Você está na página 1de 16

1ª VARA DO TRABALHO DE BRASÍLA-DF

Proc. No. 0000692-41.2013.5.10.0001

SENTENÇA

I- RELATÓRIO:

Vistos os autos.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO ajuizou ação civil


pública em face de SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE
DADOS, formulando pleitos de natureza eficacial
declaratória e condenatória.

O réu, devidamente notificado, compareceu à audiência


e apresentou resposta.

Foram produzidas provas documentais.

Razões finais remissivas.

Frustradas as tentativas de conciliação.

Valor da causa de R$ 2.000.000,00.

É o relatório.

II- FUNDAMENTAÇÃO:
I.1- Das preliminares:

I.1.1- Da preliminar de ilegitimidade ativa do Ministério


Público do Trabalho e da coisa julgada e litispendência:

Alega o réu a ilegitimidade do Ministério Público do


Trabalho para ajuizamento da presente ação, bem como a
existência de coisa julgada e litispendência quanto a
alguns substituídos. Pugna pela extinção do feito sem exame
do mérito.

Quanto à alegação de ilegitimidade do MPT, por um lado,


registro que, analisando a causa de pedir e os pedidos, é
inegável que a pretensão conta com natureza
transindividual. Inegavelmente, a presente ação busca
promover defesa de interesses de natureza individual
homogênea, nos termos do art. 81, III, do CDC.

Ou seja, constata-se com nitidez que o litígio conta com


natureza tipicamente coletiva. Tal cenário, por si só,
considerando os termos do art. 83, III da LC 75, implicaria
na configuração da legitimidade.

Ao mesmo tempo, as condutas alegadas como responsáveis pela


lesão envolvem atos praticados pela Administração Pública,
considerando o fato de que a ré consiste em entidade da
Administração Indireta da União. Assim, o ajuizamento da
presente ação busca o controle dos atos da Administração
Pública.

Desta forma, entendo formalmente configurada a legitimação


para o ajuizamento da presente ação.

Porém, não obstante a existência de legitimidade, entendo


manifestamente inconveniente e inadequada. Na realidade,
tal condição envolve não propriamente a atuação do MPT, mas
a adoção de mecanismos de coletivização do processo em
casos como o presente.

Registro que, não obstante a autorização legal para tanto,


e a beleza teórica da coletivização do processo, a verdade
é que, na prática, trata-se de uma desastre processual.

Ou seja, ainda que exista autorização legal-formal para a


presente estratégia processual, entendo esta manifestamente
inadequada em situações como a presente. Entendo que o
correto seria que cada substituído ajuizasse ação
individual, com tramitação própria, a ser julgada e
executada de forma individual.

Ainda que a situação dos autos envolva a alegação de


macrolesão e a configuração da potencial violação a
interesses individuais homogêneos – o que autoriza a
presente ação e a legitimação do MPT, cada substituído tem
uma realidade particular. Assim, entendo que o mais
adequado seria o ajuizamento de ações individuais.

Esta mesma dificuldade reflete no tema da coisa julgada e


da litispendência, ainda que exista pretensa solução na lei
para tanto, nos termos dos arts. 103 e 104 do CPC.

Portanto, definitivamente, entendo processualmente


inadequado e impertinente o ajuizamento da presente ação.
Porém, entendo também que há previsão legal.

Anuncio e profetizo desde já que a execução da presente


ação, caso não se dê comando específico de modo a fugir do
padrão tradicional, será um verdadeiro tormento, com o
risco de demandar tempo e esforços judiciários
significativos, e mesmo nunca se encerrar. Naturalmente que
tal visão somente pode ser compreendida por aqueles que
conhecem a realidade do Primeiro Grau de Jurisdição,
conduzem execuções e vivenciam a dinâmica da Secretaria de
uma Vara do Trabalho.
Porém, como há previsão e amparo legal, entendo que não há
como acolher a presente preliminar de ilegitimidade, de
modo que a rejeito.

Quanto à coisa julgada e litispendência, entendo necessária


a aplicação ao caso da lógica do art. 104 do CDC. Ou seja,
quanto aos substituídos que ajuizaram ações individuais e
até o momento de publicação desta sentença não requereram a
suspensão ou a extinção das ações individuais, ficam
automaticamente excluídos do universo de substituídos
potenciais beneficiários da prestação jurisdicional
postulada nestes autos. Determino que tal condição seja
apurada na fase de execução.

