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Manual do Curso de Licenciatura de Gestão de Recursos

Humanos

Fiscalidade

ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO 2023


ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO

2º ANO: Fiscalidade
CÓDIGO
ISCED1-RH16
TOTAL HORAS/ 2 125
SEMESTRE
CRÉDITOS (SNATCA) 5
NÚMERO DE TEMAS 3
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo:
Fiscalidade

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contém reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


Direcção Académica
Rua Dr. Almeida Lacerda, No212 Ponta - Gêa
Beira - Moçambique
Telefone: +258 23323501
Cel: +258 823055839

Fax:23323501
E-mail: isced@isced.ac.mz
Website: www.isced.ac.mz

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo:
Fiscalidade

Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos


seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Autores Fonseca Aguilar Viegas, Licenciado em Direito pela


Universidade Zambeze e em ensino de Filosofia pela
Universidade Pedagógica delegação da Beira

Constantino José Cossa, Licenciado em Direito pela


Universidade Zambeze e em ensino de Filosofia pela
Universidade Pedagógica delegação da Beira
Coordenação Direcção Académica do ISCED

Design Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED)

Revisão Científica e Estrela Eduardo Soda Charles


Linguística

Ano de Publicação
2016
Local de Publicação
ISCED-BEIRA

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo:
Fiscalidade

Índice

Direitos de autor (copyright) i

PREFÁCIO viii

ABREVIATURAS ix

VISÃO GERAL 11
Benvindo à Disciplina/Módulo de Fiscalidade ................................................................. 11
Objectivos do Módulo......................................................................................................11
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 12
Como está estruturado este módulo ............................................................................... 12
Ícones de actividade ........................................................................................................ 14
Habilidades de estudo .....................................................................................................14
Precisa de apoio? ............................................................................................................. 16
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)................................................................................17
Avaliação .......................................................................................................................... 17

TEMA – I: O DIREITO FISCAL E SEU ENQUADRAMENTO NO UNIVERSO DA


CIÊNCIA JURÍDICA. 18

Contextualização do tema ............................................................................................. 18


UNIDADE Temática 1.1 Actividade Financeira e Direito Fiscal ......................................
19 1-Actividade financeira .......................................................................................... 19
1.1-Noções fundamentais .......................................................................................19
1.2-Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Fiscal .................................... 21
2- Natureza e Âmbito do Direito fiscal...................................................................22
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................... 23
Unidade Temática n° 2 - A Relações do Direito fiscal com Outros Ramos do Direito ......25
1 - Direito fiscal e direito constitucional ................................................................ 25
2 - Direito fiscal e direito administrativo ............................................................... 26
3 - Direito fiscal e direito processual ...................................................................... 26
4 - Direito fiscal e direito penal .............................................................................. 26
5 - Direito fiscal e direito internacional .................................................................. 26
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................... 27

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Fiscalidade
Unidade Temática n° 3: Fontes do direito fiscal .............................................................. 28
1.1 -Constituição e princípios constitucionais em matéria de tributação ............... 28
1.2-Lei no sentido restrito ...................................................................................... 31
1.3-Decreto-lei ........................................................................................................ 31
1.4-Regulamento (Decreto, Diplomas Ministeriais, o Regulamento das Autarquias
Locais) .................................................................................................................... 31
1.5-Contractos Fiscais ............................................................................................32
1.6- Convenções internacionais .............................................................................. 32
1.7- Sobre o valor das Ordens Internas da Administração, Jurisprudência,
Doutrina e Costume ................................................................................................ 34
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................... 34
Unidade Temática n° 4 – A Interpretação e Aplicação das Normas Fiscais .....................36
1 - A Interpretação e Aplicação das Normas Fiscais .............................................. 36
2- Aplicação das Leis Fiscais no Tempo ................................................................ 38
3- Aplicação da Lei no Espaço ............................................................................... 39
4 – O conceito de dupla tributação ..................................................................... 40
4.1. O Problema da Dupla Tributação Internacional...............................................46
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................... 47

TEMA – II: TEORIA GERAL DO IMPOSTO 49

Contextualização ....................................................................................................49
Unidade Temática n° 1: Conceito do imposto, distinção do imposto e figuras afins e a
classificação dos impostos ............................................................................................... 50
1.1 Aspectos gerais ................................................................................................. 50
1.2 - O imposto e as figuras afins ........................................................................... 50
1.3 Objectivos do imposto ...................................................................................... 52
1.4 - Classificação dos impostos............................................................................ 53
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................... 55
Unidade Temática n° 2: Fases do imposto.......................................................................57
1 - Fases do imposto .................................................................................................. 57
1– A incidência ................................................................................................... 57
1.2 - A fase administrativa ..................................................................................... 57
1.2.1 - Lançamento ................................................................................................. 58
1.2.2 - Liquidação ................................................................................................... 58
1.2.3 - Cobrança ou Pagamento .............................................................................. 58
1.3 - O processo de execução fiscal ....................................................................... 59
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................... 60

TEMA – III: GARANTIAS 62

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Fiscalidade
Contextualização do tema ...................................................................................... 62
Unidade Temática n° 1 - Garantias .................................................................................63
1 - Garantias do sujeito activo ................................................................................ 64
1.1 - Garantias especiais .........................................................................................64
2 - Garantias do sujeito passivo .............................................................................. 65
2.1 - Garantia geral .................................................................................................65
2.2 - Garantias impugnatórias ................................................................................ 66
2.3 - Garantias não impugnatórias ..........................................................................66
2.4 - Garantias impugnatórias administrativas (graciosas) ....................................66
2.4.1. Reclamação graciosa .................................................................................... 66
2.4.2 - Recurso hierárquico ....................................................................................68
Unidade Temática n°2: Garantias (Continuação.) ..........................................................68
2.5 - Garantias impugnatórias contenciosas ........................................................... 68

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2.5.1 - Tutela jurisdicional ..................................................................................... 68


2.5.2 - Conceito de Garantias Contenciosas........................................................... 70
2.5.3 - Recurso Contencioso .................................................................................. 70
2.5.4 - As acções .................................................................................................... 71
2.5.4.1 - Acção para reconhecimento de um direito ou interesse legalmente
protegido ................................................................................................................ 71
2.5.4.2 - Acção para intimação para prática de um comportamento ...................... 71
3 - Princípios do contencioso fiscal ....................................................................... 71
3.1 - Princípio da tutela jurisdicional efectiva...................................................... 71
3.2 - Principio do inquisitório e da verdade material ............................................. 72
3.3 - Princípio da celeridade .................................................................................. 72
3.4 - Princípio da cooperação................................................................................. 73
4 - Infracções fiscais .............................................................................................. 73
4.1 - Competência para julgamento das transgressões fiscais ....................................... 74
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ............................................................................ 75

TEMA – IV: O SISTEMA FISCAL MOÇAMBICANO 78

Contextualização do tema ............................................................................................ 78


Unidade Temática n° 1 - A Origem Histórica do Direito Tributário Moçambicano ......... 78
1.1 - As formas iniciais do imposto em Moçambique............................................ 78
1.2 - O Mussoco e o imposto de palhota ................................................................ 78
2 - Os impostos Directos ........................................................................................ 82
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO..................................................................... 83
Unidade Temática n°2: A fiscalidade em Moçambique após a independência. ............. 85
1 - O sistema tributário vigente à data da independência ....................................... 85
1.1 - Características do sistema.............................................................................. 85
1.2 - Principais impostos em vigor......................................................................... 86
2 - Reforma Iniciada em 1978 ............................................................................... 87
3 - O PRE e a reforma fiscal de 1987..................................................................... 88
4 - A reforma fiscal de 2002 e os novos impostos do Sistema fiscal
moçambicano ......................................................................................................... 88
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO..................................................................... 89
Unidade Temática n°: 3Tributação em IRPS ................................................................... 91
1 - Incidência objectiva ......................................................................................... 91
1.1 - Rendimentos de trabalho dependente............................................................91

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Fiscalidade

1.1.1 - Rendimentos de trabalho dependente não sujeitos ao IRPS ...................... 92


1.1.2 - Rendimentos de trabalho dependente isentos ............................................ 93
1.2 - Rendimentos empresariais e profissionais – 2ª categoria ............................. 93
1.3 - Rendimentos de capitais – 3ª categoria (art. 9 do CIRPS) ............................. 93
1.4 - Mais-valias – 3ª categoria .............................................................................. 93
1.5 - Rendimentos 4ª categoria .............................................................................. 94
1.6 - Ganhos em numerário e incrementos patrimoniais – 5ª categoria ................. 94
2 - Incidência subjectiva ........................................................................................ 95
Unidade Temática n°4: Pagamento do IRPS (continuação)............................................. 96
1 - Retenção na fonte ............................................................................................. 96
1.1 - Retenções na fonte com natureza de pagamento antecipado ......................... 96
1.2 - Retenção na fonte com natureza de pagamento definitivo ............................ 97
1.3 - Pagamento por conta ..................................................................................... 97
1.4 - Pagamento final ............................................................................................. 98
2 - Apuramentos .................................................................................................... 98
2.1 - Apuramento dos rendimentos líquidos de trabalho dependente (1ª
categoria) ............................................................................................................... 98
2.2 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 2ª categoria .................................. 98
2.3 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 3ª categoria .................................. 99
2.4 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 4ª categoria ................................ 101
2.5 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 5ª categoria................................ 101
3 - Rendimentos líquidos das categorias ao apuramento do IRPS final ............... 101
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO................................................................... 102
Unidade Temática n°5: Tributação em IRPC ................................................................. 104
1 - Aspectos gerais ............................................................................................... 104
2 - Isenções .......................................................................................................... 105
3 - Período de tributação ...................................................................................... 106
Unidade Temática n°6: II – Determinação do IRPC (continuação) ................................ 106
Esquema............................................................................................................... 108
Esquema............................................................................................................... 109
Esquema............................................................................................................... 110
Unidade Temática n°7: (Continuação) .......................................................................... 110
1 - Sujeitos passivos residentes que não exerçam, a título principal, actividades de
natureza comercial, industrial ou agrícola............................................................ 110
2 - Sujeitos passivos não residentes com estabelecimento estável ....................... 112
3 - Sujeitos passivos não residentes sem estabelecimento estável ....................... 112
4 - Aplicação de métodos indirectos .................................................................... 113
5 - Pagamentos antecipados .............................................................................. 113
5.1 - Pagamento por conta ................................................................................. 113
5.2 - Pagamento especial por conta...................................................................... 114
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO................................................................... 114
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Fiscalidade

Unidade Temática n°8: Imposto Simplificado de Pequenos Contribuintes (ISPC) ........ 116
1. Definição e contribuintes............................................................................ 116
2. Benefícios ................................................................................................... 117
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................. 118
Unidade Temática n°9: O Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).......................... 120
1 - Incidência ....................................................................................................... 120
2 - Isenção ............................................................................................................ 120
3 - Regimes de tributação .................................................................................. 121
3.1 - Regime Normal ........................................................................................ 121
3.2 - Regime simplificado .................................................................................... 122
3.3 - Regime de isenção ....................................................................................... 122
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................. 123
Unidade Temática n°10: Outros impostos .................................................................... 124
1 - Imposto sobre consumos específicos ICE .................................................... 124
2 - Direitos aduaneiros ....................................................................................... 124
3 - Imposto do selo ............................................................................................. 124
4 - Imposto sobre as sucessões e doações........................................................... 125
5 - SISA ............................................................................................................. 126
6 - Imposto Especial Sobre o Jogo ..................................................................... 127
7 - Imposto de reconstrução nacional IRN .......................................................... 127
8 - Imposto sobre veículos ................................................................................. 128
9 - Imposto sobre a Produção Mineira ............................................................... 128
10 - Imposto sobre a superfície ............................................................................ 128
11 - Imposto Específico da actividade petrolífera................................................ 129
12 - Imposto pessoal Autárquico ......................................................................... 129
13 - Imposto predial autárquico ........................................................................... 129
14 - Imposto autárquico da Sisa........................................................................... 129
15 - Imposto autárquico de veículos .................................................................... 129
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................. 130

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Fiscalidade

PREFÁCIO

É com grande prazer que acolhemos o convite que a direcção do


Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância formulou no
sentido de elaboração do módulo de Fiscalidade. Porém, no momento
de organizar o conteúdo em observância ao programa facultado pela
instituição tomamos consciência do compromisso que havíamos
assumido. Como elaborar um módulo com uma bibliografia
moçambicana deficiente, só colmatável através do recurso a obras
estrangeiras.

Assim, este módulo pretende motivar e auxiliar os estudantes para as


problemáticas das diversas teorias relativas e subjacentes a Fiscalidade,
ix
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo:
Fiscalidade

mas, também naquilo que ela tem de inédito, que é o de trazer para o
domínio público de uma forma sistemática, os fundamentos e a razão
de ser das diversas transformações que o sistema tributário
moçambicano se tem verificado.

Longe de ser estático, este modulo exige uma permanente reedição


para fazer face aos desafios da fiscalidade que esta em continuo
processo de mudança na sociedade Moçambicana.

ABREVIATURAS

Al. Alínea

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Fiscalidade

AR – Assembleia da república Art.º

– Artigo

AT – Administração tributária

CC – Código Civil

CIR – Código do Imposto Sobre rendimento

CIRPC – Código do Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas

CIRPS - Código do Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares

CIS – Código do Imposto de Selo

CISD – código do imposto sobre as Sucessões e Doações

CISPC – Código do Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes

CIVA – Código do Imposto Sobre valor Acrescentado

CRM – Constituição da República de Moçambique

CRPM – Constituição da República popular de Moçambique

CS – Código do Sisa

Dec. – Decreto

ICE – Imposto sobre Consumos Específicos

IPA – Imposto Pessoal Autárquico

IPRA – Imposto Predial Autárquico

IRN – Imposto de Reconstrução Nacional

IRPC - Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas IRPS

- Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares

ISPC – Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes

ISSD – Imposto sobre as Sucessões e Doações

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Fiscalidade

IVA – Imposto sobre Valor Acrescentado

LGT – Lei Geral Tributária (Lei 15/2002 de 26 de Junho)

N° - Número

OGE – Orçamento Geral do Estado

PRE – Programa de Reabilitação Económica

RCCI – Regulamento do Contencioso das Contribuições e Impostos

RCIRPC – Regulamento do Código do Imposto sobre Rendimento de


Pessoas Colectivas

RCIRPS – Regulamento do Código do Imposto sobre Rendimento de


Pessoas Singulares

RGIT – Regimento Geral da Infracções Tributárias ss

- Seguintes

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Fiscalidade

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

VISÃO GERAL

Benvindo à Disciplina/Módulo de Fiscalidade

O mais importante em um Instituto Superior são as pessoas. Tudo o


mais, a qualidade do ensino e da pesquisa, o respeito pela diversidade.
Entre as pessoas que formam esta comunidade, destacam-se os
estudantes. Assim, este módulo pretende motivar os estudantes para
as problemáticas das relações fiscais na perspectiva de que esse
fenómeno ocorre no jogo de mercado global, regional e nacional.

Objectivos do Módulo

Quando terminar o estudo, você será capaz de:

a) Dominar a fiscalidade e o Direito Fiscal Moçambicano;

b) Conhecer o Direito Fiscal e as normas que disciplinam a


Fiscalidade;

c) Conhecer a teoria geral do Direito Fiscal;

No final deste modulo esperamos que tenha capacidade de:


a) Compreender as garantias dos Contribuintes;

b) Especificar os crimes fiscais.


Objectivos
Específicos d) Conhecer a relação jurídica Fiscal;

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de


licenciatura em Gestão de Recursos Humanos do ISCED. Poderá ocorrer,
contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus
conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem vindos, não sendo
necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Fiscalidade, para estudantes do 2º ano do curso


de licenciatura Gestão de Recursos Humanos, à semelhança dos
restantes do ISCED, está estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

▪ Um índice completo.

▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades

. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução,


objectivos, conteúdos.

No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são


incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.

Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros


exercícios teóricos/Práticos, Problemas não
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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

resolvidos e actividades práticas, algumas incluindo estudo de


caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si, num


cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas
e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de
recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para
tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais
material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou
módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou
electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital
moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção
e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem.

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza
didácticoPedagógico, etc., sobre como deveriam ser ou estar
apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que, em
gozo de confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo
venha a ser melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens
das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do
processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de
texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender.


Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar


a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho,
dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se
conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante
saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões
com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo
dedicado aos estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

17
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de


estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido no
início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de
manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo melhor
com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de
intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto
da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que
já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar
o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada
tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo


superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10
(dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança
de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar
dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório,


pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da
aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de
trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência
entre o conhecimento, perde sequência lógica, por fim ao perceber que
estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e
desespero, por se achar injustamente incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de
alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está


a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta,
deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo
será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma


necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso:
A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria
de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e
Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas,
nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus
relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é
imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma
primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo
significado não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como
falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou
invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e
apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms,
Email, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a
preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico
e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com
qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a
Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre
estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante,
tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com
tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigetada para
acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar
dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do
tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que
permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação
aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou
precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos
19
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos


diferentes temas e unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


auto-avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas
semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo
conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo
os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os
direitos do autor.
O plágio 1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es).Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem
o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o
respeito pelos direitos autorias devem caracterizar a realização dos
trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um
mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos
do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um
máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante
consta detalhada do regulamentado de avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência
para ir aos exames.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.
20
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo
75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a
nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos


e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como
ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a
identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

TEMA – I: O DIREITO FISCAL E SEU ENQUADRAMENTO NO UNIVERSO DA CIÊNCIA JURÍDICA.

Contextualização do tema
Neste primeiro tema apresentamos a actividade financeira do estado,
dentro da qual se enquadra o fenómeno fiscal. Apresentamos
igualmente a noção do Direito fiscal, seu enquadramento no âmbito dos
ramos de direito e as relações que este ramo autónomo mantém com
os outros ramos de direito.

Estrutura

Este tema compreende 4 unidades temáticas.

Tópicos das Unidades Temáticas

Unidade Temática 1.1: Trata da actividade financeira do Estado, do


fenómeno fiscal, do direito fiscal e seu enquadramento na ciência
jurídica: São aspectos iniciais do nosso estudo;
21
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Unidade Temática Unidade Temática 1.2: Apresenta-mos e discutimos


as relações de subordinação, coordenação e complementaridade
estabelecidas entre o direito fiscal e outros ramos de direito;

Unidade Temática 1.3: apresentamos as diversas fontes do direito


fiscal, ou seja, as várias formas de manifestação e revelação das normas
jurídico-fiscais;

Unidade Temática 1.4 – Interpretação e aplicação das normas fiscais,


aonde falamos de tópicos como os âmbitos territorial e temporal da
vigência das normas fiscais e a admissibilidade ou não da integração das
lacunas.

Objectivos:

Resultados esperados neste tema:

Ao terminar o estudo deste tema, você será capaz de:

• Dominar os conceitos chaves conexos ao Direito Fiscal;

• Relacionar o direito fiscal com outros ramos;


• Explicar a teia de relações que o Direito fiscal estabelece com outros
Objectivos
Específicos ramos de Direito;

• Aprofundar as regras que regem a interpretação das normas do Direito


Fiscal

UNIDADE Temática 1.1 Actividade Financeira e Direito Fiscal

1-Actividade financeira

22
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

1.1-Noções fundamentais
As necessidades sentidas pelos indivíduos, quanto ao modo de
satisfação, podem ser de satisfação activa ou satisfação passiva. As
necessidades de satisfação activa exigem, para que sejam satisfeitas,
uma certa actividade do necessitado, ou seja, só são satisfeitas
mediante uma acção de quem as sente. As necessidades de satisfação
passiva são satisfeitas pela acção de outrem ou então pela simples
existência do bem.

De acordo com Teixeira Ribeiro (1997), desta circunstância de existirem


necessidades que se satisfazem activamente e necessidades que se
satisfazem passivamente, decorre as seguintes consequências:

➢ Se a necessidade é de satisfação activa, o produtor dos bens


pode exigir um preço pela utilização deles. Vigora aqui, o
princípio de exclusão já que o preço exclui o acesso ao bem
todas aquelas pessoas que não podem ou não querem pagar
pelo produto;
➢ Mas se a necessidade é de satisfação passiva, o produtor dos
bens já não pode exigir pela utilização deles preço algum.

É neste sentido que Waty (2004) enfatiza que enquanto as


“necessidades de satisfação activa exigem, como a denominação
sugere, uma actividade do consumidor, as necessidades do segundo
tipo, as de satisfação passiva, não exigem qualquer tipo de actividade
do consumidor, bastando, para a sua satisfação, a existência dos bens”,
que são por natureza indivisíveis e de consumo irrival e inexclusível.

Como o consumo dos bens de satisfação passiva não acarreta, por parte
do consumidor, o pagamento de qualquer valor pelo seu uso, o
produtor deles tem que arcar com a totalidade da factura. Neste caso,
para a existência desses bens, das duas, uma:

23
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

➢ Ou as despesas provenientes são arcadas por filantropos,


beneméritos ou quaisquer outros particulares de boa vontade;
➢ Ou terá que existir um ente cuja função é oferecer esses bens e
serviços necessários à cobertura das necessidades de satisfação
passiva.

Ora, como a primeira solução não é de todo confiável, a segunda, apesar


de poder ser complementada pela primeira, é a ideal pois dada a
essencialidade de alguns desses serviços ou bens 2 seria de todo
indesejável sujeitar os seus utentes à boa vontade dos beneméritos. É
por isso que, como ensina Pene (2013) a produção desses bens deve
estar, a cargo de uma entidade pública, pois por vezes só esta entidade
pública detêm os meios de produção, ou esta entidade sendo detentora
do jus imperii pode obrigar os indivíduos a suportar os custos inerentes
a produção do bem, por exemplo por via de imposição da obrigação de
pagar impostos e taxas.

Em regra as necessidades de satisfação passiva são satisfeitas pela acção


de um ente público, e designam-se necessidades públicas ou colectivas
e os bens que as satisfazem designam-se necessidades públicas.

1.2-Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Fiscal


Devido à carência de satisfação daquelas necessidades de satisfação
passiva, existe a actividade financeira do Estado. Esta actividade
financeira consiste na realização das despesas e arrecadação de receitas
com vista a satisfação daquelas necessidades, nomeadamente através
da produção de bens ou prestação de serviços.

Entretanto, sendo o nosso estado um estado de direito, a manifestação


da sua vontade colectiva não se dá de uma forma arbitrária. Por essa

2
Como é o caso da segurança, saúde, educação, justiça, etc.
24
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

razão, a disciplina financeira não se subordina às vontades dos agentes


e órgãos públicos: subordina-se sim ao direito, a um conjunto de
normas jurídicas. É este conjunto de normas jurídicas que regulam a
actividade financeira dos entes públicos que designa-se direito
financeiro ou direito financeiro público.

A actividade financeira compreende operações relativas à aquisição e


gestão das receitas e à realização das despesas3. No direito financeiro
de receitas encontramos os seguintes subsectores: o direito
patrimonial, que é relativo as receitas patrimoniais, o direito do crédito
publico, que regula o recurso ao crédito por parte das entidades
publicas e a gestão da divida publica, e o direito tributário ou das
receitas coactivas do estado.

Já no que toca ao direito tributário, Ibrahimo (2002:16) reconhece o


facto de a generalidade da doutrina usar indistintamente os termos
direito fiscal e direito tributário. No entanto, o mesmo autor reconhece
maior amplitude ao direito tributário, pois enquanto o direito fiscal se
circunscreve ao estrito âmbito das receitas coactivas, máxime o
imposto, já o direito tributário inclui, para além do imposto, outras
cobranças como as taxas e outras categorias de receitas públicas. O
direito tributário é o direito relativo aos tributos ou receitas coactivas,
abrangendo quer os impostos quer as taxas.

Portanto, o direito fiscal é o conjunto de normas que disciplinam as


relações que se estabelecem entre o Estado e os outros entes públicos,
por um lado, e os particulares, por outro, por via do imposto, ou seja,

3
Neste aspecto vale a posição de Waty para quem “o direito financeiro abrange as
receitas públicas, as despesas públicas e a sua articulação e dele são excluídas as
receitas de origem privada cujas relações jurídicas são de outros ramos de direito
(Waty, op.cit: 17)
25
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

conjunto de normas que regulam o imposto desde a incidência,


lançamento, liquidação e cobrança. (Ibrahimo, op. Cit: 17)

2- Natureza e Âmbito do Direito fiscal


Quanto à natureza, o Direito fiscal é um ramo do direito público. De
facto, aplicando qualquer tipo de critério a solução é mesma. Assim:
pelo critério dos interesses, o Direito Fiscal destina-se à satisfação de
necessidades da comunidade; pelo critério dos sujeitos, um deles é
necessariamente o Estado, o credor e, pelo critério da posição dos
sujeitos, na relação fiscal o estado se apresenta revestido de poder de
mando, do ius imperii. Portanto, qualquer que seja o critério perfilhado,
desagua-se na mesma posição, a de que o direito fiscal é um ramo do
direito público.

