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Imagem Ilustrativa
FUNDAÇÃO
GB
Selene_final.indd 1 30/01/2020 16:32
GEOGRAFIA do BRASIL
SELENE 017
1 AULA
Aula Caderno 1
1 e 2 Geografia: a dimensão territorial das sociedades
3 A posição geográfica do Brasil e suas consequências
Aula Caderno 2
4 O relevo e os solos brasileiros: características, manejo e degradação
5e6 Os climas e as bacias hidrográficas humanizadas no Brasil
7 As formações vegetais e sua humanização no Brasil
Aula Caderno 3
8 A geografia da população brasileira
9 A composição étnica e os movimentos da população no território
10 O espaço industrial no Brasil
Aula Caderno 4
11 As fontes de energia e o sistema técnico energético brasileiro
12 Urbanização e metropolização no Brasil
13 Os sistemas de transportes, comunicações e as relações comerciais do Brasil
814-1 RENATO SOARES / PULSAR IMAGENS
GEOGRAFIA DO BRASIL 1
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULAS 1 E 2
entendimento mais amplo da realidade nas escalas local, caso, pelo turismo ecológico.
2 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL
zação histórica, para que possamos entender suas 15 metros de altura e se destaca na paisagem.
POLISABER 3
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2
OCEANO
ATLÂNTICO
0°
10° S
OCEANO 20° S
PACÍFICO Trópico de capricórnio
Tupi-Guarani
Jê
Aruak
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
Karib
Pano
30° S
Tukano
Charrua
Outros grupos
320 km
Os povos indígenas domesticavam animais e se dedi- tropicais, esses assentamentos indígenas viviam no ritmo
cavam ao plantio para garantir sua reprodução material, dos tempos lentos da natureza, a cujos desígnios se sub-
criavam caminhos para vencer distâncias e aprimoravam metia a satisfação de suas necessidades de sobrevivência.
um pouco mais a intervenção no território, mas ainda
prevaleciam as forças da natureza, direcionando e condi- Os meios técnicos no Brasil
cionando as ações humanas. Tais agrupamentos humanos
são os ancestrais de um grande número de etnias que se No Brasil, os diferentes meios técnicos se instalam
formaram em nosso território, vivendo de forma autóctone com base na necessidade da produção econômica de
e tribal, desenvolvendo técnicas de cultivo e navegando rios cada lugar, ajustada a lógicas e tempos da sociedade
que cortavam matas e cerrados. Os Tupis eram os agru- que, aos poucos, se impõe à natureza pelo desenvolvi-
pamentos mais numerosos, viviam no litoral e nas matas mento e pela expansão de técnicas, inventos e máqui-
atlânticas e amazônicas. A exemplo também dos Jês, que nas, resultando em um rearranjo da organização espacial
ocupavam os cerrados, caatingas e matas subtropicais e e das funções desses diferentes lugares.
814-1
4 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL
Primeiramente, esse novo arranjo tem a forma de um do Sul aumentava a produção nas áreas de colonização
arquipélago, onde há pontos ou manchas do território oficial imigrante italiana e alemã. Podemos identificar
com maior desenvolvimento técnico, sem muita articu- nesse momento a passagem do sistema manufatureiro
lação entre si, mas articulados com áreas secundárias de produção para o modelo industrial, configurando no
e, sobretudo, com o exterior. As demandas externas de Brasil uma Primeira Revolução Industrial.
produtos agrícolas e minerais originaram uma série de Mas é em São Paulo, graças à valorização do café nos
cidades e um parco aparelhamento do território, com mercados europeu e estadunidense, que a industrializa-
a instalação de serviços de governo, fiscalização e ção mais avançou no início do século XX. A imigração
controle das atividades econômicas e a construção de incentivada pelo Estado criou mão de obra qualificada,
algumas infraestruturas como ferrovias e portos. Assim, e os recursos obtidos com o café se converteram em
a Zona da Mata nordestina e o Recôncavo Baiano, no fábricas, ferrovias, portos e cidades. No comando desse
século XVII (Recife e Salvador); a mineração no interior, processo está São Paulo, lugar onde a modernização
onde hoje ficam os estados de Mato Grosso, Goiás e alcançou a produção e a circulação de mercadorias.
Minas Gerais, no século XVIII; a borracha na Amazônia, Associado aos transportes, o desenvolvimento das
no século XIX; e o café em São Paulo, no fim do século comunicações, com o telégrafo, marcou o início de um
XIX e início do XX, constituíam as principais “ilhas” de processo de integração nacional orquestrado por essa
maior desenvolvimento econômico do país, sem muita cidade, rompendo os limites naturais das distâncias e do
articulação com outras regiões. A falta de uma rede de isolamento. Tal urbanização aumentou a necessidade
transportes mais rápidos que possibilitasse tal articu- de fornecimento de energia elétrica para os bondes,
lação impediu a criação de uma rede urbana nacional. para a iluminação pública e mesmo para as indústrias,
O isolamento regional foi a marca preponderante da concorrendo para a instalação de inúmeras usinas
organização do território brasileiro no início de seu elétricas no país.
período técnico. Do ponto de vista demográfico, verificamos grandes
As maiores cidades e as regiões mais povoadas se mudanças, que resultaram da intensificação da urbani-
concentravam nas proximidades do litoral, consequên- zação e da industrialização nesse período. O aumento
cia do caráter de nossa colonização e dependência do crescimento vegetativo implicou uma melhor es-
econômica. As cidades mais interioranas como Belo truturação sanitária das cidades e um intenso êxodo
Horizonte e Goiânia foram planejadas, criadas pelo rural, fruto não só da atração exercida pelo trabalho
poder público, pouco refletindo o caráter da coloniza- industrial nas cidades, mas também em razão das es-
ção. Essas cidades se articulam no contexto da pas- truturas agrárias arcaicas onde prevalecia o latifúndio.
sagem do chamado modelo colonial de cidade para o Isso levou a uma redistribuição da população, com o
modelo republicano, no qual o poder público buscava abandono do campo impulsionado pelo desenvolvi-
reproduzir os modelos europeus de embelezamento e mento dos sistemas de transporte e comunicações,
higienização, com vistas a uma modernização do país. A que divulgaram os lugares melhores para se viver e
natureza ainda tinha um papel relevante na forma pela que eram acessíveis a todos.
qual nossa sociedade se organizava economicamente. Esse foi o início da formação da chamada Região
Entre fins do século XIX e início dos anos 1930, a Concentrada (Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste),
mecanização do território se intensificou com a cons- quando a pujança e a diversidade da indústria paulista
trução das estradas de ferro e o desenvolvimento transformou a capital do estado em uma metrópole e
da navegação a vapor. Esses sistemas de transporte aumentou sua integração com outras regiões do país.
imprimiram velocidade ao escoamento dos produtos, Recebendo imigrantes, oriundos sobretudo do Nordes-
permitindo uma acumulação mais rápida de capital. te, mas principalmente estreitando laços econômicos
Nesse momento, nos interstícios da economia agroex- com o Sul e o Sudeste do país, São Paulo comandava
portadora, tem início um surto industrial ainda muito a integração nacional, que caminhava a passos largos.
dependente de matéria-prima e, portanto, não neces- A partir dos anos 1940, a industrialização brasileira
sariamente urbano. No Nordeste, nas regiões de maior se consolidou com a liderança do Sul e do Sudeste,
concentração populacional, em razão da necessidade notadamente de São Paulo. Estabeleceu-se uma nova
de mão de obra, como na Bahia, se desenvolveram divisão territorial do trabalho. As indústrias paulistas
indústrias têxteis. No Sudeste, o Rio de Janeiro liderava e sulistas passaram a exigir cada vez mais matérias-
814-1
a produção industrial nacional e, no Sul, o Rio Grande -primas de outras regiões, principalmente do Nordeste.
POLISABER 5
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2
Os grandes centros urbanos que se estruturavam no 1950, as rodovias se firmaram como a matriz do trans-
Centro-Sul do país também exigiam uma agricultura porte e responsáveis pela integração dos mercados
que os abastecesse de alimentos e víveres produzidos nacionais. A própria construção de Brasília consolidou
em outras regiões. Houve um grande desenvolvimento essa tendência, pois tornou indispensável o estabeleci-
da agricultura no interior do estado de São Paulo. O mento de uma rede de estradas para garantir a afirma-
Nordeste se especializou em fornecer produtos pri- ção do Estado no conjunto do território e possibilitar
mários e mão de obra e, junto com outras regiões, se a expansão do consumo do que se produzia na área
constituiu em um mercado consumidor das mercado- mais industrializada. Antigas metrópoles litorâneas
rias produzidas no “centro”, concentrando as perdas perderam a capacidade de polarizar e influenciar suas
de um desenvolvimento econômico e social de caráter próprias regiões, que se interligam mais intensamente
desigual e combinado do tipo centro-periferia. com São Paulo e com o Rio de Janeiro.
É nesse contexto que cresceram alguns centros ur- Dessa forma, o Sudeste se afirmou no papel de cen-
banos no interior do país, seja para o abastecimento tro econômico mais dinâmico do país, concentrando
das áreas industriais do centro-sul, seja produzindo a indústria e a agricultura mais moderna e também
gêneros agrícolas exportáveis. Esses centros se inter- o maior mercado consumidor, integrando o território
ligam aos portos e às regiões industriais por meio de brasileiro, mas agravando as desigualdades antes
rodovias. Se, no início desse período técnico no Brasil instaladas. É nesse contexto que podemos situar uma
a produção foi escoada por ferrovias, nos anos 1940 e Segunda Revolução Industrial no Brasil.
OCEANO
ATLÂNTICO
0°
Belém
Cametá São Luis
Fortaleza
Natal
Paraíba
Olinda
Recife
10° S
Porto Calvo
Penedo
São Cristóvão
Salvador
São Jorge dos Ilhéus
Meridiano de Tordesilhas Santa Cruz
Porto Seguro
Ouro
OCEANO
PACÍFICO
Drogas do Sertão N. Sra. Da Vitória
20° S
Espírito Santo
Cana-de-açúcar São Paulo
Taubaté
Trópico de Capricórnio São Sebastião do Rio de Janeiro
Itanhaém Santos
Pecuária
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
São Vicente
Cananeia
Paranaguá
Eixo da expansão da pecuária
Laguna
Limite dos Estados atuais
30° S
Cidades e vilas
440 km
Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli A. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial
814-1
6 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL
OCEANO
Macapá
ATLÂNTICO
0°
Salvador
Vila Boa
Algodão Cuiabá São Jorge dos Ilhéus
São Pedro Santa Cruz
del Rei Vila Bela
Ouro e diamantes Porto seguro
Sabará
Drogas doOCEANO
sertão
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
20° S
Mariana Vitória
PACÍFICO São João
Ouro Espírito Santo
Cana-de-açúcar Preto
Trópico de Capricórnio
del Rei
São Paulo
Sorocaba Rio de Janeiro
Santos
Pecuária Curitiba Iguape
Cananeia
Paranaguá Fonte: THÉRY, Hervé;
Eixo de transporte Lajes Desterro
Laguna MELLO, Neli A. Atlas do
Limite dos Estados atuais Brasil: disparidades e
Porto Alegre 30° S
dinâmicas do território.
Cidades e vilas São Paulo: Edusp/
Imprensa Oficial do
460 km Estado de São Paulo,
2005. p. 39.
OCEANO
ATLÂNTICO
0°
Natal
Paraíba
Café Recife
10° S
Maceió
Mate Aracaju
Cacau Salvador
Fumo Cuiabá
Goiás
Algodão Ouro
Preto
OCEANO 20° S
Ouro e diamantes PACÍFICO Vitória Fonte: THÉRY,
Hervé; MELLO,
Drogas do sertão e borracha Trópico de Capricórnio
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
Rio de Janeiro
Neli A. Atlas
São Paulo
Curitiba
Santos do Brasil:
Cana-de-açúcar disparidades e
dinâmicas do
Pecuária Florianópolis
território. São
Ferrovia Porto Alegre 30° S
Paulo: Edusp/
Imprensa
Limite dos Estados atuais Oficial do
Estado de São
Cidades e vilas 460 km Paulo, 2005.
814-1
p. 41.
Repare como nos séculos XVIII e XIX o território brasileiro já estava mais integrado.
POLISABER 7
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2
0°
0°
10° S
10° S
20° S
20° S
OCEANO OCEANO
PACÍFICO Trópico de Capricórnio PACÍFICO
Trópico de Capricórnio
OCEANO
OCEANO
ATLÂNTICO 30° S
ATLÂNTICO 30° S
600 km 600 km
Anos 1990
econômicos ACRE
PERNAMBUCO
70º∞
20º∞ ESPÍRITO SANTO 20° S
Grande eixo rodoviário OCEANO
PACÍFICO
SÃO PAULO
Trópico de Capricórnio
CAPRICÓRNIO RIO DE JANEIRO
TRÓPICO DE
PARANÁ
Rota marítima ou fluvial
OCEANO
SANTA CATARINA
600 km
50°O 40º∞
Repare na evolução da integração do território brasileiro em um período de 100 anos. Observe também como entre 1940 e
1990 o avanço das frentes de expansão e a integração se deu interna e rapidamente.
Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli A. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005. p. 43.
tegração entre as diversas regiões se consolidou graças sociedade, da economia e do território brasileiro teve
8 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL
como motor a industrialização tardia do tipo substitui- ondas de movimentos migratórios para as metrópoles
ção de importações. Ampliou-se o complexo industrial ou para os limites dessas fronteiras. Os novos apa-
do Sudeste e se criaram novos complexos industriais ratos técnicos nos sistemas de transporte (rodovias,
em outras regiões para satisfazer a sede das empresas, aeroportos) e telecomunicações (cabos submarinos,
agora globais, por minérios, petróleo e outras matérias- satélites) garantiram maior fluidez de deslocamento e
-primas. A agropecuária também se modernizou, prin- informações no território, que passou a ser organizado
cipalmente nos setores de exportação, e se estruturou em redes por onde trafegam fluxos de pessoas, infor-
uma agroindústria nos setores do álcool e do suco de mações, mercadorias e capitais (matéria e energia), al-
laranja, criando novos personagens e novas relações de cançando pontos mais longínquos do país e expandindo
trabalho, expandindo as fronteiras agrícolas e gerando horizontalmente as relações capitalistas de produção.
OCEANO
ATLÂNTICO
0°
10° S
20° S
OCEANO
PACÍFICO Trópico de Capricórnio
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
Rodovia pavimentada
Rodovia sem pavimentação
30° S
Ferrovia
Gasoduto
Hidrovia
310 km
Os sistemas de transporte se sofisticaram para atender à demanda do espaço brasileiro globalizado. Assim, a multimodalidade
(os vários tipos de transportes articulados) imprimiram agilidade ao escoamento de matérias-primas, gêneros agrícolas e
814-1
minerais aos portos de exportação. Apesar disso, existem “gargalos” no escoamento de produtos em alguns de nossos portos.
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 143.
POLISABER 9
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2
Por outro lado, cresceram as desigualdades sociais Lima, o secretário tratou também sobre o pacote de
pela desvalorização do trabalho e as desigualdades concessões dos portos, que deverá ser lançado na ter-
regionais, estas últimas inaugurando o papel planejador ça-feira pela presidente Dilma Rousseff. Nesta semana,
do Estado (Sudene, Sudam etc.). Desigual e combinado, o presidente da Empresa de Planejamento e Logística
o desenvolvimento capitalista na constituição do meio (EPL), Bernardo Figueiredo, disse que os investimentos
técnico-científico-informacional aprofundou essas de- do pacote terão como referência o Plano Nacional de
sigualdades ao integrar espaços horizontalmente muito Logística Portuária (PNLP), que projeta aportes de mais
distantes, rompendo as identidades locais pela padroni- de R$ 40 bilhões até 2030.
zação dos modos de vida rurais em urbanos. À lógica do
tempo lento dos lugares, agrega-se a lógica global das Modernização do cais
transnacionais. O espaço nacional se globaliza. A obra prevê a reconstrução de 1 125 metros do cais,
com execução de nova plataforma portuária, em con-
Leia o texto que se segue sobre esse tema. creto armado pré-moldado, que avança 11,2 metros no
canal. Isso permitirá o aprofundamento do calado de 31
Projeto de modernização do cais para 40 pés, possibilitando atracação de navios de
do Porto Novo de Rio Grande deve ir até 75 mil Toneladas de Porte Bruto (TPB) e utilização
para licitação este mês de equipamentos portuários modernos e de grandes
8 nov. 12 capacidades. Ao todo, a área de aproximadamente
13,3 mil metros quadrados será pavimentada com
O secretário de Infraestrutura e Logística do RS, Beto concreto armado. Somando-se a parte revitalizada,
Albuquerque, recebeu nesta quarta-feira (7), em Brasí- com conclusão da obra, o Porto Novo passará a contar
lia, a informação de que deverá ir para licitação ainda com 1 575 metros de cais modernizados.
em novembro o projeto executivo de modernização do
Cais do Porto Novo de Rio Grande. As obras serão finan- CÁCERES, Anelise.
ciadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento Disponível em: <www.seinfra.rs.gov.br/
(PAC), do Governo Federal, dentro do qual já foram conteudo/66284/?Projeto_de_modernizacao_do_cais_
repassados mais de R$ 1 bilhão para investimentos no do_Porto_Novo_de_Rio_Grande_deve_ir_para_licitacao_
Porto de Rio Grande. Entre as obras, o prolongamento este_mes>. (acesso em: 28 jan. 2014)
dos molhes, dragagem de aprofundamento do canal de
acesso ao porto e 450 metros de cais já revitalizados.
Neste projeto serão investidos R$ 119 milhões para Assim se constituiu o território brasileiro neste início
a revitalização de 1 125 metros do Cais do Porto Novo, do século XXI. Seus usos pela sociedade obedecem
de acordo com o titular da Seinfra. “A inclusão das aos ditames das grandes empresas globais, nacionais
obras no PAC são essenciais para o Rio Grande do e internacionais, mediados pela ação do Estado. Como
Sul, pois agregam uma competitividade ainda maior ao meio técnico-científico-informacional, agrega-se aos
Porto de Rio Grande, que é estratégico para o Brasil e, objetos do território um conteúdo de ciência e tecno-
por isso, tem recebido grandes investimentos”, disse logia para satisfazer os interesses do mercado, cada
Beto, destacando também o fato de a movimentação vez mais competitivo nestes tempos de neoliberalismo.
do porto rio-grandino ter crescido 9,99% em 2011. A Revolução Técnico-Científica, ou Terceira Revolução
“Esta é uma obra esperada há muito tempo pela co- Industrial, se consolida em território brasileiro. Contra-
munidade portuária. A modernização irá proporcionar ditoriamente, tais objetos técnicos também têm sido
o aumento da produtividade e da competitividade do apropriados pelos grupos que são marginalizados e
Porto do Rio Grande”, afirmou o superintendente do excluídos dos mecanismos de mercado, vislumbrando-
porto, Dirceu Lopes. -se uma perspectiva de resistência e proposição de
Na audiência com o secretário executivo da Secreta- outros usos do território que atendam às necessidades
ria de Portos da Presidência da República (SEP), Mário desses grupos.
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10 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL
OCEANO
ATLÂNTICO
0°
10° S
OCEANO 20° S
PACÍFICO
Rede de micro-ondas numérica Trópico de Capricórnio
EXERCÍCIOS
1. (UFPB) O Brasil é considerado um país de dimen- ( V ) A identidade nacional do povo brasileiro é resultado
são continental, com um território de mais de de um mix étnico provocado por uma relativa misci-
8 milhões de km2 e uma população que se aproxima genação entre índios, africanos, imigrantes europeus
de 200 milhões de habitantes que falam o mesmo e outras nacionalidades.
idioma e estão submetidos às leis de um mesmo ( V ) As sociedades indígenas influenciaram a formação
Estado nacional. No que diz respeito à formação do social brasileira de maneira marcante, com evidência
território e da sociedade brasileira, julgue os itens nos hábitos culturais.
a seguir. ( V ) A formação e a organização do território brasileiro
( F ) A história da sociedade brasileira apresenta caracte- tiveram início com as capitanias hereditárias, evo-
rísticas típicas da formação de um território colonial, luindo, principalmente, pós-independência, para a
onde grupos sociais de diferentes raízes étnicas formação de estados e de municípios relativamente
814-1
POLISABER 11
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2
12 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL
ESTUDO ORIENTADO
Caro(a) aluno(a),
Nestas aulas iniciais, tratamos de introduzir os temas geográficos com uma discussão sobre o objeto de estudo da
Geografia e uma abordagem histórico-territorial da formação do Brasil. Nesta seção você encontrará algumas ativida-
des para aprofundar seus estudos e ampliar seu repertório conceitual, como exercícios, um texto que aborda o objeto
central de estudo da geografia na Roda de Leitura, além de uma série de dicas de vídeos, músicas e leituras que você
pode relacionar ao tema das aulas.
Bons estudos!
EXERCÍCIOS
POLISABER 13
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2
4. (Fatec) No atual processo de globalização eco- percurso entre o porto de Santos e o planalto paulis-
nômica, vem ocorrendo uma verdadeira divisão ta, escreveu Davatz:
econômica e geopolítica do mundo, que distingue
centros de inovação tecnológica, áreas de difusão As estradas do Brasil, salvo em alguns trechos, são
de indústria e agroindústria avançadas, áreas em
péssimas. Em quase toda parte, falta qualquer espécie de
desindustrialização, áreas com economia tradicio-
nal em decadência e áreas a serem preservadas. calçamento ou mesmo de saibro. Constam apenas de terra
Sob o comando dos grandes agentes econômicos simples, sem nenhum benefício. É fácil prever que nessas
capitalistas transnacionais, o território dos países é estradas não se encontram estalagens ou hospedarias
utilizado intensivamente, afetando o poder dos Es- como as da Europa. Nas cidades maiores, o viajante pode
tados e alienando a vida das sociedades que vivem naturalmente encontrar aposento sofrível; nunca, porém,
nesses territórios. qualquer coisa de comparável à comodidade que propor-
Analise as afirmações a seguir como elementos em
ciona na Europa qualquer estalagem rural. Tais cidades
jogo no processo de globalização descrito.
são, porém, muito poucas na distância que vai de Santos a
I. Hegemonia dos processos produtivos baseados na Ibicaba e que se percorre em cinquenta horas, no mínimo.
Terceira Revolução Industrial.
II. Macropolíticas estatais controladoras dos fluxos DAVATZ, T.
econômicos e protetoras da mão de obra. Memórias de um colono no Brasil.
III. Divisão mundial do trabalho entre centros hegemô- São Paulo: Livraria Martins, 1941. (adaptado)
nicos, periferias e semiperiferias.
IV. Tendência ao aumento das áreas naturais preserva- Em 1867, foi inaugurada a ferrovia ligando Santos a
das pelo “desenvolvimento sustentável” capitalista. Jundiaí, o que abreviou o tempo de viagem entre o
litoral e o planalto para menos de um dia. Nos anos
Podem-se assinalar como verdadeiros elementos seguintes, foram construídos outros ramais ferrovi-
desse processo de globalização os que estão conti- ários que articularam o interior cafeeiro ao porto de
dos nas afirmações: exportação, Santos.
a) I, II, III e IV. d) II e IV, apenas.
b) I, II e III, apenas. e) IV, apenas. O impacto das ferrovias na promoção de projetos
c) I e III, apenas. de colonização com base em imigrantes europeus
foi importante porque:
5. (Fuvest) Uma das características atuais do processo a) o percurso dos imigrantes até o interior, antes das
de globalização é a exigência, cada vez maior, de ferrovias, era feito a pé ou em muares; no entanto, o
fluidez de informações e mercadorias, ou, em es- tempo de viagem era aceitável, uma vez que o café
sência, do próprio capital. Tal exigência tem condu- era plantado nas proximidades da capital, São Paulo.
zido os países à reestruturação de seus sistemas de b) a expansão da malha ferroviária pelo interior de São
circulação. Nesse sentido, no Estado brasileiro, nos Paulo permitiu que mão de obra estrangeira fosse
últimos anos contratada para trabalhar em cafezais de regiões
a) priorizou-se o transporte público urbano, com a cada vez mais distantes do porto de Santos.
ampliação do número de linhas do metropolitano c) o escoamento da produção de café se viu beneficiado
em todas as capitais dos Estados. pelos aportes de capital, principalmente de colonos
b) houve uma ampla recuperação da malha ferroviária, italianos, que desejavam melhorar sua situação
com a construção de novos trechos, a exemplo da econômica.
Transnordestina. d) os fazendeiros puderam prescindir da mão de obra
c) privilegiou-se o sistema de cabotagem, valorizando- europeia e contrataram trabalhadores brasileiros
-se o transporte de passageiros pelo território nacio- provenientes de outras regiões para trabalhar em
nal e interligando as áreas costeiras do país. suas plantações.
d) priorizou-se o transporte hidroviário, voltado à ex- e) as notícias de terras acessíveis atraíram para São
portação de grãos, conforme atestam as hidrovias Paulo grande número de imigrantes, que adquiriram
Tietê-Paraná e do Rio São Francisco. vastas propriedades produtivas.
e) intensificou-se a modernização do sistema portuário,
incluindo a construção de portos como os de Sepe- Texto para a próxima questão.
tiba (RJ) e Pecém (CE).
Na década de 1990, aprofunda-se a relação entre o
6. (Enem) O suíço Thomas Davatz chegou a São Pau-
território brasileiro e o mercado externo através de um
lo em 1855 para trabalhar como colono na fazenda
de café Ibicaba, em Campinas. A perspectiva de pros- aumento intenso do fluxo de mercadorias. [...]
peridade que o atraiu para o Brasil deu lugar à insa- Existem 46 portos, distribuídos pela costa marítima e
814-1
tisfação e revolta, que ele registrou em livro. Sobre o pelas vias fluviais interiores, dos quais 36 movimentam
14 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL
cargas para o mercado externo. Pelos portos brasileiros, 7. (UEL) Um dos principais aspectos da modernização
fluem 96,5%, em peso, das mercadorias transacionadas dos portos brasileiros apontados pelo texto é o uso
pelo país, dado que revela a importância desses fixos de contêineres, que exigiu a introdução nos portos
para a fluidez territorial. Fortes transformações técnicas brasileiros de novos requisitos técnicos para esse
tipo de operação. Essa modernização provocou a
e políticas definem a situação atual dos portos brasileiros.
concentração das operações com contêineres em
Novas instalações e equipamentos são incorporados de
sete portos, responsáveis por 85% do movimento
forma acelerada à sua performance operacional, como dessas unidades.
contêineres, guindastes especializados, armazéns etc.
As regiões brasileiras onde se localizam esses por-
ARROYO, M. tos são
Fluidez e porosidade do território brasileiro
a) Norte e Nordeste.
no contexto da integração continental.
In: SILVEIRA, M. L. Continente em chamas: b) Sudeste e Nordeste.
globalização e território na América Latina. c) Sudeste e Sul.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 211-218. d) Sul e Nordeste.
(adaptado) e) Centro-Oeste e Sudeste.
A possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga medida, do ponto do território onde se vive. Muitos
moradores da periferia tornam-se cidadãos incompletos por ter menos acesso aos serviços urbanos e direito à cidade
como um todo. Morar na periferia é se condenar duas vezes à pobreza: além das desigualdades socioeconômicas, o pobre
sofre com a má distribuição territorial dos serviços públicos como saúde, educação, segurança e lazer.
SANTOS, Milton.
O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987. p. 81-115. (adaptado)
O município do Rio de Janeiro pode ser dividido em três grandes zonas. Nas zonas 1 e 2 (formadas, respectivamen-
te, pelo centro histórico e seis bairros nobres com melhor poder aquisitivo), o território e o número de moradores
são MUITO MENORES do que os da zona 3 (formada por cerca de trinta bairros, em geral periféricos e com pior
poder aquisitivo).
POLISABER 15
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2
9. (Unesp) Analise as tabelas. A análise das duas tabelas permite afirmar que as
exportações brasileiras
a) foram dominadas por um ou dois produtos até fins
Brasil: principais produtos exportados do século XIX, mas apresentam, atualmente, uma
em relação ao valor total das pauta muito diversificada.
exportações, de 1600 a 1900 b) passaram de produtos de origem vegetal, até o fim
do século XIX, para uma pauta diversificada em 2006.
% do valor c) apresentavam uma pauta diversificada até meados
Décadas Produtos
total do século XX, mas passaram, na atualidade, para uma
pauta muito especializada.
Açúcar 90 d) caracterizam-se por pautas diversificadas tanto no
1600 passado como nos dias atuais.
Pau-brasil 4
e) eram diversificadas no passado, mas caracterizam-
-se por privilegiar, atualmente, matérias-primas sem
Açúcar 95 valor agregado.
1650
Pau-brasil 2
10. (Fatec) Considere a anamorfose a seguir.
Açúcar 75
1700 RN
Ouro e minérios 13
PB
PE
Açúcar 47
1750 AP CE AL
Ouro e minérios 47 RR MA
PI SE
AC PA BA
RO AM TO ES
DF
Açúcar 31 MT GO
MG
1800 RJ
Ouro e minérios 24 MS
SP
Café 48
1850
Açúcar 21
PR
SC
Café 65
1900
Borracha 15 RS
Fonte: IBGE.
Brasil: os dez principais produtos exportados em
relação ao total das exportações em 2006 Assinale a alternativa que apresenta corretamente
Produtos % do valor total o título da representação.
a) População absoluta.
Minérios de ferro 6,5 b) Renda per capita.
c) Participação no PIB.
Óleos brutos de petróleo 5,0 d) Produção industrial.
e) Valor das exportações agrícolas.
Soja 4,0
Açúcar 3,0
Aposta no transporte
Aviões 2,0
Em um esforço que superou as previsões mais
Carne bovina 2,0
ousadas da iniciativa privada, o governo federal
Peças de veículos e tratores 2,0 anunciou ontem o que chamou de o maior plano de
investimentos em transportes da história, envolvendo
Café 2,0
a concessão de ferrovias e rodovias à iniciativa privada.
Carne de frango 2,0 O setor de ferrovias é o que deve receber o maior vo-
814-1
quilômetros de novas linhas, para criar uma malha Cite duas atividades que devem se expan-
que ligue as principais regiões produtoras do país aos dir na cidade do Rio de Janeiro em virtude da
maiores portos. reorientação espacial das indústrias na região
metropolitana.
13. (Fuvest)
814-1
13. b) A concentração histórica de capital na região Sudeste, foi geradora de novas necessidades de consumo e diversificação.Isso acaba transformando a região na maior concentração indus-
trial do Brasil, caracterizado por setores os mais variados, com unidades de produção que vão desde as mais simples, bens de consumo não duráveis, como alimentícia e construção civil, até
as mais complexas e desenvolvidas como informática e aviação, passando pela indústria pesada como siderúrgicas. A evolução tecnológica e comercial criou novas POLISABER 17
demandas e mudanças locacionais, favorecendo a descentralização da produção e o surgimento de tecnopolos que concentram áreas de formação de mão de obra, pesquisa e produção e
com níveis cada vez maiores de automação que modificam a estrutura funcional, demandando cada vez menos trabalhadores. São fatos que exigem novas política públicas de qualificação e
localização da mão de obra com ênfase a novas possibilidades como serviços e terceiro setor.
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2
de todas as ciências. Dessa forma, a tradição kantiana Neste primeiro passo, vive-se na Geografia Tradicional,
coloca a Geografia como uma ciência sintética (que a geografia que tem seu objeto de estudo ainda indefi-
trabalha com dados de todas as demais ciências), nido, momento em que a Geografia ainda não atingira
descritiva (que enumera os fenômenos abarcados) e um grau de epistemologia seguro, o que só aconteceria
que visa abranger uma visão de conjunto do planeta. na modernidade. Enquanto isso, essa geografia se sus-
A definição da Geografia, como estudo da diferenciação
tenta em conceitos naturais e é uma ciência descritiva,
de áreas, é outra proposta existente. Tal perspectiva traz
de observação dos elementos naturais, calcada nos
uma visão comparativa para o universo da análise geográ-
pressupostos de seus precursores Humboldt e Ritter.
fica. Existem ainda autores que buscam definir a Geografia
Em outras palavras, nesse primeiro momento, a Geo-
como estudo do espaço. Para estes, o espaço seria pas-
sível de uma abordagem específica, a qual qualificaria a grafia tinha seu objeto definido em três visões distintas, e
análise geográfica. Tal concepção, na verdade minoritária todas as indagações sobre esses objetos e sua explicação
e pouco desenvolvida pelos geógrafos, é bastante vaga e viria principalmente da abordagem do campo natural, o
encerra aspectos problemáticos. Nessa concepção, além que daria precedente ao desenvolvimento metodológico
de ser destituído de sua existência empírica, seria um seguinte, dessa forma de pensamento geográfico mais
dado de toda forma de conhecimento, não podendo qua- conhecida como positivismo geográfico, que será traba-
lificar a especificidade da Geografia. Finalmente, alguns lhado na perspectiva tradicional da Geografia.
autores definem a Geografia como o estudo das relações
entre o homem e o meio, ou, posto de outra forma, entre MORAES, Antônio Carlos Robert.
a sociedade e a natureza. Assim, a especificidade estaria Geografia: pequena história crítica.
no fato de essa [...] disciplina explicar o relacionamento São Paulo: Annablume, 2003.
entre os dois domínios da realidade. Seria, por excelência, (adaptado)
uma disciplina de contato entre as ciências naturais e as
humanas, ou sociais. Aparecem três visões distintas do
objeto: alguns autores o apreendem como as influências
PESQUISAR E LER
da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade.
Caberia à Geografia explicar as formas e os mecanismos
pelos quais essa ação se manifesta. Assim, o homem é SILVEIRA, María Laura; SANTOS, Milton. O Brasil: terri-
visto como um elemento passivo, cuja história é determi- tório e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro:
nada pelas condições naturais que o envolvem. O peso da Record, 2001.
explicação residiria totalmente no domínio da natureza. Importante obra dos geógrafos Milton Santos e María
Os fenômenos humanos seriam sempre efeitos de causas Laura Silveira, analisa a construção do território brasileiro
naturais; isso seria uma imposição da própria definição desde as origens de sua formação socioespacial até a
do objeto, identificado com aquelas influências. inserção do Brasil no capitalismo global.
Outros autores, mantendo a ideia da Geografia como o
estudo da relação entre o homem e a natureza, definem- SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo,
-lhe o objeto como a ação do homem na transformação razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
desse meio. Assim, caberia estudar como o homem se Obra fundamental para a compreensão do papel da ciên-
apropria dos recursos oferecidos pela natureza e os cia geográfica na atualidade, discute seus princípios e seu
transforma, como resultado de sua ação. objeto central de forma crítica e consistente.
Este breve painel das definições da Geografia que
não pretende ser, de modo nenhum, exaustivo, já justi- PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Os (des)caminhos
fica a afirmação inicial quanto às dificuldades contidas do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2011.
na proposta deste volume. Também se deve levar em O texto discute o conceito de natureza e o pano de fundo
conta que o painel abarcou apenas as perspectivas da do surgimento do movimento ecológico e da tomada de
Geografia Tradicional. consciência da crise ambiental.
814-1
18 POLISABER
aulas 1 e 2 GEOGRAFIA DO BRASIL
MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia: pequena disponibiliza arquivos multimídia com fotografias de diver-
história crítica. São Paulo: Annablume, 2003. sos momentos da sua vida, vídeos de suas conferências,
O autor conta a história do pensamento geográfico de áudios de aulas etc.
maneira sucinta, mas nem por isso superficial.
Geografia para todos: geografia para o Ensino Médio
www.geografiaparatodos.com.br (acesso em: 1 fev. 2014)
O site disponibiliza vídeos infográficos, mapas, textos,
VER E OUVIR
e questões de vestibulares e do Enem relacionados à
Geografia.
Denise está chamando (direção: Hal Salwen. EUA, 1995).
O filme é uma crítica ao mundo globalizado, onde os História da Geografia: História de tudo
avanços das redes de telecomunicações mais afastam www.historiadetudo.com/geografia.html
do que aproximam as pessoas. (acesso em: 1 fev. 2014)
O site explica como a Geografia foi explorada como ciência
Bye Bye Brasil (direção: Cacá Diegues. Brasil, 1979). e filosofia, tornando-se parte dos currículos universitários.
Um retrato do Brasil no início dos anos 1970, que se
modernizava e incorporava as regiões mais longínquas
da Amazônia ao capitalismo globalizado.
ÁGORA
São Paulo S/A (direção: Luis Sérgio Person. Brasil, 1965).
Documentário sobre a metrópole paulistana no auge de Leia os dois trechos abaixo, com visões distintas sobre
seu processo de industrialização, quando se tornou a as relações entre o ser humano e a natureza:
principal cidade do país, mas já anunciava seus gigan-
tescos problemas. O homem branco esquece a sua terra natal, quando
– depois de morto – vai vagar por entre as estrelas. Os
Entrevista com Milton Santos (direção: Sílvio Tendler. nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra,
Brasil, 2005). pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da
Uma visão crítica do geógrafo Milton Santos sobre a terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nos-
globalização e seus efeitos perversos. sas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia – são nossos
irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o
Parabolicamará. Parabolicamará. Gilberto Gil (Warner calor que emana do corpo de um mustang e o homem
Music, 1992). – todos pertencem à mesma família.
Baticum. Chico Buarque. Gilberto Gil; Chico Buarque Excerto da carta do chefe indígena Seatle ao
presidente dos Estados Unidos, em 1854.
(Marola, 1989).
POLISABER 19
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 1 e 2
S E N H A
Nas primeiras aulas, vimos como o território brasileiro foi se configurando com a incorporação da
natureza pela nossa sociedade. Hoje consolidado, esse território oferece uma enorme diversidade de
paisagens e lugares que devemos conhecer. Mas como é possível ver essa enorme diversidade sem
814-1
20 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 3
OCEANO
RR
AP ATLÂNTICO
Equador
0° S
0°
AM
PA MA CE
RN
PB
PI
PE
AC
10° S AL 10° S
RO TO SE
BA
MT
DF
GO OCEANO
MG ATLÂNTICO
MS ES
20° S 20° S
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
SP RJ
Trópico de Capricórnio
OCEANO PR
PACÍFICO
SC
430 km
30° S
RS 30° S
0016
POLISABER 21
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3
As ferramentas de localização por ele não ter origem bíblica. Assim, os clérigos faziam
releituras das obras gregas do ponto de vista cristão. Já os
Ao longo de sua história no planeta, o ser humano sempre árabes traduziam obras da Antiguidade e faziam descri-
teve necessidade de se orientar, se localizar. Não há socie- ções de terras desconhecidas com objetivos comerciais
dade que não tenha desenvolvido noções de localização. e de dominação territorial.
Tratando-se de um ser que se atreveu a expandir-se por
terras desconhecidas, os referenciais de localização foram
absolutamente imprescindíveis para sua sobrevivência.
As pinturas rupestres da Pré-História encontradas em
cavernas de vários lugares, revelam essa necessidade
em desenhos que indicavam caminhos para a melhor
coleta ou onde estavam as ameaças. Para esses grupos
Mapa-múndi de
Claudio Ptolomeu
814-1
(90-168).
22 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL
180º –
Latitude
NORTE
P
= LATITUDE
DE P
OESTE
– 0º +
POLISABER 23
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3
L
Greenwich e os outros meridianos. A interseção dos
eixos corresponde à definição da coordenada geográfica
de um lugar. Um ponto qualquer no planeta é definido
pela interseção de duas linhas perpendiculares entre si
Paralelo c r)
e paralelas aos respectivos eixos, e expresso, assim, por entral (Equado
L
(0° a 180° leste ou oeste). it u
de
sul
Polo Sul
Y Polo Norte
(0,0)
Meri
X
ILUSTRAÇÕES: AVITS
Polo Sul
Para localizar um ponto na superfície terrestre, devemos proceder como na localização do ponto P, na figura a seguir.
Localizando um ponto
165º 150º 135º
180º 120º
165º 105º
150º POLO
NORTE
90º P a60º longitude W Greenwich
50º latitude Norte
135º 75º
120º 60º
105º 45º
P 30º
90º Arco do paralelo
75º Longitude 15º
60º 0º E
45º 15º
30º
Meri
o
ridian
diano
W
Latitude
50º Arco do me
d e G re e n w i c h
Equador
S
814-1
24 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL
66°32’33’’
zonas glaciais
zona temperada
0°
Trópico de Câncer
23°27’30’’
Equador
zona intertropical
Zonas da Terra
trópico de câncer
zona tropical
equador Sol
zona tropical
trópico de capricórnio
POLISABER 25
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3
Paralelos e meridianos
Polo Norte geográfico: Círculo Polar Ártico:
90° N 65°33´N
Meridiano Equador: 0°
(linha de longitude) Extensão: 40 075 km
Trópico de Capricórnio:
23°27´S • As linhas da latitude são os pa-
ILUSTRAÇÕES: AVITS
ralelos.Cruzam de leste a oeste.
Círculo Polar Antártico: • As linhas de longitude correm de
66°33´S norte a sul.Elas se encontram
nos polos.São mais afastadas
Meridiano de Greenwich: 0° Polo Sul geográfico:
no equador.
Extensão: 40 007 km 90°S
Em razão do movimento de translação da Terra (em torno do Sol), que dura aproximadamente 365 dias e 6 horas, e à incli-
nação do eixo da Terra em relação ao plano dessa órbita da translação, ocorrem as estações do ano, como ilustra a imagem.
Estações do ano
Equinócio de 21 de março
Início da primavera no hemisfério norte
e início do outono no hemisfério sul. Solstício de 21 ou 22 de dezembro
Início do inverno no hemisfério norte
e início do verão no hemisfério sul.
Sol
Solstício de 21 de junho
Início do verão no hemisfério norte
e início do inverno no hemisfério sul.
Equinócio de 22 ou 23 de setembro
Início do outono no hemisfério norte
e início da primavera no hemisfério sul.
Órbita da Terra: caminho percorrido pela Terra no seu movimento em torno do Sol.
Disponível em: <www.geografiaparatodos.com.br/index.php?pag=infograficos>. (acesso em: 12 fev. 2014)
Entre 21 e 22 de dezembro, os raios solares incidem perpendicularmente, definindo o solstício de verão do he-
perpendicularmente no Trópico de Capricórnio, determi- misfério norte e o inverno no sul, onde agora a incidência
nando maior aquecimento do hemisfério sul e definindo solar tem inclinação máxima. Nessa época, é nas altas e
seu solstício de verão. Nesses dias, portanto, tem início médias latitudes do hemisfério norte que o dia (período
o verão nesse hemisfério, enquanto no norte é inverno, de insolação) dura mais que a noite.
pois ali a inclinação dos raios solares é máxima. Nessa Nesse movimento da Terra, há duas posições interme-
época, principalmente nas latitudes médias e altas, o dia diárias: em 20 ou 21 de março e em 22 ou 23 de setembro
(período de insolação) no hemisfério sul dura mais que os raios solares incidem perpendicularmente na linha do
a noite. Entre 20 e 21 de junho, a situação se inverte. equador, determinando os equinócios, quando os dois
Quando o planeta atinge aquela posição em relação ao hemisférios são igualmente iluminados, e se alternam
814-1
Sol, é o Trópico de Câncer que recebe os raios solares as estações da primavera e do outono.
26 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL
SIBÉRIA ALASCA
fuso inicial
60º
TA
40º
OCEANO PACÍFICO
20º
B A
0º
HA
LIN
20º
40º
NOVA ZELÂNDIA
AVITS
814-1
POLISABER 27
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3
É possível ter duas viradas de ano em 24 horas? horas no calendário; inversamente, seguindo a direção
oeste (em que as horas diminuem), avança-se 24 horas
no calendário. Não é surpreendente?
Perde um dia
Território brasileiro: posição
geográfica e extensão
Com aproximadamente 8,5 milhões de km2, o Brasil é
1 de Janeiro 31 de Dezembro
o quinto maior país do mundo em extensão territorial.
Ocupando 42% das terras da América do Sul, o território
brasileiro se estende de norte a sul desde as baixas
Oeste Leste
latitudes do hemisfério norte até as latitudes médias do
hemisfério sul e está totalmente dentro no hemisfério
ocidental. Veja o mapa abaixo.
Nosso território é atravessado pela linha do equador na
AVITS
73º 34º
60 º
ÁSIA
EUROPA
AMÉRICA
DO NORTE
30º
TRÓPICO DE CÂNCER
AMÉRICA
CENTRAL ÁFRICA
5º
0º EQUADOR
CIPAL OU DE GREENWICH
BRASIL OCEANIA
São Paulo
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO AMÉRICA
DO SUL
30º
33º
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
MERIDIANO PRIN
60 º
CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO
ANTÁRTIDA
814-1
180º
150º 120º 90º 73º 60º 34º 30º 0º 30º 60º 90º 120º 150º
2 570 km
28 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL
Até 2008, o território brasileiro tinha quatro fusos ho- Lei restabelece fusos horários do Acre
rários. Uma nova legislação havia eliminado o fuso –5h e de parte do Amazonas
em relação a Greenwich, que abrangia todo o estado do A partir do dia 10, área passará a ter duas horas – e
Acre e o extremo oeste do estado do Amazonas. Veja no não uma – a menos em relação a Brasília e o Brasil
mapa a seguir como era e como ficou. voltará a contar com quatro fusos.
Mudanças no fuso horário brasileiro O Diário Oficial da União desta quinta-feira, 31, traz
publicada a Lei n. 12.876, sancionada pela presidente
1 Dilma Rousseff e que restabelece o fuso horário do
AP Estado do Acre e de parte do Estado do Amazonas para
duas horas a menos em relação ao horário de Brasília.
AM Os fusos dessas duas regiões haviam sido alterados em
PA
2008, pela Lei n. 11.662, que reduziu de duas para uma
AC hora a diferença em relação a Brasília.
horário de
Brasília A grande extensão territorial do Brasil apresenta uma
série de potencialidades econômicas como a ocorrência
de jazidas minerais, diversidade de recursos florestais,
solos e ambientes variados para as mais diversas produ-
ções agrícolas. São também os condicionantes de ordem
natural que garantem ao Brasil um papel privilegiado
Mapa 2 mostra as áreas que foram alteradas quanto à disponibilidade de água potável e de recursos
Disponível em: <www.brasilescola.com/brasil/fuso-horario-brasileiro.htm>. marinhos, dado nosso extenso litoral atlântico. Por
(acesso em: 12 fev. 2014)
outro lado, tal dimensão territorial acarreta uma série
de questões de ordem política como a dificuldade de
Porém, devido a um plebiscito organizado no Acre, a
vigiar as fronteiras ou de administrar as desigualdades
população local decidiu manter os fusos anteriores como
814-1
POLISABER 29
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3
EXERCÍCIOS
Considerando uma estaca fixada verticalmente no 4. (UFPR) Ao planejar uma viagem de férias utili-
chão, ao meio-dia, no início do verão do hemisfé- zando o programa Google Earth, você anotou as
rio sul, em diferentes cidades do Brasil, analise as coordenadas geográficas de dois locais que gos-
afirmativas. taria de visitar na Ilha do Mel (PR), sendo o pri-
meiro de coordenadas 25°33’26.28”S (latitude) e
48°18’30.75”O (longitude), e o segundo de coor-
I. Na cidade de Belém, a sombra projeta-se na dire-
denadas 25°33’46.27”S (latitude) e 48°18’10.10”O
ção norte, porque a luz do Sol percorre o Trópico de
(longitude). Com base nos valores das coordena-
Capricórnio.
das, é correto afirmar que, do primeiro para o se-
II. Em Goiânia, a sombra projeta-se na direção sul,
gundo ponto, você se deslocou para
pois, no solstício de verão do hemisfério sul, os
raios solares percorrem o Trópico de Câncer. a) leste.
III. Em Porto Alegre, a sombra projeta-se na direção b) nordeste.
sul, fazendo com que os cômodos das residências c) sudeste.
situadas na face norte recebam insolação, enquan- d) oeste.
814-1
30 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL
ESTUDO ORIENTADO
Caro(a) aluno(a),
Nas próximas páginas você deverá resolver os exercícios que tratam das noções básicas de localização e orientação.
Procure ajuda em um atlas ou globo terrestre para resolvê-los. Os textos e as sugestões também colaboram para um
melhor aprendizado dos conteúdos destas aulas.
