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2. USOS FINAIS DE ENERGIA ELÉTRICA

São muitas as possibilidades de utilização da energia elétrica. Em geral, estão


presentes em praticamente todas as atividades humanas, sejam no trabalho, no
lazer, na comunicação, etc. A divisão do presente capítulo em quatro principais usos
finais de energia não intenciona que tal divisão seja a mais geral ou a mais correta
existente; busca apenas pela divisão dos usos finais por princípio de funcionamento,
englobando equipamentos amplamente verificados nos setores industrial, comercial
e público, focos principais do presente texto. O último item, mais geral, referente aos
demais usos finais de energia, busca, se não detalhar todos os muitos usos finais,
ao menos citá-los, para que sejam consultados em textos mais aprofundados, de
acordo com a conveniência de cada leitor.

2.1. Iluminação
Para se estudar de forma mais detalhada os sistemas de iluminação, faz-se
necessário conhecer alguns conceitos básicos, as definições de algumas variáveis e
os equipamentos utilizados na conversão de energia elétrica em energia luminosa,
conforme apresentado nos itens a seguir. Ao final, são também apresentados
potenciais de economia em sistemas de iluminação que, em conjunto com um
projeto luminotécnico adequado (tema abordado no Capítulo 4), contribuem para a
eficientização deste uso final.

2.1.1. Definições
- Luz: é a radiação eletromagnética capaz de produzir sensações visuais. A luz
visível ao olho humano situa-se entre os comprimentos de onda de 380 e 780 nm,
respectivamente os limites das radiações ultravioleta e infravermelha.
- Fluxo luminoso (): é a radiação total, ou quantidade de luz total, emitida
pela fonte luminosa, sensível ao olho humano (situada entre os comprimentos de
onda de 380 e 780 nm). Sua unidade é o lúmen (lm).
- Eficiência luminosa: é a relação entre o fluxo luminoso e a potência da
fonte, dada em lm/W.
- Intensidade luminosa (I): é o fluxo luminoso irradiado em uma determinada
direção. Sua unidade é o candela (cd), e é a grandeza básica de iluminação no SI.
- Iluminância (E): indica a relação entre o fluxo luminoso de uma fonte de luz
incidente em uma superfície, e a própria superfície. Na prática, a iluminância é a
grandeza medida para se caracterizar uma superfície, normalmente o plano de
trabalho, como bem ou mal iluminada. A iluminância é também chamada de
iluminamento, e sua unidade é o lux (lx). Um lux é o iluminamento de uma superfície
de 1 m2, localizada a 1 m de distância da fonte, puntiforme, na direção normal e
emitindo um fluxo luminoso de 1 lúmen uniformemente distribuído.

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- Plano de trabalho: Região onde, para qualquer superfície nela situada, são
exigidas condições adequadas ao trabalho visual a ser realizado.
- Luminância (L): é a sensação de claridade que emana de uma superfície ao
ser atingida por raios de luz. Sua unidade é cd/m 2.
- Temperatura de cor (T): de forma simplificada, é um critério utilizado para
classificar a aparência de cor de uma luz. Sua unidade é o kelvin (K). Quanto maior
for a temperatura de cor de uma fonte, mais fria é a luz e mais claro é o branco. A
luz amarelada, típica de lâmpadas incandescentes, apresenta baixa temperatura de
cor, da ordem de 2.700 K. Abaixo de 3.300 K as cores podem ser classificadas como
quentes; entre 3.300 e 5.300 K, como intermediárias; e acima de 5.300 K como frias.
Luzes com temperaturas de cor mais baixas (cores quentes) são utilizadas para a
criação de ambientes aconchegantes. Aquelas com temperaturas de cor mais altas
são apropriadas para ambientes claros, limpos. É importante ressaltar que as
temperaturas de cor não influenciam na eficiência luminosa da fonte.
- Índice de reprodução de cores (Ra): qualifica a variação de cor de objetos
iluminados por diferentes fontes. O índice Ra é uma escala qualitativa, variando de 1
a 100, que classifica o desempenho das fontes de luz em relação ao padrão ideal,
obtido por um corpo metálico sólido, aquecido até irradiar luz (Ra = 100). Em outras
palavras, quanto maior for a diferença de cor de um objeto iluminado, em relação ao
padrão, menor será o seu Ra.

2.1.2. Equipamentos para Iluminação Artificial


Em projetos de eficiência energética, é sempre dada preferência à utilização da
iluminação natural em ambientes onde isto seja possível. Em projetos ainda em fase
de concepção, é altamente recomendado o emprego de padrões arquitetônicos que
garantam o aproveitamento ótimo da iluminação natural. Em sistemas já instalados,
muitas vezes é difícil a proposta por qualquer alteração que vise o aproveitamento
da iluminação natural sem, com isso, acarretar em outros prejuízos, principalmente
os relacionados ao aumento da carga térmica do ambiente.
Onde o aproveitamento da iluminação natural não é possível, o potencial de
eficientização energética concentra-se na elaboração de projetos luminotécnicos
criteriosos e na utilização de equipamentos mais eficientes possíveis. A
eficientização deste uso final é considerada de alta rentabilidade, devido à existência
de equipamentos no mercado com elevadas eficiências.
2.1.2.1 - Lâmpadas
As lâmpadas são os principais componentes de um sistema de iluminação. Em
projetos de eficiência energética tal afirmação se torna ainda mais crítica, uma vez
que as lâmpadas apresentam vida útil inferior a dos demais equipamentos que
compõem o sistema, além de seu desempenho ser afetado por diversos fatores. A
principal característica a ser analisada nas lâmpadas é sua eficiência luminosa.
Quanto maior ela for, menos potência instalada será necessária para garantir o nível
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de iluminamento requerido. Porém, é necessário atentar para outras questões, como


a vida útil das lâmpadas, que irão influenciar nos cálculos de viabilidade econômica,
e o Ra, em casos onde a atividade exija bons índices de reprodução de cores.
As lâmpadas podem ser classificadas em incandescentes ou de descarga.
As incandescentes produzem luz devido ao aquecimento provocado por efeito
Joule de um filamento (usualmente de tungstênio) imerso em um gás nobre
(geralmente o criptônio). A altíssima temperatura atingida pelo filamento ocasiona a
emissão de uma radiação que se encontra dentro do espectro visível. Grande parte
da energia de entrada é dissipada em forma de calor, e apenas a menor parte é
convertida em luz, o que explica a baixa eficiência luminosa desta classe de
lâmpadas (8 a 22 lm/W). Suas demais características são a baixa durabilidade (vida
útil média entre 1.000 e 3.000 h), bons índices de reprodução de cores, baixo custo
e simplicidade de instalação. A tabela 2.1 apresenta alguns tipos de lâmpadas
incandescentes e suas respectivas características típicas.
Tabela 2.1 - Tipos e características de lâmpadas incandescentes.
Fluxo Potência Eficiência Vida útil
Tipo
luminoso (lm) (W) (lm/W) (h)
Incandescente comum 200 a 9.359 25 a 500 8 a 18 1.000
Incandescente refletora 320 a 3.600 40 a 300 8,75 a 12 1.000
Incandescente halógena 5.100 a 24.000 300 a 2.000 17 a 22 2.000
Incandescente halógena dicróica 950 20 a 75 19 3.000

