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RESUMO
Este estudo apresenta os resultados das atividades experimentais desenvolvidas por acadêmicos
do Curso de Licenciatura em Química nas aulas de Didática durante a pandemia. Foram realizados
três experimentos utilizando materiais de fácil acesso, de baixo custo e presente no cotidiano dos
acadêmicos. O 1º experimento consistia na produção de álcool a partir da fermentação da cana-de-
açúcar, o 2º na confecção de um polímero e a 3º no preparo de um sabão reutilizando óleo de
cozinha. Os experimentos se configuraram estratégias didáticas viáveis para a compreensão de
alguns conceitos relacionados com a química. Deixaram evidentes que é possível buscar novas
estratégias de ensino para mediar o conhecimento, fortalecer a formação e a aprendizagem dos
estudantes neste momento de pandemia.
INTRODUÇÃO
Este estudo é resultado das atividades propostas pela disciplina Didática, oferecida aos acadêmicos
do Curso de Licenciatura em Química do Centro de Estudos Superiores de Parintins-CESP,
vinculado à Universidade do Estado do Amazonas-UEA. Esta disciplina é indispensável nos
cursos de licenciaturas em função das dinâmicas que envolvem elementos fundamentais da prática
docente como: formação e aplicação de recursos didáticos e pedagógicos, aprofundamento de
questões relacionadas com o ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. Ela se apresenta no contexto
das licenciaturas em geral, como processo ativo e dinâmico, opondo-se as estratégias e
procedimentos mecânicos e lineares que ainda hoje estão presentes nas escolas e nos cursos que
tratam da formação inicial de professores (VEIGA et al., 2007). Na perspectiva de Libâneo (2015),
a Didática se configura uma disciplina integradora pelo fato de reunir um conjunto de
conhecimentos vinculados a outras áreas, como a pedagogia, psicologia, sociologia e filosofia que
se entrelaçam e orientam a ação docente.
Os resultados desta experiência mostram que a formação inicial de professores vai além das
estratégias mecânicas e obsoletas de ensino, que é preciso se pensar numa nova formação docente
que permita olhar e considerar o aprendente como sujeito ativo na construção do conhecimento.
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MATERIAL E MÉTODOS
Considerando o caráter aplicado deste estudo, adotou-se uma metodologia quali-quantitativa pelo
fato do estudo se pautar na apresentação de informações quantitativas que envolvem a
experimentação como método de procedimento e coleta de dados. A observação e a análise
descritiva dos resultados atenderam aos pressupostos da pesquisa qualitativa, que de acordo com
Minayo (2001) e Gil (2019), considera aspectos da realidade social (interações, comportamentos
etc.) que não podem ser quantificados. Enquanto que, na pesquisa quantitativa, o pesquisador
recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno e as relações entre as
variáveis (FONSECA, 2002). Essas informações justificam a opção pela combinação desses dois
tipos de pesquisas.
Para produzir o álcool, foi construído um destilador utilizando mangueira de silicone, garrafas PET
de 2L, resina epóxi e fogão. Foram numeradas duas garrafas PET`s (1 e 2L) para receber o caldo
de cana. Na 1ª garrafa, foram adicionados 530mL de caldo de cana e 2g de fermento biológico, a
mistura foi agitada e mantida em repouso por 8 horas. Na 2ª garrafa, foram adicionados 300mL de
caldo de cana e 9g de fermento biológico. A garrafa com essa mistura ficou aberta e permaneceu
em repouso por 8 horas. O conteúdo da 2ª garrafa foi transferido para um recipiente de vidro que
foi acoplado ao destilador e aquecido em banho-maria para destilação do álcool.
Para confeccionar o polímero, foram utilizadas duas batatas inglesas, 500mL de água, 10mL de
vinagre de álcool, 10mL de glicerina líquida pura, anilina de cor vermelha, liquidificador, filtro de
papel, forma de plástico, faca e uma colher de pau. As batatas foram descascadas e trituradas em
300mL de água, a mistura foi deixada em repouso por 15min. até decantação do amido. O
sobrenadante e outros componentes da mistura foram retirados e restante do material foi filtrado.
O amido foi desidratado em temperatura ambiente, pesado e transferido para uma panela onde
foram adicionados 200mL de água, vinagre e glicerina. A mistura foi levada ao fogo em constante
agitação até apresentar aspecto transparente. Após esse processo foram adicionadas gotas de
anilina para dar cor ao produto. O material foi transferido para um recipiente para secar em
temperatura ambiente durante dois dias.
Na produção do sabão foram utilizados os seguintes materiais: 1L de óleo de cozinha saturado,
200mL de água fervente, 200g de soda cáustica, sabão em pó, balde de plástico, colher de pau e
bandeja de alumínio. A soda foi adicionada lentamente no balde com água fervente e agitada até
completa dissolução depois, óleo e sabão em pó. A mistura foi homogeneizada até formar uma
pasta consistente e posteriormente, transferida para uma bandeja de alumínio forrada com papel
por 24 horas.
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RESULTADOS
A pandemia do novo coronavírus provocou um redesenho das práticas docentes decorrente das
metodologias que envolvem o ensino remoto. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) divulgou que 72,8% das escolas estaduais e 31,9% das
municipais implementaram a estratégia de aulas síncronas no Brasil (BRASIL, 2020).
Essa dinâmica permitiu que os professores de diferentes lugares do país utilizassem plataformas
digitais para mediar o conhecimento e manter o contato com os estudantes durante a pandemia.