EXERCÍCIOS
1. (UFPR) As estações do ano estão associadas ao disposta verticalmente sobre uma folha de cartolina
movimento de translação da Terra em torno do Sol, colocada no chão para marcação da sombra proje-
juntamente com a inclinação do eixo de rotação. No tada ao longo do dia, como ilustra a figura. Durante
Brasil, as estações como as conhecemos (outono, a atividade, a vareta e o papel permanecem imóveis.
inverno, primavera e verão) só são claramente no-
tadas no centro-sul do país. Nas outras regiões, a
percepção prática é outra.
AVITS
1. No Nordeste brasileiro, em função da sua localiza-
ção próxima ao círculo do equador, tem-se apenas
duas estações durante o ano: a chuvosa, de janeiro Vareta, cartolina e papel utilizados para marcação da
a julho, e a seca, de agosto a dezembro. sombra.
2. A população rural da Amazônia vive em função das
duas estações do ano: o verão, de maio a setembro, Com base na experiência descrita, é correto afirmar
que é a estação das chuvas, e o inverno, de outubro que
a abril, que é a estação sem chuvas e de baixo nível a) às 9h, a sombra será projetada para oeste e será
das águas. maior do que ao meio-dia, quando o Sol estará pró-
3. Quando a Terra se encontra em sua órbita próxima ximo do zênite.
do periélio, sua velocidade é maior do que quando b) às 12h, a sombra será projetada para o norte, pois o
ela se encontra próxima do afélio, e isso se reflete na Sol estará ao sul do Trópico de Capricórnio.
desigualdade da duração entre as estações do ano. c) às 15h, a sombra será projetada para o leste e será
4. Os fenômenos do Sol da meia-noite e das auroras menor do que ao meio-dia, em função da rotação da
polares nos países da península da Escandinávia Terra de oeste para leste.
ocorrem durante o solstício de 21 de dezembro. d) em função de a cidade estar ao sul do Trópico de
5. Da mesma forma que o movimento de rotação da Capricórnio, não se observará sombra projetada
Terra serve de base para definir a duração do dia e para o sul.
o de translação, para definir o ano, a translação da e) quanto mais o Sol se afasta do meridiano de
Lua em torno da Terra serve de base para definir Greenwich, maior será a sombra projetada pela
o mês. manhã.
POLISABER 31
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3
Como é hoje (sem o horário de verão) c) em São Paulo no mesmo horário local, porque ambas
COMO É HOJE* as cidades estarão no mesmo paralelo.
d) em Porto Alegre no mesmo horário local, apesar de o
COMO É HOJE* Rio Grande do Sul estar em outro fuso horário legal.
RR AP F. de e) no Acre às 15h local, considerando que os dois locais
RR Noronha
AP F. de estão a oeste de Greenwich.
AM Noronha
PA MA CE RN
4. (UFRGS) Observe o mapa a seguir, em que estão
AM PA MA PI CE PB
AC PERN destacados o Distrito Federal e os dez estados bra-
TO AL
PB sileiros que sofreram alteração de horário a partir
RO PI SE
AC
MT BA PE AL de outubro de 2007.
RO TO
SE
MT DF BA
GO
DF MG
MS GO ES
SP MG
MS RJ ES 11 12 1 11 12 1
PR SP 10 2 10 2
RJ
SC 9 3 9 3
PR
RS
SC
BRASIL 8
7 6 5
4 8
7 6 5
4
RS
O QUE MUDA
Horário oficial do país Uma hora a menos MT
O QUE MUDA
DF
Uma hora
Horário a mais
oficial do país Duas hora
Uma horasa amenos
menos GO
Uma hora a mais Duas horas a menos MG
MS ES
SP RJ
COMO FICA*
Como fica
PR
COMO FICA*
RR AP SC
F. de
RR Noronha RS
AP F. de
AM Noronha
PA MA CE RN
AM PA MA PI CE PB
AC PERN
AL Essa alteração de horário, conhecida como “horário
RO TO PI PB
SE de verão”, visa uma economia de energia em regi-
AC
MT BA PE AL
RO TO ões em que o aproveitamento da luz solar nessa
SE
MT DF BA época do ano é maior. Esse aumento da luminosida-
GO
MAPAS: JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
32 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL
6. (UFRGS) Os classificados a seguir apresentam anún- Samoa, já é sábado na nova Zelândia. E no domingo,
cios para a venda de apartamentos localizados no quando Samoa está descansando, já começaram os
município de Porto Alegre. negócios na Oceania.
Segundo informações do The Guardian, a mudança
de fuso horário seria necessária justamente porque o
VENDO 2 dorm. frente, sacada,
governo deseja facilitar os negócios com Austrália, China
7o andar, boa orientação solar,
e Nova Zelândia.
port. 24h, próx. UFRGS.
O atual fuso do pequeno arquipélago localizado a meio
Estudo proposta.
caminho entre o Havaí e a Oceania foi estabelecido em
1892, quando Samoa comemorou o 4 de Julho, Dia da
VENDO Ap. 2 dorm. Independência Estadunidense, duas vezes. Na época,
Excel. Ed. Port. 24hs, o país fazia muitos negócios com a Califórnia, e era
água quente, interessante estar com os horários alinhados à costa
ótima orientação solar. Oeste dos Estados Unidos.
A ideia do governo é mudar o fuso no ano-novo e
eliminar o dia 31 de dezembro do calendário, saltando
Correio do Povo, 23 jul. 2005.
(adaptado) 24 horas para o futuro.
O projeto ainda tem mais um aspecto curioso. O pe-
Nos anúncios, os vendedores indicam vanta- queno arquipélago é composto de dois países: Samoa
gens quanto à localização do imóvel em rela- e Samoa Americana (o primeiro com 2 831 km2 e o
ção à sua orientação solar. Sabendo que Por- segundo com 199 km2), porém só o primeiro mudaria
to Alegre se situa no hemisfério sul, é correto
seu fuso-horário: Samoa Americana continuará com o
afirmar que
a) a face dos imóveis voltada para oeste recebe mais horário antigo. Isso significa que será possível comemo-
energia solar no período da manhã do que no período rar o mesmo dia duas vezes sem deixar o arquipélago –
da tarde. basta atravessar a fronteira entre os países em um voo
b) a face dos imóveis voltada para leste recebe mais que leva menos de uma hora. O governo local, é claro,
energia solar no período da tarde do que no período
já estuda maneira de promover esse “fenômeno” de
da manhã.
c) a face dos imóveis voltada para o norte é a que re- forma turística.
cebe mais energia solar durante o dia.
d) a face dos imóveis voltada para o sul é a que recebe ROTHMAN, Paula.
mais energia solar durante o dia. INFO Online, 10 maio 2011.
e) a face dos imóveis voltada para o norte-leste recebe
menos energia solar durante o dia do que a face
voltada para o sul-leste.
PESQUISAR E LER
POLISABER 33
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 3
34 POLISABER
aula 3 GEOGRAFIA DO BRASIL
SURGIK, Aloísio.
Gazeta do Povo, Curitiba, 20 nov. 2006. p. 13.
S E N H A
são importantes para que possamos de fato nos situar no planeta Terra?
POLISABER 35
GABARITO: GEOGRAFIA DO BRASIL
minoria de proprietários rurais e banqueiros. senvolveu mais o setor de bens de consumo não
36 POLISABER
gabarito GEOGRAFIA DO BRASIL
Aula 3
Estudo orientado
1. a
2. c
3. b
4. a
5. b
6. c
814-1
POLISABER 37
ORIENTAÇÃO DIDÁTICA
38 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL orientação didática
4. c
a) Falsa: a indústria de base praticamente inexiste na
região, cuja vocação agropecuária gerou prosperida-
de e atraiu a indústria de transformação da produção
agropecuária e de produção de bens de consumo.
b) Falsa: o ciclo da borracha teve seu auge entre o final
do século XIX e início do século XX.
c) Verdadeira: a região Centro-Oeste constituiu-se em
área de expansão da fronteira agropecuária, com
rápido crescimento a partir dos anos 1980. Suas
cidades, em geral, são novas e se valeram do boom
do agronegócio, tornando-se prósperas, construídas
e reformadas há pouco tempo.
d) falsa: a Chapada dos Guimarães não apresenta áreas
de mineração significativas.
e) falsa: a região pantaneira não se constitui em área
extrativista.
5. b
Aula 3
1. e
2. c
3. c
4. c
814-1
POLISABER 39
814-2 RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS
GEOGRAFIA DO BRASIL 2
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 4
RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS
Limite das placas Limite das placas Limite das placas Rifte continental
convergentes divergentes convergentes
Vulcão
extinto
Crosta continental
Vulcão
ativo
Crosta oceânica
AVITS
814-2
0015
2 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL
São os movimentos do magma que também originam o tectonismo, ou o movimento das placas e as formas resul-
tantes. Podemos agrupar os tectonismos em duas vertentes: a orogênese e a epirogênese.
A orogênese se refere aos movimentos geológicos que levam à formação de montanhas ou cadeias montanhosas.
Esses movimentos são produzidos por dobramentos e falhamentos resultantes do choque entre as placas em razão de
seus deslocamentos horizontais e são considerados rápidos, em termos geológicos.
Muro Tecto
Tecto Muro
Tipos de falhamentos provocados pela compressão das rochas em razão dos movimentos de placas.
Já a epirogênese é um lento movimento de subida ou descida de grandes porções da crosta provocado pela com-
pensação de pressão que um bloco da litosfera exerce sobre as áreas mais próximas, provocando sua elevação pelo
princípio da isostasia. É importante salientar que, em muitos casos, a epirogênese é um movimento derivado de uma
orogênese, ou seja, eles são interdependentes, e em ambos ocorrem falhamentos, fraturas de rochas e vulcanismo.
Rochas recentes
ILUSTRAÇÕES: AVITS
Entre os processos ou agentes internos, também podemos identificar aqueles considerados passivos, como os di-
ferentes tipos de rocha que estudamos nas aulas anteriores, que oferecem distintos níveis de resistência aos agentes
externos ou erosivos.
As forças de origem externa ou exógena resultam das dinâmicas atmosféricas que agem sobre as estruturas rochosas
esculpindo diferentes formações, atacando as rochas e destruindo-as. A ação mecânica provocada pelas variações de
temperatura e pelos ventos e a ação físico-química da água em seus três estados atuam simultaneamente na modela-
gem do relevo terrestre, mas diferem em termos de intensidade segundo os tipos climáticos dominantes. Por exemplo,
nas áreas desérticas, o papel preponderante no processo de intemperismo (destruição das rochas) é o da variação de
temperatura e do vento, que, transportando detritos menores, provoca atrito sobre as superfícies rochosas ou deposita
esses detritos formando as dunas. Nas áreas mais quentes dos trópicos e do equador, a ação química da água e as altas
temperaturas concorrem mais intensamente para o processo erosivo, assim como, nas áreas polares, a ação física do
814-2
POLISABER 3
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4
AVITS
1. O intemperismo
altera as rochas Geleira 3. O transporte por água, geleiras e vento
física e quimicamente. move as partículas morro abaixo.
Lago tipo playa
Deserto
Rochas
sedimentares
É importante salientar o papel das águas pluviais (chuvas), fluviais (rios) e oceânicas na esculturação do relevo, tanto
esculpindo (erosão propriamente dita) como construindo formas ao transportar o material sedimentar e depositá-lo em
áreas mais planas como praias ou várzeas de rios.
Como vimos na aula de Geologia, existem três grandes domínios estruturais ou estruturas geológicas no planeta: os
escudos cristalinos, também chamados de plataformas ou crátons, as bacias sedimentares e os dobramentos orogênicos
modernos e antigos.
Escudo 60º
Escudo Angara
Escudo
Canadense Fino-Escandinavo
ort e
Fs. das
Aleutas
oN
tic
lân
Fs.
At
o
ld
do
sa
Ja
30º
r
Do
Escudo
pão
Fs.
Gu
Guineano
ate
ma
la
Escudo D
Guiano
or
sa
Cobertura sedimentar 0º
Do
l Ín
rsa
Escudo
dic
Quaternário
l do
Brasileiro
o-Aráb o
ntico
ic
Dobramentos antigos
aca
30º
(caledonianos e hercinianos)
ma
Sul
Pré-Cambriano
Plataformas e escudos
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
Falha
ár
nt
o- A
Fossa D o r s al I n d
60º
Fossa submarina
2 340 km
4 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL
Na borda ocidental da América do Sul ocorre uma cadeia marginais no território brasileiro. Nessas regiões também
orogênica recente (Cenozoica), os Andes. Com uma forma encontramos faixas de dobramentos, ou cinturões orogê-
alongada e estreita, e se estendendo na direção norte- nicos antigos, que originaram as áreas de serras como a do
-sul, essa formação tem altitudes elevadas, normalmente Mar, da Mantiqueira, do Espinhaço ou da Borborema, onde
superiores a 4 000 m. A Cordilheira dos Andes não chega as latitudes ultrapassam, em geral, os 1 500 m. Estudar e
ao território brasileiro, mas sua formação pelo processo de entender a formação e a distribuição das diferentes formas
orogênese na era Cenozoica provocou modificações impor- de relevo no Brasil passa necessariamente por compreen-
tantes nas estruturas das porções leste e central da América der o importante papel dessas macroestruturas descritas
do Sul; por exemplo, a elevação das áreas serranas da Serra anteriormente na gênese do relevo brasileiro.
do Mar e da Mantiqueira e a depressão do Vale do Paraíba.
Nas regiões centrais e mais a leste da América do Sul,
onde fica o território brasileiro, encontramos as estruturas classificação do relevo brasileiro
A
de plataformas antigas ou crátons (Pré-cambrianas), como o segundo Jurandyr Ross
Escudo das Guianas e o Brasileiro (composto pelo Sul-ama-
zônico, São Francisco e Sul-rio-grandense), e coberturas Os trabalhos de geógrafos como Aroldo de Azevedo,
de plataforma ou bacias sedimentares de diversas idades, nos anos 1940, e Aziz Ab’Saber, nos anos 1960, foram fun-
desde as mais antigas (Paleozoicas) até as de sedimentação damentais para o conhecimento da origem e das formas
recente (Cenozoicas). Tais formações resultam em terrenos do relevo brasileiro. Ambos produziram classificações do
normalmente baixos (abaixo de 1 000 m de altitude) e cujo relevo a partir de diferentes critérios, segundo o que de
desgaste erosivo originou as bacias sedimentares (como mais avançado havia nos estudos geomorfológicos da
a Amazônica, a do Maranhão e a do Paraná). Também as época. No final da década de 1980, a partir dos estudos
áreas de bacias sedimentares e os escudos cratônicos do professor Aziz Ab’Saber e dos mapas resultantes do
sofreram um processo de soerguimento epirogenético na projeto Radambrasil – um levantamento do território na-
era Cenozoica, em razão da orogênese andina. Isso explica cional por imagens de radar obtidas em sobrevoos de um
por que existem áreas sedimentares com altitudes mais avião Caravelle, que durante anos cruzou os céus do país –,
elevadas que alguns escudos. Vale ressaltar que, nas bor- o geógrafo Jurandyr Ross concluiu sua classificação do
das dessas bacias sedimentares soerguidas, processou-se relevo brasileiro incorporando, à delimitação das unidades,
intenso mecanismo erosivo ao longo de mais de 70 milhões critérios morfoestruturais (a estrutura geológica e as for-
de anos, originando muitas das depressões periféricas ou mas de relevo) e processuais (o intenso processo erosivo).
Planalto Central
Planícies e
Terras Baixas
Costeiras
Planície Serras e
do Pantanal Planaltos do
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
Leste e
OCEANO Planalto Sudeste
PACÍFICO Meridional
OCEANO
ATLÂNTICO
Planalto
Uruguaio-Sul-Rio-
814-2
-Grandense
POLISABER 5
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4
A classificação de Jurandyr Ross identifica três macrounidades do relevo que contam a história geomorfológica do Brasil:
os planaltos, as depressões e as planícies.
D E CAPRI
21 CÓRNIO
Planícies
23 – Planície do Rio Amazonas
24 – Planície do Rio Araguaia
22 25 – Planície e Pantanal do Rio Guaporé
11 27 26 – Planície e Pantanal Mato-Grossense
450 km 27 – Planície da Lagoa dos Patos e Mirim
28 – Planícies e Tabuleiros Litorâneos
50°O
Fonte: ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2004. p. 334.
6 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL
2. Depressões
Em geral, sua gênese é ligada aos intensos processos erosivos em sucessões de climas úmidos e secos ao longo
da era Cenozoica, nas bordas das bacias sedimentares, se colocando entre estas e os maciços antigos do cristalino.
Apresentam formas suaves, com topos bastante convexos, variando entre 100 m e 500 m de altitude e, em seus limites
com os planaltos, escarpas na forma de cuestas.
3. Planícies
São áreas bem planas, normalmente abaixo de 100 m de altitude, onde predomina um processo de deposição de
sedimentos de origem fluvial, marinha ou lacustre recente, do período Quaternário da era Cenozoica.
Perfis de pedra 1
Três grandes recortes ajudam a enxergar a cara do nosso país
2
1 Planaltos Residuais
Norte-Amazônicos
Planalto da
3 000 m Amazônia Oriental
ILUSTRAÇÕES: AVITS
2 000 m
Depressão Marginal
Norte-Amazônica
Planície do
Depressão Marginal
Planaltos
Residuais
3
Rio Amazonas
1 000 m Sul-Amazônica Sul-Amazônicos
0m
Norte: Esse perfil (noroeste-sudeste), com cerca de 2 mil quilômetros, vai das altas serras de Roraima até
Mato Grosso. Mostra as faixas de planícies às margens do rio Amazonas, a partir das quais vêm extensões
de terras mais altas: planaltos e planícies.
2
3 000 m Planaltos e Escarpa Planalto do
chapadas da (ex-serra) Borborema Tabuleiros
2 000 m bacia do Rio do Ibiapaba litorâneos
Rio
Parnaíba Depressão
Parnaíba
Sertaneja Oceano Atlântico
1 000 m
0m
Nordeste: Com quase 1,5 mil quilômetros, esse perfil vai do Maranhão a Pernambuco.
É um retrato fiel do relevo da região, com destaque para os dois planaltos (o da bacia do Parnaíba e o do
Borborema) cercando a Depressão Sertaneja (ex-Planalto Nordestino).
3
Planaltos e Depressão
3 000 m chapadas da periférica da Planaltos e
Planície do bacia do Paraná borda leste da serras do Atlântico
2 000 m Pantanal Mato- bacia do Paraná leste-sudeste
-Grossense Rio Paraná
Oceano Atlântico
1 000 m
0m
Centro-Oeste e Sudeste: Esse corte, de cerca de 1,5 mil quilômetros, vai de Mato Grosso do Sul ao litoral
paulista. Além da planície do Pantanal pode-se ver a bacia do Paraná, formada por rios de planalto, que
abriga as maiores hidrelétricas do país.
814-2
POLISABER 7
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4
Os solos
ILUSTRAÇÕES: AVITS
A parte mais externa e não consolidada da litosfera,
que recobre as formas de relevo e as estruturas geo-
lógicas, corresponde ao chamado solo ou rigolito. Sua O – Horizonte com predominância de restos orgânicos.
origem está ligada ao processo de intemperização ou
A – Horizonte mineral escurecido pela acumulação
decomposição das rochas pelos agentes climáticos de matéria orgânica.
e biológicos e ao transporte desses fragmentos pela
E – Horizonte de cores claras, de onde as argilas
ação da gravidade. É um elemento importantíssimo
e outras partículas finas foram lixiviadas pelas
para o desenvolvimento da vida, permitindo o fluxo de g
águas perculantes.
matéria e energia entre o mundo inorgânico (minerais B – Hor izo
Horizonte de acumulação de materiais provenientes
e rochas) e o orgânico (plantas e animais), e é também d oss hor
dos riz
horizontes superiores, nomeadamente argilas.
P od
o
Pode d
de aapresentar
ap
pr cores avermelhadas em razão da
modificado por ela, pelas relações que mantém com p rreesen
presençançça de óxidos e hidróxidos de ferro.
várias formas de vida. Por isso, dizemos que o solo
se encontra na interface entre o mundo orgânico e o C – Horizonte
Ho
orrizo constituído por material não consolidado.
Processo e etapas da formação do solo. tropical úmido e vegetação de floresta tropical, que foi
8 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL
importante na cultura da cana-de-açúcar desde o período escala, que leve à derrubada da floresta, necessitará de
colonial. A terra-roxa é um latossolo avermelhado (rosso fertilização artificial, pois se romperá o delicado equilíbrio
é vermelho, em italiano) que ocupa a região Sul-Sudeste. entre vegetação e solo.
Ela é formada pela decomposição de rochas vulcânicas Há outros tipos de solo no Brasil que ocupam menores
(basalto e diabásio) em clima tropical, que favoreceu o áreas como os aluviais, comuns em várzeas e vales, pouco
desenvolvimento da cultura de café no final do século XIX profundos e constituídos pela deposição de sedimentos
e até hoje é importante nas culturas de cana-de-açúcar recentes, os hidromórficos, onde é constante o enchar-
e laranja no interior do estado de São Paulo. camento pela água, pois ficam onde os lençóis freáticos
Vale lembrar que os latossolos amazônicos, que sus- alcançam a superfície. Se drenados, podem até servir à
tentam a floresta equatorial, são férteis graças à camada agricultura, porque contêm boa dose de matéria orgâni-
superficial de húmus, tendo em vista os terrenos bem ca. Por último, os solos do semiárido nordestino, onde
planos, o calor e a densa cobertura vegetal. Todavia, o clima seco originou um solo raso e duro, mas rico em
essa fertilidade é totalmente consumida pela floresta; nutrientes minerais e que, quando irrigado, oferece boas
consequentemente, a ocupação agrícola em grande condições para o desenvolvimento agrícola.
Solo Características
Solo pouco evoluído, com ausência de horizonte B. Predominam as características herdadas do material
Neossolo
original.
Solo com desenvolvimento restrito; apresenta expansão e contração pela presença de argilas 2:1
Vertissolo
expansivas.
Solo com desenvolvimento médio; atuação de processos de bissialitização, podendo ou não apresentar
Chernossolo
acumulação de carbonato de cálcio.
Solo com horizonte B de acumulação (B textural), formado por argila de atividade alta (bissialitização);
Luvissolo
horizonte superior lixiviado.
Alissolo Solo com horizonte B textural, com alto conteúdo de alumínio extraível; solo ácido.
Argissolo Solo bem evoluído, argiloso, apresentando mobilização de argila da parte mais superficial.
Solo bem evoluído (argila caulinítica – oxi-hidróxidos), fortemente estruturado (estrutura em blocos),
Nitossolo
apresentando superfícies brilhantes (cerosidade).
Latossolo Solo altamente evoluído, laterizado, rico em argilominerais 1:1 e oxi-hidróxidos de ferro e alumínio.
Solo hidromórfico (saturado em água), rico em matéria orgânica, apresentando intensa redução dos
Gleissolo
compostos de ferro.
Agropecuária (SNPA), um modelo de agricultura e pecuária tropical genuinamente brasileiro, superando as barreiras que limitavam a produção de alimentos,
fibras e energia no nosso país. Disponível em: <www.embrapa.br>. (acesso em: 9 mar. 2015)
POLISABER 9
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4
O uso dos solos para atividades agrícolas requer um manejo adequado, que preserve suas características fundamentais
e concorra para sua conservação. Mas nem sempre é isso o que acontece. Alguns problemas que verificamos no Brasil
em função do uso inadequado do solo são:
• perda de fertilidade pela compactação excessiva devido ao uso indiscriminado de arado, máquinas pesadas e pisoteio
pelo gado, diminuindo a porosidade e a permeabilidade do solo;
• contaminação dos solos e das águas de rios e lençóis freáticos pelo uso indiscriminado de pesticidas, fungicidas e
herbicidas;
• desequilíbrio químico e biológico pela excessiva aplicação de fertilizantes, cujos componentes químicos (sais prin-
cipalmente) são lixiviados para os lençóis freáticos e cursos de água, que depois será usada na irrigação, levando à
salinização dos solos.
AVITS
Zona de lixiviação
ou eluvial
Zona de enriquecimento,
ou de laterização ou
de iluviação
Zona da rocha-mãe
ou rocha matriz
Processo de lixiviação.
• Erosão que ocasiona a perda de mais de um milhão de toneladas de solo por ano no Brasil, afetando principalmente
as áreas onde a agricultura é mais intensiva e mecanizada. O uso em cada área deve ser balizado pela capacidade
agroecológica do terreno. Assim, algumas medidas são necessárias para a melhor conservação dos solos: o reflores-
tamento de topos de morro ou áreas de muito declive, a proteção das mata ciliares evitando o desbarrancamento
de terra nos rios, o plantio de pastagem em áreas de inclinação moderada, o plantio de culturas intercalares nos
corredores das culturas principais ou a cobertura do solo com palha durante os períodos de colheita ou entressafra.
DELFIM MARTINS/PULSAR IMAGENS
Processo erosivo
avançado ou
voçorocamento,
em São Roque de
814-2
Minas (MG).
10 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL
EXERCÍCIOS
Minas de Ouro.
ranc
Curralinho
Tranqueira
Faz. do Pau a Pique
ão F
Salvador
b) A ocupação territorial de parte significativa dessa
Rio S
Faz. do Gado Ri
od
Caetité e Co
ntas região foi marcada por duas características geo-
Malhada Montes
Altos CAPITANIA morfológicas: a serra do Espinhaço e o vale do rio
DE ILHÉUS
Brejo do Salgado Faz. da Jaíba São Francisco.
c) Essa região caracterizava-se, nesse período, por pai-
Brejo ha
Grange Rio Je
quitinhon
CAPITANIA DE
sagens onde predominavam as minas e os currais,
Extrema
Barra do
Montes Claros PORTO SEGURO mas no século XIX a mineração sobrepujou as outras
Rio das
Velhas
atividades econômicas dessas capitanias.
d) O caminho pelo rio São Francisco foi estabelecido
Campo da Graça
CAPITANIA DO OCEANO pelas bandeiras paulistas para penetração na re-
ESPÍRITO SANTO ATLÂNTICO
Maquiné
Jequitiba Jaguara
gião aurífera da Chapada dos Parecis e posterior
Sabará
Santa Luzia
pagamento do “quinto” na sede da capitania, em
Vila Rica
Salvador.
CAPITANIA DE SÃO PAULO
E MINAS DE OURO
CAPITANIA DO
180 km
e) As bandeiras que partiam da Capitania da Bahia de
RIO DE JANEIRO
Todos os Santos para a Capitania de São Paulo e Mi-
Localidades (nomes antigos)
Caminho da Bahia pelo Rio São Francisco
nas de Ouro propiciaram o surgimento de localidades
Caminho da Bahia (itinerário de Jõao Gonçalves do Prado) com economia baseada na agricultura monocultora
Rios principais
de exportação.
POLISABER 11
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4
660 km
Disponível em: <www.googleearth.com>. (acesso em: 25 set. 2012)
Amazônico Cerrado Mares de Morros
a) O Rio Negro apresenta águas escurecidas, diferente-
Caatingas Araucária Pradarias
mente de outros rios da região, que apresentam co-
Faixas de transição res claras. Por que esse rio apresenta cores escuras?
b) O que explica a grande quantidade de ilhas no ca-
nal do rio? Por que parte dessas ilhas é coberta de
Fonte: AB’SABER, Aziz Nacib. Os domínios da natureza no Brasil:
814-2
12 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL
ESTUDO ORIENTADO
Caro(a) aluno(a),
A seguir você poderá avaliar seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os vestibulares abordam
os assuntos das aulas. Na seção Roda de leitura há uma entrevista com o professor e geógrafo Aziz Ab’Saber sobre a
tragédia das enchentes na cidade histórica de São Luiz do Paraitinga. Veja ainda as sugestões nas seções Pesquisar e
ler, Ver e ouvir, Navegar e Ágora para você ampliar seu repertório sobre os temas abordados.
EXERCÍCIOS
POLISABER 13
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4
O
EA
N
O
EQUADOR
0º 0º
2
AT
LÂ
NT
ICO
10º S
10º S
ICO
NT
1
Altitudes 3 LÂ
AT
1 800 m
20º S 1 200 m
20º S
800 m
500 m
TRÓPICO D
E CAPRIC
200 m ÓRNIO
100 m
O
0m
EA
Rios permanentes
Rios temporários
30º S
30º S
Perfil topográfico
Sa. do Espinhaço
Sa. dos Pirineus
Sa. dos Caiapós
Sa. Geral
de Goiás
Rio de Contas
Brasília
SO NE
Rio Paraguai
m m
1 500 1 500
1 000 1 000
500 500
0 0
4 000 3 500 3 000 2 500 2 000 1 500 1 000 500 0 km
14 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL
5. (Uesc) Para a conservação do solo, é indispen- Leia esta entrevista com o professoree e geógrafo Aziz
sável que seu manejo seja realizado dentro do Ab’Saber sobre a tragédia das enchentes e desmorona-
limite de sua capacidade de uso. Desse modo, mentos no Brasil, como a que destruiu a cidade de São
é importante priorizar as características ine- Luiz do Paraitinga e seu patrimônio histórico em 2010.
rentes a cada tipo de solo, a fim de minimizar
os efeitos da interferência humana.
Com base nessa informação e em seus conhe- Como morreram as casas
cimentos sobre tipos, distribuição, utilização e
conservação dos solos brasileiros, pode-se afir- Para Aziz Nacib Ab´Saber, ilustre filho de Paraitinga, a
mar que ignorância arrasta a história para o fundo dos rios.
a) os latossolos, predominantes em toda faixa litorâ-
nea, são profundos e de elevada fertilidade, o que
facilita a mecanização e a prática de monoculturas Aziz Ab´Saber: “Precisamos contestar os idiotas”
perenes, fundamentais para sua conservação. SÃO PAULO – O pai de Aziz era homem de poucas
b) a presença de solos argilossolos na paisagem do letras brasileiras. Mas esse libanês maronita entendia o
cerrado ocorre onde o relevo se apresenta ondulado idioma do bom negócio. Quando a economia de São Luiz
e, para minimizar os efeitos da erosão, podem-se
do Paraitinga começou a ruir por causa da Central do
utilizar curvas de nível.
c) os cambissolos, apesar de apresentar os horizontes Brasil, ferrovia que tirou a cidade do eixo da exportação
bem caracterizados e uma baixa predisposição à de café, seu Nacibinho levantou a barra da sua lojinha e
erosão, têm seu uso destinado unicamente à pe- foi-se embora com a família para Caçapava. Aziz tinha
cuária extensiva, em razão de sua baixa fertilidade apenas 5 anos. Oito décadas depois, sua memória de
natural.
São Luiz é viva o suficiente para que lamente todo o
d) a região do semiárido nordestino é ocupada por
grandes extensões de solos hidromórficos, típicos patrimônio histórico levado pela inundação e para que
de relevo movimentado, resistentes ao intempe- aponte nesta entrevista, colhida em interurbanos inter-
rismo e relacionados ao cultivo do arroz irrigado. mitentes para Ubatuba, os motivos “fisiológicos” que
e) os solos aluviais se distribuem ao longo da planície teriam levado a cidade do Vale do Paraíba a sucumbir
quaternária amazônica, são geralmente bem de-
sob as águas. Um deles é a periodicidade de uma crise
senvolvidos e apresentam elevado grau de perme-
abilidade, daí a utilização das bacias de captação climática anômala. Dependendo da região, de 12 em
de enxurradas como prática conservacionista de 12 anos, de 13 em 13 ou de 26 em 26, o mundo desaba.
manejo sustentável. E os homens e as moradias sofrem com as chuvas, ainda
mais se decidem ocupar o que não pode ser ocupado.
6. (Fuvest) As escorregadelas políticas também cá estão. Aziz não
é de poupar burrices administrativas, especialmente na
Planalto central Serra do
(Serra do Ramalho) Espinhaço área ambiental. Critica todas as camadas do governo – do
federal, com quem se desentendeu logo no início do man-
rio
1 000 dato do presidente Lula, ao municipal, com seus “prefeitos
incautos”. Só o enchem de esperança os jovens, mas
500
aqueles que frequentam as boas universidades brasilei-
0 ras, para quem esse eterno mestre da Geografia escreve
0 100 200 o terceiro volume de suas Leituras Indispensáveis.
AVITS
POLISABER 15
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4
dela era o rio, que volteava tudo. Mas, na época, São exemplos bastante prejudiciais para cidades e campos.
Luiz tinha um crescimento populacional mais razoável. Esse trabalho está publicado na revista do Instituto de
Lembro que a margem de ataque do rio, à beira d’água, Estudos Avançados de dezembro e mostra que, de 12
era uma estradinha tangenciando o morro para poder em 12, ou de 13 em 13, ou de 26 em 26 anos, desde
chegar ao caminho de Ubatuba. Andei muito do outro 1924 até dezembro de 2008 e dependendo do lugar,
lado do rio, onde ia coletar pitangas gostosas na borda houve essa periodicidade. Cheguei à conclusão de
da mata. Hoje, além das pousadas, há os eucaliptais, que que é preciso muito cuidado nos próximos 12 anos
são uma presença extremamente perigosa no entorno em Blumenau e fazer obras de retenção na área de
de São Luiz. Os eucaliptólogos descobriram os morros extravasamento do rio no sítio urbano. Caso contrário,
da cidade, plantaram num nível de até 15, 20 quilômetros quando esse ciclo atormentado da climatologia se
de São Luiz para oeste. Isso mudou todo o esquema. repetir, será reanunciada a desgraça.
Como assim? Mas o senhor previu que Paraitinga também
Os eucaliptos oferecem vantagens econômicas para poderia sucumbir?
os donos de empresas, mas, com eles, há o sugamento Quando passei a visitar de novo o município para co-
da água subterrânea. Na estrada de Tamoios, próximo nhecer melhor minha terrinha, não senti a possibilidade
da represa do Paraibuna, a formação de bosques de de invasão de águas no lóbulo interno pegando a Praça
eucaliptos é ainda maior. Os eucaliptólogos se reúnem da Matriz. Não senti. Não achei que isso ia acontecer.
sempre lá para fazer seus projetos. Ocorre que os pre- Tanto que insisti muito em trazer a biblioteca de Ciências,
feitos são incautos. Dando um pouco mais de impostos que estava na ex-casa de Osvaldo Cruz, para um lugar
e de dinheiro para a prefeitura, eles deixam acontecer. mais baixo e frequentado por crianças. A Praça da Matriz
Que características tem a cidade para já ter seria o lugar ideal. Transpuseram os livros, montaram
sofrido inundação no passado? uma bibliotecazinha ali. Os empresários, aliás, em vez
Toda aquela região da Praça da Matriz, que é a região de se preocupar com a cidade, resolveram fazer uma
da Rua das Tropas e a região do mercado, tudo aquilo é dádiva apenas para mostrar colaboração. Criaram a
envolvido por um meandro. Meandro é uma volta do rio biblioteca infantil e mandaram comprar livros que não
às vezes muito alongada, às vezes mais estreita. Todo tinham nada de relação com a educação infantil. Eu
meandro tem um lóbulo interno, a várzea. Do outro fiquei furioso com isso. Continuei levando muitos livros
lado, sobretudo em áreas de morros, ficam os declives. para lá, auxiliado por uma pessoa que fez História na
Bom, tudo isso se modificou muito. Antigamente, o povo USP. Foi a minha tarefa. Mas a gente não sabia que ia
chamava o período de maior cheia do rio, embora não chegar o dia dos 13 em 13 e dos 26 em 26. Passei a me
catastrófica, de tromba d’água. As duas expressões mais preocupar com isso depois que estudei o quadro na
bonitas de São Luiz eram rio acima e rio abaixo. Vinham região de Blumenau. Já estava escrito.
de rio acima grandes aguadas, mas elas raramente Também já estavam escritas as mortes em
subiam até o lóbulo e, portanto, até a praça. Desta vez, Angra?
as grandes chuvas desceram os patamares de morros Lá foi invasão em áreas de risco, pousadas sucessivas
e chegaram aos terraços. Houve deslizamentos de nas encostas. Morro é sempre complicado. Como os
blocos de terra, árvores, pedaços de rocha. Foi uma prefeitos deixam isso acontecer, sabendo que embaixo
tragédia total. dos morros tropicais tem solo vermelho fofo, de forma
Técnicos atribuem a desgraça também ao ex- que casas bem construídas ou mal construídas podem,
cesso de chuvas. Está mesmo caindo mais água durante esses ciclos de climatologia anômala, descer
do céu? pelas encostas, matar as pessoas, derruir as cidades?
Este é um período anômalo, de grandes interferên- O principal derruimento, minha filha, é a ignorância
cias na climatologia da América do Sul, provocadas das pessoas. Ao saber que o governo do estado do Rio
por um aquecimento relacionado ao El Niño. Primeiro havia liberado áreas de risco e de proteção ambiental
foi no nordeste de Santa Catarina, depois no Rio e no para a expansão das cidades, fiquei desesperado. É
Espírito Santo, depois em São Paulo, depois em Minas, preciso ter menos ignorância, mais planejadores, mais
depois no sul de Mato Grosso. A coisa foi se ampliando equipes interdisciplinares capazes de observar o sítio
por espaços do tropical atlântico e por outras áreas urbano, a região do rio acima, a região do morro, a do
do planalto brasileiro. Na época da enchente catari- lóbulo interno dos meandros. A moça que trabalha aqui
814-2
nense, fiz uma listagem da periodicidade climática de comigo em Ubatuba me dizia que, por morar em bairro
16 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL
afastado, não tem escola para os filhos. Começa por O senhor disse certa vez que o governo não ti-
não ter escola, começa por não conhecer a história da nha noção de escala. Continua achando o mesmo?
cidade, tampouco o clima da região. Em projetos médios e maiores, continua sem noção.
Que história se perdeu sob as águas do rio E quem não tem essa noção dirige mal o seu país. No
Paraitinga? caso do presidente da República, sempre insisti com ele:
A história de uma cidade que enriqueceu durante o ciclo “Você, que sabe fazer discurso, fale nas suas prédicas
do café e decaiu com a estrada de ferro. Durante o ciclo, a que vai pensar no nacional, no regional e no setorial”. O
única maneira de exportar o café era saindo de Taubaté e nacional é a Constituição, são as reformas especiais que
passando pela região onde hoje está São Luiz. Ali se formou precisam acontecer de tempos em tempos. Regional é o
uma rua alongada, com as casas à direita e à esquerda, a conhecimento do Brasil como um todo: as terras baixas
Rua das Tropas. Pois bem, algumas pessoas dos arredores da Amazônia, os afluentes do Amazonas, o Golfão Mara-
de São Luiz também tiveram ali fazendas de café. Houve joara, as colinas recobertas por caatingas entre as cha-
uma época, inclusive, em que empreendedores de origem padas do Nordeste, entrando um pouquinho pelo Piauí
francesa tentaram fazer uma indústria de tecidos no cami- e muito pelo Rio Grande do Norte, com raros solos ver-
nho que vai de São Luiz a Ubatuba, por isso muitos nomes melhos, bons quando a topografia é suave. Esses locais
da cidade têm origem híbrida, portuguesa e francesa. Mas foram muito úteis para o Ceará, mais úteis que alguns
foi um investimento fracassado. políticos que existem lá. O setorial pressupõe pensar em
E como surgiram os casarões? educação, saúde pública, transportes, comunicação livre,
Os fazendeiros de café ficaram tão encantados com setor socioeconômico e setor sociocultural.
a exportação do produto pela estrada que tiveram, a Há quem atribua essas tormentas climáticas
partir de 1850, a ideia de construir casarões para morar dos últimos meses ao aquecimento global. Há
na cidade. E toda roça é muito triste à noite, sobretudo alguma verdade nisso?
aquelas com riachos cortando os morros. Enquanto na Isso é bobagem. O ciclo deste ano é um ciclo periódico
roça permaneceram os capatazes, na cidade os fazen- complicado. Essas pessoas que falam em aquecimento
deiros receberam imigrantes de várias partes, especial- global erraram tanto até hoje... Diziam, por exemplo, que
mente de Portugal, que tinham tradição e capacidade o aquecimento iria derruir a mata amazônica. Outro
de construir casarões de pau a pique e taipa. Não é uma publicou num jornal de São Paulo que, por causa do
coisa que resista a todos os tempos, sobretudo quando aquecimento global, a Mata Atlântica de Santa Catarina
há enchentes dramáticas. Bom, filha, essas pessoas até o Rio Grande do Sul seria destruída. Ele não sabia
receberam uma tragédia socioeconômica em torno de que essa mata só está na costa. Agora, é verdade que,
1900, quando se estabeleceu a Estrada de Ferro Central somando os aquecimentos das áreas industriais e das
do Brasil. Todo o café, do vale inteiro, passou a sair pela áreas urbanas, dá um aquecimento contínuo. Daí em
estrada por Taubaté, São José dos Campos e Lorena em Copenhague terem defendido o combate a ele.
direção ao Brás e, de lá, pela Estrada Santos-Jundiaí. O senhor achava que a COP-15 teria outro
Mudou-se o eixo da exportação. O problema era sério e desfecho?
grave. Algumas famílias de fazendeiros foram fenecen- Eu sabia que seria um insucesso. Quero um bem
do. Pessoas de Minas Gerais, que sabiam guardar seu imenso à Dinamarca, tenho razões culturais para isso,
dinheirinho, vieram para São Luiz e compraram terras mas note bem: quando vi que o Lula ia indicar um grande
para fazer o que sabiam fazer: criar gado leiteiro. Disso número de pessoas, foram mais de 740, eu disse: como
viveram por muitos anos. Quanto aos casarões, muitos é que em Copenhague, cidade relativamente pequena,
foram transformados em hotéis. tradicional, como é que vai haver uma reunião em que
O senhor acredita que Paraitinga voltará a ser mais de 740 pessoas possam fazer debates? Ia dar
polo turístico? numa coisa zero.
A USP, universidade em que nasci como pessoa cultu- Foi um insucesso por causa da grande comitiva
ral, vai fazer um grupo de trabalho para compreender a brasileira?
cidade em todos os níveis. Disseram que queriam colo- Foi por causa de tudo, mas o Brasil viajou para lá
car o meu nome em primeiro lugar na equipe. Pedi que exuberante. Levaram a Dilma. A Dilma nunca entendeu
não me constrangessem. Eu já estou muito constrangido de meio ambiente. Não tem culpa. Ela tem outro pas-
com mil coisas, estou desesperado com os péssimos sado, daí ter sido colocada inicialmente no Ministério
814-2
POLISABER 17
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 4
E o que o senhor acha de Marina Silva como DREW, David. Processos interativos homem-meio-
candidata, ela que sempre esteve ligada à pre- -ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
servação ambiental? O livro analisa as transformações provocadas pela ação
Ela não conhece o Brasil. É uma mulher do Acre, uma
humana no meio ambiente em diversas escalas e ao
pessoa que acredita no criacionismo. Ela é ela, e acabou.
longo do tempo, apontando os desequilíbrios resultantes.
Tudo o que sabe é que existiram aquelas fantásticas
atitudes de Chico Mendes.
Quem entende de meio ambiente no governo,
professor?
VER E OUVIR
No governo, apenas os técnicos mais jovens do Ibama,
com o auxílio de promotores públicos também jovens,
saídos das boas universidades brasileiras. São eles que
Extremo Sul (direção: Monica Schmiedt. Brasil, 2005).
me dão entusiasmo, são eles que me dão esperança.
O filme conta a aventura da expedição realizada por cinco
Mas o Ibama está gradeado pelo governo federal, o que
amigos à Terra do Fogo, extremo sul da América do Sul,
é um absurdo. Isso vai redundar, no futuro, em muita
coisa contra a biografia de todos eles, sejam governantes com o objetivo de escalar o monte Sarmiento, num dos
federais, estaduais ou municipais. Digo e repito: nós no locais mais isolados do mundo.
Brasil precisamos aprender a contestar os idiotas.
18 POLISABER
aula 4 GEOGRAFIA DO BRASIL
S E N H A
Qual é o “motor” natural da
transformação das paisagens?
A água é um elemento essencial não somente para a vida, mas também para a transformação e
renovação das paisagens naturais como um todo. Afinal, como diz o dito popular, “água mole em pedra
814-2
POLISABER 19
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULAS 5 E 6
Os climas e as bacias
hidrográficas humanizadas Exosfera
no Brasil 600 km
Satélite
As características de determinados tipos de clima são Ionosfera
condição para os diferentes tipos de ocupação humana
e para a reprodução material da sociedade. As condições
climáticas como temperatura, umidade, pluviosidade e 80 km Meteoro
índice de insolação são essenciais hoje para o desenvol-
vimento e o rendimento agrícola; os estoques de água
doce são em grande parte regulados por mecanismos Mesosfera
mar 0
As camadas da atmosfera.
A atmosfera e sua dinâmica
Na estratosfera, por exemplo, onde a camada de ozônio
A atmosfera, camada superficial de gases que recobre
retém boa parte dos raios ultravioleta, as temperaturas
nosso planeta, tem uma dinâmica própria, que devemos
passam de 50 °C – daí a importância dessa camada para
conhecer para entender os mecanismos do clima.
a manutenção do equilíbrio da vida na superfície do pla-
O motor dessa dinâmica é a radiação solar. O Sol emite
sua energia para a Terra por meio de ondas eletromagné- neta. Então, a radiação que chega à Terra é parcialmente
ticas, que aquecem as diversas camadas da atmosfera, absorvida pelos gases que compõem a atmosfera, pelo
como mostra a figura a seguir. Esta, ao mesmo tempo, vapor-d’água e por partículas sólidas em suspensão.
filtra e absorve desigualmente cerca de 15% da radiação, Outra parcela (43%) é absorvida pela superfície terrestre
814-2
de acordo com cada camada. e irradiada para a atmosfera como calor que aquece sua
20 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
camada mais baixa, a troposfera, que contém gases como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), entre outros,
que absorvem a radiação infravermelha, originando o chamado efeito estufa.
Efeito estufa
Os gases do
efeito estufa,
principalmente o
CO2, permitem Gases do efeito estufa
que a luz do Sol
passe por eles.
Terra
Terra
ILUSTRAÇÕES: AVITS
814-2
POLISABER 21
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6
H2O O3 Gelo
Superfície gelada
Retenção
CO2
de calor Difusão 40% – 95%
Cerca de 21% da energia Cerca de 18% da energia solar Cerca de 31% da energia
solar que atravessa a que atravessa a atmosfera solar que atravessa a
atmosfera é absorvida por incide/bate numa partícula de atmosfera é refletida por ela
vapor-d’água, dióxido de poeira ou em outra coisa e é e pela superfície terrestre
carbono, ozônio etc. difundida em várias direções. e volta para o espaço.
O balanço energético da radiação solar é importante para entender a variação climática.
Vários fatores determinam a absorção desigual da ventos vindos das latitudes entre 25 °C e 35 °C (anticiclonais
energia solar pela superfície terrestre como os índices de subtropicais), conhecidos como alíseos, configurando-se
albedo (reflexão da radiação dependendo do tipo de su- como a zona de convergência intertropical (ZCIT), onde
perfície), que reflete aproximadamente 42% dessa energia, há calmaria de ventos, ascendência de ar e formação de
a distribuição das superfícies sólidas e líquidas (a água a chuvas intensas que oscila mais para o norte ou mais para
absorve e libera mais lentamente) e a configuração do o sul, dependendo da estação do ano.
relevo. Disso resulta um complexo sistema de circulação Polo
do ar atmosférico: o ar mais quente, leve, tende a subir para Norte
camadas mais altas da atmosfera (áreas de baixa pressão
atmosférica, ou ciclonais), e o ar mais frio, pesado, tende 60°
a descer (áreas de alta pressão atmosférica, ou anticiclo-
nais); mas, ao subir, aquele ar se resfria e tende a descer
alta alta
em outro ponto da superfície terrestre, originando um 30°
pressão pressão
sistema de circulação geral de massas de ar na atmosfera.
