Você está na página 1de 240

Selene

A p o s t i l a do
Professor

Imagem Ilustrativa
FUNDAÇÃO

GB
Selene_final.indd 1 30/01/2020 16:32
GEOGRAFIA do BRASIL
SELENE 017

1 AULA

Aula Caderno 1
1 e 2 Geografia: a dimensão territorial das sociedades
3 A posição geográfica do Brasil e suas consequências

Aula Caderno 2
4 O relevo e os solos brasileiros: características, manejo e degradação
5e6 Os climas e as bacias hidrográficas humanizadas no Brasil
7 As formações vegetais e sua humanização no Brasil

Aula Caderno 3
8 A geografia da população brasileira
9 A composição étnica e os movimentos da população no território
10 O espaço industrial no Brasil

Aula Caderno 4
11 As fontes de energia e o sistema técnico energético brasileiro
12 Urbanização e metropolização no Brasil
13 Os sistemas de transportes, comunicações e as relações comerciais do Brasil
814-1 RENATO SOARES / PULSAR IMAGENS

GEOGRAFIA DO BRASIL 1
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULAS 1 E 2

A partir deste ponto de vista, quando quisermos definir


RENATO SOARES / PULSAR IMAGENS

qualquer pedaço do território, devemos levar em


conta a interdependência e a inseparabilidade entre a
materialidade, que inclui a natureza, e o seu uso, que inclui
a ação humana, isto é, o trabalho e a política.
Milton Santos e María Laura Silveira. O Brasil: território e sociedade no início do
século XXI, 2005.

Geografia: a dimensão nacional e global. Seu objeto de estudo é o espaço geo-


gráfico, um produto social, ou seja, fruto de interações
territorial das sociedades sociais e naturais na superfície terrestre.
Sua composição envolve aspectos dinâmicos como o
Nem sempre foi fácil definir o objeto de estudo da movimento das populações, a organização das diversas
ciência geográfica. Ao longo de sua história, essa disci- atividades econômicas segundo as técnicas e as tecno-
plina de síntese, que reúne conhecimentos de diversas logias, as dinâmicas dos sistemas naturais e os sistemas
outras áreas, transitou por diferentes leituras acerca regulatórios (civil, fiscal e financeiro), que se materializam
de seu papel no campo das ciências e na interpretação tanto em objetos naturais – hoje humanizados pelo uso
da realidade, fruto de diferentes escolas filosóficas que – como em objetos, construídos pelo ser humano, que,
a influenciaram. Em um estudo “arqueológico” de ma- incorporando funções e tendo usos são chamados de
nuais escolares de Geografia, podemos encontrar desde sistemas técnicos espaciais ou sistemas de engenharia
abordagens mais naturalistas e descritivas, herança do (transportes, comunicações e energia, por exemplo).
positivismo e do determinismo alemão do século XIX, até Os objetos naturais se originam de processos e forças
da escola francesa, do estudo dos diferentes gêneros de que independem do homem, mas se constituem em
vida, também do século XIX, ambas fortemente marcadas recursos naturais ou matérias-primas que são utilizados
pela perspectiva do imperialismo e do neocolonialismo eu- pelas sociedades, transformando-os em riqueza. A forma
ropeu da época. No século XX, depois da Segunda Guerra dessa apropriação depende de como a sociedade está
Mundial, abrem-se outras perspectivas de estudo, como a estruturada quanto à divisão de suas diversas classes
da escola estadunidense, pragmática, cartesiana e estatís- sociais e quanto ao modo de produção e de trabalho.
tica, ou uma abordagem que incorpora a leitura marxista Assim, tais objetos naturais são transformados em
da realidade. Não se trata aqui de fazer um resgate pro- objetos sociais pelo uso e pela apropriação com que as
fundo da história do pensamento geográfico, mas apenas sociedades garantem sua reprodução material.
de situá-lo sucintamente no tempo e no espaço. Nesse
sentido, podemos falar em Geografias, no plural, pois, em
nossa passagem pelos bancos escolares, muitos de nós
aprendemos essa ciência sob diferentes perspectivas.
Hoje, sabemos que há uma ciência geográfica que se
propõe a superar o descritivismo e o localizacionismo
que resultaram em perguntas conhecidas do tipo “quais
são os afluentes da margem esquerda do rio Amazo-
nas?” ou “qual é a capital do Azerbaidjão?” ou “onde
SOFIA COLOMBINI
0016

fica a usina tal?”. Essa geografia renovada procura ser


um conhecimento mais elaborado, em uma perspectiva
mais explicativa e interpretativa da realidade. Seu arca-
bouço teórico e seu método de análise permitem uma
Parque Nacional das Sete Cidades (PI) – Mesmo as
leitura crítica do mundo, oferecendo elementos para o formações naturais são apropriadas pela sociedade, no
814-1

entendimento mais amplo da realidade nas escalas local, caso, pelo turismo ecológico.

2 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL

Os sistemas de engenharia constituem os chamados transformações do ponto da materialidade visível (aquilo


fixos territoriais e funcionam como verdadeiras próteses que efetivamente vemos) e das ações sociais (aquilo que
que permitem os fluxos de pessoas, mercadorias, capitais determina o que vemos) que o constituem em diferentes
e informações entre os diversos lugares, configurando momentos do desenvolvimento das técnicas que mode-
aquilo que conhecemos como redes. Os pontos que laram e modelam nosso espaço.
compõem a rede espacial podem ser considerados nós Para o professor Milton Santos (2003, p. 27), essa pe-
e têm uma hierarquia com base em sua importância eco- riodização se faz do seguinte modo:
nômica e política. Assim, em uma grande cidade, prédios
que sediam o poder público e institucional e sedes de Assim, ao longo da história da organização do territó-
grandes empresas de setores diversos são exemplos de rio brasileiro, três grandes momentos poderiam, grosso
nós dessa rede que estão no topo da hierarquia, assim modo, ser identificados: os meios “naturais”, os meios
como, em outra escala, as próprias metrópoles são os técnicos e o meio técnico-científico-informacional. Por
nós que estão no topo da rede territorial urbana de uma intermédio de suas técnicas diversas nos tempos e nos
região ou de um país. lugares, a sociedade foi construindo uma história dos
usos do território nacional.

Os meios naturais no Brasil


MICHAEL RUNKEL / ROBERT HARDING / GLOW IMAGES

Consideramos meio natural os espaços ocupados pelos


seres humanos nos primórdios de seu desenvolvimento.
Antes da presença humana, não podemos falar em meio
natural, pois foi o homem que atribuiu valor e definiu o
que é natural. Não há meio geográfico sem a presença
humana. O que chamamos de meio natural no Brasil se
refere ao momento em que esse território foi habitado
por grupos humanos de caçadores e coletores que viviam
embrenhados nas florestas (a Atlântica e a Amazônica,
primordialmente), nos campos cerrados e nas caatingas
Uma obra como os Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro, é do interior do território. Esses grupos deixaram poucos
parte do sistema técnico espacial ou de engenharia que
compõe a cidade. vestígios (por exemplo, os depósitos de conchas, restos
de alimentos, de animais e até de esqueletos humanos,

Conhecendo o território conhecidos como sambaquis), pois desenvolveram pou-


cas técnicas.
brasileiro: uma primeira
abordagem
Uma interpretação geográfica da realidade brasileira
exige compreender o modo pelo qual o espaço geográfico
brasileiro está hoje organizado, não só pela localização e
distribuição de seus objetos técnicos ou objetos naturais
humanizados, mas também pelas ações sociais que lhes
dão sentido, pelas dinâmicas contemporâneas ligadas às
necessidades das novas técnicas, carregadas de conteú-
THIGRUNER/WIKIPÉDIA

do científico e informacional que permeiam nosso territó-


rio. Assim, é possível fazer uma leitura profunda e crítica
do espaço geográfico brasileiro, vislumbrando possíveis
modos de intervenção para sua efetiva democratização.
O estudo e o conhecimento do território brasileiro
Depósito construído com conchas, o sambaqui no sítio
devem começar necessariamente por uma periodi- Figueirinha-I, em Jaguaruna (SC), atinge aproximadamente
814-1

zação histórica, para que possamos entender suas 15 metros de altura e se destaca na paisagem.

POLISABER 3
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2

Povos indígenas do Brasil na época do descobrimento

70° O 60° O 50° O 40° O

OCEANO
ATLÂNTICO

10° S

OCEANO 20° S
PACÍFICO Trópico de capricórnio

Tupi-Guarani

Aruak
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

Karib

Pano
30° S

Tukano
Charrua
Outros grupos
320 km

Principais grupos indígenas no Brasil à época do predomínio do meio natural.


Fonte: ALBUQUERQUE, M. M. et al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1983.

Os povos indígenas domesticavam animais e se dedi- tropicais, esses assentamentos indígenas viviam no ritmo
cavam ao plantio para garantir sua reprodução material, dos tempos lentos da natureza, a cujos desígnios se sub-
criavam caminhos para vencer distâncias e aprimoravam metia a satisfação de suas necessidades de sobrevivência.
um pouco mais a intervenção no território, mas ainda
prevaleciam as forças da natureza, direcionando e condi- Os meios técnicos no Brasil
cionando as ações humanas. Tais agrupamentos humanos
são os ancestrais de um grande número de etnias que se No Brasil, os diferentes meios técnicos se instalam
formaram em nosso território, vivendo de forma autóctone com base na necessidade da produção econômica de
e tribal, desenvolvendo técnicas de cultivo e navegando rios cada lugar, ajustada a lógicas e tempos da sociedade
que cortavam matas e cerrados. Os Tupis eram os agru- que, aos poucos, se impõe à natureza pelo desenvolvi-
pamentos mais numerosos, viviam no litoral e nas matas mento e pela expansão de técnicas, inventos e máqui-
atlânticas e amazônicas. A exemplo também dos Jês, que nas, resultando em um rearranjo da organização espacial
ocupavam os cerrados, caatingas e matas subtropicais e e das funções desses diferentes lugares.
814-1

4 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL

Primeiramente, esse novo arranjo tem a forma de um do Sul aumentava a produção nas áreas de colonização
arquipélago, onde há pontos ou manchas do território oficial imigrante italiana e alemã. Podemos identificar
com maior desenvolvimento técnico, sem muita articu- nesse momento a passagem do sistema manufatureiro
lação entre si, mas articulados com áreas secundárias de produção para o modelo industrial, configurando no
e, sobretudo, com o exterior. As demandas externas de Brasil uma Primeira Revolução Industrial.
produtos agrícolas e minerais originaram uma série de Mas é em São Paulo, graças à valorização do café nos
cidades e um parco aparelhamento do território, com mercados europeu e estadunidense, que a industrializa-
a instalação de serviços de governo, fiscalização e ção mais avançou no início do século XX. A imigração
controle das atividades econômicas e a construção de incentivada pelo Estado criou mão de obra qualificada,
algumas infraestruturas como ferrovias e portos. Assim, e os recursos obtidos com o café se converteram em
a Zona da Mata nordestina e o Recôncavo Baiano, no fábricas, ferrovias, portos e cidades. No comando desse
século XVII (Recife e Salvador); a mineração no interior, processo está São Paulo, lugar onde a modernização
onde hoje ficam os estados de Mato Grosso, Goiás e alcançou a produção e a circulação de mercadorias.
Minas Gerais, no século XVIII; a borracha na Amazônia, Associado aos transportes, o desenvolvimento das
no século XIX; e o café em São Paulo, no fim do século comunicações, com o telégrafo, marcou o início de um
XIX e início do XX, constituíam as principais “ilhas” de processo de integração nacional orquestrado por essa
maior desenvolvimento econômico do país, sem muita cidade, rompendo os limites naturais das distâncias e do
articulação com outras regiões. A falta de uma rede de isolamento. Tal urbanização aumentou a necessidade
transportes mais rápidos que possibilitasse tal articu- de fornecimento de energia elétrica para os bondes,
lação impediu a criação de uma rede urbana nacional. para a iluminação pública e mesmo para as indústrias,
O isolamento regional foi a marca preponderante da concorrendo para a instalação de inúmeras usinas
organização do território brasileiro no início de seu elétricas no país.
período técnico. Do ponto de vista demográfico, verificamos grandes
As maiores cidades e as regiões mais povoadas se mudanças, que resultaram da intensificação da urbani-
concentravam nas proximidades do litoral, consequên- zação e da industrialização nesse período. O aumento
cia do caráter de nossa colonização e dependência do crescimento vegetativo implicou uma melhor es-
econômica. As cidades mais interioranas como Belo truturação sanitária das cidades e um intenso êxodo
Horizonte e Goiânia foram planejadas, criadas pelo rural, fruto não só da atração exercida pelo trabalho
poder público, pouco refletindo o caráter da coloniza- industrial nas cidades, mas também em razão das es-
ção. Essas cidades se articulam no contexto da pas- truturas agrárias arcaicas onde prevalecia o latifúndio.
sagem do chamado modelo colonial de cidade para o Isso levou a uma redistribuição da população, com o
modelo republicano, no qual o poder público buscava abandono do campo impulsionado pelo desenvolvi-
reproduzir os modelos europeus de embelezamento e mento dos sistemas de transporte e comunicações,
higienização, com vistas a uma modernização do país. A que divulgaram os lugares melhores para se viver e
natureza ainda tinha um papel relevante na forma pela que eram acessíveis a todos.
qual nossa sociedade se organizava economicamente. Esse foi o início da formação da chamada Região
Entre fins do século XIX e início dos anos 1930, a Concentrada (Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste),
mecanização do território se intensificou com a cons- quando a pujança e a diversidade da indústria paulista
trução das estradas de ferro e o desenvolvimento transformou a capital do estado em uma metrópole e
da navegação a vapor. Esses sistemas de transporte aumentou sua integração com outras regiões do país.
imprimiram velocidade ao escoamento dos produtos, Recebendo imigrantes, oriundos sobretudo do Nordes-
permitindo uma acumulação mais rápida de capital. te, mas principalmente estreitando laços econômicos
Nesse momento, nos interstícios da economia agroex- com o Sul e o Sudeste do país, São Paulo comandava
portadora, tem início um surto industrial ainda muito a integração nacional, que caminhava a passos largos.
dependente de matéria-prima e, portanto, não neces- A partir dos anos 1940, a industrialização brasileira
sariamente urbano. No Nordeste, nas regiões de maior se consolidou com a liderança do Sul e do Sudeste,
concentração populacional, em razão da necessidade notadamente de São Paulo. Estabeleceu-se uma nova
de mão de obra, como na Bahia, se desenvolveram divisão territorial do trabalho. As indústrias paulistas
indústrias têxteis. No Sudeste, o Rio de Janeiro liderava e sulistas passaram a exigir cada vez mais matérias-
814-1

a produção industrial nacional e, no Sul, o Rio Grande -primas de outras regiões, principalmente do Nordeste.

POLISABER 5
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2

Os grandes centros urbanos que se estruturavam no 1950, as rodovias se firmaram como a matriz do trans-
Centro-Sul do país também exigiam uma agricultura porte e responsáveis pela integração dos mercados
que os abastecesse de alimentos e víveres produzidos nacionais. A própria construção de Brasília consolidou
em outras regiões. Houve um grande desenvolvimento essa tendência, pois tornou indispensável o estabeleci-
da agricultura no interior do estado de São Paulo. O mento de uma rede de estradas para garantir a afirma-
Nordeste se especializou em fornecer produtos pri- ção do Estado no conjunto do território e possibilitar
mários e mão de obra e, junto com outras regiões, se a expansão do consumo do que se produzia na área
constituiu em um mercado consumidor das mercado- mais industrializada. Antigas metrópoles litorâneas
rias produzidas no “centro”, concentrando as perdas perderam a capacidade de polarizar e influenciar suas
de um desenvolvimento econômico e social de caráter próprias regiões, que se interligam mais intensamente
desigual e combinado do tipo centro-periferia. com São Paulo e com o Rio de Janeiro.
É nesse contexto que cresceram alguns centros ur- Dessa forma, o Sudeste se afirmou no papel de cen-
banos no interior do país, seja para o abastecimento tro econômico mais dinâmico do país, concentrando
das áreas industriais do centro-sul, seja produzindo a indústria e a agricultura mais moderna e também
gêneros agrícolas exportáveis. Esses centros se inter- o maior mercado consumidor, integrando o território
ligam aos portos e às regiões industriais por meio de brasileiro, mas agravando as desigualdades antes
rodovias. Se, no início desse período técnico no Brasil instaladas. É nesse contexto que podemos situar uma
a produção foi escoada por ferrovias, nos anos 1940 e Segunda Revolução Industrial no Brasil.

A economia e o território brasileiro no século XVII


70° O 60° O 50° O 40° O

OCEANO
ATLÂNTICO

Belém
Cametá São Luis
Fortaleza

Natal
Paraíba
Olinda
Recife
10° S
Porto Calvo
Penedo
São Cristóvão

Salvador
São Jorge dos Ilhéus
Meridiano de Tordesilhas Santa Cruz
Porto Seguro
Ouro
OCEANO
PACÍFICO
Drogas do Sertão N. Sra. Da Vitória
20° S

Espírito Santo
Cana-de-açúcar São Paulo
Taubaté
Trópico de Capricórnio São Sebastião do Rio de Janeiro
Itanhaém Santos
Pecuária
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

São Vicente
Cananeia
Paranaguá
Eixo da expansão da pecuária
Laguna
Limite dos Estados atuais
30° S

Região ocupada pelos holandeses

Cidades e vilas
440 km

Observe como, ao longo do tempo, ocorreu a expansão e a integração do território brasileiro.


No século XVII, ele se restringia, principalmente, ao litoral.

Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli A. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial
814-1

do Estado de São Paulo, 2005. p. 37.

6 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL

A economia e o território brasileiro no século XVIII


70° O 60° O 50° O 40° O

OCEANO
Macapá
ATLÂNTICO

Barcelos Óbidos Belém


Barra do Alcântara
Cametá
Olivença Rio Negro Parnaíba
Santarém São Luís Fortaleza
Borba
Quixeramobim Natal
Paraíba
Olinda
Recife
10° S
Penedo
São Cristóvão

Salvador
Vila Boa
Algodão Cuiabá São Jorge dos Ilhéus
São Pedro Santa Cruz
del Rei Vila Bela
Ouro e diamantes Porto seguro

Sabará
Drogas doOCEANO
sertão
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

20° S
Mariana Vitória
PACÍFICO São João
Ouro Espírito Santo
Cana-de-açúcar Preto
Trópico de Capricórnio
del Rei
São Paulo
Sorocaba Rio de Janeiro
Santos
Pecuária Curitiba Iguape
Cananeia
Paranaguá Fonte: THÉRY, Hervé;
Eixo de transporte Lajes Desterro
Laguna MELLO, Neli A. Atlas do
Limite dos Estados atuais Brasil: disparidades e
Porto Alegre 30° S
dinâmicas do território.
Cidades e vilas São Paulo: Edusp/
Imprensa Oficial do
460 km Estado de São Paulo,
2005. p. 39.

A economia e o território brasileiro no século XIX


70° O 60° O 50° O 40° O

OCEANO
ATLÂNTICO

Belém São Luís


Manaus
Fortaleza

Natal
Paraíba
Café Recife
10° S
Maceió
Mate Aracaju

Cacau Salvador

Fumo Cuiabá
Goiás

Algodão Ouro
Preto
OCEANO 20° S
Ouro e diamantes PACÍFICO Vitória Fonte: THÉRY,
Hervé; MELLO,
Drogas do sertão e borracha Trópico de Capricórnio
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

Rio de Janeiro
Neli A. Atlas
São Paulo
Curitiba
Santos do Brasil:
Cana-de-açúcar disparidades e
dinâmicas do
Pecuária Florianópolis
território. São
Ferrovia Porto Alegre 30° S
Paulo: Edusp/
Imprensa
Limite dos Estados atuais Oficial do
Estado de São
Cidades e vilas 460 km Paulo, 2005.
814-1

p. 41.
Repare como nos séculos XVIII e XIX o território brasileiro já estava mais integrado.

POLISABER 7
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2

Brasil: de arquipélago a continente


70° O 60° O 50° O 40° O 70° O 60° O 50° O 40° O

Anos 1890 Anos 1940


10° S
10° S

20° S
20° S
OCEANO OCEANO
PACÍFICO Trópico de Capricórnio PACÍFICO
Trópico de Capricórnio

OCEANO
OCEANO
ATLÂNTICO 30° S
ATLÂNTICO 30° S

600 km 600 km

70° O 60° O 50° O 40° O

Anos 1990

Distrito Federal EQUADOR 0°


Capital de Estado CEARÁ


AMAZONAS
PARÁ RIO GRANDE
Zona de influência MARANHÃO
DO NORTE

dos principais focos PIAUÍ


PARAÍBA

econômicos ACRE
PERNAMBUCO

10º∞ ALAGOAS 10° S

Centro de gravidade SERGIPE


BAHIA
econômico GOIÁS
MATO
GROSSO MINAS
Espaço realmente integrado GERAIS
à economia nacional 60º∞
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

70º∞
20º∞ ESPÍRITO SANTO 20° S
Grande eixo rodoviário OCEANO
PACÍFICO
SÃO PAULO
Trópico de Capricórnio
CAPRICÓRNIO RIO DE JANEIRO
TRÓPICO DE
PARANÁ
Rota marítima ou fluvial
OCEANO
SANTA CATARINA

Frentes pioneiras e 30º∞


ATLÂNTICO
30° S
eixos de progressão RIO GRANDE DO SUL

600 km
50°O 40º∞

Repare na evolução da integração do território brasileiro em um período de 100 anos. Observe também como entre 1940 e
1990 o avanço das frentes de expansão e a integração se deu interna e rapidamente.
Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli A. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005. p. 43.

O meio técnico-científico- à implantação de modernas infraestruturas territoriais,


-informacional no Brasil como os sistemas de transportes e comunicações, que
passaram a atender às necessidades do consumo in-
O período que começou no fim da Segunda Guerra terno e de sua regulação pelo Estado. Pautada pela en-
Mundial inaugurou uma nova etapa do desenvolvimen- trada de empresas internacionais que se associam ao
to e aparelhamento do território brasileiro. Agora, a in- capital privado nacional e ao Estado, a modernização da
814-1

tegração entre as diversas regiões se consolidou graças sociedade, da economia e do território brasileiro teve

8 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL

como motor a industrialização tardia do tipo substitui- ondas de movimentos migratórios para as metrópoles
ção de importações. Ampliou-se o complexo industrial ou para os limites dessas fronteiras. Os novos apa-
do Sudeste e se criaram novos complexos industriais ratos técnicos nos sistemas de transporte (rodovias,
em outras regiões para satisfazer a sede das empresas, aeroportos) e telecomunicações (cabos submarinos,
agora globais, por minérios, petróleo e outras matérias- satélites) garantiram maior fluidez de deslocamento e
-primas. A agropecuária também se modernizou, prin- informações no território, que passou a ser organizado
cipalmente nos setores de exportação, e se estruturou em redes por onde trafegam fluxos de pessoas, infor-
uma agroindústria nos setores do álcool e do suco de mações, mercadorias e capitais (matéria e energia), al-
laranja, criando novos personagens e novas relações de cançando pontos mais longínquos do país e expandindo
trabalho, expandindo as fronteiras agrícolas e gerando horizontalmente as relações capitalistas de produção.

Uma visão multimodal do sistema de transportes no Brasil

70° O 60° O 50° O 40° O

OCEANO
ATLÂNTICO

10° S

20° S

OCEANO
PACÍFICO Trópico de Capricórnio
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

Rodovia pavimentada
Rodovia sem pavimentação
30° S

Ferrovia
Gasoduto
Hidrovia
310 km

Os sistemas de transporte se sofisticaram para atender à demanda do espaço brasileiro globalizado. Assim, a multimodalidade
(os vários tipos de transportes articulados) imprimiram agilidade ao escoamento de matérias-primas, gêneros agrícolas e
814-1

minerais aos portos de exportação. Apesar disso, existem “gargalos” no escoamento de produtos em alguns de nossos portos.
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 143.

POLISABER 9
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2

Por outro lado, cresceram as desigualdades sociais Lima, o secretário tratou também sobre o pacote de
pela desvalorização do trabalho e as desigualdades concessões dos portos, que deverá ser lançado na ter-
regionais, estas últimas inaugurando o papel planejador ça-feira pela presidente Dilma Rousseff. Nesta semana,
do Estado (Sudene, Sudam etc.). Desigual e combinado, o presidente da Empresa de Planejamento e Logística
o desenvolvimento capitalista na constituição do meio (EPL), Bernardo Figueiredo, disse que os investimentos
técnico-científico-informacional aprofundou essas de- do pacote terão como referência o Plano Nacional de
sigualdades ao integrar espaços horizontalmente muito Logística Portuária (PNLP), que projeta aportes de mais
distantes, rompendo as identidades locais pela padroni- de R$ 40 bilhões até 2030.
zação dos modos de vida rurais em urbanos. À lógica do
tempo lento dos lugares, agrega-se a lógica global das Modernização do cais
transnacionais. O espaço nacional se globaliza. A obra prevê a reconstrução de 1 125 metros do cais,
com execução de nova plataforma portuária, em con-
Leia o texto que se segue sobre esse tema. creto armado pré-moldado, que avança 11,2 metros no
canal. Isso permitirá o aprofundamento do calado de 31
Projeto de modernização do cais para 40 pés, possibilitando atracação de navios de
do Porto Novo de Rio Grande deve ir até 75 mil Toneladas de Porte Bruto (TPB) e utilização
para licitação este mês de equipamentos portuários modernos e de grandes
8 nov. 12 capacidades. Ao todo, a área de aproximadamente
13,3 mil metros quadrados será pavimentada com
O secretário de Infraestrutura e Logística do RS, Beto concreto armado. Somando-se a parte revitalizada,
Albuquerque, recebeu nesta quarta-feira (7), em Brasí- com conclusão da obra, o Porto Novo passará a contar
lia, a informação de que deverá ir para licitação ainda com 1 575 metros de cais modernizados.
em novembro o projeto executivo de modernização do
Cais do Porto Novo de Rio Grande. As obras serão finan- CÁCERES, Anelise.
ciadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento Disponível em: <www.seinfra.rs.gov.br/
(PAC), do Governo Federal, dentro do qual já foram conteudo/66284/?Projeto_de_modernizacao_do_cais_
repassados mais de R$ 1 bilhão para investimentos no do_Porto_Novo_de_Rio_Grande_deve_ir_para_licitacao_
Porto de Rio Grande. Entre as obras, o prolongamento este_mes>. (acesso em: 28 jan. 2014)
dos molhes, dragagem de aprofundamento do canal de
acesso ao porto e 450 metros de cais já revitalizados.
Neste projeto serão investidos R$ 119 milhões para Assim se constituiu o território brasileiro neste início
a revitalização de 1 125 metros do Cais do Porto Novo, do século XXI. Seus usos pela sociedade obedecem
de acordo com o titular da Seinfra. “A inclusão das aos ditames das grandes empresas globais, nacionais
obras no PAC são essenciais para o Rio Grande do e internacionais, mediados pela ação do Estado. Como
Sul, pois agregam uma competitividade ainda maior ao meio técnico-científico-informacional, agrega-se aos
Porto de Rio Grande, que é estratégico para o Brasil e, objetos do território um conteúdo de ciência e tecno-
por isso, tem recebido grandes investimentos”, disse logia para satisfazer os interesses do mercado, cada
Beto, destacando também o fato de a movimentação vez mais competitivo nestes tempos de neoliberalismo.
do porto rio-grandino ter crescido 9,99% em 2011. A Revolução Técnico-Científica, ou Terceira Revolução
“Esta é uma obra esperada há muito tempo pela co- Industrial, se consolida em território brasileiro. Contra-
munidade portuária. A modernização irá proporcionar ditoriamente, tais objetos técnicos também têm sido
o aumento da produtividade e da competitividade do apropriados pelos grupos que são marginalizados e
Porto do Rio Grande”, afirmou o superintendente do excluídos dos mecanismos de mercado, vislumbrando-
porto, Dirceu Lopes. -se uma perspectiva de resistência e proposição de
Na audiência com o secretário executivo da Secreta- outros usos do território que atendam às necessidades
ria de Portos da Presidência da República (SEP), Mário desses grupos.
814-1

10 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL

Redes de comunicação do Brasil


70° O 60° O 50° O 40° O

OCEANO
ATLÂNTICO

10° S

OCEANO 20° S

PACÍFICO
Rede de micro-ondas numérica Trópico de Capricórnio

Rede de micro-ondas numérica TD


Rede de micro-ondas intraestado
Estação de micro-ondas

JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL


Rede de fibras ópticas
Rede de fibras ópticas intraestado
30° S
Estação de fibras ópticas
Rede de internet principal
Rede de internet secundária
Estação de recepção de satélite 320 km

Os sistemas de telecomunicações garantem os fluxos de informação no território. A informação é o motor da globalização.


Fonte: INGEO, Consórcio Brasiliana.

EXERCÍCIOS

1. (UFPB) O Brasil é considerado um país de dimen- ( V ) A identidade nacional do povo brasileiro é resultado
são continental, com um território de mais de de um mix étnico provocado por uma relativa misci-
8 milhões de km2 e uma população que se aproxima genação entre índios, africanos, imigrantes europeus
de 200 milhões de habitantes que falam o mesmo e outras nacionalidades.
idioma e estão submetidos às leis de um mesmo ( V ) As sociedades indígenas influenciaram a formação
Estado nacional. No que diz respeito à formação do social brasileira de maneira marcante, com evidência
território e da sociedade brasileira, julgue os itens nos hábitos culturais.
a seguir. ( V ) A formação e a organização do território brasileiro
( F ) A história da sociedade brasileira apresenta caracte- tiveram início com as capitanias hereditárias, evo-
rísticas típicas da formação de um território colonial, luindo, principalmente, pós-independência, para a
onde grupos sociais de diferentes raízes étnicas formação de estados e de municípios relativamente
814-1

descobriram livremente o território. autônomos em relação ao governo federal.

POLISABER 11
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2

( F ) A “anexação do Acre” foi o último evento territorial 4. (Enem)


da formação das fronteiras brasileiras, acordado
pacificamente entre Brasil e Bolívia, cabendo-se à O Centro-Oeste apresentou-se como extremamente
Bolívia a construção da ferrovia Madeira-Mamoré. receptivo aos novos fenômenos da urbanização, já que
era praticamente virgem, não possuindo infraestrutura
2. (Enem) de monta, nem outros investimentos fixos vindos do
passado. Pôde, assim, receber uma infraestrutura nova,
Nos últimos decênios, o território conhece grandes totalmente a serviço de uma economia moderna.
mudanças em função de acréscimos técnicos que re-
novam a sua materialidade, como resultado e condição, SANTOS, M.
ao mesmo tempo, dos processos econômicos e sociais A Urbanização Brasileira.
em curso. São Paulo: EdUSP, 2005 (adaptado).

O texto trata da ocupação de uma parcela do território


SANTOS, M.; SILVEIRA; M. L. brasileiro. O processo econômico diretamente asso-
O Brasil: território e sociedade do século XXI. ciado a essa ocupação foi o avanço da
Rio de Janeiro: Record, 2004 (adaptado). a) industrialização voltada para o setor de base.
b) economia da borracha no sul da Amazônia.
A partir da última década, verifica-se a ocorrência c) fronteira agropecuária que degradou parte do cerrado.
no Brasil de alterações significativas no território, d) exploração mineral na Chapada dos Guimarães.
ocasionando impactos sociais, culturais e econômi- e) extrativismo na região pantaneira.
cos sobre comunidades locais, e com maior intensi-
dade, na Amazônia Legal, com a
5. (Unesp) Leia o texto.
a) reforma e ampliação de aeroportos nas capitais dos
estados.
b) ampliação de estádios de futebol para a realização As bases materiais e políticas do mundo atual têm
de eventos esportivos. permitido uma revolução nas formas de circulação de
c) construção de usinas hidrelétricas sobre os rios dinheiro, criando assim novos modos de acumulação
Tocantins, Xingu e Madeira. [...]. Novos instrumentos financeiros são incorporados ao
d) instalação de cabos para a formação de uma rede território na forma de depósitos e de créditos ao consu-
informatizada de comunicação. mo. A sociedade, assim, é chamada a consumir produtos
e) formação de uma infraestrutura de torres que per- financeiros como poupanças de diversas espécies e
mitem a comunicação. mercadorias adquiridas com dinheiro antecipado. Com
isso, o sistema financeiro ganha duas vezes, pois dispõe
3. (Enem) de um dinheiro social nos bancos e lucra emprestando,
como próprio, esse dinheiro social para o consumo.
A partir dos anos 70, impõe-se um movimento de
desconcentração da produção industrial, uma das SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura.
manifestações do desdobramento da divisão territorial O Brasil: território e sociedade
do trabalho no Brasil. A produção industrial torna-se no início do século XXI, 2001.
mais complexa, estendendo-se, sobretudo, para novas
áreas do Sul e para alguns pontos do Centro-Oeste, do São exemplos do processo de expansão do sistema
Nordeste e do Norte. financeiro no território brasileiro
a) a troca pessoal de produtos usados, a oferta de
crédito consignado e a proliferação dos sistemas
SANTOS, M.; SILVEIRA; M. L.
bancários de autoatendimento.
O Brasil: território e sociedade do século XXI.
b) a oferta de crédito consignado, a venda por cartão
Rio de Janeiro: Record, 2002 (fragmento).
de crédito e a proliferação dos sistemas bancários de
autoatendimento.
Um fator geográfico que contribui para o tipo de al- c) a troca pessoal de produtos usados, a realização de
teração da configuração territorial descrito no texto compra por moeda corrente e a venda por cartão
é de crédito.
a) Obsolescência dos portos. d) o escambo, a realização de compra por moeda cor-
b) Estatização de empresas. rente e a restrição de crédito ao consumo pessoal.
c) Eliminação de incentivos fiscais. e) o escambo, a doação de bens e dinheiro para progra-
d) Ampliação de políticas protecionistas. mas sociais e a restrição no ato da compra ao uso
814-1

e) Desenvolvimento dos meios de comunicação. de moeda corrente.

12 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),
Nestas aulas iniciais, tratamos de introduzir os temas geográficos com uma discussão sobre o objeto de estudo da
Geografia e uma abordagem histórico-territorial da formação do Brasil. Nesta seção você encontrará algumas ativida-
des para aprofundar seus estudos e ampliar seu repertório conceitual, como exercícios, um texto que aborda o objeto
central de estudo da geografia na Roda de Leitura, além de uma série de dicas de vídeos, músicas e leituras que você
pode relacionar ao tema das aulas.
Bons estudos!

EXERCÍCIOS

1. (UFPR) O processo de industrialização ocorrido no II. A formação socioterritorial brasileira constitui-se


Brasil a partir de 1930 implicou grandes transfor- a partir das heranças de ocupação e das lógicas
mações na organização do território nacional, pois econômicas, demográficas e políticas da contem-
constituiu uma economia cujo crescimento depen- poraneidade.
de principalmente do dinamismo do mercado in- III. A tendência no século XX, de afirmação de uma di-
terno. Com base no enunciado e nos conhecimen- nâmica industrial brasileira, não se difundiu em re-
tos de Geografia do Brasil, assinale a afirmativa lação direta com o tamanho da população concen-
correta. trada em estados como Bahia e Rio Grande do Sul.
a) A alta concentração industrial nas regiões metropo- IV. Pode-se dizer que na Região Concentrada há maior
litanas e cidades médias próximas dessas áreas cria mobilidade e integração econômica, dificilmente di-
uma estrutura produtiva pouco integrada. fundida pelo resto do território.
b) Como o mercado consumidor de bens industriais se Essa região pode ser considerada o embrião da po-
concentra nas cidades localizadas até 150 km do lito- larização encontrada no Sudeste, que assegura a
ral, a interiorização do desenvolvimento econômico São Paulo um papel inconteste de metrópole eco-
continua a depender da agropecuária. nômica do país.
c) A industrialização forjou uma rede urbana constituída
por duas metrópoles globais, algumas metrópoles a) Apenas as assertivas I e III estão corretas.
nacionais e alguns centros urbanos com áreas de b) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.
influência regional ou local. c) Apenas a assertiva I está correta.
d) A agricultura de exportação vigente até 1930 criou d) Todas as assertivas estão corretas.
uma economia estruturada em centro e periferia, e) Apenas as assertivas I, II e IV estão corretas.
sendo o primeiro a então capital federal, Rio de Janei-
ro, e a segunda, as áreas de produção agropecuária. 3. (UFRGS) Após a Segunda Guerra Mundial, a maioria
e) A concentração industrial cada vez mais alta no Sul e dos países latino-americanos implementou políticas
no Sudeste reduz os níveis de integração econômica de industrialização por substituição de importações
do território brasileiro, que vai ficando cada vez mais que tiveram resultados diversos.
desigual. Considere as seguintes afirmações sobre os efeitos
que a implementação dessas políticas teve no Bra-
2. (PUC-PR) O Brasil dispõe de um território fisiogra- sil.
ficamente diferenciado, com uma grande varieda-
de de sistemas naturais que foram moldados para I. Ela acelerou a migração campo-cidade.
a ocupação e utilização comercial e industrial em II. Ela favoreceu a industrialização nas regiões Sudeste
benefício do homem. e Sul.
Dado esse contexto, considere as assertivas a se- III. Ela reforçou o papel do Estado brasileiro nas políti-
guir e marque a alternativa correta. cas territoriais.

I. A conquista da terra por atividades econômicas Quais estão corretas?


modernas mostra a escolha, em cada momento, de a) Apenas I. d) Apenas II e III.
áreas diversas de implantação; de início, é sobretu- b) Apenas II. e) I, II e III.
814-1

do o litoral brasileiro que é ocupado. c) Apenas III.

POLISABER 13
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2

4. (Fatec) No atual processo de globalização eco- percurso entre o porto de Santos e o planalto paulis-
nômica, vem ocorrendo uma verdadeira divisão ta, escreveu Davatz:
econômica e geopolítica do mundo, que distingue
centros de inovação tecnológica, áreas de difusão As estradas do Brasil, salvo em alguns trechos, são
de indústria e agroindústria avançadas, áreas em
péssimas. Em quase toda parte, falta qualquer espécie de
desindustrialização, áreas com economia tradicio-
nal em decadência e áreas a serem preservadas. calçamento ou mesmo de saibro. Constam apenas de terra
Sob o comando dos grandes agentes econômicos simples, sem nenhum benefício. É fácil prever que nessas
capitalistas transnacionais, o território dos países é estradas não se encontram estalagens ou hospedarias
utilizado intensivamente, afetando o poder dos Es- como as da Europa. Nas cidades maiores, o viajante pode
tados e alienando a vida das sociedades que vivem naturalmente encontrar aposento sofrível; nunca, porém,
nesses territórios. qualquer coisa de comparável à comodidade que propor-
Analise as afirmações a seguir como elementos em
ciona na Europa qualquer estalagem rural. Tais cidades
jogo no processo de globalização descrito.
são, porém, muito poucas na distância que vai de Santos a
I. Hegemonia dos processos produtivos baseados na Ibicaba e que se percorre em cinquenta horas, no mínimo.
Terceira Revolução Industrial.
II. Macropolíticas estatais controladoras dos fluxos DAVATZ, T.
econômicos e protetoras da mão de obra. Memórias de um colono no Brasil.
III. Divisão mundial do trabalho entre centros hegemô- São Paulo: Livraria Martins, 1941. (adaptado)
nicos, periferias e semiperiferias.
IV. Tendência ao aumento das áreas naturais preserva- Em 1867, foi inaugurada a ferrovia ligando Santos a
das pelo “desenvolvimento sustentável” capitalista. Jundiaí, o que abreviou o tempo de viagem entre o
litoral e o planalto para menos de um dia. Nos anos
Podem-se assinalar como verdadeiros elementos seguintes, foram construídos outros ramais ferrovi-
desse processo de globalização os que estão conti- ários que articularam o interior cafeeiro ao porto de
dos nas afirmações: exportação, Santos.
a) I, II, III e IV. d) II e IV, apenas.
b) I, II e III, apenas. e) IV, apenas. O impacto das ferrovias na promoção de projetos
c) I e III, apenas. de colonização com base em imigrantes europeus
foi importante porque:
5. (Fuvest) Uma das características atuais do processo a) o percurso dos imigrantes até o interior, antes das
de globalização é a exigência, cada vez maior, de ferrovias, era feito a pé ou em muares; no entanto, o
fluidez de informações e mercadorias, ou, em es- tempo de viagem era aceitável, uma vez que o café
sência, do próprio capital. Tal exigência tem condu- era plantado nas proximidades da capital, São Paulo.
zido os países à reestruturação de seus sistemas de b) a expansão da malha ferroviária pelo interior de São
circulação. Nesse sentido, no Estado brasileiro, nos Paulo permitiu que mão de obra estrangeira fosse
últimos anos contratada para trabalhar em cafezais de regiões
a) priorizou-se o transporte público urbano, com a cada vez mais distantes do porto de Santos.
ampliação do número de linhas do metropolitano c) o escoamento da produção de café se viu beneficiado
em todas as capitais dos Estados. pelos aportes de capital, principalmente de colonos
b) houve uma ampla recuperação da malha ferroviária, italianos, que desejavam melhorar sua situação
com a construção de novos trechos, a exemplo da econômica.
Transnordestina. d) os fazendeiros puderam prescindir da mão de obra
c) privilegiou-se o sistema de cabotagem, valorizando- europeia e contrataram trabalhadores brasileiros
-se o transporte de passageiros pelo território nacio- provenientes de outras regiões para trabalhar em
nal e interligando as áreas costeiras do país. suas plantações.
d) priorizou-se o transporte hidroviário, voltado à ex- e) as notícias de terras acessíveis atraíram para São
portação de grãos, conforme atestam as hidrovias Paulo grande número de imigrantes, que adquiriram
Tietê-Paraná e do Rio São Francisco. vastas propriedades produtivas.
e) intensificou-se a modernização do sistema portuário,
incluindo a construção de portos como os de Sepe- Texto para a próxima questão.
tiba (RJ) e Pecém (CE).
Na década de 1990, aprofunda-se a relação entre o
6. (Enem) O suíço Thomas Davatz chegou a São Pau-
território brasileiro e o mercado externo através de um
lo em 1855 para trabalhar como colono na fazenda
de café Ibicaba, em Campinas. A perspectiva de pros- aumento intenso do fluxo de mercadorias. [...]
peridade que o atraiu para o Brasil deu lugar à insa- Existem 46 portos, distribuídos pela costa marítima e
814-1

tisfação e revolta, que ele registrou em livro. Sobre o pelas vias fluviais interiores, dos quais 36 movimentam

14 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL

cargas para o mercado externo. Pelos portos brasileiros, 7. (UEL) Um dos principais aspectos da modernização
fluem 96,5%, em peso, das mercadorias transacionadas dos portos brasileiros apontados pelo texto é o uso
pelo país, dado que revela a importância desses fixos de contêineres, que exigiu a introdução nos portos
para a fluidez territorial. Fortes transformações técnicas brasileiros de novos requisitos técnicos para esse
tipo de operação. Essa modernização provocou a
e políticas definem a situação atual dos portos brasileiros.
concentração das operações com contêineres em
Novas instalações e equipamentos são incorporados de
sete portos, responsáveis por 85% do movimento
forma acelerada à sua performance operacional, como dessas unidades.
contêineres, guindastes especializados, armazéns etc.
As regiões brasileiras onde se localizam esses por-
ARROYO, M. tos são
Fluidez e porosidade do território brasileiro
a) Norte e Nordeste.
no contexto da integração continental.
In: SILVEIRA, M. L. Continente em chamas: b) Sudeste e Nordeste.
globalização e território na América Latina. c) Sudeste e Sul.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 211-218. d) Sul e Nordeste.
(adaptado) e) Centro-Oeste e Sudeste.

8. (CPS) Analise o texto e a tabela a seguir.

A possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga medida, do ponto do território onde se vive. Muitos
moradores da periferia tornam-se cidadãos incompletos por ter menos acesso aos serviços urbanos e direito à cidade
como um todo. Morar na periferia é se condenar duas vezes à pobreza: além das desigualdades socioeconômicas, o pobre
sofre com a má distribuição territorial dos serviços públicos como saúde, educação, segurança e lazer.

SANTOS, Milton.
O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987. p. 81-115. (adaptado)

O município do Rio de Janeiro pode ser dividido em três grandes zonas. Nas zonas 1 e 2 (formadas, respectivamen-
te, pelo centro histórico e seis bairros nobres com melhor poder aquisitivo), o território e o número de moradores
são MUITO MENORES do que os da zona 3 (formada por cerca de trinta bairros, em geral periféricos e com pior
poder aquisitivo).

Distribuição de equipamentos de lazer – Município do Rio de Janeiro – Início da década de 2000


Equipamentos de lazer
Zonas agrupadas (bibliotecas, museus, centros culturais, parques, florestas, teatros e cinemas)
do município
Número %

zona 1 – centro histórico 84 19,1

zona 2 – bairros nobres 201 45,7

zona 3 – bairros restantes 155 35,2


Adaptado de: <www.efdeportes.com/efd93/rio.htm>. (acesso em: jul. 2007)

De acordo com as ideias do texto e as informações auxiliares, é correto afirmar que


a) a distribuição territorial desses equipamentos de lazer atende com justiça e igualdade às necessidades de todos
os moradores do município.
b) os moradores das zonas 1 e 2 são cidadãos privilegiados entre os moradores restantes do município, pois estes
últimos ficam territorialmente malservidos de diversas oportunidades de lazer.
c) os moradores da zona 3 podem ser considerados mais cidadãos por ter mais facilidade de acesso às múltiplas
oportunidades de lazer do município.
d) os moradores da zona 2 são menos cidadãos e sofrem duas vezes com a pobreza, pois são contemplados territo-
rialmente com menos oportunidades de lazer que os outros moradores do município.
e) a distribuição territorial desigual dos equipamentos de lazer não agrava a pobreza e não interfere nos direitos de
814-1

exercício de cidadania dos moradores do município.

POLISABER 15
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2

9. (Unesp) Analise as tabelas. A análise das duas tabelas permite afirmar que as
exportações brasileiras
a) foram dominadas por um ou dois produtos até fins
Brasil: principais produtos exportados do século XIX, mas apresentam, atualmente, uma
em relação ao valor total das pauta muito diversificada.
exportações, de 1600 a 1900 b) passaram de produtos de origem vegetal, até o fim
do século XIX, para uma pauta diversificada em 2006.
% do valor c) apresentavam uma pauta diversificada até meados
Décadas Produtos
total do século XX, mas passaram, na atualidade, para uma
pauta muito especializada.
Açúcar 90 d) caracterizam-se por pautas diversificadas tanto no
1600 passado como nos dias atuais.
Pau-brasil 4
e) eram diversificadas no passado, mas caracterizam-
-se por privilegiar, atualmente, matérias-primas sem
Açúcar 95 valor agregado.
1650
Pau-brasil 2
10. (Fatec) Considere a anamorfose a seguir.
Açúcar 75
1700 RN
Ouro e minérios 13
PB
PE
Açúcar 47
1750 AP CE AL
Ouro e minérios 47 RR MA
PI SE
AC PA BA
RO AM TO ES
DF
Açúcar 31 MT GO
MG
1800 RJ
Ouro e minérios 24 MS

SP
Café 48
1850
Açúcar 21
PR

SC
Café 65
1900
Borracha 15 RS

Fonte: SIMONSEN, R. História econômica do Brasil, 1937.

Fonte: IBGE.
Brasil: os dez principais produtos exportados em
relação ao total das exportações em 2006 Assinale a alternativa que apresenta corretamente
Produtos % do valor total o título da representação.
a) População absoluta.
Minérios de ferro 6,5 b) Renda per capita.
c) Participação no PIB.
Óleos brutos de petróleo 5,0 d) Produção industrial.
e) Valor das exportações agrícolas.
Soja 4,0

Automóveis 3,5 11. (UERJ)

Açúcar 3,0
Aposta no transporte
Aviões 2,0
Em um esforço que superou as previsões mais
Carne bovina 2,0
ousadas da iniciativa privada, o governo federal
Peças de veículos e tratores 2,0 anunciou ontem o que chamou de o maior plano de
investimentos em transportes da história, envolvendo
Café 2,0
a concessão de ferrovias e rodovias à iniciativa privada.
Carne de frango 2,0 O setor de ferrovias é o que deve receber o maior vo-
814-1

Fonte: Cacex, 2006. 11. lume de investimentos. Serão R$ 91 bilhões em 10 mil


– O custo do frete por tonelada é bastante reduzido para distâncias superiores a 300 km.
– O custo mais barato do frete ferroviário é decisivo para a competitividade de produtos de baixo valor por volume, amplamente exportados pelo Brasil.
– Os traçados a serem construídos irão conectar diversas áreas importantes do interior aos portos exportadores do país, barateando o preço final dos produtos.
16 POLISABER O sistema ferroviário apresenta diversas vantagens perante outros modais de transporte, como: menor consumo de combustível em relação ao volume da carga
transportada, o que resulta em menor ônus e aumento da competitividade da produção nacional no mercado mundial; maior integração do território nacional
aumentando a circulação da produção e a conexão de regiões marginais aos centros mais desenvolvidos; criação de corredores de exportação, agilizando o
escoamento da produção nacional.
13. a) A região Nordeste passou por um processo de industrialização mais recente comparativamente ao Sudeste. Devido a suas condições locacionais, infraestruturais, dos investimentos
e da qualificação de sua mão de obra, a região Nordeste desenvolveu mais o setor de bens de consumo não duráveis como os setores alimentício, calçadista, têxtil e construção civil. São
setores relativamente mais simples e suas cadeias produtivas tem maior capacidade de contratar mão de
obra, com vantagens comparativas para uma região carente de atividades.
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL

quilômetros de novas linhas, para criar uma malha Cite duas atividades que devem se expan-
que ligue as principais regiões produtoras do país aos dir na cidade do Rio de Janeiro em virtude da
maiores portos. reorientação espacial das indústrias na região
metropolitana.

13. (Fuvest)

Fonte: SIMIELLI, Geoatlas.

Com base no mapa acima e em seus conhecimen-


tos:
a) identifique o tipo de indústria predominante na região
Nordeste, considerando sua capacidade geradora
de emprego.
b) caracterize o parque industrial da região Sudeste.
Fonte: O Globo, 16 ago. 2012. (adaptado)
Considere, em sua análise, a presença da indústria
A reportagem aborda o plano de investimentos de ponta de alta tecnologia nessa região e sua ca-
anunciado em 2012 pelo governo federal. pacidade geradora de emprego.
Aponte duas justificativas econômicas para a priorida-
de dada pelo governo ao setor ferroviário.

12. (UFRJ) O Arco Rodoviário Metropolitano ligará o Com- RODA DE LEITURA


plexo Petroquímico do Rio de Janeiro ao Porto de Ita-
guaí, contornando o município do Rio de Janeiro e
facilitando o escoamento da produção da orla orien- O objeto da Geografia
tal da baía da Guanabara. O projeto de construção do
Arco visa atrair a atividade industrial da metrópole
para o seu entorno. Alguns autores definem a Geografia como o estudo
da superfície terrestre. Essa concepção é a mais usual
e, ao mesmo tempo, a de maior vaguidade. Pois a super-
fície da Terra é o teatro privilegiado (por muito tempo,
o único) de toda reflexão científica, o que desautoriza
a colocação de seu estudo como especificidade de
uma só disciplina. Essa definição do objeto apoia-se
no próprio significado etimológico do termo Geografia
– descrição da Terra. Assim, caberia ao estudo geográ-
fico descrever todos os fenômenos manifestados na
INTERBITS®

814-1

superfície do planeta, sendo uma espécie de síntese

13. b) A concentração histórica de capital na região Sudeste, foi geradora de novas necessidades de consumo e diversificação.Isso acaba transformando a região na maior concentração indus-
trial do Brasil, caracterizado por setores os mais variados, com unidades de produção que vão desde as mais simples, bens de consumo não duráveis, como alimentícia e construção civil, até
as mais complexas e desenvolvidas como informática e aviação, passando pela indústria pesada como siderúrgicas. A evolução tecnológica e comercial criou novas POLISABER 17
demandas e mudanças locacionais, favorecendo a descentralização da produção e o surgimento de tecnopolos que concentram áreas de formação de mão de obra, pesquisa e produção e
com níveis cada vez maiores de automação que modificam a estrutura funcional, demandando cada vez menos trabalhadores. São fatos que exigem novas política públicas de qualificação e
localização da mão de obra com ênfase a novas possibilidades como serviços e terceiro setor.
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2

de todas as ciências. Dessa forma, a tradição kantiana Neste primeiro passo, vive-se na Geografia Tradicional,
coloca a Geografia como uma ciência sintética (que a geografia que tem seu objeto de estudo ainda indefi-
trabalha com dados de todas as demais ciências), nido, momento em que a Geografia ainda não atingira
descritiva (que enumera os fenômenos abarcados) e um grau de epistemologia seguro, o que só aconteceria
que visa abranger uma visão de conjunto do planeta. na modernidade. Enquanto isso, essa geografia se sus-
A definição da Geografia, como estudo da diferenciação
tenta em conceitos naturais e é uma ciência descritiva,
de áreas, é outra proposta existente. Tal perspectiva traz
de observação dos elementos naturais, calcada nos
uma visão comparativa para o universo da análise geográ-
pressupostos de seus precursores Humboldt e Ritter.
fica. Existem ainda autores que buscam definir a Geografia
Em outras palavras, nesse primeiro momento, a Geo-
como estudo do espaço. Para estes, o espaço seria pas-
sível de uma abordagem específica, a qual qualificaria a grafia tinha seu objeto definido em três visões distintas, e

análise geográfica. Tal concepção, na verdade minoritária todas as indagações sobre esses objetos e sua explicação
e pouco desenvolvida pelos geógrafos, é bastante vaga e viria principalmente da abordagem do campo natural, o
encerra aspectos problemáticos. Nessa concepção, além que daria precedente ao desenvolvimento metodológico
de ser destituído de sua existência empírica, seria um seguinte, dessa forma de pensamento geográfico mais
dado de toda forma de conhecimento, não podendo qua- conhecida como positivismo geográfico, que será traba-
lificar a especificidade da Geografia. Finalmente, alguns lhado na perspectiva tradicional da Geografia.
autores definem a Geografia como o estudo das relações
entre o homem e o meio, ou, posto de outra forma, entre MORAES, Antônio Carlos Robert.
a sociedade e a natureza. Assim, a especificidade estaria Geografia: pequena história crítica.
no fato de essa [...] disciplina explicar o relacionamento São Paulo: Annablume, 2003.
entre os dois domínios da realidade. Seria, por excelência, (adaptado)
uma disciplina de contato entre as ciências naturais e as
humanas, ou sociais. Aparecem três visões distintas do
objeto: alguns autores o apreendem como as influências
PESQUISAR E LER
da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade.
Caberia à Geografia explicar as formas e os mecanismos
pelos quais essa ação se manifesta. Assim, o homem é SILVEIRA, María Laura; SANTOS, Milton. O Brasil: terri-
visto como um elemento passivo, cuja história é determi- tório e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro:
nada pelas condições naturais que o envolvem. O peso da Record, 2001.
explicação residiria totalmente no domínio da natureza. Importante obra dos geógrafos Milton Santos e María
Os fenômenos humanos seriam sempre efeitos de causas Laura Silveira, analisa a construção do território brasileiro
naturais; isso seria uma imposição da própria definição desde as origens de sua formação socioespacial até a
do objeto, identificado com aquelas influências. inserção do Brasil no capitalismo global.
Outros autores, mantendo a ideia da Geografia como o
estudo da relação entre o homem e a natureza, definem- SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo,
-lhe o objeto como a ação do homem na transformação razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
desse meio. Assim, caberia estudar como o homem se Obra fundamental para a compreensão do papel da ciên-
apropria dos recursos oferecidos pela natureza e os cia geográfica na atualidade, discute seus princípios e seu
transforma, como resultado de sua ação. objeto central de forma crítica e consistente.
Este breve painel das definições da Geografia que
não pretende ser, de modo nenhum, exaustivo, já justi- PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Os (des)caminhos
fica a afirmação inicial quanto às dificuldades contidas do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2011.
na proposta deste volume. Também se deve levar em O texto discute o conceito de natureza e o pano de fundo
conta que o painel abarcou apenas as perspectivas da do surgimento do movimento ecológico e da tomada de
Geografia Tradicional. consciência da crise ambiental.
814-1

18 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL

MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia: pequena disponibiliza arquivos multimídia com fotografias de diver-
história crítica. São Paulo: Annablume, 2003. sos momentos da sua vida, vídeos de suas conferências,
O autor conta a história do pensamento geográfico de áudios de aulas etc.
maneira sucinta, mas nem por isso superficial.
Geografia para todos: geografia para o Ensino Médio
www.geografiaparatodos.com.br (acesso em: 1 fev. 2014)
O site disponibiliza vídeos infográficos, mapas, textos,
VER E OUVIR
e questões de vestibulares e do Enem relacionados à
Geografia.
Denise está chamando (direção: Hal Salwen. EUA, 1995).
O filme é uma crítica ao mundo globalizado, onde os História da Geografia: História de tudo
avanços das redes de telecomunicações mais afastam www.historiadetudo.com/geografia.html
do que aproximam as pessoas. (acesso em: 1 fev. 2014)
O site explica como a Geografia foi explorada como ciência
Bye Bye Brasil (direção: Cacá Diegues. Brasil, 1979). e filosofia, tornando-se parte dos currículos universitários.
Um retrato do Brasil no início dos anos 1970, que se
modernizava e incorporava as regiões mais longínquas
da Amazônia ao capitalismo globalizado.
ÁGORA
São Paulo S/A (direção: Luis Sérgio Person. Brasil, 1965).
Documentário sobre a metrópole paulistana no auge de Leia os dois trechos abaixo, com visões distintas sobre
seu processo de industrialização, quando se tornou a as relações entre o ser humano e a natureza:
principal cidade do país, mas já anunciava seus gigan-
tescos problemas. O homem branco esquece a sua terra natal, quando
– depois de morto – vai vagar por entre as estrelas. Os
Entrevista com Milton Santos (direção: Sílvio Tendler. nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra,
Brasil, 2005). pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da
Uma visão crítica do geógrafo Milton Santos sobre a terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nos-
globalização e seus efeitos perversos. sas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia – são nossos
irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o
Parabolicamará. Parabolicamará. Gilberto Gil (Warner calor que emana do corpo de um mustang e o homem
Music, 1992). – todos pertencem à mesma família.

Baticum. Chico Buarque. Gilberto Gil; Chico Buarque Excerto da carta do chefe indígena Seatle ao
presidente dos Estados Unidos, em 1854.
(Marola, 1989).

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,


A cara do Brasil. O melhor de Vicente Barreto, v. 1.
conforme a nossa semelhança; e domine sobre os pei-
Vicente Barreto; Celso Viáfora (Dabliú, 2001).
xes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado,
e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move
sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à
NAVEGAR imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus
os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-
-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os
Site Milton Santos peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo
www.miltonsantos.com.br (acesso em: 1 fev. 2014) o animal que se move sobre a terra.
No site de Milton Santos é possível ler a biografia do
geógrafo, conhecer suas obras e ter acesso aos textos Excerto bíblico do capítulo do Gênesis.
do autor publicados há muito tempo. Além disso, o site (Gn. 1.26-28).
814-1

POLISABER 19
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2

S E N H A

Nas primeiras aulas, vimos como o território brasileiro foi se configurando com a incorporação da
natureza pela nossa sociedade. Hoje consolidado, esse território oferece uma enorme diversidade de
paisagens e lugares que devemos conhecer. Mas como é possível ver essa enorme diversidade sem
814-1

sair (muito) da sala de aula?

20 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 3

Minha vida é andar


DEA / G. DAGLI ORTI/DE AGOSTINI/GETTY IMAGES

Por este país


Pra ver se um dia
Descanso feliz
Guardando as recordações
Das terras por onde passei
Andando pelos sertões
E dos amigos que lá deixei.
Luiz Gonzaga, “A vida do viajante”

A posição geográfica do Brasil e suas consequências


Resultado, como vimos, de uma construção histórica, o território brasileiro se estende hoje por uma vasta superfície
de mais de 8,5 milhões de km2. Ocupando toda a porção centro-oriental da América do Sul e associada à posição desse
território no planeta, essa extensão impõe alguns condicionantes à sociedade, à economia e às políticas territoriais
do Estado nacional. Nesta aula, analisaremos essas condições do meio, sem nos esquecer de que não se trata de
fatores determinantes do desenvolvimento econômico, social ou político, mas de situações que se colocam como
desafios ou vantagens na construção de fronteiras do país.

Mapa político do Brasil


70° O 60° O 50° O 40° O

OCEANO
RR
AP ATLÂNTICO
Equador
0° S

AM
PA MA CE
RN
PB
PI
PE
AC
10° S AL 10° S

RO TO SE
BA
MT

DF
GO OCEANO
MG ATLÂNTICO
MS ES
20° S 20° S
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

SP RJ
Trópico de Capricórnio

OCEANO PR
PACÍFICO
SC
430 km
30° S
RS 30° S

70° O 60° O 50° O 40° O


814-1

0016

Adaptado de: <www.guiageo.com/brasil-mapa.htm>. (acesso em: 17 mar. 2014)

POLISABER 21
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3

As ferramentas de localização por ele não ter origem bíblica. Assim, os clérigos faziam
releituras das obras gregas do ponto de vista cristão. Já os
Ao longo de sua história no planeta, o ser humano sempre árabes traduziam obras da Antiguidade e faziam descri-
teve necessidade de se orientar, se localizar. Não há socie- ções de terras desconhecidas com objetivos comerciais
dade que não tenha desenvolvido noções de localização. e de dominação territorial.
Tratando-se de um ser que se atreveu a expandir-se por
terras desconhecidas, os referenciais de localização foram
absolutamente imprescindíveis para sua sobrevivência.
As pinturas rupestres da Pré-História encontradas em
cavernas de vários lugares, revelam essa necessidade
em desenhos que indicavam caminhos para a melhor
coleta ou onde estavam as ameaças. Para esses grupos

BIBI SAINT-POL/ WIKIMEDIA COMMONS


humanos nômades do Paleolítico ou do Neolítico, ter
noções espaciais era fundamental para obter alimentos
e garantir sua proteção.
A partir da escrita e dos mapeamentos, os recursos
para orientação se desenvolveram. Na Antiguidade, as
sociedades já se organizavam como Estados. Egípcios,
gregos, romanos, mesopotâmicos, chineses, incas, maias
e astecas desenvolveram saberes e noções espaciais que
lhes permitiam localizar recursos naturais e ter maior
domínio sobre a natureza. Nesse contexto, os gregos
desenvolveram as noções de polos, linhas imaginárias,
esfericidade da Terra, projeções cartográficas, latitude
e longitude.
Durante a Idade Média, na Europa, a Igreja católica Mapa de Hecateu (550 a.C.-475 a.C.) – O primeiro
considerou inapropriado todo o conhecimento clássico, mapa-múndi.
JOHANNES DE ARMSSHEIN

Mapa-múndi de
Claudio Ptolomeu
814-1

(90-168).

22 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL

Mas foi a partir do século XVI, com o expansionismo Longitude


europeu impulsionado pelo avanço comercial, que as des-
P
crições geográficas e cartográficas mais se desenvolveram.  = LONGITUDE
DE P

OESTE
 ocalizando-nos na Terra: os
L
paralelos, os meridianos e as
coordenadas geográficas

O sistema de paralelos e meridianos foi criado pelo astrô- LESTE

nomo grego Erastótenes (276 a.C.- 194 a.C.), quando calculou


a circunferência da Terra em Alexandria, na Grécia. Os meri-
MERIDIANO
dianos são semicircunferências que começam em um polo DE ORIGEM
e terminam no outro. Todo meridiano tem um antimeridiano,
que é seu oposto, localizado a uma distância de 180o.
Qualquer lugar da Terra é atravessado por um meridia- Os paralelos são círculos imaginários que cortam a Terra
no, mas, atualmente, o meridiano referencial, que divide paralelamente à linha do equador. Esta é um círculo máxi-
o globo em hemisfério ocidental e hemisfério oriental, é mo, definido por um plano perpendicular ao eixo de rotação
o de Greenwich, que passa por Londres. Ele foi estabele- da Terra de seu interior até a superfície e que a divide em
cido em 1884, na Conferência Internacional do Meridiano, dois hemisférios: norte, ou setentrional, e sul, ou meridional.
realizada na cidade de Washington. Nessa convenção, a
Inglaterra, potência colonial de então, reivindicou uma pa- Linha do equador e paralelos
+
dronização dos fusos horários no planeta para favorecer
seu comércio com as colônias. Os EUA concordaram com
isso desde que, em contrapartida, os ingleses adotassem
o sistema estadunidense de pesos e medidas. E assim foi
feito. Greenwich (0°) marca o início da contagem das ho-

ras de um dia, enquanto a linha internacional de mudança
de data (180°) marca a passagem de um dia para outro.
EQUADOR

Meridiano de Greenwich e outros meridianos

180º –

A latitude de um lugar é definida pela distância angu-


lar (em graus) entre um ponto desse lugar e o plano do
equador, tendo o eixo da Terra como vértice. Ela pode
ILUSTRAÇÕES: AVITS

variar de 0° a 90° para norte ou para sul.


MERIDIANO PRINCIPAL

Latitude
NORTE

P
 = LATITUDE
DE P
OESTE

– 0º +

Além dos fusos horários no planeta, o meridiano de EQU


ADO
R
Greenwich também é a referência inicial para a definição das
longitudes. A longitude de um ponto qualquer na superfície
terrestre é a medida angular (em graus) entre os planos que
contêm o ponto, o eixo da Terra e o meridiano de Greenwich. SUL
814-1

Ela pode variar de 0° a 180° para leste ou para oeste.

POLISABER 23
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3

Como o plano cartesiano da matemática, que você Latitude e Longitude


já conhece, o sistema de coordenadas geográficas é
composto por dois eixos perpendiculares: um eixo de- te Polo Norte
nor
de
finido pela linha do equador e os paralelos e outro, por it tu
a

L
Greenwich e os outros meridianos. A interseção dos
eixos corresponde à definição da coordenada geográfica
de um lugar. Um ponto qualquer no planeta é definido
pela interseção de duas linhas perpendiculares entre si
Paralelo c r)
e paralelas aos respectivos eixos, e expresso, assim, por entral (Equado

dois valores, a latitude (0° a 90° norte ou sul) e a longitude


at

L
(0° a 180° leste ou oeste). it u
de
sul
Polo Sul

Sistema de coordenadas cartesianas

Y Polo Norte

diano central (Greenwich)


(x,y)
Longitude oeste
Longitude
leste

(0,0)

Meri
X
ILUSTRAÇÕES: AVITS

Polo Sul

Para localizar um ponto na superfície terrestre, devemos proceder como na localização do ponto P, na figura a seguir.

Localizando um ponto
165º 150º 135º
180º 120º
165º 105º
150º POLO
NORTE
90º P a60º longitude W Greenwich
50º latitude Norte

135º 75º

120º 60º

105º 45º
P 30º
90º Arco do paralelo
75º Longitude 15º
60º 0º E
45º 15º
30º
Meri
o
ridian

diano

W
Latitude
50º Arco do me

d e G re e n w i c h

Equador

S
814-1

24 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL

As zonas climáticas e as não foi aleatória: os trópicos de Câncer e de Capricórnio


estão no limite máximo onde, nos hemisférios norte e
estações do ano sul respectivamente, os raios solares incidem perpendi-
cularmente ao longo do ano. Sua latitude (23°27’30”) é
Os raios solares não atingem todos os pontos da Terra justamente o ângulo de inclinação do eixo da Terra no
com a mesma intensidade, em razão da esfericidade do movimento de rotação e no plano de sua órbita em torno
nosso planeta. Perto da linha do equador, os raios incidem do Sol. Também os círculos polares foram delimitados
perpendicularmente, ou seja, mais diretamente. Quanto em função da incidência solar: são o limite, em cada he-
mais nos afastamos dessas regiões equatoriais em dire- misfério, a partir do qual dias e noites duram mais de 24
ção aos polos, mais as temperaturas diminuem, pois, com horas no verão e no inverno das áreas polares. Assim, os
os raios “mais inclinados” em relação à superfície, uma trópicos e os círculos polares definem a divisão do globo
mesma quantidade de energia se distribui por uma área terrestre em zonas térmicas, ou climáticas, como vemos
de maior abrangência. Aliás, a determinação dos trópicos nas figuras a seguir.

Paralelos e zonas climáticas

66°32’33’’
zonas glaciais

23°27’30’’ Círculo Polar Ártico

zona temperada

Trópico de Câncer

23°27’30’’

Equador

zona intertropical

66°32’33’’ Trópico de Capricórnio

Círculo Polar Antártico

Zonas da Terra

zona polar ártica

círculo polar ártico

zona temperada do norte

trópico de câncer

zona tropical

equador Sol
zona tropical

trópico de capricórnio

zona temperada do sul


ILUSTRAÇÕES: AVITS

círculo polar antártico


zona polar antártica
814-1

POLISABER 25
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3

Paralelos e meridianos
Polo Norte geográfico: Círculo Polar Ártico:
90° N 65°33´N

Paralelo Trópico de Câncer:


(linha de latitude) 23°27´N

Meridiano Equador: 0°
(linha de longitude) Extensão: 40 075 km

Trópico de Capricórnio:
23°27´S • As linhas da latitude são os pa-

ILUSTRAÇÕES: AVITS
ralelos.Cruzam de leste a oeste.
Círculo Polar Antártico: • As linhas de longitude correm de
66°33´S norte a sul.Elas se encontram
nos polos.São mais afastadas
Meridiano de Greenwich: 0° Polo Sul geográfico:
no equador.
Extensão: 40 007 km 90°S

Em razão do movimento de translação da Terra (em torno do Sol), que dura aproximadamente 365 dias e 6 horas, e à incli-
nação do eixo da Terra em relação ao plano dessa órbita da translação, ocorrem as estações do ano, como ilustra a imagem.

Estações do ano
Equinócio de 21 de março
Início da primavera no hemisfério norte
e início do outono no hemisfério sul. Solstício de 21 ou 22 de dezembro
Início do inverno no hemisfério norte
e início do verão no hemisfério sul.

Sol

Solstício de 21 de junho
Início do verão no hemisfério norte
e início do inverno no hemisfério sul.
Equinócio de 22 ou 23 de setembro
Início do outono no hemisfério norte
e início da primavera no hemisfério sul.

Órbita da Terra: caminho percorrido pela Terra no seu movimento em torno do Sol.
Disponível em: <www.geografiaparatodos.com.br/index.php?pag=infograficos>. (acesso em: 12 fev. 2014)

Entre 21 e 22 de dezembro, os raios solares incidem perpendicularmente, definindo o solstício de verão do he-
perpendicularmente no Trópico de Capricórnio, determi- misfério norte e o inverno no sul, onde agora a incidência
nando maior aquecimento do hemisfério sul e definindo solar tem inclinação máxima. Nessa época, é nas altas e
seu solstício de verão. Nesses dias, portanto, tem início médias latitudes do hemisfério norte que o dia (período
o verão nesse hemisfério, enquanto no norte é inverno, de insolação) dura mais que a noite.
pois ali a inclinação dos raios solares é máxima. Nessa Nesse movimento da Terra, há duas posições interme-
época, principalmente nas latitudes médias e altas, o dia diárias: em 20 ou 21 de março e em 22 ou 23 de setembro
(período de insolação) no hemisfério sul dura mais que os raios solares incidem perpendicularmente na linha do
a noite. Entre 20 e 21 de junho, a situação se inverte. equador, determinando os equinócios, quando os dois
Quando o planeta atinge aquela posição em relação ao hemisférios são igualmente iluminados, e se alternam
814-1

Sol, é o Trópico de Câncer que recebe os raios solares as estações da primavera e do outono.

26 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL

Fusos horários Devemos lembrar, no entanto, que os fusos horários de-


limitados pelos meridianos são divisões teóricas, ou têm
Em razão da esfericidade da Terra e do movimento limites teóricos. Na prática, seria bastante complicado
de rotação em torno de seu eixo, diferentes pontos do um fuso cortar uma cidade ou mesmo um estado, deter-
planeta têm horas diferentes, no sentido longitudinal. minando dois horários diferentes numa mesma unidade
Para padronizar um sistema internacional de tempo, os político-administrativa. Por isso, os países fizeram adapta-
25 países representados na já mencionada Conferência ções e criaram os limites práticos dos fusos horários, que
obedecem às fronteiras político-administrativas. Portanto,
Internacional do Meridiano, em 1884, em Washington,
na prática, as faixas podem não medir exatamente 15°,
decidiram dividir os 360° da circunferência terrestre
mas um pouco menos ou um pouco mais.
pelas 24 horas (aproximadas) do movimento de rotação,
Outro problema abordado na Conferência Internacio-
obtendo assim 15° para cada fuso horário. Também
nal do Meridiano de 1884 foi o de estabelecer um marco
decidiu-se que todas as regiões localizadas num mesmo
para a mudança do dia no planeta. Definiu-se o antime-
fuso devem ter o mesmo horário e que o meridiano de
ridiano de Greenwich, ou seja, a linha de longitude 180°,
Greenwich é o referencial para a contagem dos fusos
oposta ao meridiano inicial, como a linha internacional
e das longitudes.
de mudança de data. Esse meridiano divide um fuso em
Observe na figura abaixo que esse fuso inicial tem 7°30’
que todos os lugares têm a mesma hora, mas, a oeste
em cada lado, oeste e leste de Greenwich, perfazendo
da linha, a data está um dia na frente da data a leste.
os 15° de sua faixa. Assim, os demais fusos se sucedem,
Veja as figuras a seguir.
a partir das longitudes 22°30’ leste e oeste, e, de 15°
em 15°, chegam até a longitude 180°. Como a Terra gira Linha internacional de mudança de data e
de oeste para leste – e, por isso, o Sol “nasce” sempre meridiano de Greenwich
nas proximidades da direção leste –, as horas estão
adiantadas a leste e atrasadas a oeste, para qualquer 135º 150º 165º 180º 165º 150º 135º
referencial adotado. g
erin
d eB
o
reit
Fusos-horários: o fuso GMT Est

SIBÉRIA ALASCA
fuso inicial
60º
TA

22°30’ 15° 7°30’ 7°30’ 15° 22°30’


DA
DE
INTERNACIONAL DE MUDANÇA

40º
OCEANO PACÍFICO

20º

B A

HA
LIN

JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

20º

40º
NOVA ZELÂNDIA
AVITS

814-1

POLISABER 27
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3

É possível ter duas viradas de ano em 24 horas? horas no calendário; inversamente, seguindo a direção
oeste (em que as horas diminuem), avança-se 24 horas
no calendário. Não é surpreendente?

Perde um dia
Território brasileiro: posição
geográfica e extensão
Com aproximadamente 8,5 milhões de km2, o Brasil é
1 de Janeiro 31 de Dezembro
o quinto maior país do mundo em extensão territorial.
Ocupando 42% das terras da América do Sul, o território
brasileiro se estende de norte a sul desde as baixas
Oeste Leste
latitudes do hemisfério norte até as latitudes médias do
hemisfério sul e está totalmente dentro no hemisfério
ocidental. Veja o mapa abaixo.
Nosso território é atravessado pela linha do equador na
AVITS

Ganha um dia porção norte e pelo Trópico de Capricórnio no centro-sul.


De sua grande extensão norte-sul, decorrem as variações
climáticas, desde as altas temperaturas médias anuais
Passando a linha de mudança de data no sentido de das regiões Norte e Nordeste até as médias anuais mais
leste para oeste, avança-se um dia no calendário. No baixas da região Sul. Da grande extensão no sentido
sentido contrário, volta-se um dia no calendário. Note leste-oeste, decorrem os três diferentes fusos horários
que, ao atravessar essa linha, apesar de seguir na dire- brasileiros, todos atrasados em relação à hora inicial e
ção leste (em que as horas aumentam), se retrocede 24 Greenwich (Londres).

A localização do Brasil no planeta

73º 34º

CÍRCULO POLAR ÁRTICO

60 º

ÁSIA
EUROPA
AMÉRICA
DO NORTE
30º
TRÓPICO DE CÂNCER

AMÉRICA
CENTRAL ÁFRICA

0º EQUADOR
CIPAL OU DE GREENWICH

BRASIL OCEANIA
São Paulo
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO AMÉRICA
DO SUL
30º
33º
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
MERIDIANO PRIN

60 º
CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO

ANTÁRTIDA
814-1

180º
150º 120º 90º 73º 60º 34º 30º 0º 30º 60º 90º 120º 150º
2 570 km

28 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL

Até 2008, o território brasileiro tinha quatro fusos ho- Lei restabelece fusos horários do Acre
rários. Uma nova legislação havia eliminado o fuso –5h e de parte do Amazonas
em relação a Greenwich, que abrangia todo o estado do A partir do dia 10, área passará a ter duas horas – e
Acre e o extremo oeste do estado do Amazonas. Veja no não uma – a menos em relação a Brasília e o Brasil
mapa a seguir como era e como ficou. voltará a contar com quatro fusos.

Mudanças no fuso horário brasileiro O Diário Oficial da União desta quinta-feira, 31, traz
publicada a Lei n. 12.876, sancionada pela presidente
1 Dilma Rousseff e que restabelece o fuso horário do
AP Estado do Acre e de parte do Estado do Amazonas para
duas horas a menos em relação ao horário de Brasília.
AM Os fusos dessas duas regiões haviam sido alterados em
PA
2008, pela Lei n. 11.662, que reduziu de duas para uma
AC hora a diferença em relação a Brasília.

Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/


geral,lei-restabelece-fusos-horarios-do-acre-
e-de-parte-do-amazonas,1091749>.
–2 horas
(acesso em: 9 mar. 2014)
–1 hora
horário de Horário de verão
Brasília

Ininterruptamente desde 1985, o Brasil vem implan-


tando todos os anos o horário de verão. Adotada pelos
estados brasileiros mais distantes da linha do equador,
2 onde no verão a diferença de fotoperíodo (exposição
à luminosidade do dia) é maior, essa medida visa à
AP
economia de energia, porque reduz o consumo no
chamado horário de pico, no fim da tarde, quando as
AM PA pessoas saem do trabalho e chegam em casa. Com o
horário de verão, quando se adiantam os relógios uma
AC
hora, ainda está claro nesse momento. Economizamos
em média 4,5% do total consumido nos horários de
pico, que é pouco percentualmente, mas, em valores
absolutos, essa energia poderia abastecer a cidade do
–1 hora
Rio de Janeiro durante um mês.
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

horário de
Brasília A grande extensão territorial do Brasil apresenta uma
série de potencialidades econômicas como a ocorrência
de jazidas minerais, diversidade de recursos florestais,
solos e ambientes variados para as mais diversas produ-
ções agrícolas. São também os condicionantes de ordem
natural que garantem ao Brasil um papel privilegiado
Mapa 2 mostra as áreas que foram alteradas quanto à disponibilidade de água potável e de recursos
Disponível em: <www.brasilescola.com/brasil/fuso-horario-brasileiro.htm>. marinhos, dado nosso extenso litoral atlântico. Por
(acesso em: 12 fev. 2014)
outro lado, tal dimensão territorial acarreta uma série
de questões de ordem política como a dificuldade de
Porém, devido a um plebiscito organizado no Acre, a
vigiar as fronteiras ou de administrar as desigualdades
população local decidiu manter os fusos anteriores como
814-1

a notícia a seguir confirma. regionais, entre outras.

POLISABER 29
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3

EXERCÍCIOS

1. (UFRGS) As bolsas de valores, mesmo localizadas Está(ão) CORRETA(S):


em diferentes países do mundo, funcionam diaria- a) apenas I. d) apenas II e III.
mente entre 9h e 18h. A esse respeito, considere as b) apenas II. e) I, II e III.
seguintes afirmações. c) apenas I e III.

