Você está na página 1de 3

“CONDIÇÃO”

Vivendo embriagados
Deste mar trimegisto
Em que navegamos
Sem remédio

Sua densa névoa


Invade nosso peito
E enche os pulmões de desatinos

As lânguidas vontades ruminando


De forma vaga ideias revolvendo
À estrada de damasco caminhando
E ao oceano tudo devolvendo

Os planos das sagradas entidades


Chovendo e caindo nas cabeças
E a nós cabendo aceitar a sina
Saímos do abismo ao parapeito

Do jeito que nos ruge o desencanto


Provamos deste dissabor da vida
Até que golpeados contra um canto
Lançamo-nos às ondas mais revoltas

Conhecedor das pampas


Sou filho dos labores
A calma vésper chama
E eu vou à Babilônia
As curiosas cores
Do pôr do sol dos olhos
Do derradeiro homem
Que adentra nas veredas

Dos ditos e desditos


Que tem a alma humana
A flor de um só viajante
Que erra se arriscando.

“FALSA FALHA”
Não sei direito quem sou
Muito menos quem posso
Ou poderia ser

Talvez até suspeitasse


Se soubesse
Por onde vou
Se tivesse
Uma verdade sólida, imutável
Para crer

D’onde eu vim sou deslocado


Pr’onde eu fui sou forasteiro
Eu sou mesmo é inacabado
Um selvagem em cativeiro

Um rebelde inconformado
Desalinhado
Infeliz roteiro
De quem questiona a identidade
Mesmo de dentro do formigueiro

Seria falha deste sistema?


Ou falsa falha bem programada?
Sou um produto da epidemia
De quem já nasceu
Direcionado
Prensado
Enlatado
Na esteira rolante

Colocado em linha reta


Cercado de agravantes

Tento sair
Tento fugir
Mas é estreita a plataforma
Com suas barreiras e suas travas
As engrenagens
E suas normas.

Você também pode gostar