Assim, nas baixas latitudes, próximas à linha do Equador,
onde o aquecimento é maior, formam-se massas de ar
quente, ou tropicais, e, nas médias e altas latitudes, mais 0°
próximas aos polos, massas frias ou polares. Nas latitudes
médias, próximas aos trópicos de câncer, há uma área de
contato entre esses dois tipos de massa de ar: são frentes alta alta
polares, que oscilam em razão das diferenças de tempe- 30°
pressão pressão
ratura e densidade, das correntes de ar da alta troposfera
ILUSTRAÇÕES: AVITS
22 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
CORRENTE
DAS GUIANAS
Boa vista
0º Macapá CORRENTE EQUADOR
SUL EQUATORIAL
Teresina Natal
João Pessoa
Palmas Recife
Rio Branco Porto
Velho Maceió CORRENTE
Aracaju DO BRASIL
Salvador
Cuiabá Brasília
OCEANO
Goiânia
ATLÂNTICO
CLIMAS CONTROLADOS POR
MASSAS DE AR EQUATORIAIS E TROPICAIS Belo Horizonte
Campo Grande
OCEANO
Equatorial Úmido Vitória
CORRENTE
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
Abrange a área da Amazônia e caracteriza-se por Abrange vastas áreas do Centro-Oeste, Sudeste e Nor-
intensa absorção da radiação solar, produzindo um deste brasileiros, apresentando grandes desigualdades,
calor associado à presença da Floresta Amazônica e de sobretudo quanto aos índices e períodos pluviométricos.
inúmeros rios, resultando em grande evapotranspiração Em geral, a temperatura média é de 18 °C, o verão é
e evaporação. Esses fenômenos geram forte umidade bastante chuvoso e o inverno, seco. No Centro-Oeste,
no ar e intensa pluviosidade, em razão dos movimentos a massa tropical continental, mais seca, define uma
convectivos (ascensão) do ar. Origina-se aí a massa pluviosidade menor (1 200 mm/ano), concentrada entre
de ar equatorial continental e, mais a leste, no litoral, outubro e março. No Sudeste, em razão das maiores
a equatorial marítima. Nesse domínio, a temperatura altitudes das serras, a temperatura é mais amena, e
média é de 24 °C (exceto nas terras altas do planalto das a pluviosidade se eleva principalmente nas encostas
Guianas), e a pluviosidade varia de altíssima, na Amazônia das serras (chuvas orográficas, ou de relevo), muito
ocidental, onde o clima é equatorial sem estação seca influenciada pela ação da massa de ar tropical maríti-
(2 500 mm/ano), a pouco menor de Roraima ao Pará, em ma, que também atua no litoral do Nordeste, onde as
razão de uma estação seca em que prevalece o clima temperaturas são altas o ano todo, mas a pluviosidade
814-2
POLISABER 23
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6
No semiárido nordestino, a pluviosidade é extre- com 331 mm/ano, e Formosa (BA), com 413 mm/ano.
mamente baixa (menos de 600 mm/ano). No domínio As explicações para a origem dessa mancha semiárida
tropical, no inverno, é comum o avanço da massa polar são ainda incompletas e muito diversas. Uma primeira
marítima, vinda da Patagônia argentina, que provoca tentativa afirmava que o planalto da Borborema seria
a entrada da frente fria, ou polar, chuva e queda de uma barreira para a passagem dos ventos oceânicos,
temperatura. retendo toda a umidade em sua fachada atlântica, mas
essa explicação pode ser contestada pelas modestas
O enclave semiárido no domínio tropical altitudes do planalto e por sua irregularidade.
A presença de uma célula de alta pressão atmosférica
Corresponde a uma área de aproximadamente um (anticiclonal), dispersora de ventos, impede que a massa
milhão de km2, desde o litoral do Rio Grande do Norte equatorial continental, a tropical marítima e a frente polar
e do Ceará até o médio vale do rio São Francisco, em levem umidade, e as explicações mais recentes contem-
Minas Gerais, onde a escassez e a irregularidade dos plam também o papel das correntes marítimas. É que, nas
índices pluviométricos, associadas às altas temperaturas baixas latitudes do Atlântico ao sul do equador, as águas
médias anuais, é aspecto marcante do clima, definindo são mais frias, devido à influência da corrente marítima
um déficit hídrico. É claro que a região não é totalmente fria de Benguela, que, após atingir as costas ocidentais
homogênea do ponto de vista climático e paisagístico; há da África, onde se origina o deserto da Namíbia – pois
áreas mais castigadas pela aridez e outras atingidas por a evaporação é baixa –, se desloca numa rotação anti-
chuvas torrenciais, mas muito concentradas num curto -horária até o litoral do Nordeste brasileiro, provocando
período, que não coincide com os mais úmidos de outros queda na pluviosidade numa faixa de 10° de latitude
lugares. A média pluviométrica da região não ultrapassa desde o litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte até o
600 mm/ano, mas há municípios como Cabaceiras (PB), norte de Minas Gerais.
Correntes marinhas
dia
CÍRCULO POLAR ÁRTICO nlân
oe
60º Gr
Pacífico Derivação
Corrente Atlântico Pacífico
Norte do Golfo Norte Norte
30º
TRÓPICO DE CÂNCER Corrente das Canárias
Califórnia Kuroshio
Equatorial Norte
Equatorial
Equatorial Norte Equatorial Norte Equatorial
Central Norte
EQUADOR
0º Equatorial Sul
s
Equatorial Counter
lha
Agu
o Sul
Pacífico Sul Atlântic
Circumpolar Antártica Circumpolar Antártica
60º
CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO
2 300 km
150º 120º 90º 60º 30º 0º 30º 60º 90º 120º 150º
As correntes marinhas no Atlântico Sul explicam melhor o que ocorre com o semiárido nordestino.
24 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
n.
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Clima Equatorial – Manaus (AM)
mm °C Precipitação média em mm
Temperatura média em ºC
350 45º
300 40º Clima Tropical Atlântico –
35º João Pessoa (PB)
250
30º mm °C
200 25º 450 35º
150 20º
400 30º
15º
100 350
10º
25º
50 5º 300
0 0 250 20º
n.
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200 15º
Precipitação média em mm
150
Temperatura média em ºC 10º
Clima Tropical – Goiânia (GO) 100
mm 5º
°C 50
350 0 0
n.
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26º
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140
Precipitação média em mm
Temperatura média em ºC 120 15º
Clima Tropical de Altitude – 100
Belo Horizonte (MG)
80 10º
mm °C
60
350 30º
40 5º
300
25º
20
250
20º 0 0
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ag
15º
ja
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150
10º Precipitação média em mm
100 Temperatura média em ºC
50 5º
ILUSTRAÇÕES: AVITS
.
r.
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ja
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POLISABER 25
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6
Quando mudamos a escala de análise para o nível local, ficam mais evidentes as mudanças provocadas pela inter-
venção humana. É o que ocorre nas grandes aglomerações urbano-industriais, nas metrópoles, onde as alterações
no clima são sentidas em função da intensa ocupação do solo e também da maior carga de emissão de poluentes
atmosféricos pelas indústrias e pelos sistemas de transporte.
Transpiração das
plantas e evaporação
da água do solo
3°
ma C a
is 10°
qu
en C
te
Absorção
e retenção
de calor
Menor Maior
Penetração
de água
Ácido sulfúrico
SO2
SO2, NO2 + H2O
NO2 Ácido nítrico
Emissões
Chuvas ácidas
ILUSTRAÇÕES: AVITS
814-2
26 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
Temperatura
problemas de
saúde para os
seus habitantes.
ILUSTRAÇÕES: AVITS
Temperatura
cabeceiras, seus rios tributários ou afluentes, devido ao nosso objetivo em dado momento.
POLISABER 27
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6
Bacia do rio
Amazonas
450 km
florestal, os rios – alimentados pelas chuvas intensas – se Norte para amenizar as dificuldades geradas pelas secas.
28 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
Fortaleza
Can
al ex
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Mossoró
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Natal
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Rio
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s
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P i ra Campina
Sousa Rio Grande
João Pessoa
Juazeiro
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do Norte Eixo Norte aíb
Rio P a r
Recife
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B ríg
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Cabrobó
Barragem
de Sobradinho Adutoras Obras em execução
Cidades Obras em projeto
Penedo
Eixos Açudes
Rios receptores Adutoras Futuras
POLISABER 29
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6
23%
59%
18% da
21%
19%
água
do país
Irrigação
No que é usada
Industrial
doméstico
Humano
10%
ILUSTRAÇÕES: AVITS
limpeza descarga
cozinha e consumo (beber) higiene pessoal (banho)
lavagem de roupa
814-2
30 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
Muitas vezes, as intervenções humanas provocam mudanças indesejáveis no ciclo hidrológico; por exemplo, numa grande
cidade, os altos índices de impermeabilização do solo pela cobertura de asfalto, concreto, cimento e outros pisos impede
a infiltração das águas pluviais, levando à extinção dos lençóis freáticos. Além disso, o aumento do escoamento superficial
de água durante as chuvas mais intensas provocam enchentes, pois toda a água escorre rapidamente para o fundo do vale.
Nas áreas urbanas, o maior e mais rápido escoamento das águas pluviais para os rios ocasiona as enchentes.
O uso dos mananciais (rios, córregos, represas) como I – a água é um bem de domínio público;
depósito de esgoto a céu aberto é outra forma inadequada II – a água é um recurso natural limitado, dotado de
de tratar os recursos hídricos, amplamente difundida nas valor econômico;
grandes cidades brasileiras e que deve ser abolida pela III – em situações de escassez, o uso prioritário dos
ampliação das estações de tratamento de esgoto, permi- recursos hídricos é o consumo humano e a desseden-
tindo a recuperação e revitalização dos cursos de água. tação de animais;
A gestão dos recursos hídricos é uma temática cada IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre
vez mais importante e incorporada ao planejamento proporcionar o uso múltiplo das águas;
territorial urbano. No Brasil, essa gestão é regulada por V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para
lei desde 1997. Veja o quadro. implementação da Política Nacional de Recursos Hídri-
cos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento
Presidência da República de Recursos Hídricos;
Casa Civil VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descen-
Subchefia para Assuntos Jurídicos tralizada e contar com a participação do Poder Público,
dos usuários e das comunidades.
LEI N. 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997.
CAPÍTULO II
Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria DOS OBJETIVOS
o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Art. 2o São objetivos da Política Nacional de Recursos
Constituição Federal, e altera o art. 1o da Lei no 8.001,
Hídricos:
de 13 de março de 1990, que modificou a Lei no 7.990,
de 28 de dezembro de 1989. I – assegurar à atual e às futuras gerações a neces-
sária disponibilidade de água, em padrões de qualidade
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o adequados aos respectivos usos;
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: II – a utilização racional e integrada dos recursos
hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas
TÍTULO I ao desenvolvimento sustentável;
DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS III – a prevenção e a defesa contra eventos hidroló-
HÍDRICOS gicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso
inadequado dos recursos naturais.
CAPÍTULO I
DOS FUNDAMENTOS Como vimos, o uso da água no Brasil ainda precisa ser
bastante aperfeiçoado, cabendo ao Estado e à sociedade
Art. 1o A Política Nacional de Recursos Hídricos criar mecanismos de proteção, regulação do aproveita-
814-2
POLISABER 31
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6
EXERCÍCIOS
AVITS
frente fria cumulonimbus
2. (UFRN) Os fragmentos textuais a seguir apre-
sentam informações sobre fenômenos climá- massa de
ticos contrastantes, que ocorrem num mesmo ar quente
5
período, em diferentes regiões do Brasil. ar quente
em ascensão
massa de ar frio
Um total de 800 municípios do Nordeste se en-
contra em situação de emergência devido à seca, 0
depois de o governo declarar, nesta sexta-feira, que 400 km
25 novas cidades do estado da Paraíba estão nessa a) é típica de inverno, quando massas frias atravessam
circunstância. essas regiões, provocando inicialmente uma preci-
pitação e, na sequência, queda da temperatura e
tempo mais seco.
Disponível em: <http://noticias.r7.com/internacional/
b) trata-se da chegada de uma massa quente, que
noticias/seca-no-nordeste-deixa-800-municipios-em- ocorre tanto no verão quanto no inverno, provocando
situacao-de-emergencia-20120601.html>. intensas chuvas, sendo comuns a ocorrência de tem-
(acesso em: 4 jun. 2012) pestades e o aumento significativo na temperatura.
c) o contato entre as massas de ar indica fortes chuvas,
de tipo orográficas, que permanecem estacionadas
No Amazonas, mais de 80 mil famílias sofrem com a
num mesmo ponto durante vários dias.
cheia dos rios, 50 municípios permanecem em situação d) as precipitações de tipo convectivas ocorrem es-
de emergência, incluindo a capital, e outros três con- pecialmente nos meses de verão, sendo comum a
814-2
tinuam em estado de calamidade. Em Manaus, o Rio ocorrência de chuvas de granizo no final da tarde.
32 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
4. (Unesp) Leia a descrição de quatro grandes tipos climáticos do Brasil e, em seguida, examine o mapa, que
representa a divisão regional do país nesses grandes tipos climáticos.
Assinale a alternativa que contém a correta associação entre a descrição climática e sua área de ocorrência.
a) 1D – 2B – 3A – 4C
b) 1C – 2A – 3B – 4D
c) 1B – 2D – 3C – 4A
d) 1A – 2C – 3D – 4B
e) 1C – 2B – 3D – 4A
5. (Unesp) Analise os climogramas dos principais tipos climáticos do Brasil e as fotos que retratam as forma-
ções vegetais correspondentes.
1 2 3 4 5 6
SÃO GRABRIEL DA CABACEIRAS (PB) POÇOS DE CALDAS (MG) PORTO ALEGRE (RS)
CACHOEIRA (AM) MACEIÓ (AL) CUIABÁ (MT)
mm ºC mm ºC mm ºC mm ºC mm ºC mm ºC
300 30 300 30 300 30 300 30 300 30 300 30
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
A B C D E F
ocorre.
POLISABER 33
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6
ESTUDO ORIENTADO
Caro(a) aluno(a),
A seguir você encontrará alguns exercícios para verificar seu aprendizado e observar como os vestibulares abordam
as temáticas das aulas. Na seção Roda de leitura você poderá aprender um pouco mais sobre um fenômeno que
intriga a humanidade: o “El Niño”. Experimente também as sugestões de Navegar, Ver e ouvir e Pesquisar e ler para
ampliar seu repertório geográfico. E na seção Ágora, leia uma intrigante entrevista sobre o aquecimento global com o
pesquisador e professor Luiz Carlos Molion. Divirta-se!
EXERCÍCIOS
cidade A
30 350
28
300
26
Temperatura média (°C)
24 250
Precipitação (mm)
22
200
20
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
150
18
16 100
14
50
12
10 0
n.
v.
.
r.
n.
l.
o.
t.
t.
v.
z.
o
ar
ju
ab
se
ou
ai
fe
no
de
ag
ja
ju
m
LATITUDE: 03°06’22’’ S
34 POLISABER
(PREDOMÍNIO DO OUTONO)
cidade B
28
26 200
Temperatura média (°C)
24
Precipitação (mm)
22 150
20
18 100
16 PERÍODO IV
(PREDOMÍNIO DA PRIMAVERA)
14 50
12
10 0
n.
v.
.
r.
n.
l.
o.
t.
t.
v.
z.
o
ar
ju
ab
se
ou
ai
fe
no
de
ag
ja
ju
m
LATITUDE: 29°43’28’’ S
PERÍODO II
(PREDOMÍNIO DO OUTONO)
Por muitos anos, as várzeas paulistanas foram uma II. A retificação de um trecho urbano do rio Tietê e a
espécie de quintal geral dos bairros encarapitados nas construção de marginais sobre a várzea do rio po-
colinas. Serviram de pasto para os animais das antigas tencializaram o problema das enchentes na região.
carroças que povoaram as ruas da cidade. Serviram de III. A extinção da Mata Atlântica na região da nas-
terreno baldio para o esporte dos humildes, tendo as- cente do rio Tietê, no passado, concorre, até hoje,
sistido a uma proliferação incrível de campos de futebol. para agravar o problema com enchentes nas vias
marginais.
Durante as cheias, tais campos improvisados ficam com
IV. A várzea do rio Tietê é um ambiente susceptível à
o nível das águas até o meio das traves de gol.
inundação, pois constitui espaço de ocupação na-
tural do rio durante períodos de cheias.
Aziz Ab’Saber, 1956.
6. (UFRN) O Rio Grande do Norte possui, aproximadamente, 80% do seu território com predomínio do clima
semiárido, sendo essa área susceptível à ocorrência de estiagens cíclicas, que têm um impacto sobre sua
rede hidrográfica. Considerando esses aspectos, foi implementada uma política que visa assegurar o abas-
tecimento de água para a população por meio da construção de adutoras.
O mapa a seguir apresenta informações sobre a distribuição das adutoras no Rio Grande do Norte.
OCEANO ATLÂNTICO
Adutora
Mossoró
Á
Central Cabugi
A
Adutora
E
Médio Oeste
Adutora Serra
C
de Santana Adutora
Trairi
Adutora Alto
Oeste
Adutora
Piranhas-Caicó
JORDANA DE ANDRADE PIMENTEL
Adutora Jardim
do Seridó
Fonte: FELIPE, J. L. A. et al. Economia do RN. João Pessoa: Grafset, 2009. p. 120. (adaptado)
A bacia hidrográfica que abastece o maior número de adutoras do sertão do Rio Grande de Norte é a
a) bacia do Apodi-Mossoró. c) bacia do Trairi.
814-2
36 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
e cíclica nas porções central e leste do oceano Pacífico. América do Norte, ocorre um aumento das temperaturas
POLISABER 37
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6
e, especialmente nos meses de verão, há também um PEARCE, F. O aquecimento global: causas e efeitos de um
aumento das chuvas e enchentes. Para as áreas pes- mundo mais quente. São Paulo: Publifolha, 2002.
queiras do Pacífico leste, como Peru, Chile e Canadá, o Texto explica as causas e consequências do aquecimento
El Niño pode ser dramático, diminuindo consideravel- global, bem como o que fazer para evitá-lo.
mente a quantidade de peixes, de acordo com o nível
de aquecimento das águas.
Quando ocorreu o El Niño mais forte? VER E OUVIR
O El Niño mais forte registrado pelos equipamentos
meteorológicos modernos foi entre 1982 e 1983, com um
aquecimento de aproximadamente 6 °C da temperatura No rio das Amazonas (direção: Ricardo Dias. Brasil,
do oceano Pacífico. Seus efeitos foram catastróficos, 1995). O filme trata da viagem do zoólogo e músico Paulo
com perdas econômicas estimadas em oito bilhões de Vanzolini ao longo do rio Amazonas, onde ele fala de
dólares. Apenas as enchentes e tempestades que atingi- suas características e da vida das populações ribeirinhas.
ram os Estados Unidos somaram perdas de dois bilhões
de dólares. Enormes secas ocorreram na Indonésia, na
Austrália, na Índia e no sudeste da África. A Austrália
NAVEGAR
experimentou diversos incêndios florestais, quebra nas
safras agrícolas e a morte de milhões de ovelhas por
falta de água. A pesca no Peru resultou em metade dos INMET
valores pescados no ano anterior. www.inmet.gov.br (acesso em: 24 mar. 2014)
Dados e informações sobre a previsão do tempo e o clima
SILVA, Júlio César Lázaro da. de todo o Brasil.
Disponível em: <www.brasilescola.com/
geografia/el-nino.htm>. Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH)
(acesso em: 23 mar. 2014) www.cnrh.gov.br/attachments/PNRH_Vol_1.pdf (acesso
em: 24 mar. 2014)
Site do Plano Nacional de Recursos Hídricos onde há
PESQUISAR E LER informações sobre as bacias hidrográficas brasileiras.
38 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
na camada de ozônio, ele defendeu que não havia mo- ISTOÉ – Qual seria a origem das variações de tem-
tivo para tamanha preocupação. peratura?
Numa conferência, peitou o badalado mexicano Mario LUIZ CARLOS MOLION – Há dez anos, descobriu-se
Molina, mais tarde Nobel de Química, um dos primeiros a que o oceano Pacífico tem um modo muito singular na
fazer o alerta. Agora, a guerra acadêmica de Molion tem variação da sua temperatura. Me parece lógico que o
outro nome: aquecimento global. Pós-doutor em meteoro- Pacífico interfira no clima global. Primeiro, a atmosfera
logia formado na Inglaterra e nos Estados Unidos, membro terrestre é aquecida por debaixo, ou seja, temos tem-
do Instituto de Estudos Avançados de Berlim e represen- peraturas mais altas aqui na superfície e, à medida que
tante da América Latina na Organização Meteorológica você sobe, a temperatura vai caindo – na altura em
Mundial, esse paulista de 61 anos defende com veemência que voa um jato comercial, por exemplo, a temperatura
a tese de que a temperatura do planeta não está subindo
externa chega a 45 ou 50 graus abaixo de zero. Ora, o
e que a ação do homem, com a emissão crescente de gás
Pacífico ocupa um terço da superfície terrestre. Juntando
carbônico (CO2) e outros poluentes, nada tem a ver com o
isso tudo, claro está que, se houver uma variação na
propalado aquecimento global. Boa notícia?
temperatura da superfície do Pacífico, vai afetar o clima.
Nem tanto, diz. Molion sustenta que está em marcha
um processo de resfriamento do planeta. “Estamos en-
ISTOÉ – O IPCC (Painel Intergovernamental sobre
trando numa nova era glacial, o que para o Brasil poderá Mudança Climática, da ONU) está errado?
ser pior”, pontifica. Para Molion, por trás da propagação
LUIZ CARLOS MOLION – O painel não leva em con-
catastrófica do aquecimento global, há um movimento
sideração todos os dados. Outra coisa que incomoda
dos países ricos para frear o desenvolvimento dos
bastante, e que o Al Gore (ex-vice-presidente dos EUA
emergentes. O professor ainda faz uma reclamação:
e estrela do documentário Uma verdade inconveniente,
diz que cientistas contrários à tese estão escanteados
sobre mudanças no clima) usa muito, é a concentração
pelas fontes de financiamento de pesquisa.
de CO2. O IPCC diz claramente que a concentração
ISTOÉ – Com base em que o sr. diz que não há aque- atingida em 2005, de 339 partes por milhão, ou ppm,
cimento global? foi a maior dos últimos 650 mil anos. Isso é uma coisa
LUIZ CARLOS MOLION – É difícil dizer que o ridícula. Eles usam uma série iniciada em 1957 e não
aquecimento é global. O Hemisfério Sul é diferente do fazem menção a medições de concentração de gás
Hemisfério Norte, e a partir disso é complicado pegar carbônico anteriores. É como se nunca ninguém tivesse
uma temperatura e falar em temperatura média global. se preocupado com isso. O aumento de CO2 não é um
Os dados dos 44 estados contíguos dos EUA, que têm fenômeno novo. Nos últimos 150 anos, já chegou a 550,
uma rede de medição bem mantida, mostram que nas 600 ppm. Como é que se jogam fora essas medidas? Só
décadas de 1930 e 1940 as temperaturas foram mais porque não interessam ao argumento? O leigo, quando
elevadas que agora. A maior divergência está no fato vê a coisa da maneira que é apresentada, pensa que só
de quererem imputar esse aquecimento às atividades começaram a medir nos últimos 50 anos. O Al Gore usou
humanas, particularmente à queima de combustíveis no filme a curva do CO2 lá embaixo há 650 mil anos e,
fósseis, como petróleo e carvão, e à agricultura, atrás da agora, decolando. Ridículo, palhaço.
agropecuária, que libera metano. Quando a gente olha
a série temporal de 150 anos usada pelos defensores ISTOÉ – Esses temores são cíclicos?
da tese do aquecimento, vê claramente que houve LUIZ CARLOS MOLION – Eu tenho fotos da capa
um período, entre 1925 e 1946, em que a temperatura da Time em 1945 que dizia: “O mundo está fervendo”.
média global sofreu um aumento de cerca de 0,4 grau Depois, em 1947, as manchetes diziam que estávamos
centígrado. Aí a pergunta é: esse aquecimento foi indo para uma nova era glacial. Agora, de novo se fala
devido ao CO2? em aquecimento. Não é que os eventos sejam cíclicos,
porque existem muitos fatores que interferem no clima
ISTOÉ – Como, se nessa época, o homem liberava global. Sem exagero, eu digo que o clima da Terra é resul-
para a atmosfera menos de 10% do que libera hoje? tante de tudo o que ocorre no universo. Se a poeira de
LUIZ CARLOS MOLION – Depois, no pós-guerra, uma supernova que explodiu há 15 milhões de anos for
quando a atividade industrial aumentou, e o consumo de densa e passar entre o Sol e a Terra, vai reduzir a entrada
814-2
petróleo também, houve uma queda nas temperaturas. de radiação solar no sistema e mudar o clima. Esse ciclo
POLISABER 39
GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 5 e 6
de aquecimento muito provavelmente já terminou em Aí, inventaram a história de que esses compostos
1998. Existem evidências, por medidas feitas via satélite estavam destruindo a camada de ozônio. Começou
e por cruzeiros de navio, de que o oceano Pacífico está exatamente com a mesma fórmula de agora. Em 1987,
se aquecendo fora dos trópicos – daí o derretimento sob liderança da Margaret Thatcher, fizeram uma reunião
das geleiras – e o Pacífico tropical está esfriando, o que em Montreal, de onde saiu um protocolo que obrigava
significa que estamos entrando numa nova fase fria. os países subdesenvolvidos a eliminar os CFCs. O Brasil
Quando esfria, é pior para nós. assinou. Depois, ficamos sabendo que assinou porque
foi uma das condições impostas pelo FMI para renovar
ISTOÉ – Por que é pior?
a dívida externa brasileira. É claro que o interesse por
LUIZ CARLOS MOLION – Porque, quando a atmosfe-
trás disso certamente não é conservacionista.
ra fica fria, ela tem menor capacidade de reter umidade
e aí chove menos. Eu gostaria que aquecesse realmente ISTOÉ – Mas reduzir a emissão de CFCs não foi uma
porque, durante o período quente, os totais pluviomé- medida importante?
tricos foram maiores, enquanto de 1946 a 1976 a chuva LUIZ CARLOS MOLION – O Al Gore, no filme dele, diz
no Brasil como um todo ficou reduzida. “nós resolvemos um problema muito crucial, que foi a
destruição da camada de ozônio”. Como resolveram, se
ISTOÉ – No que isso pode interferir na vida do bra- cientistas da época diziam que a camada de ozônio só se
sileiro?
recuperaria depois de 2100? Na Eco-92, eu disse que se
LUIZ CARLOS MOLION – As consequências para o
tratava de uma atitude neocolonialista. No colonialismo
Brasil são drásticas. O Sul e o Sudeste devem sofrer uma
tradicional, se colocam tropas para manter a ordem e
redução de chuvas da ordem de 10% a 20%, dependendo
o domínio. No neocolonialismo, a dominação é pela
da região. Mas vai haver invernos em que a frequência
tecnologia, pela economia e, agora, por um terrorismo
de massas de ar polar vai ser maior, provocando uma
climático como é esse aquecimento global. O fato é que
frequência maior de geadas. A Amazônia vai ter uma re-
agora a indústria, que está na Inglaterra, na França, na
dução de chuvas e, principalmente, a Amazônia oriental
Alemanha, no Canadá, nos Estados Unidos, tem gases
e o sul da Amazônia vão ter uma frequência maior de
substitutos e cobra royalties de propriedade. E ninguém
seca, como foi a de 2005. O Nordeste vai sofrer redução
fala mais em problema na camada de ozônio, sendo que,
de chuva. O que mais me preocupa é que, do ponto de
na realidade, a previsão é de que agora, em outubro, o
vista da agricultura, as regiões sul do Maranhão, leste
buraco será um dos maiores da história.
e sudeste do Pará, Tocantins e Piauí são as que apre-
sentam sinais mais fortes. Essas regiões preocupam ISTOÉ – O sr. também vê interesses econômicos por
porque são a fronteira de expansão da soja brasileira. A trás do diagnóstico do aquecimento global?
precipitação vai reduzir e certamente vai haver redução LUIZ CARLOS MOLION – É provável que existam
de produtividade. Infelizmente, para o Brasil, é pior do interesses econômicos por detrás disso, uma vez que
que seria se houvesse o aquecimento. os países que dominam o IPCC são os mesmos países
que já saíram beneficiados lá atrás.
ISTOÉ – A quem interessaria o discurso do “aqueci-
mento”? ISTOÉ – Não é teoria conspiratória concluir que há
LUIZ CARLOS MOLION – Quando eu digo que muito uma tentativa de frear o desenvolvimento dos países
provavelmente estamos num processo de resfriamento, emergentes?
eu o faço por meio de dados. O IPCC, o nome já diz, é LUIZ CARLOS MOLION – O que eu sei é que não há
constituído de pessoas que são designadas por seus bases sólidas para afirmar que o homem seja respon-
governos. Os representantes do G-7 não vão aleatoria- sável por esse aquecimento que, na minha opinião, já
mente. Vão defender os interesses de seus governos. acabou. Em 1798, Thomas Malthus, inglês, defendeu que
a população dos países pobres, à medida que cresces-
No momento em que começa uma pressão desse tipo,
se, iria querer um nível de desenvolvimento humano
eu digo que já vi esse filme antes, na época do discurso
mais adequado e iria concorrer pelos recursos naturais
da destruição da camada de ozônio pelos CFCs, os com-
existentes. É possível que a velha teoria malthusiana
postos de clorofluorcarbonos. Os CFCs tinham perdido o
esteja sendo ressuscitada e sendo imposta através do
814-2
40 POLISABER
aulas 5 e 6 GEOGRAFIA DO BRASIL
aquecimento global, porque agora querem que nós ISTOÉ – O cenário que o sr. traça inclui ou exclui o te-
reduzamos o nosso consumo de petróleo, enquanto a mor de cidades litorâneas serem tomadas pelo aumento
do nível dos oceanos?
sociedade americana, sozinha, consome um terço do
LUIZ CARLOS MOLION – Também nesse aspecto,
que é produzido no mundo.
o que o IPCC diz não é verdade. É possível que, com o
ISTOÉ – Para aceitar a tese do sr., é preciso admitir novo ciclo de resfriamento, o gelo da Groenlândia possa
que há desonestidade dos cientistas que chancelam o aumentar, e pode ser até que haja uma ligeira diminuição
diagnóstico do aquecimento global... do nível do mar.
LUIZ CARLOS MOLION – Eu digo que cientistas são
honestos, mas hoje tem muito mais dinheiro nas pesqui- ISTOÉ – Pela sua tese, seria o começo de uma nova
era glacial?
sas sobre clima para quem é favorável ao aquecimento
LUIZ CARLOS MOLION – Como já faz 15 mil anos que
global. Dinheiro que vem dos governos, que arrecadam
a última Era Glacial terminou, e os períodos interglaciais
impostos das indústrias que têm interesse no assunto. normalmente são de 12 mil anos, é provável que nós já
Muitos cientistas se prostituem, se vendem para ter estejamos dentro de uma nova era glacial. Obviamente,
seus projetos aprovados. Dançam a mesma música a temperatura não cai linearmente, mas a tendência de
que o IPCC toca. longo prazo certamente é decrescer, o que é mau para
o homem. Eu gostaria muito que houvesse realmente
ISTOÉ - O sr. se considera prejudicado por defender um aquecimento global, mas na realidade os dados nos
a linha oposta? mostram que, infelizmente, estamos caminhando para
LUIZ CARLOS MOLION – Na Eco-92, eu debati com um resfriamento. Mas não precisa perder o sono, porque
o Mario Molina, que foi quem criou a hipótese de que vai demorar uns 100 mil anos para chegar à temperatura
os clorofluorcarbonos estariam destruindo o ozônio. Ele, mínima. E quem sabe, até lá, a gente não encontre as
em 1995, virou prêmio Nobel de Química. E o professor soluções para a humanidade.
Molion ficou na geladeira. De 1992 a 1997, eu não fui
RANGEL, Rodrigo.
mais convidado para nenhum evento internacional. Eu
Disponível em: <www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/
tinha US$ 50 mil, que o Programa das Nações Unidas detalhe/255_AQUECIMENTO%20GLOBAL%20E%20
havia repassado para fazer uma pesquisa na Amazônia, TERRORISMO%20CLIMATICO>.
e esse dinheiro foi cancelado. (acesso em: 24 mar. 2014)
S E N H A
POLISABER 41
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 7
EQUADOR
10°
RETRAÇÃO DA
VEGETAÇÃO NATIVA
Floresta 20°
Savana (Cerrado)
Campinarana
(Campinas do Rio Negro)
Estepe
Áreas pioneiras
Área antropizada
416 km
AVITS
0015
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. p. 110.
42 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
A vida na superfície do planeta está inserida em um da vida no planeta, dividida em períodos de milhares de
amplo contexto de relações de troca e fluxo de energia, anos desde sua formação.
compondo sistemas abertos e hierarquizados que, em seu Mas como classificar ou ordenar os diversos biomas
conjunto, denominamos biosfera. Esta se relaciona com a terrestres e como aplicar essa classificação ao território
hidrosfera, a litosfera e a atmosfera, de formas que variam brasileiro?
de acordo com os períodos e com o espaço, em níveis de Essa classificação leva em conta as semelhanças na
associação ou de organização estabelecidos por relações composição das espécies, nas formas de vida e nas re-
de competição, predação e, principalmente, cooperação, lações ecológicas. Vale lembrar que as divisões não são
como observamos nas redes alimentares, em que as territorialmente rígidas, podendo haver uma zona de
transição ou uma gradação entre um bioma e outro. Tam-
plantas são alimento para muitos animais, mas também
bém é importante salientar que, na escala dos biomas,
precisam de muitos deles para cumprir seu ciclo de vida.
muitas vezes não percebemos as diferenças internas;
Nesse contexto também se inserem as relações sociais,
por exemplo, na Floresta Amazônica ocorrem diversas
que, além do processo da troca de energia, participam
composições, em função da posição do relevo, do clima
ativamente das transformações dos sistemas naturais
e do solo locais. Assim, deveríamos falar em florestas
ao longo dos períodos. Assim é o mecanismo evolutivo
amazônicas ou em matas atlânticas.
aliado à herança genética, que determina a capacidade de
Os diferentes biomas estão associados aos movimen-
sobrevivência das diversas formas de vida e dos sistemas
tos da Geodésia, o que inclui os movimentos da massa
naturais onde estão inseridas, podendo cumprir suas fun- de ar, a radiação solar e às zonas de alta e baixa pressão
ções vitais ao mesmo tempo em que interagem entre si. atmosférica. Todo esse conjunto de vetores concomi-
A Ciência Geográfica estuda a vida na superfície do tantemente criam condições à reprodução de espécies
planeta principalmente na escala do bioma, conjunto vegetais e que, por sua vez, oferecem possibilidades de
fisionomicamente homogêneo de plantas, animais e mi- reproduções animais. Os fatores de ocupação humano
crorganismos vivendo em associação sob determinado foram radicalmente transformados com a revolução
tipo de clima e de solo onde os ecossistemas estão no científica e tecnológica, expandindo a fronteira do uso
ápice de seu desenvolvimento, resultado de uma história do solo pelo e para o homem.
30 °N
TRÓPICO DE CÂNCER
EQUADOR
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
30 °S
814-2
Fonte: SILVA JR., César da & SASSON, Sezar. Biologia. São Paulo: Saraiva, 2003.
POLISABER 43
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7
EQUADOR
10°
20°
Floresta Amazônica
Campos cerrados
Pantanal
Mata Atlântica
Vegetação litorânea
300 km
(manguezais e
restingas)
Pampas
Mata de Araucárias
AVITS
44 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
Veja agora uma breve caracterização dos domínios vegetais brasileiros, considerando as transformações provocadas
pelas atividades humanas em cada lugar.
As paisagens não são estáticas. O homem é, de fato, um agente dotado tecnicamente de possibilidades múltiplas de
modificação da paisagem. Os biomas efetivamente são modificados. O que resta saber é a forma com a qual o homem
poderá balancear o modo de produção adotado com as possibilidades de modificação de cada um dos biomas por ele
alcançados.
Formações florestais
Florestas amazônicas
É atualmente a maior formação florestal do planeta em área contínua. De grande porte, úmida e densa, abriga uma
enorme variedade de espécies, que podemos agrupar em três: mata de igapó e mata de várzea, nas regiões inundáveis
da bacia, e mata de terra firme, nos terrenos mais altos, livres de inundação.
RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS
Mata de igapó
Ocupa terrenos com solos alagados o ano inteiro, chamados de hidromórficos. Suas árvores alcançam até 20 metros
de altura e, nas superfícies dos rios, flutuam vitórias-régias cujas folhas chegam a atingir 4 metros de diâmetro.
RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS
814-2
POLISABER 45
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7
Mata de várzea
Ocupa terrenos que alagam em épocas de chuvas mais intensas, em uma área de aproximadamente 55 mil km². É aí
que se encontra a seringueira, espécie de onde se retira o látex para a fabricação da borracha.
LUIZ CLÁUDIO MARIGO/OPÇÃO BRASIL IMAGENS
dade ainda pouco conhecida, dado o grande número de espécies de plantas raras sobre cuja distribuição quase nada se sabe.
46 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
O funcionamento das florestas amazônicas é autossustentado, pois as condições climáticas regionais permitem uma
alta taxa de fotossíntese, e os nutrientes para seu crescimento e sua exuberância derivam essencialmente do manto
de detritos que a própria floresta produziu (folhas, troncos caídos, animais mortos) nas camadas superficiais do solo.
N S
Mata de terra firme Mata de Depressão marginal
igapó sul-amazônica e planaltos
Planalto das Guianas residuais sul-amazônicos
Nível das
Planalto Mata de águas altas
Serras norte-amazônico várzea (enchente) Rio Amazonas
Sedimentos
AVITS
Apesar de ainda estarem preservados aproximada- para os sistemas hídricos, os solos e as outras formas
mente 80% de sua área original, a Floresta Amazônica é de vida. Isso sem falar na desestruturação da vida dos
a formação vegetal brasileira com o mais acelerado ritmo povos tradicionais da região – indígenas, seringueiros,
de devastação. Desde os anos 1960, quando o então go- ribeirinhos e demais habitantes da floresta. Esses povos
verno militar programou a política de integração da região têm revelado aos cientistas um grande número de espé-
ao eixo econômico do Centro-Sul do país, os desmata- cies, o que, paradoxalmente, concorre para que empresas
mentos só aumentaram. Os projetos agropecuários e invadam suas terras.
agrominerais que recebiam incentivos fiscais por meio da
Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia
(Sudam) facilitavam a penetração de empresas nacionais
e transnacionais na região em busca de riquezas como
ouro, minério de ferro, cassiterita e bauxita.Também a
pecuária bovina e, mais recentemente, o agronegócio
da soja são responsáveis pela ocupação desenfreada.
Em 1970, o Programa de Integração Nacional (PIN) dos
militares destinou recursos à construção de rodovias
como a Transamazônica e a Cuiabá-Santarém. Outras,
implantadas na década anterior, como a Cuiabá-Porto
Velho e a Belém-Brasília, intensificaram os fluxos migra-
tórios, levando ao aumento de desmatamentos em áreas
PLANET OBSERVER/GETTY IMAGES
tes recursos de sua biodiversidade, com consequências Amazônia a partir das estradas.
POLISABER 47
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7
1 – Xingu-Araguaia
2 – Carajás
3 – Araguaia-Tocantins
4 – Trombetas
5 – Altamira
6 – Pré-Amazônia
Maranhense 10
7 – Rondônia 12
8 – Acre EQUADOR
9 – Juruá
10 – Roraima
11 – Tapajós 4 15
12 – Amapá
13 – Juruema
14 – Aripuama
15 – Marajó
6
9 5
11
3
2
8 1
14
10°
7
Programas do
Agricultura/Pecuária
Polamazônia, projeto
Mineração gestado pelos militares
13
Hidrografia para integrar e
Áreas prioritárias Brasília entregar as riquezas da
Estradas existentes ou projetadas Amazônia ao grande
capital nacional e
AVITS
254 km
70° 60° 50°
estrangeiro.
Fonte: SUDAM.
Atualmente, a pecuária, a mineração industrial, a extração industrial da castanha, o agronegócio da soja e a construção
de hidrelétricas estão entre as atividades que mais impactam a floresta, com perda da biodiversidade, destruição dos
solos, mudanças climáticas e contaminação do ambiente por agrotóxicos e inseticidas.
As florestas costeiras são variedades de florestas tropicais e se parecem muito com a Floresta Amazônica: são den-
sas, de grande porte e de grande biodiversidade. A Mata Atlântica é a floresta pluvial de maior diversidade no mundo: é
composta de cerca de 10 mil espécies de plantas, além de centenas de espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios.
Suas árvores se entrelaçam a uma enorme quantidade de cipós e epífitas, resultando em uma fisionomia peculiar. Em
alguns trechos, pode haver uma média de 270 espécies de árvores em um único hectare.
EDU LYRA/PULSAR IMAGENS
A Mata Atlântica
recobre áreas serranas
do Sudeste. O difícil
acesso e a pouca
ocupação ainda
mantêm a floresta
814-2
preservada.
48 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
Originalmente, a Mata Atlântica recobria uma área Atualmente, restam 5% da mata original, concentrados
do litoral do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, em pontos mais difíceis de ocupar como as encostas das
penetrando pelo interior dos estados da Bahia, de Minas serras do Mar e da Mantiqueira. A devastação teve início
Gerais e de São Paulo. Nessas regiões, há períodos de no período colonial, com a extração do pau-brasil e o cul-
radiação solar intensa, altas temperaturas, regime tivo da cana-de-açúcar no Nordeste, e se acelerou nos sé-
de chuvas abundantes e levemente sazonais graças à
culos XIX e XX, com a penetração do café no Sudeste e o
massa tropical atlântica no verão e às frentes polares
processo de industrialização. A extração de madeira para
no inverno. O próprio relevo da Serra do Mar também é
a fabricação de móveis e sua utilização como lenha na si-
importante na determinação da umidade, em razão das
chuvas orográficas, na região da mata de encosta. Tam- derurgia, a retirada do palmito e a busca de espécies que
bém como na Floresta Amazônica, é intensa e rápida a interessam à industria farmacêutica estão entre os princi-
reciclagem dos nutrientes nas camadas superficiais do pais motivos da retração da mata. Hoje, a maior parte das
solo, onde se acumula uma enorme quantidade de húmus áreas preservadas encontra-se em reservas, parques
(matéria orgânica), o que gera a riqueza da vegetação. ou áreas de proteção ambiental.
POLISABER 49
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7
Florestas de araucárias
Estando originalmente desde os altos das serras do Sudeste, em Minas Gerais e São Paulo, até os estados da região
Sul do país, a mata de araucárias é a formação florestal de menor tropicalidade. Seus solos são férteis, as plantas sobre-
vivem em ambientes de moderada umidade (entre 1 000 mm a 1 400 mm anuais) e temperaturas moderadas e baixas
no inverno. O pinheiro do Brasil, ou Araucaria angustifolia, é a espécie predominante em uma formação homogênea e
aberta. Entre os pinheiros, crescem outras espécies arbóreas como a canela ou o angico, e também rasteiras como a
erva-mate, matéria-prima do chimarrão, bebida muito apreciada no sul do Brasil. O pinhão, muito comum na culinária
regional, é a semente dessa gimnosperma, e sua dispersão é feita por uma ave local: a gralha-azul.
Ao longo de séculos de exploração, as áreas das araucárias se reduziram drasticamente, e elas estão praticamente
extintas. Foi responsável pela devastação a extração de madeira para a fabricação de casas e móveis e, mais tarde,
também para exportação.
Savanas
As savanas consistem em gramíneas entremeadas por algumas poucas árvores e muitos arbustos. O pequeno porte
dessas formações se deve à pobreza hídrica ou de solos em ambientes tropicais.
Caatingas
Ocupando os planaltos semiáridos do Nordeste brasileiro, as caatingas são uma formação vegetal xerófita, ou seja,
que desenvolveu mecanismos de retenção de água para sobreviver aos longos períodos de estiagem ou escassez
hídrica. Dentre esses mecanismos, temos o revestimento das folhas por uma crosta de cera, o aparecimento de es-
pinhos em vez de folhas, evitando a perda de água por evapotranspiração, e folhas coriáceas, grossas e alongadas.
As raízes recobrem a superfície do solo em busca de água, e algumas plantas, como o juazeiro, têm uma raiz mais
profunda para captar águas no subsolo. Nos períodos de chuva, as caatingas se recobrem de um tapete verde de fo-
lhas e aparecem flores de cores diversas, mudando o aspecto da paisagem. As caatingas são muito ricas em espécies
frutíferas, produzem ceras, fibras e óleos vegetais. Não se pode associar a pobreza da população do sertão – que é
814-2
50 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
Mais de 80% dessa formação foram devastados pela pecuária bovina extensiva, apesar de sua pouca capacidade para
abrigar essa atividade. Hoje, os projetos de irrigação no cultivo de frutas tropicais para a agroindústria e para exportação
estão entre os fatores que mais devastam a caatinga.
CE
MA RN
PB
PI PE
AL
SE
BA
185 km
POLISABER 51
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7
Cerrados
As formações de cerrados ocupavam originalmente uma grande área contínua do Planalto Central brasileiro e manchas
no interior de São Paulo e de Minas Gerais. Caracterizam-se por apresentar três níveis de vegetação: o arbóreo, cons-
tituído pelas matas de galeria que margeiam os rios e por poucas árvores espaçadas; o herbáceo, rasteiro, constituído
por gramíneas que ocupam todo o espaço dessa formação, e o arbustivo, que apresenta troncos finos e retorcidos, em
função dos solos pobres em nutrientes, e cascas grossas de cortiça, uma adaptação aos incêndios naturais e cíclicos
do período da estiagem e que, em pequena escala, permitem a renovação de sua diversidade. Não há déficit hídrico nas
regiões dos cerrados. O problema é a baixa fertilidade dos solos, que se formaram em depósitos sedimentares antigos
e têm alta concentração de alumínio, substância nociva às plantas.
Área remanescente
Desmatamento acumulado
até o ano de 2008 = 48,2%
da área dos cerrados
245 km
20°
O antropismo
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
nos cerrados
AVITS
afeta sua
60° 50° 40°
biodiversidade.
Os cerrados tiveram mais de 45% de suas áreas devastadas nos últimos 50 anos, devido à penetração da agropecuária,
sobretudo a bovina, e a monocultura da soja e da cana-de-açúcar para exportação, interferindo na biodiversidade da for-
mação e acelerando processos erosivos nos solos, provocando o assoreamento dos rios. A agricultura pode se desenvolver
graças às técnicas de adubação e diminuição da acidez dos solos pela calagem.
Campos
A principal área contínua de ocorrência de campos no Brasil se estende pela campanha gaúcha e é conhecida como
Pampas ou Campos Limpos, no Rio Grande do Sul. Ali, a vegetação herbácea é entremeada por matas subtropicais e de
814-2
araucárias e a diversidade biológica é menor que em outras formações. A essa área se associam os campos dos altos
52 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
dos planaltos sul-rio-grandense e catarinense, além dos campos costeiros das regiões lagunares, que compõem as
principais áreas campestres do país. Vale ressaltar que os campos aparecem em manchas menores em outros pontos
como a ilha de Marajó, Roraima e trechos dos planaltos do Sudeste.
ALE RUARO/PULSAR IMAGENS
Os pampas
favoreceram
amplamente
a pecuária de
corte, por seus
pastos naturais e
seu relevo plano.
As maiores ameaças aos campos brasileiros estão no sul do país. A exploração pela pecuária extensiva tem levado à
formação de areais, onde a vegetação retirada não retorna e os solos perdem toda a fertilidade, lembrando fisionomi-
camente um deserto, como o areal São João, no interior do Rio Grande do Sul.
Formações complexas
Ocorrem em áreas de transição entre formações e apresentam características de duas ou mais dessas formações.
Mata de cocais
Localizada na sub-região nordestina do Meio-Norte, na transição entre as caatingas e as florestas amazônicas, as ma-
tas de cocais são constituídas por palmeiras do tipo babaçu, cuja extração do óleo e o bagaço do coco são importantes
para a economia local.
A mata de
cocais é um tipo
PALÊ ZUPPANI/PULSAR IMAGENS
de vegetação
brasileira que
ocorre entre as
regiões Norte
e Nordeste,
também
denominada
814-2
Meio-Norte.
POLISABER 53
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7
Pantanal mato-grossense
Trata-se de uma área deprimida recoberta por cerrados e formações inundáveis na região da bacia do rio Paraguai,
que se formou após a separação da antiga Gondwana e o soerguimento dos Andes. O clima tropical e a estação seca
prolongada criaram um mosaico de florestas, cerrados e campinas higrófilas que abrigam a mais rica fauna do planeta.