I. O aumento do valor das ações de uma companhia 3. (Enem)


multinacional ocorrido às 10 horas do dia 1o/12/2011
na bolsa de valores de Tóquio influenciará, nesse
Pensando nas correntes e prestes a entrar no braço
mesmo momento, as operações relativas a essas
ações na bolsa de valores de Nova York. que deriva da Corrente do Golfo para o norte, lembrei-me
II. O encerramento das atividades da bolsa de valores de um vidro de café solúvel vazio. Coloquei no vidro uma
de Tóquio ocorre no mesmo dia em que a bolsa de nota cheia de zeros, uma bola cor rosa-choque. Anotei
valores de São Paulo inicia suas atividades, às 9h. a posição e data: Latitude 49°49’ N, Longitude 23°49’ W.
III. O encerramento das atividades da bolsa de valo-
Tampei e joguei na água. Nunca imaginei que rece-
res de Nova York acontece ao final da tarde do dia
1o/12/2011, ao mesmo tempo, ocorre a abertura beria uma carta com a foto de um menino norueguês
das atividades da bolsa de valores de Tóquio, na segurando a bolinha e a estranha nota.
manhã do dia 02/12/2011.
KLINK, A.
Quais estão corretas? Parati: entre dois polos.
a) Apenas I. c) Apenas III. e) Apenas II e III. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
b) Apenas II. d) Apenas I e II. (adaptado)

2. (UFSM) Observe a figura: No texto, o autor anota sua coordenada geográfica,


que é
Incidência dos raios solares no hemisfério sul a) a relação que se estabelece entre as distâncias repre-
Raio tangente sentadas no mapa e as distâncias reais da superfície
Polo Norte
Círc
ulo cartografada.
Raio oblíquo Pol
INV
ar Á
rtic b) o registro de que os paralelos são verticais e con-
Tró ERN o
pic
od
eC
O vergem para os polos, e os meridianos são círculos
ânc
er imaginários, horizontais e equidistantes.
Raio vertical
Equ c) a informação de um conjunto de linhas imaginárias
SOL Tró ado
pic
od
r que permitem localizar um ponto ou um acidente
eC
apr
icó
rnio
geográfico na superfície terrestre.
Raio oblíquo VE
Círc
ulo RÃ
O d) a latitude como distância em graus entre um ponto
Pol
Raio tangente
ar A
ntá e o meridiano de Greenwich, e a longitude como a
rtic
o distância em graus entre um ponto e o equador.
AVITS

Polo Sul e) a forma de projeção cartográfica, usada para nave-


gação, onde os meridianos e paralelos distorcem a
Disponível em: LUCCI, E. A.; MENDONÇA, C.; BRASCO, A. L. Geografia geral
e do Brasil: ensino médio. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 366. superfície do planeta.

Considerando uma estaca fixada verticalmente no 4. (UFPR) Ao planejar uma viagem de férias utili-
chão, ao meio-dia, no início do verão do hemisfé- zando o programa Google Earth, você anotou as
rio sul, em diferentes cidades do Brasil, analise as coordenadas geográficas de dois locais que gos-
afirmativas. taria de visitar na Ilha do Mel (PR), sendo o pri-
meiro de coordenadas 25°33’26.28”S (latitude) e
48°18’30.75”O (longitude), e o segundo de coor-
I. Na cidade de Belém, a sombra projeta-se na dire-
denadas 25°33’46.27”S (latitude) e 48°18’10.10”O
ção norte, porque a luz do Sol percorre o Trópico de
(longitude). Com base nos valores das coordena-
Capricórnio.
das, é correto afirmar que, do primeiro para o se-
II. Em Goiânia, a sombra projeta-se na direção sul,
gundo ponto, você se deslocou para
pois, no solstício de verão do hemisfério sul, os
raios solares percorrem o Trópico de Câncer. a) leste.
III. Em Porto Alegre, a sombra projeta-se na direção b) nordeste.
sul, fazendo com que os cômodos das residências c) sudeste.
situadas na face norte recebam insolação, enquan- d) oeste.
814-1

to as voltadas para a face sul ficam à sombra. e) noroeste.

30 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),
Nas próximas páginas você deverá resolver os exercícios que tratam das noções básicas de localização e orientação.
Procure ajuda em um atlas ou globo terrestre para resolvê-los. Os textos e as sugestões também colaboram para um
melhor aprendizado dos conteúdos destas aulas.

EXERCÍCIOS

1. (UFPR) As estações do ano estão associadas ao disposta verticalmente sobre uma folha de cartolina
movimento de translação da Terra em torno do Sol, colocada no chão para marcação da sombra proje-
juntamente com a inclinação do eixo de rotação. No tada ao longo do dia, como ilustra a figura. Durante
Brasil, as estações como as conhecemos (outono, a atividade, a vareta e o papel permanecem imóveis.
inverno, primavera e verão) só são claramente no-
tadas no centro-sul do país. Nas outras regiões, a
percepção prática é outra.

Com relação ao texto acima e com os seus conhe-


cimentos de Geografia, considere as seguintes afir-
mativas.

AVITS
1. No Nordeste brasileiro, em função da sua localiza-
ção próxima ao círculo do equador, tem-se apenas
duas estações durante o ano: a chuvosa, de janeiro Vareta, cartolina e papel utilizados para marcação da
a julho, e a seca, de agosto a dezembro. sombra.
2. A população rural da Amazônia vive em função das
duas estações do ano: o verão, de maio a setembro, Com base na experiência descrita, é correto afirmar
que é a estação das chuvas, e o inverno, de outubro que
a abril, que é a estação sem chuvas e de baixo nível a) às 9h, a sombra será projetada para oeste e será
das águas. maior do que ao meio-dia, quando o Sol estará pró-
3. Quando a Terra se encontra em sua órbita próxima ximo do zênite.
do periélio, sua velocidade é maior do que quando b) às 12h, a sombra será projetada para o norte, pois o
ela se encontra próxima do afélio, e isso se reflete na Sol estará ao sul do Trópico de Capricórnio.
desigualdade da duração entre as estações do ano. c) às 15h, a sombra será projetada para o leste e será
4. Os fenômenos do Sol da meia-noite e das auroras menor do que ao meio-dia, em função da rotação da
polares nos países da península da Escandinávia Terra de oeste para leste.
ocorrem durante o solstício de 21 de dezembro. d) em função de a cidade estar ao sul do Trópico de
5. Da mesma forma que o movimento de rotação da Capricórnio, não se observará sombra projetada
Terra serve de base para definir a duração do dia e para o sul.
o de translação, para definir o ano, a translação da e) quanto mais o Sol se afasta do meridiano de
Lua em torno da Terra serve de base para definir Greenwich, maior será a sombra projetada pela
o mês. manhã.

Assinale a alternativa correta. 3. (UFPEL) Devido à necessidade de adequação das


a) Somente as afirmativas 1, 3 e 5 são verdadeiras. transmissões de TV aos diferentes fusos horários
b) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. vigentes no país, em função da classificação indica-
c) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. tiva dos programas, foi sancionado em 24/04/2008
d) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. um Projeto de Lei que altera os fusos horários no
e) Somente as afirmativas 1, 4 e 5 são verdadeiras. Brasil. Com a medida, se igualam os horários do
Acre e do Amazonas, com o adiantamento de uma
2. (UFPEL) Em um determinado dia do ano, uma hora no fuso dos municípios que tinham duas horas
experiência de observação de sombras é de atraso em relação a Brasília. O Pará terá seu fuso
realizada por alunos de uma escola de Pelotas. igualado ao da capital do país.
814-1

Utiliza-se uma vareta de aproximadamente 30 cm, Observe os mapas a seguir.

POLISABER 31
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3

Como é hoje (sem o horário de verão) c) em São Paulo no mesmo horário local, porque ambas
COMO É HOJE* as cidades estarão no mesmo paralelo.
d) em Porto Alegre no mesmo horário local, apesar de o
COMO É HOJE* Rio Grande do Sul estar em outro fuso horário legal.
RR AP F. de e) no Acre às 15h local, considerando que os dois locais
RR Noronha
AP F. de estão a oeste de Greenwich.
AM Noronha
PA MA CE RN
4. (UFRGS) Observe o mapa a seguir, em que estão
AM PA MA PI CE PB
AC PERN destacados o Distrito Federal e os dez estados bra-
TO AL
PB sileiros que sofreram alteração de horário a partir
RO PI SE
AC
MT BA PE AL de outubro de 2007.
RO TO
SE
MT DF BA
GO
DF MG
MS GO ES
SP MG
MS RJ ES 11 12 1 11 12 1
PR SP 10 2 10 2
RJ
SC 9 3 9 3
PR
RS
SC
BRASIL 8
7 6 5
4 8
7 6 5
4

RS

O QUE MUDA
Horário oficial do país Uma hora a menos MT
O QUE MUDA
DF
Uma hora
Horário a mais
oficial do país Duas hora
Uma horasa amenos
menos GO
Uma hora a mais Duas horas a menos MG
MS ES
SP RJ
COMO FICA*
Como fica
PR
COMO FICA*
RR AP SC
F. de
RR Noronha RS
AP F. de
AM Noronha
PA MA CE RN
AM PA MA PI CE PB
AC PERN
AL Essa alteração de horário, conhecida como “horário
RO TO PI PB
SE de verão”, visa uma economia de energia em regi-
AC
MT BA PE AL
RO TO ões em que o aproveitamento da luz solar nessa
SE
MT DF BA época do ano é maior. Esse aumento da luminosida-
GO
MAPAS: JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

DF MG de se verifica nas regiões em que


MS GO ES a) a latitude é maior.
SP MG b) a latitude é menor.
MS RJ ES
PR SP c) a longitude é maior a oeste.
RJ d) a longitude é maior a leste.
PRSC
RS e) a latitude é menor e a longitude é maior a oeste.
SC
RS
5. (UFRGS) Um avião parte de São Paulo às 23 horas,
horário local, com destino a Madri, e chega a seu
destino às 13h do dia seguinte, também horário local.
Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia. Como o tempo de viagem é de 10 horas e no local
de chegada vigora o “horário de verão”, que adianta
o relógio em uma hora, o avião, no seu retorno, par-
A partir da nova definição dos fusos horários no Brasil, tindo às 12 horas de Madri (horário local), chegará a
é correto afirmar que um programa de televisão exibi- São Paulo (horário local) às
do em Brasília às 15h local será visto a) 17 horas.
a) em Manaus às 16h local, devido ao fato de que o b) 18 horas.
fuso horário de Manaus está a leste de Greenwich. c) 19 horas.
b) em Rio Branco às 14h local, considerando que essa ci- d) 20 horas.
814-1

dade estará um fuso horário legal a oeste de Brasília. e) 22 horas.

32 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL

6. (UFRGS) Os classificados a seguir apresentam anún- Samoa, já é sábado na nova Zelândia. E no domingo,
cios para a venda de apartamentos localizados no quando Samoa está descansando, já começaram os
município de Porto Alegre. negócios na Oceania.
Segundo informações do The Guardian, a mudança
de fuso horário seria necessária justamente porque o
VENDO 2 dorm. frente, sacada,
governo deseja facilitar os negócios com Austrália, China
7o andar, boa orientação solar,
e Nova Zelândia. 
port. 24h, próx. UFRGS.
O atual fuso do pequeno arquipélago localizado a meio
Estudo proposta.
caminho entre o Havaí e a Oceania foi estabelecido em
1892, quando Samoa comemorou o 4 de Julho, Dia da
VENDO Ap. 2 dorm. Independência Estadunidense, duas vezes. Na época,
Excel. Ed. Port. 24hs, o país fazia muitos negócios com a Califórnia, e era
água quente, interessante estar com os horários alinhados à costa
ótima orientação solar. Oeste dos Estados Unidos. 
A ideia do governo é mudar o fuso no ano-novo e
eliminar o dia 31 de dezembro do calendário, saltando
Correio do Povo, 23 jul. 2005.
(adaptado) 24 horas para o futuro.
O projeto ainda tem mais um aspecto curioso. O pe-
Nos anúncios, os vendedores indicam vanta- queno arquipélago é composto de dois países: Samoa
gens quanto à localização do imóvel em rela- e Samoa Americana (o primeiro com 2 831 km2 e o
ção à sua orientação solar. Sabendo que Por- segundo com 199 km2), porém só o primeiro mudaria
to Alegre se situa no hemisfério sul, é correto
seu fuso-horário: Samoa Americana continuará com o
afirmar que
a) a face dos imóveis voltada para oeste recebe mais horário antigo. Isso significa que será possível comemo-
energia solar no período da manhã do que no período rar o mesmo dia duas vezes sem deixar o arquipélago –
da tarde. basta atravessar a fronteira entre os países em um voo
b) a face dos imóveis voltada para leste recebe mais que leva menos de uma hora. O governo local, é claro,
energia solar no período da tarde do que no período
já estuda maneira de promover esse “fenômeno” de
da manhã.
c) a face dos imóveis voltada para o norte é a que re- forma turística.
cebe mais energia solar durante o dia.
d) a face dos imóveis voltada para o sul é a que recebe ROTHMAN, Paula.
mais energia solar durante o dia. INFO Online, 10 maio 2011.
e) a face dos imóveis voltada para o norte-leste recebe
menos energia solar durante o dia do que a face
voltada para o sul-leste.
PESQUISAR E LER

RODA DE LEITURA HORVATH, J. E. O ABCD da astronomia e da geofísica.


São Paulo: Livraria da Física, 2008.
Trata dos principais temas da astronomia como a Terra,
Ilha do Pacífico irá um dia para o futuro
seus movimentos e sua forma.
SÃO PAULO – Uma pequena ilha do Oceano Pacífico
pretende ir um dia para o futuro no final deste ano.
A história bem que  poderia, mas não foi tirada do VER E OUVIR
enredo do seriado Lost. Trata-se de uma mudança de
fuso horário planejada pelo governo de Samoa para
facilitar seu comércio com países asiáticos e da Oceania. Série Cosmos. Produzida pelo astrônomo Carl Sagan
Atualmente, quando o Sol está se pondo em Samoa na para a BBC de Londres nos anos 1980, é uma verdadeira
segunda-feira, já é fim do dia de terça-feira na ilha vizinha viagem pelo Universo e suas origens, permitindo com-
de Tonga. Isso significa que, enquanto é sexta-feira em preender o planeta Terra nesse contexto.
814-1

POLISABER 33
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3

Porém, ainda que fosse verdadeira essa propalada


NAVEGAR economia, estaria muito longe de justificar a violência
ao relógio biológico das pessoas e à própria natureza.
Por que haveremos de subordinar-nos à lógica da
Site do Observatório Nacional.
economia de mercado até mesmo em prejuízo da qua-
http://pcdsh01.on.br (acesso em: 12 fev. 2014)
lidade de vida, quando seria mais coerente e sensato
Neste site você poderá acessar as informações sobre os
buscar outros meios capazes de acrescentar esses
fusos horários no Brasil e no mundo.
míseros índices?
Ao que tudo indica, estamos diante de mais uma
Planetário do Rio de Janeiro.
forma de escravidão.
www.rio.rj.gov.br/planetario (acesso em: 12 fev. 2014)
Nas suas origens, o horário de verão remonta a William
Aqui você encontrará uma agenda de atividades astro-
Willet (1865-1915), construtor britânico que, em 1907,
nômicas, além de poder fazer a observação do céu e
defendeu a ideia de adotar um horário de verão, sob o
dos astros.
argumento de que haveria mais tempo para o lazer, me-
nos criminalidade e redução no consumo de luz artificial.
Observatório Naval dos EUA.
A iniciativa provocou logo uma forte oposição por
http://aa.usno.navy.mil/faq/docs/world_tzones.php parte de fazendeiros e outros setores da sociedade,
(acesso em: 12 fev. 2014) sobretudo entre pais de família, preocupados com os
Site militar oficial das forças armadas dos EUA que apre- filhos que teriam de acordar mais cedo.
senta informações sobre astronomia e orientação. Por ironia do destino, Willet não viveu o suficiente para
ver concretizada sua ideia. O primeiro país a adotá-la
foi a Alemanha, em 1916; em seguida, outros países
ÁGORA europeus, por causa da Primeira Guerra Mundial, como
esforço de guerra para a economia de carvão – principal
fonte de energia elétrica à época.
Leia os textos abaixo, que expressam opiniões muito Nos EUA, sob forte relutância, a introdução do horá-
diferentes sobre a adoção do horário de verão no Brasil, rio de verão ocorreu em 1918. E o principal motivo foi
e reflita sobre os argumentos de cada posição. também a Primeira Guerra Mundial.
No Brasil, cuja energia, à razão de 95% é de origem
Texto I hidrelétrica e dispõe de abundantes recursos fluviais, ele
também foi criado, por decreto, em 1931. Servilismo ou
A estupidez do horário de verão mera mania de imitação, o certo é que o pretexto foi o
mesmo: economia de energia elétrica.
Bem que o escritor húngaro Paul Tabori poderia ter E assim, o Brasil é o único país equatorial do mundo
incluído em seu famoso livro – A história da estupidez que adota o horário de verão.
humana – um capítulo especial sobre “a estupidez do Observe-se ainda que nos países equatoriais (cortados
horário de verão”. pela linha do equador), como é o nosso caso, a incidên-
Não consigo encontrar razão alguma que justifique cia de luz solar é relativamente uniforme durante todo
tamanha insensatez, cuja única explicação se resume o ano, sendo de pouca vantagem a adoção do horário
a uma discutível economia de energia elétrica. de verão. Portanto, é desproporcional aos transtornos
Tenho dúvidas sobre os pífios índices dessa decantada biológicos e ao desconforto causado.
economia que, ano após ano, vem oscilando entre 1% e Estudo realizado no Canadá pela University of British
4%. Afinal, até em pesquisas eleitorais essa percentagem Columbia em 1991 e 1992, constatou um aumento de
é suscetível de erro. 8% de acidentes de trânsito no dia seguinte ao da im-
Ademais, convém considerar que, nos grandes cen- plantação do horário de verão.
tros industriais, como São Paulo, por exemplo, os traba- Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 40%
lhadores levam mais tempo para se locomover para o dos brasileiros têm distúrbios de sono, em grande parte
trabalho. Assim, tendo que despertar mais cedo (ainda afetado no período do horário de verão.
no escuro), o consumo de energia elétrica aumenta em “O sono das pessoas no horário de verão não é res-
814-1

vez de diminuir. taurador”, diz o pneumologista e chefe do Laboratório

34 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL

do Sono da UnB, Carlos Viegas. Ele também entende que Texto II


o horário de verão não deveria ser implantado.
É o caso então de perguntarmos: Não estaria aí mais Os benefícios do horário de verão
uma forma de ostentação do poder do Estado?
De fato, no tempo das monarquias absolutistas, em Diminuição dos riscos de restrição de carga no horário
colaboração com a Igreja, bastava que os sinos cha- de pico e melhores condições para aproveitamento das
massem para o rito da oração, depois para o trabalho, capacidades de geração das usinas.
e todos obedeciam. Preservação do meio ambiente, evitando a poluição
Posteriormente, com a Revolução Industrial, a tirania do que seria produzida pela queima de combustível fóssil
relógio despertador arrancava os trabalhadores da cama, e para geração de energia de origem térmica.
todos se dirigiam às fábricas, às oficinas, enfim, ao serviço. Melhoria na qualidade de vida da população, pelo
Atualmente, o despotismo estatal do horário de verão melhor aproveitamento da luz solar, com dias mais
chega a antecipar em uma hora a imposição do exercício longos para o lazer e maior segurança ao entardecer.
da obediência.
E todos devem curvar-se prontamente à obediência Disponível em: <www.ebc.com.br/noticias/
irrestrita e incondicional, sob pena de sérias complica- brasil/2012/10/os-beneficios-e-os-
problemas-do-horario-de-verao>.
ções, até mesmo aqueles que não concordam, como
(acesso em: 12 fev. 2014)
eu, e relutam contra tamanha estupidez.
Eis aí mais uma forma da escravidão moderna.

SURGIK, Aloísio.
Gazeta do Povo, Curitiba, 20 nov. 2006. p. 13.

S E N H A

Além das coordenadas geográficas, que outros elementos


814-1

são importantes para que possamos de fato nos situar no planeta Terra?

POLISABER 35
GABARITO: GEOGRAFIA DO BRASIL

Aulas 1 e 2 A alternativa (A) é falsa. Como diz o texto os imigran-


tes, à época, viajavam por estradas.
Estudo orientado A alternativa (C) é falsa. Os aportes de capital às
ferrovias eram promovidos pelos grandes cafeicultores,
1. c 2. e proprietários de terra.
A alternativa (D) é falsa. Para muitos fazendeiros a
3. e mão de obra estrangeira era imprescindível na produção.
A formação da ONU após a 2ª Guerra Mundial iniciou A alternativa (E) é falsa. As terras eram concentradas
um novo processo nas relações internacionais. A criação nas mãos de poucos grandes proprietários, denotando
de agências multilaterais e propostas de políticas públicas uma forte concentração fundiária.
para favorecer o crescimento econômico foram impor-
tantes no período. A industrialização estava na ponta do 7. c 9. a
processo e políticas de empréstimos aos países mais
pobres para que se industrializassem surtiram bons efei- 8. b 10. c
tos por algum tempo. Entre outros aspectos o processo
favoreceu a migração campo-cidade, a industrialização
do sul e sudeste do Brasil, reforçando o papel do Estado 11. – O custo do frete por tonelada é bastante reduzido
nacional. para distâncias superiores a 300 km.
– O custo mais barato do frete ferroviário é decisivo
4. c para a competitividade de produtos de baixo valor
As grandes áreas naturais remanescentes do pla- por volume, amplamente exportados pelo Brasil.
neta, em geral localizam-se em países pobres ou em – Os traçados a serem construídos irão conectar
alguns casos, emergentes. Os Estados nacionais nessas diversas áreas importantes do interior aos portos
condições, em geral ficam expostos a ação agressiva de exportadores do país, barateando o preço final
grupos transnacionais. dos produtos.
A frase II é falsa, esses Estados tem poucas condições O sistema ferroviário apresenta diversas vantagens
de implantar macropolíticas de controle e fiscalização. perante outros modais de transporte, como: menor con-
A frase IV é falsa, sob a ótica capitalista a preservação sumo de combustível em relação ao volume da carga
de áreas naturais e o desenvolvimento sustentável ficam, transportada, o que resulta em menor ônus e aumento
em geral, em segundo plano. da competitividade da produção nacional no mercado
mundial; maior integração do território nacional aumen-
5. e tando a circulação da produção e a conexão de regiões
marginais aos centros mais desenvolvidos; criação de
6. b corredores de exportação, agilizando o escoamento da
Uma das principais mudanças socioeconômicas produção nacional.
decorrentes da expansão cafeeira em São Paulo foi a im-
plantação e expansão da rede ferroviária. Esse processo 12. Dentre as atividades que podem se desenvolver na
permitiu uma penetração cada vez maior de população cidade do Rio de Janeiro, os serviços estão entre as
em direção ao interior, favorecendo a expansão da pro- de maior potencial. O turismo e atividades de en-
dução além do escoamento através do porto de Santos. tretenimento, serviços qualificados e de gestão de
No entanto, a falta de visão estratégica de longo prazo de negócios e serviços avançados de pesquisa e de-
seus gestores na época fez com que as ferrovias tivessem senvolvimento são alguns exemplos.
problemas desde seu início, com traçados irregulares,
bitolas dos trens diferentes, que inviabilizavam qualquer 13. a) A região Nordeste passou por um processo de
tipo de integração. O mesmo aconteceu com as rodovias, industrialização mais recente comparativamente
mal construídas e sem infraestrutura em seu percurso, ao Sudeste. Devido a suas condições locacionais,
apontando para um modelo econômico preocupado infraestruturais, dos investimentos e da qualifica-
apenas com as exportações e ganhos auferidos a uma ção de sua mão de obra, a região Nordeste de-
814-1

minoria de proprietários rurais e banqueiros. senvolveu mais o setor de bens de consumo não

36 POLISABER
gabarito GEOGRAFIA DO BRASIL

duráveis como os setores alimentício, calçadista,


têxtil e construção civil. São setores relativamen-
te mais simples e suas cadeias produtivas tem
maior capacidade de contratar mão de obra, com
vantagens comparativas para uma região carente
de atividades.
b) A concentração histórica de capital na região
Sudeste, foi geradora de novas necessidades de
consumo e diversificação.Isso acaba transforman-
do a região na maior concentração industrial do
Brasil, caracterizado por setores os mais variados,
com unidades de produção que vão desde as mais
simples, bens de consumo não duráveis, como
alimentícia e construção civil, até as mais comple-
xas e desenvolvidas como informática e aviação,
passando pela indústria pesada como siderúrgicas.
A evolução tecnológica e comercial criou novas
demandas e mudanças locacionais, favorecendo
a descentralização da produção e o surgimento de
tecnopolos que concentram áreas de formação de
mão de obra, pesquisa e produção e com níveis
cada vez maiores de automação que modificam a
estrutura funcional, demandando cada vez menos
trabalhadores. São fatos que exigem novas política
públicas de qualificação e localização da mão de
obra com ênfase a novas possibilidades como
serviços e terceiro setor.

Aula 3

Estudo orientado

1. a

2. c

3. b

4. a

5. b

6. c
814-1

POLISABER 37
ORIENTAÇÃO DIDÁTICA

Caderno 1: aulas 1 a 3 Aulas 1 e 2

Caro(a) professor(a), 1. F-V-V-V-F


1a assertiva: nossa história evidencia um passado
Neste primeiro caderno de Geografia do Brasil iniciamos colonial, mas não se pode afirmar sobre a livre des-
uma discussão conceitual sobre a ciência geográfica. coberta do nosso território pela população, pois não
Nosso objetivo é, a princípio, delimitar um campo relati- podemos ignorar a escravidão negra e indígena.
vamente abrangente, no qual se insere uma concepção Portanto, é falsa a afirmação.
da Geografia e de seu objeto de estudo identificada com 2a assertiva: é verdadeira a afirmação sobre a misci-
o projeto pedagógico do Cursinho da Poli. Nesse sentido, genação no Brasil, já que fomos formados pela mis-
fizemos uma releitura da proposta da geografia crítica tura de vários povos, considerando o Brasil o país
e dos ensinamentos do mestre Milton Santos que já fi- mais miscigenado do mundo.
guravam em nosso material anterior. Assim, revisitando 3a assertiva: não somente as indígenas, mas as ou-
alguns conceitos e categorias de análise já incorporadas tras etnias também. Entre as contribuições habitu-
às nossas aulas, como espaço, território, redes, sistemas ais pode-se citar nomes de pessoas, lugares, idio-
técnicos, objetos técnicos, próteses territoriais, rugo- ma, hábitos alimentares, vestimentas entre tantos
sidades, entre outros, entendemos como necessário e outros. Logo, é verdadeira a afirmação.
didático, além da definição de tais conceitos, um diálogo 4a assertiva: é correta a proposição que diz que ini-
com a experiência dos alunos e das alunas, que com cialmente tivemos as capitanias hereditárias como
certeza ajudam a ressignificar esses saberes segundo forma de governo. Ao longo de nossa trajetória
suas visões de mundo. histórica evoluímos para os estados e municípios,
Posteriormente, abrimos espaço para a busca de uma que mantêm uma relação de descentralização cen-
história do território brasileiro dentro da perspectiva de tralizada com o governo federal, representante da
sua apropriação como “território utilizado”, ao mesmo união, uma vez que a autonomia municipal e esta-
tempo em que se consolidava uma sociedade nacional. dual não é livre como um todo, pois precisa resguar-
Optamos pela trajetória descrita na obra Brasil: território dar princípios e determinações nacionais.
e sociedade no início do século XXI, de Milton Santos, do 5a assertiva: a anexação não foi pacífica e a constru-
meio natural ao meio técnico científico informacional, ção da ferrovia não ficou a cargo do governo bolivia-
e pela riqueza da cartografia de Hervê Théry no Atlas do no, mas o contrário.
Brasil: disparidades e dinâmicas do território. Construir
essa história do nosso território pelos processos socio-
2. c
econômicos que fundamentaram sua apropriação pelos
A partir da década de 2000, a Amazônia, com a
diferentes segmentos sociais em diferentes épocas é
denominação de “nova fronteira energética”, tem
quesito importante para a compreensão da sua atual con-
recebido maciços investimentos destinados à cons-
figuração. É válido explorar os mapas, discutir e traduzir
trução de hidrelétricas como: Belo Monte, no rio
os conceitos, incorporando os saberes dos educandos
Xingu; Jirau e Santo Antonio, no rio Madeira; e Ma-
que emergem em sala de aula e os ressignificar.
rabá, no rio Tocantins. Estão incorretas as demais
Assim, entendemos que, além da função propedêutica
alternativas por tratarem de acontecimentos que
dos ensinamentos geográficos, estamos contribuindo para
não estão ocorrendo na região ou que nela não im-
uma formação que permita aos alunos fazer uma leitura
pactaram.
crítica do espaço em que vivemos e nos relacionamos.
Desde já me coloco à disposição de vocês para trocar-
mos ideias, experiências, dúvidas, inquietações, em busca 3. e
do melhor para nossos alunos. O desenvolvimento das redes de transportes (prin-
cipalmente as rodovias) e dos portos no território
Boas aulas! brasileiro é muito importante para o processo de
descentralização industrial para as regiões Norte,
Nordeste, Sul e Centro-Oeste e o interior de São
814-1

Paulo. Fatores adicionais foram: incentivos fiscais,

38 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL orientação didática

menor custo com mão de obra e doação de terre-


nos pelo poder público.

4. c
a) Falsa: a indústria de base praticamente inexiste na
região, cuja vocação agropecuária gerou prosperida-
de e atraiu a indústria de transformação da produção
agropecuária e de produção de bens de consumo.
b) Falsa: o ciclo da borracha teve seu auge entre o final
do século XIX e início do século XX.
c) Verdadeira: a região Centro-Oeste constituiu-se em
área de expansão da fronteira agropecuária, com
rápido crescimento a partir dos anos 1980. Suas
cidades, em geral, são novas e se valeram do boom
do agronegócio, tornando-se prósperas, construídas
e reformadas há pouco tempo.
d) falsa: a Chapada dos Guimarães não apresenta áreas
de mineração significativas.
e) falsa: a região pantaneira não se constitui em área
extrativista.

5. b

Aula 3
1. e

2. c

3. c

4. c
814-1

POLISABER 39
814-2 RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS

GEOGRAFIA DO BRASIL 2
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 4
RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS

O relevo terrestre é fruto da atuação de duas forças


opostas – a endógena (interna) e a exógena (externa) –,
sendo que as internas são geradoras das grandes formas
estruturais do relevo e as externas são responsáveis pelas
formas esculturais.
Jurandyr S. Ross

O relevo e os solos dos movimentos das placas tectônicas e da dinâmica


da parte mais interna da crosta continental e da crosta
brasileiros: características, oceânica. Apesar de estar intrinsecamente relacionados,
manejo e degradação esses movimentos ou forças de origem interna ou en-
dógena podem ser divididos em dois grandes grupos: o
A compreensão do relevo brasileiro exige muito mais do vulcanismo e o tectonismo.
que a memorização mecânica do nome de suas unidades O vulcanismo é o processo de constante movimento
ou a localização dessas unidades no território. O relevo se
do magma em razão das diferenças de temperatura
impõe como um elemento natural cuja complexa gênese
no interior do manto. O magma mais quente e interno
e estruturação não correspondem exatamente aos limites
tende a subir para a superfície, e o mais externo e mais
estabelecidos pelas divisões político-administrativas.
frio, a descer para o interior da Terra. Às vezes, em
Portanto, para melhor entender esse relevo devemos
alguns pontos do planeta, esse magma mais quente
situá-lo num contexto mais amplo, da configuração do
alcança a crosta continental, gerando intrusões mag-
relevo terrestre no subcontinente sul-americano e suas
macroformas, e depois estudar os efeitos dos agentes máticas no interior das rochas, e pode chegar à própria
externos e internos no resultado das formas atuais. superfície terrestre, gerando extrusões ou derrames
de lava. Quando a extrusão ocorre de forma explosiva,
A gênese do relevo terrestre formam-se os vulcões. Tais intrusões e extrusões resul-
tam em formas de relevo, como um edifício vulcânico,
Nas aulas anteriores sobre a Geologia do Brasil, estu- ou originam rochas que oferecem diferentes níveis de
damos alguns processos que ocorrem na litosfera a partir resistência à erosão dos agentes externos.

Limite das placas Limite das placas Limite das placas Rifte continental
convergentes divergentes convergentes

Limite das placas


transformadoras Fossa
oceânica

Vulcão
extinto
Crosta continental

Vulcão
ativo

Crosta oceânica
AVITS
814-2

0015

A dinâmica interna da Terra e os tipos de limite entre as placas.

2 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL

São os movimentos do magma que também originam o tectonismo, ou o movimento das placas e as formas resul-
tantes. Podemos agrupar os tectonismos em duas vertentes: a orogênese e a epirogênese.
A orogênese se refere aos movimentos geológicos que levam à formação de montanhas ou cadeias montanhosas.
Esses movimentos são produzidos por dobramentos e falhamentos resultantes do choque entre as placas em razão de
seus deslocamentos horizontais e são considerados rápidos, em termos geológicos.

Muro Tecto
Tecto Muro

Falha normal: Falha inversa:


– O tecto desce em relação ao muro. – O tecto sobe em relação ao muro. Falha de desligamento:
– Resulta de forças distensivas. – Resulta de forças compressivas. – Os dois blocos deslizam lado a lado.

Tipos de falhamentos provocados pela compressão das rochas em razão dos movimentos de placas.

Já a epirogênese é um lento movimento de subida ou descida de grandes porções da crosta provocado pela com-
pensação de pressão que um bloco da litosfera exerce sobre as áreas mais próximas, provocando sua elevação pelo
princípio da isostasia. É importante salientar que, em muitos casos, a epirogênese é um movimento derivado de uma
orogênese, ou seja, eles são interdependentes, e em ambos ocorrem falhamentos, fraturas de rochas e vulcanismo.

Rochas recentes
ILUSTRAÇÕES: AVITS

Anticlinal Sinclinal Rochas antigas


Exemplo de dobras causadas pelas forças endógenas ou internas.

Entre os processos ou agentes internos, também podemos identificar aqueles considerados passivos, como os di-
ferentes tipos de rocha que estudamos nas aulas anteriores, que oferecem distintos níveis de resistência aos agentes
externos ou erosivos.
As forças de origem externa ou exógena resultam das dinâmicas atmosféricas que agem sobre as estruturas rochosas
esculpindo diferentes formações, atacando as rochas e destruindo-as. A ação mecânica provocada pelas variações de
temperatura e pelos ventos e a ação físico-química da água em seus três estados atuam simultaneamente na modela-
gem do relevo terrestre, mas diferem em termos de intensidade segundo os tipos climáticos dominantes. Por exemplo,
nas áreas desérticas, o papel preponderante no processo de intemperismo (destruição das rochas) é o da variação de
temperatura e do vento, que, transportando detritos menores, provoca atrito sobre as superfícies rochosas ou deposita
esses detritos formando as dunas. Nas áreas mais quentes dos trópicos e do equador, a ação química da água e as altas
temperaturas concorrem mais intensamente para o processo erosivo, assim como, nas áreas polares, a ação física do
814-2

gelo é mais determinante na construção das formas de relevo.

POLISABER 3
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4

2. A erosão carrega as partículas produzidas pelo intemperismo.

AVITS
1. O intemperismo
altera as rochas Geleira 3. O transporte por água, geleiras e vento
física e quimicamente. move as partículas morro abaixo.
Lago tipo playa
Deserto

Rochas
sedimentares

4. A deposição (ou sedimentação) ocorre quando Ação dos agentes externos


as partículas se assentam ou os minerais
dissolvidos se precipitam.
na formação do relevo.

É importante salientar o papel das águas pluviais (chuvas), fluviais (rios) e oceânicas na esculturação do relevo, tanto
esculpindo (erosão propriamente dita) como construindo formas ao transportar o material sedimentar e depositá-lo em
áreas mais planas como praias ou várzeas de rios.

As estruturas do relevo sul-americano

Como vimos na aula de Geologia, existem três grandes domínios estruturais ou estruturas geológicas no planeta: os
escudos cristalinos, também chamados de plataformas ou crátons, as bacias sedimentares e os dobramentos orogênicos
modernos e antigos.

Mundo: estrutura geológica


150º 120º 90º 60º 30º 0º 30º 60º 90º 120º 150º

Escudo 60º
Escudo Angara
Escudo
Canadense Fino-Escandinavo
ort e

Fs. das
Aleutas
oN
tic
lân

Fs.
At

o
ld
do

sa
Ja

30º
r
Do

Escudo
pão

Fs.
Gu
Guineano
ate
ma
la
Escudo D
Guiano
or
sa

Cobertura sedimentar 0º
Do

l Ín
rsa

Escudo
dic

Quaternário
l do

Brasileiro
o-Aráb o

Dobramentos jovens (alpinos) F


Atlâ
s.
At

ntico

ic

Dobramentos antigos
aca

30º
(caledonianos e hercinianos)
ma

Sul

Pré-Cambriano

Plataformas e escudos
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

Direção das cadeias


o
tic

Falha
ár

nt
o- A
Fossa D o r s al I n d
60º
Fossa submarina

2 340 km

O Brasil no contexto das macrounidades estruturais da América do Sul.


814-2

Fonte: Atlas geográfico. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1986.

4 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL

Na borda ocidental da América do Sul ocorre uma cadeia marginais no território brasileiro. Nessas regiões também
orogênica recente (Cenozoica), os Andes. Com uma forma encontramos faixas de dobramentos, ou cinturões orogê-
alongada e estreita, e se estendendo na direção norte- nicos antigos, que originaram as áreas de serras como a do
-sul, essa formação tem altitudes elevadas, normalmente Mar, da Mantiqueira, do Espinhaço ou da Borborema, onde
superiores a 4 000 m. A Cordilheira dos Andes não chega as latitudes ultrapassam, em geral, os 1 500 m. Estudar e
ao território brasileiro, mas sua formação pelo processo de entender a formação e a distribuição das diferentes formas
orogênese na era Cenozoica provocou modificações impor- de relevo no Brasil passa necessariamente por compreen-
tantes nas estruturas das porções leste e central da América der o importante papel dessas macroestruturas descritas
do Sul; por exemplo, a elevação das áreas serranas da Serra anteriormente na gênese do relevo brasileiro.
do Mar e da Mantiqueira e a depressão do Vale do Paraíba.
Nas regiões centrais e mais a leste da América do Sul,
onde fica o território brasileiro, encontramos as estruturas  classificação do relevo brasileiro
A
de plataformas antigas ou crátons (Pré-cambrianas), como o segundo Jurandyr Ross
Escudo das Guianas e o Brasileiro (composto pelo Sul-ama-
zônico, São Francisco e Sul-rio-grandense), e coberturas Os trabalhos de geógrafos como Aroldo de Azevedo,
de plataforma ou bacias sedimentares de diversas idades, nos anos 1940, e Aziz Ab’Saber, nos anos 1960, foram fun-
desde as mais antigas (Paleozoicas) até as de sedimentação damentais para o conhecimento da origem e das formas
recente (Cenozoicas). Tais formações resultam em terrenos do relevo brasileiro. Ambos produziram classificações do
normalmente baixos (abaixo de 1 000 m de altitude) e cujo relevo a partir de diferentes critérios, segundo o que de
desgaste erosivo originou as bacias sedimentares (como mais avançado havia nos estudos geomorfológicos da
a Amazônica, a do Maranhão e a do Paraná). Também as época. No final da década de 1980, a partir dos estudos
áreas de bacias sedimentares e os escudos cratônicos do professor Aziz Ab’Saber e dos mapas resultantes do
sofreram um processo de soerguimento epirogenético na projeto Radambrasil – um levantamento do território na-
era Cenozoica, em razão da orogênese andina. Isso explica cional por imagens de radar obtidas em sobrevoos de um
por que existem áreas sedimentares com altitudes mais avião Caravelle, que durante anos cruzou os céus do país –,
elevadas que alguns escudos. Vale ressaltar que, nas bor- o geógrafo Jurandyr Ross concluiu sua classificação do
das dessas bacias sedimentares soerguidas, processou-se relevo brasileiro incorporando, à delimitação das unidades,
intenso mecanismo erosivo ao longo de mais de 70 milhões critérios morfoestruturais (a estrutura geológica e as for-
de anos, originando muitas das depressões periféricas ou mas de relevo) e processuais (o intenso processo erosivo).

Relevo brasileiro: classificação de Aziz Ab´Saber

Planalto das Guianas

Planícies e Terras Baixas


Amazônicas Planalto do
Maranhão- Planalto
-Piauí Nordestino

Planalto Central
Planícies e
Terras Baixas
Costeiras

Planície Serras e
do Pantanal Planaltos do
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

Leste e
OCEANO Planalto Sudeste
PACÍFICO Meridional

OCEANO
ATLÂNTICO
Planalto
Uruguaio-Sul-Rio-
814-2

-Grandense

POLISABER 5
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4

A classificação de Jurandyr Ross identifica três macrounidades do relevo que contam a história geomorfológica do Brasil:
os planaltos, as depressões e as planícies.

Relevo brasileiro: classificação de Jurandyr Ross


Planaltos
1 – Planalto da Amazônia Oriental
5 2 – Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba
5 3 – Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná
5 4 – Planalto e Chapada dos Parecis
0º 13 EQUADOR 5 – Planaltos Residuais Norte-Amazônicos
23 6 – Planaltos Residuais Sul-Amazônicos
12 1 28 7 – Planaltos e Serras do Atlântico-Leste-Sudeste
8 – Planaltos e Serras de Goiás-Minas
23
1 9 – Serras Residuais do Alto Paraguai
10 – Planalto da Borborema
12 11 – Planalto Sul-Rio-Grandense
6 6 15 2 2
12 14
10
6 2 Depressões
19 12 – Depressão da Amazônia Ocidental
25 24
20 13 – Depressão Marginal Norte-Amazônica
4
28 14 – Depressão Marginal Sul-Amazônica
15 – Depressão do Araguaia
15
17 9 16 16 – Depressão Cuiabana
17 – Depressão do Alto Paraguai-Guaporé
8 18 – Depressão do Miranda
26 OCEANO
19 – Depressão Sertaneja e do São Francisco
7 20 – Depressão do Tocantins
ATLÂNTICO 21 – Depressão Periférica da Borda
OCEANO 3
918 Leste da Bacia do Paraná
PACÍFICO 22 – Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense
TRÓPICO
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

D E CAPRI
21 CÓRNIO

Planícies
23 – Planície do Rio Amazonas
24 – Planície do Rio Araguaia
22 25 – Planície e Pantanal do Rio Guaporé
11 27 26 – Planície e Pantanal Mato-Grossense
450 km 27 – Planície da Lagoa dos Patos e Mirim
28 – Planícies e Tabuleiros Litorâneos
50°O

Fonte: ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2004. p. 334.

1. Planaltos 1.3 Planaltos em núcleos cristalinos arqueados


São os terrenos mais elevados e acidentados do território Essa unidade corresponde a dois trechos, um no
brasileiro, pois trata-se de formas residuais, ou seja, terrenos Nordeste (planalto da Borborema) e outro no extremo
que, independentemente da estrutura geológica, foram mais sul (planalto Sul-rio-grandense), que fazem parte do
resistentes aos processos erosivos. Subdividem-se em: cinturão orogênico do Atlântico, mas que estão isola-
1.1 Planaltos em bacias sedimentares dos. São dobramentos antigos soerguidos em forma
Apresentam-se em formas mais suaves (topos planos, de cúpula, intensamente erodidos ao longo do tempo
convexos) e, no contato com as depressões que os cir- geológico, que alcançam até 1 000 m de altitude na Bor-
cundam, formam-se relevos escarpados (mais inclinados) borema, com estrutura cristalina (rochas magmáticas
chamados de cuestas. e metamórficas), e 450 m no Sul-rio-grandense, com
1.2 Planaltos em intrusões e coberturas residuais estrutura variada.
de plataformas 1.4 Planaltos em cinturões orogênicos
Trata-se de uma unidade composta de áreas residuais São unidades que representam faixas de antigos do-
(que sofreram diversos ciclos erosivos) sedimentares e bramentos orogenéticos que sofreram intenso processo
por uma variedade de morros e serras isolados que se ori- erosivo e soerguimento epirogenético no Cenozoico.
ginaram de intrusões magmáticas que formam granitos, Compõem normalmente serras de origem metamórfica e
derrames vulcânicos e dobramentos antigos (Pré-cam- magmática intrusivas e, na fachada atlântica, apresentam
brianos). Nessa unidade, nos planaltos residuais norte- formas de topos convexos, vertentes inclinadas e vales
-amazônicos, encontramos o pico da Neblina, que, com profundos que Ab’Saber denominou mares de morros
814-2

3 000 m de altitude, é o ponto mais alto do Brasil. mamelonares, ou morros em “meia-laranja”.

6 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL

2. Depressões
Em geral, sua gênese é ligada aos intensos processos erosivos em sucessões de climas úmidos e secos ao longo
da era Cenozoica, nas bordas das bacias sedimentares, se colocando entre estas e os maciços antigos do cristalino.
Apresentam formas suaves, com topos bastante convexos, variando entre 100 m e 500 m de altitude e, em seus limites
com os planaltos, escarpas na forma de cuestas.

3. Planícies
São áreas bem planas, normalmente abaixo de 100 m de altitude, onde predomina um processo de deposição de
sedimentos de origem fluvial, marinha ou lacustre recente, do período Quaternário da era Cenozoica.

O relevo brasileiro em mapa e perfis, segundo Jurandyr Ross

Perfis de pedra 1
Três grandes recortes ajudam a enxergar a cara do nosso país
2

1 Planaltos Residuais
Norte-Amazônicos
Planalto da
3 000 m Amazônia Oriental
ILUSTRAÇÕES: AVITS

2 000 m
Depressão Marginal
Norte-Amazônica
Planície do
Depressão Marginal
Planaltos
Residuais
3
Rio Amazonas
1 000 m Sul-Amazônica Sul-Amazônicos

0m
Norte: Esse perfil (noroeste-sudeste), com cerca de 2 mil quilômetros, vai das altas serras de Roraima até
Mato Grosso. Mostra as faixas de planícies às margens do rio Amazonas, a partir das quais vêm extensões
de terras mais altas: planaltos e planícies.

2
3 000 m Planaltos e Escarpa Planalto do
chapadas da (ex-serra) Borborema Tabuleiros
2 000 m bacia do Rio do Ibiapaba litorâneos
Rio
Parnaíba Depressão
Parnaíba
Sertaneja Oceano Atlântico
1 000 m

0m

Nordeste: Com quase 1,5 mil quilômetros, esse perfil vai do Maranhão a Pernambuco.
É um retrato fiel do relevo da região, com destaque para os dois planaltos (o da bacia do Parnaíba e o do
Borborema) cercando a Depressão Sertaneja (ex-Planalto Nordestino).

3
Planaltos e Depressão
3 000 m chapadas da periférica da Planaltos e
Planície do bacia do Paraná borda leste da serras do Atlântico
2 000 m Pantanal Mato- bacia do Paraná leste-sudeste
-Grossense Rio Paraná
Oceano Atlântico
1 000 m

0m

Centro-Oeste e Sudeste: Esse corte, de cerca de 1,5 mil quilômetros, vai de Mato Grosso do Sul ao litoral
paulista. Além da planície do Pantanal pode-se ver a bacia do Paraná, formada por rios de planalto, que
abriga as maiores hidrelétricas do país.
814-2

Fonte: Guia do Estudante – Geografia. São Paulo: Abril, 2009. p. 31.

POLISABER 7
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4

Os solos

ILUSTRAÇÕES: AVITS
A parte mais externa e não consolidada da litosfera,
que recobre as formas de relevo e as estruturas geo-
lógicas, corresponde ao chamado solo ou rigolito. Sua O – Horizonte com predominância de restos orgânicos.
origem está ligada ao processo de intemperização ou
A – Horizonte mineral escurecido pela acumulação
decomposição das rochas pelos agentes climáticos de matéria orgânica.
e biológicos e ao transporte desses fragmentos pela
E – Horizonte de cores claras, de onde as argilas
ação da gravidade. É um elemento importantíssimo
e outras partículas finas foram lixiviadas pelas
para o desenvolvimento da vida, permitindo o fluxo de g
águas perculantes.
matéria e energia entre o mundo inorgânico (minerais B – Hor izo
Horizonte de acumulação de materiais provenientes
e rochas) e o orgânico (plantas e animais), e é também d oss hor
dos riz
horizontes superiores, nomeadamente argilas.
P od
o
Pode d
de aapresentar
ap
pr cores avermelhadas em razão da
modificado por ela, pelas relações que mantém com p rreesen
presençançça de óxidos e hidróxidos de ferro.
várias formas de vida. Por isso, dizemos que o solo
se encontra na interface entre o mundo orgânico e o C – Horizonte
Ho
orrizo constituído por material não consolidado.

inorgânico, pois nutrientes como o fósforo, o potássio,


o cálcio, além da água, são absorvidos pelas plantas em
seus tecidos e estas, por sua vez, integram toda uma
cadeia biológica de que os solos são a base. A própria
composição do solo revela essa condição: fragmentos R – Rocha consolidada.
minerais de diversas dimensões (argilas, areias, silte,
cascalho), matéria orgânica em diversos estágios de
decomposição, ar, água e seres vivos, desde minhocas,
formigas e cupins até bactérias e fungos. Há uma enor-
O solo e seus horizontes ou suas camadas.
me variedade na composição dos diferentes tipos de
solos quanto a textura, cor e porosidade, por exemplo,
em razão dos diferentes ambientes em que ele se forma
Os solos brasileiros
segundo o clima, o relevo, a cobertura vegetal e o tipo
de rocha-mãe.
No território brasileiro, os climas tropicais e subtropi-
O processo de formação dos solos é extremamente
cais e as formas de relevo são determinantes no predo-
lento. Calcula-se que 2,5 cm de solo levem de cem a dois mínio de um tipo de solo: os latossolos. Estes se originam
mil anos para se formar. Daí a importância de sua pre- a partir das chuvas abundantes e das altas temperaturas,
servação, pois o uso inadequado pode levar à destruição que, associadas às formas de relevo mais planas e suaves,
desses 2,5 cm em menos de dez anos. resultam em solos espessos e profundos, devido ao inten-
so intemperismo e, por isso, considerados solos maduros,
ao contrário dos solos rasos, considerados jovens. A água
em abundância promove uma forte lixiviação, quando a
água penetra profundamente, decompondo e “lavando”
camada internamente, levando os nutrientes para as camadas
ric
rica em
mais baixas, determinando assim uma menor fertilida-
húmus
húúm
de, garantida apenas pela camada superficial de húmus
(matéria orgânica). Associada ao calor e à alternância de
estações secas e úmidas, também a água leva à formação
de uma crosta superficial rígida, composta de hidróxidos
de ferro e alumínio, conhecida como laterita, que é bas-
tante prejudicial ao desenvolvimento das plantas.
Entre os latossolos brasileiros, destacamos dois, em
razão de sua maior fertilidade e importância agrícola: o
rocha
roc
cha
massapê e a terra-roxa. O massapê é um latossolo escuro
rocha solos jovens solo maduro
que ocorre na Zona da Mata nordestina, em área de clima
814-2

Processo e etapas da formação do solo. tropical úmido e vegetação de floresta tropical, que foi

8 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL

importante na cultura da cana-de-açúcar desde o período escala, que leve à derrubada da floresta, necessitará de
colonial. A terra-roxa é um latossolo avermelhado (rosso fertilização artificial, pois se romperá o delicado equilíbrio
é vermelho, em italiano) que ocupa a região Sul-Sudeste. entre vegetação e solo.
Ela é formada pela decomposição de rochas vulcânicas Há outros tipos de solo no Brasil que ocupam menores
(basalto e diabásio) em clima tropical, que favoreceu o áreas como os aluviais, comuns em várzeas e vales, pouco
desenvolvimento da cultura de café no final do século XIX profundos e constituídos pela deposição de sedimentos
e até hoje é importante nas culturas de cana-de-açúcar recentes, os hidromórficos, onde é constante o enchar-
e laranja no interior do estado de São Paulo. camento pela água, pois ficam onde os lençóis freáticos
Vale lembrar que os latossolos amazônicos, que sus- alcançam a superfície. Se drenados, podem até servir à
tentam a floresta equatorial, são férteis graças à camada agricultura, porque contêm boa dose de matéria orgâni-
superficial de húmus, tendo em vista os terrenos bem ca. Por último, os solos do semiárido nordestino, onde
planos, o calor e a densa cobertura vegetal. Todavia, o clima seco originou um solo raso e duro, mas rico em
essa fertilidade é totalmente consumida pela floresta; nutrientes minerais e que, quando irrigado, oferece boas
consequentemente, a ocupação agrícola em grande condições para o desenvolvimento agrícola.

Classificação dos solos segundo a Embrapa1

Solo Características

Solo pouco evoluído, com ausência de horizonte B. Predominam as características herdadas do material
Neossolo
original.
Solo com desenvolvimento restrito; apresenta expansão e contração pela presença de argilas 2:1
Vertissolo
expansivas.

Cambissolo Solo pouco desenvolvido, com horizonte B incipiente.

Solo com desenvolvimento médio; atuação de processos de bissialitização, podendo ou não apresentar
Chernossolo
acumulação de carbonato de cálcio.
Solo com horizonte B de acumulação (B textural), formado por argila de atividade alta (bissialitização);
Luvissolo
horizonte superior lixiviado.

Alissolo Solo com horizonte B textural, com alto conteúdo de alumínio extraível; solo ácido.

Argissolo Solo bem evoluído, argiloso, apresentando mobilização de argila da parte mais superficial.

Solo bem evoluído (argila caulinítica – oxi-hidróxidos), fortemente estruturado (estrutura em blocos),
Nitossolo
apresentando superfícies brilhantes (cerosidade).

Latossolo Solo altamente evoluído, laterizado, rico em argilominerais 1:1 e oxi-hidróxidos de ferro e alumínio.

Solo evidenciando a atuação do processo de podzolização; forte eluviação de compostos aluminosos,


Espodossolo
com ou sem ferro; presença de húmus ácido.
Solo com forte perda de argila na parte superficial e concentração intensa de argila no horizonte
Planossolo
subsuperficial.

Plintossolo Solo com expressiva plintilização (segregação e concentração localizada de ferro).

Solo hidromórfico (saturado em água), rico em matéria orgânica, apresentando intensa redução dos
Gleissolo
compostos de ferro.

Organossolo Solo essencialmente orgânico; material original constitui o próprio solo.


Disponível em: <www.cprm.gov.br>
1
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi criada em 26 de abril de 1973 e é vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento (Mapa). Desde a nossa criação, assumimos um desafio: desenvolver, em conjunto com nossos parceiros do Sistema Nacional de Pesquisa
814-2

Agropecuária (SNPA), um modelo de agricultura e pecuária tropical genuinamente brasileiro, superando as barreiras que limitavam a produção de alimentos,
fibras e energia no nosso país. Disponível em: <www.embrapa.br>. (acesso em: 9 mar. 2015)

POLISABER 9
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4

Problemas no uso dos solos

O uso dos solos para atividades agrícolas requer um manejo adequado, que preserve suas características fundamentais
e concorra para sua conservação. Mas nem sempre é isso o que acontece. Alguns problemas que verificamos no Brasil
em função do uso inadequado do solo são:
• perda de fertilidade pela compactação excessiva devido ao uso indiscriminado de arado, máquinas pesadas e pisoteio
pelo gado, diminuindo a porosidade e a permeabilidade do solo;
• contaminação dos solos e das águas de rios e lençóis freáticos pelo uso indiscriminado de pesticidas, fungicidas e
herbicidas;
• desequilíbrio químico e biológico pela excessiva aplicação de fertilizantes, cujos componentes químicos (sais prin-
cipalmente) são lixiviados para os lençóis freáticos e cursos de água, que depois será usada na irrigação, levando à
salinização dos solos.
AVITS

Zona de lixiviação
ou eluvial

Zona de enriquecimento,
ou de laterização ou
de iluviação

Zona de rocha pouco


intemperizada

Zona da rocha-mãe
ou rocha matriz

Processo de lixiviação.

• Erosão que ocasiona a perda de mais de um milhão de toneladas de solo por ano no Brasil, afetando principalmente
as áreas onde a agricultura é mais intensiva e mecanizada. O uso em cada área deve ser balizado pela capacidade
agroecológica do terreno. Assim, algumas medidas são necessárias para a melhor conservação dos solos: o reflores-
tamento de topos de morro ou áreas de muito declive, a proteção das mata ciliares evitando o desbarrancamento
de terra nos rios, o plantio de pastagem em áreas de inclinação moderada, o plantio de culturas intercalares nos
corredores das culturas principais ou a cobertura do solo com palha durante os períodos de colheita ou entressafra.
DELFIM MARTINS/PULSAR IMAGENS

Processo erosivo
avançado ou
voçorocamento,
em São Roque de
814-2

Minas (MG).

10 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL

EXERCÍCIOS

1. (Fuvest) Observe o mapa abaixo. Com base no mapa e em seus conhecimentos,


assinale a alternativa correta.
Caminhos das Minas à Bahia – século XVIII
a) O rio São Francisco foi caminho natural para a ex-
CAPITANIA DA BAHIA pansão da cana-de-açúcar e do algodão da Zona
DE TODOS OS SANTOS
Boa Vista Cachoeira da Mata, na Bahia, até a Capitania de São Paulo e
o isc

Minas de Ouro.
ranc

Curralinho
Tranqueira
Faz. do Pau a Pique
ão F

Salvador
b) A ocupação territorial de parte significativa dessa
Rio S

Faz. do Gado Ri
od
Caetité e Co
ntas região foi marcada por duas características geo-
Malhada Montes
Altos CAPITANIA morfológicas: a serra do Espinhaço e o vale do rio
DE ILHÉUS
Brejo do Salgado Faz. da Jaíba São Francisco.
c) Essa região caracterizava-se, nesse período, por pai-
Brejo ha
Grange Rio Je
quitinhon
CAPITANIA DE
sagens onde predominavam as minas e os currais,
Extrema
Barra do
Montes Claros PORTO SEGURO mas no século XIX a mineração sobrepujou as outras
Rio das
Velhas
atividades econômicas dessas capitanias.
d) O caminho pelo rio São Francisco foi estabelecido
Campo da Graça
CAPITANIA DO OCEANO pelas bandeiras paulistas para penetração na re-
ESPÍRITO SANTO ATLÂNTICO
Maquiné
Jequitiba Jaguara
gião aurífera da Chapada dos Parecis e posterior
Sabará
Santa Luzia
pagamento do “quinto” na sede da capitania, em
Vila Rica
Salvador.
CAPITANIA DE SÃO PAULO
E MINAS DE OURO
CAPITANIA DO
180 km
e) As bandeiras que partiam da Capitania da Bahia de
RIO DE JANEIRO
Todos os Santos para a Capitania de São Paulo e Mi-
Localidades (nomes antigos)
Caminho da Bahia pelo Rio São Francisco
nas de Ouro propiciaram o surgimento de localidades
Caminho da Bahia (itinerário de Jõao Gonçalves do Prado) com economia baseada na agricultura monocultora
Rios principais
de exportação.

2. (UFG) Analise os mapas a seguir.

Classificação do revelo brasileiro


Bacias hidrográficas
5
5
5
B ACIAS DO 0º 13 EQUADOR
NO R DEST E
BACIA AM AZÔ NICA
12 1 28
23
B ACIA 1
DO
SÃO 12
FR ANCISCO
B ACIA 6 6 2 2
PLAT INA
B ACIA
12 14
DO 10
LEST E 6 2 19
B ACIAS
DO SU DEST E 25 24
20
E SU L 4
1 160 km 28
15
17 9 16
Planaltos Depressões
1 – Planalto da Amazônia Oriental 12 – Depressão da Amazônia Ocidental 8
MAPAS: JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

2 – Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba 13 – Depressão Marginal Norte-Amazônica 26


3 – Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná 14 – Depressão Marginal Sul-Amazônica 7
4 – Planalto e Chapada dos Parecis 15 – Depressão do Araguaia Mapa do relevo:
5 – Planaltos Residuais Norte-Amazônicos 16 – Depressão
OCEANO Cuiabana 3 ROSS, J. L. S. (Org.).
6 – Planaltos Residuais Sul-Amazônicos 17 – Depressão
PACÍFICO do Alto Paraguai-Guaporé 918
7 – Planaltos e Serras do Atlântico-Leste-Sudeste 18 – Depressão do Miranda Geografia do
8 – Planaltos e Serras de Goiás-Minas 19 – Depressão Sertaneja e do São Francisco Brasil. São Paulo:
9 – Serras Residuais do Alto Paraguai 20 – Depressão do Tocantins 21 TRÓPICO D
10 – Planalto da Borborema 21 – Depressão Periférica da Borda E CAPRICÓ
R
Edusp, 1998. p. 53.
NIO
11 – Planalto Sul-Rio-Grandense Leste da Bacia do Paraná (adaptado)
22 – Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense
Planícies OCEANO Mapa das bacias
23 – Planície do Rio Amazonas hidrográficas:
24 – Planície do Rio Araguaia ATLÂNTICO
25 – Planície e Pantanal do Rio Guaporé 22 SIMIELLI, M. E.
26 – Planície e Pantanal Mato-Grossense 11 Geoatlas. 4. ed. São
27 – Planície da Lagoa dos Patos e Mirim
Paulo: Ática, 1990.
814-2

28 – Planícies e Tabuleiros Litorâneos 27 520 km


50°O (adaptado)

POLISABER 11
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4

Os mapas apresentados destacam as unidades São características do domínio morfoclimático


de relevo e as bacias hidrográficas do território dos Mares de Morros
brasileiro. a) relevo com morros residuais; solos litólicos; vegeta-
A comparação entre a localização geográfica ção formada por cactáceas, bromeliáceas e árvores;
dessas unidades e a rede hidrográfica revela que clima semiárido.
a bacia hidrográfica do Paraguai, no Brasil, possui b) relevo com topografia mamelonar; solos latossólicos;
a maior parte de sua área associada ao relevo de floresta latifoliada tropical; climas tropical e subtro-
a) planície, com rios navegáveis de lento escoamento
pical úmido.
e pequeno potencial hidrelétrico, com ocorrência de
c) relevo de chapadas e extensos chapadões; solos
enchentes frequentes no verão.
latossólicos; vegetação com arbustos de troncos e
b) depressão, com rios intermitentes e perenes, em par-
te navegáveis, com nível muito baixo na estação seca. galhos retorcidos; clima tropical.
c) planície, com rios perenes, navegáveis em grande d) relevo de planaltos ondulados; manchas de terra
parte, com elevado potencial hidrelétrico e desem- roxa; vegetação de pinhais altos, esguios e imponen-
bocadura em região litorânea. tes; clima temperado úmido de altitude.
d) planalto, com rios em parte navegáveis, com gran- e) relevo baixo com suaves ondulações; terrenos basál-
des desníveis de altitude e elevado aproveitamento ticos; vegetação herbácea; clima subtropical.
hidrelétrico.
e) depressão, com rios parcialmente navegáveis e de 4. (UFPR) Os processos de erosão hídrica pluvial
elevado potencial hidrelétrico, com desembocadura representam um grande problema ambiental
em região litorânea. para a sociedade brasileira. Embora a erosão
do solo esteja condicionada às características
3. (Unesp) Para o geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber, o naturais do meio físico, é por meio da ação hu-
domínio morfoclimático e fitogeográfico pode mana que tende a se intensificar.
ser entendido como um conjunto espacial ex-
Com base nessa afirmativa, descreva o proces-
tenso, com coerente grupo de feições do relevo,
so de erosão hídrica nas encostas, destacando
tipos de solo, formas de vegetação e condições
os fatores naturais de interferência, as ações do
climático-hidrológicas.
homem que a intensificam e seus efeitos nega-
tivos para a sociedade.
Domínios morfoclimáticos brasileiros:
áreas nucleares, 1965
5. (Unicamp) A imagem abaixo mostra o Arquipé-
lago de Anavilhanas, no Rio Negro, estado do
Amazonas. Observe a imagem e responda às
questões.
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

660 km
Disponível em: <www.googleearth.com>. (acesso em: 25 set. 2012)
Amazônico Cerrado Mares de Morros
a) O Rio Negro apresenta águas escurecidas, diferente-
Caatingas Araucária Pradarias
mente de outros rios da região, que apresentam co-
Faixas de transição res claras. Por que esse rio apresenta cores escuras?
b) O que explica a grande quantidade de ilhas no ca-
nal do rio? Por que parte dessas ilhas é coberta de
Fonte: AB’SABER, Aziz Nacib. Os domínios da natureza no Brasil:
814-2

Potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê editorial, 2003. (adaptado) floresta?

12 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),
A seguir você poderá avaliar seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os vestibulares abordam
os assuntos das aulas. Na seção Roda de leitura há uma entrevista com o professor e geógrafo Aziz Ab’Saber sobre a
tragédia das enchentes na cidade histórica de São Luiz do Paraitinga. Veja ainda as sugestões nas seções Pesquisar e
ler, Ver e ouvir, Navegar e Ágora para você ampliar seu repertório sobre os temas abordados.

EXERCÍCIOS

1. (UFPA) região que, modificadas, podem resultar em


degradação ambiental. Nesse bioma, essas ca-
A Amazônia, até o Terciário Médio, comportava-se racterísticas estão associadas ao predomínio de
solos
como um paleogolfão da fachada pacífica do continen-
a) hidromórficos, ricos em nutrientes, localizados em
te, intercalado entre os terrenos do escudo guianense reentrâncias litorâneas, em desembocaduras de rios,
e o escudo brasileiro. Era uma espécie de mediter- recobertos por vegetação adaptada à alta salinidade.
râneo de “boca larga”, voltada para o oeste. Quando b) rasos, resultantes de lixiviação incipiente, localiza-
se processou o desdobramento e soerguimento das dos em depressões interplanálticas, recobertos por
Cordilheiras Andinas, restou um largo espaço no centro vegetação adaptada à aridez.
c) salinos, localizados em linhas costeiras, recober-
da Amazônia, exposto à sedimentação flúvio-lacustre
tos por vegetação halófita adaptada às condições
e fluvial extensiva.
edáficas.
d) ácidos, com horizontes bem diferenciados, locali-
AB’SABER, Aziz Nacib. zados em terras baixas, recobertos por vegetação
Escritos Ecológicos. adaptada às condições de alta umidade.
São Paulo: Lazuli, 2006. p. 130-131. e) férteis, localizados em planaltos, originalmente re-
(adaptado) cobertos por vegetação adaptada a temperaturas
amenas.
glossário
paleogolfão: ampla reentrância da costa, com grande abertura, consti- 3. (UFPE) Observe com atenção a fotografia a seguir.
tuindo amplas baías, constatada em antiga era geológica.

As características atuais do domínio morfocli-


mático amazônico têm sua origem na dinâmica
dos processos naturais que ocorreram no passa-
do, conforme explica o geógrafo Aziz Ab’Saber.
Sobre esses processos, avalia-se que
a) contribuíram para a formação das planícies e dos
tabuleiros.
b) favoreceram a gênese da bacia sedimentar.
c) alteraram a direção da drenagem, de leste para oeste.
d) atenuaram as características do clima regional.
e) provocaram a expansão do cerrado sobre a floresta.

2. (UFG) A expansão da fronteira agropecuária


sobre a Amazônia pode ser considerada preo-
cupante não apenas por causa da consequen-
te perda de biodiversidade, mas também pela
própria sustentabilidade dessas atividades
econômicas inseridas no bioma amazônico. Tal
814-2

fato deve-se às características fisiográficas da Localidade: Gilbués, Piauí.

POLISABER 13
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4

Sobre o fenômeno mostrado na fotografia, assinale verdadeiro (V) ou falso (F).


( ) Os processos de erosão exibidos são típicos de áreas de cerrados, onde a ação eólica gera notáveis feições erosivas
do tipo dunas, em geral migratórias.
( ) A paisagem encontra-se nitidamente atravessando um expressivo processo de desertificação, decorrente do aque-
cimento global, que é marcante no Meio Norte, especialmente no Piauí.
( ) O parâmetro de erosão acelerada do solo é considerado um dos principais indicadores de áreas de desertificação
no Nordeste brasileiro.
( ) O fenômeno é de origem predominantemente antrópica, caracterizado pela rápida remoção de solos e/ou fragmen-
tos maiores de rochas, em face da atuação intensificada dos agentes erosivos em áreas onde o equilíbrio natural
foi rompido.
( ) A área fotografada apresenta restrições à formação de solos e mostra cicatrizes de feições de relevo escavadas
pelo escoamento concentrado das águas.

4. (Unesp) No mapa, estão traçados os cortes 1–2 e 3–4.

70º O 60º O 50º O 40º O 30º O

O
EA
N
O
EQUADOR
0º 0º
2
AT

NT
ICO

10º S
10º S

ICO
NT
1

Altitudes 3 LÂ
AT
1 800 m
20º S 1 200 m
20º S
800 m
500 m
TRÓPICO D
E CAPRIC
200 m ÓRNIO

100 m
O

JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL


N

0m
EA

Terreno sujeito a inundação


C
O

Rios permanentes
Rios temporários

30º S
30º S

70º O 60º O 50º O 40º O 30º O

Perfil topográfico
Sa. do Espinhaço
Sa. dos Pirineus
Sa. dos Caiapós

Sa. de Sta. Marta

Ba. de Todos os Santos


Rio São Francisco
Sa. Geral

Sa. Geral
de Goiás

Rio de Contas
Brasília

SO NE
Rio Paraguai

m m
1 500 1 500
1 000 1 000
500 500
0 0
4 000 3 500 3 000 2 500 2 000 1 500 1 000 500 0 km

Exagero vertical: 200 vezes


814-2

Fonte: IBGE. Atlas Geográfico Escolar, 2009. (adaptado)

14 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL

Indique o corte que identifica o perfil topográfi-


co representado e mencione três características RODA DE LEITURA
geográficas encontradas ao longo desse perfil.

5. (Uesc) Para a conservação do solo, é indispen- Leia esta entrevista com o professoree e geógrafo Aziz
sável que seu manejo seja realizado dentro do Ab’Saber sobre a tragédia das enchentes e desmorona-
limite de sua capacidade de uso. Desse modo, mentos no Brasil, como a que destruiu a cidade de São
é importante priorizar as características ine- Luiz do Paraitinga e seu patrimônio histórico em 2010.
rentes a cada tipo de solo, a fim de minimizar
os efeitos da interferência humana.
Com base nessa informação e em seus conhe- Como morreram as casas
cimentos sobre tipos, distribuição, utilização e
conservação dos solos brasileiros, pode-se afir- Para Aziz Nacib Ab´Saber, ilustre filho de Paraitinga, a
mar que ignorância arrasta a história para o fundo dos rios.
a) os latossolos, predominantes em toda faixa litorâ-
nea, são profundos e de elevada fertilidade, o que
facilita a mecanização e a prática de monoculturas Aziz Ab´Saber: “Precisamos contestar os idiotas”
perenes, fundamentais para sua conservação. SÃO PAULO – O pai de Aziz era homem de poucas
b) a presença de solos argilossolos na paisagem do letras brasileiras. Mas esse libanês maronita entendia o
cerrado ocorre onde o relevo se apresenta ondulado idioma do bom negócio. Quando a economia de São Luiz
e, para minimizar os efeitos da erosão, podem-se
do Paraitinga começou a ruir por causa da Central do
utilizar curvas de nível.
c) os cambissolos, apesar de apresentar os horizontes Brasil, ferrovia que tirou a cidade do eixo da exportação
bem caracterizados e uma baixa predisposição à de café, seu Nacibinho levantou a barra da sua lojinha e
erosão, têm seu uso destinado unicamente à pe- foi-se embora com a família para Caçapava. Aziz tinha
cuária extensiva, em razão de sua baixa fertilidade apenas 5 anos. Oito décadas depois, sua memória de
natural.
São Luiz é viva o suficiente para que lamente todo o
d) a região do semiárido nordestino é ocupada por
grandes extensões de solos hidromórficos, típicos patrimônio histórico levado pela inundação e para que
de relevo movimentado, resistentes ao intempe- aponte nesta entrevista, colhida em interurbanos inter-
rismo e relacionados ao cultivo do arroz irrigado. mitentes para Ubatuba, os motivos “fisiológicos” que
e) os solos aluviais se distribuem ao longo da planície teriam levado a cidade do Vale do Paraíba a sucumbir
quaternária amazônica, são geralmente bem de-
sob as águas. Um deles é a periodicidade de uma crise
senvolvidos e apresentam elevado grau de perme-
abilidade, daí a utilização das bacias de captação climática anômala. Dependendo da região, de 12 em
de enxurradas como prática conservacionista de 12 anos, de 13 em 13 ou de 26 em 26, o mundo desaba.
manejo sustentável. E os homens e as moradias sofrem com as chuvas, ainda
mais se decidem ocupar o que não pode ser ocupado.
6. (Fuvest) As escorregadelas políticas também cá estão. Aziz não
é de poupar burrices administrativas, especialmente na
Planalto central Serra do
(Serra do Ramalho) Espinhaço área ambiental. Critica todas as camadas do governo – do
federal, com quem se desentendeu logo no início do man-
rio
1 000 dato do presidente Lula, ao municipal, com seus “prefeitos
incautos”. Só o enchem de esperança os jovens, mas
500
aqueles que frequentam as boas universidades brasilei-
0 ras, para quem esse eterno mestre da Geografia escreve
0 100 200 o terceiro volume de suas Leituras Indispensáveis.
AVITS

W E São Luiz do Paraitinga perdeu ¼ dos imóveis


tombados. Foi um dos maiores desastres culturais
O perfil topográfico mostra uma secção de rele- do país. Como o senhor reagiu a isso?
vo transversal do vale do rio É compreensível que, tendo nascido lá, eu sinta uma
a) São Francisco. tristeza imensa com essa destruição. Houve, no passado,
b) Paraná.
uma tragédia semelhante. Quando eu era menino, com 4,
c) Amazonas.
d) Paraguai. 5 anos, meus parentes comentavam: “A cidade foi inun-
e) Parnaíba. dada até a beira do mercadão”. A casa dos meus pais
814-2

ficava numa esquina em frente do mercado e o fundo

POLISABER 15
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4

dela era o rio, que volteava tudo. Mas, na época, São exemplos bastante prejudiciais para cidades e campos.
Luiz tinha um crescimento populacional mais razoável. Esse trabalho está publicado na revista do Instituto de
Lembro que a margem de ataque do rio, à beira d’água, Estudos Avançados de dezembro e mostra que, de 12
era uma estradinha tangenciando o morro para poder em 12, ou de 13 em 13, ou de 26 em 26 anos, desde
chegar ao caminho de Ubatuba. Andei muito do outro 1924 até dezembro de 2008 e dependendo do lugar,
lado do rio, onde ia coletar pitangas gostosas na borda houve essa periodicidade. Cheguei à conclusão de
da mata. Hoje, além das pousadas, há os eucaliptais, que que é preciso muito cuidado nos próximos 12 anos
são uma presença extremamente perigosa no entorno em Blumenau e fazer obras de retenção na área de
de São Luiz. Os eucaliptólogos descobriram os morros extravasamento do rio no sítio urbano. Caso contrário,
da cidade, plantaram num nível de até 15, 20 quilômetros quando esse ciclo atormentado da climatologia se
de São Luiz para oeste. Isso mudou todo o esquema. repetir, será reanunciada a desgraça.
Como assim? Mas o senhor previu que Paraitinga também
Os eucaliptos oferecem vantagens econômicas para poderia sucumbir?
os donos de empresas, mas, com eles, há o sugamento Quando passei a visitar de novo o município para co-
da água subterrânea. Na estrada de Tamoios, próximo nhecer melhor minha terrinha, não senti a possibilidade
da represa do Paraibuna, a formação de bosques de de invasão de águas no lóbulo interno pegando a Praça
eucaliptos é ainda maior. Os eucaliptólogos se reúnem da Matriz. Não senti. Não achei que isso ia acontecer.
sempre lá para fazer seus projetos. Ocorre que os pre- Tanto que insisti muito em trazer a biblioteca de Ciências,
feitos são incautos. Dando um pouco mais de impostos que estava na ex-casa de Osvaldo Cruz, para um lugar
e de dinheiro para a prefeitura, eles deixam acontecer. mais baixo e frequentado por crianças. A Praça da Matriz
Que características tem a cidade para já ter seria o lugar ideal. Transpuseram os livros, montaram
sofrido inundação no passado? uma bibliotecazinha ali. Os empresários, aliás, em vez
Toda aquela região da Praça da Matriz, que é a região de se preocupar com a cidade, resolveram fazer uma
da Rua das Tropas e a região do mercado, tudo aquilo é dádiva apenas para mostrar colaboração. Criaram a
envolvido por um meandro. Meandro é uma volta do rio biblioteca infantil e mandaram comprar livros que não
às vezes muito alongada, às vezes mais estreita. Todo tinham nada de relação com a educação infantil. Eu
meandro tem um lóbulo interno, a várzea. Do outro fiquei furioso com isso. Continuei levando muitos livros
lado, sobretudo em áreas de morros, ficam os declives. para lá, auxiliado por uma pessoa que fez História na
Bom, tudo isso se modificou muito. Antigamente, o povo USP. Foi a minha tarefa. Mas a gente não sabia que ia
chamava o período de maior cheia do rio, embora não chegar o dia dos 13 em 13 e dos 26 em 26. Passei a me
catastrófica, de tromba d’água. As duas expressões mais preocupar com isso depois que estudei o quadro na
bonitas de São Luiz eram rio acima e rio abaixo. Vinham região de Blumenau. Já estava escrito.
de rio acima grandes aguadas, mas elas raramente Também já estavam escritas as mortes em
subiam até o lóbulo e, portanto, até a praça. Desta vez, Angra?
as grandes chuvas desceram os patamares de morros Lá foi invasão em áreas de risco, pousadas sucessivas
e chegaram aos terraços. Houve deslizamentos de nas encostas. Morro é sempre complicado. Como os
blocos de terra, árvores, pedaços de rocha. Foi uma prefeitos deixam isso acontecer, sabendo que embaixo
tragédia total. dos morros tropicais tem solo vermelho fofo, de forma
Técnicos atribuem a desgraça também ao ex- que casas bem construídas ou mal construídas podem,
cesso de chuvas. Está mesmo caindo mais água durante esses ciclos de climatologia anômala, descer
do céu? pelas encostas, matar as pessoas, derruir as cidades?
Este é um período anômalo, de grandes interferên- O principal derruimento, minha filha, é a ignorância
cias na climatologia da América do Sul, provocadas das pessoas. Ao saber que o governo do estado do Rio
por um aquecimento relacionado ao El Niño. Primeiro havia liberado áreas de risco e de proteção ambiental
foi no nordeste de Santa Catarina, depois no Rio e no para a expansão das cidades, fiquei desesperado. É
Espírito Santo, depois em São Paulo, depois em Minas, preciso ter menos ignorância, mais planejadores, mais
depois no sul de Mato Grosso. A coisa foi se ampliando equipes interdisciplinares capazes de observar o sítio
por espaços do tropical atlântico e por outras áreas urbano, a região do rio acima, a região do morro, a do
do planalto brasileiro. Na época da enchente catari- lóbulo interno dos meandros. A moça que trabalha aqui
814-2

nense, fiz uma listagem da periodicidade climática de comigo em Ubatuba me dizia que, por morar em bairro

16 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL

afastado, não tem escola para os filhos. Começa por O senhor disse certa vez que o governo não ti-
não ter escola, começa por não conhecer a história da nha noção de escala. Continua achando o mesmo?
cidade, tampouco o clima da região. Em projetos médios e maiores, continua sem noção.
Que história se perdeu sob as águas do rio E quem não tem essa noção dirige mal o seu país. No
Paraitinga? caso do presidente da República, sempre insisti com ele:
A história de uma cidade que enriqueceu durante o ciclo “Você, que sabe fazer discurso, fale nas suas prédicas
do café e decaiu com a estrada de ferro. Durante o ciclo, a que vai pensar no nacional, no regional e no setorial”. O
única maneira de exportar o café era saindo de Taubaté e nacional é a Constituição, são as reformas especiais que
passando pela região onde hoje está São Luiz. Ali se formou precisam acontecer de tempos em tempos. Regional é o
uma rua alongada, com as casas à direita e à esquerda, a conhecimento do Brasil como um todo: as terras baixas
Rua das Tropas. Pois bem, algumas pessoas dos arredores da Amazônia, os afluentes do Amazonas, o Golfão Mara-
de São Luiz também tiveram ali fazendas de café. Houve joara, as colinas recobertas por caatingas entre as cha-
uma época, inclusive, em que empreendedores de origem padas do Nordeste, entrando um pouquinho pelo Piauí
francesa tentaram fazer uma indústria de tecidos no cami- e muito pelo Rio Grande do Norte, com raros solos ver-
nho que vai de São Luiz a Ubatuba, por isso muitos nomes melhos, bons quando a topografia é suave. Esses locais
da cidade têm origem híbrida, portuguesa e francesa. Mas foram muito úteis para o Ceará, mais úteis que alguns
foi um investimento fracassado. políticos que existem lá. O setorial pressupõe pensar em
E como surgiram os casarões? educação, saúde pública, transportes, comunicação livre,
Os fazendeiros de café ficaram tão encantados com setor socioeconômico e setor sociocultural.
a exportação do produto pela estrada que tiveram, a Há quem atribua essas tormentas climáticas
partir de 1850, a ideia de construir casarões para morar dos últimos meses ao aquecimento global. Há
na cidade. E toda roça é muito triste à noite, sobretudo alguma verdade nisso?
aquelas com riachos cortando os morros. Enquanto na Isso é bobagem. O ciclo deste ano é um ciclo periódico
roça permaneceram os capatazes, na cidade os fazen- complicado. Essas pessoas que falam em aquecimento
deiros receberam imigrantes de várias partes, especial- global erraram tanto até hoje... Diziam, por exemplo, que
mente de Portugal, que tinham tradição e capacidade o aquecimento iria derruir a mata amazônica. Outro
de construir casarões de pau a pique e taipa. Não é uma publicou num jornal de São Paulo que, por causa do
coisa que resista a todos os tempos, sobretudo quando aquecimento global, a Mata Atlântica de Santa Catarina
há enchentes dramáticas. Bom, filha, essas pessoas até o Rio Grande do Sul seria destruída. Ele não sabia
receberam uma tragédia socioeconômica em torno de que essa mata só está na costa. Agora, é verdade que,
1900, quando se estabeleceu a Estrada de Ferro Central somando os aquecimentos das áreas industriais e das
do Brasil. Todo o café, do vale inteiro, passou a sair pela áreas urbanas, dá um aquecimento contínuo. Daí em
estrada por Taubaté, São José dos Campos e Lorena em Copenhague terem defendido o combate a ele.
direção ao Brás e, de lá, pela Estrada Santos-Jundiaí. O senhor achava que a COP-15 teria outro
Mudou-se o eixo da exportação. O problema era sério e desfecho?
grave. Algumas famílias de fazendeiros foram fenecen- Eu sabia que seria um insucesso. Quero um bem
do. Pessoas de Minas Gerais, que sabiam guardar seu imenso à Dinamarca, tenho razões culturais para isso,
dinheirinho, vieram para São Luiz e compraram terras mas note bem: quando vi que o Lula ia indicar um grande
para fazer o que sabiam fazer: criar gado leiteiro. Disso número de pessoas, foram mais de 740, eu disse: como
viveram por muitos anos. Quanto aos casarões, muitos é que em Copenhague, cidade relativamente pequena,
foram transformados em hotéis. tradicional, como é que vai haver uma reunião em que
O senhor acredita que Paraitinga voltará a ser mais de 740 pessoas possam fazer debates? Ia dar
polo turístico? numa coisa zero.
A USP, universidade em que nasci como pessoa cultu- Foi um insucesso por causa da grande comitiva
ral, vai fazer um grupo de trabalho para compreender a brasileira?
cidade em todos os níveis. Disseram que queriam colo- Foi por causa de tudo, mas o Brasil viajou para lá
car o meu nome em primeiro lugar na equipe. Pedi que exuberante. Levaram a Dilma. A Dilma nunca entendeu
não me constrangessem. Eu já estou muito constrangido de meio ambiente. Não tem culpa. Ela tem outro pas-
com mil coisas, estou desesperado com os péssimos sado, daí ter sido colocada inicialmente no Ministério
814-2

políticos que o Brasil tem. de Minas e Energia.

