, porém, o caso de essa
forma ser exigida pela natureza dos bens com que os sócios entram para a
sociedade.

De per si, o contrato de sociedade tem simples natureza obrigacional e


não real, embora as entradas possam ser tituladas pelo mesmo acto, que
passa, assim, a ter natureza real (art. 980º CC). Há portanto
independência entre os dois actos, não obstante a lei ter subordinado,
quanto à forma, o regime de contrato de sociedade ao regime exigido para
as entradas dos sócios.

O art. 981º/2 CC vem estabelecer que a falta de forma “só anula todo
o negócio se este não puder converter-se segundo o disposto no art. 293º
CC de modo que à sociedade fique o simples uso e fruição dos bens cuja
transferência determina a forma especial, ou se o negócio não puder
reduzir-se, nos termos do art. 292º CC às demais participações”.

Como contrato que é na sua origem, a sociedade está sujeita às causas


de nulidade e de anulação próprias dos contratos. É o art. 981º/2 CC
conclui-se indirectamente que o regime, quer da nulidade, quer da
anulabilidade, não se afasta, neste caso da sociedade, do regime geral dos
negócios jurídicos.

Assim é, que tanto a redução como a conversão do negócio, em


consequência daquelas causas de invalidade, encontram aplicação no
contrato de sociedade com as meras adaptações que o preceito consagra.

c) A sociedade como contrato de execução continuada ou duradoura

As obrigações do contrato de sociedade são obrigações de


cumprimento ininterrupto, tais como a obrigação de colaboração, a
obrigação de não concorrência e as obrigações derivadas do exercício da
gerência. Consequência do carácter duradouro desta relação contratual é a
faculdade de denúncia ad nutum, prevista no art. 1002º CC quando o
contrato não tenha prazo fixado.

d) A sociedade como contrato sinalagmático e oneroso

Faz nascer obrigações recíprocas a cargo de todas as partes. O facto de


não existir, em sede de sociedade, uma contraposição de interesses entre
Universidade Católica de Moçambique 124

as partes, exclui a correspectividade entre as suas prestações, mas não


exclui o sinalagma, apenas o faz configurar-se de uma maneira
específica.

A sociedade assume-se como um contrato oneroso, dada a necessidade


de haver uma atribuição patrimonial por parte de todos os contraentes,
uma vez que o art. 983º CC que estabelece a obrigação de entrada dos
sócios é inderrogável.

e) A sociedade como contrato aleatório

Impõe-se a classificação da sociedade na categoria dos contratos


aleatórios. Efectivamente, embora a atribuição patrimonial dos sócios
seja certa, o seu correspectivo patrimonial é incerto, pois ignora-se no
momento da celebração o an e o quantum do lucro, o que corresponde
obviamente à existência de uma área ou risco económico neste contrato.

f) A sociedade civil como contrato “intuito personae”

A existência de uma responsabilidade ilimitada e solidária dos sócios


pelas dívidas da sociedade (art. 997º CC) impõe que se verifique, para a
celebração do contrato uma relação de confiança mútua entre todos, sem
a qual a sociedade civil não teria condições de funcionamento. Daí que se
deve qualificar a sociedade civil como um contrato intuito personae,
atenta a importância fundamental que nesta reveste a pessoa dos sócios.

g) A sociedade civil como contrato obrigacional e ainda real “quod


effectum”

O facto de as entradas no contrato de sociedade não serem típicas,


antes podendo consistir em quaisquer bens ou serviços (arts. 980º e
983º/1 CC), desde que os aptos para a prossecução da actividade
económica que os sócios se propõem desenvolver, dá origem a que a
sociedade, que se apresenta primordialmente como um contrato
obrigacional, venha a ter natureza real quanto a entrada consista na
transmissão de um direito real. Nesse caso a sociedade adquire
características de um contrato real quod effectum.

108. As relações internas


Universidade Católica de Moçambique 125

109. Obrigações dos sócios

Obrigação de entrada

Como consequência do contrato (art. 980º CC), os sócios são


obrigados às entradas que entre si acordaram. Mas somente são obrigados
a essas entradas – art. 983º/1 CC – e não a quaisquer prestações
suplementares, posteriores, embora haja necessidade de novos capitais
para o funcionamento da sociedade e realização dos respectivos fins, ou
haja conveniência em substituir alguma contribuição que entretanto tenha
perecido ou se tenha inutilizado.

O valor da entrada é normalmente fixado no pacto, podendo variar de


sócio para sócio. A lei manda atender há vontade das partes, porque neste
ponto estão apenas em jogo as relações entre só sócios. Não se fixando o
valor, nem fornecendo o contrato os elementos necessários para a sua
fixação, entende a lei, supletivamente, que são iguais as entradas a que se
obrigam os sócios ou que os sócios realizaram (art. 983º/2 CC).

Se a obrigação de entrada não estiver determinada (art. 280º CC) no


contrato nem existirem elementos para a sua determinação o negócio não
pode deixar de se considerar nulo, por falta de um elemento essencial.

O art. 984º CC regula a execução da prestação, garantia e risco da


coisa, pelos arts. 577º e 424º segs. CC e os arts. 578º e 425º CC
desenvolvem a regulação dos requisitos e efeitos da cessão para os arts.
980º segs. CC.

19. Deveres acessórios impostos pela boa fé

Encontra-se no regime do contrato de sociedade entre outras duas


limitações à actividade pessoal dos sócios:

- A proibição do uso dos bens sociais para fins estranhos à


sociedade (art. 989º CC);

- A proibição da concorrência (art. 990º CC).

A violação do dever de não usar das coisas da sociedade importa, para


o sócio, nos termos gerais, a obrigação de indemnizar os outros pelo
prejuízo causado, não se prevendo nenhuma sanção específica para o
efeito. O uso indivíduo das coisas da sociedade pode importar, todavia, a
Universidade Católica de Moçambique 126

sanção da exclusão do sócio, se, nos termos do art. 1003º-a CC se puder


considerar, no caso concreto, ou pela sequência dos casos, grave violação
cometida. Não pode deduzir-se da falta de referência a esta alínea, ao
contrário do que se faz no artigo seguinte, senão que, normalmente, o uso
das coisas da sociedade não apresenta gravidade exigida para a exclusão.

Pretende-se evitar, com a proibição de concorrência (art. 990º CC),


que o sócio se aproveite dos seus conhecimentos e da sua acção dentro da
sociedade para obter lucros para si próprio, em prejuízo dos outros sócios.
Mesmo, porem, que não haja concorrência desleal, deve razoavelmente
exigir-se de todo o sócio que dirija a sua actividade no sentido de obter os
melhores resultados para a sociedade, o que é praticamente incompatível
com o exercício da mesma actividade em benefício próprio.

A proibição só vale, pelo espírito da lei, em relação à actividade que a


sociedade efectivamente exerça, e não em relação àquelas que, embora
previstas no pacto social, não chegam a ser realizadas.

Estão previstas duas sanções para a concorrência proibida: a


responsabilidade pelos danos causados e a exclusão (art. 1003º-a CC).

110. Direitos dos sócios

a) Exprimir a sua vontade, em todas as fases relevantes da vida


societária de modo a concorrer para a formação da vontade social.
É nesse sentido que várias disposições exigem o consentimento
unânime de todos os sócios – arts. 989º, 990º e 995º CC; acordo
dos sócios – arts. 1007º, 1008º, 1011º, 1018º e 1019º CC; e a
deliberação da maioria – arts. 986º/3, 991º e 1005º

b) Fiscalização dos administradores (art. 988º CC) atribui dois


direitos de natureza e conteúdos diferentes: o direito à informação
mediante o qual o sócio pode obter em qualquer altura as
informações que necessite sobre os negócios da sociedade e
consultar os documentos a eles relativos; e o direito à prestação
de contas que o sócio pode exigir apenas periodicamente (art.
988º/2 CC).

c) Direito aos lucros


Universidade Católica de Moçambique 127

Corresponde à plena realização do interesse individual dos sócios,


determinante da celebração do contrato de sociedade.

A distribuição de lucros e perdas pelos vários sócios encontra-se


dependente de certas regras, constantes pelos vários sócios encontra-se
dependente de certas regras, constantes dos arts. 992º e 993º CC. Tratam-
se, no entanto, de regras supletivas, pelo que se os sócios determinarem
no contrato o método de proceder a essa repartição será esse o critério
que se aplica.

Não havendo qualquer convenção, os sócios participam nos lucros e


nas perdas da sociedade, segundo as proporções das respectivas entradas
(art. 992º/1 CC). O art. 992º/3 CC estabelece duas excepções quanto a
esta regra.

- À situação do sócio de indústria;

- À situação do sócio que apenas se obrigou a facultar à sociedade


o uso e fruição de uma coisa.

111. Proibição de pacto leonino

É nula, todas a cláusula que exclua um sócio da comunhão nos lucros


ou que o isente das perdas.

Não pode pôr-se em dúvida o acerto da solução. É a única aceitável,


pelo menos, na parte que se refere ao direito do sócio de participar nos
lucros. Este direito é um elemento essencial do próprio contrato. Sem ele,
não há sociedade, como resulta da própria noção do art. 980º CC que
alude explicitamente ao intuito de repartição dos lucros sociais.

A cláusula leonina não torna nulo o contrato; apenas atinge a cláusula


viciada, ou melhor, a participação do sócio abrangido pela cláusula. A
sanção é, porém, a da nulidade, com todas as suas consequências legais
(art. 286º CC) e não da anulabilidade.

112. A estrutura organizativa

No caso das sociedades civis, esta organização estrutura-se


unicamente numa relação de administração, mediante a qual se atribuem
Universidade Católica de Moçambique 128

poderes de gestão da empresa social a todos ou alguns dos sócios ou a


terceiros, que assumem a qualidade de administradores.

A administração constitui assim um órgão da sociedade enquanto


entidade jurídica, ao qual cabe prosseguir o seu objecto. Verifica-se, no
entanto, que a relação da administração adquire uma certa autonomia na
estrutura do contrato de sociedade, regulando-se pelas normas do
mandato (art. 987º/1 CC). Modalidades de exercício da administração:

- Administração disjunta (art. 985º/1 CC): os poderes da


administração concentram-se integralmente em cada um dos
administradores, podendo estes individualmente praticar os actos
que incumbem àquele órgão, sem necessidade do consentimento
nem sujeição às directivas dos outros;

- Administração conjunta (art. 985º/3, 4 e 5 CC): a administração


precisa do consenso de todos os administradores para praticar os
actos compreendidos na sua competência.

- Administração maioritária (art. 985º/3, 4 e 5 CC): exige-se


apenas uma deliberação maioritária.

Relações externas

113. Representação da sociedade

O art. 996º CC atribui a representação da sociedade aos


administradores nos termos do contrato ou da lei (art. 985º CC).

O poder da administração tem por conteúdo a possibilidade de exercer


a gestão da empresa comum, enquanto a faculdade de representação
compreende a imputação à sociedade dos actos praticados em seu nome.

Em princípio, as pessoas que têm poderes de administração é quem


goza de poderes de representação. Poderes de administração e poderes de
representação são, assim, dois aspectos ou duas faces da mesma posição
jurídica, reflectindo-se nos poderes de representação todo o conteúdo dos
poderes de administração atribuídos a cada sócio.

Como regra, todas as limitações aos poderes de representação dos


administradores são oponíveis a terceiros. É a estes que cabe, quando
Universidade Católica de Moçambique 129

contratam com a sociedade, averiguar quem são os administradores e


quem são os representantes dela.

Mas, se insto é assim em relação aos poderes representativos que


resultam do contrato, já não é assim, por força do art. 996º/25 CC em
relação aos poderes que resultam da extinção ou modificação dos poderes
de administração.

114. Responsabilidade pelas obrigações sociais

Refere o art. 997º CC que pelas dívidas sociais responde a sociedade,


e pessoal e solidariamente, os sócios.

A responsabilidade dos sócios pelas dívidas sociais representa apenas


uma garantia legal de obrigação alheia, juridicamente imputável à
sociedade. Essa garantia é imperativa, quando o sócio exerce a
administração ou quando os sócios a confiam exclusivamente a terceiros.
Mas essa imperatividade, explicável em virtude do princípio do risco de
empresa, não pode levar a subverter o facto de as obrigações serem
assumidas em representação da sociedade e portanto a este deverem ser
imputadas (art. 258º CC).

Referência bibliográfica
Código Civil de 1966, aprovado pelo Decreto-lei n.º 47.344 e tornado
extensivo às Província Ultramarinas pela Portaria Ministerial n.º 22.869 de 04
de Setembro de 1967.
Universidade Católica de Moçambique 130

Unidade 10
CONTRATO DE SOCIEDADE
COMERCIAL
Introdução

Sobre o contrato de sociedade commercial abordaremos os seguintes


temas:
PLANO DE EXPOSIÇÃO
1. Regras gerias de constituição.
2. O Contrato de sociedade.
3. Capacidade.
4. Legitimidade negocial.
5. Consentimento.
6. Objecto jurídico.
7. Causas
8. Forma.
9. Processo de constituição.
10. Acto de constituição.
11. O Registo de Contrato de Sociedade.
12. Publicação de Contrato de Sociedade.
13. Invalidade de contrato de sociedade.
14. Incapacidade
15. Ilegitimidade.

 Objectivos específicos:
 Identificar o contrato de sociedade comerciale e suas vicissitudes.
 Criticar o modelo de contituição das sociedades comerciais
Objectivos
Universidade Católica de Moçambique 131

O contrato de sociedade comercial

115. Regras gerais de constituição

Cada tipo de sociedade tem os seus requisitos especiais de


constituição. Mas também têm regras gerais aplicáveis a todas as
sociedades.

Uma vez decidida a constituição da sociedade, o primeiro passo a dar


é a obtenção de um certidão de reserva de nome/ firma ou denominação
social a requerer ao Registo das Entidades Legais, sem o qual o notário
não poderá lavrar a competente escritura de constituição.

A composição da firma ou denominação social obedece a várias


regras que vêm enunciadas no Código Comerciais e nos artigos. 16º a
41º, nomeadamente o princípio da novidade, a menção do objecto social e
da forma da sociedade .

O contrato de sociedade é um negócio formal e pode ser celebrado


por documento escrito assinado por todos os sócios, com assinatura
reconhecida presencialmente, e deve ser celebrado por escritura pública
no caso em que entrem bens imóveis(artigo 90º/ CCom). Os fundadores
que intervirem na escritura de constituição ficam solidariamente
responsáveis para com a sociedade pela inexactidão ou falsidade das
declarações quanto à realização das entradas (artigo 102º CCom).

Segue-se, o registo na Conservatório do Registo das Entidades


Legais da área da sede social e as publicações no Boletim da República.

A sociedade adquirirá personalidade jurídica com o registo definitivo


da constituição (artigo 85º CCom) e a sua firma ou denominação gozará
de protecção da exclusividade em todo o território nacional.

116. O contrato de sociedade

O contrato de sociedade está sujeito à disciplina geral dos contratos,


com as particularidades decorrentes da sua natureza de contrato de fim
comum e institucional.

Esta sua natureza jurídica implica uma execução prolongada no


tempo, uma sequência de comportamentos das partes através dos quais se
dá concretização ao vínculo contratual: é, pois um contrato de execução
Universidade Católica de Moçambique 132

continuada. Mas diferencia-se dos demais contratos desta espécie, na


medida em que a sua execução não se traduz em simples fluxos de
prestações e contraprestações, comissivas ou omissivas, mas sim na
criação e funcionamento de uma organização – a sociedade-instituição –,
a qual funciona segundo um conjunto de regras traçadas no contrato,
como ente dinâmico e mutável e se norteia por um escopo a que é
destinada (o objecto social: é, pois um contrato de organização).

Ademais, o conteúdo do contrato de sociedade é o que se encontra


disposto no artigo 92.º do CCom.

117. Capacidade

Como qualquer contrato, também o de sociedade resulta de um


conjunto de declarações de vontade, cuja validade depende de quem as
emita, possua capacidade de gozo (art. 67º CC) e de exercício de direitos
(art. 123º CC).

Em regra, tais capacidades existem, e as incapacidades são


excepções. Daí que o que interessa seja saber quem está incapacitado de
ser parte no contrato de sociedade, com a cominação de este ser inválido,
se nele participar o incapaz.

Em matéria de incapacidades, não há no Direito Comercial senão as


previstas na lei civil (art. 7º CCom).

118. Legitimidade negocial

A legitimidade substantiva ou negocial consiste na exigência de uma


certa posição de contraente quanto a outras pessoas ou aos bens objecto
do contrato, ou pelo menos, que o possa celebrar isoladamente ou sem
uma habilitação do interessado ou de outros interessados.

Assim, quanto às pessoas físicas em geral, embora em regra possa um


mesmo indivíduo ser sócio de múltiplas sociedades, existem excepções.
Por um lado, pode essa liberdade ser restringida por via convencional. E,
por outro lado as pessoas que forem sócios de responsabilidade ilimitada
de uma sociedade comercial estão sujeitas à proibição de concorrência
Universidade Católica de Moçambique 133

não autorizada à sociedade (artigos 9.º e 10.º CCom), daí resultando


restrições à sua legitimidade para se associarem em outras sociedades.