No que tange ao âmbito do direito fiscal, ele se adscreve apenas às


receitas coactivas unilaterais, sem nenhuma contrapartida directa,
específica e imediata, ou seja, o direito fiscal disciplina os impostos.
Estes possuem “uma suficiente dimensão para suscitar uma construção
dogmática com alguma autonomia” (Sanches 2007: 65). O direito fiscal
integra as normas de soberania fiscal, as normas de incidência,
lançamento, liquidação e cobrança dos impostos, as normas relativas as
garantias do sujeito activo e do sujeito passivo, as normas de
procedimento, as normas de sancionamento, as normas de contencioso
fiscal ou de processo, as normas relativas a cada imposto ou tipo de
imposto.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e
responda as seguintes questões:

26
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

1– O fale da relação entre as necessidades de satisfação passiva e a


actividade financeira do Estado?

2- Apresente o principal ponto que radica na distinção entre direito


tributário e direito fiscal.

3– Certo dia, Ângelo que é estudante de Gestão afirmou que o direito


tributário é ramo do direito fiscal e que ambos fazem parte do direito
privado. Concorda? Justifique a tua posição.

Tópicos das respostas:

1– É para satisfação das necessidades de satisfação passiva que existe a


actividade financeira do estado pois, havendo que fazer gastos em
ordem a disponibilizar os respectivos bens e serviços, deve o Estado,
com seu imperium, arrecadar receitas e fazer despesas. Por isso, são
aquelas necessidades que ditam a actividade financeira do estado.

2– O direito tributário é mais extenso e inclui taxas e outras receitas


além do imposto, ao passo que o direito fiscal se circunscreve ao
imposto.

3– Não concordar com a afirmação. Porque é o direito fiscal que é ramo


do direito tributário e ainda porque qualquer que seja o critério
perfilhado (interesse, sujeitos e posição dos sujeitos) as duas áreas do
direito se enquadram no âmbito do direito público.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:

27
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

IBRAHIMO, Ibrahimo, O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora, Maputo,


2002

MARTINEZ, Soares, Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra, 2000

NABAIS, José Casalta, direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra, 2009

PENE, Cláudio, apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano, Escolar


Editora, Maputo, 2013

SALDANHA SANCHES, J. L, Manual de Direito Fiscal, 3ª ed. Coimbra


editora, Coimbra, 2007

WATY, Teodoro Andrade, Introdução ao direito fiscal, W &W editora,


Maputo, 2004

WATY, Teodoro Andrade, Introdução à Finanças Públicas e Direito


Financeiro, W & W editora, Maputo, 2004

Unidade Temática n° 2 - A Relações do Direito fiscal com Outros Ramos do Direito

O ordenamento jurídico como um espaço jurídico onde são criadas e


aplicadas normas jurídicas é constituído por normas de várias espécies
e graus diferentes. Essa variedade de normas coabita ora de forma
passiva, ora de forma conflituosa, ora de forma paritária e ainda mais
de forma hierárquica. Por essa razão é de grande importância, sempre
que se estuda um ramo de direito, situá-lo no universo dos outros ramos
e determinar o tipo de relações específicas que estabelece com os
outros ramos. Nesta esteira, relacionaremos, nesta Unidade Temática,
o direito fiscal e outros ramos como o direito constitucional; o direito
administrativo; o direito processual; o direito penal e o direito
internacional.

1 - Direito fiscal e direito constitucional


A constituição é aquele manancial inesgotável do qual brotam os
princípios fundamentais que alicerçam todo o ordenamento jurídico e

28
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

que materializam ou devam materializar toda aspiração de um povo.


Neste prisma, o direito fiscal como outro e qualquer ramo de direito
infraconstitucional mantém relações estreitas com a fonte, da qual se
deve alimentar continuamente. De facto, é na constituição que o direito
fiscal busca os seus princípios directores respeitantes à disciplina
jurídica dos impostos. Destarte, o conjunto de normas constitucionais
que estabelecem as balizas norteadoras do regime do imposto
designase por constituição fiscal. No nosso ordenamento são de grande
importância os arts. 45 al. c), 100, 127, 179, n˚2 al. o), todos da CRM.
Portanto, o direito fiscal é subordina-se às regras e princípios de
natureza constitucional, os quais não pode viola-los sob pena de
inconstitucionalidade.

2 - Direito fiscal e direito administrativo


Estes dois ramos de direito mantêm relações estreitas de coordenação.
De facto, os órgãos responsáveis pela colecta e administração dos
impostos pertencem à administração, e justifica-se que sejam também
regidos pelo direito administrativo. Mas além disso, é de extrema
importância o facto de alguns institutos estudados nos cursos de direito
fiscal, como por exemplo as normas de organização dos serviços
administrativos e as competências dos funcionários que lançam,
liquidam e cobram impostos, serem disciplinados pelo direito
administrativo.

3 - Direito fiscal e direito processual


O direito processual como direito instrumental também mantém
relações estreitas com o direito fiscal na medida em que podem surgir,
no âmbito das relações fiscais, quaisquer matérias controvertidas que
careçam de ser dirimidos. Neste caso, recorrer-se-á ao processo fiscal.

29
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

4 - Direito fiscal e direito penal


O direito fiscal estabelece relações com o direito penal na medida em
que existe um direito fiscal penal, constituído por um conjunto de
normas que prevêem a violação de preceitos tributários e estatuem as
respectivas sanções. Mas também as normas do direito penal são
subsidiariamente aplicáveis ao direito fiscal penal, sobre tudo nos casos
em que a infracção fiscal constitui crime fiscal a que corresponda pena
de prisão ou multa convertida em prisão.

5 - Direito fiscal e direito internacional


Nas convenções internacionais encontramos normas fiscais de fonte
internacional relativas a dupla tributação internacional ou que
estabelecem regimes fiscais específicos em matéria diplomática,
religiosa, militar e económica.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e
responda as seguintes questões:

1 – Que entendes por relação entre o direito fiscal e outros ramos de


direito?

2 – Diga a palavra-chave que caracteriza a relação entre o direito fiscal


e o direito constitucional

3 – Que relação existe entre direito fiscal e direito administrativo?

Tópicos das respostas:

1- Conjunto de elos de subordinação, coordenação ou


complementaridade que mantém o Direito Fiscal em contacto
com os outros ramos de direito
2- A palavra-chave é subordinação, já que as normas do direito
fiscal devem obedecer os princípios constitucionais.

30
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

3- Complementaridade. O direito fiscal socorre-se sempre das


normas do direito administrativo para prosseguir seus fins.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo, O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora, Maputo,


2002

MARTINEZ, Soares, Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra, 2000

NABAIS, José Casalta, direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra, 2009

PENE, Cláudio, apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano, Escolar


Editora, Maputo, 2013

SALDANHA SANCHES, J. L, Manual de Direito Fiscal, 3ª ed. Coimbra


editora, Coimbra, 2007

WATY, Teodoro Andrade, Introdução ao direito fiscal, W &W editora,


Maputo, 2004

WATY, Teodoro Andrade, Introdução à Finanças Públicas e Direito


Financeiro, W & W editora, Maputo, 2004

Unidade Temática n° 3: Fontes do direito fiscal

1- Fontes do direito fiscal

A expressão fonte de direito é polissémica e admite vários


entendimentos. Entretanto o sentido que nos interessa para efeitos da
nossa cadeira é o técnico jurídico pelo qual fontes de direito são os
revestimentos pelos quais os preceitos jurídicos se revelam, são
anunciados, se apresentam, isto é, os modos de formação e de

31
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

revelação das normas jurídicas4. É em conformidade com este sentido


que o art. 7 n° 1 da LGT advoga serem fontes normativas dos impostos
a CRM, a lei, o decreto-lei, o decreto, os diplomas ministeriais, os
regulamentos das autarquias locais, o contracto fiscal e as convenções
internacionais. Examinaremos sucessivamente as fontes enunciadas
neste preceito legal.

1.1 -Constituição e princípios constitucionais em matéria de tributação


A primeira e mais importante fonte do direito fiscal é a constituição da
república, lei fundamental que contém de uma forma genérica os
princípios gerais que norteiam todo o ordenamento jurídico. É nela
onde encontramos princípios respeitantes a disciplina jurídica dos
impostos e que estabelecem limites ao poder tributário. Neste caso e à
luz da CRM, podemos distinguir os seguintes princípios: princípio da
legalidade tributária, princípio da igualdade tributária, princípio da
eficiência funcional, princípio de não retroactividade e princípio de não
aplicação analógica.

Segundo o Pene (2013) o princípio de legalidade5 tem por base a ideia


de auto-contribuição, isto é, à definição dos impostos pelos próprios
cidadãos ou através dos seus representantes. Este princípio visa
fundamentalmente a tutela dos valores de segurança jurídica e de
protecção de confiança nas leis fiscais assegurando especialmente a
cognoscibilidade, a previsibilidade e a calculabilidade dos impostos.

4
Pene, 2013: 25
5
Que teve a primeira consagração na lei n˚15/2002, de 26 de Junho e posteriormente
na constituição de 2004. O art.3 da lei 15/2002, de 26 de Junho, sujeita ao princípio de
legalidade fiscal o estabelecimento dos impostos, bem com a incidência, a taxa, os
benefícios fiscais, as garantias e as obrigações dos contribuintes e administração
tributaria e o regime das infracções tributarias.

32
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Este princípio tem consagração constitucional nomeadamente através


dos arts. 100 e 127 n° 2 que dispõe que os impostos são criados e
alterados por lei. Este entendimento é reforçado pelo art. 179 n°2 al. o)
que confere à Assembleia da República a competência exclusiva em
matéria da definição das bases da política de impostos e o sistema fiscal.
Com este último preceito constitucional fica mais do que claro que
apenas por lei ordinária, isto é, aquela que promana do órgão legislativo
por excelência, é que pode criar, alterar ou extinguir o imposto. Notase
pois que estamos perante o princípio da legalidade na vertente da
reserva da lei material pelo que o princípio de legalidade fiscal implica
que o parlamento estabelecerá os elementos essenciais dos impostos
de forma tão completa quanto possível.

Entretanto, a mesma CRM, no n˚3 do art.127 determina que “ninguém


deve ser obrigado a pagar impostos cuja liquidação e cobrança não se
façam nos termos da lei”. Ora, como não há nenhum outro dispositivo
constitucional que sujeita esta matéria à lei strito senso, como acontece
no caso da criação do imposto e, ainda tendo em contas que o art. 143
da CRM considera actos legislativos as leis e os decretos-leis, é de
entender na mesma senda que Pene (2013) que a lei ai referida será tal
como no art. 100 e n˚2 do art.127, lei parlamentar. Atendendo e
considerando que a liquidação e a cobrança não constituem matérias
de competências exclusivamente do parlamento, por não se
encontrarem abrangidas nas expressões “políticas dos impostos” e
“sistema fiscal”, poderão ser legisladas apenas por via de uma lei ou de
um decreto-lei autorizado.

O princípio de igualdade fiscal sempre se reconduziu ao princípio geral


da igualdade no seu sentido material, e teve ideias de generalidade ou
universalidade, segundo a qual todos devem pagar impostos, e
uniformidade, ao exigir que o dever de pagar impostos seja sempre

33
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

aferido pelo mesmo critério, da capacidade contributiva. Alem disso, na


selecção e articulação dos factos tributários, o legislador tem de tomar
em consideração factos reveladores de capacidade contributiva,
definindo como objecto (matéria colectável) de cada imposto um
determinado pressuposto económico (rendimento, património ou
consumo) que seja manifestado dessa capacidade.

O princípio da eficiência tutela o valor do bem comum, promovendo a


prossecução dos interesses públicos extra-fiscais constitucionalmente
relevantes que devem ser prosseguidos pelo Estado e outros entes
públicos. É por esta razão que Wagner (apud Pene, op cit:30-31) advoga
que o imposto deveria assumir uma função político-social dirigida a
correcção da repartição dos rendimentos e do património resultante
dos mecanismos de mercado operando em livre concorrência. Por essa
razão, o princípio da eficiência funcional, que tem consagração
constitucional no n˚1 do art.127, legitima o uso do sistema fiscal para a
prossecução de fins extra-fiscais relevantes, como por exemplo a
redistribuição do rendimento.

Outro princípio constitucional é o da anualidade do imposto. Este


princípio preconiza que a cobrança dos impostos deve ser previamente
autorizada anualmente, e esta autorização é da competência da AR
nomeadamente através da aprovação do OGE6. Aliás, a este respeito o
art. 130 n˚2 da CRM determina que o OGE deve especificar as receitas e
as despesas. De salientar que o princípio de anualidade também se
aplica aos beneficiários fiscais, já que estes são verdadeiras despesas
que devem ser orçamentadas anualmente.

6
Aprovação essa que faz parte do rol das actividades da exclusiva competência da
AR: art. 179 n˚2 al. M) da CRM
34
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

1.2-Lei no sentido restrito


Lei parlamentar ou lei no sentido restrito resulta do princípio da
legalidade tributária, na vertente da reserva da lei formal, relativamente
a criação e alteração de impostos e estabelecimento dos seus
elementos essenciais.

1.3-Decreto-lei
É fonte de direito fiscal, embora não se possa de forma inovadora,
determinar os elementos essenciais dos impostos, pois por imperativos
do princípio de legalidade tributária a criação dos impostos e a
normatividade dos elementos essenciais dos impostos é matéria da lei
da AR.

1.4-Regulamento (Decreto, Diplomas Ministeriais, o Regulamento das Autarquias Locais)

São três tipos essências de regulamentos fiscais: os regulamentos aprovados pelo Governo por via
de decretos; os actos de competências dos Ministros, aprovados através
de diplomas ministeriais e as deliberações de certas entidades públicas
menores (autarquias locais). Face ao princípio de legalidade fiscal, os
regulamentos, tal como os decretos-leis, não podem de forma
inovadora criar impostos, altera-los ou determinar os seus elementos
essenciais. Os regulamentos devem apenas ser normas meramente
complementares ou de execução,

visando apenas determinar os aspectos técnicos que dêem


desenvolvimento à legislação tributária (art 11 da LGT).

1.5-Contractos Fiscais
Segundo al. g) do art.7 da LGT os contratos fiscais fazem parte do leque
de fontes normativas dos tributos. Estes contratos fiscais são celebrados
entre administração e o seu sujeito passivo, e visam a atribuição de
benefícios ou incentivos fiscais, podendo por vezes revestir a forma de
lei-contratos ou leis pacteadas. Através deles, a administração se obriga
35
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

para com os particulares a não lhes aplicar o regime tributário normal


ou a conceder-lhes determinados desagravamentos fiscais.

Parte da doutrina defende, e com alguma legitimidade, que os


contractos fiscais não são admissíveis porque, face ao princípio da
legalidade, os elementos essenciais dos impostos encontram-se
abrangidos pela reserva da lei e, face ao princípio de igualdade, todos
que dispõe de capacidade contributiva devem suportar o imposto, não
sendo admissíveis favores individuais. Mas outra doutrina há que
entende que o fundamento para a celebração de contractos fiscais em
matérias dos beneficiários fiscais é o princípio de eficiência funcional,
implícito na parte final do n˚1 do art.127 da CRM. Em todo o caso e
seguindo a ideia de Nuno Gomes (Apud Pene, op. Cit: 37), os contractos
fiscais em matéria dos beneficiários fiscais só serão constitucionalmente
legítimos, quando autorizados por leis fiscal formal que defina os
beneficiários a conceder e os pressupostos objectivos e subjectivos da
respectiva concessão ao menos em termos genéricos.

1.6- Convenções internacionais


Conforme referido no n˚1 do art.18 da CRM as normas constantes dos
tratados e acordos internacionais, validamente aprovados e ratificados,
vigoram na ordem interna após a sua publicação no boletim da
república e enquanto vincularem internacionalmente o Estado
Moçambicano. Estas normas tem na ordem jurídica interna o mesmo
valor que os actos normativos infraconstitucionais da Assembleia da
República e do Governo, consoante a forma de recepção, isto por forca
do disposto no n˚2 da disposição retro referida.

Considera-se inconstitucional o n˚1 dot.7 da lei n˚15/2002, de 26 de


Junho que prescreve que as normas do direito internacional que
vigoram directamente na ordem interna prevalecem sobre a lei
ordinária. Em matéria fiscal assume relevância as convenções bilaterais
36
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

para evitar ou eliminar a dupla tributação internacional, e estas


convenções estabelecem regras de tributação de competências para
tributar e regras de repartição de poder de tributar entre os Estados
celebrantes.

Porem, tratando-se de convenções que versem sobre matérias da


competência da AR, como é o caso de taxas, benefícios fiscais e
garantias dos contribuintes, deverão ser ratificados pela AR, isto por
forca do disposto na al. f) do n˚2 do art.179 da CRM.

Assim, as convenções que versem sobre matérias da competência do


Governo são nos termos da al. g) do n˚1 do art.204 da CRM, tendo o
mesmo valor que os decretos, donde resulta que as norma da
convenção ratificada pela AR podem ser revogadas ou derrogadas por
lei da AR e as normas de convenção ratificada pelo Governo podem ser
revogadas ou derrogadas por decreto, só assim faz sentido o n˚2 do
art.65 do CIRPC que dispõe que quando existe convenção para evitar a
dupla tributação internacional celebrada por Moçambique, a dedução
por dupla tributação internacional a efectuar nos termos do CIRPC, não
pode ultrapassar o imposto pago no estrangeiro nos termos previstos
pela convenção.

1.7- Sobre o valor das Ordens Internas da Administração, Jurisprudência, Doutrina e Costume

As ordens internas (despachos interpretativos, as instruções e as circulares) emanadas pela


Administração Fiscal para esclarecer ou uniformizar o entendimento da
lei e o procedimento dos serviços desenvolvem a sua eficácia
exclusivamente na ordem interna da administração de onde provem.
Elas não constituem fontes do direito fiscal, porquanto a sua força
vinculativa se acha circunscrita ou limitada a um sector da ordem
administrativa, não vinculam nem o contribuinte, nem os tribunais.
Entretanto, as ordens internas têm o mérito de uniformizar a aplicação

37
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

do direito pelos agentes da administração e reduzir as demandas entre


estes e os sujeitos passivos.

A jurisprudência e a doutrina têm sido apresentadas como fontes


mediatas do direito fiscal, pois a jurisprudência, apesar de não ser fonte
do direito permite um prognóstico sobre como o direito será aplicado.
Neste sentido, os acórdãos de uniformização da jurisprudência pelo
Tribunal Supremo ou Tribunal Administrativo e as declarações de
inconstitucionalidade e ilegalidade pelo Conselho Constitucional,
constituem fontes imediatas do direito fiscal.

O costume é fonte autónoma de produção jurídica no direito


internacional. No âmbito fiscal, o único costume ou prática reiterada
com convicção de obrigatoriedade aceite é a isenção fiscal atribuída aos
representantes do corpo diplomático.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e
responda as seguintes questões:

1- Debruce sobre os princípios constitucionais respeitantes à disciplina


jurídica do imposto

2– Fale da admissibilidade dos contratos fiscais como fontes do direito


fiscal

Tópicos das respostas:

1- É nela onde encontramos princípios respeitantes a disciplina jurídica


dos impostos e que estabelecem limites ao poder tributário. Neste caso
e à luz da CRM, podemos distinguir os seguintes princípios: princípio da
legalidade tributária, princípio da igualdade tributária, princípio da
eficiência funcional, princípio de não retroactividade e princípio de não
aplicação analógica.

38
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

2– Apresentar o facto de parte da doutrina entender que esses


contratos violam os princípios da legalidade e igualdade que presidem
o direito fiscal e a existência de outra doutrina que fundamenta a
necessidade dos mesmos contratos, socorrendo-se do princípio de
eficiência funcional, implícito na parte final do n˚1 do art.127 da CRM.
Concluir com o entendimento contemporâneo de que os contractos
fiscais em matéria dos beneficiários fiscais só serão constitucionalmente
legítimos, quando autorizados por leis fiscal formal que defina os
beneficiários a conceder e os pressupostos objectivos e subjectivos da
respectiva concessão ao menos em termos genéricos.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo, O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora, Maputo,


2002

MARTINEZ, Soares, Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra, 2000

NABAIS, José Casalta, direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra, 2009

PENE, Cláudio, apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano, Escolar


Editora, Maputo, 2013

SALDANHA SANCHES, J. L, Manual de Direito Fiscal, 3ª ed. Coimbra


editora, Coimbra, 2007

WATY, Teodoro Andrade, Introdução ao direito fiscal, W &W editora,


Maputo, 2004

WATY, Teodoro Andrade, Introdução à Finanças Públicas e Direito


Financeiro, W & W editora, Maputo, 2004

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Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Unidade Temática n° 4 – A Interpretação e Aplicação das Normas


Fiscais

1 - A Interpretação e Aplicação das Normas Fiscais


As posições a favor da existência das regras especiais da interpretação
das normas são expressas através de dos princípios, designadamente:
“in dúbio contra fiscum e odiosa restringenda” e “in dúbio pró fisco”.

Sobre os fundamentos do princípio “in dúbio contra fiscum e odiosa


restringenda” Vasco Guimarães refere que a visão de então considerava
o imposto como algo excepcional e atentatório da dignidade dos
cidadãos, só admissível em casos excepcionais e perfeitamente
limitados pelo que em caso de dúvida a solução seria de ser contra o
fisco.

A “in dúbio pró fisco” baseia-se na convicção de que o poder não se


exerce arbitrariamente, nem violentamente e nem em beneficio de um
só individuo, ou voluntariamente prestado, pelos contribuintes através
dos votos dos seus representantes no parlamento, pelo que em casos
de duvidas, para os defensores deste principio, prevalece o interesse
geral (a tributação), pelo que as normas fiscais devem ser interpretadas
a favor do fisco.

As normas fiscais em regra são interpretadas como quaisquer outras


normas jurídicas, de acordo com os princípios gerais da hermenêutica
jurídica, salvo quando se trate de normas de incidência, taxas, garantias
dos contribuintes, benefícios fiscais, bem como as normas físicas
sancionatórias. Neste prisma, dispõe o n˚1 do art.10 da LGT que “na
determinação do sentido das normas tributárias e na qualificação dos
factos a que as mesmas se aplicam são observadas as regras e princípios
gerais de interpretação e aplicação das leis”. Assim na interpretação das
normas tributárias deve tomar-se em consideração os critérios
consagrados no art.9 do Código Civil (CC).
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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Nos termos do código civil a interpretação não deve cingir-se a letra da


lei, mas reconstruir a partir dos textos o pensamento legislativo, tendo
em conta a unidade do sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei
foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada,
devendo ter o mínimo de correspondência verbal, com a letra da lei,
presumindo o intérprete que o legislador consagrou as soluções mais
acertadas e soube exprimir os seus pensamentos em termos
adequados. Um aspecto importante é o facto de não ser admissível a
integrações analógicas das lacunas referentes às normas abrangidas
pelo princípio da legalidade. (art. 10 N° 5 da LGT)

Portanto, quanto a interrogação de lacunas, dispõe o n˚5 do art.10 da


LGT que as normas abrangidas pelo princípio da legalidade não são
susceptíveis de integração analógica7. Em reforço, vem o art. 5 n˚6 da
lei n˚15/2002 de 26 de Junho, referir que as normas que determinam a
incidência e as isenções não são susceptíveis de interpretação extensiva
nem analógica.

2- Aplicação das Leis Fiscais no Tempo


A aplicação das normas fiscais no tempo reduz-se a três problemas: o
da entrada em vigor das normas fiscais, a cessação da vigência das
normas fiscais e a sucessão das normas fiscais no tempo.

Às leis fiscais aplica-se a norma geral sobre a entrada em vigor da lei, se


não contiverem outra disposição, e cessam a sua vigência no prazo nelas
fixado (caducidade) ou quando revogadas. Porem, atendendo e
considerando que a entrada em vigor e a cessação de vigência das

7
O mesmo se diz das normas fiscais sancionatórias em virtude da

conjugação dos arts. 60 da CRM, 9 do Código Penal e n˚2 do art.3 da lei


n˚15/2002,de 26 de Junho.