POLISABER 17
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4

E o que o senhor acha de Marina Silva como DREW, David. Processos interativos homem-meio-
candidata, ela que sempre esteve ligada à pre- -ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
servação ambiental? O livro analisa as transformações provocadas pela ação
Ela não conhece o Brasil. É uma mulher do Acre, uma
humana no meio ambiente em diversas escalas e ao
pessoa que acredita no criacionismo. Ela é ela, e acabou.
longo do tempo, apontando os desequilíbrios resultantes.
Tudo o que sabe é que existiram aquelas fantásticas
atitudes de Chico Mendes.
Quem entende de meio ambiente no governo,
professor?
VER E OUVIR
No governo, apenas os técnicos mais jovens do Ibama,
com o auxílio de promotores públicos também jovens,
saídos das boas universidades brasileiras. São eles que
Extremo Sul (direção: Monica Schmiedt. Brasil, 2005).
me dão entusiasmo, são eles que me dão esperança.
O filme conta a aventura da expedição realizada por cinco
Mas o Ibama está gradeado pelo governo federal, o que
amigos à Terra do Fogo, extremo sul da América do Sul,
é um absurdo. Isso vai redundar, no futuro, em muita
coisa contra a biografia de todos eles, sejam governantes com o objetivo de escalar o monte Sarmiento, num dos
federais, estaduais ou municipais. Digo e repito: nós no locais mais isolados do mundo.
Brasil precisamos aprender a contestar os idiotas.

Disponível em: <http://sosriosdobrasil.blogspot.com.br/


2010/01/aziz-nacib-ab-saber-usp-ignorancia.html>. NAVEGAR
(acesso em: 21 mar. 2014)

Embrapa – Relevo brasileiro


PESQUISAR E LER www.relevobr.cnpm.embrapa.br/index.htm
(acesso em: 21 mar. 2014)
No site da Embrapa, você encontra mapas e imagens de
ROSS, Juradyr S. (Org.). Geografia do Brasil. 2. ed. São
satélite sobre o relevo brasileiro.
Paulo: Edusp, 1998.
Importante manual didático de Geografia, com capítulos
assinados por professores do curso de Geografia da Instituto Ciência Hoje
Universidade de São Paulo. http://cienciahoje.uol.com.br (acesso em: 21 mar. 2014)
O site do Instituto, vinculado à Sociedade Brasileira para
CASSETI, Valter. Ambiente e apropriação do relevo. São
o Progresso da Ciência (SBPC), divulga publicações como
Paulo: Contexto, 1995. (Caminhos da Geografia)
a revista Ciência Hoje.
O livro aborda as implicações e o significado do rele-
vo para o estudo ambiental no contexto das relações
homem-natureza. Editora Ediouro
www.ediouro.com.br (acesso em: 21 mar. 2014)
CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. (Org.). Geomorfologia do Esse é o site da editora que publica a Scientific American
Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
Brasil, revista de divulgação científica.
Em linguagem acadêmica, textos abordam os aspectos
geológicos e geomorfológicos, os solos e as bacias hi-
drográficas. CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos
CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. (Org.). Geomorfologia: http://videoseducacionais.cptec.inpe.br
uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro:
(acesso em: 21 mar. 2014)
Bertrand Brasil, 2001.
Neste site, você pode assistir a vídeos sobre o relevo;
Texto aborda o histórico e as possibilidades dos concei-
tos da geomorfologia para a explicação de fenômenos por exemplo, Inter-relação relevo-clima e Montanhas em
814-2

erosivos e estruturais. desdobramento.

18 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL

ÁGORA inorgânicos, é uma maneira de preservar os processos


naturais do solo e de utilizá-los para melhorar o cultivo
de plantas.
Leia o texto abaixo, que compara dois modelos dife- Percebe-se, portanto, que a agricultura orgânica,
rentes de agricultura e suas relações com os solos e ao preservar significativamente a biodiversidade do
o ambiente. Em seguida, discuta com seus colegas as solo assim como suas características naturais, é uma
vantagens e desvantagens de ambos os modelos de forma sustentável de se praticar a atividade agrícola,
prática agrícola. uma vez que não compromete a sustentabilidade
do solo, garantindo sua possibilidade de uso pelas
Como a agricultura orgânica não utiliza pesticidas gerações futuras.
nem fungicidas, ela contribui para a manutenção da O mesmo não acontece, no entanto, com a agricultura
biodiversidade do solo e do equilíbrio ecológico exis- convencional, que ou degrada profundamente o solo,
tentes, não alterando significativamente os processos sem conseguir restabelecer seu equilíbrio ecológico,
vitais do solo. ou faz uso prioritário de recursos não renováveis no
Deve-se considerar ainda que o aumento de matéria controle da degradação do solo, podendo manter a
orgânica no solo também permite a reciclagem de nu- fertilidade do solo somente enquanto esses recursos
trientes no solo, prevenindo-o contra a biodegradação, durarem, o que, de fato, não é uma maneira racional e
enquanto a agricultura tradicional geralmente não repõe sustentável de utilização.
os nutrientes que o solo perde pelo plantio e criação
de animais. YAMAMOTO, Fabíola.
A agricultura orgânica certamente perturba, ainda que Solo: processo de formação
menos intensamente, os ecossistemas do solo. A sim- e uso para atividade agrícola.
ples remoção das plantas causa a perda de nutrientes Disponível em: <www.unicamp.br/
ao longo do tempo. No entanto, a adição de esterco e fea/ortega/temas530/fabiola.htm>.
restos de plantas, em vez do simples uso de fertilizantes (acesso em: 21 mar. 2014)

S E N H A
Qual é o “motor” natural da
transformação das paisagens?

A água é um elemento essencial não somente para a vida, mas também para a transformação e
renovação das paisagens naturais como um todo. Afinal, como diz o dito popular, “água mole em pedra
814-2

dura, tanto bate até que fura”, não é mesmo?

POLISABER 19
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULAS 5 E 6

O clima, entendido como a manifestação


habitual da atmosfera num determinado
ponto, é um dos importantes recursos naturais
DELFIM MARTINS/PULSAR IMAGENS

à disposição do homem e foi considerado


matéria de interesse comum da humanidade
por decisão da ONU em 1989. É um dos
principais fatores responsáveis pela repartição
dos animais e vegetais sobre o globo.
José Bueno Conti e Sueli Angelo-Furlan

Os climas e as bacias
hidrográficas humanizadas Exosfera

no Brasil 600 km

Satélite
As características de determinados tipos de clima são Ionosfera
condição para os diferentes tipos de ocupação humana
e para a reprodução material da sociedade. As condições
climáticas como temperatura, umidade, pluviosidade e 80 km Meteoro
índice de insolação são essenciais hoje para o desenvol-
vimento e o rendimento agrícola; os estoques de água
doce são em grande parte regulados por mecanismos Mesosfera

climáticos, o que afeta o abastecimento de água potável


para as comunidades humanas e a geração de hidreletri-
50 km Sonda
cidade. Ainda quanto à geração de energia, os ventos e atmosférica
a própria radiação solar são fontes alternativas cada vez
mais utilizadas. Como acontece com os outros recursos
Estratosfera
naturais, o clima também vem sendo bastante modifi- Maior concentração de ozônio

cado pelas atividades humanas, motivo de preocupação


e apreensão.
10 km
Assim, conhecer os mecanismos de funcionamento
do clima, as mudanças produzidas pelas sociedades e
a distribuição dos domínios climáticos no Brasil é uma Troposfera
condição fundamental para melhor aproveitamento das
potencialidades produtivas humanas. Nível do
AVITS

mar 0
As camadas da atmosfera.
A atmosfera e sua dinâmica
Na estratosfera, por exemplo, onde a camada de ozônio
A atmosfera, camada superficial de gases que recobre
retém boa parte dos raios ultravioleta, as temperaturas
nosso planeta, tem uma dinâmica própria, que devemos
passam de 50 °C – daí a importância dessa camada para
conhecer para entender os mecanismos do clima.
a manutenção do equilíbrio da vida na superfície do pla-
O motor dessa dinâmica é a radiação solar. O Sol emite
sua energia para a Terra por meio de ondas eletromagné- neta. Então, a radiação que chega à Terra é parcialmente
ticas, que aquecem as diversas camadas da atmosfera, absorvida pelos gases que compõem a atmosfera, pelo
como mostra a figura a seguir. Esta, ao mesmo tempo, vapor-d’água e por partículas sólidas em suspensão.
filtra e absorve desigualmente cerca de 15% da radiação, Outra parcela (43%) é absorvida pela superfície terrestre
814-2

de acordo com cada camada. e irradiada para a atmosfera como calor que aquece sua

20 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

camada mais baixa, a troposfera, que contém gases como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), entre outros,
que absorvem a radiação infravermelha, originando o chamado efeito estufa.

Efeito estufa

Parte da energia Esses mesmos gases, porém, retêm grande


Sol solar é refletida parte do calor gerado pela luz do Sol. Esse
pelas nuvens e calor é refletido de volta para a superfície
pela superfície pelas moléculas dos gases do efeito estufa,
terrestre. gerando mais calor.

Os gases do
efeito estufa,
principalmente o
CO2, permitem Gases do efeito estufa
que a luz do Sol
passe por eles.

Terra

O efeito estufa é fundamental para a vida na Terra.

Balanço energético da Terra

Radiação solar Radiação difundida


total 100% e refletida pela atmosfera e Terra
31%

Radiação absorvida pela


atmosfera (gases,
poeiras e nuvens)
21%

Energia enviada pela


Radiação solar Terra e atmosfera
recebida pela Terra para o espaço
48% (30% + 18%) 69%

Terra
ILUSTRAÇÕES: AVITS

814-2

POLISABER 21
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

Processos atmosféricos de filtragem da energia solar

Absorção Difusão Reflexão

É um processo de É a dispersão da radiação É a mudança da direção dos


transformação de energia solar em várias direções raios solares quando
luminosa em energia depois de ela ter incidido incidem em um corpo.
térmica que ocorre quando em um objeto. A reflexão acontece na
a radiação incide em um atmosfera e na superfície
objeto e é absorvida. terrestre.

H2O O3 Gelo

Superfície gelada

Retenção
CO2
de calor Difusão 40% – 95%

21% 18% 31%

Cerca de 21% da energia Cerca de 18% da energia solar Cerca de 31% da energia
solar que atravessa a que atravessa a atmosfera solar que atravessa a
atmosfera é absorvida por incide/bate numa partícula de atmosfera é refletida por ela
vapor-d’água, dióxido de poeira ou em outra coisa e é e pela superfície terrestre
carbono, ozônio etc. difundida em várias direções. e volta para o espaço.
O balanço energético da radiação solar é importante para entender a variação climática.

Vários fatores determinam a absorção desigual da ventos vindos das latitudes entre 25 °C e 35 °C (anticiclonais
energia solar pela superfície terrestre como os índices de subtropicais), conhecidos como alíseos, configurando-se
albedo (reflexão da radiação dependendo do tipo de su- como a zona de convergência intertropical (ZCIT), onde
perfície), que reflete aproximadamente 42% dessa energia, há calmaria de ventos, ascendência de ar e formação de
a distribuição das superfícies sólidas e líquidas (a água a chuvas intensas que oscila mais para o norte ou mais para
absorve e libera mais lentamente) e a configuração do o sul, dependendo da estação do ano.
relevo. Disso resulta um complexo sistema de circulação Polo
do ar atmosférico: o ar mais quente, leve, tende a subir para Norte
camadas mais altas da atmosfera (áreas de baixa pressão
atmosférica, ou ciclonais), e o ar mais frio, pesado, tende 60°
a descer (áreas de alta pressão atmosférica, ou anticiclo-
nais); mas, ao subir, aquele ar se resfria e tende a descer
alta alta
em outro ponto da superfície terrestre, originando um 30°
pressão pressão
sistema de circulação geral de massas de ar na atmosfera.
Assim, nas baixas latitudes, próximas à linha do Equador,
onde o aquecimento é maior, formam-se massas de ar
quente, ou tropicais, e, nas médias e altas latitudes, mais 0°
próximas aos polos, massas frias ou polares. Nas latitudes
médias, próximas aos trópicos de câncer, há uma área de
contato entre esses dois tipos de massa de ar: são frentes alta alta
polares, que oscilam em razão das diferenças de tempe- 30°
pressão pressão
ratura e densidade, das correntes de ar da alta troposfera
ILUSTRAÇÕES: AVITS

e do efeito ou da força de Coriollis, que é a influência do


movimento de rotação da Terra nas massas gasosas e líqui- 60°
das, definindo boa parte das condições do tempo e do clima
814-2

dos diversos lugares. Já as regiões equatoriais recebem os A circulação geral da atmosfera.

22 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

Os domínios climáticos no Brasil


Tomando como base as diferenças na absorção da radiação solar em razão da latitude, um dos fatores que define os
climas no Brasil, identificamos, numa escala bem abrangente, três grandes domínios climáticos: os domínios equatorial,
tropical e subtropical.

Brasil: climas e correntes marinhas

CORRENTE
DAS GUIANAS
Boa vista
0º Macapá CORRENTE EQUADOR
SUL EQUATORIAL

Manaus Belém São Luís


Fortaleza

Teresina Natal
João Pessoa

Palmas Recife
Rio Branco Porto
Velho Maceió CORRENTE
Aracaju DO BRASIL

Salvador
Cuiabá Brasília
OCEANO
Goiânia
ATLÂNTICO
CLIMAS CONTROLADOS POR
MASSAS DE AR EQUATORIAIS E TROPICAIS Belo Horizonte
Campo Grande
OCEANO
Equatorial Úmido Vitória
CORRENTE
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

Litorâneo Úmido DO BRASIL


PACÍFICO
Tropical
São Paulo Rio de Janeiro TRÓPICO
Tropical Semiárido Curitiba DE CAP
RICÓRN
IO
CLIMAS CONTROLADOS POR
MASSAS DE AR TROPICAIS E POLARES
Florianópolis
Subtropical Úmido
Porto Alegre
Corrente quente
Corrente fria CORRENTE
DAS FALKLANDS 480 km
50° O

O domínio equatorial O domínio tropical

Abrange a área da Amazônia e caracteriza-se por Abrange vastas áreas do Centro-Oeste, Sudeste e Nor-
intensa absorção da radiação solar, produzindo um deste brasileiros, apresentando grandes desigualdades,
calor associado à presença da Floresta Amazônica e de sobretudo quanto aos índices e períodos pluviométricos.
inúmeros rios, resultando em grande evapotranspiração Em geral, a temperatura média é de 18 °C, o verão é
e evaporação. Esses fenômenos geram forte umidade bastante chuvoso e o inverno, seco. No Centro-Oeste,
no ar e intensa pluviosidade, em razão dos movimentos a massa tropical continental, mais seca, define uma
convectivos (ascensão) do ar. Origina-se aí a massa pluviosidade menor (1 200 mm/ano), concentrada entre
de ar equatorial continental e, mais a leste, no litoral, outubro e março. No Sudeste, em razão das maiores
a equatorial marítima. Nesse domínio, a temperatura altitudes das serras, a temperatura é mais amena, e
média é de 24 °C (exceto nas terras altas do planalto das a pluviosidade se eleva principalmente nas encostas
Guianas), e a pluviosidade varia de altíssima, na Amazônia das serras (chuvas orográficas, ou de relevo), muito
ocidental, onde o clima é equatorial sem estação seca influenciada pela ação da massa de ar tropical maríti-
(2 500 mm/ano), a pouco menor de Roraima ao Pará, em ma, que também atua no litoral do Nordeste, onde as
razão de uma estação seca em que prevalece o clima temperaturas são altas o ano todo, mas a pluviosidade
814-2

equatorial semiúmido. (2 000 mm/ano) se concentra entre março e agosto.

POLISABER 23
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

No semiárido nordestino, a pluviosidade é extre- com 331 mm/ano, e Formosa (BA), com 413 mm/ano.
mamente baixa (menos de 600 mm/ano). No domínio As explicações para a origem dessa mancha semiárida
tropical, no inverno, é comum o avanço da massa polar são ainda incompletas e muito diversas. Uma primeira
marítima, vinda da Patagônia argentina, que provoca tentativa afirmava que o planalto da Borborema seria
a entrada da frente fria, ou polar, chuva e queda de uma barreira para a passagem dos ventos oceânicos,
temperatura. retendo toda a umidade em sua fachada atlântica, mas
essa explicação pode ser contestada pelas modestas
O enclave semiárido no domínio tropical altitudes do planalto e por sua irregularidade.
A presença de uma célula de alta pressão atmosférica
Corresponde a uma área de aproximadamente um (anticiclonal), dispersora de ventos, impede que a massa
milhão de km2, desde o litoral do Rio Grande do Norte equatorial continental, a tropical marítima e a frente polar
e do Ceará até o médio vale do rio São Francisco, em levem umidade, e as explicações mais recentes contem-
Minas Gerais, onde a escassez e a irregularidade dos plam também o papel das correntes marítimas. É que, nas
índices pluviométricos, associadas às altas temperaturas baixas latitudes do Atlântico ao sul do equador, as águas
médias anuais, é aspecto marcante do clima, definindo são mais frias, devido à influência da corrente marítima
um déficit hídrico. É claro que a região não é totalmente fria de Benguela, que, após atingir as costas ocidentais
homogênea do ponto de vista climático e paisagístico; há da África, onde se origina o deserto da Namíbia – pois
áreas mais castigadas pela aridez e outras atingidas por a evaporação é baixa –, se desloca numa rotação anti-
chuvas torrenciais, mas muito concentradas num curto -horária até o litoral do Nordeste brasileiro, provocando
período, que não coincide com os mais úmidos de outros queda na pluviosidade numa faixa de 10° de latitude
lugares. A média pluviométrica da região não ultrapassa desde o litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte até o
600 mm/ano, mas há municípios como Cabaceiras (PB), norte de Minas Gerais.

Correntes marinhas

dia
CÍRCULO POLAR ÁRTICO nlân
oe
60º Gr

Alasca Labrador Oyashio

Pacífico Derivação
Corrente Atlântico Pacífico
Norte do Golfo Norte Norte
30º
TRÓPICO DE CÂNCER Corrente das Canárias
Califórnia Kuroshio
Equatorial Norte
Equatorial
Equatorial Norte Equatorial Norte Equatorial
Central Norte
EQUADOR
0º Equatorial Sul
s

Equatorial Counter
lha
Agu

Equatorial Sul Equatorial


Sul
Austrália Austrália
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO Brasil
Peru Corrente Ocidental Oriental
30º
de Bengala Moçambique
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

o Sul
Pacífico Sul Atlântic
Circumpolar Antártica Circumpolar Antártica
60º
CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO

2 300 km
150º 120º 90º 60º 30º 0º 30º 60º 90º 120º 150º

Correntes quentes Correntes frias


814-2

As correntes marinhas no Atlântico Sul explicam melhor o que ocorre com o semiárido nordestino.

24 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

Domínio subtropical Clima Semiárido – Juazeiro (BA)


mm °C
Ocorre nas regiões ao sul do Trópico de Capricórnio, 140 30º
abrangendo toda a região Sul do Brasil. Apresenta tem- 120 25º
peratura média anual inferior a 18 °C e chuvas regulares 100
20º
e bem distribuídas (1 250 mm/ano). É o domínio onde 80
a massa de ar polar marítima atua mais intensamente, 15º
60
chegando a provocar nevascas nas áreas serranas gaú- 10º
40
chas no outono-inverno. Mas, no verão, as temperaturas 5º
20
se elevam no litoral e nas áreas mais baixas.
0 0

n.
v.

m .

n.

l.
o.
t.
t.
v.
z.
o
ar

ju
ab

se
ou
ai

de
fe

no
ag
ja

ju
m
Clima Equatorial – Manaus (AM)
mm °C Precipitação média em mm
Temperatura média em ºC
350 45º
300 40º Clima Tropical Atlântico –
35º João Pessoa (PB)
250
30º mm °C
200 25º 450 35º
150 20º
400 30º
15º
100 350
10º
25º
50 5º 300
0 0 250 20º
n.

v.

.
r.

n.

l.
o.

t.

t.
v.
z.
o
ar

ju
ab

se
ou
ai
fe

no

de
ag
ja

ju
m

200 15º
Precipitação média em mm
150
Temperatura média em ºC 10º
Clima Tropical – Goiânia (GO) 100
mm 5º
°C 50
350 0 0
n.
v.

m .

n.

l.
o.
t.
t.
v.
z.
o
ar

300
ju
ab

se
ou
ai
fe

no
de
26º

ag
ja

ju
m

250 25º Precipitação média em mm


200 24º Temperatura média em ºC
23º Clima Subtropical –
150
22º mm Curitiba (PR) °C
100
21º 200 25º
50 20º
180
0 19º
160 20º
v.

.
r.

n.

l.
o.
t.
t.
v.
o
ar

ju
ab

se
ou
ai
fe

no
ag
ju
m

140
Precipitação média em mm
Temperatura média em ºC 120 15º
Clima Tropical de Altitude – 100
Belo Horizonte (MG)
80 10º
mm °C
60
350 30º
40 5º
300
25º
20
250
20º 0 0
200
n.
v.

m .

n.

l.
o.
t.
t.
v.
z.
o
ar

ju
ab

se
ou
ai
fe

no
de
ag

15º
ja

ju
m

150
10º Precipitação média em mm
100 Temperatura média em ºC
50 5º
ILUSTRAÇÕES: AVITS

0 0 Os climogramas mostram as médias mensais térmicas


n.
v.

.
r.

n.

l.
o.
t.
t.
v.
z.
o
ar

ju
ab

se
ou
ai
fe

no
de
ag
ja

ju

e pluviométricas de cada tipo climático. As linhas


m

Precipitação média em mm representam as variações de temperatura, e as barras, o


814-2

Temperatura média em ºC total mensal de chuvas.

POLISABER 25
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

A escala local: o clima urbano

Quando mudamos a escala de análise para o nível local, ficam mais evidentes as mudanças provocadas pela inter-
venção humana. É o que ocorre nas grandes aglomerações urbano-industriais, nas metrópoles, onde as alterações
no clima são sentidas em função da intensa ocupação do solo e também da maior carga de emissão de poluentes
atmosféricos pelas indústrias e pelos sistemas de transporte.

Zona rural Cidade

Transpiração das
plantas e evaporação
da água do solo

ma C a
is 10°
qu
en C
te

Absorção
e retenção
de calor
Menor Maior

Penetração
de água

Ilha urbana de calor se formando.

Ácido sulfúrico
SO2
SO2, NO2 + H2O
NO2 Ácido nítrico
Emissões
Chuvas ácidas
ILUSTRAÇÕES: AVITS
814-2

Esquema das chuvas ácidas.

26 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

Sem inversão Poluentes Sem a inversão térmica,


a temperatura do ar diminui
gradativamente com a altitude,
e a fumaça de fábricas e
veículos sobe e se
dispersa, pois são
mais quentes
Altitude

que o próprio ar.

Temperatura

Com a inversão térmica,


Com inversão
a temperatura do ar aumenta
abruptamente na chamada
“camada de inversão”;
essa camada “abafa”
Camada de inversão térmica
a fumaça e “sufoca”
a cidade, causando
Altitude

problemas de
saúde para os
seus habitantes.
ILUSTRAÇÕES: AVITS

Temperatura

A inversão térmica agrava o acúmulo de poluição nas grandes cidades.

As bacias hidrográficas e afloramento do lençol freático. Esses afluentes correm


para o nível altimétrico mais baixo da bacia, onde en-
seus usos no Brasil contram um rio principal ladeado pelas margens e pelas
várzeas, e este, por sua vez, corre em direção à sua foz
O clima é o principal elemento ordenador do ciclo ou desembocadura no mar, num lago ou num outro rio.
hidrológico, pois as precipitações e sua distribuição Já uma rede hidrográfica é apenas os cursos de água e
definem em grande medida o comportamento desse seu traçado na superfície terrestre.
ciclo na litosfera. Assim, agora estudaremos as bacias Neste estudo das bacias hidrográficas brasileiras,
hidrográficas brasileiras, a forma mais usual de entender devemos situar a escala da abordagem. Estudaremos
o comportamento e o uso das águas continentais, bem as macrobacias como a Amazônica, a do São Francisco,
como as relações entre a água e os outros elementos a Platina e as litorâneas, mas elas contêm sub-bacias
da natureza. menores, que contêm outras menores ainda, e assim por
Uma bacia hidrográfica é uma unidade de relevo onde diante. A bacia do rio Paraná contém a do rio Tietê, um
ocorre a drenagem descendente das águas pela ação da afluente seu, que, por sua vez, contém a do rio Pinheiros,
gravidade. É uma área delimitada por trechos mais eleva- que contém a do córrego Pirajussara. Assim, podemos
dos, ou divisores de água, onde nascem, nas vertentes ou estudar as bacias em diferentes escalas, de acordo com
814-2

cabeceiras, seus rios tributários ou afluentes, devido ao nosso objetivo em dado momento.

POLISABER 27
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

Bacias hidrográficas brasileiras

Bacia do Atlântico Sul


Trechos Norte e Nordeste

Bacia do Atlântico Sul


Trechos Norte e Nordeste

Bacia do rio
Amazonas

Bacia do rio Tocantins


Araguaia

Bacia do rio São Francisco

Bacia do Atlântico Sul –


Trecho Leste

Bacia Platina, ou dos rios


Paraná e Uruguai

JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL


Bacia do Atlântico Sul –
Trechos Sudeste e Sul

450 km

Fonte: Anuário Estatístico do Brasil – IBGE.

tornam grandes artérias que permitem o deslocamento,


Bacia Amazônica
ainda que lento, e alcançam vilas e cidades que, de outra
forma, estariam isoladas.
Com mais de 4,7 milhões de km2 e abrangendo 56%
do território brasileiro, a bacia Amazônica abriga 18% das
Bacia do São Francisco
águas correntes do planeta. Considerado o mais extenso
e volumoso rio do mundo, o Amazonas e seus afluentes
É uma bacia inteiramente nacional, abrangendo o leste
formam uma densa rede de drenagem, cortando terrenos
do país desde o sul de Minas Gerais até o litoral oriental
de depressões, planaltos e planícies até depois dos limites do Nordeste. Cortando terrenos essencialmente planál-
territoriais do país. Por incluir terras nos hemisférios norte ticos, o rio São Francisco tem suas nascentes nas áreas
e sul, essa bacia tem um duplo período de cheias anuais, tropicais do sul de Minas Gerais, onde é abastecido pelas
em razão da alternância dos verões acima e abaixo do chuvas, o que lhe permite correr em direção ao Nordeste
equador. Desembocando no mar em sua foz em delta semiárido e atravessá-lo sem secar. Seu potencial hidrelé-
(vários canais), o Amazonas ocasiona o fenômeno da trico é intensamente aproveitado por usinas como Sobra-
pororoca, quando violentas ondas se formam no encontro dinho, Três Marias, Paulo Afonso e Xingó. Por outro lado,
de suas águas com as do mar, na maré cheia. sua navegação se limita a alguns trechos, sendo o maior
Na região amazônica, os rios se constituem num entre Pirapora (MG) e Juazeiro (BA). No trecho semiárido
sistema de circulação de pessoas e de mercadorias do rio, se desenvolve o projeto de transposição de suas
fundamental para a população e para a economia. Em águas, com a construção de dois canais artificiais em
função das dificuldades impostas pela densa cobertura direção às áreas mais secas do Ceará e do Rio Grande do
814-2

florestal, os rios – alimentados pelas chuvas intensas – se Norte para amenizar as dificuldades geradas pelas secas.

28 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

Transposição do rio São Francisco

Fortaleza
Can
al ex
isten
te

Mossoró

odi
Natal
Ap

Rio
a

s
nh
P i ra Campina
Sousa Rio Grande
João Pessoa

Juazeiro
a
do Norte Eixo Norte aíb
Rio P a r
Recife
Ri Salgueiro
B ríg
o

i da
Cabrobó

Barragem Eixo Leste


de Itapecerica
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

Petrolina Rio M Maceió


ossor
Juazeiro ó

Barragem
de Sobradinho Adutoras Obras em execução
Cidades Obras em projeto
Penedo
Eixos Açudes
Rios receptores Adutoras Futuras

Bacia Platina • Bacias do Nordeste: ocupam as áreas do litoral norte


e leste do Nordeste, apresentando desde rios com re-
Pode ser subdividida em três grandes bacias regionais: gime equatorial até rios temporários ou intermitentes
a do rio Paraná, a do rio Paraguai e a do rio Uruguai. no semiárido.
A bacia do rio Paraná tem um grande potencial hidre- • Bacias do Leste: ocupam a fachada atlântica desde
létrico aproveitado, pois fica numa região densamente a foz do São Francisco até o litoral norte paulista.
povoada, industrializada e urbanizada: o centro-sul do Apresentam rios com bom potencial hidrelétrico que
Brasil. Há inúmeras usinas tanto no rio Paraná como em são abastecidos pelas chuvas do clima tropical úmido.
seus afluentes, destacando-se o Complexo Urubupungá • Bacias do Sudeste: se estendem do litoral norte pau-
(Jupiá e Ilha Solteira) e Itaipu. Já a bacia do rio Paraguai lista até o arroio Chuí, no Rio Grande do Sul.
apresenta terrenos planos e baixos, cortando o Pantanal
Mato-Grossense. Por isso, é bastante utilizada para na-
vegação, constituindo uma importante via de transporte O uso humano das bacias no Brasil
entre os países do Mercosul. A bacia do rio Uruguai se
situa mais ao sul e também apresenta bom potencial Procurando incorporar os recursos hídricos para
hidrelétrico, pois seus rios são de planalto. satisfazer suas necessidades materiais, as sociedades
transformam e alteram todo o ciclo hidrológico; por
exemplo, quando levam água para lugares onde ela é
Bacias litorâneas escassa (irrigação) ou retiram-na de onde ela ocorre
excessivamente (drenagem). Devemos lembrar que a
Constituídas por rios que têm traçado mais curto, água potável – encontrada em rios, represas ou lagos
desembocam no oceano Atlântico. Podemos dividi-las de áreas continentais – representa uma ínfima parte de
em três setores: toda a água do planeta.
814-2

POLISABER 29
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

A água do mundo de moderna agricultura mecanizada das regiões Centro-


-Oeste (clima tropical, com invernos secos) e Nordeste,
Água salgada: 97,5%
ambas com carência hídrica, principalmente o semiárido.
Nesse caso, o modelo adotado tem sido o da construção
Presa em geleiras: 68,9% de açudes, que nem sempre garantem a qualidade da
Subsolo: 30,8%
água e seu fornecimento em longos períodos de estiagem.
Lagos e rios: 0,3%
Outra forma de incorporação e uso das águas são a
captação, o tratamento, o armazenamento e a distribui-
ção para o abastecimento das áreas urbanas. Sob esse
Água doce: 2,5%
aspecto, há no Brasil uma enorme desigualdade nos sis-
temas de abastecimento, sendo as cidades das regiões
Sul e Sudeste mais bem atendidas no fornecimento de
A pequena parcela das águas de rios e lagos em relação a água potável do que as das regiões Norte e Nordeste.
toda a água do mundo. Ainda que nesse momento atual valha mencionar o
risco potencial do não abastecimento de água potável à
No Brasil, entendida como um sistema técnico de população do estado de São Paulo, Minas Gerais e Rio de
captação, armazenamento e distribuição de água com Janeiro. A gestão pública de empresas estatais de capital
fins agrícolas, a irrigação é mais desenvolvida nas áreas misto levaram à ingerência no abastecimento.

Onde a água é usada?


Quanto se usa para produzir os seguintes alimentos

15 000 litros – carne bovina

Usos da água no mundo


3 500 litros – aves

23%

1 900 litros – arroz


7% 70%
agropecuária
69%

1 900 litros – soja

1 100 litros – sorgo


Irrigação – 1 400 milh es m3 ano
Industrial – 140 milh es m3 ano

900 litros – trigo Humano – 460 milh es m3 ano

volume máximo de água


500 litros – batata para produzir 1 kg do alimento
Usos da água no Brasil
Quanto de água se usa na indústria (m3/habitante)

97% da água do país 22%


indústria

59%
18% da
21%

19%
água
do país

2 102 1 716 1 104 1 033 1 028 942 779 553 502 62


Guiana Iraque Equador Bulgária Canadá Irã EUA Índia França Brasil

Irrigação
No que é usada
Industrial
doméstico

Humano
10%

ILUSTRAÇÕES: AVITS

limpeza descarga
cozinha e consumo (beber) higiene pessoal (banho)
lavagem de roupa
814-2

No Brasil, a maior parte da água é usada em atividades agrícolas.

30 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

Muitas vezes, as intervenções humanas provocam mudanças indesejáveis no ciclo hidrológico; por exemplo, numa grande
cidade, os altos índices de impermeabilização do solo pela cobertura de asfalto, concreto, cimento e outros pisos impede
a infiltração das águas pluviais, levando à extinção dos lençóis freáticos. Além disso, o aumento do escoamento superficial
de água durante as chuvas mais intensas provocam enchentes, pois toda a água escorre rapidamente para o fundo do vale.

Área florestal Área residencial Área urbana Infiltração


no solo
10% – 20%
40% – 50% 90% – 100% Escoamento
para a linha
de água
AVITS

80% – 90% 50% – 60% 0 – 10%

Nas áreas urbanas, o maior e mais rápido escoamento das águas pluviais para os rios ocasiona as enchentes.

O uso dos mananciais (rios, córregos, represas) como I – a água é um bem de domínio público;
depósito de esgoto a céu aberto é outra forma inadequada II – a água é um recurso natural limitado, dotado de
de tratar os recursos hídricos, amplamente difundida nas valor econômico;
grandes cidades brasileiras e que deve ser abolida pela III – em situações de escassez, o uso prioritário dos
ampliação das estações de tratamento de esgoto, permi- recursos hídricos é o consumo humano e a desseden-
tindo a recuperação e revitalização dos cursos de água. tação de animais;
A gestão dos recursos hídricos é uma temática cada IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre
vez mais importante e incorporada ao planejamento proporcionar o uso múltiplo das águas;
territorial urbano. No Brasil, essa gestão é regulada por V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para
lei desde 1997. Veja o quadro. implementação da Política Nacional de Recursos Hídri-
cos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento
Presidência da República de Recursos Hídricos;
Casa Civil VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descen-
Subchefia para Assuntos Jurídicos tralizada e contar com a participação do Poder Público,
dos usuários e das comunidades.
LEI N. 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997.
CAPÍTULO II
Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria DOS OBJETIVOS
o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Art. 2o São objetivos da Política Nacional de Recursos
Constituição Federal, e altera o art. 1o da Lei no 8.001,
Hídricos:
de 13 de março de 1990, que modificou a Lei no 7.990,
de 28 de dezembro de 1989. I – assegurar à atual e às futuras gerações a neces-
sária disponibilidade de água, em padrões de qualidade
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o adequados aos respectivos usos;
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: II – a utilização racional e integrada dos recursos
hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas
TÍTULO I ao desenvolvimento sustentável;
DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS III – a prevenção e a defesa contra eventos hidroló-
HÍDRICOS gicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso
inadequado dos recursos naturais.
CAPÍTULO I
DOS FUNDAMENTOS Como vimos, o uso da água no Brasil ainda precisa ser
bastante aperfeiçoado, cabendo ao Estado e à sociedade
Art. 1o A Política Nacional de Recursos Hídricos criar mecanismos de proteção, regulação do aproveita-
814-2

baseia-se nos seguintes fundamentos: mento e fiscalização dos recursos hídricos.

POLISABER 31
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

EXERCÍCIOS

1. (FGV) Negro continua subindo, mas apenas um centímetro


por dia. Ontem, a cota foi de 29,97 metros.
Esses rios fazem parte da paisagem e do dia a dia
Disponível em: <www.dgabc.com.br/
do homem do Nordeste, servindo como fonte de água,
News/5960490/cheia-no-amazonas-afeta-
áreas de recreação, cultivo de vegetais e criação de mais-de-80-mil-familias.aspx>.
animais. O sertanejo apresenta estratégias de sobre- (acesso em: 4 jun. 2012)
vivência durante os períodos de estiagem, que são
resultado direto de suas percepções sobre as variações Entre outros fatores, a ocorrência dos fenôme-
nos climáticos está associada
no fluxo de água desses rios. Esses ambientes fazem
a) à posição do sertão do Nordeste como uma área de
parte da cultura do sertanejo, sendo citados em sua
convergência de massas de ar e à atuação da massa
produção artística por grandes escritores como Eucli- tropical atlântica na Amazônia.
des da Cunha, João Cabral de Melo Neto, José Lins do b) à predominância do relevo de planície no sertão do
Rego e Guimarães Rosa. Nordeste e à localização em zona de alta latitude
na Amazônia.
Disponível em: <www.ecodebate.com. c) à perda de umidade das massas de ar que circulam
br/2012/09/03/reducao-de-apps-compromete- sobre o sertão do Nordeste e à atuação da massa
rios-e-biomas-brasileiros-entrevista-com-o- equatorial continental na Amazônia.
biologo-elvio-sergio-medeiros>. d) à posição do sertão do Nordeste como área de dis-
persão de massas de ar e à localização da Amazônia
(acesso em: 24 mar. 2014)
em zona de baixa latitude.
O texto faz referência a dois elementos naturais
3. (Unicamp) O esquema abaixo representa a en-
de grande importância na região Nordeste. São
trada de uma frente fria, uma condição atmos-
eles os rios
férica muito comum, especialmente nas regiões
a) efêmeros e a paisagem de colinas.
b) cársticos e a paisagem de chapadas. Sul e Sudeste do Brasil. Sobre essa condição, é
c) intermitentes e a paisagem de caatingas. correto afirmar que
d) de talvegue e a paisagem de cerrados. km
e) temporários e a paisagem de terras baixas. 10

AVITS
frente fria cumulonimbus
2. (UFRN) Os fragmentos textuais a seguir apre-
sentam informações sobre fenômenos climá- massa de
ticos contrastantes, que ocorrem num mesmo ar quente
5
período, em diferentes regiões do Brasil. ar quente
em ascensão
massa de ar frio
Um total de 800 municípios do Nordeste se en-
contra em situação de emergência devido à seca, 0
depois de o governo declarar, nesta sexta-feira, que 400 km
25 novas cidades do estado da Paraíba estão nessa a) é típica de inverno, quando massas frias atravessam
circunstância. essas regiões, provocando inicialmente uma preci-
pitação e, na sequência, queda da temperatura e
tempo mais seco.
Disponível em: <http://noticias.r7.com/internacional/
b) trata-se da chegada de uma massa quente, que
noticias/seca-no-nordeste-deixa-800-municipios-em- ocorre tanto no verão quanto no inverno, provocando
situacao-de-emergencia-20120601.html>. intensas chuvas, sendo comuns a ocorrência de tem-
(acesso em: 4 jun. 2012) pestades e o aumento significativo na temperatura.
c) o contato entre as massas de ar indica fortes chuvas,
de tipo orográficas, que permanecem estacionadas
No Amazonas, mais de 80 mil famílias sofrem com a
num mesmo ponto durante vários dias.
cheia dos rios, 50 municípios permanecem em situação d) as precipitações de tipo convectivas ocorrem es-
de emergência, incluindo a capital, e outros três con- pecialmente nos meses de verão, sendo comum a
814-2

tinuam em estado de calamidade. Em Manaus, o Rio ocorrência de chuvas de granizo no final da tarde.

32 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

4. (Unesp) Leia a descrição de quatro grandes tipos climáticos do Brasil e, em seguida, examine o mapa, que
representa a divisão regional do país nesses grandes tipos climáticos.

1. Chuvas entre 2 000 mm e 3 000 mm e elevadas tem-


peraturas durante todo o ano, com médias de 26 °C.
C
2. Regular distribuição das chuvas durante o ano e tem-
peraturas mais amenas, com médias inferiores a 18 °C B
e esporádica queda de neve.
3. Chuvas escassas e irregulares, com precipitações mé- D
dias de 500 mm a 700 mm, e temperaturas elevadas,
com médias de 28 °C.
4. Duas estações bem marcadas: uma chuvosa e quente,
com 1 200 mm de precipitação e médias térmicas de
A
24 °C, e outra seca e fria, com 200 mm de chuvas e
17 °C de média térmica.
Fonte: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2011. (adaptado)

Assinale a alternativa que contém a correta associação entre a descrição climática e sua área de ocorrência.
a) 1D – 2B – 3A – 4C
b) 1C – 2A – 3B – 4D
c) 1B – 2D – 3C – 4A
d) 1A – 2C – 3D – 4B
e) 1C – 2B – 3D – 4A

5. (Unesp) Analise os climogramas dos principais tipos climáticos do Brasil e as fotos que retratam as forma-
ções vegetais correspondentes.

1 2 3 4 5 6

SÃO GRABRIEL DA CABACEIRAS (PB) POÇOS DE CALDAS (MG) PORTO ALEGRE (RS)
CACHOEIRA (AM) MACEIÓ (AL) CUIABÁ (MT)

mm ºC mm ºC mm ºC mm ºC mm ºC mm ºC
300 30 300 30 300 30 300 30 300 30 300 30

200 20 200 20 200 20 200 20 200 20 200 20


ILUSTRAÇÕES: AVITS

100 10 100 10 100 10 100 10 100 10 100 10

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D

Precipitação (mm) Temperatura (°C)

A B C D E F

Identifique o climograma e a respectiva foto que representa a vegetação do cerrado.


Mencione duas características da formação vegetal do cerrado e uma característica do clima no qual ela
814-2

ocorre.

POLISABER 33
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),
A seguir você encontrará alguns exercícios para verificar seu aprendizado e observar como os vestibulares abordam
as temáticas das aulas. Na seção Roda de leitura você poderá aprender um pouco mais sobre um fenômeno que
intriga a humanidade: o “El Niño”. Experimente também as sugestões de Navegar, Ver e ouvir e Pesquisar e ler para
ampliar seu repertório geográfico. E na seção Ágora, leia uma intrigante entrevista sobre o aquecimento global com o
pesquisador e professor Luiz Carlos Molion. Divirta-se!

EXERCÍCIOS

1. (Unesp) Leia. A partir da leitura do texto e da observação do


mapa, é correto afirmar que, no Brasil
O fenômeno dos “rios voadores” a) cada vez mais, a floresta é substituída por agricultura
ou pastagem, procedimento que promove o desen-
volvimento econômico sem influenciar significativa-
“Rios voadores” são cursos de água atmosféricos, invi- mente o clima na América do Sul.
síveis, que passam por cima de nossas cabeças transpor- b) os recursos hídricos são abundantes e os regimes
tando umidade e vapor de água da bacia Amazônica para fluviais não serão alterados, apesar das mudanças
outras regiões do Brasil. A floresta Amazônica funciona climáticas que ameaçam modificar o regime de
chuvas na América do Sul.
como uma bomba-d’água. Ela “puxa” para dentro do con-
c) o atual desenvolvimento da Amazônia não afeta o
tinente umidade evaporada do oceano Atlântico que, ao sistema hidrológico, devido à aplicação de medidas
seguir terra adentro, cai como chuva sobre a floresta. Pela rigorosas contra o desmatamento e danos à biodi-
ação da evapotranspiração da floresta, as árvores e o solo versidade da floresta.
devolvem a água da chuva para a atmosfera na forma de d) os mecanismos climatológicos devem ser conside-
rados na avaliação dos riscos decorrentes de ações
vapor de água, que volta a cair novamente como chuva
como o desmatamento, as queimadas, a abertura de
mais adiante. O Projeto Rios Voadores busca entender novas fronteiras agrícolas e a liberação dos gases do
mais sobre a evapotranspiração da floresta Amazônica efeito estufa.
e a importante contribuição da umidade gerada por ela e) a circulação atmosférica é dominada por massas de
no regime de chuvas do Brasil. ar carregadas de umidade que, encontrando a barreira
natural formada pelos Andes, precipitam-se na encos-
ta leste, alimentando as bacias hidrográficas do país.

2. (UFSM) Observe a figura.

cidade A
30 350
28
300
26
Temperatura média (°C)

24 250
Precipitação (mm)

22
200
20
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

150
18
16 100
14
50
12
10 0
n.

v.

.
r.

n.

l.
o.

t.

t.
v.
z.
o
ar

ju
ab

se
ou
ai
fe

no

de
ag
ja

ju
m

Precipitação (mm) Temperatura (°C)


814-2

Disponível em: <www.riosvoadores.com.br>. (adaptado)


AVITS

LATITUDE: 03°06’22’’ S

34 POLISABER
(PREDOMÍNIO DO OUTONO)

aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

cidade B

MAPAS: JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL


PERÍODO III
30 250 (PREDOMÍNIO DO INVERNO)

28
26 200
Temperatura média (°C)

24

Precipitação (mm)
22 150
20
18 100
16 PERÍODO IV
(PREDOMÍNIO DA PRIMAVERA)
14 50
12
10 0
n.

v.

.
r.

n.

l.
o.

t.

t.
v.
z.
o
ar

ju
ab

se
ou
ai
fe

no

de
ag
ja

ju
m

Precipitação (mm) Temperatura (°C)


AVITS

LATITUDE: 29°43’28’’ S

A partir dos climogramas, é correto afirmar que

I. o clima da cidade A pode ser descrito como equato-


rial, com predomínio de chuvas convectivas. 0 200 600 1 000 1 600 3.5 4.5 5.5 7.0 9.0
II. as principais variações climáticas entre os meses PRECIPITAÇÃO
TOTAL SAZONAL, m/m
VENTO (50 m de altura),
VELOCIDADE MÉDIA SAZONAL, m/s
e as estações do ano na cidade B estão ligadas à
temperatura, enquanto, na cidade A, estão ligadas Fonte: Ministério de Minas e Energia, 2001. (adaptado)
às chuvas.
III. a cidade B está localizada em latitudes extratropi- Os períodos do ano que oferecem as melhores
cais, o que explica a regularidade das chuvas ao condições para a produção de energia hidre-
longo dos meses do ano. létrica no Sudeste e energia eólica no Nordes-
te são aqueles em que predominam, nessas
Está(ão) correta(s) regiões, respectivamente,
a) apenas I. c) apenas I e III. e) I, II e III. a) primavera e verão. d) verão e inverno.
b) apenas II. d) apenas II e III. b) verão e outono. e) inverno e primavera.
c) outono e inverno.
3. (Fuvest) Observe os mapas.
4. (UFPR) O recurso água e seu uso estão entre os
grandes problemas socioambientais que a so-
BRASIL – Médias climatológicas de
ciedade tem como desafio nas próximas déca-
precipitação e de velocidade do vento das. Reservas desse recurso estão localizadas
no que se denominam aquíferos, como é o caso
PERÍODO I
(PREDOMÍNIO DO VERÃO)
do aquífero Guarani. Conceitue o termo aquífero,
caracterizando especificamente o aquífero ci-
tado, sua distribuição geográfica e os desafios
políticos que seu uso impõe.

5. (Fuvest) Observe a imagem e leia o texto.

PERÍODO II
(PREDOMÍNIO DO OUTONO)

Disponível em: <www.arvoresaopaulo.wordpress.com/2009/12/09>.


814-2

(acesso em: jun. 2012)


PERÍODO III
(PREDOMÍNIO DO INVERNO)
POLISABER 35
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

Por muitos anos, as várzeas paulistanas foram uma II. A retificação de um trecho urbano do rio Tietê e a
espécie de quintal geral dos bairros encarapitados nas construção de marginais sobre a várzea do rio po-
colinas. Serviram de pasto para os animais das antigas tencializaram o problema das enchentes na região.
carroças que povoaram as ruas da cidade. Serviram de III. A extinção da Mata Atlântica na região da nas-
terreno baldio para o esporte dos humildes, tendo as- cente do rio Tietê, no passado, concorre, até hoje,
sistido a uma proliferação incrível de campos de futebol. para agravar o problema com enchentes nas vias
marginais.
Durante as cheias, tais campos improvisados ficam com
IV. A várzea do rio Tietê é um ambiente susceptível à
o nível das águas até o meio das traves de gol.
inundação, pois constitui espaço de ocupação na-
tural do rio durante períodos de cheias.
Aziz Ab’Saber, 1956.

Considere a imagem e a citação do geógrafo Está correto o que se afirma em


Aziz Ab’Saber na análise das afirmações. a) I, II e III, apenas.
b) I, II e IV, apenas.
I. O processo de verticalização e a impermeabilização c) I, III e IV, apenas.
dos solos nas proximidades das vias marginais ao rio d) II, III e IV, apenas.
Tietê aumentam sua susceptibilidade a enchentes. e) I, II, III e IV.

6. (UFRN) O Rio Grande do Norte possui, aproximadamente, 80% do seu território com predomínio do clima
semiárido, sendo essa área susceptível à ocorrência de estiagens cíclicas, que têm um impacto sobre sua
rede hidrográfica. Considerando esses aspectos, foi implementada uma política que visa assegurar o abas-
tecimento de água para a população por meio da construção de adutoras.
O mapa a seguir apresenta informações sobre a distribuição das adutoras no Rio Grande do Norte.

OCEANO ATLÂNTICO

Adutora
Mossoró
Á

Adutora Sertão Adutora do


Mato Grande
R

Central Cabugi
A

Adutora
E

Médio Oeste
Adutora Serra
C

de Santana Adutora
Trairi
Adutora Alto
Oeste
Adutora
Piranhas-Caicó
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

Adutora Jardim
do Seridó

Fonte: FELIPE, J. L. A. et al. Economia do RN. João Pessoa: Grafset, 2009. p. 120. (adaptado)

A bacia hidrográfica que abastece o maior número de adutoras do sertão do Rio Grande de Norte é a
a) bacia do Apodi-Mossoró. c) bacia do Trairi.
814-2

b) bacia do Curimataú. d) bacia do Piranhas-Açu.

36 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

7. (UFBA) Fundamentalmente, ocorre um maior aquecimento de


suas águas, de pelo menos 1 grau Celsius, tomando
O Brasil, por sua grandeza territorial, possui uma diver- como referência a média térmica desse oceano, que é de
sidade geográfica e climática significativa. A latitude, o 23 °C. Seu nome remete ao menino Jesus, pois sua des-
relevo, as bacias hidrográficas, as características do solo, coberta está associada às observações de pescadores e
entre outros fatores, criam uma série de possibilidades, marinheiros peruanos, que notaram o aquecimento das
entre outras coisas, para o planejamento energético da
águas do mar e a consequente redução da quantidade
matriz brasileira. Sendo bem exploradas, essas caracte-
de peixes na época do Natal.
rísticas singulares podem fazer do Brasil um país inde-
Quais são as origens do fenômeno?
pendente das energias fósseis a longo prazo. Através do
investimento tecnológico e em infraestrutura, é possível Não há uma única teoria que defina a origem do El
utilizarmos fontes renováveis como a biomassa (etanol Niño, existindo diversas hipóteses como ciclos solares,
e biodiesel), eólica, solar e hidrelétrica. [...] Finalmente, erupções vulcânicas, acúmulo sazonal de águas quentes
a natureza oferece as condições ou cria as dificuldades no oceano Pacífico e quedas de temperatura na Ásia
que, na verdade, podem ser oportunidades para o cres- central. Registros paleoclimáticos, históricos, arqueo-
cimento e desenvolvimento do país. lógicos e relatos de navegadores apontam para a sua
ocorrência há mais de 500 anos. Esses apontamentos
WALTZ, 2010. p. 31. envolvem mudanças nas forças dos ventos, transfor-
mações na quantidade e intensidade de chuvas, secas,
Com base no texto e nos conhecimentos sobre enchentes, atividade pesqueira e produção agrícola. O
a matriz energética brasileira, uma das mais
El Niño está relacionado até mesmo à crise agrícola que
equilibradas entre as grandes nações,
a) justifique a recente expansão hidrelétrica da região ajudou na decadência da civilização maia.
Norte e cite dois exemplos do atual aproveitamento Como o El Niño se desenvolve?
da bacia Amazônica; Em primeiro lugar, é importante compreendermos o
b) destaque duas características naturais do Nordeste conceito de pressão atmosférica: alta pressão e baixa
brasileiro que podem ser aproveitadas para geração
pressão. A alta pressão do ar pode ser definida como
de energia alternativa e limpa;
c) indique duas características ambientais da bacia uma camada de ar frio e denso que se dirige à superfície,
hidrográfica do Paraná. movimento conhecido como subsidência (descida) do
ar frio. Esse movimento promove o deslocamento dos
ventos em direção às zonas de baixa pressão, onde o ar
mais quente e menos denso tende a sofrer ascendência
RODA DE LEITURA
(subir), contribuindo para a formação de chuvas.
O aquecimento das temperaturas provocado pelo El
El Niño Niño influencia o sistema de alta pressão subtropical,
localizado a 30° de latitude. O enfraquecimento das altas
O fenômeno El Niño é um evento climático natural pressões diminui a força dos ventos alísios, que têm sua
que ocorre no oceano Pacífico, aquecendo suas águas origem nessa região subtropical. Os alísios são ventos
e alterando a distribuição de calor e umidade em várias que sopram dos trópicos em direção ao equador, sendo
partes do globo. responsáveis por carregar calor e umidade em direção
O El Niño é um evento climático natural que ocorre no às áreas equatoriais. No oceano Pacífico, eles são fun-
oceano Pacífico, podendo ser definido como um aqueci- damentais para a ocorrência de chuvas na Oceania e
mento anormal das suas águas, seguido pelo enfraqueci- sudeste asiático.
mento dos ventos alísios. Tais alterações modificam o sis- Quais são as principais consequências do El
tema climático de distribuição das chuvas e de calor em Niño?
diversas regiões do planeta. Apesar de apresentar uma O El Niño altera a distribuição de calor e umidade em
descrição muito simples, seu funcionamento reúne uma diversas localidades. Na Oceania, em especial a Aus-
série de conceitos de climatologia, que serão abordados trália, e em algumas ilhas do Pacífico, além de países
neste artigo em um esquema de perguntas e respostas. do sudeste asiático, como Indonésia e Índia, os verões
O que é, de fato, o fenômeno El Niño? normalmente úmidos acabam tendo uma redução na
O El Niño Oscilação Sul (ENOS) é uma alteração natural quantidade de chuvas. No litoral da América do Sul e da
814-2

e cíclica nas porções central e leste do oceano Pacífico. América do Norte, ocorre um aumento das temperaturas

POLISABER 37
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

e, especialmente nos meses de verão, há também um PEARCE, F. O aquecimento global: causas e efeitos de um
aumento das chuvas e enchentes. Para as áreas pes- mundo mais quente. São Paulo: Publifolha, 2002.
queiras do Pacífico leste, como Peru, Chile e Canadá, o Texto explica as causas e consequências do aquecimento
El Niño pode ser dramático, diminuindo consideravel- global, bem como o que fazer para evitá-lo.
mente a quantidade de peixes, de acordo com o nível
de aquecimento das águas.
Quando ocorreu o El Niño mais forte? VER E OUVIR
O El Niño mais forte registrado pelos equipamentos
meteorológicos modernos foi entre 1982 e 1983, com um
aquecimento de aproximadamente 6 °C da temperatura No rio das Amazonas (direção: Ricardo Dias. Brasil,
do oceano Pacífico. Seus efeitos foram catastróficos, 1995). O filme trata da viagem do zoólogo e músico Paulo
com perdas econômicas estimadas em oito bilhões de Vanzolini ao longo do rio Amazonas, onde ele fala de
dólares. Apenas as enchentes e tempestades que atingi- suas características e da vida das populações ribeirinhas.
ram os Estados Unidos somaram perdas de dois bilhões
de dólares. Enormes secas ocorreram na Indonésia, na
Austrália, na Índia e no sudeste da África. A Austrália
NAVEGAR
experimentou diversos incêndios florestais, quebra nas
safras agrícolas e a morte de milhões de ovelhas por
falta de água. A pesca no Peru resultou em metade dos INMET
valores pescados no ano anterior. www.inmet.gov.br (acesso em: 24 mar. 2014)
Dados e informações sobre a previsão do tempo e o clima
SILVA, Júlio César Lázaro da. de todo o Brasil.
Disponível em: <www.brasilescola.com/
geografia/el-nino.htm>. Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH)
(acesso em: 23 mar. 2014) www.cnrh.gov.br/attachments/PNRH_Vol_1.pdf (acesso
em: 24 mar. 2014)
Site do Plano Nacional de Recursos Hídricos onde há
PESQUISAR E LER informações sobre as bacias hidrográficas brasileiras.

CLARKE, R.; K. Jannet. O atlas da água. São Paulo: Pu-


blifolha, 2005.
ÁGORA
Aborda as formas e os limites do uso da água no planeta,
a contaminação de cursos de água e aquíferos de forma Leia a entrevista a seguir, que questiona a tese do
bem ilustrada por mapas, gráficos e outras representações. aquecimento global e propõe outra explicação para as
mudanças climáticas globais.
CONTI, J. B. Clima e meio ambiente. São Paulo: Atual, 1998. E você, o que pensa sobre tudo isso? Discuta com
Estuda o clima, seus fenômenos, sua dinâmica e sua seus colegas e também com amigos e familiares, ponde-
relação com sociedades urbanas e rurais. rando os argumentos divulgados sobre o aquecimento
global e estes que nos apresenta o professor Luiz Carlos
FERREIRA, A. G. Meteorologia prática. São Paulo: Oficina Molion nesta entrevista para a revista Isto É.
de Textos, 2006.
Com riqueza de imagens de satélite e ilustrações, o livro Aquecimento global é terrorismo climático
discute a diversidade das características da atmosfera. Pesquisador diz que tendência dos próximos anos
é o esfriamento da Terra e que efeito estufa é tese
MOURÃO, R. C. F. Vai chover no fim de semana? São manipulada pelos países ricos
Leopoldo: Unisinos, 2003.
Livro que trata da previsão do tempo e de fenômenos O professor Luiz Carlos Molion é daqueles cientistas
como relâmpagos, trovões, tempestades e mudanças que não temem nadar contra a corrente. Na Rio-92 (ou
climáticas, entre outros.
814-2

Eco-92), quando o planeta discutia o aumento do buraco

38 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

na camada de ozônio, ele defendeu que não havia mo- ISTOÉ – Qual seria a origem das variações de tem-
tivo para tamanha preocupação. peratura?
Numa conferência, peitou o badalado mexicano Mario LUIZ CARLOS MOLION – Há dez anos, descobriu-se
Molina, mais tarde Nobel de Química, um dos primeiros a que o oceano Pacífico tem um modo muito singular na
fazer o alerta. Agora, a guerra acadêmica de Molion tem variação da sua temperatura. Me parece lógico que o
outro nome: aquecimento global. Pós-doutor em meteoro- Pacífico interfira no clima global. Primeiro, a atmosfera
logia formado na Inglaterra e nos Estados Unidos, membro terrestre é aquecida por debaixo, ou seja, temos tem-
do Instituto de Estudos Avançados de Berlim e represen- peraturas mais altas aqui na superfície e, à medida que
tante da América Latina na Organização Meteorológica você sobe, a temperatura vai caindo – na altura em
Mundial, esse paulista de 61 anos defende com veemência que voa um jato comercial, por exemplo, a temperatura
a tese de que a temperatura do planeta não está subindo
externa chega a 45 ou 50 graus abaixo de zero. Ora, o
e que a ação do homem, com a emissão crescente de gás
Pacífico ocupa um terço da superfície terrestre. Juntando
carbônico (CO2) e outros poluentes, nada tem a ver com o
isso tudo, claro está que, se houver uma variação na
propalado aquecimento global. Boa notícia?
temperatura da superfície do Pacífico, vai afetar o clima.
Nem tanto, diz. Molion sustenta que está em marcha
um processo de resfriamento do planeta. “Estamos en-
ISTOÉ – O IPCC (Painel Intergovernamental sobre
trando numa nova era glacial, o que para o Brasil poderá Mudança Climática, da ONU) está errado?
ser pior”, pontifica. Para Molion, por trás da propagação
LUIZ CARLOS MOLION – O painel não leva em con-
catastrófica do aquecimento global, há um movimento
sideração todos os dados. Outra coisa que incomoda
dos países ricos para frear o desenvolvimento dos
bastante, e que o Al Gore (ex-vice-presidente dos EUA
emergentes. O professor ainda faz uma reclamação:
e estrela do documentário Uma verdade inconveniente,
diz que cientistas contrários à tese estão escanteados
sobre mudanças no clima) usa muito, é a concentração
pelas fontes de financiamento de pesquisa.
de CO2. O IPCC diz claramente que a concentração
ISTOÉ – Com base em que o sr. diz que não há aque- atingida em 2005, de 339 partes por milhão, ou ppm,
cimento global? foi a maior dos últimos 650 mil anos. Isso é uma coisa
LUIZ CARLOS MOLION – É difícil dizer que o ridícula. Eles usam uma série iniciada em 1957 e não
aquecimento é global. O Hemisfério Sul é diferente do fazem menção a medições de concentração de gás
Hemisfério Norte, e a partir disso é complicado pegar carbônico anteriores. É como se nunca ninguém tivesse
uma temperatura e falar em temperatura média global. se preocupado com isso. O aumento de CO2 não é um
Os dados dos 44 estados contíguos dos EUA, que têm fenômeno novo. Nos últimos 150 anos, já chegou a 550,
uma rede de medição bem mantida, mostram que nas 600 ppm. Como é que se jogam fora essas medidas? Só
décadas de 1930 e 1940 as temperaturas foram mais porque não interessam ao argumento? O leigo, quando
elevadas que agora. A maior divergência está no fato vê a coisa da maneira que é apresentada, pensa que só
de quererem imputar esse aquecimento às atividades começaram a medir nos últimos 50 anos. O Al Gore usou
humanas, particularmente à queima de combustíveis no filme a curva do CO2 lá embaixo há 650 mil anos e,
fósseis, como petróleo e carvão, e à agricultura, atrás da agora, decolando. Ridículo, palhaço.
agropecuária, que libera metano. Quando a gente olha
a série temporal de 150 anos usada pelos defensores ISTOÉ – Esses temores são cíclicos?
da tese do aquecimento, vê claramente que houve LUIZ CARLOS MOLION – Eu tenho fotos da capa
um período, entre 1925 e 1946, em que a temperatura da Time em 1945 que dizia: “O mundo está fervendo”.
média global sofreu um aumento de cerca de 0,4 grau Depois, em 1947, as manchetes diziam que estávamos
centígrado. Aí a pergunta é: esse aquecimento foi indo para uma nova era glacial. Agora, de novo se fala
devido ao CO2? em aquecimento. Não é que os eventos sejam cíclicos,
porque existem muitos fatores que interferem no clima
ISTOÉ – Como, se nessa época, o homem liberava global. Sem exagero, eu digo que o clima da Terra é resul-
para a atmosfera menos de 10% do que libera hoje? tante de tudo o que ocorre no universo. Se a poeira de
LUIZ CARLOS MOLION – Depois, no pós-guerra, uma supernova que explodiu há 15 milhões de anos for
quando a atividade industrial aumentou, e o consumo de densa e passar entre o Sol e a Terra, vai reduzir a entrada
814-2

petróleo também, houve uma queda nas temperaturas. de radiação solar no sistema e mudar o clima. Esse ciclo

POLISABER 39
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6

de aquecimento muito provavelmente já terminou em Aí, inventaram a história de que esses compostos
1998. Existem evidências, por medidas feitas via satélite estavam destruindo a camada de ozônio. Começou
e por cruzeiros de navio, de que o oceano Pacífico está exatamente com a mesma fórmula de agora. Em 1987,
se aquecendo fora dos trópicos – daí o derretimento sob liderança da Margaret Thatcher, fizeram uma reunião
das geleiras – e o Pacífico tropical está esfriando, o que em Montreal, de onde saiu um protocolo que obrigava
significa que estamos entrando numa nova fase fria. os países subdesenvolvidos a eliminar os CFCs. O Brasil
Quando esfria, é pior para nós. assinou. Depois, ficamos sabendo que assinou porque
foi uma das condições impostas pelo FMI para renovar
ISTOÉ – Por que é pior?
a dívida externa brasileira. É claro que o interesse por
LUIZ CARLOS MOLION – Porque, quando a atmosfe-
trás disso certamente não é conservacionista.
ra fica fria, ela tem menor capacidade de reter umidade
e aí chove menos. Eu gostaria que aquecesse realmente ISTOÉ – Mas reduzir a emissão de CFCs não foi uma
porque, durante o período quente, os totais pluviomé- medida importante?
tricos foram maiores, enquanto de 1946 a 1976 a chuva LUIZ CARLOS MOLION – O Al Gore, no filme dele, diz
no Brasil como um todo ficou reduzida. “nós resolvemos um problema muito crucial, que foi a
destruição da camada de ozônio”. Como resolveram, se
ISTOÉ – No que isso pode interferir na vida do bra- cientistas da época diziam que a camada de ozônio só se
sileiro?
recuperaria depois de 2100? Na Eco-92, eu disse que se
LUIZ CARLOS MOLION – As consequências para o
tratava de uma atitude neocolonialista. No colonialismo
Brasil são drásticas. O Sul e o Sudeste devem sofrer uma
tradicional, se colocam tropas para manter a ordem e
redução de chuvas da ordem de 10% a 20%, dependendo
o domínio. No neocolonialismo, a dominação é pela
da região. Mas vai haver invernos em que a frequência
tecnologia, pela economia e, agora, por um terrorismo
de massas de ar polar vai ser maior, provocando uma
climático como é esse aquecimento global. O fato é que
frequência maior de geadas. A Amazônia vai ter uma re-
agora a indústria, que está na Inglaterra, na França, na
dução de chuvas e, principalmente, a Amazônia oriental
Alemanha, no Canadá, nos Estados Unidos, tem gases
e o sul da Amazônia vão ter uma frequência maior de
substitutos e cobra royalties de propriedade. E ninguém
seca, como foi a de 2005. O Nordeste vai sofrer redução
fala mais em problema na camada de ozônio, sendo que,
de chuva. O que mais me preocupa é que, do ponto de
na realidade, a previsão é de que agora, em outubro, o
vista da agricultura, as regiões sul do Maranhão, leste
buraco será um dos maiores da história.
e sudeste do Pará, Tocantins e Piauí são as que apre-
sentam sinais mais fortes. Essas regiões preocupam ISTOÉ – O sr. também vê interesses econômicos por
porque são a fronteira de expansão da soja brasileira. A trás do diagnóstico do aquecimento global?
precipitação vai reduzir e certamente vai haver redução LUIZ CARLOS MOLION – É provável que existam
de produtividade. Infelizmente, para o Brasil, é pior do interesses econômicos por detrás disso, uma vez que
que seria se houvesse o aquecimento. os países que dominam o IPCC são os mesmos países
que já saíram beneficiados lá atrás.
ISTOÉ – A quem interessaria o discurso do “aqueci-
mento”? ISTOÉ – Não é teoria conspiratória concluir que há
LUIZ CARLOS MOLION – Quando eu digo que muito uma tentativa de frear o desenvolvimento dos países
provavelmente estamos num processo de resfriamento, emergentes?
eu o faço por meio de dados. O IPCC, o nome já diz, é LUIZ CARLOS MOLION – O que eu sei é que não há
constituído de pessoas que são designadas por seus bases sólidas para afirmar que o homem seja respon-
governos. Os representantes do G-7 não vão aleatoria- sável por esse aquecimento que, na minha opinião, já
mente. Vão defender os interesses de seus governos. acabou. Em 1798, Thomas Malthus, inglês, defendeu que
a população dos países pobres, à medida que cresces-
No momento em que começa uma pressão desse tipo,
se, iria querer um nível de desenvolvimento humano
eu digo que já vi esse filme antes, na época do discurso
mais adequado e iria concorrer pelos recursos naturais
da destruição da camada de ozônio pelos CFCs, os com-
existentes. É possível que a velha teoria malthusiana
postos de clorofluorcarbonos. Os CFCs tinham perdido o
esteja sendo ressuscitada e sendo imposta através do
814-2

direito de patente e haviam se tornado domínio público.

40 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL

aquecimento global, porque agora querem que nós ISTOÉ – O cenário que o sr. traça inclui ou exclui o te-
reduzamos o nosso consumo de petróleo, enquanto a mor de cidades litorâneas serem tomadas pelo aumento
do nível dos oceanos?
sociedade americana, sozinha, consome um terço do
LUIZ CARLOS MOLION – Também nesse aspecto,
que é produzido no mundo.
o que o IPCC diz não é verdade. É possível que, com o
ISTOÉ – Para aceitar a tese do sr., é preciso admitir novo ciclo de resfriamento, o gelo da Groenlândia possa
que há desonestidade dos cientistas que chancelam o aumentar, e pode ser até que haja uma ligeira diminuição
diagnóstico do aquecimento global... do nível do mar.
LUIZ CARLOS MOLION – Eu digo que cientistas são
honestos, mas hoje tem muito mais dinheiro nas pesqui- ISTOÉ – Pela sua tese, seria o começo de uma nova
era glacial?
sas sobre clima para quem é favorável ao aquecimento
LUIZ CARLOS MOLION – Como já faz 15 mil anos que
global. Dinheiro que vem dos governos, que arrecadam
a última Era Glacial terminou, e os períodos interglaciais
impostos das indústrias que têm interesse no assunto. normalmente são de 12 mil anos, é provável que nós já
Muitos cientistas se prostituem, se vendem para ter estejamos dentro de uma nova era glacial. Obviamente,
seus projetos aprovados. Dançam a mesma música a temperatura não cai linearmente, mas a tendência de
que o IPCC toca. longo prazo certamente é decrescer, o que é mau para
o homem. Eu gostaria muito que houvesse realmente
ISTOÉ - O sr. se considera prejudicado por defender um aquecimento global, mas na realidade os dados nos
a linha oposta? mostram que, infelizmente, estamos caminhando para
LUIZ CARLOS MOLION – Na Eco-92, eu debati com um resfriamento. Mas não precisa perder o sono, porque
o Mario Molina, que foi quem criou a hipótese de que vai demorar uns 100 mil anos para chegar à temperatura
os clorofluorcarbonos estariam destruindo o ozônio. Ele, mínima. E quem sabe, até lá, a gente não encontre as
em 1995, virou prêmio Nobel de Química. E o professor soluções para a humanidade.
Molion ficou na geladeira. De 1992 a 1997, eu não fui
RANGEL, Rodrigo.
mais convidado para nenhum evento internacional. Eu
Disponível em: <www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/
tinha US$ 50 mil, que o Programa das Nações Unidas detalhe/255_AQUECIMENTO%20GLOBAL%20E%20
havia repassado para fazer uma pesquisa na Amazônia, TERRORISMO%20CLIMATICO>.
e esse dinheiro foi cancelado. (acesso em: 24 mar. 2014)

S E N H A

Como a vida se distribui diante da


ordenação das estruturas inorgânicas?
814-2

POLISABER 41
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 7

A capacidade de expansão da vida e seus limites


de distribuição dependem de uma série de fatores
PALÊ ZUPPANI/PULSAR IMAGENS

ecológicos e da história de cada comunidade biológica.


As necessidades abióticas e bióticas estão definidas pela
interação de variáveis do meio físico e biológico
e da ecologia de um organismo.
José Bueno Conti e Sueli Angelo Furlan.

As formações vegetais e sua humanização no Brasil


Nestas aulas, estudaremos o universo da vida vegetal e animal no território brasileiro, sua composição, evolução, distri-
buição e incorporação pela sociedade brasileira, que, em muitos casos, resultou na drástica redução de sua diversidade
e extensão. Esse é um primeiro problema do estudo das formações vegetais e dos sistemas naturais em geral: o fato
de muitas vezes tais paisagens não existirem mais em sua forma ou extensão originais, pois as alterações promovidas
pelas sociedades interagem com os sistemas naturais, modificando sua dinâmica e seus fluxos de matéria e energia.
Assim, o mapeamento da variedade de formações vegetais nas escalas global ou nacional em muitos casos encobre
as transformações introduzidas pelo homem com a urbanização e/ou as atividades agrícolas, revelando não a situação
original, mas uma sucessão que se seguiu à devastação.

Retração da vegetação nativa do Brasil

EQUADOR

10°

RETRAÇÃO DA
VEGETAÇÃO NATIVA
Floresta 20°

Savana (Cerrado)

Savana estépica TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

Campinarana
(Campinas do Rio Negro)
Estepe

Áreas pioneiras

Área antropizada

416 km
AVITS

70° 60° 50° 40°

A vegetação nativa do Brasil e sua retração em razão da ocupação humana.


814-2

0015

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. p. 110.

42 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

A vida na superfície do planeta está inserida em um da vida no planeta, dividida em períodos de milhares de
amplo contexto de relações de troca e fluxo de energia, anos desde sua formação.
compondo sistemas abertos e hierarquizados que, em seu Mas como classificar ou ordenar os diversos biomas
conjunto, denominamos biosfera. Esta se relaciona com a terrestres e como aplicar essa classificação ao território
hidrosfera, a litosfera e a atmosfera, de formas que variam brasileiro?
de acordo com os períodos e com o espaço, em níveis de Essa classificação leva em conta as semelhanças na
associação ou de organização estabelecidos por relações composição das espécies, nas formas de vida e nas re-
de competição, predação e, principalmente, cooperação, lações ecológicas. Vale lembrar que as divisões não são
como observamos nas redes alimentares, em que as territorialmente rígidas, podendo haver uma zona de
transição ou uma gradação entre um bioma e outro. Tam-
plantas são alimento para muitos animais, mas também
bém é importante salientar que, na escala dos biomas,
precisam de muitos deles para cumprir seu ciclo de vida.
muitas vezes não percebemos as diferenças internas;
Nesse contexto também se inserem as relações sociais,
por exemplo, na Floresta Amazônica ocorrem diversas
que, além do processo da troca de energia, participam
composições, em função da posição do relevo, do clima
ativamente das transformações dos sistemas naturais
e do solo locais. Assim, deveríamos falar em florestas
ao longo dos períodos. Assim é o mecanismo evolutivo
amazônicas ou em matas atlânticas.
aliado à herança genética, que determina a capacidade de
Os diferentes biomas estão associados aos movimen-
sobrevivência das diversas formas de vida e dos sistemas
tos da Geodésia, o que inclui os movimentos da massa
naturais onde estão inseridas, podendo cumprir suas fun- de ar, a radiação solar e às zonas de alta e baixa pressão
ções vitais ao mesmo tempo em que interagem entre si. atmosférica. Todo esse conjunto de vetores concomi-
A Ciência Geográfica estuda a vida na superfície do tantemente criam condições à reprodução de espécies
planeta principalmente na escala do bioma, conjunto vegetais e que, por sua vez, oferecem possibilidades de
fisionomicamente homogêneo de plantas, animais e mi- reproduções animais. Os fatores de ocupação humano
crorganismos vivendo em associação sob determinado foram radicalmente transformados com a revolução
tipo de clima e de solo onde os ecossistemas estão no científica e tecnológica, expandindo a fronteira do uso
ápice de seu desenvolvimento, resultado de uma história do solo pelo e para o homem.

Distribuição dos biomas terrestres no mundo

30 °N

TRÓPICO DE CÂNCER

EQUADOR

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

30 °S

Florestas tropicais Desertos absolutos, com gelo, Florestas temperadas


rocha ou areia

Savanas Chaparral Taigas (florestas de coníferas)

2 100 km Desertos Campos de regiões Tundra ártica e alpina


temperadas
AVITS

814-2

Fonte: SILVA JR., César da & SASSON, Sezar. Biologia. São Paulo: Saraiva, 2003.

POLISABER 43
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7

Os grandes domínios vegetais no Brasil


No Brasil, um país de dimensões territoriais continentais, há uma ampla diversidade de paisagens vegetais. As forma-
ções florestais predominam em extensão nas regiões Norte, costeira e Sul, em uma variedade determinada em função
do clima e da geomorfologia, que resulta em diferentes composições florísticas. Estando em sua maior parte em áreas
de baixa latitude, com temperaturas médias superiores a 18 °C e diferenças nas estações do ano marcadas pela variação
pluviométrica, predominavam no Brasil, antes da colonização, as florestas tropicais. Apenas no Sul havia uma floresta
de formação não tropical – a araucária.
Em alguns pontos, as florestas apresentam manchas de formações rasteiras e arbustivas, que predominam em um
trecho diagonal entre o Nordeste, o Centro-Oeste e o Pantanal, representadas pelos domínios abertos e semiabertos
dos cerrados e das caatingas. O atual mosaico de formações vegetais no Brasil é resultado das variações climáticas do
Quaternário, determinando períodos mais secos ou mais úmidos, onde essas formações se expandiram e se retraíram
frequentemente. Sua origem remonta à distribuição de antigas formações vegetais que ocupavam os escudos do antigo
continente Gondwana e foram se expandindo com a deriva dos continentes.