Quanto às pessoas casadas, cada cônjuge pode, sem autorização do


outro cônjuge, participar isoladamente em sociedades de responsabilidade
limitada, desde que as entradas se façam com bens móveis dos quais
tenha a administração e que não sejam utilizados na vida do lar ou como
instrumentos comuns de trabalho (artigo 110 da Lei da Família, Lei n.º
10/2006, de 24 de Agosto).

119. Consentimento

Este elemento reconduz-se ao acordo de vontades, o qual tem de ser


manifestado por todos os sócios de forma expressa, e visando a
constituição da sociedade através de escrito assinado por todos os sócio e
por escritura de escritura pública (artigo 90.º do CCom). Não são
admissíveis sociedades comerciais por manifestações de vontade tácitas.

120. Objecto

Objecto jurídico do contrato de sociedade é o complexo dos efeitos


jurídicos que o contrato visa produzir, o seu conteúdo.

Tais efeitos são os queridos pelos sócios ou determinados pela lei em


conformidade com a vontade daqueles, e variam de caso para caso,
manifestando-se através de regras pelas quais eles conformam o ente
social: os seus estatutos ou pacto social, que formam a lei interna da
sociedade, na qual são disciplinados e caracterizados, na medida
entendida como necessária, os assuntos dos sócios, aos seus órgãos e
respectivo funcionamento, ao início, duração e termo da instituição
social.

O Código Comercial define aspectos que devem ser focados no


contrato de sociedade (artigo 92º CCom):

a) A identificação do sócio e dos que em causa representação


outorguem no acto;

b) O tipo da sociedade ;
Universidade Católica de Moçambique 134

c) A firma da sociedade;

d) O objecto da sociedade, entendido no sentido do escopo social,


isto é, das “actividades que os sócios propõem que a sociedade
venha a exercer” ;

e) A sede da sociedade;

f) A duração;

g) O capital social, com indicação de modo e prazo da realização;

h) As participações do capital subscrito por cada um, a natureza de


entrada de cada um.

i) Consistindo a entrada em bens diferentes de dinheiro, a


descrição destes e especificação dos respectivos valores.

i) A data da celebração do contrato de sociedade.

121. Causas

Pode-se distinguir entre fim imediato ou causa-função, que define a


função económico-social do contrato e modela as suas estipulações; e o
fim mediato ou causa-motivo, a finalidade ou motivação última que
move os contraentes.

Quanto à causa-função ela consiste, no contrato de sociedade, na


constituição em si por disposição legal, a causa-função do contrato
constitutivo das sociedades comerciais apenas poderá diversificar-se entre
os vários tipos de sociedade consagrados na lei; a constituição de uma
sociedade não enquadrável num desses tipos vicia a sociedade quanto à
forma.

No que respeita à causa-motivo, não se trata propriamente do fim


particular de cada sócio, mas sim da finalidade derradeira comum a todos
os sócios: a consecução de lucros.

122. Forma

As sociedades civis não dependem de forma especial quanto à sua


constituição (art. 981º CC). Mas as sociedades comerciais estão sujeitas a
apertadas regras formais que se reconduzem no Código Comercial:
Universidade Católica de Moçambique 135

1) A celebração do contrato por escritura pública caso haja bens


imóveis (artigo 91.º do CCom);

2) O registo do contrato;

3) E a publicação do contrato de sociedade.

123. O processo complexo de constituição

Em regra as sociedades comerciais constituem-se por mera vontade


dos associados, sem necessidade de qualquer autorização administrativa,
podendo-se, por isso, afirmar que se consagrou um sistema livre de
constituição. Contudo, o processo de constituição de uma sociedade
comercial encontra-se, em parte subtraído à liberdade contratual porque o
legislador predeterminou as etapas que devem ser cumpridas.

124. O acto constitutivo inicial

Ergue o “esqueleto” da entidade/sociedade comercial. Em regra, o


propósito de constituir uma sociedade comercial assenta num acordo em
que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou serviços
para o exercício em comum de certa actividade económica, que não seja
de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa actividade
(art. 980º CC). Tendo as partes decidido exercer em comum uma
actividade comercial, devem adoptar um dos tipos previstos no Código
das Sociedades Comerciais (artigo 83.º do CCom).

a) Natureza contratual, em regra, do acto inicial de constituição:

A sociedade comercial nasce por força da iniciativa privada e o acto


constitutivo inicial é um contrato de sociedade que reúne duas ou mais
pessoas.

O artigo 90.º do CCom, prescreve que o contrato de sociedade pode


ser celebrado por documento escrito assinado por todos os sócios, com
assinatura reconhecida presencialmente, devendo ser celebrado através de
escritura pública no caso em entrem bens imóveis – o que patenteia o
carácter formal e não consensual deste negócio.

O artigo. 92º CCom, refere as menções obrigatórias exigidas para


qualquer contrato de sociedade comercial. Um contrato de sociedade
Universidade Católica de Moçambique 136

comercial a que falte a menção da firma, da sede, do objecto e do capital


social, bem como do valor da entrada de algum sócio ou de prestações
realizadas por conta desta, é ineficaz e nos termos dos arts. 42º e 43º
CSC, essa nulidade pode ser invocada depois do registo definitivo do
contrato de sociedade.

A lei impõe que o contrato de sociedade contenha além das menções


referidas, uma série de menções específicas de cada um dos tipos sociais.

b) Regime das relações com terceiros antes da celebração da


escritura pública

Pese embora o facto de o contrato de sociedade não reduzido a


escritura pública ser nulo (artigo 99.º do CCom), a realidade jurídica
mostra que, por vezes, os sócios não esperam pela formalização do
contrato para iniciarem a actividade que, segundo o seu acordo, constitui
o objecto da “sociedade em formação”.

Os negócios celebrados com terceiros em nome da sociedade em


formação são válidos (artigo 100.º do CCom). Em sede das relações com
terceiros entende-se que as normas do Código Civil conferem protecção
razoável aos interesses dos credores, nos termos do art. 997º/149[4] CC,
seja qual for o tipo societário escolhido pelos sócios.

c) Regime das relações da sociedade com terceiros no período


compreendido entre a celebração da escritura pública e o registo
definitivo do contrato de sociedade

Celebrada a escritura pública, cumpriu-se mais um passo na


constituição da sociedade comercial, pois há agora um contrato social
válido, gerador de direitos e obrigações para os seus subscritores (artigo
86.º do CCom). Contudo, a entidade criada ainda não goza de
personalidade jurídica . Este facto também não impede que os sócios
comecem ou continuem a exercer o objecto social, o que coloca
novamente entre outros, o problema da determinação das
pessoas/patrimónios responsáveis pelo cumprimento das obrigações
contraídas em nome da sociedade, no período compreendido entre a
escritura pública e registo definitivo do contrato de sociedade.
Universidade Católica de Moçambique 137

Pelos negócios realizados em nome de uma sociedade em nome


colectivo, com acordo expresso ou tácito de todos os sócios, respondem
ilimitada e solidariamente todos os sócios, presumindo-se o referido
consentimento. Se, eventualmente, os negócios realizados não tiverem
sido autorizados por todos os sócios, respondem pessoal e solidariamente
aqueles que os realizaram e autorizaram (artigo 89.º do CCom).

d) Regime das relações entre sócios antes do registo

Nos termos do artigo 100.º CCom, no período compreendido entre a


celebração da escritura pública e o registo definitivo do contrato de
sociedade são aplicáveis às relações entre os sócios, com as necessárias
adaptações, as regras estabelecidas sobre as sociedades civis.

125. O registo do contrato de sociedade

O registo comercial publicita certos factos respeitantes a


determinados sujeitos, tendo em conta a segurança do tráfico ou comércio
jurídico. Ora, os terceiros têm todo o interesse em conhecer os termos do
contrato de sociedade e as suas alterações, estatui que o contrato de
sociedade, depois de celebrado na forma legal, deve ser inscrito no
registo comercial

O principal efeito associado ao registo definitivo do contrato de


sociedade reside na aquisição de personalidade jurídica da sociedade
comercial.

Nos termos do art, o registo definitivo do contrato de sociedade


determina a assunção automática dos negócios jurídicos aí referidos. Já os
negócios referenciados no a só serão assumidos pela sociedade se houver
uma decisão da administração, que deve ser comunicada à contra parte no
prazo de 90 dias posteriores ao registo.

O contrato de sociedade é um facto sujeito a registo é um facto sujeito


a registo obrigatório. O pedido de registo definitivo do contrato de
sociedade deve ser apresentado no prazo de três meses a contar da data
em que o contrato tiver sido titulado. Se titulado o contrato de sociedade,
não for solicitado o registo definitivo do mesmo, incorre a sociedade nas
sanções previstas na lei, sendo o conservador da área da sede da
Universidade Católica de Moçambique 138

sociedade competente para conhecer as contra-ordenações e para aplicar


as coimas respectivas.

O pedido de registo de contrato de sociedade deve ser efectuado pelos


representantes ou pelas pessoas que nele tenham interesse, sendo
territorialmente competente a conservatória em cuja área estiver situada a
sede estatutária da sociedade.

126. Publicação do contrato de sociedade

Os actos relativos à sociedade estão sujeitos a registo e publicação nos


termos da lei respectiva. Esta exigência legal visa reforçar a possibilidade
de conhecimento do contrato de sociedade por parte de todos os que
entram em relação com a sociedade.

De acordo com o art. 58.º CCom, é obrigatória a publicação dos


actos “previstos no art. 3º Regulamento do Registo das Entidades Legais,
quando respeitem a sociedades por quotas, anónimas ou em comandita
por acções, desde que sujeitos a registo obrigatório”.

O art. 59º CCom, estabelece a oficiosidade da publicação, querendo-


se com isto significar que a promoção das publicações cabe ao
conservador do registo comercial e não aos interessados. Realizada a
publicidade exigida por lei, considera-se concluído o processo
constitutivo das sociedades comerciais.

A falta de publicação determina a inoponibilidade da sociedade


perante terceiros. Na verdade e de acordo com o CCom, a sociedade não
pode por a terceiros actos cuja publicação seja obrigatória sem que esta
esteja efectuada, salvo se a sociedade provar que o acto está registado e
que terceiro tem conhecimento dele.

127. Invalidades do contrato de sociedade

a) Vícios do contrato de sociedade: invalidades antes do registo

De acordo com o artigo 101º CCom, no período anterior ao registo


definitivo, a invalidade do contrato de sociedade, seja qual for o tipo de
sociedade em causa, a invalidade do contrato rege-se pelas disposições
aplicáveis aos negócios jurídicos nulos ou anuláveis. Os interesses em
Universidade Católica de Moçambique 139

presença ficam cabalmente satisfeitos com a remissão para as disposições


do Direito Civil que prevêem os vícios invocáveis e os pressupostos da
sua relevância.

O artigo 101, atento aos interesses em causa, ressalvou duas


excepções:

1) Em matéria de consequências jurídicas da declaração de


nulidade;

2) A invalidade resultante de vício da vontade ou de usura só é


oponível aos demais sócios.

b) Vícios das declarações singulares dos contraentes e invalidade


do contrato

Pode acontecer que o vício existente afecte tão-só a participação de


um ou mais sócios. Em princípio, as consequências desse vício serão
limitadas à participação desse ou desses sócios.

i) Antes do registo

Determina o artigo 101.º do CCom, que enquanto o contrato de


sociedade não estiver definitivamente registado a invalidade de uma das
declarações negociais rege-se pelas disposições aplicáveis aos negócios
jurídicos nulos ou anuláveis.

Havendo a declaração de nulidade ou a anulação de uma das


declarações negociais, operar-se-á uma redução do negócio jurídico se se
cumprirem os pressupostos definidos pelo art. 292º CC.

ii) Depois do registo

O sócio que obtiver a anulação da sua declaração negocial, tem


direito a reaver o que prestou e não pode ser obrigado a completar a sua
entrada, mas se a anulação se fundar em vício da vontade ou usura, não
ficará liberto, em face de terceiro, da responsabilidade que por lei lhe
competir quanto às obrigações da sociedade anteriores ao registo da
acção ou da sentença.

c) Consequências da invalidade total do contrato


Universidade Católica de Moçambique 140

Em sede de consequências da declaração de invalidade do contrato de


sociedade, o legislador afastou-se significativamente do regime do
Direito Civil. Segundo o art. 289º CC, tanto a declaração de nulidade
como a anulação de um negócio tem eficácia retroactiva, devendo ser
restituído tudo o que tiver sido prestado. Diferente é a solução do artigo
101.º do CCom, porquanto “a declaração de nulidade e a anulação do
contrato de sociedade determinam a entrada da sociedade em
liquidação” (artigo 101.º do CCom). Portanto, a declaração de nulidade
ou a anulação do contrato social leva à liquidação da sociedade,
praticamente como se se tratasse de uma sociedade efectivamente
constituída. Assim, a eficácia dos negócios jurídicos concluídos
anteriormente em nome da sociedade não é afectada pela declaração de
nulidade ou anulação do contrato social, nem a “invalidade do contrato
de sociedade exime os sócios do dever de realizar ou completar as suas
entradas nem tão-pouco os exonera da responsabilidade pessoal e
solidária perante terceiros quem, segundo a lei, eventualmente lhe
incumba”.

128. Incapacidade

No caso de um dos participantes num contrato de sociedade padecer


de incapacidade – menores, interditos, inabilitados – a consequência em
face do Direito Civil, será a anulabilidade da respectiva participação na
sociedade (arts. 125º/1; 126º; 148º a 150º; 156º e 257º CC).

Esta anulabilidade pode ser arguida nas condições temporais


dispostas no art. 287º/1 e 2 CC e pelas pessoas que o art. 287º/1 CC se
refere.

Antes de registado o contrato, aplicam-se as regras gerais do Código


Civil, sendo a invalidade oponível pelo próprio incapaz ou pelo seu
representante legal, tanto aos outros sócios como a terceiros.

Quanto aos contratos já registados, há que distinguir consoante o tipo


de sociedade que se trate.

Ilegitimidade
Universidade Católica de Moçambique 141

Os casos de ilegitimidade não determinam sanção tipificada, pelo que


cada situação terá solução própria.

129. Vícios relativos à causa

No que toca à causa-função do contrato de sociedade, o vício que


parece concebível será, no caso de uma sociedade comercial, a não
constituição da sociedade segundo um tipo legal, que gerará nulidade, por
ofensa do artigo 82.º do CCom (art. 281º CC). Mas a não obediência à
tipicidade obstará, desde logo, à celebração da escritura, o que dará
origem a outro tipo de vícios (de forma)

Quanto à causa-função se forem os desígnios dos contraentes que


forem lesivos da lei, da ordem pública ou dos bons costumes, o contrato
será nulo, nos termos do art. 281º CC, cujo comando é aplicável no
domínio das sociedades comerciais.
50[4]
Artigo 997.º (Responsabilidade pelas obrigações sociais)

1. Pelas dívidas sociais respondem a sociedade e, pessoal e solidariamente, os sócios.

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 95 à 104.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 203-
224.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 193.
Universidade Católica de Moçambique 142

Exercícios
Exercícios

a) Alberto, nacsido em 1992, herdou de sua avó uma jíoa valiosa. Porque
queria criar uam sociedade comercial com Bernardo, seu amigo de
infância que sofria de anomalia psíquica e por isso era inabilitado por
sentença transitada em julgado, vendeu a juia por 200 mil meticais.

Como else não dominavam a arte de fezer comércio, convidaram


Carlos, de 30 anos de idade que já gozava de fama de ser empresário
comercial de fino trato para celebração do respectivo contrato, mas que
a sua sociedade havia falido por causa dos efeitos da crise finaceira
mundial.

Para tal o efeito, e por meio de um contrato celebrado por escritura


pública com assinaturas reconhecidas presencialmente contruiram a
ABC, Lda. O capital social subscrito e realizado foi 100 mil meticais
sendo que Carlos comprometeu-se a participar com a força de trablho
qua avaliada em 30 mil meticais e Bernardo entrou com pequeno
apartamento avaliado em 40 mil meticais onde funcionaria a sociedade.

Posteriorimente, Alberto e Bernardo que seriam amigs de infância,


comprometeram-se mutuamente, através de um documento escrito, quês
as propostas feitas por um deles sobre assuntos da ABC, Lda. deveriam
ser necessariamente aprovadas por outro. Logo de seguida, Alberto
apresentou uma proposta segundo a qual, a ABC, Lda. seria fiadora de
uma dívida contraída por sua namorada no Banco Nunca Dá para
aquisição de uma quinta no Dondo. Bernardo votou a favor e assim foi .
Quid iuris?

b) Imagine que António, Bento, Carlos, Diogo e Eduardo e, Novembro de


2006 constituiram uma sociedade por quotas com o capital de 150 mil
meticais, dividido em conco quotas iguais. Aquando da constituição da
sociedade, cada um dos sócio realizaram 25% da sua quota mediante a
entrega à sociedade de diversos bens nos termos da lei. Ficando
acordado que o capital em falta seria realizado em dinheiro, em duas
prestações, a venceram-se em 5 anos, após a constituição ad sociedade.
António, bento e Carlos realizaram as suas prestações, mas Diogo e
Eduardo não a fizeram. Quid iuris?
Universidade Católica de Moçambique 143

Unidade 11
SITUAÇÃO JURÍDICA DOS
SÓCIOS
Introdução
Neste capitolo abordaremos os seguintes temas:
Plano de exposição:
1. Natureja jurídica das participações sociais.
2. Capital social.
3. Obrigações dos sócio.
4. Direitos dos sócio.
5. Direito a informação.
6. Direito dos lucros.
7. Direito do voto.
8.
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Objectivos específicos:
 Conhecer a natureza juridical dos sócio
 Conhecer o direito dos sócios de perceber os lucros.
Objectivos

Situação jurídica dos sócios

Natureza jurídica da participação social

130. Noção

O sócio entra para a sociedade com uma contribuição patrimonial em


dinheiro ou em espécie assumindo, em contrapartida o “status” de sócio.
Universidade Católica de Moçambique 144

A posição jurídica de sócio respeita, pois directamente à sociedade e


não se estabelece entre os sócios; é uma consequência da personalidade
jurídica daquela.