II.1.2- Da preliminar de inépcia:

Alega o réu a preliminar de inépcia.

Registro que no Direito Processual do Trabalho,


conforme o disposto no art. 840 da CLT, adota-se a teoria
da individuação, segundo a qual basta o relato dos fatos,
para a conformação da causa de pedir.

Por outro lado, ainda que se entenda que em ações


civis públicas o mencionado dispositivo não se aplique,
conforme a lógica do art. 295, parágrafo único do CPC,
a inépcia pressupõe vícios sobre a causa de pedir e
pedidos, capazes de comprometer o exercício do direito de
defesa ou o julgamento.

Analisando a petição inicial, entendo que inexistem os


referidos vícios. Assim, rejeito a preliminar.

II.2- Do mérito:
II.2.1- Da prejudicial de prescrição:

Argüi o réu prejudicial de prescrição.

Considerando a ausência de alegação e comprovação qualquer


ato interruptivo, bem como diante do ajuizamento da
presente ação em 14/05/2013, com fundamento no art. 7º,
XXIX da CF, pronuncio a prescrição de qualquer pretensão de
natureza eficácia condenatória, entendo direitos anteriores
a 14/05/2013.

II.2.1- Da consideração do tempo de afastamento entre a


dispensa e a readmissão e dos seus efeitos (pedidos “5.1.a”
e “5.1.b”):

Alega o autor ser devido aos substituídos a consideração do


período entre a dispensa e a readmissão. Sustenta que os
substituídos foram readmitidos em função da Lei 8.878/1994
(Lei de Anistia). Postula o reconhecimento do referido
período em favor dos substituídos, bem como a condenação a
realizar promoções por antiguidade e merecimento,
considerando o referido período e o pagamento de diferenças
salariais e repercussões legais.

O réu sustentou não ser devido o reconhecimento do período


entre a dispensa e a readmissão em favor dos substituídos.
Sustentou que a Lei 8.878/1994, art. 6º, veda efeitos
financeiros da readmissão, sendo esta a compreensão da OJ
Transitória 56 da SBDI-1.

Assim, passo primeiramente à análise da pretensão de


reconhecimento do período de afastamento (entre a dispensa
e a readmissão).
Não há dúvida de que o art. 6º, da Lei 8.878/1994, veda
expressamente efeitos financeiros decorrentes da anistia.
Obviamente que tal regra não é suficientemente clara, por
não ter disciplinado e tratado de desdobramentos como o dos
autos, o que se situa numa zona cinzenta entre estar ou não
enquadrada no conceito de “efeitos financeiros”. Entendo
que o legislador deveria ter disciplinado claramente
situações como a presente, mas não o fez.

Analisando a jurisprudência do TST, verifico uma clara


tendência de não admitir o período de afastamento, ainda
que deste não decorra de forma direta efeitos financeiros,
o que significa reconhecer o direito à consideração do
período de afastamento. Neste sentido destaco os seguintes
precedentes (com destaques de minha autoria):

"AGRAVO. LICENÇA-PRÊMIO. GOZO. CONTAGEM. TEMPO DE


SERVIÇO ANTERIOR À DEMISSÃO E POSTERIOR À
READMISSÃO. ANISTIA. LEI 8.878/1994. CONAB. NÃO
PROVIMENTO. Nos termos da Lei nº 8.878/1994, a
anistia por ela concedida só gerará efeitos
financeiros a partir do efetivo retorno do
empregado à atividade, vedada a remuneração de
qualquer espécie em caráter retroativo. Assim, a
vedação de que trata o mencionado preceito de lei
alcança o pagamento de salários e demais
vantagens relativas ao período de afastamento do
empregado, bem como a contagem desse tempo para a
concessão de ulteriores benefícios..." (Ag-AIRR -
1084-25.2010.5.18.0013 , Relator Ministro:
Guilherme Augusto Caputo Bastos, 5ª Turma, DEJT
19/09/2014)."