Ainda pouco conhecida, essa fauna está ameaçada pela pecuária, pelo garimpo, pelo extrativismo mineral e por mono-
culturas que afetam a dinâmica das cheias, fundamental para a manutenção da biodiversidade da região.
LUIZ CLÁUDIO MARIGO/OPÇÃO BRASIL IMAGENS
Manguezais
EQUADOR
10°
20°
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
Os manguezais
estão na maior
parte do litoral
AVITS
814-2
520 km
70° 60° 50° 40°
brasileiro.
54 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
Os manguezais são formações vegetais adaptadas aos ambientes costeiros tropicais, em regiões de estuário onde a
influência das marés alterna águas marinhas e continentais. Nesse ambiente salino e de solo lamacento, se desenvol-
vem espécies vegetais adaptadas com raízes em forma de escoras e capazes de respirar embaixo da água por meio de
pneumatóforos. Sua importância se deve ao fato de ser um ambiente que serve de base a cadeias alimentares costei-
ras, fornecendo alimentos e proteção a várias espécies de peixes, aves e crustáceos que ali se reproduzem e crescem.
Por isso, o manguezal é conhecido como “berçário” costeiro, e sua preservação é fundamental para a manutenção da
biodiversidade nos litorais brasileiros.
MAURICIO SIMONETTI/PULSAR IMAGENS
No entanto, não é isso o que vem ocorrendo. Os mangues são devastados pelos planos de urbanização das cidades litorâ-
neas, que os aterram para a construção de condomínios de veraneio, hotéis e resorts e, em alguns casos, para transformá-los
em lixões. Também são destruídos pela expansão de atividades como a piscicultura e carcinicultura (criação de caranguejos).
ROGÉRIO REIS/PULSAR IMAGENS
caranguejos).
POLISABER 55
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7
EXERCÍCIOS
1. (Unicamp) Assinale a alternativa que indica corretamente a localização e uma característica predominante
dos domínios morfoclimáticos do cerrado, da caatinga e dos mares de morros.
2. (Fuvest) O perfil topográfico abaixo apresenta alguns aspectos estruturais da vegetação nativa e do com-
portamento dos totais anuais de chuva em um segmento que se estende do litoral até os contrafortes da
serra da Mantiqueira.
DO MAR COSTEIRA
500 –
A B
AVITS
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Fonte: HUECK, Kurt. As florestas da América do Sul, 1972. (adaptado)
a) Das seções numeradas de 1 a 18, considere as que correspondem à Serra do Mar, identificando aquela onde, tendo
em vista os fatores naturais, os processos erosivos podem ser mais frequentes e intensos. Justifique.
b) Observe que, na encosta escarpada da serra da Mantiqueira, a estatura da vegetação aumenta em direção às partes
814-2
56 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
3. (Unesp)
A extração de madeira, especialmente do pau-brasil, os ciclos do açúcar e café e o desmatamento para a instalação de
indústrias são eventos de nossa história que contribuíram para a degradação desse bioma.
Disponível em: <www.eco.ib.usp.br>.
4. (Fuvest) Estas fotos retratam alguns dos tipos de formação vegetal nativa encontrados no território
nacional.
Correlacione as formações vegetais retratadas nas fotos às áreas de ocorrência indicadas nos mapas abaixo.
814-2
POLISABER 57
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7
ESTUDO ORIENTADO
Caro(a) aluno(a),
Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os vestibu-
lares abordam o assunto das aulas. Na Roda de leitura, há um texto interessante sobre hotspots, e nas seções Pesquisar
e ler, Ver e ouvir, Navegar e Ágora, há sugestões de materiais para ampliar seu repertório sobre os temas estudados.
EXERCÍCIOS
1. (Fatec) Ao pensar em sua infância, José sente- de terra firme, situadas ao norte do arco do desma-
-se nostálgico e se lembra da vegetação carac- tamento. Cabe ressaltar que, em virtude da existên-
terística da região onde morava: árvores de cia do mogno (madeira de grande valor comercial),
cascas grossas e galhos retorcidos e com raí- essa exploração se alarga no oeste do Pará e no
zes muito profundas. Entre uma árvore e outra, norte de Mato Grosso.
havia espaço suficiente para correr e, no inver- III. as atividades agropecuárias concentradas em um
no seco, a vegetação ganhava aspecto amare- arco ao sul da bacia Amazônica, que se estende
lado e, no verão chuvoso, tudo voltava a ficar do nordeste e sul do Pará, e passa pelo norte do
verdinho. Mato Grosso até Rondônia. A pecuária extensiva na
Atualmente, a vegetação de que José se recorda região promove a derrubada de extensas áreas de
não existe mais, tornou-se uma extensa planta- floresta.
ção de soja.
De acordo com o exposto, assinale a opção
É correto concluir que José passou sua infância correta.
no estado a) I e II estão corretas.
a) do Acre. b) II e III estão corretas.
b) de Goiás. c) I, II e III estão corretas.
c) de Roraima. d) Apenas I está correta.
d) do Rio Grande do Sul. e) Apenas II está correta.
e) do Rio Grande do Norte.
3. (Enem)
2. (IBMEC-RJ) A legislação ambiental brasileira tem
sido insuficiente para bloquear a devastação da
Floresta Amazônica, que ocupa 49,3% do territó- Então, a travessia das veredas sertanejas é mais
rio nacional. Na década de 1980, foram devasta- exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos,
dos cerca de 3,5% da superfície total. Hoje, mais o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a
de 12% da área original da floresta já foram des-
truídos, devido, principalmente, a políticas go- perspectiva das planuras francas. Ao passo que a outra o
vernamentais inadequadas, com a expansão da afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-
fronteira de ocupação em direção à Amazônia. -o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com
Entre as razões que justificam o chamado “arco as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos
do desmatamento” na Amazônia Oriental, pode-
estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas
-se corretamente identificar
e léguas, imutável no aspecto desolado; árvore sem
I. a presença de culturas em larga escala na região, folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecru-
como a da cana-de-açúcar e do café, que são inten- zados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se
sas no arco do desmatamento e promovem mais flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de
impactos sociais do que ambientais. No Pará, o go-
tortura, da flora agonizante [...].
verno estadual incentiva esses plantios comerciais
(ao longo da Belém-Brasília e Santarém).
II. a concentração dos polos madeireiros. A explora- CUNHA, Euclides da.
814-2
58 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
AVITS
Restingas
Cerca de uma légua abaixo da confluência do Atibaia
com o Piracicaba, e à margem deste último rio, estava
situada a fazenda das Palmas.
Ficava no seio de uma bela floresta virgem, porventura Oceano
Mata Ciliar
a mais vasta e frondosa, das que então contava a provín-
cia de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em
As APPS estiveram no centro do debate sobre a
campos de cultura. Daquela que borda as margens do reformulação do Código Florestal Brasileiro.
Piracicaba, [...] ainda restam grandes matas, cortadas de Sobre a função ambiental das APPS, é incorreto
afirmar que elas garantem a
roças e cafezais. Mas dificilmente se encontram já aque-
a) margem dos cursos d’água e aumentam o
les gigantes da selva brasileira, cujos troncos enormes assoreamento.
deram as grandes canoas, que serviram à exploração b) estabilidade do solo e previnem deslizamentos.
c) fixação de dunas e a proteção de manguezais.
de Mato Grosso. Daí partiam pelo caminho d’água as ex-
d) recomposição de aquíferos.
pedições que os arrojados paulistas levavam às regiões
desconhecidas do Cuiabá, descortinando o deserto, e
rasgando as entranhas da terra virgem, para arrancar-lhe
RODA DE LEITURA
as fezes, que o mundo chama ouro e comunga como
a verdadeira hóstia.
Hotspots
POLISABER 59
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 7
PESQUISAR E LER
Amazônia em chamas
(direção: John Frankenheimer. EUA, 1994.)
AB’SABER, Aziz Nacib. Amazônia: proteção ecológica com Baseado em fatos reais, o filme conta a vida e o assas-
o máximo de floresta-em-pé. São Paulo: IEA-USP, 1993. sinato do líder Chico Mendes, seringueiro que organizou
Texto fundamental para compreender as limitações eco- os povos da floresta para lutar contra o desmatamento
lógicas da Amazônia para um desenvolvimento econô- provocado pelos fazendeiros.
mico que só é possível se combinado com preservação.
Reforça a noção de sustentabilidade. Brincando nos campos do Senhor
(direção: Hector Babenco. EUA, 1991.)
AB’SABER, Aziz Nacib. Os domínios da natureza no Bra- Um casal de missionários e seu filho pequeno embre-
sil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê, 2003. nham-se na selva amazônica brasileira para catequizar
Obra de referência para conhecer paisagens naturais do Brasil índios ainda refratários à ideia de Deus. Martin Quarrier
e suas dinâmicas ecológicas diante da intervenção humana. (Aidan Quinn) é sociólogo e termina motivado pelas
experiências de outro casal, os Huben. As intenções
NEIMAN, Zysman. Era verde? Ecossistemas brasileiros religiosas e a harmonia entre brancos e índios no local
ameaçados. São Paulo: Atual, 1989. são desestabilizadas pela presença de Lewis Moon (Tom
Livro paradidático que, em linguagem acessível, dá um Berenger), um mercenário descendente de índios esta-
panorama da destruição dos ecossistemas brasileiros ao dunidenses contratado por fazendeiros para bombardear
814-2
60 POLISABER
aula 7 GEOGRAFIA DO BRASIL
ÁGORA
NAVEGAR
A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, expressa uma
Árvores Brasil visão determinista sobre as relações entre o homem e a
www.arvoresbrasil.com.br (acesso em: 13 abr. 2014) natureza no Nordeste. Leia o trecho.
Página dedicada à informação sobre espécies arbóreas do
Brasil e defesa do reflorestamento, com textos e mapas “Uma categoria geográfica que Hegel não citou.”
sobre os biomas brasileiros. “Hegel delineou três categorias geográficas com
elementos fundamentais colaborando com outros no
Ibama reagir sobre o homem, criando diferenciações étnicas:
www.ibama.gov.br (acesso em: 13 abr. 2014) as estepes de vegetação tolhiça, ou vastas planícies
Por ser oficial, é uma das páginas mais confiáveis e de áridas; os vales férteis, profusamente irrigados; os
melhor qualidade sobre o tema ambiental, com dados litorais e as ilhas.”
e análises completas dos biomas brasileiros e sua “Aos sertões do norte, porém, [...], falta um lugar no
biodiversidade. quadro do pensador germânico.”
S E N H A
POLISABER 61
GABARITO: GEOGRAFIA DO BRASIL – AULAS 4 A 7
3. F – F – V – V – V Estudo orientado
1a afirmação. Falsa. A imagem exibe um tipo de ero-
1. d
são classificada como ravinamento, que ocorre em razão
Na Amazônia, predominam duas massas de ar, a MEA
da fragilidade do solo, escassa vegetação e concentração
(massa equatorial atlântica) e a MEC (massa equatorial
de chuvas que provocam enxurradas desnudando o solo.
continental). A MEC é quente e muito úmida, uma vez
2a afirmação. Falsa. A área apontada na imagem
que 50% de sua umidade provém da evapotranspiração
está sujeita ao processo de desertificação, resultante do
da Floresta Amazônica. Essa massa de ar influencia a
uso do solo aliado a um ecossistema frágil; não se pode,
Amazônia ocidental e, no verão, atinge o Centro-Oeste,
portanto, relacionar o processo ao aquecimento global.
o Sudeste e o Nordeste. Portanto, os desmatamentos e
3a afirmação. Verdadeira. A erosão constitui um dos as queimadas na Amazônia podem interferir na evapo-
impactos mais imediatos do processo de desertificação, transpiração e causar diminuição do aporte de umidade
expondo o solo a um intenso desgaste e ao transporte que chega a várias porções do território nacional.
de material sedimentar.
4a afirmação. Verdadeira. O processo de ravinamento 2. e
resulta do uso incorreto do solo, da retirada da cobertura A cidade A apresenta clima equatorial, quente, com
vegetal, do pisoteio do gado, de cultivos inadequados ou baixa amplitude térmica, úmido, com altos índices pluvio-
de sistema inadequado de irrigação. métricos anuais (dominância de chuvas de convecção) e
5a afirmação. Verdadeira. O ravinamento mostrado período com menor pluviosidade entre julho e outubro.
na figura é condicionado pelo escoamento da água su- A cidade B apresenta clima subtropical, com invernos
perficial (erosão linear) e pode evoluir para a forma de rigorosos, maior amplitude térmica anual e distribuição
814-2
62 POLISABER
GABARITO: GEOGRAFIA DO BRASIL aulas 4 a 7
3. d 7.
No Sudeste, predominam climas tropicais (litorâneo, a) A região Norte do Brasil apresenta um importante
típico e de altitude), e as chuvas estão concentradas no crescimento de atividades econômicas como o agrone-
verão; portanto, é o período em que os reservatórios das gócio e a mineração, exigindo maior aporte de energia.
hidrelétricas estão mais abastecidos de água, propiciando O próprio crescimento da economia e do consumo em
maior geração de energia. No Nordeste, o inverno é o outras regiões do país aumenta a demanda por energia
período mais favorável à geração de energia eólica, em elétrica. Assim, o governo federal tomou a decisão de
razão da maior velocidade dos ventos, principalmente no implantar novas hidrelétricas na Amazônia, por exemplo:
litoral e no sertão semiárido. Belo Monte, no rio Xingu (PA), e Santo Antônio e Jirau, no
rio Madeira (RO).
4. b) A energia solar tem um enorme potencial devido
Aquíferos são formações geológicas com depósitos ao elevado índice de insolação durante o ano nas sub-
de água subterrânea, delimitando a zona porosa do -regiões do agreste e do sertão semiárido do Nordeste.
estrato rochoso. O aquífero Guarani caracteriza-se pela A maior regularidade e velocidade dos ventos no litoral
presença de arenitos originários de sedimentação do pe- dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte favorece
ríodo Triássico entremeados por extrusões de basalto de a energia eólica. A energia maremotriz tem potencial
baixa permeabilidade que, embora dificulte a reposição principalmente nas áreas com maior diferença entre a
do reservatório, isola-o e evita sua evaporação. maré alta e a maré baixa.
O aquífero Guarani é o maior reservatório do planeta, c) Eis algumas características ambientais da bacia
estendendo-se por regiões da Argentina, do Uruguai, do hidrográfica do Paraná:
Paraguai e numa grande porção do centro-sul brasileiro, • presença de rios perenes com expressivo volume de
caracterizando o desafio político de sua exploração e água;
manejo, sob a responsabilidade de diversos países. • rios de planalto com importante potencial hidrelétrico;
• rios com regimes vinculados aos climas tropical, tro-
5. b pical de altitude e subtropical;
As planícies fluviais (as populares “várzeas”) são
• drenagem de superfícies planálticas com solos favo-
superfícies planas caracterizadas pelo processo de se-
ráveis à agricultura como os latossolos e os latossolos
dimentação. Ou seja, todos os anos, no período chuvoso,
roxo (terra-roxa);
os rios ficam cheios, transbordam e causam inundações
naturais que permitem a deposição de partículas mine- • presença de importantes aquíferos com água subter-
rais e matéria orgânica. Portanto, o uso indicado para rânea, como o Guarani.
as planícies fluviais é a conservação do ecossistema
natural (matas ciliares) e a implantação de áreas verdes Aula 7
com finalidade ecológica e de lazer. Mas não foi o que
se verificou na Grande São Paulo, onde a urbanização e Estudo orientado
a construção de avenidas avançaram sobre as várzeas.
A impermeabilização do solo na região metropolitana de 1. b
São Paulo é a principal causa das grandes enchentes. A A vegetação descrita corresponde à formação do
água não consegue se infiltrar e escoa superficialmente cerrado e, portanto, como menciona corretamente a
de forma rápida e em grande volume; assim, os rios alternativa b, é encontrada no estado de Goiás.
como o Tietê não conseguem dar vazão e transbordam. a e c – incorretas: o Acre e Roraima correspondem
A retificação dos rios e a construção de avenidas em à Floresta Amazônica;
fundos de vale também concorrem para os episódios d – incorreta: o Rio Grande do Sul corresponde às
mais severos de enchentes. A afirmação III está incorreta, pradarias e à mata de araucárias;
pois a Mata Atlântica na área de nascente do rio Tietê e – incorreta: o Rio Grande do Norte corresponde
está preservada. em parte à caatinga e em parte à vegetação original da
Mata Atlântica.
6. d
No Rio Grande do Norte, a bacia hidrográfica do rio 2. b
Piranhas-Açu abastece o maior número de adutoras. O item I está incorreto, pois na Amazônia Legal – prin-
Obs.: A simples análise do mapa não permite iden- cipal causa de desmatamento –, predomina a expansão
tificar a alternativa correta. É preciso saber onde fica a da pecuária bovina de corte, seguida da agricultura co-
bacia do rio Piranhas-Açu. mercial de soja, por exemplo, e da agricultura de subsis-
814-2
POLISABER 63
GEOGRAFIAGEOGRAFIA
GABARITO: DO BRASIL DOaulas 13 e 14 aulas 4 a 7
BRASIL
3. a
Como diz corretamente a alternativa a, o texto faz
referência a uma paisagem típica da caatinga, e expres-
sões como “trama espinescente” (espinhosa), “folhas
urticantes”, “gravetos em lança” e “árvores sem folhas”
remetem a uma vegetação adaptada à baixa umidade –
as xerófilas.
b – incorreta: formações florestais latifoliadas são
compostas por porte arbóreo, perene e heterogêneo,
típico dos climas tropicais e equatoriais com elevada
pluviosidade;
c – incorreta: a vegetação de transição para matas
de grande porte é composta por porte arbóreo;
d – incorreta: os elementos do texto indicam adap-
tação à seca e não à salinidade;
e – incorreta: o texto não indica homogeneização da
vegetação – que geralmente ocorre em áreas mais frias –
ou presença de vegetação perenifólia – formações que
não perdem folhas com a mudança da estação do ano.
4.
a) O bioma referenciado no texto é a Mata Atlântica,
hoje já muito devastada, restando apenas refúgios em
áreas e unidades de conservação.
b) A cultura cafeeira se expande para o oeste paulista,
ocupando as áreas do Planalto Ocidental.
c) O bioma do atual estado do Mato Grosso é o
cerrado, cuja ocupação está associada aos cultivos
agropecuários.
5. a
As áreas de preservação permanente (APP), como as
matas ciliares (de galeria), em planícies fluviais ao longo
dos rios, que protegem as margens contra a erosão e
diminuem o assoreamento dos rios.
814-2
64 POLISABER
GABARITO – GEOGRAFIA DO BRASIL – CADERNO 2
Aula 4 2. c
Secas no Sertão nordestino se justificam pela pre-
EXERCÍCIOS sença de massas de ar que perderam umidade e se
tornaram secas até atingirem essa região. A grande
quantidade de chuvas na região amazônica se justi-
fica pela presença da Massa Equatorial Continental,
1. b bastante úmida.
O caminho traçado no mapa atravessa regiões que
envolvem a serra do Espinhaço e o vale do rio São
3. a
Francisco.
Trata-se de massas de ar frias que avançam no
inverno pela porção meridional da América do Sul,
2. a provocando chuvas e quedas de temperaturas.
A bacia hidrográfica do Pantanal apresenta rios per-
manentes, de lento escoamento, bastante navegáveis 4. b
e de reduzido potencial hidrelétrico. a) Clima subtropical.
b) Clima tropical semiárido.
3. b c) Clima equatorial.
O domínio dos Mares de Morros apresenta formas de d) Clima tropical continental.
relevo arredondadas (mamelonares), florestas tropi-
cais, a exemplo da Mata Atlântica, e climas úmidos, 5. O climograma de número 3, cidade de Cuiabá, retra-
tropicais e subtropicais. ta bem o clima tropical continental, e a vegetação
do Cerrado está representada pela foto de letra D.
Na vegetação do Cerrado, há árvores de troncos
4. A erosão hídrica consiste no transporte de mate-
tortuosos e de cascas grossas, sendo as folhas
riais em forma de porções de solo, causada por es-
de tamanho reduzido. O clima tropical continental
coamentos ou precipitações de diversos tipos, com
apresenta estação chuvosa no verão e seca no in-
destaque para as chuvas. Esse processo é provo-
verno, bem definidas.
cado principalmente por fatores como pluviosidade
elevada e intensa declividade dos terrenos.
Aula 7
5. a) As cores escuras resultam de sedimentos da flo-
resta amazônica.
EXERCÍCIOS
b) As ilhas são resultantes de sedimentos deposita-
dos e transportados pelos rios da região, ao longo
de milhares de anos. A presença das florestas
1. d
representa uma extensão das formações vege-
1 (Cerrado), 2 (Caatinga), 3 (Mares de Morros).
tais locais. Nas ilhas, as formações vegetais estão
O Cerrado apresenta vegetação de savanas, enquanto a
adaptadas a longos períodos de inundação.
Caatinga apresenta clima tropical semiárido e os Mares
de Morros apresentam vegetação de Mata Atlântica.
POLISABER 65
GEOGRAFIA DO BRASIL gabarito
3. a 4. c
A Mata Atlântica, explorada desde o período pré- As formações vegetais são Mata Atlântica (faixa
-colonial brasileiro, foi desmatada para ceder espaço litorânea e parte do interior), Mata de Araucária (sul
às atividades urbanas e à agropecuária, além de ter do Brasil), Cerrado (Brasil central), Caatinga (Sertão
fornecido madeira para diversas atividades. nordestino) e Pantanal (parte do MT e MS).
66 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL 3
814-3
DIVULGAÇÃO
GEOGRAFIA
GEOGRAFIA DO BRASIL
DO BRASIL aula 8 – AULA 8
0016
suas proximidades, densamente povoadas, e o interior, com diante da transição demográfica no Brasil.
2 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL
Boa Vista
Macapá Belém
Manaus
São Luís
Fortaleza
Teresina Natal
João Pessoa
Recife
Porto Velho Palmas
Rio Branco
Maceió
Aracaju
Salvador
Brasília
Itabuna
Cuiabá
Goiânia
Belo
Horizonte
Vitória
Campo Grande
Campinas Rio de Janeiro
São Paulo
DENSIDADE Curitiba
POPULACIONAL
Joinville
Por km2 Por m2
Florianópolis
2 5,2
5 13 Caxias do Sul
25 65 Porto Alegre
100 259
AVITS
268 km
Observe que estados como do Amazonas, Mato Grosso e Minas Gerais têm áreas com altas densidades demográficas e, ao
mesmo tempo, áreas com baixa densidade demográfica.
Fonte: IBGE. Sinopse do Censo Demográfico 2010. IBGE: Rio de Janeiro, 2011.
População (R)
814-3
Fonte: ALVES, J. E. D.; BRUNO, M. A. P. População e crescimento econômico de longo prazo no Brasil: como aproveitar a janela de oportunidade demográfica?
Associação brasileira de estudos populacionais. Disponível em: www.abep.org.br (acesso em: 12 maio 2014)
POLISABER 3
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8
Nesse processo, o crescimento natural declina após um pouco mais complexo. Com os avanços da ciência
um período de elevação, como se vê no gráfico da pá- bioquímica e da saúde pública, que levaram à desco-
gina anterior, contradizendo as teses que previam uma berta de novos medicamentos e tratamentos, além das
explosão demográfica nas décadas de 1940 e 1950, melhorias no saneamento básico proporcionadas pelo
principalmente em países subdesenvolvidos. Inspiradas poder público a partir do início do século XX, verificou-se
em números que apontavam um crescimento de mais uma queda nos índices de mortalidade em alguns países
de 50% da população mundial entre 1900 e 1950, essas subdesenvolvidos, algo que já ocorrera no século XIX com
teses retomavam uma velha discussão na demografia: o os países desenvolvidos. Colaboraram para essa queda a
acelerado crescimento populacional é um obstáculo ao maior industrialização, a urbanização e o nível educacional.
desenvolvimento econômico e social das nações? Para Como as taxas de natalidade ainda permaneciam altas,
a então chamada teoria neomalthusiana, a resposta era o que se observava inicialmente era, de fato, um grande
sim, e, em consequência, os países subdesenvolvidos crescimento demográfico. Depois, a natalidade declina,
deveriam adotar uma política de controle de natalidade especialmente a partir da década de 1960, com a intro-
para sair da situação de pobreza. Mas a real justificativa dução de métodos contraceptivos mais eficazes como a
dos que defendiam essa teoria era o medo, sobretudo pílula anticoncepcional e o DIU (dispositivo intrauterino) e a
nos países do Primeiro Mundo, do crescimento explosivo prática generalizada da laqueadura (esterilização feminina).
da pobreza nos países subdesenvolvidos e de que ela Assim, também o crescimento vegetativo declina ao longo
comprometesse seu bem-estar. dos anos seguintes e, com ele, as taxas de fecundidade,
Estudos realizados por demógrafos da Universidade ou seja, o número médio de filhos por mulher entre 15 e
de Princeton, nos EUA, revelavam que esse processo era 49 anos, como vemos no gráfico a seguir.
3,16
2,47 2,69 2,38
2,06 2,1 1,7 2,24 1,78 2,25 1,92 1,9
AVITS
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil
O conhecimento das estruturas etária e sexual da população é fundamental para a ação planejadora do Estado bra-
sileiro – nos níveis federal, municipal e estadual –, para que suas medidas alcancem o bem-estar social. É a partir dos
dados obtidos pelo IBGE nos censos demográficos que se podem prever a necessidade de geração de empregos para
absorver o contingente populacional que ingressa no mercado de trabalho, o número de vagas necessárias a criar nos
diversos níveis escolares, o número de leitos hospitalares, a ampliação das infraestruturas de transporte, saneamento
e energia, entre outras demandas que exigem a ação planejadora do Estado no espaço geográfico.
As pirâmides etárias
As pirâmides etárias são gráficos que relacionam habitantes de uma região, país, estado ou município segundo o sexo
814-3
4 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL
80 +
Homens
75 a 79
70 a 74 Mulheres
65 a 69
60 a 64
55 a 59
50 a 54
45 a 49
40 a 44
35 a 39
30 a 34
25 a 29
20 a 24
15 a 19 Fonte: IBGE. Projeção da população por sexo e idade:
10 a 14 Brasil 2000-2060.
5a9 Disponível em: www.ibge.gov.br/home/presidencia/
0a4 noticias/imprensa/ppts/000000144256081120135633291
10 8 6 4 2 0 2 4 6 8 10 (em milhões) 37649.pdf (acesso em: 31 maio 2014)
POLISABER 5
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8
Pirâmides etárias do Brasil de momentos diferentes revelam as mudanças demográficas da redução das taxas de
natalidade e fecundidade e do aumento da expectativa de vida, evidentes na diminuição da base do gráfico (devido à
diminuição do número de jovens) e no aumento do topo (com o maior número de idosos). Essas mudanças confirmam a
ideia de transição demográfica apresentada antes, pela qual o Brasil e outros países em desenvolvimento se aproximam
de padrões de crescimento demográfico e de estrutura etária de países desenvolvidos.
100%
65 ou +
15 – 64
0 – 14
80%
60%
40%
20%
AVITS
0% Ano
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
As recentes mudanças demográficas no Brasil quanto às faixas etárias permitem algumas reflexões para além dos
dados. O acelerado aumento do número de idosos e a redução do número de jovens têm consequências diretas na
economia, como a futura redução da oferta de mão de obra disponível. Por enquanto, vivemos uma oportunidade única
de oferta de mão de obra – a chamada “janela demográfica”, quando o número de adultos em idade ativa para o traba-
lho supera a soma do número de jovens e de idosos. No entanto, apesar de numericamente abundante, nossa massa
trabalhadora carece de maior qualificação, o que exige investimento em melhorias na educação em todos os níveis,
ainda um grande desafio para o poder público.
Outro aspecto a destacar é o aumento dos gastos com a previdência social, devido ao maior número de aposentados.
Em alguns países desenvolvidos e também no Brasil, o Estado fez reformas no sistema previdenciário para tentar se
adequar a essa nova realidade, por exemplo, aumentando a idade para se obter aposentadoria.
Apesar das mudanças em curso, ainda temos uma grande proporção de jovens na população total, o que reforça a
necessidade de investimentos em educação básica e superior.
Vale ressaltar que a distribuição das faixas etárias se distingue por regiões, tendo a Amazônia e o Nordeste menos
814-3
6 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL
População com
menos de 14 anos (%)
20,8 a 22,4
22,9 a 24,8
25 a 25,9
26,6 a 29,2
30,9 a 33,7
396 km
População com
mais de 70 anos (%)
2,1 a 2,9
3 a 3,8
3,9 a 4,4
4,7 a 5
5,1 a 6,1
MAPAS: AVITS
396 km
POLISABER 7
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8
Brasil: Taxa de população masculina (número de homens para 100 mulheres em 2000)
Número de homens
para 100 mulheres
em 2000
117
110
103
100
98
94
89 280 km
AVITS
Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli Aparecida de. Atlas do Brasil: dinâmicas e disparidades do território. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2009.
Notamos que no litoral e nos grandes centros urbanos, há nítida predominância de mulheres, pois o afluxo de jovens
das zonas rurais para os grandes centros para trabalhar como empregada doméstica ainda é grande. Já no interior das
regiões Centro-Sul e Nordeste, a maior proporção de mulheres se deve à partida dos homens que migraram para as
chamadas zonas de ocupação pioneira, como o oeste da Bahia, a região Centro-Oeste e a Amazônia, sobretudo no “arco
do desmatamento”, zonas em que há necessidade de mão de obra pouco qualificada, mas dotada de força muscular
para a derrubada da mata. Nesses lugares, não encontramos qualquer equipamento público de saúde e educação, pois
em geral não são famílias que se estabelecem, mas homens que as deixaram nas suas regiões de origem, onde suas
esposas são chamadas de “viúvas de marido vivo”. Muitos se encontram na situação de escravidão por dívida, uma
814-3
8 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL
Uma geografia de gênero propõe ir além das constatações demográficas da distribuição territorial de homens e mu-
lheres e levar em conta o papel ativo das mulheres no processo de organização do espaço, porque vivemos em uma
sociedade onde ainda predominam valores derivados de uma herança patriarcal familiar burguesa, na qual se tratam as
mulheres como seres dóceis, emotivos e inferiores aos homens, colocando-as em uma posição subalterna e vitimando-
-as de preconceito, restrições e discriminações, apesar de todas as mudanças sociais, culturais, técnicas, políticas que
vivemos no último século.
Entretanto, já há algum tempo as mulheres se mobilizam em movimentos feministas que questionam sua discriminação
no trabalho, no salário e na violência a que estão sujeitas e reivindicam igualdade de direitos em relação aos homens
na política, nos sindicatos, nas empresas e na família.
Brasil: média salarial entre homens Brasil: média salarial entre profissionais
e mulheres (2010) homens e mulheres de jornalismo
(em reais) Homens
Regiões
9 000 Mulheres
Centro-Oeste
R$ 8 500
8 000
7 000
Sul
R$ 6 507
6 000
R$ 5 640
5 000
R$ 5 281
Sudeste
R$ 4 500
4 000
R$ 1 753
R$ 3 793
Nordeste 3 000
Masculino
R$ 1 191
ILUSTRAÇÕES: AVITS
R$ 2 525
Feminino 2 000
R$ 2 109
Norte
1 000
Salários
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 Mínimos 0
Médio Superior Superior Mestrado Doutorado
completo incompleto completo
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010. Fonte: Estadão. Blog José Roberto de Toledo.
Disponível em: http://censo2010.ibge.gov.br (acesso em: 29 jun. 2014) Disponível em: http://blog.estadao.com.br /vox-publica/tag/emprego
(acesso em: 29 jun. 2014)
Os dados mostram que ainda há discriminação de gênero no Brasil.
Entre a PEA, a taxa de desemprego tem evoluído como mostra o gráfico a seguir.
POLISABER 9
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8
10,0
setor secundário
9,0
5,0
4,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
setor terciário
No Brasil, a taxa anual de desemprego entre a PEA
É o setor econômico relativo aos serviços, que são
vem declinando.
produtos não materiais que pessoas ou empresas
Fonte: IBGE. Séries históricas e estatísticas. Disponível em: http://
seriesestatisticas.ibge.gov.br/lista_tema.aspx?op=0&de=19&no=7 prestam a terceiros para satisfazer determinadas ne-
(acesso em: 31 maio 2014) cessidades. Como atividades terciárias podemos citar:
comércio, educação, saúde, telecomunicações, serviços
O estudo da PEA é um instrumento importante para de informática, seguros, transporte, serviços de limpeza,
avaliar o desempenho da economia do país e suas serviços de alimentação, turismo, serviços bancários e
transformações ao longo do tempo, subsidiando o pla- administrativos, transporte etc.
nejamento econômico e social, principalmente quando As mudanças econômicas verificadas no Brasil nas
se considera a distribuição dessa população segundo os últimas décadas se refletem na alteração da composição
diversos setores da economia: da PEA em seus três setores, como vemos a seguir.
69,0
60
60,7
58,1
56,5
54,4
54,0
50
45,0
44,3
40
38,0
30
33,0
30,0
26,2
25,0
20
22,9
22,8
22,8
21,4
20,6
20,6
19,8
17,8
17,0
14,0
10
13,1
12,7
GRÁFICOS: AVITS
10,0
0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2001 2005 2011
814-3
Fonte: IBGE. Anuário estatístico do Brasil 1978, 1982, 1994, 1995; Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2001, 2005, 2011.
Disponível em: www.ibge.gov.br (acesso em: 31 maio 2014)
10 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL
EXERCÍCIOS
1. (IBMEC-RJ)
Menos crianças
Variação da população
(de 0 a 4 anos)
20
16 423 700 16 521 114 16 375 728
13 811 805
14
11 193 389 13 796 159
8 370 880
8
6 439 650
2
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
2,4 2000
Total da população
1,9 2010
5,1
Mulheres mais pobres*
3,6
GRÁFICOS: AVITS
1,2
Mulheres mais ricas**
1,1
*Renda per capita inferior a R$ 70 **Renda per capita superior a R$1 020
814-3
POLISABER 11
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8
A diferença entre o número médio de filhos das mu- voltadas para a redução dessa diferença, na
lheres mais pobres e mais ricas no Brasil caiu significa- fase adulta, incluem:
tivamente na década passada. Dados do censo do IBGE a) a geração de emprego na construção civil e a vaci-
nação contra a gripe.
tabulados pelo Ministério do Desenvolvimento Social
b) a implementação de programa de saúde direcionado
revelam que a maior redução da fecundidade aconteceu à população feminina e a vacinação contra a hepatite.
entre a população que vive abaixo da linha de miséria, c) o controle da natalidade e o uso de equipamento de
com menos de R$ 70 per capita mensais. proteção individual no trabalho.
d) a geração de emprego direcionada à população mas-
A respeito da queda das taxas de fecundidade culina e a redução da mortalidade infantil.
no Brasil, e considerando os dados acima, todas e) a redução da criminalidade e a implementação de
as afirmativas a seguir estão corretas, EXCETO programa de saúde direcionado à população mas-
UMA. Assinale-a: culina.
a) Um número menor de crianças facilita a tarefa
do poder público de aumentar os investimentos 3. (UERJ)
per capita na infância, e também na sustentabilidade
da Previdência, pois chegou o momento de os idosos A década do emprego formal no Brasil
ocuparem seu espaço numa sociedade cada vez
mais envelhecida. com carteira
b) A queda da fecundidade em todas as faixas de renda
tem impactos significativos em políticas públicas, 54,8%
pois, com os dados, se dependesse só da população
de crianças de até 4 anos, o país já estaria em ritmo 63,9%
acelerado de encolhimento populacional.
c) A taxa de fecundidade caiu mais entre mulheres de
sem carteira
menor renda, enquanto isso, entre a população mais % sobre os
rica, a taxa média de filhos por mulher praticamente 36,8% empregados
se estabilizou próximo ao patamar de apenas um 2000
filho por mulher.
AVITS
28,5% 2010
d) Vendo reduzir rapidamente o número de crian-
ças e simultaneamente crescer o número de Fonte: O Globo, 28 abr. 2012 (adaptado)
pessoas mais velhas, no Brasil, surgem novas exi-
gências de políticas públicas, além de inserção dos De acordo com o gráfico, o mercado de trabalho
idosos na vida social, que têm estrutura para atendê- formal no Brasil se ampliou na última década.
-los considerada precária. Cite duas vantagens para os trabalhadores
e) Com a maior queda da taxa de fecundidade ocorrendo nacionais propiciadas pela carteira assinada e
no grupo mais pobre, as famílias numerosas passaram duas vantagens para o governo brasileiro decor-
a ser exceção, e não mais a regra, pois do total de rentes da ampliação desse benefício.
mulheres abaixo da linha da miséria, 57% têm dois
filhos ou menos, e somente 18%, cinco filhos ou mais.
4. (UECE) O censo demográfico de 2010 do IBGE
informa que o Brasil ultrapassou 190 milhões
2. (UFG) Leia as informações a seguir.
de habitantes. Analise as seguintes afirmações
sobre as características da população brasileira:
De acordo com dados do IBGE, a distribuição da po-
pulação brasileira por gênero se enquadra nos padrões I. A população brasileira está irregularmente distri-
mundiais; nascem mais homens que mulheres. Entre- buída em seu território.
tanto, as pirâmides etárias, na fase adulta, mostram II. A região Nordeste é a segunda mais populosa do
país, no entanto, a sua densidade demográfica é
uma parcela ligeiramente maior de população feminina.
baixa.
Segundo esse órgão, em 2010, a população brasileira III. O processo de industrialização da região Sudeste
compreendia 49,2% de homens e 50,8% de mulheres. não contribui para que esta seja a mais populosa
do país.
Disponível em: www.ibge.gov.br
(acesso em: 26 nov. 2012) Está correto o que se afirma em:
a) I e III apenas.
O texto menciona a existência de uma diferença b) II e III apenas.
entre o número de homens e mulheres na popu- c) I, II e III.
lação brasileira. Algumas medidas diretamente d) I e II apenas.
814-3
12 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL
5. (Fuvest) Os gráficos a seguir representam a composição da população brasileira, por sexo e idade, nos
anos de 1990 e 2013, bem como sua projeção para 2050. Observe que, para cada ano, está destacado o
percentual da população economicamente ativa (PEA).
40
20
0 (em milhões)
1,2 0 1,2
40
20
0 (em milhões)
1,2 0 1,2
60
idade
40
64% da
20 população
total
GRÁFICOS: AVITS
0 (em milhões)
1,2 0 1,2 *projeção
Com base nas informações anteriores e em seus conhecimentos, atenda ao que se pede.
a) Na atualidade, o Brasil encontra-se no período denominado “janela demográfica”. Caracterize esse período.
b) Analise a pirâmide etária de 2050 e cite duas medidas que poderão ser tomadas pelo governo brasileiro para garantir
o bem-estar da população nesse contexto demográfico. Explique.
814-3
POLISABER 13
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8
ESTUDO ORIENTADO
Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os ves-
tibulares abordam o assunto das aulas. Na roda de leitura, um texto de Dráuzio Varela sobre planejamento familiar,
e veja também as sugestões nas seções pesquisar e ler, ver e ouvir, navegar e ágora, para ampliar seu repertório
sobre os temas estudados.
EXERCÍCIOS
1872 31 385 -
Considerando os dados apresentados e seus co- 3. (UFU) O crescimento demográfico está ligado a
nhecimentos: dois fatores: crescimento natural ou vegetativo,
a) Cite e analise duas causas que contribuíram para que corresponde à diferença entre nascimentos
o crescimento da população, no município de São e óbitos verificada numa população, e a taxa de
Paulo, no período de 1940 a 1970. migração, que é a diferença entre a entrada e a
b) Cite e explique uma das causas responsáveis pela saída de pessoas de um território.
desaceleração do crescimento populacional, no Em relação ao crescimento demográfico, anali-
814-3
14 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL
I. Pelo princípio malthusiano, a população tenderia a) Indique a(s) região(ões) do globo com taxa de espe-
sempre a crescer mais do que os meios de subsis- rança de vida ao nascer inferior à média mundial, nos
tência, tornando a fome e a miséria uma realidade intervalos 1965-1970 e 1995-2000. Indique a região
inexorável (PG x PA). Uma alternativa lógica para se representada no gráfico com o melhor desempenho
evitar o desastre populacional seria o controle da na- no aumento de expectativa de vida ao nascer entre
talidade por meio do uso de métodos contraceptivos, os períodos de 1965-1970 e 1995-2000.
aborto, abstinência sexual no casamento etc. b) Por que, entre os períodos de 1965-1970 e 1995-2000,
II. Os avanços da medicina, as medidas de avanço houve aumento da esperança de vida ao nascer em
da higiene pública e a melhoria do padrão de vida todas as regiões indicadas no gráfico?
da população possibilitaram uma forte redução da
taxa bruta de mortalidade em todo o mundo. Para
os neomalthusianos, a queda da mortalidade não
tem efeito se não for seguida da redução da taxa de
fecundidade, pois impediria o crescimento econô- RODA DE LEITURA
mico do país. Por isso, a solução seria o controle da
fecundidade por meio de métodos contraceptivos e
esterilização em massa. Planejamento familiar
III. Uma das consequências da queda da fecundidade
brasileira são as taxas de crescimento diferenciadas No Brasil, planejamento familiar é privilégio exclusivo
dos vários grupos etários, com taxas menores para dos bem-aventurados. Sem mencionar números, vou
os grupos mais jovens. Isso tem resultado numa di-
resumir o atoleiro ideológico em que estamos metidos
minuição do peso da população jovem no país e num
aumento da importância do segmento idoso. Essa nessa área.
tendência é chamada de envelhecimento populacio- Até a metade do século XX, poucas famílias brasileiras
nal, pois se dá em detrimento da diminuição do peso deixavam de ter cinco ou seis filhos. Havia uma lógica
da população jovem no total, o que acarreta também razoável por trás de natalidade tão alta:
um aumento da idade média e mediana da população.
1) A maioria da população vivia no campo, numa época
Assinale a alternativa CORRETA. de agricultura primitiva, em que as crianças pegavam
a) Apenas I é verdadeira. no cabo da enxada já aos sete anos. Quantos mais
b) I e III são verdadeiras. braços disponíveis houvesse na família, maior a pro-
c) I e II são verdadeiras. babilidade de sobrevivência.
d) II e III são verdadeiras. 2) Convivíamos com taxas de mortalidade infantil ina-
ceitáveis para os padrões atuais. Ter perdido dois ou
4. (Unicamp) Observe o gráfico a seguir e respon-
três filhos era rotina na vida das mulheres com mais
da às questões:
de trinta anos.
Expectativa de vida ao nascer – por regiões 3) Além da cirurgia e dos preservativos de barreira, não
existiam recursos médicos para evitar a concepção. Na
(em anos) década de 1960, quando as pílulas anticoncepcionais
75 surgiram no mercado e a migração do campo para
75
71 70 a cidade tomou vulto, uma esdrúxula associação de
66 65 forças se opôs terminante ao planejamento familiar
59
56 no país: os militares, os comunistas e a Igreja Católica.
50 52 53
Os militares no poder eram contrários, por julgar
43
defender a soberania nacional: num país de dimen-
sões continentais, quanto mais crianças nascessem,
25
mais rapidamente seriam ocupados os espaços dis-
poníveis no Centro-Oeste e na Floresta Amazônica.
Os comunistas e a esquerda simpatizante, por de-
0
fenderem que o aumento populacional acelerado
rib a
vid es
di a
ca
ia
Ca tin
un di
Ás
ol ís
ri
os
al
M Mé
nv Pa
ica
se
POLISABER 15
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8
O resultado dessas ideologias não poderia ter sido os mais necessitados são condenados aos caprichos da
mais desastroso: em 1970, éramos 90 milhões; hoje, te- natureza na hora de planejar o tamanho de sua família?
mos o dobro da população, parte expressiva aglomerada
em favelas e na periferia das cidades. Suécia, Noruega Gravidez indesejada e violência urbana
e Canadá conseguiriam oferecer os mesmos níveis de
atendimento médico, de educação e de salários para os A irresponsabilidade brasileira diante das mulheres
aposentados, caso tivessem duplicado seus habitantes pobres que engravidam por acidente é caso de polícia,
nos últimos trinta anos? literalmente.
O que mais assusta, entretanto, não é havermos che- Insisto em dizer que o planejamento familiar no Brasil
gado à situação dramática em que nos encontramos; é é inacessível aos que mais necessitam dele. Os casais da
não adotarmos medidas para remediá-la. Pior, é ver não classe média e os mais ricos, que podem criar os filhos
apenas os religiosos, mas setores da intelectualidade por conta própria, têm acesso garantido a preservativos
considerarem politicamente incorreta qualquer tentativa de qualidade, pílula, injeções e adesivos anticoncepcio-
de estender às classes mais desfavorecidas o acesso nais, DIU, laqueadura, vasectomia e, em caso de falha,
aos métodos de contracepção fartamente disponíveis ao abortamento; porque, deixando a falsidade de lado,
a quem pode pagar por eles. estamos cansados de saber que aborto no Brasil só é
É preciso dizer que as taxas médias de natalidade bra- proibido para a mulher que não tem dinheiro.
sileiras têm caído gradativamente nos últimos cinquenta Há pouco tempo, afirmei numa entrevista ao jornal O
anos, mas não há necessidade de consultar os números Globo que a falta de planejamento familiar era uma das
do IBGE para constatarmos que a queda foi muito mais causas mais importantes para a explosão de violência
acentuada nas classes média e alta: basta ver a fila de urbana ocorrida nos últimos vinte anos em nosso país.
adolescentes grávidas à espera de atendimento nos A afirmação era baseada em minha experiência na Casa
hospitais públicos ou o número de crianças pequenas de Detenção de São Paulo: é difícil achar na cadeia um
nos bairros mais pobres. preso criado por pai e mãe. A maioria é fruto de lares
Outra justificativa para a falta de políticas públicas desfeitos ou que nunca chegaram a existir. O número da-
destinadas a universalizar o direito ao planejamento queles que têm muitos irmãos, dos que não conheceram
familiar no país é a da má distribuição de renda: o pro- o pai e dos que foram concebidos por mães solteiras,
blema não estaria no número de filhos, mas na falta de ainda adolescentes, é impressionante.
dinheiro para criá-los, argumentam. Procurados pelos jornalistas, um cardeal e uma au-
De fato, se nossa renda per capita fosse a dos cana- toridade do primeiro escalão federal responderam inci-
denses, a situação seria outra; aliás, talvez tivéssemos sivamente que não concordavam com essa afirmação.
que organizar campanhas para estimular a natalidade. O religioso, porque considerava “muito triste ser filho
O problema é justamente porque somos um país cheio único”, e que “o ideal seria cada família brasileira ter
de gente pobre, e educar filhos custa caro. Como dar cinco filhos”. O outro discordava baseado nos dados que
escola, merenda, postos de saúde, remédios, cesta mostravam queda progressiva dos índices de natalidade
básica, habitação, para esse exército de crianças de- nos últimos vinte anos, enquanto a violência em nossas
samparadas que nasce todos os dias? Quantas cadeias cidades explodia.
serão necessárias para enjaular os malcomportados? Cito essa discussão porque encerra o nó de nossa
A verdade é que, embora a sociedade possa ajudar, paralisia diante do crescimento populacional insensato
nessa área dependemos de políticas públicas, portanto, que fez o número de brasileiros saltar dos célebres 90
dos políticos, e estes morrem de medo de contrariar a milhões em ação do ano de 1970 para os 180 milhões
Igreja. Agem como se o planejamento familiar fosse uma atuais: de um lado, a cúpula da Igreja Católica, que não
forma de eugenia para nos livrarmos dos indesejáveis, aceita sequer o uso da camisinha em plena epidemia
quando se trata de uma aspiração legítima de todo cida- de uma doença sexualmente transmissível como a Aids.
dão. As meninas mais pobres, iletradas, não engravidam De outro, os responsáveis pelas políticas públicas, que,
aos 14 anos para viver os mistérios da maternidade; a para fugir da discussão sobre as taxas inaceitáveis de
mãe de quatro filhos, que mal consegue alimentá-los, natalidade da população mais pobre, usam o velho
não concebe o quinto só para vê-lo sofrer. jargão da queda progressiva dos valores médios dos
É justo oferecer vasectomia, DIU, laqueadura e vários índices ocorrida nas últimas décadas. Dizem: cada
814-3
tipos de pílulas aos que estão bem de vida, enquanto brasileira tinha seis filhos em 1950; hoje, esse número
16 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL
não chega a três. É provável que o argumento ajude a caldo de cultura que contém os três fatores de risco
aplacar-lhes a consciência pública, especialmente quan- indispensáveis à explosão da violência urbana: crian-
do se esquecem de dizer que, enquanto as mulheres ças maltratadas na primeira infância e descuidadas na
de nível universitário hoje têm em média 1,4 filho, as adolescência, que vão conviver com pares violentos
analfabetas têm 4,4. quando crescerem.