A participação social ou socialidade é o conjunto de direitos e


obrigações actuais e potenciais do sócio. O sócio tem desde logo direito a
quinhoar nos lucros, a participar nas deliberações de sócios, a obter
informações sobre a vida da sociedade e a ser designado para os órgãos
de administração e de fiscalização a sociedade(104.º, 107.º do CCom).
Por outro lado, os sócios são obrigados a realizar as suas entradas e a
quinhoar nas perdas (artigos104.º, 108.º do CCom).

O sócio adquire, face à sociedade uma situação jurídica complexa,


composta por posições activas e passivas, direitos e obrigações. A fonte
desses direitos e obrigações é o micro-ordenamento resultante da
personalidade jurídica da sociedade a que o sócio aderiu mediante a
subscrição ou aquisição da sua participação.

A situação jurídica do sócio tem de se moldar às finalidades da


sociedade como estrutura jurídica da empresa e fica sujeita a três
princípios:

1) Princípio do interesse social: corresponde ao interesse da


empresa como entidade colectiva que constitui o substrato da
sociedade comercial;

2) Princípio da finalidade lucrativa: a sociedade tem por definição,


uma finalidade lucrativa – art. 980º CC – e os sócios, ao entrarem
para a sociedade fazem-no interessadamente; ao transmitirem a
sua entrada de bens para a sociedade, esperam obter uma
vantagem patrimonial que pode consistir na distribuição de
indivíduos, na valorização da sua participação ou no direito ao
“bónus” da liquidação.

3) Princípio da igualdade de tratamento: encontra-se


expressamente consignado no artigo 36.º da Constituição da
República de Moçambique. Mas em direito privado, o princípio da
igualdade de tratamento colide com o princípio da liberdade
contratual – art. 405º/1 CC.
Universidade Católica de Moçambique 145

No direito societário, o princípio da igualdade de tratamento não está


expressamente consagrado, como tal, mas resulta indirectamente de
vários artigos do Código Comercial. – e da vontade negocial tácita dos
sócios, na ausência de qualquer estipulação no pacto social em sentido
contrário.

Uma vez constituída a sociedade, o princípio da igualdade de


tratamento poderá intervir em várias situações, normalmente para
protecção de minorias, nomeadamente:

1) Na exigência do pagamento das entradas de capital;

2) No chamamento de prestações suplementares;

3) Na participação dos lucros e nas perdas;

4) Na atribuição do direito do voto;

5) Nas deliberações dos sócios;

6) Nos aumentos de capital social.

131. Capital social

É o elemento do pacto social que se consubstancia numa cifra


tendencialmente estável, “representativa da soma dos valores nominais
das participações sociais fundadas em entradas em dinheiro e/ou em
espécie.

No plano interno, nas relações que se estabelecem ad intra – dentro


da sociedade – o capital pretende desempenhar:

- Uma função de determinação da posição jurídica do sócio (de


determinação dos seus direitos e obrigações);

- Uma função de “arrumação” do poder entre sócios;

- Uma função de produção.

No plano externo, no âmbito das relações ad extra – para fora da


sociedade – onde o capital social realiza igualmente funções de maior
relevância, nomeadamente:
Universidade Católica de Moçambique 146

- A função de avaliação económica da sociedade; e

- A função de garantia.

Princípio da intangibilidade: o capital social diz-se intangível,


querendo com isso significar, que os sócios “não podem tocar” no
capital social, aos sócios não poderão ser atribuídos bens nem valores que
sejam necessários à cobertura do capital social.

As obrigações dos sócios

132. Obrigações de entrada

No contrato de sociedade os sócios subscrevem uma participação


social – constituída por partes sociais, quotas ou acções – e obrigam-se a
realizar ou liberar o respectivo valor (art. 980º CC).

Com a subscrição da participação social constitui-se a obrigação de


entrada; a realização ou liberação do capital social é o acto de
cumprimento dessa obrigação. As entradas dos sócios podem ser:

1) Entradas em dinheiro

A entrada inicial tem de ser depositada numa instituição de crédito


antes da constituição da sociedade, como forma de controle, mas pode ser
levantada após o registo da sociedade e, mesmo, antes, quando os sócios
autorizem o seu levantamento pelos administradores para fins
determinados, nomeadamente os encargos com a constituição, instalação
e funcionamento da sociedade.

Se o sócio não efectuar a entrada no prazo estipulado entra em mora


depois de interpelado para efectuar o pagamento e fica sujeito às sanções
legais e estatutárias

2) Entradas em espécie

Têm de ser claramente descritas no acto constitutivo da sociedade e


podem consistir na transmissão de propriedade de coisas móveis ou
imóveis, inclusive de um estabelecimento comercial, na transmissão de
direitos da propriedade industrial, ou na transmissão de créditos,
incluindo os próprios suprimentos à sociedade.
Universidade Católica de Moçambique 147

3) Entradas em trabalho

Correspondem aos chamados sócios de indústria, que só são


admitidos nas sociedades em nome colectivo (artigo 253º CCom) e nas
sociedades em comandita quanto aos sócios comanditários (artigo 270º
CCom).

133. Obrigações de prestações acessórias e suplementares

O Código Comercial prevê a possibilidade de os estatutos


estipularem, para além das obrigações de entrada, obrigações de
prestações acessórias.

Estas prestações acessórias podem consistir, para além da obrigação


de prestação de um serviço ou trabalho, na obrigação de ceder o gozo à
sociedade de determinada coisa, móvel e/ou imóvel, ou de mutuar certa
importância a título gratuito ou oneroso.

134. Dever de lealdade

O sócio está adstrito a um dever de lealdade e colaboração, que


constitui um dever acessório de conduta em matéria contratual e um
dever geral de respeito e de agir de boa fé.

Este dever é tanto mais alargado quanto maior for a “affectio


societatis” do tipo societário e abrange mesmo a proibição do sócio
exercer actividades concorrentes com a actividade social nas sociedades
civis (art. 900º CC) e nas sociedades em nome colectivo.

Direitos dos sócios

135. Direito à qualidade de sócio

É o direito de o sócio não ser arbitrariamente excluído pela maioria.

- Limites

Princípio da conservação da empresa, que é uma aplicação do


princípio do interesse social, o sócio, que pelo seu comportamento lesivo
dos interesses sociais possa fazer perigar a subsistência da empresa,
poderá ser afastado da sociedade, para salvaguarda da própria empresa.
Universidade Católica de Moçambique 148

Na verdade, nesse caso, o sócio não estaria ao exercer o direito à


qualidade de sócio de acordo com a sua função social, mas sim numa
situação de abuso de direito.

De igual modo, o aproveitamento da qualidade de sócio para praticar


actos lesivos do interesse social é uma manifesta violação do princípio da
boa fé.

- Casos legais de exclusão de sócios

A lei prevê os seguintes casos legais de exclusão de sócios:

· Falta de realização das entradas;

· Falta de realização das prestações suplementares nas


sociedades por quotas;

· Exclusão por justos motivos;

· Aquisições tendentes ao domínio total.

Todavia, nenhum destes casos funciona automaticamente, isto é,


verificado o facto cabe aos sócios a faculdade de deliberarem, ou não, a
exclusão do sócio faltoso (artigo 108.º do CCom).

Para além da exclusão judicial por justos motivos, o Código


Comercial prevê ainda a possibilidade de exclusão do sócio através da
amortização forçada das quotas ou acções, verificados os casos
expressamente previstos nos estatutos da sociedade mediante simples
deliberações.

136. Direito à informação artigo 122.º do CCom

- Direito geral à informação

Tem contornos distintos em função do tipo de sociedade.

Nas sociedades em nome colectivo, o direito à informação é pleno e


ilimitado, embora tenha de ser exercido pessoalmente pelo sócio, que,
contudo, se pode fazer acompanhar de um perito.

Nas sociedades por quotas o direito à informação é, em princípio,


pleno, embora os estatutos possam estabelecer limites e regulamentá-lo,
Universidade Católica de Moçambique 149

contanto que não seja impedido o seu exercício efectivo ou


injustificadamente limitado.

Nas sociedades anónimas o direito geral à informação varia


consoante a percentagem de capital detido pelo accionista ou grupo de
accionistas que queira exercer o direito em conjunto.

- Direito à informação preparatória das assembleias-gerais:

Consiste no direito de os sócios consultarem, na sede social, desde a


data da convocação da assembleia-geral.

A falta de fornecimento das informações podem determinar a


anulabilidade da deliberação.

- Direito à informação nas assembleias-gerais

Consiste no direito do sócio a que lhe sejam prestadas na assembleia-


geral informações verdadeiras, completas e elucidativas sobre a sociedade
e sociedades coligadas, que lhe permitam formar opinião fundamentada
sobre os assuntos sujeitos a deliberação.

137. Direitos aos lucros artigo 104.º, n.º 2, e 109.º do CCom

O direito aos lucros é um direito fundamental dos sócios, pois ele é a


causa da sua participação na sociedade.

É inderrogável e irrenunciável, embora possa ser renunciável em


concreto, após a aquisição pelo sócio do direito a determinado dividendo.

É nula a cláusula que exclui um sócio da comunhão nos lucros, ou


que o isente de participar nas perdas da sociedade, salvo o disposto
quanto a sócios de indústria, que não são admissíveis nas sociedades de
responsabilidade limitada.

Artigo 108.º do CCom estabelece um princípio supletivo: os sócios


participam nos lucros e nas perdas da sociedade segundo a proporção dos
valores nominais das respectivas participações no capital. Preceito
especial é o alínea b) do artigo 278.º do CCom, que isenta o sócio de
indústria de participar nas perdas.

1) Conceito de lucro distribuível


Universidade Católica de Moçambique 150

Os lucros são apurados relativamente ao conjunto dos exercícios e


não para cada exercício isoladamente. Vigora aqui o princípio da
solidariedade dos exercícios sociais: no cálculo dos lucros não é possível
considerar os lucros de um só exercício, fazendo abstracção dos que o
precederam e dos resultados relativos.

Só haverá lucro distribuível quando o activo da sociedade for superior


à cifra do capital social e da reserva legal, antes disso não poderá haver
distribuição de quaisquer dividendos ou entrega de quaisquer bens aos
sócios. A tal se opõe o princípio da intangibilidade do capital social.

2) Necessidade de deliberação social

A regra é a de que nenhuma distribuição de lucros ou de bens sociais


pode ser afectada sem ter sido objecto de prévia deliberação dos sócios
(artigo 110.º do CCom) e a deliberação da distribuição de lucros tem de
ser precedida da prévia aprovação das contas.

3) Direito a uma distribuição periódica de lucros.

138. Direito de voto, artigo 120.º n.º 3, do CCom

É um direito fundamental do accionista, também inderrogável e


irrenunciável.

Todavia, nas sociedades anónimas, há um caso que os accionistas não


têm direito de voto: são os titulares das chamadas acções preferenciais
sem voto, que em contrapartida, conferem direito a um dividendo
prioritário. Mas mesmo nestas acções, se o dividendo prioritário não for
pago aos accionistas durante dois exercícios, eles passam a poder exercer
o direito de voto.

O princípio do interesse social reflecte-se no impedimento do direito


de voto em caso de conflito de interesses entre o sócio e a sociedade.

Assim, o sócio está impedido de votar nomeadamente nas


deliberações que recaíam sobre:

a) Liberações de obrigações dos sócios;

b) Litígios entre o sócio e a sociedade;


Universidade Católica de Moçambique 151

c) Relações entre o sócio e a sociedade estranhas ao contrato


social;

d) Exclusão do sócio;

e) Consentimento para o administrador exercer actividades


concorrentes com a sociedade;

f) Destituição com justa causa dos administradores ou membros


do conselho fiscal.

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 95 à 104.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 225-
230.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 193.
Universidade Católica de Moçambique 152
Universidade Católica de Moçambique 153

Unidade 12
OS ÓRGÃO DAS SOCIEDADES
COMERCIAIS
Introdução
Neste capitolo abordaremos os seguintes temas:
Plano de exposição:
1. Órgão da sociedade comercial
2. Noção e classificação.
3. Assembleia geral.
4. Administração.
5.
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Objectivos específicos:
 1. Conhecer as regras e princípios do direito constitucional;
 2. Identificar os órgãos e funções dos órgãos constitucionais;
Objectivos
 3. Conhecer os actos constitucionais.

Os órgãos das sociedades comerciais

139. Noção e classificação

As sociedades comerciais, como pessoas colectivas (artigo 127º CC),


formam e manifestam a sua vontade através dos órgãos sociais.

Mas, vigora aqui o princípio da tipicidade: os órgãos com poderes


deliberativos e força vinculativa são apenas aqueles que a lei prevê e no
âmbito das respectivas competências.
Universidade Católica de Moçambique 154

São, órgãos de uma sociedade as entidades ou núcleos de atribuição


de poderes que integram a organização interna da sociedade e através dos
quais ela forma, manifesta e exerce a sua vontade de pessoa jurídica.

Classificação dos órgãos:

Há vários tipos de órgãos classificáveis, segundo dois critérios:

a) Critério de número de titulares:

- Órgãos singulares: composto por um só titular;

- Órgãos plurais ou colectivos: composto por dois ou mais


titulares (assembleias, conselhos etc.).

b) Critério das funções dos órgãos:

- Deliberativos: são órgãos que formam a vontade da sociedade,


aprovando directrizes fundamentais que deverão ser acatadas pelos
outros órgãos;

- De administração (também chamados executivos ou directivos):


são os que praticam os actos materiais ou jurídicos de execução da
vontade da sociedade.

- De fiscalização ou de controlo: são os que verificam a


conformidade da actividade dos outros órgãos com a lei e os
estatutos, denunciando as irregularidades que descubram.

Os órgãos sociais reconduzem-se a pessoas ou grupos de pessoas que


são os titulares dos órgãos.

Nos órgãos plurais, podem ainda distinguir-se quanto ao modo de


funcionamento:

a) Sistema disjuntivo: quando cada um dos vários titulares pode


exercer isolada e independentemente, por si só, as funções dos
órgãos.

b) Sistema colegial ou conjuntivo: quando os diversos titulares


devem agir colectivamente, segundo a regra da maioria ou até por
unanimidade.

As sociedades são compostas pelos seguintes órgãos:


Universidade Católica de Moçambique 155

a) A Assembleia-geral;

b) A Administração;

c) O conselho Fiscal ou Fiscal único;

A Assembleia-geral

140. Noção

A Assembleia-geral é o órgão supremo das sociedades, que tem


poderes inclusive para modificar os estatutos, verificados certos
pressupostos. Todavia, é um órgão deliberativo, competindo as funções
executivas e de representação externa ao órgão da administração.

A Assembleia-geral deve reunir ordinariamente, todos os anos, para


deliberar (artigo 132.º CCom).

Pode ainda reunir extraordinariamente sempre que seja convocada


por quem de direito para deliberar sobre matérias da sua competência e
que constem da respectiva convocatória.

141. Processo deliberativo

1) Convocação e funcionamento

A convocatória deve conter obrigatoriamente as menções referidas no


art. 134.º CCom.

A ordem do dia deve mencionar claramente o assunto sobre o qual se


vai deliberar.

A Assembleia-geral poderá no entanto deliberar sobre questões


incidentais, que decorrem directamente da ordem de trabalhos, como é o
caso da destituição e da acção de responsabilidade contra os
administradores, que podem ser deliberadas na Assembleia-geral
convocada para apreciar as contas do exercício (artigo 129.º do CCom).
Universidade Católica de Moçambique 156

A Assembleia-geral de reunir-se na sede social, salvo se quem


convocou a Assembleia-geral escolher outro local, dentro da comarca da
sede, por falta de condições adequadas das instalações da sociedade.

2) Formas de deliberação

Os sócios deliberam normalmente em Assembleia-geral reunida


mediante convocatória efectuada de acordo com os preceitos legais.

Mas o Código das Sociedades Comerciais admite também as


deliberações unânimes por escrito, independentemente de convocatória e
de reunião dos sócios, desde que todos os sócios estejam de acordo
quanto a essas deliberações.

Destas distinguem-se as assembleias universais, porquanto aqui tem


de haver reunião efectiva de todos os sócios da sociedade, mas basta que
todos estejam de acordo em que se delibere sobre certas matérias,
independentemente da existência ou regularidade da convocatória,
podendo depois a deliberação ser tomada pela maioria legal.

Os sócios não podem votar quando relativamente à matéria de


deliberação se encontrem numa situação de conflito de interesses com a
sociedade, contêm uma indicação exemplificativa destas situações.

As deliberações sociais seja qual for o modo como foram tomadas,


têm de ser vertidas para um documento escrito sob pena de não poderem
ser provadas (artigo 147.º CCom) – a acta.