Ponto positivo das lâmpadas incandescentes, além dons bons índices de


reprodução de cor, vem sendo obtido através da utilização de filamentos duplos, que
resultam em fluxos luminosos mais altos. Apesar de apresentar custo bem maior, a
lâmpada incandescente de filamento duplo pode representar uma boa opção às
lâmpadas de descarga quando forem realizadas no local atividades que exijam
níveis elevados de Ra.
As lâmpadas de descarga produzem luz através de descargas elétricas
contínuas em um gás ou vapor ionizado, em alguns casos combinados com pós-
fluorescentes contidos na superfície do bulbo, que se excitam pela radiação de
descarga, provocando luminescência. Há uma maior gama de tipos de lâmpadas de
descarga e todas, com exceção da lâmpada mista, necessitam de equipamentos
auxiliares para seu correto funcionamento, como os reatores, mais comuns, e os
ignitores (“starters”), em poucos casos. Em geral apresentam eficiência e vida útil
superiores às das lâmpadas incandescentes; porém, custo também mais elevado. A
tabela 2.2 apresenta alguns tipos de lâmpadas de descarga e suas respectivas
características.

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Tabela 2.2 - Tipos e características de lâmpadas de descarga.


Fluxo luminoso Potência Eficiência Vida útil
Tipo Ra
(lm) (W) (lm/W) (h)
Fluorescente tubular 650 a 8.300 15 a 110 56 a 75 7.500 Regular/bom
Fluorescente compacta 400 a 2.900 7 a 26 44 a 65 10.000 Muito bom
Vapor de mercúrio 1.800 a 22.000 50 a 400 40 a 55 15.000 Regular
Vapor metálico 5.500 a 330.000 70 a 3.500 68 a 100 6.000 Muito bom
Vapor de sódio 5.600 a 125.000 70 a 1.000 80 a 125 15.000 Regular
Mista 3.150 a 13.500 160 a 500 19 a 27 5.000 Regular

Pode-se observar, pela análise das tabelas 2.1 e 2.2, que as lâmpadas de
descarga apresentam maiores variações do que as incandescentes, no que se
refere à eficiência luminosa e à vida útil, principalmente. Por isso, a análise destes
tipos de lâmpadas deve ser mais criteriosa em projetos de eficientização energética.
As lâmpadas fluorescentes tubulares são compostas por um bulbo cilíndrico de
vidro, cujas paredes internas são pintadas por materiais fluorescentes. Em suas
extremidades são instalados eletrodos metálicos recobertos por óxidos, por onde
circula a corrente elétrica. Em seu interior existe vapor de mercúrio a baixa pressão,
com gás inerte para facilitar a partida. Para seu correto funcionamento, as lâmpadas
fluorescentes necessitam de reatores e, as chamadas de partida lenta, ignitores. Um
grande avanço recente das lâmpadas fluorescentes tubulares tem sido a redução do
diâmetro com conseqüentes redução de potência e manutenção ou aumento do
fluxo luminoso. Isso é possível devido ao fato da redução do diâmetro propiciar
maiores possibilidades de desenvolvimento óptico dos refletores. Os modelos
tradicionais possuem diâmetro de 38 mm (T12), enquanto os mais recentes já
apresentam valores de 26 mm (T8), chegando até a 16 mm (T5), este último
inclusive com redução de 50 mm no comprimento.
As lâmpadas fluorescentes compactas (LFC), também chamadas de lâmpadas
PL, utilizam o mesmo princípio; porém, algumas já são fabricadas com reator
incorporado, apresentam tamanhos reduzidos e bocal com mesmas características
dos de lâmpadas incandescentes comuns, o que faz com que as LFC possam
substituí-las diretamente.
As lâmpadas a vapor de mercúrio são constituídas por tubos de descarga,
tendo em cada uma de suas extremidades eletrodos de tungstênio cobertos com
material emissor de elétrons. A aplicação de tensão origina um arco elétrico entre o
eletrodo auxiliar e o principal, provocando o aquecimento dos óxidos emissores, a
ionização do gás e a formação de vapor de mercúrio. Com o meio interno ionizado e
praticamente inativo, a descarga elétrica passa a ocorrer entre os eletrodos
principais. O aquecimento do meio interno eleva a pressão dos vapores, ocasionado
o aumento do fluxo luminoso. A partida dura alguns segundos, e a lâmpada só entra
em regime após alguns minutos. Ao se apagar a lâmpada, o mercúrio não pode ser

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reionizado até que a temperatura do arco seja diminuída o suficiente, o que dura de
3 a 10 minutos, dependendo das condições externas e da potência da lâmpada.
As lâmpadas a vapor metálico são lâmpadas a vapor de mercúrio com a
introdução de elementos (iodetos, brometos) em seu tubo de descarga, de forma
que o arco elétrico ocorra em uma atmosfera de vários vapores metálicos
misturados, resultando em maiores eficiências luminosas. Requerem reator e ignitor
para seu funcionamento, e apresentam índices de reprodução de cores muito bons.
As lâmpadas a vapor de sódio possuem um tubo de descarga de óxido de
alumínio, encapsulado por um bulbo oval de vidro. O tubo de descarga é preenchido
por uma amálgama de sódio-mercúrio, além de uma mistura gasosa de neônio e
argônio, utilizada para a partida. Necessitam de reator e ignitor. Apresentam Ra
menor que as lâmpadas a vapor de mercúrio; porém, melhor eficiência luminosa, o
que indica a substituição em muitos casos, como em vias públicas, túneis, etc.
As lâmpadas de luz mista, ou simplesmente mistas, são compostas por um
tubo de arco de vapor de mercúrio em série com um filamento incandescente de
tungstênio. O filamento produz fluxo luminoso, com princípio idêntico ao de
lâmpadas incandescentes, também funciona como elemento de estabilização da
lâmpada e limita a corrente de funcionamento, dispensando a utilização de reator.
As lâmpadas mistas são normalmente ligadas em tensões de 220 V, pois tensões
inferiores não são suficientes para a ionização do tubo de arco.
A figura 2.1 apresenta um comparativo entre eficiências luminosas de
diferentes tipos de lâmpadas, enquanto a figura 2.2 apresenta uma relação entre a
temperatura de cor e o Ra das lâmpadas.