Em agosto de 2004, o jornal Folha de S.Paulo pu-
blicou informações contidas no banco de dados do VARELLA, Dráuzio
município, colhidas no período de 2000 a 2004 pela Planejamento familiar
Fundação Seade. A reportagem nos ajuda a avaliar o Disponível em: http://drauziovarella.com.br/mulher-2/
planejamento-familiar
potencial explosivo que a falta de acesso aos métodos
(acesso em: 12 maio 2014)
de contracepção gera na periferia e nas favelas das
cidades brasileiras.
Se tomarmos os cinco bairros mais carentes, situados
nos limites extremos de São Paulo – Parelheiros, Itaim
PESQUISAR E LER
Paulista, Cidade Tiradentes, Guaianazes e Perus –, a pro-
porção de habitantes inferior a 15 anos varia de 30,4% a
33,4% da população. Esses números estão bem acima MORAES, Antonio Carlos Robert. Território e história
da média da cidade: 24,4%. Representam mais do que do Brasil. São Paulo: Hucitec, 2002. (Geografia: Teoria e
o dobro da porcentagem de crianças encontradas nos Realidade, 48/Linha de Frente)
cinco bairros com melhor qualidade de vida. Texto sobre o processo de formação territorial do Brasil
O grande número de jovens, associado à falta de ofer- à luz da ação do Estado e das ideologias geográficas na
ta e trabalho na periferia, fez o nível de desemprego no construção da identidade brasileira.
extremo leste da cidade atingir 23,5% – contra 12,4% no
centro da cidade no ano passado. Ele também explica SCARLATO, Francisco Capuano. População e urba-
por que a probabilidade de um jovem morrer assassina- nização brasileira. In: ROSS, Jurandyr L. Sanches (Org.).
do na área do M’Boi Mirim, na zona sul, é 19 vezes maior Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.
do que em Pinheiros, bairro de classe média. Estudo da população brasileira para além dos dados
Nem haveria necessidade de números tão contun- demográficos, abrangendo uma geografia da população
dentes para tomarmos consciência da associação de pela abordagem socioespacial.
pobreza com falta de planejamento familiar e violência
urbana: o número de crianças pequenas nas ruas dos DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidada-
bairros mais violentos fala por si. O de meninas em idade nia. São Paulo: Moderna, 2004.
de brincar com boneca aguardando atendimento nas Livro com texto didático, explica os conceitos de direitos
filas das maternidades públicas também. humanos e direitos e deveres de cidadania. Em anexo,
Basta passarmos na frente de qualquer cadeia brasi- a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU.
leira em dia de visita para nos darmos conta do número
de adolescentes com bebês de colo na fila de entrada.
Todos nós sabemos quanto custa criar um filho. Cada
criança concebida involuntariamente por casais que não VER E OUVIR
têm condições financeiras para criá-la empobrece ainda
mais a família e o país, obrigado a investir em escolas,
postos de saúde, hospitais, merenda escolar, vacinas, Domésticas – O Filme
medicamentos, habitação, Fome Zero e, mais tarde, na Fernando Meirelles e Nando Olival. Brasil, 2001.
construção de cadeias para trancar os malcomportados. Dentro da nossa sociedade, existe um Brasil notado por
O que o pensamento religioso medieval e as autori- poucos. Um Brasil formado por pessoas que, apesar de
dades públicas que se acovardam diante dele fingem morar dentro de sua casa e fazer parte de seu dia a dia,
não perceber é que, ao negar o acesso dos casais mais vivem como se não estivessem lá. Cinco das integrantes
pobres aos métodos modernos de contracepção, com- desse Brasil são mostradas em Domésticas – O Filme:
prometemos o futuro do país, porque aprofundamos Cida, Roxane, Quitéria, Raimunda e Créo. Uma quer se
814-3
perversamente a desigualdade social e criamos um casar, a outra é casada, mas sonha com um marido
POLISABER 17
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 8
No olho da rua
A desigualdade de gênero diminuiu discretamente
Rogério Corrêa. Brasil, 2010.
no Brasil pelo terceiro ano seguido, revela o relatório
O filme conta uma história a respeito do desemprego no
anual do Fórum Econômico Mundial sobre o tema [...].
Brasil, a desvalorização do trabalhador e a flexibilização
No estudo referente a 2013, o Brasil se destacou em
das relações de trabalho. Na trama, um metalúrgico do
termos de igualdade de acesso a educação e saúde,
ABC Paulista, Otoniel Badaró, 38 anos, é demitido depois
apresentando notas elevadas e compartilhando o pri-
de 20 anos trabalhando na mesma fábrica. Com um filho
meiro lugar mundial nesses dois quesitos. O país, no
pequeno e a esposa grávida, passa a buscar alternativas
entanto, ainda tem um longo caminho a trilhar no que
de sobrevivência depois do desmoronamento da única
diz respeito ao reconhecimento das mulheres no local
fonte de sustento da família.
de trabalho e na vida pública, temas nos quais ainda
amarga posições ruins no ranking.
A nota média brasileira nos quatro critérios analisados
NAVEGAR pelos autores do estudo (poder político, participação
econômica, acesso a educação e saúde) passou de
0,691 em 2012 para 0,695 este ano [de 2013]. Com isso,
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística o Brasil permaneceu em 2013 no 62o lugar entre 136
www.ibge.gov.br (acesso em: 12 maio 2014) países, mesma posição do ano passado. O país, no en-
Site oficial, onde encontramos dados estatísticos e po- tanto, aparece 20 posições acima do que se encontrava
pulacionais oficiais sobre o Brasil. em 2011, quando a desigualdade de gênero voltou a
diminuir, depois de dois anos em alta. Na avaliação dos
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimen- autores, isso mostra o sucesso brasileiro na consolida-
to – Pnud ção dos avanços rumo à igualdade entre os gêneros
www.pnud.org.br (acesso em: 12 maio 2014) nos últimos anos.
Site oficial da ONU, onde encontramos, em particular, o Re- Ao mesmo tempo em que compartilha a liderança em
latório de Desenvolvimento Humano do mundo e do Brasil. acesso a educação e saúde, o Brasil figura na 117a colo-
cação em igualdade salarial entre homens e mulheres, o
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e que o coloca entre os países mais desiguais do mundo
Tecnologia – Ibict. Biblioteca Virtual da Mulher em termos salariais. A situação não melhora muito no
http://mulher.ibict.br (acesso em: 12 maio 2014) que diz respeito ao poder político das mulheres. A baixa
O site especializado no tema mulher e em relações de proporção de mulheres no Congresso Nacional deixa o
gênero, com informações sobre saúde, violência, traba- País na 116a posição nesse tema.
lho, cultura, direitos e participação política, entre outras. Em sua oitava edição, o Relatório Global sobre Desi-
gualdade de Gêneros, do Fórum Econômico Mundial,
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos é considerado um dos principais indicadores sobre o
Socioeconômicos – Dieese progresso dos países rumo à igualdade entre homens
www.dieese.org.br (acesso em: 12 maio 2014) e mulheres. Pelo quinto ano seguido, a Islândia é o país
O site oferece dados sobre população economicamente onde a desigualdade entre homens e mulheres mostrou-
814-3
ativa: sexo e mercado de trabalho, taxas de desemprego etc. -se menor, seguida por Finlândia, Noruega e Suécia.
18 POLISABER
aula 8 GEOGRAFIA DO BRASIL
Ao passo que a desigualdade vem diminuindo paula- emergentes do mundo), aparecendo na 14a posição.
tinamente no Brasil, a porcentagem de redução atingiu Entre os países do Brics, a África do Sul é a mais bem
70% no conjunto dos países da América Latina e do posicionada, na 17a colocação.
Caribe, o que fez dela a região do mundo que registrou
a maior melhoria global no ano. O país latino-americano GOZZI, Ricardo
mais bem posicionado no ranking é a Nicarágua (10o Desigualdade de gênero cai pelo 3o ano seguido no Brasil
lugar), seguida por Cuba (15o), Equador (25o) e Bolívia Agência Estado, 24 out. 2013
(27o). A Argentina figura no 34o lugar, a Colômbia no 35o Adaptado de: www.estadao.com.br/noticias/
e o México no 68o. A Alemanha, por sua vez, lidera en- geral,desigualdade-de-genero-cai-pelo-3-ano-seguido-no-
tre as economias do Grupo dos 20 (G-20, que reúne as brasil,1089298,0.htm
nações mais industrializadas e as principais potências (acesso em: 12 maio 2014)
S E N H A
“Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”
é o título de uma música do grupo O Rappa.
814-3
POLISABER 19
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 9
humano cuja unidade repousa em identidade cultural e desmistificar a ideia de uma democracia étnica no Brasil.
20 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
Para tentar distinguir a origem étnica dos diversos gru- forçou a migração de aproximadamente 3,5 milhões de
pos que compõem a população brasileira, o IBGE adota africanos para algumas áreas no Brasil, dentre as quais
em suas pesquisas a declaração do recenseado quanto à podemos destacar: o litoral do Nordeste no século XVI,
cor de sua pele, oferecendo as seguintes possibilidades: durante a economia canavieira; o Maranhão e a lavoura
branca, parda, preta, outras (indígena e amarela). Sabe- de algodão nos séculos XVII e XVIII; Minas Gerais e parte
mos que, no caso do Brasil, o critério da cor da pele não é do Planalto Central, com a mineração, nos séculos XVII
o mais adequado, pois aqui houve intensa miscigenação. e XVIII; e na região Sudeste, com a cultura cafeeira, no
Além disso, nosso preconceito étnico é camuflado e per- século XIX. Esses números não são seguros, pois, logo
meia as relações sociais, e isso explica o baixo número de após a abolição, a figura republicana do ministro da Fa-
declarantes dos grupos de cor preta ou indígena.
zenda Rui Barbosa mandou recolher e queimar todos os
Em 2012, segundo dados do PNAD (Pesquisa Nacional
documentos relativos à escravidão, para tentar “apagar”
por Amostra de Domicílios), pesquisa realizada pelo IBGE,
da história tão aviltante instituição e impedir que os
com relação à declaração de cor ou raça, 46,2% da popu-
donos de escravos pedissem indenização ao governo.
lação residente era branca (91 milhões); 45,0% parda (88,6
O drama do cativo começava já na partida da África,
milhões); e 7,9% preta (15,6 milhões). O grupo formado
em navios negreiros onde, durante a viagem para o
pelas outras declarações (indígena e amarela) representou
Brasil, doenças, fome e maus-tratos vitimavam de 10%
0,8% (1,6 milhão). A declaração de cor ou raça indica com-
a 20% dos escravos. Vendidos como mercadorias a
portamentos regionais diferentes. Por exemplo, a região
Sul era predominantemente branca (76,8%), enquanto a fazendeiros e senhores em terras brasileiras, sua vida
Norte (70,2%) e a Nordeste (62,5%) tinham maioria parda. se resumia ao trabalho. Vítimas de má alimentação,
Em relação a 2011, reduziu-se no Brasil a participação da trabalho extenuante, epidemias, insalubridade, castigos
população branca em 1,5%. Por outro lado, aumentou 2,0% e tortura aos que tentavam fugir, eles raramente viviam
a participação da população parda. mais do que 15 anos.
Observe o gráfico: O sofrimento da escravidão era legitimado social-
mente por mitos e preconceitos. No universo cultural
Brasil: composição da população difundido pela elite branca, os negros eram tidos como
inferiores, dotados de baixa capacidade intelectual e
60,0% 1991 capazes apenas de fazer serviço pesado. No entanto, as
2000
53,8%
2012
46,2%
40,0%
42,6%
39,1%
10,0%
0,6%
0,8%
0,4%
AVITS
0,0%
branca parda pretos amarelos/
indígenas
A Revolta dos Malês
Comparando os dados de 2012 com 1991 e 2000, houve
um pequeno aumento no número de pessoas que se
declararam pretas. Deflagrada em Salvador, Bahia, em 25 de janeiro de
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991, 2000; Pesquisa Nacional por 1835, esta revolta tem como causa a intolerância religiosa
Amostra de Domicílios (PNAD) 2012. Disponível em: www.ibge.gov.br
(acesso em: 7 jul. 2014) e as péssimas condições sociais que a escravidão dei-
xara numa Bahia da economia canavieira decadente. Os
negros de origem islâmica foram proibidos de professar
As populações negras ou sua fé. Além disso, a mesquita da “Vitória” fora destruída
afro-brasileiras pelo governo e dois importantes líderes religiosos islâ-
micos foram presos. Entre os ideais da revolta estava
O negro foi introduzido na sociedade brasileira como a abolição da escravidão. Tropas imperiais muito mais
mão de obra escrava, no contexto do desenvolvimento armadas controlaram a revolta e puniram seus líderes.
814-3
POLISABER 21
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
Outras inúmeras insurreições e lutas indicam como os povos escravizados resistiam contra essa sociedade escravista.
Um dos pilares dessa luta eram os quilombos, comunidades autossuficientes de escravos foragidos e outros excluídos
que se estabeleceram por todo o território nacional, alguns agregando milhares de pessoas, formando povoados como
o do Ambrósio, em Minas Gerais, e o dos Palmares, em Alagoas. Muitas comunidades de descendentes de quilombos
subsistem ainda hoje; por exemplo, no Vale do Ribeira, em São Paulo, traços culturais africanos e até idiomas próprios
são heranças da luta contra a escravidão.
202 Roraima
Até 202
Comunidades
Acre
Até 100
Comunidades Bahia
DF
Até 40
Comunidades
Até 10
Comunidades
AVITS
Zero
O mapa retrata a quantidade de comunidades quilombolas certificadas pela fundação, ou seja, ainda há muitas outras que
não são reconhecidas pelo governo brasileiro e lutam por esse direito.
Fonte: Palmares Fundação Cultural. Comunidades Quilombolas. Disponível em: http://www.palmares.gov.br/?page_id=88 (acesso em: 7 jul. 2014)
Podemos distinguir dois grandes agrupamentos culturais dos quais descende o negro brasileiro: os sudaneses e os
bantos. Os primeiros são originários da costa ocidental africana, nas proximidades do Golfo da Guiné, e foram introduzi-
dos principalmente na Bahia. Os bantos vieram em maior número das proximidades do vale do rio Congo, atual Angola
e Moçambique.
814-3
22 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
OCEANO
ATLÂNTICO ÁFRICA
Guiné
Lagos
ses
Sudane
es Congo
nes
da
São Luís Su Banto
s
Recife São Paulo
BRASIL
de Luanda
Salvador
Angola
ue
Bantos
biq
Rio de Janeiro
çam
Ban
tos
Mo
734 km
AVITS
Fonte: ALBUQUERQUE, M. M, et. al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1991.
No Brasil, a condição de escravizados impossibilitou a esses grupos a manutenção integral de seus aspectos culturais
e técnicos. Receberam ou perderam certos elementos em virtude dos contatos entre si e com a cultura branca europeia.
A incorporação de elementos da cultura branca deve ser entendida não só como fusão, mas como resistência diante
da opressão do elemento dominante. Devemos a culturas como a dos Haussás, de clara influencia árabe-islâmica, ou
a dos Iourubás vários elementos presentes no Brasil de hoje como vestimentas a instrumentos musicais (tambores,
atabaques, cuícas e afoxés). A contribuição cultural dos povos africanos também se revela na religiosidade (candomblé),
na alimentação (vatapá, acarajé, pé de moleque), na agricultura (cultivo da erva-doce, pimenta) e na mineração (uso da
bateia), entre outras.
Embora não sejam mais escravos institucionaliza-dos – um “bem econômico” de propriedade de outra pessoa –, a
situação dos negros ainda não é de igualdade com os brancos. Grande parte da população negra encontra-se excluída
social e economicamente, com baixa renda e baixa alfabetização, sendo poucos os que chegam à universidade ou
alcançam altos postos em empresas públicas ou privadas e mesmo na política.
Desde a Constituição de 1988, o racismo é um crime inafiançável e imprescritível, mas, apesar da legislação, ele ainda
existe de forma explícita ou disfarçada. No mercado de trabalho, 80% das empregadas domésticas ainda são negras ou
pardas e, em passado recente, os anúncios de emprego exigiam “boa aparência” (implicitamente, ser branco). Ainda há
814-3
POLISABER 23
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
Porém, contra a discriminação e o preconceito, os ne- pré-colombianas cultivadas por milênios e a modernidade
gros têm lutado intensamente desde o período colonial. contemporânea. Existem basicamente duas correntes de
Desde os quilombos, passando pelas primeiras organi- opiniões quanto ao que significa ser índio: para a primeira
zações após a abolição e pelo movimento negro, que se só é índio o indivíduo que tem direito à terra e à proteção
estrutura melhor a partir dos anos de 1970, a superação do Estado, pois nessas condições ele pode conservar
de barreiras sociais e culturais e os destaques em várias suas características culturais originais. Numa segunda
atividades mostram que não é a cor que distingue as visão, antropológica, são índios todos os indivíduos que
pessoas. Embora com divergências entre si, as entidades se autoidentifiquem como tais, sendo reconhecidos pelos
de luta e defesa dos direitos dos negros, contra o racismo seus pares como membros de uma comunidade, não
e pela reparação das perdas causadas pela escravidão importando se houve incorporação de traços de outras
conseguiram instituir o dia 20 de novembro, aniversário culturas, maior ou menor integração à sociedade brasi-
da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, como leira. Dessa forma, alguns grupos como os Xavantes e os
o Dia Nacional da Consciência Negra. Também em razão Bororos estão resgatando sua cultura por meio do ensino
dessa luta, algumas universidades públicas adotaram o da língua nativa através de cartilhas para crianças e adul-
sistema de cotas para ingresso em seus vestibulares, tos. Portanto, a condição de índio é autoatribuída e lhe
como uma medida compensatória. permite resgatar suas raízes culturais com ferramentas
Esse aumento se deve às campanhas de valorização, produzidas por outras culturas.
que têm levado as pessoas a se autodesignarem negras As estimativas de quantos indígenas viviam no Brasil
ou pardas. No entanto, segundo o Ipea (Instituto de Pes- antes da colonização são muito conflitantes. De 6 milhões,
quisa Econômica Aplicada) a distância social entre negros em alguns casos, ou um milhão, em outros.
e brancos ainda é enorme: entre os 10% mais pobres do Os dados mais recentes revelam o abismo entre os
país, 65% são negros e, entre os 10% mais ricos, 86% são grupos indígenas e o restante da população atual. Veja
brancos. A renda média de um homem branco chega a ser alguns dos principais dados da população indígena bra-
98% maior que a de um negro. Os negros correspondem sileira de acordo com o censo de 2010 do IBGE:
a 55% dos trabalhadores sem carteira assinada e ainda população indígena: 896 917 (0,47% da população
ocupam postos de trabalho menos valorizados: 60% dos brasileira);
trabalhadores em construção civil são negros. O acesso terras indígenas: 505 terras indígenas, corresponden-
à saúde é outro indicador: enquanto 44% das mulheres do a 12,5% do território brasileiro, onde vivem 517 383
negras nunca fizeram exame de mama, essa taxa é de índios (57,7% de todos os indígenas);
27% para as brancas. Na educação, em 1976, 5% da número de etnias: 305;
população branca tinha diploma de curso superior aos maiores etnias: Tikúna (46 mil), Guarani Kaiowá (43,4
30 anos. Os negros da mesma faixa etária só atingiram mil), Kaingang (37,4 mil), Makuxi (28,9 mil), Terena (28,8
esse percentual em 2006. Se se considerassem apenas mil) e Tenetehara (24,4 mil);
os dados referentes à população negra, o Brasil ocuparia línguas: 274;
a 105ª posição no ranking do IDH. Se fossem apenas os onde vivem: zonas rurais (63,8%); zonas urbanas
dados dos brancos, ocuparia a 44ª posição. Em 2012, o (36,2%);
Brasil estava na 85ª posição no IDH. distribuição por região: Norte (38,2%), Nordeste
Mas, como vimos, a discriminação atinge até mesmo (25,9%), Centro-Oeste (16%), Sudeste (11,1%) e Sul
os negros que tiveram oportunidade de ascender social- (8,8%);
mente e que chegam a integrar camadas da população estados com maior concentração de índios: Ama-
zonas (20,5%), Mato Grosso do Sul (8,6%), Pernambuco
de renda mais elevada: são barrados em lojas, shopping
(6,8%) e Bahia (6,7%);
centers, bancos, condomínios etc.
terras indígenas mais populosas: Yanomami (Amazo-
nas e Roraima): 25 719, Raposa Serra do Sol (Roraima):
17 102 e Évare I (Amazonas) – 16 686;
Os povos indígenas taxa de alfabetização indígena (15 anos de idade
ou mais): 76,7%;
Os indígenas são um segmento da população brasileira principais troncos linguísticos (falantes com mais de
sob o dilema da adaptação e/ou convivência com a socie- 5 anos de idade): Tikuna (34,1 mil), Guarani Kaiowá (25,5
814-3
dade atual, vivendo na fronteira entre as formas sociais mil), Kaingáng (22 mil) e Xavante (12,3 mi).
24 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
Brasil: comparação da mortalidade A luta pela terra tem sido o grande desafio das co-
infantil indígena e o restante da munidades indígenas e um dos fatores da continuidade
da existência desses povos e da manutenção de suas
população
tradições culturais.
Para fazendeiros, mineradores, empresários e parte
Taxa de mortalidade infantil a cada mil
da opinião pública, os povos indígenas são um obs-
nascidos vivos
táculo ao progresso econômico. Para esses grupos,
os indígenas ocupam muitas terras, enquanto há a
Indígena necessidade de terras para a agricultura. No entanto,
41,9‰ uma análise dos dados do Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária) revela que existem no
Brasil 185 milhões de hectares de terras aproveitáveis
Restante da população para a agricultura mas não exploradas – muito mais
que os 100 milhões de hectares de terras indígenas.
19,0‰
AVITS
de ser considerados “indivíduos relativamente incapazes”. Indígenas: a luta pela terra e pela sobrevivência
POLISABER 25
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
A regularização das terras indígenas envolve identificação, delimitação, demarcação e homologação. Mesmo assim,
os povos sofrem muitas perdas nesse longo processo, e não se garante seu pleno direito aos territórios, que são
alvos de invasões e projetos de construção de estradas, mineração ou geração de energia, resultando em diversos
conflitos. Às vezes, as terras são estranhas, pois não apresentam as mesmas características ambientais como solos,
rios, relevo, microclima etc, dificultando certos aspectos de sua sobrevivência como a caça, a pesca e a agricultura.
As terras também podem ser insuficientes para a sobrevivência, fato que, aliado ao isolamento, desestabiliza os
grupos. Por exemplo, são comuns os casos de suicídio e alcoolismo em muitos grupos indígenas no Brasil.
Dentre recentes conflitos envolvendo a questão indígena no Brasil podemos destacar a luta pela demarcação da
reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. Área habitada por vários grupos indígenas, principalmente os Ianomami,
oficializada em 2005 após anos de obstrução e pressão por parte de fazendeiros locais, que eram contra. Também
os embates envolvendo a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no Pará, obra de grande porte e impacto
para a região e que afetará comunidades indígenas da região do Xingu.
As culturas indígenas contribuíram muito para a formação do Brasil atual como, por exemplo, na língua com
diversas palavras: pipoca, pereba, canoa, biboca, entre tantas outras; na domesticação de espécies alimentícias
como o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o tomate, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o urucu, as cuias e ca-
baças, o abacaxi, o mamão, a erva-mate e o guaraná, além de árvores como o cajueiro, o pequizeiro e o cacaueiro.
Também desenvolveram a técnica de retirar o veneno (ácido cianídrico) da mandioca-brava e torná-la comestível.
Outra contribuição foi a técnica da coivara (manejo de queimada) na agricultura.
RR AP
PA
AM
MA
CE
RN
PB
PI
PE
AC RO
TO AL
SE
BA
PERU MT
DF
GO
BOLÍVIA
MG
MS
ES
SP RJ
CHILE PARAGUAI
OCEANO PR
PACÍFICO
OCEANO
SC ATLÂNTICO
ARGENTINA
RS
Fonte: Povos Indígenas do Brasil – Mirim. Disponível em: http://pibmirim.socioambiental.org/terras-indigenas (acesso em: 3. jun. 2014)
26 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
Imigração
A entrada de estrangeiros no território, ou a imigração para o Brasil, começa em 1808, quando dom João decreta a
abertura dos portos às nações amigas e passa a ser permitido a estrangeiros ser proprietários de terras. Desde então,
se projeta uma migração de aproximadamente cinco milhões de pessoas, cujo auge ocorreu entre 1850 e 1930. Dentre
os fatores que concorreram para isso, destacamos:
1. A necessidade de se povoar a região Sul para garantir a posse do território. Nesse contexto, incentivados por
dom João, casais de açorianos fundaram a cidade de Porto Alegre. Mais tarde, alemães, italianos e eslavos foram
incentivados a migrar devido a doação de terras na serra gaúcha, onde desenvolveram agricultura familiar e a
pequena indústria, fundando cidades como São Leopoldo, Caxias do Sul, Blumenau, Joinville, Bento Gonçalves,
entre outras.
2. A necessidade de mão de obra para a cultura cafeeira, principalmente depois que as leis abolicionistas fizeram
diminuir a oferta de trabalho escravo. Assim, italianos, espanhóis e japoneses se estabeleceram no interior pau-
lista. Mais tarde, com a industrialização na capital e nos arredores, constituíram-se na mão de obra operária das
primeiras fábricas no Brasil.
3. As políticas raciais das elites brasileiras no final do século XIX, que visavam promover a imigração de brancos
europeus, considerados uma “raça” superior aos negros e indígenas. O objetivo era “embranquecer” a população
brasileira diminuindo a proporção de negros descendentes de escravos, que, em sua condição de excluídos, pode-
riam se tornar, na visão dessas elites, uma perigosa classe revoltosa.
Depois de 1930, houve uma queda acentuada da imigração para o Brasil, motivada, entre outros fatores, pela Lei de
Cotas de Imigração da Constituição de 1934, do governo Getúlio Vargas, que estabelecia limites para a entrada de es-
trangeiros, pois muitos eram sindicalistas e militantes anarquistas e comunistas, que reforçariam o movimento operário
contra os patrões.
Nas últimas décadas, registrou-se um maior número de imigrantes nos anos 1950, quando muitos europeus pro-
curavam reconstruir sua vida após a Segunda Guerra Mundial; e nos anos 1970, quando a economia brasileira vivia o
chamado “milagre econômico” e chilenos, argentinos e uruguaios fugiam de ditaduras e dificuldades econômicas em
seu país de origem.
milhares
220
Lei de Terras
Lei de Cotas
180
140
100
60
20
AVITS
0
1808 1850 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1975
814-3
POLISABER 27
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
Brasil: imigração estrangeira (1808-1970) Do Acre buscam chegar à São Paulo, onde o sonho do
“Eldorado” se realizaria. Tal fato, inclusive, tem gerado
4,0% 4,2% polêmica, pois autoridades paulistanas acusam as au-
Alemães toridades do Acre de incentivar a migração para São
Japoneses Paulo, que tem dificuldades para abrigar tal quantidade
31% 13%
Espanhóis de haitianos. Em janeiro de 2012, o Conselho Nacional de
Outros Imigração regulamentou a entrada de haitianos no Brasil,
Italianos permitindo uma cota mensal de 100 vistos obtidos na
Portugueses
embaixada brasileira na capital do Haiti.
17,8% Tanto haitianos como bolivianos acabam sendo trazi-
30% dos ilegalmente por “Coyotes” (traficantes de pessoas)
e caem na rede de trabalho escravo (a escravidão por
Os gráficos mostram a evolução da imigração para o dívida) que algumas empresas praticam no Brasil.
Brasil ao longo do tempo e os principais grupos que
entraram no país.
Fonte: IBGE. Estatísticas do povoamento. Disponível em: http://brasil500anos.
ibge.gov.br/estatisticas-do-povoamento (acesso em: 7 jul. 2014)
Emigração
Recentemente, registra-se a entrada de bolivianos e
As décadas de 1980 e 1990 foram de intensa saída de
haitianos, que vêm em busca de trabalho e melhores
brasileiros (emigração) para outros países, devido à crise
condições de vida, estabelecendo-se em São Paulo e
econômica e ao desemprego crescente. Os principais
trabalhando em pequenas fábricas de roupas, na cons- destinos foram EUA, Japão (com a volta dos descendentes
trução civil e em outras atividades urbanas. dos imigrantes), e Europa ocidental, onde os brasileiros
Desde 2011 um grande número de haitianos tem en- desempenhavam funções que não exigem qualificação
trado no Brasil através do Acre, no município de Basileia. (jardineiros, babás, garçonetes, faxineiras etc.). Também
Estes imigrantes vêm à procura de emprego e melhores se registra a emigração de 500 mil brasileiros sem-terra e
condições de vida, pois a situação em seu país, ainda pequenos agricultores para o Paraguai, adquirindo terras
destruído pelo terremoto em 2010, não é alentadora. A a preços baixos, próximas à fronteira. São os chamados
maioria é de profissionais qualificados como engenheiros, “brasiguaios”, que hoje vivem em conflito com o governo
professores, advogados, mestres de obra e carpinteiros. e os sem-terra paraguaios.
Brasileiros no Paraguai
São Pedro
Canindeyu
PARAGUAI
Alto Paraná
ARGENTINA Assunção
Usina de Itaipu
Alto Caaguazú Foz do Iguaçu
ILUSTRAÇÕES: AVITS
http://veja.abril.com.br/101208/p_106.
shtml (acesso em: 3 jun. 2014)
28 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
Europa
América 911 889
do Norte
1 433 146 Oriente Ásia
Médio 241 608
OCEANO 40 588
ATLÂNTICO
América
central
6 821 África
América 28 824
Oceania
do Sul 53 014
OCEANO
406 923
OCEANO ÍNDICO
PACÍFICO
AVITS
Antártida
24%
22%
17%
13%
9% 9%
7% 7% 7% 7%
As migrações internas
governo federal das colônias agrícolas de Ceres, em Goiás, e Dourados, no Mato Grosso do Sul.
POLISABER 29
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
b) a migração de populações do Nordeste primeiro para o Sudeste, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro,
devido à industrialização; e depois para o Centro-Oeste, durante a construção de Brasília, no governo de
Juscelino Kubitschek, nos anos de 1950. Os candangos, como foram chamados, integraram a força operária
da construção da nova capital do Brasil.
3. a migração de nordestinos e sulistas para a Amazônia, intensificada a partir da década de 1970. Ela foi incen-
tivada por projetos de colonização e reforma agrária governamental e também por projetos agropecuários e
agrominerais da ditadura militar brasileira, em parceria com grandes empresários nacionais e estrangeiros que
expropriavam as riquezas do subsolo e da floresta em nome do progresso. Desse modo também se aliviavam as
tensões sobre a posse das terras no sul e nordeste do país.
Mais recentemente, temos observado a migração de retorno de muitos nordestinos do Sudeste e de outras regiões
para sua terra de origem. As hipóteses desse movimento podem ser a redução e a terceirização do emprego nas indús-
trias no Sudeste; os novos focos de crescimento econômico no Nordeste; e os programas de transferência de renda
do Governo Federal.
Décadas de 50 e de 60 Décadas de 60 e de 70
Décadas de 70 e de 80
MAPAS: AVITS
fluxos migratórios
814-3
Fonte: SANTOS, Regina Bega. Migração no Brasil. São Paulo: Scipione, 1994.
30 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
Quantidade de pessoas
em deslocamento
100 610 - 128 171
266 345
Fonte: POLATO, Amanda. Os fluxos migratórios
390 000 - 403 510
no Brasil. Nova Escola. Disponível em: http://
revistaescola.abril.com.br/geografia/pratica-
456 545
pedagogica/gente-chega-gente-sai-488822.
shtml (acesso em: 3 jun. 2014)
As migrações
Cada vez menos pessoas se mudam para São Paulo
e Rio de Janeiro e muitas saem das capitais para o interior
Anos 70 Anos 90
Quase 50% dos Mais de 5 milhões
10 milhões de de brasileiros
pessoas que se trocaram de
mudaram para cidade, mas
cidades grandes apenas 6% foram
MAPAS: AVITS
Podemos perceber pelos mapas que as direções dos fluxos das migrações internas variam no tempo de acordo com o
desenvolvimento da economia nacional.
Fonte: IBGE. Disponível em: www.ibge.gov.br (acesso em: 7 jul. 2014)
Concluindo, destacamos que a migração não pode ser contabilizada apenas como um dado econômico. Trata-se de um
movimento que envolve conflitos derivados de uma ruptura de quem migra com seu lugar de origem, do distanciamento
familiar, do abandono das imagens de um cotidiano, ou seja, do seu vínculo afetivo com o seu lugar de origem, e da neces-
814-3
sidade de integração ao novo espaço físico e social, que muitas vezes lhe é estranho, hostil, discriminatório e segregador.
POLISABER 31
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
EXERCÍCIOS
32 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
Aponte dois motivos que expliquem o aumento recente da migração de haitianos para o Brasil. Explique a
diferença entre esse fluxo migratório de haitianos para o Brasil e a maioria dos fluxos migratórios instala-
dos no mundo na segunda metade do século XX.
4. (UFPR) Observe a figura abaixo, cujas setas indicam movimentos migratórios ocorridos no Brasil.
Brasil 42 37 43 58 92 60 60 60 51 51 554
MS 13 16 28 28 53 42 33 34 32 31 310
MS(%) 31% 43% 65% 48% 58% 70% 55% 57% 63% 61% 56%
* de janeiro a novembro de 2012
Fonte: www.cimi.org.br (acesso em: 10 jul. 2013)
Com base na tabela e em seus conhecimentos, está correto o que se afirma em:
a) Mato Grosso do Sul é o estado que concentra o maior número de indígenas no país, segundo o Censo Demográfico
2010, o que explica o percentual elevado de sua participação no número total de indígenas assassinados.
b) O número de indígenas assassinados no país diminuiu, principalmente, no Mato Grosso do Sul, em função do maior
número de homologações de terras indígenas, efetivadas por pressão da bancada ruralista no Congresso Nacional.
c) No Mato Grosso do Sul, a maior parte dos conflitos que envolvem indígenas está relacionada com projetos de
construção de grandes usinas hidrelétricas.
d) O grande número de indígenas assassinados no Mato Grosso do Sul explica-se pelo avanço da atividade de extração
de ouro em terras indígenas.
e) No período abrangido pela tabela, a participação do Mato Grosso do Sul no total de indígenas assassinados é muito
814-3
POLISABER 33
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
ESTUDO ORIENTADO
Caro aluno,
Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os vesti-
bulares abordam o assunto das aulas. Na roda de leitura, um texto sobre a luta pela demarcação das terras indígenas
no Brasil lhe permitirá ampliar o conhecimento do tema. Veja também as sugestões nas seções pesquisar e ler, ver e
ouvir, navegar e ágora, para ampliar seu repertório sobre os temas estudados.
EXERCÍCIOS
34 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
Um grupo de indígenas que protestava contra a mudan- − Não tinha medo o tal João de Santo Cristo.
ça no processo de demarcação de terras cercou nesta
Era o que todos diziam quando ele se perdeu.
quinta-feira [18.04.2013] o Palácio do Planalto. De acordo
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
com um dos representantes do movimento, Neguinho Tuká,
a população indígena não foi ouvida durante o processo [...]
de elaboração da PEC 215 e teme perder suas terras com
as mudanças. “Índio sem terra não tem vida”, declarou o Ele queria sair para ver o mar
coordenador das Organizações Indígenas da Amazônia E as coisas que ele via na televisão
Brasileira, Marcos Apurinã. “Não aceitamos e não vamos
Juntou dinheiro para poder viajar
aceitar mais esse genocídio.” O grupo é o mesmo que, na
última terça-feira, 16, invadiu o plenário da Câmara dos De escolha própria, escolheu a solidão
Deputados em protesto contra a PEC 215, que transfere
do Poder Executivo para o Congresso Nacional a decisão [...]
final sobre a demarcação de terras indígenas no Brasil. E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
[...]
Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br
(adaptado)
Dizia ele: − Estou indo pra Brasília
São processos que vêm contribuindo para o Neste país lugar melhor não há
acirramento da tensão social envolvendo a po- [...]
pulação indígena no campo brasileiro:
a) o avanço das atividades agrícolas, mineradoras e
pecuárias de grande porte, a instalação de usinas E João aceitou sua proposta
hidrelétricas em terras indígenas e a permanência E num ônibus entrou no
da concentração de terras no país. Planalto Central
b) a expansão da reforma agrária, o aumento do de-
semprego no campo e a ausência de políticas de Ele ficou bestificado com a cidade
assistência social destinadas à população indígena. [...]
c) o avanço das atividades agrícolas, mineradoras e
pecuárias de grande porte, a expansão da reforma
E João não conseguiu o que queria quando veio pra
agrária e a reivindicação da população indígena de
direitos não previstos na Constituição Federal. Brasília, com o diabo ter
d) a expansão da reforma agrária e da agricultura fa- Ele queria era falar pro presidente
miliar, a instalação de usinas hidrelétricas em terras
Pra ajudar toda essa gente
indígenas e a permanência da concentração de
terras no país. Que só faz sofrer
e) a expansão da agricultura familiar no país, o aumento
do desemprego no campo e a ausência de políticas RUSSO, Renato
de assistência social destinadas à população indígena.
“Faroeste caboclo”. In: Legião Urbana
Que país é este? EMI, 1987
3. (UERJ)
O enredo do filme Faroeste caboclo, inspirado
na letra da canção de Renato Russo, foi contado
muitas vezes na literatura brasileira: o retirante
que abandona o sertão em busca de melhores
condições de vida.
POLISABER 35
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
à origem
RODA DE LEITURA
A interpretação do mapa e os conhecimentos Leia a entrevista que relata o grau de desrespeito aos
sobre a dinâmica socioeconômica brasileira direitos indígenas sobre as terras no Brasil.
permitem afirmar que:
a) O Sudeste, atualmente, atrai somente migrantes do
A exploração econômica e os conflitos em
Nordeste.
b) O saldo entre a chegada e a saída de migrantes nor- terras indígenas
destinos é equivalente para o Centro-Oeste.
c) A migração de retorno tem sido significativa, princi- Um de cada três hectares que governos da América
palmente para o Nordeste. Latina, África e Ásia concedem à exploração mineradora,
d) A maior parte dos nordestinos que retornam se di-
agroindustrial ou florestal está em área indígena.
rigem aos estados mais ricos: Maranhão e Alagoas.
e) A migração de “cérebros” que ocorreu nos anos
de 1990 esgotou-se, e hoje ocorre o movimento de Londres – Um de cada três hectares que governos da
retorno. América Latina, África e Ásia concedem à exploração mi-
neradora, agrícola-industrial ou florestal se encontra em
5. (UFG) Leia a receita apresentada a seguir.
terras de comunidades indígenas. O projeto Munden, da
Tacacá organização internacional Direitos e Recursos, analisou
cerca de 153 milhões de hectares em concessão, em um
2 litros de tucupi temperado total de 12 países, cinco da América Latina (Argentina,
4 dentes de alho Brasil, Chile, Colômbia e Peru), três da África (Cameron,
4 pimentas de cheiro Libéria e Moçambique) e quatro da Ásia (Camboja, Indo-
4 maços de jambu nésia, Malásia e Filipinas). A Carta Maior conversou com
½ kg de camarão a consultora legal de Direitos e Recursos, a advogada
½ xícara de goma de mandioca brasileira Fernanda Almeida, sobre como é a situação
sal a gosto concretamente no Brasil.
Modo de servir: muito quente, em cuias, temperado O projeto Munden fala de uma sobreposição
com pimenta. de quase 33% entre a propriedade indígena e as
concessões que se fazem para explorações de
Disponível em: www.receitastipicas.com/ diferentes tipos. Como é a situação no Brasil?
receita/tacaca.html Há pelo menos 689 terras indígenas no Brasil, que
814-3
36 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
representam cerca de 13% do território nacional. Umas conta que se trata de um dos 13 territórios indígenas.
128 estão em fase de identificação, ou seja, está se Sobre o resto, não temos os dados correspondentes.
desenvolvendo um estudo antropológico para definir,
entre outros fatores, os limites do território. 35 estão Vocês afirmam que a exploração mineira, a
identificadas e necessitam que o estudo antropológico agrícola-industrial e a florestal são os principais
seja aprovado pela Funai, o órgão nacional responsável investimentos que entram em conflito com as
pelo processo de demarcação de terras indígenas. E há terras de comunidades indígenas. Qual é a mais
460 terras que têm o processo de delimitação concluído. conflitiva no Brasil?
Mas também não se trata unicamente dos povos indí- Há problemas nas três áreas, mas o lobby da agroin-
genas. Aí estão os direitos dos quilombolas, populações dústria é muito forte. Esse lobby está tentando mudar
tradicionais de origem africana. os direitos já reconhecidos pela legislação. Em termos
Nosso trabalho procura ver onde há sobreposição de legislação, o Brasil é bastante sólido a respeito da
entre explorações concedidas e direitos indígenas ou proteção a populações indígenas. Essa legislação é
de populações como os quilombolas. Há claros indi- fruto da reforma constitucional de 1988 de todo o
cadores de que essa sobreposição existe e representa processo de democratização do país. Nesse processo,
um risco. Isso acontece sobretudo em áreas onde as se reconheceu uma grande parte do território nacional
populações não estão legalmente reconhecidas, o que como pertencente às populações indígenas. O lobby
não quer dizer que não haja conflitos em zonas onde agrícola sente que há demasiadas terras reconhecidas.
há um reconhecimento legal. Há algumas iniciativas que se estão discutindo neste
momento que tratam de flexibilizar esses direitos. Por
Vocês dizem que a sobreposição de direitos exemplo, há uma proposta de reforma da Constitui-
indígenas e exploração econômica é uma fonte ção para que, em vez do Executivo, seja o Congresso
de conflitos não só para as populações originárias, Nacional que delimite essas terras. Há também um
mas para os próprios investidores, que podem questionamento na Corte Suprema sobre a legalidade
perder bilhões de dólares no processo. Pode dar da lei que regula os direitos dos quilombolas. E é pos-
exemplos? sível que a Justiça determine contra.
Em nível mundial, calculamos que no setor agrícola
há cerca de 5 bilhões de dólares de investimentos em Na mineração, deveria ser menos conflitivo,
terras que se sobrepõem com a propriedade indígena. porque o subsolo pertence ao Estado.
Os investidores não costumam levar em conta que a A mineração em terras indígenas é uma exceção, uma
oposição jurídica, civil e às vezes violenta à exploração vez que a Constituição permite a atividade mineradora
econômica de um território pode ter impacto na ren- em terras indígenas. Entretanto, a Constituição condicio-
tabilidade. Essa oposição é cada vez mais frequente na a atividade mineradora nessas áreas à aprovação de
porque houve um processo de democratização em uma lei específica que regulamente esse processo. Essa
nível mundial que inclui um maior reconhecimento lei ainda não foi aprovada. O Brasil ratificou a Conven-
dos direitos dos indígenas e, entretanto, não aparece ção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que
nos cálculos que se fazem para examinar o risco de demanda que o Estado respeite o direito de consulta
investimento. dos povos indígenas. Isso quer dizer que, antes que se
No caso específico do Brasil, há que levar em con- outorgue uma concessão, a população indígena tem
ta que é o terceiro exportador agrícola do mundo, o direito de opinar sobre essa concessão. No caso em
primeiro em açúcar e o segundo em soja. A expansão que não queiram, deve-se abrir uma negociação. Em
que se deu recentemente na soja e no açúcar causou geral, o governo tem a última palavra, mas esta pode ser
o deslocamento de produtores rurais e comunidades questionada em nível legal. O fato de que a mineração
indígenas. Na soja, sobre um cultivo de mais de 42 mil tenha um direito em nível legal não quer dizer que não
hectares, mais de 7 mil estão em território sobreposto. haja riscos econômicos se a população indígena não
Em nosso estudo, estimamos que os conflitos nas terras está de acordo.
indígenas de Jatayvary, Guyraroka, Panambi-Lagoa Rica e
Takuara levaram a uma deterioração do valor da produção Como se decidem esses conflitos no Brasil? Por
de mais de 8 milhões de dólares. A cifra pode parecer negociação com intervenção do Estado, pela via
814-3
menor, 0,2% da produção agrícola, mas há que levar em legal, pela violência?
POLISABER 37
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
No relatório, vocês destacam que a América AZEVEDO, Célia Maria M. Onda negra, medo branco: o
Latina está avançada em relação ao reconheci- negro no imaginário das elites do século XIX. São Paulo:
mento do direito indígena, ao ser comparada com Paz e Terra, 1987.
o que acontece na Ásia ou na África. Esse maior O livro aborda as políticas imigratórias das elites bra-
reconhecimento deveria facilitar uma resolução sileiras no século XIX como parte de um projeto para
pacífica e legal dos conflitos. embranquecer a população brasileira, com medo de uma
Sempre há que ver caso por caso, porque se trata de revolta escrava.
instâncias muito complexas, que geralmente envolvem
simultaneamente a população indígena, a exploração FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos.
privada, um órgão governamental e a Justiça. Um bom São Paulo: Global, 1972.
exemplo desse tipo de resolução de conflito é o dos Em seus 14 ensaios centrados na preocupação com a su-
danos ambientais e morais sofridos pela comunidade premacia da “raça branca” e no controle do poder que ela
indígena devido às plantações de soja e cana na terra exerce em nossa sociedade, o autor analisa o Brasil como
indígena de Guyraroká. O Ministério Público federal um mundo social modelado pelo branco e para o branco.
iniciou uma demanda contra a Funai exigindo uma Estudando a situação do negro e do mulato na sociedade
indenização de R$ 170 milhões. A Funai não cumpriu brasileira vista a partir de São Paulo, Florestan Fernan-
com seu papel de protetora dos direitos indígenas ao des levanta os caminhos sinuosos do preconceito, seus
não impedir que se produzisse um dano ambiental e disfarces e o processo de segregação racial, sem agravar
moral pela produção de soja e cana e foi imputada ou atenuar o problema.
juridicamente por isso. A lei incentiva a participação
do Estado como mediador na resolução de conflitos. CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios
no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras/Secretaria
JUSTO, Marcelo
Municipal de Cultura/Fapesp, 1998.
A exploração econômica e os conflitos
Entre o conjunto de textos sobre a história e a política
em terras indígenas. Carta Maior, 7 nov. 2013
indigenista no Brasil, no introdutório, a organizadora não
vê as populações indígenas como passivas no processo
814-3
de desenvolvimento do Brasil.
38 POLISABER
aula 9 GEOGRAFIA DO BRASIL
ComCiência
VER E OUVIR www.comciencia.br/reportagens/negros/01.shtml (aces-
so em: 6 jun. 2014)
A revista de divulgação da SBPC (Sociedade Brasileira
O homem que virou suco
para o Progresso da Ciência) e do Laboratório de Estudos
João Batista de Andrade. Brasil, 1980.
Avançados em jornalismo, da Unicamp, reúne artigos
O filma retrata os traumas psicológicos dos imigrantes
sobre a população negra no Brasil.
nordestinos em São Paulo, diante do preconceito que
sofrem e da distância da terra natal.
Quilombo
Cacá Diegues. Brasil: s/d. ÁGORA
Sobre a história do quilombo dos Palmares, em Alagoas,
a maior organização negra contra a escravidão no Brasil,
Leia o trecho a seguir e discuta com seus colegas a
que, no século XVII, resistiu por 70 anos.
adoção do sistema de cotas nas universidades brasileiras.
O caminho das nuvens
Vicente Amorim. Brasil, 2003. Educação: a polêmica do sistema de cotas
Mostra a trajetória de Romão e sua família, retirantes
do Nordeste que vão de bicicleta ao Rio de Janeiro, em O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 26 de
busca de um salário de mil reais. abril de 2012, que o sistema de cotas raciais em uni-
versidades é constitucional. O resultado do julgamento
Gaijin: os caminhos da liberdade sanciona a manutenção das reservas de vagas para
Tizuka Yamasaki. Brasil, 1980. estudantes negros, pardos e índios nas universidades.