Brasil: vegetação original

EQUADOR

10°

20°
Floresta Amazônica

Zona dos cocais

Caatinga TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

Campos cerrados

Pantanal

Mata Atlântica

Vegetação litorânea
300 km
(manguezais e
restingas)
Pampas

Mata de Araucárias
AVITS

70° 60° 50° 40°


814-2

A vegetação original do Brasil não é exatamente a que temos hoje.

44 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

Veja agora uma breve caracterização dos domínios vegetais brasileiros, considerando as transformações provocadas
pelas atividades humanas em cada lugar.
As paisagens não são estáticas. O homem é, de fato, um agente dotado tecnicamente de possibilidades múltiplas de
modificação da paisagem. Os biomas efetivamente são modificados. O que resta saber é a forma com a qual o homem
poderá balancear o modo de produção adotado com as possibilidades de modificação de cada um dos biomas por ele
alcançados.

Formações florestais

Florestas amazônicas

É atualmente a maior formação florestal do planeta em área contínua. De grande porte, úmida e densa, abriga uma
enorme variedade de espécies, que podemos agrupar em três: mata de igapó e mata de várzea, nas regiões inundáveis
da bacia, e mata de terra firme, nos terrenos mais altos, livres de inundação.
RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS

A exuberância da Floresta Amazônica vista do alto. De longe, não distinguimos as florestas.

Mata de igapó
Ocupa terrenos com solos alagados o ano inteiro, chamados de hidromórficos. Suas árvores alcançam até 20 metros
de altura e, nas superfícies dos rios, flutuam vitórias-régias cujas folhas chegam a atingir 4 metros de diâmetro.
RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS

814-2

Mata de igapó nas margens do rio Negro, em Barcelos (AM).

POLISABER 45
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7

Mata de várzea
Ocupa terrenos que alagam em épocas de chuvas mais intensas, em uma área de aproximadamente 55 mil km². É aí
que se encontra a seringueira, espécie de onde se retira o látex para a fabricação da borracha.
LUIZ CLÁUDIO MARIGO/OPÇÃO BRASIL IMAGENS

Várzea amazônica (lago Mamirauá), na Reserva Ecológica de Mamirauá,


em Alvarães (AM).

Mata de terra firme


Ocupa áreas livres de alagamentos, abrangendo um total de 90% da bacia Amazônica. É composta de árvores muito
altas (até 65 metros de altura), que formam um dossel, ou seja, suas copas retêm 95% dos raios solares, mantendo o
interior da floresta úmido e escuro. Entre as espécies dessa área, encontra-se a castanheira.
JOÃO PRUDENTE/PULSAR IMAGENS

Mata de terra firme na Reserva Natural do Parque do Zizo, no alto da Serra de


Paranapiacaba, em Tapiraí (SP).

Perfil da Floresta Amazônica


As florestas amazônicas correspondem a 16% de todas as florestas tropicais do mundo e chegaram a recobrir 40% do
território brasileiro, antes da chegada dos colonizadores. A variação de umidade ao longo de trechos da hileia amazônica
determina um mosaico de florestas. Grosso modo, há uma floresta úmida oriental distinta da ocidental, com uma biodiversi-
814-2

dade ainda pouco conhecida, dado o grande número de espécies de plantas raras sobre cuja distribuição quase nada se sabe.

46 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

O funcionamento das florestas amazônicas é autossustentado, pois as condições climáticas regionais permitem uma
alta taxa de fotossíntese, e os nutrientes para seu crescimento e sua exuberância derivam essencialmente do manto
de detritos que a própria floresta produziu (folhas, troncos caídos, animais mortos) nas camadas superficiais do solo.

N S
Mata de terra firme Mata de Depressão marginal
igapó sul-amazônica e planaltos
Planalto das Guianas residuais sul-amazônicos
Nível das
Planalto Mata de águas altas
Serras norte-amazônico várzea (enchente) Rio Amazonas

Depósitos sedimentares Solo sedimentar


terciários de terra firme recente de várzea

Sedimentos
AVITS

Os diferentes níveis da floresta, de acordo com o relevo e os solos.


Fonte: ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil. 4. ed. rev. e amp. São Paulo: Moderna, 2004.

Apesar de ainda estarem preservados aproximada- para os sistemas hídricos, os solos e as outras formas
mente 80% de sua área original, a Floresta Amazônica é de vida. Isso sem falar na desestruturação da vida dos
a formação vegetal brasileira com o mais acelerado ritmo povos tradicionais da região – indígenas, seringueiros,
de devastação. Desde os anos 1960, quando o então go- ribeirinhos e demais habitantes da floresta. Esses povos
verno militar programou a política de integração da região têm revelado aos cientistas um grande número de espé-
ao eixo econômico do Centro-Sul do país, os desmata- cies, o que, paradoxalmente, concorre para que empresas
mentos só aumentaram. Os projetos agropecuários e invadam suas terras.
agrominerais que recebiam incentivos fiscais por meio da
Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia
(Sudam) facilitavam a penetração de empresas nacionais
e transnacionais na região em busca de riquezas como
ouro, minério de ferro, cassiterita e bauxita.Também a
pecuária bovina e, mais recentemente, o agronegócio
da soja são responsáveis pela ocupação desenfreada.
Em 1970, o Programa de Integração Nacional (PIN) dos
militares destinou recursos à construção de rodovias
como a Transamazônica e a Cuiabá-Santarém. Outras,
implantadas na década anterior, como a Cuiabá-Porto
Velho e a Belém-Brasília, intensificaram os fluxos migra-
tórios, levando ao aumento de desmatamentos em áreas
PLANET OBSERVER/GETTY IMAGES

adjacentes, no formato chamado espinha de peixe. Nas


palavras do então presidente militar, o general Emilio G.
Médici, tratava-se de oferecer uma “terra sem homens
na Amazônia” a “homens sem terra do Nordeste”. Proje-
tos como o Carajás e o Jari causaram grande destruição
florestal. Assim, quebrou-se o isolamento da Amazônia,
mas de forma preocupante, pois perderam-se importan- Efeito espinha de peixe marca o avanço do desmate da
814-2

tes recursos de sua biodiversidade, com consequências Amazônia a partir das estradas.

POLISABER 47
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7

Polos de desenvolvimento da Polamazônia

1 – Xingu-Araguaia
2 – Carajás
3 – Araguaia-Tocantins
4 – Trombetas
5 – Altamira
6 – Pré-Amazônia
Maranhense 10
7 – Rondônia 12
8 – Acre EQUADOR
9 – Juruá
10 – Roraima
11 – Tapajós 4 15
12 – Amapá
13 – Juruema
14 – Aripuama
15 – Marajó
6
9 5
11
3
2

8 1
14
10°

7
Programas do
Agricultura/Pecuária
Polamazônia, projeto
Mineração gestado pelos militares
13
Hidrografia para integrar e
Áreas prioritárias Brasília entregar as riquezas da
Estradas existentes ou projetadas Amazônia ao grande
capital nacional e
AVITS

254 km
70° 60° 50°
estrangeiro.
Fonte: SUDAM.

Atualmente, a pecuária, a mineração industrial, a extração industrial da castanha, o agronegócio da soja e a construção
de hidrelétricas estão entre as atividades que mais impactam a floresta, com perda da biodiversidade, destruição dos
solos, mudanças climáticas e contaminação do ambiente por agrotóxicos e inseticidas.

Florestas costeiras ou Mata Atlântica

As florestas costeiras são variedades de florestas tropicais e se parecem muito com a Floresta Amazônica: são den-
sas, de grande porte e de grande biodiversidade. A Mata Atlântica é a floresta pluvial de maior diversidade no mundo: é
composta de cerca de 10 mil espécies de plantas, além de centenas de espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios.
Suas árvores se entrelaçam a uma enorme quantidade de cipós e epífitas, resultando em uma fisionomia peculiar. Em
alguns trechos, pode haver uma média de 270 espécies de árvores em um único hectare.
EDU LYRA/PULSAR IMAGENS

A Mata Atlântica
recobre áreas serranas
do Sudeste. O difícil
acesso e a pouca
ocupação ainda
mantêm a floresta
814-2

preservada.

48 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

Originalmente, a Mata Atlântica recobria uma área Atualmente, restam 5% da mata original, concentrados
do litoral do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, em pontos mais difíceis de ocupar como as encostas das
penetrando pelo interior dos estados da Bahia, de Minas serras do Mar e da Mantiqueira. A devastação teve início
Gerais e de São Paulo. Nessas regiões, há períodos de no período colonial, com a extração do pau-brasil e o cul-
radiação solar intensa, altas temperaturas, regime tivo da cana-de-açúcar no Nordeste, e se acelerou nos sé-
de chuvas abundantes e levemente sazonais graças à
culos XIX e XX, com a penetração do café no Sudeste e o
massa tropical atlântica no verão e às frentes polares
processo de industrialização. A extração de madeira para
no inverno. O próprio relevo da Serra do Mar também é
a fabricação de móveis e sua utilização como lenha na si-
importante na determinação da umidade, em razão das
chuvas orográficas, na região da mata de encosta. Tam- derurgia, a retirada do palmito e a busca de espécies que
bém como na Floresta Amazônica, é intensa e rápida a interessam à industria farmacêutica estão entre os princi-
reciclagem dos nutrientes nas camadas superficiais do pais motivos da retração da mata. Hoje, a maior parte das
solo, onde se acumula uma enorme quantidade de húmus áreas preservadas encontra-se em reservas, parques
(matéria orgânica), o que gera a riqueza da vegetação. ou áreas de proteção ambiental.

A retração da Mata Atlântica


Mata original – em torno dos anos 1500 O que restou – anos 2000

Área equivalente Área equivalente


JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL

Em mais de 500 anos de exploração, a Mata Atlântica está quase extinta.

O desmatamento da Mata Atlântica, o


bioma mais ameaçado do país, aumentou
29% em 2012 em relação ao período entre
2010 e 2011 e é o maior desde 2008.
Desmataram-se 23 548 hectares (235 km2),
sendo 21 977 hectares de florestas,
1 554 hectares de vegetação de restinga e
17 hectares de mangues. O dado é a soma
dos dez estados avaliados em todos os
períodos (BA, ES, GO, MG, MS, PR, RJ, RS, SC
e SP) e está no Atlas dos Remanescentes
 FABIO COLOMBINI

Florestais da Mata Atlântica, divulgado em


4 de junho de 2013, pela Fundação SOS
Mata Atlântica em parceria com o Instituto
814-2

Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

POLISABER 49
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7

Florestas de araucárias

Estando originalmente desde os altos das serras do Sudeste, em Minas Gerais e São Paulo, até os estados da região
Sul do país, a mata de araucárias é a formação florestal de menor tropicalidade. Seus solos são férteis, as plantas sobre-
vivem em ambientes de moderada umidade (entre 1 000 mm a 1 400 mm anuais) e temperaturas moderadas e baixas
no inverno. O pinheiro do Brasil, ou Araucaria angustifolia, é a espécie predominante em uma formação homogênea e
aberta. Entre os pinheiros, crescem outras espécies arbóreas como a canela ou o angico, e também rasteiras como a
erva-mate, matéria-prima do chimarrão, bebida muito apreciada no sul do Brasil. O pinhão, muito comum na culinária
regional, é a semente dessa gimnosperma, e sua dispersão é feita por uma ave local: a gralha-azul.
Ao longo de séculos de exploração, as áreas das araucárias se reduziram drasticamente, e elas estão praticamente
extintas. Foi responsável pela devastação a extração de madeira para a fabricação de casas e móveis e, mais tarde,
também para exportação.

Araucárias recobrindo áreas do sul do Brasil. LUIZ CLAUDIO MARIGO/TYBA

Savanas

As savanas consistem em gramíneas entremeadas por algumas poucas árvores e muitos arbustos. O pequeno porte
dessas formações se deve à pobreza hídrica ou de solos em ambientes tropicais.

Caatingas

Ocupando os planaltos semiáridos do Nordeste brasileiro, as caatingas são uma formação vegetal xerófita, ou seja,
que desenvolveu mecanismos de retenção de água para sobreviver aos longos períodos de estiagem ou escassez
hídrica. Dentre esses mecanismos, temos o revestimento das folhas por uma crosta de cera, o aparecimento de es-
pinhos em vez de folhas, evitando a perda de água por evapotranspiração, e folhas coriáceas, grossas e alongadas.
As raízes recobrem a superfície do solo em busca de água, e algumas plantas, como o juazeiro, têm uma raiz mais
profunda para captar águas no subsolo. Nos períodos de chuva, as caatingas se recobrem de um tapete verde de fo-
lhas e aparecem flores de cores diversas, mudando o aspecto da paisagem. As caatingas são muito ricas em espécies
frutíferas, produzem ceras, fibras e óleos vegetais. Não se pode associar a pobreza da população do sertão – que é
814-2

um problema político-econômico – às características ecológicas locais.

50 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS

Vegetação da caatinga na trilha para a Gruta de Angico, em Poço Redondo (SE).

Mais de 80% dessa formação foram devastados pela pecuária bovina extensiva, apesar de sua pouca capacidade para
abrigar essa atividade. Hoje, os projetos de irrigação no cultivo de frutas tropicais para a agroindústria e para exportação
estão entre os fatores que mais devastam a caatinga.

Distribuição do desmatamento da Caatinga – 2008

CE

MA RN

PB

PI PE

AL

SE

BA
185 km

Cobertura vegetal original


Desmatamento anterior a 2002
Novos pontos de desmate (2002 – 2008)
AVITS

Em cinza-escuro, a cobertura vegetal original; em cinza-médio, o desmatamento


anterior a 2002; e em preto, os novos pontos de desmate (entre 2002 e 2008).
814-2

Fonte: Ibama. Ministério do Meio Ambiente.

POLISABER 51
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7

Cerrados

As formações de cerrados ocupavam originalmente uma grande área contínua do Planalto Central brasileiro e manchas
no interior de São Paulo e de Minas Gerais. Caracterizam-se por apresentar três níveis de vegetação: o arbóreo, cons-
tituído pelas matas de galeria que margeiam os rios e por poucas árvores espaçadas; o herbáceo, rasteiro, constituído
por gramíneas que ocupam todo o espaço dessa formação, e o arbustivo, que apresenta troncos finos e retorcidos, em
função dos solos pobres em nutrientes, e cascas grossas de cortiça, uma adaptação aos incêndios naturais e cíclicos
do período da estiagem e que, em pequena escala, permitem a renovação de sua diversidade. Não há déficit hídrico nas
regiões dos cerrados. O problema é a baixa fertilidade dos solos, que se formaram em depósitos sedimentares antigos
e têm alta concentração de alumínio, substância nociva às plantas.

A retração dos Cerrados

Área remanescente
Desmatamento acumulado
até o ano de 2008 = 48,2%
da área dos cerrados

245 km

20°

O antropismo
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
nos cerrados
AVITS

afeta sua
60° 50° 40°
biodiversidade.

Os cerrados tiveram mais de 45% de suas áreas devastadas nos últimos 50 anos, devido à penetração da agropecuária,
sobretudo a bovina, e a monocultura da soja e da cana-de-açúcar para exportação, interferindo na biodiversidade da for-
mação e acelerando processos erosivos nos solos, provocando o assoreamento dos rios. A agricultura pode se desenvolver
graças às técnicas de adubação e diminuição da acidez dos solos pela calagem.

Campos

A principal área contínua de ocorrência de campos no Brasil se estende pela campanha gaúcha e é conhecida como
Pampas ou Campos Limpos, no Rio Grande do Sul. Ali, a vegetação herbácea é entremeada por matas subtropicais e de
814-2

araucárias e a diversidade biológica é menor que em outras formações. A essa área se associam os campos dos altos

52 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

dos planaltos sul-rio-grandense e catarinense, além dos campos costeiros das regiões lagunares, que compõem as
principais áreas campestres do país. Vale ressaltar que os campos aparecem em manchas menores em outros pontos
como a ilha de Marajó, Roraima e trechos dos planaltos do Sudeste.
ALE RUARO/PULSAR IMAGENS

Os pampas
favoreceram
amplamente
a pecuária de
corte, por seus
pastos naturais e
seu relevo plano.

As maiores ameaças aos campos brasileiros estão no sul do país. A exploração pela pecuária extensiva tem levado à
formação de areais, onde a vegetação retirada não retorna e os solos perdem toda a fertilidade, lembrando fisionomi-
camente um deserto, como o areal São João, no interior do Rio Grande do Sul.

Formações complexas
Ocorrem em áreas de transição entre formações e apresentam características de duas ou mais dessas formações.

Mata de cocais

Localizada na sub-região nordestina do Meio-Norte, na transição entre as caatingas e as florestas amazônicas, as ma-
tas de cocais são constituídas por palmeiras do tipo babaçu, cuja extração do óleo e o bagaço do coco são importantes
para a economia local.

A mata de
cocais é um tipo
PALÊ ZUPPANI/PULSAR IMAGENS

de vegetação
brasileira que
ocorre entre as
regiões Norte
e Nordeste,
também
denominada
814-2

Meio-Norte.

POLISABER 53
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7

Pantanal mato-grossense

Trata-se de uma área deprimida recoberta por cerrados e formações inundáveis na região da bacia do rio Paraguai,
que se formou após a separação da antiga Gondwana e o soerguimento dos Andes. O clima tropical e a estação seca
prolongada criaram um mosaico de florestas, cerrados e campinas higrófilas que abrigam a mais rica fauna do planeta.
Ainda pouco conhecida, essa fauna está ameaçada pela pecuária, pelo garimpo, pelo extrativismo mineral e por mono-
culturas que afetam a dinâmica das cheias, fundamental para a manutenção da biodiversidade da região.
LUIZ CLÁUDIO MARIGO/OPÇÃO BRASIL IMAGENS

Parque Nacional do Pantanal mato-grossense.

Manguezais

Área de ocorrência de Manguezais no Brasil

EQUADOR

10°

20°

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

Os manguezais
estão na maior
parte do litoral
AVITS
814-2

520 km
70° 60° 50° 40°
brasileiro.

54 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

Os manguezais são formações vegetais adaptadas aos ambientes costeiros tropicais, em regiões de estuário onde a
influência das marés alterna águas marinhas e continentais. Nesse ambiente salino e de solo lamacento, se desenvol-
vem espécies vegetais adaptadas com raízes em forma de escoras e capazes de respirar embaixo da água por meio de
pneumatóforos. Sua importância se deve ao fato de ser um ambiente que serve de base a cadeias alimentares costei-
ras, fornecendo alimentos e proteção a várias espécies de peixes, aves e crustáceos que ali se reproduzem e crescem.
Por isso, o manguezal é conhecido como “berçário” costeiro, e sua preservação é fundamental para a manutenção da
biodiversidade nos litorais brasileiros.
MAURICIO SIMONETTI/PULSAR IMAGENS

O mangue e suas raízes aéreas em forma de escoras, para sustentar as árvores em pé


em um solo lamacento.

No entanto, não é isso o que vem ocorrendo. Os mangues são devastados pelos planos de urbanização das cidades litorâ-
neas, que os aterram para a construção de condomínios de veraneio, hotéis e resorts e, em alguns casos, para transformá-los
em lixões. Também são destruídos pela expansão de atividades como a piscicultura e carcinicultura (criação de caranguejos).
ROGÉRIO REIS/PULSAR IMAGENS

Mangue do rio Potengi (RN), devastado pelos tanques de carcinicultura (criação de


814-2

caranguejos).

POLISABER 55
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7

EXERCÍCIOS

1. (Unicamp) Assinale a alternativa que indica corretamente a localização e uma característica predominante
dos domínios morfoclimáticos do cerrado, da caatinga e dos mares de morros.

a) 1 – cerrado, com clima subtropical; 2 – caatinga, com


rios perenes; 3 – mares de morros, com vegetação do
tipo savana estépica.
b) 1 – caatinga, com clima semiárido; 2 – mares de mor-
ros, com Mata Atlântica; 3 – cerrado, com vegetação
do tipo savana.
c) 1 – caatinga, com clima tropical de altitude; 2 – mares
de morros, com rios intermitentes; 3 – cerrado, com
mata de araucária.
d) 1 – cerrado, com vegetação do tipo savana; 2 – caatinga,
com clima semiárido; 3 – mares de morros, com Mata
Atlântica.

2. (Fuvest) O perfil topográfico abaixo apresenta alguns aspectos estruturais da vegetação nativa e do com-
portamento dos totais anuais de chuva em um segmento que se estende do litoral até os contrafortes da
serra da Mantiqueira.

SERRA DA MANTIQUEIRA VALE DO PARAÍBA DO SUL SERRA PLANÍCIE


OCEANO ATLÂNTICO

DO MAR COSTEIRA

chuva PICO chuvas fracas ilha seca na


(1 600 mm) ITAPEVA (1 200 mm) sombra da
m
montanha chuvas aumentando
2 000 –
chuvas aumentando (até 4 500 mm)
(até 2000 mm)
1 500 –
chuvas
(2 500 mm)
1 000 –

500 –

A B
AVITS

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Fonte: HUECK, Kurt. As florestas da América do Sul, 1972. (adaptado)

Com base nessas informações e em seus conhecimentos, atenda ao que se pede.

a) Das seções numeradas de 1 a 18, considere as que correspondem à Serra do Mar, identificando aquela onde, tendo
em vista os fatores naturais, os processos erosivos podem ser mais frequentes e intensos. Justifique.
b) Observe que, na encosta escarpada da serra da Mantiqueira, a estatura da vegetação aumenta em direção às partes
814-2

mais baixas. Identifique duas causas desse fenômeno. Explique.

56 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

3. (Unesp)

A extração de madeira, especialmente do pau-brasil, os ciclos do açúcar e café e o desmatamento para a instalação de
indústrias são eventos de nossa história que contribuíram para a degradação desse bioma.
Disponível em: <www.eco.ib.usp.br>.

O texto refere-se ao bioma


a) Mata Atlântica.
b) Caatinga.
c) Cerrado.
d) Pantanal.
e) Floresta Amazônica.

4. (Fuvest) Estas fotos retratam alguns dos tipos de formação vegetal nativa encontrados no território
nacional.

Fonte: FERREIRA, G. Moderno Atlas Geográfico, 2012. (adaptado)

Correlacione as formações vegetais retratadas nas fotos às áreas de ocorrência indicadas nos mapas abaixo.

814-2

POLISABER 57
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),
Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os vestibu-
lares abordam o assunto das aulas. Na Roda de leitura, há um texto interessante sobre hotspots, e nas seções Pesquisar
e ler, Ver e ouvir, Navegar e Ágora, há sugestões de materiais para ampliar seu repertório sobre os temas estudados.

EXERCÍCIOS

1. (Fatec) Ao pensar em sua infância, José sente- de terra firme, situadas ao norte do arco do desma-
-se nostálgico e se lembra da vegetação carac- tamento. Cabe ressaltar que, em virtude da existên-
terística da região onde morava: árvores de cia do mogno (madeira de grande valor comercial),
cascas grossas e galhos retorcidos e com raí- essa exploração se alarga no oeste do Pará e no
zes muito profundas. Entre uma árvore e outra, norte de Mato Grosso.
havia espaço suficiente para correr e, no inver- III. as atividades agropecuárias concentradas em um
no seco, a vegetação ganhava aspecto amare- arco ao sul da bacia Amazônica, que se estende
lado e, no verão chuvoso, tudo voltava a ficar do nordeste e sul do Pará, e passa pelo norte do
verdinho. Mato Grosso até Rondônia. A pecuária extensiva na
Atualmente, a vegetação de que José se recorda região promove a derrubada de extensas áreas de
não existe mais, tornou-se uma extensa planta- floresta.
ção de soja.
De acordo com o exposto, assinale a opção
É correto concluir que José passou sua infância correta.
no estado a) I e II estão corretas.
a) do Acre. b) II e III estão corretas.
b) de Goiás. c) I, II e III estão corretas.
c) de Roraima. d) Apenas I está correta.
d) do Rio Grande do Sul. e) Apenas II está correta.
e) do Rio Grande do Norte.

3. (Enem)
2. (IBMEC-RJ) A legislação ambiental brasileira tem
sido insuficiente para bloquear a devastação da
Floresta Amazônica, que ocupa 49,3% do territó- Então, a travessia das veredas sertanejas é mais
rio nacional. Na década de 1980, foram devasta- exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos,
dos cerca de 3,5% da superfície total. Hoje, mais o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a
de 12% da área original da floresta já foram des-
truídos, devido, principalmente, a políticas go- perspectiva das planuras francas. Ao passo que a outra o
vernamentais inadequadas, com a expansão da afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-
fronteira de ocupação em direção à Amazônia. -o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com
Entre as razões que justificam o chamado “arco as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos
do desmatamento” na Amazônia Oriental, pode-
estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas
-se corretamente identificar
e léguas, imutável no aspecto desolado; árvore sem
I. a presença de culturas em larga escala na região, folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecru-
como a da cana-de-açúcar e do café, que são inten- zados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se
sas no arco do desmatamento e promovem mais flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de
impactos sociais do que ambientais. No Pará, o go-
tortura, da flora agonizante [...].
verno estadual incentiva esses plantios comerciais
(ao longo da Belém-Brasília e Santarém).
II. a concentração dos polos madeireiros. A explora- CUNHA, Euclides da.
814-2

ção da madeira ocorre principalmente nas florestas Os sertões

58 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

Os elementos da paisagem descritos no texto 5. (UFSJ) Observe a figura abaixo.


correspondem a aspectos biogeográficos pre-
sentes na Áreas de Preservação Permanente APPS
a) composição de vegetação xerófila.
b) formação de florestas latifoliadas.
c) transição para mata de grande porte. Topos de morros
d) adaptação à elevada salinidade. Encostas

e) homogeneização da cobertura perenifólia.

4. (Fuvest) Leia o texto de José de Alencar, do ro- Nascentes


mance Til.

AVITS
Restingas
Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia
com o Piracicaba, e à margem deste último rio, estava
situada a fazenda das Palmas.
Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura Oceano
Mata Ciliar
a mais vasta e frondosa, das que então contava a provín-
cia de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em
As APPS estiveram no centro do debate sobre a
campos de cultura. Daquela que borda as margens do reformulação do Código Florestal Brasileiro.
Piracicaba, [...] ainda restam grandes matas, cortadas de Sobre a função ambiental das APPS, é incorreto
afirmar que elas garantem a
roças e cafezais. Mas dificilmente se encontram já aque-
a) margem dos cursos d’água e aumentam o
les gigantes da selva brasileira, cujos troncos enormes assoreamento.
deram as grandes canoas, que serviram à exploração b) estabilidade do solo e previnem deslizamentos.
c) fixação de dunas e a proteção de manguezais.
de Mato Grosso. Daí partiam pelo caminho d’água as ex-
d) recomposição de aquíferos.
pedições que os arrojados paulistas levavam às regiões
desconhecidas do Cuiabá, descortinando o deserto, e
rasgando as entranhas da terra virgem, para arrancar-lhe
RODA DE LEITURA
as fezes, que o mundo chama ouro e comunga como
a verdadeira hóstia.
Hotspots

ALENCAR, José de.


O conceito hotspot foi criado em 1988 pelo ecólogo
Til
inglês Norman Myers para resolver um dos maiores di-
lemas dos conservacionistas: quais eram as áreas mais
Considere o texto e seus conhecimentos para
importantes para preservar a biodiversidade na Terra?
responder às questões.
Ao observar que a biodiversidade não está igualmen-
a) O texto anterior faz referência ao bioma original-
te distribuída no planeta, Myers procurou identificar
mente dominante no estado de São Paulo. De que
bioma se trata e qual é sua situação atual na região as regiões que concentravam os mais altos níveis de
do estado de São Paulo citada no texto? biodiversidade e onde as ações de conservação seriam
b) Depois de ter-se implantado na região mencionada no mais urgentes. Ele chamou essas regiões de hotspots.
texto, para que outras áreas do território do estado Hotspot é, portanto, toda área prioritária para con-
de São Paulo se expandiu a cultura do café? servação, isto é, de alta biodiversidade e ameaçada no
c) Indique o bioma dominante no atual estado de Mato mais alto grau. É considerada hotspot uma área com
Grosso e explique os principais usos da terra nesse pelo menos 1 500 espécies endêmicas de plantas e que
estado, na atualidade. tenha perdido mais de 3/4 de sua vegetação original.
814-2

POLISABER 59
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7

EMBRAPA. Atlas do meio ambiente no Brasil. Brasília,


1988: Myers identificou 10 hotspots mundiais.
DF: Embrapa/SPI/Terra Viva, 1996.
1996-1999: O primatólogo estadunidense Russell
Em 140 páginas ilustradas, a publicação reúne, de
Mittermeier, presidente da CI, ampliou o trabalho de Myers
forma agradável e instrutiva, dados atualizados sobre
com uma pesquisa da qual participaram mais de 100
questões ambientais no Brasil e situa o país em relação
especialistas. Esse trabalho aumentou para 25 as áreas
ao mundo. Entre os temas tratados estão crescimento
no planeta consideradas hotspots. Juntas, elas cobriam
urbano, devastação de florestas, biodiversidade, pobreza
apenas 1,4% da superfície terrestre e abrigavam mais de
e meio ambiente, culturas indígenas, Amazônia, caatinga
60% de toda a diversidade animal e vegetal do planeta.
e pantanal.
fev. 2005: A CI atualiza a análise dos hotspots e iden-
tifica 34 regiões, hábitat de 75% dos mamíferos, aves
DEAN, Warren. A ferro e a fogo: a história e a devastação
e anfíbios mais ameaçados do planeta. Nove regiões
da Mata Atlântica brasileira. Companhia das Letras, 1996.
foram incorporadas à versão de 1999. Mesmo assim,
Um dos primeiros atos dos portugueses que chegaram
somando a área de todos os hotspots, temos apenas
ao Brasil em 1500 foi abater uma árvore para montar a
2,3% da superfície terrestre, onde se encontram 50% das
cruz da primeira missa. Nesse gesto premonitório, fez-se
plantas e 42% dos vertebrados conhecidos.
a primeira vítima da ocupação europeia da Mata Atlântica,
No Brasil, há dois hotspots: a Mata Atlântica e o
que cobria boa parte do território brasileiro. Nos cinco
cerrado. Para estabelecer estratégias de conservação
séculos que se seguiram, cada novo ciclo econômico de
dessas áreas, a CI-Brasil colaborou com o Projeto de
desenvolvimento do país significou mais um passo na
Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade
destruição de uma floresta de um milhão de quilômetros
dos Biomas Brasileiros, do Ministério do Meio Ambiente.
quadrados, hoje reduzida a vestígios.
Centenas de especialistas e representantes de várias
É esse desdobramento trágico de uma lógica sempre
instituições trabalharam juntos para identificar áreas
apresentada como inexorável pelos defensores da “civi-
prioritárias para a conservação do cerrado (em 1998) e
lização” que Warren Dean conta nesse livro pioneiro de
da Mata Atlântica (em 1999).
história ambiental, trazendo uma visão nova e polêmica
Adaptado de: <www.conservation.org.br/ da História do Brasil.
como/index.php?id=8>.
(acesso em: 13 abr. 2014)
VER E OUVIR

PESQUISAR E LER
Amazônia em chamas
(direção: John Frankenheimer. EUA, 1994.)
AB’SABER, Aziz Nacib. Amazônia: proteção ecológica com Baseado em fatos reais, o filme conta a vida e o assas-
o máximo de floresta-em-pé. São Paulo: IEA-USP, 1993. sinato do líder Chico Mendes, seringueiro que organizou
Texto fundamental para compreender as limitações eco- os povos da floresta para lutar contra o desmatamento
lógicas da Amazônia para um desenvolvimento econô- provocado pelos fazendeiros.
mico que só é possível se combinado com preservação.
Reforça a noção de sustentabilidade. Brincando nos campos do Senhor
(direção: Hector Babenco. EUA, 1991.)
AB’SABER, Aziz Nacib. Os domínios da natureza no Bra- Um casal de missionários e seu filho pequeno embre-
sil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê, 2003. nham-se na selva amazônica brasileira para catequizar
Obra de referência para conhecer paisagens naturais do Brasil índios ainda refratários à ideia de Deus. Martin Quarrier
e suas dinâmicas ecológicas diante da intervenção humana. (Aidan Quinn) é sociólogo e termina motivado pelas
experiências de outro casal, os Huben. As intenções
NEIMAN, Zysman. Era verde? Ecossistemas brasileiros religiosas e a harmonia entre brancos e índios no local
ameaçados. São Paulo: Atual, 1989. são desestabilizadas pela presença de Lewis Moon (Tom
Livro paradidático que, em linguagem acessível, dá um Berenger), um mercenário descendente de índios esta-
panorama da destruição dos ecossistemas brasileiros ao dunidenses contratado por fazendeiros para bombardear
814-2

longo da história. tribos indígenas e tomar suas terras.

60 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL

Mataram irmã Dorothy Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa


(direção: Daniel Junge. Brasil, 2007.) www.inpa.gov.br (acesso em: 13 abr. 2014)
O documentário mostra o desafio de se concretizarem Ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o site
projetos de desenvolvimento sustentável na região da oferece conteúdos sobre manejo florestal na Amazônia
Amazônia. Como pano de fundo, mostra-se a morte e biosfera/atmosfera da região, além de pesquisas em
da missionária estadunidense Dorothy Mae Stang, que ciências humanas e sociais.
escolheu viver no Pará para ajudar a implementar o
Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS). Criado Ministério do Meio Ambiente – MMA
em 1999, ele divide terras públicas ou desapropriadas www.mma.gov.br (acesso em: 13 abr. 2014)
em lotes destinados a comunidades e incentiva a pro- Sempre atualizada e confiável, a página oferece conteú-
dução autossustentável. Um dos objetivos do projeto dos diversos sobre Amazônia, desenvolvimento susten-
é dar condições de trabalho e moradia às famílias sem tável e educação ambiental.
o uso inconsequente da terra.

ÁGORA
NAVEGAR
A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, expressa uma
Árvores Brasil visão determinista sobre as relações entre o homem e a
www.arvoresbrasil.com.br (acesso em: 13 abr. 2014) natureza no Nordeste. Leia o trecho.
Página dedicada à informação sobre espécies arbóreas do
Brasil e defesa do reflorestamento, com textos e mapas “Uma categoria geográfica que Hegel não citou.”
sobre os biomas brasileiros. “Hegel delineou três categorias geográficas com
elementos fundamentais colaborando com outros no
Ibama reagir sobre o homem, criando diferenciações étnicas:
www.ibama.gov.br (acesso em: 13 abr. 2014) as estepes de vegetação tolhiça, ou vastas planícies
Por ser oficial, é uma das páginas mais confiáveis e de áridas; os vales férteis, profusamente irrigados; os
melhor qualidade sobre o tema ambiental, com dados litorais e as ilhas.”
e análises completas dos biomas brasileiros e sua “Aos sertões do norte, porém, [...], falta um lugar no
biodiversidade. quadro do pensador germânico.”

CUNHA, Euclides da.


Os sertões

A seca é, de fato, o principal problema do Nordeste?

S E N H A

Qual é o grau de “esperança” que


ainda temos preservado no Brasil?
814-2

POLISABER 61
GABARITO: GEOGRAFIA DO BRASIL – AULAS 4 A 7

4. O corte que identifica o perfil topográfico represen-


Aula 4 tado é o 3-4. (Baia de Todos os Santos – Salvador/BA –
rio São Francisco – Brasília).
Estudo orientado Como características geográficas, podem ser citados
aspectos do relevo, da hidrografia, do clima, da vegetação
1. b e da hidrografia, bem como dos aspectos sociais, econô-
Como mencionado corretamente na alternativa b, o micos ou demográficos.
enunciado descreve a origem da bacia sedimentar, haja Quanto ao relevo, pode-se citar a presença da depres-
vista que os dois escudos – guiano e brasileiro – confi- são sanfranciscana, da planície do pantanal e das serras.
guram as bordas de uma área mais rebaixada, onde se Quanto ao clima, pode-se citar a ocorrência do clima
sedimentam os processos erosivos instalados sobre os tropical úmido no litoral e do tropical típico na região
maciços. Estão incorretas as alternativas: central.
a – porque descreve a formação de macroestruturas Na hidrografia, a presença do divisor de águas que
geológicas, e não formas de relevo como planícies ou separa o rio São Francisco, que forma a bacia do mesmo
tabuleiros. nome, e do rio Paraguai, formador da bacia do Paraná-
c – porque o rearranjo da estrutura geológica alterou -Prata.
a drenagem de oeste para leste. Em termos de vegetação, temos no sentido 3-4 o
d e e – porque remetem aos conceitos de macro- complexo do pantanal, o cerrado na região Centro-Oeste
e a zona da Mata Atlântica no litoral.
estrutura geológica, sem a possibilidade de inferências
sobre o clima ou a vegetação da área mencionada.
5. b
No domínio do cerrado, porção central do Brasil,
2. d
existem vários tipos de solo, e os principais são os la-
Na Amazônia, predominam latossolos e argilossolos,
tossolos e argilossolos. Nos relevos ondulados (colinas),
que se desenvolvem em relevos de baixa e média decli-
recomenda-se o plantio em curvas de nível, para reduzir
vidade e situam-se sobre depressões e baixos planaltos.
a perda de solo pela erosão.
São pobres em nutrientes minerais devido à lixiviação
(lavagem do solo pela água com remoção de nutrien- 6. a
tes), relativa ao alto índice pluviométrico. Muitos deles
apresentam elevada acidez e são repletos de matéria
orgânica superficial.
Aulas 5 e 6

3. F – F – V – V – V Estudo orientado
1a afirmação. Falsa. A imagem exibe um tipo de ero-
1. d
são classificada como ravinamento, que ocorre em razão
Na Amazônia, predominam duas massas de ar, a MEA
da fragilidade do solo, escassa vegetação e concentração
(massa equatorial atlântica) e a MEC (massa equatorial
de chuvas que provocam enxurradas desnudando o solo.
continental). A MEC é quente e muito úmida, uma vez
2a afirmação. Falsa. A área apontada na imagem
que 50% de sua umidade provém da evapotranspiração
está sujeita ao processo de desertificação, resultante do
da Floresta Amazônica. Essa massa de ar influencia a
uso do solo aliado a um ecossistema frágil; não se pode,
Amazônia ocidental e, no verão, atinge o Centro-Oeste,
portanto, relacionar o processo ao aquecimento global.
o Sudeste e o Nordeste. Portanto, os desmatamentos e
3a afirmação. Verdadeira. A erosão constitui um dos as queimadas na Amazônia podem interferir na evapo-
impactos mais imediatos do processo de desertificação, transpiração e causar diminuição do aporte de umidade
expondo o solo a um intenso desgaste e ao transporte que chega a várias porções do território nacional.
de material sedimentar.
4a afirmação. Verdadeira. O processo de ravinamento 2. e
resulta do uso incorreto do solo, da retirada da cobertura A cidade A apresenta clima equatorial, quente, com
vegetal, do pisoteio do gado, de cultivos inadequados ou baixa amplitude térmica, úmido, com altos índices pluvio-
de sistema inadequado de irrigação. métricos anuais (dominância de chuvas de convecção) e
5a afirmação. Verdadeira. O ravinamento mostrado período com menor pluviosidade entre julho e outubro.
na figura é condicionado pelo escoamento da água su- A cidade B apresenta clima subtropical, com invernos
perficial (erosão linear) e pode evoluir para a forma de rigorosos, maior amplitude térmica anual e distribuição
814-2

voçorocas se o lençol freático aflorar no fundo do canal equitativa das chuvas.


erodido.

62 POLISABER
GABARITO: GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 4 a 7

3. d 7.
No Sudeste, predominam climas tropicais (litorâneo, a) A região Norte do Brasil apresenta um importante
típico e de altitude), e as chuvas estão concentradas no crescimento de atividades econômicas como o agrone-
verão; portanto, é o período em que os reservatórios das gócio e a mineração, exigindo maior aporte de energia.
hidrelétricas estão mais abastecidos de água, propiciando O próprio crescimento da economia e do consumo em
maior geração de energia. No Nordeste, o inverno é o outras regiões do país aumenta a demanda por energia
período mais favorável à geração de energia eólica, em elétrica. Assim, o governo federal tomou a decisão de
razão da maior velocidade dos ventos, principalmente no implantar novas hidrelétricas na Amazônia, por exemplo:
litoral e no sertão semiárido. Belo Monte, no rio Xingu (PA), e Santo Antônio e Jirau, no
rio Madeira (RO).
4. b) A energia solar tem um enorme potencial devido
Aquíferos são formações geológicas com depósitos ao elevado índice de insolação durante o ano nas sub-
de água subterrânea, delimitando a zona porosa do -regiões do agreste e do sertão semiárido do Nordeste.
estrato rochoso. O aquífero Guarani caracteriza-se pela A maior regularidade e velocidade dos ventos no litoral
presença de arenitos originários de sedimentação do pe- dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte favorece
ríodo Triássico entremeados por extrusões de basalto de a energia eólica. A energia maremotriz tem potencial
baixa permeabilidade que, embora dificulte a reposição principalmente nas áreas com maior diferença entre a
do reservatório, isola-o e evita sua evaporação. maré alta e a maré baixa.
O aquífero Guarani é o maior reservatório do planeta, c) Eis algumas características ambientais da bacia
estendendo-se por regiões da Argentina, do Uruguai, do hidrográfica do Paraná:
Paraguai e numa grande porção do centro-sul brasileiro, • presença de rios perenes com expressivo volume de
caracterizando o desafio político de sua exploração e água;
manejo, sob a responsabilidade de diversos países. • rios de planalto com importante potencial hidrelétrico;
• rios com regimes vinculados aos climas tropical, tro-
5. b pical de altitude e subtropical;
As planícies fluviais (as populares “várzeas”) são
• drenagem de superfícies planálticas com solos favo-
superfícies planas caracterizadas pelo processo de se-
ráveis à agricultura como os latossolos e os latossolos
dimentação. Ou seja, todos os anos, no período chuvoso,
roxo (terra-roxa);
os rios ficam cheios, transbordam e causam inundações
naturais que permitem a deposição de partículas mine- • presença de importantes aquíferos com água subter-
rais e matéria orgânica. Portanto, o uso indicado para rânea, como o Guarani.
as planícies fluviais é a conservação do ecossistema
natural (matas ciliares) e a implantação de áreas verdes Aula 7
com finalidade ecológica e de lazer. Mas não foi o que
se verificou na Grande São Paulo, onde a urbanização e Estudo orientado
a construção de avenidas avançaram sobre as várzeas.
A impermeabilização do solo na região metropolitana de 1. b
São Paulo é a principal causa das grandes enchentes. A A vegetação descrita corresponde à formação do
água não consegue se infiltrar e escoa superficialmente cerrado e, portanto, como menciona corretamente a
de forma rápida e em grande volume; assim, os rios alternativa b, é encontrada no estado de Goiás.
como o Tietê não conseguem dar vazão e transbordam. a e c – incorretas: o Acre e Roraima correspondem
A retificação dos rios e a construção de avenidas em à Floresta Amazônica;
fundos de vale também concorrem para os episódios d – incorreta: o Rio Grande do Sul corresponde às
mais severos de enchentes. A afirmação III está incorreta, pradarias e à mata de araucárias;
pois a Mata Atlântica na área de nascente do rio Tietê e – incorreta: o Rio Grande do Norte corresponde
está preservada. em parte à caatinga e em parte à vegetação original da
Mata Atlântica.
6. d
No Rio Grande do Norte, a bacia hidrográfica do rio 2. b
Piranhas-Açu abastece o maior número de adutoras. O item I está incorreto, pois na Amazônia Legal – prin-
Obs.: A simples análise do mapa não permite iden- cipal causa de desmatamento –, predomina a expansão
tificar a alternativa correta. É preciso saber onde fica a da pecuária bovina de corte, seguida da agricultura co-
bacia do rio Piranhas-Açu. mercial de soja, por exemplo, e da agricultura de subsis-
814-2

tência. As culturas do café e da cana-de-açúcar não são

POLISABER 63
GEOGRAFIAGEOGRAFIA
GABARITO: DO BRASIL DOaulas 13 e 14 aulas 4 a 7
BRASIL

representativas na região amazônica.

3. a
Como diz corretamente a alternativa a, o texto faz
referência a uma paisagem típica da caatinga, e expres-
sões como “trama espinescente” (espinhosa), “folhas
urticantes”, “gravetos em lança” e “árvores sem folhas”
remetem a uma vegetação adaptada à baixa umidade –
as xerófilas.
b – incorreta: formações florestais latifoliadas são
compostas por porte arbóreo, perene e heterogêneo,
típico dos climas tropicais e equatoriais com elevada
pluviosidade;
c – incorreta: a vegetação de transição para matas
de grande porte é composta por porte arbóreo;
d – incorreta: os elementos do texto indicam adap-
tação à seca e não à salinidade;
e – incorreta: o texto não indica homogeneização da
vegetação – que geralmente ocorre em áreas mais frias –
ou presença de vegetação perenifólia – formações que
não perdem folhas com a mudança da estação do ano.

4.
a) O bioma referenciado no texto é a Mata Atlântica,
hoje já muito devastada, restando apenas refúgios em
áreas e unidades de conservação.
b) A cultura cafeeira se expande para o oeste paulista,
ocupando as áreas do Planalto Ocidental.
c) O bioma do atual estado do Mato Grosso é o
cerrado, cuja ocupação está associada aos cultivos
agropecuários.

5. a
As áreas de preservação permanente (APP), como as
matas ciliares (de galeria), em planícies fluviais ao longo
dos rios, que protegem as margens contra a erosão e
diminuem o assoreamento dos rios.
814-2

64 POLISABER
GABARITO – GEOGRAFIA DO BRASIL – CADERNO 2

Aula 4 2. c
Secas no Sertão nordestino se justificam pela pre-
EXERCÍCIOS sença de massas de ar que perderam umidade e se
tornaram secas até atingirem essa região. A grande
quantidade de chuvas na região amazônica se justi-
fica pela presença da Massa Equatorial Continental,
1. b bastante úmida.
O caminho traçado no mapa atravessa regiões que
envolvem a serra do Espinhaço e o vale do rio São
3. a
Francisco.
Trata-se de massas de ar frias que avançam no
inverno pela porção meridional da América do Sul,
2. a provocando chuvas e quedas de temperaturas.
A bacia hidrográfica do Pantanal apresenta rios per-
manentes, de lento escoamento, bastante navegáveis 4. b
e de reduzido potencial hidrelétrico. a) Clima subtropical.
b) Clima tropical semiárido.
3. b c) Clima equatorial.
O domínio dos Mares de Morros apresenta formas de d) Clima tropical continental.
relevo arredondadas (mamelonares), florestas tropi-
cais, a exemplo da Mata Atlântica, e climas úmidos, 5. O climograma de número 3, cidade de Cuiabá, retra-
tropicais e subtropicais. ta bem o clima tropical continental, e a vegetação
do Cerrado está representada pela foto de letra D.
Na vegetação do Cerrado, há árvores de troncos
4. A erosão hídrica consiste no transporte de mate-
tortuosos e de cascas grossas, sendo as folhas
riais em forma de porções de solo, causada por es-
de tamanho reduzido. O clima tropical continental
coamentos ou precipitações de diversos tipos, com
apresenta estação chuvosa no verão e seca no in-
destaque para as chuvas. Esse processo é provo-
verno, bem definidas.
cado principalmente por fatores como pluviosidade
elevada e intensa declividade dos terrenos.

Aula 7
5. a) As cores escuras resultam de sedimentos da flo-
resta amazônica.
EXERCÍCIOS
b) As ilhas são resultantes de sedimentos deposita-
dos e transportados pelos rios da região, ao longo
de milhares de anos. A presença das florestas
1. d
representa uma extensão das formações vege-
1 (Cerrado), 2 (Caatinga), 3 (Mares de Morros).
tais locais. Nas ilhas, as formações vegetais estão
O Cerrado apresenta vegetação de savanas, enquanto a
adaptadas a longos períodos de inundação.
Caatinga apresenta clima tropical semiárido e os Mares
de Morros apresentam vegetação de Mata Atlântica.

Aulas 5 e 6 2. a) Na seção numerada com o número 14, a erosão


pluvial é maior em razão da maior declividade do
EXERCÍCIOS terreno, que intensifica o escoamento superficial
de água, bem como o deslocamento de massa.
b) A vegetação é mais intensa nas partes mais bai-
1. c xas em razão da menor declividade do terreno,
Dois elementos naturais bastante marcantes na re- facilitando a infiltração de água e intensificando
gião Nordeste são os rios temporários (intermitentes) o intemperismo químico, tornando o solo mais
e a vegetação da Caatinga. fértil e a vegetação mais densa e com maior porte.

POLISABER 65
GEOGRAFIA DO BRASIL gabarito

3. a 4. c
A Mata Atlântica, explorada desde o período pré- As formações vegetais são Mata Atlântica (faixa
-colonial brasileiro, foi desmatada para ceder espaço litorânea e parte do interior), Mata de Araucária (sul
às atividades urbanas e à agropecuária, além de ter do Brasil), Cerrado (Brasil central), Caatinga (Sertão
fornecido madeira para diversas atividades. nordestino) e Pantanal (parte do MT e MS).

66 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL 3
814-3
DIVULGAÇÃO
GEOGRAFIA
GEOGRAFIA DO BRASIL
DO BRASIL aula 8 – AULA 8

O meu pai era paulista


Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro
DIVULGAÇÃO

Chico Buarque de Hollanda, Paratodos

A geografia da população uma ocupação rarefeita, refletindo o processo histórico


de colonização e povoamento. Mesmo em estados mais
brasileira povoados, com densidades demográficas mais altas – ou
seja, com um alto número de habitantes vivendo em uma
O conhecimento da geografia da população brasileira determinada área territorial –, existem áreas de menor
tem como uma de suas bases os dados demográficos ob- densidade nesses estados. Já a população de estados como
tidos em pesquisas, principalmente as realizadas pelo IBGE, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná tem uma distribuição
como o censo demográfico ou as pesquisas por amostras mais equilibrada no território. De modo geral, a população
de domicílios. Dados relativos a taxas de natalidade, se distribui irregularmente, mas se concentra ao longo do
mortalidade, crescimento vegetativo, estruturas etárias e traçado das vias de transporte, sejam fluviais, como na
sexuais, população ativa e sua distribuição nos setores da Amazônia, ou ferroviárias e rodoviárias, no resto do país.
economia ou correntes migratórias são importantes para Também é desigual o crescimento natural ou vegeta-
uma primeira abordagem, mas ainda insuficientes. tivo, ou seja, a diferença entre as taxas de natalidade e
Para entender essa geografia da população brasileira, de- mortalidade. Enquanto no Centro-Sul esse crescimento
é menor, em razão das altas taxas de urbanização e da
vemos conhecer as reais condições de vida das pessoas,
estrutura etária mais envelhecida, no Nordeste e na
o que sentem e o que pensam, como são tratadas, em que
Amazônia ele é maior, pois a população é mais jovem e
acreditam. Os números não permitem uma visão crítica
muitos ainda residem na área rural. O crescimento natural
das condições de existência dos brasileiros, cuja compre-
é o fator primordial no crescimento geral da população
ensão é o objeto central de uma verdadeira geografia da
brasileira, pois o saldo migratório, ou a diferença entre
população brasileira.
saída (emigração) e entrada de população (imigração),
tem hoje um peso bem pequeno no crescimento.
Segundo o IBGE, em 2012 a população residente esti-
O crescimento da população mada no Brasil foi de 196,9 milhões de pessoas, repre-
sentando um crescimento de 0,8% em relação ao ano
no território
anterior, ou seja, de 1,6 milhão de pessoas. Nas grandes
regiões, os aumentos percentuais foram maiores no
Segundo o IBGE, a população brasileira em 2013 chegou
Norte (1,4%) e no Centro-Oeste (1,3%), e o menor foi
a cerca de 201 milhões de habitantes, colocando o Brasil
no Sul (0,6%). A região que concentrou maior volume
como a 5a nação mais populosa do mundo, em números populacional foi o Sudeste, com 82,7 milhões de pessoas
absolutos. Em 1872, quando foi realizado o primeiro e, a menor, o Centro-Oeste, com 14,8 milhões.
censo demográfico oficial, éramos apenas 10 milhões de Comparando esse crescimento geral com o de anos
almas, termo da Igreja Católica, que contribuíam para as anteriores, há uma queda acentuada desde a década
estatísticas com o registro de batizados e óbitos. de 1960. Do fim do século XIX até 1960, a natalidade se
Apesar desse crescimento acelerado, que multiplicou a manteve estável em torno de 4,5%, enquanto a morta-
população por quase vinte em pouco mais de 140 anos, lidade declinou de 3,0% em 1890 para 1,3% em 1960. A
sua distribuição pelo território ainda se assemelha àquela partir de então, a natalidade começou a cair, atingindo
do século XIX. Há um contraste entre as áreas litorâneas e 1,9% no censo de 2000 e 1,4% no de 2010. Estávamos
811-5
814-3

0016

suas proximidades, densamente povoadas, e o interior, com diante da transição demográfica no Brasil.

2 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL

Distribuição da população brasileira

Boa Vista

Macapá Belém
Manaus
São Luís
Fortaleza

Teresina Natal
João Pessoa
Recife
Porto Velho Palmas
Rio Branco
Maceió
Aracaju

Salvador
Brasília
Itabuna
Cuiabá
Goiânia
Belo
Horizonte
Vitória
Campo Grande
Campinas Rio de Janeiro
São Paulo
DENSIDADE Curitiba
POPULACIONAL
Joinville
Por km2 Por m2
Florianópolis
2 5,2
5 13 Caxias do Sul
25 65 Porto Alegre
100 259
AVITS

268 km

Observe que estados como do Amazonas, Mato Grosso e Minas Gerais têm áreas com altas densidades demográficas e, ao
mesmo tempo, áreas com baixa densidade demográfica.
Fonte: IBGE. Sinopse do Censo Demográfico 2010. IBGE: Rio de Janeiro, 2011.

A transição demográfica brasileira


50 280 A partir de 1960, a taxa de
TBN 260 natalidade da população
45
240 brasileira começa a ter
TBN e TBM (taxas por mil)

40 220 uma grande queda. Com


População (em milhões)

200 essa queda, o país entra


35 180 na fase conhecida como
30 Taxa de crescimento natural 160
transição demográfica.
140
25 120
20 100
80
15 TBM 60
Taxa Bruta de
40
10 Natalidade – TBN (L)
20
Taxa Bruta de
5 0
Mortalidade – TBM (L)
1900
1910
1920
1930
1940
1950
1955
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2010
2015
2020
2025
2030
2035
2040
2045
2050
AVITS

População (R)
814-3

Fonte: ALVES, J. E. D.; BRUNO, M. A. P. População e crescimento econômico de longo prazo no Brasil: como aproveitar a janela de oportunidade demográfica?
Associação brasileira de estudos populacionais. Disponível em: www.abep.org.br (acesso em: 12 maio 2014)

POLISABER 3
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8

Nesse processo, o crescimento natural declina após um pouco mais complexo. Com os avanços da ciência
um período de elevação, como se vê no gráfico da pá- bioquímica e da saúde pública, que levaram à desco-
gina anterior, contradizendo as teses que previam uma berta de novos medicamentos e tratamentos, além das
explosão demográfica nas décadas de 1940 e 1950, melhorias no saneamento básico proporcionadas pelo
principalmente em países subdesenvolvidos. Inspiradas poder público a partir do início do século XX, verificou-se
em números que apontavam um crescimento de mais uma queda nos índices de mortalidade em alguns países
de 50% da população mundial entre 1900 e 1950, essas subdesenvolvidos, algo que já ocorrera no século XIX com
teses retomavam uma velha discussão na demografia: o os países desenvolvidos. Colaboraram para essa queda a
acelerado crescimento populacional é um obstáculo ao maior industrialização, a urbanização e o nível educacional.
desenvolvimento econômico e social das nações? Para Como as taxas de natalidade ainda permaneciam altas,
a então chamada teoria neomalthusiana, a resposta era o que se observava inicialmente era, de fato, um grande
sim, e, em consequência, os países subdesenvolvidos crescimento demográfico. Depois, a natalidade declina,
deveriam adotar uma política de controle de natalidade especialmente a partir da década de 1960, com a intro-
para sair da situação de pobreza. Mas a real justificativa dução de métodos contraceptivos mais eficazes como a
dos que defendiam essa teoria era o medo, sobretudo pílula anticoncepcional e o DIU (dispositivo intrauterino) e a
nos países do Primeiro Mundo, do crescimento explosivo prática generalizada da laqueadura (esterilização feminina).
da pobreza nos países subdesenvolvidos e de que ela Assim, também o crescimento vegetativo declina ao longo
comprometesse seu bem-estar. dos anos seguintes e, com ele, as taxas de fecundidade,
Estudos realizados por demógrafos da Universidade ou seja, o número médio de filhos por mulher entre 15 e
de Princeton, nos EUA, revelavam que esse processo era 49 anos, como vemos no gráfico a seguir.

Brasil: taxa de fecundidade por regiões em % (1940-2010)


1940
7,17 7,15 2000
6,36 6,16 2010
5,69 5,65

3,16
2,47 2,69 2,38
2,06 2,1 1,7 2,24 1,78 2,25 1,92 1,9

AVITS
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil

A fecundidade está em queda em todas as regiões do Brasil

Estruturas etária e sexual da população brasileira

O conhecimento das estruturas etária e sexual da população é fundamental para a ação planejadora do Estado bra-
sileiro – nos níveis federal, municipal e estadual –, para que suas medidas alcancem o bem-estar social. É a partir dos
dados obtidos pelo IBGE nos censos demográficos que se podem prever a necessidade de geração de empregos para
absorver o contingente populacional que ingressa no mercado de trabalho, o número de vagas necessárias a criar nos
diversos níveis escolares, o número de leitos hospitalares, a ampliação das infraestruturas de transporte, saneamento
e energia, entre outras demandas que exigem a ação planejadora do Estado no espaço geográfico.

As pirâmides etárias

As pirâmides etárias são gráficos que relacionam habitantes de uma região, país, estado ou município segundo o sexo
814-3

e as diversas faixas de idade. Veja, a seguir, algumas pirâmides etárias do Brasil.

4 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL

Brasil: pirâmide etária (1970)


idade

80 +
Homens
75 a 79
70 a 74 Mulheres
65 a 69
60 a 64
55 a 59
50 a 54
45 a 49
40 a 44
35 a 39
30 a 34
25 a 29
20 a 24
15 a 19 Fonte: IBGE. Projeção da população por sexo e idade:
10 a 14 Brasil 2000-2060.
5a9 Disponível em: www.ibge.gov.br/home/presidencia/
0a4 noticias/imprensa/ppts/000000144256081120135633291
10 8 6 4 2 0 2 4 6 8 10 (em milhões) 37649.pdf (acesso em: 31 maio 2014)

Brasil: pirâmide etária (2000)


idade

100 + 10 423 0,0% 0,0% 14 153 Homens


95 a 99 19 221 0,0% 0,0% 36 977
90 a 94 65 117 0,0% 0,1% 115 309 Mulheres
85 a 89 208 088 0,1% 0,2% 326 783
80 a 84 428 501 0,3% 0,4% 607 533
75 a 79 780 571 0,5% 0,6% 999 016
70 a 74 1 229 329 0,7% 0,9% 1 512 973
65 a 69 1 639 325 1,0% 1,1% 1 941 781
60 a 64 2 153 209 1,3% 1,4% 2 447 720
55 a 59 2 585 244 1,5% 1,7% 2 859 471
50 a 54 3 415 678 2,0% 2,1% 3 646 923
45 a 49 4 216 418 2,5% 2,7% 4 505 123
40 a 44 5 116 439 3,0% 3,2% 5 430 255
35 a 39 5 955 875 3,5% 3,7% 6 305 654
30 a 34 6 363 983 3,7% 3,9% 6 664 961
25 a 29 6 814 328 4,0% 4,1% 7 035 337
20 a 24 8 048 218 4,7% 4,8% 8 093 297
15 a 19 9 019 130 5,3% 5,3% 8 920 685
10 a 14 8 777 639 5,2% 5,0% 8 570 428 Fonte: IBGE. Censo 2010.
5a9 8 402 353 4,9% 4,8% 8 139 974 Disponível em: www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/
0a4 8 326 926 4,9% 4,7% 8 048 802 webservice/default.php?cod1=0&cod2=&cod3=0&frm=
piramide (acesso em: 31 maio 2014)

Brasil: pirâmide etária (2010)


idade

100 + 7 247 0,0% 0,0% 16 989


Homens
95 a 99 31 529 0,0% 0,0% 66 806
90 a 94 114 964 0,1% 0,1% 211 595 Mulheres
85 a 89 310 759 0,2% 0,3% 508 724
80 a 84 668 623 0,4% 0,5% 998 349
75 a 79 1 090 518 0,6% 0,8% 1 472 930
70 a 74 1 667 373 0,9% 1,1% 2 074 264
65 a 69 2 224 065 1,2% 1,4% 2 616 745
60 a 64 3 041 034 1,6% 1,8% 3 468 085
55 a 59 3 902 344 2,0% 2,3% 4 373 875
50 a 54 4 834 995 2,5% 2,8% 5 305 407
45 a 49 5 692 013 3,0% 3,2% 6 141 338
40 a 44 6 320 570 3,3% 3,5% 6 688 797
35 a 39 6 766 665 3,5% 3,7% 7 121 916
30 a 34 7 717 657 4,0% 4,2% 8 026 855
25 a 29 8 460 995 4,4% 4,5% 8 643 418
GRÁFICOS: AVITS

20 a 24 8 630 227 4,5% 4,5% 8 614 963


15 a 19 8 558 868 4,5% 4,4% 8 432 002
Fonte: IBGE. Censo 2010.
10 a 14 8 725 413 4,6% 4,4% 8 441 348
5a9 7 624 144 4,0% 3,9% 7 345 231
Disponível em: www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/
0a4 7 016 987 3,7% 3,6% 6 779 172
webservice/default.php?cod1=0&cod2=&cod3=0&frm=
piramide (acesso em: 31 maio 2014)
814-3

As pirâmides etárias do Brasil em épocas diferentes revelam diferentes padrões demográficos.

POLISABER 5
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8

Pirâmides etárias do Brasil de momentos diferentes revelam as mudanças demográficas da redução das taxas de
natalidade e fecundidade e do aumento da expectativa de vida, evidentes na diminuição da base do gráfico (devido à
diminuição do número de jovens) e no aumento do topo (com o maior número de idosos). Essas mudanças confirmam a
ideia de transição demográfica apresentada antes, pela qual o Brasil e outros países em desenvolvimento se aproximam
de padrões de crescimento demográfico e de estrutura etária de países desenvolvidos.

Brasil: população segundo grupos de idade (1940-2010) – Distribuição relativa

100%
65 ou +
15 – 64
0 – 14

80%

60%

40%

20%

AVITS
0% Ano
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

O aumento do número de idosos nas últimas décadas no Brasil é evidente.


Disponível em: http://dc407.4shared.com/doc/-fDnF97m/preview.html (acesso em: 12 maio 2014)

As recentes mudanças demográficas no Brasil quanto às faixas etárias permitem algumas reflexões para além dos
dados. O acelerado aumento do número de idosos e a redução do número de jovens têm consequências diretas na
economia, como a futura redução da oferta de mão de obra disponível. Por enquanto, vivemos uma oportunidade única
de oferta de mão de obra – a chamada “janela demográfica”, quando o número de adultos em idade ativa para o traba-
lho supera a soma do número de jovens e de idosos. No entanto, apesar de numericamente abundante, nossa massa
trabalhadora carece de maior qualificação, o que exige investimento em melhorias na educação em todos os níveis,
ainda um grande desafio para o poder público.
Outro aspecto a destacar é o aumento dos gastos com a previdência social, devido ao maior número de aposentados.
Em alguns países desenvolvidos e também no Brasil, o Estado fez reformas no sistema previdenciário para tentar se
adequar a essa nova realidade, por exemplo, aumentando a idade para se obter aposentadoria.
Apesar das mudanças em curso, ainda temos uma grande proporção de jovens na população total, o que reforça a
necessidade de investimentos em educação básica e superior.
Vale ressaltar que a distribuição das faixas etárias se distingue por regiões, tendo a Amazônia e o Nordeste menos
814-3

idosos e mais jovens que o Centro-Sul do país.

6 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL

Brasil: população com menos de 14 anos em %

População com
menos de 14 anos (%)
20,8 a 22,4
22,9 a 24,8
25 a 25,9
26,6 a 29,2
30,9 a 33,7

396 km

Fonte: IBGE. Censo 2010. Disponível em: www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/


default.php?cod1=0&cod2=&cod3=0&frm=cartogramas (acesso em: 31 maio 2014)

Brasil: população com mais de 70 anos em %

População com
mais de 70 anos (%)
2,1 a 2,9
3 a 3,8
3,9 a 4,4
4,7 a 5
5,1 a 6,1
MAPAS: AVITS

396 km

Fonte: IBGE. Censo 2010. Disponível em: www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/


default.php?cod1=0&cod2=&cod3=0&frm=cartogramas (acesso em: 31 maio 2014)
814-3

No Brasil, a distribuição da população segundo idade varia territorialmente.

POLISABER 7
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8

A geografia do gênero no Brasil


No Brasil, a taxa geral de gênero mostra um equilíbrio entre a população masculina (49%) e a feminina (51%). Nas faixas
etárias mais elevadas, a proporção de mulheres é maior, pois sua expectativa de vida é mais alta. Segundo o IBGE, isso
decorre da maior mortalidade por causa violenta entre os homens.
Entretanto, na taxa de gênero por região, notamos que se acentuam as diferenças entre mulheres e homens.

Brasil: Taxa de população masculina (número de homens para 100 mulheres em 2000)

Número de homens
para 100 mulheres
em 2000
117
110
103
100
98
94
89 280 km
AVITS

Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli Aparecida de. Atlas do Brasil: dinâmicas e disparidades do território. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2009.

Notamos que no litoral e nos grandes centros urbanos, há nítida predominância de mulheres, pois o afluxo de jovens
das zonas rurais para os grandes centros para trabalhar como empregada doméstica ainda é grande. Já no interior das
regiões Centro-Sul e Nordeste, a maior proporção de mulheres se deve à partida dos homens que migraram para as
chamadas zonas de ocupação pioneira, como o oeste da Bahia, a região Centro-Oeste e a Amazônia, sobretudo no “arco
do desmatamento”, zonas em que há necessidade de mão de obra pouco qualificada, mas dotada de força muscular
para a derrubada da mata. Nesses lugares, não encontramos qualquer equipamento público de saúde e educação, pois
em geral não são famílias que se estabelecem, mas homens que as deixaram nas suas regiões de origem, onde suas
esposas são chamadas de “viúvas de marido vivo”. Muitos se encontram na situação de escravidão por dívida, uma
814-3

conhecida modalidade de exploração dos trabalhadores que ainda persiste no Brasil.

8 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL

Uma geografia de gênero propõe ir além das constatações demográficas da distribuição territorial de homens e mu-
lheres e levar em conta o papel ativo das mulheres no processo de organização do espaço, porque vivemos em uma
sociedade onde ainda predominam valores derivados de uma herança patriarcal familiar burguesa, na qual se tratam as
mulheres como seres dóceis, emotivos e inferiores aos homens, colocando-as em uma posição subalterna e vitimando-
-as de preconceito, restrições e discriminações, apesar de todas as mudanças sociais, culturais, técnicas, políticas que
vivemos no último século.
Entretanto, já há algum tempo as mulheres se mobilizam em movimentos feministas que questionam sua discriminação
no trabalho, no salário e na violência a que estão sujeitas e reivindicam igualdade de direitos em relação aos homens
na política, nos sindicatos, nas empresas e na família.

Brasil: média salarial entre homens Brasil: média salarial entre profissionais
e mulheres (2010) homens e mulheres de jornalismo
(em reais) Homens
Regiões
9 000 Mulheres
Centro-Oeste

R$ 8 500
8 000
7 000
Sul

R$ 6 507
6 000

R$ 5 640
5 000

R$ 5 281
Sudeste

R$ 4 500
4 000

R$ 1 753

R$ 3 793
Nordeste 3 000
Masculino

R$ 1 191
ILUSTRAÇÕES: AVITS

R$ 2 525
Feminino 2 000

R$ 2 109
Norte
1 000
Salários
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 Mínimos 0
Médio Superior Superior Mestrado Doutorado
completo incompleto completo
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010. Fonte: Estadão. Blog José Roberto de Toledo.
Disponível em: http://censo2010.ibge.gov.br (acesso em: 29 jun. 2014) Disponível em: http://blog.estadao.com.br /vox-publica/tag/emprego
(acesso em: 29 jun. 2014)
Os dados mostram que ainda há discriminação de gênero no Brasil.

A População Economicamente Ativa (PEA)


Considera-se PEA as pessoas que trabalham em atividades remuneradas, tanto as que estão ocupadas como as que
estão procurando emprego (desempregadas), e população não economicamente ativa as que não trabalham nem estão
procurando emprego (estudantes que não trabalham, donas de casa, aposentados, impossibilitados para o trabalho por
doença física ou mental etc.).

Brasil: População Economicamente Ativa (PEA) e não ativa (2011)

No Brasil, há mais pessoas trabalhando e procurando


38%
População não ativa emprego do que desempregadas ou que não procuram
62% PEA emprego.
Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2011. Disponível
em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_
Amostra_de_Domicilios_anual/2011/Sintese_Indicadores/sintese_pnad2011.
pdf (acesso em: 31 maio 2014)
814-3

Entre a PEA, a taxa de desemprego tem evoluído como mostra o gráfico a seguir.

POLISABER 9
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8

Brasil: taxa de desemprego – média setor primário


anual em % (2003-2012)
O setor primário é relativo à produção pela exploração
% de recursos da natureza. São atividades econômicas do
13,0 setor primário: agricultura, mineração, pesca, pecuá-
12,0 ria, extrativismo vegetal e caça. É o setor primário que
fornece matéria-prima para a indústria de transformação.
11,0

10,0
setor secundário
9,0

8,0 É o setor da economia que transforma matéria-prima


(produzida no setor primário) em produtos industrializa-
7,0
dos: roupas, máquinas, automóveis, alimentos industria-
6,0 lizados, eletrônicos, casas etc.

5,0

4,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
setor terciário
No Brasil, a taxa anual de desemprego entre a PEA
É o setor econômico relativo aos serviços, que são
vem declinando.
produtos não materiais que pessoas ou empresas
Fonte: IBGE. Séries históricas e estatísticas. Disponível em: http://
seriesestatisticas.ibge.gov.br/lista_tema.aspx?op=0&de=19&no=7 prestam a terceiros para satisfazer determinadas ne-
(acesso em: 31 maio 2014) cessidades. Como atividades terciárias podemos citar:
comércio, educação, saúde, telecomunicações, serviços
O estudo da PEA é um instrumento importante para de informática, seguros, transporte, serviços de limpeza,
avaliar o desempenho da economia do país e suas serviços de alimentação, turismo, serviços bancários e
transformações ao longo do tempo, subsidiando o pla- administrativos, transporte etc.
nejamento econômico e social, principalmente quando As mudanças econômicas verificadas no Brasil nas
se considera a distribuição dessa população segundo os últimas décadas se refletem na alteração da composição
diversos setores da economia: da PEA em seus três setores, como vemos a seguir.

Brasil: distribuição da PEA por setores de produção em % (1940-2011)


Setor primário
%
Setor secundário
80
Setor terciário
70
70,2

69,0

60
60,7

58,1
56,5
54,4
54,0

50
45,0
44,3

40
38,0

30
33,0

30,0
26,2

25,0

20
22,9
22,8
22,8

21,4
20,6

20,6
19,8

17,8

17,0
14,0

10
13,1

12,7

GRÁFICOS: AVITS
10,0

0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2001 2005 2011
814-3

Fonte: IBGE. Anuário estatístico do Brasil 1978, 1982, 1994, 1995; Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2001, 2005, 2011.
Disponível em: www.ibge.gov.br (acesso em: 31 maio 2014)

10 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL

Distribuição da população empregada no campo, além da estrutura fundiária altamente con-


no Brasil em % (2012) centrada e não democrática. Isso impede o acesso dos
camponeses à terra, aliada aos baixos salários e às
precárias relações de trabalho, que impelem à migração
para as cidades. Assim, cresceu a participação relativa
18,9% dos setores secundário e terciário na PEA, ao contrário
Serviços
40,9% da participação no setor primário, que diminuiu.
Comércio
Indústria Nas últimas décadas, verificamos também um de-
Construção créscimo do setor secundário na PEA, fruto de crise no
16% Outros setor, mas também do aumento da automação, que leva
16,6% à dispensa de trabalhadores.
7,6%
Vale destacar que o rápido crescimento da PEA no setor
terciário não se deve apenas ao processo de industrializa-
Gráfico da população empregada por tipo de atividade.
Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2012.
ção. Como ela não consegue absorver toda a mão de obra
Disponível em: www.ibge.gov.br (acesso em: 31 maio 2014) que migrou para as cidades, na falta de empregos formais,
crescem os informais – vendedores ambulantes, camelôs,
Entre os fatores que explicam a mobilidade da força flanelinhas etc. – e uma infinidade de pequenos negócios
de trabalho observada no primeiro gráfico, podemos que hipertrofiam o setor terciário, reduzindo a parcela
citar a industrialização, a urbanização e a modernização de trabalhadores qualificados ou altamente qualificados.

EXERCÍCIOS

1. (IBMEC-RJ)

Menos crianças

Variação da população
(de 0 a 4 anos)
20
16 423 700 16 521 114 16 375 728
13 811 805
14
11 193 389 13 796 159
8 370 880
8
6 439 650
2
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Taxa de fecundidade, por renda


(número médio de filhos por mulher entre 15 e 49 anos)

2,4 2000
Total da população
1,9 2010

5,1
Mulheres mais pobres*
3,6
GRÁFICOS: AVITS

1,2
Mulheres mais ricas**
1,1

*Renda per capita inferior a R$ 70 **Renda per capita superior a R$1 020
814-3

Fonte: O Globo, 12 ago. 2012 (adaptado)

POLISABER 11
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8

A diferença entre o número médio de filhos das mu- voltadas para a redução dessa diferença, na
lheres mais pobres e mais ricas no Brasil caiu significa- fase adulta, incluem:
tivamente na década passada. Dados do censo do IBGE a) a geração de emprego na construção civil e a vaci-
nação contra a gripe.
tabulados pelo Ministério do Desenvolvimento Social
b) a implementação de programa de saúde direcionado
revelam que a maior redução da fecundidade aconteceu à população feminina e a vacinação contra a hepatite.
entre a população que vive abaixo da linha de miséria, c) o controle da natalidade e o uso de equipamento de
com menos de R$ 70 per capita mensais. proteção individual no trabalho.
d) a geração de emprego direcionada à população mas-
A respeito da queda das taxas de fecundidade culina e a redução da mortalidade infantil.
no Brasil, e considerando os dados acima, todas e) a redução da criminalidade e a implementação de
as afirmativas a seguir estão corretas, EXCETO programa de saúde direcionado à população mas-
UMA. Assinale-a: culina.
a) Um número menor de crianças facilita a tarefa
do poder público de aumentar os investimentos 3. (UERJ)
per capita na infância, e também na sustentabilidade
da Previdência, pois chegou o momento de os idosos A década do emprego formal no Brasil
ocuparem seu espaço numa sociedade cada vez
mais envelhecida. com carteira
b) A queda da fecundidade em todas as faixas de renda
tem impactos significativos em políticas públicas, 54,8%
pois, com os dados, se dependesse só da população
de crianças de até 4 anos, o país já estaria em ritmo 63,9%
acelerado de encolhimento populacional.
c) A taxa de fecundidade caiu mais entre mulheres de
sem carteira
menor renda, enquanto isso, entre a população mais % sobre os
rica, a taxa média de filhos por mulher praticamente 36,8% empregados
se estabilizou próximo ao patamar de apenas um 2000
filho por mulher.

AVITS
28,5% 2010
d) Vendo reduzir rapidamente o número de crian-
ças e simultaneamente crescer o número de Fonte: O Globo, 28 abr. 2012 (adaptado)
pessoas mais velhas, no Brasil, surgem novas exi-
gências de políticas públicas, além de inserção dos De acordo com o gráfico, o mercado de trabalho
idosos na vida social, que têm estrutura para atendê- formal no Brasil se ampliou na última década.
-los considerada precária. Cite duas vantagens para os trabalhadores
e) Com a maior queda da taxa de fecundidade ocorrendo nacionais propiciadas pela carteira assinada e
no grupo mais pobre, as famílias numerosas passaram duas vantagens para o governo brasileiro decor-
a ser exceção, e não mais a regra, pois do total de rentes da ampliação desse benefício.
mulheres abaixo da linha da miséria, 57% têm dois
filhos ou menos, e somente 18%, cinco filhos ou mais.
4. (UECE) O censo demográfico de 2010 do IBGE
informa que o Brasil ultrapassou 190 milhões
2. (UFG) Leia as informações a seguir.
de habitantes. Analise as seguintes afirmações
sobre as características da população brasileira:
De acordo com dados do IBGE, a distribuição da po-
pulação brasileira por gênero se enquadra nos padrões I. A população brasileira está irregularmente distri-
mundiais; nascem mais homens que mulheres. Entre- buída em seu território.
tanto, as pirâmides etárias, na fase adulta, mostram II. A região Nordeste é a segunda mais populosa do
país, no entanto, a sua densidade demográfica é
uma parcela ligeiramente maior de população feminina.
baixa.
Segundo esse órgão, em 2010, a população brasileira III. O processo de industrialização da região Sudeste
compreendia 49,2% de homens e 50,8% de mulheres. não contribui para que esta seja a mais populosa
do país.
Disponível em: www.ibge.gov.br
(acesso em: 26 nov. 2012) Está correto o que se afirma em:
a) I e III apenas.
O texto menciona a existência de uma diferença b) II e III apenas.
entre o número de homens e mulheres na popu- c) I, II e III.
lação brasileira. Algumas medidas diretamente d) I e II apenas.
814-3

12 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL

5. (Fuvest) Os gráficos a seguir representam a composição da população brasileira, por sexo e idade, nos
anos de 1990 e 2013, bem como sua projeção para 2050. Observe que, para cada ano, está destacado o
percentual da população economicamente ativa (PEA).

1990 – População total: 146 592 579


H M
80
60% da
população
60 total
idade

40

20

0 (em milhões)
1,2 0 1,2

2013 – População total: 198 043 320


H M
80
68% da
população
60 total
idade

40

20

0 (em milhões)
1,2 0 1,2

2050 – População total: 215 287463*


H M
80
PEA

60
idade

40

64% da
20 população
total
GRÁFICOS: AVITS

0 (em milhões)
1,2 0 1,2 *projeção

Adaptado de: www.ibge.gov.br (acesso em: 20 ago. 2013)

Com base nas informações anteriores e em seus conhecimentos, atenda ao que se pede.
a) Na atualidade, o Brasil encontra-se no período denominado “janela demográfica”. Caracterize esse período.
b) Analise a pirâmide etária de 2050 e cite duas medidas que poderão ser tomadas pelo governo brasileiro para garantir
o bem-estar da população nesse contexto demográfico. Explique.
814-3

POLISABER 13
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8

ESTUDO ORIENTADO

Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os ves-
tibulares abordam o assunto das aulas. Na roda de leitura, um texto de Dráuzio Varela sobre planejamento familiar,
e veja também as sugestões nas seções pesquisar e ler, ver e ouvir, navegar e ágora, para ampliar seu repertório
sobre os temas estudados.

EXERCÍCIOS

1. (Fuvest) Durante muito tempo, a população da 2. (PUC-RJ)


então Vila de São Paulo foi pouco expressiva.
Seu crescimento foi, contudo, extremamente
rápido durante o século XX. Esse processo pode
ser verificado na tabela a seguir.