Muitos deles não continuaram os estudos, talvez por problemas pessoais relacionados por
exemplo, com o falecimento de um membro da família, de um parente, de uma pessoa conhecida
que contraiu o vírus. Outros desistiram por conta da ansiedade, da depressão e do medo e/ou por
falta de afinidades com a metodologia adotada pelos professores pois, estavam acostumados com
a rotina da aula presencial. Mesmo assim, os docentes buscaram novos caminhos para garantir a
formação e a aprendizagem dos estudantes.
No curso de licenciatura em Química do CESP/UEA, as aulas aconteceram de forma intercalada.
Algumas vezes, os conteúdos disciplinares foram enviados antecipadamente por e-mail, via
whatsapp, telegram etc., para que os estudantes pudessem estudá-los e na hora das aulas ao vivo
(Google Meet) compartilhar o aprendizado. Essa estratégia didática possibilitou flexibilizar os
conteúdos e organizar atividades que fossem possíveis de serem realizadas nos lugares onde se
encontravam os estudantes.
Nas aulas remotas foi possível trabalhar aspectos e concepções importantes da didática, sobre as
práticas pedagógicas utilizadas no ensino de química e planejamento escolar. Esta disciplina não
reserva horas para as atividades práticas, porém, o eixo “práticas pedagógicas no ensino de
química” possibilitou planejar atividades práticas que pudessem fortalecer o processo de formação
inicial dos futuros professores de Química. Entende-se com isso, a necessidade de oferecer espaços
que permitam a realização de práticas mesmo em disciplinas que não disponibilizam horas para
este tipo de atividade. Essas atividades associadas às aulas teóricas, mobilizam diferentes saberes,
teorias e conhecimentos específicos vinculados ao exercício da docência. Essa dinâmica foi
corroborada pelos resultados dos experimentos realizados pelos acadêmicos nas aulas de Didática
(Figura 1).
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A borracha nitrílica de acordo com Almeida (2019) é um copolímero de um dieno e de uma nitrila
insaturada, ou seja, é um elastômero sintético, que é obtido através da copolimerização em emulsão
de acrilonitrila e butadieno, formando copolímeros elastoméricos estáticos e acrilonitrila-
butadieno (NBR). Luvas de borracha nitrílica (borracha sintética), pertencem à classe das
borrachas especiais resistentes ao óleo e a abrasão. São recomendadas para uso durante o manuseio
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As luvas confeccionadas com policloreto de vinila (PVC) que é um material sintético (polímero)
pouco flexível, elástico, durável e que apresenta menos conformidade com a mão do que o látex.
Recomenda-se o uso para proteção contra a exposição mínima a fluidos corporais, agentes
infecciosos, sangue, ácidos e bases fortes, sais e álcoois, hidrocarbonetos alifáticos, gasolina,
tarefas de curta duração, na indústria de limpeza como barreira de encontro às bactérias e na
limpeza de material biológico perigoso. Não podem ser utilizadas para manusear solventes
alifáticos, aromáticos e clorados (BIT, 2011; OBSERVATÓRIO DA INDÚSTRIA, 2020).
Os resultados dos experimentos deixaram evidentes que é possível buscar novas estratégias de
ensino para mediar o conhecimento e fortalecer a formação e a aprendizagem dos estudantes neste
momento de pandemia. Ressalta-se que além dos conteúdos abordados nas três atividades
experimentais, é possível utilizar outros conceitos que envolvem a química e outras áreas de
conhecimento, conforme demonstrado abaixo (Figura 2).
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CONCLUSÃO
Este estudo foi muito importante para os estudantes do curso de Licenciatura em Química do
CESP/UEA, pois proporcionou uma experiência diferente que permitiu entender a ciência, por
meio de atividades experimentais simples e utilizando materiais do cotidiano e de baixo custo. A
dinâmica utilizada pelos professores de Didática mostrou que não se faz ciência somente em
laboratórios, com equipamentos, vidrarias e regentes convencionais. Na verdade, a ideia de ciência
é bem mais ampla e está presente em toda a construção da sociedade.
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, J. F. M. Avaliação das propriedades de sistemas à base de Poli(Ácido Lático) (PLA)
e Borracha Nitrílica (NBR) comercial com aplicação na indústria de embalagens termoformadas.
Tese (Doutorado), Universidade Federal do Rio De Janeiro-UFRJ, Instituto de Macromoléculas
Professora Eloisa Mano-Ima, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Polímeros.
Rio de Janeiro, 2019.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Censo
da Educação Básica - Impacto da Pandemia na Educação, Ministério da Educação, Assessoria de
Comunicação Social do Inep, 2020.
ECRI Institute. Surgical and Examination Gloves [on line]. 2006. Disponível em:
https://members2.ecri.org/ Components/HRC/pages/SurgAn21.aspx#appendixa. Acesso em
29/08/2021.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
SEQUINEL, R.; LENZ, G. F.; SILVA, F. J. L. D.; SILVA, F. R. Soluções a base de álcool para
higienização das mãos e superfícies na prevenção da Covid-19: compêndio informativo sob o
ponto de vista da Química envolvida. Sociedade Brasileira de Química. Química Nova, v. 43, n.
5, 2020.
VEIGA, I. P. A. (Org.). Lições de Didática. Papirus editora, 2007. (Coleção magistério: formação
e trabalho pedagógico.