O filme retrata a dura realidade dos primeiros imigrantes
japoneses, que vieram trabalhar nas fazendas de café O objetivo das cotas é corrigir injustiças históricas
em São Paulo. provocadas pela escravidão na sociedade brasileira.
Brasileiros brancos têm, em média, dois anos a mais
Quanto vale ou é por quilo de escolaridade do que negros e pardos, de acordo
Sérgio Bianchi. Brasil, 2005. com dados de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia
O filme compara o antigo comércio de escravos e o atual e Estatística (IBGE).
papel de ONG que exploram o marketing social, uma
solidariedade de mentira. Críticos da proposta, contudo, argumentam que os
negros nunca foram impedidos de frequentar univer-
sidades por uma questão racial, mas por motivos eco-
nômicos e sociais. Por essa razão, as cotas deveriam
NAVEGAR privilegiar alunos pobres, sejam eles brancos, pardos
ou negros.
Fundação Nacional do Índio
www.funai.gov.br (acesso em: 6 jun. 2014) De qualquer modo, a decisão do STF deve exercer
O site da Funai disponibiliza dados, mapas e textos sobre pressão sobre universidades para que empreguem o
os povos indígenas no Brasil. sistema de cotas raciais. Segundo a ONG Educafro, mais
de 180 instituições públicas de ensino superior adotam
Museu do Índio esse tipo de reserva de vagas.
www.museudoindio.org.br (acesso em: 6 jun. 2014)
O site divulga dados, textos, imagens, exposições e ati- SALATIEL, José Renato Salatiel
vidades programadas. Educação: a polêmica do sistema de cotas
UOL Vestibular, 4 maio 2012
Museu da Imigração do Estado de São Paulo Disponível em: http://vestibular.uol.com.br/
www.memorialdoimigrante.sp.gov.br (acesso em: 6 jun. 2014) resumo-das-disciplinas/atualidades/educacao-a-
Oferece dados e imagens sobre os diversos grupos de polemica-do-sistema-de-cotas.htm
814-3
POLISABER 39
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 9
S E N H A
Observe a charge e tente
descobrir o que ela sugere.
40 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 10 aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL
Origens da industrialização
Conceituamos industrialização como o processo de implantação de indústrias em um lugar de tal forma que elas se
transformam no principal setor da economia, determinando a dinâmica de outros setores, por exemplo, as atividades
agrárias, que ficam subordinadas à lógica industrial de fornecimento de matérias-primas e de alimentos para a população
das cidades. O campo se subordina à cidade, e se intensifica a urbanização. Profundas mudanças ocorrem no espaço
geográfico, onde a natureza original é substituída por uma segunda natureza, com grandes obras de engenharia, de
cidades, construções ou grandes extensões agrícolas plantadas. No Brasil, esse processo teve início no fim do século XIX,
e, embora a atividade agrária ainda tenha permanecido como motor da economia até meados do XX, hoje, a economia
brasileira é uma das mais industrializadas entre os países subdesenvolvidos.
número médio
número de valor da produção
data de fundação de operários por
estabelecimentos (%)
estabelecimento
até 1884 388 76 8,7
1885-1889 248 98 8,3
1890-1894 452 68 9,3
1895-1899 472 29 4,7
1900-1904 1 080 18 7,5
1905-1909 1 358 25 12,3
1910-1914 3 135 17 21,3
1915-1919 5 936 11 26,3
data desconhecida* 267 16 1,6
total 13 336 20 100,0
* Corresponde a estabelecimentos industriais existentes em 1920, cuja data de fundação era desconhecida ou não foi informada.
Os dados revelam o crescimento industrial brasileiro do fim do século XIX e início do XX.
814-3
Fonte: IBGE. Recenseamento do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE. v. 5. p. 69. In: BAER, Werner. A economia basileira. São Paulo: Nobel, 2009. p. 51.
POLISABER 41
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10
Entre os fatores que impulsionaram a industrialização Diferentemente de países como os Tigres Asiáticos ou a
brasileira, destacamos: própria China, que se industrializaram a partir do mercado
• A acumulação de capital devida às exportações da externo (plataformas de exportação), o Brasil e a América
economia cafeeira nos séculos XIX e XX: quando as crises Latina em geral seguiram o modelo da substituição de
cíclicas da economia capitalista internacional afetavam importações, pelo qual se produz internamente bens que
os preços do café, os barões do café aplicavam o capital antes eram importados.
investido em bancos e na bolsa de valores, na compra de Vale ressaltar o papel de Irineu Evangelista de Souza, o
máquinas e na diversificação das atividades econômicas. Barão de Mauá, um dos primeiros industriais brasileiros,
A Primeira Guerra Mundial teve um papel importante no que na segunda metade do século XIX investiu, princi-
crescimento das indústrias, mas foi com a crise de 1929, palmente no Rio de Janeiro, em setores como fundição,
decorrente da quebra da bolsa de valores de Nova York, que transporte ferroviário e marítimo, mas foi sabotado pelas
o crescimento industrial passou a superar o dos outros se- oligarquias agrárias e acabou falindo. O mesmo papel teve
tores. Reduziram-se as exportações de café e se diversificou o coronel Delmiro Gouveia no Nordeste.
a produção agrícola, diminuindo a entrada de mercadorias
REPRODUÇÃO
estrangeiras que poderiam competir com as nacionais.
• A gradual abolição do trabalho escravo e sua substitui-
ção pelo trabalho assalariado com a vinda dos imigrantes
para trabalhar nas fazendas de café: pouco a pouco,
muitos dos imigrantes italianos e espanhóis se dirigiram à
cidade de São Paulo e passaram a compor um operariado
urbano forte e organizado em sindicatos.
• A formação de um mercado consumidor interno, re-
sultado da disseminação do trabalho assalariado, apesar
dos baixos salários. A substituição das importações é
Barão de Mauá,
fundamental para entendermos o mecanismo pelo qual
um dos primeiros
a industrialização avançou no Brasil. industriais brasileiros.
100%
80%
Serviços
60%
40% Indústria
20%
Agropecuária
0%
AVITS
60
65
70
00
05
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
75
80
85
90
95
00
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
Fonte: IBGE. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. p. 373. (adaptado)
42 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL
Etapas da industrialização brasileira implantou o Plano Salte, com investimentos nos setores
de saúde, alimentação, transporte, energia e educação.
Do fim do século XIX até 1930 – A industrialização Mudou a política econômica, com uma abertura às im-
brasileira foi marcada pela instalação de indústrias de portações de bens de consumo que levou à queda das
bens de consumo não duráveis, para satisfação de ne- reservas cambiais obtidas com os superávits comerciais
cessidades básicas como alimentos, tecidos, bebidas e na época da Segunda Guerra Mundial e à consequente
calçados, pois exigem pouco investimento em capital e necessidade de emitir moeda, gerando inflação e queda
tecnologia. De acordo com o censo industrial de 1920, os do poder aquisitivo dos salários.
produtos têxteis e alimentícios e as bebidas respondiam
por mais de 80% do valor da produção industrial no país.
No censo de 1939, essa participação continuava alta,
com 2/3 da produção. Em geral, são empreendimentos
privados nacionais, cabendo ao Estado implantar infra-
estruturas de transportes, energia e saneamento por
meio de concessões a empresas privadas nacionais e
transnacionais, como a canadense Light.
De 1930 a 1956 – É a etapa de implantação das in-
dústrias de bens de produção e infraestrutura como a
siderurgia e a petroquímica, de bens de capital (máquinas,
motores) e de mineração e energia, sob comando do
Estado, no contexto do nacional-desenvolvimentismo.
Nos governos de Getúlio Vargas, por meio de financia-
mentos externos, implantaram-se: a siderúrgica de Volta
Redonda, ou Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
O presidente Vargas assinando o decreto que criou a
fundada em 1941, a Companhia do Vale do Rio Doce, em Petrobras.
Minas Gerais, em 1942, a Companhia Hidrelétrica do São
Francisco (CHSF), a Fábrica Nacional de Motores (FNM) Nesse momento, intensifica-se no Brasil o debate entre
e, mais tarde, a Petrobras, quando o Estado fortalece o a corrente liberal, a favor da abertura da economia brasi-
parque industrial brasileiro em uma política notadamente leira ao capital estrangeiro, e a nacional-desenvolvimen-
nacionalista. A década seguinte assiste a um rápido tista, a favor de uma maior presença do Estado, regulando
crescimento industrial, que triplicou a produção entre a participação do capital privado nacional ou estrangeiro
1950-1961, e a participação da indústria no PIB passou em apenas alguns setores. Esta última corrente retorna
de 24,1% para 32,5%. ao poder com a vitória de Vargas nas eleições em 1951.
Getúlio Vargas, que havia assumido a presidência do De 1956 a 1990 – É a fase da internacionalização da
país com a Revolução de 1930, de cunho modernizador, economia brasileira, com a entrada de capital transna-
adotou medidas fiscais e cambiais que aprofundaram cional no setor industrial de bens de consumo duráveis
a substituição de importações, como a desvalorização (automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos e químico-
da moeda nacional em relação ao dólar e a criação de -farmacêuticos). Ao Estado, inicialmente sob comando de
leis e tributos que restringiam a entrada de produtos Juscelino Kubitschek e seu Plano de Metas – cujo lema
importados que pudessem ser fabricados aqui. Depois era desenvolver o Brasil “50 anos em 5” – e mais tarde
de 1934, também promulgou uma nova Constituição, que nos governos militares, coube criar facilidades e isenções
regulamentou as relações de trabalho nas indústrias ao para a entrada desse capital, além de prover o território
criar a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), onde se de infraestrutura nos setores de energia, transportes,
previam o salário-mínimo, férias anuais e descanso remu- telecomunicações, construção civil e mineração, princi-
nerado. Durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), palmente pelo mecanismo do endividamento externo e
Vargas criou o Conselho Nacional de Economia (CNE), que da crescente inflação. Cerca de 73% dos recursos foram
encabeçava órgãos de regulamentação da economia, em destinados aos setores de energia e transportes. Ao capi-
uma política intervencionista de base keynesiana. tal nacional, coube um papel coadjuvante, com empresas
Ao final desse período, com a deposição de Vargas sendo incorporadas por grandes grupos transnacionais
814-3
POLISABER 43
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10
30
participação de empresas privadas
25 participação do governo
participação de empresas estatais
(em % do PIB)
20
15
10
0
1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
814-3
Fonte: IBGE. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. p. 504.
44 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL
(%)
16
14,0
14
11,9
12 11,3
10,4
9,8 9,5
10 8,2
8
5,2
6
4,2
4
2
0
67
68
69
70
71
72
73
74
75
19
19
19
19
19
19
19
19
19
No período militar, a participação do Estado na economia alcançou seu ápice.
Fonte: IBGE. Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1550 a 1988. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. p. 118-119.
No entanto, com o aumento do preços do petróleo, o endividamento e a inflação crescentes, a economia entra em
colapso nos anos 1980, quando a riqueza é redirecionada para o pagamento dos credores internacionais, o FMI e o
Banco Mundial. Mesmo assim, a taxa de lucro dos empresários se mantinha alta, em função do arrocho salarial con-
tra os trabalhadores menos qualificados. Nesse período, há um aumento brutal das desigualdades sociais. Em 1960,
os 20% mais ricos da população detinham 54% da renda nacional; em 1989, esses mesmos 20% ficavam com 67,5%.
Abandonaram-se os setores de educação e saúde públicas e se sucateou o parque industrial, com a política “exportar
é o que importa”, incentivando as exportações para obter saldos positivos na balança comercial e pagar os credores
internacionais, o que encarecia a importação de máquinas e equipamentos. Essa foi a “década perdida”, quando o PIB
cresceu em um ritmo menor que a população. Em 1964, o Brasil tinha o 43º PIB mundial e uma dívida externa de 3,7
bilhões de dólares. Em 1985, tinha o 9º PIB mundial, mas uma dívida de 95 bilhões de dólares, ou seja, o crescimento
econômico ocorreu devido a um intenso endividamento e ao agravamento das desigualdades sociais.
90,00
82,39
80,00
70,00
60,00
47,43
50,00
IPCA*
40,00
30,00
ILUSTRAÇÕES: AVITS
20,00
10,00
0,00
–10,00
n.
v.
n.
l.
n.
08 v.
.
ar
br
go
et
ut
ov
ez
ar
/ju
ai
/fe
20 /fe
/ja
/ju
/ja
/s
/m
/o
/m
/a
/d
/m
/n
/a
92
80
05
82
96
07
90
86
98
02
00
94
84
88
19
19
20
19
19
20
19
19
19
20
20
19
19
19
* IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – é o índice oficial do governo federal para mediação das metas inflacionárias.
814-3
POLISABER 45
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10
Após 1990 – acentua-se o esgotamento do modelo de Ao Estado, cumpre fiscalizar e regular a atuação
substituição de importações. O Brasil se integra definitiva- das empresas, muitas delas estrangeiras, por meio de
mente à globalização neoliberal, abrindo seus mercados agências como a Agência Nacional de Energia Elétrica
para os importados por uma política de redução das tarifas (Aneel), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
de importação. Se, por um lado, essa abertura promoveu a e a Agência Nacional do Petróleo (Anap), entre outras.
entrada de equipamentos e máquinas de última geração Em 1994, com adoção do Plano Real, logramos reduzir
que aumentaram a produtividade e a competitividade e estabilizar a inflação, mas ao custo do déficit na balança
da indústria nacional, por outro, acarretou o aumento comercial provocado pela sobrevalorização da moeda. Para
do desemprego, tanto o estrutural, fruto da automação, cobrir esse déficit, o governo mantinha a taxa de juros eleva-
como pela falência de indústrias nacionais de bens de da buscando atrair capital especulativo, o que aumentou a
consumo que não conseguiam competir com os produtos dívida pública e manteve o crescimento industrial em baixa.
importados de países que subsidiavam suas exportações. Nesse período, a indústria incorporou ganhos de pro-
Ao mesmo tempo, com a eleição de Fernando Collor, dutividade pela crescente automação, mas reduziu sua
o Estado neoliberal dá início a um programa de privati- participação no PIB nacional de 41,9% em 1990 para 33,4%
zações de empresas estatais e concessão de exploração em 1996, com crescimento de apenas 2,3% neste ano,
de serviços, abrindo ao capital internacional e privado inferior ao da agropecuária e ao do setor de serviços. Entre
nacional o controle de setores estratégicos como as tele- janeiro e outubro de 1997, o setor volta a crescer: atinge
comunicações, os transportes, a energia, a siderurgia, os 5,1%, índice superior ao acumulado entre 1995 e 1997.
bancos e até mesmo o agropecuário. Esse programa teve No início do século XXI, houve um rápido crescimento
aspectos positivos para alguns setores que melhoraram da economia, com a volta dos superávits comerciais,
os serviços prestados, como é o caso das telecomunica- resultado de uma desvalorização cambial em janeiro de
ções, dos transportes e de empresas deficitárias como 1999, interrompido pela crise energética de 2001 e por
na siderurgia – que apenas a Usiminas era lucrativa – que problemas externos como a crise argentina. A partir de
passaram a lucrar e pagar impostos ao Estado. No entanto 2003, seguiu-se uma retomada do crescimento, quando
muitas das privatizações, como a da Vale do Rio Doce, en- foi possível reduzir os juros, e o setor produtivo recebeu
volveram denúncias de subvalorização de seu patrimônio investimentos antes direcionados ao setor financeiro.
sendo vendidas abaixo de seu real valor de mercado, além Em 2008 e 2009, uma nova crise internacional reper-
do destino dado aos recursos: o pagamento dos juros da cute negativamente na produção industrial, mas, com a
dívida interna ou a sua amortização. Também se criticam inflação controlada, os juros em queda, um grande volu-
o aumento das tarifas de serviços como os de telefonia, me de moedas estrangeiras em reservas no Banco Central
que são de péssima qualidade, abaixo dos padrões interna- e um mercado interno em expansão, as consequências
cionais, e a má gestão da energia elétrica, que resultou na foram mais brandas, tanto que a economia voltaria a
crise energética de 2001 e em apagões como os de 2009. crescer mais em 2013.
%
AVITS
6 5,7
5,4
5,1
5
4,2 4,3
4,0
4 Comparado ao
3,4 3,2 crescimento na
3 2,7 década de 1990, os
2,2 anos 2000 foram mais
2 auspiciosos para a
1,3 1,1 economia brasileira.
1 Adaptado de: IBGE. Disponível
0,3 em: www.ibge.gov.br
0,0 (acesso em: 10 jan. 2010)
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
814-3
Fonte: IBGE.
46 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL
O modelo brasileiro de industrialização baseou-se no chamado tripé: capital estatal, capital privado nacional e capital
privado internacional. Ao primeiro, cabem a infraestrutura e as indústrias intermediárias (de base), setores que neces-
sitavam de alta escala de capital. Ao terceiro, os setores de ponta, tecnologicamente mais avançados e dinâmicos do
desenvolvimento (bens de consumo duráveis, químicos etc.). O capital privado nacional ficou responsável pelos setores
tecnologicamente mais simples e onde fossem necessárias menores escalas de capital; assim, incumbiu-se do setor de
bens de consumo leve e dos fornecedores de insumos ao capital estrangeiro e ao capital estatal.
Atualmente, a atividade industrial responde por 28% do PIB brasileiro, sendo os setores mais importantes o de refino
de petróleo, produção de álcool, alimentos, produtos químicos, fabricação e montagem de veículos automotores, me-
talurgia básica, máquinas e equipamentos. Crescem setores como robótica, aeronáutica, eletrônica, telecomunicações,
mecânica de precisão e biotecnologia.
Nesse contexto, a questão tecnológica é um desafio. Estamos vivendo a Terceira Revolução Industrial, ou a chamada
Revolução Técnico-Científica, em que a necessidade de inovação e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento
são essenciais para a competitividade. Os setores de informática, robótica, telecomunicações e microeletrônica exigem
mão de obra qualificada, que, por sua vez, demanda um sistema educacional de alto nível. Cresce a importância dos
tecnopolos, dos centros de pesquisa e das universidades de ponta, pois não bastam mais a disponibilidade de matéria-
-prima ou de mão de obra abundante e barata para um desenvolvimento industrial sustentável.
No Brasil, destacamos como tecnopolos: São Paulo (SP), Campinas (SP), São José dos Campos (SP), São Carlos (SP),
Viçosa (MG), Campina Grande (PB) e Cascavel (PR), entre outros.
ACERVO CCS-UFSCAR
Entrada da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), que faz parte de um tecnopolo local.
Para um maior desenvolvimento da indústria nacional, ainda se enfrenta problemas de logística em relação a estradas,
portos e aeroportos, baixo investimento público ou privado em pesquisa e desenvolvimento, baixa qualificação da mão
de obra e elevada carga tributária.
814-3
POLISABER 47
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10
Boa Vista
EQUADOR Macapá
Teresina Natal
João
Porto Pessoa
Velho
Rio Recife
10° Branco Palmas Maceió
Aracaju
Salvador
Cuiabá Brasília
Goiânia
Campo Belo
Grande Horizonte
20°
Vitória
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
Rio de Janeiro
São Paulo
Curitiba
Número de empresas
menos de 1 000 Florianópolis
1 001 a 5 000
312 km
5 001 a 10 000
Porto
mais de 10 001 Alegre
AVITS
A distribuição espacial da indútria no Brasil ainda revela uma concentração no centro-sul do país.
814-3
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 136.
48 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL
94 009
100
Expansão da
indústria no estado
de São Paulo Montes Claros
até 1975
de 1975 a 1986
MINAS GERAIS
estradas
Governador
Valadares ESPÍRITO
Uberlândia Belo
Horizonte SANTO
Uberaba
São José do
Ribeirão Preto
Rio Preto
Vitória
Araçatuba
SÃO Juiz de
PAULO Fora
Marília RIO DE JANEIRO
Presidente
Prudente Bauru
Botucatu
São José dos
Sorocaba Campos
São Sebastião
Santos 124 km
O mapa revela os principais eixos de expansão das indústrias do Sudeste obedecendo o traçado das rodovias.
AVITS
Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli Aparecida. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2009. p. 157.
A desconcentração industrial
Entretanto, a partir dos anos 1970, observamos uma relativa desconcentração: embora ainda houvesse muitas em
São Paulo, as indústrias começaram a se espalhar por outros pontos do Brasil, em especial, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Bahia, Ceará, Pernambuco, Amazônia (sobretudo Manaus), Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. São as chamadas
deseconomias de escala, quando um lugar como São Paulo se torna desfavorável a novas instalações e às que já estão
ali por conta de custos elevados com impostos e segurança, terrenos caros, congestionamentos, alimentação e moradia
mais caros, o que implica maiores salários. Também concorreram para essa desconcentração a maior combatividade
dos sindicatos de trabalhadores na região, cujas reivindicações e greves elevaram a média salarial, e a ação do Estado,
dotando de infraestrutura outras regiões.
Finalmente, concorreu para essa desconcentração a chamada “guerra fiscal”, ou “guerra dos lugares”, uma espécie
de competição entre estados ou municípios para obter novos investimentos por meio de subsídios e isenções fiscais,
814-3
terrenos baratos ou até doados pelo poder público, infraestrutura montada etc.
POLISABER 49
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10
EXERCÍCIOS
1. (UEL) A construção da cidade de Brasília fez b) Além de São Paulo, berço tradicional da indústria
parte do processo desenvolvimentista dos automobilística brasileira, indique outros três estados
anos 1950 liderado pelo presidente Juscelino que possuem esse tipo de indústria.
Kubitschek e seu vice, João Goulart. O projeto
modernizante de JK assentava-se na política do
“50 anos em 5”, que preconizava, entre outras 3. (CPS) É quase impossível visitar cidades como
coisas, dotar o país de uma infraestrutura sufi- Campinas, São José dos Campos, Franca, Piraci-
ciente para sustentar a industrialização. caba ou Ribeirão Preto sem observar o grande
número de indústrias ali instaladas. Esse pro-
Com base nos conhecimentos sobre a política cesso de industrialização do interior paulista
econômica desse período histórico brasileiro, deve-se fundamentalmente à:
assinale a alternativa correta. a) procura, por parte das indústrias paulistanas, de mão
a) Disseminou o ensino técnico para todas as regiões de obra especializada e qualificada concentrada nas
do país, por meio dos institutos técnicos federais. megalópoles do interior paulista.
b) Expandiu a construção de usinas hidrelétricas e b) saída de diversas indústrias da Região Metropolitana
abasteceu de energia o setor produtivo. de São Paulo, em virtude do alto custo da mão de
c) Implantou a Sudam, que realizou a modernização e obra e dos incentivos fiscais oferecidos por alguns
a transformação da região amazônica. municípios do interior.
d) Priorizou a importação de veículos automotores para c) saturação do porto de Santos, por onde era escoada
o país se inserir no mercado internacional. a produção industrial da capital, que passou a utilizar
e) Privatizou a Companhia Siderúrgica Nacional, com a as ferrovias para alcançar o mercado consumidor de
abertura de seu capital para investidores estrangeiros. países vizinhos.
d) preocupação ambiental das grandes indústrias
situadas na capital paulista, que preferiram se des-
2. (Unicamp) locar para o interior do estado com a finalidade de
Nos anos 1990, foi retomado o incentivo específico diminuir a poluição atmosférica.
à indústria automotiva, tendo como foco a descentra- e) necessidade de acesso fácil às fontes de energia
lização geográfica. Segundo a Anfavea (Associação utilizadas pelas indústrias da Grande São Paulo,
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), concentradas na dependência do carvão mineral
em 2012 havia 53 fábricas em 9 estados. Essas fábri- abundante no interior paulista.
cas pertencem a 26 empresas que fabricam automó-
veis, veículos comerciais leves, caminhões e ônibus
(9 produzem carros de passeio). Com 3,3 milhões de 4. (ESPCEX-AMAN)
unidades produzidas, o Brasil é o sexto maior produtor
do mundo. A centralização de capitais proporcionou aos conglo-
merados um novo poder – o de ultrapassar as fronteiras
Fatia da indústria automobilística nacionais. Dispersando as atividades produtivas pelos
no PIB cresce 45,6% em 11 anos mais diversos países, as transnacionais aproveitam-se
Adaptado de: http://economia.estadao.com.br/noticias/ das diferenças entre eles para auferir maiores lucros.
economia-geral. (acesso em: 5 maio 2013)
MAGNOLI; Araújo, 2004, p. 90.
a) A partir dos anos 1990, a distribuição geográfica da
indústria automotiva no Brasil desencadeou uma Depois da Segunda Guerra Mundial, inúmeras áreas
forte tensão nas relações entre Estado, mercado, localizadas em países subdesenvolvidos recebe-
sociedade e território, que ficou conhecida como ram unidades industriais dos países desenvolvi-
“guerra fiscal”, ou “guerra dos lugares”. Explique o dos. Esse deslocamento industrial para o Brasil,
814-3
que é a guerra fiscal ou dos lugares. principalmente, entre 1968 e 1973, acarretou:
50 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL
ESTUDO ORIENTADO
Caro aluno,
Nas seções a seguir, você pode verificar o que aprendeu por meio dos exercícios e ver como os vestibulares abordam o
que vimos nas aulas. Saiba um pouco mais sobre tecnopolos e empreendedorismo na roda de leitura e procure ampliar
seu repertório com as sugestões das seções pesquisar e ler, ver e ouvir, navegar e ágora.
EXERCÍCIOS
1. (UTFPR) Na América Latina, o Brasil, a Argentina e o México, países que já se industrializaram, mantêm,
segundo a Divisão Internacional do Trabalho, uma dependência tecnológica em relação aos países desen-
volvidos. Segundo a informação acima, é correto afirmar que grande parte da produção industrial:
a) é caracterizada por elevado nível tecnológico.
b) é caracterizada por baixo nível tecnológico.
c) é de capital nacional e de elevada tecnologia.
d) é de domínio nacional, caracterizada por elevado nível tecnológico.
e) depende de capital e tecnologias nacionais.
814-3
POLISABER 51
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10
bom PR, SC e RS
3. (Fatec) Ao longo da história da humanidade, não Nos últimos vinte anos, o Brasil tem desenvolvido
há nenhuma dúvida de que empreendedores novas formas técnicas e organizacionais, como a
participaram ativamente da construção do sis- informatização e a automação nas atividades agrope-
tema político, econômico, industrial e técnico- cuárias, na indústria e nos serviços. Os atuais tipos de
-científico, gerando empregos e renda ao redor contratação e as políticas trabalhistas conduziram, entre
do mundo. outros aspectos, a um aumento do desemprego e da
Entre as características fundamentais de um precarização das relações de trabalho.
empreendedor, estão a criatividade, a visão de
futuro e a coragem para assumir riscos. SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura
Pretendendo abrir uma microempresa e, portan- O Brasil: território e sociedade no início do século XXI
to, contratar funcionários, o empreendedor anali- 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 220
sa a tabela a seguir. (adaptado)
814-3
52 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL
POLISABER 53
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10
c) Os últimos censos têm mostrado que as grandes 39% dos empreendedores precisariam de impostos
cidades (mais de 500 mil habitantes) têm tido cresci- menores para realizar inovações em seus produtos,
mento relativo mais acelerado em comparação com enquanto 22% necessitam de empréstimos bancários
as médias e as pequenas. para tirar os projetos das gavetas. Ao mesmo tempo,
d) Com a crise de 1929, o Brasil voltou-se para o de- apenas 20% das empresas ouvidas correm atrás de
senvolvimento do mercado interno através de uma cursos e consultorias para se diferenciar da concor-
industrialização por substituição de importações, o rência e 13% das companhias querem mais divulgação
que demandou mão de obra urbana numerosa. dos seus inventos.
Para vencer essas dificuldades, entidades ligadas às
áreas de financiamento, incubação de negócios e de
estímulo a programas de pesquisa arregaçam as man-
RODA DE LEITURA
gas. Até 2012, o Sebrae Nacional pretende aumentar em
30 mil o número de empresas inovadoras no país – o
Eles querem chegar lá dobro do que existe hoje, de acordo com o IBGE. Este
ano, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) vai
A necessidade de inovação fez o administrador Floro oferecer R$ 1,6 bilhão – R$ 700 milhões a mais que
Fagundes e mais quatro sócios desenharem um software em 2009 – para o desenvolvimento de projetos de
que controla a glicemia de pacientes a distância. Casa- inovação, dentro do Programa Inova Brasil, de finan-
do com uma diabética, Fagundes observava a mulher ciamentos reembolsáveis.
e outros portadores da doença usando caderninhos Já os principais fundos de venture capital (ou capital
com anotações e tabelas de cálculos para administrar de risco), concentrados em quatro estados, contam
os índices glicêmicos. “Agora, um programa instalado com pelo menos US$ 1 bilhão em recursos para
no celular se comunica com um prontuário médico apoiar ideias inovadoras que nem sempre saem das
on-line e calcula as quantidades de carboidratos das incubadoras. Segundo a consultoria Ernst & Young,
refeições e as doses prescritas de insulina”, explica. até dezembro, mais de 300 projetos empreendedores
“O médico pode intervir no tratamento do paciente devem nascer nos bancos das escolas de negócios,
em tempo real.” como a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Hoje, o software GlicOnLine é o carro-chefe da No Sebrae, uma das armas para estimular a inovação
Quasar Telemedicina, pequena companhia de sete é o Programa Agentes Locais de Inovação (ALI), que
funcionários criada em 2004 no Centro de Inovação, despacha mais de 800 profissionais para empresas
Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), incubadora em dez estados. Os agentes visitam as companhias
de empresas em São Paulo. A invenção já conta com e produzem um relatório gratuito que identifica difi-
800 pacientes e é usada por 110 médicos. Em 2009, culdades e o que pode ser melhorado no dia a dia do
a companhia faturou R$ 130 mil e quer fechar 2010 negócio. A partir desse diagnóstico, criam um plano
com R$ 600 mil no caixa. “Vamos firmar parcerias com de ação e acompanham a evolução do empreendedor.
operadoras de telefonia móvel e entrar no mercado Até o final de 2010, a iniciativa deve bater na porta de
estadunidense.” 5,1 mil estabelecimentos de 33 setores.
No próximo mês, Fagundes desembarca em São Fran- Para Guilherme Plonski, coordenador do Núcleo de
cisco, na Califórnia, para apresentar a versão em inglês Política e Gestão Tecnológica da Universidade de São
do software para investidores. Mas, para chegar lá, o em- Paulo (USP) e presidente da Associação Nacional das
preendedor precisou driblar obstáculos que costumam Entidades Promotoras de Empreendimentos Inova-
surgir na rota da inovação das pequenas empresas: a dores (Anprotec), o problema da microempresa no
falta de agilidade na oferta de crédito, a dificuldade de Brasil na busca de ações inovadoras não é o fato de
atração de investimentos e a burocracia para registrar ser pequena, mas “de ser sozinha”. “Graças a entida-
novos produtos. “Demorei um ano para obter o registro des como o Sebrae, as MPEs encontram apoio para
de um software que pode salvar vidas”, lembra. compreender e superar os obstáculos à inovação”, diz.
Segundo pesquisa feita pelo Serviço de Apoio às “Mas é preciso aprimorar a coordenação dos esforços
814-3
Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), vindos de diversas iniciativas.” Criada há 22 anos, a
54 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL
Anprotec gerencia mais de 400 hábitats de inovação, com um bom plano de negócios, e as escolas de negó-
como incubadoras e parques tecnológicos, em mais cios costumam concentrar essas garantias.”
de 20 estados. Para se ter uma ideia, só na FGV, que forma anual-
“Os resultados obtidos nesses ambientes, planeja- mente 520 alunos, cerca de 25% dos estudantes que
dos para efetivar processos de inovação de produtos concluíram cursos com disciplinas de empreende-
e negócios, podem transformar cidades e regiões”, dorismo e desenvolvimento de planos de negócios
assinala. Segundo Plonski, em Florianópolis (SC), a tornaram-se empreendedores nos últimos dez anos.
contribuição ao PIB local das empresas de TI geradas No Instituto Endeavor, de capacitação em empreende-
em incubadoras já é o dobro do aporte das compa- dorismo, o número de profissionais inscritos em cursos
nhias do setor turístico – que fez a fama da cidade. A em 2010 saltou para 200, o dobro do ano passado.
capital catarinense tem mais de 500 empresas de base Nas entidades de fomento à inovação, os orçamen-
tecnológica, que faturaram mais de R$ 1 bilhão em 2009 tos já estão definidos para 2010. A Fapesp pilota o
e empregam mais de cinco mil pessoas. Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empre-
No Brasil, segundo o IBGE, as atividades industriais sas (Pipe), que já apoiou, desde 1997, mais de 1,3 mil
com as maiores taxas de inovação incluem os setores projetos de pesquisa em São Paulo. Segundo Carlos
de automóveis, máquinas para escritório e equipamen- Henrique Cruz, diretor científico, em 2010, o programa
tos de informática, equipamentos médico-hospitalares oferece uma verba de R$ 30 milhões, mesmo valor do
e de automação industrial, além de refino de petróleo, ano passado. “Para cada R$ 1 que a Fapesp investiu
material eletrônico, aparelhos de comunicação, produ- em um projeto do Pipe, a empresa beneficiada obteve
tos farmacêuticos, celulose e metalurgia. Para Carlos R$ 11 em faturamento e recursos.”
Alberto Miranda, sócio da Ernst & Young, há nichos que
são obrigados a investir em inovação, como o farma- SARAIVA, Jacilio
Eles querem chegar lá
cêutico, de TI e biotecnologia.”Mas o varejo e o setor
Valor Econômico, São Paulo, 30 abr. 2010
de serviços já aparecem como os novos investidores
Disponível em: http://jporfiro.blogspot.com.br/
do segmento.” 2010_05_01_archive.html
Segundo um estudo inédito realizado pela Ernst & (acesso em: 16 jul. 2014)
Young Brasil com escolas de negócios do país – FGV,
Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa e Fundação
Instituto de Administração (FIA), além do Instituto
Endeavor –, mais de 300 projetos empreendedores em PESQUISAR E LER
áreas como TI, indústria pesada, comércio, serviços e
saúde serão gerados dentro das escolas em 2010. Em
GERAB, William Jorge; ROSSI, Waldemar. Indústria e
três anos, pelo menos cem projetos foram apresen-
trabalho no Brasil: limites e desafios. 8. ed. São Paulo:
tados em rodadas de negócios com a participação
Atual, 2003.
de fundos de investimento venture capital e angel
Livro paradidático que analisa o histórico, a evolução, os
investors (investidores-anjo). Para os especialistas,
avanços tecnológicos e algumas ações do movimento
se há filas de novos empreendedores em busca de
sindical no Brasil.
dinheiro, há também grupos interessados em investir
em ideias inovadoras e rentáveis.
HABERT, Nadine. A década de 70: apogeu e crise da
No Brasil, só em venture capital, segundo levanta- ditadura militar brasileira. 4. ed. São Paulo: Ática, 2006.
mento do professor Cláudio Furtado, do Centro de (Princípios, 222.)
Estudos em Private Equity e Venture Capital, da Eaesp- O livro analisa a repressão e a censura, o “milagre econô-
-FGV, os recursos somam US$ 1,5 bilhão. Reunidos mico”, a megalomania do regime, a transição e a abertura.
principalmente na Bahia, em Santa Catarina, no Rio de
Janeiro e em São Paulo, os investidores-anjo garimpam IGLESIAS, Francisco. A industrialização brasileira. São
empreendimentos inovadores dentro e fora das esco- Paulo: Brasiliense, 1994. (Tudo é História, 98.)
las, com aportes financeiros de R$ 50 mil a R$ 500 mil O livro analisa o processo de industrialização desde o
814-3
por empresa. “Os grupos querem projetos sustentáveis período colonial até o final do século XX.
POLISABER 55
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 10
Eles não usam black tie Uma característica marcante da crítica de Keynes
Leon Hirszman. Brasil, 1981. ao liberalismo é seu apelo à razão prática. O libera-
Baseado na peça homônima de Giafrancesco Guarnieri, o lismo está errado porque “não funciona”. Poderia até
filme retrata a vida cotidiana de uma família de operários ter sido útil no passado; no mundo do século XX, e
durante uma greve em pleno regime militar, discutindo principalmente com a perda da hegemonia britânica,
as dificuldades e os sonhos em uma fase de grande ex- deixara de sê-lo. Sua existência é questionada tendo
ploração dos trabalhadores no Brasil. como critério a utilidade. Nesse aspecto, lembra o
pragmatismo de William James, pelo menos quando
Coronel Delmiro Gouveia este defende como parâmetro para identificar uma
Geraldo Sarno. Brasil, 1978. verdade o seu valor para a vida concreta, do qual
Filme sobre a luta de um empresário nordestino que resulta, portanto, que não é algo definitivo e imutá-
foi perseguido por se recusar a vender sua fábrica aos vel: “o pragmatismo pega a noção geral de verdade
ingleses, no final do século XIX. como alguma coisa essencialmente ligada à maneira
pela qual um momento em nossa experiência pode
levar-nos a outros momentos aos quais valerá a pena
ser levado” (James, 1979, p. 73). Assim, verdades que
NAVEGAR
haviam encantado gerações de economistas e conquis-
tado políticos, empresários e tornado-se senso comum
FGV-CPDOC ao conquistar os não especialistas – “oferta de moeda
www.cpdoc.fgv.br (acesso: 16 jul. 2014) causa inflação”, “o mercado tende ao autoequilíbrio”,
No portal da Fundação Getúlio Vargas/Centro de Pesquisa “o Estado deve restringir-se à segurança e justiça”, “a
e Documentação de História Contemporânea do Brasil, poupança favorece o crescimento econômico”, “o juro
há vasta documentação sobre economia, política, cultura é a remuneração pelo sacrifício da abstinência” – são
e outros assuntos relativos à historia do Brasil. postas em questão pela experiência. Keynes rejeita,
814-3
56 POLISABER
aula 10 GEOGRAFIA DO BRASIL
S E N H A
Indústria e cidade: um
casamento perfeito.
814-3
POLISABER 57
GABARITO:
GABARITO aulas 8 GEOGRAFIA
a 10 DO BRASIL − AULAS 8 A 10
58 POLISABER
aulas 8 a 10 GABARITO
2. a
Como mencionado corretamente na alternativa a, a Aula 10
tensão social envolvendo indígenas resulta do processo
de ocupação de áreas indígenas em decorrência do
avanço das frentes agrícolas, da instalação de usinas Estudo orientado
hidrelétricas, da mineração e do desmatamento ilegal.
Estão incorretas as alternativas b, d e e, porque a 1. b
reforma agrária, a agricultura familiar e a mecanização Como menciona corretamente a alternativa b, o
do campo não são causas da tensão com indígenas, e c, Brasil, o México e a Argentina são países considerados
porque a demarcação das terras indígenas está prevista subdesenvolvidos industrializados ou emergentes e, por-
na Constituição de 1988. tanto, embora tenham consolidado seu processo manufa-
tureiro a partir da década de 1950, seguem dependendo
3. c financeira e tecnologicamente de países desenvolvidos.
Como mencionado corretamente na alternativa c, a Estão incorretas as alternativas:
migração inter-regional, especialmente a dos retirantes a – porque os países citados não detêm alto nível
nordestinos, está associada à disparidade socioeconô- tecnológico;
mica entre as regiões brasileiras. c – porque o capital do sistema produtivo é trans-
Estão incorretas as alternativas: nacional;
a) porque a causa da migração nordestina é a situa- d – porque a produção industrial é predominante-
ção de precariedade do sertão nordestino; mente transnacional;
b) porque a área de repulsão populacional do Nor- e – porque é dependente de capital e tecnologia
deste não se caracteriza por concentração industrial; estrangeiros.
d) porque o retirante está associado às áreas do
sertão e, portanto, rurais. 2. A desconcentração industrial começou no Brasil
em meados da década de 1970. No mapa, vê-se
4. c a expansão industrial rumo ao Vale do Paraíba, à
Como mencionado corretamente na alternativa c, o Baixada Santista e ao Oeste Paulista, entre 1975
mapa indica o aumento da migração de retorno, ou seja, e 1986. O processo se acelerou sensivelmente a
a volta dos migrantes do Sudeste para o Nordeste. Estão partir da década de 1990, entre outras razões, pela
incorretas as outras alternativas porque não correspon- deseconomia de aglomeração na Região Metropo-
dem ao fenômeno indicado no mapa. litana de São Paulo (alto custo com tributos, mão
de obra, valor dos terrenos e congestionamentos) e
5. a pelas vantagens oferecidas por municípios do inte-
[da perspectiva da Sociologia]: A alternativa a é a rior (redução de impostos, facilidade de transportes
única plausível. Muitos dos pratos típicos do Brasil têm
814-3
POLISABER 59
GABARITO aulas 8 a 10
de terrenos). Com a retração da indústria e a perda e – porque as áreas rurais também adotam trabalho
de empregos industriais, a metrópole tornou-se um escravo, como as carvoarias do Centro-Oeste brasileiro.
centro predominantemente terciário.
6. d
3. c
Até a década de 1930 a economia brasileira era agro-
Os maiores investimentos e a dinâmica econômica
exportadora. A crise de 1929 enfraqueceu a exportação
das regiões Sul e Sudeste indicam que os investimentos
de café e encareceu os produtos importados, consolidan-
em educação são desiguais no país.
do o processo, em curso desde o início do século XX, de
Estão incorretas as alternativas:
industrialização substitutiva das importações. Foi a partir
a – porque não é fácil recrutar recursos humanos de
da industrialização, estimulada pelo Estado ditatorial
qualidade ou obter recursos para pesquisa.
varguista, que surgiram grandes cidades (São Paulo e Rio
b – porque as indústrias de ponta demandam mão
de Janeiro). Esses centros urbanos se converteram em
de obra especializada.
mercado consumidor, gerando condições para a acelera-
d – porque a mão de obra da região Sul é mais bem
ção do processo de urbanização. A alternativa c menciona
qualificada.
uma característica da atual urbanização brasileira.
e – porque a qualificação dos recursos humanos é
imprescindível para o crescimento econômico.
4. c
Uma das características da Terceira Revolução
Industrial é a flexibilização da produção por meio da
terceirização, eliminando o contingente de operários nas
fábricas e em outras unidades de produção econômica.
Estão incorretas as alternativas:
a – porque não se desenvolveram setores produtivos
capazes de absorver a mão de obra excedente, não tendo,
assim, havido a compensação citada.
b – porque o aumento do desemprego resultou da
automação dos setores produtivos.
d – porque a diversificação das profissões atende à
demanda do mercado, mas não é a causa do desempre-
go estrutural citado no texto, que se deve à automação
dos setores.
e – porque os tecnopolos reduzem a demanda do
emprego formal e, portanto, estimulam o subemprego.
5. b
A relação de escravidão ou semiescravidão resulta
da precarização do trabalho.
Estão incorretas as alternativas:
a – porque também em países desenvolvidos pode-se
degradar a condição do trabalhador à semiescravidão, e
esse não é o fator determinante para a implantação de
indústrias no país.
c – porque a precarização do trabalho tem sido mais
frequente com a globalização, haja vista a adoção do
processo de terceirização e a busca de competitividade
das empresas.
d – porque os trabalhadores imigrantes são subme-
tidos a relações de trabalho degradantes também em
814-3
60 POLISABER
GABARITO – GEOGRAFIA DO BRASIL – CADERNO 3
Aula 8 Aula 9
EXERCÍCIOS EXERCÍCIOS
1. a 1. a
O maior número de idosos não favorece a sustenta- A publicação mostra a migração de europeus para
bilidade da previdência. A redução de investimentos o Brasil, pessoas que trabalhariam na cafeicultura,
na infância não garante que maiores recursos sejam sobretudo em São Paulo, substituindo a mão de
aplicados em benefício da população idosa. obra escrava.
2. e 2. e
Nascem mais homens, mas a população feminina é O dobramento atlântico envolve a região do vale do
mais numerosa. Isso ocorre porque a mortalidade de Ribeira, no estado de São Paulo, área de significativa
jovens e adultos do sexo masculino é maior, sobretu- ocupação quilombola.
do por causa da violência, exigindo, principalmente,
políticas de redução desta.
3. Maiores fluxos de haitianos foram registrados a
partir do ano de 2010, ocasião da ocorrência de
3. O gráfico mostra que, entre 2000 e 2010, ocorreu
um grande terremoto no país, agravando ainda
um aumento do trabalho formal no Brasil, aquele
mais as precárias condições sociais no Haiti. Ao
que fornece benefícios sociais provenientes da car-
mesmo tempo, o Brasil passou por certa prosperi-
teira de trabalho assinada. Para os trabalhadores,
dade econômica, fato que serviu para atrair esses
alguns benefícios são: 13o salário, férias remune-
imigrantes haitianos para o território brasileiro.
radas e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
A diferença é que os haitianos seguiram para o
O governo se beneficia com maior arrecadação de
Brasil por questões econômicas, enquanto grande
impostos e aumento nas contribuições previdenciá-
parte dos imigrantes do século XX pelo mundo
rias, reduzindo o déficit na previdência.
teve, além de motivações econômicas, motivos
políticos e étnico-religiosos.
4. I e II. Corretas. A população brasileira se distribui
irregularmente pelo território, e o Nordeste é a se-
gunda mais populosa, mas, em razão de sua grande 4. e
área, é pouco povoada. A figura mostra fluxos migratórios em direção às
III. Incorreta. O processo de industrialização no Sudeste regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, em razão
serviu, entre outros fatores, para atrair imigrantes de ou- do aparecimento de novas fronteiras agropecuárias
tras regiões, provocando um incremento populacional. nessas regiões.
POLISABER 61
GEOGRAFIA DO BRASIL gabarito
Aula 10 3. b
A partir de 1990 ocorreu um processo de descen-
EXERCÍCIOS tralização da atividade industrial no estado de São
Paulo, quando empresas passaram a buscar cidades
1. b do interior para fabricar seus produtos com custos
A energia elétrica é fundamental para a instalação menores, melhorando sua competitividade.
de parques industriais. No Brasil essa energia pas-
sou a ser gerada por hidrelétricas, que tiveram suas
4. d
construções incentivadas pelo Plano de Metas do
Para receber investimentos industriais de países
governo de Juscelino Kubitschek.
desenvolvidos, o governo brasileiro esforçou-se em
criar empresas estatais de transportes, energia e
2. a)
“Guerra fiscal” é uma expressão utilizada para
comunicações.
explicar a competição feita entre estados da Fe-
deração e municípios para atrair empresas de
diversos ramos, inclusive industriais. São ofereci- 5. a
das vantagens como incentivos fiscais, doação de Corporações transnacionais como a Ford passaram
terrenos, mão de obra barata, entre outras. nas últimas décadas por um processo de descen-
b) Além do estado de São Paulo, existem no Brasil tralização, desenvolvendo pesquisas e tecnologias
indústrias automobilísticas na Bahia, Paraná e Rio em diversos países, levando a produção de veículos
Grande do Sul. para o mercado global.
62 POLISABER
814-4 EDU LYRA/PULSAR IMAGENS
GEOGRAFIA DO BRASIL 4
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 11
EDU LYRA/PULSAR IMAGENS
0016
álcool etc.) e na força das águas. tes primárias, as sociedades produzem as secundárias:
2 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
a energia elétrica, a gasolina, o coque siderúrgico etc. No Brasil, as fontes renováveis representam 45,4% do total de
energia consumida, um número sensivelmente superior à média mundial, que é de 12,9%. Para muitos, trata-se de uma
vantagem para o país, mas é uma vantagem relativa, pois o aproveitamento dessas fontes tem impactos nos ambientes
naturais: o desmatamento para a obtenção de lenha ou a produção de carvão vegetal e inundações provocadas pelos
lagos das hidrelétricas, entre outros.
Uma análise do sistema energético brasileiro requer que localizemos as fontes naturais de energia (primárias), que
são fixas no território (um rio, por exemplo), e as fontes secundárias, que são criadas pelo homem (uma refinaria de
petróleo). Verifiquemos como se estrutura a rede energética que distribui para os consumidores a energia produzida,
que mudanças se produzem no ambiente pela exploração das fontes e pela intensificação de seu uso e quais são a
eficiência e a racionalidade do sistema para que haja avanço socioeconômico.