Município de São Paulo – evolução da


população (1872-2000)

ano população crescimento (%)

1872 31 385 -

1900 239 820 664,12

1920 579 033 141,44

1940 1 326 261 129,04 Há diversas interpretações sobre as melhorias


das condições de vida frente a alguns dados
populacionais. Todavia, a conclusão adequada
1960 3 781 446 185,12 para o indicador demográfico apresentado na
charge é a de que ele:
1970 5 924 615 56,67 a) atrapalha as políticas sociais de Estado por ser um
dado estatístico.
1980 8 493 226 43,35 b) desconsidera as condições ambientais em que as
pessoas vivem.
c) sugere, apenas, melhorias nas condições de vida
1991 9 646 185 13,57 devido à imprecisão dos dados.
d) oculta os interesses particulares de agentes econô-
2000 10 405 867 7,87 micos internacionais.
e) reduz a mobilização social contra os problemas de
Fonte: Atlas SEADE da Economia Paulista, 2007 (adaptado) saúde dos mais pobres.

Considerando os dados apresentados e seus co- 3. (UFU) O crescimento demográfico está ligado a
nhecimentos: dois fatores: crescimento natural ou vegetativo,
a) Cite e analise duas causas que contribuíram para que corresponde à diferença entre nascimentos
o crescimento da população, no município de São e óbitos verificada numa população, e a taxa de
Paulo, no período de 1940 a 1970. migração, que é a diferença entre a entrada e a
b) Cite e explique uma das causas responsáveis pela saída de pessoas de um território.
desaceleração do crescimento populacional, no Em relação ao crescimento demográfico, anali-
814-3

município de São Paulo, a partir de 1980. se as afirmativas a seguir.

14 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL

I. Pelo princípio malthusiano, a população tenderia a) Indique a(s) região(ões) do globo com taxa de espe-
sempre a crescer mais do que os meios de subsis- rança de vida ao nascer inferior à média mundial, nos
tência, tornando a fome e a miséria uma realidade intervalos 1965-1970 e 1995-2000. Indique a região
inexorável (PG x PA). Uma alternativa lógica para se representada no gráfico com o melhor desempenho
evitar o desastre populacional seria o controle da na- no aumento de expectativa de vida ao nascer entre
talidade por meio do uso de métodos contraceptivos, os períodos de 1965-1970 e 1995-2000.
aborto, abstinência sexual no casamento etc. b) Por que, entre os períodos de 1965-1970 e 1995-2000,
II. Os avanços da medicina, as medidas de avanço houve aumento da esperança de vida ao nascer em
da higiene pública e a melhoria do padrão de vida todas as regiões indicadas no gráfico?
da população possibilitaram uma forte redução da
taxa bruta de mortalidade em todo o mundo. Para
os neomalthusianos, a queda da mortalidade não
tem efeito se não for seguida da redução da taxa de
fecundidade, pois impediria o crescimento econô- RODA DE LEITURA
mico do país. Por isso, a solução seria o controle da
fecundidade por meio de métodos contraceptivos e
esterilização em massa. Planejamento familiar
III. Uma das consequências da queda da fecundidade
brasileira são as taxas de crescimento diferenciadas No Brasil, planejamento familiar é privilégio exclusivo
dos vários grupos etários, com taxas menores para dos bem-aventurados. Sem mencionar números, vou
os grupos mais jovens. Isso tem resultado numa di-
resumir o atoleiro ideológico em que estamos metidos
minuição do peso da população jovem no país e num
aumento da importância do segmento idoso. Essa nessa área.
tendência é chamada de envelhecimento populacio- Até a metade do século XX, poucas famílias brasileiras
nal, pois se dá em detrimento da diminuição do peso deixavam de ter cinco ou seis filhos. Havia uma lógica
da população jovem no total, o que acarreta também razoável por trás de natalidade tão alta:
um aumento da idade média e mediana da população.
1) A maioria da população vivia no campo, numa época
Assinale a alternativa CORRETA. de agricultura primitiva, em que as crianças pegavam
a) Apenas I é verdadeira. no cabo da enxada já aos sete anos. Quantos mais
b) I e III são verdadeiras. braços disponíveis houvesse na família, maior a pro-
c) I e II são verdadeiras. babilidade de sobrevivência.
d) II e III são verdadeiras. 2) Convivíamos com taxas de mortalidade infantil ina-
ceitáveis para os padrões atuais. Ter perdido dois ou
4. (Unicamp) Observe o gráfico a seguir e respon-
três filhos era rotina na vida das mulheres com mais
da às questões:
de trinta anos.
Expectativa de vida ao nascer – por regiões 3) Além da cirurgia e dos preservativos de barreira, não
existiam recursos médicos para evitar a concepção. Na
(em anos) década de 1960, quando as pílulas anticoncepcionais
75 surgiram no mercado e a migração do campo para
75
71 70 a cidade tomou vulto, uma esdrúxula associação de
66 65 forças se opôs terminante ao planejamento familiar
59
56 no país: os militares, os comunistas e a Igreja Católica.
50 52 53
Os militares no poder eram contrários, por julgar
43
defender a soberania nacional: num país de dimen-
sões continentais, quanto mais crianças nascessem,
25
mais rapidamente seriam ocupados os espaços dis-
poníveis no Centro-Oeste e na Floresta Amazônica.
Os comunistas e a esquerda simpatizante, por de-
0
fenderem que o aumento populacional acelerado
rib a

vid es

di a
ca

ia

Ca tin

un di
Ás

ol ís
ri

os

al
M Mé

aprofundaria as contradições do capitalismo e en-


e La
Áf

nv Pa
ica

curtaria caminho para a instalação da ditadura do


ér
Am

se

1995 –1970 proletariado. A Igreja, por considerar antinatural –


de
AVITS

1995 – 2000 portanto, contra a vontade de Deus – o emprego de


814-3

Adaptado de: http://esa.un.org/unpp (acesso em: 7 jul. 2014) métodos contraceptivos.

POLISABER 15
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8

O resultado dessas ideologias não poderia ter sido os mais necessitados são condenados aos caprichos da
mais desastroso: em 1970, éramos 90 milhões; hoje, te- natureza na hora de planejar o tamanho de sua família?
mos o dobro da população, parte expressiva aglomerada
em favelas e na periferia das cidades. Suécia, Noruega Gravidez indesejada e violência urbana
e Canadá conseguiriam oferecer os mesmos níveis de
atendimento médico, de educação e de salários para os A irresponsabilidade brasileira diante das mulheres
aposentados, caso tivessem duplicado seus habitantes pobres que engravidam por acidente é caso de polícia,
nos últimos trinta anos? literalmente.
O que mais assusta, entretanto, não é havermos che- Insisto em dizer que o planejamento familiar no Brasil
gado à situação dramática em que nos encontramos; é é inacessível aos que mais necessitam dele. Os casais da
não adotarmos medidas para remediá-la. Pior, é ver não classe média e os mais ricos, que podem criar os filhos
apenas os religiosos, mas setores da intelectualidade por conta própria, têm acesso garantido a preservativos
considerarem politicamente incorreta qualquer tentativa de qualidade, pílula, injeções e adesivos anticoncepcio-
de estender às classes mais desfavorecidas o acesso nais, DIU, laqueadura, vasectomia e, em caso de falha,
aos métodos de contracepção fartamente disponíveis ao abortamento; porque, deixando a falsidade de lado,
a quem pode pagar por eles. estamos cansados de saber que aborto no Brasil só é
É preciso dizer que as taxas médias de natalidade bra- proibido para a mulher que não tem dinheiro.
sileiras têm caído gradativamente nos últimos cinquenta Há pouco tempo, afirmei numa entrevista ao jornal O
anos, mas não há necessidade de consultar os números Globo que a falta de planejamento familiar era uma das
do IBGE para constatarmos que a queda foi muito mais causas mais importantes para a explosão de violência
acentuada nas classes média e alta: basta ver a fila de urbana ocorrida nos últimos vinte anos em nosso país.
adolescentes grávidas à espera de atendimento nos A afirmação era baseada em minha experiência na Casa
hospitais públicos ou o número de crianças pequenas de Detenção de São Paulo: é difícil achar na cadeia um
nos bairros mais pobres. preso criado por pai e mãe. A maioria é fruto de lares
Outra justificativa para a falta de políticas públicas desfeitos ou que nunca chegaram a existir. O número da-
destinadas a universalizar o direito ao planejamento queles que têm muitos irmãos, dos que não conheceram
familiar no país é a da má distribuição de renda: o pro- o pai e dos que foram concebidos por mães solteiras,
blema não estaria no número de filhos, mas na falta de ainda adolescentes, é impressionante.
dinheiro para criá-los, argumentam. Procurados pelos jornalistas, um cardeal e uma au-
De fato, se nossa renda per capita fosse a dos cana- toridade do primeiro escalão federal responderam inci-
denses, a situação seria outra; aliás, talvez tivéssemos sivamente que não concordavam com essa afirmação.
que organizar campanhas para estimular a natalidade. O religioso, porque considerava “muito triste ser filho
O problema é justamente porque somos um país cheio único”, e que “o ideal seria cada família brasileira ter
de gente pobre, e educar filhos custa caro. Como dar cinco filhos”. O outro discordava baseado nos dados que
escola, merenda, postos de saúde, remédios, cesta mostravam queda progressiva dos índices de natalidade
básica, habitação, para esse exército de crianças de- nos últimos vinte anos, enquanto a violência em nossas
samparadas que nasce todos os dias? Quantas cadeias cidades explodia.
serão necessárias para enjaular os malcomportados? Cito essa discussão porque encerra o nó de nossa
A verdade é que, embora a sociedade possa ajudar, paralisia diante do crescimento populacional insensato
nessa área dependemos de políticas públicas, portanto, que fez o número de brasileiros saltar dos célebres 90
dos políticos, e estes morrem de medo de contrariar a milhões em ação do ano de 1970 para os 180 milhões
Igreja. Agem como se o planejamento familiar fosse uma atuais: de um lado, a cúpula da Igreja Católica, que não
forma de eugenia para nos livrarmos dos indesejáveis, aceita sequer o uso da camisinha em plena epidemia
quando se trata de uma aspiração legítima de todo cida- de uma doença sexualmente transmissível como a Aids.
dão. As meninas mais pobres, iletradas, não engravidam De outro, os responsáveis pelas políticas públicas, que,
aos 14 anos para viver os mistérios da maternidade; a para fugir da discussão sobre as taxas inaceitáveis de
mãe de quatro filhos, que mal consegue alimentá-los, natalidade da população mais pobre, usam o velho
não concebe o quinto só para vê-lo sofrer. jargão da queda progressiva dos valores médios dos
É justo oferecer vasectomia, DIU, laqueadura e vários índices ocorrida nas últimas décadas. Dizem: cada
814-3

tipos de pílulas aos que estão bem de vida, enquanto brasileira tinha seis filhos em 1950; hoje, esse número

16 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL

não chega a três. É provável que o argumento ajude a caldo de cultura que contém os três fatores de risco
aplacar-lhes a consciência pública, especialmente quan- indispensáveis à explosão da violência urbana: crian-
do se esquecem de dizer que, enquanto as mulheres ças maltratadas na primeira infância e descuidadas na
de nível universitário hoje têm em média 1,4 filho, as adolescência, que vão conviver com pares violentos
analfabetas têm 4,4. quando crescerem.
Em agosto de 2004, o jornal Folha de S.Paulo pu-
blicou informações contidas no banco de dados do VARELLA, Dráuzio
município, colhidas no período de 2000 a 2004 pela Planejamento familiar
Fundação Seade. A reportagem nos ajuda a avaliar o Disponível em: http://drauziovarella.com.br/mulher-2/
planejamento-familiar
potencial explosivo que a falta de acesso aos métodos
(acesso em: 12 maio 2014)
de contracepção gera na periferia e nas favelas das
cidades brasileiras.
Se tomarmos os cinco bairros mais carentes, situados
nos limites extremos de São Paulo – Parelheiros, Itaim
PESQUISAR E LER
Paulista, Cidade Tiradentes, Guaianazes e Perus –, a pro-
porção de habitantes inferior a 15 anos varia de 30,4% a
33,4% da população. Esses números estão bem acima MORAES, Antonio Carlos Robert. Território e história
da média da cidade: 24,4%. Representam mais do que do Brasil. São Paulo: Hucitec, 2002. (Geografia: Teoria e
o dobro da porcentagem de crianças encontradas nos Realidade, 48/Linha de Frente)
cinco bairros com melhor qualidade de vida. Texto sobre o processo de formação territorial do Brasil
O grande número de jovens, associado à falta de ofer- à luz da ação do Estado e das ideologias geográficas na
ta e trabalho na periferia, fez o nível de desemprego no construção da identidade brasileira.
extremo leste da cidade atingir 23,5% – contra 12,4% no
centro da cidade no ano passado. Ele também explica SCARLATO, Francisco Capuano. População e urba-
por que a probabilidade de um jovem morrer assassina- nização brasileira. In: ROSS, Jurandyr L. Sanches (Org.).
do na área do M’Boi Mirim, na zona sul, é 19 vezes maior Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.
do que em Pinheiros, bairro de classe média. Estudo da população brasileira para além dos dados
Nem haveria necessidade de números tão contun- demográficos, abrangendo uma geografia da população
dentes para tomarmos consciência da associação de pela abordagem socioespacial.
pobreza com falta de planejamento familiar e violência
urbana: o número de crianças pequenas nas ruas dos DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidada-
bairros mais violentos fala por si. O de meninas em idade nia. São Paulo: Moderna, 2004.
de brincar com boneca aguardando atendimento nas Livro com texto didático, explica os conceitos de direitos
filas das maternidades públicas também. humanos e direitos e deveres de cidadania. Em anexo,
Basta passarmos na frente de qualquer cadeia brasi- a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU.
leira em dia de visita para nos darmos conta do número
de adolescentes com bebês de colo na fila de entrada.
Todos nós sabemos quanto custa criar um filho. Cada
criança concebida involuntariamente por casais que não VER E OUVIR
têm condições financeiras para criá-la empobrece ainda
mais a família e o país, obrigado a investir em escolas,
postos de saúde, hospitais, merenda escolar, vacinas, Domésticas – O Filme
medicamentos, habitação, Fome Zero e, mais tarde, na Fernando Meirelles e Nando Olival. Brasil, 2001.
construção de cadeias para trancar os malcomportados. Dentro da nossa sociedade, existe um Brasil notado por
O que o pensamento religioso medieval e as autori- poucos. Um Brasil formado por pessoas que, apesar de
dades públicas que se acovardam diante dele fingem morar dentro de sua casa e fazer parte de seu dia a dia,
não perceber é que, ao negar o acesso dos casais mais vivem como se não estivessem lá. Cinco das integrantes
pobres aos métodos modernos de contracepção, com- desse Brasil são mostradas em Domésticas – O Filme:
prometemos o futuro do país, porque aprofundamos Cida, Roxane, Quitéria, Raimunda e Créo. Uma quer se
814-3

perversamente a desigualdade social e criamos um casar, a outra é casada, mas sonha com um marido

POLISABER 17
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8

melhor. Uma sonha em ser artista de novela e a outra


acredita que tem por missão na Terra servir a Deus e a sua ÁGORA
patroa. Todas têm sonhos distintos, mas vivem a mesma
realidade: trabalham como empregadas domésticas.
Leia esta reportagem sobre a redução da desigualdade
de gêneros no Brasil nos últimos anos e discuta com
A estrela sobe
seus colegas: de fato, as mulheres têm hoje melhores
Bruno Barreto. Brasil, 1974.
condições sociais? E a discriminação, vem diminuindo
A trajetória de Leniza Mayer, a musa do rádio que co-
no Brasil?
meçou sua carreira saída do bairro humilde da Saúde,
no Rio de Janeiro, mostrando a cidade naquela época e
Desigualdade de gênero cai pelo 3o ano seguido
discutindo o papel da mulher nesse contexto.
no Brasil

No olho da rua
A desigualdade de gênero diminuiu discretamente
Rogério Corrêa. Brasil, 2010.
no Brasil pelo terceiro ano seguido, revela o relatório
O filme conta uma história a respeito do desemprego no
anual do Fórum Econômico Mundial sobre o tema [...].
Brasil, a desvalorização do trabalhador e a flexibilização
No estudo referente a 2013, o Brasil se destacou em
das relações de trabalho. Na trama, um metalúrgico do
termos de igualdade de acesso a educação e saúde,
ABC Paulista, Otoniel Badaró, 38 anos, é demitido depois
apresentando notas elevadas e compartilhando o pri-
de 20 anos trabalhando na mesma fábrica. Com um filho
meiro lugar mundial nesses dois quesitos. O país, no
pequeno e a esposa grávida, passa a buscar alternativas
entanto, ainda tem um longo caminho a trilhar no que
de sobrevivência depois do desmoronamento da única
diz respeito ao reconhecimento das mulheres no local
fonte de sustento da família.
de trabalho e na vida pública, temas nos quais ainda
amarga posições ruins no ranking.
A nota média brasileira nos quatro critérios analisados
NAVEGAR pelos autores do estudo (poder político, participação
econômica, acesso a educação e saúde) passou de
0,691 em 2012 para 0,695 este ano [de 2013]. Com isso,
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística o Brasil permaneceu em 2013 no 62o lugar entre 136
www.ibge.gov.br (acesso em: 12 maio 2014) países, mesma posição do ano passado. O país, no en-
Site oficial, onde encontramos dados estatísticos e po- tanto, aparece 20 posições acima do que se encontrava
pulacionais oficiais sobre o Brasil. em 2011, quando a desigualdade de gênero voltou a
diminuir, depois de dois anos em alta. Na avaliação dos
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimen- autores, isso mostra o sucesso brasileiro na consolida-
to – Pnud ção dos avanços rumo à igualdade entre os gêneros
www.pnud.org.br (acesso em: 12 maio 2014) nos últimos anos.
Site oficial da ONU, onde encontramos, em particular, o Re- Ao mesmo tempo em que compartilha a liderança em
latório de Desenvolvimento Humano do mundo e do Brasil. acesso a educação e saúde, o Brasil figura na 117a colo-
cação em igualdade salarial entre homens e mulheres, o
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e que o coloca entre os países mais desiguais do mundo
Tecnologia – Ibict. Biblioteca Virtual da Mulher em termos salariais. A situação não melhora muito no
http://mulher.ibict.br (acesso em: 12 maio 2014) que diz respeito ao poder político das mulheres. A baixa
O site especializado no tema mulher e em relações de proporção de mulheres no Congresso Nacional deixa o
gênero, com informações sobre saúde, violência, traba- País na 116a posição nesse tema.
lho, cultura, direitos e participação política, entre outras. Em sua oitava edição, o Relatório Global sobre Desi-
gualdade de Gêneros, do Fórum Econômico Mundial,
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos é considerado um dos principais indicadores sobre o
Socioeconômicos – Dieese progresso dos países rumo à igualdade entre homens
www.dieese.org.br (acesso em: 12 maio 2014) e mulheres. Pelo quinto ano seguido, a Islândia é o país
O site oferece dados sobre população economicamente onde a desigualdade entre homens e mulheres mostrou-
814-3

ativa: sexo e mercado de trabalho, taxas de desemprego etc. -se menor, seguida por Finlândia, Noruega e Suécia.

18 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL

Ao passo que a desigualdade vem diminuindo paula- emergentes do mundo), aparecendo na 14a posição.
tinamente no Brasil, a porcentagem de redução atingiu Entre os países do Brics, a África do Sul é a mais bem
70% no conjunto dos países da América Latina e do posicionada, na 17a colocação.
Caribe, o que fez dela a região do mundo que registrou
a maior melhoria global no ano. O país latino-americano GOZZI, Ricardo
mais bem posicionado no ranking é a Nicarágua (10o Desigualdade de gênero cai pelo 3o ano seguido no Brasil
lugar), seguida por Cuba (15o), Equador (25o) e Bolívia Agência Estado, 24 out. 2013
(27o). A Argentina figura no 34o lugar, a Colômbia no 35o Adaptado de: www.estadao.com.br/noticias/
e o México no 68o. A Alemanha, por sua vez, lidera en- geral,desigualdade-de-genero-cai-pelo-3-ano-seguido-no-
tre as economias do Grupo dos 20 (G-20, que reúne as brasil,1089298,0.htm
nações mais industrializadas e as principais potências (acesso em: 12 maio 2014)

S E N H A
“Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”
é o título de uma música do grupo O Rappa.
814-3

POLISABER 19
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 9

[...] o fato é que ainda hoje a miscigenação não faz


parte de um processo de integração das “raças” em
RADIUS IMAGES/LATINSTOCK

condições de igualdade social. O resultado foi que


[...] ainda são pouco numerosos os segmentos da
“população da cor” que conseguiram se integrar,
efetivamente, na sociedade competitiva.
Florestan Fernandes. O negro no mundo dos brancos, 1972

A composição étnica e os linguística e no sentimento de pertença e que pode ou


não apresentar características físicas comuns.
movimentos da população Porém, ressaltamos que essa miscigenação e esse sin-
no território cretismo não significam que exista democracia étnica no
Brasil, pois o acesso a direitos básicos de cidadania está
distribuído desigualmente. Esse mito foi historicamente
construído pelas classes dominantes, para obscurecer e
A diversidade étnica no Brasil disfarçar uma realidade: o preconceito e a opressão contra
o indígena, os afrodescendentes e também o preconceito
A atual composição étnico-cultural da população brasi- determinado pela renda e pelo status social. Lembramos
leira resulta do processo histórico de construção da nacio- que, no fim do século XIX e até meados do século XX,
nalidade ou da identidade étnica nacional a partir de três produziam-se, nas ciências humanas, ideologias racistas
matrizes: a dos conjuntos de povos indígenas, cujo grupo frutos do imperialismo europeu na Ásia e na África que
predominante era o Tupi, a dos portugueses, herdeiros da procuravam explicar a diferença de desenvolvimento
tradição colonial europeia e dos agrupamentos africanos. entre os povos a partir de determinantes raciais: tendo
os “civilizados” (europeus) uma superioridade congênita e
Brasil: população por cor/raça* (2010) inquestionável, deveriam “civilizar” os “selvagens” africa-
nos ou de outras terras. Assim se justificava a dominação
1,09% 0,43% espacial, social e econômica dos europeus, explorando
os recursos naturais e escravizando outros povos e assim
43,13%
Amarela acumulando riquezas na lógica capitalista. Alguns teóricos
Indígena que faziam estudos supostamente antropológicos, como o
Branca Conde de Gobineau, em 1869, chegavam a afirmar que no
Preta Brasil, em 200 anos, a miscigenação levaria a degeneração
AVITS

Parda genética, pois a raça branca, ariana, era superior. O médico


e antropólogo baiano Nina Rodrigues chegou a estudar o
* O IBGE utiliza as crânio de Antônio Conselheiro após o massacre de Canu-
47,73% denominações cor/raça
para realizar suas dos e “deduziu” que a “indolência” dos mestiços se devia
classificações e pesquisas. ao menor desenvolvimento de seu cérebro. Dessa forma,
7,61%
No Brasil, muitas pessoas ainda não se reconhecem consolidaram-se no Brasil explicações pseudocientíficas
como negras, devido ao preconceito existente no país. para justificar o racismo, e isso persiste até os nossos dias.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. No entanto, hoje, as ciências sociais não admitem mais
essas concepções conservadoras de superioridade étnica
Dizemos etnia, e não raça, termo amplamente difundido a serviço das elites dominantes, que as aproveitaram
no passado mas que se tornou impróprio na medida em para aprofundar sua dominação sobre classes e grupos.
que a ciência constatou que, biologicamente, não existem Obras como a do sociólogo Florestan Fernandes, nos anos
raças entre os seres humanos. Etnia designa um grupo de 1950-1960, ou de Octávio Ianni, concorreram para
814-3

humano cuja unidade repousa em identidade cultural e desmistificar a ideia de uma democracia étnica no Brasil.

20 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

Para tentar distinguir a origem étnica dos diversos gru- forçou a migração de aproximadamente 3,5 milhões de
pos que compõem a população brasileira, o IBGE adota africanos para algumas áreas no Brasil, dentre as quais
em suas pesquisas a declaração do recenseado quanto à podemos destacar: o litoral do Nordeste no século XVI,
cor de sua pele, oferecendo as seguintes possibilidades: durante a economia canavieira; o Maranhão e a lavoura
branca, parda, preta, outras (indígena e amarela). Sabe- de algodão nos séculos XVII e XVIII; Minas Gerais e parte
mos que, no caso do Brasil, o critério da cor da pele não é do Planalto Central, com a mineração, nos séculos XVII
o mais adequado, pois aqui houve intensa miscigenação. e XVIII; e na região Sudeste, com a cultura cafeeira, no
Além disso, nosso preconceito étnico é camuflado e per- século XIX. Esses números não são seguros, pois, logo
meia as relações sociais, e isso explica o baixo número de após a abolição, a figura republicana do ministro da Fa-
declarantes dos grupos de cor preta ou indígena.
zenda Rui Barbosa mandou recolher e queimar todos os
Em 2012, segundo dados do PNAD (Pesquisa Nacional
documentos relativos à escravidão, para tentar “apagar”
por Amostra de Domicílios), pesquisa realizada pelo IBGE,
da história tão aviltante instituição e impedir que os
com relação à declaração de cor ou raça, 46,2% da popu-
donos de escravos pedissem indenização ao governo.
lação residente era branca (91 milhões); 45,0% parda (88,6
O drama do cativo começava já na partida da África,
milhões); e 7,9% preta (15,6 milhões). O grupo formado
em navios negreiros onde, durante a viagem para o
pelas outras declarações (indígena e amarela) representou
Brasil, doenças, fome e maus-tratos vitimavam de 10%
0,8% (1,6 milhão). A declaração de cor ou raça indica com-
a 20% dos escravos. Vendidos como mercadorias a
portamentos regionais diferentes. Por exemplo, a região
Sul era predominantemente branca (76,8%), enquanto a fazendeiros e senhores em terras brasileiras, sua vida
Norte (70,2%) e a Nordeste (62,5%) tinham maioria parda. se resumia ao trabalho. Vítimas de má alimentação,
Em relação a 2011, reduziu-se no Brasil a participação da trabalho extenuante, epidemias, insalubridade, castigos
população branca em 1,5%. Por outro lado, aumentou 2,0% e tortura aos que tentavam fugir, eles raramente viviam
a participação da população parda. mais do que 15 anos.
Observe o gráfico: O sofrimento da escravidão era legitimado social-
mente por mitos e preconceitos. No universo cultural
Brasil: composição da população difundido pela elite branca, os negros eram tidos como
inferiores, dotados de baixa capacidade intelectual e
60,0% 1991 capazes apenas de fazer serviço pesado. No entanto, as
2000
53,8%

50,0% inúmeras fugas e rebeliões de resistência desmentiam


51,8%

2012
46,2%

essas ideias; entre muitos outros, registramos o exem-


45,0%

40,0%
42,6%
39,1%

plo dos protagonistas da Revolta dos Malês, negros


30,0%
de origem muçulmana que eram mais instruídos que
20,0% seus donos.
7,9%
6,2%
5,0%

10,0%
0,6%

0,8%
0,4%
AVITS

0,0%
branca parda pretos amarelos/
indígenas
A Revolta dos Malês
Comparando os dados de 2012 com 1991 e 2000, houve
um pequeno aumento no número de pessoas que se
declararam pretas. Deflagrada em Salvador, Bahia, em 25 de janeiro de
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991, 2000; Pesquisa Nacional por 1835, esta revolta tem como causa a intolerância religiosa
Amostra de Domicílios (PNAD) 2012. Disponível em: www.ibge.gov.br
(acesso em: 7 jul. 2014) e as péssimas condições sociais que a escravidão dei-
xara numa Bahia da economia canavieira decadente. Os
negros de origem islâmica foram proibidos de professar
As populações negras ou sua fé. Além disso, a mesquita da “Vitória” fora destruída
afro-brasileiras pelo governo e dois importantes líderes religiosos islâ-
micos foram presos. Entre os ideais da revolta estava
O negro foi introduzido na sociedade brasileira como a abolição da escravidão. Tropas imperiais muito mais
mão de obra escrava, no contexto do desenvolvimento armadas controlaram a revolta e puniram seus líderes.
814-3

capitalista de nossa economia. O tráfico de escravos

POLISABER 21
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

Outras inúmeras insurreições e lutas indicam como os povos escravizados resistiam contra essa sociedade escravista.
Um dos pilares dessa luta eram os quilombos, comunidades autossuficientes de escravos foragidos e outros excluídos
que se estabeleceram por todo o território nacional, alguns agregando milhares de pessoas, formando povoados como
o do Ambrósio, em Minas Gerais, e o dos Palmares, em Alagoas. Muitas comunidades de descendentes de quilombos
subsistem ainda hoje; por exemplo, no Vale do Ribeira, em São Paulo, traços culturais africanos e até idiomas próprios
são heranças da luta contra a escravidão.

Brasil: comunidades quilombolas certificadas

Cerca de 1,1 mil quilombos estão certificados pela Fundação Palmares.


Confira a concentração de comunidade por estado.

202 Roraima

Até 202
Comunidades

Acre
Até 100
Comunidades Bahia
DF

Até 40
Comunidades

Até 10
Comunidades
AVITS
Zero

O mapa retrata a quantidade de comunidades quilombolas certificadas pela fundação, ou seja, ainda há muitas outras que
não são reconhecidas pelo governo brasileiro e lutam por esse direito.
Fonte: Palmares Fundação Cultural. Comunidades Quilombolas. Disponível em: http://www.palmares.gov.br/?page_id=88 (acesso em: 7 jul. 2014)

A diversidade dos grupos negros no Brasil

Podemos distinguir dois grandes agrupamentos culturais dos quais descende o negro brasileiro: os sudaneses e os
bantos. Os primeiros são originários da costa ocidental africana, nas proximidades do Golfo da Guiné, e foram introduzi-
dos principalmente na Bahia. Os bantos vieram em maior número das proximidades do vale do rio Congo, atual Angola
e Moçambique.
814-3

22 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

Áreas de origem dos negros brasileiros e locais de desembarque

OCEANO
ATLÂNTICO ÁFRICA

Guiné

Lagos
ses
Sudane
es Congo
nes
da
São Luís Su Banto
s
Recife São Paulo
BRASIL
de Luanda
Salvador
Angola

ue
Bantos

biq
Rio de Janeiro

çam
Ban
tos

Mo
734 km
AVITS

Fonte: ALBUQUERQUE, M. M, et. al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1991.

No Brasil, a condição de escravizados impossibilitou a esses grupos a manutenção integral de seus aspectos culturais
e técnicos. Receberam ou perderam certos elementos em virtude dos contatos entre si e com a cultura branca europeia.
A incorporação de elementos da cultura branca deve ser entendida não só como fusão, mas como resistência diante
da opressão do elemento dominante. Devemos a culturas como a dos Haussás, de clara influencia árabe-islâmica, ou
a dos Iourubás vários elementos presentes no Brasil de hoje como vestimentas a instrumentos musicais (tambores,
atabaques, cuícas e afoxés). A contribuição cultural dos povos africanos também se revela na religiosidade (candomblé),
na alimentação (vatapá, acarajé, pé de moleque), na agricultura (cultivo da erva-doce, pimenta) e na mineração (uso da
bateia), entre outras.

A situação do negro hoje no Brasil

Embora não sejam mais escravos institucionaliza-dos – um “bem econômico” de propriedade de outra pessoa –, a
situação dos negros ainda não é de igualdade com os brancos. Grande parte da população negra encontra-se excluída
social e economicamente, com baixa renda e baixa alfabetização, sendo poucos os que chegam à universidade ou
alcançam altos postos em empresas públicas ou privadas e mesmo na política.
Desde a Constituição de 1988, o racismo é um crime inafiançável e imprescritível, mas, apesar da legislação, ele ainda
existe de forma explícita ou disfarçada. No mercado de trabalho, 80% das empregadas domésticas ainda são negras ou
pardas e, em passado recente, os anúncios de emprego exigiam “boa aparência” (implicitamente, ser branco). Ainda há
814-3

condomínios que obrigam os não brancos a entrar pelo elevador de serviço.

POLISABER 23
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

Porém, contra a discriminação e o preconceito, os ne- pré-colombianas cultivadas por milênios e a modernidade
gros têm lutado intensamente desde o período colonial. contemporânea. Existem basicamente duas correntes de
Desde os quilombos, passando pelas primeiras organi- opiniões quanto ao que significa ser índio: para a primeira
zações após a abolição e pelo movimento negro, que se só é índio o indivíduo que tem direito à terra e à proteção
estrutura melhor a partir dos anos de 1970, a superação do Estado, pois nessas condições ele pode conservar
de barreiras sociais e culturais e os destaques em várias suas características culturais originais. Numa segunda
atividades mostram que não é a cor que distingue as visão, antropológica, são índios todos os indivíduos que
pessoas. Embora com divergências entre si, as entidades se autoidentifiquem como tais, sendo reconhecidos pelos
de luta e defesa dos direitos dos negros, contra o racismo seus pares como membros de uma comunidade, não
e pela reparação das perdas causadas pela escravidão importando se houve incorporação de traços de outras
conseguiram instituir o dia 20 de novembro, aniversário culturas, maior ou menor integração à sociedade brasi-
da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, como leira. Dessa forma, alguns grupos como os Xavantes e os
o Dia Nacional da Consciência Negra. Também em razão Bororos estão resgatando sua cultura por meio do ensino
dessa luta, algumas universidades públicas adotaram o da língua nativa através de cartilhas para crianças e adul-
sistema de cotas para ingresso em seus vestibulares, tos. Portanto, a condição de índio é autoatribuída e lhe
como uma medida compensatória. permite resgatar suas raízes culturais com ferramentas
Esse aumento se deve às campanhas de valorização, produzidas por outras culturas.
que têm levado as pessoas a se autodesignarem negras As estimativas de quantos indígenas viviam no Brasil
ou pardas. No entanto, segundo o Ipea (Instituto de Pes- antes da colonização são muito conflitantes. De 6 milhões,
quisa Econômica Aplicada) a distância social entre negros em alguns casos, ou um milhão, em outros.
e brancos ainda é enorme: entre os 10% mais pobres do Os dados mais recentes revelam o abismo entre os
país, 65% são negros e, entre os 10% mais ricos, 86% são grupos indígenas e o restante da população atual. Veja
brancos. A renda média de um homem branco chega a ser alguns dos principais dados da população indígena bra-
98% maior que a de um negro. Os negros correspondem sileira de acordo com o censo de 2010 do IBGE:
a 55% dos trabalhadores sem carteira assinada e ainda população indígena: 896 917 (0,47% da população
ocupam postos de trabalho menos valorizados: 60% dos brasileira);
trabalhadores em construção civil são negros. O acesso terras indígenas: 505 terras indígenas, corresponden-
à saúde é outro indicador: enquanto 44% das mulheres do a 12,5% do território brasileiro, onde vivem 517 383
negras nunca fizeram exame de mama, essa taxa é de índios (57,7% de todos os indígenas);
27% para as brancas. Na educação, em 1976, 5% da número de etnias: 305;
população branca tinha diploma de curso superior aos maiores etnias: Tikúna (46 mil), Guarani Kaiowá (43,4
30 anos. Os negros da mesma faixa etária só atingiram mil), Kaingang (37,4 mil), Makuxi (28,9 mil), Terena (28,8
esse percentual em 2006. Se se considerassem apenas mil) e Tenetehara (24,4 mil);
os dados referentes à população negra, o Brasil ocuparia línguas: 274;
a 105ª posição no ranking do IDH. Se fossem apenas os onde vivem: zonas rurais (63,8%); zonas urbanas
dados dos brancos, ocuparia a 44ª posição. Em 2012, o (36,2%);
Brasil estava na 85ª posição no IDH. distribuição por região: Norte (38,2%), Nordeste
Mas, como vimos, a discriminação atinge até mesmo (25,9%), Centro-Oeste (16%), Sudeste (11,1%) e Sul
os negros que tiveram oportunidade de ascender social- (8,8%);
mente e que chegam a integrar camadas da população estados com maior concentração de índios: Ama-
zonas (20,5%), Mato Grosso do Sul (8,6%), Pernambuco
de renda mais elevada: são barrados em lojas, shopping
(6,8%) e Bahia (6,7%);
centers, bancos, condomínios etc.
terras indígenas mais populosas: Yanomami (Amazo-
nas e Roraima): 25 719, Raposa Serra do Sol (Roraima):
17 102 e Évare I (Amazonas) – 16 686;
Os povos indígenas taxa de alfabetização indígena (15 anos de idade
ou mais): 76,7%;
Os indígenas são um segmento da população brasileira principais troncos linguísticos (falantes com mais de
sob o dilema da adaptação e/ou convivência com a socie- 5 anos de idade): Tikuna (34,1 mil), Guarani Kaiowá (25,5
814-3

dade atual, vivendo na fronteira entre as formas sociais mil), Kaingáng (22 mil) e Xavante (12,3 mi).

24 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

Brasil: comparação da mortalidade A luta pela terra tem sido o grande desafio das co-
infantil indígena e o restante da munidades indígenas e um dos fatores da continuidade
da existência desses povos e da manutenção de suas
população
tradições culturais.
Para fazendeiros, mineradores, empresários e parte
Taxa de mortalidade infantil a cada mil
da opinião pública, os povos indígenas são um obs-
nascidos vivos
táculo ao progresso econômico. Para esses grupos,
os indígenas ocupam muitas terras, enquanto há a
Indígena necessidade de terras para a agricultura. No entanto,
41,9‰ uma análise dos dados do Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária) revela que existem no
Brasil 185 milhões de hectares de terras aproveitáveis
Restante da população para a agricultura mas não exploradas – muito mais
que os 100 milhões de hectares de terras indígenas.
19,0‰
AVITS

A alta taxa de mortalidade infantil entre indígenas


indica como esses povos ainda estão à beira da
sociedade brasileira.
Fonte: Unicef Brasil. Disponível em: www.unicef.org/brazil/pt/
media_25245.htm (acesso em: 15 junho 2014)

Os pesquisadores afirmam que o ritmo de crescimento


das populações indígenas tem sido maior que o da popu-
lação total nas últimas décadas no Brasil. Grande parte
desse crescimento se deve às conquistas obtidas pelos
movimentos indígenas como a UNI (União das Nações
Indígenas) e o Cimi (Conselho Indigenista e Missionário),
ligado à Igreja Católica, na Constituição Federal de 1988,
cujo artigo 231 diz:

São reconhecidos aos índios sua organização social,


costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocu-
pam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.

Assim, pela primeira vez, reconhecem-se os direitos


legítimos dos índios sobre as terras como sendo anterior
à presença branca. Também lhes foi garantido o direito
ALEXANDRE TOKITAKA/PULSAR IMAGENS

ao usufruto exclusivo das riquezas, dos solos, dos rios e


lagos das terras que habitam. Para projetos de construção
de hidrelétricas ou mineração, passou a ser necessária
a aprovação prévia das comunidades indígenas e do
Congresso Nacional.
Em 1994, aprovou-se a revisão do Estatuto das Socie-
dades Indígenas, que introduziu inovações importantes,
como a revogação da tutela estatal aos índios, que deixam
814-3

de ser considerados “indivíduos relativamente incapazes”. Indígenas: a luta pela terra e pela sobrevivência

POLISABER 25
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

A regularização das terras indígenas envolve identificação, delimitação, demarcação e homologação. Mesmo assim,
os povos sofrem muitas perdas nesse longo processo, e não se garante seu pleno direito aos territórios, que são
alvos de invasões e projetos de construção de estradas, mineração ou geração de energia, resultando em diversos
conflitos. Às vezes, as terras são estranhas, pois não apresentam as mesmas características ambientais como solos,
rios, relevo, microclima etc, dificultando certos aspectos de sua sobrevivência como a caça, a pesca e a agricultura.
As terras também podem ser insuficientes para a sobrevivência, fato que, aliado ao isolamento, desestabiliza os
grupos. Por exemplo, são comuns os casos de suicídio e alcoolismo em muitos grupos indígenas no Brasil.
Dentre recentes conflitos envolvendo a questão indígena no Brasil podemos destacar a luta pela demarcação da
reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. Área habitada por vários grupos indígenas, principalmente os Ianomami,
oficializada em 2005 após anos de obstrução e pressão por parte de fazendeiros locais, que eram contra. Também
os embates envolvendo a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no Pará, obra de grande porte e impacto
para a região e que afetará comunidades indígenas da região do Xingu.
As culturas indígenas contribuíram muito para a formação do Brasil atual como, por exemplo, na língua com
diversas palavras: pipoca, pereba, canoa, biboca, entre tantas outras; na domesticação de espécies alimentícias
como o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o tomate, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o urucu, as cuias e ca-
baças, o abacaxi, o mamão, a erva-mate e o guaraná, além de árvores como o cajueiro, o pequizeiro e o cacaueiro.
Também desenvolveram a técnica de retirar o veneno (ácido cianídrico) da mandioca-brava e torná-la comestível.
Outra contribuição foi a técnica da coivara (manejo de queimada) na agricultura.

Brasil: terras indígenas (2012)

VENEZUELA GUIANA GUIANA FRANCESA


SURINAME
COLÔMBIA

RR AP

PA
AM
MA
CE
RN
PB
PI
PE
AC RO
TO AL
SE
BA
PERU MT
DF
GO
BOLÍVIA
MG
MS
ES
SP RJ
CHILE PARAGUAI
OCEANO PR
PACÍFICO
OCEANO
SC ATLÂNTICO
ARGENTINA
RS

terra indígenas URUGUAI 308 km


AVITS

A maior parte das terras indígenas no Brasil se encontram na região Norte.


814-3

Fonte: Povos Indígenas do Brasil – Mirim. Disponível em: http://pibmirim.socioambiental.org/terras-indigenas (acesso em: 3. jun. 2014)

26 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

As migrações no território brasileiro

Imigração

A entrada de estrangeiros no território, ou a imigração para o Brasil, começa em 1808, quando dom João decreta a
abertura dos portos às nações amigas e passa a ser permitido a estrangeiros ser proprietários de terras. Desde então,
se projeta uma migração de aproximadamente cinco milhões de pessoas, cujo auge ocorreu entre 1850 e 1930. Dentre
os fatores que concorreram para isso, destacamos:
1. A necessidade de se povoar a região Sul para garantir a posse do território. Nesse contexto, incentivados por
dom João, casais de açorianos fundaram a cidade de Porto Alegre. Mais tarde, alemães, italianos e eslavos foram
incentivados a migrar devido a doação de terras na serra gaúcha, onde desenvolveram agricultura familiar e a
pequena indústria, fundando cidades como São Leopoldo, Caxias do Sul, Blumenau, Joinville, Bento Gonçalves,
entre outras.
2. A necessidade de mão de obra para a cultura cafeeira, principalmente depois que as leis abolicionistas fizeram
diminuir a oferta de trabalho escravo. Assim, italianos, espanhóis e japoneses se estabeleceram no interior pau-
lista. Mais tarde, com a industrialização na capital e nos arredores, constituíram-se na mão de obra operária das
primeiras fábricas no Brasil.
3. As políticas raciais das elites brasileiras no final do século XIX, que visavam promover a imigração de brancos
europeus, considerados uma “raça” superior aos negros e indígenas. O objetivo era “embranquecer” a população
brasileira diminuindo a proporção de negros descendentes de escravos, que, em sua condição de excluídos, pode-
riam se tornar, na visão dessas elites, uma perigosa classe revoltosa.

Depois de 1930, houve uma queda acentuada da imigração para o Brasil, motivada, entre outros fatores, pela Lei de
Cotas de Imigração da Constituição de 1934, do governo Getúlio Vargas, que estabelecia limites para a entrada de es-
trangeiros, pois muitos eram sindicalistas e militantes anarquistas e comunistas, que reforçariam o movimento operário
contra os patrões.
Nas últimas décadas, registrou-se um maior número de imigrantes nos anos 1950, quando muitos europeus pro-
curavam reconstruir sua vida após a Segunda Guerra Mundial; e nos anos 1970, quando a economia brasileira vivia o
chamado “milagre econômico” e chilenos, argentinos e uruguaios fugiam de ditaduras e dificuldades econômicas em
seu país de origem.

Brasil: fluxos migratórios (1808-1975)

milhares

220
Lei de Terras

Lei de Cotas

180

140

100

60

20
AVITS

0
1808 1850 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1975
814-3

Fonte: IBGE. Estatísticas do povoamento.


Disponível em: http://brasil500anos.ibge.gov.br/estatisticas-do-povoamento/imigracao-total-periodos-anuais (acesso em: 7 jul. 2014)

POLISABER 27
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

Brasil: imigração estrangeira (1808-1970) Do Acre buscam chegar à São Paulo, onde o sonho do
“Eldorado” se realizaria. Tal fato, inclusive, tem gerado
4,0% 4,2% polêmica, pois autoridades paulistanas acusam as au-
Alemães toridades do Acre de incentivar a migração para São
Japoneses Paulo, que tem dificuldades para abrigar tal quantidade
31% 13%
Espanhóis de haitianos. Em janeiro de 2012, o Conselho Nacional de
Outros Imigração regulamentou a entrada de haitianos no Brasil,
Italianos permitindo uma cota mensal de 100 vistos obtidos na
Portugueses
embaixada brasileira na capital do Haiti.
17,8% Tanto haitianos como bolivianos acabam sendo trazi-
30% dos ilegalmente por “Coyotes” (traficantes de pessoas)
e caem na rede de trabalho escravo (a escravidão por
Os gráficos mostram a evolução da imigração para o dívida) que algumas empresas praticam no Brasil.
Brasil ao longo do tempo e os principais grupos que
entraram no país.
Fonte: IBGE. Estatísticas do povoamento. Disponível em: http://brasil500anos.
ibge.gov.br/estatisticas-do-povoamento (acesso em: 7 jul. 2014)
Emigração
Recentemente, registra-se a entrada de bolivianos e
As décadas de 1980 e 1990 foram de intensa saída de
haitianos, que vêm em busca de trabalho e melhores
brasileiros (emigração) para outros países, devido à crise
condições de vida, estabelecendo-se em São Paulo e
econômica e ao desemprego crescente. Os principais
trabalhando em pequenas fábricas de roupas, na cons- destinos foram EUA, Japão (com a volta dos descendentes
trução civil e em outras atividades urbanas. dos imigrantes), e Europa ocidental, onde os brasileiros
Desde 2011 um grande número de haitianos tem en- desempenhavam funções que não exigem qualificação
trado no Brasil através do Acre, no município de Basileia. (jardineiros, babás, garçonetes, faxineiras etc.). Também
Estes imigrantes vêm à procura de emprego e melhores se registra a emigração de 500 mil brasileiros sem-terra e
condições de vida, pois a situação em seu país, ainda pequenos agricultores para o Paraguai, adquirindo terras
destruído pelo terremoto em 2010, não é alentadora. A a preços baixos, próximas à fronteira. São os chamados
maioria é de profissionais qualificados como engenheiros, “brasiguaios”, que hoje vivem em conflito com o governo
professores, advogados, mestres de obra e carpinteiros. e os sem-terra paraguaios.

Brasileiros no Paraguai

Uma amizade em risco BOLÍVIA BRASIL

Área com maior


Vive no Paraguai meio milhão de concentração de brasileiros
brasileiros e descendentes, 60% deles Departamentos onde os
em regiões próximas à fronteira ataques aos brasileiros
são mais intensos

São Pedro
Canindeyu
PARAGUAI
Alto Paraná

ARGENTINA Assunção
Usina de Itaipu
Alto Caaguazú Foz do Iguaçu
ILUSTRAÇÕES: AVITS

Cuidad del Este


Cazzapá
Fonte: TEIXEIRA, Duda. Onde é perigoso
ser brasileiro. Veja.com. Disponível em:
Itapúa
814-3

http://veja.abril.com.br/101208/p_106.
shtml (acesso em: 3 jun. 2014)

28 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

Estimativa do número de brasileiros no mundo (2011)

OCEANO GLACIAL ÁRTICO

Europa
América 911 889
do Norte
1 433 146 Oriente Ásia
Médio 241 608
OCEANO 40 588
ATLÂNTICO
América
central
6 821 África
América 28 824
Oceania
do Sul 53 014
OCEANO
406 923
OCEANO ÍNDICO
PACÍFICO
AVITS

Antártida

Estados que mais exportam Países que mais recebem


brasileiros emigrantes brasileiros
em % do total de emigrantes em % do total de emigrantes

24%
22%
17%
13%
9% 9%
7% 7% 7% 7%

SP MG PR GO RJ Estados Portugal Espanha Japão Itália


Unidos
A maioria dos brasileiros que vão viver em outro país saem de São Paulo. Já o país que mais recebe brasileiros é o Estados
Unidos.

As migrações internas

Podemos distinguir dois grandes tipos de migração dentro do território brasileiro:


1. migração temporária, ou transumância, em que o migrante volta periodicamente ao lugar de origem. São exem-
plos os trabalhadores boias-frias, que migram do Nordeste para o interior de São Paulo para trabalhar durante
alguns meses no corte da cana-de-açúcar e depois voltam a seu estado. Também se enquadram nesse tipo de
migração os movimentos pendulares diários, entre a periferia e o centro das grandes metrópoles, de trabalhado-
res que vão de casa para o trabalho pela manhã e o inverso no fim do dia.
2. migração interna de tempos recentes (século XX e início do XXI), de que destacamos as mais significativas:
a) a migração de populações do Nordeste e do Sudeste para o Centro-Oeste, na década de 1940, em busca de
terras para a agricultura. Ficou conhecida como a “marcha para o oeste” brasileira, em alusão ao movimento
de ocupação do território dos EUA por colonos brancos no século XVIII. Data dessa época a fundação pelo
814-3

governo federal das colônias agrícolas de Ceres, em Goiás, e Dourados, no Mato Grosso do Sul.

POLISABER 29
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

b) a migração de populações do Nordeste primeiro para o Sudeste, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro,
devido à industrialização; e depois para o Centro-Oeste, durante a construção de Brasília, no governo de
Juscelino Kubitschek, nos anos de 1950. Os candangos, como foram chamados, integraram a força operária
da construção da nova capital do Brasil.
3. a migração de nordestinos e sulistas para a Amazônia, intensificada a partir da década de 1970. Ela foi incen-
tivada por projetos de colonização e reforma agrária governamental e também por projetos agropecuários e
agrominerais da ditadura militar brasileira, em parceria com grandes empresários nacionais e estrangeiros que
expropriavam as riquezas do subsolo e da floresta em nome do progresso. Desse modo também se aliviavam as
tensões sobre a posse das terras no sul e nordeste do país.

População do Brasil e taxa de incremento entre 1960-1970


Censos de 1940, 1950, 1960 e 1970
região
ano
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil
1940 1 462 420 14 434 080 18 354 831 5 735 305 1 258 679 41 236 315
1950 1 844 655 17 973 413 22 548 404 7 840 870 1 736 965 51 944 397
1960 2 601 519 22 428 873 31 062 978 11 892 107 3 006 866 70 992 343
1970 3 650 750 28 675 081 40 331 969 16 683 551 5 167 203 94 508 554
taxa de 
3,45 2,49 2,65 3,44 5,56 2,90
incremento
Fonte: GONÇALVES, Ernesto Lima. Aspectos demográficos da realidade brasileira e problemas de assistência médica no Brasil. Revista de Saúde Pública,
São Paulo, v. 8, n. 3, set. 1974.

Mais recentemente, temos observado a migração de retorno de muitos nordestinos do Sudeste e de outras regiões
para sua terra de origem. As hipóteses desse movimento podem ser a redução e a terceirização do emprego nas indús-
trias no Sudeste; os novos focos de crescimento econômico no Nordeste; e os programas de transferência de renda
do Governo Federal.

Brasil: migrações internas (1950-1980)

Décadas de 50 e de 60 Décadas de 60 e de 70

Décadas de 70 e de 80
MAPAS: AVITS

fluxos migratórios
814-3

Fonte: SANTOS, Regina Bega. Migração no Brasil. São Paulo: Scipione, 1994.

30 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

Brasil: migrações internas (1999-2004)

Quantidade de pessoas
em deslocamento
100 610 - 128 171

177 050 - 186 680

192 690 - 215 530

266 345
Fonte: POLATO, Amanda. Os fluxos migratórios
390 000 - 403 510
no Brasil. Nova Escola. Disponível em: http://
revistaescola.abril.com.br/geografia/pratica-
456 545
pedagogica/gente-chega-gente-sai-488822.
shtml (acesso em: 3 jun. 2014)

Brasil: migrações internas (décadas de 1970 e 1990)

As migrações
Cada vez menos pessoas se mudam para São Paulo
e Rio de Janeiro e muitas saem das capitais para o interior

Anos 70 Anos 90
Quase 50% dos Mais de 5 milhões
10 milhões de de brasileiros
pessoas que se trocaram de
mudaram para cidade, mas
cidades grandes apenas 6% foram
MAPAS: AVITS

foram para para grandes capitais


São Paulo e Rio

Podemos perceber pelos mapas que as direções dos fluxos das migrações internas variam no tempo de acordo com o
desenvolvimento da economia nacional.
Fonte: IBGE. Disponível em: www.ibge.gov.br (acesso em: 7 jul. 2014)

Concluindo, destacamos que a migração não pode ser contabilizada apenas como um dado econômico. Trata-se de um
movimento que envolve conflitos derivados de uma ruptura de quem migra com seu lugar de origem, do distanciamento
familiar, do abandono das imagens de um cotidiano, ou seja, do seu vínculo afetivo com o seu lugar de origem, e da neces-
814-3

sidade de integração ao novo espaço físico e social, que muitas vezes lhe é estranho, hostil, discriminatório e segregador.

POLISABER 31
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

EXERCÍCIOS

1. (UERJ) 2. (Fuvest) Leia o texto sobre os pedidos de explo-


ração de minérios no Vale do Ribeira – SP.

O Departamento Nacional de Produção Mineral


(DNPM) registrou em 2012 um recorde de pedidos de
mineração no Vale do Ribeira, região sul do estado
de São Paulo. Entre os processos que foram abertos,
encontram-se pedidos para pesquisa, licença ou con-
cessão de lavras que vão desde calcário até minérios
nobres como níquel, prata e ouro. O DNPM concedeu
422 autorizações para pesquisas minerais na região,
sendo que 112 já tiveram autorizadas as extrações
de minérios.

O Estado de S.Paulo, 1 jul. 2013


(adaptado)

Essa exploração poderá afetar o meio físico e


a ocupação humana tradicional dessa região,
caso regras de controle não sejam rigorosamen-
te estabelecidas e cumpridas. Assinale a alter-
nativa que indica as áreas onde interferências
negativas poderão ocorrer.

A restituição da passagem significativa


ocupação
As famílias chegadas a Santos com passagens de predomínio da humana
3a classe, tendo pelo menos 3 pessoas de 12 a 45 estrutura geológica tradicional
anos, sendo agricultores e destinando-se à lavoura do a) dobramentos do Cenozoico quilombola
estado de São Paulo, como colonos nas fazendas ou b) escudo do Brasil central indígena
estabelecendo-se por conta própria em terras adquiri-
c) escudo atlântico caiçara
das ou arrendadas de particulares ou do governo, fora
d) escudo do Brasil central caiçara
dos subúrbios da cidade, podem obter a restituição da
quantia que tiverem pago por suas passagens. e) dobramentos do Atlântico quilombola

O Immigrante, n. 1, jan. 1908 3. (Unesp)

A publicação da revista O Immigrante fazia


Nos três primeiros meses de 2013, entraram no terri-
parte das ações do governo de São Paulo que
tinham como objetivo estimular, no final do sé- tório brasileiro cerca de três mil pessoas vindas do Haiti.
culo XIX e início do XX, a ida de imigrantes para O aumento substancial no fluxo de entrada de haitianos
o estado. Para isso, ofereciam-se inclusive sub- no país se deu principalmente pelo pequeno município
sídios, como indica o texto. de Brasileia, no estado do Acre. A cidade, com cerca de
20 mil habitantes, faz fronteira com a Bolívia e o Peru,
Essa diretriz paulista era parte integrante da po-
e, de janeiro ao fim de março, viu chegar um número
lítica nacional da época que visava à garantia da:
a) oferta de mão de obra para a cafeicultura. estimado em 2 mil imigrantes haitianos.
b) ampliação dos núcleos urbanos no interior.
c) continuidade do processo de reforma agrária. Disponível em: http://brazilianpost.co.uk
814-3

d) expansão dos limites territoriais da federação. (adaptado)

32 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

Aponte dois motivos que expliquem o aumento recente da migração de haitianos para o Brasil. Explique a
diferença entre esse fluxo migratório de haitianos para o Brasil e a maioria dos fluxos migratórios instala-
dos no mundo na segunda metade do século XX.

4. (UFPR) Observe a figura abaixo, cujas setas indicam movimentos migratórios ocorridos no Brasil.

A direção das flechas indica um movi-


mento migratório ocorrido por fenôme-
nos específicos de um momento histórico
da ocupação do território brasileiro. A di-
nâmica migratória representada ocorreu:
a) em virtude do ciclo da borracha na Amazônia,
que atraiu grandes contingentes populacio-
nais das outras regiões brasileiras em direção
ao Norte.
b) entre os anos 30 e 50 do século XX, em vir-
tude da integração do mercado interno e do
desenvolvimento regional brasileiro.
c) nos anos 60 do século XX, em virtude da
criação de Brasília e do êxodo rural provo-
cado pela revolução verde no Nordeste e
Sul do Brasil.
d) em função da atração exercida pelos grandes
projetos de mineração e industrialização, a
exemplo de Carajás e da Zona Franca de
Manaus.
e) após a década de 80 do século XX, em função
da incorporação de novas fronteiras agrícolas
AVITS

e pecuárias nas regiões Centro-Oeste e Norte


Fonte: SCARLATO, Francisco Capuano. do Brasil.
População e urbanização brasileira. In: ROSS, Jurandir L. Sanches (Org.). Geografia do
Brasil. São Paulo: Edusp, 2000.

5. (Fuvest) Considere a tabela abaixo.

assassinatos de indígenas no Brasil e no Mato Grosso do Sul


ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012* total

Brasil 42 37 43 58 92 60 60 60 51 51 554

MS 13 16 28 28 53 42 33 34 32 31 310

MS(%) 31% 43% 65% 48% 58% 70% 55% 57% 63% 61% 56%
* de janeiro a novembro de 2012
Fonte: www.cimi.org.br (acesso em: 10 jul. 2013)

Com base na tabela e em seus conhecimentos, está correto o que se afirma em:
a) Mato Grosso do Sul é o estado que concentra o maior número de indígenas no país, segundo o Censo Demográfico
2010, o que explica o percentual elevado de sua participação no número total de indígenas assassinados.
b) O número de indígenas assassinados no país diminuiu, principalmente, no Mato Grosso do Sul, em função do maior
número de homologações de terras indígenas, efetivadas por pressão da bancada ruralista no Congresso Nacional.
c) No Mato Grosso do Sul, a maior parte dos conflitos que envolvem indígenas está relacionada com projetos de
construção de grandes usinas hidrelétricas.
d) O grande número de indígenas assassinados no Mato Grosso do Sul explica-se pelo avanço da atividade de extração
de ouro em terras indígenas.
e) No período abrangido pela tabela, a participação do Mato Grosso do Sul no total de indígenas assassinados é muito
814-3

alta, em consequência, principalmente, de disputas envolvendo a posse da terra.

POLISABER 33
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

6. (UERJ) No I Congresso Mundial das Raças, ocorrido em


Londres em 1911, o médico João Baptista de La-
cerda ilustrou suas reflexões sobre a sociedade
MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES
(RIO DE JANEIRO, RJ)/ITAÚ CULTURAL

brasileira analisando a tela A redenção de Cam,


que retrata três gerações de uma família.

Essa pintura foi utilizada na época para indicar a


seguinte tendência demográfica no Brasil:
a) controle de natalidade
b) branqueamento da população
c) equilíbrio entre faixas etárias
d) segregação dos grupos étnicos

A redenção de Cam, 1895. Modesto Brocos y Gomes.

ESTUDO ORIENTADO

Caro aluno,
Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os vesti-
bulares abordam o assunto das aulas. Na roda de leitura, um texto sobre a luta pela demarcação das terras indígenas
no Brasil lhe permitirá ampliar o conhecimento do tema. Veja também as sugestões nas seções pesquisar e ler, ver e
ouvir, navegar e ágora, para ampliar seu repertório sobre os temas estudados.

EXERCÍCIOS

1. (ESPCEX-AMAN) III. Observa-se que a participação da população mi-


grante na população local tem maior expressão nas
[...] o povoamento do território brasileiro se fez basea- regiões de fronteira agropecuária, onde a expansão
da produção agrícola tem gerado o aumento do em-
do na formação de áreas de atração e áreas de repulsão
prego e da renda.
de população. E, na atualidade, a distribuição espacial da IV. Segundo o IBGE, em São Paulo, o aumento do saldo
população também obedece a essa dinâmica. migratório registrado entre 1991 e 2000 revela au-
ADAS, 2004, p. 300 mento no fluxo de entrada de migrantes e significa-
tiva diminuição das saídas do estado.
Sobre as características do fenômeno migrató- V. Tendências mais recentes da mobilidade da popu-
rio no território brasileiro, podemos afirmar: lação no Brasil apontam o aumento das migrações
intrarregionais e dos fluxos urbano-urbano.
I. Assim como o Nordeste, na década de 1950, o Cen-
tro-Oeste e a Amazônia, a partir da década de 1990, Assinale a alternativa em que todas as afirmati-
também passam a ser consideradas áreas de repul- vas estão corretas.
são populacional. a) I e II
II. Na década de 1990, com a reativação de alguns b) I e III
setores da economia nordestina como o turismo e c) II e IV
a instalação de diversas empresas, estabeleceu-se d) I, IV e V
814-3

um fluxo de retorno de população para o Nordeste. e) II, III e V

34 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

2. (Unesp) Leia a notícia. Faroeste caboclo

Um grupo de indígenas que protestava contra a mudan- − Não tinha medo o tal João de Santo Cristo.
ça no processo de demarcação de terras cercou nesta
Era o que todos diziam quando ele se perdeu.
quinta-feira [18.04.2013] o Palácio do Planalto. De acordo
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
com um dos representantes do movimento, Neguinho Tuká,
a população indígena não foi ouvida durante o processo [...]
de elaboração da PEC 215 e teme perder suas terras com
as mudanças. “Índio sem terra não tem vida”, declarou o Ele queria sair para ver o mar
coordenador das Organizações Indígenas da Amazônia E as coisas que ele via na televisão
Brasileira, Marcos Apurinã. “Não aceitamos e não vamos
Juntou dinheiro para poder viajar
aceitar mais esse genocídio.” O grupo é o mesmo que, na
última terça-feira, 16, invadiu o plenário da Câmara dos De escolha própria, escolheu a solidão
Deputados em protesto contra a PEC 215, que transfere
do Poder Executivo para o Congresso Nacional a decisão [...]
final sobre a demarcação de terras indígenas no Brasil. E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
[...]
Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br
(adaptado)
Dizia ele: − Estou indo pra Brasília
São processos que vêm contribuindo para o Neste país lugar melhor não há
acirramento da tensão social envolvendo a po- [...]
pulação indígena no campo brasileiro:
a) o avanço das atividades agrícolas, mineradoras e
pecuárias de grande porte, a instalação de usinas E João aceitou sua proposta
hidrelétricas em terras indígenas e a permanência E num ônibus entrou no
da concentração de terras no país. Planalto Central
b) a expansão da reforma agrária, o aumento do de-
semprego no campo e a ausência de políticas de Ele ficou bestificado com a cidade
assistência social destinadas à população indígena. [...]
c) o avanço das atividades agrícolas, mineradoras e
pecuárias de grande porte, a expansão da reforma
E João não conseguiu o que queria quando veio pra
agrária e a reivindicação da população indígena de
direitos não previstos na Constituição Federal. Brasília, com o diabo ter
d) a expansão da reforma agrária e da agricultura fa- Ele queria era falar pro presidente
miliar, a instalação de usinas hidrelétricas em terras
Pra ajudar toda essa gente
indígenas e a permanência da concentração de
terras no país. Que só faz sofrer
e) a expansão da agricultura familiar no país, o aumento
do desemprego no campo e a ausência de políticas RUSSO, Renato
de assistência social destinadas à população indígena.
“Faroeste caboclo”. In: Legião Urbana
Que país é este? EMI, 1987
3. (UERJ)
O enredo do filme Faroeste caboclo, inspirado
na letra da canção de Renato Russo, foi contado
muitas vezes na literatura brasileira: o retirante
que abandona o sertão em busca de melhores
condições de vida.

A existência de retirantes está associada funda-


mentalmente à seguinte característica da socie-
dade brasileira:
REPRODUÇÃO: UERJ

a) expansão acelerada da violência urbana


b) retração produtiva dos setores industriais
c) disparidade econômica entre as regiões nacionais
814-3

d) crescimento desordenado das áreas metropolitanas

POLISABER 35
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

4. (IFSP) Analise o mapa. Comer é um ato social, histórico, geográfico, re-


ligioso, econômico e cultural. O preparo dos ali-
Correntes migratórias mentos, a escolha dos ingredientes e a maneira
de servir identificam um grupo social e ajudam
a estabelecer uma identidade cultural. Essa re-
ceita, Tacacá, comida muito apreciada na culi-
nária paraense, demonstra:
a) uma interação cultural, com a incorporação de in-
gredientes advindos de tradições culinárias distintas.
b) um modo de preparo espontâneo, associado aos
padrões culinários da colônia.
c) um modelo ritualista de servir, vinculado ao forma-
lismo religioso africano.
d) um modo de usar ingredientes provenientes do ex-
trativismo associado ao nomadismo dos quilombos.
e) uma imposição de identidade cultural, pelo uso de
Correntes produtos cultivados em áreas sertanejas.
migratórias
Saída
Retorno
AVITS

à origem
RODA DE LEITURA

A interpretação do mapa e os conhecimentos Leia a entrevista que relata o grau de desrespeito aos
sobre a dinâmica socioeconômica brasileira direitos indígenas sobre as terras no Brasil.
permitem afirmar que:
a) O Sudeste, atualmente, atrai somente migrantes do
A exploração econômica e os conflitos em
Nordeste.
b) O saldo entre a chegada e a saída de migrantes nor- terras indígenas
destinos é equivalente para o Centro-Oeste.
c) A migração de retorno tem sido significativa, princi- Um de cada três hectares que governos da América
palmente para o Nordeste. Latina, África e Ásia concedem à exploração mineradora,
d) A maior parte dos nordestinos que retornam se di-
agroindustrial ou florestal está em área indígena.
rigem aos estados mais ricos: Maranhão e Alagoas.
e) A migração de “cérebros” que ocorreu nos anos
de 1990 esgotou-se, e hoje ocorre o movimento de Londres – Um de cada três hectares que governos da
retorno. América Latina, África e Ásia concedem à exploração mi-
neradora, agrícola-industrial ou florestal se encontra em
5. (UFG) Leia a receita apresentada a seguir.
terras de comunidades indígenas. O projeto Munden, da
Tacacá organização internacional Direitos e Recursos, analisou
cerca de 153 milhões de hectares em concessão, em um
2 litros de tucupi temperado total de 12 países, cinco da América Latina (Argentina,
4 dentes de alho Brasil, Chile, Colômbia e Peru), três da África (Cameron,
4 pimentas de cheiro Libéria e Moçambique) e quatro da Ásia (Camboja, Indo-
4 maços de jambu nésia, Malásia e Filipinas). A Carta Maior conversou com
½ kg de camarão a consultora legal de Direitos e Recursos, a advogada
½ xícara de goma de mandioca brasileira Fernanda Almeida, sobre como é a situação
sal a gosto concretamente no Brasil.

Modo de servir: muito quente, em cuias, temperado O projeto Munden fala de uma sobreposição
com pimenta. de quase 33% entre a propriedade indígena e as
concessões que se fazem para explorações de
Disponível em: www.receitastipicas.com/ diferentes tipos. Como é a situação no Brasil?
receita/tacaca.html Há pelo menos 689 terras indígenas no Brasil, que
814-3

(acesso em: 9 set. 2013) abarcam aproximadamente 240 povos indígenas e

36 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

representam cerca de 13% do território nacional. Umas conta que se trata de um dos 13 territórios indígenas.
128 estão em fase de identificação, ou seja, está se Sobre o resto, não temos os dados correspondentes.
desenvolvendo um estudo antropológico para definir,
entre outros fatores, os limites do território. 35 estão Vocês afirmam que a exploração mineira, a
identificadas e necessitam que o estudo antropológico agrícola-industrial e a florestal são os principais
seja aprovado pela Funai, o órgão nacional responsável investimentos que entram em conflito com as
pelo processo de demarcação de terras indígenas. E há terras de comunidades indígenas. Qual é a mais
460 terras que têm o processo de delimitação concluído. conflitiva no Brasil?
Mas também não se trata unicamente dos povos indí- Há problemas nas três áreas, mas o lobby da agroin-
genas. Aí estão os direitos dos quilombolas, populações dústria é muito forte. Esse lobby está tentando mudar
tradicionais de origem africana. os direitos já reconhecidos pela legislação. Em termos
Nosso trabalho procura ver onde há sobreposição de legislação, o Brasil é bastante sólido a respeito da
entre explorações concedidas e direitos indígenas ou proteção a populações indígenas. Essa legislação é
de populações como os quilombolas. Há claros indi- fruto da reforma constitucional de 1988 de todo o
cadores de que essa sobreposição existe e representa processo de democratização do país. Nesse processo,
um risco. Isso acontece sobretudo em áreas onde as se reconheceu uma grande parte do território nacional
populações não estão legalmente reconhecidas, o que como pertencente às populações indígenas. O lobby
não quer dizer que não haja conflitos em zonas onde agrícola sente que há demasiadas terras reconhecidas.
há um reconhecimento legal. Há algumas iniciativas que se estão discutindo neste
momento que tratam de flexibilizar esses direitos. Por
Vocês dizem que a sobreposição de direitos exemplo, há uma proposta de reforma da Constitui-
indígenas e exploração econômica é uma fonte ção para que, em vez do Executivo, seja o Congresso
de conflitos não só para as populações originárias, Nacional que delimite essas terras. Há também um
mas para os próprios investidores, que podem questionamento na Corte Suprema sobre a legalidade
perder bilhões de dólares no processo. Pode dar da lei que regula os direitos dos quilombolas. E é pos-
exemplos? sível que a Justiça determine contra.
Em nível mundial, calculamos que no setor agrícola
há cerca de 5 bilhões de dólares de investimentos em Na mineração, deveria ser menos conflitivo,
terras que se sobrepõem com a propriedade indígena. porque o subsolo pertence ao Estado.
Os investidores não costumam levar em conta que a A mineração em terras indígenas é uma exceção, uma
oposição jurídica, civil e às vezes violenta à exploração vez que a Constituição permite a atividade mineradora
econômica de um território pode ter impacto na ren- em terras indígenas. Entretanto, a Constituição condicio-
tabilidade. Essa oposição é cada vez mais frequente na a atividade mineradora nessas áreas à aprovação de
porque houve um processo de democratização em uma lei específica que regulamente esse processo. Essa
nível mundial que inclui um maior reconhecimento lei ainda não foi aprovada. O Brasil ratificou a Conven-
dos direitos dos indígenas e, entretanto, não aparece ção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que
nos cálculos que se fazem para examinar o risco de demanda que o Estado respeite o direito de consulta
investimento. dos povos indígenas. Isso quer dizer que, antes que se
No caso específico do Brasil, há que levar em con- outorgue uma concessão, a população indígena tem
ta que é o terceiro exportador agrícola do mundo, o direito de opinar sobre essa concessão. No caso em
primeiro em açúcar e o segundo em soja. A expansão que não queiram, deve-se abrir uma negociação. Em
que se deu recentemente na soja e no açúcar causou geral, o governo tem a última palavra, mas esta pode ser
o deslocamento de produtores rurais e comunidades questionada em nível legal. O fato de que a mineração
indígenas. Na soja, sobre um cultivo de mais de 42 mil tenha um direito em nível legal não quer dizer que não
hectares, mais de 7 mil estão em território sobreposto. haja riscos econômicos se a população indígena não
Em nosso estudo, estimamos que os conflitos nas terras está de acordo.
indígenas de Jatayvary, Guyraroka, Panambi-Lagoa Rica e
Takuara levaram a uma deterioração do valor da produção Como se decidem esses conflitos no Brasil? Por
de mais de 8 milhões de dólares. A cifra pode parecer negociação com intervenção do Estado, pela via
814-3

menor, 0,2% da produção agrícola, mas há que levar em legal, pela violência?

POLISABER 37
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

Depende de cada caso. Muitas vezes, a resolução é


violenta, em especial na Amazônia, onde a presença PESQUISAR E LER
do Estado em nível judicial é baixa. No estado do Mato
Grosso do Sul, fronteiriço com o Paraguai e a Bolívia,
foram assassinados cerca de 279 indígenas entre DIMENSTEIN, Gilberto; GIANSANTI, Álvaro C. Quebra-
2003 e 2011, em conflitos estimulados pelo crescente -cabeça Brasil: temas da cidadania na história do Brasil.
valor das terras com o boom dos preços de matérias- São Paulo: Ática, 2007.
-primas. Mais especificamente, em 2011, o relatório Livro paradidático com temas ligados à cultura, diversi-
sobre violência contra povos indígenas no Brasil de dade, gênero, trabalho e cidadania no Brasil.
2011 falava em 32 mortos indígenas em 12 meses,
27 Guaraní-Kaiowá, 2 terena, 2 Guarani-nhandeva e MAGNOLI, Demétrio. Uma gota de sangue: história do
1 Ofaye-Xavante. pensamento racial. São Paulo: Contexto, 2009.
Essa presença de guaranis não surpreende, porque O autor defende a existência de apenas uma raça – a raça
vivem em áreas nas quais há maior densidade popu- humana – e critica as políticas compensatórias por se ba-
lacional e investimento, como Mato Grosso do Sul, searem no racialismo, dividindo ainda mais a sociedade.
fatores que aumentam o potencial de conflitos. Houve
também casos de grande impacto midiático global, FRY, Peter et al. (Orgs.). Divisões perigosas: políticas ra-
como a ameaça de suicídio massivo da população in- ciais no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização
dígena Guaraní- Kaiowá, ou em nível nacional, como a Brasileira, 2007.
demanda dos produtores rurais por indenizações para O livro é uma coletânea de textos de profissionais de
abandonar a exploração no município de Iguatemi, em diversas áreas discutindo a questão racial no Brasil e as
Mato Grosso do Sul, em 2012. políticas públicas relativas ao tema.

No relatório, vocês destacam que a América AZEVEDO, Célia Maria M. Onda negra, medo branco: o
Latina está avançada em relação ao reconheci- negro no imaginário das elites do século XIX. São Paulo:
mento do direito indígena, ao ser comparada com Paz e Terra, 1987.
o que acontece na Ásia ou na África. Esse maior O livro aborda as políticas imigratórias das elites bra-
reconhecimento deveria facilitar uma resolução sileiras no século XIX como parte de um projeto para
pacífica e legal dos conflitos. embranquecer a população brasileira, com medo de uma
Sempre há que ver caso por caso, porque se trata de revolta escrava.
instâncias muito complexas, que geralmente envolvem
simultaneamente a população indígena, a exploração FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos.
privada, um órgão governamental e a Justiça. Um bom São Paulo: Global, 1972.
exemplo desse tipo de resolução de conflito é o dos Em seus 14 ensaios centrados na preocupação com a su-
danos ambientais e morais sofridos pela comunidade premacia da “raça branca” e no controle do poder que ela
indígena devido às plantações de soja e cana na terra exerce em nossa sociedade, o autor analisa o Brasil como
indígena de Guyraroká. O Ministério Público federal um mundo social modelado pelo branco e para o branco.
iniciou uma demanda contra a Funai exigindo uma Estudando a situação do negro e do mulato na sociedade
indenização de R$ 170 milhões. A Funai não cumpriu brasileira vista a partir de São Paulo, Florestan Fernan-
com seu papel de protetora dos direitos indígenas ao des levanta os caminhos sinuosos do preconceito, seus
não impedir que se produzisse um dano ambiental e disfarces e o processo de segregação racial, sem agravar
moral pela produção de soja e cana e foi imputada ou atenuar o problema.
juridicamente por isso. A lei incentiva a participação
do Estado como mediador na resolução de conflitos. CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios
no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras/Secretaria
JUSTO, Marcelo
Municipal de Cultura/Fapesp, 1998.
A exploração econômica e os conflitos
Entre o conjunto de textos sobre a história e a política
em terras indígenas. Carta Maior, 7 nov. 2013
indigenista no Brasil, no introdutório, a organizadora não
vê as populações indígenas como passivas no processo
814-3

de desenvolvimento do Brasil.

38 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL

ComCiência
VER E OUVIR www.comciencia.br/reportagens/negros/01.shtml (aces-
so em: 6 jun. 2014)
A revista de divulgação da SBPC (Sociedade Brasileira
O homem que virou suco
para o Progresso da Ciência) e do Laboratório de Estudos
João Batista de Andrade. Brasil, 1980.
Avançados em jornalismo, da Unicamp, reúne artigos
O filma retrata os traumas psicológicos dos imigrantes
sobre a população negra no Brasil.
nordestinos em São Paulo, diante do preconceito que
sofrem e da distância da terra natal.

Quilombo
Cacá Diegues. Brasil: s/d. ÁGORA
Sobre a história do quilombo dos Palmares, em Alagoas,
a maior organização negra contra a escravidão no Brasil,
Leia o trecho a seguir e discuta com seus colegas a
que, no século XVII, resistiu por 70 anos.
adoção do sistema de cotas nas universidades brasileiras.
O caminho das nuvens
Vicente Amorim. Brasil, 2003. Educação: a polêmica do sistema de cotas
Mostra a trajetória de Romão e sua família, retirantes
do Nordeste que vão de bicicleta ao Rio de Janeiro, em O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 26 de
busca de um salário de mil reais. abril de 2012, que o sistema de cotas raciais em uni-
versidades é constitucional. O resultado do julgamento
Gaijin: os caminhos da liberdade sanciona a manutenção das reservas de vagas para
Tizuka Yamasaki. Brasil, 1980. estudantes negros, pardos e índios nas universidades.
O filme retrata a dura realidade dos primeiros imigrantes
japoneses, que vieram trabalhar nas fazendas de café O objetivo das cotas é corrigir injustiças históricas
em São Paulo. provocadas pela escravidão na sociedade brasileira.
Brasileiros brancos têm, em média, dois anos a mais
Quanto vale ou é por quilo de escolaridade do que negros e pardos, de acordo
Sérgio Bianchi. Brasil, 2005. com dados de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia
O filme compara o antigo comércio de escravos e o atual e Estatística (IBGE).
papel de ONG que exploram o marketing social, uma
solidariedade de mentira. Críticos da proposta, contudo, argumentam que os
negros nunca foram impedidos de frequentar univer-
sidades por uma questão racial, mas por motivos eco-
nômicos e sociais. Por essa razão, as cotas deveriam
NAVEGAR privilegiar alunos pobres, sejam eles brancos, pardos
ou negros.
Fundação Nacional do Índio
www.funai.gov.br (acesso em: 6 jun. 2014) De qualquer modo, a decisão do STF deve exercer
O site da Funai disponibiliza dados, mapas e textos sobre pressão sobre universidades para que empreguem o
os povos indígenas no Brasil. sistema de cotas raciais. Segundo a ONG Educafro, mais
de 180 instituições públicas de ensino superior adotam
Museu do Índio esse tipo de reserva de vagas.
www.museudoindio.org.br (acesso em: 6 jun. 2014)
O site divulga dados, textos, imagens, exposições e ati- SALATIEL, José Renato Salatiel
vidades programadas. Educação: a polêmica do sistema de cotas
UOL Vestibular, 4 maio 2012
Museu da Imigração do Estado de São Paulo Disponível em: http://vestibular.uol.com.br/
www.memorialdoimigrante.sp.gov.br (acesso em: 6 jun. 2014) resumo-das-disciplinas/atualidades/educacao-a-
Oferece dados e imagens sobre os diversos grupos de polemica-do-sistema-de-cotas.htm
814-3

imigrantes que entraram no Brasil. (acesso em: 6 jun. 2014)

POLISABER 39
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9

S E N H A
Observe a charge e tente
descobrir o que ela sugere.

