Você está na página 1de 28

Em Nome de Deus

Eu nunca pensei que pudesse querer Sem ser João Batista, você batizou

Alguma mulher como quero você Meu corpo na crista das ondas do mar

Se o mago soubesse juntasse o meu nome E aí me abriu feito ostra


em "S"
E colheu minha pérola pra Yemanjá
Ao seu nome em "C"
Agora que estou à mercê de sua luz
Nas cartas de todo tarot que houver
Em nome das águas lá de Bom Jesus
Em todo o I-Ching eu podia não crer
Em nome de Deus, me carregue
Mas tudo é tão verde em seus olhos
Me pregue em sua cruz
Não dá pra não ver
Em nome de Deus, me carregue
Mas tudo é tão verde em seus olhos
Me pregue em sua cruz
Não dá pra não ver
Em nome de Deus, me carregue
Mas tudo é tão verde em seus olhos
Sem ser João Batista, você batizou
Você que se esconda, que eu vou procurar
Meu corpo na crista das ondas do mar
Você nem se iluda, que eu vou lhe
E aí me abriu feito ostra
encontrar
E colheu minha pérola pra Yemanjá
Você pode ir e sair e sumir por aí
Agora que estou à mercê de sua luz
Que não vai se ocultar
Em nome das águas lá de Bom Jesus
Eu vejo seu rastro onde ninguém mais vê
Em nome de Deus, me carregue
Eu pego carona até na Challenger
Me pregue em sua cruz
E vou nos anéis de Saturno buscar por Em nome de Deus, me carregue
você Me pregue em sua cruz
Em nome de Deus, me carregue
E vou nos anéis de Saturno buscar por
você

E vou nos anéis de Saturno


Roda Morta

O triste nisso tudo é tudo isso E as moscas mortas no conhaque que eu


herdei dos ancestrais
Quer dizer, tirando nada, só me resta o
compromisso E as hordas de demônios quando eu durmo

Com os dentes cariados da alegria Infestando o horror noturno dos meu


sonhos infernais
Com o desgosto e a agonia da manada dos
normais Eu sei que quando acordo eu visto a cara
falsa e infame
O triste em tudo isso é isso tudo
Como a tara do mais vil dentre os mortais
A sordidez do conteúdo desses dias
maquinais E morro quando adentro o gabinete

E as máquinas cavando um poço fundo Onde o sócio o e o alcaguete não me


entre os braçais deixam nunca em paz

Eu mesmo e o mundo dos salões coloniais O triste em tudo isso é que eu sei disso

Colônias de abutres colunáveis Eu vivo disso e além disso

Gaviões bem sociáveis vomitando entre os Eu quero sempre mais e mais


cristais
O triste em tudo isso é que eu sei disso
E as cristas desses galos de brinquedo Eu vivo disso e além disso
Eu quero sempre mais e mais
Cuja covardia e medo dão ao sol um tom
Mais e mais
lilás

Eu vejo um mofo verde no meu fraque


Polícia Bandido Cachorro Dentista

Eu tenho medo de polícia, de bandido, de cachorro e de dentista

Porque polícia quando chega vai batendo em quem não tem nada com isso

Porque bandido quase sempre quando atira não acerta no que mira

Porque cachorro quando ataca pode às vezes atacar o seu amigo

Porque dentista policia minha boca como se fosse bandido

Porque bandido age sempre às escuras como se fosse cachorro

Porque cachorro não distingue o inimigo como se fosse polícia

Porque polícia bandideia minha boca como se fosse dentista

Dentista, dentista...

