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Revista de Direito Civil Contemporâneo | vol. 16/2018 | p. 263 - 292 | Jul - Set / 2018
DTR\2018\19398
___________________________________________________________________________
Welder Queiroz dos Santos
Doutor, Mestre e Especialista em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). Especialista em Direito Empresarial pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Professor nos cursos de graduação, especialização e mestrado
da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Secretário-Geral
Adjunto do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) e Membro do Centro de
Estudos Avançados de Processo (CEAPRO). Advogado em Mato Grosso.
welderqs@uol.com.br
Abstract: The purpose of this study is to analyze the responsibility of associated before
the association and the legal consequences in case of extinction of association, fusion
between associations and incorporation of an association by another.
Sumário:
Ementa - 1.Consulta - 2.Entidades representativas dos Defensores Públicos do Estado de
Mato Grosso - 3.Defensoria Pública - 4.Análise - 5.Conclusões - Referências
Ementa
Associação e sindicato são associações, espécies de pessoa jurídica de direito privado sem
fins lucrativos. O sindicato tem a peculiaridade de ser uma associação constituída com a
finalidade de defesa dos interesses de pessoas que exerçam atividades econômicas,
profissionais ou públicas.
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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1.Consulta
Com a consulta, foi disponibilizada para análise: (i) a cópia da Ata de Criação da AMDEP;
(ii) o Estatuto Social da AMDEP; (iii) o Estatuto Social do SINDEP-MT; e (iv) a Lei
Complementar Estadual do Estado de Mato Grosso 146, de 20 de dezembro de 2003, a
Lei Orgânica da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso.
A AMDEP foi criada no dia 3 de julho de 1999, por iniciativa de 23 Defensores Públicos,
nos termos de sua ata de criação e do art. 1º de seu Estatuto Social. A inscrição de seu
ato constitutivo no respectivo 1º Serviço Notarial e Registral de Pessoas Jurídicas de
Cuiabá, termo legal de existência das pessoas jurídicas de direito privado, foi formalizada,
ao que nos consta, em 1º de fevereiro de 2000.1
Trata-se de uma associação, ou seja, uma espécie de pessoa jurídica de direito privado,
constituída pela união de pessoas que se organizam sem finalidade lucrativa.
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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Os fins sociais da AMDEP foram estabelecidos no art. 2º de seu Estatuto, nos termos:
Portanto, a AMDEP pode ser sintetizada como uma associação que possui a missão
institucional de defesa dos interesses dos Defensores Públicos do Estado de Mato Grosso
associados e da própria Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso.
O SINDEP-MT foi criado no dia 05 de setembro de 2009 e, nos termos do art. 1º de seu
Estatuto Social, trata-se de uma organização sindical representativa da categoria
profissional dos Defensores Públicos e Procuradores da Defensoria Pública do Estado de
Mato Grosso.
I – representar e promover, por todos os meios, a defesa das garantias, das prerrogativas,
dos direitos e dos interesses individuais ou coletivos da categoria, em juízo ou fora dele;
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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III – representar a categoria nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses
profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão ou deliberação, nos termos do
artigo 10, da Constituição da República; [...].
Assim, o SINDEP-MT pode ser caracterizado como uma organização sindical – uma espécie
de associação – constituída com a finalidade de representar os Defensores Públicos do
Estado de Mato Grosso e de defender seus interesses.