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Eficiência Luminosa (lm/W)

0
Incandescente Halógena Mista Mercúrio LFC LFC Metálica Fluor. Tub. Fluor. Tub. Vapor de Metálica
(10 a 15) (15 a 25) (20 a 35) (45 a 55) Integrada Não Integ. Cerâmica T8 T5 Sódio Quartzo
(50 a 65) (50 a 87) (65 a 90) (66 a 93) (70 a 125) (80 a 140) (143)

Figura 2.1 - Comparativo entre eficiências luminosas de diferentes lâmpadas.

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Figura 2.2- Relação entre a temperatura de cor e o Ra (IRC) de diferentes lâmpadas.


2.1.2.2 - Reatores
Os reatores são dispositivos cuja finalidade é provocar uma elevação da tensão
durante a ignição, e uma redução da corrente durante o funcionamento. São
utilizados para a operação de lâmpadas de descarga e são classificados, quanto ao
seu aspecto construtivo, em reatores eletromagnéticos e eletrônicos.
Os reatores eletromagnéticos são compostos por um núcleo de ferro, bobinas
de cobre e capacitor para correção do fator de potência. Apresentam como
desvantagens as perdas elétricas elevadas, emissão de ruído, cintilação elevada
(efeito “flicker”) e carga térmica alta, o que os tornam pouco indicados quando se
pretende eficientizar um sistema de iluminação. Os reatores eletromagnéticos
podem ser do tipo convencional, necessitando de ignitor (“starter”) para a partida, ou
do tipo partida rápida, que não necessitam de dispositivos auxiliares de partida.
O “starter” é constituído por um pequeno tubo onde são depositados dois
eletrodos imersos em um gás inerte, responsável pela formação do arco que irá
propiciar um contato direto entre os eletrodos, provocando um pulso de tensão que
propicia a ignição da lâmpada.
Os reatores eletrônicos são constituídos por um circuito de retificação e um
oscilador. Trabalham em altas freqüências, sendo mais eficientes na conversão da
eletricidade em energia luminosa. A utilização de reatores eletrônicos elimina as
desvantagens ocasionadas pelos reatores eletromagnéticos, citadas anteriormente.
Apesar das vantagens dos reatores eletrônicos, alguns aspectos devem ser
levados em consideração na escolha do equipamento, principalmente os
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relacionados ao fator de potência e à distorção harmônica. Tais aspectos estão


bastante relacionados à qualidade do equipamento. A tabela 2.3 apresenta alguns
dados com relação a estas duas grandezas.
Tabela 2.3 - Aspectos relacionados ao fator de potência e à distorção harmônica de
reatores eletromagnéticos e eletrônicos.
Reator eletromagnético Reator eletrônico
Tipo
F.P. normal Alto F.P. F.P. normal Alto F.P.
Fator de potência (F.P.) 0,4 a 0,7 0,8 a 0,9 0,4 a 0,7 > 0,9
Taxa de distorção harmônica 6 a 18 % 15 a 27 % 75 a 200 % 16 a 42 %

Os reatores são dispositivos que adicionam perdas ao sistema de iluminação,


contribuindo para uma redução da eficiência luminosa dos conjuntos para níveis
menores aos apresentados pelas tabelas 2.1 e 2.2. As perdas estão diretamente
associadas aos tipos de lâmpadas e reatores utilizados, sendo recomendada a
consulta a catálogos de fabricantes. Para uma orientação geral, a tabela 2.4
apresenta valores típicos de perdas de alguns tipos de reatores.
Tabela 2.4 - Valores típicos de perdas em reatores.
Potência da Perdas no
Reator Lâmpada
Lâmpada (W) Reator (W)
50 12
150 26
Vapor de Sódio
250 27
1.000 111
80 10,9
250 27,7
Eletromagnético Vapor de Mercúrio
400 39,5
1.000 75,2
1x16 e 1x20 15
Fluorescentes 2x16 e 2x20 18
Tubulares 1x32 e 1x40 16
2x32 e 2x40 22
1x16 7
Fluorescentes 2x16 10
Eletrônico
Tubulares 1x32 6
2x32 6

2.1.2.3 - Luminárias
A luminária tem como funções principais a sustentação mecânica das
lâmpadas e a distribuição espacial do fluxo luminoso produzido por elas. As
luminárias podem ser das mais simples, compostas somente pelo receptáculo, até
as mais complexas, com a presença de refletores, refratores, difusores, entre outros.
A eficiência de uma luminária pode ser obtida pela relação entre o fluxo luminoso
emitido pela luminária (direto e indireto), e o fluxo luminoso emitido pelas lâmpadas.

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Devido à diversidade de luminárias existentes atualmente, torna-se pouco


viável a apresentação de todos os modelos e de todas as classificações. Uma das
classificações de luminárias é desenvolvida pela CIE (Comission Internationale de
L’Eclairage), apresentada na tabela 2.5, realizada com base no percentual de fluxo
luminoso total dirigido para cima ou para baixo, tomando como referência o plano
horizontal onde está situada a luminária.
Tabela 2.5 - Classificações de luminárias de acordo com o fluxo luminoso.
Fluxo luminoso em relação à horizontal (%)
Classificação
Para cima Para baixo
Direta 0 - 10 90 - 100
Semi-direta 10 - 40 60 - 90
Geral-difusa 40 - 60 40 - 60
Direta-indireta 40 - 60 40 - 60
Semi-indireta 60 - 90 10 - 40
Indireta 90 - 100 0 - 10

Para efeitos de eficiência energética, espera-se que a luminária consiga


fornecer ao plano de trabalho a totalidade do fluxo luminoso das lâmpadas.
Os componentes básicos de uma luminária são o receptáculo, refletores,
refratores e difusores. O receptáculo é o elemento de fixação da lâmpada,
proporcionando também o contato elétrico com o circuito de alimentação. Os
refletores são dispositivos que modificam a distribuição do fluxo luminoso.
Apresentam como finalidade básica o redirecionamento do fluxo para o plano de
trabalho. Podem ser de plástico, vidro, alumínio, devendo ser escolhido o material
que apresentar melhor relação entre refletância, peso e resistência à temperatura e
a impactos. O alumínio polido é uma das melhores opções atualmente encontradas
no mercado.
Os refratores, assim como os refletores, também modificam a distribuição do
fluxo luminoso; porém, por meio da transmitância. Têm a finalidade de proteger a
parte interna da luminária contra poeira e outros impactos. Os difusores têm a
finalidade de diminuir a luminosidade da fonte, reduzindo efeitos de ofuscamento.