Eu tenho medo de polícia, de bandido, de cachorro e de dentista

Porque polícia quando chega vai batendo em quem não tem nada com isso

Porque bandido quase sempre quando atira não acerta no que mira

Porque cachorro quando ataca pode às vezes atacar o seu amigo

Porque dentista policia minha boca como se fosse bandido

Porque bandido age sempre às escuras como se fosse cachorro

Porque cachorro não distingue o inimigo como se fosse polícia

Porque polícia bandideia minha boca como se fosse dentista

Dentista, dentista...
Eu tenho medo...
Eu tenho medo...
Brasília

Quase que ando sozinho por todos os bares Quero viver pra saber

Freqüento lugares, namoro suas filhas, E conhecer Brasília


Brasília
Ver o que há, Paranoá
E posso dizer que começo a voar
Lago de sol, noite, lua
Sossegado em seu avião
O olho do amor desconhece a armadilha
E mesmo com o ar desse jeito tão seco
Assim vim ver Brasília
Consigo cantar no seu chão
Quase que me sinto bem distraído em suas
Quase que me sinto em casa em meio a quadras
suas asas
Tão bem arrumadas com suas quadrilhas,
E "dáblius" e "eles" e eixos e ilhas, Brasília
Brasília
Concreto plantado no asfalto do alto
Cidade que um dia eu falei que era fria
O céu do planalto onde estou
Sem alma, nem era Brasil
Aqui na cidade dos planos
Que não se tomava café numa esquina
Conheço um cigano que não se enganou
Num papo com quem nunca viu

Sei que preciso aprender


Magia Pura

Qual a diabrura, que loucura empregaste pra eu ficar afim

Quantas cartomantes consultastes pra me seduzir?

Foi brilho de lua que roubaste pra brilhar teus olhos tanto assim

Que magia pura foi aquela que eu não soube mais como dormir?

É que eu passei a noite inteira sem te ver

E sem compreender, estava do teu lado

Sei que fui logrado por não ter estado

Mas que pude fazer?

Mas que pude fazer?

Qual o barro que o escultor maior usou, mulher, pra te esculpir?

Quantos idiomas tu usaste pra me traduzir?

Mostre a Mona Lisa de onde tiras o sorriso que me faz batom...

Diga por favor como me inspiras a sonhar com algo assim tão bom

É que eu passei a noite inteira sem te ver


E sem compreender, estava do teu lado
Sei que fui logrado por não ter estado
Mas que pude fazer?
Mas que pude fazer?
Mas que pude fazer?
Rosa Púrpura de Cubatão

Óh, minha amargura, minha lágrima futura

Vai morrer a criatura que lhe amar

Dona do universo, pobre rima do meu verso

Tudo que eu quiser lhe peço sem ganhar

Minha noite escura, meu barulho de fritura

Minha rosa púrpura de Cubatão

Ó, primeira dama, o retrato de quem ama

É a cama, o lençol e o cobertor

Musa em que me inspiro e por isso mesmo viro

Alvo fácil pro seu tiro, charlatã

Chama em que me queimo

Confissão de amor que teimo em evitar, qual maçã

Conto-do-vigário, ilusão de operário

Hora extra de trabalho em construção civil

Ligação direta pra roubar minha bicicleta

A completa dedo-duro do patrão mais vil

Santa mentirosa, a mentira mais gostosa

Eu caí em sua prosa sem sentir

Mas se Deus é justo, você vai levar um susto

Quando for saber o custo de mentir

Fruta no caroço, overdose no pescoço

Acidente nuclear de Chernobyl

Grampo de escuta, dose dupla de cicuta

Você quer de mim somente amor servil

Tão bela menina que não passa da mais fina


E nebulosa filha desse miserê
Eu, de minha parte, já peguei meu estandarte
E vou sambar sem você
Muito Além do Jardim

Nosso amor morreu tão cedo Foi novamente o tapa brutal da dor

Durou o tempo exato da agonia, do Nosso amor morreu tão cedo


Tancredo
Durou o tempo exato da agonia, do
Foi pro espaço muito além do jardim Tancredo

Desafinou, quebrou o instrumento Foi pro espaço muito além do jardim

Nosso amor não teve medo Desafinou, quebrou o instrumento

Foi fulminante como um raio em noite, Foi um tempo de um brilho intenso,


violento embriagador

Em tão pouco tempo e tão feliz quanto sim Justo quando eu me aclimatava o ar faltou