3.Defensoria Pública
A redação originária do art. 134, estabelecida pelo Constituinte originário, previa como
função institucional a orientação e a defesa, integral e gratuita, das pessoas insuficientes
de recursos, nos termos:
Com o passar do tempo, a Defensoria Pública, como função essencial à Justiça, passou a
ter uma importância cada vez maior à sociedade, de modo que a Constituição foi alterada
pelo Constituinte derivado, via Emenda Constitucional 80, de 04 de junho de 2014
(LGL\2014\4721), para ampliar a sua missão constitucional, passando o art. 134 a ter a
seguinte redação:
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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(...) além de atuar na esfera processual civil, o membro da Defensoria Pública também
atua no processo penal, bem como em atividades extraprocessuais” e que “cabe à
Defensoria Pública, no processo civil: a) atuar na defesa dos hipossuficientes nos
processos em que estes sejam parte; e b) promover ou, mais amplamente, atuar em
processos de jurisdição coletiva quando o grupo, classe ou categoria de pessoas seja
integrado total ou parcialmente por pessoas hipossuficientes.4
Percebe-se, assim, que a Defensoria Pública possui hoje a função institucional não só de
orientação em atividades extraprocessuais e de defesa em processos judiciais, civis e
penais, de forma integral e gratuita, dos necessitados; mas também a promoção dos
direitos humanos; e a defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos das
pessoas com hipossuficiência de recursos.
Art. 134.
[...]
Por sua vez, a autonomia administrativa permite à Defensoria Pública organizar sua
estrutura, realizar concurso público, nomear e dar posse aos aprovados para ingressar na
carreira e outras providências estruturais, nos limites da legalidade, de forma desvinculada
de qualquer Secretaria de Estado.
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Por fim, impende ressaltar que, nos termos traçados pela Constituição de 1988, a função
exercida pela Defensoria Pública – assim como a exercida pelo Ministério Público e pela
Advocacia – deve ser entendida como forma de exercício do próprio poder político, ao lado
dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.7
Art. 45. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta dos membros da
Assembleia Legislativa e receberão numeração distinta das leis ordinárias.
Parágrafo único. Serão regulados por lei complementar, entre outros casos previstos nesta
Constituição:
[...]
A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso foi instalada a partir do Decreto 2.262, de
13 de maio de 1998, assinado pelo Governador Dante Martins de Oliveira, e começou a
funcionar em fevereiro de 1999, com 24 Defensores Públicos.
A sua Lei Orgânica foi aprovada pela Assembleia Legislativa somente em 20 de dezembro
de 2003, sendo a Lei Complementar Estadual 146, que regula a organização da Defensoria
Pública do Estado de Mato Grosso, as atribuições e funcionamento dos seus órgãos e
dispõe sobre a carreira de seus membros.
4.Análise
4.1.Associação e Sindicato
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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personalidade jurídica, considerada como a aptidão para adquirir direitos e para contrair
obrigações na ordem civil, à pessoa jurídica.
A pessoa jurídica é, conforme lição de Rubens Limongi França, “a união moral de pessoas
reunidas com o objetivo de alcançar um fim comum e reconhecida pelo ordenamento como
sujeito de direito”.8
Nas associações, os integrantes não visam à partilha de lucro, mas sim a realizar objetivos
de natureza cultural, recreativa, esportiva, filantrópica, política, entre outros. Dentro
desse espírito, vem a definição do Código Civil (LGL\2002\400), ao dispor que as
associações são constituídas pela união de pessoas que se organizam para fins não
econômicos, não havendo, inclusive, entre os associados direitos e obrigações recíprocos
(artigo 53). Isso não quer dizer, pois, que a pessoa jurídica não possa auferir rendimentos
no desempenho de suas atividades, como aqueles advindos da prestação de serviços
remunerados. O que não se admite é que esse ganho venha a remunerar o seu quadro
social, devendo ser aplicado, exclusivamente, no desenvolvimento da própria atividade,
ou seja, nos fins da própria entidade.11
Neste sentido, Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes,
Professores titulares de Direito Civil da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
esclarecem que:
(...) embora o art. 53 defina as associações como entidades voltadas para “fins não
econômicos”, a expressão não pode ser interpretada de forma literal. Evidentemente, ao
se unirem para determinado fim, os associados visam extrair desta união algum tipo de
vantagem, que, não raro, resulta de atividade ou serviço prestado pela associação,
havendo aí, por definição, natureza econômica. O que não há nas associações é a
finalidade lucrativa, ou seja, o objetivo primordial de produzir lucros e reparti-los entre os
associados. Essa persecução do lucro e sua partilha são traços que caracterizam as
sociedades, e que servem justamente a diferenciá-las das associações, na concepção mais
moderna.12
Sendo assim, a associação pode ser entendida como uma espécie de pessoa jurídica de
direito privado constituída pela união de pessoas que se organizam sem finalidade de
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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Por sua vez, o art. 511 da Consolidação das Leis do Trabalho não define o que vem a ser
sindicato, mas esclarece a possibilidade de “associação em sindicato”, in verbis:
Art. 511. É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus
interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores,
empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais exerçam,
respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou
conexas.