41
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

normas fiscais não assume no direito fiscal qualquer especificidade,


vamos limitar-nos a sucessão das normas fiscais no tempo, ou seja, o
problema de retroactividade das normas fiscais.

Uma norma é retroactiva quando se refere na sua previsão a factos


ocorridos anteriormente a sua entrada em vigor, tenham tais factores o
valor de factos tributários ou de factos impeditivos. Relativamente a
sucessão das normas fiscais no tempo, o n˚5 do art.127 da CRM dispõe
nos seguintes termos: a lei fiscal não tem efeito retroactivo salvo se for
de conteúdo mais favorável ao contribuinte. E conforme o número
acima, quando a norma fiscal se mostra mais favorável para o
contribuinte a retroactividade não esta afastada, salvo se puser em
causa o caso julgado.

Observa-se que este princípio da aplicação retroactiva da lei mais


favorável aplica-se as contravenções e transgressões fiscais apesar de
estas não terem natureza criminal, isto por força do art.57 da CRM que
estabelece que, na República de Moçambique as leis só podem ter
efeitos retroactivos quando beneficiarem os cidadãos e outras pessoas
jurídicas, bem como do já referido no n˚5 do art.127 da CRM.

A nível legal, o art.12 da LGT prescreve que as normas fiscais


ordenadoras do sujeito passivo aplicam-se, somente, aos factos
posteriores a sua entrada em vigor e, quanto as normas sobre
procedimento e processo, dispõe o n˚3
do mesmo art.12 que as mesmas são de aplicação imediata, sem
prejuízo das garantias, direitos e interesses legítimos anteriormente
constituídos pelos sujeitos passivos e salvo disposição legal em sentido
contrário.

42
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

3- Aplicação da Lei no Espaço


Da territorialidade do imposto resulta a delimitação do âmbito de
aplicação no espaço das normas fiscais. Numa concepção material e
moderna do princípio da territorialidade, a lei fiscal de um determinado
Estado pode aplicar-se para além das suas fronteiras, desde que a lei
desse Estado estabeleça elementos de conexão (subjectiva ou
objectiva) que coloque uma determinada situação tributária
internacional na esfera das leis fiscais internas, de modo a que a lei fiscal
desse estado seja aplicável aquela situação ocorrida naquele estado.
Sobre esta matéria Alberto Xavier salienta que o elemento de conexão
é o elemento da previsão normativa que, fixando a localização de uma
situação da vida num certo ordenamento tributário, tem como efeito
determinar o âmbito de aplicação as leis desse ordenamento a essa
mesma situação. Esses elementos de conexão visam superar as
deficiências que resultam da aplicação exclusiva do princípio da
territorialidade e responder as formas de evasão e fraude fiscal.

Fala-se também de casos em que a lei presume ou ficciona elementos


de conexão, por exemplo quando a lei considera como residentes em
território moçambicano os tripulantes ou aeronaves ao serviço de
entidades com residência sede ou direcção efectiva em território
moçambicano, quando a lei considera como residentes em território
moçambicano as pessoas que constituem o agregado familiar desde que
no território moçambicano resida qualquer das pessoas a quem
incumba a direcção efectiva do agregado.

Conforme se depreende, pode a lei moçambicana, com base num


elemento de conexão (ex. o domicilio, a sede e a residência) tributar os
rendimentos ou lucros auferidos fora do território moçambicano ou
imóveis ai situados. Portanto, os elementos de conexão devem ser
escolhidos de modo a evitar situações de impossibilidade ou dificuldade

43
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

de coercibilidade que seguramente verificar-se-ia com o uso da


nacionalidade.

4 – O conceito de dupla tributação


É relativamente fácil determinar a origem do fenómeno de dupla
tributação, este reside no choque de duas ou várias soberanias fiscais.
Só a dupla tributação internacional será objecto do nosso estudo, mas
um fenómeno análogo pode produzir – se então de um fenómeno de
dupla ou múltipla tributação interna.

Fiscalistas e economistas estão todavia de acordo para denunciarem a


nocividade do fenómeno de dupla tributação e para se esforçarem por
o fazer desaparecer, ou atenuar os seus efeitos. A sua eliminação foi
procurada por razões de ordem moral e sobretudo económica, a dupla
tributação internacional culmina com efeito numa repartição injustas
das cargas fiscais entre os contribuintes conforme tem interesses no
estrangeiro ou se entregam a actividades limitadas ao território
nacional, por outro lado constitui um obstáculo importante para o
comércio e os investimentos internacionais. Será necessário
esforçarem-se por dar da dupla tributação uma definição exaustiva de
natureza a permitir a sua eliminação.

I. A origem da dupla tributação (ou múltipla) tributação – o conflito


de duas (ou varias) soberanias fiscais.

a) A noção de soberania fiscal - uma entidade territorial,


beneficiando ou não da soberania política, é reputada gozar da
soberania fiscal assim que dispuser de um sistema fiscal
apresentando duas características: uma autonomia técnica e
uma exclusividade de aplicação no território em questão.

b) Exclusividade de aplicação – uma tal condição é realizada


quando o sistema fiscal se aplica, com a exclusão de qualquer

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

sistema concorrente, num território determinado em que é o


único fornecedor de recursos fiscais.

c) Autonomia técnica – um sistema fiscal aparece como


tecnicamente autónomo quando contem todas as regras de
estabilidade s de cobrança necessárias à sua aplicação.
d) Soberania fiscal e soberania política - basta estar em presenças
de um sistema fiscal que apresenta características acima citadas
de exclusividade e de autonomia técnica e tendo sido elaborado
por órgãos próprios do território para que possa legitimamente
falar fiscal. Importa pouco que o território fiscal em questão
esteja subordinado politicamente a um Estado.

A soberania fiscal aparece distinta da soberania política. O território


fiscal pode não coincidir com o território de um Estado soberano. Como
a Argélia, antes mesmo da sua independência, beneficiava de um
sistema fiscal autónomo. De igual modo, os territórios ultramarinos
(TOM) tem o seu próprio sistema de tributação elaborado pelas suas
assembleias territoriais, e as leis fiscais votadas pelo parlamento da
República não são aplicável ai. Mesmo se as assembleias territoriais
mantem a sua competência na matéria do legislador da República, a
situação dos TOM corresponde sim à nossa definição de soberania
fiscal.

e) Uma noção essencialmente relativa tendo em conta as reservas


feitas anteriormente, soberania fiscal e soberania política
confunde-se a maioria das vezes. Só esta hipótese será
examinada. O Estado política e fiscalmente soberano detém
portanto um poder absoluto no interior do seu território que
constitui que constitui uma espécie de couto privado,
inversamente, o Estado não pode exercer qualquer poder fiscal

45
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

no exterior do seu território: são estes os aspectos positivos e


negativos da nação de soberania fiscal.

É preciso reter em direito internacional a ausência de princípio geral


proibindo a dupla tributação.

f) O conflito das sujeições fiscais: qualquer comunidade nacional


não é apenas, segundo a expressão de Allix, um aglomerado
político, é também um aglomerado social e económico.

A dependência política é definida em função da nacionalidade. A


dependência social manifesta-se pela estadia do indivíduo no país onde
tem residência ou domicílio. A diminuição do peso económico resulta
da participação do indivíduo nas actividades desse país. Há uma adesão
total à soberania fiscal de um Estado nos casos em que estas três
categorias de dependência estão reunidas no esmo indivíduo. O Estado
detém uma competência fiscal completa sobre todos os nacionais que
residem no país e participam na vida económica.

Contudo, dado o desenvolvimento das trocas internacionais, um mesmo


indivíduo está frequentemente colocado em situações de sujeição
política perante dois ou vários Estados. Assim, o cidadão de um Estado
A reside num Estado B, ao passo que a fonte dos seus rendimentos está
situada num Estado C: cada um destes Estados pode reivindicar um
direito de tributar total ou parcial sobre o indivíduo em questão.

g) O conflito de sujeições fiscais, origem de dupla tributação; o laço


económico, a estadia, a participação na vida económica, são outros
tantos elementos de natureza a justificar a sujeição do mesmo individuo
a sistemas fiscais diferentes. E esta dupla ou múltipla diminuição fiscal
engendrara uma dupla ou múltipla tributação. Assim o contribuinte
arriscaria suportar uma carga fiscal superior aquela que deveria ter
sofrido se dependesse do fisco de um único Estado.
46
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

II. Elementos de uma definição da dupla tributação internacional

A) Elementos incontestados
a) Uma tributação repetida – a expressão dupla tributação é
universalmente admitida. Mas a tributação pode ser múltipla.
Por exemplo, há múltipla tributação no caso em que um mesmo
rendimento é tributado ao mesmo tempo no Estado da sua
origem, no Estado do domicílio do seu titular e no Estado de que
este último tem nacionalidade (por exemplo Estados Unidos).
b) Uma sobrecarga fiscal – só é digna de ser tomada em
consideração a situação daqueles que, devido as fronteiras, são
levados a suportar um aumento de carga fiscal em relação às
pessoas cuja existência se desenrola integralmente num único
Estado. A injustiça que daqui resulta levou a tentar a eliminação
da dupla tributação.
c) Identidade de período de tributação – este elemento impõe-se
com evidência. Pelo contrário, os três problemas estritamente
ligados, da identidade de sujeito de tributação, da identidade de
imposto e da identidade da matéria tributável, levantam
dificuldades muito maiores. B) Os Elementos discutidos.
a) A identidade de sujeito de tributação – a tributação das
sociedades sobre os seus rendimentos é muitas vezes seguida
da tributação destes mesmos rendimentos nas mãos dos
accionistas. Uma parte da doutrina acha que este fenómeno não
é constitutivo de uma dupla tributação, dado que duas pessoas
juridicamente distintas são sucessivamente sujeitas ao imposto:
não há nem identidade de sujeitos de tributação nem, aliás,
identidade de imposto, até mesmo de matéria tributável; e
alguns reservam para hipóteses deste género a qualificação de

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

dupla tributação económica para bem as diferenciar dos casos


de dupla tributação clássica ou jurídica.

Mas a distinção entre os dois contribuintes sucessivos, sociedade e


accionista, é puramente formal. A tributação do lucro distribuído pela
sociedade pode de facto ser considerada como a primeira tributação do
rendimento que compete ao accionista. O imposto sobre as sociedades
e o imposta pessoal do accionista engendram portanto uma dupla
tributação dado que a distinção entre os dois tipos de contribuintes não
passa do resultado de uma ficção jurídica.

b) A identidade de matéria tributável – este problema está


intimamente ligado ao anterior. Já notamos que a distinção
jurídica entre contribuinte real e contribuinte legal parecia
ultrapassada, e que também aqui a matéria tributável deveria
ser considerada sob o ponto de vista exclusivamente jurídico.
Assim, a noção de dupla tributação poderia englobar os casos
seguintes: a taxação sucessiva do lucro de uma sociedade e do
rendimento correspondente do accionista, ou a taxação de um
mesmo elemento de capital, o outro no rendimento deste.

c) A identidade do imposto – para alguns autores, só há dupla


tributação se a mesma matéria tributável for atingida duas ou
varias vezes com a mesma razão: as tributações deveriam ser da
mesma natureza, quer pessoais quer reais, se não, haveria
sobreposição de imposto e não a dupla tributação. A tributação
pessoal no sentido do direito fiscal internacional assenta no
estatuto pessoal do próprio contribuinte por exemplo, a sua
nacionalidade, domicilio, residência. Pode deste modo falar-se
de uma tributação real quando um Estado tributa um

48
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

rendimento ganho ou recebido dentro dos limites do seu


território, sem por em conta o estatuto pessoal do beneficiário.

Em relação a esta distinção fundamental entre impostos pessoais e


impostos reais, as causas de dupla tributação podem ser divididas em
categorias:

1⁰ caso: A coexistência de uma tributação pessoal num Estado e de uma


tributação real num outro Estado. Por um lado o rendimento, ou o valor
de um bem, é taxado em razão da nacionalidade, domicilio ou
residência do contribuinte, por outro é o em razão da fonte do
rendimento ou da situação do bem.

2⁰ caso: A utilização de critérios diferentes no que diz respeito à


aplicação de impostos pessoais, deste modo, em matéria de imposto
sobre rendimento, os critérios adoptados pode ser num Estado a
nacionalidade, num outro o domicílio do contribuinte; em matéria de
direitos de sucessão, pode ser a nacionalidade ou o domicilio do
defunto, a nacionalidade ou o domicilio do ou dos sucessíveis.

3⁰ caso: Definições diferentes do mesmo critério de ligação. Tiremos de


SPITZ, o exemplo seguinte: Um contribuinte pode ser considerado como
residente na Irlanda pelas autoridades fiscais irlandesas, por alugar um
apartamento em Dublin onde habita de vez em quando, e como
residente na Bélgica pelas autoridades fiscais belgas, por o centro das
suas actividades económicas estar ai situado, quando poderia bem
residir em qualquer país terceiro por razões práticas. Poderia a partir de
então ser tributado como residente nos três países. Do mesmo modo,
uma sociedade pode ser considerada como domiciliada na Suécia por
ter ai sido constituída, e como domiciliada no reino unido pelas
autoridades fiscais britânicas, por os órgãos que a regem e possuem a
sua direcção estarem no Reino Unido.
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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Constituindo um perigo económico e também uma injustiça, a dupla


tributação internacional tornou-se hoje intolerável. Tendo em vista
combatê-la eficazmente, deve reter-se uma definição tão exaustiva
quanto possível.

4.1. O Problema da Dupla Tributação Internacional


O problema da dupla tributação internacional está ligado ao uso de
conexões aliada a progressiva internacionalização da economia e cada
vez aliada a circulação de pessoas. Por exemplo uma pessoa singular
residente em território moçambicano, que obtém rendimentos nesse
território bem como no território sul-africano, por força do n˚1 do art.20
do CIRPS, fica sujeito a IRPS pela totalidade dos seus rendimentos,
incluindo os obtidos fora do território moçambicano. Portanto, na
generalidade dos Estados existe uma norma idêntica à do n˚2 do art.20
do CIPRS, segundo o qual os não residentes ficam sujeitos a imposto
relativamente ao rendimento obtido nesse território. Os rendimentos
obtidos na África do Sul pelo residente em Moçambique são sujeitos a
dupla tributação.

Então, a dupla tributação internacional verifica-se quando há identidade


de facto tributária (objecto, sujeito, de período de tributação e de
imposto) e pluralidade de normas de sujeição pertencentes a
ordenamentos jurídicos tributários diferente.

Porém, para eliminar ou evitar a dupla tributação internacional tem sido


adoptadas medidas unilaterais através de concessão de isenções a
matéria colectável auferida no estrangeiro ou dedução do imposto a
pagar no país de residência, tal é o caso do art.61 do CIRPS e art.65 do
CIRPC que estabelecem o crédito de imposto por dupla tributação
internacional.

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Também podem ser adoptadas medidas bilaterais através de


celebração de convenções para eliminar ou evitar a dupla tributação
internacional. A imputação ou crédito de imposto pode ser ordinário,
fictício ou presumido. Na imputação ordinário o Estado de residência
deduz a fracção do seu próprio
imposto correspondente aos rendimentos obtidos fora. No crédito
fictício o Estado de residência não deduz o imposto efectivamente pago
fora, mas sim o imposto que teria sido pago se os rendimentos obtidos
fora não beneficiasse de um benefício fiscal. E no crédito presumido o
Estado de residência deduz um montante superior ao imposto
suportado fora.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e
responda as seguintes questões:

1- Qual é os constrangimentos da Dupla tributação?

2– Fale da analogia como uma técnica de integração das lacunas no


direito fiscal

3- Apresente os desvios da aplicação do princípio da territorialidade no


âmbito do direito fiscal.

Tópicos das respostas:

1- Os constrangimentos são de várias ordens: económica, moral, etc.


Trata-se de uma injusta repartição de cargas fiscais no contribuinte,
conforme tem interesse no estrangeiro ou se entrega a actividades no
território nacional. Isto é o cidadão pode ser tributado ao mesmo tempo
no Estado da sua origem, no Estado do domicilio do seu titular e no
Estado de que este ultimo tem nacionalidade (por exemplo os Estados
Unidos).

51
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

2- Evidenciar o facto de não ser admissível a integração analógicas das


lacunas referentes às normas abrangidas pelo princípio da legalidade
(art. 10 n° 5 da LGT), como é o caso das normas relativas à incidência,
matéria colectável e sujeitos passivos. Portanto, quanto a integração
de lacunas, dispõe o n˚5 do art.10 da LGT que as normas abrangidas
pelo princípio da legalidade não são susceptíveis de integração
analógica, sendo que as outras o podem ser.

3- Da territorialidade do imposto resulta a delimitação do âmbito de


aplicação no espaço das normas fiscais. Numa concepção material e
moderna do princípio da territorialidade, a lei fiscal de um
determinado Estado pode aplicar-se para além das suas fronteiras,
desde que a lei desse Estado estabeleça elementos de conexão
(subjectiva ou objectiva) que coloque uma determinada situação
tributária internacional na esfera das leis fiscais internas, de modo a
que a lei fiscal desse estado seja aplicável aquela situação ocorrida
naquele estado.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras Aconselhadas

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo.

MARTINEZ, Soares (2000 ). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra

NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo

SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra.

52
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo.

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução à Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo

TIXIER Gilbert (1986). O Direito Fiscal Internacional, publicações Europa


– América, Lisboa,

TEMA – II: TEORIA GERAL DO IMPOSTO

Contextualização
Neste segundo tema trataremos especificamente do imposto que é a
figura central do nosso estudo. Começaremos pela definição,
apresentando de uma forma sucinta os elementos típicos do conceito de
imposto; também distinguiremos o imposto de outras figuras afins,
faremos a enquadramento dos vários tipos de imposto de acordo com as
classificações e, por fim, faremos das fases da vida do imposto.

Estrutura

Este tema compreende 2 Unidades temáticas.

Tópicos das unidades temáticas

Unidade Temática n° 1: Aborda o conceito do imposto, a distinção do


imposto e figuras afins e a classificação dos impostos;

Unidade Temática n° 2: Tratamos nesta Unidade Temática das fazes do


imposto, desde a sua criação até a sua extinção.

• Definir o imposto;
• Relacionar o imposto e outras figuras afins;

• Classificar os tipos de imposto;

Objectivos Apresentar as diversas fases da vida do imposto


Específicos

53
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Unidade Temática n° 1: Conceito do imposto, distinção do


imposto e figuras afins e a classificação dos impostos

1.1 Aspectos gerais


Segundo Ibrahimo (s/d: 40) o imposto é uma prestação coactiva,
pecuniária, definitiva e unilateral, estabelecida por lei, sem carácter de
sanção, a favor do estado, para a realização de fins públicos. Segundo
o mesmo autor, encontramos nesta definição estes caracteres
fundamentais:

➢ Prestação coactiva – obrigada ou imposta pelo estado;


➢ Prestação pecuniária ou patrimonial – deve ser pago em
dinheiro ou em outra prestação quantificável em dinheiro;
➢ Prestação definitiva – não dá direito à restituição ou reembolso
e tão pouco indemnização;
➢ Prestação unilateral ou não sinalagmática – não implica
contraprestação específica, individual, imediata e directa e se
distingue da taxa pois não dá ao contribuinte o direito de exigir
qualquer contraprestação imediata;
➢ Prestação estabelecida por lei – corolário do supracitado
princípio de legalidade;
➢ Prestação sem carácter de sanção – não visa punir ao contrário
da multa e coima;

54
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

➢ Prestação a favor do Estado – em sentido amplo incluindo-se


neste conceito os entes infra-estaduais que exercem funções
públicas e
➢ Prestação para a realiza

1.2 - O imposto e as figuras afins


O imposto, a taxa, as sanções patrimoniais, o empréstimo público e os
tributos parafiscais são figuras afins que apresentam entre si muitas
semelhanças. Entretanto, um olhar minucioso e atento destas figuras
pode permitir-nos notar e até de certo modo focalizar diferenças
essenciais entre as mesmas figuras. Se não vejamos:

a) A distinção entre o imposto e a taxa

As taxas são devidas pela utilização individual de serviços ou bens de


domínio públicos por parte todos os que de uma forma abstracta se
presume necessitarem, mas que num dado momento somente alguns
procuram activamente, ou ainda são pagas pela remoção de um limite
jurídico à actividade dos particulares mediante a concessão de
autorização administrativa (propinas nas escolas oficiais, selos postais,
taxas hospitalares, portagens). Há a notar o facto de as taxas nem
sempre corresponderem a preços normais de mercado dos respectivos
serviços públicos. Em todo o caso, afigura-se-nos salientar que a
diferença fundamental entre imposto e taxa gravita no facto de o
imposto ser uma prestação unilateral ao passo que a taxa é bilateral, ou
seja, a taxa exige uma contraprestação, uma correspondente actividade
da administração que se chama de sinalagma.

Ademais, no que tange ao regime jurídico, a grande distinção entre


estas figuras cinge-se no princípio da legalidade uma vez que para a
criação e estabelecimento da disciplina essencial do imposto vigora o
princípio da reserva material da lei strintosensu, uma vez que somente

55
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

a lei da AR é que pode criar o imposto. Já a taxa não é necessariamente


de criação de lei strintosensu.

b) A distinção entre Imposto e sansões patrimoniais (multa, coima


e juros sancionatórios)

Como evidenciamos na própria definição, o imposto não tem, de modo


algum, a função de punir ou castigar os contribuintes, pelo que, desde
já, não se pode confundir o imposto com multas, coimas ou juros
sancionatórios. As multas e coimas são punições pecuniárias em que as
primeiras visam a penalização dos ilícitos criminais de justiça (crimes) e
dos ilícitos administrativos jurisdicionalizados (contravenções e
transgressões) enquanto as segundas (coimas) visam a penalização de
ilícitos de mera ordenação social;

Os juros sancionatórios têm carácter compensatório ou compulsório e


visam penalizar o atraso no cumprimento das obrigações legais.

c) A distinção entre o imposto e o empréstimo público

O empréstimo público, à semelhança do imposto, é sujeito ao regime


de coacção na recolha do dinheiro. Mas esta figura se distingue do
imposto porque a prestação do imposto é definitiva, ao passo que o
empréstimo público não é definitivo pois deverá o seu valor ser
reembolsado ou amortizado e tão pouco será uma prestação unilateral
pois vai vencendo juros.

1.3 Objectivos do imposto


Os impostos são criados para satisfazem aos fins públicos, englobando
estes os objectivos fiscais (obtenção de receitas públicas) e extra
fiscais (sociais, económicos, etc.). Portanto, os impostos tem sempre
vários objectivos que se encontram geralmente associados, muito
embora em alguns casos predomine este ou aquele.

56
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Objectivos fiscais – os impostos visam a obtenção de receitas para


financiamento das despesas públicas, isto é, à satisfação das
necessidades financeiras do estado;

Objectivos sociais – Os impostos visam a repartição justa da riqueza e


dos rendimentos, à diminuição das desigualdades sociais, tendo em
conta as necessidades e o rendimento do agregado social;

Objectivos económicos – os impostos visam também combater a


inflação, reduzindo o rendimento disponível e o consumo, obter a
selectividade do consumo (tributando mais pesadamente os consumos
nocivos e supérfluos, como o tabaco, o álcool; proteger as indústrias
nacionais, estabelecendo direitos aduaneiros protectores durante um
certo período; incentivar a poupança e o investimento através de
desagravamentos fiscais.

1.4 - Classificação dos impostos


Segundo o âmbito de aplicação territorial,

a) Impostos de âmbito nacional, aplicáveis em todo o território


nacional. Ex: IRPC; IRPS, IVA;

b) Impostos locais, aplicáveis apenas a uma parcela do território.

Segundo o âmbito da afectação da receita

a) Imposto de nível central. Exemplo IRPC


b) Imposto de nível local ou municipal. Ex: Imposto predial
autárquico

Segundo o seu objecto (matéria colectável)

a) Imposto sobre o rendimento

b) Imposto sobre o consumo ou despesa. Ex.: IVA


c) Imposto sobre o capital. Ex.: imposto de consumo específico

57
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Outras formas de classificação

É também corrente a classificação dos impostos em Directos e


indirectos; reais e pessoais; principais e acessórios; periódicos e de
obrigação única; proporcionais; progressivos e regressivos.

a) Impostos directos e indirectos


a. Critérios económicos – são impostos directos aqueles
que incidem sobre a matéria colectável (rendimento ou
património) possuída (IRPC); serão indirectos aqueles
que incidem sobre o património ou rendimento utilizado
(consumo ou transferência de riquezas) IVA.

b. Critérios jurídicos – um imposto será directo quando for


possível determinar os contribuintes, organizando um
rol nominativo destes; o imposto será indirecto quando
essa possibilidade não existir por o contribuinte não ser
previamente conhecido. Serão impostos directos, por
exemplo, IRPS, IRPC; serão indirecto o IVA, o imposto do
selo.

c. Critérios adoptados pelo legislador moçambicano – de


acordo com o disposto no Código Civil, art. 736 nº 1, o
Estado e as autarquias locais têm privilégio mobiliário
geral para a garantia dos créditos por impostos
indirectos e também pelos impostos directos inscritos
para a cobrança na data da penhora, ou acto
equivalente, e nos dois anos anteriores. Com isto notase
a opção, por parte do legislador, pelo critério do rol
nominativo ou da inscrição para a cobrança.