142. Noção e formas de deliberação dos sócios

O conjunto dos sócios – órgãos comuns a todos os tipos de sociedade


comercial – decide mediante “deliberação”.

O Código das Sociedades Comerciais também apelida de deliberação


aquelas decisões tomadas sem reunião de sócios, como é o caso das
“deliberações unânimes por escrito” e das “deliberações por voto
escrito” .
Universidade Católica de Moçambique 157

a) Deliberações tomadas em Assembleia-geral convocada e


deliberações tomadas em assembleia universal

As deliberações tomadas em Assembleia-geral convocada têm um


ponto em comum com aquelas tomadas em assembleia universal: ambas
resultam de uma reunião de sócios. Mas distinguem-se umas das outras
quanto a um aspecto do seu procedimento: ao invés das primeiras, as
segundas são adoptadas numa assembleia que não foi procedida de um
acto de convocação dirigido a todos os sócios, mas que todos estiveram
presentes e, além disso, em que todos manifestaram vontade de que a
assembleia se constituísse e deliberasse sobre determinado assento.

Só ocorre uma assembleia universal mediante a verificação


cumulativa de três pressupostos:

1) Presença de todos os sócios;

2) Assentimento de todos os sócios em que a assembleia se


constitua;

3) Vontade também unânime de que a assembleia a constituir


delibere sobre determinado assunto.

Uma vez constituída validamente a assembleia universal, esta se rege


pelos mesmos preceitos legais e contratuais relativos ao funcionamento
das Assembleias-gerais convocadas.

b) Deliberações unânimes por escrito

Estas, não são adoptadas em assembleia dos sócios. A derrogação ao


chamado “método de assembleia” justifica-se aqui com a desnecessidade
ou inutilidade de tal método quando os sócios tenham uma opinião
unânime.

c) Deliberações por voto escrito

Só são admitidas nas sociedades por quotas e em nome colectivo. De


semelhante entre as deliberações por voto escrito e as deliberações
unânimes por escrito existe a ausência de uma reunião de sócios. Porém,
ao passo que as ultimas resultam do voto unânime de todos os sócios –
todos os sócios votam no mesmo sentido; as deliberações por escrito,
seguindo o processo fixado, não têm de ser aprovadas por unanimidade
Universidade Católica de Moçambique 158

para que sejam válidas, antes podem resultar da mesma maioria exigida
para a aprovação de idêntica deliberação em assembleia de sócios.

143. A invalidade das deliberações

As deliberações dos sócios regem-se pela lei geral, e em particular


pelo Código das Sociedades Comerciais e legislação conexa, assim como
pelo micro-ordenamento constituído pelos estatutos.

Assim, em caso de violação da lei ou dos estatutos, as deliberações


são inválidas.

Nas deliberações sociais contrárias à lei ou aos estatutos a regra é a


invalidade: só nos casos mais graves taxativamente enumerados no art.
56º CSC é que as deliberações são nulas.

Vigora aqui o princípio da estabilidade das deliberações sociais,


uma vez que a anulabilidade de uma deliberação pode afectar em cadeia
outras deliberações conexas e actos de administração.

a) Deliberações ineficazes

A figura da ineficácia das deliberações justifica-se nos casos em que a


imperfeição da deliberação não se traduz nem numa anulabilidade nem se
traduz numa nulidade.

O o artigo 141.º do CCom sugere que só serão ineficazes aquelas


deliberações que requeiram o consentimento de “determinado sócio”,
isto é, só serão ineficazes as deliberações que afectem direitos especiais
dos sócios.

A ineficácia só ocorre quando a exigência do consentimento de


determinado sócio decorra da lei. Se, ao invés, for o contrato de
sociedade a impor, por exemplo, o consentimento de todos os sócios para
aprovar uma deliberação sobre determinado assunto, não se cumprindo
esse requisito, a deliberação será anulável.

b) Deliberações nulas

Estão sujeitas ao princípio da tipicidade, isto é, a nulidade só é


aplicável nos casos taxativamente enumerados no artigo 142º CCom
prevêem-se duas espécies de nulidades:
Universidade Católica de Moçambique 159

- Nulidades resultantes de vícios de formação:

· Deliberações tomadas em Assembleia-geral não convocada,


salvo se todos os sócios tiverem estado presentes ou
representados;

· Deliberações tomadas mediante voto escrito, sem que todos


os sócios com direito de voto tenham sido convidados a
exercerem esse direito, a não ser que todos eles tenham dado
por escrito o seu voto.

- Nulidade resultante de vícios de conteúdo:

· Deliberações cujo conteúdo não esteja, por natureza sujeito a


deliberação dos sócios;

· Deliberações cujo conteúdo, directamente ou por actos de


outros órgãos que determine ou permita, seja ofensivo dos bons
costumes ou de preceitos legais que não possam ser
derrogados, nem sequer por vontade unânime dos sócios.

c) Deliberações anuláveis

São aquelas que violando preceitos imperativos na lei ou dos


estatutos não estão abrangidos pelos casos de nulidade taxativamente
enunciados no art. 56º CSC. Deliberações essas que se podem reconduzir
a três categorias distintas previstas no artigo 143.º:

- Violação da lei não enquadrável, ou dos estatutos;

- Deliberações abusivas;

- Omissão de elementos mínimos de informação.

A deliberação é considerada abusiva, quando se verificar uma das


seguintes situações:

a) Exercício do direito de voto pela maioria para obtenção de


vantagens especiais para si ou para terceiros em prejuízo da
sociedade;

b) Exercício do direito de voto pela maioria para a obtenção de


vantagens especiais para si ou para terceiros em prejuízo dos
outros sócios;
Universidade Católica de Moçambique 160

c) Exercício do direito de voto pela maioria para causar prejuízo à


sociedade ou aos outros sócios.

A administração51

144. Estatuto dos administradores

Entende-se o complexo de direitos e obrigações que constituem a


situação jurídica decorrente da relação de administração, que se
pressupõe uma referência à natureza de administração, que se pressupõe
uma referência à natureza jurídica dessa relação.

1) Obrigações dos administradores:

i) Dever de diligência (art. 150º CCom);

ii) Dever de relatar a gestão e apresentar contas;

iii) Obrigação de não concorrência ;

iv) Obrigação de prestar informação aos sócios;

v) Obrigação de respeitar as deliberações das Assembleias-


gerais.

2) Direitos dos administradores:

a) Direito de não serem destituídos sem justos motivos;

b) Direito à remuneração;

c) Pensões de reforma.

3) Competência dos administradores

Uma vez nomeados os administradores têm competência genérica


para praticar todos os actos necessários ou convenientes à realização do
objecto social, tendo em conta os interesses dos sócios e dos
trabalhadores (artigo 151.º do CCom).

Os poderes dos administradores são portando os que resultam da lei e


dos estatutos da sociedade, sendo nulas as deliberações dos sócios que
retirem poderes aos gerentes.

51
ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 225-
263.
Universidade Católica de Moçambique 161

4) Vinculação da sociedade

Sendo a administração o único órgão com competência para


representação externa da sociedade, esta fica vinculada pelos actos
praticados pelos administradores, em nome da sociedade e dentro dos
poderes que a lei lhes confere, não obstante as limitações constantes dos
estatutos ou de deliberações dos sócios (art. 160º, 164.º, 165.º).

145. Responsabilidade dos administradores

No exercício das suas funções, os administradores, por acção ou


omissão, com preterição dos deveres legais ou contratuais podem causar
danos, quer à sociedade, quer aos sócios, quer a terceiros.

A sociedade responde por estes danos perante terceiros, nos termos


em que os comitentes respondem pelos actos dos comissários – arts. 149.º
CCom e 500º CC. A responsabilidade da sociedade é objectiva – não
depende de culpa – mas só terá lugar quando sobre o administrador
também recai a obrigação de indemnizar (art. 500º/1 CC).

Mas a responsabilidade dos administradores no plano societário é


tríplice:

1) Responsabilidade para com a sociedade;

2) Responsabilidade para com os sócios e terceiros;

3) Responsabilidade para com os credores sociais em particular.

146. Responsabilidade dos administradores para com a sociedade

A responsabilidade dos administradores para com a sociedade é


subjectiva, isto é, baseia-se na culpa, ainda que esta se presuma, ao
contrário da responsabilidade objectiva, em que a culpabilidade não é
elemento essencial.

Os pressupostos da responsabilidade dos administradores para com a


sociedade são: facto ilícito, culpabilidade, prejuízos, nexo de causalidade.

A ilicitude da conduta geradora de responsabilidade pode consistir na


violação do contrato ou da lei, por acção ou omissão.
Universidade Católica de Moçambique 162

O Código das Sociedades Comerciais estabelece, ainda uma série de


obrigações funcionais dos administradores, cuja inobservância poderá ser
fonte de responsabilidade dos administradores para com a sociedade. Exs:

1) Distribuição de dividendos fictícios,;

2) Falta de apresentação do relatório e contas anuais,;

3) Falsas declarações quanto à entrada dos sócios para realização do


capital social;

4) Falta de cobrança de entradas de capital;

5) Inobservância do princípio da intangibilidade do capital social


nomeadamente em caso de amortização de quotas;

6) Concorrência ilícita;

7) O abuso de informações,.

A culpabilidade dos administradores para com a sociedade presume-


se. Verificados os outros pressupostos de responsabilidade civil, é ao
administrador que competirá o ónus da prova da ausência de culpa.

O dano é sempre um pressuposto em qualquer tipo de


responsabilidade civil, subjectiva ou objectiva. A conduta ilícita do
administrador só dará lugar a responsabilidade civil se dela tiverem
decorrido prejuízos.

147. Responsabilidade dos administradores para com os credores


sociais52

Uma vez que se está perante uma responsabilidade directa dos


administradores para com os credores sociais e entre estes e a sociedade
não existe qualquer relação contratual, a responsabilidade aqui tratada é
necessariamente delitual ou aquiliana.

A responsabilidade, sendo delitual, é subjectiva e assenta na culpa


dos administradores, mas a culpa aqui não se presume. O art. 160.º do
CCom, ao remeter, deixa expressamente de fora a disposição da qual
resultava a presunção de culpa.

52
ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 225-
271.
Universidade Católica de Moçambique 163

A responsabilidade dos administradores para com os credores sociais


decorrentes, é pessoal. Por conseguinte, os credores accionarão a
administradores sem qualquer subordinação à acção social, a qual poderá
ter sido ou não intentada, e a acção aproveitará apenas os credores que a
propuserem.

148. Responsabilidade dos administradores para com os sócios e


terceiros

Os administradores no exercício das suas funções, podem lesar os


sócios e os terceiros em geral, incorrendo, assim, em responsabilidade
civil perante estes, desde que se verifiquem os restantes pressupostos,
facto ilícito e culpabilidade, art. 164.º CCom.

Dado que não existe qualquer relação contratual funcional entre os


administradores e os sócios ou terceiros, a responsabilidade será sempre
delitual, ou seja, decorre da violação de obrigações legais pré-existentes.

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 95 à 104.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 225-
230.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 193.
Universidade Católica de Moçambique 164

Exercícios
Exercícios

1. Em 05 de Janeior de 2009, Aimar, Binya e Cardoso celebrarm a


escritura de constituiçãi da SOQUOTAS, Lda., tendo desde logo Aimar
e Binya sido designados como Administradores. No dia seguinte
requereram a inscrição no registo comercial da cosntituição da
sociedade a qual, no entanto, veio a ser recusado 2 meses depois, nunca
tendo a sociedade sido registada. Durante esse período de dois meses,
Aimar e Binia celebraram diversos contratos na sua qualidade de
administradores com várias entidades. Quid iuris?

2. Nos termos do apcto social da sociedade Editora Doutor Maravilha,


Lda, todos os sócios são gerentes. Em Fevereiro de 2007, um dos
cincom sócios, António, invocando a qualidade de gerente, propôs a
Tipografia da Beira, Lda. a venda de uma impressora. A Tipografia da
Beira, Lda. eceitou a proposta e, para qua não restassem dúvidas sobre a
sua determinação, depositou imediatamente na conta bancária da
Editora Doutor Maravilha, Lda. o montante do preço. Porém, alguns
dias depois, a Tipografia recebeu nova Carta de Editora Doutor
Maravilha, Lda assinada por tres gerentes, devolvendo o dinheiro do
preço e comunicando que o contrato de compra e venda não concluira
porque a deliberação da gerência de Janeiro de 2007 atribuíra a António
o mandato apenas para este iniciar as negociações, não lhe permitindo
concluir o contrato. A sociedade Editora Doutor Maravilha, Lda.,
concluiu que não se considera vinculada pelo contrato concuído pelo
gerente, António. A tipografia não aceita a alegação da editora. Quid
iuris.
Universidade Católica de Moçambique 165
Universidade Católica de Moçambique 167

Unidade 13
VICISSITUDES DAS SOCIEDADES
COMERCIAIS
Introdução
Neste capitolo abordaremos os seguintes temas:

Plano de exposição:
1.1 Noção e modalidades da cisão das sociedades comerciais
2.1 Projecto da cisão.
3.1 Responsabilidade pelas dívidas.
4.1 Cisão simples.
5.1 Elementos destacáveis e requisitos da cisão simples.
6.1 Cisão dissolução.
7.1 Cisão fusão.
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Objectivos específicos:
 Conhecer as regras de dissolução das sociedades comerciais
 Concecer as formas de dissolução das sociedades comsrciais.
Objectivos
 Dominar as regras de responsabilidades dos sócios relativamente ao
credores

Vicissitudes das sociedades

149. Fusão das sociedades

Noção e modalidades

Como diz José A. E. Antunes, a fusão é uma operação económica jurídica


de concertação entre sociedades que acarreta, por definição a extinção da
personalidade jurídica colectiva das sociedades envolvidas, dando a
formação de uma empresa unissocietária.
Universidade Católica de Moçambique 168

Trata-se pois de reunir duas ou mais sociedades comerciais em uma


apenas, operação que, de acordo com o artigo 187.º, pode realizar-se em
duas modalidades, desdr que as sociedades fundida, mesmo que
dissolvidas, mas encontrando-se na fase de liquidação, preencham os
requisitos de que depende o regresso ao pleno exercício de actividade
social.

a) Mediante a transferência global do património de uma ou mais


sociedades para outra e atribuição aos sócios daquelas de partes,
acções ou quotas desta.
b) Mediante a constituição de uma nova sociedade, para a qual se
transferem globalmente os patrimónios das sociedades fundidas,
sendo aos sócios desta atribuídas parte, acções ou quotas da nova
sociedade.

Quer dizer, no primeiro caso, uma ou mais sociedades, ainda que de tipos
diferentes, se extinguem, resultando uma nova sociedade, do tipo optado
no contrato de sociedade, para a qual se transfere globalmente o
património daqueles, no segundo caso, há absorção de uma ou mais
sociedades, que se extinguem, por uma outra nova sociedade que se
constitui, para a qual se transfere globalmente os patrimónios daquelas –
sociedades fundidas – sendo aos sócio destes atribuídas partes, acções ou
quotas da nova sociedade.

De realçar que as sociedades fundidas não se dissolvem. Ocorre apenas o


desaparecimento da sua personalidade jurídica, ou como diz José Pinto
Coelho, não finda verdadeiramente, e apenas continuam a sai existência
em condições diversas, já que como uma nova sociedade ou como
sociedade incorporante.53

150. Protecção dos interesses de sócios e de credores sociais

Neste processo, mostra-se evidente a preocupação do legislador em


proteger os interesses dos sócios, sobretudo os minoritários e os credores
da sociedade, designadamente:

53
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp287.
Universidade Católica de Moçambique 169

a) Da fiscalização do projecto pelo Conselho Fiscal ou Fiscal único ou


sociedade de auditores que após a comunicação do projecto de fusão pela
administração de cada uma das sociedades participantes na fusão devem
emitir o respectivo parecer, podendo, exigir as informações e os
documentos de que careça e proceder as verificações necessáras, devendo
emitir o seu parecer no prazo de quarenta e cinco dias, (artigo 189.º do
CCom).

b) Do estabelecimento na lei ou no contrato de sociedade das regras do


direito de exoneração dos sócios cujo exercício permite o sócio exigir que
a sociedade adquira ou faça adquirir por terceiro a sua participação (
artigo 195.º do CCom).

c) Do direito de oposição judicial à fusão dos credores da sociedade


(artigo 197.º do CCom), cujo, processo esta regulado nos artigo 1488.º e
1489.º do CPC, sabendo que da sua procedência resulta o tribunal
determinar o reembolso do crédito do oponente ou, não podendo este
exigi-lo a prestação da caução. O direito de oposição judicial tambem
assiste aos credores obrigacionistas, mas tudo dependendo das
deliberações tomadas nas respectivas assembleias gerais por maioria
absoluta dos obrigacionistas presemtes ou representados artigo 199.º do
CCom.

d) Dar responsabilidade dos membros dos órgãos de administração e


fiscalização de cada uma das sociedades participantes, uma vez que são
solidariamente responsáveis pelos prejuízos causados pela fusão à
sociedade e aos seus credores , artigo 203.º do CCom.

151. Projecto de fusão

O projecto tem como base fundamental a avaliação das sociedades


visadas e a primeira actividade a ser realizada pelas administrações das
sociedades que pretendam fundir-se, é a elaboração, em conjunto, de um
projecto de fusão do qual devem constar os elementos essenciais para o
Universidade Católica de Moçambique 170

perfeito conhecimento da operação, constantes do artigo 188, n.º 1 do


CCom).