De acordo com Sérgio Pinto Martins, “sindicato é, assim, a associação de pessoas físicas
ou jurídicas que têm atividades econômicas ou profissionais, visando à defesa dos
interesses coletivos e individuais de seus membros ou da categoria”.13
Em complemento, José Claudio Monteiro de Brito Filho, Doutor em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e Professor da Universidade Federal do Pará, leciona
que um sindicato tem como principais objetivos “a coordenação e a defesa dos interesses
do grupo representado pelo sindicato” e por finalidade “coordenar e defender interesses
das pessoas, criando-se, pela união e concentração de esforços, uma entidade que possa
atuar sobre interesses comuns”.14
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
[...]
Trata-se de uma inovação da Constituição de 1988, como bem observa José Claudio
Monteiro de Brito Filho:
Percebe-se, deste modo, que o sindicato, no Brasil, também possui natureza jurídica de
associação, entendida como uma espécie de pessoa jurídica de direito privado constituída
pela união de pessoas que exercem atividades econômicas (empregadores), profissionais
(empregados ou profissionais liberais) ou públicas (servidores públicos civis) e que se
organizam sem finalidade lucrativa visando à defesa dos interesses de seus membros ou
da categoria.
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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Foi anotado no tópico anterior que a característica da pessoa jurídica, talvez a sua
principal, é ser dotada de personalidade jurídica, com aptidão própria para adquirir direitos
e contrair obrigações na ordem civil, independente e diferentemente da personalidade
jurídica de seus membros.
Como leciona Paulo Lôbo, em artigo específico sobre o direito dos associados:
Nenhum associado responde pelas dívidas contraídas pela associação, ainda que seja
titular de quota ou fração ideal do patrimônio da entidade. Nenhum associado pode
responder pessoalmente por qualquer obrigação negocial ou extranegocial (danos) da
associação. A natureza da associação é incompatível com a responsabilidade solidária ou
subsidiária do associado, por suas finalidades altruísticas e não econômicas.16
Para responder à Consulta que nos foi formulada a respeito da entidade mais adequada
para a representatividade unificada dos Defensores Públicos do Estado de Mato Grosso, é
importante afirmar que esse exame é complexo e depende da fixação de determinadas
premissas para, a partir delas, extrair uma conclusão.
Em nosso sentir, três fatores devem ser conjuntamente examinados: (i) o tempo de
existência da entidade, (ii) a quantidade de associados e (iii) a representatividade da
entidade em níveis estadual e federal.
Quanto ao tempo de existência, a AMDEP foi criada no dia 3 de julho de 1999 e a inscrição
de seu ato constitutivo no respectivo 1º Serviço Notarial e Registral de Pessoas Jurídicas
de Cuiabá ocorreu em 1º de fevereiro de 2000. Já o SINDEP-MT foi constituído em 5 de
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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setembro de 2009.
Pontuo, por fim, que a AMDEP, entidade mais antiga e com maior número de associados,
sempre foi filiada à ANADEP, sendo a legítima representante das defensoras e defensores
públicos do Mato Grosso junto a esta entidade nacional, honrando sua contribuição
associativa e participando ativamente da definição e da execução das principais
estratégias em prol dos defensores públicos e da Defensoria Pública.