58
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

b) Impostos reais e pessoais – Os impostos reais, também


chamados objectivos, atingem a matéria colectável
directamente, desinteressando-se a lei da situação económica
do contribuinte e do seu agregado familiar; os impostos
pessoais, também chamados subjectivos atendem as condições
pessoais do contribuinte. Os impostos pessoais tributam a
riqueza no momento da sua obtenção pelo contribuinte e os
impostos reais tributam-na na sua origem.
c) Impostos principais e acessórios – os impostos principais são os
impostos propriamente ditos e os acessórios são os impostos
que recaem sobre os impostos principais, cobrados a favor do
Estado e de outra pessoa colectiva. Se os impostos acessórios
recaem sobre a colecta chamam-se
adicionais, se recaem sobre a matéria colectável chamam-se
adicionamentos.

d) Imposto periódico e de obrigação única – os impostos periódicos


incidem sobre factos que se renovam com certa permanência,
normalmente em um ano, como é o caso do imposto predial; e
os impostos de obrigação única incidem sobre factos ocasionais,
que não se repetem com regularidade, como é o caso da SISA.

e) Impostos proporcionais, progressivos ou degressivos – diz-se


imposto proporcionais quando a colecta do imposto varia na
proporção da matéria colectável, sendo a taxa a aplicar sempre
a mesma; o imposto é progressivo quando se eleva a sua taxa à
medida que a matéria colectável aumenta e diz-se regressivo
quando baixa a taxa do imposto na medida em que aumenta a
matéria colectável.

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e
responda as seguintes questões:

1 – Distinga o imposto da taxa quanto ao regime jurídico.

2 - Apresente a finalidade económica do imposto e dê exemplo


concreto.

Tópicos das respostas:

1- Começar pela distinção geral entre taxa e imposto nomeadamente


porque um, o imposto, tem carácter unilateral ao passo que a taxa é
bilateral pois dá necessariamente direito a uma contraprestação devida
pela entidade cobradora. Vincar que no que tange ao regime jurídico, a
grande distinção entre estas figuras cinge-se no princípio da legalidade
uma vez que para a criação e estabelecimento da disciplina essencial do
imposto vigora o princípio da reserva
da lei uma vez que somente a lei da AR é que pode criar o imposto. Já a
taxa não é necessariamente de criação de lei.

2– Sob ponto de vista económico os impostos têm grande importância


pois podem servir como um meio adequado de combater a inflação,
reduzindo o rendimento disponível e o consumo, obter a selectividade
do consumo (tributando mais pesadamente os consumos nocivos e
supérfluos, como o tabaco, o álcool; proteger as indústrias nacionais,
estabelecendo direitos aduaneiros protectores durante um certo
período; incentivar a poupança e o investimento através de
desagravamentos fiscais.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

60
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo,

MARTINEZ, Soares (2000 ). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra.

NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo,

SALDANHA SANCHES, J. L, (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução à Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo

Unidade Temática n° 2: Fases do imposto

1 - Fases do imposto
Sob ponto de vista da disciplina jurídica são de distinguir duas fazes do
imposto, nomeadamente a fase da incidência e a fase administrativa.
Analisemos detalhadamente os dois momentos.

1. 1– A incidência
É a fase da criação do imposto, na qual se define, através de uma lei
geral e abstracta, o complexo de pressupostos de cuja conjugação nasce
a obrigação do imposto e seus respectivos elementos. Nela deve
necessariamente se determinar o sujeito passivo, ou seja, os que devem
pagar o imposto (incidência subjectiva) e a respectiva matéria sobre a

61
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

qual há-de recair o imposto (incidência objectiva). Se enquadram


também na fase da incidência as normas que determinam a taxa do
imposto, as deduções à colecta e os benefícios fiscais. Importa realçar
que nesta fase impera o princípio da legalidade fiscal.

A lei pode consagrar ainda normas expressas de não incidência, ou


“normas fiscais de conteúdo negativo”8. A não incidência se difere da
isenção pois esta é um benefício fiscal atribuído a um facto ou a uma
pessoa que está abrangido pela norma de incidência e por configurar
uma redução da potencial receita fiscal, é considerada uma despesa
fiscal, com iguais efeitos financeiros e económicos que um subsídio, mas
diferindo-se desta por ser objecto de aprovação de cada exercício
orçamental, ao passo que a isenção tende a perpetuar-se.

1.2 - A fase administrativa


Após a fase da incidência segue-se a fase administrativa que
compreende o lançamento, a liquidação e a cobrança do imposto. Há
que tomar atenção a um facto: ao se dizer tratar-se de fase
administrativa, pode sempre pender-se a achar que esta fase do
imposto é da exclusiva competência da Administração Pública, o que
sendo verdade, não é de todo verdade pois vem sendo cada vez mais
frequente a administração total ou parcial de alguns impostos pelos
próprios particulares como contribuintes ou como terceiros9.

1.2.1 - Lançamento
Consiste num conjunto de actos e operações pelos quais a administração
tributária, ou sujeito, no caso de auto lançamento, determina em
concreto os elementos da obrigação de imposto, identificando os
contribuintes, determinado em concreto

8
Nuno de Sá Gomes apud Pena: 75
9
Casalta Nabais p 41
62
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

(diferentemente da lei que identifica em abstracto) a matéria colectável


e a respectiva taxa.

1.2.2 - Liquidação
É a determinação do quantum colectável (valor da colecta) pela
aplicação da taxa à matéria colectável. Nos casos em que não há
deduções à colecta ou não há elementos adicionais liquidados
conjuntamente com os impostos principais, a liquidação coincide com o
imposto a pagar pelo contribuinte10. A liquidação deve ocorrer dentro
de 5 anos seguintes àquele a que a matéria colectável respeita,
produzindo efeitos a partir da devida notificação do contribuinte, sob
pena de caducidade11.

1.2.3 - Cobrança ou Pagamento


A cobrança visa a arrecadação do imposto liquidado e demais encargos
legais que importem a extinção da dívida. O pagamento pode ocorrer
por iniciativa voluntária do contribuinte ou por cobrança coerciva dos
órgãos competentes, nos termos do art. 142 LGT. O pagamento
voluntário pode ser efectuado até à instauração do processo de
execução fiscal, sem prejuízo do pagamento dos respectivos juros de
mora, conforme arts. 143 e 168 n° 4 da LGT.

Dentro do prazo de pagamento voluntário e até a instauração do


processo, o devedor tributário que por um justo motivo também se
encontra na posição de credor do Estado, pode requerer a
compensação dos créditos, nos termos do arts. 44 e 151 LGT. Esta
compensação também pode ser desencadeada por iniciativa do credor

10
Pene: 76
11
Art. 31 n° 1 da lei 15/ 2002 de 26 de Junho conjugado com os arts. 86 n° 1 e 53 n° 1
da LGT.
63
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

tributário. Além disso, e no mesmo período pode o contribuinte requer


a dação em cumprimento12 ou ainda extinguir a obrigação tributária
mediante a sub-rogação do devedor, pelo pagamento de terceiro, que
entretanto fica a gozar dos mesmos privilégios do Estado, nos termos
do art. 154 LGT.

O pagamento pode ser feito a prestações13 Para efeito o contribuinte


deve requerer ao ministro que superintende a área das finanças e pode
ocorrer no período de pagamento voluntário ou no período de cobrança
coerciva, sendo o número máximo de prestação de 12 e 24 conforme os
casos previstos nos arts. 2, 3 e 7 do regulamento de pagamento em
prestações de dívidas tributárias aprovado pelo dec.n° 45/ 2010 de 2 de
Novembro. Entretanto, o não pagamento de qualquer prestação implica
o vencimento imediato da outras ainda não pagas e a instauração
imediata do processo, nos termos do art. 8 n° 1 do mesmo regulamento.

1.3 - O processo de execução fiscal


Em sentido técnico jurídico, o processo é o conjunto ordenado e
sequencial de actos que se destinam à justa composição de um litígio.
O processo de execução é aquele que visa a reparação efectiva do
direito violado. Neste caso, a execução fiscal é um processo cuja base é
a certidão de dívida, extraída pelo serviço competente, que identifica o
devedor e o montante.

A execução fiscal não corre essencialmente nos tribunais pois são


materialmente competentes para a execução fiscal os órgãos e serviços
centrais e locais da administração tributária para os tributos nacionais
não aduaneiros, os órgãos e serviços centrais, regionais e locais das
alfândegas, para os tributos da competência destas e os serviços da

12
Arts. 45 e 152 da LGT
13
Art. 34 da lei n° 15/ 2002 de 26 de Junho.
64
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

autarquia local para os tributos autárquicos. A estes órgãos compete


“instaurar a execução, citar os executados, reverter a execução contra
terceiros, proceder a penhora dos bens, proceder a venda dos mesmos,
anular a dívida, extinguir a execução, etc.” Mas o facto de não correr
nos tribunais não prejudica a natureza jurisdicional do mesmo14. Prova
disso é a existência de certos actos, os enumerados no art. 158 n° 3 que
são da competência do tribunal fiscal ou aduaneiro, como é o caso dos
incidentes, dos embargos, da oposição, da graduação e verificação dos
créditos.15 Há a notar a al d) do art. 177 da LGT que consagra o recurso
no próprio processo de actos praticados na execução fiscal, pelo que a
regra geral é a de que todos os actos praticados em sede da execução
fiscal são susceptíveis de apreciação jurisdicional.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e
responda as seguintes questões:

1– Quais os elementos essenciais que devem ser determinados na fase


da incidência do imposto.

2– Certo dia, Joana estudante de Medicina disse a seu pai que dado que
a Autoridade Tributária funciona com metas, o pagamento do imposto
deve ser feito em uma e única prestação. Alias, dizia a mesma que esse
era o corolário do princípio “aqui se deve, aqui se paga” que é um
princípio director em matéria do imposto. Concorda?

Tópicos de respostas

1- Incidência: Nela deve necessariamente se determinar o sujeito


passivo, ou seja, os que devem pagar o imposto (incidência subjectiva)
e a respectiva matéria sobre a qual há-de recair o imposto (incidência

14
Isso resulta expresso no art. 179 da LGT
15
Pene, op. cit: 79
65
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

objectiva). Se enquadram também na fase da incidência as normas que


determinam a taxa do imposto, as deduções à colecta e os benefícios
fiscais. Importa realçar que nesta fase impera o princípio da legalidade
fiscal.

2- Não concordar com a afirmação. O pagamento pode ser feito a


prestações (Art. 34 da lei n° 15/ 2002 de 26 de Junho). Para efeito o
contribuinte deve requerer ao ministro que superintende a área das
finanças e pode ocorrer no período de pagamento voluntário ou no
período de cobrança coerciva, sendo o número máximo de prestação
de 12 e 24 conforme os casos previstos nos arts. 2, 3 e 7 do regulamento
de pagamento em prestações de dívidas tributárias aprovado pelo Dec.
N 45/ 2010 de 2 de Novembro. Entretanto, o não pagamento de
qualquer prestação implica o vencimento imediato da outras ainda não
pagas e a instauração imediata do processo, nos termos do art. 8 n° 1
do mesmo regulamento.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo,

MARTINEZ, Soares (2000). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra


NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo.

SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo
66
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução à Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo

TEMA – III: GARANTIAS

Neste terceiro tema tratamos das garantias dos sujeitos da relação


jurídico fiscal. Nesta matéria focalizamos a garantia geral do sujeito
activo do imposto que é a generalidade do património do sujeito
passivo. Abordamos também as garantias do sujeito passivo, onde
destacamos as garantias graciosas e contenciosas. Depois abordamos
os princípios que norteiam o processo fiscal e, por fim, apresentamos o
direito fiscal sancionatório.

Contextualização do tema

Esta unidade temática compreende 2 lições.

Tópicos das lições

Unidade Temática n° 1: Trata da garantia geral do sujeito activo e das


garantias graciosas dos sujeitos passivos;

Unidade Temática n° 2: trata das garantias contenciosas, princípios do


processo fiscal e as infracções fiscais.

Neste primeiro tema apresentamos a actividade financeira do estado,


dentro da qual se enquadra o fenómeno fiscal. Apresentamos igualmente
a noção do Direito fiscal, seu enquadramento no âmbito dos ramos de
direito e as relações que este ramo autónomo mantém com os outros
ramos de direito.

Estrutura

Este tema compreende 4 Unidades.

67
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Unidade 1: Trata da actividade financeira do estado, do fenómeno fiscal,


do direito fiscal e seu enquadramento na ciência jurídica: São aspectos
iniciais do nosso estudo;

Unidade 2: Apresenta-mos e discutimos as relações de subordinação,


coordenação e complementaridade estabelecidas entre o direito fiscal e
outros ramos de direito;

Resultados esperados neste tema:


Ao terminar o estudo deste tema, você será capaz de:

• Dominar as garantias do sujeito activo, e do sujeito passivo;


• Distinguir as garantias graciosas das garantias contenciosas;

• Dominar os princípios basilares do processo fiscal;

Objectivos Conhecer o núcleo das infracções fiscais e as respectivas sanções.


Específicos

Unidade Temática n° 1 - Garantias

Garantias - são meios jurídicos, criados por lei, de defesa dos direitos e
interesses legalmente protegidos, contra eventuais abusos e violações.
Tanto o sujeito activo como o sujeito passivo dispõem de garantias, as
quais divergem quanto à sua natureza e a posição que o sujeito ocupa
na relação jurídico tributaria (relação entre o sujeito activo e passivo
que é regulada pelo direito fiscal).

É sujeito activo da relação jurídico - tributaria, o Estado no exercício da


função executiva ou administrativa, ao

68
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

qual cabe a tarefa de lançamento, liquidação, cobrança, fiscalização do


imposto. O Estado é o credor do imposto na medida em quem é a este
que é devido o pagamento.

E é sujeito passivo da relação jurídico – tributaria, ou devedor de


imposto a pessoa a quem é juridicamente exigível a prestação tributária,
isto é aquele sobre quem recai o dever ou obrigação de prestar ou
pagar. Tem – se feito distinção entre este que é o contribuinte de direito
e o contribuinte de facto que são as pessoas diversas do devedor do
imposto, as quais de direito não lhes é exigida tal prestação, que
entretanto suportam o pagamento em favor do mesmo.

1 - Garantias do sujeito activo


Resulta do nº1 do art. 161 da LGT que a garantia geral ou comum de
que o credor dispõe é o património do sujeito tributário passivo. Isto é
os bens que integram o património do devedor do imposto, respondem
pelo pagamento das obrigações fiscais.
Essa mesma referência é feita pelos artigos 601 e 817 do CC.
Decorrem destes artigos, que o cumprimento da obrigação de pagar
imposto acha-se assegurado pela possibilidade dada ao credor Estado
de, não havendo pagamento voluntário, obter coerciva ou
forçosamente do devedor a respectiva prestação, através de uma acção
creditória (de cumprimento) especial, que é a execução fiscal.

1.1 - Garantias especiais


Além da garantia geral supra citada, o credor do imposto dispõe de
garantias especiais. Estas podem ser de natureza:

Pessoal - que materializa-se através do instituto da responsabilidade


tributária, em que o pagamento de uma divida tributária, não

69
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

atempadamente paga, é exigido a outra pessoa (responsável tributário),


diversa do obrigado originário.

Real - em que o credor do imposto para além de beneficiar de um


processo executivo próprio, goza de privilégios creditórios, direito de
constituição de penhor ou hipoteca legal, direito de retenção de
quaisquer mercadorias sujeitas à acção fiscal, prestação de caução,
garantia bancária, seguro-caução ou qualquer outro meio que é
susceptível de assegurar as dívidas do sujeito passivo. A caução pode
ser prestada de várias formas (nos termos do art.623CC).

As outras garantias de que o credor do imposto dispõe são o arresto e


arrolamento. Estas constituem providencias cautelares judicias, de
natureza conservatória, a favor da administração tributaria.Com o
arrolamento faz-se a descrição e avaliação dos bens móveis ou imóveis
e documentos relacionados com as obrigações tributárias, de que o
devedor dispõe, no caso de fundado receio de que extravie ou dissipe
dos mesmos; e com o arresto os bens deste são apreendidos pelo
Tribunal ficando à guarda do mesmo, a pedido do credor no caso de
fundado receio de diminuição pelo devedor do imposto das garantias
de cobrança, e frustração de execução da divida.

2 - Garantias do sujeito passivo

2.1 - Garantia geral


O procedimento tributário pode desenvolver-se de tal forma, a qual seja
susceptível de violar direitos e interesses legalmente protegidos dos
particulares. Com vista a evitar ou sancionar tais violações a nossa
legislação consagra um leque de garantias que dividem-se em
impugnatórias e não impugnatórias. As impugnatórias visam manifestar
oposição à certo acto praticado pela administração tributária, enquanto
as não impugnatórias, visam antes, exigir o respeito pelos princípios

70
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

constitucionais do sistema fiscal da legalidade, igualdade, justiça,


participação, proporcionalidade, de certeza e segurança e da
celeridade, e direitos subjectivos aos particulares.

2.2 - Garantias impugnatórias


São meios de que pode se servir um sujeito para por em causa a
conformidade de um determinado acto da administração tributaria com
o ordenamento jurídico, com o objectivo de sujeitar tal acto a controle.
Estas garantias podem ser administrativas ou judicias consoante tal
controle seja solicitado a órgãos administrativos ou órgãos judiciais
respectivamente.

2.3 - Garantias não impugnatórias


A nossa legislação consagra um conjunto de garantias não litigiosas de
que dispõe os particulares, designadamente: direito à informação sobre
a sua concreta situação tributária e a outras relacionadas (nos termos
dos arts. 50 alínea d) e 101 da LGT); direito a obter esclarecimento
acerca da interpretação das leis tributária e de como cumpri-las
(conforme dispõe os arts. 50alinea c), 99 e 100 da LGT); direito à
notificação e fundamentação dos actos do procedimento tributário que
interfiram com direitos ou interesses legalmente protegidos (art. 53 da
LGT); direito à audição prévia (art. 58 da LGT); direito à caducidade da
liquidação (art86 da LGT); direito a prescrição da divida tributaria (art.
48 da LGT); direito ao reembolso das prestações indevidas (art. 167 da
LGT); e direito há juros indemnizatórios (art. 170 da LGT).

2.4 - Garantias impugnatórias administrativas (graciosas)


As garantias graciosa que a legislação fiscal consagra são a reclamação
e o recurso hierárquico.

71
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

2.4.1. Reclamação graciosa


A reclamação consiste no pedido de reapreciação de um determinado
acto de natureza administrativa junto da entidade que a praticou, cujo
objectivo é a analise da legalidade do acto praticado. Esta visa a
anulação total ou parcial dos actos da administração tributária, é
dirigido ao serviço que aprovou o acto e depende da iniciativa do sujeito
interessado, verificadas quaisquer ilegalidades com excepção da
nulidade e a inexistência pois estes cabem aos recursos hierárquicos ou
contencioso.

Constituem fundamentos de reclamação graciosa:

1. Errónea qualificação e quantificação dos rendimentos, lucros,


valores patrimoniais e outros factos tributários, incluindo a
inexistência total ou parcial do facto tributário;
2. Incompetência;

3. Ausência ou vício da fundamentação legalmente exigida; e


4. Preterição de formalidades legais.

No que se refere ao prazo para apresentação dispõe o artigo 128 da LGT


que é de 60 dias contados a partir dos seguintes factos: termo do prazo
para pagamento das prestações tributarias legalmente notificadas ao
sujeito passivo; notificação dos restantes actos; chamamento dos
responsáveis subsidiários em processo de execução fiscal; formação da
presunção de indeferimento tácito; e conhecimento de actos lesivos dos
interesses legalmente protegidos.

Entretanto se o fundamento consistir em preterição de formalidades


essenciais o prazo alarga-se a 1 ano.

Apresentada a reclamação, esta deve ser decidida em 60 dias, conforme


o disposto no art. 132 nº 3 da LGT.

72
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Se já tiver sido interposto recurso contencioso sobre a mesma matéria


não pode ser deduzida a reclamação graciosa nos termos do art. 127 nº
2.

Regra, a reclamação graciosa não tem efeito suspensivo, isto é, não


suspende o processo de execução, salvo se for prestada garantia
adequada pelo devedor conforme o art. 161 nº 4 da LGT.

É possível cumular pedidos e haver coligação de reclamantes,


preenchidos os requisitos previstos nos artigos 130 e 131 da LGT.

2.4.2 - Recurso hierárquico


Consiste na possibilidade de impugnação do acto junto ao superior
hierárquico do agente que o praticou.

Constituem fundamentos para apresentação desse recurso, nos termos


do art.138nº1 o indeferimento total ou parcial da reclamação
contenciosa e a decisão da revisão oficiosa ou da fixação da matéria
tributável.

O prazo para apresentação do recurso é 90 dias a contar da decisão,


devendo ser4 decidido em 60 dias a contar da entrega. (arts. 139 e 140
nº 3 da LGT.).

Este recurso, também em regra não suspende a execução do acto, salvo


quando for prestada a adequada garantia.

Unidade Temática n°2: Garantias (Continuação.)

73
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

2.5 - Garantias impugnatórias contenciosas

2.5.1 - Tutela jurisdicional


O legislador constituinte, nos termos dos arts. 62,69,70 e 253 nº 3,
consagrou o direito a tutela jurisdicional (realizada pelos tribunais)
contra os actos que violam direitos estabelecidos na Constituição e nas
demais leis. Com vista a efectivar esta tutela consagrou ainda o
legislador constituinte em 2004, a possibilidade de existência de
tribunais específicos em matéria de impostos (art. 223nº2 CRM).

Entretanto, apesar de constitucionalmente previsto, até 2009, os litígios


resultantes da relação jurídico fiscal e as infracções fiscais eram julgados
em primeira instância por agentes da administração tributária, ao
abrigo do disposto no Regulamento do Contencioso das Contribuições
e Impostos (RCCI), aprovado pelo Diploma Ministerial nº 783, de 18 de
Abril de 1942.

Segundo este regulamento os processos relativos ao contencioso das


contribuições e impostos e as transgressões das leis e regulamentos
tributários, são da competência do Tribunal de Contencioso da
Contribuições e Imposto, e são julgados em primeira instância pelo
secretário ou delegado de Fazenda da área fiscal respectiva
(hodiernamente Director da Área Fiscal ou Unidade de Grandes
Contribuintes), ou, no caso de este ser o autuante, pelo Director de
Fazenda Provincial (actualmente Director Provincial de Finanças),
cabendo recurso das decisões destes para o Tribunal Administrativo.
Neste sentido, a não materialização da previsão do legislador, era de
certa forma violadora de um princípio fundamental do estado, que é o
da separação dos poderes.

É neste contexto, que com vista a fazer face a solução desadequada e


obter a independência e imparcialidade que se requerem ao julgador

74
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

que a situação veio a mudar em 2009 na sequência da aprovação da lei


nº 2/2009, de 21 de Janeiro relativa a competência, composição
organização e funcionamento dos tribunais fiscais e determinação por
esta da entrada em funcionamento de 6 tribunais fiscais
nomeadamente na cidade de Maputo, Sofala, Zambézia, Tete, e
Nampula, passando desde então o pais a dispor de uma organização
judiciária fiscal independente e autónoma.

De acordo com aquela lei os tribunais fiscais são órgãos competentes


para administrar a justiça, nos litígios decorrentes das relações jurídico
fiscais, cabe aos mesmos assegurar a defesa dos direitos e interesses
legalmente protegidos, reprimir a violação da legalidade e dirimir
conflitos de interesses públicos e privados no âmbito mareações entre
os sujeitos activo e passivo.

Além dos tribunais fiscais, que decidem em primeira instância, integra a


jurisdição fiscal o Tribunal Administrativo em (Segunda Secção), como
segunda instancia e o Tribunal Administrativo, (em Plenário), como
última instancia.

Na jurisdição fiscal o Estado é representado pelo Ministério Publico, a


quem, além de representar o estado, compete defender a legalidade e
promover a realização do interesse público, sendo assistido por
representantes da Fazenda Nacional.