Disponível em: http://jaderresende.


blogspot.com.br/2010/11/pare-veja-
814-3

pense.html. (acesso em: 14 jul. 2014)

40 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 10 aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL

Apoiada nesse mercado, prévio e “externo” à


indústria, e mediante a transferência de capital-
-dinheiro, de mão de obra e de capacidade para
importar (excedentes reais e financeiros gerados
pelo setor exportador), é como surge e se
desenvolve a indústria maquinizada no Brasil.
FOLHAPRESS

Maria da Conceição Tavares.


Acumulação de capital e industrialização no Brasil, 1975.

O espaço industrial no Brasil

Origens da industrialização
Conceituamos industrialização como o processo de implantação de indústrias em um lugar de tal forma que elas se
transformam no principal setor da economia, determinando a dinâmica de outros setores, por exemplo, as atividades
agrárias, que ficam subordinadas à lógica industrial de fornecimento de matérias-primas e de alimentos para a população
das cidades. O campo se subordina à cidade, e se intensifica a urbanização. Profundas mudanças ocorrem no espaço
geográfico, onde a natureza original é substituída por uma segunda natureza, com grandes obras de engenharia, de
cidades, construções ou grandes extensões agrícolas plantadas. No Brasil, esse processo teve início no fim do século XIX,
e, embora a atividade agrária ainda tenha permanecido como motor da economia até meados do XX, hoje, a economia
brasileira é uma das mais industrializadas entre os países subdesenvolvidos.

Brasil: estabelecimentos industriais existentes em 1920,


de acordo com a data de fundação das empresas

número médio
número de valor da produção
data de fundação de operários por
estabelecimentos (%)
estabelecimento
até 1884 388 76 8,7
1885-1889 248 98 8,3
1890-1894 452 68 9,3
1895-1899 472 29 4,7
1900-1904 1 080 18 7,5
1905-1909 1 358 25 12,3
1910-1914 3 135 17 21,3
1915-1919 5 936 11 26,3
data desconhecida* 267 16 1,6
total 13 336 20 100,0
* Corresponde a estabelecimentos industriais existentes em 1920, cuja data de fundação era desconhecida ou não foi informada.

Os dados revelam o crescimento industrial brasileiro do fim do século XIX e início do XX.
814-3

Fonte: IBGE. Recenseamento do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE. v. 5. p. 69. In: BAER, Werner. A economia basileira. São Paulo: Nobel, 2009. p. 51.

POLISABER 41
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10

Entre os fatores que impulsionaram a industrialização Diferentemente de países como os Tigres Asiáticos ou a
brasileira, destacamos: própria China, que se industrializaram a partir do mercado
• A acumulação de capital devida às exportações da externo (plataformas de exportação), o Brasil e a América
economia cafeeira nos séculos XIX e XX: quando as crises Latina em geral seguiram o modelo da substituição de
cíclicas da economia capitalista internacional afetavam importações, pelo qual se produz internamente bens que
os preços do café, os barões do café aplicavam o capital antes eram importados.
investido em bancos e na bolsa de valores, na compra de Vale ressaltar o papel de Irineu Evangelista de Souza, o
máquinas e na diversificação das atividades econômicas. Barão de Mauá, um dos primeiros industriais brasileiros,
A Primeira Guerra Mundial teve um papel importante no que na segunda metade do século XIX investiu, princi-
crescimento das indústrias, mas foi com a crise de 1929, palmente no Rio de Janeiro, em setores como fundição,
decorrente da quebra da bolsa de valores de Nova York, que transporte ferroviário e marítimo, mas foi sabotado pelas
o crescimento industrial passou a superar o dos outros se- oligarquias agrárias e acabou falindo. O mesmo papel teve
tores. Reduziram-se as exportações de café e se diversificou o coronel Delmiro Gouveia no Nordeste.
a produção agrícola, diminuindo a entrada de mercadorias

REPRODUÇÃO
estrangeiras que poderiam competir com as nacionais.
• A gradual abolição do trabalho escravo e sua substitui-
ção pelo trabalho assalariado com a vinda dos imigrantes
para trabalhar nas fazendas de café: pouco a pouco,
muitos dos imigrantes italianos e espanhóis se dirigiram à
cidade de São Paulo e passaram a compor um operariado
urbano forte e organizado em sindicatos.
• A formação de um mercado consumidor interno, re-
sultado da disseminação do trabalho assalariado, apesar
dos baixos salários. A substituição das importações é
Barão de Mauá,
fundamental para entendermos o mecanismo pelo qual
um dos primeiros
a industrialização avançou no Brasil. industriais brasileiros.

Brasil: participações percentuais no PIB (1900-2000)

100%

80%
Serviços

60%

40% Indústria

20%

Agropecuária

0%
AVITS

60

65

70
00

05

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

75

80

85

90

95

00
19

19

19

19

19

19

19

19

19
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

O gráfico mostra as transformações da economia brasileira no século XX.


814-3

Fonte: IBGE. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. p. 373. (adaptado)

42 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL

Etapas da industrialização brasileira implantou o Plano Salte, com investimentos nos setores
de saúde, alimentação, transporte, energia e educação.
Do fim do século XIX até 1930 – A industrialização Mudou a política econômica, com uma abertura às im-
brasileira foi marcada pela instalação de indústrias de portações de bens de consumo que levou à queda das
bens de consumo não duráveis, para satisfação de ne- reservas cambiais obtidas com os superávits comerciais
cessidades básicas como alimentos, tecidos, bebidas e na época da Segunda Guerra Mundial e à consequente
calçados, pois exigem pouco investimento em capital e necessidade de emitir moeda, gerando inflação e queda
tecnologia. De acordo com o censo industrial de 1920, os do poder aquisitivo dos salários.
produtos têxteis e alimentícios e as bebidas respondiam
por mais de 80% do valor da produção industrial no país.
No censo de 1939, essa participação continuava alta,
com 2/3 da produção. Em geral, são empreendimentos
privados nacionais, cabendo ao Estado implantar infra-
estruturas de transportes, energia e saneamento por
meio de concessões a empresas privadas nacionais e
transnacionais, como a canadense Light.
De 1930 a 1956 – É a etapa de implantação das in-
dústrias de bens de produção e infraestrutura como a
siderurgia e a petroquímica, de bens de capital (máquinas,
motores) e de mineração e energia, sob comando do
Estado, no contexto do nacional-desenvolvimentismo.
Nos governos de Getúlio Vargas, por meio de financia-
mentos externos, implantaram-se: a siderúrgica de Volta
Redonda, ou Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
O presidente Vargas assinando o decreto que criou a
fundada em 1941, a Companhia do Vale do Rio Doce, em Petrobras.
Minas Gerais, em 1942, a Companhia Hidrelétrica do São
Francisco (CHSF), a Fábrica Nacional de Motores (FNM) Nesse momento, intensifica-se no Brasil o debate entre
e, mais tarde, a Petrobras, quando o Estado fortalece o a corrente liberal, a favor da abertura da economia brasi-
parque industrial brasileiro em uma política notadamente leira ao capital estrangeiro, e a nacional-desenvolvimen-
nacionalista. A década seguinte assiste a um rápido tista, a favor de uma maior presença do Estado, regulando
crescimento industrial, que triplicou a produção entre a participação do capital privado nacional ou estrangeiro
1950-1961, e a participação da indústria no PIB passou em apenas alguns setores. Esta última corrente retorna
de 24,1% para 32,5%. ao poder com a vitória de Vargas nas eleições em 1951.
Getúlio Vargas, que havia assumido a presidência do De 1956 a 1990 – É a fase da internacionalização da
país com a Revolução de 1930, de cunho modernizador, economia brasileira, com a entrada de capital transna-
adotou medidas fiscais e cambiais que aprofundaram cional no setor industrial de bens de consumo duráveis
a substituição de importações, como a desvalorização (automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos e químico-
da moeda nacional em relação ao dólar e a criação de -farmacêuticos). Ao Estado, inicialmente sob comando de
leis e tributos que restringiam a entrada de produtos Juscelino Kubitschek e seu Plano de Metas – cujo lema
importados que pudessem ser fabricados aqui. Depois era desenvolver o Brasil “50 anos em 5” – e mais tarde
de 1934, também promulgou uma nova Constituição, que nos governos militares, coube criar facilidades e isenções
regulamentou as relações de trabalho nas indústrias ao para a entrada desse capital, além de prover o território
criar a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), onde se de infraestrutura nos setores de energia, transportes,
previam o salário-mínimo, férias anuais e descanso remu- telecomunicações, construção civil e mineração, princi-
nerado. Durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), palmente pelo mecanismo do endividamento externo e
Vargas criou o Conselho Nacional de Economia (CNE), que da crescente inflação. Cerca de 73% dos recursos foram
encabeçava órgãos de regulamentação da economia, em destinados aos setores de energia e transportes. Ao capi-
uma política intervencionista de base keynesiana. tal nacional, coube um papel coadjuvante, com empresas
Ao final desse período, com a deposição de Vargas sendo incorporadas por grandes grupos transnacionais
814-3

em 1945, assumiu o general Eurico Gaspar Dutra, que ou se associando a eles.

POLISABER 43
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10

comunista. A adoção do parlamentarismo, com Tancredo


Neves como primeiro-ministro, durou até o plebiscito de
1963, quando Jango retoma o poder com o presidencia-
lismo de volta e lança o programa das Reformas de Base.
Duas forças políticas se opõem nesse momento: a que
defendia as Reformas de Base, com o Estado investindo
em educação, saúde, habitação e infraestrutura urbana e
agrária, e a que defendia a iniciativa privada e os investi-
ACERVO UH/FOLHAPRESS

mentos em construção de usinas e rodovias. A segunda,


mais conservadora, toma o poder com o golpe civil-militar
de 1º de abril de 1964. Com os militares no poder, cres-
ceu o parque industrial e se ampliou a infraestrutura em
energia, transportes e telecomunicações.
O presidente JK na inauguração da fábrica da
Volkswagen, em São Bernardo do Campo, em 1959.
Entre 1967 e 1973, transcorreu o chamado “milagre
econômico” brasileiro, quando a economia cresceu ace-
Mesmo com a fundação de Brasília e a transferência leradamente, numa média de 10% ao ano; cresceram
da capital para o Centro-Oeste, o parque industrial do também a produção industrial e o consumo das classes
Sudeste continuou a concentrar boa parte da indústria médias, e o país se tornou o 8º PIB mundial. Entre 1974
nacional, levando o Estado a adotar uma política de pla- e 1979, a indústria como um todo cresceu 35%. Os prin-
nejamento econômico para desenvolver outras regiões: cipais setores foram o metalúrgico (45%), o de material
criaram-se a Superintendência para o Desenvolvimento elétrico (49%), o de papel e papelão (50%) e o químico
do Nordeste (Sudene), em 1959, a Superintendência para (48%), além do têxtil (26%), do de alimentos (18%) e do
o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e a Superin- de material de transportes (28%). Nota-se um novo redi-
tendência para o Desenvolvimento da Zona Franca de recionamento na atividade industrial, agora para o setor
Manaus (Suframa), entre outras. de insumos e de máquinas e equipamentos, e também
Em 1961, Jânio Quadros foi empossado presidente, cresce a participação do capital estrangeiro nos setores
renunciando após alguns meses de mandato. O país en- de extração de minerais metálicos (Projetos Carajás,
trou num período de crise política: em plena Guerra Fria, Trombetas e Jari), na expansão de áreas agrícolas de
setores das forças armadas não queriam que o vice de monocultura (soja) e na indústria químico-farmacêutica
Jânio, João Goulart, assumisse, pois o qualificavam como e de máquinas e equipamentos.

Brasil: investimentos na economia (1908-2000)


AVITS

30
participação de empresas privadas

25 participação do governo
participação de empresas estatais
(em % do PIB)

20

15

10

0
1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
814-3

Fonte: IBGE. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. p. 504.

44 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL

Brasil: evolução anual do PIB (1967-1975)

(%)
16
14,0
14
11,9
12 11,3
10,4
9,8 9,5
10 8,2
8
5,2
6
4,2
4
2
0
67

68

69

70

71

72

73

74

75
19

19

19

19

19

19

19

19

19
No período militar, a participação do Estado na economia alcançou seu ápice.
Fonte: IBGE. Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1550 a 1988. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. p. 118-119.

No entanto, com o aumento do preços do petróleo, o endividamento e a inflação crescentes, a economia entra em
colapso nos anos 1980, quando a riqueza é redirecionada para o pagamento dos credores internacionais, o FMI e o
Banco Mundial. Mesmo assim, a taxa de lucro dos empresários se mantinha alta, em função do arrocho salarial con-
tra os trabalhadores menos qualificados. Nesse período, há um aumento brutal das desigualdades sociais. Em 1960,
os 20% mais ricos da população detinham 54% da renda nacional; em 1989, esses mesmos 20% ficavam com 67,5%.
Abandonaram-se os setores de educação e saúde públicas e se sucateou o parque industrial, com a política “exportar
é o que importa”, incentivando as exportações para obter saldos positivos na balança comercial e pagar os credores
internacionais, o que encarecia a importação de máquinas e equipamentos. Essa foi a “década perdida”, quando o PIB
cresceu em um ritmo menor que a população. Em 1964, o Brasil tinha o 43º PIB mundial e uma dívida externa de 3,7
bilhões de dólares. Em 1985, tinha o 9º PIB mundial, mas uma dívida de 95 bilhões de dólares, ou seja, o crescimento
econômico ocorreu devido a um intenso endividamento e ao agravamento das desigualdades sociais.

Brasil: inflação (1980-2008)

90,00
82,39
80,00
70,00
60,00
47,43
50,00
IPCA*

40,00
30,00
ILUSTRAÇÕES: AVITS

20,00
10,00
0,00
–10,00
n.

v.

n.

l.

n.

08 v.

.
ar

br

go

et

ut

ov

ez

ar
/ju
ai
/fe

20 /fe
/ja

/ju

/ja
/s
/m

/o

/m
/a

/d
/m

/n
/a
92
80

05
82

96

07
90
86

98

02
00
94
84

88

19
19

20
19

19

20
19
19

19

20
20
19
19

19

* IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – é o índice oficial do governo federal para mediação das metas inflacionárias.
814-3

Observe como na década de 1980 a inflação alcançou seu ápice.


Adaptado de: IBGE. Disponível em: www.igbe.gov.br/series_estatisticas/exibedados.php?idnivel=BR&idserie=PRECO01 (acesso em: 10 jan. 2010)

POLISABER 45
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10

Após 1990 – acentua-se o esgotamento do modelo de Ao Estado, cumpre fiscalizar e regular a atuação
substituição de importações. O Brasil se integra definitiva- das empresas, muitas delas estrangeiras, por meio de
mente à globalização neoliberal, abrindo seus mercados agências como a Agência Nacional de Energia Elétrica
para os importados por uma política de redução das tarifas (Aneel), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
de importação. Se, por um lado, essa abertura promoveu a e a Agência Nacional do Petróleo (Anap), entre outras.
entrada de equipamentos e máquinas de última geração Em 1994, com adoção do Plano Real, logramos reduzir
que aumentaram a produtividade e a competitividade e estabilizar a inflação, mas ao custo do déficit na balança
da indústria nacional, por outro, acarretou o aumento comercial provocado pela sobrevalorização da moeda. Para
do desemprego, tanto o estrutural, fruto da automação, cobrir esse déficit, o governo mantinha a taxa de juros eleva-
como pela falência de indústrias nacionais de bens de da buscando atrair capital especulativo, o que aumentou a
consumo que não conseguiam competir com os produtos dívida pública e manteve o crescimento industrial em baixa.
importados de países que subsidiavam suas exportações. Nesse período, a indústria incorporou ganhos de pro-
Ao mesmo tempo, com a eleição de Fernando Collor, dutividade pela crescente automação, mas reduziu sua
o Estado neoliberal dá início a um programa de privati- participação no PIB nacional de 41,9% em 1990 para 33,4%
zações de empresas estatais e concessão de exploração em 1996, com crescimento de apenas 2,3% neste ano,
de serviços, abrindo ao capital internacional e privado inferior ao da agropecuária e ao do setor de serviços. Entre
nacional o controle de setores estratégicos como as tele- janeiro e outubro de 1997, o setor volta a crescer: atinge
comunicações, os transportes, a energia, a siderurgia, os 5,1%, índice superior ao acumulado entre 1995 e 1997.
bancos e até mesmo o agropecuário. Esse programa teve No início do século XXI, houve um rápido crescimento
aspectos positivos para alguns setores que melhoraram da economia, com a volta dos superávits comerciais,
os serviços prestados, como é o caso das telecomunica- resultado de uma desvalorização cambial em janeiro de
ções, dos transportes e de empresas deficitárias como 1999, interrompido pela crise energética de 2001 e por
na siderurgia – que apenas a Usiminas era lucrativa – que problemas externos como a crise argentina. A partir de
passaram a lucrar e pagar impostos ao Estado. No entanto 2003, seguiu-se uma retomada do crescimento, quando
muitas das privatizações, como a da Vale do Rio Doce, en- foi possível reduzir os juros, e o setor produtivo recebeu
volveram denúncias de subvalorização de seu patrimônio investimentos antes direcionados ao setor financeiro.
sendo vendidas abaixo de seu real valor de mercado, além Em 2008 e 2009, uma nova crise internacional reper-
do destino dado aos recursos: o pagamento dos juros da cute negativamente na produção industrial, mas, com a
dívida interna ou a sua amortização. Também se criticam inflação controlada, os juros em queda, um grande volu-
o aumento das tarifas de serviços como os de telefonia, me de moedas estrangeiras em reservas no Banco Central
que são de péssima qualidade, abaixo dos padrões interna- e um mercado interno em expansão, as consequências
cionais, e a má gestão da energia elétrica, que resultou na foram mais brandas, tanto que a economia voltaria a
crise energética de 2001 e em apagões como os de 2009. crescer mais em 2013.

Brasil: taxas médias anuais de crescimento do PIB, em % (1995-2008)

%
AVITS

6 5,7
5,4
5,1
5
4,2 4,3
4,0
4 Comparado ao
3,4 3,2 crescimento na
3 2,7 década de 1990, os
2,2 anos 2000 foram mais
2 auspiciosos para a
1,3 1,1 economia brasileira.
1 Adaptado de: IBGE. Disponível
0,3 em: www.ibge.gov.br
0,0 (acesso em: 10 jan. 2010)
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
814-3

Fonte: IBGE.

46 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL

O modelo brasileiro de industrialização baseou-se no chamado tripé: capital estatal, capital privado nacional e capital
privado internacional. Ao primeiro, cabem a infraestrutura e as indústrias intermediárias (de base), setores que neces-
sitavam de alta escala de capital. Ao terceiro, os setores de ponta, tecnologicamente mais avançados e dinâmicos do
desenvolvimento (bens de consumo duráveis, químicos etc.). O capital privado nacional ficou responsável pelos setores
tecnologicamente mais simples e onde fossem necessárias menores escalas de capital; assim, incumbiu-se do setor de
bens de consumo leve e dos fornecedores de insumos ao capital estrangeiro e ao capital estatal.
Atualmente, a atividade industrial responde por 28% do PIB brasileiro, sendo os setores mais importantes o de refino
de petróleo, produção de álcool, alimentos, produtos químicos, fabricação e montagem de veículos automotores, me-
talurgia básica, máquinas e equipamentos. Crescem setores como robótica, aeronáutica, eletrônica, telecomunicações,
mecânica de precisão e biotecnologia.
Nesse contexto, a questão tecnológica é um desafio. Estamos vivendo a Terceira Revolução Industrial, ou a chamada
Revolução Técnico-Científica, em que a necessidade de inovação e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento
são essenciais para a competitividade. Os setores de informática, robótica, telecomunicações e microeletrônica exigem
mão de obra qualificada, que, por sua vez, demanda um sistema educacional de alto nível. Cresce a importância dos
tecnopolos, dos centros de pesquisa e das universidades de ponta, pois não bastam mais a disponibilidade de matéria-
-prima ou de mão de obra abundante e barata para um desenvolvimento industrial sustentável.
No Brasil, destacamos como tecnopolos: São Paulo (SP), Campinas (SP), São José dos Campos (SP), São Carlos (SP),
Viçosa (MG), Campina Grande (PB) e Cascavel (PR), entre outros.

ACERVO CCS-UFSCAR

Entrada da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), que faz parte de um tecnopolo local.

Para um maior desenvolvimento da indústria nacional, ainda se enfrenta problemas de logística em relação a estradas,
portos e aeroportos, baixo investimento público ou privado em pesquisa e desenvolvimento, baixa qualificação da mão
de obra e elevada carga tributária.
814-3

POLISABER 47
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10

Indústria e espaço geográfico


Nossa industrialização nasceu espacialmente concentrada na região Centro-Sul, sobretudo em São Paulo. A expan-
são da lavoura cafeeira paulista concentrou nos arredores da capital os benefícios decorrentes da exportação do café:
meios de transporte (ferrovias e rodovias), serviços bancários, geração de eletricidade, água potável, saneamento etc.
Por sua posição geográfica favorável – passagem obrigatória das mercadorias do interior para o porto de Santos, o mais
importante da época –, a cidade de São Paulo tornou-se a mais industrializada do país, especialmente bairros como o
Brás, a Moóca, a Lapa, a Barra Funda e o Pari, ao longo da ferrovia São Paulo Railway. Nas décadas de 1950 e 1960, a
industrialização se expandiu para os arredores do município, seguindo os principais eixos rodoviários: o ABC paulista (via
Anchieta), Guarulhos (via Dutra), Cajamar/Caieiras (via Anhanguera), Osasco (via Castelo Branco) etc. Assim, na década
de 1970, a Grande São Paulo era a principal área industrial do país, e também o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul e
Minas Gerais intensificaram seu crescimento nesse sentido.

Brasil: distribuição espacial das indústrias (2009)

Boa Vista

EQUADOR Macapá

Belém São Luís


Manaus Fortaleza

Teresina Natal

João
Porto Pessoa
Velho
Rio Recife
10° Branco Palmas Maceió
Aracaju
Salvador

Cuiabá Brasília
Goiânia

Campo Belo
Grande Horizonte
20°

Vitória

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
Rio de Janeiro
São Paulo
Curitiba
Número de empresas
menos de 1 000 Florianópolis
1 001 a 5 000
312 km
5 001 a 10 000
Porto
mais de 10 001 Alegre
AVITS

70° 60° 50° 40°

A distribuição espacial da indútria no Brasil ainda revela uma concentração no centro-sul do país.
814-3

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 136.

48 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL

Brasil: distribuição espacial das indústrias no Sudeste (2000)

Unidades locais em 2000


465 551

94 009

100

Expansão da
indústria no estado
de São Paulo Montes Claros
até 1975
de 1975 a 1986
MINAS GERAIS
estradas

Governador
Valadares ESPÍRITO
Uberlândia Belo
Horizonte SANTO
Uberaba

São José do
Ribeirão Preto
Rio Preto
Vitória
Araçatuba

SÃO Juiz de
PAULO Fora
Marília RIO DE JANEIRO
Presidente
Prudente Bauru
Botucatu
São José dos
Sorocaba Campos

São Sebastião
Santos 124 km

O mapa revela os principais eixos de expansão das indústrias do Sudeste obedecendo o traçado das rodovias.

AVITS
Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli Aparecida. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2009. p. 157.

A desconcentração industrial
Entretanto, a partir dos anos 1970, observamos uma relativa desconcentração: embora ainda houvesse muitas em
São Paulo, as indústrias começaram a se espalhar por outros pontos do Brasil, em especial, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Bahia, Ceará, Pernambuco, Amazônia (sobretudo Manaus), Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. São as chamadas
deseconomias de escala, quando um lugar como São Paulo se torna desfavorável a novas instalações e às que já estão
ali por conta de custos elevados com impostos e segurança, terrenos caros, congestionamentos, alimentação e moradia
mais caros, o que implica maiores salários. Também concorreram para essa desconcentração a maior combatividade
dos sindicatos de trabalhadores na região, cujas reivindicações e greves elevaram a média salarial, e a ação do Estado,
dotando de infraestrutura outras regiões.
Finalmente, concorreu para essa desconcentração a chamada “guerra fiscal”, ou “guerra dos lugares”, uma espécie
de competição entre estados ou municípios para obter novos investimentos por meio de subsídios e isenções fiscais,
814-3

terrenos baratos ou até doados pelo poder público, infraestrutura montada etc.

POLISABER 49
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10

EXERCÍCIOS

1. (UEL) A construção da cidade de Brasília fez b) Além de São Paulo, berço tradicional da indústria
parte do processo desenvolvimentista dos automobilística brasileira, indique outros três estados
anos 1950 liderado pelo presidente Juscelino que possuem esse tipo de indústria.
Kubitschek e seu vice, João Goulart. O projeto
modernizante de JK assentava-se na política do
“50 anos em 5”, que preconizava, entre outras 3. (CPS) É quase impossível visitar cidades como
coisas, dotar o país de uma infraestrutura sufi- Campinas, São José dos Campos, Franca, Piraci-
ciente para sustentar a industrialização. caba ou Ribeirão Preto sem observar o grande
número de indústrias ali instaladas. Esse pro-
Com base nos conhecimentos sobre a política cesso de industrialização do interior paulista
econômica desse período histórico brasileiro, deve-se fundamentalmente à:
assinale a alternativa correta. a) procura, por parte das indústrias paulistanas, de mão
a) Disseminou o ensino técnico para todas as regiões de obra especializada e qualificada concentrada nas
do país, por meio dos institutos técnicos federais. megalópoles do interior paulista.
b) Expandiu a construção de usinas hidrelétricas e b) saída de diversas indústrias da Região Metropolitana
abasteceu de energia o setor produtivo. de São Paulo, em virtude do alto custo da mão de
c) Implantou a Sudam, que realizou a modernização e obra e dos incentivos fiscais oferecidos por alguns
a transformação da região amazônica. municípios do interior.
d) Priorizou a importação de veículos automotores para c) saturação do porto de Santos, por onde era escoada
o país se inserir no mercado internacional. a produção industrial da capital, que passou a utilizar
e) Privatizou a Companhia Siderúrgica Nacional, com a as ferrovias para alcançar o mercado consumidor de
abertura de seu capital para investidores estrangeiros. países vizinhos.
d) preocupação ambiental das grandes indústrias
situadas na capital paulista, que preferiram se des-
2. (Unicamp) locar para o interior do estado com a finalidade de
Nos anos 1990, foi retomado o incentivo específico diminuir a poluição atmosférica.
à indústria automotiva, tendo como foco a descentra- e) necessidade de acesso fácil às fontes de energia
lização geográfica. Segundo a Anfavea (Associação utilizadas pelas indústrias da Grande São Paulo,
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), concentradas na dependência do carvão mineral
em 2012 havia 53 fábricas em 9 estados. Essas fábri- abundante no interior paulista.
cas pertencem a 26 empresas que fabricam automó-
veis, veículos comerciais leves, caminhões e ônibus
(9 produzem carros de passeio). Com 3,3 milhões de 4. (ESPCEX-AMAN)
unidades produzidas, o Brasil é o sexto maior produtor
do mundo. A centralização de capitais proporcionou aos conglo-
merados um novo poder – o de ultrapassar as fronteiras
Fatia da indústria automobilística nacionais. Dispersando as atividades produtivas pelos
no PIB cresce 45,6% em 11 anos mais diversos países, as transnacionais aproveitam-se
Adaptado de: http://economia.estadao.com.br/noticias/ das diferenças entre eles para auferir maiores lucros.
economia-geral. (acesso em: 5 maio 2013)
MAGNOLI; Araújo, 2004, p. 90.
a) A partir dos anos 1990, a distribuição geográfica da
indústria automotiva no Brasil desencadeou uma Depois da Segunda Guerra Mundial, inúmeras áreas
forte tensão nas relações entre Estado, mercado, localizadas em países subdesenvolvidos recebe-
sociedade e território, que ficou conhecida como ram unidades industriais dos países desenvolvi-
“guerra fiscal”, ou “guerra dos lugares”. Explique o dos. Esse deslocamento industrial para o Brasil,
814-3

que é a guerra fiscal ou dos lugares. principalmente, entre 1968 e 1973, acarretou:

50 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL

a) retração do mercado consumidor. A montadora Ford, de capital estadunidense, anunciou


b) falência das grandes empresas estatais em face da hoje (04/01/2012) a produção global de um modelo de
concorrência com empresas estrangeiras. utilitário esportivo, o EcoSport, projetado por cerca de
c) implementação de rígidas legislações fiscais, a fim 1,2 mil engenheiros brasileiros e argentinos no centro de
de frear a entrada de capitais externos. desenvolvimento da companhia em Camaçari, na Bahia. O
d) investimentos estatais em novas infraestruturas de carro, que deverá ser vendido em 100 países, será produ-
transporte, de comunicações e de energia. zido nas fábricas da Ford na Bahia, na Tailândia e na Índia.
e) desconcentração geográfica da riqueza nacional,
modificando o panorama de concentração que ca- Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/
racterizava o espaço brasileiro até então. noticia/2012-01-04/modelo-de-carro-
concebido-no-brasil-vira-produto-global
(acesso em: 27 ago. 2012)
5. (UFSJ) Observe a imagem a seguir.
Assinale a alternativa que apresenta caracterís-
ticas da produção industrial atual representada
pelo lançamento do novo EcoSport.
a) Estreita relação entre pesquisa e tecnologia e des-
concentração industrial na produção de produtos
globais.
b) Rígida padronização (estandartização) dos produtos
com o objetivo de atender o gosto dos clientes.
c) Produção baseada no modelo just in time, que exige
grandes almoxarifados no interior das fábricas.
d) Linha de produção fordista, com eliminação da ter-
ceirização na produção e na incorporação de mão de
obra pouco qualificada de países em desenvolvimento.

ESTUDO ORIENTADO

Caro aluno,
Nas seções a seguir, você pode verificar o que aprendeu por meio dos exercícios e ver como os vestibulares abordam o
que vimos nas aulas. Saiba um pouco mais sobre tecnopolos e empreendedorismo na roda de leitura e procure ampliar
seu repertório com as sugestões das seções pesquisar e ler, ver e ouvir, navegar e ágora.

EXERCÍCIOS

1. (UTFPR) Na América Latina, o Brasil, a Argentina e o México, países que já se industrializaram, mantêm,
segundo a Divisão Internacional do Trabalho, uma dependência tecnológica em relação aos países desen-
volvidos. Segundo a informação acima, é correto afirmar que grande parte da produção industrial:
a) é caracterizada por elevado nível tecnológico.
b) é caracterizada por baixo nível tecnológico.
c) é de capital nacional e de elevada tecnologia.
d) é de domínio nacional, caracterizada por elevado nível tecnológico.
e) depende de capital e tecnologias nacionais.
814-3

POLISABER 51
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10

2. (UERJ) Acompanhando uma tendência mundial, Brasil: Disponibilidade de recursos


a partir dos anos 1970, houve uma série de mu- humanos especializados
danças na localização das atividades industriais
classificação unidades da federação
brasileiras, como representado, por exemplo,
no mapa do estado de São Paulo.
muito bom SP, RJ, MG e DF

bom PR, SC e RS

AM, PA, RO, MT, MS, GO,


moderado
CE, RN, PE, BA e ES

AC, RR, AP, PI, MA,


ruim
TO, PB, AL e SE
Fonte: Veja, São Paulo, ed. 2 249, ano 44, n. 52, 28 dez. 2011. (adaptado)

Após analisar a tabela, o empreendedor conclui


corretamente que a:
a) dificuldade de recrutar recursos humanos de qua-
lidade é reduzida pela facilidade de obter recursos
para pesquisa.
b) indústria de ponta é favorecida nos estados do Norte
e do Centro-Oeste, pois fornece mão de obra barata
e menos especializada.
c) desigualdade na distribuição dos recursos humanos
qualificados no país torna fundamental a melhoria na
qualidade de ensino.
d) mão de obra menos especializada está concentrada
nas regiões Norte e Sul, por causa do processo de
Fonte: SANTOS, Douglas. Geografia das redes: o mundo e seus lugares. colonização nessas regiões.
São Paulo: Editora do Brasil, 2010. (adaptado).
e) pequena quantidade dos recursos humanos qualifi-
cada é compensada pela forte expansão do mercado
Indique duas causas da desconcentração indus-
consumidor no país.
trial nesse estado e duas consequências desse
processo para a região metropolitana paulista.
4. (UFPA)

3. (Fatec) Ao longo da história da humanidade, não Nos últimos vinte anos, o Brasil tem desenvolvido
há nenhuma dúvida de que empreendedores novas formas técnicas e organizacionais, como a
participaram ativamente da construção do sis- informatização e a automação nas atividades agrope-
tema político, econômico, industrial e técnico- cuárias, na indústria e nos serviços. Os atuais tipos de
-científico, gerando empregos e renda ao redor contratação e as políticas trabalhistas conduziram, entre
do mundo. outros aspectos, a um aumento do desemprego e da
Entre as características fundamentais de um precarização das relações de trabalho.
empreendedor, estão a criatividade, a visão de
futuro e a coragem para assumir riscos. SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura
Pretendendo abrir uma microempresa e, portan- O Brasil: território e sociedade no início do século XXI
to, contratar funcionários, o empreendedor anali- 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 220
sa a tabela a seguir. (adaptado)
814-3

52 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL

A implicação das mudanças tecnológicas do O conteúdo da reportagem tem relação com a


mundo do trabalho no Brasil, sugerida no texto, questão do trabalho no mundo contemporâneo e:
está identificada na alternativa: a) ocorre apenas em países subdesenvolvidos, fato que
a) A redução dos postos de trabalho nas atividades justifica a opção de instalação da empresa mencio-
agropecuárias e industriais foi compensada pelo nada no Brasil.
investimento dos setores público e privado em postos b) caracteriza a exploração de trabalhadores em con-
de trabalho nos grandes centros urbanos. dições desumanas, seja em países ricos ou pobres,
b) As ampliações das necessidades produtivas, sobretu- no que se convencionou chamar de “precarização
do a partir da revolução das telecomunicações, têm do trabalho”.
contribuído para o aumento do desemprego no setor c) tem-se tornado cada vez menos frequente, pois o
informal da economia. processo de globalização tem permitido o combate
c) As novas formas de contratação de trabalho, princi- desse fenômeno em todos os países do mundo.
palmente a terceirização, são um dos indicadores de d) não ocorre na Europa e na América do Norte, regiões
que as relações de emprego se tornaram precárias, onde os imigrantes são tratados segundo o respei-
o que foi acompanhado da redução da renda do tra- to às leis trabalhistas, em países cujos governos
balhador brasileiro. igualam o tratamento entre trabalhadores nativos
d) A crescente diversificação das profissões atende às e estrangeiros.
novas necessidades produtivas do mercado, no en- e) envolve apenas trabalhadores estrangeiros em áreas
tanto, é responsável pelo crescimento do desemprego urbanas do Brasil, não se verificando condições desse
no setor de serviços e na economia informal do país. tipo de superexploração do trabalho nas áreas rurais.
e) O crescimento e a distribuição dos polos regionais de
informática pelo território nacional foram responsáveis
pela redução dos subempregos, na medida em que se 6. (Unicamp)
absorveram os desempregados do mercado formal.
O Brasil experimentou, na segunda metade do sé-
culo XX, uma das mais rápidas transições urbanas da
5. (Mackenzie) história mundial. Ela transformou rapidamente um país
rural e agrícola em um país urbano e metropolitano, no
Flagrantes mostram roupas da Zara sendo qual grande parte da população passou a morar em
fabricadas por escravos cidades grandes. Hoje, quase dois quintos da população
total residem numa cidade de pelo menos um milhão
O quadro encontrado pelos agentes do poder de habitantes.
público e acompanhado pelo Repórter Brasil incluía
contratações completamente ilegais, trabalho infantil, MARTINE, George; McGRANAHAN, Gordon
condições degradantes, jornadas exaustivas de até 16 A transição urbana brasileira: trajetória, dificuldades
horas diárias e cerceamento de liberdade (seja pela e lições aprendidas. In: BAENINGER, Rosana (Org.)
cobrança e desconto irregular de dívidas dos salários, População e cidades: subsídios para o planejamento e
o truck system, seja pela proibição de deixar o local para as políticas sociais
de trabalho sem prévia autorização). Apesar do cli- Campinas: Nepo/Brasília: UNFPA, 2010. p. 11
ma de medo entre as vítimas, um dos trabalhadores (adaptado)
explorados confirmou que só conseguia sair da casa
com a autorização do dono da oficina, só concedida Considerando o trecho acima, assinale a alter-
em casos urgentes, como quando levou seu filho ao nativa correta.
médico [...]. a) A partir de 1930, a ocupação das fronteiras agrícolas
As vítimas libertadas pela fiscalização foram alicia- (na Amazônia, no Centro-Oeste, no Paraná) foi o fator
das na Bolívia e no Peru. [...] Em busca de melhores gerador de deslocamentos de população no Brasil.
condições de vida, deixam seu país rumo ao “sonho b) Uma das características mais marcantes da urbani-
brasileiro”. zação no período ­de 1930-1980 foi a distribuição da
população urbana em cidades de diferentes tama-
814-3

Disponível em: http://noticias.uol.com.br nhos, em especial nas cidades médias.

POLISABER 53
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10

c) Os últimos censos têm mostrado que as grandes 39% dos empreendedores precisariam de impostos
cidades (mais de 500 mil habitantes) têm tido cresci- menores para realizar inovações em seus produtos,
mento relativo mais acelerado em comparação com enquanto 22% necessitam de empréstimos bancários
as médias e as pequenas. para tirar os projetos das gavetas. Ao mesmo tempo,
d) Com a crise de 1929, o Brasil voltou-se para o de- apenas 20% das empresas ouvidas correm atrás de
senvolvimento do mercado interno através de uma cursos e consultorias para se diferenciar da concor-
industrialização por substituição de importações, o rência e 13% das companhias querem mais divulgação
que demandou mão de obra urbana numerosa. dos seus inventos.
Para vencer essas dificuldades, entidades ligadas às
áreas de financiamento, incubação de negócios e de
estímulo a programas de pesquisa arregaçam as man-
RODA DE LEITURA
gas. Até 2012, o Sebrae Nacional pretende aumentar em
30 mil o número de empresas inovadoras no país – o
Eles querem chegar lá dobro do que existe hoje, de acordo com o IBGE. Este
ano, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) vai
A necessidade de inovação fez o administrador Floro oferecer R$ 1,6 bilhão – R$ 700 milhões a mais que
Fagundes e mais quatro sócios desenharem um software em 2009 – para o desenvolvimento de projetos de
que controla a glicemia de pacientes a distância. Casa- inovação, dentro do Programa Inova Brasil, de finan-
do com uma diabética, Fagundes observava a mulher ciamentos reembolsáveis.
e outros portadores da doença usando caderninhos Já os principais fundos de venture capital (ou capital
com anotações e tabelas de cálculos para administrar de risco), concentrados em quatro estados, contam
os índices glicêmicos. “Agora, um programa instalado com pelo menos US$ 1 bilhão em recursos para
no celular se comunica com um prontuário médico apoiar ideias inovadoras que nem sempre saem das
on-line e calcula as quantidades de carboidratos das incubadoras. Segundo a consultoria Ernst & Young,
refeições e as doses prescritas de insulina”, explica. até dezembro, mais de 300 projetos empreendedores
“O médico pode intervir no tratamento do paciente devem nascer nos bancos das escolas de negócios,
em tempo real.” como a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Hoje, o software GlicOnLine é o carro-chefe da No Sebrae, uma das armas para estimular a inovação
Quasar Telemedicina, pequena companhia de sete é o Programa Agentes Locais de Inovação (ALI), que
funcionários criada em 2004 no Centro de Inovação, despacha mais de 800 profissionais para empresas
Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), incubadora em dez estados. Os agentes visitam as companhias
de empresas em São Paulo. A invenção já conta com e produzem um relatório gratuito que identifica difi-
800 pacientes e é usada por 110 médicos. Em 2009, culdades e o que pode ser melhorado no dia a dia do
a companhia faturou R$ 130 mil e quer fechar 2010 negócio. A partir desse diagnóstico, criam um plano
com R$ 600 mil no caixa. “Vamos firmar parcerias com de ação e acompanham a evolução do empreendedor.
operadoras de telefonia móvel e entrar no mercado Até o final de 2010, a iniciativa deve bater na porta de
estadunidense.” 5,1 mil estabelecimentos de 33 setores.
No próximo mês, Fagundes desembarca em São Fran- Para Guilherme Plonski, coordenador do Núcleo de
cisco, na Califórnia, para apresentar a versão em inglês Política e Gestão Tecnológica da Universidade de São
do software para investidores. Mas, para chegar lá, o em- Paulo (USP) e presidente da Associação Nacional das
preendedor precisou driblar obstáculos que costumam Entidades Promotoras de Empreendimentos Inova-
surgir na rota da inovação das pequenas empresas: a dores (Anprotec), o problema da microempresa no
falta de agilidade na oferta de crédito, a dificuldade de Brasil na busca de ações inovadoras não é o fato de
atração de investimentos e a burocracia para registrar ser pequena, mas “de ser sozinha”. “Graças a entida-
novos produtos. “Demorei um ano para obter o registro des como o Sebrae, as MPEs encontram apoio para
de um software que pode salvar vidas”, lembra. compreender e superar os obstáculos à inovação”, diz.
Segundo pesquisa feita pelo Serviço de Apoio às “Mas é preciso aprimorar a coordenação dos esforços
814-3

Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), vindos de diversas iniciativas.” Criada há 22 anos, a

54 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL

Anprotec gerencia mais de 400 hábitats de inovação, com um bom plano de negócios, e as escolas de negó-
como incubadoras e parques tecnológicos, em mais cios costumam concentrar essas garantias.”
de 20 estados. Para se ter uma ideia, só na FGV, que forma anual-
“Os resultados obtidos nesses ambientes, planeja- mente 520 alunos, cerca de 25% dos estudantes que
dos para efetivar processos de inovação de produtos concluíram cursos com disciplinas de empreende-
e negócios, podem transformar cidades e regiões”, dorismo e desenvolvimento de planos de negócios
assinala. Segundo Plonski, em Florianópolis (SC), a tornaram-se empreendedores nos últimos dez anos.
contribuição ao PIB local das empresas de TI geradas No Instituto Endeavor, de capacitação em empreende-
em incubadoras já é o dobro do aporte das compa- dorismo, o número de profissionais inscritos em cursos
nhias do setor turístico – que fez a fama da cidade. A em 2010 saltou para 200, o dobro do ano passado.
capital catarinense tem mais de 500 empresas de base Nas entidades de fomento à inovação, os orçamen-
tecnológica, que faturaram mais de R$ 1 bilhão em 2009 tos já estão definidos para 2010. A Fapesp pilota o
e empregam mais de cinco mil pessoas. Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empre-
No Brasil, segundo o IBGE, as atividades industriais sas (Pipe), que já apoiou, desde 1997, mais de 1,3 mil
com as maiores taxas de inovação incluem os setores projetos de pesquisa em São Paulo. Segundo Carlos
de automóveis, máquinas para escritório e equipamen- Henrique Cruz, diretor científico, em 2010, o programa
tos de informática, equipamentos médico-hospitalares oferece uma verba de R$ 30 milhões, mesmo valor do
e de automação industrial, além de refino de petróleo, ano passado. “Para cada R$ 1 que a Fapesp investiu
material eletrônico, aparelhos de comunicação, produ- em um projeto do Pipe, a empresa beneficiada obteve
tos farmacêuticos, celulose e metalurgia. Para Carlos R$ 11 em faturamento e recursos.”
Alberto Miranda, sócio da Ernst & Young, há nichos que
são obrigados a investir em inovação, como o farma- SARAIVA, Jacilio
Eles querem chegar lá
cêutico, de TI e biotecnologia.”Mas o varejo e o setor
Valor Econômico, São Paulo, 30 abr. 2010
de serviços já aparecem como os novos investidores
Disponível em: http://jporfiro.blogspot.com.br/
do segmento.” 2010_05_01_archive.html
Segundo um estudo inédito realizado pela Ernst & (acesso em: 16 jul. 2014)
Young Brasil com escolas de negócios do país – FGV,
Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa e Fundação
Instituto de Administração (FIA), além do Instituto
Endeavor –, mais de 300 projetos empreendedores em PESQUISAR E LER
áreas como TI, indústria pesada, comércio, serviços e
saúde serão gerados dentro das escolas em 2010. Em
GERAB, William Jorge; ROSSI, Waldemar. Indústria e
três anos, pelo menos cem projetos foram apresen-
trabalho no Brasil: limites e desafios. 8. ed. São Paulo:
tados em rodadas de negócios com a participação
Atual, 2003.
de fundos de investimento venture capital e angel
Livro paradidático que analisa o histórico, a evolução, os
investors (investidores-anjo). Para os especialistas,
avanços tecnológicos e algumas ações do movimento
se há filas de novos empreendedores em busca de
sindical no Brasil.
dinheiro, há também grupos interessados em investir
em ideias inovadoras e rentáveis.
HABERT, Nadine. A década de 70: apogeu e crise da
No Brasil, só em venture capital, segundo levanta- ditadura militar brasileira. 4. ed. São Paulo: Ática, 2006.
mento do professor Cláudio Furtado, do Centro de (Princípios, 222.)
Estudos em Private Equity e Venture Capital, da Eaesp- O livro analisa a repressão e a censura, o “milagre econô-
-FGV, os recursos somam US$ 1,5 bilhão. Reunidos mico”, a megalomania do regime, a transição e a abertura.
principalmente na Bahia, em Santa Catarina, no Rio de
Janeiro e em São Paulo, os investidores-anjo garimpam IGLESIAS, Francisco. A industrialização brasileira. São
empreendimentos inovadores dentro e fora das esco- Paulo: Brasiliense, 1994. (Tudo é História, 98.)
las, com aportes financeiros de R$ 50 mil a R$ 500 mil O livro analisa o processo de industrialização desde o
814-3

por empresa. “Os grupos querem projetos sustentáveis período colonial até o final do século XX.

POLISABER 55
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10

LUCA, Tânia Regina de. Indústria e trabalho na história Ipea


do Brasil. São Paulo: Contexto, 2001. (Repensando a www.ipea.gov.br (acesso em: 16 jul. 2014)
história do Brasil.) O site do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada traz
O livro aborda aspectos da industrialização desde os textos e análises da conjuntura econômica atual.
primórdios, sob a perspectiva do trabalho: imigrantes,
organizações operárias, sindicalização e legislação tra- MDIC
balhista na era Vargas, com JK e na ditadura. www.desenvolvimento.gov.br (acesso em: 16 jul. 2014)
O site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Co-
mércio Exterior fornece dados sobre comércio exterior,
MENDONÇA, Sonia. A industrialização brasileira. 2. ed.
política industrial, desenvolvimento da produção e o
São Paulo: Moderna, 2004. (Polêmica.)
Anuário Estatístico.
Discute o histórico da industrialização brasileira, o papel
do Estado e a internacionalização, entre outros temas.
Banco Central do Brasil
www.bcb.gov.br (acesso em: 16 jul. 2014)
No site do BCB você encontra dados estatísticos sobre
a economia brasileira e mundial.
VER E OUVIR

Mauá, o imperador e o rei


Sérgio Resende. Brasil, 1999. ÁGORA
Filme biográfico sobre o Barão de Mauá, o pioneiro na
industrialização no Brasil, retrata seu enriquecimento, sua
Leia o trecho abaixo, sobre a obra de John Maynard
falência e sua luta para modernizar o país.
Keynes.

Eles não usam black tie Uma característica marcante da crítica de Keynes
Leon Hirszman. Brasil, 1981. ao liberalismo é seu apelo à razão prática. O libera-
Baseado na peça homônima de Giafrancesco Guarnieri, o lismo está errado porque “não funciona”. Poderia até
filme retrata a vida cotidiana de uma família de operários ter sido útil no passado; no mundo do século XX, e
durante uma greve em pleno regime militar, discutindo principalmente com a perda da hegemonia britânica,
as dificuldades e os sonhos em uma fase de grande ex- deixara de sê-lo. Sua existência é questionada tendo
ploração dos trabalhadores no Brasil. como critério a utilidade. Nesse aspecto, lembra o
pragmatismo de William James, pelo menos quando
Coronel Delmiro Gouveia este defende como parâmetro para identificar uma
Geraldo Sarno. Brasil, 1978. verdade o seu valor para a vida concreta, do qual
Filme sobre a luta de um empresário nordestino que resulta, portanto, que não é algo definitivo e imutá-
foi perseguido por se recusar a vender sua fábrica aos vel: “o pragmatismo pega a noção geral de verdade
ingleses, no final do século XIX. como alguma coisa essencialmente ligada à maneira
pela qual um momento em nossa experiência pode
levar-nos a outros momentos aos quais valerá a pena
ser levado” (James, 1979, p. 73). Assim, verdades que
NAVEGAR
haviam encantado gerações de economistas e conquis-
tado políticos, empresários e tornado-se senso comum
FGV-CPDOC ao conquistar os não especialistas – “oferta de moeda
www.cpdoc.fgv.br (acesso: 16 jul. 2014) causa inflação”, “o mercado tende ao autoequilíbrio”,
No portal da Fundação Getúlio Vargas/Centro de Pesquisa “o Estado deve restringir-se à segurança e justiça”, “a
e Documentação de História Contemporânea do Brasil, poupança favorece o crescimento econômico”, “o juro
há vasta documentação sobre economia, política, cultura é a remuneração pelo sacrifício da abstinência” – são
e outros assuntos relativos à historia do Brasil. postas em questão pela experiência. Keynes rejeita,
814-3

56 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL

portanto, argumentos dedutivos, apriorísticos ou ex-


plicitamente valorativos ao arquitetar sua construção
teórica, cujo desaguadouro consiste na rejeição dos
princípios liberais.

FONSECA, Pedro Cezar Dutra


Keynes: o liberalismo econômico como mito
Economia e Sociedade, Campinas, v. 19, n. 3, dez. 2010
Disponível em: http://scielo.br/scielo.php?pid
=S0104-06182010000300001&
script=sci_arttext. (acesso em: 16 jul. 2014)

Um debate ainda bastante polêmico é sobre papel e o


grau de intervenção que o Estado deve ter na economia.
Converse com seus colegas e discuta esse tema a partir
da visão de Keynes.

S E N H A
Indústria e cidade: um
casamento perfeito.
814-3

POLISABER 57
GABARITO:
GABARITO aulas 8 GEOGRAFIA
a 10 DO BRASIL − AULAS 8 A 10

Aula 8 espaço geográfico e em dado ano. O número obtido é uma


sugestão do que pode ter acontecido de modo geral com
a população, aparecendo estatisticamente como um dado
Estudo orientado
positivo. Os dados estatísticos socioeconômicos devem
orientar políticas públicas, planejamento ou gestão e
1.
também servir como critério de avaliação de programas
a) A cidade de São Paulo passou por vertiginoso
crescimento populacional a partir do processo de in- sociais em saúde, previdência ou educação. Vale lembrar
dustrialização, que, muito embora iniciado em fins do que metodologias e formas de coleta de dados influem
século XIX, se acentua a partir da década de 1940. Foi nos resultados das pesquisas.
uma fase de produção industrial caracterizada pelo uso São falsas as alternativas:
intensivo de mão de obra, o que, associado à diversifica- a – porque dados estatísticos são fundamentais para
ção de unidades de produção, acabou criando demanda a elaboração de políticas sócias.
de pessoal com aumento nas taxas de crescimento da b – porque indicadores demográficos consideram
população urbana. O processo de urbanização acabou condições ambientais.
gerando várias formas de serviços e oportunidades na d – porque não se fazem pesquisas socioeconômicas
construção civil e na expansão do equipamento urbano, com esse fim.
favorecendo movimentos migratórios que aumentaram
e – porque tem potencial para aumentar a mobiliza-
ainda mais os índices de crescimento urbano.
ção social contra problemas de saúde.
b) A partir da década de 1980, é notável uma de-
saceleração no ritmo do crescimento populacional do
3. d
município de São Paulo, por motivos como:
O crescimento populacional é um dos temas que
I. Saturação da malha urbana, com infraestrutura
sobrecarregada, não conseguindo acompanhar o está no centro das discussões mundiais sobre o futuro
crescimento populacional, o que leva alguns con- do planeta. Apesar de terem diminuído as médias de
tingentes migratórios a mudar a utopia, dirigindo- crescimento populacional em lugares como a África,
-se para outros lugares do entorno metropolitano; alguns países ainda apresentam altas taxas de cresci-
II. Alta do custo de vida na cidade. A demanda por mento. As migrações também afetam as populações em
moradia e produtos e serviços variados acaba várias partes do mundo. Áreas socioeconomicamente
pressionando os preços; favoráveis, com melhor qualidade de vida como alguns
III. O sistema de produção das indústrias passa por países da Europa ocidental, atraem grandes contingentes
mudanças significativas: por exemplo, a auto- de migrantes em busca de melhores condições de vida.
mação, que acarreta dispensa de mão de obra. A afirmativa I é falsa: o clérigo e demógrafo Thomas
A malha urbana saturada e congestionada acaba
Malthus viveu no século XVIII e propôs o controle da
encarecendo os custos operacionais, o que leva
natalidade pela sujeição moral.
o setor a um gradual mas inexorável processo de
descentralização, estimulado por ações gover-
4.
namentais e seguindo os eixos rodoviários em
a) Entre 1965 e 1970, há regiões africanas e asiáticas
direção ao interior do estado;
IV. Queda da taxa de natalidade, seguindo tendência abaixo da média mundial; entre 1995 e 2000, apenas a
observada na população brasileira, o que reduz África está nessa situação. Nos períodos de 1995 a 1970
o crescimento vegetativo. Esse fato é mais sen- e de 1995 a 2000, observa-se um melhor desempenho
tido em áreas urbanas, como é o caso da capital da Ásia.
paulista. b) Entre os períodos de 1965 a 1970 e 1995 a 2000,
houve melhoras significativas nas condições de sanea-
2. c mento básico, mais acesso à educação, melhores condi-
A expectativa de vida ao nascer, ou esperança de ções de alimentação, mais disseminação de vacinas, mais
vida ao nascer, é o número médio de anos de vida que acesso à saúde, urbanização e relativo aumento da renda
se espera para um recém-nascido dentro do padrão de em escala global, embora tudo isso esteja acontecendo
814-3

mortalidade da população residente em determinado em condições desiguais.

58 POLISABER
aulas 8 a 10 GABARITO

Aula 9 influência de diversas culturas: indígenas, europeias e


africanas, por exemplo. A questão deu o exemplo do
tacacá, muito comum no Norte do país e com fortes
Estudo orientado traços indígenas.
[da perspectiva da Geografia]: Como mencionado
1. e corretamente na alternativa a, a receita da culinária
O item incorreto é o I, visto que o Centro-Oeste a paraense mescla a tradição local dos indígenas (como o
e Amazônia são regiões de atração populacional nas tucupi, que é a água extraída da mandioca) com criações
últimas décadas, devido ao avanço da fronteira agropecu- europeias e africanas e ingredientes trazidos por imi-
ária e à disponibilidade de terras a baixo custo, atraindo grantes japoneses, libaneses, italianos e nordestinos que
imigrantes sobretudo sulistas e nordestinos. migraram para a região na época do ciclo da borracha.
Note que a questão não apresenta dados migratórios Estão incorretas as demais alternativas porque a receita
recentes do Censo de 2010, pois a fonte é de 2004, a de tacacá exprime a interação cultural.
exemplo do item IV.

2. a
Como mencionado corretamente na alternativa a, a Aula 10
tensão social envolvendo indígenas resulta do processo
de ocupação de áreas indígenas em decorrência do
avanço das frentes agrícolas, da instalação de usinas Estudo orientado
hidrelétricas, da mineração e do desmatamento ilegal.
Estão incorretas as alternativas b, d e e, porque a 1. b
reforma agrária, a agricultura familiar e a mecanização Como menciona corretamente a alternativa b, o
do campo não são causas da tensão com indígenas, e c, Brasil, o México e a Argentina são países considerados
porque a demarcação das terras indígenas está prevista subdesenvolvidos industrializados ou emergentes e, por-
na Constituição de 1988. tanto, embora tenham consolidado seu processo manufa-
tureiro a partir da década de 1950, seguem dependendo
3. c financeira e tecnologicamente de países desenvolvidos.
Como mencionado corretamente na alternativa c, a Estão incorretas as alternativas:
migração inter-regional, especialmente a dos retirantes a – porque os países citados não detêm alto nível
nordestinos, está associada à disparidade socioeconô- tecnológico;
mica entre as regiões brasileiras. c – porque o capital do sistema produtivo é trans-
Estão incorretas as alternativas: nacional;
a) porque a causa da migração nordestina é a situa- d – porque a produção industrial é predominante-
ção de precariedade do sertão nordestino; mente transnacional;
b) porque a área de repulsão populacional do Nor- e – porque é dependente de capital e tecnologia
deste não se caracteriza por concentração industrial; estrangeiros.
d) porque o retirante está associado às áreas do
sertão e, portanto, rurais. 2. A desconcentração industrial começou no Brasil
em meados da década de 1970. No mapa, vê-se
4. c a expansão industrial rumo ao Vale do Paraíba, à
Como mencionado corretamente na alternativa c, o Baixada Santista e ao Oeste Paulista, entre 1975
mapa indica o aumento da migração de retorno, ou seja, e 1986. O processo se acelerou sensivelmente a
a volta dos migrantes do Sudeste para o Nordeste. Estão partir da década de 1990, entre outras razões, pela
incorretas as outras alternativas porque não correspon- deseconomia de aglomeração na Região Metropo-
dem ao fenômeno indicado no mapa. litana de São Paulo (alto custo com tributos, mão
de obra, valor dos terrenos e congestionamentos) e
5. a pelas vantagens oferecidas por municípios do inte-
[da perspectiva da Sociologia]: A alternativa a é a rior (redução de impostos, facilidade de transportes
única plausível. Muitos dos pratos típicos do Brasil têm
814-3

como o rodoviário, salários mais baixos e doação

POLISABER 59
GABARITO aulas 8 a 10

de terrenos). Com a retração da indústria e a perda e – porque as áreas rurais também adotam trabalho
de empregos industriais, a metrópole tornou-se um escravo, como as carvoarias do Centro-Oeste brasileiro.
centro predominantemente terciário.
6. d
3. c
Até a década de 1930 a economia brasileira era agro-
Os maiores investimentos e a dinâmica econômica
exportadora. A crise de 1929 enfraqueceu a exportação
das regiões Sul e Sudeste indicam que os investimentos
de café e encareceu os produtos importados, consolidan-
em educação são desiguais no país.
do o processo, em curso desde o início do século XX, de
Estão incorretas as alternativas:
industrialização substitutiva das importações. Foi a partir
a – porque não é fácil recrutar recursos humanos de
da industrialização, estimulada pelo Estado ditatorial
qualidade ou obter recursos para pesquisa.
varguista, que surgiram grandes cidades (São Paulo e Rio
b – porque as indústrias de ponta demandam mão
de Janeiro). Esses centros urbanos se converteram em
de obra especializada.
mercado consumidor, gerando condições para a acelera-
d – porque a mão de obra da região Sul é mais bem
ção do processo de urbanização. A alternativa c menciona
qualificada.
uma característica da atual urbanização brasileira.
e – porque a qualificação dos recursos humanos é
imprescindível para o crescimento econômico.

4. c
Uma das características da Terceira Revolução
Industrial é a flexibilização da produção por meio da
terceirização, eliminando o contingente de operários nas
fábricas e em outras unidades de produção econômica.
Estão incorretas as alternativas:
a – porque não se desenvolveram setores produtivos
capazes de absorver a mão de obra excedente, não tendo,
assim, havido a compensação citada.
b – porque o aumento do desemprego resultou da
automação dos setores produtivos.
d – porque a diversificação das profissões atende à
demanda do mercado, mas não é a causa do desempre-
go estrutural citado no texto, que se deve à automação
dos setores.
e – porque os tecnopolos reduzem a demanda do
emprego formal e, portanto, estimulam o subemprego.

5. b
A relação de escravidão ou semiescravidão resulta
da precarização do trabalho.
Estão incorretas as alternativas:
a – porque também em países desenvolvidos pode-se
degradar a condição do trabalhador à semiescravidão, e
esse não é o fator determinante para a implantação de
indústrias no país.
c – porque a precarização do trabalho tem sido mais
frequente com a globalização, haja vista a adoção do
processo de terceirização e a busca de competitividade
das empresas.
d – porque os trabalhadores imigrantes são subme-
tidos a relações de trabalho degradantes também em
814-3

países europeus e nos EUA.

60 POLISABER
GABARITO – GEOGRAFIA DO BRASIL – CADERNO 3

Aula 8 Aula 9

EXERCÍCIOS EXERCÍCIOS

1. a 1. a
O maior número de idosos não favorece a sustenta- A publicação mostra a migração de europeus para
bilidade da previdência. A redução de investimentos o Brasil, pessoas que trabalhariam na cafeicultura,
na infância não garante que maiores recursos sejam sobretudo em São Paulo, substituindo a mão de
aplicados em benefício da população idosa. obra escrava.

2. e 2. e
Nascem mais homens, mas a população feminina é O dobramento atlântico envolve a região do vale do
mais numerosa. Isso ocorre porque a mortalidade de Ribeira, no estado de São Paulo, área de significativa
jovens e adultos do sexo masculino é maior, sobretu- ocupação quilombola.
do por causa da violência, exigindo, principalmente,
políticas de redução desta.
3. Maiores fluxos de haitianos foram registrados a
partir do ano de 2010, ocasião da ocorrência de
3. O gráfico mostra que, entre 2000 e 2010, ocorreu
um grande terremoto no país, agravando ainda
um aumento do trabalho formal no Brasil, aquele
mais as precárias condições sociais no Haiti. Ao
que fornece benefícios sociais provenientes da car-
mesmo tempo, o Brasil passou por certa prosperi-
teira de trabalho assinada. Para os trabalhadores,
dade econômica, fato que serviu para atrair esses
alguns benefícios são: 13o salário, férias remune-
imigrantes haitianos para o território brasileiro.
radas e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
A diferença é que os haitianos seguiram para o
O governo se beneficia com maior arrecadação de
Brasil por questões econômicas, enquanto grande
impostos e aumento nas contribuições previdenciá-
parte dos imigrantes do século XX pelo mundo
rias, reduzindo o déficit na previdência.
teve, além de motivações econômicas, motivos
políticos e étnico-religiosos.
4. I e II. Corretas. A população brasileira se distribui
irregularmente pelo território, e o Nordeste é a se-
gunda mais populosa, mas, em razão de sua grande 4. e
área, é pouco povoada. A figura mostra fluxos migratórios em direção às
III. Incorreta. O processo de industrialização no Sudeste regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, em razão
serviu, entre outros fatores, para atrair imigrantes de ou- do aparecimento de novas fronteiras agropecuárias
tras regiões, provocando um incremento populacional. nessas regiões.

5. a) Esse período denominado “janela demográfica” é 5. e


caracterizado pela redução significativa das taxas de A tabela mostra grande número de assassinatos de
natalidade e fecundidade, com diminuição do núme- indígenas no estado de Mato Grosso do Sul, por causa
ro de jovens. O número de adultos no percentual da da disputa por terras, intensificada pela expansão de
população se torna maior, elevando o percentual de fronteiras agropecuárias.
pessoas que trabalham e geram renda (PEA).
b) O gráfico mostra um número bastante significa- 6. b
tivo de idosos em 2050. O governo deve aumen- A figura mostra uma interação, e não uma segrega-
tar os recursos destinados à saúde pública e ção, de grupos étnicos, em três gerações de uma
criar políticas de amparo aos idosos, garantindo família, justificando-se uma política de branquea-
a qualidade de vida dessa faixa etária. mento da população.

POLISABER 61
GEOGRAFIA DO BRASIL gabarito

Aula 10 3. b
A partir de 1990 ocorreu um processo de descen-
EXERCÍCIOS tralização da atividade industrial no estado de São
Paulo, quando empresas passaram a buscar cidades
1. b do interior para fabricar seus produtos com custos
A energia elétrica é fundamental para a instalação menores, melhorando sua competitividade.
de parques industriais. No Brasil essa energia pas-
sou a ser gerada por hidrelétricas, que tiveram suas
4. d
construções incentivadas pelo Plano de Metas do
Para receber investimentos industriais de países
governo de Juscelino Kubitschek.
desenvolvidos, o governo brasileiro esforçou-se em
criar empresas estatais de transportes, energia e
2. a) 
“Guerra fiscal” é uma expressão utilizada para
comunicações.
explicar a competição feita entre estados da Fe-
deração e municípios para atrair empresas de
diversos ramos, inclusive industriais. São ofereci- 5. a
das vantagens como incentivos fiscais, doação de Corporações transnacionais como a Ford passaram
terrenos, mão de obra barata, entre outras. nas últimas décadas por um processo de descen-
b) Além do estado de São Paulo, existem no Brasil tralização, desenvolvendo pesquisas e tecnologias
indústrias automobilísticas na Bahia, Paraná e Rio em diversos países, levando a produção de veículos
Grande do Sul. para o mercado global.

62 POLISABER
814-4 EDU LYRA/PULSAR IMAGENS

GEOGRAFIA DO BRASIL 4
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 11
EDU LYRA/PULSAR IMAGENS

Calculou-se que o homem antes da domesticação


do fogo consumia, per capita e por dia, 2 000 kcal
(quilocaloria: unidade energética).
Daniel Vidart. Filosofía ambiental, epistemología, praxiología, didáctica, 1986.

As fontes de energia e o Ao longo de sua história no planeta, o ser humano de-


senvolveu a habilidade de capturar e transformar a energia
sistema técnico energético natural em seu benefício, desenvolvendo técnicas cada
brasileiro vez mais sofisticadas e complexas, principalmente após a
Revolução Industrial, quando a produção material se mul-
Calculou-se que o homem antes da domesticação do tiplicou muito e, portanto, o consumo de energia também.
fogo consumia, per capita e por dia, 2 000 kcal (quiloca- O consumo de energia é um dos pontos cruciais no
loria: unidade energética). Esse consumo aumenta para processo de desenvolvimento das sociedades e sempre
4 000 kcal quando, a partir do Sinanthropus pekinensis, esteve relacionado aos avanços econômicos e tecnológi-
há meio milhão de anos, se incorporou o fogo à vida hu- cos. Hoje, seu consumo per capita é inclusive instrumento
mana; passa a 12 000 kcal nas sociedades agropastoris de avaliação das desigualdades entre os países. Por
primitivas; chega a 24 000 kcal nas sociedades agríco- exemplo, sabemos que o consumo diário de um esta-
las hidráulicas – Egito, Mesopotâmia, Punjab, China, dunidense equivale ao de dois alemães, três japoneses,
altiplanos andinos – civilização Inca – e outras; salta a nove mexicanos, 53 indianos, 430 africanos ou 1 072 ne-
70 000 kcal nas sociedades industriais da baixa tecnolo- paleses, revelando uma enorme disparidade entre o sul
gia na Europa de meados do século XIX; e, finalmente, rico e o norte pobre. Os recursos energéticos são cada
nas sociedades industriais avançadas dos nossos dias – vez mais requisitados pelas sociedades, em virtude da
a dos EUA, por exemplo – alcança a fantástica cifra de ampliação das atividades econômicas, da necessidade
230 000 kcal. de mobilidade de pessoas e mercadorias, dos processos
de disseminação de informação e das telecomunicações
e do incremento do uso de combustíveis e energia elé-
trica pelos cidadãos em suas atividades cotidianas. Mas
As fontes de energia essa quantidade de energia não está pronta para uso
nem igualmente disponível no espaço; as sociedades é
Há na Terra muitas forças naturais responsáveis pelas que precisam construir sistemas técnicos energéticos
transformações no universo físico. Essas forças provêm que se sobreponham aos sistemas naturais, formando
da matéria existente no planeta e podem também gerar um verdadeiro “motor territorial”, que move os outros
matéria. Energia e matéria são elementos permutáveis sistemas (transportes, comunicações etc.).
que se apresentam de diferentes formas no mundo natu- Para compreender o sistema energético brasileiro,
ral: a radiação solar é a fonte geradora da maior parte da partiremos do conceito de matriz energética, que é o con-
energia no planeta, além do calor proveniente do interior junto de fontes primárias (naturais) de energia utilizadas
da Terra, da energia gravitacional do movimento das por um país e que podem ser divididas em renováveis,
marés e do núcleo do átomo de alguns minerais. A partir que a natureza repõe na escala de tempo humana, como
destas e por transformações naturais ou produzidas pelos a hidráulica ou a lenha, e em não renováveis, cujo tempo
homens, a energia pode ser retirada na forma de materiais de renovação é o da escala geológica (milhões de anos),
combustíveis (petróleo, carvão mineral e vegetal, lenha, como o petróleo e o carvão mineral. A partir dessas fon-
814-4

0016

álcool etc.) e na força das águas. tes primárias, as sociedades produzem as secundárias:

2 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

a energia elétrica, a gasolina, o coque siderúrgico etc. No Brasil, as fontes renováveis representam 45,4% do total de
energia consumida, um número sensivelmente superior à média mundial, que é de 12,9%. Para muitos, trata-se de uma
vantagem para o país, mas é uma vantagem relativa, pois o aproveitamento dessas fontes tem impactos nos ambientes
naturais: o desmatamento para a obtenção de lenha ou a produção de carvão vegetal e inundações provocadas pelos
lagos das hidrelétricas, entre outros.
Uma análise do sistema energético brasileiro requer que localizemos as fontes naturais de energia (primárias), que
são fixas no território (um rio, por exemplo), e as fontes secundárias, que são criadas pelo homem (uma refinaria de
petróleo). Verifiquemos como se estrutura a rede energética que distribui para os consumidores a energia produzida,
que mudanças se produzem no ambiente pela exploração das fontes e pela intensificação de seu uso e quais são a
eficiência e a racionalidade do sistema para que haja avanço socioeconômico.
Na fase do meio natural (ver caderno 1), o consumo de energia no território brasileiro era pequeno, e ela provinha da
força muscular dos escravos, da tração animal e da lenha. Durante a expansão da economia cafeeira e a construção das
ferrovias o carvão mineral importado foi utilizado e, com as primeiras indústrias, seu uso se ampliou nas usinas termelétri-
cas. Com o incremento da industrialização a partir de 1930, construíram-se as primeiras hidrelétricas e aumentou o uso do
petróleo. Desde o fim da Segunda Guerra e mais intensamente nos últimos 50 anos, a matriz energética brasileira passou
por grandes mudanças, que revelam a transformação do Brasil em meio técnico-científico-informacional, com a substituição
do uso direto de energia primária (natural) para o uso de energia secundária ou artificialmente produzida pelo ser humano.

Brasil: oferta interna de energia (1940-2013)

106 tep
outras
300 produtos
da cana
250
hidráulica
200 carvão
mineral
150

100 lenha
petróleo, gás e derivados Observe como a oferta interna de
50
energia aumentou ao longo dos anos.
0 Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa
de Pesquisa Energética (EPE). Balanço energético
1940

1955

1970

1985

2000

2003

2006

2009

2012

nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE,


2014. p. 36.

Brasil: consumo de energia por fonte (1970-2013)


%
100%
outras
90%
80%
70%
60% derivados de petróleo

50%
40% álcool
30%
eletricidade Apesar do consumo de energia por
20%
ILUSTRAÇÕES: AVITS

derivados de petróleo ter diminuído,


10% lenha bagaço de cana essa fonte ainda é a principal no Brasil.
0 Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa
de Pesquisa Energética (EPE). Balanço energético
814-4
1990
1970

1975

1980

1985

1995

2000

2005

2010

nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE,


2014. p. 27.

POLISABER 3
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

Brasil: consumo de energia por setor (2013)


público 1,5%
comercial 3,1%
agropecuário 4,1%
outros 6,3% 32% transportes

residencial 9,1%

setor energético 10%

33,9% industrial

AVITS
O setor que mais consome energia é o industrial, seguido pelo de transportes.
Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Balanço energético nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE, 2014. p. 29.

Outra mudança importante é que o Brasil vem reduzindo seu consumo de energia importada, sobretudo a partir da
década de 1980, e, hoje, só aproximadamente 10% da energia total consumida são importados. Destaque para o gás
natural importado da Bolívia e a energia elétrica do Paraguai, sócio do Brasil na usina de Itaipu.

 etróleo, gás natural e carvão


P A produção aumentou em uma área dentro da Bacia de
mineral Campos, a aproximadamente 100 mil km2 da plataforma
continuental em alto-mar no litoral norte do Rio de Janeiro
A exploração de petróleo no Brasil remonta à década e a 800 m de profundidade. Em 2006, o Brasil (alcançou
de 1930, quando em Lobato, bairro de Salvador (BA), foi a autossuficiência. Apesar disso, o país ainda importa
perfurado o primeiro poço do país, no contexto de cresci- petróleo de boa qualidade e, em pequena quantidade,
mento do interesse internacional por esse recurso. Diante alguns derivados que não são produzidos internamente.
de tal descoberta, o governo brasileiro criou o Conselho Ainda assim, a produção nacional chegou a quase 2 mi-
Nacional do Petróleo (CNP) para planejar, organizar e lhões de barris/dia até meados de 2014.
fiscalizar as atividades petrolíferas ante a possibilidade
de empresas estrangeiras o fazerem.
Brasil: consumo e produção de
A Petrobras seria constituída um pouco mais tarde,
petróleo (1975-2013)
em 1953, fruto de um amplo movimento social protago-
nizado por intelectuais, políticos, artistas, trabalhadores
103 m3
e estudantes conhecido como O petróleo é nosso. Esse
120 000
movimento de caráter nacionalista levou o então presi-
100 000
consumo total
dente Getúlio Vargas a decretar a criação da Petrobras e,
80 000
junto com ela, instituir o monopólio estatal da extração,
60 000
do transporte e do refino, que vigorou até 1995.
40 000
Em 1973, em meio à crise do petróleo e com o conse- produção
20 000
AVITS

quente aumento do preço, o governo militar autorizou a


0
participação de empresas privadas na prospecção e na
1975

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

extração, por meio de contratos de risco. Na época, mais


de 80% do petróleo consumido no Brasil eram importa- Hoje, o Brasil consegue suprimir sua demanda interna de
dos, havendo a necessidade de aumentar a produção petróleo.
Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa de Pesquisa Energética
interna. Também se incentivou o uso de eletricidade no
814-4

(EPE). Balanço energético nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE,
lugar do petróleo nas empresas. 2014. p. 44.

4 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

Em 1995, o monopólio da extração, do transporte e do refino foi quebrado por uma revisão constitucional, quando
então empresas privadas estrangeiras ou nacionais poderiam participar das atividades petrolíferas no país. Em 1997,
criou-se a Agência Nacional do Petróleo (ANP), uma autarquia do Ministério de Minas e Energia com atribuição de regular,
contratar e fiscalizar as atividades relativas ao petróleo no Brasil. Desde então, fizeram-se leilões para licitar áreas de
exploração petrolífera, majoritariamente vencidos pela Petrobras, empresa de capital misto mas sob controle estatal.
Inúmeras petroleiras passaram a explorar as reservas de petróleo brasileiras segundo um modelo de concessão, pelo
qual o governo federal, detentor das reservas, oferece o direito de exploração dos campos descobertos a quem lhe
oferecer o maior valor em moeda internacional, deixando nas mãos da empresa ou do consórcio de empresas vencedor
o direito de explorar todo o petróleo ali existente e recebendo apenas os royalties (15%).
A Petrobras tem 11 refinarias em sete estados do Brasil e algumas unidades em outros países como EUA, Japão e
Argentina. Aqui, o sistema técnico de refino e distribuição de petróleo se concentra na região centro-sul, onde o mercado
consumidor é maior devido à maior concentração urbano-industrial.

Brasil: refinarias de petróleo (2009)

RR
AP
EQUADOR

Lubnor
(Fortaleza)
Reman 7
(Manaus)
46
PA MA
AM CE RN

PI PB
PE
10° AC TO AL
RO SE
MT
BA
Revap Riam
(São José dos Campos) DF
(São Francisco do Conde)
251 279
MG
GO
Regap
Replan
(Betim)
(Paulínia)
MS 151 20°
365
ES
Reduc
SP (Duque de Caxias)
Recap RJ
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ 242
(Mauá)
53 Manguinhos (RJ)
PR 15
Repar
(Araucária) Rbpc
189 SC (Cubatão)
170
313 km
RS
refinarias da Petrobrás Refap
RIo Grande
refinarias particulares (Canoas)
9,3
46 capacidade instalada (mil barris/dia) 189
AVITS

70° 60° 50° 40°

A maioria das refinarias se encontra na região Sudeste.


814-4

Petrobras. Principais operações. Disponível em: www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/principais-operacoes (acesso em: 24 ago. 2014)

POLISABER 5
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

Brasil: participação na produção de Brasil: localização do pré-sal


petróleo por estado (2013)
80%
ES
20°

72%
70% MG

60%
RJ
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

50%

m
SP

0k
80
40% PR

20
0k
m
30%
SC
Área de
190 km
20% exploração do pré-sal
15% 40°

Petrobras. Disponível em: www.petrobras.com.br (acesso em: 24 ago. 2014)


10%
3,5% 3,0% 2,2%
2,0% 2,3% 2,3% 2,3% 2,3%
0 Perfil de exploração do pré-sal
e
iro

as

s
o

oa
ar
hi
rt

ip
nt

ul


on
ne

No

Ba

rg
Pa

Ce
Sa

ag
an
az
Se
Ja

Al
o

ar
do
o

Am

rit
de

M
de

o

Es

an

plataforma
Ri

Gr
o
Ri

Os maiores produtores estão localizados na região cabos de


ancoragem
Sudeste.
Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa de Pesquisa Energética
risers
(EPE). Balanço energético nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE,
2014. p. 144. lâmina d’água
até 2 mil
metros
Em meados de 2008, a Petrobras anunciou oficialmente árvore
de natal
a descoberta de reservas gigantescas de petróleo nas
camadas mais profundas da plataforma continental
pós-sal
brasileira, numa faixa de terra com 800 quilômetros 2 mil até
de extensão e 200 quilômetros de largura, que vai do 3 mil metros

Espírito Santo até Santa Catarina. Esse petróleo está


sete quilômetros abaixo da superfície do mar, sob uma sal paço
camada de sal cristalino de dois ou três quilômetros de 3 mil até
5 mil metros
espessura – daí o nome pré-sal. Essa faixa da plataforma
continental engloba três bacias marinhas: Santos, Cam-
pos e Espírito Santo. pré-sal
Nove áreas do pré-sal já haviam sido leiloadas até então
e serão submetidas ao novo marco regulatório, sendo oito pré-sal
delas da Petrobras e uma sob controle da Exxon Mobil mais de
5 mil metros
Oil (ou simplesmente Esso). Entre essas áreas está o
Campo de Tupi, que tem de cinco a oito bilhões de barris
ILUSTRAÇÕES: AVITS

e que, após o primeiro leilão, ficou sob o controle de um


rocha
consórcio de empresas: BG (25%), Galp Energia (10%) e reservatório
Petrobras (65%). O pico da produção do Campo de Tupi de petróleo

está previsto para 2017. Já o Campo de Libra tem reservas


814-4

de oito a doze bilhões de barris. Petrobras. Disponível em: www.petrobras.com.br (acesso em: 24 ago. 2014)

6 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

No fim de 2009, o governo federal enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei estabelecendo o fim do regime de
concessão na exploração do petróleo brasileiro e a implantação do regime de partilha. Assim, o governo dará o direito
de exploração não a quem lhe pagar mais pela concessão, mas à empresa que oferecer a maior quantidade de óleo à
União, sendo que o mínimo oferecido deve ser 70% do total extraído e, deste percentual, 30% são da Petrobras.
Para gerir todo esse óleo (armazenamento e negociação no mercado), está prevista a criação de uma nova empresa
totalmente estatal. Além disso, a nova lei que estabelece o regime de partilha criou um fundo social onde se depositarão
os recursos oriundos do pré-sal – separados dos outros recursos públicos depositados no Tesouro Nacional –, que, por
determinação constitucional, devem ser aplicados apenas em programas de redução da pobreza, melhorias na educa-
ção, cultura, inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental e saúde. Já os recursos oriundos dos royalties (15%) da
exploração desse óleo devem ser aplicados exclusivamente em educação (75%) e saúde (25%).
Para que a Petrobras possa iniciar imediatamente a exploração desse imenso tesouro escondido no fundo da plata-
forma continental brasileira, a lei prevê também a capitalização prévia da empresa que receberá nos próximos anos o
equivalente a cinco bilhões de barris em recursos oriundos do Tesouro Nacional. Assim, poderá fazer os investimentos
necessários, como desenvolvimento tecnológico, construção de plataformas e navios petroleiros, contratação de mão de
obra qualificada etc. Quanto aos campos que já haviam sido descobertos anteriormente, não serão alteradas as regras,
mantendo-se os contratos firmados em regime de concessão.
A regra atual de pagamento de royalties também foi modificada pelo Congresso Nacional em favor dos estados e mu-
nicípios não produtores, sob o argumento de mais equidade na distribuição dos recursos obtidos a partir da exploração
de uma riqueza que, em tese, pertence a todos os brasileiros (ver quadro a seguir). Os estados e municípios produto-
res que “perderam” receita contestaram a nova regra ao Superior Tribunal Federal (STF), e, enquanto não houver uma
decisão final sobre a constitucionalidade ou não das alterações na distribuição dos royalties, segue valendo a forma
anterior dessa distribuição.