2.2. Força Motriz


Os motores elétricos são responsáveis por parcela significativa do consumo de
energia elétrica nas indústrias. Estima-se que mais de 50 % da energia consumida
por este setor está relacionada a estes equipamentos. Os motores são aplicados
nas mais diversas atividades, como em caldeiras, esteiras industriais, elevadores,
bombeamento de água, abertura e fechamento de portões, dentre outros.
Embora o motor elétrico seja uma máquina com eficiência energética intrínseca
elevada (da ordem de 90 %), apenas 5 a 10 % do recurso energético primário chega
a ser utilizado na maioria dos sistemas motrizes. Isso acontece porque a energia

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passa através de vários equipamentos intermediários que formam o sistema,


conforme mostra o diagrama da figura 2.3.

Figura 2.3 - Diagrama de uso final de energia elétrica com finalidade de força motriz.
A seleção do tipo de motor que irá compor um determinado sistema é feita
normalmente pelo critério do menor custo inicial, desprezando-se os custos de
operação do equipamento ao longo de sua vida útil. Outros fatores também não
costumam ser levados em consideração, principalmente relacionados ao local de
instalação, se é agressivo ao funcionamento do motor, se é pouco ventilado, se
possui muita poeira, dentre outros, acarretando em um conjunto de perdas que pode
reduzir a eficiência do conjunto, além de reduzir a vida útil do equipamento.
Outro problema bastante encontrado, e que agrava o desperdício de energia
em sistemas motrizes, é a tendência em especificar motores com potências
significativamente superiores às necessárias, em nome de uma reserva de potência
que iria supostamente aumentar a confiabilidade do equipamento. Quando
superdimensionados, ou seja, em situações de baixo carregamento, os motores
elétricos apresentam acentuada queda de rendimento, além de baixo fator de
potência, como pode ser observado na figura 2.4, que apresenta a curva
característica de um motor de 20 cv, com destaque para o rendimento e o fator de
potência em uma situação de 30 % de carregamento.

Figura 2.4 - Curva característica de um motor de 20 cv, 4 pólos, 380 V.


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2.2.1. Classificação dos Motores


Os motores existentes no mercado classificam-se quanto à forma de corrente
em contínua e em alternada. Os motores de corrente contínua apresentam a
possibilidade de regulação precisa da velocidade, pois variando-se a tensão, varia-
se a velocidade. Seu custo, entretanto, é mais elevado, além de acarretar a
necessidade de instalação de fonte em corrente contínua ou retificadores, e na
necessidade de manutenção periódica das escovas devido ao centelhamento. Ainda
apresentam outras desvantagens, principalmente os de maior potência, por serem
volumosos, não sustentarem grandes velocidades e serem menos eficientes em
relação aos de corrente alternada.
Os motores de corrente alternada podem ser do tipo síncrono ou assíncrono
(indução). Os motores síncronos operam em velocidades fixas, apresentam
rendimento um pouco mais elevado do que os motores de indução e fator de
potência unitário. O custo deste tipo de motor é, no entanto, mais elevado,
principalmente quando se trata de motores de pequena potência. Seu uso é assim
restrito a equipamentos de grande potência nos quais a velocidade constante é
fundamental, como no caso de empresas têxteis.
Os motores assíncronos ou de indução são simples, robustos e mais baratos
do que os síncronos, sendo usados em quase todos os tipos de máquinas. Nestes
motores, a velocidade varia de acordo com a carga aplicada no eixo, sendo o mais
comumente utilizado nas indústrias e outros segmentos.
O motor de indução trifásico é composto por duas partes: o estator e o rotor,
conforme ilustra a figura 2.5.

Figura 2.5 - Estator e rotor de um motor elétrico.


O estator é geralmente equipado com três enrolamentos de cobre, um para
cada fase da rede de suprimento. O rotor normalmente tem uma construção muito
simples, sendo formado por uma grade cilíndrica com barras de cobre ou alumínio,
cujas extremidades estão em curto-circuito por meio de anéis de material condutor.
Os enrolamentos que compõem o estator, quando alimentados por tensões
trifásicas, geram um campo magnético girante no espaço, compreendido entre os
enrolamentos, com velocidade síncrona, induzindo uma tensão no rotor. Este, então,
gira na mesma direção do campo girante do estator, mas com uma velocidade
menor que a síncrona, de modo a manter um movimento relativo entre o campo do
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estator e o rotor. O movimento relativo garante que haja força eletromotriz induzida
no rotor e, com isso, a conversão de energia elétrica em energia mecânica de giro
no rotor.

2.2.2. Motores de Alto Rendimento


A evolução do projeto de motores ao longo do tempo trouxe grandes vantagens
em termo de custo e peso do equipamento. Se compararmos, por exemplo, os
dados referentes a um motor de 5 hp fabricado em 1888, com um equivalente
fabricado um século depois, verifica-se que o seu peso diminuiu de 450 kgf para
cerca de 35 kgf, e seu preço nominal (em valores de época, sem correção) foi
reduzido de US$ 800 para cerca de US$ 160. Isto se deve principalmente à
otimização dos processos de cálculo, reduzindo fatores de segurança
desnecessários com conseqüente diminuição das quantidades de ferro e cobre
contidos nos equipamentos, bem como à melhoria na qualidade da isolação dos
enrolamentos, que permitem a operação dos motores em temperaturas mais
elevadas. Nota-se, no entanto que como resultado desta evolução, dirigida à oferta
de um produto de preço mais reduzido, o rendimento dos motores caiu
significativamente.
Hoje em dia, entretanto, a indústria de motores tem condições de oferecer
equipamentos de alto rendimento, fisicamente similares aos modelos padrões
considerados de uso geral, mediante o emprego de materiais selecionados, maior
quantidade de cobre e ferro, processos de fabricação mais aperfeiçoados e
tolerâncias mais estreitas. Evidentemente, o emprego destas tecnologias acaba
ordenando o custo final do motor de alto rendimento.
Atualmente, já são disponibilizados no mercado sistemas de acionamento de
motores elétricos que otimizam de forma considerável a sua utilização, reduzindo o
consumo final de energia. Os inversores de freqüência são equipamentos que vêm
se transformado em uma boa opção para tal finalidade, sendo possível o
acionamento do motor da velocidade zero até a nominal da máquina. Motores
elétricos com sistemas de acionamento eficientes acoplados vêm sendo chamados
de motores de extra alto rendimento.
Os motores de alto rendimento apresentam em média eficiências 10 %
superiores às de motores convencionais de baixa potência (na faixa de 1 a 5 cv) e
de 3 % superiores aos rendimentos de motores convencionais de potência elevada
(200 cv), conforme ilustra a figura 2.6, que compara motores padrão, de alto
rendimento, e de extra alto rendimento de um determinado fabricante. Quanto ao
fator de potência, os motores de alto rendimento não são necessariamente mais
eficientes do que os convencionais. Entretanto a correção do fator de potência é
simples e não muito dispendiosa, não devendo ser encarada como um impedimento
na avaliação da possibilidade de redução de motores.