Assim, com base nos três critérios fixados e nos documentos que nos foram apresentados,
é possível concluir que a AMDEP possui maior tempo de existência, maior quantidade de
associados e maior representatividade em âmbito estadual e nacional em comparação com
o SINDEP-MT, razão pela qual nos parece ser, neste momento, a mais adequada à
representatividade unificada dos Defensores Públicos do Estado de Mato Grosso no caso
de unificação.
Outro questionamento que nos foi formulado diz respeito às consequências jurídicas
decorrentes da extinção da AMDEP.
O art. 2.034 prevê que a dissolução e a liquidação das pessoas jurídicas referidas no art.
44, entre elas, as associações, serão regidas pelo Código Civil de 2002 quando iniciadas
em sua vigência. Já as iniciadas antes, obedecerão ao disposto nas leis anteriores, que,
no caso, remeter-se-ia à Lei 6.404/1976 (LGL\1976\12), a Lei das Sociedades Anônimas.
Art. 2.033. Salvo o disposto em lei especial, as modificações dos atos constitutivos das
pessoas jurídicas referidas no art. 44, bem como a sua transformação, incorporação, cisão
ou fusão, regem-se desde logo por este Código.
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jurídicas no caso de dissolução total de uma associação, porém não regulamenta as formas
que pode ser dissolvida.
4.3.1.Dissolução
Especificamente quanto à associação, o art. 5º, inciso XIX, como forma de assegurar a
liberdade de associação22, assevera que “as associações só poderão ser compulsoriamente
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro
caso, o trânsito em julgado”.
Sobre a dissolução de uma associação, Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barboza e Maria
Celina Bodin de Moraes lecionam:
Em nosso modo de ver, a dissolução de uma associação pode ocorrer em cinco hipóteses:
(i) com o término do prazo de duração, nas associações constituídas por um prazo
determinado; (ii) por vontade dos associados, em deliberação assemblear; (iii) por
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inexequibilidade do objeto social; (iv) por decisão judicial, em processo contencioso, por
exemplo, com fundamento na fraude em sua constituição ou em impossibilidade de sua
sobrevivência; (v) por falecimento de todos os seus associados, na hipótese de
inexistência de previsão de transmissibilidade sucessória da qualidade de associado.
A respeito do órgão competente para aprovar a dissolução, o art. 59, inciso I, do Código
Civil (LGL\2002\400) estabelece que “Compete privativamente à assembleia geral: [...] II
– alterar o estatuto”.
No caso submetido à Consulta, o art. 20, inciso IX, do estatuto social da AMDEP prevê que
compete à diretoria propor e à assembleia geral extraordinária deliberar sobre a sua
dissolução, nos termos:
Como observa Uinie Caminha, Doutora em Direito pela Universidade de São Paulo e
Professora da Universidade Federal do Ceará:
Assim, por ter o voto nas assembleias das associações a mesma natureza do voto nas
assembleias de sociedades, entende-se que as regras relativas ao seu exercício referentes
às sociedades devam, assim, ser aplicadas às associações, com o mesmo intuito: formação
adequada da vontade social, coibindo abusos e conflito de interesse, e levando em conta
os interesses do ente coletivo.24
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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Com efeito, de acordo com o art. 1.033, Código Civil (LGL\2002\400), que rege as
sociedades simples, é suficiente a maioria absoluta dos votos, nos termos:
[...]
A deliberação de dissolver a sociedade ou associação tem de ser por maioria absoluta (arg.
ao art. 1.394) dos votantes, excluídos, pois, os que se ausentaram e os que votaram em
branco; salvo se o ato constitutivo dispõe diferentemente, inclusive exigindo duas ou mais
assembleias.25
Por outro lado, os arts. 1.071, IV, e 1.076, I, do Código Civil (LGL\2002\400) exigem os
votos de pelo menos três quartos do capital social para a dissolução de sociedade limitada,
in verbis:
Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei
ou no contrato:
[...]