2.5.2 - Conceito de Garantias Contenciosas


Em sentido amplo as garantias contenciosas abrangem todos os meios
processuais que tem por objectivo autorizar ou fiscalizar uma actuação
administrativa tributária, nomeadamente: a impugnação judicial, o
recurso contencioso, as acções e outros meios processuais.

75
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Em sentido restrito abrange apenas a impugnação judicial, ou seja o


recurso de um acto que resulta de uma actuação administrativa, por
isso fala-se em recurso contencioso.

Nas acções o sujeito recorre ao tribunal, independentemente de


qualquer actuação administrativa anterior. Na impugnação judicial e no
recurso contencioso já existe um acto praticado pela administração
tributária ao qual se recorre.

2.5.3 - Recurso Contencioso


O recurso contencioso constitui uma garantia típica dos particulares
contra a actuação da administração, perante o exercício ilegal do poder
administrativo. Este, visa, além da anulação total ou parcial dos actos
tributários, a declaração da sua nulidade ou inexistência. Difere-se da
reclamação graciosa porque naquela a apreciação não é feita por um
órgão judicial.

O prazo para interpor recurso contencioso é de 30 dias após a


notificação, no caso de indeferimento
da reclamação graciosa, revisão oficiosa dos actos de liquidação, revisão
da fixação da matéria tributável (nº 7 art.128 e nº2 art.127 LGT), e de
90 dias após a notificação da decisão sobre o recurso hierárquico
(art.141da LGT).

2.5.4 - As acções

2.5.4.1 - Acção para reconhecimento de um direito ou interesse legalmente protegido

O âmbito de aplicação, destas acções, são as omissões lesivas, da administração tributária. Podem
ser proposta por quem invoque a titularidade de um direito ou interesse
legalmente protegido a reconhecer, e apenas quando este meio
processual se mostre ser o mais adequado para assegurar a tutela do
direito ou interesse legalmente protegido.

76
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

2.5.4.2 - Acção para intimação para prática de um comportamento


Esta acção pode ser intentada em caso de omissão do dever de qualquer
prestação tributaria, por parte da administração tributaria, que
susceptível de lesar direitos ou interesses legalmente protegidos.
Nestas situações o interessado pode, requerer a intimação da
administração tributária para cumprimento desse dever (prestação de
informações, passagem de certidões, consulta de processos). Também
só pode ser utilizado quando este meio processual se mostre ser o mais
adequado para assegurar a tutela do direito ou interesse legalmente
protegido.

3 - Princípios do contencioso fiscal


Na LGT encontramos os princípios que norteiam o sistema tributário
moçambicano. São eles: princípio da tutela jurisdicional efectiva, do
inquisitório e da verdade material, da celeridade e Ada cooperação.

3.1 - Princípio da tutela jurisdicional efectiva


O princípio da tutela jurisdicional consiste no direito do cidadão recorrer
ao tribunal contra actos que violem seus direitos e interesses.

Este princípio decorre do disposto nos arts. 62,69,70,e 253 nº 3, ambos


da CRM. O nº 1 do art.171 da LGT consagra igualmente o direito ao
recurso contencioso de todo acto definitivo. Nos termos do art.7 da lei
n 2/2004 de 21 de Janeiro e art.52 da LGT no procedimento tributário,
vigora o princípio da exaustão dos meios administrativos graciosos.

Nos termos da nossa Constituição no art. 56 o direito de acesso aos


tribunais é um direito garantido pelo Estado, limitado apenas em razão
da salvaguarda de outros direitos e interesses legalmente protegidos
pela Constituição. Uma dessas limitações encontra-se prevista nos arts
7 da lei nº 2/2004 e 52 da lei nº 2/2006 de 22 de Março. Estes artigos
prescrevem a obrigatoriedade de esgotar a via administrativa antes do

77
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

recurso aos tribunais fiscais. O princípio da exaustão dos meios


graciosos constitui não só limitação ao exercício do direito de recurso
ao tribunal como também o exercício do poder jurisdicional pelos
tribunais fiscais, consagrado no art.212 da CRM.

Em consonância com a CRM deve considerar-se recorrível todo acto


lesivo de direitos ou interesses estabelecidos na Constituição e nas
demais leis, cujo não seja susceptível de ser afastados por meios
administrativos.

3.2 - Principio do inquisitório e da verdade material


Este princípio, consagrado nos nºs 1 e 2 do art. 175da LGT, impõe que o
juiz não se limite as alegações e provas trazidas pelas partes e, quando
não conheça imediatamente do pedido deve realizar ou ordenar todas
as diligências necessárias ao apuramento da verdade relativamente aos
factos alegados ou de que deva oficiosamente conhecer.

3.3 - Princípio da celeridade


Este princípio é um dos corolários da tutela jurisdicional efectiva, e
encontra-se consagrado no art. 173 da LGT que dispõe que o direito de
recorrer contenciosamente implica o direito de obter, em prazo
razoável, uma decisão que aprecie,
com força de caso julgado (força executória definitiva), a pretensão
regularmente deduzida em juízo e a possibilidade da sua execução. Este
princípio é fundamental uma vez que de nada serviria que o particular
obtivesse uma decisão favorável, entretanto a mesma não fosse útil em
face da demora processual para sua obtenção. A tutela jurisdicional só
será efectiva se for em tempo útil, sob pena de se denegar aos
contribuintes o acesso á justiça. Além de processos urgentes o princípio
da celeridade impõe também a necessidade da existência de medidas
cautelares adequadas.

78
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

3.4 - Princípio da cooperação


Disposto nos nºs 3e4 da LGT, o princípio da cooperação vincula os
particulares e todas as autoridades ou repartições públicas, os quais
estão obrigados a colaborar informando ou remetendo cópia de
documentos solicitados pelo juiz com vista ao conhecimento do objecto
do processo. Este princípio que vincula a todas as partes assenta no
interesse público, da boa administração da justiça.

Entretanto quando a cooperação implique a confissão de um crime ou


auto incriminação do sujeito passivo, não estará obrigado a cooperar,
podendo fazer uso do direito ao silêncio previsto no art. 254 do CPP,
aplicável ex. al.) do art.3 do RGIT.

4 - Infracções fiscais
As infracções fiscais encontram-se previstas no RGIT, na LGT, e em
legislação especial referente aos direitos aduaneiros, impostos sobre
veículos e impostos autárquicos.

Nos termos do RGIT, considera-se infracção tributária, a prática de um


acto, ou a omissão da prática deste (havendo o dever de o praticar), que
contrarie ou seja desconforme com as leis tributárias. As infracções
tributárias classificam-se em crimes, contra-ordenações, transgressões
ou contravenções.

Constituem crime fiscal os actos que visam a não liquidação ou


pagamento do tributo e constituem contra-ordenações os actos que
impedem o correcto e pronto pagamento do tributo. As sanções que a
lei prevê para os crimes fiscais, são penas de prisão e multa, e para as
contra-ordenações coima e outras sanções acessórias. A distinção entre
crime e contra-ordenação assenta num critério de valoração éticosocial,
em que o legislador considera certas condutas, com relevância social e
dignas de protecção pela lei penal e outras ilícitas, porem

79
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

éticosocialmente neutras, ou de reduzido desvalor encontrando-se


estas fora do âmbito do direito penal.
Nos termos do disposto na lei nº 2/2006, de 22 de Março são crimes
fiscais: a fraude fiscal (art. 199); fraude fiscal qualificada (art.200); abuso
de confiança fiscal (art. 201); recusa ou obstrução à fiscalização ou
investigação das autoridades tributárias não aduaneiras (art. 202); e
frustração dos créditos fiscais.

Os crimes fiscais implicam comportamentos com um grau mais elevado


de censura, e cometidos de forma conscienciosa e intencional.

Importa referir que o cumprimento da sanção, não exonera, exime ou


libera o credor da obrigação de pagar o imposto. Entretanto, nos termos
do art.190 da LGT a responsabilidade pela prática de uma infracção
fiscal, pode, extingue-se pelo decurso do prazo para o procedimento
com vista aplicação de sanção por infracção tributária, pela morte do
infractor ou pela amnistia das infracções.

4.1 - Competência para julgamento das transgressões fiscais


Com a aprovação da lei nº 5/92, de 6 de Maio e posteriormente da lei
nº 2/2004, de 21 de Janeiro o contencioso fiscal passou para a
competência dos seguintes tribunais:

• Tribunais fiscais, como primeira instância;


• Tribunal Administrativo, Segunda Secção, como segunda
instancia;

• Tribunal Administrativo, em Plenário, como ultima instancia.

Competência para julgamento dos crimes fiscais

Prevê a lei nº 2/2004, de 21 de Janeiro, no seu art. 23 nº 1,al.a), e a CRM


art.223 nº 4 que é da competência dos tribunais fiscais conhecerem dos
processos relativos aos crimes fiscais.

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim destas lições, faça a recapitulação e responda as
seguintes questões:

1 – Distinga garantias administrativas ou graciosas das garantias


contenciosas.

2 - Fale dos prazos para apresentação da reclamação.

3 –Fale do sentido e alcance princípio da celeridade.

4 – Distinga acções de impugnação judicial quanto a finalidade.

4- A quem cabe o julgamento das transgressões fiscais?

Tópicos das respostas:

1– Delimitar a matéria, designadamente que fazem parte das garantias


do sujeito passivo do imposto, fazer referência ao conceito das
garantias, bem como ao critério de distinção das mesmas, mormente
quanto ao órgão que as efectiva. Reclamação consiste no pedido de
reapreciação de um determinado acto de natureza administrativa junto
da entidade que a praticou, cujo objectivo é a analise da legalidade do
acto praticado. O recurso contencioso visa a anulação de um acto ilegal
da administração tributaria, nestes termos o legislador constituinte, nos
termos dos arts. 62,69,70 e 253 nº 3, consagrou o direito a tutela
jurisdicional (realizada pelos tribunais) contra os actos que violam
direitos estabelecidos na Constituição e nas demais leis.

2– Falar da tempestividade, sem esquecer de fazer referência as bases


legais. O prazo para interpor recurso contencioso é de 30 dias após a
notificação, no caso de indeferimento da reclamação graciosa, revisão
oficiosa dos actos de liquidação, revisão da fixação da matéria tributável
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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

(nº 7 art.128 e nº2 art.127 LGT), e de 90 dias após a notificação da


decisão sobre o recurso hierárquico (art.141da LGT).

3- Falar em que consiste o princípio da celeridade, e da sua


implicação. Este princípio é um dos corolários da tutela jurisdicional
efectiva, e encontra-se consagrado no art. 173 da LGT que dispõe que o
direito de recorrer contenciosamente implica o direito de obter, em
prazo razoável, uma decisão que aprecie, com força de caso julgado
(força executória definitiva), a pretensão regularmente deduzida em
juízo e a possibilidade da sua execução. Este princípio é fundamental
uma vez que de nada serviria que o particular obtivesse uma decisão
favorável, entretanto a mesma não fosse útil em face da demora
processual para sua obtenção. A tutela jurisdicional só será efectiva se
for em tempo útil, sob pena de se denegar aos contribuintes o acesso á
justiça. Além de processos urgentes o princípio da celeridade impõe
também a necessidade da existência de medidas cautelares adequadas.
Difere-se da reclamação graciosa porque naquela a apreciação não é
feita por um órgão judicial.

4- Nas acções o sujeito recorre ao tribunal, independentemente


de qualquer actuação administrativa anterior. Na impugnação judicial e
no recurso contencioso já existe um acto praticado pela administração
tributária ao qual se recorre.

5- Com a aprovação da lei nº 5/92, de 6 de Maio e posteriormente


da lei nº 2/2004, de 21 de Janeiro o contencioso fiscal passou para a
competência dos seguintes tribunais:

• Tribunais fiscais, como primeira instância;


• Tribunal Administrativo, Segunda Secção, como segunda
instância;

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ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

• Tribunal Administrativo, em Plenário, como ultima instância.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo,

MARTINEZ, Soares (2000). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra

NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo

SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução à Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo

TEMA – IV: O SISTEMA FISCAL MOÇAMBICANO

Contextualização do tema
Este quarto tema aborda o fenómeno fiscal em Moçambique. Fazemos
um périplo que começa com as primeiras manifestações tributárias,
passa pelos impostos nos tempos colonial e na independência,
focalizamos as reformas tributárias que se sucederam até ao actual
sistema tributário. Apresentamos igualmente os tipos de imposto que

83
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

foram surgindo ao longo do tempo e desembocamos nos impostos


vigentes hoje no nosso ordenamento jurídico.

Resultados esperados neste tema:


Ao terminar o estudo deste tema, você será capaz de:

• Conhecer o sistema fiscal moçambicano.


• Dominar os vários tipos de impostos aplicados em Moçambique;
• Compreender a origem e a historia do direito tributário moçambicano

Objectivos Específicos

Unidade Temática n° 1 - A Origem Histórica do Direito Tributário


Moçambicano

1.1 - As formas iniciais do imposto em Moçambique


Falar das formas iniciais do imposto em Moçambique, implica abordar,
necessariamente alguns aspectos da ocupação colonial e da história de
Moçambique, no período anterior à independência.

1.2 - O Mussoco e o imposto de palhota


Uma das principais formas de manifestação do imposto em
Moçambique, de modo mais ou menos elaborada, está intimamente
ligada ao surgimento dos Prazos da Zambézia. Estes tinham um carácter
ambíguo uma vez que para os
portugueses tratava-se de terras cedidas mediante a assinatura de
contratos de arrendamento celebrados de acordo com as regras de
direito romano, ao passo que para os africanos eram chefias que
funcionavam como parte de um complexo sistema de relações sociais e
económicas destinadas a aproximar os povos das regiões.16 E é neste

16
Newitt, 2012: 203
84
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

complexo de relações económicas que se evidenciou o tributo


tradicional, uma renda que os camponeses pagavam aos prazeiros em
géneros e que denominava-se por mussoco.17

Diremos apenas que, do ponto de vista do interesse jurídico tratava-se


de doações ou aforamentos, de grandes extensões de terras, a pessoas
do sexo feminino, por um período de três gerações. Estas pessoas do
sexo feminino eram obrigadas a casar com Portugueses “ nascido no
reino”, como bem se referia a legislação respectiva.

Numa descrição rigorosa, alguns historiadores dizem que a organização


política tradicional do Zambeze, em meados do século XVII, apresentava
chefias variadas nas suas configurações específicas. As maiores eram
governadas por um “mambo” (que era governador do distrito) assistido
por um chefe local denominado “npfumu” e pelo chefe da povoação.
De entre as atribuições do “npfumu”, estava a de cobrar impostos.

Dentro de cada chefia, todos os habitantes eram obrigados ao


pagamento de um imposto anual, denominado “Mussoco”, como forma
de afirmar o poderio do “Mambo” sobre a terra. Quando o “mambo”
ficava dentro do prazo, os seus subordinados continuavam a pagar-lhe
o “mussoco” e mesmo quando ele transferia para o prazeiro, continuava
a pagar-lhe taxas e a dar-lhe presentes adicionais, em sinal de lealdade
e de reconhecimento da sua autoridade.

Estes estudos concluíram que os portugueses, ao se estabelecerem


inicialmente em Moçambique, atacaram os chefes locais e substituíram-
se-lhes na cobrança do “mussoco” que passou a abranger produtos
como o marfim, pedras preciosas e outros. Isto aconteceu mesmo antes
da administração do Estado Português em Moçambique.

17
Serra, et al, 2000: 252-253
85
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Segundo Serra et al (2000: 263-264), entre 1832 e 1841 foram


publicados Decretos em Portugal determinando a cessação dos prazos
em Moçambique. Mas, esta legislação não posta em prática e só em
1854 é que todos os terrenos reverteram-se para a “coroa” e um dos
artigos do decreto introduziu o “imposto de Palhota”. Esta disposição
mandava extinguir todas as imposições que porventura houvesse os
“colonos”, que detinham terrenos, e os chamados “habitantes livres”
(grupos privilegiados), ficando estes apenas obrigados ao pagamento
anual ao Estado de 1.600 Reis a título de Imposto de palhota, por cada
fogo, palhota ou outra habitação.18

Não se pode inferir que a introdução do imposto de palhota era uma


forma de imobilização da mão-de-obra porque a escravatura ainda não
tinha sido abolida. Era apenas uma actualização relativa a colonização,
dentro dos princípios liberais, ao mesmo tempo que se introduzia uma
tentativa de fazer o estado ganhar corpo.

Depois do mussoco e do imposto de palhota, a terceira forma de


tributação que surgiu em 1880, foi a tributação indirecta sobre os
produtos de consumo, com o argumento de que os indígenas não
estavam sujeitos ao tributo de sangue no recrutamento e esta
tributação sobre os bens de consumo produzidos era a forma de os levar
a concorrer para as despesas públicas.

De notar que esta forma de tributação surge num período em que se


experimentavam dificuldades com a cobrança de imposto de palhota e
houve até rebeliões porque as cobranças não suportavam o montante
do imposto que era, nesta altura, 800 reis, muitas vezes pago através
do trabalho forçado nas terras dos arrendatários da terra.

Mais tarde as autoridades coloniais preferiram a administração directa


do Estado. No entanto, contra a legislação então vigente, promoveram

86
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

o arrendamento de um prazo com uma companhia em Maganja,


designadamente a companhia da cultura e do comércio do ópio mais
tarde chamada companhia do açúcar de Moçambique.

Surgiram assim, para além da companhia de açúcar de Moçambique, a


companhia de Luabo, companhia de Borror, companhia de Zambézia,
etc., com capitais integralmente estrangeiros e todas elas com as
prerrogativas de exploração da força de trabalho moçambicana.

Foi assim, que se introduziram-se interesses como a Inglaterra,


Alemanha e Bélgica, que forneciam capitais que serviam para
desenvolver o sistema de exploração da terra moçambicana e o
instrumento principal de opressão era o imposto, pago pela própria
força de trabalho.

Em 1891 ficou sediada a maior destas Companhias – a Companhia de


Moçambique – e, mais tarde, as companhias do Niassa e da Zambézia.
Só para ilustrar um pouco o que se disse atrás, vejamos as faculdades
conferidas à Companhia de Moçambique:

Podia cobrar impostos e tinha um regulamento próprio para o


imposto de palhota ao abrigo de um decreto de 9/7/1892. Os
donos das palhotas situadas em qualquer território da área
cedida à Companhia ficavam obrigados ao pagamento de um
imposto anual de 900 reis por palhota.

Este imposto não podia ser pago em géneros ou mão-de-obra. Os


indivíduos que não satisfizessem este pagamento estavam sujeitos a
trabalho forçado gratuito para a
Companhia. Mas esta problemática do imposto como instrumento de
opressão não aconteceu só no centro e norte do País. Também no sul,

87
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

os valores elevados de imposto levaram muitas vezes a rebeliões e


confrontos.

Contudo, no sul, a cobrança do imposto estava de certo modo facilitada


dado que grande parte dos homens emigravam para as minas de África
do Sul e obtinham assim o dinheiro para o pagar. De notar que este
fenómeno de imigração no sul do nosso país influenciou a política fiscal
porque fez com que o Estado colonial encarasse duas questões que não
lhe agradavam:

• Com a emigração, o número de trabalhadores para as terras


reduzia;

• Os salários praticados nas minas do Rand eram


substancialmente mais elevados que os das Companhias que
operavam em Moçambique. Este facto anulava a política
existente de elevar os impostos para obrigar os trabalhadores a
permanecerem mais tempo nas suas terras.
Estes factos causavam problemas no próprio Orçamento do Estado
Colonial e na sua balança de pagamentos.

2 - Os impostos Directos
Extintos os prazos pelo Decreto de 22 de Dezembro de 1854, papel
importante passaram a ter os seguintes impostos directos:

• Impostos prediais;
• Tributação das actividades comerciais e industriais;
• Contribuição de juros;
• Sisa e imposto sucessório, etc.
Os impostos prediais consistiam na sujeição da propriedade rústica aos
dízimos. Nos territórios da Companhia de Moçambique, os prédios
rústicos e os prédios urbanos situados na baixa passaram a ficar sujeitos
à uma taxa de 20% desde 1892 e os de
88
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

outras localidades, 5%. Em certo período, até 1885, vigorou também um


imposto que incidia sobre as rendas de casa.

Quanto a tributação das actividades do comércio e da indústria, a


cobrança deste imposto era feito com base nas declarações dos
contribuintes e a demora era tal que permitiu com que muitos
comerciantes liquidassem os seus negócios e se ausentassem de
Moçambique sem pagarem a contribuição industrial respectiva.

A contribuição de juros, introduzida em Moçambique, em 1881, com


taxa de 10%, consistia num imposto sobre o crédito e sobre a aplicação
de capitais.

Através do Decreto de 22 de Dezembro de 1876 passaram a ser


cobrados em Moçambique o imposto da Sisa e o imposto sobre asa
sucessões e doações, os quais eram regulamentados pelo regulamento
para a liquidação e cobrança da contribuição de registo, de 19 de Julho
de 1902.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim desta Unidade Temática pense naquilo que já aprendeu
e responda às questões seguintes:

1. Qual é a necessidade de estudarmos as formas iniciais do


imposto em Moçambique?

2. Depois deste estudo é capaz de caracterizar alguns impostos que


vigoram em Moçambique Extintos os prazos?
Tópicos de respostas

1. Compreender a origem histórica dos impostos partindo dos


prazos da Zambézia, ou seja doações régias, ou aforamentos de
grandes extensões de terra que eram governadas por um
89
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Mambo, assistido por um chefe local, denominado Mphumu e


pelo chefe da povoação. Os habitantes eram obrigados ao
pagamento dos seguintes impostos: mussoco, imposto de
palhota e o de tributação indirecta sobre os produtos de
consumo.

2. Sobre esta questão é necessário que você saiba os impostos


introduzidos pelo Decreto de 22 de Dezembro de 1854 como por
exemplo o Impostos prediais, Tributação das actividades
comerciais e industriais, Contribuição de juros, Sisa e imposto
sucessório, etc.

NB: De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades consulte o seu tutor. Se a dificuldade persistir explore os
livros recomendados nas leituras aconselhadas.

Leituras aconselhadas

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo,

MARTINEZ, Soares (2000). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra,

NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra

NEWITT, Malyn (2012). História de Moçambique, publicações


Europaamérica lda, Lisboa

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo

SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra

SERRA, Carlos et all (2000).História de Moçambique volume I, livraria


universitária, 2ª ed. Maputo

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo

90
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução à Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo,

Unidade Temática n°2: A fiscalidade em Moçambique após


a independência.

São raros os trabalhos escritos sobre a realidade fiscal de Moçambique,


pelo que para falarmos sobre alguns aspectos concretos da tributação
fiscal ou do sistema fiscal importa, antes de mais, elaborar uma breve
retrospectiva histórica do sistema tributário, pelo menos a partir do ano
da independência nacional. De uma forma genérica, falemos do sistema
em vigor à data da independência e da primeira grande reforma fiscal
logo nos primeiros anos da independência nacional.

1 - O sistema tributário vigente à data da independência

1.1 - Características do sistema


À data da independência nacional vigorava um sistema tributário que se
adequava aos objectivos do então Estado e estava dimensionado para
as necessidades orçamentais do mesmo. Para tal, havia sido organizado
um sistema de administração também adequado e dotado de pessoal
apropriado, convenientemente treinado.

Era um sistema fiscal com legislação complexa e de modo inacessível à


grande maioria dos contribuintes. Ele não assentava em princípios de
justiça fiscal e social, e permitia uma tributação pesada sobre os
rendimentos de trabalho. Para ilustrar, basta comparar a carga fiscal
cumulativa sobre os mesmos com a que é devida nos rendimentos do
capital ou de natureza comercial ou industrial. Apesar de maior volume
de receitas provir de impostos incidentes sobre os rendimentos das
empresas privadas, as taxas acumuladas dos impostos sobre os
rendimentos do trabalho eram consideravelmente elevadas.
91
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Nos impostos indirectos, lugar de destaque ocupava o imposto de


consumo e direito aduaneiro onde se verificavam algumas taxas
proteccionistas para a importação de produtos aparentemente
supérfluos e taxas mais pesadas para os outros que se podem
considerar essenciais ao consumo da população mas que beneficiavam
de taxas aduaneiras preferenciais, quando importadas de certos países.

Outro aspecto importante deste sistema é o conjunto de pequenas


taxas e impostos de nível local ou regional cujas características e fim a
que as respectivas receitas se destinavam – despesas das instituições
locais e autónomas – estavam em perfeitas consonâncias com a forma
de organização administrativa e eram dotados de processos
orçamentais que permitiam estipular as cobranças.