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Figura 2.6 - Curvas de rendimento de determinado fabricante de motores.


A utilização de motores de alto rendimento deve ser considerada como um
potencial interessante de racionalização do uso de energia. Sua atratividade torna-
se mais evidente nos casos de motores de baixa potência, elevado fator de carga,
longas horas de operação, novas aplicações e em determinados casos onde o
rebobinamento for necessário.
A economia de energia na utilização de motores eficientes deve ser avaliada
separadamente em três situações distintas:
- Instalar um motor eficiente em uma nova aplicação, ou em substituição a um
motor em final de vida útil, ou seja, dar prioridade para a aquisição de motores
eficientes sempre que uma nova aquisição seja necessária. Neste caso, recomenda-
se sempre a preferência por motores de alto rendimento que, mesmo apresentando
custos iniciais mais elevados, apresentam custos menores ao longo de sua vida útil;
- Instalar um motor eficiente quando o motor convencional em uso necessitar
passar por manutenção com custos associados, normalmente rebobinamento. Neste
caso, deve ser realizada uma análise econômica no intuito de verificar a viabilidade
da medida, que é mais facilmente obtida quando a aplicação em questão demanda
um elevado número de horas de operação do motor. No geral, recomenda-se a
substituição por motor de alto rendimento, pois o retorno do investimento é mais
rápido, pois deve-se subtrair o custo do rebobinamento no custo total da ação;
- Instalar um motor eficiente em substituição a um motor convencional em
operação. Tal possibilidade deve ser verificada com maior cuidado, através de
criteriosa análise técnica e econômica, dando atenção para o número de horas de
operação e o porte do equipamento, a fim de verificar se o motor antigo está mal
dimensionado e se o retorno do investimento vai ser atingido dentro de um prazo de
tempo razoável.

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2.3. Aquecimento
Os usos finais de aquecimento, obtidos através da conversão de energia
elétrica em calor, são diversos. No setor residencial tem-se chuveiros, torneiras e
pequenos fornos; no setor industrial tem-se o calor de processo, caldeiras, fundições
e fornos industriais; além de outras muitas finalidades onde é necessária a utilização
de sistemas de aquecimento, de água ou vapor.
De modo geral, a utilização da energia elétrica para aquecimento apresenta
custos superiores a outras alternativas, como o Sol ou óleos combustíveis, por
exemplo. Além disso, apresenta reduzido potencial de eficientização, estando
basicamente concentrado na substituição, parcial ou total, do sistema de
aquecimento elétrico pela alternativa mais econômica.
Os itens seguintes apresentam alguns usos típicos de sistemas de
aquecimento elétrico, destacando os potenciais de eficientização do sistema, ou sua
substituição por outra alternativa.

2.3.1. Aquecimento de Água para Banhos, Torneiras e Piscinas


O aquecimento elétrico é bastante utilizado para esta finalidade, principalmente
nos setores residencial e de comércio e serviços, como hotéis e motéis, por
exemplo. Segundo dados do PROCEL, o chuveiro elétrico é responsável por 25 a 35
% dos gastos com energia elétrica em uma residência.
Nestes casos, o aquecimento ocorre de forma direta, com a eletricidade
aquecendo diretamente o elemento (água) por efeito Joule através da passagem de
corrente elétrica. As principais vantagens dos aquecedores elétricos de água são o
baixo investimento inicial e a praticidade de instalação e uso. Sua grande
desvantagem é o custo elevado ao longo do tempo.
Uma alternativa ao aquecimento elétrico é o aquecimento a gás, mas que
também apresenta custos elevados ao longo do tempo, além de apresentar maiores
riscos à segurança.
Além dos prejuízos financeiros aos consumidores, a utilização de chuveiros
elétricos também impacta fortemente o sistema elétrico, uma vez que a grande
maioria dos chuveiros é ligada em horários coincidentes com os horários de ponta
estabelecidos pelas empresas do setor elétrico. Uma forma de reduzir este impacto
é através da utilização de sistemas de acumulação, já que a água pode ser aquecida
em outros horários, estando apropriada ao uso a qualquer tempo.
Outra alternativa à utilização de aquecimento elétrico em duchas, torneiras e
piscinas é o aquecimento solar. Tal alternativa é comprovadamente a mais viável
economicamente ao longo do tempo, e sua disseminação em larga escala ainda
esbarra em questões culturais e em um processo de instalação relativamente mais
complexo que os de sistemas convencionais. As figuras 2.7 e 2.8 apresentam

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esquemas de instalação de sistemas de aquecimento solar para ducha e torneiras e


para piscinas, respectivamente.

Figura 2.7 - Sistema de aquecimento solar de água para duchas e torneiras.

Figura 2.8 - Sistema de aquecimento solar de água para piscinas.


Um sistema solar para aquecimento de água é basicamente constituído por
coletores solares, reservatório térmico, tubulação e acessórios. Pode também
possuir um sistema de aquecimento de apoio, composto por sensor de temperatura
e aquecedor elétrico ou a gás, para permitir a utilização de água quente em longos
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períodos nublados. Sistemas solares para aquecimento de piscinas, como o da