I – pelos votos correspondentes, no mínimo, a três quartos do capital social, nos casos
previstos nos incisos V e VI do art. 1.071;
[...]
Em que pese o posicionamento contrário, em nosso modo de ver, estes dispositivos não
são aplicáveis para as associações, devendo ser aplicadas as regras previstas para as
sociedades simples.
Assim, havendo deliberação favorável pela maioria absoluta dos associados pela
dissolução – ou seja, 50% (cinquenta por cento) dos votos mais um – tem-se por iniciado
o procedimento para a extinção da AMDEP.
Por fim, importante observar, ainda, que a dissolução não põe fim a personalidade jurídica,
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Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu
funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua.
4.3.2.Liquidação
Como ensina Fábio Ulhoa Coelho, renomado Professor de Direito Comercial da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, “os objetivos da liquidação são, de um lado, a
realização do ativo e, de outro, a satisfação do passivo. A realização do ativo compreende,
em princípio, a venda dos bens (...) e a cobrança dos seus devedores. A satisfação do
passivo é o pagamento dos credores”.26
Deste modo, caso a Assembleia aprove a dissolução, a AMDEP deverá terminar os assuntos
envolvendo-a, alienar seus eventuais bens e quitar suas dívidas, como eventuais verbas
rescisórias trabalhistas e eventual multa rescisória de contrato de locação etc.
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso
este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins
idênticos ou semelhantes.
§ 1º Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem
estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição,
atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da
associação.
O patrimônio remanescente de uma associação deve ser destinado à entidade sem fins
lucrativos prevista no estatuto ou, em caso de omissão, à instituição municipal, estadual
ou federal de fins idênticos ou semelhantes, por deliberação dos associados. Inexistindo
entidade com esta característica, o remanescente será destinado à Fazenda do Estado, do
Distrito Federal ou da União.
Esta novidade não passou despercebida por Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barboza e
Maria Celina Bodin de Moraes, que esclarecem:
As quotas ou frações ideais dos associados poderão ser deduzidas para se apurar o
remanescente do patrimônio líquido da associação, ou seja, os membros, antes de dar a
destinação fixada para o acervo remanescente, poderão se ressarcir das contribuições que
tiverem efetuado ao patrimônio da entidade dissolvida. 29
Especificamente no caso da AMDEP, o art. 57 de seu Estatuto Social prevê que o seu
patrimônio restante será destinado a casas filantrópicas ou de assistência social, nos
termos:
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Feito isso, é que a associação porá fim a sua personalidade jurídica, com o cancelamento
de sua inscrição como pessoa jurídica no Cartório de registro competente.
Até a entrada em vigor do Código Civil de 2002, as alterações na estrutura eram reguladas
somente pela Lei das Sociedades Anônimas, a Lei 6.404/1976 (LGL\1976\12), e as
previsões lá existentes eram aplicadas a todas as pessoas jurídicas de direito privado.30
A esse respeito, o art. 2.033 do Código Civil (LGL\2002\400) esclarece que se aplicam as
regras estabelecidas no Código Civil (LGL\2002\400):
“Art. 2.033. Salvo o disposto em lei especial, as modificações dos atos constitutivos das
pessoas jurídicas referidas no art. 44, bem como a sua transformação, incorporação, cisão
ou fusão, regem-se desde logo por este Código”.
Como afirma Nelson Rosenvald, Doutor em Direito Civil pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo e Pós-doutor em Direito Civil pela Università degli Studi Roma Tre
– Itália, ao comentar o dispositivo acima:
Quanto à cisão, como o Código Civil (LGL\2002\400) limitou-se a tão somente tratar dos
direitos dos credores, de modo que o regramento jurídico dos demais pontos continua
submetido às normas da Lei das Sociedades Anônimas.32
Feitas essas observações, para a presente Consulta importa analisar duas formas de
modificação na estrutura de uma associação: a fusão e a incorporação.
Art. 1.119. A fusão determina a extinção das sociedades que se unem, para formar
sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações.