"RECURSO DE REVISTA. LICENÇA-PRÊMIO. DIREITO


ADQUIRIDO ANTES DA DISPENSA. ANISTIA. EFEITOS. 1.
Hipótese em que o e. TRT condenou a reclamada -a
proceder à averbação do período de 02.06.1986 a
15.06.1990, para fins de concessão da licença-
prêmio, a ser usufruída pelo reclamante segundo a
conveniência da empresa e de acordo com as normas
contidas no Regulamento de Pessoal-. 2. A teor da
OJ Transitória 56/SDI-I/TST, -os efeitos
financeiros da anistia concedida pela Lei nº
8.878/94 somente serão devidos a partir do
efetivo retorno à atividade, vedada a remuneração
em caráter retroativo-. A vedação estipulada pelo
art. 6º da Lei 8.878/94, referendada pela
jurisprudência deste Tribunal, diz respeito ao
pagamento de salários e demais vantagens
relativas ao período de afastamento do empregado,
assim como a contagem deste tempo para a
concessão de ulteriores benefícios, que apenas
teriam lugar no caso de reintegração, mas, não,
na hipótese de readmissão... Recurso de revista
não conhecido" (RR - 127000-77.2009.5.13.0002 ,
Relator Ministro: Hugo Carlos Scheuermann, 1ª
Turma, DEJT 08/11/2013)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA -


DESCABIMENTO. 2. ANUÊNIO E LICENÇA-PRÊMIO.
VANTAGENS AUFERIDAS QUANDO A TRABALHADORA ESTAVA
EM ATIVIDADE. LEI DE ANISTIA. READMISSÃO.
EFEITOS. Os efeitos financeiros
da anistia concedida pela Lei nº 8.878/94 somente
serão devidos a partir do efetivo retorno à
atividade, vedada a remuneração em caráter
retroativo. Inteligência da OJ Transitória nº 56
da SBDI-1. Esta Corte tem-se posicionado no
sentido de que a vedação estipulada pelo art. 6º
da Lei nº 8.874/94 alcança o pagamento de
salários e demais vantagens relativas ao período
de afastamento do empregado, bem como
a contagem deste tempo para a concessão de
ulteriores benefícios, que apenas teriam lugar no
caso de reintegração, mas, não, na hipótese de
readmissão. Dessa forma, a anistia somente gera
efeitos a partir da data da readmissão.
Entretanto, devem ser respeitados os direitos
adquiridos até o momento da demissão. Agravo de
instrumento conhecido e desprovido.' (TST-AIRR-
120100-06.2009.5.05.0001, 3ª Turma, Rel. Min.
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, DEJT de
14/09/12)”