Exige-se, ainda que este projecto que contem diversos elementos


essenciais para o perfeito conhecimento da operação projectada, não só
na vertente jurídica como económica, se indique os critérios de avaliação
adoptados, bem como as bases da relação de troca referida na anterior
alínea e) e n.º 2, do artigo 188.º do CCom).

152. Registo do projecto de fusão e convocação da assembleia

O projecto de fusão deve ser registado, devendo-se, em seguida, publicar


a noticia da sua efectivação, em qualquer dos jornais de maior circulação
no País, com a indicação de que o projecto e os documentos anexos, se os
houver, podem ser consultados na sede de cada sociedade, pelos
respectivos sócios e credores sociais e de quais as datas designadas para
as assembleias de sócio cujas reuniões devem ter lugar com antecedência
de trinta dias, pelo menos, a contar da data da publicação da
convocatória.

A partir da referida publicação da notícia do registo do projecto de fusão


os sócios e credores da qualquer das sociedades participantes na fusão
podem consultae na sede de cada uma daquelas sociedades, os
documentos constantes do artigo 191.º do CCom.

a) Projecto de fusão;
b) Relatório e pereceres elaborados pelos órgão de fiscalização ou por
sociedade de auditoria.
c) Contas, relatórios da administração e deliberação das assembleias-
gerais sobre essas contas, relativamente aos três últimos exercícios.

Na data prevista, o projecto de fusão deve ser submetido à assembleia de


sócios de cada uma das sociedades participantes na fusão, seja qual for o
tipo societário (artigo 190.º do CCom) no decurso da qual o sócio pode
exigir as informações sobre as sociedades participantes que forem
Universidade Católica de Moçambique 171

indispensáveis para se esclarecer da proposta de fusão. Cada


administração deve declarar expressamente se houver ou não mudança
significativa nos elementos de facto em que se baseou o projecto de
fusão.

No caso afirmativo, deve a administração indicar quais as modificações


do projecto que se impõem fazer, e achando-se ter havido mudanças
relevante, a assembleia deliberará se o processo de fusão deve ser
recomeçado ou se prossegue na apreciação da proposta. A introdução de
modificações na proposta apresentada pela administração significa
rejeição da mesma, sem prejuízo da sua renovação.

Se alguma das sociedades participantes na fusão tiver várias categorias de


acções, mostra-se ainda necessário aprovar o projecto de fusão pelas
assembleias de cad categoria de acções (artigo 193.º n.º 3 do CCom).

No caso de participação de uma sociedade no capital de outra, a mesma


não pode dispor de número de votos superior à soma dos que competem a
todos os outros sócios e aos votos da sociedade somam-se os votos de
outras sociedades dominadas nos termos definidos na lei, assim como os
votos de pessoas que actuam em nome próprio, mas por cota de alguma
dessas sociedades. Havendo fusão por incorporação, a sociedade
incorporante não pode receber de si própria qualquer participação social
em troca de participação social na sociedade incorporada de que sejam
titulares aquela ou outra sociedade ou ainda pessoas que actuem em nome
próprio, mas por conta de uma ou de outra dessas sociedades (artigo
194.º).54

153. Escritura e publicação

Aprovada a fusão por deliberação da assembleia geral, segue-se a outorga


a escritura da fusão quando entrem bens imóveis ou o registo na

54
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 288.
Universidade Católica de Moçambique 172

Conservatória do Registo das Entidades Legais competente nos restantes


casos. Nos casos em que a fusão se efectua mediante a constituição de
nova sociedade, observam-se necessariamente as normas que regem essa
constituição, salvo se outra coisa resultar da sua própria razão de ser
(artigo 196.º).

Da publicidade da fusão que deve ser promovida pelas respectivas


administrações pode resultar oposição judicial à fusão deduzida pelos
credores, com fundamento no prejuízo que dela derive para realização
dos seus créditos (artigo 197.º, n.ºs. 1 e 2), direito que igualmente assiste
aos credores obrigacionistas, o que depende de deliberação que devem ser
tomadas por maioria absoluta dos obrigacionistas presentes ou
representados (artigo 199.º, alínea a)).

154. Registo de fusão

Decorrido o prazo de trinta dias referido no n.º 2, do artigo 201.º do


CCom, sem que tenha sido deduzida oposição ou quando se tenha
verificado algum dos factos referidos no n.º 1, do artigo 198.º do CCom,
deverá proceder-se ao registo comercial, e com esse registo (artigo 201.º,
n.ºs. 1 e 2).

Nos casos em que a fusão, quanto à sua eficácia, esteja sujeito a condição
ou termo suspensivo e ocorram, antes da verificação destes, alterações
relevantes nos elementos de facto em que as deliberações se tiverem
baseado, pode a assembleia de qualquer das sociedades deliberar que seja
requerida ao tribunal a resolução ou a modificação da fusão, ficando a
eficácia desta diferida até ao transito em julgado da decisão a proferir no
processo (artigo 202.º do CCom).

Relativamente à efectivação de responsabilidade no caso de extinção da


sociedade, o artigo 204.º do CCom estabelece que os direito relativos às
sociedades extintas em virtude de fusão são exercidos por um
representante especial, cuja nomeação pode ser requerida judicialmente
por qualquer sócio ou credor da sociedade, representante que deve
Universidade Católica de Moçambique 173

convidar os sócios e credores da sociedade, representante que deve


convidar os sócio e credores da sociedade através de anúncio, para
reclamar os seus direitos de indemnização, num prazo não superior a
trinta dias, não sendo abrangidos na repartição do excedente da
indemnização atribuída à sociedade os sócios e os credores que não
reclamarem.

155. Incorporação de sociedade totalmente pertencente a outra

A incorporação de sociedade que totalmente pertence a outra, isto é, de


sociedade de cujas participações a sociedade incorporante seja a única
titular rege-se pelas disposições dos artigos citados anteriormente, com
excepção de artigo 205.º, n.º 1.

a) Não lhes ser aplicável as disposições relativas à troca de


participações sociais, aos relatórios dos órgãos sociais da sociedade
incorporante e à responsabilidade desses órgãos;
b) A escritura de fusão pode ser lavrada sem prévia deliberação de
assembleias gerais, desde que se verifiquem cumulativamente os
seguintes requisitos.

156. Nulidade de fusão

Constatando-se a existência de algum vício de procedimento insanável


poderá ser declarada judicialmente a nulidade da fusão com fundamento
na falta de escritura de fusão, nos casos em que ela seja obrigatória ou na
prévia declaração de nulidade ou anulação de alguma das deliberações
das assembleias-gerais das sociedades participantes. A respectiva acção
não pode ser proposta depois de decorridos seis meses a contar da data da
publicação da fusão registada ou da publicação da sentença com trânsito
em julgado que declare nula ou anule alguma das deliberações das
referidas assembleias-gerais. Todavia, não deve ser declarada a nulidade
quando no seu decurso se sane o vício no prazo que o tribuna fixar
9artigo 206.º do CCom).

Em todo o caso, a nulidade da fusão não pode afectar os actos praticados


pela sociedade incorporante depois do registo da fusão, mas a sociedade
Universidade Católica de Moçambique 174

incorporada é responsável solidariamente pelas obrigações contraídas


pela sociedade incorporante durante o período, assim como todas as
sociedades fundidas respondem pelas obrigações contraídas pela nova
sociedade se a fusão declarada nula (artigo 206.º do CCom).

Cisão de sociedades

157. Noção e modalidades55

A cisão de sociedades constitui, como diz José A. E. Antunes, uma


técnica de descentralização societária através da qual uma sociedade
divide uma parte ou a totalidade do seu património com extinção ou não
da sua personalidade jurídica, sendo as partes destacadas transmitidas
para uma nova sociedade ou uma sociedade já existente. De semelhante
operação podem resultar as modalidades de cisão simples, cisão-
dissolução e cisão fusão.

É o que se pode extrair do artigo 207.º do CCom;

a) A cisão – simples consiste em destacar do património de uma


sociedade para com ela constituir outra sociedade;
b) A cisão – dissolução consiste em dissolver e dividir o seu património,
sendo cada uma das partes resultantes destinadas a constituir nova
sociedade;
c) A cisão – fusão consiste em destacar parte do património da
sociedade ou dissolver-se, dividindo o seu património em duas ou
mais partes, para as fundir com sociedades já existentes ou com parte
do património de outras sociedades, separadas por idênticos
processos e com igual finalidade.

A cisão pode ter lugar ainda que a sociedade se encontre em liquidação e


as sociedades dela resultantes podem ser do tipo societário diferente do
da sociedade cindida.

158. Projecto de cisão

55
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 291
Universidade Católica de Moçambique 175

O projecto de cisão pouco difere do de fusão, uma vez que à cisão de


sociedades é aplicável com as necessárias adaptações, o preceituado
relativamente à fusão (artigo 209.º do CCom).

159. Responsabilidade pelas dívidas

No que toca à responsabilidade por dívida, o artigo 211.º do CCom


estabelece que a sociedade cindida responde solidariamente pelas dívidas
que, como resultado da cisão, tenham sido atribuídas à sociedade
incorporante ou à nova sociedade, assim como respondem as sociedades
beneficiárias das entradas resultantes da cisão, até ao valor dessas
entradas, pelas dívidas da sociedade cindida anteriores ao registo da
cisão. Porém, a sociedade que, por força da sua responsabilidade
solidária, pague dívidas que não lhe hajam sido atribuídas, tem direito de
regresso contra a devedora principal.

O que significa que as normas relativamente às responsabilidades pelas


dívidas contraídas antes da cisão, as quais, quando passam da sociedade
cindida para a que resulta da cisão, não sofrem novação, sendo por elas
sempre responsáveis solidariamente a sociedade cindida e as resultantes
da cisão.

Transformação das sociedades

160. Noção. Proibição de transformação

A transformação de sociedade consiste na adopção de outro tipo de


sociedade sem que disso resulte a sua dissolução, salvo se a lei o proibir.
Este processo é extensivo às sociedades civis que podem transformar-se
em sociedades comerciais desde que adoptem um dos tipos societários
previstos na lei, aplicando-se-lhes as regras sobre a constituição e registo
de sociedades (artigo 121.º do CCom)56.

56
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 295
Universidade Católica de Moçambique 176

As razões são várias, mas as principais são essencialmente, o desejo de


obtenção de poupanças privadas, hesitação em arriscar a fortuna de uma
única vez, interesse no aumento de capital.

Contudo uma sociedade não pode transforma-se, se não tiver totalmente


realizadas as participações de capital previstas no contrato de sociedade e
já vencidas.

Se o balanço da transformação mostrar que o valor do património líquido


da sociedade é inferior ao seu capital.

No caso de uma sociedade anónima, se tiver emitido obrigações


convenientes em acções não totalmente convertidas ou reembolsadas.

161. Processo de transformação

Segundo o artigo 223.º do CCom, o processo de transformação começa


com a elaboração do relatório pela administração da sociedade
justificativo da transformação, instruído com:

a) Um balanço da sociedade organizado especialmente para o efeito,


balanço cuja apresentação é dispensada, se a assembleia geral que
deliberar a transformação se realizar nos sessenta dias seguintes à
aprovação do balaço do único exercício, caso em que este passa a
instruir o relatório, n.º 2, do artigo supra mencionado.
b) Um projecto do contrato de sociedade que passa a reger a sociedade.

No que respeita ao regime aplicável, o n.º 3, do mesmo artigo estabelece


a aplicabilidade com as necessárias adaptações, de tudo quanto no Código
Comercial se dispõe relativamente a fiscalização do projecto e à consulta
do documento no caso de fusão de sociedades.

162. Deliberações

Nas deliberações de transformação, que devem ser tomadas nos termos


das alterações do contrato de sociedade (artigo 225.º do CCom), deve ser
deliberado separadamente (artigo 224.º, n.º 1):
Universidade Católica de Moçambique 177

a) Aprovação do balanço;
b) A aprovação da transformação e do contrato de sociedade que
passa a reger a sociedade.57

163. Participação dos sócios e sua exoneração

A deliberação de transformação que importa para todos ou alguns sócios


a assunção de responsabilidade ilimitada, ou que implique a eliminação
de direitos especiais, só produz efeitos se merecer a aprovação dos sócios
que devem assumir aquela responsabilidade e dos titulares dos direitos
especiais afectados (artigo 225.º n.º 2).

Os sócios que não votem favoravelmente à deliberação de transformação


podem exonerar-se da sociedade, devendo fazê-lo por escrito nos trinta
dias subsequentes à publicação da deliberação (artigo 226.º, n.º 2 CCom).

Contudo, o novo contrato de sociedade não pode fixar prazos mais longos
para a realização de participações de capital ainda não vencidos, não
podendo também conter disposição alguma que ponha em causa ou, de
algum modo, limite os direitos de obrigacionista anteriormente existentes
(artigo 224.º, n.º 3do CCom).

Após a deliberação, o contrato que passa a reger, que, entretanto deve ser
celebrado por documento escrito assinado por todos os sócios, com a
assinatura reconhecida presencialmente, ou celebrado por escritura
pública no caso em que entrem bens móveis, é registado e publicado nos
termos já referidos.

164. Garantias de terceiros

Em todo o caso, para garantia de terceiros, a responsabilidade pessoal dos


sócios pelas dívidas sociais contraídas antes da transformação de

57
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 301
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 301
Universidade Católica de Moçambique 178

sociedade não é por esta afectada nem a responsabilidade pessoal e


ilimitada dos sócios que possa resultar da transformação, abrange as
dívidas sociais anteriormente contraídas. Além disso, os direitos de gozo
ou de garantia que, à data da transformação possam incidir sobre as
participações sociais persiste, passando a ter por objecto as novas
participações correspondentes (artigo 228.º do CCom). 58

Dissolução e liquidação

165. Dissolução da sociedade e suas causas

Se a constituição da sociedade origina o nascimento duma nova pessoa


jurídica, diferente com as pessoas dos sócios, a dissolução origina a sua
extinção.

Assim, o nascimento das sociedades tem a designação de constituição e a


sua morte chama-se dissolução.

De acordo com o Código Comercial, a dissolução de uma sociedade


consiste na modificação da sua situação jurídica que se evidencia pela sai
entrada em liquidação, razão pela qual aquela conserva a sua
personalidade jurídica até a sua extinção na data do registo do
encerramento da liquidação (artigo 234.º e 243.º ambos do CCom).

As causas de dissolução são várias, mas todas operam da mesma forma.


Umas são causas de dissolução imediata e outras são causas de dissolução
facultativa.

António Pereira de Almeida, diz que as primeiras são condição


indispensável para a dissolução da sociedade, mas não operam ipso facto,
necessitando de um acto de certificação, isto é , que torne certa a sua

58
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 297.
Universidade Católica de Moçambique 179

verificação. As causas de dissolução facultativa não operam


automaticamente, somente conferindo aos sócios, credores sociais e
excepcionalmente ao Ministério Público a faculdade de promover, ou
não, a dissolução da sociedade.

É o que se extrai do artigo 229.º, n.º 1 do CCom, segundo o qual as


sociedades dissolvem-se conforme o previsto na lei, no contrato de
sociedade e, ainda nos casos previstos no referido dispositivo legal.

166. Registo e publicação

A dissolução deve ser registada; tem como efeito a entrada da sociedade


em liquidação e produz efeitos a partir da data em que for registada ou,
quanto às partes, na data do trânsito em julgado da sentença que a
declare. Além disso, seja qual for o tipo de societário, a dissolução deve
ser devidamente publicada artigos 230.º e 231.º do CCom. 59

167. Obrigações da administração da sociedade dissolvida

Após a dissolução da sociedade, os respectivos administradores devem


submeter à aprovação dos sócios, no prazo de sessenta dias, o inventário,
o balanço e a conta de lucros e perdas referidas à data do registo da
dissolução. Havendo aprovação das contas, os administradores que não
sejam liquidatários devem entregar a estes todos os documentos, livros,
toda a informação e esclarecimentos sobre a vida e situação da sociedade
que sejam solicitados pelos liquidatários (artigo 232.º do CCom).

168. Tipos de liquidação

Após a dissolução, a sociedade entra na situação de liquidação, o que


conduz a que à firma da sociedade deva ser aditada a menção sociedade
em liquidação, ou em liquidação. Com ela tem-se em vista afectuar as
operações essenciais para que os bens da sociedade fiquem em condições
de ser partilhados, naturalmente, após o apuramento do activo e passivo e
pagarem-se as dívidas da sociedade, dividindo-se o remanescente.

59
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 298
Universidade Católica de Moçambique 180

Contudo, a sociedade continua mantendo a personalidade jurídica até ao


encerramento da liquidação como já foi dito atrás, sendo-lhe aplicáveis os
preceitos por que até à dissolução se regia, salvo disposição expressa em
contrário. Os administradores devem continuar a representá-la enquanto
os liquidatários não assumirem o exercício das atribuições e, no caso de
dissolução por falência até final conclusão da quebra (artigo 243.º e 235.º
do CCom).