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Especificamente no caso da AMDEP, o art. 57 de seu Estatuto Social prevê que o seu
patrimônio restante será destinado a casas filantrópicas ou de assistência social, nos
termos:
Artigo 42. O SINDEP-MT poderá ser dissolvido por decisão de sua Assembléia Geral,
convocada para essa finalidade, que destinará o patrimônio a uma entidade similar ou
filantrópica.
Como não há previsão das entidades beneficiadas nos Estatutos da AMDEP e do SINDEP-
MT, os associados e os sindicalizados deverão deliberar tal destinação em assembleia.
Isto porque, o caput do art. 61 do Código Civil (LGL\2002\400) estabelece que “Dissolvida
a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido (...) será destinado à entidade de
fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos
associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes”.
No entanto, por se tratar de fusão, ato no qual unificam-se duas pessoas jurídicas
preexistentes em uma nova, pensamos ser possível que o patrimônio remanescente das
duas associações seja destinado à esta nova associação.
O art. 61 do Código Civil deve ser interpretado teleologicamente para que se alcance a
sua finalidade ou o seu propósito,35 que é a destinação do patrimônio remanescente em
caso de extinção total e definitiva da associação.
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No direito societário, a fusão tem como consequência a dissolução das sociedades, sem a
necessidade de liquidação, uma vez que o patrimônio, os direitos e as obrigações serão
transferidos para a nova sociedade, que surgirá com a unificação das sociedades
preexistentes, em sucessão universal de direitos e obrigações.
Sérgio Botrel, Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em
obra específica sobre fusões e aquisições societárias, ensina que:
Em nosso sentir, o mesmo raciocínio deve ser aplicado para os casos de fusão de
associações: a totalidade dos patrimônios líquidos das associações deve ser vertida para
a nova associação, criada em decorrência da fusão.
Como esclarece Anna Luiza Duarte Maiello, “A fusão e a incorporação não são tidas como
causas de extinção da associação, pois o que ocorre nesses casos é uma unificação ou
uma integração recíproca dos contratos preexistentes, e não um novo instrumento”.37
Para a análise patrimonial do sindicato e associação, deverão ser nomeados peritos para
realizarem os estudos:
Art. 1.120. A fusão será decidida, na forma estabelecida para os respectivos tipos, pelas
sociedades que pretendam unir-se.
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Art. 1.116. Na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que lhes
sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida
para os respectivos tipos.
Após a apresentação dos laudos pelos peritos, a AMDEP deverá realizar assembleia de
associados para tomarem conhecimento deles e decidirem a respeito da continuidade das
tratativas para a incorporação, com a proposta de alteração de seu estatuto social.
O SINDEP-MT, por sua vez, também deverá realizar deliberação entre os sindicalizados
para aprovar a incorporação42, os termos de sua concretização e as bases de operação
aprovadas pela incorporadora e autorizar seus administradores a praticarem os atos
necessários à sua realização.
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Art. 1.117. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá aprovar as bases da
operação e o projeto de reforma do ato constitutivo.
5.Conclusões
Por fim, no caso de a AMDEP incorporar o SINDEP-MT, este deixará de existir e aquela o
sucederá em todos os direitos e obrigações.
É o Parecer, s.m.j.
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ROSENVALD, Nelson. Comentários ao art. 2.033. In: PELUSO, Cezar (Coord.). Código Civil
comentado. 5. ed. Barueri: Manole, 2011.
SANTOS, Elisabete Teixeira Vido dos. Curso de direito empresarial. 2. ed. São Paulo: Ed.
RT, 2013.
SCARPINELLA BUENO, Cassio. Curso sistematizado de direito processual civil. 7. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013. v. 1.
TEPEDINO, Gustavo; BARBOZA, Heloisa Helena; BODIN DE MORAES, Maria Celina. Código
Civil interpretado conforme a Constituição da República. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2014. v. I.