1.2 - Principais impostos em vigor


Para uma melhor percepção do sistema fiscal, vejamos a caracterização
de alguns impostos que integravam o sistema tributário em vigor à data
da independência nacional:

I Contribuição Industrial – regulada pelo Código dos impostos sobre o


Rendimento18, a respectiva taxa era, no início, de 12% redutível a 5% no
caso de lucros de organismos corporativos20.

IIImposto Sobre Explorações – Estavam sujeitos a este imposto os


lucros das exportações agrícolas, silvícolas ou pecuárias. Os sujeitos
passivos eram pessoas singulares e colectivas que exerciam estas
actividades em Moçambique. A taxa era 10% com um adicional à colecta
de 15%.

18
Aprovado pelo diploma legislativo n° 2774 de 16 de Setembro de 1967.
20
Art. 160° do código dos impostos sobre o Rendimento aprovado pelo
Diploma Legislativo n° 2856 de 28 de Dezembro.
92
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

III – Contribuição predial urbana – Incidia sobre a renda


estabelecida por contrato de arrendamento. A taxa era de12%. Com as
nacionalizações dos prédios de rendimentos a contribuição ficou
inoperante, no entanto vigorou até à reforma fiscal 2002.

IV – Imposto profissional – Incidia sobre os rendimentos que


vinham do exercício de uma actividade, quer por conta própria, quer
por conta de outrem. A taxa era de 10% e este imposto vigorou até 1997

V- Imposto sobre a aplicação de capitais – tributava os juros de capitais


mutuados, em dinheiro ou em espécie, os juros de mora no pagamento,
os juros e lucros devidos pelas sociedades, etc. A taxa era de 15%

VI – Imposto complementar – era imposto de sobreposição e


recaia sobre o rendimento total de pessoas singulares e colectivas.
Compreendi duas secções: A secção A compreendia os rendimentos de
pessoas singulares residentes em Moçambique e a taxa que era
progressiva variava entre 3 e 45% e a secção B incidia sobre pessoas
colectivas, independentemente da sua sede. A taxa variava entre 4 a 8%
acrescido a um adicional municipal que variava entre 10-25%.

VII – Imposto de consumo19 e Imposto de selo20 – O primeiro


incidia sobre o consumo de produtos correntes como a cerveja, o tabaco
e foi revogado em 1999, com a introdução do IVA; o segundo incidia
sobre todos os documentos, livros, papéis e outros actos.

VIII - imposto sobre sucessões e doações – Incidia sobre a


transmissão gratuita da propriedade sobre bens imóveis e móveis.

19
Diploma Legislativo n° 59/73 de 4 de Dezembro
20
Aprovado pelo Diploma Legislativo n° 732 de 11 de Agosto
23
Art 13 da CRPM.
93
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

2 - Reforma Iniciada em 1978


Após a proclamação da independência, Moçambique tornou-se um país
socialista, no qual os serviços sociais tinham um peso maior nas
despesas públicas. Aliás, a Constituição da República Popular de
Moçambique tinha um artigo que consagrava a justiça social como meta
do sistema fiscal.23 Assim, para alcançar a mesma justiça social foram
tomadas medidas 21 tendentes a colocar o sistema tributário como
instrumento de direcção central da economia.

Neste período foram criados os seguintes impostos:

➢ Imposto de circulação, um imposto sobre as transacções (criado


pela lei n° 3/78 de 4 de Março);

➢ Imposto de reconstrução nacional que tributava os rendimentos


de trabalho (lei n° 2/78 de 16 de Fevereiro)
A reforma foi uma máquina eficaz até 1983, mas desta data em diante,
como resultado da guerra, pois a reforma tinha sido concebida para um
tempo de paz.

3 - O PRE e a reforma fiscal de 1987


O Programa de reabilitação económica foi lançado em 1987 e visava
corrigir os desequilíbrios da economia nacional e minimizar os efeitos
da guerra. Alterou-se a amplitude e base de incidência dos impostos
sobre consumo e importação; agravar o imposto sobre as transacções,
do imposto sobre o lucro; a redistribuição dos rendimentos dos
trabalhos fazendo com que os trabalhadores do estado ficassem isentos
e adaptando as taxas por forma a não desvirtuar o significado relativo
dos aumentos de salários.

21
As mais importantes constam da Resolução n° 5/77 de 1 de Setembro que
estabelecia os princípios fundamentais do sistema tributário.
94
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Outras medidas foram o alargamento da incidência do imposto


completar, passando a incidir sobre os rendimentos de trabalho; a
sujeição das empresas estatais ao regime geral de impostos; a
redefinição do imposto de reconstrução nacional, passando a ser de
capitação e a criação do calendário fiscal.

4 - A reforma fiscal de 2002 e os novos impostos do Sistema fiscal moçambicano


Com a aprovação da nova Lei de Bases do sistema Tributário
moçambicano, a lei n° 15/2002 de 26 de Junho, complementa-se a
reforma tributária indirecta iniciada em 1999. O marco essencial desta
reforma foi a introdução do IVA como um imposto indirecto sobre o
consumo. Os grandes objectivos da reforma eram: o alargamento da
base tributária; a redução da carga fiscal no conjunto da tributação
directa; o aumento do nível de receitas fiscais e a simplificação do
sistema tributário e dos procedimentos de liquidação.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e
responda as seguintes questões:

1– Fale de algumas vicissitudes do sistema fiscal moçambicano nos


primeiros anos da independência.

2– Apresente de forma sucinta os grandes objectivos das reformas


fiscais de 1987 e 2002.

Tópicos das respostas:

1- Era um sistema fiscal com legislação complexa e de modo inacessível


à grande maioria dos contribuintes. Ele não assentava em princípios de
justiça fiscal e social, e permitia uma tributação pesada sobre os
rendimentos de trabalho. Para ilustrar, basta comparar a carga fiscal
cumulativa sobre os mesmos com a que é devida nos rendimentos do
capital ou de natureza comercial ou industrial. Apesar de maior volume

95
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

de receitas provir de impostos incidentes sobre os rendimentos das


empresas privadas, as taxas acumuladas dos impostos sobre os
rendimentos do trabalho eram consideravelmente elevadas.

2- A reforma de 1987 visava corrigir os desequilíbrios da economia


nacional e minimizar os efeitos da guerra e foi nesta óptica que
alterouse a amplitude e base de incidência dos impostos sobre consumo
e importação, agravou-se o imposto sobre as transacções e adaptando
as taxas por forma em consonância com o ritmo dos aumentos de
salários para os funcionários do Estado. Já a reforma de 2002 visava: o
alargamento da base tributária; a redução da carga fiscal no conjunto
da tributação directa; o aumento do nível de receitas fiscais e a
simplificação do sistema tributário e dos procedimentos de liquidação.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo,

MARTINEZ, Soares (2000 ). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra

NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra

NEWITT, Malyn (2012). História de Moçambique, publicações


Europaamérica, lda, Lisboa

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo

SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra

SERRA, Carlos etal (1999). História de Moçambique volume 2, livraria


universitária, 2ª ed. Maputo

96
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução às Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo

Unidade Temática n°: 3Tributação em IRPS

O novo código do IRPS foi aprovado pela lei 33/2007 de 31 de


Dezembro, e o respectivo regulamento aprovado pelo decreto n°
8/2008 de 16 de Abril.

1 - Incidência objectiva
Conforme resulta do art. 1 do CIRPS o IRPS incide sobre o valor global
dos rendimentos das pessoas singulares, num período de um ano,
mesmo quando provenientes de actos ilícitos. Os rendimentos sujeitos
ao IRPS são os obtidos durante o período de tributação, depois de feitas
as deduções específicas e os abatimentos. Podem ser rendimentos de
trabalho dependente (1ª categoria); rendimentos empresariais e
profissionais (2ª categoria), de capitais e mais-valias (3ª categoria),
prediais (4ª categoria) e outros rendimentos (5ª categoria).
Analisaremos de uma forma minuciosa e breve cada categoria.

97
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

1.1 - Rendimentos de trabalho dependente


Enquadram-se nesta categoria, de acordo com o art. 2 do CIRPS, as
remunerações (ordenados, salários, vencimentos, subsídios ou
prémios, senhas de presença, multas ou emolumentos, comissões entre
outros) atribuídas ao trabalhador ou membro do seu agregado familiar,
parente ou afim no âmbito de contrato de trabalho ou equivalente;
contrato de prestação de serviços sob autoridade e direcção do
adquirente do serviço; exercícios de cargo públicos; membro de órgãos
estatutários; situação de pré-reforma e pensões. Incluem-se aqui
também as remunerações acessórias, sejam direitos, benefícios ou
regalias auferidas pelo trabalhador ou membro do seu agregado devido
à prestação de trabalho, quando não forem incluídos na remuneração
principal, desde que constituam para o respectivo beneficiário uma
vantagem económica.

A lei considera ainda como rendimentos dependentes: as remunerações


dos membros dos órgãos estatutários das pessoas colectivas e
entidades equiparadas; as importâncias que os empresários individuais
escrituram como remuneração do seu trabalho ou do prestado pelas
pessoas que façam parte do respectivo agregado familiar; os abonos
para falhas na parte em que exceder 5% da remuneração mensal fixa;
as ajudas de custos, na parte em que exceder os limites dos funcionários
do Estado com remunerações fixas equivalentes ou mais aproximadas;
as verbas para despesas de deslocação, viagens ou representação de
que não tenham sido prestadas contas até ao termo do exercício; as
indemnizações resultantes de constituição, extinção ou modificação da
relação jurídica que origine rendimentos de trabalho dependente,
incluindo as que respeitem ao cumprimento das condições contratuais
ou sejam devidas pela mudança de local de trabalho; e as gratificações
(gorjetas) auferidas pela prestação ou em razão de prestação de
trabalho, não atribuídas pela entidade patronal.
98
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

1.1.1 - Rendimentos de trabalho dependente não sujeitos ao IRPS


Não tributam no IRPS, em conformidade com o art.6 do CIRPS, as ajudas
de custos, até ao limite dos funcionários do Estado; os abonos de
família, até aos limites legais estabelecidos; os abonos para falhas, até
5% da remuneração mensal fixa; as acções de formação profissional dos
trabalhadores, ministradas pela entidade empregadora, por organismos
de direito público ou entidades reconhecidas como tendo competência
nos domínios de formação e reabilitação profissional pelos Ministérios
competentes; as contribuições para os regimes obrigatórios de
segurança social; as realizações de utilidade social e de lazer,
nomeadamente os gastos suportados com manutenção facultativa de
creches, lactários, jardins-de-infância, cantinas, bibliotecas e escolas,
prevenção e assistência medica e medicamentosa aos doentes
infectados com SIDA e outras realizações de utilidade social
reconhecidas pela Administração tributária, feitas em benefício do
pessoal da empresa e seus familiares, desde que tenham carácter geral
e não revistam a natureza de rendimentos de trabalho dependentes.

1.1.2 - Rendimentos de trabalho dependente isentos


São isentos22 de tributação no IRPS, de acordo com o art. 7 conjugado
com o art.5 do CIRPS, as pensões de aposentação ou de reforma,
velhice, invalidez ou sobrevivência, devidas no âmbito de regimes
obrigatórios ou regimes complementares de segurança social, as
pensões de alimentos, as rendas temporárias ou vitalícias.

1.2 - Rendimentos empresariais e profissionais – 2ª categoria


Estão nesta categoria os rendimentos empresariais e profissionais
decorrem do exercício de uma actividade comercial, industrial, agrícola,
silvícola, pecuária, artística, desportiva, cultural ou prestação de
serviços por conta própria bem como da propriedade intelectual,

22
Também estão na mesma situação as pensões (art. 26 n° 3 do CIRPS)
99
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

industrial ou know-how, quando auferidas pelo titular originário. São


também da 2ᵅ categoria os rendimentos resultantes da imputação aos
sócios ou membros que sejam pessoas singulares das sociedades
sujeitas ao regime de transparência fiscal.

1.3 - Rendimentos de capitais – 3ª categoria (art. 9 do CIRPS)


Temos nesta categoria os juros e lucros; os rendimentos originados pelo
diferimento no tempo de uma prestação ou pela mora no pagamento;
os rendimentos da propriedade intelectual ou industrial ou quando não
auferidos pelo titular originário; os rendimentos derivados de
assistência técnica e de uso ou da concessão de uso de equipamento
agrícola, industrial, comercial ou científico; entre outros.

1.4 - Mais-valias – 3ª categoria


Estão na categoria das mais-valias, de acordo com o art. 13 n° 1 do
CIRPS, os ganhos obtidos que, não sendo considerados rendimentos

comerciais, industriais, agrícolas, de capitais ou prediais, resultam de


alienação onerosa de direitos reais sobre bens imóveis, da afectação de
quaisquer bens do património particular à actividade empresarial e
profissional exercida em nome individual pelo seu proprietário; da
alienação onerosa de partes sociais, incluindo a respectiva remissão e
amortização; da alienação onerosa de propriedade intelectual ou
industrial ou de know-how comercial, industrial ou científico, quando
transmitente não seja o seu titular originário; da cessão onerosa de
posições contratuais ou outros direitos inerentes a contratos relativos a
bens imóveis e ainda os rendimentos líquidos anuais provenientes de
operações relativas a instrumento financeiros derivados. Apesar de as
mais-valias poderem estar conexas a alguma actividade, não devem
decorrer de rendimentos que se enquadrem em outras categorias, pois
caso contrário serão ai tributados, não como mais-valias mas como
rendimentos ai pertencentes.
100
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

1.5 - Rendimentos 4ª categoria


Consideram-se rendimentos da 4ª categoria 23 as rendas de prédios
rústicos, urbanos ou mistos. As rendas, quando provenham de contrato
de arrendamento, são prestação retributiva, periódica, pelo qual o
arrendatário executa o cumprimento de uma obrigação em que fica
constituído por força do referido contrato e que consiste no pagamento
ao senhorio de um preço pelo direito temporário de uso e fruição da
coisa imóvel arrendada.

1.6 - Ganhos em numerário e incrementos patrimoniais – 5ª categoria


Compreendem-se nesta categoria24 os ganhos em numerário, pagos ou
colocados à disposição, provenientes de jogos de diversão social,
nomeadamente: lotarias, rifas, apostas mútuas, loto, totoloto, bingo,
sorteios, concursos; as indemnizações que visem a reparação de danos
emergentes e não comprovados e de lucros cessantes, considerando-se
como tais apenas as que se destinem a ressarcir os benefícios líquidos
deixados de obter em consequência de lesão, desde que não
considerados rendimentos de outras categorias; as importâncias
atribuídas em virtude de assunção de obrigação de não concorrência,
independentemente da respectiva fonte ou título, e os rendimentos
patrimoniais não justificados desde que não considerados rendimentos
de outras categorias.

2 - Incidência subjectiva
São sujeitos passivos25 do IRPS as pessoas singulares residentes26 em
território nacional e as não residentes. Se forem residentes, o imposto

23
Art. 14 do CIRPS
24
Art.15 do CIRPS
25
Art.17 e ss do CIRPS
26
São residentes em território moçambicano as pessoas que, no ano a que respeitem os
rendimentos tenham permanecido em território moçambicano mais de 180 dias,
seguidos ou interpolados, ai disponham de habitação em condições que façam presumir
a intenção de a manter e ocupar como residência permanente; desempenhem no
estrangeiro função ou comissão de serviço de carácter publico, ao serviço do Estado
101
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

incide sobre a totalidade dos seus rendimentos e se forem não


residentes o imposto incide apenas sobre os rendimentos obtidos em
território moçambicano. No caso do agregado familiar27 o imposto é
devido pelo conjunto dos rendimentos das pessoas que constituem o
agregado, sendo considerados como sujeitos passivo a quem incumbe
a sua direcção. Nesta situação, são considerados como residentes em
Moçambique as pessoas que constituírem o agregado familiar, desde

que qualquer um dos cônjuges ou consorte no caso de união de facto


resida em território moçambicano.

É de notar a situação daqueles casos em que haja rendimentos cuja


titularidade pertença em comum a várias pessoas. A solução é imputar
a cada um dos contitulares na proporção das respectivas quotas. Sendo
porém as quotas indeterminadas presumir-se-ão iguais para efeitos de
tal imputação.

Unidade Temática n°4: Pagamento do IRPS (continuação)

Estão previstos no CIRPS duas formas de pagamento do IRPS a saber: os


pagamentos antecipados (retenção na fonte) e o pagamento final
(mediante englobamento)

moçambicano; e sejam tripulantes de navios ou aeronaves, ao serviço de entidades com


residência, sede ou direcção efectiva em território moçambicano.

27
O agregado familiar é constituído pelos cônjuges nãos separados judicialmente de
pessoas e bens e seus dependentes; Consideram-se dependentes os descendentes ou
equiparados maiores, que, não tendo mais de 25 anos, não aufiram anualmente
rendimentos superiores ao salário mínimo nacional mais elevado, tenham frequentado
no ano a que o imposto respeita, a 12 classe, estabelecimento de ensino médio ou
superior ou cumprindo o serviço militar; os descendentes ou equiparados maiores,
inaptos para o trabalho e para angariar meios de subsistência, desde que não aufiram
rendimentos; e os ascendentes a cargo do sujeito passivo, incapazes para o trabalho e
para angariar meios de subsistência.
102
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

1 - Retenção na fonte
A retenção na fonte ou substituição tributária, verifica-se quando, por
imposição da lei, a pessoa que paga ou coloca a disposição rendimentos
sujeitos a IRPS, está obrigada à dedução do imposto e à entrega dos
respectivos montantes ao tesouro público. É efectuada mediante
aplicação de taxas ao rendimento ilíquido pago ou colocado a
disposição. Esta forma de tributar apresenta as seguintes vantagens:
aproxima o pagamento do imposto do facto tributário (obtenção de
rendimentos); antecipação na arrecadação para o contribuinte; redução
do número de sujeitos passivos que entram em contacto com a
administração tributaria e garante o crédito tributário.

1.1 - Retenções na fonte com natureza de pagamento antecipado


Constituem antecipações por conta do IRPS devido a final, com
pagamento gradual ao longo do ano em que são obtidos os
rendimentos. As taxas de retenção na fonte para os rendimentos de
trabalho dependente constam de tabelas apropriadas por Diploma
Ministerial. Estas tabelas são elaboradas tomando em conta a situação
pessoal e familiar do sujeito passivo, o mínimo não tributável, o
quociente conjugal e as deduções à colecta.

A taxa de retenção é de 20% no caso de rendimentos de capitais,


rendimentos prediais, rendimentos da propriedade intelectual ou
industrial ou know-how auferidos pelo titular originário, rendimentos
de trabalho dependente (consultorias, estudos, pareceres), pagos ou
colocados a disposição por entidades que disponham ou devam dispor
de contabilidade organizada e parciais 20% no caso de rendimentos
prediais28.

28
Uma vez que a taxa incide sobre 70% do rendimento bruto predial, nos termos do ar
32 n° 3 do RCIRPS.
103
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

1.2 - Retenção na fonte com natureza de pagamento definitivo


A retenção na fonte com carácter definitivo encontra-se no art. 57 do
CIRPS, nos termos do qual são tributados à taxa de 20% a título
definitivo os rendimentos do trabalho dependente pagos ou colocados
a disposição de não residentes; os rendimentos de acções; os lucros
distribuídos a não residentes; as pensões auferidas por não residentes;
e os rendimentos de capitais auferidos por não residentes. No caso
específico dos ganhos em numerário proveniente de jogos de diversão
social os juros de depósito a prazo, os rendimentos de título cotados na
BVM, as remunerações artísticas de teatro e dança, a taxa retirada é de
10%.

1.3 - Pagamento por conta


Os pagamentos por conta também constituem antecipação por conta
do IRPS devidos a final. Estão obrigados a efectuar o pagamento por
conta os titulares de rendimentos da 2 categoria, nos termos do art. 33
do RCIRSP, até dia 20 de cada um dos meses de Junho, Setembro e
Novembro. Esta forma de pagamento revela-se vantajosa nos seguintes
termos: antecipação na arrecadação de receitas; regularidade na
arrecadação de receitas; facilidade de gestão de tesouraria para o
Estado e para os sujeitos passivos; e garante o crédito tributário.

1.4 - Pagamento final


O pagamento final é feito no ano seguinte ao da obtenção dos
rendimentos. Tem-se em conta a totalidade dos rendimentos das
categorias, as deduções específicas, os abatimentos, as deduções à
colecta incluindo a dedução das importâncias pagas antecipadamente.
Como forma de apurar o imposto final os sujeitos passivos do IRPS estão
obrigados a entregar, anualmente, na sua Direcção de Área fiscal,
declaração relativa aos rendimentos do ano anterior e outros
elementos informativos relevantes para a sua concreta situação

104
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

tributária. O rendimento colectável é o que resulta do englobamento


dos rendimentos das várias categorias auferidas em cada ano, depois de
feitas as deduções e os abatimentos previstos nas secções seguintes
(art. 26 n° 1 do RCIRPS).

2 - Apuramentos

2.1 - Apuramento dos rendimentos líquidos de trabalho dependente (1ª categoria)


Aqui, deduzem-se aos rendimentos brutos (art. 29 do CRIPS), as
quotizações sindicais e as indemnizações pagas pelo trabalhador à sua
entidade patronal por rescisão unilateral do contrato individual de
trabalho sem aviso prévio em resultado de sentença judicial ou de
acordo judicialmente homologado.

2.2 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 2ª categoria


A determinação dos rendimentos líquidos faz-se com base na
contabilidade organizada; no regime de escrituração simplificada; no
regime de determinação do rendimento colectável; e com base nas
regras aplicáveis aos actos isolados.

No regime de contabilidade organizada enquadram-se os titulares de


rendimentos empresariais e profissionais cujo volume de negócios do
ano anterior ao que diz respeito a tributação seja superior a
2.500.000.00 MT e os que tendo volume de negócios iguais ou inferior
tenham optado por este regime.

2.3 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 3ª categoria


A mais-valia será constituída: a) pela diferença entre o valor de
realização e o valor de aquisição, líquidos da parte qualificada como
rendimento de capital, no caso de alienação onerosa de direitos reais

105
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

sobre bens imóveis 29 e afectação de quaisquer bens do património


particular à actividade empresarial e profissional exercida em nome
individual pelo seu proprietário30; alienação onerosa de partes sociais,
incluindo a respectiva remissão e amortização; e alienação onerosa da
propriedade intelectual 31 ou industrial ou de know-how comercial,
industrial ou científico, quando o transmitente não seja o seu titular
originário; b) pela importância recebida pelo cedente, deduzido do
preço por que eventualmente tenha obtido os direitos e bens objecto
de cessão, no caso de cessão onerosa de posição contratual ou outros
direitos inerentes a contratos relativos a bens imóveis.

O valor de aquisição de partes sociais e de outros valores mobiliários


cotados, em bolsa corresponde ao custo documentalmente provado ou,
na sua falta, o da menor cotação verificada nos dois anos anteriores à
data da alienação, se outro menos elevado não for declarado.
Tratandose de partes sociais e de outros valores mobiliários não
cotados em bolsa, o valor de aquisição corresponde ao custo
documentalmente provado ou, na sua falta, o respectivo valor nominal
(art. 45 do CIRPS)

29
Neste caso o valor da realização é o valor da contraprestação ou, tratando-se de bens
imóveis, o valor considerado para efeitos de liquidação da Sisa ou, não havendo lugar
a esta liquidação, os que devessem ser, caso fosse devida [art.41 n°1 al. d) e n° 2
conjugados com o art. 43 do CIRPS]. Já no caso de afectação de bens do património
particular à actividade empresarial e profissional exercida em nome individual pelo seu
proprietário, considera-se valor de aquisição o valor de marcado à data da transacção.
30
No caso de afectação de quaisquer bens do património particular à actividade
empresarial e profissional exercida em nome individual pelo seu proprietário,
considera-se valor de realização o valor de mercado à data da afectação [ art. 41 n° 1
al. c) do CIRPS]. Este valor pode ser objecto de correcção sempre que a Administração
Tributária considere, fundamentalmente, que o mesmo não corresponde ao que seria
praticado entre pessoas independentes.
31
Na alienação onerosa da propriedade intelectual ou industrial ou de know-how
comercial, industrial ou científico, quando o transmitente não seja o seu titular
originário, e nas operações relativas a instrumentos financeiros derivados, o valor da
aquisição é constituído pelo preço pago pelo alienante, documentalmente provado.
106
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Na determinação de mais-valia tributável, ao valor da aquisição


acrescem:

a) Os encargos com valoração de bens, comprovadamente


realizados nos últimos 5 anos, e as despesas inerentes à
aquisição e alienação, no caso de alienação onerosa de direitos
reais sobre bens imóveis e afectação de quaisquer bens do
património particular à actividade empresarial e profissional
exercida em nome individual pelo seu proprietário;
b) As despesas necessárias e efectivamente praticadas, inerentes a
alienações, no caso de alienação onerosa de partes sociais,
incluindo a respectiva remissão e amortização e alienação
onerosa de propriedade intelectual ou industrial ou de
knowhow comercial, industrial ou científico, quando o
transmitente não seja o seu titular originário.