169. A liquidação pode ser judicial ou extra-judicial.

A liquidação extra-judicial, que é a regra, não pode durar mais de tres


anos a contar a partir da data do registo da dissolução até ao registo do
encerramento da liquidação; a liquidação judicial só terá lugar quando
não se chegue ao encerramento, caso em que devem os liquidatários
requerer o seu prosseguimento judicial no prazo de cinco dias artigo 236.º
do CCom)

170. Liquidatários e suas funções

Estabelece também a lei que sejam nomeados liquidatários, que salvo


deliberação em contrário ou cláusula do contrato de sociedade, são os
administradores da sociedade que não sejam pessoas colectivas, sem
prejuízo de, havendo motivo, qualquer interessado poder requerer a sua
destituição judicial.

Iniciam as suas funções na data da aprovação do inventário, balanço e da


conta de lucros e perdas referidas à data do registo da dissolução (artigo
238.º do CCom), tendo, em geral, os deveres, os poderes e a
responsabilidade dos administradores da sociedade e podendo iniciar
operações no âmbito do objecto da sociedade e contrair empréstimos,
mediante prévia deliberação dos sócios (artigo 293.º do CCom).
Universidade Católica de Moçambique 181

Compete-lhe concluir os negócios e operações já iniciados à data da


dissolução, cobrar créditos e cumprir as obrigações da sociedade e, salvo
deliberação unânime dos sócios, reduzir a dinheiro o património residual.
Também, devem exigir dos sócios as entradas não realizadas na medida
em que se mostrarem necessárias ao cumprimento das obrigações da
sociedade ou para suportar os encargos da liquidação (artigo 293.º, n.ºs. 3
e 4).

Ao menos cumpre submeter no fim de cada exercício, contas aos sócios


sobre a situação patrimonial da sociedade e o andamento da liquidação e,
bem assim, apresentar as contas finais ou de encerramento com o
relatório completo sobre a liquidação e uma proposta de partilha de activo
que existir (artigo 240.º n.º 1).

Aprovadas as contas finais e proposta de partilha, devem os liquidatários


(artigo 240.º, n.º 2) satisfazer ou cautelar todos os créditos de terceiros
conhecidos por eles, sob pena de responderem pessoal e directamente
perante os credores pelos danos que lhes causarem pelo incumprimento
da função (artigo 240.º, n.º 2, alínea a) e n.º 4 ambos do CCom).

Sobre os direitos dos credores, o artigo 241.º do Código Comercial diz


que eles preferem aos credores de cada um dos sócios, pelo que toca aos
bens sociais, mas não se podendo os credores pagar pala parte que no
resíduo pertencer ao respectivo devedor, ficarão estes sub-rogados nos
direitos dele contra os outros ex-sócios por qualquer excesso com que
haja contribuído para a sociedade.60

171. Partilha

Como dissemos acima, a partilha consiste em proceder à divisão, pelos


sócios, do renascente achado da liquidação, se o houver.

60
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 299
Universidade Católica de Moçambique 182

É o que se extrai do artigo 242.º do CCom, segundo o qual activo, líquido


dos encargos da liquidação e das dívidas de natureza fiscal, é partilhado
entre os sócios nos termos fixados no contrato de sociedade ou, no
silêncio deste, na proporção das participações sociais e, se feito o
reembolso se registar saldo, este é repartido no proporção aplicável à
distribuição dos lucros, entregando-se-lhes directamente ou depositando
em seu nome em instituição bancária estabelecida no Pais.61

Por fim, cabe aos liquidatários registara deliberação de encerramento da


liquidação no prazo de quinze dias, registo que deve ser acompanhado
pelos seguintes documentos (artigo 243.º, n.ºs. 1 e 2):

a) Relatório completo sobre a liquidação;


b) Proposta de partilha.

Contudo, extinta a sociedade, os antigos sócios respondem solidariamente


pelo passivo da sociedade que não tenha sido considerado na liquidação
até ao montante que tenham recebido em partilha do saldo de liquidação;
e caso se verifique a existência de bens sociais que tenham sido
partilhados compete a qualquer dos sócios, à data da dissolução, propor
aos restantes a partilha adicional, que será feita nos termos por todos
acordados ou, na sai falta, na proporção do montante das respectivas
entradas de capital efectivamente realizado (artigo 244 do CCom).

172. Acções judiciais

Relativamente às acções judiciais em que a sociedade seja parte, estas


continuam após a extinção, considerando-se a sociedade substituída pelos
sócios à data da dissolução, não se suspendendo a instância e
dispensando-se a habilitação artigo 245.º do CCom.62

Publicidade dos Actos Sociais e prescrição de Direitos

173. Actos sujeitos a registo e publicidade

61
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 300
62
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 301
Universidade Católica de Moçambique 183

Os actos relativos à sociedade estão sujeitos a registo e devem ser


publicadas no Boletim da República a expensas da sociedade (artigo
246.º e 247.º conjugados com os artigos 3.º, 4.º, 122.º, n.º 1, do
Regulamento do Registo de Entidades Legais) e os avisos e convenções
dirigidas aos sócios ou aos credores de qualquer sociedade, seja qual for i
tipo, quando a lei ou o contrato de sociedade mandem publicá-los, devem
ser publicados num dos jornais mais lidos do local da sede da sociedade
(artigo 248.º do CCom).

No que respeita à falta de registo ou publicação de actos, o artigo 248.º do


Código Comercial determina que deles podem prevalecer os terceiros de
boa fé e não podem ser opostos pela sociedade enquanto o registo e a
publicação não tiverem sido efectuados.

A sociedade responde pelos prejuízos a terceiros resultantes da


discordância de publicidade entre os actos praticados, o teor do registo e
o teor das publicações por culpa dos administradores, gerentes ou
directores, liquidatários ou os respectivos representantes, enquanto essa
discordância não for sanado 9artigo 249.º do CCom).

174. Menções em actos externos63

Nos contratos, correspondência, publicações, anúncios e, de um modo


geral, toda a actividade externa das sociedades deve-se indicar (artigo
250.º, n.º 1),

a) A firma da sociedade,
b) O tipo societário;
c) A sede e o número de matricula na entidade competente para o
registo onde se encontram matriculados;
d) A menção de que a sociedade se encontra em liquidação, se for o
caso.

63
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 302
Universidade Católica de Moçambique 184

Mas devem indicar as sociedades, seja qual for o tio societário, o capital
social e o montante do capital realizado, se este for diverso.

175. Fiscalização do ministério Público

Sobre a fiscalização do Ministério Público, o artigo 251.º do Código


Comercial estabelece que este deve requerer, sem dependência de acção
declarativa, a liquidação judicial de sociedade que:

a) Não estando registada, exerça actividade há mais de três meses;


b) Não se constitua ou não funcione nos termos prescritos na lei, ou
c) Tenha um objecto ilícito ou contrário à ordem pública.

Desse requerimento são notificados a sociedade e os sócios e, sendo a


regularização possível, o tribunal deverá fixar prazo razoável para tal.

176. Prescrições de direitos64

Segundo o artigo 252.º do Código Comercial, os direitos da sociedade


contra os sócios, os administradores, os membros do conselho fiscal ou o
fiscal único e os liquidatários, bem como os direitos destes contra a
sociedade, prescrevem no prazo de cinco anos contados a partir do:

a) Início da mora, quanto à obrigação de entrada de capital ou de


prestações suplementares;
b) Termo da conduta dolosa, ou da sua revelação se aquela houver sido
ocultada, e da produção dom dano, sem necessidade de que este se
tenha integralmente verificado, relativamente à obrigação de
indemnizar a sociedade. A partir do mesmo momento, prescrevem no
prazo de cinco anos, os direitos dos sócios e de terceiros, por
responsabilidade para com eles de outros sócios, administradores,
membros do conselho fiscal ou fiscal único e liquidatários (n.º 2 do
artigo 252.º do CCom);
c) Vencimento, relativamente a qualquer outra obrigação.

64
José Ibraimo Abudo, Direito Comercial, Maputo, 2009, pp 303
Universidade Católica de Moçambique 185

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 95 à 104.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 225-
230.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 193.

Exercícios
Exercícios

A sociedade de Construções, Lda. constituiu-se em 1973 com cinco


sócios, com o capital de 300.000 meticais, integralmente realizado.

Em 1991 cessou pagamentos, vindo a ser dissolvida em Janeiro de 1992.


Feita a liquidação do património, constatou-se que o passivo era superior
ao activo em 10.000 meticais.

Um credor da sociedade, face à perispectiva de não ser pago considera-se


com o direito de exigir aos sócios o pagamento do seu crédito porque,
segundo pensa, os sócios eram obrigados a manter intacto o capital social,
situação que não se verificava. Quid júris?
Universidade Católica de Moçambique 186

Unidade 13
DOS CONTRTOS EM ESPECIAL

Introdução
Neste capitolo abordaremos os seguintes temas:

CONTRATOS COMERCIAIS DE ORGANZAÇÃO65


Plano de exposição:
1. Enquadramento normativo.
2. Associação em participação.
3. Conceito.
4. Regime Jurídico.
5. Confronto com figuras afins.
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Objectivos específicos:
 Conhecer o regime jurídico do contrato de Associação em
participação.
Objectivos  Confrontar este contrato com as outras figuras afins.

177. Enquadramento normativo

A associação em participação e o consórcio são contratos de organização


empresarial que se encontram regulados tod no Código Comercial.

O contrato de associação em participação encontra-se regulado nos


artigos 600.º à artigo 612.º do Código Comercial.

O contrato de Consórcio encontra-se regulado nos artigos 613.º à artigo


633.º do Código Comercial.

65
Bibliografia geral, MENEZES CORDEIRO, Manuel de Direito Comercial, 2007,
pp. 625-650.
Universidade Católica de Moçambique 187

Tem uma origem diversa, correspondendo a associação em participação


tem um regime desenvolvido da velhinha66 e o consórcio é uma
modalidade contratual mais recente, regulado pela primeira vez no nosso
oredenamento jurídico, pelo Código comercial de 2005, ou seja, o Codigo
Comercial que se encontra em vigor na República de Moçambique.

178. Associação em perticipação

Conceito

Contrato de associação em participação67 é aquele em que uma pessoa se


associa a um empresário comercial para o exercício de uma empresa,
ficando aquela pessoa a participar nos lucros ou nas perads que do
exercício resultares para a segunda (artigo 600.º do CCom).

Como iremos ver, este contrato não gera uma entidade personificada.
Trata-se de um acordo pelo qual um dos contraentes se junta a outro que
"dá a cara", participando activamente no meracado, por si e, pelo seu
associado - que o financia - co quem irá repartir os resulatdos da
actividade económica desenvolvida.

Não é uma figura contratual actual, mas corresponde a uma figura


jurídica que se verifica na prática negovial com mais frequência do que
poderiamos pensar, consistindo muitas vezes numa assiciação espontânea
de um sujeito ao exercicio da actividade comercial por outro.

179. Regime Jurídico

O Contrato de associação em participação não está sijeito a uma forma


eepcial, salvo se a natureza dos bens a exigir, (cfr. o artigo 602.º do
CCom), e sem prejuíjo de dever ser reduzido a escrito cláusula que exclua
a perticipaçäo do associado nas perdas ou que lhe atribua a
responsabilidade destas (cfr. n.º 2, do artigo 601.º do Código Comercial).

66
CUNHA, Paulo Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A.,
Coimbra, 2010, pp. 182
67
Associação em participação consiste na associação de uma pessoa (associado)
a uma actividade económica exercida por outra (associante), ficando a primeira
a participar nos lucros (elemento essencial) e perdas (característica que pode
ser dispensada) que desse exercício reultarem para a segundo. CUNHA, Paulo
Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A., Coimbra, 2010, pp.
183.
Universidade Católica de Moçambique 188

O Associado tem direito a participar nos lucros, nos termos de cláusula


contratual que regule a distribuição dos resultados (cfr. artigo 605.º do
CCom) e, sendo o contrato omisso, com base no critério em que participa
nas perdas, se essa patticipação estiver determinada, proporcionamente ao
valor da sua contribuição, se a mesma tiver sido objecto de avaliação, ou
faltando esta, na metade dos lucros, sem prejuízo de o associante requerer
judicialmente uma redução dessa participação, cfr. n.º 4, do artigo 605.º
do CCom.

No que respeita aos deveres, o associado apenas participa nas perdas no


limite dos bens com que contribui.

O associante é aquele que assume a condução da actividade económica e


a quem são imputados, em primeira linha, os do exercício do comércio.

É por isso natural que o contrato de associação em participação acautele a


sua posição jurídica, imponho-lhe as respectivas obrigações.

Não obstante, a lei não abdica de disciplinar a sua actuação cominando


(imperativamente) diversos deveres (cfr. artigo 606.º do CCom).

O contrato em apreço pode ser celebrado por um determinado prazo, e ter


uma duração determinada, ou ser celebrado sem prazo, podendo ser
objecto de resolução com fundamento em justa causa, qualquer que seja a
sua duração, cfr. artigo 612.º do CCom.

Nos contratos de associação em participação sem prazo, a resolução é


possível sem invcação de justa causa dez anos que sejam decoridos da
respectiva celebração, cfr. artigo 612.º do CCom.

180. Confronto com figuras afins

A associação em participação não se identifica com uma nova entidade,


não sendo personalizada, nem dispondo de fundo comum, e
caracterizando-se por o associante exercer uma actividade económica em
nome próprio.
Universidade Católica de Moçambique 189

O paralelismo com a sociedade em comandita é explicado pela


semelhança de desempenhos e qualificação jurídica do associado e do
comanditário, por um lado, e pelo risco e exerício pessoal da actividade
do associante e do sócio comanditado.68

A associação em perticipação apresenta inegáveis semelhanças com a


sociedade oculta, porque não tem de ter relevância externa. Esta não
releva perante terceiros, efectuando-se a sua actividade em nome de um
dos "sócios",o qual por ser extremamente conhecido é o único
responsável perante terceiros. Diversamente do que acontece na
sóciedade oculta, na associação em participação há contribuição para o
fundo comum.

A associação em participação pode ser confundida com alguns negócios


parciários, casos das parcerias agrícolas, pecuárias e marítima, e da
associação à quota. Esta conciste no contrato atípico, pelo qual o titular
de uma participação socil se compromete a transmitir a outrem, à
margem da sociedade e dos outros sócios, uma parcela dos lucros e das
perads corresponde a essa participação, cabendo-lhe a parte restante.

Verifica-se existir uma semelhança estrutural entre a associação à quota e


a associação em participação; a diferença está no objecto da participação,
que é, na primeira, uma participação societária e na segunda a totalidade
ou parte da actividade económica de uamempresa (singular ou
colectiva).69

181. Natureza jurídica

A associação em participação não se confunde actualmente com uma


sociedade comercial, revestindo uma natureza negocial, mas
simultaneamente associativa, de partilha de esforços, para realizar uma

68
CUNHA, Paulo Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A.,
Coimbra, 2010, pp. 185.
69
CUNHA, Paulo Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A.,
Coimbra, 2010, pp. 186.
Universidade Católica de Moçambique 190

determinada actividade de carácter económico. Enquandar-se na


cetegoria dos contratos associativos.70

182. Consórcio71

O consórcio é o contrato pelo qual duas ou mais pessoas (singulares ou


colectivas) que exerçam uma actividade económica se obrigam entre si a,
de forma concertada, realizar certa actividade ou efectuar certa
contribuição com o fim de prosseguir um objecto comum que, em
princípio, corresponde a uma das seguintes actividades (cfr. o artigo 613.º
do CCom):

a) Realização de actos materiais ou jurídicos, preparatórios quer de


um determinado empreendimento, quer de uma actividadecntínua
(ex. consórcio para participar num concurso público).

b) Execução de um determinado empreendimento (ex. contrução da


ponto Emílio Guebuza).

c) Fornecimento a terceiros debens iguais ou complementares entre


si (ex. produzidos pelos diverso mebros do consórcio – AIR
BUS).

d) Pesquisa ou exploração de recursos naturais (ex. actividade de


extracção de petróleio – o está a ocorrer em Pemba).

e) Produção de bens que possam sder repartidos, em espécie, entre


os mebros do consórcio).

Discute-se, a proósito do objecto, se as actividades enunciadas no artigo


613.º do CCom, representam meros exemplos de consórcios possíveis,
correspondem aos tipos de consórcio legalmente admissíveis ou
constituem uma lista taxativa.

Se por um lado, nos encontramos no domínio da autonomia privada por


excelência – que é o que caracteriza o Direito comercial – por outro lado,
a redação do artigo 613.º do CCom apresenta uma configuração que
indica taxatividade ao recorrer à forma futura do verbo ter,

70
CUNHA, Paulo Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A.,
Coimbra, 2010, pp. 186.
71
CUNHA, Paulo Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A.,
Coimbra, 2010, pp. 186.
Universidade Católica de Moçambique 191

correspondente ao seu imperativo ( o consórcio terá um dos seguintes


objectos), repare-se que a lei nem sequer recorre à formulaa “deverá ter”.

Da Expressão gramatical da lei retiram alguns autores a taxatividade do


objecto do consórcio, recusando a analogia e consequentemente a
aplicação desta figura a outras actividades72.

Outros juristas – aceitando que o legislador quis delimitar as actividades


que podem revestir a forma de consórcio – consideram estar em causa
uma mera tipicidade delimitativa, o que significa ser possível a analogia
legis.

Não vemos razão para não seguir esta segunda posição, que permitirá
estender o consórcio actividade que não se encontram gramaticalmente
previstas na lei.

Ao regular esta figura contratual – que, esclareça-se, nada impediria que


existisse por simples afeito da autonomia privada doa sujeitos
contratantes, embora sem os efeitos decorrentes da lei – a lei quis
prevenir que a mesma constituísse uma solução definitiva para a
realização de uma actividade empresarial ou fosse de aplicação
duradoura. E daí que tenha sido aparentemente tão impositiva.