Na fase do meio natural (ver caderno 1), o consumo de energia no território brasileiro era pequeno, e ela provinha da
força muscular dos escravos, da tração animal e da lenha. Durante a expansão da economia cafeeira e a construção das
ferrovias o carvão mineral importado foi utilizado e, com as primeiras indústrias, seu uso se ampliou nas usinas termelétri-
cas. Com o incremento da industrialização a partir de 1930, construíram-se as primeiras hidrelétricas e aumentou o uso do
petróleo. Desde o fim da Segunda Guerra e mais intensamente nos últimos 50 anos, a matriz energética brasileira passou
por grandes mudanças, que revelam a transformação do Brasil em meio técnico-científico-informacional, com a substituição
do uso direto de energia primária (natural) para o uso de energia secundária ou artificialmente produzida pelo ser humano.
106 tep
outras
300 produtos
da cana
250
hidráulica
200 carvão
mineral
150
100 lenha
petróleo, gás e derivados Observe como a oferta interna de
50
energia aumentou ao longo dos anos.
0 Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa
de Pesquisa Energética (EPE). Balanço energético
1940
1955
1970
1985
2000
2003
2006
2009
2012
50%
40% álcool
30%
eletricidade Apesar do consumo de energia por
20%
ILUSTRAÇÕES: AVITS
1975
1980
1985
1995
2000
2005
2010
POLISABER 3
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
residencial 9,1%
33,9% industrial
AVITS
O setor que mais consome energia é o industrial, seguido pelo de transportes.
Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Balanço energético nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE, 2014. p. 29.
Outra mudança importante é que o Brasil vem reduzindo seu consumo de energia importada, sobretudo a partir da
década de 1980, e, hoje, só aproximadamente 10% da energia total consumida são importados. Destaque para o gás
natural importado da Bolívia e a energia elétrica do Paraguai, sócio do Brasil na usina de Itaipu.
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2010
(EPE). Balanço energético nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE,
lugar do petróleo nas empresas. 2014. p. 44.
4 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
Em 1995, o monopólio da extração, do transporte e do refino foi quebrado por uma revisão constitucional, quando
então empresas privadas estrangeiras ou nacionais poderiam participar das atividades petrolíferas no país. Em 1997,
criou-se a Agência Nacional do Petróleo (ANP), uma autarquia do Ministério de Minas e Energia com atribuição de regular,
contratar e fiscalizar as atividades relativas ao petróleo no Brasil. Desde então, fizeram-se leilões para licitar áreas de
exploração petrolífera, majoritariamente vencidos pela Petrobras, empresa de capital misto mas sob controle estatal.
Inúmeras petroleiras passaram a explorar as reservas de petróleo brasileiras segundo um modelo de concessão, pelo
qual o governo federal, detentor das reservas, oferece o direito de exploração dos campos descobertos a quem lhe
oferecer o maior valor em moeda internacional, deixando nas mãos da empresa ou do consórcio de empresas vencedor
o direito de explorar todo o petróleo ali existente e recebendo apenas os royalties (15%).
A Petrobras tem 11 refinarias em sete estados do Brasil e algumas unidades em outros países como EUA, Japão e
Argentina. Aqui, o sistema técnico de refino e distribuição de petróleo se concentra na região centro-sul, onde o mercado
consumidor é maior devido à maior concentração urbano-industrial.
RR
AP
EQUADOR
Lubnor
(Fortaleza)
Reman 7
(Manaus)
46
PA MA
AM CE RN
PI PB
PE
10° AC TO AL
RO SE
MT
BA
Revap Riam
(São José dos Campos) DF
(São Francisco do Conde)
251 279
MG
GO
Regap
Replan
(Betim)
(Paulínia)
MS 151 20°
365
ES
Reduc
SP (Duque de Caxias)
Recap RJ
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ 242
(Mauá)
53 Manguinhos (RJ)
PR 15
Repar
(Araucária) Rbpc
189 SC (Cubatão)
170
313 km
RS
refinarias da Petrobrás Refap
RIo Grande
refinarias particulares (Canoas)
9,3
46 capacidade instalada (mil barris/dia) 189
AVITS
Petrobras. Principais operações. Disponível em: www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/principais-operacoes (acesso em: 24 ago. 2014)
POLISABER 5
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
72%
70% MG
60%
RJ
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
50%
m
SP
0k
80
40% PR
20
0k
m
30%
SC
Área de
190 km
20% exploração do pré-sal
15% 40°
as
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plataforma
Ri
Gr
o
Ri
de oito a doze bilhões de barris. Petrobras. Disponível em: www.petrobras.com.br (acesso em: 24 ago. 2014)
6 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
No fim de 2009, o governo federal enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei estabelecendo o fim do regime de
concessão na exploração do petróleo brasileiro e a implantação do regime de partilha. Assim, o governo dará o direito
de exploração não a quem lhe pagar mais pela concessão, mas à empresa que oferecer a maior quantidade de óleo à
União, sendo que o mínimo oferecido deve ser 70% do total extraído e, deste percentual, 30% são da Petrobras.
Para gerir todo esse óleo (armazenamento e negociação no mercado), está prevista a criação de uma nova empresa
totalmente estatal. Além disso, a nova lei que estabelece o regime de partilha criou um fundo social onde se depositarão
os recursos oriundos do pré-sal – separados dos outros recursos públicos depositados no Tesouro Nacional –, que, por
determinação constitucional, devem ser aplicados apenas em programas de redução da pobreza, melhorias na educa-
ção, cultura, inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental e saúde. Já os recursos oriundos dos royalties (15%) da
exploração desse óleo devem ser aplicados exclusivamente em educação (75%) e saúde (25%).
Para que a Petrobras possa iniciar imediatamente a exploração desse imenso tesouro escondido no fundo da plata-
forma continental brasileira, a lei prevê também a capitalização prévia da empresa que receberá nos próximos anos o
equivalente a cinco bilhões de barris em recursos oriundos do Tesouro Nacional. Assim, poderá fazer os investimentos
necessários, como desenvolvimento tecnológico, construção de plataformas e navios petroleiros, contratação de mão de
obra qualificada etc. Quanto aos campos que já haviam sido descobertos anteriormente, não serão alteradas as regras,
mantendo-se os contratos firmados em regime de concessão.
A regra atual de pagamento de royalties também foi modificada pelo Congresso Nacional em favor dos estados e mu-
nicípios não produtores, sob o argumento de mais equidade na distribuição dos recursos obtidos a partir da exploração
de uma riqueza que, em tese, pertence a todos os brasileiros (ver quadro a seguir). Os estados e municípios produto-
res que “perderam” receita contestaram a nova regra ao Superior Tribunal Federal (STF), e, enquanto não houver uma
decisão final sobre a constitucionalidade ou não das alterações na distribuição dos royalties, segue valendo a forma
anterior dessa distribuição.
Ocorrido em 2013, o leilão do Campo de Libra, na bacia de Campos, foi só o início das disputas que virão pela con-
cessão, sob o regime de partilha, de áreas para exploração de petróleo e gás natural na região brasileira do pré-sal. Ao
final, o governo federal arrecadou duas vezes mais do que já havia sido arrecadado até hoje com leilões de concessão
de exploração, isto é, R$ 15 bilhões, e entregou mais de 1,5 mil quilômetros quadrados para exploração a um consór-
cio de empresas petroleiras liderado pela Petrobras (40%) e composto também pela Shell (20%), pela Total (20%), pela
CNPC (10%) e pela CNOOC (10%).
Assim, de todo o óleo extraído no Campo de Libra, 41% ficarão com a União, 30% com a Petrobras, como prevê a nova
regra da partilha, e 29% com o consórcio vencedor. O que significa que a Petrobras terá 40% de 29%, ou seja, 11,6% de
todo o óleo, mais os 30% que lhe são de direito. Logo, 41,6% do petróleo de Libra ficarão nas mãos da nossa petroleira,
e outros 41% nas mãos da União, restando 17,4% para as outras quatros empresas estrangeiras.
O gás natural foi a fonte primária cuja participação na matriz energética brasileira mais cresceu, tendo triplicado entre
1998 e 2008; o Rio de Janeiro é seu maior produtor, e parte foi importada da Bolívia. Esse aumento se deve à substituição
de derivados de petróleo como o GLP (gás liquefeito de petróleo, ou gás de cozinha), o óleo combustível da indústria,
o óleo diesel e a gasolina nos transportes. Além disso, o gás natural vem sendo usado para gerar energia elétrica em
814-4
usinas termelétricas.
POLISABER 7
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
RR
AP
EQUADOR
PA MA CE
AM RN
PI PB
PE
AC AL
10°
TO SE
RO MT
BA
DF
GO
MG
MS
ES
20°
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
SP RJ
PR
SC
fluxos (operação)
294 km
fluxos (planejamento) RS
gasodutos em construção
gasodutos em operação
UPGNs
AVITS
70° 60° 50° 40°
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: Aneel, 2008. p. 97.
O carvão mineral provém do soterramento de florestas em ambientes pantanosos há milhões de anos, e sua qualidade
é tanto melhor quanto maior for seu teor de carbono, relacionado ao tempo de soterramento. No Brasil, as jazidas de
Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, que são as exploradas economicamente, têm um carvão de baixa qualidade,
com baixo teor de carbono e grande quantidade de enxofre e cinzas, o que prejudica seu poder calorífico. Portanto, do
carvão nacional, não é possível obter o coque siderúrgico, usado nos altos fornos para a fabricação de aço. Esse coque
é totalmente importado, e o carvão nacional é usado na à produção elétrica nas usinas térmicas do sul do país e nas
indústrias de celulose, cerâmica, cimento e carboquímicas. Dois terços do carvão utilizado no Brasil são importados;
da produção nacional, um terço vai para a produção termelétrica e o restante para a indústria, especialmente o carvão
das jazidas de Santa Catarina.
814-4
8 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
50°
POLISABER 9
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
EQUADOR
10°
20°
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
sistema interconectado
subestação existente
subestação existente
AVITS
Em 1969, ainda no início da ditadura civil-militar, o Brasil entrou na era nuclear, quando o governo comprou da empresa
estadunidense W. Westinghouse a usina nuclear de Angra I, com capacidade de produção de 625 MW, o que correspon-
de a 5% de Itaipu. Muito questionado pela comunidade científica, o programa nuclear se fundamentava no argumento
do esgotamento do potencial hidráulico, sem levar em conta o total potencial dessa fonte no país. Instalada a partir
de 1972 em Angra dos Reis (RJ), na praia de Itaorna (“pedra podre”, em Tupi), sobre uma área de falhas geológicas – o
que aumenta o risco de acidentes e vazamento de radiação –, Angra I só funcionou regularmente em 1995, pois sérios
814-4
problemas técnicos interrompiam seu fornecimento de energia e lhe valeram o apelido de “usina vaga-lume”.
10 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
Como o acordo com os EUA não previa a transferência de tecnologia, os militares assinaram em 1975 uma parceria
com a empresa alemã Siemens para a construção de mais oito usinas no país, agora com transferência de tecnologia.
Angra II (1 350 MW) foi inaugurada em 2001 (estava prevista para 1983) e, em 2008, retomou-se a construção de Angra
III (1 350 MW), paralisada por muitos anos, mas com os equipamentos já pagos anteriormente; sua inauguração estava
prevista para 2014. Bilhões de dólares foram gastos, mas essas usinas representam apenas 2% da geração de energia
elétrica no país, embora o estado do Rio de Janeiro dependa bastante delas.
MAURICIO SIMONETTI/PULSAR IMAGENS
Biomassa
Vegetais como a cana-de-açúcar, matérias orgânicas como o carvão vegetal, oleaginosas etc., podem gerar combus-
tíveis que são utilizados puros ou adicionados a derivados de petróleo. No Brasil, são a segunda fonte mais usada, e o
território tem amplas condições favoráveis ao cultivo de plantas oleaginosas (soja, mamona, palma, babaçu, girassol etc.)
para a produção de biodiesel e de cana para o álcool etanol: grandes extensões de áreas agricultáveis e de solos férteis
com clima adequado. Além disso, os biocombustíveis podem ter vantagens de sustentabilidade ambiental, econômica
e social, pois são renováveis, podem reduzir o consumo de derivados de petróleo, cuja queima é mais poluente, gerar
mais empregos em sua cadeia produtiva e tornar-se produtos de exportação.
Por outro lado, o aumento da demanda mundial desses combustíveis poderia expandir a área cultivada da cana e
de outros vegetais a ponto de prejudicar o cultivo de alimentos e encarecê-los, além de ensejar o desmatamento de
florestas nativas.
O uso do etanol data de 1975, quando o governo federal implantou o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) para
atenuar o impacto da crise do petróleo na economia. Misturado à gasolina ou utilizado em motores exclusivamente
a álcool, o etanol consumiu vultosos recursos com subsídios e empréstimos, e, nas regiões onde ele foi implantado,
agravaram-se problemas de concentração de terras, monocultura, trabalho temporário e êxodo rural. Por outro lado,
misturado na proporção de 20% a 25% do litro de gasolina e com a expansão dos motores bicombustíveis, diminuiu o
problema da qualidade de ar nos centros urbanos, pois o álcool é menos poluente e elimina a necessidade de adicionar
814-4
chumbo à gasolina.
POLISABER 11
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
107 148
produção
97 941
92 024
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
O álcool etílico é o etanol, usado como combustível para carros.
Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Balanço energético nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE, 2014. p. 51.
1 608
1 167
ILUSTRAÇÕES: AVITS
404
0 1 69
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Ministério de Minas e Energia (MME); Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Balanço energético nacional: relatório final 2014. Brasília: MME; EPE, 2014. p. 60.
814-4
12 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
Consideradas fontes limpas e alternativas de energia, dependem consideravelmente das condições naturais para ser
instaladas. No Brasil, temos algumas usinas na região Nordeste, onde seu aproveitamento encontra condições favoráveis.
RR
AP
EQUADOR
AM
PA MA CE
RN
PB
PI
PE
10° AC TO AL
RO
SE
BA
MT
DF
GO
MG
20°
MS ES
SP
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO RJ
PR
SC
12,8 GW (26,4 TWh/ano)
285 km
3,1 GW (5,4 TWh/ano)
RS
75,0 GW (144,3 TWh/ano)
29,7 GW (54,9 TWh/ano)
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: Aneel, 2008. p. 81.
814-4
POLISABER 13
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
RR
AP
EQUADOR
AM
PA MA CE
RN
PI PB
PE
10° AC TO AL
RO SE
BA
MT
DF
GO
MG
20°
MS ES
SP
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO RJ
PR
SC
AVITS
70° 60° 50° 40°
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: Aneel, 2008. p. 85.
A região Nordeste possui grande potencial para a energia eólica e solar.
EXERCÍCIOS
14 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
POLISABER 15
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
Os períodos do ano que oferecem as melhores condições para a produção de energia hidrelétrica no Su-
deste e de energia eólica no Nordeste são aqueles em que predominam, nessas regiões, respectivamente:
a) primavera e verão.
b) verão e outono.
c) outono e inverno.
d) verão e inverno.
814-4
e) inverno e primavera.
16 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
5. (UERJ) Na atualidade, o petróleo é um recurso natural de grande importância para o crescimento econômi-
co, representando uma das principais fontes de riqueza e investimento para os países do mundo. No mapa
a seguir, registram-se os desiguais fluxos comerciais de produção e consumo desse recurso.
Adaptado de DURANO, Marie-Fraçoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.
Explicite a situação atual do Brasil como produtor e sua participação no comércio mundial de petróleo. Em
seguida, identifique dois espaços econômicos desenvolvidos que importam mais de três milhões de barris
de petróleo por dia.
ESTUDO ORIENTADO
Caro(a) aluno(a),
Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado resolvendo os exercícios e também verificar como os exa-
mes vestibulares tratam o assunto destas aulas. Na roda de leitura, um texto complementa o que vimos sobre energia
eólica. E, para ampliar seu repertório, veja as sugestões de pesquisar e ler, ver e ouvir, navegar e ágora.
814-4
POLISABER 17
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
EXERCÍCIOS
18 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
5. (Fuvest) Grandes lagos artificiais de barragens como o Nasser, no rio Nilo, o Three Gorges, na China, e o de
Itaipu, no Brasil, resultantes do represamento de rios, estão entre as obras de engenharia espalhadas pelo
mundo com importantes efeitos socioambientais.
Acerca dos efeitos socioambientais de grandes lagos de barragens, considere as afirmações abaixo.
I. Enquanto, no passado, grandes lagos de barragem restringiam-se a áreas de planície, atualmente, graças a pro-
gressos tecnológicos, situam-se invariavelmente em regiões planálticas, com significativos desníveis topográficos.
II. A abertura das comportas que represam as águas dos lagos de barragens impede a ocorrência de processos de
sedimentação, assim como provoca grandes enchentes a montante.
III. Frequentes desalojamentos de pessoas para a implantação de lagos de barragens levaram ao surgimento, no Bra-
sil, do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB.
IV. Por se constituírem como extensos e, muitas vezes, profundos reservatórios de água, grandes lagos de barragens
provocam alterações microclimáticas nas suas proximidades.
POLISABER 19
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
Portal Brasil, 14 dez. 2011 “Sobradinho”. Pirão de peixe com pimenta, 1977.
Disponível em: www.brasil.gov.br/infraestrutura/ Com música e letra de Sá e Guarabyra, a canção faz uma
2011/12/energia-eolica-apresenta-altas-taxas-de- critica à construção da usina de Sobradinho, no rio São
crescimento (acesso em: 15 ago. 2014)
Francisco, nos anos 1970.
PESQUISAR E LER
NAVEGAR
BRANCO, Samuel Murgel. Energia e meio ambiente.
Petrobras
2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.
O autor estabelece as relações entre as fontes de energia www.petrobras.com (acesso em: 15 ago. 2014)
e as necessidades sociais, discutindo questões ambien- Site da companhia, com análises de fontes de energia,
tais e o futuro da energia. impactos ambientais e atuação da BR no exterior.
MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Sol e energia Agência Nacional do Petróleo (ANP)
no terceiro milênio. São Paulo: Scipione, 2000. www.anp.gov.br (acesso em: 15 ago. 2014)
Estuda as possibilidades da energia solar e maneiras de Site da agência reguladora apresenta legislação, contratos
814-4
20 POLISABER
aula 11 GEOGRAFIA DO BRASIL
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) 1975, no governo Geisel. Em 2011, as obras começaram.
www.aneel.gov.br (acesso em: 15 ago. 2014) E os protestos aumentaram. O Movimento Gota D’Água,
Agência reguladora do setor elétrico apresenta legisla- em que atores defendem o fim das obras no YouTube, é
ção, estatísticas e outras informações sobre geração, só o mais recente. O apelo é substituir a usina por fontes
transmissão e distribuição de energia elétrica no Brasil. de energia eólica e solar. Para quem defende Belo Monte,
isso não tem sentido: seria mais caro e menos confiável. A
Ministério de Minas e Energia (MME) maior certeza é que, até janeiro de 2015, a data marcada
www.mme.gov.br (acesso em: 15 ago. 2014) para a entrega da usina, muita água vai rolar nesse debate.
Site do ministério, com artigos, publicações, programas
de desenvolvimento e cidadania ligados ao tema energia Argumentos contra:
Debaixo d’água
no Brasil.
O lago que alimentará as turbinas de Belo Monte vai
ocupar uma área equivalente a 90 mil campos de futebol
Indústrias Nucleares do Brasil (INB)
da bacia do Xingu, que abriga 440 espécies de aves e
www.inb.gov.br (acesso em: 15 ago. 2014)
259 de mamíferos.
Site das indústrias nucleares do Brasil oferece informa-
A extensão da área alagada é 640 km2, que equivale
ções sobre as usinas, o urânio e os indicadores tecno-
a 1/3 da cidade de São Paulo.
lógicos do setor.
Caos social
BioDieselBR.com A obra vai obrigar a realocação de 5 988 famílias. Além
www.biodiesel.gov.br/programa.html disso, milhares de migrantes serão atraídos para a região.
(acesso em: 15 ago. 2014) E as obras de saneamento prometidas para recebê-las
Oferece informações sobre o programa de biodiesel do estão atrasadas.
governo federal. Vinte mil pessoas terão de sair de suas casas.
A cidade de Altamira espera 100 mil novos moradores.
A população da cidade vai dobrar, e não há infraestrutura
para isso.
ÁGORA
Desmatamento
Leia o texto a seguir e discuta com seus colegas os prós O lago da usina receberá água drenada de outras
e os contras da construção de usinas como a de Belo regiões do rio Xingu para que haja volume suficiente no
Monte. Quando entrar em operação, a usina deve fornecer reservatório. Essa água chegará por meio de um canal
eletricidade para 60 milhões de pessoas. Por outro lado, com 130 m de espessura e 20 km de extensão.
está encravada na Floresta Amazônica e não tem como Para a construção do canal, serão removidos 100 mi-
não causar problemas ambientais. Avalie os principais lhões de m3 de floresta, que encheriam 40 mil piscinas
pontos contra e a favor da terceira maior usina do planeta. olímpicas.
rio Xingu para gerar energia já era antiga: começou em R$ 99. De uma solar, quase R$ 200.
POLISABER 21
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 11
Para igualar a produção de Belo Monte, seriam Os investimentos do governo em saúde, educação e
necessários(as), infraestrutura chegarão a R$ 4 bilhões, isso dá 7 vezes
• 19 termelétricas; o PIB de Altamira.
• 17 usinas nucleares iguais a Angra II;
• 3 700 torres de energia eólica; 42% está ótimo
• 49,9 milhões de placas de energia solar. A área alagada de 640 km2 é pequena. Tucuruí ocupa
2 850 km2. Itaipu, 1 350 km2. Também criticam o fato de
Motor para o PIB que a usina vai operar a 42% de sua capacidade, em
O Brasil precisa de mais energia. A demanda no país, média. Mas é o normal, por causa das estiagens.
segundo a Agência Internacional de Energia, deve crescer
2,2% ao ano entre 2009 e 2035. Mais do que a média mun- Média da capacidade de operação:
dial, de 1,3%, e até do que a China, de 2%. • Espanha – 21%
O crescimento de consumo de energia elétrica em 2010 • França – 35%
foi 7,8%. • Belo Monte – 42%
Neste ritmo, o Brasil precisaria dobrar sua capacidade de • EUA – 46%
geração de energia a cada 12 anos. • Brasil – 50%
S E N H A
O que são os pontos claros
na imagem de satélite?
SPL DC/LATINSTOCK
814-4
22 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 12
bém surgiram e se consolidaram o Estado, a escrita e a fica superdimensionado, pois municípios com qualquer
POLISABER 23
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
extensão territorial têm obrigatoriamente uma área urbana. Para o IBGE, mais de 80% da população brasileira é urbana,
mas pode-se inferir que muitos habitantes ligados à vida rural são erroneamente classificados como urbanos. Como
esses critérios não são uniformes em todos os países, é difícil fazer comparações.
Vale ressaltar que atualmente a distinção entre população urbana e rural é difícil de ser feita, em virtude da própria
complexidade da economia e de suas atividades. Há um grande número de pessoas que trabalham em atividades rurais
e moram em cidades, e outras que se dedicam a atividades secundárias e terciárias – como a agroindústria – e moram
em áreas rurais.
RR
AP
EQUADOR
PA MA
AM CE RN
PI PB
PE
10° AC TO AL
RO SE
BA
MT
DF
GO
MG
MS 20°
ES
SP
RJ TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
PR
Taxa de urbanização
4,2 a 35,0 OCEANO
SC
35,1 a 50,0 ATLÂNTICO
50,1 a 70,0
RS
70,1 a 90,0
90,1 a 100,0
472 km
AVITS
As maiores taxas de urbanização se encontram na região Sudeste e Sul, regiões onde houve um maior desenvolvimento
nos setores industrial e de serviços.
IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 107.
Entre os fatores que determinaram a urbanização no Brasil, há aqueles considerados atrativos, como a oferta de em-
pregos nos setores industrial e de serviços, mesmo que no início da urbanização as condições de vida dos trabalhadores
da indústria tenham sido muito precárias, como salários baixos e péssimas moradias. Aos poucos, as conquistas dos
sindicatos e a lenta intervenção do Estado levaram à melhoria das condições de saneamento, habitação e transporte.
Além disso, no caso do Brasil, os fatores repulsivos como a desigual estrutura fundiária no campo, com predomínio
dos latifúndios, os baixos rendimentos e a falta de apoio aos pequenos agricultores resultaram num intenso êxodo rural
814-4
24 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
A urbanização brasileira tem traços de um processo que se repetiu em outros países latino-americanos, africanos e
asiáticos, típicos do subdesenvolvimento e da industrialização tardia: foi acelerada e extremamente concentrada, atin-
gindo um número menor de cidades, com muitas pessoas nas atividades terciárias públicas ou privadas e tendo sido
mais intensa depois da Segunda Guerra Mundial.
EQUADOR
Olinda
Recife
10°
Sabará 20°
Vila Rica (Ouro Preto) Vitória
Tratado de Tordesilhas, 1494 São João del Rei
2
Tratado de Utrecht, 1713-1715 São Paulo Rio de Janeiro
(capital a partir de 1763)
3
Tratado de Madri, 1750 Curitiba São Vicente
4
Tratado de Santo Idelsonso, 1777
OCEANO
5 Vila do Desterro
Tratado de Badájos, 1801 ATLÂNTICO
2
Área disputada por Portugal e Espanha 4
Porto Alegre
5
Áreas em litígio com os países 3
AVITS
Mapa mostra os diferentes tratados que levaram à atual configuração territorial do país e às primeiras cidades.
Geobau. Disponível em: http://marcosbau.files.wordpress.com/2011/01/dois-estados-da-am-portuguesa-1772.jpg (acesso em: 2 set. 2014).
Assim, do século XIV ao início do XX, temos uma longa primeira etapa, que corresponde à urbanização na fase agrário-
-exportadora. Inicialmente, os principais núcleos urbanos se inseriam no contexto territorial do “arquipélago” econômico, ou
seja, eram como “ilhas” desarticuladas entre si e todas ligadas à metrópole colonial. O litoral de Recife e de Salvador se des-
tacava como entreposto do comércio de algodão e açúcar; na Amazônia, missões religiosas fundavam povoados, mas foi com
a economia da borracha, no século XIX, que se desenvolveram Manaus e Belém. No século XVIII, cresceram as vilas de Minas
Gerais e Goiás, devido à mineração de ouro e pedras preciosas. Na segunda metade do século XIX, a cafeicultura impulsionou
o crescimento das cidades do Rio de Janeiro, do Vale do Paraíba, de Santos e de São Paulo. No início do século XVIII, 5,7%
814-4
da população brasileira vivia em vilas e cidades. No fim do século XIX, estimava-se em 10,7% a população urbana brasileira.
POLISABER 25
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
Ano da Criação
12,5°
1711
1713 a 1729
1789 a 1874
15°
Serro
Pitangui Sabará
Caeté 17,5°
Ouro Preto
Itapecerica Mariana
Tiradentes Conseleiro Lafaiete
Jacuí
São João del Rei Barbacena
Campanha Baependi
164 km
AVITS
50° 47,5° 45° 42,5° 40°
RODARTE, Mario Marcos; PAULA, João Antonio de; SIMÕES, Rodrigo. Rede de cidades em Minas Gerais no Século XIX. História Econômica & História de
Empresas. São Paulo: HUCITEC/ABPHE, v. 7, n. 1. 2004. p. 12.
Na segunda etapa, a da industrialização e formação do mercado nacional, que vai do início do século XX até meados dos
anos 1940, a urbanização se concentra nos núcleos da região Sudeste, notadamente São Paulo e Rio de Janeiro. É a fase de
modernização econômica do país e da criação de laços entre as economias regionais, com importantes mudanças sociais
e territoriais como o crescimento da massa de operários urbanos e a expansão e instalação de redes de infraestrutura
(rodovias, ferrovias, energia e saneamento) imprimindo um conteúdo mais técnico ao território. Com a implantação de
indústrias de base, o Estado concorre para a subordinação das demais regiões ao Sudeste, levando sua população urbana a
estagnar ou reduzir-se. Em 1940, o índice nacional da população urbana era de 31,2%, contra 43% do estado de São Paulo.
0% 0%
1960 1970 1980 1991 2000 2010 1960 1970 1980 1991 2000 2010
34.2%
814-4
0% 0%
1960 1970 1980 1991 2000 2010 1960 1970 1980 1991 2000 2010
0% 0%
1960 1970 1980 1991 2000 2010 1960 aula
1970121980 GEOGRAFIA
1991 2000 2010DO BRASIL
0% 0%
1960 1970 1980 1991 2000 2010 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Atualmente, a população de todas as regiões do Brasil é muito maior do que a rural.
IBGE. Sinopse do Censo Demográfico 2010. Disponível em: www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=9&uf=00 (acesso em: 2 set. 2014).
A terceira etapa do processo de urbanização corresponde ao pós-Segunda Guerra Mundial, quando a modernização se
acelerou, e as grandes cidades eram um meio técnico apto a receber inovações tecnológicas e ramos produtivos mais
modernos introduzidos por empresas transnacionais como o de bens de consumo duráveis (automóveis e eletrodomés-
ticos) e intermediários (metalúrgicos, elétricos e mecânicos). São Paulo e Rio de Janeiro consolidam-se como os centros
mais importantes da economia e de finanças e se articulam em complementaridade com outras regiões como o norte
paranaense, o sul de Minas Gerais, o Mato Grosso do Sul e Goiás. Verifica-se ainda uma forte tendência à concentração
urbana regional em capitais de estado como Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte, entre outras, onde se condensava
poder político e econômico, numa crescente metropolização.
A evolução da mancha urbana da Grande São Paulo entre 1881–1995. Tal processo teve início no último quartel do século
814-4
XIX, se acelera ao longo do século XX e, neste início de século XXI, alcança regiões mais distantes de seu centro original.
POLISABER 27
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
Na mesma época houve também uma interiorização da urbanização, proporcionada pela construção de Brasília e pela
consequente implantação de redes de transportes e comunicações. O Nordeste açucareiro conheceu uma acentuada deca-
dência, tornando-se território de repulsão populacional para outras regiões, e a Amazônia viveu uma integração ensejada pelo
Estado e por empresários estrangeiros e nacionais que diversificou seu quadro urbano, antes dominado apenas por Manaus
e Belém. Nessa etapa, a região Sudeste alcança a maior taxa de urbanização (82,8%), contra a menor do Nordeste (50,4%).
A partir dos anos de 1980, observa-se um maior crescimento das cidades médias e das metrópoles regionais, com o
deslocamento populacional de cidades pequenas e grandes metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo. Essa mudança
é resultado da reestruturação e da dispersão espacial das atividades econômicas pelo território brasileiro, pela qual as
metrópoles não perdem o comando e a primazia, mas outros centros urbanos regionais assumem papéis de metrópoles,
numa desmetropolização com remetropolização.
RR
AP
EQUADOR
RN
PA
MA
CE
AM
PB
PI
PE
10° AC TO AL
RO
MT SE
BA
DF
MG
GO
MS 20°
ES
SP
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ
PR
SC
321 km
RS
Sede municipal
33 cidades
AVITS
28 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
RR
AP
EQUADOR
PA RN
MA
CE
AM
PB
PI
PE
10° AC TO AL
RO
MT SE
BA
DF
GO
MG
MS
20°
ES
SP
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ
PR
SC
321 km
RS
Sede municipal
213 cidades
AVITS
POLISABER 29
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
RR
AP
EQUADOR
PA RN
MA
CE
AM
PB
PI
PE
10° AC
TO AL
RO
MT SE
BA
DF
GO
MG
MS
20°
ES
SP
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ
PR
SC
321 km
RS
Sede municipal
513 cidades AVITS
IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 109.
Em 1953, havia 2 273 municípios no Brasil; em 2010, 5 565. A maioria se formou pela emancipação de antigos distritos
que se desenvolveram, tiveram crescimento demográfico e urbano acelerado e cuja população se considerou margi-
nalizada e sem atenção e investimentos por parte do poder municipal. Por outro lado, muitos municípios criados não
conseguem independência financeira, pois sua receita derivada de impostos não é suficiente para saldar as despesas
de manutenção de escolas, de postos de saúde, das ruas e do abastecimento de água, por exemplo, além dos custos
da própria máquina administrativa.
814-4
30 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
As regiões metropolitanas
Como vimos, o processo brasileiro de urbanização foi muito concentrado espacialmente. Poucas cidades cresceram
aceleradamente, tornando-se, em pouco tempo, verdadeiras metrópoles, com grande concentração de pessoas, ativi-
dades econômicas, infraestrutura, efervescência cultural e política, lutas sociais e reivindicações pela melhoria de suas
condições de moradia, mobilidade, lazer e convivência entre seus habitantes. Elas irradiam sua influência por vastos
territórios e também concentram poder político, pois exercem o comando por meio de seu denso meio técnico de suas
atividades econômicas, culturais, esportivas e seu papel político.
Nesse processo, algumas metrópoles cresceram horizontalmente, e suas áreas urbanas se juntaram e integraram-se
a municípios vizinhos, gerando uma imensa mancha espacial urbana como se fosse uma única cidade. Essa unificação
recebe o nome de conurbação. Quando isso acontece, os problemas de infraestrutura tornam-se comuns a todos os
municípios da mancha, o que forçou o poder público a criar, em lei de 1973, aprovada pelo Congresso Nacional, as regiões
metropolitanas, um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com
serviços públicos e infraestrutura comuns. A partir da Constituição 1988, cabem aos estados da federação a definição
e o reconhecimento legal das metrópoles. Também são consideradas regiões metropolitanas as regiões intergradas de
desenvolvimento (Ride), compostas por municípios de mais de um estado e, por isso, regidas por lei federal. Segundo o
IBGE, em 2010, o Brasil possuía 35 regiões metropolitanas e 3 Rides.
RR AP
EQUADOR
PA MA
AM CE RN
PI PB
PE
10° AC TO AL
RO SE
MT
BA
DF
MG
GO
MS 20°
ES
SP
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
RJ
PR
Região metropolitana
Colar metropolitano, entorno SC
metropolitano e área de expansão 395 km
Região integrada de desenvolvimento RS
(RIDE)
Aglomeração urbana (A.U.)
AVITS
IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 147
POLISABER 31
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
População residente, por situação do domicílio, com indicação da população residente em situação urbana
na sede municipal, área total e densidade demográfica, segundo as Regiões Metropolitanas, as Regiões
Integradas de Desenvolvimento (Ride) e os municípios – 2010
população residente
demográfica
densidade
Regiões Metropolitanas, Regiões
(hab/km²)
urbana área total
Integradas de Desenvolvimento (Ride) e
total na sede rural (km²)
municípios total
municipal
Manaus – AM 2 106 322 1 975 896 1 960 084 130 426 101 475,4 20,76
Belém – PA 2 101 883 2 036 787 92 042 65 096 2 536,9 828,53
Macapá – AP 499 466 480 325 465 414 19 141 7 988,1 62,53
Grande São Luís – MA 1 331 181 1 098 116 1 020 189 233 065 2 898,9 459,20
Sudoeste Maranhense – MA 345 873 289 015 289 015 56 858 7 251,7 47,70
Cariri – CE 564 478 444 899 421 463 119 579 5 456,0 103,46
Fortaleza – CE 3 615 767 3 475 114 1 526 923 140 653 5 794,7 623,97
Natal – RN 1 351 004 1 215 497 1 205 508 135 507 2 807,5 481,21
Campina Grande – PB 687 039 519 554 498 515 167 485 5 175,2 132,76
João Pessoa – PB 1 198 576 1 116 044 1 089 890 82 532 3 134,8 382,35
Recife – PE 3 690 547 3 589 176 3 158 091 101 371 2 773,8 1330,52
Agreste – AL 601 049 331 448 317 845 269 601 4 968,9 120,96
Maceió – AL 1 156 364 1 131 281 1 118 398 25 083 1 924,6 600,84
Aracaju – SE 835 816 814 523 617 323 21 293 865,8 965,36
Salvador – BA 3 573 973 3 506 152 3 365 207 67 821 4 353,9 820,87
Belo Horizonte – MG 5 414 701 5 283 330 3 494 217 131 371 14 420,5 375,49
Vale do Aço – MG 615 297 562 974 365 182 52 323 6 701,0 91,82
Grande Vitória – ES 1 687 704 1 659 007 775 225 28 697 2 331,0 724,02
Rio de Janeiro – RJ 11 835 708 11 777 497 9 969 157 58 211 5 326,8 2 221,90
Baixada Santista – SP 1 664 136 1 660 675 1 444 420 3 461 2 405,9 691,68
Campinas – SP 2 797 137 2 725 293 2 461 537 71 844 3 644,9 767,40
São Paulo – SP 19 683 975 19 458 888 18 018 484 225 087 7 947,3 2 476,82
Curitiba – PR 3 174 201 2 921 845 2 813 348 252 356 15 418,6 205,87
Londrina – PR 764 348 731 934 714 340 32 414 4 285,4 178,36
Maringá – PR 612 545 589 473 572 440 23 072 3 190,1 192,02
Carbonífera – SC 550 206 457 429 366 482 92 777 5 053,8 108,87
Chapecó – SC 403 494 317 228 306 199 86 266 4 938,2 81,71
Florianópolis – SC 1 012 233 931 184 568 879 81 049 7 465,7 135,58
Foz do Rio Itajaí – SC 532 771 510 857 485 655 21 914 1 012,4 526,23
Lages – SC 350 532 291 758 288 981 58 774 19 090,8 18,36
Norte/Nordeste Catarinense – SC 1 094 412 991 327 929 856 103 085 10 829,5 101,06
Tubarão – SC 356 721 280 404 241 645 76 317 4 540,9 78,56
Vale do Itajaí – SC 689 731 617 602 567 390 72 129 5 006,4 137,77
Porto Alegre – RS 3 958 985 3 845 025 3 646 288 113 960 9 803,1 403,85
Vale do Rio Cuiabá – MT 833 766 800 920 414 054 32 846 21 545,1 38,70
Goiânia – GO 2 173 141 2 130 074 1 822 789 43 067 7 315,1 297,07
RIDE Petrolina/Juazeiro 686 410 481 163 450 829 205 247 33 432,2 20,53
RIDE Grande Teresina 1 150 959 1 004 819 1 004 478 146 140 10 488,3 109,74
RIDE Distrito Federal e Entorno 3 717 728 3 500 074 3 404 592 217 654 55 402,2 67,10
32 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
7 500 Km N
Queimados Nova Iguaçu
Belford Roxo
Duque
São João
de Caxias
de Meriti
Niterói
7 460 Km
7 460 Km
Rio de Janeiro
7 420 Km
7 420 Km
Osasco São Paulo NO ATLÂNTICO
OCEA
7 380 Km
7 380 Km
Santo André
São Bernardo
do Campo
Cubatão
Santos
São Vicente 48 km
Guarujá
7 340 Km N
7 340 Km N
Praia Grande
300 Km E 340 Km 380 Km 420 Km 460 Km 500 Km 540 Km 580 Km 620 Km 660 Km 700 Km
AVITS
1 000 000 e mais
O crescimento urbano das duas maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, está produzindo nossa
primeira megalópole (área de conurbação de duas ou mais metrópoles).
IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 146.
As cidades constituem verdadeiros nós territoriais dos fluxos de pessoas, mercadorias, serviços, informações e ordens
que fluem pelos sistemas técnicos de telecomunicações, informação, transportes e energia, entre outros. Elas podem
ser classificadas em diferentes níveis hierárquicos de influência socioeconômica: metrópoles, capitais regionais, centros
sub-regionais e centros locais. As maiores aglomerações urbanas exercem uma polarização sobre as menores, formando
um sistema integrado. No centro-sul do país, essa rede é mais densa, e existem cidades de todos os níveis hierárquicos.
Já na Amazônia, a articulação entre as cidades é menor, e a rede não está completa.
Para delimitar as áreas de influência das cidades brasileiras, o IBGE considera o fluxo de consumidores que usam
o comércio e os serviços públicos e privados no interior da rede urbana, mapeando os meios de transporte entre os
municípios e os principais destinos das pessoas que buscam produtos e/ou serviços fora de seu município de origem.
É importante ressaltar que o nível de renda de uma população determina o grau de acesso à fluidez das redes
técnicas; portanto, um habitante de alta renda de uma cidade pequena do interior tem mais acesso a essa fluidez do
que um habitante pobre de uma grande metrópole. Também a maior tecnificação e modernização dos sistemas de
telecomunicações e transportes (internet, telefonia celular etc.), juntamente com a ocupação econômica de novas
áreas no território, vem redefinindo a dinâmica dos fluxos de pessoas, mercadorias, serviços e informações pelo
814-4
território brasileiro.
POLISABER 33
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
Segundo o IBGE, as cidades brasileiras são classificadas em cinco níveis hierárquicos, subdivididos assim:
1 metrópoles
1.1 grande metrópole nacional (São Paulo)
1.2 metrópole nacional (Rio de Janeiro e Brasília)
1.3 metrópole (Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre)
2 capital regional
2.1 capital regional A – média de 955 mil habitantes
2.2 capital regional B – média de 435 mil habitantes
2.3 capital regional C – média de 250 mil habitantes
3 centro sub-regional
3.1 centro sub-regional A – média de 95 mil habitantes
3.2 centro sub-regional B – média de 71 mil habitantes
4 centro de zona
4.1 centro de zona A – média de 45 mil habitantes
4.2 centro de zona B – média de 23 mil habitantes
5 centro local – média de 8 mil habitantes
metrópole regional
centro regional
cidade local
cidade local
ILUSTRAÇÕES: AVITS
vila vila
SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 1999.
Num contexto de economia globalizada, algumas cidades exercem sua capacidade de comando para além das fron-
teiras nacionais. É o caso de São Paulo, cuja influência alcança a América do Sul, por concentrar uma gama de serviços
especializados e sediar importantes atividades de comando de grandes empresas transnacionais e do grande capital
financeiro, como uma Bolsa de Valores. Assim, podemos dizer que São Paulo é também uma cidade global.
814-4
34 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
Francisco
Morato Santa Isabel
Franco da Rocha Mariporá
Cajamar
Pirapora do Caleiras TRÓPICO DE
Bom Jesus Arujá
Guarulhos Guararema CAPRICÓRNIO
Santana de
Parnaíba Itaquaque-
cetuba
Barueri
Osasco Poá
Jandira Carapieuiba São Paulo Ferraz de
Itapevi Mogi das
Vasconcelos Salesópolis
Cruzes
Taboão S. Caetano Biritiba-
Vargem G. Suzano
da Serra do Sul Mirim
Paulista Embu Santo
Mauá
Diadema André Ribeirão
Cacia Pires
Itapecerica R. Grande
da Serra
da Serra
São Bernardo Bertioga
do Campo
Embu-Guaçú Cubatão
São Lourenço
da Serra
OCEANO
Guarujá ATLÂNTICO
Santos 16 km
Juquitiba
Itanhaém
Boa Vista
Macapá EQUADOR
Manaus
Teresina Natal
João Pessoa
Recife
Porto Velho Palmas
10° Maceió
Rio Branco
Regiões de Influência Aracaju
Manaus
Belém Salvador
Fortaleza Brasília
Cuiabá Ilhéus-tabuna
Recife
Salvador
Belo Horizonte Goiânia
Rio de Janeiro
São Paulo Campo Grande Belo Horizonte
20°
Curitiba Vitória
Porto Alegre Dourado
Goiânia TRÓPICO DE
Brasília CAPRICÓRNIO
Rio de Janeiro
São Paulo
Hierarquia dos Centros Urbanos Curitiba
Porto alegre
Capital Regional A Centro de Zona A
Capital Regional B Centro de Zona B
IBGE. Atlas nacional do Brasil Milton Santos. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. p. 266.
POLISABER 35
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
A charge e a fotografia tirada no bairro do Morumbi, em São Paulo, ilustram a segregação espacial presente nas cidades.
814-4
36 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
Um elemento que reforçou essa fragmentação das cidades no Brasil foi o incentivo ao uso do automóvel, em função do
qual se organiza o espaço das cidades, com a duvidosa racionalidade técnica das grandes obra viárias, a desvalorização
de espaços como os centros tradicionais e a configuração de uma cidade policêntrica com o advento dos shoppings,
hipermercados e outros locais de consumo onde o automóvel pode entrar. Assim, passamos a conviver com os con-
gestionamentos, com a insuficiência dos transportes públicos, que também incentivou a valorização do automóvel, e
com a perda da mobilidade urbana.
Quanto às atividades econômicas, hoje, as grandes cidades se especializaram no setor terciário, o que acarretou o
aumento da oferta de empregos no setor financeiro, na prestação de serviços, nas comunicações, nos transportes, na
indústria cultural, na publicidade e na produção científica.
Outro elemento de desagregação das cidades é a especulação imobiliária, que comanda o acesso à terra urbana
regulando o espaço urbano pela lógica do mercado privado, em que proprietários atuam estrategicamente valorizando
seus imóveis, muitas vezes com a ajuda do poder público, que equipa os espaços com bens e melhorias que interessam
a alguns em detrimento da coletividade, promovendo a desordem na ocupação da cidade.
Essa especulação imobiliária agrava também o déficit de habitações para as classes populares. Com a falência do
Sistema Financeiro de Habitação e do Banco Nacional de Habitação (BNH), criados na década de 1960 e responsáveis
pela construção de conjuntos habitacionais nas periferias das grandes cidades, as populações de baixa renda viram-se
obrigadas a procurar outras soluções para morar: favelas, cortiços, loteamentos clandestinos, organização de mutirões
de construção nas periferias e movimentos organizados de ocupação de espaços urbanos ociosos (os sem-teto). São
as chamadas submoradias.
814-4
POLISABER 37
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
Boa Vista
Roraima
Amapá
Macapá
EQUADOR
Belém
São Luís
Manaus
Fortaleza
Salvador
Cuiabá Brasília
Goiás Goiânia
Minas Gerais
Mato Grosso
Belo Horizonte
do Sul
20°
Campo São Paulo
Grande
Guarulhos
IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 129.
A população nas favelas cresceu 57,9% entre 1991 e 2011. No mesmo período, a população da cidade do Rio de
Janeiro cresceu 15,5%.
6 323 037
5 857 904
5 473 952
População
38 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
MARLENE BERGAMO/FOLHAPRESS
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) em um protesto na cidade de São Paulo. O movimento luta por uma
cidade mais justa, democrática e pelo direito à moradia.
Paradoxalmente, muitos dos problemas urbanos e suas disfunções se transformam em matéria-prima para grandes
negócios, dos quais o mais evidente é a “indústria da segurança”. O crescente aumento da criminalidade e da violência
gera lucros para o setor imobiliário, que vende a “segurança” dos condomínios fechados para empresas que vendem
equipamentos antirroubo para veículos e também para empresas de segurança privada, muitas delas ilegais.
Assim, os problemas internos das cidades brasileiras amplificam a segregação e a mutilação do espaço urbano, que
vê seus espaços públicos empobrecendo cada vez mais a sociabilidade, vistos que são como ameaçadores e perigosos,
enquanto se privilegiam os espaços privados.
SAM TOREN/ALAMY/LATINSTOCK
814-4
POLISABER 39
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
EXERCÍCIOS
1. (UNESP) Examine a charge e leia o texto. agrícolas em expansão, onde as cidades eram o pivô das
atividades econômicas. Mas o destino fundamental dos
migrantes que abandonavam os grandes reservatórios
de mão de obra – o Nordeste e Minas Gerais, principal-
mente – eram as grandes cidades, particularmente, os
grandes aglomerados metropolitanos em formação no
Sudeste, entre os quais a Região Metropolitana de São
Paulo se destacava.
ST3/FaustoBrito.pdf
(acesso em: set. 2014)
diferentes regiões do Brasil, inclusive para as fronteiras Na mochila amassada uma quentinha abafada
40 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
Meu troco é pouco, é quase nada c) da elite econômica nacional que sofre com a baixa
qualidade dos serviços de transporte público.
Ô Ô Ô Ô Ô my brother d) da classe dirigente nacional que usufrui de eficientes
serviços de transporte privado.
Não se anda por onde gosta e) da grande parte dos trabalhadores rurais que enfrentam
Mas por aqui não tem jeito, todo mundo se encosta a baixa qualidade dos serviços de transporte público.