Distribuição dos royalties do petróleo


como era como ficará

União 30% 20%

estados produtores 26,25% 20%

estados não produtores 7% 20%

municípios produtores 26,25% 17% (2014) até 4% (2020)

municípios não produtores 1,75% 20%

Ocorrido em 2013, o leilão do Campo de Libra, na bacia de Campos, foi só o início das disputas que virão pela con-
cessão, sob o regime de partilha, de áreas para exploração de petróleo e gás natural na região brasileira do pré-sal. Ao
final, o governo federal arrecadou duas vezes mais do que já havia sido arrecadado até hoje com leilões de concessão
de exploração, isto é, R$ 15 bilhões, e entregou mais de 1,5 mil quilômetros quadrados para exploração a um consór-
cio de empresas petroleiras liderado pela Petrobras (40%) e composto também pela Shell (20%), pela Total (20%), pela
CNPC (10%) e pela CNOOC (10%).
Assim, de todo o óleo extraído no Campo de Libra, 41% ficarão com a União, 30% com a Petrobras, como prevê a nova
regra da partilha, e 29% com o consórcio vencedor. O que significa que a Petrobras terá 40% de 29%, ou seja, 11,6% de
todo o óleo, mais os 30% que lhe são de direito. Logo, 41,6% do petróleo de Libra ficarão nas mãos da nossa petroleira,
e outros 41% nas mãos da União, restando 17,4% para as outras quatros empresas estrangeiras.
O gás natural foi a fonte primária cuja participação na matriz energética brasileira mais cresceu, tendo triplicado entre
1998 e 2008; o Rio de Janeiro é seu maior produtor, e parte foi importada da Bolívia. Esse aumento se deve à substituição
de derivados de petróleo como o GLP (gás liquefeito de petróleo, ou gás de cozinha), o óleo combustível da indústria,
o óleo diesel e a gasolina nos transportes. Além disso, o gás natural vem sendo usado para gerar energia elétrica em
814-4

usinas termelétricas.

POLISABER 7
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

Brasil: estrutura de produção e movimentação do gás natural (2007)

RR
AP
EQUADOR

PA MA CE
AM RN

PI PB
PE
AC AL
10°
TO SE
RO MT
BA

DF

GO
MG
MS
ES
20°

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
SP RJ

PR

SC
fluxos (operação)
294 km
fluxos (planejamento) RS
gasodutos em construção
gasodutos em operação

UPGNs

AVITS
70° 60° 50° 40°

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: Aneel, 2008. p. 97.

O carvão mineral provém do soterramento de florestas em ambientes pantanosos há milhões de anos, e sua qualidade
é tanto melhor quanto maior for seu teor de carbono, relacionado ao tempo de soterramento. No Brasil, as jazidas de
Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, que são as exploradas economicamente, têm um carvão de baixa qualidade,
com baixo teor de carbono e grande quantidade de enxofre e cinzas, o que prejudica seu poder calorífico. Portanto, do
carvão nacional, não é possível obter o coque siderúrgico, usado nos altos fornos para a fabricação de aço. Esse coque
é totalmente importado, e o carvão nacional é usado na à produção elétrica nas usinas térmicas do sul do país e nas
indústrias de celulose, cerâmica, cimento e carboquímicas. Dois terços do carvão utilizado no Brasil são importados;
da produção nacional, um terço vai para a produção termelétrica e o restante para a indústria, especialmente o carvão
das jazidas de Santa Catarina.
814-4

8 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

Brasil: localização do carvão mineral da energia produzida. Em 1964, criou-se a Eletrobras,


holding estatal de energia elétrica que obtinha recur-
sos para as grandes obras de hidrelétricas das tarifas
cobradas dos consumidores, dos impostos recolhidos
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO São Paulo
pelo Estado e de empréstimos de instituições financeiras
PR
internacionais que elevaram a dívida externa do país.
Ponta Grossa Nos anos 1970, em função da crise do petróleo, a energia
Curitiba
Mafra hidráulica se tornou uma alternativa, e a política gover-
namental estabeleceu como prioridade a construção
Taió Rio do Sul
SC Florianópolis de grandes usinas, com grandes represamentos de rios,
Lages pois não se exigia que os projetos fossem aprovados por
Siderópolis Lauro Müller órgãos ambientais. Obras como as das usinas de Itaipu
RS Criciúma
(rio Paraná), Tucuruí (rio Tocantins), Balbina (rio Uatumã)
São Jerônimo Charqueadas 30°
e Sobradinho (rio São Francisco) têm aspectos técnicos
Butia Porto Alegre questionáveis; por exemplo, o tamanho exagerado do
Bajé
Hulha Negra lago formado, que causou danos ambientais e sociais
Candiota
irreversíveis como a extinção de espécies vegetais e
animais, a inundação de sítios arqueológicos, a mudan-
cinturão carbonífero 152 km ça da dinâmica de erosão e sedimentação do rio e o
AVITS

50°

deslocamento de populações ribeirinhas, quilombolas e


Cinturão carbonífero no Sul do Brasil
indígenas. No caso de Balbina, os prejuízos foram ainda
BATISTA, M. B. Conjuntura do carvão nacional. In Brasil potência.
maiores, porque ela foi construída num trecho plano do
rio Uatumã, formando um lago equivalente ao de Tucuruí,
mas gerando 17 vezes menos energia e abastecendo
Hidrelétricas apenas 50% das necessidades de Manaus.
Em 1995, o governo federal iniciou um programa de
A fonte hidrelétrica corresponde a mais de 70% da privatização das estatais controladas pela Eletrobras.
geração de energia elétrica no Brasil. É também a maior Desde então, as empresas de energia elétrica que fo-
capacidade instalada de produção energética. Com uma
ram privatizadas e algumas estatais que restaram são
vasta rede de rios de planalto e uma boa vazão ao longo
as responsáveis pela atuação nos setores de geração,
de todo o ano, o potencial hidrelétrico supera os 260 mil
transmissão e distribuição de energia. Essas empresas
MW e tem 30% de utilização. A bacia do rio Paraná tem a
são reguladas e fiscalizadas pela Agência Nacional de
maior utilização do potencial: mais de 70%. Ali fica a usina
Energia Elétrica (Aneel), criada em 1996.
de Itaipu, um projeto binacional entre os governos do
Em 2001, o Brasil viveu uma crise energética em razão
Brasil e do Paraguai e outras grandes usinas distribuídas
da falta de investimentos na geração de energia elétri-
pelos afluentes do Paraná, justamente onde a demanda
ca. Após uma sequência de verões menos chuvosos, o
de energia é maior, em virtude da alta industrialização
nível dos reservatórios das usinas do centro-sul do país
e urbanização.
O maior potencial de geração hidrelétrica está na bacia diminuiu, e o governo teve que lançar uma política de
Amazônica, especialmente nos afluentes do rio Amazonas, racionamento de energia pelos consumidores. Outra
onde o aproveitamento é ainda muito baixo (1%). Como evidência da falta de investimentos foi o fato de que
exemplos de futuro aproveitamento, estão as usinas de uma interrupção de energia que atingiu toda a região
médio porte de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, em Sudeste e partes do Centro-Oeste e do Nordeste poderia
fase de construção, e a usina de Belo Monte, no rio Xingu, ter sido evitada se as linhas de transmissão estivessem
de grande porte, também em construção, que terá cerca interligadas às regiões Norte e Sul, cujas usinas pode-
de dois terços da capacidade geradora de Itaipu. riam ter suprido a falta e evitado o “apagão”. Após a
O setor hidrelétrico brasileiro foi bastante impulsionado crise, passou-se a investir no setor elétrico construindo
pelo Estado entre os anos de 1950 e 1990, tanto no plane- termelétricas e interligando os sistemas pelo Sistema
814-4

jamento como na construção de usinas e na distribuição Interligado Nacional (SIN).

POLISABER 9
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

Brasil: rede de distribuição da energia elétrica

EQUADOR

10°

20°

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

Linhas elétricas (kW)


existentes
em projeto*
usinas térmicas (diesel,
óleos, carvão e energia nuclear) 292 km
usinas hidráulicas

sistema interconectado
subestação existente
subestação existente
AVITS

70° 60° 50° 40°

* programado até 2009.


Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); Ingeo.

O programa nuclear brasileiro

Em 1969, ainda no início da ditadura civil-militar, o Brasil entrou na era nuclear, quando o governo comprou da empresa
estadunidense W. Westinghouse a usina nuclear de Angra I, com capacidade de produção de 625 MW, o que correspon-
de a 5% de Itaipu. Muito questionado pela comunidade científica, o programa nuclear se fundamentava no argumento
do esgotamento do potencial hidráulico, sem levar em conta o total potencial dessa fonte no país. Instalada a partir
de 1972 em Angra dos Reis (RJ), na praia de Itaorna (“pedra podre”, em Tupi), sobre uma área de falhas geológicas – o
que aumenta o risco de acidentes e vazamento de radiação –, Angra I só funcionou regularmente em 1995, pois sérios
814-4

problemas técnicos interrompiam seu fornecimento de energia e lhe valeram o apelido de “usina vaga-lume”.

10 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

Como o acordo com os EUA não previa a transferência de tecnologia, os militares assinaram em 1975 uma parceria
com a empresa alemã Siemens para a construção de mais oito usinas no país, agora com transferência de tecnologia.
Angra II (1 350 MW) foi inaugurada em 2001 (estava prevista para 1983) e, em 2008, retomou-se a construção de Angra
III (1 350 MW), paralisada por muitos anos, mas com os equipamentos já pagos anteriormente; sua inauguração estava
prevista para 2014. Bilhões de dólares foram gastos, mas essas usinas representam apenas 2% da geração de energia
elétrica no país, embora o estado do Rio de Janeiro dependa bastante delas.
MAURICIO SIMONETTI/PULSAR IMAGENS

Vista aérea da usina nuclear Angra I.

Biomassa

Vegetais como a cana-de-açúcar, matérias orgânicas como o carvão vegetal, oleaginosas etc., podem gerar combus-
tíveis que são utilizados puros ou adicionados a derivados de petróleo. No Brasil, são a segunda fonte mais usada, e o
território tem amplas condições favoráveis ao cultivo de plantas oleaginosas (soja, mamona, palma, babaçu, girassol etc.)
para a produção de biodiesel e de cana para o álcool etanol: grandes extensões de áreas agricultáveis e de solos férteis
com clima adequado. Além disso, os biocombustíveis podem ter vantagens de sustentabilidade ambiental, econômica
e social, pois são renováveis, podem reduzir o consumo de derivados de petróleo, cuja queima é mais poluente, gerar
mais empregos em sua cadeia produtiva e tornar-se produtos de exportação.
Por outro lado, o aumento da demanda mundial desses combustíveis poderia expandir a área cultivada da cana e
de outros vegetais a ponto de prejudicar o cultivo de alimentos e encarecê-los, além de ensejar o desmatamento de
florestas nativas.
O uso do etanol data de 1975, quando o governo federal implantou o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) para
atenuar o impacto da crise do petróleo na economia. Misturado à gasolina ou utilizado em motores exclusivamente
a álcool, o etanol consumiu vultosos recursos com subsídios e empréstimos, e, nas regiões onde ele foi implantado,
agravaram-se problemas de concentração de terras, monocultura, trabalho temporário e êxodo rural. Por outro lado,
misturado na proporção de 20% a 25% do litro de gasolina e com a expansão dos motores bicombustíveis, diminuiu o
problema da qualidade de ar nos centros urbanos, pois o álcool é menos poluente e elimina a necessidade de adicionar
814-4

chumbo à gasolina.

POLISABER 11
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

Brasil: produção de caldo de cana para geração de álcool etílico (2004-2013)


185 080 185 331
103 t 181 633
172 618

141 327 143 310 145 274

107 148
produção

97 941
92 024

0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
O álcool etílico é o etanol, usado como combustível para carros.
Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Balanço energético nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE, 2014. p. 51.

Quanto ao biodiesel, estabeleceu-se a obrigatoriedade de adicioná-lo ao diesel de petróleo na proporção de


5%, o que levou a um aumento da produção. No entanto, 80% do biodiesel provém da soja, cultivada em gran-
des propriedades mecanizadas, pouco contribuindo para a melhoria das condições de vida dos agricultores fami-
liares, malgrado a criação de um sistema de subsídios e incentivos fiscais para os agricultores pobres do Norte
e do Nordeste produzirem esse combustível.

Brasil: produção de biodiesel (2004-2013)


2 917
10 3 m 3
2 673 2 717
2 397
produção

1 608

1 167
ILUSTRAÇÕES: AVITS

404

0 1 69
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Balanço energético nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE, 2014. p. 60.
814-4

12 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

Fontes eólica e solar

Consideradas fontes limpas e alternativas de energia, dependem consideravelmente das condições naturais para ser
instaladas. No Brasil, temos algumas usinas na região Nordeste, onde seu aproveitamento encontra condições favoráveis.

Brasil: potencial eólico

RR
AP
EQUADOR

AM
PA MA CE
RN

PB
PI
PE
10° AC TO AL
RO
SE
BA
MT

DF

GO

MG
20°
MS ES

SP
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO RJ

PR

SC
12,8 GW (26,4 TWh/ano)
285 km
3,1 GW (5,4 TWh/ano)
RS
75,0 GW (144,3 TWh/ano)
29,7 GW (54,9 TWh/ano)

22,8 GW (41,1 TWh/ano)


AVITS

70° 60° 50° 40°

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: Aneel, 2008. p. 81.
814-4

POLISABER 13
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

Brasil: radiação solar

RR
AP
EQUADOR

AM
PA MA CE
RN
PI PB
PE
10° AC TO AL
RO SE
BA
MT
DF
GO
MG
20°
MS ES
SP
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO RJ
PR

SC

14-16 MJ/m /dia


2
RS
16-18 MJ/m2/dia
18-20 MJ/m2/dia
20-22 MJ/m2/dia 412 km

AVITS
70° 60° 50° 40°

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: Aneel, 2008. p. 85.
A região Nordeste possui grande potencial para a energia eólica e solar.

EXERCÍCIOS

1. (UERJ) A disputa pela redistribuição dos royalties do


petróleo entre estados e municípios brasileiros
A partir de 2007, quando se anunciou a descoberta de se acirrou no final de 2012, em função de no-
grandes reservas do chamado “pré-sal”, o governo brasi- vas regras para o setor votadas no Congresso
leiro passou a defender novas regras para a exploração de Nacional.
petróleo no país. O pré-sal corresponde à camada de rocha Essa disputa decorre diretamente da caracterís-
que contém petróleo e que está localizada abaixo de uma
tica político-econômica do país indicada em:
espessa camada de sal. A Petrobras estima que no pré-sal
a) controle da União sobre a regulação do acesso às
brasileiro haja reservas em torno de 70 a 100 bilhões de
riquezas hidrominerais.
barris de petróleo. Em agosto de 2009, o ex-presidente Lula
b) dependência de capitais estrangeiros no fornecimen-
apresentou projetos para mudanças no setor petrolífero,
to de matérias-primas.
sendo um deles a redistribuição dos royalties. No ano de
2011, por exemplo, os royalties somaram R$ 25,6 bilhões. c) monopólio da legislação federal sobre os insumos
para a indústria de base.
Adaptado de: www.bbc.co.uk d) adequação dos padrões tecnológicos na preservação
814-4

(acesso em: dez. 2012) dos recursos ambientais.

14 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

2. (Mackenzie) ao contrário de uma variação normal dos índices


pluviométricos para essa época do ano.
SÃO PAULO, 19 set. 2013 – As hidrelétricas respon- c) As usinas hidrelétricas continuam a ser uma opção
deram por 77,43% do total de energia produzida no energética economicamente viável. A opção por
país em julho, mês em que o governo decidiu desligar essa fonte de energia foi acentuada no país a partir
34 térmicas, representando um aumento de 4,7% em do governo Geisel, em um contexto de uma crise
relação a junho. energética mundial.
Já a geração termelétrica em julho foi de 12 641 MW d) A opção brasileira pela hidreletricidade contraria o
(megawatts) médios, uma queda de 12,1% em relação que se verifica nas maiores economias do mundo.
a junho, quando essas usinas geraram 14 381 MW Em razão de preocupações ambientais, inexistentes
médios, informou a Câmara de Comercialização de na legislação brasileira, países como EUA, Canadá,
Energia Elétrica (CCEE) no informativo Infomercado Rússia e China não utilizam esse método ultrapas-
de setembro. sado de geração de energia.
O governo decidiu desligar 34 usinas a óleo e diesel e) Entre as fontes térmicas utilizadas como comple-
em julho alegando que as chuvas ajudaram a encher mento na geração de eletricidade no Brasil, as usinas
os reservatórios das hidrelétricas – com exceção do nucleares de Angra I, II e III têm maior participação
Nordeste – e que o desligamento das usinas faria o do que as usinas movidas a gás natural, petróleo e
sistema elétrico economizar cerca de R$ 1,4 bilhão carvão mineral.
mensais.
Em agosto, após blecaute que atingiu o Nordeste, o
governo religou cerca de 1 000 megawatts de térmicas. 3. (UEPB) As proposições abaixo fazem referência
O país passa agora pelo período seco, quando cos- à temática biodiesel. Analise-as.
tuma ocorrer redução dos reservatórios das hidrelé-
tricas – que deve ser recomposto com o começo do I. A produção das matérias-primas importantes para
período chuvoso, a partir de novembro. a geração de biodiesel vem colocando o Brasil
O nível dos reservatórios do Nordeste está em como carro-chefe na discussão geopolítica em
33,28%, segundo dados do Operador Nacional do torno dos caminhos a serem tomados pelos inves-
Sistema Elétrico (ONS), atualizados na véspera, ante o tidores mundiais a partir de possível substituição
nível de 46,52% em junho – antes do desligamento da dos combustíveis fósseis pelos que geram “ener-
maior parte de térmicas. gia limpa”.
No Sudeste/Centro-Oeste, o nível passou de 63,75% II. Apesar da grande extensão territorial do Brasil e
em junho para 50,9% atualmente. No Sul, subiu de da existência de grandes áreas de fronteiras agrí-
80,83% para 82,6%. Já no Norte, o nível das represas colas, não há mais possibilidades de incorporação
caiu de 93,55% em junho para 60,7%. de novos espaços produtivos para a produção de
Em julho, após a decisão de desligar as 34 térmicas matéria-prima voltada para a geração de biodiesel.
e antes da notícia de religamento de 1 000 MW no Nor- III. A geopolítica energética do mundo mudou no sé-
deste, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, estimou culo XXI, com o discurso ambiental dos projetos
que durante o período seco o uso dos reservatórios de gestão. Esses discursos afirmam que o cultivo
das hidrelétricas resultaria em uma depreciação de agrícola voltado para a geração de biodiesel é uma
8% até novembro. necessidade para as agendas de proteção ambien-
tal, que precisam de “combustíveis limpos”, o que
Agência Reuters torna o Brasil um importante país para sua produ-
ção e exportação.
Assinale a alternativa CORRETA.
a) O aumento da participação da energia hidráulica Está(ao) CORRETA(S):
na matriz energética brasileira foi possível com a a) Apenas II.
entrada em operação da hidrelétrica de Belo Monte, b) Apenas II e III.
no Amazonas. c) Apenas I.
b) O “período seco” mencionado no texto refere-se à d) Apenas I e III.
814-4

confirmação da hipótese de aquecimento global, e) Todas.

POLISABER 15
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

4. (Fuvest) Observe os mapas.

Brasil: médias climatológicas de precipitação e de velocidade de vento

Ministério de Minas e Energia, 2001. (adaptado)

Os períodos do ano que oferecem as melhores condições para a produção de energia hidrelétrica no Su-
deste e de energia eólica no Nordeste são aqueles em que predominam, nessas regiões, respectivamente:
a) primavera e verão.
b) verão e outono.
c) outono e inverno.
d) verão e inverno.
814-4

e) inverno e primavera.

16 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

5. (UERJ) Na atualidade, o petróleo é um recurso natural de grande importância para o crescimento econômi-
co, representando uma das principais fontes de riqueza e investimento para os países do mundo. No mapa
a seguir, registram-se os desiguais fluxos comerciais de produção e consumo desse recurso.

Adaptado de DURANO, Marie-Fraçoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

Explicite a situação atual do Brasil como produtor e sua participação no comércio mundial de petróleo. Em
seguida, identifique dois espaços econômicos desenvolvidos que importam mais de três milhões de barris
de petróleo por dia.

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),
Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado resolvendo os exercícios e também verificar como os exa-
mes vestibulares tratam o assunto destas aulas. Na roda de leitura, um texto complementa o que vimos sobre energia
eólica. E, para ampliar seu repertório, veja as sugestões de pesquisar e ler, ver e ouvir, navegar e ágora.
814-4

POLISABER 17
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

EXERCÍCIOS

1. (Enem) no Brasil deve crescer ainda mais. Um leilão realizado


em 2009 comercializou 1 805 MW, que devem ser
Nos últimos decênios, o território conhece grandes entregues até 2012.
mudanças em função de acréscimos técnicos que re-
novam sua materialidade, como resultado e condição, Adaptado de: www.portalexame.abril.com.br
ao mesmo tempo, dos processos econômicos e sociais (acesso em: 4 fev. 2010)
em curso.
Velocidade média dos ventos no Brasil (1988)
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L.
O Brasil: território e sociedade do século XXI
Rio de Janeiro: Record, 2004
(adaptado)

A partir da última década, verifica-se a ocor-


rência no Brasil de alterações significativas no
território, ocasionando impactos sociais, cultu-
rais e econômicos sobre comunidades locais,
e com maior intensidade, na Amazônia Legal,
com a:
a) reforma e ampliação de aeroportos nas capitais dos
estados.
b) ampliação de estádios de futebol para a realização
de eventos esportivos.
c) construção de usinas hidrelétricas sobre os rios
Tocantins, Xingu e Madeira. Nomeie a macrorregião brasileira com maior
d) instalação de cabos para a formação de uma rede potencial eólico. Apresente também duas van-
informatizada de comunicação. tagens ambientais das usinas eólicas.
e) formação de uma infraestrutura de torres que per-
mitem a comunicação móvel na região.
3. (Unesp)

2. (UERJ) Em 2004, o governo federal lançou o Programa de


Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
Cresce geração de energia eólica no Brasil (Proinfa), cujo objetivo é promover a diversificação da
matriz energética brasileira buscando alternativas às
A capacidade de geração de energia eólica no Brasil usinas hidrelétricas com grandes reservatórios e às ter-
aumentou 77,7% em 2009 em relação ao ano anterior. monucleares, para aumentar a segurança no abasteci-
Os dados divulgados pelo Conselho Global de Energia mento de energia elétrica, além de permitir a valorização
Eólica mostram que o Brasil cresceu mais do que o dobro das características e potencialidades regionais e locais.
da média mundial nesse período: 31%.
O crescimento brasileiro foi maior, por exemplo, que Adaptado de: www.mme.gov.br
o dos EUA (39%), o da Índia (13%) e o da Europa (16%),
mas menor que o da China, cuja capacidade de geração Indique duas fontes alternativas de energia elé-
ampliou-se em 107%. trica que podem ser encontradas no território
De acordo com a Associação Brasileira de Energia brasileiro e mencione dois benefícios ofereci-
Eólica, a capacidade instalada desse tipo de energia dos pelo uso delas.
814-4

18 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

4. (ESPM) O mapa abaixo está associado aos(às):

Recursos Minerais Energéticos. 2003. Disponível em: www.cprm.gov.br/publique/media/capX_a.pdf


(acesso em: 30 ago. 2012)

a) principais polos industriais brasileiros.


b) principais bacias produtoras de petróleo e gás.
c) áreas de extração de minério de ferro.
d) escudos cristalinos ricos em petróleo e gás.
e) principais bacias hidrográficas e as respectivas áreas de abastecimento hídrico.

5. (Fuvest) Grandes lagos artificiais de barragens como o Nasser, no rio Nilo, o Three Gorges, na China, e o de
Itaipu, no Brasil, resultantes do represamento de rios, estão entre as obras de engenharia espalhadas pelo
mundo com importantes efeitos socioambientais.

Acerca dos efeitos socioambientais de grandes lagos de barragens, considere as afirmações abaixo.

I. Enquanto, no passado, grandes lagos de barragem restringiam-se a áreas de planície, atualmente, graças a pro-
gressos tecnológicos, situam-se invariavelmente em regiões planálticas, com significativos desníveis topográficos.
II. A abertura das comportas que represam as águas dos lagos de barragens impede a ocorrência de processos de
sedimentação, assim como provoca grandes enchentes a montante.
III. Frequentes desalojamentos de pessoas para a implantação de lagos de barragens levaram ao surgimento, no Bra-
sil, do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB.
IV. Por se constituírem como extensos e, muitas vezes, profundos reservatórios de água, grandes lagos de barragens
provocam alterações microclimáticas nas suas proximidades.

Está CORRETO o que se afirma em:


a) I e II, apenas. d) III e IV, apenas.
b) I, II e III, apenas. e) I, II, III e IV.
814-4

c) II, III e IV, apenas.

POLISABER 19
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

TUNDISI, Helena da Silva F. Usos de Energia. Sistemas,


RODA DE LEITURA fontes e alternativas: do fogo aos gradientes de tempe-
ratura oceânicos. 15. ed. São Paulo: Atual, 2009.
Energia eólica apresenta altas taxas de O livro analisa a crise energética atual e debate fontes
crescimento alternativas de energia.
Essa fonte energética vem se mostrando mais compe-
titiva a cada ano e ganhando espaço nos leilões

A energia eólica vem aumentando sua participação no VER E OUVIR


contexto energético brasileiro nos últimos anos. Desde
a criação do Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Césio 137 – O pesadelo de Goiânia
Alternativas de Energia Elétrica), e, posteriormente, os su- Roberto Pires. Brasil, 1990.
cessivos leilões de compra e venda desse tipo de energia, O roteiro desse documentário foi baseado em depoi-
a capacidade instalada de geração está 75 vezes maior. mentos das próprias vítimas do desastre ocorrido em
Além de ser uma fonte renovável e competitiva, a Goiânia em setembro de 1987, quando dois catadores
energia eólica se apresenta como complementar à fonte de sucata encontraram uma cápsula de césio 137 num
hidrelétrica, na medida em que os melhores ventos centro médico desativado.
ocorrem nos períodos de menor regime de chuvas. A
geração de energia eólica auxilia na recomposição dos Narradores de Javé
Eliane Caffé. Brasil, 2003.
níveis dos reservatórios, ou seja, possibilita a formação
A pequena cidade de Javé será submersa pelas águas
de acúmulo de água para geração futura.
de uma represa. Seus moradores não serão indenizados
Os mapas eólicos desenvolvidos pelo Centro Brasileiro
e não foram nem sequer notificados, porque não têm
de Energia Eólica apontam que os ventos brasileiros
registros nem documentos das terras. Inconformados,
apresentam ótimas características para a geração
descobrem que o local poderia ser preservado se tivesse
elétrica, com boa velocidade, baixa turbulência e boa
um patrimônio histórico de valor comprovado em “do-
uniformidade, o que possibilita fatores de capacidade
cumento científico”. Decidem, então, escrever a história
de geração em alguns parques de até 50%. da cidade, mas poucos sabem ler, e só um morador – o
O potencial brasileiro de energia eólica é estimado em carteiro – sabe escrever. Depois disso, o que se vê é uma
um pouco mais de 140 GW, avaliado para torres de 50 m tremenda confusão, pois todos procuram Antônio Biá, o
de altura. Estima-se que o potencial possa mais que dobrar, escrivão da obra de cunho histórico, para acrescentar
se forem consideradas torres de mais de 100 m de altura. algumas linhas e ter seu nome citado.

Portal Brasil, 14 dez. 2011 “Sobradinho”. Pirão de peixe com pimenta, 1977.
Disponível em: www.brasil.gov.br/infraestrutura/ Com música e letra de Sá e Guarabyra, a canção faz uma
2011/12/energia-eolica-apresenta-altas-taxas-de- critica à construção da usina de Sobradinho, no rio São
crescimento (acesso em: 15 ago. 2014)
Francisco, nos anos 1970.

PESQUISAR E LER
NAVEGAR
BRANCO, Samuel Murgel. Energia e meio ambiente.
Petrobras
2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.
O autor estabelece as relações entre as fontes de energia www.petrobras.com (acesso em: 15 ago. 2014)
e as necessidades sociais, discutindo questões ambien- Site da companhia, com análises de fontes de energia,
tais e o futuro da energia. impactos ambientais e atuação da BR no exterior.

MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Sol e energia Agência Nacional do Petróleo (ANP)
no terceiro milênio. São Paulo: Scipione, 2000. www.anp.gov.br (acesso em: 15 ago. 2014)
Estuda as possibilidades da energia solar e maneiras de Site da agência reguladora apresenta legislação, contratos
814-4

melhor aproveitá-la. de exploração e informações sobre derivados de petróleo.

20 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) 1975, no governo Geisel. Em 2011, as obras começaram.
www.aneel.gov.br (acesso em: 15 ago. 2014) E os protestos aumentaram. O Movimento Gota D’Água,
Agência reguladora do setor elétrico apresenta legisla- em que atores defendem o fim das obras no YouTube, é
ção, estatísticas e outras informações sobre geração, só o mais recente. O apelo é substituir a usina por fontes
transmissão e distribuição de energia elétrica no Brasil. de energia eólica e solar. Para quem defende Belo Monte,
isso não tem sentido: seria mais caro e menos confiável. A
Ministério de Minas e Energia (MME) maior certeza é que, até janeiro de 2015, a data marcada
www.mme.gov.br (acesso em: 15 ago. 2014) para a entrega da usina, muita água vai rolar nesse debate.
Site do ministério, com artigos, publicações, programas
de desenvolvimento e cidadania ligados ao tema energia Argumentos contra:
Debaixo d’água
no Brasil.
O lago que alimentará as turbinas de Belo Monte vai
ocupar uma área equivalente a 90 mil campos de futebol
Indústrias Nucleares do Brasil (INB)
da bacia do Xingu, que abriga 440 espécies de aves e
www.inb.gov.br (acesso em: 15 ago. 2014)
259 de mamíferos.
Site das indústrias nucleares do Brasil oferece informa-
A extensão da área alagada é 640 km2, que equivale
ções sobre as usinas, o urânio e os indicadores tecno-
a 1/3 da cidade de São Paulo.
lógicos do setor.
Caos social
BioDieselBR.com A obra vai obrigar a realocação de 5 988 famílias. Além
www.biodiesel.gov.br/programa.html disso, milhares de migrantes serão atraídos para a região.
(acesso em: 15 ago. 2014) E as obras de saneamento prometidas para recebê-las
Oferece informações sobre o programa de biodiesel do estão atrasadas.
governo federal. Vinte mil pessoas terão de sair de suas casas.
A cidade de Altamira espera 100 mil novos moradores.
A população da cidade vai dobrar, e não há infraestrutura
para isso.
ÁGORA
Desmatamento
Leia o texto a seguir e discuta com seus colegas os prós O lago da usina receberá água drenada de outras
e os contras da construção de usinas como a de Belo regiões do rio Xingu para que haja volume suficiente no
Monte. Quando entrar em operação, a usina deve fornecer reservatório. Essa água chegará por meio de um canal
eletricidade para 60 milhões de pessoas. Por outro lado, com 130 m de espessura e 20 km de extensão.
está encravada na Floresta Amazônica e não tem como Para a construção do canal, serão removidos 100 mi-
não causar problemas ambientais. Avalie os principais lhões de m3 de floresta, que encheriam 40 mil piscinas
pontos contra e a favor da terceira maior usina do planeta. olímpicas.

Quais são as vantagens e desvantagens de Belo Índios ameaçados


Monte? Com o canal drenando água, a área do Xingu próxi-
A maior vantagem é óbvia: mais eletricidade. O con- ma ao lago terá sua vazão reduzida. São 100 km de rio
sumo de energia sobe junto com o PIB. Em 2010, foram que, segundo especialistas, podem até secar. Isso pode
7,5% de crescimento no Produto Interno Bruto e 7,8% destruir o modo de vida dos índios que habitam a região
no do consumo de eletricidade. Sem energia, o país não e vivem da pesca.
cresce. E, se o país não cresce, você tende a perder o No rio Xingu, 100 km terão a vazão reduzida.
emprego – pior do que dormir no escuro... Belo Monte, Serão afetados 952 índios.
por esse ponto de vista, é uma necessidade. Mas para
alguns é uma atrocidade, já que seu reservatório vai alagar Argumentos a favor:
uma área na Amazônia equivalente a 1/3 da cidade de Energia barata
São Paulo, entre outros desequilíbrios ambientais. Por Mil chuveiros ligados por uma hora dão um megawatt-
essas, Sting e o cacique Raoni já atacavam Belo Monte -hora (MWh). Em Belo Monte, 1 MWh custará R$ 22.
em 1989. Na época, a proposta de aproveitar as águas do Provinda de uma usina eólica, essa energia custaria
814-4

rio Xingu para gerar energia já era antiga: começou em R$ 99. De uma solar, quase R$ 200.

POLISABER 21
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11

Para igualar a produção de Belo Monte, seriam Os investimentos do governo em saúde, educação e
necessários(as), infraestrutura chegarão a R$ 4 bilhões, isso dá 7 vezes
• 19 termelétricas; o PIB de Altamira.
• 17 usinas nucleares iguais a Angra II;
• 3 700 torres de energia eólica; 42% está ótimo
• 49,9 milhões de placas de energia solar. A área alagada de 640 km2 é pequena. Tucuruí ocupa
2 850 km2. Itaipu, 1 350 km2. Também criticam o fato de
Motor para o PIB que a usina vai operar a 42% de sua capacidade, em
O Brasil precisa de mais energia. A demanda no país, média. Mas é o normal, por causa das estiagens.
segundo a Agência Internacional de Energia, deve crescer
2,2% ao ano entre 2009 e 2035. Mais do que a média mun- Média da capacidade de operação:
dial, de 1,3%, e até do que a China, de 2%. • Espanha – 21%
O crescimento de consumo de energia elétrica em 2010 • França – 35%
foi 7,8%. • Belo Monte – 42%
Neste ritmo, o Brasil precisaria dobrar sua capacidade de • EUA – 46%
geração de energia a cada 12 anos. • Brasil – 50%

Desenvolvimento CORDEIRO, Tiago; VERSIGNASSI, Alexandre;


As cidades próximas às usinas enriquecem – foi o que STEFFEN, Renata; GAMA, Horácio.
aconteceu com a região de Tucuruí, também no Pará, Superinteressante, dez. 2011
onde desde 1984 está a primeira grande hidrelétrica Disponível em: http://super.abril.com.br/ecologia/quais-
da Amazônia. sao-vantagens-desvantagens-belo-monte-667389.shtml
Serão criados 40 mil empregos diretos e indiretos. (acesso em: 15 ago. 2014)

S E N H A
O que são os pontos claros
na imagem de satélite?
SPL DC/LATINSTOCK
814-4

22 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 12

Como manter, sem novos argumentos, a tese


RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS

(greco-latina: a nossa, a de nossa civilização!)


segundo a qual a Cité, a Cidade, o Urbano são
os centros, os lugares privilegiados, os berços
do pensamento, da invenção?
Henri Lefebvre. A produção do espaço, 2000.

Urbanização e moeda, constituindo-se hoje em pontos nodais das redes


de transportes e comunicações que articulam os lugares.
metropolização no Brasil Mas cidade e urbano não são sinônimos. Podemos
afirmar que o urbano é uma cultura que se manifesta para
Como manter, sem novos argumentos, a tese (greco- além das estruturas físico-territoriais das cidades, pois
-latina: a nossa, a de nossa civilização!) segundo a qual trata-se do modo de vida típico dessas cidades – com seus
a Cité, a Cidade, o Urbano são os centros, os lugares hábitos, valores, costumes e comportamentos fundados
privilegiados, os berços do pensamento, da invenção? A no crescimento das relações sociais e na redução do iso-
relação “cidade-campo” se modificava em escala mun- lamento –, que se expande para os ambientes rurais, para
dial, com interpretações “extremistas” (o campo mundial o campo. O processo de urbanização se manifesta tanto
contra a cidade mundial!). Como pensar a Cidade (sua pelo surgimento de novas cidades como pela expansão
explosão-implosão generalizada, o Urbano moderno), sem das já existentes e de suas infraestruturas como as redes
conceber claramente o espaço que ela ocupa, do qual de água, esgoto, energia e pavimentação, pelo aumen-
ela se apropria (ou que desapropria)? Impossível pensar to da densidade demográfica, pela diversidade e pela
a cidade e o urbano modernos como obras (no sentido densidade das atividades econômicas favorecidas
amplo e forte da obra de arte que transforma seus ma- pela expansão dos sistemas de transporte, comunicação
teriais), sem primeiramente concebê-los como produtos. e informação. Um importante incentivo ao desenvolvi-
mento da urbanização é o processo de industrialização,
mas não podemos afirmar taxativamente que ela é sua
decorrência direta. Em muitos casos, aconteceu o inverso:
As cidades e o urbano foi a urbanização que favoreceu a industrialização, ofe-
recendo infraestrutura em transportes, rede de energia
O fenômeno urbano é a principal transformação territo- e, principalmente, mão de obra e potenciais mercados
rial que a humanidade viveu no mundo contemporâneo. consumidores.
Se em 1850 apenas dois em cada cem habitantes do A classificação de uma aglomeração urbana como
planeta vivia em cidades, hoje a realidade é outra: de cidade obedece a alguns critérios: a densidade demográ-
cada três habitantes do mundo, dois vivem em cidades, e fica, o número de habitantes, a existência de comércio,
boa parte dessa população urbana está concentrada em hospitais e/ou postos de saúde, correios, bancos etc. No
grandes metrópoles, e essa concentração vem crescendo Brasil, é o IBGE que define população urbana como a
ainda mais no início do século XXI. que reside dentro do perímetro urbano de cada município,
As cidades são uma forma antiga de convivência huma- o que leva muitas autoridades municipais a “incharem”
na. Ao longo da história, as pessoas foram transpondo as artificialmente esse perímetro incluindo sítios, chácaras
distâncias geográficas que as separavam para viver em e outras unidades essencialmente rurais para aumentar
comunidades onde são cada vez maiores as relações de a arrecadação de IPTU (Imposto Predial e Territorial Ur-
interdependência e interação. Assim se desenvolveram bano), cujo valor é maior que o do ITR (Imposto Territorial
a política, a filosofia, as artes e as ciências, e assim tam- Rural). Assim sendo, no Brasil, o índice de urbanização
814-4

bém surgiram e se consolidaram o Estado, a escrita e a fica superdimensionado, pois municípios com qualquer

POLISABER 23
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

extensão territorial têm obrigatoriamente uma área urbana. Para o IBGE, mais de 80% da população brasileira é urbana,
mas pode-se inferir que muitos habitantes ligados à vida rural são erroneamente classificados como urbanos. Como
esses critérios não são uniformes em todos os países, é difícil fazer comparações.
Vale ressaltar que atualmente a distinção entre população urbana e rural é difícil de ser feita, em virtude da própria
complexidade da economia e de suas atividades. Há um grande número de pessoas que trabalham em atividades rurais
e moram em cidades, e outras que se dedicam a atividades secundárias e terciárias – como a agroindústria – e moram
em áreas rurais.

Brasil: taxa de urbanização (2010)

RR
AP
EQUADOR

PA MA
AM CE RN
PI PB
PE
10° AC TO AL
RO SE
BA
MT
DF
GO

MG
MS 20°
ES
SP
RJ TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

PR
Taxa de urbanização
4,2 a 35,0 OCEANO
SC
35,1 a 50,0 ATLÂNTICO
50,1 a 70,0
RS
70,1 a 90,0
90,1 a 100,0
472 km
AVITS

70° 60° 50° 40°

As maiores taxas de urbanização se encontram na região Sudeste e Sul, regiões onde houve um maior desenvolvimento
nos setores industrial e de serviços.
IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 107.

Entre os fatores que determinaram a urbanização no Brasil, há aqueles considerados atrativos, como a oferta de em-
pregos nos setores industrial e de serviços, mesmo que no início da urbanização as condições de vida dos trabalhadores
da indústria tenham sido muito precárias, como salários baixos e péssimas moradias. Aos poucos, as conquistas dos
sindicatos e a lenta intervenção do Estado levaram à melhoria das condições de saneamento, habitação e transporte.
Além disso, no caso do Brasil, os fatores repulsivos como a desigual estrutura fundiária no campo, com predomínio
dos latifúndios, os baixos rendimentos e a falta de apoio aos pequenos agricultores resultaram num intenso êxodo rural
814-4

e no crescimento acelerado das cidades.

24 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

A urbanização brasileira tem traços de um processo que se repetiu em outros países latino-americanos, africanos e
asiáticos, típicos do subdesenvolvimento e da industrialização tardia: foi acelerada e extremamente concentrada, atin-
gindo um número menor de cidades, com muitas pessoas nas atividades terciárias públicas ou privadas e tendo sido
mais intensa depois da Segunda Guerra Mundial.

A rede de cidades e seu desenvolvimento


Podemos estabelecer uma periodização histórica para o desenvolvimento das cidades brasileiras a partir do perfil da
economia nacional desde o período colonial, quando os aglomerados urbanos se distinguiam em povoados, freguesias,
vilas e cidades, de acordo com sua condição territorial, populacional e administrativa.

A formação do território brasileiro: tratados e limites

EQUADOR

São José do Rio Negro


(Manaus) Belém
São Luís
ESTADO DO
GRÃO-PARÁ

Olinda

Recife
10°

Vila Real Salvador


(Cuiabá) (capital até 1763)

Vila Boa Porto Seguro

Sabará 20°
Vila Rica (Ouro Preto) Vitória
Tratado de Tordesilhas, 1494 São João del Rei
2
Tratado de Utrecht, 1713-1715 São Paulo Rio de Janeiro
(capital a partir de 1763)
3
Tratado de Madri, 1750 Curitiba São Vicente
4
Tratado de Santo Idelsonso, 1777
OCEANO
5 Vila do Desterro
Tratado de Badájos, 1801 ATLÂNTICO
2
Área disputada por Portugal e Espanha 4
Porto Alegre
5
Áreas em litígio com os países 3
AVITS

vizinhos no decorrer do séc. XIX Vila de São Pedro


417 km
Colônia do Sacramento
70° 60° 50° 40°

Mapa mostra os diferentes tratados que levaram à atual configuração territorial do país e às primeiras cidades.
Geobau. Disponível em: http://marcosbau.files.wordpress.com/2011/01/dois-estados-da-am-portuguesa-1772.jpg (acesso em: 2 set. 2014).

Assim, do século XIV ao início do XX, temos uma longa primeira etapa, que corresponde à urbanização na fase agrário-
-exportadora. Inicialmente, os principais núcleos urbanos se inseriam no contexto territorial do “arquipélago” econômico, ou
seja, eram como “ilhas” desarticuladas entre si e todas ligadas à metrópole colonial. O litoral de Recife e de Salvador se des-
tacava como entreposto do comércio de algodão e açúcar; na Amazônia, missões religiosas fundavam povoados, mas foi com
a economia da borracha, no século XIX, que se desenvolveram Manaus e Belém. No século XVIII, cresceram as vilas de Minas
Gerais e Goiás, devido à mineração de ouro e pedras preciosas. Na segunda metade do século XIX, a cafeicultura impulsionou
o crescimento das cidades do Rio de Janeiro, do Vale do Paraíba, de Santos e de São Paulo. No início do século XVIII, 5,7%
814-4

da população brasileira vivia em vilas e cidades. No fim do século XIX, estimava-se em 10,7% a população urbana brasileira.

POLISABER 25
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

Primeiras vilas de Minas Gerais (1711–1814)

Ano da Criação
12,5°
1711
1713 a 1729
1789 a 1874

Paracatu Minas Novas

15°

Serro

Pitangui Sabará
Caeté 17,5°
Ouro Preto
Itapecerica Mariana
Tiradentes Conseleiro Lafaiete
Jacuí
São João del Rei Barbacena

Campanha Baependi

164 km

AVITS
50° 47,5° 45° 42,5° 40°

RODARTE, Mario Marcos; PAULA, João Antonio de; SIMÕES, Rodrigo. Rede de cidades em Minas Gerais no Século XIX. História Econômica & História de
Empresas. São Paulo: HUCITEC/ABPHE, v. 7, n. 1. 2004. p. 12.

Na segunda etapa, a da industrialização e formação do mercado nacional, que vai do início do século XX até meados dos
anos 1940, a urbanização se concentra nos núcleos da região Sudeste, notadamente São Paulo e Rio de Janeiro. É a fase de
modernização econômica do país e da criação de laços entre as economias regionais, com importantes mudanças sociais
e territoriais como o crescimento da massa de operários urbanos e a expansão e instalação de redes de infraestrutura
(rodovias, ferrovias, energia e saneamento) imprimindo um conteúdo mais técnico ao território. Com a implantação de
indústrias de base, o Estado concorre para a subordinação das demais regiões ao Sudeste, levando sua população urbana a
estagnar ou reduzir-se. Em 1940, o índice nacional da população urbana era de 31,2%, contra 43% do estado de São Paulo.

Brasil: população urbana por região (1960–2010)


Brasil Região Norte
100% 100%
81.2% 84.4%
75.5% 73.5%
67.7% 69.8%
56.0% 57.8%
50.2%
45.1% 42.6%
35.5%

0% 0%
1960 1970 1980 1991 2000 2010 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Região Nordeste Região Sudeste


100% 100% 88.0% 90.5% 92.9%
82.8%
73.1% 72.8%
69.0%
60.6%
57.4%
50.7%
41.8%
ILUSTRAÇÕES: AVITS

34.2%
814-4

0% 0%
1960 1970 1980 1991 2000 2010 1960 1970 1980 1991 2000 2010

26 POLISABER Região Sul Região Centro-Oeste


100% 100% 88.8%
84.9% 86.7%
80.9% 81.3%
74.1%
41.8%
34.2%

0% 0%
1960 1970 1980 1991 2000 2010 1960 aula
1970121980 GEOGRAFIA
1991 2000 2010DO BRASIL

Região Sul Região Centro-Oeste


100% 100% 88.8%
84.9% 86.7%
80.9% 81.3%
74.1% 70.7%
62.7%
50.9%
44.6%
37.6% 37.2%
ILUSTRAÇÕES:AVITS

0% 0%
1960 1970 1980 1991 2000 2010 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Atualmente, a população de todas as regiões do Brasil é muito maior do que a rural.
IBGE. Sinopse do Censo Demográfico 2010. Disponível em: www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=9&uf=00 (acesso em: 2 set. 2014).

A terceira etapa do processo de urbanização corresponde ao pós-Segunda Guerra Mundial, quando a modernização se
acelerou, e as grandes cidades eram um meio técnico apto a receber inovações tecnológicas e ramos produtivos mais
modernos introduzidos por empresas transnacionais como o de bens de consumo duráveis (automóveis e eletrodomés-
ticos) e intermediários (metalúrgicos, elétricos e mecânicos). São Paulo e Rio de Janeiro consolidam-se como os centros
mais importantes da economia e de finanças e se articulam em complementaridade com outras regiões como o norte
paranaense, o sul de Minas Gerais, o Mato Grosso do Sul e Goiás. Verifica-se ainda uma forte tendência à concentração
urbana regional em capitais de estado como Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte, entre outras, onde se condensava
poder político e econômico, numa crescente metropolização.

Evolução da mancha urbana de São Paulo

1881 1905 1914

1930 1952 1962


CSABA DEAK

1972 1983 1995

A evolução da mancha urbana da Grande São Paulo entre 1881–1995. Tal processo teve início no último quartel do século
814-4

XIX, se acelera ao longo do século XX e, neste início de século XXI, alcança regiões mais distantes de seu centro original.

POLISABER 27
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

Na mesma época houve também uma interiorização da urbanização, proporcionada pela construção de Brasília e pela
consequente implantação de redes de transportes e comunicações. O Nordeste açucareiro conheceu uma acentuada deca-
dência, tornando-se território de repulsão populacional para outras regiões, e a Amazônia viveu uma integração ensejada pelo
Estado e por empresários estrangeiros e nacionais que diversificou seu quadro urbano, antes dominado apenas por Manaus
e Belém. Nessa etapa, a região Sudeste alcança a maior taxa de urbanização (82,8%), contra a menor do Nordeste (50,4%).
A partir dos anos de 1980, observa-se um maior crescimento das cidades médias e das metrópoles regionais, com o
deslocamento populacional de cidades pequenas e grandes metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo. Essa mudança
é resultado da reestruturação e da dispersão espacial das atividades econômicas pelo território brasileiro, pela qual as
metrópoles não perdem o comando e a primazia, mas outros centros urbanos regionais assumem papéis de metrópoles,
numa desmetropolização com remetropolização.

Brasil: cidades médias (1950)

RR
AP
EQUADOR

RN
PA
MA
CE
AM

PB
PI
PE
10° AC TO AL
RO
MT SE
BA

DF

MG
GO

MS 20°

ES
SP

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ

PR

SC
321 km
RS

Sede municipal
33 cidades
AVITS

70° 60° 50° 40°


814-4

28 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

Brasil: cidades médias (1980)

RR
AP
EQUADOR

PA RN
MA
CE
AM

PB
PI
PE
10° AC TO AL
RO
MT SE
BA

DF

GO
MG
MS
20°
ES
SP

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ
PR

SC
321 km

RS
Sede municipal
213 cidades
AVITS

70° 60° 50° 40° 814-4

POLISABER 29
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

Brasil: cidades médias (2010)

RR
AP
EQUADOR

PA RN
MA
CE
AM

PB
PI
PE
10° AC
TO AL
RO
MT SE
BA

DF

GO
MG
MS
20°
ES
SP

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ
PR

SC
321 km

RS
Sede municipal
513 cidades AVITS

70° 60° 50° 40°

IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 109.

Em 1953, havia 2 273 municípios no Brasil; em 2010, 5 565. A maioria se formou pela emancipação de antigos distritos
que se desenvolveram, tiveram crescimento demográfico e urbano acelerado e cuja população se considerou margi-
nalizada e sem atenção e investimentos por parte do poder municipal. Por outro lado, muitos municípios criados não
conseguem independência financeira, pois sua receita derivada de impostos não é suficiente para saldar as despesas
de manutenção de escolas, de postos de saúde, das ruas e do abastecimento de água, por exemplo, além dos custos
da própria máquina administrativa.
814-4

30 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

As regiões metropolitanas
Como vimos, o processo brasileiro de urbanização foi muito concentrado espacialmente. Poucas cidades cresceram
aceleradamente, tornando-se, em pouco tempo, verdadeiras metrópoles, com grande concentração de pessoas, ativi-
dades econômicas, infraestrutura, efervescência cultural e política, lutas sociais e reivindicações pela melhoria de suas
condições de moradia, mobilidade, lazer e convivência entre seus habitantes. Elas irradiam sua influência por vastos
territórios e também concentram poder político, pois exercem o comando por meio de seu denso meio técnico de suas
atividades econômicas, culturais, esportivas e seu papel político.
Nesse processo, algumas metrópoles cresceram horizontalmente, e suas áreas urbanas se juntaram e integraram-se
a municípios vizinhos, gerando uma imensa mancha espacial urbana como se fosse uma única cidade. Essa unificação
recebe o nome de conurbação. Quando isso acontece, os problemas de infraestrutura tornam-se comuns a todos os
municípios da mancha, o que forçou o poder público a criar, em lei de 1973, aprovada pelo Congresso Nacional, as regiões
metropolitanas, um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com
serviços públicos e infraestrutura comuns. A partir da Constituição 1988, cabem aos estados da federação a definição
e o reconhecimento legal das metrópoles. Também são consideradas regiões metropolitanas as regiões intergradas de
desenvolvimento (Ride), compostas por municípios de mais de um estado e, por isso, regidas por lei federal. Segundo o
IBGE, em 2010, o Brasil possuía 35 regiões metropolitanas e 3 Rides.

Brasil: regiões metropolitanas e RIDE (2010)

RR AP
EQUADOR

PA MA
AM CE RN

PI PB
PE
10° AC TO AL
RO SE
MT
BA

DF
MG
GO

MS 20°
ES
SP
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ

PR
Região metropolitana
Colar metropolitano, entorno SC
metropolitano e área de expansão 395 km
Região integrada de desenvolvimento RS
(RIDE)
Aglomeração urbana (A.U.)
AVITS

70° 60° 50° 40°


814-4

IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 147

POLISABER 31
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

População residente, por situação do domicílio, com indicação da população residente em situação urbana
na sede municipal, área total e densidade demográfica, segundo as Regiões Metropolitanas, as Regiões
Integradas de Desenvolvimento (Ride) e os municípios – 2010
população residente

demográfica
densidade
Regiões Metropolitanas, Regiões

(hab/km²)
urbana área total
Integradas de Desenvolvimento (Ride) e
total na sede rural (km²)
municípios total
municipal
Manaus – AM  2 106 322   1 975 896   1 960 084  130 426  101 475,4  20,76 
Belém – PA  2 101 883   2 036 787  92 042  65 096 2 536,9  828,53 
Macapá – AP 499 466  480 325  465 414  19 141  7 988,1   62,53 
Grande São Luís – MA  1 331 181   1 098 116  1 020 189  233 065  2 898,9  459,20 
Sudoeste Maranhense – MA 345 873  289 015  289 015  56 858  7 251,7   47,70 
Cariri – CE 564 478  444 899  421 463  119 579  5 456,0  103,46 
Fortaleza – CE  3 615 767   3 475 114  1 526 923  140 653  5 794,7  623,97 
Natal – RN  1 351 004   1 215 497  1 205 508  135 507  2 807,5  481,21 
Campina Grande – PB 687 039  519 554  498 515  167 485  5 175,2  132,76 
João Pessoa – PB  1 198 576   1 116 044  1 089 890  82 532  3 134,8  382,35 
Recife – PE  3 690 547   3 589 176  3 158 091  101 371  2 773,8  1330,52
Agreste – AL 601 049  331 448  317 845  269 601  4 968,9   120,96 
Maceió – AL  1 156 364   1 131 281  1 118 398  25 083  1 924,6  600,84 
Aracaju – SE 835 816  814 523  617 323  21 293  865,8  965,36 
Salvador – BA  3 573 973   3 506 152  3 365 207  67 821  4 353,9  820,87 
Belo Horizonte – MG  5 414 701   5 283 330   3 494 217  131 371  14 420,5  375,49 
Vale do Aço – MG 615 297  562 974  365 182  52 323  6 701,0  91,82 
Grande Vitória – ES  1 687 704   1 659 007  775 225  28 697  2 331,0  724,02 
Rio de Janeiro – RJ  11 835 708   11 777 497   9 969 157  58 211  5 326,8  2 221,90
Baixada Santista – SP  1 664 136   1 660 675   1 444 420  3 461  2 405,9  691,68 
Campinas – SP  2 797 137   2 725 293   2 461 537  71 844  3 644,9  767,40 
São Paulo – SP  19 683 975   19 458 888   18 018 484  225 087  7 947,3  2 476,82
Curitiba – PR  3 174 201   2 921 845   2 813 348  252 356  15 418,6  205,87 
Londrina – PR 764 348  731 934  714 340  32 414  4 285,4  178,36 
Maringá – PR 612 545  589 473  572 440  23 072  3 190,1  192,02 
Carbonífera – SC 550 206  457 429  366 482  92 777  5 053,8  108,87 
Chapecó – SC 403 494  317 228  306 199  86 266  4 938,2  81,71 
Florianópolis – SC  1 012 233  931 184  568 879  81 049  7 465,7  135,58 
Foz do Rio Itajaí – SC 532 771  510 857  485 655  21 914  1 012,4  526,23 
Lages – SC 350 532  291 758  288 981  58 774  19 090,8  18,36 
Norte/Nordeste Catarinense – SC  1 094 412  991 327  929 856  103 085  10 829,5  101,06 
Tubarão – SC 356 721  280 404  241 645  76 317  4 540,9  78,56 
Vale do Itajaí – SC 689 731  617 602  567 390  72 129  5 006,4  137,77 
Porto Alegre – RS  3 958 985   3 845 025   3 646 288  113 960  9 803,1  403,85 
Vale do Rio Cuiabá – MT 833 766  800 920  414 054  32 846  21 545,1  38,70 
Goiânia – GO  2 173 141   2 130 074   1 822 789  43 067  7 315,1  297,07 
RIDE Petrolina/Juazeiro 686 410  481 163  450 829  205 247  33 432,2  20,53 
RIDE Grande Teresina  1 150 959   1 004 819   1 004 478  146 140  10 488,3  109,74 
RIDE Distrito Federal e Entorno  3 717 728   3 500 074   3 404 592  217 654  55 402,2  67,10 

IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível em: www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/sinopse/sinopse_tab_rm_zip.shtm


814-4

(acesso em: 1 set. 2014)


.

32 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

A megalópole brasileira (2010)


300 Km E 340 Km 380 Km 420 Km 460 Km 500 Km 540 Km 580 Km 620 Km 660 Km 700 Km
7 500 Km N

7 500 Km N
Queimados Nova Iguaçu
Belford Roxo
Duque
São João
de Caxias
de Meriti
Niterói
7 460 Km

7 460 Km
Rio de Janeiro
7 420 Km

7 420 Km
Osasco São Paulo NO ATLÂNTICO
OCEA
7 380 Km

7 380 Km
Santo André
São Bernardo
do Campo
Cubatão
Santos
São Vicente 48 km
Guarujá
7 340 Km N

7 340 Km N
Praia Grande
300 Km E 340 Km 380 Km 420 Km 460 Km 500 Km 540 Km 580 Km 620 Km 660 Km 700 Km

principais rodovias Centros Urbanos Escala: 1 : 2 000 000


(habitantes)
concentrações urbanas Projeção UTM
até 249 999
250 000 a 499 999
500 000 a 999 999

AVITS
1 000 000 e mais

O crescimento urbano das duas maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, está produzindo nossa
primeira megalópole (área de conurbação de duas ou mais metrópoles).
IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 146.

Hierarquia urbana no Brasil

As cidades constituem verdadeiros nós territoriais dos fluxos de pessoas, mercadorias, serviços, informações e ordens
que fluem pelos sistemas técnicos de telecomunicações, informação, transportes e energia, entre outros. Elas podem
ser classificadas em diferentes níveis hierárquicos de influência socioeconômica: metrópoles, capitais regionais, centros
sub-regionais e centros locais. As maiores aglomerações urbanas exercem uma polarização sobre as menores, formando
um sistema integrado. No centro-sul do país, essa rede é mais densa, e existem cidades de todos os níveis hierárquicos.
Já na Amazônia, a articulação entre as cidades é menor, e a rede não está completa.
Para delimitar as áreas de influência das cidades brasileiras, o IBGE considera o fluxo de consumidores que usam
o comércio e os serviços públicos e privados no interior da rede urbana, mapeando os meios de transporte entre os
municípios e os principais destinos das pessoas que buscam produtos e/ou serviços fora de seu município de origem.
É importante ressaltar que o nível de renda de uma população determina o grau de acesso à fluidez das redes
técnicas; portanto, um habitante de alta renda de uma cidade pequena do interior tem mais acesso a essa fluidez do
que um habitante pobre de uma grande metrópole. Também a maior tecnificação e modernização dos sistemas de
telecomunicações e transportes (internet, telefonia celular etc.), juntamente com a ocupação econômica de novas
áreas no território, vem redefinindo a dinâmica dos fluxos de pessoas, mercadorias, serviços e informações pelo
814-4

território brasileiro.

POLISABER 33
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

Segundo o IBGE, as cidades brasileiras são classificadas em cinco níveis hierárquicos, subdivididos assim:
1 metrópoles
1.1 grande metrópole nacional (São Paulo)
1.2 metrópole nacional (Rio de Janeiro e Brasília)
1.3 metrópole (Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre)
2 capital regional
2.1 capital regional A – média de 955 mil habitantes
2.2 capital regional B – média de 435 mil habitantes
2.3 capital regional C – média de 250 mil habitantes
3 centro sub-regional
3.1 centro sub-regional A – média de 95 mil habitantes
3.2 centro sub-regional B – média de 71 mil habitantes
4 centro de zona
4.1 centro de zona A – média de 45 mil habitantes
4.2 centro de zona B – média de 23 mil habitantes
5 centro local – média de 8 mil habitantes

Relações entre as cidades em uma rede urbana

esquema clássico esquema atual

metrópole nacional metrópole regional

metrópole regional

centro regional

centro regional metrópole


nacional

cidade local
cidade local
ILUSTRAÇÕES: AVITS

vila vila

SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 1999.

Num contexto de economia globalizada, algumas cidades exercem sua capacidade de comando para além das fron-
teiras nacionais. É o caso de São Paulo, cuja influência alcança a América do Sul, por concentrar uma gama de serviços
especializados e sediar importantes atividades de comando de grandes empresas transnacionais e do grande capital
financeiro, como uma Bolsa de Valores. Assim, podemos dizer que São Paulo é também uma cidade global.
814-4

34 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

A grande São Paulo

Francisco
Morato Santa Isabel
Franco da Rocha Mariporá
Cajamar
Pirapora do Caleiras TRÓPICO DE
Bom Jesus Arujá
Guarulhos Guararema CAPRICÓRNIO
Santana de
Parnaíba Itaquaque-
cetuba
Barueri
Osasco Poá
Jandira Carapieuiba São Paulo Ferraz de
Itapevi Mogi das
Vasconcelos Salesópolis
Cruzes
Taboão S. Caetano Biritiba-
Vargem G. Suzano
da Serra do Sul Mirim
Paulista Embu Santo
Mauá
Diadema André Ribeirão
Cacia Pires
Itapecerica R. Grande
da Serra
da Serra
São Bernardo Bertioga
do Campo
Embu-Guaçú Cubatão
São Lourenço
da Serra
OCEANO
Guarujá ATLÂNTICO
Santos 16 km
Juquitiba

Itanhaém

IBGE Cidades. Disponível em: www.cidades.ibge.gov.br (acesso em: 2 set. 2014)

Brasil: influência das cidades (2007)

Boa Vista

Macapá EQUADOR

Belém São Luís

Manaus

Teresina Natal

João Pessoa
Recife
Porto Velho Palmas
10° Maceió
Rio Branco
Regiões de Influência Aracaju
Manaus
Belém Salvador
Fortaleza Brasília
Cuiabá Ilhéus-tabuna
Recife
Salvador
Belo Horizonte Goiânia
Rio de Janeiro
São Paulo Campo Grande Belo Horizonte
20°
Curitiba Vitória
Porto Alegre Dourado
Goiânia TRÓPICO DE
Brasília CAPRICÓRNIO
Rio de Janeiro
São Paulo
Hierarquia dos Centros Urbanos Curitiba

Grande Metrópole Nacional Capital Regional C


Florianópolis
Metrópole Nacional Centro Subregional A
Metrópole Centro Subregional B 356 km
MAPAS: AVITS

Porto alegre
Capital Regional A Centro de Zona A
Capital Regional B Centro de Zona B

70° 60° 50° 40°


814-4

IBGE. Atlas nacional do Brasil Milton Santos. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. p. 266.

POLISABER 35
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

A cidade brasileira e sua configuração interna


As cidades brasileiras oferecem a possibilidade de reduzir as distâncias sociais, culturais, econômicas e outras, pelo
fato de seu território (espaço físico somado ao conjunto de relações que nele se travam, dando-lhe conteúdo) permitir
uma multiplicação das interações e também porque mais pessoas convivem mais perto umas das outras. Ao fazer
parte do cotidiano da cidade, nos inserimos em seu conjunto de relações sociais e nos apropriamos de suas marcas
territoriais como a praça, o bairro, o posto de saúde, o campo de futebol, o comércio, a festa, o lugar público como o da
contiguidade, da mistura e da diversidade.
Porém, contraditoriamente, a cidade tem sido o lugar do isolamento, da fragmentação e desagregação da experiência do
viver o seu cotidiano da cidade. Exemplos disso são os condomínios fechados e os shopping centers, onde o espaço público
está segregado, selecionado apenas para algumas pessoas. Circula-se do trabalho para casa e desta para o shopping, que
muitas vezes está dentro do próprio condomínio fechado, sem estabelecer um vínculo com o que está fora desse trajeto.
Assim, a vida na cidade se territorializa apenas parcialmente, reforçando a desagregação, a exclusão e a segregação espacial.

Disponível em: www.belem.pa.gov.br/planodiretor/Cartilha/CartilhaWeb.pdf (acesso em: set. 2014)


DELFIM MARTINS/PULSAR IMAGENS

A charge e a fotografia tirada no bairro do Morumbi, em São Paulo, ilustram a segregação espacial presente nas cidades.
814-4

36 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

ALF RIBEIRO/PULSAR IMAGENS


Shopping center na cidade de São Paulo, o “templo” do consumo.

Um elemento que reforçou essa fragmentação das cidades no Brasil foi o incentivo ao uso do automóvel, em função do
qual se organiza o espaço das cidades, com a duvidosa racionalidade técnica das grandes obra viárias, a desvalorização
de espaços como os centros tradicionais e a configuração de uma cidade policêntrica com o advento dos shoppings,
hipermercados e outros locais de consumo onde o automóvel pode entrar. Assim, passamos a conviver com os con-
gestionamentos, com a insuficiência dos transportes públicos, que também incentivou a valorização do automóvel, e
com a perda da mobilidade urbana.
Quanto às atividades econômicas, hoje, as grandes cidades se especializaram no setor terciário, o que acarretou o
aumento da oferta de empregos no setor financeiro, na prestação de serviços, nas comunicações, nos transportes, na
indústria cultural, na publicidade e na produção científica.
Outro elemento de desagregação das cidades é a especulação imobiliária, que comanda o acesso à terra urbana
regulando o espaço urbano pela lógica do mercado privado, em que proprietários atuam estrategicamente valorizando
seus imóveis, muitas vezes com a ajuda do poder público, que equipa os espaços com bens e melhorias que interessam
a alguns em detrimento da coletividade, promovendo a desordem na ocupação da cidade.
Essa especulação imobiliária agrava também o déficit de habitações para as classes populares. Com a falência do
Sistema Financeiro de Habitação e do Banco Nacional de Habitação (BNH), criados na década de 1960 e responsáveis
pela construção de conjuntos habitacionais nas periferias das grandes cidades, as populações de baixa renda viram-se
obrigadas a procurar outras soluções para morar: favelas, cortiços, loteamentos clandestinos, organização de mutirões
de construção nas periferias e movimentos organizados de ocupação de espaços urbanos ociosos (os sem-teto). São
as chamadas submoradias.
814-4

POLISABER 37
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

Brasil: aglomerados subnormais (2010)

Boa Vista
Roraima
Amapá
Macapá
EQUADOR
Belém

São Luís
Manaus
Fortaleza

Pará Rio Grande


do Norte
Amazonas Natal
Maranhão Ceará
Paraíba
João
Pernambuco Pessoa
Acre Porto Velho Alagoas
10° Rio Branco Tocantins Maceió
Rondônia Bahia Sergipe
Mato Grosso Aracajú

Salvador
Cuiabá Brasília

Goiás Goiânia
Minas Gerais
Mato Grosso
Belo Horizonte
do Sul
20°
Campo São Paulo
Grande
Guarulhos

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO Rio de Janeiro


Curitiba Rio de Janeiro
São Paulo
Paraná Domicílios particulares ocupados
Santa Catarina em aglomerados subnormais
Florianópolis Maior que 250 000
Rio Grande 45 000 a 250 000
350 km do Sul 20 000 a 45 000
Porto Alegre
4 500 a 20 000
até 4 500
AVITS

70° 60° 50° 40°

IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 129.

População do Rio de Janeiro vivendo em aglomerado subnormal

A população nas favelas cresceu 57,9% entre 1991 e 2011. No mesmo período, a população da cidade do Rio de
Janeiro cresceu 15,5%.

6 323 037
5 857 904
5 473 952
População

1 393 314 População


881 882 1 092 283
AVITS

População em aglomerado subnormal

1991 2000 2010


Censo 2010: aglomerados subnormais em 9 temas. O Globo. Disponível em: http://oglobo.globo.com/infograficos/censo-2010-aglomerados-subnormais
814-4

(acesso em: 2 set. 2014)

38 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

MARLENE BERGAMO/FOLHAPRESS
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) em um protesto na cidade de São Paulo. O movimento luta por uma
cidade mais justa, democrática e pelo direito à moradia.

Paradoxalmente, muitos dos problemas urbanos e suas disfunções se transformam em matéria-prima para grandes
negócios, dos quais o mais evidente é a “indústria da segurança”. O crescente aumento da criminalidade e da violência
gera lucros para o setor imobiliário, que vende a “segurança” dos condomínios fechados para empresas que vendem
equipamentos antirroubo para veículos e também para empresas de segurança privada, muitas delas ilegais.
Assim, os problemas internos das cidades brasileiras amplificam a segregação e a mutilação do espaço urbano, que
vê seus espaços públicos empobrecendo cada vez mais a sociabilidade, vistos que são como ameaçadores e perigosos,
enquanto se privilegiam os espaços privados.
SAM TOREN/ALAMY/LATINSTOCK

814-4

A segurança como mercadoria. Câmera de segurança em um grande centro urbano.

POLISABER 39
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

EXERCÍCIOS

1. (UNESP) Examine a charge e leia o texto. agrícolas em expansão, onde as cidades eram o pivô das
atividades econômicas. Mas o destino fundamental dos
migrantes que abandonavam os grandes reservatórios
de mão de obra – o Nordeste e Minas Gerais, principal-
mente – eram as grandes cidades, particularmente, os
grandes aglomerados metropolitanos em formação no
Sudeste, entre os quais a Região Metropolitana de São
Paulo se destacava.

Disponível em: www.abep.nepo.unicamp.br/


docs/anais/outros/6EncNacSobreMigracoes/
WANDERLEI CARDOSO

ST3/FaustoBrito.pdf
(acesso em: set. 2014)

De acordo com a visão do autor, as migrações in-


ternas podem ser associadas, essencialmente, ao:
Disponível em: http://froes-explica.blogspot.com.br a) povoamento de novas áreas rurais situadas na fron-
(acesso em: 8 set. 2014) teira agrícola em expansão, nas quais cidades médias
comandavam as atividades econômicas.
O fenômeno não é novo e nem universal e, nas duas b) processo de urbanização e ao incremento da con-
últimas décadas, adquiriu uma escala internacional. Ape- centração populacional que deu origem aos grandes
sar de não serem novidade, os loteamentos murados e aglomerados metropolitanos.
os condomínios fechados produziram, em função da sua
c) processo de transição demográfica, que ajudou a
escala e de sua extensão, uma nova morfologia urbana.
redistribuir mais equitativamente a população pelo
Assemelham-se em várias cidades do mundo e têm a
território brasileiro.
singularidade de ser um produto imobiliário com barreiras
d) descolamento entre mobilidade espacial e mobilida-
físicas que impedem a entrada dos não “credenciados”.
de social, já que a população rural foi transferida para
RODRIGUES, Arlete Moysés os centros urbanos, mas permaneceu em situação
Loteamentos murados e condomínios fechados de exclusão.
In: Pedro de Almeida Vasconcelos et al. (Orgs.) e) processo de transferência das cidades do Nordeste
A cidade contemporânea, 2013 e de Minas Gerais, que funcionavam como reserva-
(adaptado) tório de mão de obra para os grandes aglomerados
metropolitanos do Sudeste.
Indique dois fatores que contribuíram para a pro-
liferação dos condomínios fechados e dos lotea-
mentos murados e aponte duas consequências 3. (UNESP)
resultantes da instalação desses empreendi-
mentos imobiliários para as cidades brasileiras. Rodo cotidiano

A ideia lá comia solta


Subia a manga amarrotada social
2. (FGV) No texto abaixo, o demógrafo Fausto Brito
No calor alumínio nem caneta nem papel
analisa o fenômeno das migrações internas no
Uma ideia fugia
Brasil entre 1960 e 1980.
Era o rodo cotidiano
As migrações internas redistribuíam a população do
campo para as cidades, entre os estados e entre as Espaço é curto quase um curral
814-4

diferentes regiões do Brasil, inclusive para as fronteiras Na mochila amassada uma quentinha abafada

40 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

Meu troco é pouco, é quase nada c) da elite econômica nacional que sofre com a baixa
qualidade dos serviços de transporte público.
Ô Ô Ô Ô Ô my brother d) da classe dirigente nacional que usufrui de eficientes
serviços de transporte privado.
Não se anda por onde gosta e) da grande parte dos trabalhadores rurais que enfrentam
Mas por aqui não tem jeito, todo mundo se encosta a baixa qualidade dos serviços de transporte público.
Ela some é lá no ralo de gente
Ela é linda mas não tem nome
É comum e é normal 4. (UDESC) O ano de 2013, no Brasil, foi marcado
por muitas manifestações populares. Entre as
Sou mais um no Brasil da Central demandas dos brasileiros figurava a questão ur-
Da minhoca de metal que corta as ruas bana da mobilidade. A respeito da mobilidade,
Da minhoca de metal assinale a alternativa correta:
É... como um concorde apressado cheio de força a) O deslocamento de trabalhadores, a qualidade de vida
Que voa, voa mais pesado que o ar e as vias de transporte fazem parte do que se costuma
E o avião, o avião, o avião do trabalhador chamar de mobilidade urbana. A preocupação com a
mobilidade urbana tem chamado atenção de diversas
Ô Ô Ô Ô Ô my brother autoridades no mundo, sobretudo no que diz respeito
à integração dos meios de transporte coletivos.
b) Carros individuais são a grande saída para o problema da
A letra da canção “Rodo cotidiano”, do grupo
mobilidade, pois se cada um garantir o seu transporte,
O Rappa, oferece um olhar crítico sobre as condi-
não haverá dificuldade de deslocamento para ninguém.
ções de vida:
c) Transporte coletivo é o nome dado a qualquer trans-
a) da pequena parte dos trabalhadores urbanos que porte que conduza mais de uma pessoa.
têm acesso à alta qualidade dos serviços de trans- d) A mobilidade urbana é um problema exclusivamente
porte privado. brasileiro, visto que em outras partes do mundo a
b) da grande parte dos trabalhadores urbanos que questão já está resolvida.
vivenciam a baixa qualidade dos serviços de trans- e) Nas grandes cidades, carro é sinônimo de velocidade,
porte público. conforto e autonomia.

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),
Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado resolvendo os exercícios e também verificar como os exa-
mes vestibulares tratam o assunto destas aulas. Na roda de leitura, um texto complementa o que vimos sobre energia
eólica. E, para ampliar seu repertório, veja as sugestões de pesquisar e ler, ver e ouvir, navegar e ágora.

EXERCÍCIOS

1. (ESPCEX-AMAN) Segundo o IBGE, em 2007, o a) são sede de município ou de distrito e as demais


nível de urbanização brasileira já era de 83,5%, áreas definidas como urbanas pelas legislações
índice superior ao da maior parte dos países eu- municipais.
ropeus. Alguns estudiosos acreditam que o Bra- b) têm população absoluta acima de 5 mil habitantes.
sil apresenta, na verdade, nível de urbanização c) têm mais de 8 mil eleitores.
menor do que revelam as estatísticas do IBGE. d) apresentam densidade demográfica superior a
De acordo com os estudiosos, essa elevada ur- 150 hab./km2, tal como definem os países da OCDE.
banização apontada pelas estatísticas deve-se e) têm determinadas infraestruturas e equipamentos
ao fato de a legislação do país considerar urba- coletivos como escolas e postos de saúde e funcionam
814-4

nas as localidades que: como um polo de distribuição de bens e serviços.

POLISABER 41
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

2. (ESPM)
De acordo com o texto da reportagem e com
Proporção da população residente, por situação seus conhecimentos a respeito da questão da
do domicílio – Brasil – 1950/2010 mobilidade urbana no Brasil, considere as afir-
mativas a seguir:

I. A expressão “demanda reprimida” faz referência


ao aumento da renda média ocorrido nos últimos
anos nas regiões Norte e Nordeste. Desse modo,
essas regiões, atualmente, contrariam o funda-
mento da industrialização brasileira que, implanta-
da a partir da década de 1950, combina indústria
automobilística, transporte individual e obras viá-
rias urbanas.
II. O comportamento das vendas de automóveis nas
regiões Sul e Sudeste tende à estabilização, sem o
(1) Para o cálculo da taxa, foi utilizada a população presente em 1950, acréscimo significativo de novos consumidores. A
enquanto para os anos seguintes, foi utilizada a população residente. queda do interesse por carros indica uma correla-
Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 2010.
ção direta com a saturação do modelo de transpor-
te individual.
As linhas representam uma inversão da realida- III. Os dados apresentados pela reportagem são de
de nacional. Trata-se de: 2012. A partir deles, é correto afirmar que certos
a) Taxas de natalidade e mortalidade. segmentos da sociedade brasileira já questionavam
b) Crescimento e diminuição das exportações e impor- o modelo do transporte presente nas grandes ci-
tações brasileiras no período.
dades do país. Assim, as reivindicações iniciais das
c) Inversão da PEA nos setores primário e secundário.
manifestações de rua de junho de 2013 foram um
d) Crescimento do PIB nacional e deflação.
dos sinais desse processo.
e) Evolução da população urbana e rural.