Porém, entendo que o precedente citado na causa de pedir, o


qual transitou em julgado, é eloquente em seus fundamentos,
mesmo não envolvendo o réu e podendo não contar com
semelhança absoluta com a situação dos autos. Neste sentido
destaco (com destaques de minha autoria):
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. AÇÃO CIVIL
COLETIVA. ANISTIA. LEI Nº 8.878/94. VANTAGENS DE
CINCO NÍVEIS SALARIAIS SUCESSIVAMENTE CONCEDIDAS
EM CARÁTER GERAL, PARA RECOMPOSIÇÃO SALARIAL, A
TODOS OS TRABALHADORES DA CONAB, NO DECORRER DO
PERÍODO DE AFASTAMENTO DE CADA ANISTIADO, ANTES
DE SUA READMISSÃO AO SERVIÇO E DURANTE A
SUSPENSÃO DE SEU CONTRATO DE TRABALHO.
INTERPRETAÇÃO DAS LEIS DE ANISTIA E CONCESSÃO
DESSAS VANTAGENS AOS EMPREGADOS ANISTIADOS A
PARTIR DA DATA DE SEU EFETIVO RETORNO AO SERVIÇO,
SEM QUALQUER PAGAMENTO RETROATIVO. APLICABILIDADE
DO ARTIGO 471 DA CLT, SEM CONTRARIEDADE À
ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL TRANSITÓRIA Nº 56 DA
SBDI-1 DO TST. 1. A Lei nº 8.878/94, em seu
artigo 1º, concedeu anistia aos servidores
públicos civis federais, dentre os quais os
empregados permanentes de empresas públicas e
sociedades de economia mista sob controle da
União, que, no período compreendido entre 16 de
março de 1990 e 30 de setembro de 1992, tenham
sido exonerados, demitidos, despedidos ou
dispensados com violação de dispositivo
constitucional, legal, regulamentar ou de
cláusula constante de norma coletiva de trabalho,
por motivação política devidamente caracterizada
ou por interrupção de atividade profissional em
decorrência de movimentação grevista. Seu artigo
2º, por sua vez, assegurou o retorno do anistiado
ao serviço no cargo ou emprego anteriormente
ocupado ou, quando for o caso, naquele resultante
da respectiva transformação, ficando vedada, por
seu artigo 6º, a geração de efeitos financeiros
antes da data do seu efetivo retorno à atividade
e remuneração desses em caráter retroativo...3.
As instâncias ordinárias julgaram improcedente o
referido pedido inicial, por o considerarem
incompatível com o artigo 6º da referida Lei de
Anistia e com a Orientação Jurisprudencial
Transitória nº 56 da SBDI-1 desta Corte, que
dispõem que -os efeitos financeiros da anistia
concedida pela Lei nº 8.878/94 somente serão
devidos a partir do efetivo retorno à atividade,
vedada a remuneração em caráter retroativo-. Não
atentaram, porém, para a circunstância peculiar,
claramente registrada no acórdão regional, de que
o Ministério Público do Trabalho em nenhum
momento pretendeu que os empregados anistiados da
CONAB recebessem salários e demais vantagens
relativos ao período em que estiveram afastados
do serviço, e sim, tão somente, que fossem eles
readmitidos exatamente nos mesmos níveis
salariais assegurados, a título de promoções por
merecimento, mas de forma linear e sem nenhuma
avaliação de desempenho, a todos os seus colegas
de trabalho ocupantes dos mesmos cargos e funções
e que continuaram em serviço, sendo postulado o
pagamento das consequentes diferenças salariais e
suas repercussões apenas a partir das datas de
seus respectivos retornos ao serviço. 4. Anistia
significa perdão e esquecimento: por isso mesmo,
e como é absolutamente consensual na doutrina
mais autorizada de Pontes de Miranda, Carlos
Maximiliano e Heleno Cláudio Fragoso, a
interpretação das leis de anistia não pode ser
restritiva, devendo ser, ao contrário, a mais
ampla e generosa possível em favor dos
anistiados, sob pena de não se lhes dar a devida
eficácia, especialmente em face dos motivos que
terão ensejado sua edição. 5. A readmissão dos
empregados anistiados em cinco níveis salariais
abaixo daqueles em que se encontram enquadrados
os demais empregados da reclamada que atuam nos
mesmos cargos e funções não se afigura
justificada, nem razoável, causando inexplicável
distorção nos próprios quadros funcionais da
empresa pública reclamada. Como se sabe, é
exatamente a falta de razoabilidade de uma
distinção entre dois sujeitos o que caracteriza a
existência de uma situação anti-isonômica ou
discriminatória. 6. Por fim, não se pode ignorar
que, quando o artigo 6º da Lei nº 8.878/94
estabeleceu que a anistia aos empregados por ela
beneficiados só gerará efeitos financeiros a
partir do efetivo retorno à atividade e vedou sua
remuneração em caráter retroativo, assegurando-
lhes, desse modo, seu direito apenas à sua
readmissão ao serviço (e não sua reintegração),
não deixou de lhes assegurar a repristinação do
mesmo contrato de trabalho original que cada um
deles mantinha com os entes públicos federais
(tanto que é absolutamente pacífico que seu
retorno ao serviço não exige sua nova aprovação
em concurso público). Se assim é, o período de
seu afastamento do serviço (ou seja, o período
depois de sua dispensa e antes de seu retorno ao
trabalho), deve, necessariamente, ser
considerado, do ponto de vista jurídico, um
período de genuína suspensão do único contrato de
trabalho mantido pelas partes (em que, como se
sabe, não há, por parte do empregado, a obrigação
de prestar serviços, mas também, em contrapartida
e como regra geral, não há obrigação, por parte
do empregador, de lhe pagar salários). Isso, por
sua vez, exige que se observe o disposto no
artigo 471 da CLT, que, na qualidade de regra
geral aplicável a todos os casos de suspensão e
de interrupção do contrato de trabalho e que foi
editada exatamente com a finalidade de dar
aplicação prática ao princípio da isonomia nessas
situações, dispõe que -ao empregado, afastado do
emprego, são asseguradas, por ocasião de sua
volta, todas as vantagens que, em sua ausência,
tenham sido atribuídas à categoria a que
pertencia na empresa- - fundamento legal que,
aplicando-se ao caso dos autos, é por si só mais
do que suficiente para determinar a procedência
do pedido inicial em exame. 7. Na hipótese,
portanto, não há nenhuma incompatibilidade da
pretensão inicial em tela com a Lei da Anistia e
a Orientação Jurisprudencial Transitória nº 56 da
SBDI-1 desta Corte, sendo perfeitamente possível,
após o conhecimento do recurso de revista por
divergência jurisprudencial, condenar a reclamada
a proceder ao enquadramento funcional e salarial
de todos os empregados anistiados que a ela
retornaram ao serviço, nos termos da Lei nº
8.878/94, considerando aqueles cinco níveis de
progressão funcional concedidos sob o rótulo de
promoção por merecimento, nos termos e para os
efeitos do artigo 471 da CLT, bem como a pagar-
lhes as diferenças salariais em razão dessas
promoções ocorridas, nos termos em que foram
concedidas aos seus demais empregados em
atividade e somente a partir da data do efetivo
retorno de cada anistiado ao emprego, com
reflexos desses valores sobre as demais vantagens
trabalhistas decorrentes de lei e de normas
coletivas de trabalho, parcelas vencidas e
vincendas, tudo como se apurar em liquidação.
Recurso de revista conhecido e provido.
(Processo: RR - 5064-41.2010.5.10.0000 Data de
Julgamento: 26/10/2011, Relator Ministro: José
Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 02/12/2011).