1 Segundo Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes,
“(...) é possível concluir que a criação da pessoa jurídica de direito privado se dá em
duas fases distintas: a elaboração do ato constitutivo e a inscrição deste no registro
público adequado”. (TEPEDINO, Gustavo; BARBOZA, Heloisa Helena; BODIN DE
MORAES, Maria Celina. Código Civil interpretado conforme a Constituição da República.
3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014. v. I, p. 122).
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
(parecer)
2013. p. 1554).
3 CRFB/1988, Art. 5º. LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
aos que comprovarem insuficiência de recursos; [...].
8 FRANÇA, Rubens Limongi. Instituições de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1996.
p. 65.
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
(parecer)
10 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2003. p. 5.
11 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo Código Civil. Rio de Janeiro:
Renovar, 2009. p. 35-36.
13 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 680.
14 BRITO FILHO, José Claudio Monteiro de. Direito sindical. São Paulo: LTr, 2000. p.
117.
15 BRITO FILHO, José Claudio Monteiro de. Comentários ao art. 37, VI. In: CANOTILHO,
J. J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz
(Coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 839.
16 LÔBO, Paulo. Direito dos associados. In: FRAZÃO, Ana; GONÇALVES, Oksandro;
CAMINHA, Uinie. (Org.). Associações: constituição, fundamentos e perspectivas. Rio de
Janeiro: Processo, 2017. p. 269.
17 Sobre o tema, Nagib Slaib Filho leciona que: “Eventualmente, pode a associação o
inserir no estatuto, submetido ao registro público, fins declarados que, na verdade,
dissimulam ou escamoteiam a real finalidade institucional. Tal dissimulação pode
conduzir a sérias consequências jurídicas inclusive, e, principalmente, à
responsabilização pessoal dos associados, através, por exemplo, da desconsideração da
pessoa jurídica referida no art. 50 Código Civil. A ética exige a licitude dos fins da
associação, tanto os que declaram ao se constituir, como os que regem a sua atividade a
cada momento; o objetivo institucional ou o fim visado pelos associados ao unirem os
seus esforços é o verdadeiro espírito do grupo social e, no Direito, é o fundamento de
toda a análise da associação” (SLAIBI FILHO, Nagib. Da associação no novo Código Civil.
Revista da EMERJ, v. 7, n. 27, p. 42, 2004).
19 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 5. ed. São Paulo: LTr,
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
(parecer)
2008. p. 272-278.
21 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
v. 2, p. 464-466. Neste sentido, Anna Luiza Duarte Maiello pontua: “A extinção da
pessoa coletiva é o término da relação jurídica criada pelo ato de constituição, ao passo
que a dissolução é tão somente uma alteração ou modificação dessa relação jurídica,
preparatória à fase de liquidação e não necessariamente à extinção. As fases do
processo de extinção são: dissolução, liquidação e extinção stricto sensu”. (MAIELLO,
Anna Luiza Duarte. Aspectos fundamentais do negócio jurídico associativo. Tese de
Doutorado (Direito): Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2012. p. 197).
26 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
v. 2, p. 472.
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
(parecer)
30 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo Código Civil. Rio de Janeiro:
Renovar, 2009. p. 305.
31 ROSENVALD, Nelson. Comentários ao art. 2.033. In: PELUSO, Cezar (Coord.). Código
Civil comentado. 5. ed. Barueri: Manole, 2011. p. 2396.
32 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo Código Civil. Rio de Janeiro:
Renovar, 2009. p. 305.
34 SANTOS, Elisabete Teixeira Vido dos. Curso de direito empresarial. 2. ed. São Paulo:
Ed. RT, 2013. p. 245.
36 BOTREL, Sérgio. Fusões & aquisições. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 113.
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
(parecer)
39 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo Código Civil. 10. ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2009. p. 308; SANTOS, Elisabete Teixeira Vido dos. Curso de direito
empresarial. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p. 243.
41 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
v. 2, p. 472.
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Associação: responsabilidade, extinção, fusão e incorporação
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