figura 2.8, dispensam a utilização de reservatório térmico, uma vez que a própria
piscina funciona como reservatório. Requerem temperaturas normalmente mais
baixas que as de banho, e necessitam de capa térmica adequada para reduzir as
perdas de calor na piscina.
O sistema de aquecimento para banho da figura 2.7 é o mais simples possível,
chamado de sistema por termofissão. Nele, a água circula entre o coletor e o
reservatório sem a necessidade de bombas ou outros equipamentos. A água que
circula pelos coletores, por estar mais aquecida, possui menor massa específica, ou,
em linguagem popular, está mais “leve”. A água do reservatório, mais fria, possui
maior massa específica e está mais “pesada”, tendendo a “empurrar” a água que
está no coletor solar, que sobe até o reservatório, elevando um pouco sua
temperatura, criando um ciclo que se mantém de forma satisfatória para situações
de demanda de água não tão elevadas. Em casos de altas demandas, como em
piscinas e hotéis, este sistema é inviável, devendo ser utilizado o sistema com
circulação forçada, que faz uso de bomba e sensor de temperatura. Para que o
sistema por termofissão funcione de maneira adequada é necessário que haja um
desnível mínimo de 30 cm, e máximo de 5 m, entre a parte superior do coletor e a
inferior do reservatório, conforme ilustrado na figura 2.7. Em situações onde não seja
possível obter tal desnível, a solução é a instalação de uma válvula solar de desnível
negativo na tubulação que leva a água aquecida do coletor ao reservatório, cuja
função é impedir que a água quente retorne do reservatório o coletor.
Os reservatórios térmicos, também chamados de “boilers”, devem apresentar
características de isolamento que impeçam as perdas de calor entre os meios
interno e externo. Podem ser classificados em reservatórios de baixa e alta pressão,
que devem ser utilizados de acordo com a aplicação. Os reservatórios de baixa
pressão, que suportam até 10 m.c.a. (metros de coluna d’água), são utilizados
quando o desnível máximo entre a parte superior da caixa d’água e a parte inferior
do reservatório térmico não for superior a 10 m. Reservatórios de alta pressão
podem apresentar maiores desníveis. Reservatórios de baixa pressão devem ser
equipados com um respiro, cuja saída deve estar situada 20 cm acima da lâmina
d’água da caixa d’água.

2.3.2. Outras Aplicações


Em outras aplicações de aquecimento elétrico, como caldeiras, fornos e
estufas, o potencial de eficientização é limitado. Nestes casos, o aquecimento
elétrico também é realizado de forma direta, com eletrodos ou resistências elétricas
imersos diretamente na água, para uso direto ou para formação de vapor. Em
função de sua forma construtiva, a eficiência de caldeiras elétricas, por exemplo,
atinge valores bastante elevados, da ordem de 95 %, muito maiores que os obtidos
por caldeiras a combustão.

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O elevado custo da eletricidade tem tornado proibitiva a utilização de


aquecimento elétrico em escala industrial. Estudos comprovam que a energia
elétrica só se apresenta viável para fins de aquecimento no caso de grandes
consumidores (classes A2, A3 e A3a), que pagam uma tarifa de energia elétrica
mais baixa.
Em outros casos, com base nos custos atuais, sistemas de aquecimento a gás
natural (GN), gás liquefeito de petróleo (GLP), e mesmo a combustíveis fósseis, têm
se transformado em opções economicamente mais viáveis para sistemas de
aquecimento de consumidores industriais.
Ações de eficientização em sistemas de aquecimento elétrico estão muito
voltadas para a forma de utilização dos sistemas e aos equipamentos periféricos,
como sistemas de armazenamento e transporte de calor, sistemas de bombeamento
de água, entre outros.

2.3.3. Isolamento Térmico


As perdas envolvidas em processos de armazenamento e transporte de calor
são, muitas vezes, mais significativas do que as verificadas nos processos de
geração de calor propriamente ditos. Tais perdas podem estar associadas à
condução, convecção e irradiação, sendo as perdas por condução de calor nas
paredes dos materiais as mais comuns.
O isolamento térmico objetiva, além da segurança pessoal, a manutenção das
temperaturas de processo, reduzindo perdas. Sua função básica é retardar o fluxo
de energia térmica não desejada, para dentro ou para fora do equipamento.
Apresenta bom potencial de eficientização, principalmente se levado em conta o
baixo custo associado.
Os materiais conceituados como bons isolantes térmicos são aqueles que
apresentam baixos valores de condutibilidade térmica. Cada material apresenta um
valor típico de condutibilidade térmica, que varia em função da temperatura.
Superfícies e tubulações que não apresentam isolamento térmico podem apresentar
valores de perdas muito elevados, proporcionais às temperaturas envolvidas.
Mesmo em sistemas que possuam isolamento térmico, faz-se necessária a
verificação se o material isolante, ou a forma de isolamento, é a mais eficiente. Tal
verificação pode ser realizada através de medições de temperatura no interior do
equipamento e no ambiente externo e através das características do isolamento
térmico (espessura de isolamento, diâmetro da tubulação, área do equipamento e
coeficiente de condutibilidade térmica do material).
Para se reduzir perdas de calor em equipamentos e tubulações pode ser
utilizado um melhor isolante, com menor condutibilidade térmica, aumentar a área
isolada ou a espessura do isolamento, ou todas as soluções em conjunto. Uma outra
solução interessante pode ser diminuir o comprimento das tubulações.

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É importante observar que, em determinadas situações, o emprego de


materiais com custos iniciais mais elevados pode representar uma economia ao
longo do tempo, em função de suas melhores propriedades resultarem em reduções
de perdas e, conseqüentemente, reduções de custos com energia elétrica.

2.4. Refrigeração
A refrigeração é o nome dado ao processo de remoção do calor de um
determinado meio e a manutenção desta condição por meios mecânicos ou naturais.
Existem diversas aplicações da refrigeração, sendo a refrigeração de alimentos e
bebidas e a climatização de ambientes as mais importantes e conhecidas.
2.4.1. Refrigeração de Materiais
A refrigeração de materiais, normalmente chamada apenas de refrigeração, é
bastante útil para o homem, pois assim ele pode manter o material, normalmente
alimentos, em seu estado natural através do uso do frio, sem a utilização da
defumação ou salgamento do material a ser consumido.
Nos dias atuais, a aplicação da refrigeração é encontrada em diversas
atividades como, por exemplo, no uso doméstico, comercial, industrial e de
transportes.
Pode-se entender a lógica de funcionamento dos principais sistemas de
refrigeração estudando o funcionamento de um refrigerador doméstico comum,
também conhecido como sistema de compressão de vapor.
Este equipamento funciona a partir da aplicação dos conceitos de calor e
trabalho, utilizando-se de um fluido refrigerante. Fluido refrigerante é uma substância
que, circulando dentro de um circuito fechado, é capaz de retirar calor de um meio
enquanto se vaporiza a baixa pressão. Este fluido entra no evaporador a baixa
pressão, na forma de mistura de líquido e vapor, e retira a energia do meio interno
refrigerado (energia dos alimentos) enquanto passa para o estado de vapor. O vapor
entra no compressor onde é comprimido e bombeado, tornando-se vapor
superaquecido e deslocando-se para o condensador, que tem a função de liberar a
energia retirada dos alimentos e a resultante do trabalho de compressão para o meio
exterior. O fluido, ao liberar energia, passa do estado de vapor superaquecido para
líquido (condensação) e finalmente entra no dispositivo de expansão, onde tem sua
pressão reduzida, para novamente ingressar no evaporador e repetir-se assim o
ciclo. Esse processo é ilustrado através da figura 2.9.