Ou seja, seguindo esta linha de raciocínio, efeitos


financeiros significaria condenar o réu a pagar vantagem
diretamente decorrentes do período de afastamento, como
salário, depósitos do FGTS, férias, décimo terceiro e
outros. Porém, considerar o período de afastamento para
efeito de promoção, não significa que a readmissão gera
efeitos financeiros.

Isto é, não gera efeitos financeiros de forma direta, ainda


que possa gerar efeitos financeiros de forma indireta.
Porém, por uma questão lógica, se temos um evento A, com
uma causa B, a qual antecedeu outro evento C, não podemos
falar que C causou A. Até por que, no caso dos autos, o
evento A pode contar com outros elementos constitutivos e
mesmo excludentes, concorrendo portanto com B para a sua
ocorrência.

Assim, definitivamente, não se pode afirmar que reconhecer


o período de afastamento para fins de promoção gera efeitos
financeiros. Até porque tais efeitos somente podem ocorrer
após a readmissão, o que se mostra absolutamente e
plenamente coerente com o art. 6º, da Lei 8.878/1994, bem
como deve ser observada a prescrição.

Portanto, entendo devido, em favor dos substituídos, para


efeito de promoção, o reconhecimento do período entre a
dispensa e a readmissão na forma da Lei 8.878/1994.

Porém, quanto à pretensão condenatória, verifico que não há


controvérsia, por um lado, quanto à existência de outros
requisitos, bem como esta pode ser por promoção ou
antiguidade. Além disto, é preciso considerar as
particularidades da situação de cada substituído.

Tal situação inviabiliza completamente a presente


definição, tanto na presente fase cognitiva, quanto na fase
de execução. E dessa maneira, entendo que não há como
acolher a pretensão condenatória. Assim, cabe a cada
substituído postular, seja pela via administrativa, seja
pela via jurisdicional, a pretensão condenatória,
considerando o período de afastamento.

Por conseguinte, julgo procedente em parte os pedidos, para


reconhecer em favor dos substituídos, respeitada a
limitação estabelecida no item II.1.1, a consideração, para
efeito de promoção por antiguidade ou merecimento, do
período entre a dispensa e a readmissão na forma da Lei
8.878/1994.

II.2.2- Do acesso à formação:

Alega o autor que o réu não vem oportunizando aos


substituídos cursos de graduação e pós graduação promovidos
pela “Uniserpro”. Postula a condenação na obrigação de
fazer correspondente à concessão de oportunidade para
realização dos referidos cursos.

O réu negou a prática discriminatória imputada.

Por um lado, conforme o disposto nos arts 818 da CLT e 333,


I do CPC, o ônus da prova recai sobre o autor, não havendo
elementos que permita reconhecer a alegada discriminação de
forma geral, contra todos os substituídos. Por outro lado,
entendo que a demonstração das discriminações alegadas
precisam ser analisadas e demonstradas de forma
individualizada. Assim, considero que no âmbito da presente
ação não há como firmar tal juízo.

Assim, entendo que não há como acolher a pretensão, de modo


que julgo improcedente o pedido.

II.2.3- Do dano moral coletivo:

Alega o autor que as condutas imputadas ao réu configuram


dano moral coletivo. Postula a condenação ao pagamento de
indenização.