As mais-valias tributáveis correspondem a diferença entre as


maisvalias apuradas e as menos-valias realizadas no mesmo ano32.
Pelo que as mais-valias apuradas nos termos atrás referidos são
deduzidas as menos-valias e, o saldo entre as mais-valias e as
menos-valias apenas é considerado entre 30% e 75%, consoante o
tipo de operação/alienação da qual resulta a mais-valia (art. 39 n°s
2 e 3 do CIRPS)

2.4 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 4ª categoria


Para o apuramento deste valor, deve deduzir-se o valor das
despesas efectuadas para a manutenção e de conservação do
prédio. A lei apresenta uma presunção iuristantum33de que tais

32
Art. 40 do CIRPS
33
Art. 48 do CIRPS. Esta presunção é naturalmente elidível naqueles casos em que
havendo gastos superiores a 30% pela manutenção, o sujeito passivo tenha provas
documentais comprovantes dos gastos.
107
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

despesas são de 30% do rendimento predial bruto. Além disso, são


também deduzidos os juros pagos a instituição de crédito
moçambicano, devidamente documentadas, resultantes de
empréstimos para habitação própria; o IPRA; e os encargos de
conservação, fruição e outros.

2.5 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 5ª categoria


Nesta categoria não há dedução. Os rendimentos enquadrados nela
são líquidos por excelência.

3 - Rendimentos líquidos das categorias ao apuramento do IRPS final


Depois de apurado o rendimento líquido em cada categoria,
seguese o englobamento (art.26 do CIRPS), apurando-se o
rendimento líquido total do sujeito passivo. Ao rendimento total
faz-se a dedução dos rendimentos abatidos referentes às
importâncias comprovadamente suportadas e não reembolsadas
respeitante a encargos com pensões (art.51 do CIRPS) e o mínimo
não tributável (art. 56 do CIRPS) determinando-se o rendimento
colectável.

Ao rendimento colectável aplica-se a taxa do imposto, deduzindose


em seguida a parcela a obter (art. 54 do CIRPS), obtendo-se a
colecta, à qual fazem-se as respectivas deduções (art.59 a 61 do
CIRPS), designadamente deduções relativas a situação pessoal e
familiar e dupla tributação internacional (efectuadas até ao
montante da colecta), pagamentos por conta e retenção na fonte,
apurando-se o IRPS.

A dedução relativa a dupla tributação internacional efectua-se


quando tenha havido englobamento de rendimentos tributados
fora do território nacional. A dedução é efectuada até a ocorrência
da parte da colecta do IRPS proporcional aos rendimentos líquidos

108
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

tributados fora e englobados em Moçambique, e corresponde ao


valor menos elevado de entre:

1. Imposto sobre o rendimento pago no estrangeiro ou;


2. A fracção da colecta do IRPS, calculada antes da dedução
correspondente aos rendimentos que nos pais em causa possam
ser tributados. Nos casos em que tais rendimentos tenham sido
tributados num país que celebrou com Moçambique convenção
para eliminar a dupla tributação a dedução a efectuar pode
ultrapassar o imposto sobre rendimentos pago no estrangeiro
nos termos previstos pala convenção.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim destas lições, faça a recapitulação e responda as
seguintes questões:

1- Apresente as vantagens da retenção na fonte em sede do pagamento

do IRPS?

2- Dos rendimentos abaixo quais tributam e quais são isentos ao IRPS:1

- As ajudas de custos, superiores ao limite dos funcionários do Estado; 2


- As remunerações atribuídas ao trabalhador ou membro do seu
agregado familiar, parente ou afim no âmbito de contrato de trabalho
ou equivalente; 3 - exercícios de cargo públicos; Os abonos para falhas,
até 7% da remuneração mensal fixa; 4 - as contribuições para os regimes
obrigatórios de segurança social; 5 - Contrato de prestação de serviços
sob autoridade e direcção do patronato.

Tópicos de Respostas

1– A retenção na fonte apresenta as seguintes vantagens: aproxima


o pagamento do imposto do facto tributário (obtenção de
109
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

rendimentos); antecipação na arrecadação para o contribuinte;


redução do número de sujeitos passivos que entram em contacto
com a administração tributaria e garante o crédito tributário.

2- Rendimentos que tributam no IRPS: n°s 1, 2, 3 e 5 Rendimentos

que não tributam: n°s: 4.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo

MARTINEZ, Soares (2000). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra

NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo

SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução à Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo

Unidade Temática n°5: Tributação em IRPC

110
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

1 - Aspectos gerais
Previsto no art. 58 da LGT e regulamentado 34 pelo código da IRPC
(CIRPC), aprovado pela lei n˚34/2007, de 31 de Dezembro, o Imposto
Sobre Rendimentos de Pessoas Colectivas (IRPC) é um imposto directo
que incide sobe os rendimentos obtidos (mesmo quando proveniente
de actos ilícitos) no período de tributação, pelos respectivos sujeitos
passivos.

São sujeitos passivos (Incidência subjectiva) do IRPC as pessoas


colectivas residentes e não residentes, com ou sem personalidade
jurídica desde que estejam numa das situações previstas no art. 28 n° 2
da LGT. De acordo com este preceito, os sujeitos passivos residentes são
divididos em duas categorias: sujeitos passivos residentes que exerçam
a título principal uma actividade de natureza comercial, industrial ou
agrícola e sujeitos passivos residentes que não exerçam esta actividade.

Os sujeitos passivos não residentes também são divididos em duas


categorias: sujeitos passivos não residentes com estabelecimento
estável e sujeitos passivos sem estabelecimento estável. Segundo o
art.3 do CIRPC o estabelecimento estável é qualquer instalação fixa
através da qual seja exercida, total ou parcialmente, uma actividade de
natureza comercial, industrial ou agrícola, incluindo a prestação de
serviços.

Em termos de incidência objectiva, nos termos do n˚1 do art.4 do CIRPC,


o IRPC incide sobre: o lucro dos sujeitos passivos residentes que
exerçam a título principal uma actividade comercial, industrial ou
agrícola, o rendimento global dos sujeitos passivos residentes que não
exerçam a título principal uma actividade de natureza comercial,

34
O regulamento do código foi aprovado pelo Dec. N˚9/2008, de 16 de
Abril.
111
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

industrial ou agrícola, o lucro do estabelecimento estável dos sujeitos


passivos não residentes com estabelecimento estável, e os rendimentos
das diversas categorias consideradas para efeitos do IRPS dos sujeitos
passivos não residentes em estabelecimento estável. De referenciar que
aos residentes o IRPC incide sobre a totalidade dos seus rendimentos
obtidos em território moçambicano e os obtidos fora. Enquanto para os
não residentes, o imposto incide apenas sobre os rendimentos obtidos
em território moçambicano. Os rendimentos considerados obtidos no
território nacional estão enumerados no n˚3 do art.5 do CIRPC.

2 - Isenções
As isenções no CIRPC encontram-se previstas no capítulo II e são
subjectivas ou pessoais, objectivas ou reais e mistas:

➢ As isenções subjectivas ou pessoais são concedidas atendendo e


considerando apenas a qualidade do sujeito passivo e podem ser
automáticas ou a requerimento dos interessados: As isenções
subjectivas automáticas estão enumeradas no art. 9, als. a) e b)
do n˚1 do art.10, art.12 e no n˚2 do art.13, designadamente o
Estado, as autarquias locais e as associações ou federações de
municípios, as instituições de segurança social, as Entidades do
bem público social e cultural, devidamente reconhecidas e as
associações de utilidade pública a que se refere a lei n˚8/91 de
18 de Julho
➢ As isenções subjectivas a requerimento encontram-se previstas
na al.c) do n˚1 do art.10 do CIRPC. Podem requerer esta isenção
as associações de mera utilidade pública que prossigam fins
científicos ou culturais, de caridade, assistência ou beneficência
relativamente a exploração directa de jogos de diversão social,
edição ou comercialização de livros ou outras publicações que
se destinam a complementar a realização do seu objecto básico.
112
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

As isenções objectivas ou reais são concedidas em função do tipo de


rendimento ou factos que a lei não pretende tributar ou pretende
reduzir a tributação. No CIRPS estas isenções encontram-se no art.11 e
n˚1 do art.13, para os rendimentos directamente derivados do exercício
de actividades culturais, recreativas e desportivas, auferidas por
associações legalmente construídas para o exercício dessas actividades
e o património social se destina ao fim da sua criação, e em nenhum
momento se distribuam ente os sócios, os rendimentos resultantes do
exercício de actividades sujeitas ao Imposto Especial sobre os jogos.

3 - Período de tributação
O período de tributação é de um ano e coincide com o ano civil, ou seja,
de 01 de Janeiro a 31 de Dezembro. Embora poderá ser de um ano mas
não coincidir com o ano quando razões determinadas pelo tipo de
actividade o justifiquem, mediante autorização do Ministro das
Finanças, e no caso de entidades não residentes com estabelecimento
estável, mediante comunicação expressa à administração tributária.

Conforme o n˚4 do art.7 do CIRP, o período de tributação poderá ser


inferior ao ano civil no caso de início de actividade, cessação de
actividade, quando as condições de sujeição ao imposto ocorram e
deixem de verificar-se no mesmo exercício e no exercício em que seja
adoptado um período de tributação diferente do que vinha sendo
seguido. Segundo o n˚5 do art.7, tratando-se de sociedade em
liquidação o período de tributação poderá ser superior a um ano e todo
o período de liquidação conta como um só exercício.

113
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Unidade Temática n°6: II – Determinação do IRPC (continuação)

1 - Sujeitos passivos residentes que exerçam a título principal uma


actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola.

Do ponto de vista das obrigações dos sujeitos passivos e atendendo a


dimensão e natureza dos sujeitos passivos, no IRPC existem os seguintes
regimes de tributação das entidades residentes que exerçam a título
principal uma actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola:

a) Regime de contabilidade organizada;


b) Regime de escrituração;
c) Regime simplificado de tributação do lucro tributável.

Nas pessoas colectivas que se enquadram no regime de contabilidade


organizada35, o lucro tributável é constituído pela soma algébrica do
resultado líquido do exercício e das variações patrimoniais positivas e
negativas e eventualmente corrigidos nos termos do CIRPC36. Para o
efeito o resultado líquido do exercício é o resultado que consta do
balanço e demonstração de resultados.

Com vista ao apuramento do lucro tributável, ao resultado líquido do


exercício faz-se a soma algébrica das variações patrimoniais positivas e
variações patrimoniais negativas, não reflectidas no resultado líquido,
conforme disposto nos arts. 21 e 24 do CIRPC. Portanto não concorrem
para a formação do lucro tributável 37 as seguintes variações

35
Conforme o art.75 do CIRPC enquadra-se no regime de contabilidade organizada as
empresas públicas e as sociedades anónimas, as sociedades comerciais ou civis sob
forma comercial, cooperativas e demais entidades que exerçam, a título principal, uma
actividade comercial, industrial ou agrícola, com sede ou direcção efectiva em território
moçambicano cujo volume de negocio do ano anterior seja superior a 2.500.000,00mt,
e as sociedades comerciais ou civis sob forma comercia cooperativa e demais entidades,
com sede ou direcção efectiva em território moçambicano, cujo volume de negocio do
ano anterior seja igual ou inferior a 2.500.000,00mt, desde que tenha optado em regime
de contabilidade organizada.
36
Art.17 do CIRPC
37
Ver também as situações do art. 20 n° 3 do CIRPC.
114
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

patrimoniais: entradas de capital, os incrementos patrimoniais sujeitos


a impostos sobre as sucessões e doações, as contribuições, as saídas em
dinheiro ou em espécie.

Apurado o lucro tributável procede-se a terminação da matéria


colectável. A matéria colectável determina-se pela dedicação ao lucro
tributável dos prejuízos fiscais (art.41 do CIRPC) e dos benefícios fiscais
eventualmente concedidos (n˚4 do art.15 do CIRPC), efectuando-se as
correcções fiscais previstas nos artigos 49 à 52, conforme dispõe o
art.15 do CIRPC. Quando se trata de prejuízos fiscais de sociedades
fundidas ou cuidadas, podem ser deduzidas aos lucros tributáveis da
nova sociedade ou da sociedade incorporante, mediante autorização do
Ministro da Finanças, a qual esta condicionada a demonstração de que
a fusão foi realizada por razoes económicas validas e se insere numa
estratégia de redimensionamento e desenvolvimento empresarial com
efeitos positivos na estrutura empresarial.

Apurada a matéria colectável procede-se a liquidação do IRPC,


aplicando-se a taxa do IRPC prevista no n˚1 do art.61 do CIRPC, ou seja,
a taxa de 32%, apurando-se a colecta. Porém, para actividade agrícola e
pecuária a taxa aplicada é de 10% ate 31 de Dezembro de 2015.Dispõe
o n˚1 do art.66 do CIRPC que à colecta são efectuadas deduções
relativas a dupla tributação económica dos lucros, dupla tributação
internacional, benefícios fiscais e pagamento especial por conta. Porem
estas deduções não devem ultrapassar o montante da colecta apurada.
São efectuadas também as deduções por conta e retenções na fonte
(n˚3 do art.67 do CIRPC).

Esquema

Resultado Liquido de Exercício + Variações Patrimoniais Positivas –


Variações patrimoniais Negativas +/- Correcções Fiscais = Lucro

115
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Tributável – Prejuízos Fiscais Benefícios Fiscais +/- Correcções Previstas


nos artigos 49 à 52 = Material colectável × Taxa = Colecta – Dupla
Tributação Económica de Lucros Distribuídos, Dupla Tributação
Internacional, Benefícios Fiscais, Pagamento Especial por Conta,
Pagamento por Conta, Retenções na Fonte = IRPC

Segundo o n˚2 do art.75 do CIRPC, no regime simplificado de


escrituração enquadram-se as
sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, cooperativas,
empresas públicas e demais entidades residentes que exerçam, a título
principal, uma actividade comercial, industrial ou agrícola, com sede ou
direcção efectiva em território moçambicano, ou com estabelecimento
estável em território moçambicano, cujo volume de negócios do ano
anterior seja igual ou inferior a 2.500.000,00mt, desde que tenha
optado por este regime.

Os sujeitos passivos residentes, acima referenciados, apuram a sua


matéria colectável e liquidam o imposto seguindo as regras aplicáveis
aos sujeitos passivos residentes com contabilidade organizada. Nos
termos do n˚2 do art.15 do CIRPC, estes não deduzem os prejuízos
fiscais.

Esquema

Resultado Liquido de Exercício + Variações Patrimoniais Positivas –


Variações Patrimoniais Negativas +/- Correcções Fiscais = Lucro
Tributável – Benefícios Fiscais +/- Correcções Previstas nos artigos 49 à
52 = Material Colectável × Taxa = Colecta – Dupla Tributação Económica
de Lucros Distribuídos, Dupla Tributação Internacional, Benefícios
Fiscais, Pagamento Especial por Conta, Pagamentos por Conta,
Retenções na Fonte = IRPC

116
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Nos termos do n˚1 do art.47 do CIRPC, ficam abrangidos pelo regime


simplificado de determinação do lucro tributável os sujeitos passivos
residentes que exerçam a título principal, uma actividade de natureza
comercial, industrial ou agrícola, com excepção das empresas públicas
e sociedades anónimas e que apresentem, um volume de negócios não
superior a 2.500.000,00mt e que não tenham optado pelo regime de
contabilidade organizada ou pelo regime simplificado de escrituração.

O apuramento do lucro tributável dos sujeitos passivos acima


mencionados, é apurado mediante aplicação dos coeficientes de 0,20
ao valor das vendas de mercadorias e de produtos e das prestações de
serviços de alojamento, restauração e bebidas e 0,30 nos restantes
proveitos. Ao lucro tributável apurado não se aplica deduções de
prejuízos fiscais mas deduz-se os benefícios fiscais (n˚s 2 e 4 do art.15).

Apurada a matéria colectável procede-se a liquidação do IRPC,


aplicando-se a taxa do IRPC prevista no art.61, apurando-se a colecta. À
colecta são efectuadas as deduções relativas a dupla tributação
económica dos lucros distribuídos, dupla tributação internacional e
benefícios fiscais, são efectuadas também as deduções de pagamento
por conta e retenções na fonte, não se efectua a dedução relativa ao
pagamento especial por conta porque, nos termos do n˚4 do art.71 do
CIRPC, os sujeitos passivos abrangidos pelo regime simplificado de
determinação do lucro tributável não fazem este pagamento.

Esquema

Valor das Vendas (proveitos) ×0,20 ou 0,30 = Lucro Tributável –


Benefícios Fiscais = Matéria colectável × taxa = colecta – Dupla
Tributação Económica de Lucros Distribuídos, Dupla Tributação
Internacional, Benefícios Fiscais, Benefícios por Conta, Retenções na
Fonte = IRPC.

117
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Unidade Temática n°7: (Continuação)

1 - Sujeitos passivos residentes que não exerçam, a título principal, actividades de natureza
comercial, industrial ou agrícola.

Estes sujeitos passivos, o seu objecto principal não é a obtenção de


lucros, mas sim a realização dos seus fins estatutários, e só são
tributados em IRPC quando obtenham rendimentos provenientes do
exercício de uma actividade de natureza comercial, industrial ou
agrícola, desenvolvida a título acessório, bem como rendimentos de
aplicação de capitais, ganhos de mais-valias e rendimentos prediais.

E assim, o n˚3 do art.43 afasta da tributação as quotas pagas pelos


associados em conformidade com os estatutos, bem como os subsídios
recebidos e destinados a financiar a realização dos fins estatutários.

Tratando-se de sujeitos que não exerçam, a título principal, actividades


de natureza comercial, industrial ou agrícola, o IRPC incide sobre o
rendimento global [al. b) do n˚ do art. 4 do CIRPC].Segundo o n˚1 do
art.42 do CIRPC o rendimento global é formado pela soma algébrica dos
rendimentos líquidos das várias categorias determinados nos termos do
CIRPCS, isto é, depois de feitas as deduções específicas.

Entretanto, para a determinação da matéria colectável, ao rendimento


global faz-se dedução dos custos indispensáveis à obtenção de
rendimentos que não tenham sido considerados na determinação do
rendimento global. O art.43 determina que estes custos são deduzidos
da seguinte forma:

a) Se estiver apenas ligados à obtenção de rendimentos sujeitos e


não isentos, são deduzidos na totalidade ao rendimento global;

118
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

b) Se estiver ligado à obtenção de rendimentos sujeitos ou isentos,


deduz-se ao rendimento global parte dos custos comuns que for
imputável aos rendimentos sujeitos e não isentos.

Apurada a matéria colectável procede-se a liquidação do imposto, ou


seja, determinação da Colecta. À colecta efectua-se a dedução relativa
a dupla tributação económica, dupla tributação internacional e
retenção na fonte.

No entanto, segundo o art.77 no que diz respeito ao registo das


operações, estas entidades estão obrigadas a possuir o livro de registo
de rendimentos, livro de registo de encargos, livro de registo de
inventário, balanço, razão e diário.

2 - Sujeitos passivos não residentes com estabelecimento estável

A tributação dos sujeitos passivos não residentes limita-se aos


rendimentos obtidos em território moçambicano, isto por forca do n˚2
do art.5 do CIRPC.

Segundo o art.44 o apuramento do imposto destes sujeitos passivos


obedece, as regras impostas para os sujeitos passivos residentes que
exerçam, a título principal, de natureza comercial, industrial ou agrícola.
Porem para a determinação do lucro tributável pode ser deduzido como
custos os encargos gerais de administração imputáveis ao
estabelecimento estável repartidos com base num dos seguintes
critérios:

a) Utilização pelo estabelecimento estável dos bens e serviços a


que respeitam os encargos gerais;
b) Volume de negócios;
c) Custos directos;
d) Imobilizado corpóreo.
119
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

3 - Sujeitos passivos não residentes sem estabelecimento estável

A tributação destes rendimentos também limita-se aos rendimentos


obtidos em território moçambicano, isto por força do n˚2 do art.5 do
CIRPC. A tributação destes sujeitos é efectuada individualizando cada
um dos seus rendimentos de acordo com as categorias correspondentes
para efeitos do IRPS (art.45 do CIRPC).

Os rendimentos individualizados são tributados por uma taxa liberatória


de 20%, excepto os rendimentos derivados de prestação de serviços de
telecomunicações e transportes internacionais e os rendimentos de
título cotados na bolsa de valores de Moçambique, que são tributados
a taxa liberatória de 10%, nos termos do n˚2 do art.62 do CIRPC.

O art.43 do RCIRPC dispõe que os sujeitos passivos acima são obrigados


a designar uma pessoa singular ou colectiva residente em território
moçambicano para os representar junto da AT quanto as suas
obrigações tributarias. A nomeação de representante é feita na
declaração de inscrição no registo a que se refere a al. a) do n˚1 do
art.36 do RCIRPC, na DAF do representante, no prazo de 15 dias a contar
da data das ocorrências do facto que originou o direito aos mesmos
rendimentos, segundo o art.43 e n˚2 do art.37 do RCIRPC.

4 - Aplicação de métodos indirectos

Segundo o art.46 do CIRPC a aplicação de métodos indirectos verificase


no caso de inexistência de contabilidade organizada ou dos livros de
registo exigidos, recusa de exibição de contabilidade, existência de
diversas contabilidades, e erros ou inexactidões no registo das
operações. Nos termos do art.48 do CIRPC, na determinação do
rendimento líquido por métodos indirectos a administração tributária
toma em consideração todos elementos ao seu dispor.
120
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

5 - Pagamentos antecipados

5.1 - Pagamento por conta

As entidades residentes e não residentes com estabelecimento estável


em território moçambicano, que exerçam a título principal, uma
actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola, são obrigadas
nos termos do art.70 do CIRPC conjugado com al. a) do n˚1 do art.27 do
RCIRPC, a efectuar três pagamentos por conta, nos meses de Maio,
Junho e Setembro, do ano a que respeita o lucro tributável, ou no caso
de opção por período de tributação diferente do ano civil, no quinto,
sétimo e nono mês do respectivo período de tributação

O art.72 do CIRPC permite ao sujeito passivo suspender os pagamentos


por conta, quando pelos elementos de que disponha, que o montante
dos pagamentos por conta já efectuados é igual ou superior ao imposto
previsivelmente devido, para tal, devera remeter aos serviços fiscais
uma declaração de limitação de pagamentos por conta, de modelo
oficial, devidamente assinada e datada, até ao termo do prazo para o
pagamento.

5.2 - Pagamento especial por conta

As entidades residentes e não residentes com estabelecimento estável


em território moçambicano, que exerçam a titulo principal, uma
actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola, com excepção
das que iniciam a actividades das abrangidas pelo regime simplificado
de determinação de lucro tributável ficam, nos termos do art.71 do
CIRPC conjugado com o art.29 do CIRPC, sujeitos a um pagamento
especial por conta a efectuar nos meses de Junho, Agosto e Outubro,
no próprio ano a que respeita o lucro tributável, ou no caso de opção
por período de tributação diferente do ano civil, no sexto, oitavo e
decimo mês do período de tributação.

121
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim destas lições, faça a recapitulação e responda as
seguintes questões:

1 - Aborde a respeito das isenções subjectivas a requerimento em sede


do IRPC.

2- Faça a destrinça entre a situação dos sujeitos passivos não residentes


sem estabelecimento estável e a dos sujeitos passivos não residentes
com estabelecimento estável, em sede da tributação do IRPC.

Tópicos de respostas

1– Vincar que o regime das isenções no CIRPC encontram-se previstas


no capítulo II. Quanto às isenções subjectivas a requerimento, elas estão
previstas na al. c) do n˚1 do art.10 do CIRPC. Podem requerer esta
isenção as associações de mera utilidade pública que prossigam fins
científicos ou culturais, de caridade, assistência ou beneficência
relativamente a exploração directa de jogos de diversão social, edição
ou comercialização de livros ou outras publicações que se destinam a
complementar a realização do seu objecto básico.