Assinale a alternativa correta:


3. (MACK) a) Estão corretas apenas as afirmativas I e II.
b) Estão corretas apenas as afirmativas II e III.
A era do automóvel empacou c) Estão corretas apenas as afirmativas I e III.
d) Está correta apenas a afirmativa I.
[...] O paradoxo do Brasil, onde a venda de automóveis e) Está correta apenas a afirmativa II.
cresce, e as pesquisas de mercado mostram a queda do
interesse, se explica pela diversidade do país. A Associa-
ção Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores 4. (UNICAMP)
(Anfavea) afirma que a média brasileira de 6,1 habitantes
por carro ainda é alta e deverá cair à metade até mea- Em termos genéricos, a rede urbana constitui-se no
dos de 2020. O crescimento nas vendas é puxado pela conjunto de centros urbanos funcionalmente articu-
demanda reprimida das regiões Norte e Nordeste. No Sul
lados entre si. É, portanto, um tipo particular de rede
e no Sudeste, o aumento da frota passou a acompanhar
na qual os vértices ou nós representam os diferentes
o crescimento da população. Nessas regiões, observa-se
núcleos de povoamento dotados de funções urbanas,
a queda de interesse pelos carros. Segundo a pesquisa
Origem e Destino, do metrô, a relação de carros por e as linhas representam os diversos fluxos entre esses
habitante em São Paulo manteve-se estável entre 1997 centros.
e 2007. Nesse período, o uso de transporte público subiu
de 45% para 55% [...]. CORRÊA, Roberto Lobato
Trajetórias geográficas
Marcelo Moura e Isabella Ayub Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001
814-4

Revista Época, 4 dez. 2012 (adaptado)

42 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

Sobre a rede urbana brasileira, é correto afirmar nados existentes e prevenção do surgimento de novas
que: situações de vulnerabilidade urbana”, entre outras. As
a) formou-se a partir do interior do continente, com o estratégias de conservação devem ser estabelecidas
nascimento das cidades “boca de sertão”, funcionais com os municípios vizinhos.
para o povoamento e a exploração do ouro. “Com a lei, houve a ampliação de zonas especiais de in-
b) já no início do século XIX, ela deixou de seguir o teresse social, que deverão ficar reservadas para a popu-
modelo dendrítico implantado desde o início da co- lação de até três salários-mínimos, além da regularização
lonização para atender à economia agroexportadora. de favelas”, disse a vice-prefeita Nádia Campeão, durante
c) a partir da segunda metade do século XX, a indus- o evento Diálogos Capitais – Metrópoles Brasileiras – O
trialização implicou forte articulação inter-regional, Futuro Planejado, nesta segunda-feira (21), em São Paulo.
gerando uma rede urbana de porte nacional. Segundo ela, a mobilidade urbana contará com
d) na atualidade, destaca-se a monofuncionalidade dos recursos de pelo menos 30% do Fundo Municipal de
principais centros que a formam, dada a especializa- Desenvolvimento Urbano (Fundurb), que possui repasses
ção das funções urbanas requerida na globalização. da outorga onerosa, que é a contrapartida dos empreen-
dimentos para a construção. “Atualmente, já está sendo
feita a ampliação de faixas exclusivas para ônibus, com
340 quilômetros de extensão, que proporciona um ganho
RODA DE LEITURA médio de 38 minutos por dia. Também está em andamen-
to a implantação de corredores, para atingir, até 2016, 150
quilômetros. Até 2015, a meta é lançar 400 quilômetros
Os desafios de uma metrópole chamada São
de ciclovias (até o início de 2013 eram 63 quilômetros)”. O
Paulo
Novo Plano Diretor Estratégico, aprovado neste principal desafio, em sua avaliação, será ampliar a malha
mês, tem um horizonte de 16 anos. de trens e metrô, em parceria com o governo do estado,
que faz a ligação com a região metropolitana.
São Paulo, a capital na 4a maior região metropolitana No capítulo ambiental, o PDE prevê a ampliação das cha-
mundial por habitação (depois de Tóquio, Seul e da madas Zonas Especiais de Proteção Ambiental (Zepams) e,
cidade do México), formada por mais 38 municípios, com isso, deverão ser construídos 164 parques públicos,
enfrenta o grande desafio de atender com qualidade de além dos atuais 105, e criado um Fundo Municipal dos
vida seus 11,5 milhões de habitantes e não deixar de Parques. Mais uma diretriz é recriar a zona rural, no extre-
lado a integração com as milhares de pessoas que vivem mo-sul, que deverá abranger 25% do território da cidade.
em seu entorno e transitam ou trabalham na própria Em conjunto com os outros municípios, há diferentes
cidade. Ao mesmo tempo, o município, que figura entre ações previstas, se necessário, na seção referente ao
os 40 maiores Produtos Internos Brutos (PIB) mundiais, esgotamento sanitário, que é um dos principais proble-
tem dificuldade de colocar em prática as legislações mas na região. Entre elas, a implementação de novos
de gestão já existentes. O mais recente desafio é im- interceptores e coletores troncos e de novos módulos de
plementar a atual revisão do Plano Diretor Estratégico tratamento nas Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs)
(PDE) do município de São Paulo, aprovada neste mês, e a otimização das já existentes em Barueri, no ABC, no
com horizonte de 16 anos, que ainda é tímida quanto a Parque Novo Mundo, em São Miguel e em Suzano.
uma integração maior com os outros municípios.
As palavras sustentabilidade e meio ambiente se Base de consulta
repetem em vários trechos do PDE, e um dos cinco Um dos documentos de consulta para a formulação da
princípios do documento é o “Direito ao Meio Ambiente atualização do PDE paulistano foi o SP 2040 – A Cidade
Ecologicamente Equilibrado”. A atual legislação esta- que Queremos, da Secretaria Municipal de Desenvolvi-
belece algumas diretrizes, como o de uma cidade mais mento Urbano, em 2012, que contou com a consulta a
compacta, menos dependente de automóveis e que 250 especialistas e mais de 25 mil pessoas da sociedade
favoreça a moradia mais perto do emprego, como tam- civil, em áreas públicas e em fóruns sociais.
bém a promoção e o desenvolvimento de um sistema De acordo com James Wright, professor da Faculdade
de transporte coletivo não poluente. A legislação ainda de Economia e Administração da Universidade de São
tem a meta de “solucionar os problemas nas áreas com Paulo (FEA-USP) e membro do Programa de Estudos do
814-4

riscos de inundações, deslizamentos e solos contami- Futuro (Profuturo), nesse levantamento, se constatou a

POLISABER 43
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

existência de uma cidade policêntrica, com 120 polos, coleta de esgoto ainda é uma das principais questões
que hoje já contam com boa infraestrutura. “A ideia des- a serem solucionadas. Há municípios que não chegam
sa cidade mais compacta é que em um deslocamento de a ter 40% de coleta, e nenhum atinge 100%.
no máximo 30 minutos, o cidadão consiga se ligar a um Os municípios que fazem parte da Região Metropoli-
desses pontos”, explicou. A importância do investimento tana de São Paulo, localizada em uma área de 8 051 qui-
nos parques urbanos e de uma maior integração com lômetros quadrados, são: Arujá, Barueri, Biritiba-Mirim,
a revitalização dos rios da cidade também fazem parte Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu
da proposta do documento. das Artes, Embu-Guaçu, Ferraz de Vasconcelos, Fran-
cisco Morato, Franco da Rocha, Guararema, Guarulhos,
Do papel à prática Itapevi, Itapecerica da Serra, Itaquaquecetuba, Jandira,
Especialistas e governantes analisam que até agora, Juquitiba, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco,
apesar de um arcabouço de diretrizes, como o próprio Pirapora do Bom Jesus, Poá, Ribeirão Pires, Rio Grande
instrumento do plano diretor e do Estatuto da Cidade, da Serra, Salesópolis, Santa Isabel, Santana de Parnaíba,
criado em 2001, pelo governo federal, as implemen- Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do
tações são muito lentas para colocar na prática a Sul, São Lourenço da Serra, São Paulo, Suzano, Taboão
administração dos problemas de desenvolvimento da Serra e Vargem Grande Paulista.
das cidades. Agora, mais um dispositivo está para ser
aprovado. Desde março, tramita no Senado, depois de RESK, Sucena Shkrada
aprovação na Câmara, o Estatuto da Metrópole, de au- Os desafios de uma metrópole chamada São Paulo
toria do deputado Walter Feldman. Uma discussão que Editora Horizonte, 22 jul. 2014
se alonga há 13 anos. Disponível em: http://horizontegeografico.com.br/
A arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, da Universidade exibirMateria/2177/os-desafios-de-uma-metropole-
de São Paulo (USP), pontua a importância de maior par- chamada-sao-paulo#sthash.8oqdhgUy.dpuf
ticipação da sociedade no processo. Para isso, devem (acesso em: 1 set. 2014)
ser superados, segundo ela, alguns desafios que fazem
parte do atual modelo de desenvolvimento urbano. “Um
deles é a ambiguidade. Houve a priorização do plane-
PESQUISAR E LER
jamento da cidade na produção, residência e consumo
das elites, negligenciando a cidade para as maiorias. As
favelas acabam tendo uma transitoriedade permanente BRANCO, Samuel Murgel. Ecologia da cidade. 2. ed. São
e são urbanizadas ou removidas, dependendo dos pro- Paulo: Moderna, 2003. (Coleção Desafios.)
jetos urbanísticos”, disse. O autor analisa questões ambientais urbanas como alte-
Ela tece uma crítica à política urbana pautada princi- rações do clima e qualidade do ar, das águas, dos solos
palmente nos negócios atrelados aos grandes financia- e poluição sonora, entre outras.
dores das campanhas das eleições. “Mais um desafio do
planejamento é não ser em curto prazo. É uma iniciativa CARLOS, Ana Fani A. A cidade. 7. ed. São Paulo: Contex-
que envolve décadas”, afirmou. to, 2003. (Coleção Repensando a Geografia.)
No ano passado, pesquisadores do Observatório das O livro discute a apropriação e o uso do solo urbano e
Metrópoles lançaram o documento Índice de Bem-Estar sua valorização por meio da análise de sua paisagem.
Urbano (Ibeu) da região Metropolitana de São Paulo, em
que avaliam a mobilidade urbana, condições ambientais, MARICATO, Ermínia. Habitação e cidade. 7. ed. São
habitacionais, de serviços coletivos e de infraestrutura Paulo: Atual, 2004.
urbana. Um dos dados levantados é de que só na ca- A questão da habitação no Brasil é tratada à luz dos pro-
pital, de cada cinco paulistanos, um mora em favela, blemas sociais das grandes cidades brasileiras.
praticamente. Mais um problema é a ocupação desor-
denada em áreas de proteção de mananciais, como no SCARLATO, Francisco Capuano; PONTIN, Joel. O am-
caso das regiões das represas Billings e Guarapiranga. biente urbano. São Paulo: Atual, 1999. (Meio Ambiente.)
Nesses locais, está sendo desenvolvido o Programa O livro aborda a questão da urbanização e suas impli-
Mananciais, que prevê a urbanização de loteamentos, cações ambientais e sociais: lixo, moradia, água, ar e
814-4

envolvendo investimentos do município e do estado. A áreas verdes.

44 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL

Ministério das Cidades


VER E OUVIR www.cidades.gov.br (acesso em: 1 set. 2014)
No site oficial do Ministério das Cidades, encontram-se
Cidade de Deus textos, análises e dados sobre saneamento ambiental,
(direção: Fernando Meirelles. Brasil, 2002.) projetos urbanos, transportes etc.
O filme aborda a violência de um bairro da periferia do Rio
de Janeiro entre as décadas de 1960 e 1980, onde, sob o
comando do crime organizado, o cotidiano dos moradores
é extremamente difícil. Baseado em fatos reais.
ÁGORA

Linha de passe Leia a notícia abaixo, sobre uma decisão judicial a res-
(direção: Walter Salles e Daniela Thomas. Brasil, 2008.) peito dos “rolezinhos” (ocupações de shopping centers
O filme retrata o cotidiano de uma família pobre da peri- e outros espaços públicos da cidade por jovens e ado-
feria da zona leste de São Paulo – mãe e quatro filhos –, lescentes das classes populares e médias) organizados
todos com seus sonhos, anseios e frustrações diante de por meio das redes sociais e discuta com seus colegas o
um cotidiano difícil e carente de oportunidades. direito de se proibirem ou limitarem tais manifestações.

5 x favela – Agora por nós mesmos Shopping Vila Velha consegue liminar para
(direção: Cadu Barcelos, Rodrigo Felha, Luciano Vidigal, evitar “rolezinhos”, no ES
Luciana Bezerra, Cacau Amaral, Manaira Carneiro, Wagner Segundo decisão, shopping pode proibir entrada de
Novais. Brasil, 2010.) pessoas com mochilas. Documento prevê multa de
Em cinco histórias, apresentam-se os dramas e as ale- R$ 3 mil por pessoa envolvida em tumultos.
grias da vida cotidiana de moradores de favelas do Rio
de Janeiro. Para evitar os chamados “rolezinhos”, o shopping de
Vila Velha, no Espírito Santo, conseguiu uma liminar na
“Sobradinho”. Pirão de peixe com pimenta, 1977 justiça estadual que permite que o estabelecimento pro-
Com música e letra de Sá e Guarabyra, a canção faz uma íba a entrada de pessoas com sacolas ou mochilas, além
critica à construção da usina de Sobradinho, no rio São de prever uma multa de R$ 3 mil por pessoa envolvida
Francisco, nos anos 1970. caso aconteça algum tumulto. Segundo o documento,
essa permissão refere-se às datas em que os “rolezinhos”
“Manguetown”. Afrociberdelia, 1996 estariam marcados para ocorrer, divulgados através de
Chico Science & Nação Zumbi. Precursor do movimento redes sociais, como ocorreu nesta segunda-feira (25), dia
mangue beat, o grupo aborda na música a questão dos de inauguração do shopping, e nesta sexta-feira (29). O
mangues da cidade de Recife e das populações pobres shopping informou que a decisão tomada é um padrão
que sobrevivem em seu entorno. do gerenciamento do conteúdo de mídias sociais e que
não pode comentar uma decisão tomada pela Justiça.
Além da multa e da proibição da entrada de pessoas
com sacolas ou mochilas – a entrada só seria permitida
NAVEGAR
com revista prévia realizada por seguranças do centro
de compras –, a decisão também impede o acesso
Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano de pessoas usando máscaras ou toucas que possam
(Emplasa) impedir a identificação.
www.emplasa.sp.gov.br (acesso: 1 set. 2014) “Determino aos participantes do rolezinho, seus líde-
Nesse site, é possível obter dados e mapas sobre as res e aderentes, que se abstenham de praticar quaisquer
regiões metropolitanas paulistas. atos que coloquem em risco os frequentadores do
Shopping Vila Velha, empregados e lojistas, bem como o
Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam) patrimônio dessas pessoas”, diz o documento expedido
www.ibam.org.br (acesso em: 1 set. 2014) pelo juiz Délio José Rocha Sobrinho.
Nesse site, há textos e estudos sobre Plano Diretor, Estatuto A decisão também permite que o shopping filme e
814-4

da Cidade e Código de Obras, entre outros temas urbanos. identifique pessoas que desejam entrar em suas depen-

POLISABER 45
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12

dências e, ainda, filmá-las durante sua permanência nas


dependências do centro de compras.
Em outra ação, representantes já tinham conse-
guido a remoção do evento em uma rede social que
marcava o rolezinho para a inauguração do shopping.
Mas outro evento foi marcado para esta sexta-feira
(29), às 15h.

Shopping Vila Velha consegue liminar para evitar


‘rolezinhos’, no ES. globo.com, 29 ago. 2014.
Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-santo/
noticia/2014/08/shopping-vila-velha-consegue-liminar-
para-evitar-rolezinhos-no-es.html
(acesso em: 1 set. 2014)

S E N H A
Se as cidades são os nós das redes geo-
gráficas, quais seriam então os seus fios?
814-4

46 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 13 aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

A criação de fixos produtivos leva ao surgi-


mento de fluxos que, por sua vez, exigem
fixos para balizar o seu próprio movimento.
ALEX TAUBER/PULSAR IMAGENS

É a dialética entre a frequência e a espessura


dos movimentos no período contemporâneo
e a construção e modernização dos aeropor-
tos, portos, estradas, ferrovias e hidrovias.
Milton Santos e Maria Laura Silveira

Fixos territoriais são construções humanas, grandes país, pois crescem também os laços de interdependência
obras de engenharia fixadas no território como prédios, social, exigindo maior necessidade de trocas.
usinas de energia, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos; Com o desenvolvimento econômico dos territórios
é a materialidade do território. acentua-se uma divisão do trabalho entre áreas ou
Fluxos territoriais é o que dá vida e sentido aos fixos, regiões que se tornam especializadas, deixando muitos
são os movimentos de energia, de pessoas, de merca-
lugares dependentes daquilo que não produzem, como
dorias, de capitais, de informações, que passam ou são
no caso da especialização campo-cidade. Essa lógica
originados pelos fixos.
econômica e social requer o desenvolvimento dos meios
de transporte para que as relações se complementem.
Os sistemas de transporte, Os sistemas de transportes são ao mesmo tempo produto
do desenvolvimento econômico, social e espacial como
comunicações e as relações também promovem tal desenvolvimento.
comerciais do Brasil Inicialmente, o sistema de transportes no Brasil estru-
turou-se com uma maior densidade de caminhos nas
proximidades da faixa litorânea, pois a maior parte da
Consideramos de fundamental importância para a
população ali se estabeleceu, em função da nossa econo-
compreensão da realidade brasileira o entendimento de
como os sistemas técnicos territoriais estão organizados mia de exportação. Até a primeira metade do século XX
diante das possibilidades geográficas, como a dimensão não tínhamos um sistema de transporte que integrasse
e os aspectos naturais, e históricos, como os percalços as diversas regiões do país, mas apenas linhas férreas que
do desenvolvimento econômico e político. Nestas aulas ligavam o interior ao porto, principalmente em São Paulo.
vamos analisar como os sistemas de transportes e co- Somente a partir da década de 1940 é que pode-se
municações se estruturam no Brasil e como tais sistemas considerar um sistema de transportes no país, pois com a
interferem nas atividades econômicas, em especial no aceleração do processo de industrialização e urbanização
comércio exterior brasileiro. na região Sudeste forma-se um mercado nacional em
virtude do intercâmbio econômico e social dessa região,
centro polarizador e irradiador, com as demais regiões.
Os sistemas de transportes no Logo se desenvolve um novo sistema cuja base é a rodovia –
Brasil incomum em países com grande extensão territorial –,
construído para concorrer com as ferrovias e não se integrar
Podemos afirmar que todos os sistemas técnicos (energia, a elas num sistema intermodal. Assim, o modelo rodoviá-
informações, saneamento etc.) também são um sistema de rio tornou-se predominante no país, pois o processo de
transporte. Especificamente, no entanto, trataremos inicial- industrialização deu-se no auge da indústria automobi-
mente dos sistemas que locomovem pessoas, volumes e lística, diferentemente de outros países que desenvolve-
mercadorias diversas sobre o território através de veículos ram as ferrovias, pois se industrializaram anteriormente.
automotores como caminhões, automóveis, trens, barcos, Esse modelo rodoviário é totalmente irracional e antieco-
aviões, sobre rodovias, hidrovias, aerovias e outras rotas. nômico, e resultou da falta de planejamento e da concep-
Lembramos que os sistemas de energia (eletricidade e gás) ção rodoviarista das décadas de 1950-1960, tendo como
estudados na apostila 7 também compõem esses sistemas frutos a nossa malha de rios navegáveis não aproveitada
814-4

que crescem na medida do desenvolvimento econômico do e a malha ferroviária abandonada.

POLISABER 47
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13

O modal rodoviário

O predomínio do sistema de transporte rodoviário no Brasil deve-se ao papel desempenhado pelas grandes empresas
automobilísticas, de autopeças, de pneus e até pelas gigantes petrolíferas que influíram nos meios governamentais para
que tal modelo fosse adotado, ao longo das décadas de 1950 e 1960, quando tais empresas instalaram-se no território
brasileiro, incentivadas pelos Estado desenvolvimentista. Esse predomínio insere-se tanto nos trajetos de longa distância
como nos transportes urbanos, e hoje se mostra irracional e insustentável. No ambiente urbano, o trânsito, a poluição
que ele gera e a falta de mobilidade têm se revelado problemas de primeira ordem nas reivindicações dos cidadãos, em
especial daqueles que habitam as periferias distantes do local de trabalho e que dependem de um transporte coletivo,
hoje insuficiente e relegado a um segundo plano diante do uso indiscriminado e excessivo do automóvel particular, este
sim o grande responsável pelos congestionamentos gigantescos nas cidades.
No início da década de 1960, as construções da BR-116, da rodovia Belém-Brasília, Cuiabá-Santarém, entre outras,
permitiram maior integração entre as diversas regiões do país.
O Brasil possui mais de 450 mil quilômetros de rodovias, sendo pouco mais da metade pavimentada, segundo o DNIT
(Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes); muitas dessas são vias expressas ligando os centros mais
importantes, algumas especializadas, como os corredores de exportação que ligam áreas produtoras aos portos e vias
interportos. Apesar de apresentar boas interconexões laterais, a malha rodoviária é mais densa no Centro-Sul do país e
menos densa na região Norte. Nessas rodovias trafega uma frota de mais de 2,5 milhões de caminhões que transportam
cargas, como a soja exportada do Mato Grosso do Sul para o porto de Paranaguá, no Paraná, em cujo trajeto ocorrem vários
problemas em razão da longa distância, como a demora no embarque, situação na qual o próprio caminhão transforma-
-se em “armazém”, os custos do frete que encarecem o produto, entre outros. Além disso, há a frota de ônibus para
transportar passageiros, que é a principal forma de mobilidade de pessoas, principalmente em grandes distâncias entre
o Sul e o Norte/Nordeste, significando muitos dias de viagem, em especial para os segmentos mais pobres da população.

Brasil – Rodovias (2012)


80° O 70° O 60° O 50° O 40° O 30° O

RR
Boa Vista AP
Macapá EQUADOR

Belém
São Luís
Manaus
AM Fortaleza
PA MA
Teresina
CE RN Natal
PI PB João Pessoa
AC Palmas PE Recife
10° S Porto Velho AL Maceió 10° S

Rio Branco TO SE Aracaju


RO
MT
BA Salvador
o
tic

Cuiabá GO
n

DF
tlâ
Oceano A

Goiânia MG
MS Belo Horizonte ES
20° S 20° S
Campo Grande Vitória
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
SP RJ
PR São Paulo Rio de Janeiro
rodovias
Curitiba
rodovias pavimentadas
SC
rodovias de terra Florianópolis
RS
30° S 30° S
Porto Alegre
290 km
AVITS

70° O 60° O 50° O 40° O

As rodovias concentram-se no Centro-Sul, mas integram todo o território nacional.


814-4

Fonte: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 90.

48 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

Boa parte dessas infraestruturas rodoviárias, tanto na esfera estadual como na federal, está hoje privatizada – isso
significa que as empresas ou os consórcios de empresas obtêm a concessão de trechos ou de estradas inteiras, garan-
tindo os serviços de manutenção, renovação e expansão em troca do direito de cobrar pedágio dos usuários da rodovias.

O modal ferroviário

A maior parte dos ramais ferroviários no Brasil foi construída no contexto da economia agrário-exportadora do final do
século XIX. Enquanto na Europa e nos EUA o trem servia à Revolução Industrial, aqui era utilizado para escoar a produção
cafeeira do interior de São Paulo ao porto de Santos ou outras produções no território nacional aos seus portos mais
próximos. Esse era o caso da São Paulo Railway, construída pelos ingleses, ligando Jundiaí a Santos. Paradoxalmente,
quando nos industrializamos no pós-Segunda Guerra, os investimentos em ferrovias já haviam sido paralisados desde
a década de 1920 e as rodovias cresceram em extensão.
Somente a partir da década de 1980 é que se reativam alguns investimentos em ferrovias na região amazônica, onde a
exploração madeireira e a mineradora exigiam a implantação de tais infraestruturas para escoar a produção aos portos,
como a Estrada de Ferro Carajás, concluída em 1985, interligando as jazidas minerais da Serra dos Carajás, no sul do
Pará, ao porto de Itaqui, no Maranhão.
Alguns projetos idealizados na década de 1980 ainda não foram concluídos, como a Ferrovia Norte-Sul, que deveria
ser uma verdadeira espinha dorsal dos transportes ferroviários no Brasil, interligando Belém/PA ao Rio Grande do Sul/RS,
com mais de 1 600 quilômetros de extensão, mas que, até agora, só conta com o trecho entre Açailândia/PA a Palmas/TO
em operação, ou a Transnordestina, em obras, cujo traçado deverá ligar os portos de Pecém/CE e o de Suape/PE ao município
de Eliseu Martins, no interior do Piauí.

Brasil – Ferrovias
70° O 60° O 50° O 40° O

RR ESTRADA DE FERRO
Boa Vista
DO AMAPÁ AP ESTRADA DE FERRO
CARAJÁS
Macapá EQUADOR
E.F. TROMBETAS
Belém CIA. FERROVIÁRIA
DO NORDESTE
Manaus São Luís
E.F. JARI Fortaleza
AM PA
MA CE
Teresina RN Natal

PI PB João Pessoa
PE Recife
AC Porto Velho
FERROVIA Palmas
10° S
NORTE-SUL AL 10° S
Rio Branco TO SE Maceió
RO Aracaju
MT
BA
Salvador
FERRONORTE GO FERROVIÁRIA CENTRO
Cuiabá DF ATLÂNTICO
Goiânia FERROVIA
FERROVIA VITÓRIA-MINAS
NOVOESTE MG
MS ES
20° S 20° S
Belo Horizonte Vitória
Campo
MRS
Grande SP RJ i co
LOGÍSTICA
FERROESTE São Paulo
nt
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

tlâ
Rio de METRO-RJ
PR Janeiro FLUMITRENS
ferrovia existente
A

Curitiba FERROBAN METRÔ-SP


no

ferrovia planejada
SC CPTM
Ocea

Companhia do Metropolitano do Distrito Federal


Florianópolis
CPTM e Metrô SP
RS FERROVIA TEREZA
30° S Metrô Fluminense 30° S
CRISTINA
Companhia Brasileira de Trens Urbanos Porto Alegre
AMÉRICA LATINA 290 km
AVITS

LOGÍSTICA
70° O 60° O 50° O 40° O

As ferrovias ainda revelam o padrão exportador da economia brasileira, pois se concentram no litoral.
814-4

Fonte: Ministério dos Transportes. Disponível em: www.transportes.gov.br (acesso em: 14 set. 2014)

POLISABER 49
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13

Também no setor ferroviário as privatizações ocorre- (de empresas e do Estado) é pequena atualmente. Utili-
ram na década de 1990, quando a RFFSA (Rede Ferro- zamos principalmente navios de bandeiras estrangeiras.
viária Federal S/A) e a Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A) Mas a principal infraestrutura nesse tipo de transporte
tiveram suas malhas divididas em partes, as quais foram são os portos, por onde passam mais de 90% das expor-
vendidas segundo o mesmo modelo de concessões das tações brasileiras. Estes precisam apresentar condições
rodovias. Essa reformulação tinha como meta transfor- satisfatórias para receber navios de grande porte, contar
mar as ferrovias no principal sistema de transportes de com profissionais e equipamentos para realizar o em-
cargas pesadas no Brasil. Apesar dessas importantes barque e o desembarque com maior eficiência possível
mudanças administrativas, que romperam uma paralisia e estar aparelhados para receber contêineres, que hoje
no sistema, os investimentos prometidos pelas empresas representam mais de 80% das cargas transportadas em
concessionárias ainda são tímidos diante da urgência navios e consistem em um importante avanço no acon-
do aparelhamento do território para se adequar a uma dicionamento das mercadorias. Nossos portos ainda não
economia mais competitiva e globalizada deste início estão plenamente adequados a essas condições, sendo
do século XXI. a demora em movimentar cargas, a inadequação ao for-
mato dos contêineres problemas a serem enfrentados.
No setor de portos, a privatização também é uma reali-
O modal hidroviário dade. Os que argumentam a favor dizem que, dessa forma,
eles se modernizarão reduzindo os custos das exportações,
O transporte hidroviário representa a forma mais natu- porém o porto de Santos, cuja maior parte dos terminais já
ral de transporte utilizada pelo homem desde há muito foi privatizada no final da década de 1990, não apresentou
tempo. Vários fatores devem ser avaliados para que esse alterações econômicas significativas.
modelo de transporte seja realmente viável: presença de Ao longo da costa brasileira temos uma distribuição
rios, lagos, represas com navegabilidade em potencial; relativamente equilibrada, com leve concentração no
facilidade de acesso ao mar; infraestrutura eficiente em Sudeste. Em geral, os portos brasileiros dividem-se em
portos; obras quando necessárias, para tornar um rio portos genéricos (para todo tipo de carga) e portos es-
potencialmente navegável em navegável ao eliminar pecializados (minérios para exportação).
obstáculos naturais e criar serviços de apoio; articulação
da economia nacional com o comércio internacional, Brasil: principais portos e suas
possibilitando as exportações e importações. No caso exportações
do Brasil os fatores naturais são mais favoráveis, mas
ainda necessitamos de melhorias nas infraestruturas
dessa modalidade de transporte que é considerada uma Belém Itaqui

forma econômica de transporte de cargas pesadas, como


Recife
minérios, grãos, combustíveis, entre outros.
Podemos classificar o modal hidroviário em três tipos: Oceano
• Navegação de longo curso (marítima ou oceânica); Atlântico

• Navegação de cabotagem (ao longo da costa, de porto Vitória-Tubarão


a porto); Rio de Janeiro
São Sebastião
• Navegação fluvial (ao longo dos rios que penetram o Santos
território). Paranaguá
Rio Grande do Sul
Exportações
minérios
manufaturados Importações

Navegação marítima e navegação de café trigo


petróleo corredor de
fumo
cabotagem óleos vegetais manufaturados exportação

soja minérios importação

O Brasil apresenta uma imensa costa oceânica que, Alguns dos portos especializados em exportações e sua
localização no litoral do Brasil.
historicamente, permitiu que mercadorias entrassem
Fonte: Brasil. Sistema portuário nacional. Disponível em:
e saíssem do país por via oceânica. Temos também www.portosdobrasil.gov.br/assuntos-1/sistema-portuario-nacional (acesso
em: 13 set. 2014); Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
uma economia bastante articulada com o comércio
814-4

Disponível em: www.antaq.gov.br/portal/Portos_PrincipaisPortos.asp


internacional; porém, nossa frota de navios mercantes (acesso em: 13 set. 2014)

50 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

No geral, podemos dizer que o sistema portuário no Norte e Nordeste vem se ampliando com a construção de novos
portos. No Sul, há uma melhor adequação ao uso dos contêineres, enquanto o Sudeste apresenta certa estagnação, o
que indica que muitas mercadorias estão encontrando outros caminhos, para além de Santos ou do Rio de Janeiro, para
serem escoadas. O maior porto exportador do Brasil é o de Tubarão (ES), por onde se escoa o minério de ferro. O de Santos
destaca-se pela variedade de produtos importados e exportados.

Navegação fluvial

Quanto à navegação interior, apesar de o Brasil ter grande potencial de rios navegáveis (cerca de 25 mil quilômetros de
vias), seu uso é muito restrito: apenas 1,2% das cargas (2,4 milhões de toneladas) são transportadas em algumas ba-
cias, como a Amazônica e a Tietê-Paraná. Ainda precisamos avançar as obras em algumas hidrovias, como a Araguaia-
-Tocantins, a Paraguai-Paraná, a Teles Pires-Tapajós, entre outras. Para alguns movimentos ambientalistas trata-se de
obras predatórias desnecessárias. Por outro lado, as forças que as defendem argumentam que são menos poluentes,
menos perigosas e mais econômicas.

Brasil: hidrovias (2007)


70°O 60°O 50°O 40°O

RR
Boa Vista
AP Macapá EQUADOR

Belém
Manaus São Luís
Fortaleza
PA MA
Teresina CE Natal
AM RN
PB João Pessoa
PI PE Recife
AC Palmas
10°S Porto Velho AL Maceió
10°S

Rio Branco TO SE
RO Aracaju
MT
Cuiabá BA Salvador
GO
DF
o
tic

MG
lân

Goiânia
t
Oceano A

MS Belo Horizonte ES
20°S Campo 20°S

Grande SP Vitória
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ
São Paulo Rio de Janeiro
PR
hidrovias Curitiba
terminais hidroviários SC
hidrovias Florianópolis
RS
30°S 30°S
Porto Alegre
290 km
AVITS

70°O 60°O 50°O 40°O

Apesar do grande potencial, poucas hidrovias estão implantadas no Brasil.


814-4

Fonte: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 143.

POLISABER 51
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13

O modal aéreo

O transporte de cargas e passageiros por via aérea é o mais caro e aquele que exige maior uso da tecnologia, tanto nas
aeronaves como para monitorar e controlar os voos. Por outro lado, é o mais rápido. A operação dessa modalidade pode
ser efetivada por empresas privadas ou estatais, mas a presença do Estado é fundamental no controle e na ocupação do
espaço aéreo, pois implica em segurança do território. Foi por isso que em 1972 o Estado criou a Infraero (Infraestrutura
Aeroportuária): para implantar, administrar, operar e explorar industrial e comercialmente a infraestrutura aeroportuária.
A rede aeroviária nacional vem sendo ampliada, tornando-se mais densa e apta a operar com aeronaves cada vez maio-
res e mais velozes. Porém, nem todos os aeroportos operam com aviões de grande porte, e apenas 34 são internacionais.
Os aeroportos do Sudeste concentram a maior movimentação de cargas e passageiros, principalmente entre as me-
trópoles São Paulo e Rio de Janeiro, entre estas e as capitais regionais, e também o exterior. O aeroporto de Manaus
registra um bom movimento de cargas em função da produção de eletroeletrônicos da Zona Franca, despachados para
outras regiões do Brasil.
O Sindacta é o sistema de controle do espaço aéreo e dos voos no território brasileiro; foi importado da França e
funciona desde a década de 1970.
Para um país com uma população e território como o Brasil, o transporte aéreo ainda é incipiente, mas a maior inte-
gração econômica entre as diversas regiões do país e o lento entendimento de que ele é um valor social e deve estar
acessível ao cidadão comum têm levado ao barateamento das passagens, bem como a sua expansão no território nacional.

Brasil: aeroportos (2007)


70° O 50° O 40° O

RR
AP
EQUADOR

São Luís

Ma
ana
auss
Manaus
Tabatin
nga
Tabatinga Fortaleza
Fo
ortaleza
a
PA MA
AM CE RN
Cruzeiro
C eiro d
doo Su
S ul
Sul PI PB JJoão
Joã Pessoa
o Pes
ssso
o
PE
AC Palmas
mas
a
10° S AL 10° S

RO TO SE
MT BA
S alvva
ador
Salvadordorr
C iabá
Cui a
Cuiabá
GO
DF
Várzea
V

árze
á r ea
e GGr
Gra
Grande
rande
ra
an
and
nde
de
de
MG

Co
oru
rumb

Corumbáá MS
20° S ES 20° S

Vitória
Vit
V iitó

ó a
óri
SP RJ
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

R o de
Rio de Janeiro
JJan
ne
neiiro
o
PR ullo
São Pauloo
aeroportos
aeropo
o
Fo
Foz do
oz
Foz d Ig
IIguaçu
g
i
aeroportos internacionais
SC g tes
gant
Navegantest s
aeroportos domésticos
d Florianópolis
Fllo
F oria
anóp
óp
polliis
Urugua
g aiia
ana
Uruguaianaa RS
30° S 30° S
P
Po
Porto
orrtto A
Alegre
leg
le g re
B a
ag
Bagégé
gé 290 km
AVITS

70° O 60° O 50°


0° O 40° O

Os aeroportos internacionais são encontrados em todas as regiões brasileiras.


814-4

Fonte: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 143.

52 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

O transporte intermodal Maranhão, por rodovia, ferrovia e hidrovia, aproveitando-se


da E.F. Carajás da Companhia do Vale do Rio Doce, que
A diversificação e o uso de dois ou mais modais para cir- investiu 5 milhões de dólares no aparelhamento do porto
e da ferrovia para atender à demanda da soja. Tal trajeto
culação de mercadorias no território fortalecem as relações
representa um encurtamento de mais de 3 mil quilômetros
econômicas ao permitir um maior fluxo de mercadorias
em relação ao porto de Paranaguá/PR até o de Roterdã, na
entre os lugares. A diversificação pode, ao integrar vários
Holanda, e a diminuição nos custos do frete, aumentando a
modais de maneira eficiente, aproveitar melhor a estrutura
eficiência do transporte de grãos, o que levou a uma intensa
já existente, compensar fretes mais caros com maior ve-
ocupação agrícola na região do Matopiba (Maranhão, To-
locidade no escoamento, adequar os modais às condições cantins, Piauí e Bahia), que de 26 mil toneladas exportadas
ambientais dos lugares e diminuir a dependência em relação em 1992 passou a quase 1 milhão de toneladas em 2012.
a uma única fonte de energia. O outro caso é o da soja transportada do oeste do Mato
Um bom exemplo é o caso da soja produzida em larga Grosso e sul de Rondônia pela rodovia BR-364 até Porto
escala no Norte e no Centro-Oeste brasileiros. Seu escoa- Velho, no rio Madeira, de onde sai por hidrovia pelo porto
mento é feito até os portos de Itaqui e Ponta da Madeira, no de Belém/PA.

Megainvestimento abre nova rota para soja


Boa parte dos recursos privados deve ser inves-
tida no município paraense de Itaituba, especifica-
mente no distrito de Miritituba, localizado à margem
direita do Rio Tapajós e próximo ao entroncamento
RODRIGO BALEIA/FOLHAPRESS

entre as rodovias BR-163 e BR-230, a cerca de


900 quilômetros desse cinturão agrícola. O objeti-
vo é transformar o município em uma espécie de
“hub”, capaz de receber a produção do Médio-Norte
de Mato Grosso e distribuí-la em comboios de bar­
caças para os portos exportadores de Santarém
Obras na BR-163 avançam rumo à cidade paraense (PA), Vila Rica (MT) e Santana (AP). A expectativa é
de Itaituba. Novo corredor de exportação será capaz que os primeiros carregamentos de Mato Grosso
de escoar até 20 milhões de toneladas de grãos passem por esse corredor a partir da safra 2014/15.
Com a aproximação das obras de pavimentação Pelo menos oito empresas já adquiriram terrenos
da BR-163 de Itaituba (PA), empresas privadas co- em Miritituba para a construção de estações de
meçam a tirar do papel os planos para a criação transbordo à margem do Tapajós, um rio natural-
de um novo sistema logístico, capaz de escoar mente navegável para barcaças. Destas, ao menos
até 20 milhões de toneladas de grãos de Mato quatro – as tradings americanas Bunge e Cargill e as
Grosso pelos portos da Bacia Amazônica. Ao todo, operadoras logísticas Hidrovias do Brasil e Cianport –
os investimentos na construção de estações de possuem projetos em estágio final de licenciamento
transbordo, armazéns, terminais portuários, em- ambiental e com obras a iniciar ainda em 2013.
purradores e embarcações devem consumir mais Segundo o vice-presidente da Associação dos
de R$ 3 bilhões até o fim da década. Terminais Privados do Rio Tapajós (ATAP), Geraldo
O corredor abre uma nova rota para a exporta- Affonso, as quatro companhias devem investir, ao
ção da soja e do milho colhidos no entorno dos todo, R$ 600 milhões apenas em Miritituba e ou-
tros R$ 1,4 bilhão na construção dos comboios de
municípios de Sinop, Sorriso, Nova Mutum e Lucas
barcaças e em aumento de capacidade em seus
do Rio do Verde, cortados pela BR-163. Hoje, mais
terminais nos portos exportadores. “Os investimen-
de 70% da safra mato-grossense é escoada pelos
tos já conhecidos somam R$ 2 bilhões, mas o valor
portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), a mais de
será muito maior”, afirma.
2 mil quilômetros da origem. Alguns caminhões vão Disponível em: www.amazonia.org.br/2013/01/
ainda mais longe, até São Francisco do Sul (SC) e megainvestimento-abre-nova-rota-para-soja/
Rio Grande do Sul (RS). (acesso em: 1 out. 2014)
814-4

POLISABER 53
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13

O corredor BR-163 – Rio Tapajós


60° O 50° O

AP Porto de Santana

EQUADOR Porto de Porto de


Santarém Vila do Conde

Santarém BR-230
Transamazônia
AM Itaituba
MA
Distrito
de Miritituba
PA
Interligação
rodo-hidroviária

10° S
10° S
Sinop TO
Sorriso

MT Lucas do Rio Verde rodovia


Nova Mutum hidrovia

BR-163

210 km
MS
60° O 50° O

Investimentos privados Empresas envolvidas:


R$ 3 bilhões Bunge, Cargill, Hidrovias
do Brasil e Ciamport

Capacidade de escoamento Início das Obras


20 milhões de toneladas/ano 2013

Fonte: FREITAS JR., Gerson. Valor Econômico.


Disponível em: www.valor.com.br (acesso em: 13 set. 2014).

Lembramos que os sistemas técnicos de transportes proporcionam maior fluidez que não deve servir apenas aos
interesses econômicos ligados às exportações. Ela deve também proporcionar maior possibilidade de trocas sociais e
beneficiar o conjunto da população que está distribuída em todas as regiões do país.

Sistemas de telecomunicações e teleinformações


Os sistemas baseados em transmissão a distância de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou outra
informação de qualquer tipo por fio, rádio, eletricidade, meios ópticos, meios digitais ou algum outro processo eletro-
magnético são chamados de telecomunicações e teleinformações. Quando juntos, esses sistemas são conhecidos como
sistema telemático.
Após a década de 1960, o sistema telemático brasileiro passou a atingir a quase totalidade do território do país,
com a constituição do Sistema Nacional de Telecomunicações e com a fundação da Embratel (Empresa Brasileira de
Telecomunicações). Esse sistema contou com uma base técnica composta de redes de micro-ondas de alta capacidade
ou tropodifusão, cabos submarinos, satélites. A partir da década de 1970, o sistema expandiu-se horizontalmente no
território, mas importantes inovações técnicas foram introduzidas. Hoje, essas inovações representam uma convergência
entre os fluxos telemáticos operados por computadores e os meios multimídia que integraram vários recursos: fibras
ópticas, centrais telefônicas digitais, celulares, internet, satélites de órbita baixa, softwares e aplicativos. A tecnologia
814-4

digital permitiu a convergência das tecnologias.

54 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

Brasil: ligações backbones (2008)

Boa Vista
Macapá

Belém
São Luís
Manaus
Fortaleza

Teresina Natal

Recife
Porto Velho
Palmas
Rio Branco

Salvador

Cuiabá Brasília

Campo Grande
Vitória

No de ligações Rio de Janeiro


São Paulo
1
2–3 Curitiba
4–7
8 – 10 Florianópolis
11 – 13
290 km
Porto Alegre

AVITS

As redes de fibras ópticas reforçam a territorialidade da economia brasileira neste início do século XXI.
Fonte: MOTTA, Marcelo Paiva da. Topologia dos backbones de internet no Brasil. Sociedade & natureza, v. 24, n. 1, Uberlândia, jan./abr. 2012.
Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=S1982-45132012000100003&script=sci_arttext (acesso em: 13 set. 2014)

A televisão aberta expandiu-se no Brasil a partir da década de 1970. Antes, seu alcance na emissão de informações
era bastante limitado, restringindo-se apenas a algumas regiões. A partir das empresas de telecomunicações sediadas
em São Paulo e no Rio de Janeiro vimos suas programações alcançando áreas cada vez mais longínquas do território
nacional, numa expansão que interfere no modo de vida e na visão de mundo das diversas localidades em toda ex-
tensão territorial do Brasil, impondo-se como uma verticalidade, ou seja, algo gerado fora do local que a recebe. Mais
recentemente expandiu-se por quase todo o país o sistema de televisão por assinatura, através de cabos, satélites e
miniparabólicas, ampliando a “oferta” de informações aos lares brasileiros. Tanto a TV aberta como a paga são negócios
bilionários e envolvem grandes empresas nacionais e internacionais. Porém, o Estado brasileiro é dono das concessões
que distribuem através da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), com aprovação do poder Executivo e do
Legislativo, para as empresas privadas explorarem. Trata-se de um setor altamente cobiçado em virtude da importância
814-4

econômica e do poder político que a atuação na área da informação proporciona.

POLISABER 55
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13

No ramo da telefonia houve uma grande mudança provo- logias sobreveio ao unir telefonia móvel, internet e multi-
cada pelos avanços tecnológicos da era digital. Esse merca- mídias, potencializando a expansão de conteúdos que se
do, que no passado reduzia-se ao telefone fixo e que até 1998 incorporam à vida dos lugares, as chamadas verticalidades.
era propriedade totalmente estatal controlada pelo sistema Porém, as altas tarifas e pacotes cobrados pelas operadoras
Telebrás e pela Embratel, está quase totalmente privatizado. e os preços elevados dos aparelhos mais modernos e com
Hoje, a expansão ocorre mais na área da telefonia móvel maiores capacidades limitam a universalização do acesso
(celular), dominada por empresas privadas estrangeiras. à comunicação e informação de boa parte dos brasileiros.
As antenas de celulares povoam cada vez mais os espaços Segundo a Anatel, em dezembro de 2012, o país já possuía
urbanos e rurais das áreas mais distantes dos grandes 261,8 milhões de aparelhos de telefonia celular em fun-
centros São Paulo e Rio de Janeiro. Com o advento dos cionamento, com crescimento médio de 3,2 milhões/mês,
smartphones, uma nova onda de convergência de tecno-­ porém 81,83% deles são celulares pré-pagos. 

Brasil: telefonia móvel (2011)


O mapa da cobertura de celular
RR
Teles teriam de dobrar número de antenas para melhorar qualidade do serviço AP

Antenas por estado


AM PA MA CE RN
População coberta*
PI PB
SP 99,82 12.269 AC PE
TO AL
MG 99,05 5.799 RO SE
MT BA
RJ 100 4.860 domicílios com serviço DF
RS 99,48 4.022 de telefonia móvel (%) GO
PR 99,55 3.202 MG
54,5% a 65% MS ES
BA 99,66 2.211 SP
SC 99,89 2.121 65,1% a 75% RJ
PR
PE 99,73 1.799 75,1% a 85% SC
GO 99,42 1.705
RS
CE 99,87 1.482 85,1% a 94,3%
PA 100 1.219
DF 100 1.140
R$ 50 bi
ES 100 1.135 é a estimativa de
MT 100 877
50.338
investimento das é o total de
PB 99,78 802 operadoras para
melhorar a antenas no país
RN 99,81 768
MA 99,5 767 cobertura e a
MS 100 734 qualidade do 98%
serviço é o total da
AL 100 796
AM 100 656 população
PI 99,88 574 coberta pelo
74%
SE 97,48 444 da população é serviço
TO 99,73 372 atendida pelo
RO 100 321 serviço 3G
AC 100 153 (banda larga móvel);
AP 100 122 somente 26% dos
RR 100 88
municípios têm
cobertura
A telefonia celular hoje cobre todo o país, mas as regiões Norte e Nordeste, com menos antenas, podem apresentar
lugares sem o sinal necessário para as ligações.
Fonte: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 144.

O comércio exterior do Brasil 2001, os produtos industrializados chegaram a compor


65% das exportações do Brasil. Mas essa porcentagem
Durante muito tempo a economia brasileira funda- caiu para 38% devido a vários fatores, como a crise
mentou-se na exportação agrária. Café, cana-de-açúcar, econômica mundial de 2008, a chegada da China como
algodão, borracha, entre outros produtos primários, principal mercado das exportações brasileiras e a perda
absorviam, até a década de 1970, a maior parte das ex- de eficiência na produção doméstica em razão de custos
portações brasileiras. Com a industrialização a partir da crescentes com mão de obra, burocracia estatal, altos
814-4

década de 1930, essa situação mudou lentamente e, em impostos e dificuldades logísticas, problemas que ficaram

56 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

evidentes quando o dólar ficou mais barato no Brasil e a competição global se acirrou. Sendo assim, as commodities
como a soja, o minério de ferro, a carne de frango, o café, derivados de petróleo e o açúcar compõem hoje mais de 60%
das exportações brasileiras. Entre os industrializados que tiveram sua participação reduzida estão os aviões, automóveis
e calçados. Os principais destinos das exportações são: China (21,5% em 2014, era apenas 3% em 2001), EUA (11% em
2014, era 24% em 2001), Argentina (6,7% em 2014, era 9,9% em 2001) e Holanda (4,8% em 2001 para 6,3% em 2014).
Para o Japão (3% em 2014) exportamos basicamente minério de ferro. Apesar de ter aumentado suas exportações no
mercado mundial de 29 bilhões de dólares em 2001 para 111 bilhões de dólares em 2014, subindo sua participação nas
exportações mundiais de 0,94% para 1,29% nesse período, trata-se de um número ainda tímido diante do tamanho da
economia brasileira.
Exportações: estados e empresas no Brasil
34,8
Principais estados exportadores Principais empresas exportadoras
em % das vendas
2001 2014
22,5 1o Embraer Vale

2o Petrobras Petrobras
13,6
10,7 10,7 3o Vale Bunge
8,9 8,2 8,0 7,8
5,2 4o Volks Cargill

5o Bunge JBS
SP RS MG PR SC SP MG RJ RS MT

Diminui a diferença entre São Paulo e outros estados no volume de exportações. A mudança no perfil das empresas que
mais exportam também revela mudanças na balança comercial brasileira.
Fonte: OMC (Organização Mundial do Comércio) e Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior. In: Folha de S.Paulo, 1º set. 2014, Caderno
especial Seminários Folha – Exportações.

Quanto às importações, destacamos que, entre 2001 e 2014, elas subiram 40%, sugerindo que também no mercado
doméstico o país perde a “guerra comercial”. Dentre os produtos importados temos o petróleo de boa qualidade, trigo,
produtos químicos, material de transporte, instrumentos e aparelhos ópticos, produtos eletrônicos de informática e
telefonia. Nossos maiores parceiros nesse setor também são a China, os EUA e a Argentina.
Exportações brasileiras

Exportações no primeiro semestre, em US$ bilhões


120 118,3
110,5

100 90,6

80
70,0
60

40 28,9 25,1
20

0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Participação das exportações brasileiras no comércio global, em %

22o foi a posição do Brasil entre os exportadores


mundiais em 2013; em 2001, o país era o 26o

1,22 1,22 1,32 1,40 1,32 1,29


0,96 1,05 1,13 1,14 1,15
0,94 0,93

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Apesar do aumento, a participação do Brasil ainda é pequena nas exportações mundiais.


814-4

Disponível em: http://aovivo.folha.uol.com.br/2014/08/27/3535-aovivo.shtml (acesso em: set. 2014)

POLISABER 57
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13

Evolução anual da balança comercial brasileira


e do agronegócio – 1989 a 2012 – (em US$ bilhões)

US$ Bilhões
300

250

200

150

100

50

0
1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012
Exp. total Exp. agronegócio
Imp. total Imp. agronegócio

A balança comercial brasileira e suas mudanças de perfil nas últimas décadas.


Disponível em: http://ruralcentro.uol.com.br/noticias/nova-safra-de-produtores-74093

EXERCÍCIOS

1. (Unicamp)

Cinco primeiros destinos das exportações de mercadorias brasileiras em 2011

Fonte: Base de dados estatísticos da Organização Mundial do Comércio, 2012.


Considerando os Blocos Econômicos, a União Europeia (27 países em 2011) permanece como relevante
importador de mercadorias brasileiras. Considerando os países individualmente, a China vem se destacan-
do, desde 2009, como o principal destino das exportações brasileiras: em 2005 era o terceiro importador
brasileiro, atrás da Alemanha (1º) e dos EUA (2º). Outro destaque importante das relações comerciais do
Brasil é a Argentina: nos últimos dez anos, o valor das exportações para esse país saltou de US$ 5 bilhões
814-4

para US$ 23 bilhões.

58 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

a) Quais são os principais produtos que o Brasil exporta para a China?


b) Fator Agregado é um conceito que agrupa os produtos exportados em três categorias: básicos, semimanufaturados
e manufaturados. Considerando o Fator Agregado, qual é a categoria de produtos que o Brasil mais exporta para a
Argentina e que contexto institucional tem permitido avançar numa melhor integração com os vizinhos brasileiros
da América do Sul?

2. (Unicamp)
As ocupações de telemarketing expressam uma importante transformação do mundo do trabalho nesse começo de
século. Surgem nos EUA e na Europa nos anos 1980 e na década de 1990 atingem o Brasil, onde os call centers (locais
de trabalho dos atendentes de telemarketing) mais concentram trabalhadores: 1 103 em cada empresa.
SOUZA, Jessé de. Os batalhadores brasileiros. Nova classe média ou a nova classe trabalhadora?
Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2012. (adaptado)

Assinale a alternativa em que todas as características associadas a esse tipo de trabalho estejam CORRETAS.
a) Privatização das empresas de telecomunicações; generalização da posse de linhas telefônicas; expansão de serviços
de suporte técnico e televendas; insegurança no mercado de trabalho.
b) Estatização das empresas de telecomunicações; generalização das linhas de telefones fixos; maior concentração
populacional no meio rural; estabilidade no mercado de trabalho.
c) Privatização das empresas de telecomunicações; generalização da posse de telefones celulares; retração dos ser-
viços de atendimento ao cliente; segurança no mercado de trabalho.
d) Estatização das antigas empresas de televendas; generalização do uso de telefones fixos; retração dos serviços de
atendimento ao cliente; retração do mercado de trabalho nos serviços.

3. (Uece) A ferrovia Norte-Sul é uma obra que tem o objetivo de ampliar a capacidade de escoamento da
produção de mercadorias no Brasil. Sobre esta obra estratégica, analise as afirmações a seguir.

I. Apresenta-se como uma alternativa mais econômica para o transporte de mercadorias e cargas de longa distância.
II. Algumas das principais mercadorias a serem transportadas são: derivados de petróleo, cimento, grãos, açúcar e álcool.
III. Interligará os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Tocantins, Maranhão e Roraima, integrando o
país inteiro a uma rede de logística.

É correto o que se afirma apenas em:


a) I. b)  III. c)  II e III. d) 
I e II.

4. (Mackenzie) Observe os mapas para responder à questão.

814-4

Jornal O Estado de S. Paulo, Caderno Cidades, 2010.

POLISABER 59
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13

O Rodoanel, ainda não concluído, é uma obra viá- c) Economicamente o Rodoanel contribui para a flui-
ria para a circulação de veículos automotores na dez de mercadorias dentro do modelo rodoviarista
Região Metropolitana de São Paulo. Sua constru- nacional. Contudo, tem sido alvo de críticas pelos
ção envolve questões econômicas, sociais, políti- impactos ambientais decorrentes da distribuição das
cas e ambientais. Sendo assim, assinale a alterna- fontes de emissão de poluentes em novas áreas da
tiva CORRETA a respeito desse tema. Grande São Paulo.
a) Trata-se de um projeto que conta com unanimida- d) A crítica recorrente ao Rodoanel é a de que tem
de na Grande São Paulo, em razão dos benefícios priorizado o transporte de passageiros, por meio da
que propicia ao promover a distribuição dos fluxos construção de corredores de ônibus e trens metro-
de caminhões e automóveis, sem maiores danos politanos. Desse modo, o transporte de cargas em
ambientais, em especial sobre a floresta tropical caminhões tem sido prejudicado, com orientações
localizada ao norte da capital paulista. e regras para que circulem pelas áreas centrais da
b) O Rodoanel é uma resposta inovadora, pois rompe capital paulista.
com o modelo de transporte de cargas adotado no e) A opção desse tipo de modalidade de transporte para o
Brasil desde a década de 1950, baseado na ferrovia deslocamento de cargas e passageiros é a mais comum
como principal meio de deslocamentos para grandes entre economias desenvolvidas, como EUA, Japão, e
distâncias. entre outras emergentes, como a Rússia e a China.

ESTUDO ORIENTADO

Nas seções a seguir você poderá avaliar o seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os
vestibulares abordam o assunto das aulas. Também na Roda de leitura um texto sobre os “gargalos” que impedem a
maior competitividade das exportações brasileiras. Veja também as sugestões nas seções Pesquisar e Ler, Navegar,
Ver e Ouvir e Ágora, para você ampliar seu repertório sobre os temas abordados.

EXERCÍCIOS

1. (FGV) Com base no gráfico e em seus conheci- d) A partir de 2006, ocorre diminuição da participação
mentos, é CORRETO afirmar: dos produtos industrializados na pauta de exporta-
ções brasileiras, fato que se acentua no contexto da
Brasil: exportação por valor agregado (participação %)
crise mundial de 2008-2009.
2,4 1,8 1,6 2,1 2,2 2,1 2,6 2,1 2,1 2,1
e) A partir de 2006, os produtos primários passam a
28,1 28,9 29,5 29,3 29,2 32,1
predominar, tanto na geração interna de riquezas
36,9
40,5 44,6 47,8 quanto na pauta de exportações brasileiras.

2. (Fuvest) Observe o mapa da Malha Ferroviária


do Brasil.
54,7 54,3 55,0 55,1 54,4 52,3
46,8 44,0
39,4 36,1

Operações Especiais Básicos / Primários


Semimanufaturados Manufaturados

a) Entre 2002 e 2011, a produção de todos os setores


da indústria brasileira conheceu um nítido processo
de retração, enquanto a produção agrícola e mineral
registrava ganhos sucessivos.
b) Entre 2002 e 2011, houve declínio da participação
do Brasil no comércio mundial de mercadorias, já
que ocorreu aumento da participação relativa das
mercadorias de menor valor agregado na pauta de Disponível em: www.brasil.gov.br/infograficos/ferrovias/view
exportações do país. (acesso em: jun. 2012)
c) A crise internacional de 2008-2009 afetou positiva-
mente a balança comercial brasileira, já que resul- Com respeito às áreas indicadas no mapa acima,
tou em aumento da competitividade da indústria assinale a alternativa que relaciona corretamente
814-4

nacional. sistemas logísticos e produtos de exportação.

60 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

I II III
a) Portos de Belém e de São Luís: Portos do Rio de Janeiro e de Nite- Portos de Paranaguá e de Itajaí:
minério de ferro, papel e celulose. rói: trigo e fertilizantes. soja e carnes (congeladas).

b) Portos de São Luís e de Natal: pes- Portos de Tubarão e de Vitória: Portos de São Francisco do Sul e
cados e carvão mineral. minério de ferro, papel e celulose. de Florianópolis: minério de ferro,
papel e celulose.

c) Portos de Itaqui e de Pecém: mi- Portos de Tubarão e de Vitória: Portos de Paranaguá e de Itajaí:
nério de ferro, manganês e frutas. minério de ferro, papel e celulose. soja e carnes (congeladas).

d) Portos de Belém e de São Luís: Portos do Rio de Janeiro e de Ni- Portos de São Francisco do Sul e
minério de ferro, papel e celulose. terói: pescados e carvão mineral. de Florianópolis: minério de ferro,
papel e celulose.

e) Portos de Itaqui e de Pecém: mi- Portos de Tubarão e do Rio de Ja- Portos de Paranaguá e de Itajaí:
nério de ferro, manganês e frutas. neiro: soja e carnes (congeladas). trigo e fertilizantes.

3. (Espcex – Aman) Nos últimos anos, o Brasil tem realizado um enorme esforço no sentido de ampliar sua
participação no comércio internacional, buscando superar os elevados custos de deslocamento que difi-
cultam a chegada dos seus produtos aos mercados externos.
Dentre as principais propostas de ação da atual política de transporte no país, pode-se destacar:
a) a completa substituição do sistema rodoviário, que é mais dispendioso, pelos sistemas hidroviário e ferroviário.
b) a construção de estações intermodais a fim de permitir a integração dos diferentes meios de transporte do país.
c) a construção de novas infraestruturas de circulação urbana (pistas expressas, viadutos) com o propósito de reduzir
congestionamentos e valorizar a paisagem urbana das grandes cidades.
d) a eliminação do transporte de cabotagem com vistas a reduzir os custos portuários e a intrincada burocracia administrativa.
e) a redução da participação dos investimentos e do controle do setor privado sobre o transporte rodoviário e sobre
o setor portuário a fim de eliminar, por exemplo, os custos com pedágio.

4. (Uerj) Aposta no transporte


Em um esforço que superou as previsões mais ousadas da iniciativa privada, o governo federal anunciou ontem o que
chamou de o maior plano de investimentos em transportes da história, envolvendo a concessão de ferrovias e rodovias à
iniciativa privada. O setor de ferrovias é o que deve receber o maior volume de investimentos. Serão R$ 91 bilhões em 10 mil
quilômetros de novas linhas, para criar uma malha que ligue as principais regiões produtoras do país aos maiores portos.

Adaptado de: O Globo, 16 ago. 2012.

A reportagem aborda o plano de investimentos anunciado em 2012 pelo governo federal.


814-4

Aponte duas justificativas econômicas para a prioridade dada pelo governo ao setor ferroviário.

POLISABER 61
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13

exemplos números de outros países, também em desen-


RODA DE LEITURA volvimento e em situação semelhante à nossa: a China,
o gigante industrial da atualidade, investe 7,3% do seu
PIB, que já é muito maior do que o nosso. O Chile, nosso
Gargalos infraestruturais do Brasil – os nós que
quase vizinho sul-americano investe 6,2%, a Colômbia,
precisam ser desatados – aeroportos e ferrovias
5,8%, e outro membro do Bric, a Índia, investe 5,63%.
Há muitos anos ouvimos que o Brasil é o país do Já abordamos muitas vezes aqui no Logística Descom-
futuro. O futuro chegou, e o Brasil ainda está longe de plicada a lacuna que existe entre demanda e realidade
ser a potência que nos fizeram sonhar. Mesmo com no setor aéreo no Brasil. Veja, por exemplo, Infraestrutura
relativo equilíbrio político e tranquilidade econômica brasileira – transporte aéreo de passageiros  e  Pes-
interna, aliados a um longo período de prosperidade quisa infraestrutura parte 3 – aeroportos brasileiros.
externa, não foi possível colocar o Brasil nos trilhos do Investimentos em infraestrutura aeroviária não podem
desenvolvimento rumo a um futuro melhor.
ser feitos no curto prazo, pois são obras grandes, que
Nesta matéria veremos os principais gargalos in-
normalmente envolvem construção de estradas, trens,
fraestruturais que o governo e a sociedade precisam
metrôs e outras obras para garantir a integração do
solucionar se quisermos ver o Brasil um país melhor no
aeroporto à vida da cidade.
médio e longo prazos. Abordaremos hoje os aeroportos
Para as 12 cidades-sede dos jogos da Copa do Mundo
e as ferrovias, e na próxima matéria você verá o que
precisa ser feito nas rodovias e nos portos. Veja no final de 2014, o governo prometeu 5,5 bilhões de reais em
desta matéria como manter-se atualizado e não perder investimentos no setor aéreo. Destes, apenas 195 mi-
a segunda parte deste estudo. lhões, ou 3,5%, estão contratados, e míseros 54 milhões
Começamos pelos investimentos totais em obras de (ou menos de 1%!) estão executados. A diferença não é
infraestrutura. Nos últimos 8 anos, os investimentos justificada, pois nenhum grande aeroporto do país tem
diminuíram levemente, estando estimados em 2,18% capacidade ociosa. Em Cumbica, a demanda é de 65
do PIB, segundo o Ipea. Chegou a ser 3,32% em 2001 e pousos e decolagens por hora, enquanto a capacidade é
caiu até 1,85% em 2004. Para avançar, é preciso muito de 53. Veja na tabela abaixo a diferença entre a demanda
mais, mais do que o dobro desse valor. Tomemos como e a capacidade de diversos aeroportos do país:

Cidade Aeroporto Demanda Capacidade

Natal São Gonçalo do Amarante 8 7

Belo Horizonte Pampulha 8 5

Belo Horizonte Confins 19 16

Rio de Janeiro Santos Dumont 18 15

Curitiba Afonso Pena 18 14

Porto Alegre Salgado Filho 20 14

Manaus Eduardo Gomes 17 9

Brasília Juscelino Kubitschek 45 36

São Paulo Congonhas 34 24

São Paulo Cumbica 65 53


814-4

Fonte: IPEA, McKinsey&Company, IBGE, Anac, Portal da Transparência e CGU.

62 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

No setor ferroviário, a situação é ainda pior, pois os trens se locomovem (ou rastejam) a 25km/h em
vemos que boa parte do transporte de bens é feito via média, contra 80 km/h por lá. O PIB nacional não para
caminhões, mesmo em distâncias envolvendo milhares de crescer (mesmo com números irrisórios), enquanto
de quilômetros, quando as ferrovias poderiam tornar o a malha ferroviária diminuiu nas últimas décadas. Hoje
transporte mais seguro, econômico, além de desafogar o temos pouco mais de 29 mil km de trilhos contra mais
trânsito. Mas isto não pode ser realidade, pois não temos de 37 mil em 1958.
ferrovias capazes de fazer esse transporte – elas não Com tão poucos trilhos, a próxima tabela já era espe-
existem em quantidade e qualidade suficientes. rada. A densidade de linha para cada 1 000 km² de área
A velocidade média das composições de carga no nacional é das mais baixas quando comparamos tanto paí­
Brasil é menos de 1/3 da velocidade nos EUA. Aqui, ses desenvolvidos quanto nossos concorrentes do BRIC:

Quilômetros de linha para cada 1 000 km² de área, com dados de 2009:

País Relação

Alemanha 130,3

França 59,9

Índia 21,4

EUA 21,3

China 9,2

Canadá 7

Rússia 5,1

Brasil 3,5

Fonte: Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF).

Dizer que temos áreas inabitáveis e inacessíveis não é desculpa para uma malha tão esparsa, pois países como Rússia
e Canadá têm áreas tão grandes (ou maiores) quanto as nossas, terras congeladas a maior parte do ano e, ainda assim,
estão muito à nossa frente.

Disponível em: www.logisticadescomplicada.com/


gargalos-infraestruturais-do-brasil-%E2%80%93-os-nos-que-precisam-ser-desatados-aeroportos-e-ferrovias/
(acesso em: set. 2014)

O livro analisa as transformações sociais, econômicas,


PESQUISAR E LER culturais e espaciais, fruto da nova organização da produ-
ção industrial e da nova divisão internacional do trabalho
da era técnico-científica.
RATTNER, Henrique. Mercosul e Alca: o futuro incerto
dos países latino-americanos.São Paulo: Edusp, 2002. GONÇALVES, Reinaldo. O Brasil e o comércio interna-
O livro discute as perspectivas do Mercosul após as crises cional. São Paulo: Contexto, 2003.
financeiras do Brasil e da Argentina no início da década de Analisa a participação do Brasil no comércio internacional
2000 e, na época, a possibilidade de implantação da Alca. no contexto da OMC e suas regras.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 7.ed. São CARMO, João Clodomiro. O que é informática. São Paulo:
814-4

Paulo: Paz e Terra, 2003. Brasiliense, 1985.

POLISABER 63
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13

O livro explica didaticamente a origem dos computado- Jorge, um brasileiro.


res, seu funcionamento e a expansão de seu uso até a Paulo Thiago. Brasil, 1988.
década de 1980. Roteiro baseado no  romance homônimo  de  Oswaldo
França Júnior.
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: terri- O filme apresenta o universo dos caminhoneiros que atra-
tório e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: vessam o país para chegar aos destinos mais distantes,
Record, 2001. e Jorge é um deles.
No capítulo VII, o livro aborda a questão dos fluxos de Uma característica forte consiste nas críticas à situação dos
mercadorias e pessoas no território brasileiro, sua fluidez caminhoneiros que circulam, nas condições das rodovias
ou a viscosidade em relação às demandas econômicas e nas infraestruturas brasileiras precárias. Mostra ainda
e infraestruturas. aspectos importantes e relevantes referentes a acidentes
constantes que ocorrem nas rodovias brasileiras e trata da
questão da impunidade.
NAVEGAR
A rede social.
David Fincher. EUA, 2010.
Organização Mundial do Comércio
O filme mostra a criação de um dos sites de relaciona-
www.wto.org.br (acesso em: set. 2014)
Site em que se encontram informações sobre a partici- mento mais populares da internet: o Facebook. Foi uma
pação do Brasil no comércio mundial e as rodadas de ideia inovadora que surgiu na cabeça de um jovem estu-
negociação. dante da Universidade de Harvard, nos EUA, que não tinha
noção do fenômeno mundial que se tornaria o seu feito.
Ministério das Relações Exteriores
www.mre.gov.br (acesso em: set. 2014) Muito além do Cidadão Kane
O site fornece informações sobre os blocos Mercosul e
Documentário BBC (Londres)
Unasul e também sobre as propostas do Brasil no G-20
do comércio mundial. https://www.youtube.com/watch?v=MtQTejGeL4M
Documentário sobre a história do poder da Rede Globo
Agência Nacional de Telecomunicações de Televisão na política e no monopólio das telecomuni-
www.anatel.gov.br (acesso em: set. 2014) cações no Brasil.
O site fornece dados e informações sobre as redes de
telecomunicações (telefonia fixa e móvel, TV aberta e a “Pela Internet”. Quanta, 1997.
cabo, rádio, internet) no território brasileiro.
A música de Gilberto Gil aborda a expansão do uso da
internet e os impactos que essa ferramenta causa nas
Ministério dos Transportes
www.transportes.gov.br (acesso em: set. 2014) culturas locais.
O site possui informações e dados sobre a territorializa-
ção das redes de transportes no território brasileiro, além
das frotas, legislação, concessões etc.
ÁGORA
Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes
www.dnit.gov.br (acesso em: set. 2014)
O site possui informações sobre obras e novos projetos Leia o texto abaixo:
na área de transportes no Brasil.
As maiores cidades brasileiras, assim como muitas
grandes cidades de países em desenvolvimento, foram
VER E OUVIR adaptadas, nas últimas décadas, para o uso eficiente do
automóvel, o que correspondeu a um projeto de privatiza-
ção da mobilidade, fortemente associada aos interesses
Denise está chamando. das classes médias formadas no processo de acumulação
Hal Salwen. EUA, 1995. capitalista. Vários esquemas de financiamento e incentivo
O filme aborda a época pré-redes sociais na qual o tele- mercadológico promoveram grande ampliação da frota
fone e o e-mail eram o início da era das comunicações de automóveis no Brasil e, mais recentemente, da frota de
814-4

não presenciais.

64 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL

motocicletas, nesse caso atendendo a um público mais operação. Adicionalmente, ele experimentou um de-
jovem e novos grupos em ascensão social e econômica. clínio na sua importância, eficiência e confiabilidade
Paralelamente, o sistema de transporte público junto ao público, passando a ser visto como um ‘mal
foi crescentemente negligenciado, em uma peda- necessário’ para aqueles que não podem dispor do
gogia negativa para afastar a sociedade do seu uso automóvel ou da motocicleta.
como principal forma de transporte motorizado. O Eduardo A. Vasconcellos
transporte público, apesar de alguns investimentos Disponível em: www.diplomatique.org.br/artigo.
importantes em locais específicos, permaneceu in- php?id=1181 (acesso em: set. 2014)
suficiente e de baixa qualidade e tem experimentado
crises financeiras cíclicas, ligadas principalmente à Discuta com seus colegas as relações existentes entre
incompatibilidade entre custos, gratuidades, tarifas as infraestruturas territoriais e a ampliação ou restrição
e receitas, bem como às deficiências na gestão e na das relações sociais por influência dessas infraestruturas.

814-4

POLISABER 65
GABARITO:
GEOGRAFIA GEOGRAFIA
DO BRASIL aula 13 DO BRASIL – AULAS 11 A 13

Aula 11 impactos ambientais e sociais como alterações no ecos-


sistema e no clima locais (IV) e protestos de populações
prejudicadas pelo reservatório e que se organizam em
Estudo orientado movimentos sociais como o MAB – Movimento dos Atin-
gidos por Barragens (III).
1. c Os itens incorretos são:
Como menciona corretamente a alternativa c, a I. Tradicionalmente, os grandes lagos para aprovei-
partir da década de 2000, sob a denominação “nova tamento hidrelétrico ficam em áreas com relevo
fronteira energética”, a Amazônia tem recebido maciços planáltico, uma vez que o desnível topográfico
investimentos destinados à construção de hidrelétricas propicia maior geração de energia. Recentemente,
como Belo Monte, no rio Xingu, Jirau e Santo Antônio, no foram implantadas novas tecnologias, que permi-
rio Madeira, e Marabá, no rio Tocantins. Estão incorretas tem o aproveitamento hidrelétrico de áreas com
as demais alternativas em razão da não realização das desnível menor, como é o caso das hidrelétricas
melhorias indicadas ou de elas não impactarem signifi- de Jirau e de Santo Antônio, no rio Madeira (RO).
camente a região. II. A implantação de uma barragem faz aumentar o
acúmulo de sedimentos no reservatório. A abertura
2. Macrorregião: Nordeste das comportas que represam as águas até favore-
Vantagens: ce alguma sedimentação a jusante, e a barragem
• não poluem; também pode atenuar as inundações a jusante em
• são renováveis; razão da retenção de água. Algumas vezes, quando
• não demandam grandes áreas para instalação. há excesso de água no reservatório, a maior vazão
Por suas condições naturais, a região Nordeste apre- pelas comportas pode causar enchentes a jusante.
senta o maior potencial eólico.
A energia eólica tem inúmeras vantagens: é reno-
vável, não emite gases poluentes e, portanto, concorre
para a redução dos gases estufa, não gera resíduos, tem Aula 12
parques compatíveis com outras atividades econômicas
como a agropecuária, direciona investimentos para áreas
desfavorecidas ou marginais, reduz a dependência de
Estudo orientado
combustíveis fósseis, aumenta as cotas do mercado
1. a
de carbono, tem investimento de alta rentabilidade e
No Brasil, as sedes de município ou de distrito são
custo de produção menor que o das fontes tradicionais.
consideradas áreas urbanas; assim, incluem pequenas
3. Entre as fontes alternativas que mais cresceram a cidades e vilas, o que garante um porcentual elevado de
partir da década de 2000 no Brasil está a energia população urbana, superior a 84%, conforme o Censo
eólica, cuja potencialidade é maior nas regiões com de 2010.
ventos mais velozes e frequentes como o litoral do
Nordeste (RN e CE) e do Rio Grande do Sul. Com 2. e
crescimento mais modesto, destaca-se a energia Como mencionado corretamente na alternativa e, o
solar, com grande potencialidade no Nordeste e gráfico representa o processo de urbanização no Brasil.
no Centro-Oeste, devido à maior insolação. Minas
Gerais e Ceará também se destacam em energia 3. b
solar. Suas vantagens é serem fontes renováveis e
A afirmativa I é incorreta: a partir da década de 2000,
com menor impacto no meio ambiente. No setor de
o mercado para automóveis foi ampliado no Brasil em
combustíveis, o biodiesel também tem tido cresci-
mento expressivo. decorrência do crescimento da classe média e das faci-
lidades de crédito. Assim, consumidores que antes não
4. b tinham condições de comprar um automóvel (demanda
As áreas destacadas com quadrados no mapa cor- reprimida) passaram a adquiri-lo. O aumento da frota
respondem à exploração de petróleo e de gás natural em de veículos acentuou problemas típicos da urbanização
bacias sedimentares (Amazônica e em zonas recobertas brasileira quanto à mobilidade também nas regiões Norte
pelo mar, como as bacias de Campos, Santos e Espírito e Nordeste: congestionamentos, transporte coletivo in-
Santo, entre outras). suficiente, intensos movimentos pendulares e aumento
da poluição atmosférica e sonora, além das obras viárias
5. d com prioridade para o transporte individual.
814-4

A implantação de barragens de hidrelétricas tem

66 POLISABER
gabarito GEOGRAFIA DO BRASIL

4. c nas exportações, inclusive com a integração de vários


O processo de industrialização do Brasil intensificou- modais. Destacam-se: portos (exemplo: Suape – PE), por-
-se a partir de meados do século XX e tornou a economia tos secos, ferrovias (exemplo: Transnordestina) e rodovias
do país mais interdependente, com maior integração en- (exemplo: concessões para a iniciativa privada como a
tre as regiões. O avanço da indústria e do setor terciário Fernão Dias – SP/MG) e hidrovias (exemplo: eclusa da hi-
levou à formação de uma rede hierárquica urbana mais
drelétrica de Tucuruí – PA). Mesmo assim, o investimento
densa, composta por uma grande metrópole nacional
foi insuficiente, e a deficiência nos transportes é um dos
(São Paulo), metrópoles nacionais (Rio de Janeiro e Bra-
fatores integrantes do “custo Brasil”.
sília), metrópoles regionais (Porto Alegre, Belo Horizonte,
Manaus, Recife etc.), capitais regionais e cidades locais. 4. Duas das justificativas:
• O custo do frete por tonelada é bastante reduzido
para distâncias superiores a 300 km.
• O custo mais barato do frete ferroviário é decisivo
Aula 13 para a competitividade de produtos de baixo valor
por volume, amplamente exportados pelo Brasil.
Estudo Orientado • Os traçados a serem construídos irão conectar diver-
sas áreas importantes do interior aos portos exporta-
1. d dores do país, barateando o preço final dos produtos.
Como mencionado corretamente na alternativa d, O sistema ferroviário apresenta diversas vantagens
ocorreu queda da participação de manufaturas a partir de perante outros modais de transporte, como: menor con-
2006, fato acentuado com a crise de 2008, em razão da re- sumo de combustível em relação ao volume da carga
cessão e consequente diminuição de demanda mundial. transportada, o que resulta em menor ônus e aumento
Estão incorretas as alternativas: a, porque somente o se- da competitividade da produção nacional no mercado
tor de manufaturas apresentou visível retração; b, porque mundial; maior integração do território nacional, aumen-
não mostra o valor bruto das exportações brasileiras; c, tando a circulação da produção e a conexão de regiões
porque, com a crise de 2008, ocorreu recessão em nível marginais aos centros mais desenvolvidos; criação de
mundial e retração dos mercados, afetando a indústria corredores de exportação, agilizando o escoamento da
brasileira; e, porque o gráfico indica a participação dos produção nacional.
produtos primários na pauta de exportações, sem indicar
sua participação no mercado interno.

2. c
O mapa destaca importantes corredores de exporta-
ção onde a logística de transportes (ferrovias) e de portos
está direcionada para o mercado externo:
I. Porto de Itaqui (MA): ferro, manganês (prove-
nientes de Carajás – PA), alumínio e soja. Porto
de Pecém (CE): frutas, castanha de caju, cera de
carnaúba, calçados, têxteis e recursos minerais.
II. P orto de Tubarão (ES): ferro (proveniente do
Quadrilátero Ferrífero – MG), café e soja. Porto
de Vitória (ES): produtos siderúrgicos, mármore e
granito, papel e celulose.
III. Paranaguá (PR): soja, milho, açúcar e madeira. Itajaí
(SC): carnes suína, de aves e de peixe congeladas,
cerâmica, máquinas e fumo.

3. b
Na última década, observa-se um crescimento nos
investimentos do governo e PPPs (Parcerias Público-Pri-
vadas: recursos do Estado e das empresas particulares)
em transportes e logística para melhorar o desempenho
814-4

POLISABER 67
GABARITO – GEOGRAFIA DO BRASIL – CADERNO 4

Aula 11 instalação desse patrimônio seria a mudança da


paisagem urbana, onde alguns bairros ficam isola-
EXERCÍCIOS dos por muros. Outras seriam a segregação espacial
e o isolamento de grupos sociais.

2. b
1. a
No Brasil, a concentração fundiária e a modernização
A disputa pela redistribuição dos royalties corres-
das atividades rurais são fatores que provocaram o
ponde a uma regulamentação sobre a distribuição
êxodo rural. A industrialização também foi responsá-
de riquezas do subsolo associada à ação do governo
vel pelo intenso processo de urbanização e formação
brasileiro.
de grandes cidades.

2. c
3. b
As hidrelétricas correspondem a uma opção viável
A mobilidade é um dos grandes problemas urbanos
para a produção de energia graças ao grande poten-
brasileiros.
cial hidrelétrico brasileiro, tendo sido intensificada a
produção de hidreletricidade durante o governo de
Ernesto Geisel nos anos 1970, em plena crise inter- 4. a
nacional do petróleo. No Brasil, a qualidade do transporte público é bas-
tante baixa, tornando a mobilidade urbana bastante
precária.
3. d
I e III. Corretas.
II. Incorreta. No Brasil ainda restam muitos espaços
para a produção de matérias-primas voltadas à pro- Aula 13
dução de biocombustíveis.
EXERCÍCIOS
4. d
Os mapas mostram que o verão é a melhor época
para a produção de hidreletricidade no Sudeste gra- 1. a) Commodities como minério de ferro e soja.
ças às chuvas, e o inverno é o período mais satisfa- b) Veículos, eletroeletrônicos e produtos siderúrgi-
tório para a produção de energia eólica no Nordeste, cos como o aço. Num contexto institucional, o
pois é a época de maior velocidade dos ventos. Mercosul permitiu maiores avanços com vizinhos
sulamericanos.
5. Considerando-se a produção mundial de petróleo,
o Brasil é tido como um produtor de porte médio. É 2. a
autossuficiente na produção desse recurso, sendo No Brasil existiu a privatização dos serviços de
exportador de petróleo pesado e importador do tipo telefonia. Outro aspecto foi a precarização das con-
leve. O mapa indica que importadores com fluxos dições de trabalho, com a contratação temporária
superiores a 3 milhões de barris são a União Euro- de trabalhadores.
peia e o Japão.
3. d
I e II. Corretas.
Aula 12 III. Incorreta. A ferrovia integrará apenas os estados
do Pará, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
EXERCÍCIOS
4. c
Apesar dos benefícios, como liberar o fluxo de veí-
1. Um fator é a concentração de renda. Outro é o te- culos e ligar a Região Metropolitana de São Paulo ao
mor que os mais ricos têm sobre sua segurança e porto de Santos, o Rodoanel provocou uma série de
proteção de seu patrimônio. Uma consequência da impactos sociais e ambientais.

68 POLISABER

Você também pode gostar