Um desafio a mais ao sofrimento No instante em que acelerava, o sinal


fechou
Foi um tempo de um brilho intenso,
embriagador Peixe que fora d'agua me escapou

Justo quando eu me aclimatava o ar faltou No momento em que me sentava, o filme


acabou
No instante em que acelerava, o sinal
fechou Foi como um edificio novo que desabou
(desabou, desabou, desabou)
Peixe que fora d'agua me escapou
Oh! Foi como o incontrolavel fogo que se
No momento em que me sentava, o filme
apagou
acabou
Foi novamente o tapa brutal da dor
Foi como um edificio novo que desabou
(desabou, desabou, desabou) Nosso amor morreu tão cedo, tão cedo
Nosso amor morreu tão cedo, tão cedo, oh!
Foi como o incontrolavel fogo que se
Nosso amor morreu tão cedo
apagou
Real Beleza

Você é assim como a música Uma canção para o povo da rua

Deus fez para se cantar Que mais erudita não há

Uma canção para o povo da rua Vejo-lhe agora estranha pintura

E mais erudita não há Que sai da moldura escapa pro ar

Quem não ouviu essa tal melodia É um Van Gogh da fase mais dura

Não sabe que um dia irá desandar Que sem a loucura não dá

Vem cá de dentro minha voz mais bonita Eu não sei explicar

A voz de quem ousa cantar Sei como dói meu amor de poeta

Como quem reza Se vê linha reta

Se eu revelar o que vi em sua alma Quer logo entortar

Depois do desejo e se eu tirar Meu coração é de quem não tem cura

Num simples beijo seu batom vermelho Procura e torna a procurar

O espelho só refletirá E você nunca está lá

Sua real beleza Você é assim como a música


Que Deus fez para se cantar
Você é assim como a música
Uma canção para o povo da rua
Que Deus fez para se cantar E mais erudita não há
Pavio do Destino

O bandido e o mocinho Não são mais dois inocentes


São os dois do mesmo ninho Não se falam cara a cara
Correm nos estreitos trilhos Quem pode escapar ileso
Lá no morro dos aflitos Do medo e do desatino
Na favela do Esqueleto Quem viu o pavio aceso
São filhos do primo pobre Do destino?
A parcelo do silêncio Do destino?
Que encobre todos os gritos O tempo é pai de tudo
E vão caminhando juntos E surpresa não tem dia
O mocinho e o bandido Pode ser que haja no mundo
De revólver de brinquedo Outra maior ironia
Porque ainda são meninos O bandido veste a farda
Quem viu o pavio aceso Da suprema segurança
Do destino? O mocinho agora amarga
Do destino? Um bando, uma quadrilha
Com um pouco mais de idade São os dois da mesma safra
E já não são mais como antes Os dois são da mesma ilha
Depois que uma autoridade Dois meninos pelo avesso
Inventou-lhes um flagrante Dois perdidos valentinos
Quanto mais escapa o tempo Quem viu o pavio aceso
Dos falsos educandários Do destino?
Mais a dor é o documento Do destino?
Que os agride e os separa
Quero Encontrar Um Amor

Quero encontrar um amor

Daqueles que não batem na porta pra entrar

Aquele que não exita em espantar a visita que me visitar

Seja um cordeiro e seja um leão

Um bicho do mato e de estimação

E pode ser que me queira

Ou me faça dormir na esteira estendida no chão

Quero encontrar um amor

Misto de samba leve com heavy metal

Que ponha as unhas de fora

Mas no "H" da hora me venha total

Que tenha um ar diferente do meu

Que seja um canal aberto pro céu

E sempre na geladeira um vinho de primeira roubado da adega de Deus

Roubado

Quero encontrar um amor

Que só tenha motivos para me evitar

Algo de samba de breque um jeitão de moleque, trajes de escolar

Um CDF e um fora da lei


Aonde encontro este amor eu não sei
É num barzinho lá em cima ou na próxima esquina
Eu só sei que eu encontro o meu bem
Quem É do Amor