2– Requeria-se do estudante focalizar o facto de a tributação dos


sujeitos passivos não residentes sem estabelecimento estável limitar-se
aos rendimentos obtidos em território moçambicano, isto por força do
n˚2 do art.5 do CIRPC. Já a tributação dos sujeitos passivos não
residentes com estabelecimento estável é efectuada individualizando
cada um dos seus rendimentos de acordo com as categorias
correspondentes para efeitos do IRPS (art.45 do CIRPC).

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:
122
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

IBRAHIMO, Ibrahimo, O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora, Maputo,


2002

MARTINEZ, Soares, Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra, 2000

NABAIS, José Casalta, direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra, 2009

PENE, Cláudio, apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano, Escolar


Editora, Maputo, 2013

SALDANHA SANCHES, J. L, Manual de Direito Fiscal, 3ª ed. Coimbra


editora, Coimbra, 2007

WATY, Teodoro Andrade, Introdução ao direito fiscal, W &W editora,


Maputo, 2004

WATY, Teodoro Andrade, Introdução à Finanças Públicas e Direito


Financeiro, W & W editora, Maputo, 2004

Unidade Temática n°8: Imposto Simplificado de Pequenos Contribuintes


(ISPC)

1. Definição e contribuintes
Este imposto é regulado pela lei n° 5/2009 de 12 de Janeiro. Que tem
como principais contribuintes todos os sujeitos passivos que praticam
actividade ou negócio informal. Tem como finalidade reduzir os custos
de cumprimento das obrigações tributárias e os encargos de fiscalização
e o controlo do procedimento, propiciando, assim, o alargamento da
base tributária tendo em contas o volume do negócios e o rendimento
possível de arrecadar pelo contribuinte deste tipo de imposto.
No que se refere a sua natureza e âmbito, decorre do artigo 2° desta lei
que é um imposto directo e aplicável às pessoas singulares ou colectivas
que exerçam, no território nacional, actividade agrícola, industrial ou
comercial, de pequena dimensão incluindo a prestação de serviços.
Portanto, recai sempre sobre o rendimento das pessoas.

123
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Uma vez que recaem sobre actividade de pequena dimensão são


tributadas aos sujeitos que desenvolvem actividade agrícola, o
comércio ambulante, o comércio geral por grosso, a retalho e misto e o
comércio rural, incluindo em bancas, barracas, quiosques, cantinas,
lojas e tendas, bem como a indústria transformadora e a prestação de
serviços, abrangendo os importadores e os exportadores38, tendo como
volume de negócios anual valor inferior ou igual a 2.500.000.00Mt,
sendo de carácter optativo o seu pagamento39. Ainda nesta linha de
pensamento há que referir que o volume do negócio é calculado assim
que termina o ano económico. Para além do volume do negócio
mencionado cabe acrescentar que os contribuintes deste imposto não
são obrigados a ter contabilidade organizada, e no caso do sujeito
passivo que iniciam a sua actividade, o volume de negócios a tomar em
consideração é estabelecido de acordo com a previsão efectuada pelo
sujeito passivo na declaração de início da actividade e confirmada pela
Administração tributária40.

Aos devedores deste imposto é excluído o pagamento do IVA, IRPS e


IRPC desde que pretendam transmitir bens e prestar serviços 41 . Na
mesma linha, para o caso de afeição de outros rendimentos da segunda
categoria do IRPS, ficam os devedores deste imposto isentos do
pagamento daquele imposto, sendo os restantes rendimentos de outras
categorias excluídos da referida isenção, devendo ser declarados para o
efeito de tributação em IRPS.42

38
Artigo 3° da lei n° 5/2009 de 12 de Janeiro
39
Artigo 2° da mesma lei
40
Artigo 4 da mesma lei
41
Artigo 5
42
Art. 5 n° 2
124
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

A execução é devida por cada ano fiscal, que coincide com o ano civil43,
sendo a taxa anual, em regra, de 75.000.00 Mt44, e alternativamente a
taxa de 3% sobre o volume do negócio desse ano48.

2. Benefícios
Os sujeitos passivos que optem por este imposto hão-de beneficiar de
50% de desconto no primeiro ano do exercício da actividade
económica 45 . Ficam isentos do pagamento desta imposto os que
renderem o equivalente a 36 salários mínimos do salário mínimo mais
elevado em 31 de Dezembro do ano anterior ao que respeitam os
negócios50.

Este imposto tem como base tributável, para efeitos de pagamento da


taxa de 3% sobre o volume dos negócios, o volume do negócio realizado
em cada trimestre do ano civil46.

A liquidação do imposto cabe ao próprio sujeito passivo na declaração


do modelo oficial47, tendo, na falta da liquidação pelo sujeito passivo,
de a tarefa recair sobre a administração tributaria com base em todos
os elementos de que disponha48.

Aos sujeitos que optarem por este tipo de imposto recai a obrigação de
declarar o início, a alteração, e a cessação da sua actividade49, para além
de emitir documentos simplificado comprovativo das operações
realizadas, bem como a proceder ao seu registo50.

43
Art. 6
44
Art. 8 n° 1
48
Art. 8 n° 2
45
Art. 8 n° 3, não sendo compreensível se é ou não retroactivo aos que já
praticam actividade económica a tempo anterior a criação deste imposto 50 Art. 7
46
Art. 9 n° 1
47
Art. 10 n° 1
48
Art. 10 n° 2
49
Art. 11
50
Art. 12
125
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Chegado ao fim destas lições, faça a recapitulação e responda as


seguintes questões:

1– Quais as condições necessárias para que um contribuinte possa


beneficiar do regime ISPC?

2– Aborde sobre os benefícios concedidos aos sujeitos passivos que


optem pelo regime do ISPC.

Tópicos de respostas

1–O estudante deve vincar os seguintes requisitos: não ter o sujeito


passivo volume anual de negócios superior a 2.5000.000, Mt; não ser o
sujeito passivo obrigado a ter contabilidade organizada e optar pelo
ISPC.

2- Os sujeitos passivos que optem por este imposto hão-de beneficiar


de 50% de desconto no primeiro ano do exercício da actividade
económica além disso, ficam isentos do pagamento deste imposto os
que renderem o equivalente a 36 salários mínimos do salário mínimo
mais elevado em 31 de Dezembro do ano anterior ao que respeitam os
negócios.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo

MARTINEZ, Soares (2000). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra

NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra


126
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo

SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução à Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo,

Unidade Temática n°9: O Imposto sobre o Valor Acrescentado


(IVA)

1 - Incidência
Estão sujeitos ao IVA as transmissões de bens e prestações de serviços
efectuados a título oneroso 51 no território de Moçambique e as
importações de bens52. Os requisitos de sujeito passivo estão no art. 2
do CIVA. Além destes, há que considerar os que pela aquisição dos
serviços enumerados no n° 7 do art. 6 estão obrigados a fazer
autoliquidação do imposto, mediante a emissão de uma nota de
lançamento que evidenciará o valor do imposto relativo à prestação de
serviços obtida da entidade não residente em Moçambique. Este
dispositivo deve ser conjugado com a al. d) do n° 1 do art. 18 que

51
Há casos de prestações gratuitas sujeitas ao IVA conforme consta do art 3 al e)
CIVA
52
Arts 1 e 6 CIVA
127
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

preconiza a dedutibilidade do imposto autoliquidado, excepto se os


adquirentes dos serviços realizem apenas operações sem direito a
dedução.53

2 - Isenção
Há dois tipos de isenção a este tipo de imposto: as isenções completas
e as isenções incompletas. Nas isenções completas, o sujeito passivo
não liquida o imposto aos seus clientes mas tem direito à dedução do
imposto suportado. Estão isentos completamente as situações previstas
nos arts. 9 n° 7 al b); 9 n° 10; 9 n° 13 als. d) e f); 14 n° 1 als. b) e d) e n°
2 do mesmo artigo 14.Nas isenções incompletas o sujeito passivo não
liquida o imposto aos seus clientes e, em contrapartida, tem o direito a
deduzir o imposto suportado.

3 - Regimes de tributação

3.1 - Regime Normal


Enquadram-se neste regime os sujeitos passivos com volume anual de
negócios igual ou superior a 2 500 000 Mt; os sujeitos passivos que para
efeitos de tributação sobre rendimentos possuem ou sejam obrigados
a possuir contabilidade organizada; os sujeitos passivos que fazem
operações de exportação e importação e aqueles sujeitos com volume
anual de negócio inferior ao citado acima mas que tenham optado pelo
regime normal.

Neste regime o imposto é apurado através da aplicação da taxa de 17%


conforme o art. 17, ao valor tributável referido nos arts. 15 e 16. Esse
valor é constituído pela contraprestação obtida ou a obter do
adquirente dos bens e serviços, incluindo os impostos (Excepto o IVA),
os direitos, as taxas, as despesas acessórias debitadas quando
respeitem a comissões, embalagens, transporte e seguro por conta do

53
Pene, op. cit 208
128
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

cliente. Exceptuam-se as indemnizações decorrentes do incumprimento


do contrato, os descontos, abatimentos ou bónus concedidos, as
prestações feitas em nome do adquirente registadas em contas de
terceiros e as quantias respeitantes a embalagens efectivamente
transaccionadas se da factura ou documento conste a convenção de
que serão devolvidas.

O imposto liquidado pelo sujeito passivo deve ser adicionado ao valor


da factura para efeito da sua exigência aos adquirentes da mercadoria
ou aos utilizadores dos serviços (ar.t 28) ou incluído no preço nos casos
em que não se exige a factura. A emissão de factura é dispensável nos
casos previstos no art. 31 do CIVA. Excluem-se da dedução os casos de
isenção, excepto se o beneficiário, podendo, renuncia a isenção nos
termos do art. 11, e ainda os previstos no art. 20.

Os sujeitos passivos do art. 20 estão obrigados a emitir factura ou documento equivalente e a


entregar mensalmente a declaração da actividade do mês antessente, indicando o imposto devid
e os elementos que servem de base para o seu cálculo.

3.2 - Regime simplificado


Facultado aos que cumulativamente preencham os seguintes requisitos:
volume anual de negócios superior a 750000 ma e inferior a 2 500 000
Mt; para efeitos da tributação sobre rendimentos não possuírem e não
forem obrigados a ter contabilidade organizada; não efectuarem
operações de importação ou de exportação ou actividade conexas e não
tenham optado pelo regime normal. (art. 42 nº 1) Estes sujeitos passivos
apuram o imposto devido aplicando a taxa de 5% ao valor das vendas
ou serviços realizados. (art. 42 nº 2)

Os sujeitos abrangidos neste regime devem pagar o imposto


trimestralmente nos meses de Abril, Junho, Outubro e Janeiro. Devem
emitir a factura ou documento equivalente que, entretanto não confere

129
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

direito à dedução, devendo constar expressamente na menção (“IVA –


não confere direito à dedução). Os sujeitos passivos do regime
simplificado estão obrigados a liquidar o IVA nas suas operações activas,
mas sem direito ao adquirente dos bens do direito a dedução.

3.3 - Regime de isenção


Previsto nos arts. 35 a 45. É este regime aplicável aos sujeitos passivos
cujo volume anual do negócio é inferior a 750 000 Mt e para efeitos dos
impostos sobre rendimentos não possuam e nem sejam obrigados a ter
contabilidade organizada, não efectuem operações de importação ou
exportação e que não tenham optado pelo regime normal. Os sujeitos
sujeitos a este regime não liquidam e nem deduzem o imposto (art. 36).
Embora isentos os sujeitos devem emitir factura ou documento
equivalente mas com informação “IVA – regime de Isenção”.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim destas lições, faça a recapitulação e responda as
seguintes questões:

1 - Indique a matéria sobre que incide o IVA

2 – Fale da periodicidade de pagamento do IVA para os


contribuintes do regime simplificado.

Tópicos de respostas

1- Estão sujeitos ao IVA as transmissões de bens e prestações de


serviços efectuados a título oneroso, havendo também situações de
transmissões gratuitas, conforme o art. 3 al. e) do CIVA, desde que
tenham tido lugar no território de Moçambique e as importações de
bens.

130
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

2- Os sujeitos abrangidos no regime simplificado devem pagar o


imposto trimestralmente nos meses de Abril, Junho, Outubro e Janeiro.
Devem emitir a factura ou documento equivalente que, entretanto não
confere direito à dedução, devendo constar expressamente na menção
(“IVA – não confere direito à dedução).

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo,

MARTINEZ, Soares (2000). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra

NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo

SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução à Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo

Unidade Temática n°10: Outros impostos

1 - Imposto sobre consumos específicos ICE


O código deste imposto foi aprovado pela lei 17/2009 de 10 Setembro.
Tributa o tabaco, as bebidas alcoólicas, veículos automóveis, perfumes
e águas-de-colónia. Preparações capilares e outros a partir do momento
da sua produção e importação. As taxas de tributação estão em anexo
no código.

131
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

2 - Direitos aduaneiros
Incidem sobre mercadorias que estão consignadas na pauta aduaneira
importadas e exportadas no território aduaneiro e foi aprovado pela lei
n° 6/2009 de 10 de Março.

3 - Imposto do selo
Previsto no art. 70 n° 1 al a) e regulado no código aprovado pelo dec. n°
6/2004 de 1 Abril, mas sofrendo alterações por forca do dec. 38/ 2005
de 29 de Agosto.

Nos termos do art. 2 n° 1 do CIS, o imposto do selo incide sobre todos


os documentos, contratos, livros, papéis e actos designados na tabela
respectiva, desde que não tributam no IVA, nomeadamente as acções
de sociedades anónimas, a aquisição de direito de propriedade sobre
imóveis, o arrendamento e subarrendamento, as garantias das
obrigações, os actos notariais, etc. Segundo o art. 4 n° 1 do CIS que os
referidos documentos, contratos, livros, papeis e actos designados na
tabela do imposto do selo ficam sujeitos ao imposto do selo quando
tenham ocorrido em território nacional. Já o n° 2 sujeita ao imposto do
selo determinados actos ocorridos fora do território nacional,
designadamente os documentos, actos ou contratos celebrados fora do
território nacional, quando apresentados em Moçambique para
quaisquer efeitos legais.

4 - Imposto sobre as sucessões e doações


Previsto na al. b) do nº 1 do art. 70 da lei 15/2002 de 26 de Junho. O
respectivo código foi aprovado pela lei 28/2007 de 4 de Dezembro. O
regulamento do código de imposto foi aprovado pelo dec. n° 21/ 2008
de 27 de Junho.

Este imposto incide sobre as sucessões e doações, ou seja, incide sobre


a transmissão por sucessão hereditária e sobre as transmissões

132
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

gratuitas de coisas móveis ou imóveis. Exceptuam-se entretanto as


transmissões a título de pensões e subsídios de morte e as doações de
bens a título de caridade, assistência ou beneficência quando
destinados a fazer face a situação de carência económica e social ou
mesmo situação de calamidade pública.

Os sujeitos passivos são os adquirentes e eles devem paga-lo sempre se


o bem em transmissão se encontrar em Moçambique (art. 5 n 1 al b
CISD). A obrigação de pagar nasce na data da abertura da sucessão
(morte ou declaração da morte presumida) ou no dia da celebração do
negócio no caso de transmissão inter vivosart. 7 do CISD. A taxa é de 2%
no caso de transmissão a favor de descendentes, cônjuges e
ascendentes; de 5% se a transmissão for a favor dos colaterais e 10%
nos restantes casos. Estas taxas são aplicadas sobre o valor ou preço
normal dos bens conforme consta dos arts. 9 a 12 do CISD, deduzidos
os encargos e dívidas enumerados no art. 13.

A liquidação é efectuada pela direcção da área fiscal do transmitente,


com base na participação relativa ao
falecimento do autor da sucessão, na declaração de morte presumida
ou na declaração do acto ou contrato que implique a transmissão
gratuita dos bens a ser apresentado pelo sujeito passivo (arts.7 e 17 do
CISD e art. 9 do respectivo regulamento).

O pagamento deste imposto é efectuado na totalidade até ao fim do


mês seguinte àquele em que terminarem os prazos gerais de
reclamação ou recurso hierárquico ou contencioso da liquidação. (art
32 n 1 do CISD). Fora destes prazos, fica o devedor responsável pelos
juros de mora nos termos do art. 24 do Regulamento do CIRPS. Há a
notar o facto de o imposto de transmissão mortis causa a favor dos
descendentes, ascendentes e adoptados não ser tributável se os bens

133
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

herdados forem inferiores a 500 salários mínimos, deduzidas as dívidas


e encargos da herança. (art. 15 do CISD).

5 - SISA
Previsto na lei 15/ 2002 de 26 de Junho, al c, art 70 e cujo código foi
aprovado pelo dec 46/ 2004 de 27 de Outubro.

Este imposto incide sobre a transmissão a título oneroso do direito de


propriedade sobre prédios urbanos situados no território nacional ou
figuras afins. Inclui-se neste imposto a promessa de aquisição do prédio
logo que se verifica a tradição ou quando o promitente adquirente
esteja a usufruir do prédio; a aquisição de prédios urbanos por troca ou
permuta no caso haja diferença dos valores declarados ou dos valores
patrimoniais’ o arrendamento com cláusula de que o prédio arrendado
passa para a propriedade do arrendatário pago o número de rendas
convencionadas; os contratos de arrendamento com prazo de duração
superior a 20 anos; a entrada no capital social das sociedades comerciais
com prédios urbanos e a transmissão de prédios urbanos por fusão ou
cisão de sociedade.

São prédios urbanos os edifícios incorporados no solo, com os terrenos


que lhe sirvam de logradouro e cada fracção autónoma. (art. 2 de CS e
204 do CC).

São sujeitos passivos as pessoas a quem se transmitem os direitos sobre


prédios urbanos, ocorrendo a obrigação de pagar o imposto desde o
momento da transmissão da propriedade. (art 3 do CS conjugado com
o art. 4 n° 2.

A taxa deste imposto é de 2% e aplica-se sobre o valor declarado da


transmissão ou valor do prédio urbano (art. 10 n° 1 do CS), salvas as
excepções do ar 8, como é o caso da taxa de imposto da locação que é
tirada do valor residual.
134
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

O pagamento deve ser feito no próprio dia da liquidação ou no primeiro


dia útil seguinte e, a liquidação precede o acto da transmissão, nos
termos dos arts15 e 24 do CS. É sujeito a juros a mora do devedor nos
termos do art. 25 do CIRPC.

6 - Imposto Especial Sobre o Jogo


Previsto na al. b) nº 1 do art. 70 d alei 15/ 2002 de 26 de Junho e
regulado nos arts 67 e ss da lei n 8/94 de 14 de Setembro. É um imposto
que incide sobre as receitas brutas provenientes da exploração de jogos
de fortuna ou azar, no território nacional, deduzidos os ganhos ou
pagamentos aos jogadores. São sujeitos passivos os concessionários
desses jogos.

7 - Imposto de reconstrução nacional IRN


Regulamentado através do dec. 4/87 de 30 de Janeiro e representa a
contribuição mínima da cada cidadão para gastos públicos e incide
sobre todas as pessoas residentes no território nacional, verificadas as
circunstâncias de idade, ocupação e aptidão para trabalhar constantes
do respectivo regulamento.

8 - Imposto sobre veículos


Previsto no art. 70 n° 2 al f) da lei 15/2002 de 26 de Junho,
regulamentado através do dec. n° 19/ 2002 de 30 de Julho. Incide sobre
o uso e fruição de automóveis ligeiros e pesados de antiguidade menor
ou igual a vinte e cinco anos, motociclos de passageiros com ou sem
carro de antiguidade igual ou menor a quinze anos, aeronaves e barcos
de recreio com motor de uso particular, matriculados ou registados nos
serviços competentes no nosso país ou, no caso de não haver registo,
passados cento e oitenta dias a contar da sua entrada no território
nacional, venham a circular ou a ser usados em condições normais da
sua utilização.

135
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

9 - Imposto sobre a Produção Mineira


Criado pela lei n 11/2007 de 27 de Junho. Incide sobre o valor da
quantidade do produto mineiro extraído da terra, em resultado da
actividade mineira exercida no território nacional ao abrigo ou não do
título mineiro, independentemente da venda, exportação ou outra
forma de disposição do produto. São devedores deste imposto as
pessoas que extraem produtos mineiros, tendo ou não título mineiro. A
sua taxa varia de 3 a 10%, dependendo do tipo de produto mineiro
extraído, sendo aplicável sobre a quantidade deste. O imposto é
liquidado mensalmente pelo próprio sujeito passivo.

10 - Imposto sobre a superfície


Instituído pela lei n 11/2007 de 27 de Junho. Incide sobre a área sujeita
a licença de reconhecimento, de prospecção e pesquisa, concessão
mineira ou certificado mineiro. No caso de água mineral incide sobre
cada título mineiro. São sujeitos passivos deste imposto os titulares de
licença de reconhecimento, prospecção e pesquisa e ainda os titulares
da concessão mineira ou certificado mineiro. As taxas variam de acordo
com a área abrangida, mas no caso de água a taxa é de 70 000 Mt. O
imposto é anual.

11 - Imposto Específico da actividade petrolífera


Este imposto54 incide sobre o petróleo produzindo em Moçambique e é
devido pelos titulares do direito de exercício de operações petrolíferas.
A obrigação nasce no momento da extracção do petróleo do jazigo. A
taxa é de 10% para o petróleo bruto e 6% para o gás natural.

12 - Imposto pessoal Autárquico


Este imposto incide sobre as residentes de uma autarquia,
independentemente de ser nacionais ou estrangeiros, quando tenham

54
Criado pela lei 11/2007 de 27 de Junho
136
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

idade entre 18-60 anos. Este imposto é determinada mediante a


aplicação da taxa que varia de 1-4% sobre o salário mínimo nacional
mais elevado em vigor, de acordo com a classificação da autarquia local.

13 - Imposto predial autárquico


Incide sobre o valor patrimonial dos prédios que consta das matrizes
prediais e, na falta, do valor declarado pelo proprietário. A taxa é devida
pelos titulares do imóvel e é de 0,4% para os prédios habitacionais e
0,7% para prédios destinados à actividade de natureza comercial,
industrial ou para exercício de actividades profissionais independentes.

14 - Imposto autárquico da Sisa


Substitui nas autarquias locais a Sisa e incide sobre a transmissão, a
título oneroso, do direito de propriedade de imóveis localizados nas
autarquias locais. É devido pelas pessoas singulares ou colectivas a
quem se transmitem os direitos de propriedade. A taxa do imposto é de
2% do valor patrimonial.

15 - Imposto autárquico de veículos


Substitui o imposto sobre veículos. São sujeitos passivos os proprietários
dos veículos residentes ou com sede nas autarquias locais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e
responda as seguintes questões:

1–Fale da Incidência objectiva do Imposto sobre as sucessões e


doações.

2–Fale da incidência subjectiva, objectiva e da taxa do Imposto Sobre a


Produção Mineira.

Tópicos das respostas:

1– Focalizar que o Imposto sobre as doações e sucessões incide sobre a


transmissão de bens por via da sucessão hereditária e sobre as
137
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

transmissões gratuitas de coisas móveis ou imóveis. Exceptuam-se


entretanto as transmissões a título de pensões e subsídios de morte e
as doações de bens a título de caridade, assistência ou beneficência
quando destinados a fazer face a situação de carência económica e
social ou mesmo situação de calamidade pública.

2- São devedores do Imposto Sobre a Produção mineira as pessoas que


extraem produtos mineiros, tendo ou não título mineiro. A sua taxa
varia de 3 a 10%, dependendo do tipo de produto mineiro extraído,
sendo aplicável sobre a quantidade deste. O imposto é liquidado
mensalmente pelo próprio sujeito passivo.

NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim,


sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja
os manuais indicados e consulte o tutor.

Bibliografia Recomendada

• IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora, Maputo,


• MARTINEZ, Soares (2000). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra
• NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra
• PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano, Escolar
Editora, Maputo
• SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed. Coimbra
editora, Coimbra
• FERREIRA, Rogério de Fernandes (1990) - Lições de Fiscalidade, Ed. Autor;

Leituras aconselhadas:

IBRAHIMO, Ibrahimo (2002). O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora,


Maputo,

MARTINEZ, Soares (2000). Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra

NABAIS, José Casalta (2009). Direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra

PENE, Cláudio (2013). Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano,


Escolar Editora, Maputo
138
ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano
Disciplina/Módulo: Fiscalidade

SALDANHA SANCHES, J. L (2007). Manual de Direito Fiscal, 3ª ed.


Coimbra editora, Coimbra

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao direito fiscal, W &W


editora, Maputo

WATY, Teodoro Andrade (2000). Introdução à Finanças Públicas e


Direito Financeiro, W & W editora, Maputo

139

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