Com efeito, o consórcio não se destina a regular uma actividade


duradoura, mas deve corresponder a u associação transitória, que
frequentemente está na base de uma entidade personificad, maxime uma
sociededa comercial.

Enquanto se encontrarem vinculadas contratualmente, as empresas


consorciadas não perdem a autonomia jurídica na prossecução do
objectivo comum, formando o que, na linguagem anglo-saxónica,
corresponmde a uma joint venture, sempre que a respectiva associação se
prolonga no tempo e adquire uma certa estabilidade, não se limitando
portanto a um negócio pontual.

Por isso, não vislumbramos razões que obstem à celebração de contratos


de consórcio, para prosseguir actividades semelhantes às especificadas no
artigo 613.º do CCom, promovendo uma interpretação que abrange
aoutras actividades para além das enunciadas nessa regra, tal como o

72
CUNHA, Paulo Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A.,
Coimbra, 2010, pp. 187.
Universidade Católica de Moçambique 192

consórcio destinado à realização de actos materiais (ou jurídicos) – não


necessariamente preparatórios – de um certo empreendimento ou
actividade contínua.

183. Regime jurídico

O contrato de consórcio deve ser celebrado por escrito, e se envolver bens


imóveis poderá estar sujeito a um modo de exteriorização da vontade
mais rigorosa (cfr. op artigo 614.º do CCom).

O consórcio pode ser interno se os consorciados fazem-se representar


junto de um terceiro por um deles ou mantiverem relações directas com
terceiros sem invocarem a sua qualidade (cfr. 628.º do CCom). Nesta
modalidade, o consórcio não tem relevância, nem qualquer eficácia
contratual, junto de terceiros que se cruzem e contactem com qualquer
dos respectivos contratantes.

O consórcio é externo se os seus membros estabelecerem relações


comerciais directamente com terceiros e nessa qualidade (cfr. 619.º do
CCom). Nesta qualidade, o consórcio, um dos membros é designado o
chefe do consórcio, como poderes derepresentação de todos os membros.

O consórcio externo pode adoptar uma denominação coelctiva que


represente todos os seus membros através da agregação de todas as
respectivas firmas ou denominação (cfr. o artigo 622.º do CCom).

Ao chefe do consórcio cabe coordenar internamente os respectivos


membros, organizando a forma como se deverão articular na prossecução
da actividade em que se consubstsncia o consórcio e promover a
execução do contrato e assumir, exterrnamente, poderes de representação
junto das contrapartes, como poderes cuja latitude dependerá de mandato
especualmente conferido para o efeito, paar além do chefe, o consórcio
externo pode ter um cpnselho de orientação e fiscalização que integre
todos os membros (cfr. o artigo 621.º do CCom).

O contrato de consórcio está sujeito ao proncípio da pontualidade dos


contratos (cfr. o artigo 406.º do CCom), só podendo ser alterad por mútuo
Universidade Católica de Moçambique 193

consenso dos contratantes e com observância da forma do contrato, salvo


se diversamente previsto por este,(cfr. o artigo 618.º do Ccom), sem
prejuízo da sua resolução, por justa causa, por comunicação escritas
dirigidas aos contratantes que se pretendem afastar ( cfr. o artigo 632.º do
CCom).

184. Contrato de Compra e Venda Comercial

Este contrato – que constitui o negócio jurídico mercantil por excelência,


a par da troca, e quando é celebrado com a intenção de através dele, o
agente económico vir a conseguir um ganho expersso na diferença
positiva entre o que pagou pela aquisição de um bem e o que recebeu pela
respectiva revenda – encontra-se regulado no Código Comercial artigos
477.º à 486.º.

185. Noção

O contrato de compra e venda comercia é o negócio jurídico pelo qual


uma das partes (a vendedora) aliena à outra (o comprador), mediante um
determinado preço, uma coisa móvel ou imóvel, com a finalidade desta
revender (cfr. artigo 2.º, 3.º e 4.º do CCom).

A lei exclui da comercialidade as compras para consumo (cfr. n.º 2, do


artigo 4.º do CCom), porque entende que as mesmas, pelo lado do
sujetiod adquirente do bem (consumidor), não se enqaudram na
actividade económica mercantil, não merecendo a tutela do Direito
Empresarial).

186. Regime jurídico

O contrato de compra e venda comercial é consensual, não estando


sujeito a forma especial, salvo se a própria transmissão do bem impuser
um modo de exteriorização da vontade específica (cfr. o artigo 875.º do
CC).

O vendedor está obrigado a proceder à entrega da coisa vendida e tem


direito a receber o preço, sedno o direito e vinculação principais do
Universidade Católica de Moçambique 194

comprador recíprocas, isto é, tem direito a receber o bem adquirido,


devendo entregar o respectivo preço.

As declarações de vontade são suficientes para transferir a propriedade,


constituindo as partes na obrigação de entrega da coisa vendida e do
respective preço, embora a determinação deste possa vir a ocorrer em
com o mecanismo contractual.

A resolução contratual pode ocorrer perante o icnumprimento da


obrigação de pagar o pré,co das mercadorias antes da entrega ou no
momento desta.

187. Modalidade

A lei comercial estebelece a única modalidade de compras e venda


mercantil a venda sobre documento, (cfr. o artigo 486.º do CCom).

CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO73

A dsitribuição corresponde a um complexo de actos articulados com vista


a promiver a transferência remunerada de bens e serviços do produtor
para o utilizador final.

Trata-se de uma actividade de intermediação que pressupõe uma relação,


pelo menos, triangular, entre o fabricante (produtor), o distribuidor e o
consumidor.

A distribuição pode ser directa, se as mercadorias são transmitidas


directamente pelo produtor ao utilizador final – que sucede com as
vendas efectuadas na sede da empresa, por exemplo, de equipamentos
compexos de elevado custo – ou indirecta. Neste caso, a comercialização
efectua-se em diversos planos, desde o transporte, depósito e
armazenamento, redução das partidas de mercadorias a quantidades para
venda a retalho, até retalhista.74

73
Bibliografia geral, MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito Comercial,
2007, pp 651-656.
74
CUNHA, Paulo Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A.,
Coimbra, 2010, pp. 204.
Universidade Católica de Moçambique 195

É assim fundamental ter uma visão dos tipos contratuais mais comumente
utilizados para a criaç`ao de redes de distribuição destinadas a colocar
mercadorias junto ao consumidor final.

Agência

188. Conceito e disciplina legal

Agência – é o contrato pelo qual uma das partes (o agente) se obriga a


promover por conta da outra (o principal) a celebração de contratos de
modo autónomo e estável e mediante retribuição, podendo ser-lhe
atribuído uma certa zona ou círculo de clientes (cfr. artigo 522.º do
CCom).

Na agência, tal como na comissão, o intermediário não adquire os


produtos que distribui, mas a distribuição através do agente comercial
permite ao produtor reduzir (despesas de instalação e ) riscos inerentes a
uma nova implantação no mercado.

Consituem exeplos os estabelecimentos revendedores de telemóveis e


electrodomésticos quando não são explorados por operadores de
telecomunicações ou directamente pelas respectivas marcas.75

Questão diferente é a atribuição a um agente exclusivo de actuação em


determinada zona ou junto de um núcleo de clientes. Naverdade o artigo
526.º do CCom, estebelece a possibilidade de, através de acordo escrito, o
principal se obriga a não nomear outros agentes para determinadas zonas
geográficas ou para certo círculo de clientes. Estaremos, assim, perante a
figura do agente exclusivo.

Ao invés, salvo acordo expresso em contrário, o agente esá sijeito ao


dever de não concorrência, isto é, impedido de axercer, por conta própria
ou de outrem, actividades que possam estar em concorrência com as
desenvolvidas pelo principal, nomedademnte através de contratos de

75
MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 493.
Universidade Católica de Moçambique 196

agencia que celebre com empresas que estejam em relação concorrencial


com o do principal, cfr. artigo 532.º do CCom.

O agente, aos celebrar o contrato, assume perante o principala


obrigaçãode promover contratos, ou seja, o dever de encontrar no
mercado clientes interessados em celebrar contratos com om principal.

Na execução dessa obrigação, o agente terá de actuar de boa-fé,


competindo-lhe zelar pelos interesses do principal, realizado as acções
necessárias e adequadas à realização do fim contratual.

Para a plena execução da obrigação que assume com a celebração do


contrato, o agente terá de realizar todo o conjunto de actos materiais, que
vão desde a propecção de mercados para angariação de novos clientes,
acompanhamento de clientes já angariados de modo a fidelizá-los aos
produtos promovidos, alaboração no lançamento de novos produtos ou
serviços, em suma, incumbe ao agente desenvolver as acções necessárias
que possibilite uma penetração dos produtos do principal no mercado,
assegurado desta forma a sua fun,cãocolaborador na distribuição dos
mesmos.

Fica ssim, patente a naturaza de conrato de colaboração do contrato de


agência.

O agente poderá intervir na celebração do contrato caso o principal, por


escrito, lhe tenha conferido os poderes necessários para legigitimar a sua
intervenção na fase decisória do negócio, cfr. o artigo 524.º do CCom.

Ainda no que toca à definição dos poderes do agente, estabelece o artigo


525.º do CCom que este poderá efectuar a cobrança de créditos se o
principal o autorizar por escrito.

Caso o agente celebre contratos ou receba créditos sem que para tal esteja
devidamente autorizado pelo principal, apesar da presunção antida no
artigo 545.º do CCom o dever de prestação por parte do cliente não se
extingue, uma vez que terá de se considerar que o cliente cumpriu a sua
obrigação junto de um terceiro (cfr. art 770.º C.C.)

Assim, para que seja eficaz a actuação do agente que age sem estar
munido dos necessáruos poderes de represntação, torna-se necessário:
Universidade Católica de Moçambique 197

a) Que tenha existido razões ponderosas;

b) Que essas razões possam ser objectivamente apreciadas tendo em


vosta as circunstâcias em que a acção decorreu;

c) Que o terceiro tenha agido de boa fé, ou seja, convicto de que o


agente está legitimado com necessáriosm poderes;

d) E que o principal tenha contribuído para fundar a confiaça do


terceiro (cfr. artigo 545.º do CCom).

Ainda em tema de protecção de terceiros o artigo 534.º do CCom, que


impõe ao agente o dever de, ao agir, informar ao terceiro dos poderes que
possui, desiganadamente no que toca aos poderes representativos que lhe
tenham sido conferidos e se pode ou não, efectuar cobrança de créditos.
Este dever de transparência resultante da norma citada, leva-nos a
concluir que impende sobre o agente o dever de, por iniciativa própria,
publicitar os poderes de que está munido, devndo cumprir essa sua
obrigação pelas mais diveras formas, como por exemplo pela indicação
em letreiro ou material publicitário, ou pela inscrição nos documento que
utiliza na sua actividade.

Finalmente, alerta-se para o facto de estar fora do âmbito de análise, o


estudo das relações que se estabelecem entre produtor, distribuidor e
consumidor final, as quais encontram a sua rede própria no direito do
consumidor.

Como moldes contratuais especialmente vocaciondos para regilar as


relações produtor-distribuidor, apontam-se normalmente, o contrato de
agência, o contrato de concessão comercial, o contrato de mediação, o
contrato de comissão e o contrato de franquia.

Vejamos de forma muito sumária alguns pontos comuns a tosod os


contratos de distribuição propriamente ditos:

Uma das características principais dos contratos dedistribuição é a


independecia que o distribuidor (agente concessionários, ranquiado) tem
perante o produtor. Tal independecia revela-se, desde logo, pelo facto de
Universidade Católica de Moçambique 198

cada um delse explorar uma empresa própria e, se nãi economicamente,


pelo menos juridicamente autónomo.

No entanto, o grau de autonomia não só varia consoante o tipo de


contrato, mas tembém é frequente encontrar diferentes níveis de
autonomia dentro do mesmo tipo contratual. A título de exemplo, poderá
apontar-se o contrato de concessão, no qual apesar de , regra geral, o
concedente ter poderes de fiscalização da actividade do concessionário,
por vezes essa faculdade é quase que inexistente.

Não obstante a independecia e autonomia que referimos, não poderá


escer-se que entre o produtor e o distribuidor se estabelecem relações
contratuais duradouras e muito estáveis, as quais criam profundas
dependências, em especial económicas.

Tal circunstâcia leva a que, muitas vezes, a aludida independência seja


mais aparente do que real. Veja-se a situação do franquiado que labora
em exclusivo, com produtos de uma só marca, o qual, por esse facto, está
fortemente dependente das decisões que o franquiador vai tomando.

Alisemos as diversar formas através das quais se faz a distribuição


comercial. Em primeiro lugar, encontramos a distribuição directa, na qual
o produtor, através dos seus meios próprios (logística e humanos),
assegura a colocação dos seus produtos no mercado.

No pólo oposto, teremos a distribuição indirecta, a qual como veremos,


assume diversas modalidades. Nos casos de distribuição indirecta, o
produtor prefere focalizar os seus esforços e meios na actividade
produtiva, deixando a actividade de colocação de produtos no mercado a
cargo de profissionis especalizados.

Assim, vamos encontrar dentro da distribuição indirecta uma


subcategoria designada distribuição indirecta integrada, na qual o
sitribuidor está fortimente conectado à rede de distribuição criada pelo
produtor, o qual, a pesae de não se encarregar da distribuição , não quer
perder o controlo dos canais de colocação dos seus produtos, a fim de
poder, por exemplo, manter uma imagem uniforme de toda a rede ou
asseguarar a manutenção de determinados padrões de qualidade.
Universidade Católica de Moçambique 199

Ao invés, na distribuição indirecta não integrada, o distribuidor etm um


maior grau de autonomia quanto à forma de actuar, havendo por isso um
maior apagamento do papel do produtor na função de desibuição.

Um outro traço comum aos de distribuição reside no facto de, em todos


eles, o distribuidor assumir como obrigação primeira a promoção dos
produtos do produtor.

Estabelecidos alguns dos pontos comuns, haveá que chamar a atenção


para um aspecto em relação ao qual será mais fácil difernciar cada um
dos contrato de distribuição.

São vários sos objectivos do produtor quando se socorre da intervenção


de um terceriro para que este se ocupe da função da distribuição dos seus
produtos. De forma sumária, poderemos enunciar os seguintes:

 Concertação de recursos naquele que é a sua actividade principal – a


produção;

 Criação das condições para atingur novos mercados em relação aos


quais não tem acesso por si só;

 Redução do risco da sua actividade, afastando-se das tarefas de


colocação dos produtos no mercado.

Se é verdade que os dois primeiros objetivos enunciados podem ser


atingidos com o recurso a qualquer dos tipos de contratos de distribuição,
o mesmo já não ocorre quanto ao terceiro.

Assim, no contrato de agência, o agente limita a sua actividade à


promoção dos produtos do principal, cabendo a este a decisão de
contratar, o que faz sempre em seu nome e assumindo para si o risco do
contrato. Assim, o agente para além de não assumi o risco inerente ao
contrato, nunca adquire os produtos que promove, o que leva a que o
risco por ele assumido seja muito pequeno.

Já na concessão e na franquia o distribuidor assume um maior grau de


risco negocial. Com efeito, nestes tipos contratuais o distribuidor adquire
para si os produtos integrando-os na sua esfera patrimonial, procedendo à
sua colocação junto do mercado através da revenda dos mesmos
Universidade Católica de Moçambique 200

produtos. Em contarpartida, o principal não assume qualquer risco


resultante da distribuição dos seus produtos.

Como sde depreende do que ficou dito, um dos aspectos que nos permite
distinguir os contratos de distribuição entre si é o grau de risco que o
distribuidor corre para antingir o objectivo a que se propõe. Como é
natural, a circunstância dos distribuidor assumir um maior ou menis risco
nai ter reflexos nos proveitos que cada um irá retirar da actividade.76

189. A actuação do agente por conta do principal

Afirmar-se que o agente actua por conta do principal mais não é doa eu
consignar-se que os efeitos dos actos que por ele são praticados se
refletem na esfera daquele (cfr. artigo 528.º do CCom).

É esta característica que permie a distinguir entre o contrato de agencia


por um lado e os contratos de concessão e de franquia por outro. Nestes
últimos, os actos do concessuonário e do franquiado repercutem-se
directamente nas esferas jurídicas destes.

Para além de agir no interesse do principal, o agente tem a obrigação de


zelar pelos interesses deste e desenvolver as actividades adequadas à
realização plena do fim contratual.

Com efeito, o agente para além de promover os negócios do principal,


tem a obrigação de com ele colaborar na melhoria das condições de
distribuição dos seus produtos, aconselhando-o no que respeita às
especiais condições de um dado mercado, sugerindo-le a introdução das
melhorias no produto pelas quais o mercado anseia.

190. O carácter oneroso do contrato

O agente tem direito a receber uma retribuição pelo trabalho


desenvolvido na promoção dos produtos do principal (cfr. o artigo 537.º
do CCom).

76
MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 523.
Universidade Católica de Moçambique 201

Como resulta do artigo 538.º do CCom, o agente tem direito a uma


comissão pelos contratos que promovei e, bem assim, pelos contratos
concluídos com clientes por si angariados, desed que concluídos antes do
termo da relação.