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Figura 2.9 - Ciclo de compressão do vapor.


A refrigeração doméstica está voltada principalmente para o uso de pequenos
refrigeradores e freezers. A figura 2.10 apresenta um diagrama esquemático de um
refrigerador comumente encontrado nas residências.

Figura 2.10 - Esquema de um refrigerador doméstico.


A capacidade dos refrigeradores domésticos varia muito, com temperaturas na
faixa de - 8 a - 18 oC no compartimento de congelados, e de + 2 a + 7 oC no
compartimento dos produtos resfriados.
A refrigeração comercial abrange os refrigeradores especiais ou de grande
porte usados em restaurantes, sorveterias, bares, açougues, laboratórios, dentre
outros. As temperaturas de congelamento e estocagem situam-se geralmente, entre
- 5 a - 30 oC. A figura. A figura 2.11 ilustra dois tipos de refrigeradores comerciais
bastante utilizados.

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Figura 2.11 - Refrigerador comercial para armazenar alimentos, à esquerda, e para


armazenar bebidas, à direita.
Como regra geral, os equipamentos industriais são maiores que os comerciais
em tamanhos e têm como característica marcante requerer um operador de serviço.
São aplicações típicas industriais as fábricas de gelo, grandes instalações de
empacotamento de gêneros alimentícios (carnes, peixes, aves), cervejarias, fábricas
de laticínios, de processamento de bebidas concentradas e outras. A figura 2.12
mostra um refrigerador industrial para armazenamento e empacotamento de carne.

Figura 2.12 - Refrigerador industrial.


A refrigeração marítima refere-se à refrigeração a bordo de embarcações e
inclui, por exemplo, a refrigeração para barcos de pesca e para embarcações de
transporte de carga perecíveis.
A refrigeração de transporte relaciona-se com equipamentos de refrigeração
em caminhões e vagões ferroviários refrigerados. A figura 2.13 ilustra um caminhão
frigorífico.

Figura 2.13 - Caminhão frigorífico para transporte de alimentos.


Como pode ser observado, as aplicações da refrigeração são as mais variadas,
sendo, de certa forma, bastante difícil estabelecer de forma precisa a fronteira de
cada divisão.
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2.4.2. Climatização de Ambientes


A climatização de ambientes se refere ao processo de tratamento de ar em
recintos fechados, de modo a controlar simultaneamente a sua temperatura,
umidade, pureza e movimentação, para a obtenção de um ambiente mais agradável.
As técnicas de climatização são conhecidas como sistemas de condicionamento de
ar, ou simplesmente ar condicionado.
Para se alcançar esse ambiente agradável é necessário que se coloque o ar de
um recinto fechado em movimento contínuo, fazendo-o passar por elementos que
fazem o tratamento de temperatura e umidade.
2.4.2.1 - Tipos de Condicionadores de Ar
Existem diversas tecnologias atualmente disponíveis no mercado que podem
propiciar a climatização de ambientes, dentre elas encontram-se os condicionadores
de ar tipo janela, do tipo self-contained, split e o fan-coil/chiller.
Os condicionadores de ar tipo janela são instalados em janelas ou em paredes
a alturas acima de 1,60 metros, são muito utilizados em residências e em prédios de
escritórios. Estes equipamentos apresentam capacidade de resfriamento que varia
de 0,5 a 3 Toneladas de Refrigeração (TR), sendo geralmente resfriados a ar.
O ciclo de refrigeração de um aparelho de condicionamento de ar é bastante
semelhante ao de um refrigerador. Em um aparelho de ar-condicionado o
compressor comprime o gás frio, fazendo com que ele se torne gás quente de alta
pressão (lado quente). Este gás quente circula através de um trocador de calor
(condensador) e se condensa para o estado líquido. O líquido escoa através de uma
válvula de expansão, vaporizando-se neste processo para se tornar gás frio de baixa
pressão (lado frio). Este gás frio circula através do outro trocador de calor
(evaporador) que permite que o gás absorva calor e esfrie o ar do ambiente. A figura
2.14 ilustra um condicionador de ar do tipo janela.

Figura 2.14 - Condicionador de ar do tipo janela.


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Estes condicionadores podem também apresentar o condensador operando


como evaporador no período de inverno e funcionando como bomba de calor para o
aquecimento. É o chamado ciclo reverso.
Os condicionadores de ar do tipo self-contained podem ser encontrados com
condensação a ar ou a água. Eles podem ser instalados diretamente no recinto onde
o ar deve ser resfriado ou em casas de máquinas, podendo dessa forma conter
dutos de ventilação com o objetivo de transportar o ar frio aos ambientes a serem
climatizados. São destinados ao uso em lojas, restaurantes, centros de computação,
em edifícios industriais, bancos, grandes residências, etc. A figura 2.15 mostra o
condicionador de ar tipo self-contained, com condensação a ar.

Figura 2.15 - Aparelho self-contained com uma rede de dutos.


Os condicionadores de ar do tipo split são equipamentos bastante adaptáveis
ao meio em termos estéticos e funcionam com baixo nível de ruído, uma vez que
seu compressor fica na parte externa junto ao condensador. Sua aplicação pode ser
feita junto ao piso, ao teto e até de forma embutida no forro. Podem ser utilizados
em residências, escolas, escritórios, laboratórios, bibliotecas, dentre outros. Este tipo
de equipamento pode ser utilizado em ambientes onde seria impossível a utilização
do ar condicionado tipo janela. A figura 2.16 ilustra este tipo de equipamento.

Figura 2.16 - Condicionador de ar do tipo split.


Outro tipo de sistema de refrigeração encontrado no mercado é o fan-
coil/chiller. Neste sistema o ambiente a ser climatizado troca calor com um
equipamento composto por uma serpentina e um ventilador (fan-coil). Pela
serpentina tem-se água fria em circulação, proveniente do chiller, normalmente a
uma temperatura de 7o C, saindo a uma temperatura média de 12 oC. O calor

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retirado do ambiente climatizado e levado através da água em circulação é trocado


com o fluido refrigerante no evaporador do chiller. Este fluido refrigerante é
condensado através do uso de um fluxo de água, que circula entre a torre de
arrefecimento e o condensador. A figura 2.17 mostra uma unidade resfriadora
(chiller).