O réu negou a prática de dano moral coletivo.


Não obstante o acolhimento parcial do primeiro pedido,
reconhecendo a existência de macrolesão, primeiramente
entendo que não há elementos que permitam definir o seu
alcance, exatamente pela falta de condições de identificar
a real situação de cada substituído.

Por outro lado, entendo que não se trata de conduta dolosa,


praticada com a nítida intenção de lesar direitos, pautada
pela má fé. Trata-se na verdade de identificação do alcance
de norma pouco precisa e limitada, a ser aplicada por um
administração público que conta com uma série de restrições
na prática de seus atos.

Portanto, entendo que, no presente cenário, não há como


reconhecer a responsabilidade civil de natureza coletiva.

Por conseguinte, entendo que não há como acolher a


pretensão, de modo que julgo improcedente o pedido de
condenação ao pagamento de indenização por dano moral
coletivo.

III- DISPOSITIVO:

Em face do exposto, julgo procedentes os pedidos, nos


termos da fundamentação que integra o presente dispositivo,
para declarar o direito ao cômputo do período entre a
dispensa e a readmissão nos termos da Lei 8.878/1994 em
favor dos substituídos, julgando improcedentes os demais
pedidos.

Ante a natureza eficacial da presente decisão não há fato


gerador de tributo.

Custas pelo réu no valor de R$ 2.000,00 (2% de R$


100.000,00, arbitrado, tomando como parâmetro o acolhimento
parcial dos pedidos e considerando que o comando principal
da sentença envolve eficácia declaratória).

Intimem-se as partes, sendo o autor pessoalmente.

Brasília, 24/11/2014.
Rogerio Neiva Pinheiro

Juiz do Trabalho Substituto

01ª Vara do Trabalho de Brasília-DF

Processo nº 0000692-41.2013.5.10.0001

Vistos os autos.

Trata-se de ação coletiva proposta pelo Ministério


Público do Trabalho – PRT da 10ª Região – em face do
SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE DADOS/SERPRO em que se
relata a ocorrência de irregularidades e discriminações no
retorno dos anistiados ao órgão,visto que não assegurado o
tempo de afastamento para fins de promoções na carreira.

Assim, o autor requer, via antecipação dos efeitos


da tutela, que:

"a) o réu conceda aos anistiados as promoções por antiguidade e merecimento a que
fariam jus caso não tivessem sido afastados, nos termos concedidos aos demais
trabalhadores do SERPRO, observando, consequentemente, o enquadramento
correspondente, ou seja, acrescido de tantos quantos forem os níveis que tenham
recebido os empregados paradigmas, assim entendidos aqueles que permaneceram
ativos na empresa, observada, ainda, a devida correspondência entre os
cargos/funções;
b) o réu efetue o pagamento aos empregados anistiados das diferenças salariais e
repercussões legais sobre férias acrescidas de um terço, (...)decorrentes das promoções
a que tais obreiros teriam direito se em efetivo trabalho estivessem (…);

c) o réu disponibilize aos anistiados cedidos a outros órgãos o acesso a cursos de


capacitação e treinamento, graduação e pós-graduação, em igualdade de condições
com aqueles que prestam serviço internamente, sem qualquer tipo de discriminação.”
(fl. 39)

Em aditamento à inicial, o MPT requer a extensão da


letra “c” aos empregados que, embora não sejam anistiados,
também se encontrem cedidos a outros órgãos.

Contudo, em cognição sumária, inerente às decisões


desta natureza, não vislumbro a configuração dos
pressupostos constantes do artigo 273 do CPC, ensejadores
da providência aqui desejada, em especial, pelo perigo da

irreversibilidade do provimento antecipado, condição


essencial básica para o cabimento do requerimento.

De outro lado, as alegações contidas na

exordial demandam ampla discussão, inexistindo o caráter de


urgência que justifique a antecipação de tutela sem que a
questão seja firmada ao menos após análise dos argumentos
de defesa do réu.

Ante o exposto, indefiro o pedido de tutela


antecipada.

Inclua-se o feito na pauta de audiência inaugural do


dia 19/08/2013 às 13:35 horas, sob as cominações do art.
844 da CLT c/c 319 do CPC.

Notifique-se o reclamado.

Publique-se.

Brasília, 17 de maio de 2013.


DÉBORA HERINGER MEGIORIN

Juíza do Trabalho

Você também pode gostar