Assim, para além dos contratos celebrados em resultado directo do


trabalho de promoção desenvolvida pelo agente, este tem também direito
à comissão pelos contratos celebrados dirante o período contratual venha
a concretizar-se directamente entre o principal e o cliente e sem
interveção do agente.77

191. Contrato de Franquia

Tendo em conta o critério da integração atrás mencionado, poderemos


dizer que a par do contrato de agencia, é o contrato de franquia ou
franchising, que vamos encontra uma forte integração do distribuidor na
rede produtor/franquiador.

Na verdade, na maioria dos contratos de franquia, a integração na rede é


de tal forma forte que em muitos casos não é possível dostinguir entre
franquiador e franquiado.

Este tipo contratual, nascido nos EUA nos finais do Século XX,
expandiu-se por todo o mundo, assumindo hoje uma forte implantação e
importância económica na Europa, o que se reflete no extremo interesse
que o mesmo tem merecido quer por parte da doutrina quer por parte da
jurisprudência78.

No entanto, apesar de ser um modelo de contratual extremamente vulgar


em Moçambique, continua a não existir uma regulamentação específica
do contrato de franquia razão pela qual,estamos perante uma contrato
atípico, embora socialmente tipificado.

77
MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 525.

78
MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 528.
Universidade Católica de Moçambique 202

Vejamos as principais características do contrato de franquia.

Como elemento essencial da franquia poderemos apontar a por vezes


total identificação da imagem comercial do franquiado com a do
franquiador.

Com efeito, regra geral, é muito difícil para o público discernir a empresa
do franquiado, já que os elementos externos mais visíveis, como sejam as
marcas, nomes ou isnígneas, a forma de apresentação dos produtos ou a
imagem da loja, fazer crer ao consumidor que está a contratar com o
franquiador.

Tendo em vista o forte grau de integração, o franquiador pode não só


contralar a activiade do franquiado como também assegurar que, em toda
a sua rede de distribuição, são cumpridos todos os parâmentros põe ele
definidos.

Dessa forma o franquiador, para além de assegurar uma maior penetração


no mercado das suas marcas e produtos, garante a existência de um certo
padrão de qualidade dos produtos ou serviços fornecidos. Por outro lado a
forte integração do franquiado na rede de distribuição do franquiado
permite a criação de procedimentos standard que irão facilitar a
fidcalização e controlo por parte do franquiador.

É graças a esta uniformização de imagem dá ao franquiado a


possibilidade de se integrar numa rede de dostribuição já bastante
organmizada e que goza de grande prestígio, evitando dessa forma a
necessidade de dispêndio de esforços e capital na promoçõ dos produtos
por si vendidos.

Acresce que o copntrato de franquia, regra regal, assegura ao franquiado


um nível de assisntencia técnica e de assessoria comercial de alto nível, o
que lhe permite, com menor esforço a mais rapidamente, assegurar uma
melhor posição no meracado.79

Um dos objectivos do franquiador, ao impor a adopção de uma imagem


unitária em toda a sua rede, será o de aumentar a clientela fidelizada à sua

79
MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 529.
Universidade Católica de Moçambique 203

marca, sem que para isso tenha de correr os riscos inerentes à distribuição
directa em mercado que não conhece.

Não obstante o forte grau de integração do franquiado na rede de


franquiador, não poderemos esquecer que, de um ponto de vista jurídico,
os franquiados são entidades com personalidade jurídica própria e que
exploram empresas autónomas.

A forte evolução que se tem vindo a registar na forma de funcionamento


de alguma franquias levou que alguns franquiadores não exerçam já a
actividade através da qual se tornam conhecidos, assumindo agora como
actividade princuipal, quando não mesmo único, a cedência de direitos de
utilização das suas marcas e outros direitos de propriedade industrial ou
intelectual, de um cobceito de comercialização ou de know-how.80

Chegados a este ponto haverá que propor uma definição do contrato de


franquia.

Assim, poderemos defini-lo como sendo aquele em que o franquiador


autoriza o fraqnuiado a utilizar a sua imagem empresarial de forma
estável, obrigandio-se este a dar-lhe contrapartidas acordadas para essa
utilização.

Tais contrapartidas pode ter mais diversa natureza, apontando-se a título


de exemplo: uma percentagem sobre vendas, o pagamento de direitos
pela utilização dos seus bens de propriedade industrial ou itelectual, o
pagamento de serviços de assessoria que o franquiado é obrigado a
adquirir ao franquiador.

Em consequência das virtualidades e flexibilidade que a figura revela, os


contratos de franquia foram ganhando contorns próprios que permite
detectar a existência de diveras modalidades entre as quais poderemos
enumerar algumas das mais comuns.

Assim, atendendo ao tipo de actividad a desenvolver pelo franquiado,


podem distinguir-se:

80
MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 530.
Universidade Católica de Moçambique 204

a) Franquia de produção – na qual o franquiado fabrica produtos do


franquiador, obedecendo as regras de produção impostas por este;

b) Franquia de ditribuição – na qual o franquiado vende produtos num


local que está identificado com nome de estabelecimento ou insígnea
do franquiador;

c) Franquia de serviço – na qual o franquiado oferece servços sob marca


e insígnea do franquiador e obedece às normas de comercialização
impstas por este.

São também corentes outras modalidades de franquia, tais como:

- Package franchising – no qual o franquiado actua segundo a imagem do


franquiador;

- Product franchising – no qual o franquiado ontem do franquiador


licenças dpara vender os produtos deste.

A flexibilidade deste contratyo permite-lhe ainda facultar formas


diversificadas de organização da rede de franquiados.

Assim, o franquiador pode negociar directamente com o franquiado as


condições em que o mesmo passa a integrar a rede, estabelecendo-se uma
relação directa entre o franquiador e o franquiado.

Como alternativa, o franquiador pode preferir atribuir a uma determinada


pessoa – o master franchiser – o direito à exploração da franquia dentro
de um dado espe,co territoruial. Este por sua vez fica autorizado a, dentro
desse mesmo território, conceder sub-licenças a terceiros para que estes
explorem a franquia.81

É preciso ter presente que como o contrato de ranquia não está previsto
na ordem jurídica moçambicana nos socorremos do contrato de agência
que serve de base para os contratos de distribuição.

81
MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a
colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição, revista
e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 149 à 531.
Universidade Católica de Moçambique 205

192. Contrato de transportes

O contrato de transportes é o negócio jurídico pelo qual uma pessoa ou


entidade (transportador) se encarrega profissionalmente de promover a
deslocação de pessoas ou bens de um ligar para o outro, por via terrestre -
rodaviária ou ferroviária - marítima (fluvial ou oceânica) ou aérea,
mediante uma retribuição82 , (cfr. os artigos 557 e 558.º do CCom).

Este contrato encontra-se regulado nos artigos 557.º à 599.º do Código


Comrecial, e em legislação avulsa, incluíndo diveras convençãoes
aplicáveis ao contrato de transporte internacional.

Relativamente ao transporte marítimo este encontra-se regulado nos


artigo 366.º e seguintes do Código Comercial de 1888, ou seja no livro III
do referido Código Comercial, entretanto revogado e pos se somente em
vigor o livro III do Código.

193. Regime Jurídico

Sujeitos

São partes necessárias neste contrato: o transportador - que realiza o


transporte ou que assume a sua execução - e o expedidor que é a pessoa
ou entidade que solicita o transporte de bens ou mercadorias, ou pessoa
transportada ( ainda que não seja esta a suportar o preço).

Podem ser também intervenientes no negócio: - o destinatário, isnto é, a


pessoa ou entidade para a qual as mercadorias são enviadas.

- O Carregador - qe corresponde nos contratos de transporte de


mercadoria por mar, ao expedidor, deve proceder à entrega da mercadoria
para o embarque ao transportador.

- O Transitário - que é uma entidade que não se confunde com os


ooutros sujeitos, e que desempenha uma actividade auxiliar do contrato
de transporte, que se tradiz na prestação de serviços de natureza logistica
e operacional que inclui o planeamento, o controlo, a coordenação e a
direcção das operações relacionadas com a expedição, recepção,
armazenamento e circulação de bens ou mercadorias.

82
CUNHA, Paulo Olavo, Lições de Direito Comercial, Edições Almedina, S.A.,
Coimbra, 2010, pp. 204.
Universidade Católica de Moçambique 206

É preciso ter presente que o artigo 559.º do Código Comercial que trata
da matéria relativa ao regime, dispõe que o contrato de transporte é
regulado pelas normas legais que lhe sejam directamente aplicáveis em
virtude do meio de transporte utilizado e pelas disposições do Código
Comercial, de maneira como o códiog comercial dispões em ralação ao
regime, remete para ca tipo de transporte regular especificamnte o seu
regime jurídico.

194. Modalidades

Consoante o quid que é objecto do transporte, podemos, e devemos,


distinguir o transporte de bens (cfr. o artigo 575.º e seguints do CCom)
do transporte de pessoas (ou passageiros cfr. o artigo 561.º e seguintes do
CCom) direfença que é patente no próprio Código Comercial que
regulam o transporte por mar de mercadorias e de pasageiros,
respectivamente.

O Código Comercial que regula a matéria relativa ao transporte interno


de pessoas e mercadorias não impõe forma especial para a celebração do
contrato de transporte - admitindo-se por isso, que o mesmo se constitua
consensualmente - apesar de obrigar o transportador a entregar um bilhete
de passagem (cfr. o artigo 562.º do CCom) tratando se do transporte de
pessoas (passageiros) e uma guia que é um documento comprovativo da
existencia da relação jurídica ao expedidor que o exigir (cfr. 577.º do
CCom) tratando-se de transporte de mercadorias ou coisas.

Por sua vez, o transporte de mercadorias por mar está sujeito a forma
escrita, ainda que possa consubstanciar-se em cartas, telegramas, telefax e
e-mails (meios equivalentes criados pela tecnologia moderna).

Para documentar o transporte a realizar, pode ser emitido um documento


representativo do transporte a efectuar que se designa por guia de
transporte (cfr. artigo 577.º do CCom), no caso dos transportes terrestes, e
conhecimento de carga, no caso dos transportes marítimos.
Universidade Católica de Moçambique 207

A guia de transporte deve conter, pelo menos, a identificação dos


intervenientes no transporte (transportador, expedidor e destinatário),
incluíndo o respectivo domicílio, dos objectos transportados e forma do
respectivo acondicionamento, local do carregamento e da entrega, meio
de transporte e prazo para a realização, e eventual indemnização (que seja
convencionada com o transportador) no caso de incumprimento. Este
documento quando form emitido à ordem ou ao portador pode ser
endossado ou simplismente entregue, transferindo a propriedade dos bens
transportados (cfr. o artigo 583.º e 588.º ambos do CCom).

O conhecimento de carga, sendo sendo representativo da mercadoria nele


descrita, corresponde, no âmbito do transporte marítimo, ao título do
transporte propriamente.

195. Outros aspectos do regime legal do contrato

O preço do transporte odoviário deve ser calculado de acordo com


determinados factores estabelecidos no artigo 560.º do CCom.

Com referencia à regulamentação constante do Código Comercial


importa ponderar autonomamente alguns aspectos.

Na sua actividade, o transportador deve respeitara ordem pela qual


recebeu os objectos

Exercícios

Exercícios
1. A Sociedade Viúva Palmira, Lda é titular da marca registada "Pão de
Ló da Tia Palmira". A partir de 1980, a sociedade deixou de facbricar pão
de ló daquela marca, celebando vários contratos pelos quais concede,
mediante o pagamento de uma quantia anual, licença para exploração da
marca e presta apoio técnico na aplicação do processo de fabrico de pão
de ló
Universidade Católica de Moçambique 208

Um desses contratos foi celebrado, em 1981, com Alzira Marques,


proprietária de um dos estabelecimentos de fabrico e venda de produtos
de pastelaria. Desde 1985 que Alzira não paga o montante anual devido
pelo contrato, razão pela qual a sociedade Viúva Palmira, Lda obteve
sentença de condenação para pagamento de quantia de 200.000.00Mts
(duzentos mil meticais).

A Alzira, que não está matriculada como comerciante, é casada em


regime de comunhão de adquiridos com Domingos Marques, mas estão
separados de facto há mais de quinze anos. Os bens próprios de Alzira
são de valor diminuto, o património comum do casal inclui um imóvel de
valor superior de 200.000.00Mts (duzentos mil meticais).

a) Como qualifica o contrato discrito?

b) deve Alzira ser qualificada como comerciante?

c) como deve proceder a sociedade Viúva Palmira, Lda para, em acção


executiva, se pagar do seu crédito?

2. António, Empreiteiro e Bela, Engenheira civil, celabraram um contrayo


com o fim de concorrerem a uma empreitada lan,cad pelo Conelho
Municipal da Beira, para a construção de uma ponta. O objectivo seria
intruir o processo de candidatura onde se exigia a assinatura de um
engengeiro civil, embora fosse clara a intenção das partes em apenas
António assumisse a responsabilidade dee construir a referida obra. A
candidatura que se apresentou sob om nome de “A&B em consórcio” saiu
vencedora. No entant, António pretende que a expressão em consórcio
não implique a celebração de um contrato de consórcio, mas sim de
colaboração pelo qual António recorreria aos servi,cós de Berta no
âmbito da instrução do processo, só ele pretendendo contrartar com
Conselho Muncicipal e ficando livre de recorrer a terceiros para o
trabalho de engenharia civil. Berta contrapõe que era essa intenção e que
também ela deveria ser parte no contrato de construção e receber
directamnete do Conselho Municipal os montantes indicados relativos ao
projecto de engenharia.

Quid Juris
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3. Andrito era uma figura pública com abstardos recurso. Um dia


conheceu Banga e Comboxo, excepcionais inventores sem dinheiro, e
combinou financiar a sua actividade para o lançamenton de um produto
contra a queda de cabelo – o Cabelex. Andrito contribuiu 50.000.00Mts
(cinquenta mil meticais) e acordarm que ficaria com 10% dos lucros
gerados em cada ano. Como Andrito não queria que se soubesse da sua
participação no negócio, o acordo ficou secreto. Banga e Comboxo
arrendaram um espaço numa zona central da Cidade da Beira e fizeram
em excepcuional trabalho. Dentro de pouco tempo o Cabelex era um
sucesso comercial Banga e Comboxo começaram então a celebrar
contratos de distribuição para todo o pais – os distribuidores pagavam
100.00Mts para ganhar o direito de ficar com o exclusivo para a sua
região, recebiarm 5% das vendas e tinha de receber as estritas regras de
publicidade. O contrato ficou reduzido a escrito. O negócio foi um
sucesso tendo crescido de modo extraordinário pelo que, passados 4 anos,
uma multinacional propôs a Banga e Comboxo a sua aquisição por
200.000.00Mts. Estes aceitaram. Nada foi dito sobre a existência de um
contrato com Andrito e sobre os contratos com os distribuidores.
Entretanto, após tomar conhecimento dstes contratos, a multinacional
dirigiu entõ cartas afirmando que passaria a comercializar directamente o
Cabelex.

a) Qualifique fundadamente o contrato celebrado entre Andrito, Banga e


Comboxo?

b) O Senhorio do estabelecimento arrendado alega que a transmissão do


estabelecimento não é válido porque não houve consentimento dele
próprio, dos distribuidorese de Andrito?

4. A Sociedade Comercial ART e a Sociedade Comercial BOLT


celebraram um contrato. Nos termos do contrato ficou definido que a
BOLT colaboraria com a ART na construção de um condomínio de
apartamentos localizado na Cidade da Beira.

A colaboraç`ao de BOLT cingir-seia à instalação dos circuitos eléctricos


de abastecimento do condomínio, cabendo à ART a coordenação,
representação e realização das restantes obras de construção do
condomínio.
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Como contrapartida da colaboração da sociedadeBOLT na realização da


obra ficou acordado que esta receberia no final 2% dos lucros gerados
pela venda dos apartamentos do condomínio pela ART. Ficou também
acordado que a BOLT participaria ilimitadamente nos prejuízos
resultantes do insucesso da venda.

Jõao que adquiriu um dos apartamentos do condomínio à ART, tendo


tido problemas com a instalação eléctrica, a que lhe destruiu o
computador pessoal, dirigiu-se `a BOLT reivendicando o ressarcimento
dos danos causados pela deficiente instalação eléctrica.

A bolta negou qualquer responsabilidade e informou João que a eventual


responsabilidade deveria ser accionada perante a ART.

1) Identifique e caracterize o contrato celebrado entre a Sociedade


ART e a Sociedade BOLT?

2) Pronuncie-se fundadamente sobre a validade da cláusula de


participação nos lucros e perdas?

3) Analise a resposta da BOLTface à reivendicaçãode João?

4) Poderia a ART e a BOLT constituir um fundo patrimonial


comum com personalidade jurídica para o ressarciemnto da dívia
a credores?

Referência Bibliográfica

CUNHA, Paulo Olavo. Lições de direito comercial . Vol I,


Almedina, Lisboa, 2010, pp. 1 à 23.

ABUDO, José Ibraimo. Direiro Comercial, 1ª edição, Maputo, 200, pp. 33-54.

MIGUEL J.A. Pupo Correia, Direito Comercial, Direito da Empresa, com a


colaboração de António José Tomas e Octávio Castelo Paulo, 10.ª Edição,
revista e actualizada, Lisboa, Setembro de 2007, pp 27.

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