Figura 2.17 - Ilustração de uma unidade resfriadora (chiller).

2.5. Outros
Como outros usos finais de energia elétrica podem ser destacados os
aparelhos eletro-eletrônicos e sistemas a ar comprimido. As instalações elétricas,
que “abastecem” todos os usos finais e que, se não estiverem bem projetadas e em
bom estado de conservação podem resultar em perdas elevadas, serão abordadas
apenas no Capítulo 6, onde são apresentadas sugestões para redução de perdas e
melhoria da eficiência de instalações elétricas.

2.5.1. Eletro-eletrônicos
A divisão dos usos finais em classes, aliada ao crescimento tecnológico
verificado e ao surgimento dos mais diversos aparelhos, fez surgir um uso final que
até algumas décadas atrás não se configurava como representativo: os eletro-
eletrônicos.
De uma forma geral, muitos dos aparelhos eletro-eletrônicos podem ser
distribuídos em outras classes. Como exemplo, ventiladores residenciais e
eletrodomésticos como liquidificadores, batedeiras e máquinas de lavar roupa
possuem sistemas motrizes como principal componente; torradeiras e fritadeiras são
compostas por sistemas de aquecimento, além de outros exemplos.
Devido às suas finalidades e às suas capacidades reduzidas, principalmente se
comparados a equipamentos mais robustos, tais aparelhos são normalmente
classificados neste uso final. Além disto, a grande maioria deles têm em comum o
fato de apresentarem pouco ou nenhum potencial de eficientização, seja pela
indisponibilidade de modelos mais eficientes no mercado, seja pelos conceitos de
estética e conforto que proporcionam, sendo muitas vezes o principal ponto de
decisão na compra de um eletro-eletrônico.

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A principal recomendação técnica aplicada a este uso final é a preferência por


equipamentos que possuam os melhores índices de eficiência energética
apresentados nas etiquetas de conservação de energia. Atualmente, equipamentos
como máquinas de lavar roupas, ventiladores e televisores são avaliados pelo
INMETRO, com alguns modelos tendo recebido o Selo PROCEL de economia de
energia, indicando bons níveis de eficiência energética.

2.5.2. Sistemas a Ar Comprimido


Sistemas a ar comprimido são bastante utilizados em processos industriais,
sendo uma das formas de transmissão de energia mais antigas existentes. Se
projetados, operados e mantidos de forma inadequada podem representar perdas
excessivas, resultando em custos elevados com energia elétrica.
Os componentes básicos de um sistema a ar comprimido são o compressor,
resfriador, filtros, secador, sistema de armazenamento, sistema de distribuição e
pontos de consumo final.
A seleção do compressor de ar mais adequado a cada aplicação é o primeiro
fator a ser considerado em um projeto de sistema a ar comprimido. Existem dois
tipos básicos de compressores de ar, os alternativos (de pistão), indicados para
aplicações de pequenas vazões, e os rotativos, divididos em parafuso, indicados
para pequenas a grandes vazões, e centrífugo, indicados para vazões muito
grandes. Em aplicações onde os compressores de parafuso e de pistão operem sob
as mesmas condições, o de parafuso normalmente apresenta menores custos ao
longo de sua vida útil. Também é recomendada a utilização de mais de um
compressor, atuando em sistemas de rodízio.
O compressor de ar é acionado por um motor elétrico, e este será ligado ou
desligado de acordo com a necessidade de ar requerida pelo processo. Em sistemas
de parada e partida, o motor elétrico é acionado até que a pressão do reservatório
atinja um valor determinado, quanto, então, é desligado. Sistemas de velocidade
constante, ao contrário, demandam operação continua do motor, e quando a
pressão atinge o valor determinado o ar aspirado é deslocado pela válvula de
aspiração.
Com este funcionamento típico, semelhante ao de outros sistemas motrizes,
pode-se concluir que uma alternativa interessante para a eficientização de sistemas
a ar comprimido é a utilização de motores de alto rendimento acionados por
sistemas eficientes, como inversores de freqüência, que possam ajustar a operação
do motor à demanda de ar.
Para o projeto da rede de distribuição, faz-se necessário o conhecimento dos
principais pontos de consumo, a fim de se definir o tipo de rede (fechada ou aberta)
e otimizar o seu percurso. Uma rede de distribuição melhor distribuída reduz a
possibilidade de vazamentos, grande causador de perdas em sistemas a ar
comprimido. Outra alternativa adotada para a redução do consumo de energia em
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sistemas de distribuição é a instalação de registros ao longo da rede, permitindo o


fechamento de trechos não necessários em determinados momentos, evitando que
o circuito de ar comprimido mantenha-se pressurizado sem a devida necessidade.
Existem três pontos de perdas críticas comuns a praticamente todos os
sistemas a ar comprimido: vazamentos de ar comprimido, perdas de carga (queda
de pressão) e temperatura de admissão do ar.
Na prática as perdas por vazamentos não podem ser completamente evitadas,
mas devem ser reduzidas, não excedendo a 5 % da capacidade instalada do
sistema. Estas perdas só podem ser reduzidas se houver um programa de
manutenção criterioso na empresa, prevendo inspeção periódica completa ao longo
de toda a rede de distribuição e nos pontos de consumo. Apenas para ilustrar a
importância de um plano de manutenção que evite os vazamentos, a tabela 2.6
apresenta relações entre diâmetros de furos e perdas de ar e energéticas em um
sistema a ar comprimido operando a 7 bar de pressão durante 6.000 h/ano.
Tabela 2.6 - Perdas em função de vazamentos em sistemas a ar comprimido.
Diâmetro do furo Perda Perda Consumo anual
(mm) (l/min) (kW) (kWh)
0,8 12 0,1 600
1,5 186 1,0 6.000
3,0 660 3,5 21.000
6,0 2.750 15,0 90.000

As perdas por vazamento estão relacionadas principalmente a válvulas, tubos,


mangueiras e conexões mal vedadas ou em estado de conservação precário,
apresentando furos ou pontos de corrosão.
Sistemas a ar comprimido operando em pressões superiores às demandadas
pela aplicação também apresentam elevadas perdas de energia. A pressão de
trabalho mais elevada pode ser resultado de dimensionamentos incorretos do
compressor e da rede de distribuição, de manutenção inadequada dos elementos
filtrantes ou de regulagem imprecisa da pressão nos pontos de consumo.
Finalmente, a elevação da temperatura ambiente no ponto de admissão do ar a
ser comprimido pode resultar em elevação de até 1 % do consumo de energia a
cada 4 ºC de elevação da temperatura.

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