Quem é do amor não engana

Ama mesmo à duras penas

Por isso não são pequenas

As doces vezes do amor

Quem é do amor é mais quente

Viaja contra a corrente

Tem sangue de água ardente

Nas doces veias do amor

Quem é do amor tem o nome

De Raoni da floresta

Ruschi do espirito santo

Da medicina da selva

Quem é do amor é mais simples

Tem uma cara de nuvem

E não permite que sujem

O verde da sua relva

Quem é do amor somos nós

Consolo dos idiotas

Chave de se abrir as portas

Dupla que se satisfaz

Que amor assim é pros vivos


Pros rituais pros sentidos
Não é para ser escrito
Não é pros livros que se faz
Não é pros livros que se faz
Cruel

Tudo cruel, tudo sistema Doce de sal, lágrima presa

Torre Babel, falso dilema O que eles falam não se deve nem ouvir

É uma dor que não esconde o seu papel Verbo mentir

Morro Borel Menino é bom ficar de olho aí

Eu subo e nunca estou no céu Que tudo é desse mundo

Tudo João, nada na mesa Surpresa também

Deu no jornal, mãos na cabeça Espinho é bem mais fundo

Um marginal que já não pode mais fugir Destino também (destino também)

Vai reagir O amor tá quase mudo

Menino, é bom ficar de olho aí Minha voz também

Que tudo é desse mundo Cruel é isso tudo

Surpresa também Que tudo é desse mundo

Espinho é bem mais fundo Surpresa também

Destino também (destino também) Espinho é bem mais fundo

O amor tá quase mudo Destino também

Minha voz também O amor tá quase mudo


Minha voz também
Cruel é isso tudo
Cruel é isso tudo
Tudo tão mal, tão sem beleza
Uma Quase Mulher

Mulher você entrou na minha vida Sem mas receio, esse amor não quero não

Como quem faz a ferida morde e sopra e Procuro compreender se eu mereço


diz que não
O que não teve nem começo nem história
Eu fui a ilusão mal sucedida de perdão

Você foi a chuva miúda que alagou meu Mulher esta canção é pra lembrar
coração
Que eu não vou mais lhe procurar
Eu tenho que poder amar de novo
Que agora eu vou me dar a mão, hum
Meu amor é meu socorro e isto vai
Como se pode amar uma pessoa
acontecer
Uma mulher que não soa como tal, mas
Você fugiu e desistiu de tudo
como fã
Se eu não era do seu mundo era só você
Uma quase mulher como se ama
dizer, huum
Se ela nunca quis a cama, se ela não quis a
Como se pode amar uma pessoa
maçã
Uma mulher que não soa como tal, mas
Meu Deus que sonho louco que eu tive
como fã
Pus meu carro no declive sem sequer o
Uma quase mulher como se ama
freio de mão.
Se ela nunca quis a cama, se ela não quis a
E amei como se o amor fosse o esteio da
maçã
vida
Meu Deus que sonho louco que eu tive
Sem mas receio, esse amor não quero não
Pus meu carro no declive sem sequer o
Não, não, não, não, não
freio de mão
Não, não, não, não, não
E amei como se o amor fosse o esteio da
vida
Maiúsculo

Como é maiúsculo Sem endereço

O artista e a sua canção Como é que pode

Relação entre Deus e o músculo Não fazer mal também

Que faz poderosa a sua criação Tenho meus vícios

Pensando bem Vivem dentro de mim esses bichos

É um mistério São o pai e a mãe dos meus lixos

Como é misterioso o coração E às vezes me levam de mal a pior

Como é minúsculo Pergunto quem

O olhar de quem vive no escuro Não sabe disso

Um sujeito malvado e duro Os momentos em que a vida não tem dó

Alguém machucado como não ter um bem Solto meus bichos

Não tem porém Pelas músicas quando me aflijo

Mas tem um tédio Mas um homem sem esse feitiço

Não ser vítima do assédio de ninguém E sem um carinho a que recorrer

Quase não dorme Pode matar

Vive ao avesso Querer morrer

Medo conhece bem Pois perdeu todo sentido de vive

Você também pode gostar