Ela some é lá no ralo de gente
Ela é linda mas não tem nome
É comum e é normal 4. (UDESC) O ano de 2013, no Brasil, foi marcado
por muitas manifestações populares. Entre as
Sou mais um no Brasil da Central demandas dos brasileiros figurava a questão ur-
Da minhoca de metal que corta as ruas bana da mobilidade. A respeito da mobilidade,
Da minhoca de metal assinale a alternativa correta:
É... como um concorde apressado cheio de força a) O deslocamento de trabalhadores, a qualidade de vida
Que voa, voa mais pesado que o ar e as vias de transporte fazem parte do que se costuma
E o avião, o avião, o avião do trabalhador chamar de mobilidade urbana. A preocupação com a
mobilidade urbana tem chamado atenção de diversas
Ô Ô Ô Ô Ô my brother autoridades no mundo, sobretudo no que diz respeito
à integração dos meios de transporte coletivos.
b) Carros individuais são a grande saída para o problema da
A letra da canção “Rodo cotidiano”, do grupo
mobilidade, pois se cada um garantir o seu transporte,
O Rappa, oferece um olhar crítico sobre as condi-
não haverá dificuldade de deslocamento para ninguém.
ções de vida:
c) Transporte coletivo é o nome dado a qualquer trans-
a) da pequena parte dos trabalhadores urbanos que porte que conduza mais de uma pessoa.
têm acesso à alta qualidade dos serviços de trans- d) A mobilidade urbana é um problema exclusivamente
porte privado. brasileiro, visto que em outras partes do mundo a
b) da grande parte dos trabalhadores urbanos que questão já está resolvida.
vivenciam a baixa qualidade dos serviços de trans- e) Nas grandes cidades, carro é sinônimo de velocidade,
porte público. conforto e autonomia.
ESTUDO ORIENTADO
Caro(a) aluno(a),
Nas seções a seguir, você poderá avaliar seu aprendizado resolvendo os exercícios e também verificar como os exa-
mes vestibulares tratam o assunto destas aulas. Na roda de leitura, um texto complementa o que vimos sobre energia
eólica. E, para ampliar seu repertório, veja as sugestões de pesquisar e ler, ver e ouvir, navegar e ágora.
EXERCÍCIOS
POLISABER 41
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
2. (ESPM)
De acordo com o texto da reportagem e com
Proporção da população residente, por situação seus conhecimentos a respeito da questão da
do domicílio – Brasil – 1950/2010 mobilidade urbana no Brasil, considere as afir-
mativas a seguir:
42 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
Sobre a rede urbana brasileira, é correto afirmar nados existentes e prevenção do surgimento de novas
que: situações de vulnerabilidade urbana”, entre outras. As
a) formou-se a partir do interior do continente, com o estratégias de conservação devem ser estabelecidas
nascimento das cidades “boca de sertão”, funcionais com os municípios vizinhos.
para o povoamento e a exploração do ouro. “Com a lei, houve a ampliação de zonas especiais de in-
b) já no início do século XIX, ela deixou de seguir o teresse social, que deverão ficar reservadas para a popu-
modelo dendrítico implantado desde o início da co- lação de até três salários-mínimos, além da regularização
lonização para atender à economia agroexportadora. de favelas”, disse a vice-prefeita Nádia Campeão, durante
c) a partir da segunda metade do século XX, a indus- o evento Diálogos Capitais – Metrópoles Brasileiras – O
trialização implicou forte articulação inter-regional, Futuro Planejado, nesta segunda-feira (21), em São Paulo.
gerando uma rede urbana de porte nacional. Segundo ela, a mobilidade urbana contará com
d) na atualidade, destaca-se a monofuncionalidade dos recursos de pelo menos 30% do Fundo Municipal de
principais centros que a formam, dada a especializa- Desenvolvimento Urbano (Fundurb), que possui repasses
ção das funções urbanas requerida na globalização. da outorga onerosa, que é a contrapartida dos empreen-
dimentos para a construção. “Atualmente, já está sendo
feita a ampliação de faixas exclusivas para ônibus, com
340 quilômetros de extensão, que proporciona um ganho
RODA DE LEITURA médio de 38 minutos por dia. Também está em andamen-
to a implantação de corredores, para atingir, até 2016, 150
quilômetros. Até 2015, a meta é lançar 400 quilômetros
Os desafios de uma metrópole chamada São
de ciclovias (até o início de 2013 eram 63 quilômetros)”. O
Paulo
Novo Plano Diretor Estratégico, aprovado neste principal desafio, em sua avaliação, será ampliar a malha
mês, tem um horizonte de 16 anos. de trens e metrô, em parceria com o governo do estado,
que faz a ligação com a região metropolitana.
São Paulo, a capital na 4a maior região metropolitana No capítulo ambiental, o PDE prevê a ampliação das cha-
mundial por habitação (depois de Tóquio, Seul e da madas Zonas Especiais de Proteção Ambiental (Zepams) e,
cidade do México), formada por mais 38 municípios, com isso, deverão ser construídos 164 parques públicos,
enfrenta o grande desafio de atender com qualidade de além dos atuais 105, e criado um Fundo Municipal dos
vida seus 11,5 milhões de habitantes e não deixar de Parques. Mais uma diretriz é recriar a zona rural, no extre-
lado a integração com as milhares de pessoas que vivem mo-sul, que deverá abranger 25% do território da cidade.
em seu entorno e transitam ou trabalham na própria Em conjunto com os outros municípios, há diferentes
cidade. Ao mesmo tempo, o município, que figura entre ações previstas, se necessário, na seção referente ao
os 40 maiores Produtos Internos Brutos (PIB) mundiais, esgotamento sanitário, que é um dos principais proble-
tem dificuldade de colocar em prática as legislações mas na região. Entre elas, a implementação de novos
de gestão já existentes. O mais recente desafio é im- interceptores e coletores troncos e de novos módulos de
plementar a atual revisão do Plano Diretor Estratégico tratamento nas Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs)
(PDE) do município de São Paulo, aprovada neste mês, e a otimização das já existentes em Barueri, no ABC, no
com horizonte de 16 anos, que ainda é tímida quanto a Parque Novo Mundo, em São Miguel e em Suzano.
uma integração maior com os outros municípios.
As palavras sustentabilidade e meio ambiente se Base de consulta
repetem em vários trechos do PDE, e um dos cinco Um dos documentos de consulta para a formulação da
princípios do documento é o “Direito ao Meio Ambiente atualização do PDE paulistano foi o SP 2040 – A Cidade
Ecologicamente Equilibrado”. A atual legislação esta- que Queremos, da Secretaria Municipal de Desenvolvi-
belece algumas diretrizes, como o de uma cidade mais mento Urbano, em 2012, que contou com a consulta a
compacta, menos dependente de automóveis e que 250 especialistas e mais de 25 mil pessoas da sociedade
favoreça a moradia mais perto do emprego, como tam- civil, em áreas públicas e em fóruns sociais.
bém a promoção e o desenvolvimento de um sistema De acordo com James Wright, professor da Faculdade
de transporte coletivo não poluente. A legislação ainda de Economia e Administração da Universidade de São
tem a meta de “solucionar os problemas nas áreas com Paulo (FEA-USP) e membro do Programa de Estudos do
814-4
riscos de inundações, deslizamentos e solos contami- Futuro (Profuturo), nesse levantamento, se constatou a
POLISABER 43
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
existência de uma cidade policêntrica, com 120 polos, coleta de esgoto ainda é uma das principais questões
que hoje já contam com boa infraestrutura. “A ideia des- a serem solucionadas. Há municípios que não chegam
sa cidade mais compacta é que em um deslocamento de a ter 40% de coleta, e nenhum atinge 100%.
no máximo 30 minutos, o cidadão consiga se ligar a um Os municípios que fazem parte da Região Metropoli-
desses pontos”, explicou. A importância do investimento tana de São Paulo, localizada em uma área de 8 051 qui-
nos parques urbanos e de uma maior integração com lômetros quadrados, são: Arujá, Barueri, Biritiba-Mirim,
a revitalização dos rios da cidade também fazem parte Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu
da proposta do documento. das Artes, Embu-Guaçu, Ferraz de Vasconcelos, Fran-
cisco Morato, Franco da Rocha, Guararema, Guarulhos,
Do papel à prática Itapevi, Itapecerica da Serra, Itaquaquecetuba, Jandira,
Especialistas e governantes analisam que até agora, Juquitiba, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco,
apesar de um arcabouço de diretrizes, como o próprio Pirapora do Bom Jesus, Poá, Ribeirão Pires, Rio Grande
instrumento do plano diretor e do Estatuto da Cidade, da Serra, Salesópolis, Santa Isabel, Santana de Parnaíba,
criado em 2001, pelo governo federal, as implemen- Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do
tações são muito lentas para colocar na prática a Sul, São Lourenço da Serra, São Paulo, Suzano, Taboão
administração dos problemas de desenvolvimento da Serra e Vargem Grande Paulista.
das cidades. Agora, mais um dispositivo está para ser
aprovado. Desde março, tramita no Senado, depois de RESK, Sucena Shkrada
aprovação na Câmara, o Estatuto da Metrópole, de au- Os desafios de uma metrópole chamada São Paulo
toria do deputado Walter Feldman. Uma discussão que Editora Horizonte, 22 jul. 2014
se alonga há 13 anos. Disponível em: http://horizontegeografico.com.br/
A arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, da Universidade exibirMateria/2177/os-desafios-de-uma-metropole-
de São Paulo (USP), pontua a importância de maior par- chamada-sao-paulo#sthash.8oqdhgUy.dpuf
ticipação da sociedade no processo. Para isso, devem (acesso em: 1 set. 2014)
ser superados, segundo ela, alguns desafios que fazem
parte do atual modelo de desenvolvimento urbano. “Um
deles é a ambiguidade. Houve a priorização do plane-
PESQUISAR E LER
jamento da cidade na produção, residência e consumo
das elites, negligenciando a cidade para as maiorias. As
favelas acabam tendo uma transitoriedade permanente BRANCO, Samuel Murgel. Ecologia da cidade. 2. ed. São
e são urbanizadas ou removidas, dependendo dos pro- Paulo: Moderna, 2003. (Coleção Desafios.)
jetos urbanísticos”, disse. O autor analisa questões ambientais urbanas como alte-
Ela tece uma crítica à política urbana pautada princi- rações do clima e qualidade do ar, das águas, dos solos
palmente nos negócios atrelados aos grandes financia- e poluição sonora, entre outras.
dores das campanhas das eleições. “Mais um desafio do
planejamento é não ser em curto prazo. É uma iniciativa CARLOS, Ana Fani A. A cidade. 7. ed. São Paulo: Contex-
que envolve décadas”, afirmou. to, 2003. (Coleção Repensando a Geografia.)
No ano passado, pesquisadores do Observatório das O livro discute a apropriação e o uso do solo urbano e
Metrópoles lançaram o documento Índice de Bem-Estar sua valorização por meio da análise de sua paisagem.
Urbano (Ibeu) da região Metropolitana de São Paulo, em
que avaliam a mobilidade urbana, condições ambientais, MARICATO, Ermínia. Habitação e cidade. 7. ed. São
habitacionais, de serviços coletivos e de infraestrutura Paulo: Atual, 2004.
urbana. Um dos dados levantados é de que só na ca- A questão da habitação no Brasil é tratada à luz dos pro-
pital, de cada cinco paulistanos, um mora em favela, blemas sociais das grandes cidades brasileiras.
praticamente. Mais um problema é a ocupação desor-
denada em áreas de proteção de mananciais, como no SCARLATO, Francisco Capuano; PONTIN, Joel. O am-
caso das regiões das represas Billings e Guarapiranga. biente urbano. São Paulo: Atual, 1999. (Meio Ambiente.)
Nesses locais, está sendo desenvolvido o Programa O livro aborda a questão da urbanização e suas impli-
Mananciais, que prevê a urbanização de loteamentos, cações ambientais e sociais: lixo, moradia, água, ar e
814-4
44 POLISABER
aula 12 GEOGRAFIA DO BRASIL
Linha de passe Leia a notícia abaixo, sobre uma decisão judicial a res-
(direção: Walter Salles e Daniela Thomas. Brasil, 2008.) peito dos “rolezinhos” (ocupações de shopping centers
O filme retrata o cotidiano de uma família pobre da peri- e outros espaços públicos da cidade por jovens e ado-
feria da zona leste de São Paulo – mãe e quatro filhos –, lescentes das classes populares e médias) organizados
todos com seus sonhos, anseios e frustrações diante de por meio das redes sociais e discuta com seus colegas o
um cotidiano difícil e carente de oportunidades. direito de se proibirem ou limitarem tais manifestações.
5 x favela – Agora por nós mesmos Shopping Vila Velha consegue liminar para
(direção: Cadu Barcelos, Rodrigo Felha, Luciano Vidigal, evitar “rolezinhos”, no ES
Luciana Bezerra, Cacau Amaral, Manaira Carneiro, Wagner Segundo decisão, shopping pode proibir entrada de
Novais. Brasil, 2010.) pessoas com mochilas. Documento prevê multa de
Em cinco histórias, apresentam-se os dramas e as ale- R$ 3 mil por pessoa envolvida em tumultos.
grias da vida cotidiana de moradores de favelas do Rio
de Janeiro. Para evitar os chamados “rolezinhos”, o shopping de
Vila Velha, no Espírito Santo, conseguiu uma liminar na
“Sobradinho”. Pirão de peixe com pimenta, 1977 justiça estadual que permite que o estabelecimento pro-
Com música e letra de Sá e Guarabyra, a canção faz uma íba a entrada de pessoas com sacolas ou mochilas, além
critica à construção da usina de Sobradinho, no rio São de prever uma multa de R$ 3 mil por pessoa envolvida
Francisco, nos anos 1970. caso aconteça algum tumulto. Segundo o documento,
essa permissão refere-se às datas em que os “rolezinhos”
“Manguetown”. Afrociberdelia, 1996 estariam marcados para ocorrer, divulgados através de
Chico Science & Nação Zumbi. Precursor do movimento redes sociais, como ocorreu nesta segunda-feira (25), dia
mangue beat, o grupo aborda na música a questão dos de inauguração do shopping, e nesta sexta-feira (29). O
mangues da cidade de Recife e das populações pobres shopping informou que a decisão tomada é um padrão
que sobrevivem em seu entorno. do gerenciamento do conteúdo de mídias sociais e que
não pode comentar uma decisão tomada pela Justiça.
Além da multa e da proibição da entrada de pessoas
com sacolas ou mochilas – a entrada só seria permitida
NAVEGAR
com revista prévia realizada por seguranças do centro
de compras –, a decisão também impede o acesso
Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano de pessoas usando máscaras ou toucas que possam
(Emplasa) impedir a identificação.
www.emplasa.sp.gov.br (acesso: 1 set. 2014) “Determino aos participantes do rolezinho, seus líde-
Nesse site, é possível obter dados e mapas sobre as res e aderentes, que se abstenham de praticar quaisquer
regiões metropolitanas paulistas. atos que coloquem em risco os frequentadores do
Shopping Vila Velha, empregados e lojistas, bem como o
Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam) patrimônio dessas pessoas”, diz o documento expedido
www.ibam.org.br (acesso em: 1 set. 2014) pelo juiz Délio José Rocha Sobrinho.
Nesse site, há textos e estudos sobre Plano Diretor, Estatuto A decisão também permite que o shopping filme e
814-4
da Cidade e Código de Obras, entre outros temas urbanos. identifique pessoas que desejam entrar em suas depen-
POLISABER 45
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 12
S E N H A
Se as cidades são os nós das redes geo-
gráficas, quais seriam então os seus fios?
814-4
46 POLISABER
GEOGRAFIA DO BRASIL – AULA 13 aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
Fixos territoriais são construções humanas, grandes país, pois crescem também os laços de interdependência
obras de engenharia fixadas no território como prédios, social, exigindo maior necessidade de trocas.
usinas de energia, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos; Com o desenvolvimento econômico dos territórios
é a materialidade do território. acentua-se uma divisão do trabalho entre áreas ou
Fluxos territoriais é o que dá vida e sentido aos fixos, regiões que se tornam especializadas, deixando muitos
são os movimentos de energia, de pessoas, de merca-
lugares dependentes daquilo que não produzem, como
dorias, de capitais, de informações, que passam ou são
no caso da especialização campo-cidade. Essa lógica
originados pelos fixos.
econômica e social requer o desenvolvimento dos meios
de transporte para que as relações se complementem.
Os sistemas de transporte, Os sistemas de transportes são ao mesmo tempo produto
do desenvolvimento econômico, social e espacial como
comunicações e as relações também promovem tal desenvolvimento.
comerciais do Brasil Inicialmente, o sistema de transportes no Brasil estru-
turou-se com uma maior densidade de caminhos nas
proximidades da faixa litorânea, pois a maior parte da
Consideramos de fundamental importância para a
população ali se estabeleceu, em função da nossa econo-
compreensão da realidade brasileira o entendimento de
como os sistemas técnicos territoriais estão organizados mia de exportação. Até a primeira metade do século XX
diante das possibilidades geográficas, como a dimensão não tínhamos um sistema de transporte que integrasse
e os aspectos naturais, e históricos, como os percalços as diversas regiões do país, mas apenas linhas férreas que
do desenvolvimento econômico e político. Nestas aulas ligavam o interior ao porto, principalmente em São Paulo.
vamos analisar como os sistemas de transportes e co- Somente a partir da década de 1940 é que pode-se
municações se estruturam no Brasil e como tais sistemas considerar um sistema de transportes no país, pois com a
interferem nas atividades econômicas, em especial no aceleração do processo de industrialização e urbanização
comércio exterior brasileiro. na região Sudeste forma-se um mercado nacional em
virtude do intercâmbio econômico e social dessa região,
centro polarizador e irradiador, com as demais regiões.
Os sistemas de transportes no Logo se desenvolve um novo sistema cuja base é a rodovia –
Brasil incomum em países com grande extensão territorial –,
construído para concorrer com as ferrovias e não se integrar
Podemos afirmar que todos os sistemas técnicos (energia, a elas num sistema intermodal. Assim, o modelo rodoviá-
informações, saneamento etc.) também são um sistema de rio tornou-se predominante no país, pois o processo de
transporte. Especificamente, no entanto, trataremos inicial- industrialização deu-se no auge da indústria automobi-
mente dos sistemas que locomovem pessoas, volumes e lística, diferentemente de outros países que desenvolve-
mercadorias diversas sobre o território através de veículos ram as ferrovias, pois se industrializaram anteriormente.
automotores como caminhões, automóveis, trens, barcos, Esse modelo rodoviário é totalmente irracional e antieco-
aviões, sobre rodovias, hidrovias, aerovias e outras rotas. nômico, e resultou da falta de planejamento e da concep-
Lembramos que os sistemas de energia (eletricidade e gás) ção rodoviarista das décadas de 1950-1960, tendo como
estudados na apostila 7 também compõem esses sistemas frutos a nossa malha de rios navegáveis não aproveitada
814-4
POLISABER 47
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13
O modal rodoviário
O predomínio do sistema de transporte rodoviário no Brasil deve-se ao papel desempenhado pelas grandes empresas
automobilísticas, de autopeças, de pneus e até pelas gigantes petrolíferas que influíram nos meios governamentais para
que tal modelo fosse adotado, ao longo das décadas de 1950 e 1960, quando tais empresas instalaram-se no território
brasileiro, incentivadas pelos Estado desenvolvimentista. Esse predomínio insere-se tanto nos trajetos de longa distância
como nos transportes urbanos, e hoje se mostra irracional e insustentável. No ambiente urbano, o trânsito, a poluição
que ele gera e a falta de mobilidade têm se revelado problemas de primeira ordem nas reivindicações dos cidadãos, em
especial daqueles que habitam as periferias distantes do local de trabalho e que dependem de um transporte coletivo,
hoje insuficiente e relegado a um segundo plano diante do uso indiscriminado e excessivo do automóvel particular, este
sim o grande responsável pelos congestionamentos gigantescos nas cidades.
No início da década de 1960, as construções da BR-116, da rodovia Belém-Brasília, Cuiabá-Santarém, entre outras,
permitiram maior integração entre as diversas regiões do país.
O Brasil possui mais de 450 mil quilômetros de rodovias, sendo pouco mais da metade pavimentada, segundo o DNIT
(Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes); muitas dessas são vias expressas ligando os centros mais
importantes, algumas especializadas, como os corredores de exportação que ligam áreas produtoras aos portos e vias
interportos. Apesar de apresentar boas interconexões laterais, a malha rodoviária é mais densa no Centro-Sul do país e
menos densa na região Norte. Nessas rodovias trafega uma frota de mais de 2,5 milhões de caminhões que transportam
cargas, como a soja exportada do Mato Grosso do Sul para o porto de Paranaguá, no Paraná, em cujo trajeto ocorrem vários
problemas em razão da longa distância, como a demora no embarque, situação na qual o próprio caminhão transforma-
-se em “armazém”, os custos do frete que encarecem o produto, entre outros. Além disso, há a frota de ônibus para
transportar passageiros, que é a principal forma de mobilidade de pessoas, principalmente em grandes distâncias entre
o Sul e o Norte/Nordeste, significando muitos dias de viagem, em especial para os segmentos mais pobres da população.
RR
Boa Vista AP
Macapá EQUADOR
Belém
São Luís
Manaus
AM Fortaleza
PA MA
Teresina
CE RN Natal
PI PB João Pessoa
AC Palmas PE Recife
10° S Porto Velho AL Maceió 10° S
Cuiabá GO
n
DF
tlâ
Oceano A
Goiânia MG
MS Belo Horizonte ES
20° S 20° S
Campo Grande Vitória
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
SP RJ
PR São Paulo Rio de Janeiro
rodovias
Curitiba
rodovias pavimentadas
SC
rodovias de terra Florianópolis
RS
30° S 30° S
Porto Alegre
290 km
AVITS
Fonte: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 90.
48 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
Boa parte dessas infraestruturas rodoviárias, tanto na esfera estadual como na federal, está hoje privatizada – isso
significa que as empresas ou os consórcios de empresas obtêm a concessão de trechos ou de estradas inteiras, garan-
tindo os serviços de manutenção, renovação e expansão em troca do direito de cobrar pedágio dos usuários da rodovias.
O modal ferroviário
A maior parte dos ramais ferroviários no Brasil foi construída no contexto da economia agrário-exportadora do final do
século XIX. Enquanto na Europa e nos EUA o trem servia à Revolução Industrial, aqui era utilizado para escoar a produção
cafeeira do interior de São Paulo ao porto de Santos ou outras produções no território nacional aos seus portos mais
próximos. Esse era o caso da São Paulo Railway, construída pelos ingleses, ligando Jundiaí a Santos. Paradoxalmente,
quando nos industrializamos no pós-Segunda Guerra, os investimentos em ferrovias já haviam sido paralisados desde
a década de 1920 e as rodovias cresceram em extensão.
Somente a partir da década de 1980 é que se reativam alguns investimentos em ferrovias na região amazônica, onde a
exploração madeireira e a mineradora exigiam a implantação de tais infraestruturas para escoar a produção aos portos,
como a Estrada de Ferro Carajás, concluída em 1985, interligando as jazidas minerais da Serra dos Carajás, no sul do
Pará, ao porto de Itaqui, no Maranhão.
Alguns projetos idealizados na década de 1980 ainda não foram concluídos, como a Ferrovia Norte-Sul, que deveria
ser uma verdadeira espinha dorsal dos transportes ferroviários no Brasil, interligando Belém/PA ao Rio Grande do Sul/RS,
com mais de 1 600 quilômetros de extensão, mas que, até agora, só conta com o trecho entre Açailândia/PA a Palmas/TO
em operação, ou a Transnordestina, em obras, cujo traçado deverá ligar os portos de Pecém/CE e o de Suape/PE ao município
de Eliseu Martins, no interior do Piauí.
Brasil – Ferrovias
70° O 60° O 50° O 40° O
RR ESTRADA DE FERRO
Boa Vista
DO AMAPÁ AP ESTRADA DE FERRO
CARAJÁS
Macapá EQUADOR
E.F. TROMBETAS
Belém CIA. FERROVIÁRIA
DO NORDESTE
Manaus São Luís
E.F. JARI Fortaleza
AM PA
MA CE
Teresina RN Natal
PI PB João Pessoa
PE Recife
AC Porto Velho
FERROVIA Palmas
10° S
NORTE-SUL AL 10° S
Rio Branco TO SE Maceió
RO Aracaju
MT
BA
Salvador
FERRONORTE GO FERROVIÁRIA CENTRO
Cuiabá DF ATLÂNTICO
Goiânia FERROVIA
FERROVIA VITÓRIA-MINAS
NOVOESTE MG
MS ES
20° S 20° S
Belo Horizonte Vitória
Campo
MRS
Grande SP RJ i co
LOGÍSTICA
FERROESTE São Paulo
nt
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
tlâ
Rio de METRO-RJ
PR Janeiro FLUMITRENS
ferrovia existente
A
ferrovia planejada
SC CPTM
Ocea
LOGÍSTICA
70° O 60° O 50° O 40° O
As ferrovias ainda revelam o padrão exportador da economia brasileira, pois se concentram no litoral.
814-4
Fonte: Ministério dos Transportes. Disponível em: www.transportes.gov.br (acesso em: 14 set. 2014)
POLISABER 49
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13
Também no setor ferroviário as privatizações ocorre- (de empresas e do Estado) é pequena atualmente. Utili-
ram na década de 1990, quando a RFFSA (Rede Ferro- zamos principalmente navios de bandeiras estrangeiras.
viária Federal S/A) e a Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A) Mas a principal infraestrutura nesse tipo de transporte
tiveram suas malhas divididas em partes, as quais foram são os portos, por onde passam mais de 90% das expor-
vendidas segundo o mesmo modelo de concessões das tações brasileiras. Estes precisam apresentar condições
rodovias. Essa reformulação tinha como meta transfor- satisfatórias para receber navios de grande porte, contar
mar as ferrovias no principal sistema de transportes de com profissionais e equipamentos para realizar o em-
cargas pesadas no Brasil. Apesar dessas importantes barque e o desembarque com maior eficiência possível
mudanças administrativas, que romperam uma paralisia e estar aparelhados para receber contêineres, que hoje
no sistema, os investimentos prometidos pelas empresas representam mais de 80% das cargas transportadas em
concessionárias ainda são tímidos diante da urgência navios e consistem em um importante avanço no acon-
do aparelhamento do território para se adequar a uma dicionamento das mercadorias. Nossos portos ainda não
economia mais competitiva e globalizada deste início estão plenamente adequados a essas condições, sendo
do século XXI. a demora em movimentar cargas, a inadequação ao for-
mato dos contêineres problemas a serem enfrentados.
No setor de portos, a privatização também é uma reali-
O modal hidroviário dade. Os que argumentam a favor dizem que, dessa forma,
eles se modernizarão reduzindo os custos das exportações,
O transporte hidroviário representa a forma mais natu- porém o porto de Santos, cuja maior parte dos terminais já
ral de transporte utilizada pelo homem desde há muito foi privatizada no final da década de 1990, não apresentou
tempo. Vários fatores devem ser avaliados para que esse alterações econômicas significativas.
modelo de transporte seja realmente viável: presença de Ao longo da costa brasileira temos uma distribuição
rios, lagos, represas com navegabilidade em potencial; relativamente equilibrada, com leve concentração no
facilidade de acesso ao mar; infraestrutura eficiente em Sudeste. Em geral, os portos brasileiros dividem-se em
portos; obras quando necessárias, para tornar um rio portos genéricos (para todo tipo de carga) e portos es-
potencialmente navegável em navegável ao eliminar pecializados (minérios para exportação).
obstáculos naturais e criar serviços de apoio; articulação
da economia nacional com o comércio internacional, Brasil: principais portos e suas
possibilitando as exportações e importações. No caso exportações
do Brasil os fatores naturais são mais favoráveis, mas
ainda necessitamos de melhorias nas infraestruturas
dessa modalidade de transporte que é considerada uma Belém Itaqui
O Brasil apresenta uma imensa costa oceânica que, Alguns dos portos especializados em exportações e sua
localização no litoral do Brasil.
historicamente, permitiu que mercadorias entrassem
Fonte: Brasil. Sistema portuário nacional. Disponível em:
e saíssem do país por via oceânica. Temos também www.portosdobrasil.gov.br/assuntos-1/sistema-portuario-nacional (acesso
em: 13 set. 2014); Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
uma economia bastante articulada com o comércio
814-4
50 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
No geral, podemos dizer que o sistema portuário no Norte e Nordeste vem se ampliando com a construção de novos
portos. No Sul, há uma melhor adequação ao uso dos contêineres, enquanto o Sudeste apresenta certa estagnação, o
que indica que muitas mercadorias estão encontrando outros caminhos, para além de Santos ou do Rio de Janeiro, para
serem escoadas. O maior porto exportador do Brasil é o de Tubarão (ES), por onde se escoa o minério de ferro. O de Santos
destaca-se pela variedade de produtos importados e exportados.
Navegação fluvial
Quanto à navegação interior, apesar de o Brasil ter grande potencial de rios navegáveis (cerca de 25 mil quilômetros de
vias), seu uso é muito restrito: apenas 1,2% das cargas (2,4 milhões de toneladas) são transportadas em algumas ba-
cias, como a Amazônica e a Tietê-Paraná. Ainda precisamos avançar as obras em algumas hidrovias, como a Araguaia-
-Tocantins, a Paraguai-Paraná, a Teles Pires-Tapajós, entre outras. Para alguns movimentos ambientalistas trata-se de
obras predatórias desnecessárias. Por outro lado, as forças que as defendem argumentam que são menos poluentes,
menos perigosas e mais econômicas.
RR
Boa Vista
AP Macapá EQUADOR
Belém
Manaus São Luís
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Teresina CE Natal
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20°S Campo 20°S
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TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
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hidrovias Curitiba
terminais hidroviários SC
hidrovias Florianópolis
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30°S 30°S
Porto Alegre
290 km
AVITS
Fonte: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 143.
POLISABER 51
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13
O modal aéreo
O transporte de cargas e passageiros por via aérea é o mais caro e aquele que exige maior uso da tecnologia, tanto nas
aeronaves como para monitorar e controlar os voos. Por outro lado, é o mais rápido. A operação dessa modalidade pode
ser efetivada por empresas privadas ou estatais, mas a presença do Estado é fundamental no controle e na ocupação do
espaço aéreo, pois implica em segurança do território. Foi por isso que em 1972 o Estado criou a Infraero (Infraestrutura
Aeroportuária): para implantar, administrar, operar e explorar industrial e comercialmente a infraestrutura aeroportuária.
A rede aeroviária nacional vem sendo ampliada, tornando-se mais densa e apta a operar com aeronaves cada vez maio-
res e mais velozes. Porém, nem todos os aeroportos operam com aviões de grande porte, e apenas 34 são internacionais.
Os aeroportos do Sudeste concentram a maior movimentação de cargas e passageiros, principalmente entre as me-
trópoles São Paulo e Rio de Janeiro, entre estas e as capitais regionais, e também o exterior. O aeroporto de Manaus
registra um bom movimento de cargas em função da produção de eletroeletrônicos da Zona Franca, despachados para
outras regiões do Brasil.
O Sindacta é o sistema de controle do espaço aéreo e dos voos no território brasileiro; foi importado da França e
funciona desde a década de 1970.
Para um país com uma população e território como o Brasil, o transporte aéreo ainda é incipiente, mas a maior inte-
gração econômica entre as diversas regiões do país e o lento entendimento de que ele é um valor social e deve estar
acessível ao cidadão comum têm levado ao barateamento das passagens, bem como a sua expansão no território nacional.
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Fonte: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 143.
52 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
POLISABER 53
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13
AP Porto de Santana
Santarém BR-230
Transamazônia
AM Itaituba
MA
Distrito
de Miritituba
PA
Interligação
rodo-hidroviária
10° S
10° S
Sinop TO
Sorriso
BR-163
210 km
MS
60° O 50° O
Lembramos que os sistemas técnicos de transportes proporcionam maior fluidez que não deve servir apenas aos
interesses econômicos ligados às exportações. Ela deve também proporcionar maior possibilidade de trocas sociais e
beneficiar o conjunto da população que está distribuída em todas as regiões do país.
54 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
Boa Vista
Macapá
Belém
São Luís
Manaus
Fortaleza
Teresina Natal
Recife
Porto Velho
Palmas
Rio Branco
Salvador
Cuiabá Brasília
Campo Grande
Vitória
AVITS
As redes de fibras ópticas reforçam a territorialidade da economia brasileira neste início do século XXI.
Fonte: MOTTA, Marcelo Paiva da. Topologia dos backbones de internet no Brasil. Sociedade & natureza, v. 24, n. 1, Uberlândia, jan./abr. 2012.
Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=S1982-45132012000100003&script=sci_arttext (acesso em: 13 set. 2014)
A televisão aberta expandiu-se no Brasil a partir da década de 1970. Antes, seu alcance na emissão de informações
era bastante limitado, restringindo-se apenas a algumas regiões. A partir das empresas de telecomunicações sediadas
em São Paulo e no Rio de Janeiro vimos suas programações alcançando áreas cada vez mais longínquas do território
nacional, numa expansão que interfere no modo de vida e na visão de mundo das diversas localidades em toda ex-
tensão territorial do Brasil, impondo-se como uma verticalidade, ou seja, algo gerado fora do local que a recebe. Mais
recentemente expandiu-se por quase todo o país o sistema de televisão por assinatura, através de cabos, satélites e
miniparabólicas, ampliando a “oferta” de informações aos lares brasileiros. Tanto a TV aberta como a paga são negócios
bilionários e envolvem grandes empresas nacionais e internacionais. Porém, o Estado brasileiro é dono das concessões
que distribuem através da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), com aprovação do poder Executivo e do
Legislativo, para as empresas privadas explorarem. Trata-se de um setor altamente cobiçado em virtude da importância
814-4
POLISABER 55
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13
No ramo da telefonia houve uma grande mudança provo- logias sobreveio ao unir telefonia móvel, internet e multi-
cada pelos avanços tecnológicos da era digital. Esse merca- mídias, potencializando a expansão de conteúdos que se
do, que no passado reduzia-se ao telefone fixo e que até 1998 incorporam à vida dos lugares, as chamadas verticalidades.
era propriedade totalmente estatal controlada pelo sistema Porém, as altas tarifas e pacotes cobrados pelas operadoras
Telebrás e pela Embratel, está quase totalmente privatizado. e os preços elevados dos aparelhos mais modernos e com
Hoje, a expansão ocorre mais na área da telefonia móvel maiores capacidades limitam a universalização do acesso
(celular), dominada por empresas privadas estrangeiras. à comunicação e informação de boa parte dos brasileiros.
As antenas de celulares povoam cada vez mais os espaços Segundo a Anatel, em dezembro de 2012, o país já possuía
urbanos e rurais das áreas mais distantes dos grandes 261,8 milhões de aparelhos de telefonia celular em fun-
centros São Paulo e Rio de Janeiro. Com o advento dos cionamento, com crescimento médio de 3,2 milhões/mês,
smartphones, uma nova onda de convergência de tecno- porém 81,83% deles são celulares pré-pagos.
década de 1930, essa situação mudou lentamente e, em impostos e dificuldades logísticas, problemas que ficaram
56 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
evidentes quando o dólar ficou mais barato no Brasil e a competição global se acirrou. Sendo assim, as commodities
como a soja, o minério de ferro, a carne de frango, o café, derivados de petróleo e o açúcar compõem hoje mais de 60%
das exportações brasileiras. Entre os industrializados que tiveram sua participação reduzida estão os aviões, automóveis
e calçados. Os principais destinos das exportações são: China (21,5% em 2014, era apenas 3% em 2001), EUA (11% em
2014, era 24% em 2001), Argentina (6,7% em 2014, era 9,9% em 2001) e Holanda (4,8% em 2001 para 6,3% em 2014).
Para o Japão (3% em 2014) exportamos basicamente minério de ferro. Apesar de ter aumentado suas exportações no
mercado mundial de 29 bilhões de dólares em 2001 para 111 bilhões de dólares em 2014, subindo sua participação nas
exportações mundiais de 0,94% para 1,29% nesse período, trata-se de um número ainda tímido diante do tamanho da
economia brasileira.
Exportações: estados e empresas no Brasil
34,8
Principais estados exportadores Principais empresas exportadoras
em % das vendas
2001 2014
22,5 1o Embraer Vale
2o Petrobras Petrobras
13,6
10,7 10,7 3o Vale Bunge
8,9 8,2 8,0 7,8
5,2 4o Volks Cargill
5o Bunge JBS
SP RS MG PR SC SP MG RJ RS MT
Diminui a diferença entre São Paulo e outros estados no volume de exportações. A mudança no perfil das empresas que
mais exportam também revela mudanças na balança comercial brasileira.
Fonte: OMC (Organização Mundial do Comércio) e Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior. In: Folha de S.Paulo, 1º set. 2014, Caderno
especial Seminários Folha – Exportações.
Quanto às importações, destacamos que, entre 2001 e 2014, elas subiram 40%, sugerindo que também no mercado
doméstico o país perde a “guerra comercial”. Dentre os produtos importados temos o petróleo de boa qualidade, trigo,
produtos químicos, material de transporte, instrumentos e aparelhos ópticos, produtos eletrônicos de informática e
telefonia. Nossos maiores parceiros nesse setor também são a China, os EUA e a Argentina.
Exportações brasileiras
100 90,6
80
70,0
60
40 28,9 25,1
20
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
POLISABER 57
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13
US$ Bilhões
300
250
200
150
100
50
0
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Exp. total Exp. agronegócio
Imp. total Imp. agronegócio
EXERCÍCIOS
1. (Unicamp)
58 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
2. (Unicamp)
As ocupações de telemarketing expressam uma importante transformação do mundo do trabalho nesse começo de
século. Surgem nos EUA e na Europa nos anos 1980 e na década de 1990 atingem o Brasil, onde os call centers (locais
de trabalho dos atendentes de telemarketing) mais concentram trabalhadores: 1 103 em cada empresa.
SOUZA, Jessé de. Os batalhadores brasileiros. Nova classe média ou a nova classe trabalhadora?
Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2012. (adaptado)
Assinale a alternativa em que todas as características associadas a esse tipo de trabalho estejam CORRETAS.
a) Privatização das empresas de telecomunicações; generalização da posse de linhas telefônicas; expansão de serviços
de suporte técnico e televendas; insegurança no mercado de trabalho.
b) Estatização das empresas de telecomunicações; generalização das linhas de telefones fixos; maior concentração
populacional no meio rural; estabilidade no mercado de trabalho.
c) Privatização das empresas de telecomunicações; generalização da posse de telefones celulares; retração dos ser-
viços de atendimento ao cliente; segurança no mercado de trabalho.
d) Estatização das antigas empresas de televendas; generalização do uso de telefones fixos; retração dos serviços de
atendimento ao cliente; retração do mercado de trabalho nos serviços.
3. (Uece) A ferrovia Norte-Sul é uma obra que tem o objetivo de ampliar a capacidade de escoamento da
produção de mercadorias no Brasil. Sobre esta obra estratégica, analise as afirmações a seguir.
I. Apresenta-se como uma alternativa mais econômica para o transporte de mercadorias e cargas de longa distância.
II. Algumas das principais mercadorias a serem transportadas são: derivados de petróleo, cimento, grãos, açúcar e álcool.
III. Interligará os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Tocantins, Maranhão e Roraima, integrando o
país inteiro a uma rede de logística.
814-4
POLISABER 59
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13
O Rodoanel, ainda não concluído, é uma obra viá- c) Economicamente o Rodoanel contribui para a flui-
ria para a circulação de veículos automotores na dez de mercadorias dentro do modelo rodoviarista
Região Metropolitana de São Paulo. Sua constru- nacional. Contudo, tem sido alvo de críticas pelos
ção envolve questões econômicas, sociais, políti- impactos ambientais decorrentes da distribuição das
cas e ambientais. Sendo assim, assinale a alterna- fontes de emissão de poluentes em novas áreas da
tiva CORRETA a respeito desse tema. Grande São Paulo.
a) Trata-se de um projeto que conta com unanimida- d) A crítica recorrente ao Rodoanel é a de que tem
de na Grande São Paulo, em razão dos benefícios priorizado o transporte de passageiros, por meio da
que propicia ao promover a distribuição dos fluxos construção de corredores de ônibus e trens metro-
de caminhões e automóveis, sem maiores danos politanos. Desse modo, o transporte de cargas em
ambientais, em especial sobre a floresta tropical caminhões tem sido prejudicado, com orientações
localizada ao norte da capital paulista. e regras para que circulem pelas áreas centrais da
b) O Rodoanel é uma resposta inovadora, pois rompe capital paulista.
com o modelo de transporte de cargas adotado no e) A opção desse tipo de modalidade de transporte para o
Brasil desde a década de 1950, baseado na ferrovia deslocamento de cargas e passageiros é a mais comum
como principal meio de deslocamentos para grandes entre economias desenvolvidas, como EUA, Japão, e
distâncias. entre outras emergentes, como a Rússia e a China.
ESTUDO ORIENTADO
Nas seções a seguir você poderá avaliar o seu aprendizado por meio dos exercícios e também verificar como os
vestibulares abordam o assunto das aulas. Também na Roda de leitura um texto sobre os “gargalos” que impedem a
maior competitividade das exportações brasileiras. Veja também as sugestões nas seções Pesquisar e Ler, Navegar,
Ver e Ouvir e Ágora, para você ampliar seu repertório sobre os temas abordados.
EXERCÍCIOS
1. (FGV) Com base no gráfico e em seus conheci- d) A partir de 2006, ocorre diminuição da participação
mentos, é CORRETO afirmar: dos produtos industrializados na pauta de exporta-
ções brasileiras, fato que se acentua no contexto da
Brasil: exportação por valor agregado (participação %)
crise mundial de 2008-2009.
2,4 1,8 1,6 2,1 2,2 2,1 2,6 2,1 2,1 2,1
e) A partir de 2006, os produtos primários passam a
28,1 28,9 29,5 29,3 29,2 32,1
predominar, tanto na geração interna de riquezas
36,9
40,5 44,6 47,8 quanto na pauta de exportações brasileiras.
60 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
I II III
a) Portos de Belém e de São Luís: Portos do Rio de Janeiro e de Nite- Portos de Paranaguá e de Itajaí:
minério de ferro, papel e celulose. rói: trigo e fertilizantes. soja e carnes (congeladas).
b) Portos de São Luís e de Natal: pes- Portos de Tubarão e de Vitória: Portos de São Francisco do Sul e
cados e carvão mineral. minério de ferro, papel e celulose. de Florianópolis: minério de ferro,
papel e celulose.
c) Portos de Itaqui e de Pecém: mi- Portos de Tubarão e de Vitória: Portos de Paranaguá e de Itajaí:
nério de ferro, manganês e frutas. minério de ferro, papel e celulose. soja e carnes (congeladas).
d) Portos de Belém e de São Luís: Portos do Rio de Janeiro e de Ni- Portos de São Francisco do Sul e
minério de ferro, papel e celulose. terói: pescados e carvão mineral. de Florianópolis: minério de ferro,
papel e celulose.
e) Portos de Itaqui e de Pecém: mi- Portos de Tubarão e do Rio de Ja- Portos de Paranaguá e de Itajaí:
nério de ferro, manganês e frutas. neiro: soja e carnes (congeladas). trigo e fertilizantes.
3. (Espcex – Aman) Nos últimos anos, o Brasil tem realizado um enorme esforço no sentido de ampliar sua
participação no comércio internacional, buscando superar os elevados custos de deslocamento que difi-
cultam a chegada dos seus produtos aos mercados externos.
Dentre as principais propostas de ação da atual política de transporte no país, pode-se destacar:
a) a completa substituição do sistema rodoviário, que é mais dispendioso, pelos sistemas hidroviário e ferroviário.
b) a construção de estações intermodais a fim de permitir a integração dos diferentes meios de transporte do país.
c) a construção de novas infraestruturas de circulação urbana (pistas expressas, viadutos) com o propósito de reduzir
congestionamentos e valorizar a paisagem urbana das grandes cidades.
d) a eliminação do transporte de cabotagem com vistas a reduzir os custos portuários e a intrincada burocracia administrativa.
e) a redução da participação dos investimentos e do controle do setor privado sobre o transporte rodoviário e sobre
o setor portuário a fim de eliminar, por exemplo, os custos com pedágio.
Aponte duas justificativas econômicas para a prioridade dada pelo governo ao setor ferroviário.
POLISABER 61
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13
62 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
No setor ferroviário, a situação é ainda pior, pois os trens se locomovem (ou rastejam) a 25km/h em
vemos que boa parte do transporte de bens é feito via média, contra 80 km/h por lá. O PIB nacional não para
caminhões, mesmo em distâncias envolvendo milhares de crescer (mesmo com números irrisórios), enquanto
de quilômetros, quando as ferrovias poderiam tornar o a malha ferroviária diminuiu nas últimas décadas. Hoje
transporte mais seguro, econômico, além de desafogar o temos pouco mais de 29 mil km de trilhos contra mais
trânsito. Mas isto não pode ser realidade, pois não temos de 37 mil em 1958.
ferrovias capazes de fazer esse transporte – elas não Com tão poucos trilhos, a próxima tabela já era espe-
existem em quantidade e qualidade suficientes. rada. A densidade de linha para cada 1 000 km² de área
A velocidade média das composições de carga no nacional é das mais baixas quando comparamos tanto paí
Brasil é menos de 1/3 da velocidade nos EUA. Aqui, ses desenvolvidos quanto nossos concorrentes do BRIC:
Quilômetros de linha para cada 1 000 km² de área, com dados de 2009:
País Relação
Alemanha 130,3
França 59,9
Índia 21,4
EUA 21,3
China 9,2
Canadá 7
Rússia 5,1
Brasil 3,5
Dizer que temos áreas inabitáveis e inacessíveis não é desculpa para uma malha tão esparsa, pois países como Rússia
e Canadá têm áreas tão grandes (ou maiores) quanto as nossas, terras congeladas a maior parte do ano e, ainda assim,
estão muito à nossa frente.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 7.ed. São CARMO, João Clodomiro. O que é informática. São Paulo:
814-4
POLISABER 63
GEOGRAFIA DO BRASIL aula 13
não presenciais.
64 POLISABER
aula 13 GEOGRAFIA DO BRASIL
motocicletas, nesse caso atendendo a um público mais operação. Adicionalmente, ele experimentou um de-
jovem e novos grupos em ascensão social e econômica. clínio na sua importância, eficiência e confiabilidade
Paralelamente, o sistema de transporte público junto ao público, passando a ser visto como um ‘mal
foi crescentemente negligenciado, em uma peda- necessário’ para aqueles que não podem dispor do
gogia negativa para afastar a sociedade do seu uso automóvel ou da motocicleta.
como principal forma de transporte motorizado. O Eduardo A. Vasconcellos
transporte público, apesar de alguns investimentos Disponível em: www.diplomatique.org.br/artigo.
importantes em locais específicos, permaneceu in- php?id=1181 (acesso em: set. 2014)
suficiente e de baixa qualidade e tem experimentado
crises financeiras cíclicas, ligadas principalmente à Discuta com seus colegas as relações existentes entre
incompatibilidade entre custos, gratuidades, tarifas as infraestruturas territoriais e a ampliação ou restrição
e receitas, bem como às deficiências na gestão e na das relações sociais por influência dessas infraestruturas.
814-4
POLISABER 65
GABARITO:
GEOGRAFIA GEOGRAFIA
DO BRASIL aula 13 DO BRASIL – AULAS 11 A 13
66 POLISABER
gabarito GEOGRAFIA DO BRASIL
2. c
O mapa destaca importantes corredores de exporta-
ção onde a logística de transportes (ferrovias) e de portos
está direcionada para o mercado externo:
I. Porto de Itaqui (MA): ferro, manganês (prove-
nientes de Carajás – PA), alumínio e soja. Porto
de Pecém (CE): frutas, castanha de caju, cera de
carnaúba, calçados, têxteis e recursos minerais.
II. P orto de Tubarão (ES): ferro (proveniente do
Quadrilátero Ferrífero – MG), café e soja. Porto
de Vitória (ES): produtos siderúrgicos, mármore e
granito, papel e celulose.
III. Paranaguá (PR): soja, milho, açúcar e madeira. Itajaí
(SC): carnes suína, de aves e de peixe congeladas,
cerâmica, máquinas e fumo.
3. b
Na última década, observa-se um crescimento nos
investimentos do governo e PPPs (Parcerias Público-Pri-
vadas: recursos do Estado e das empresas particulares)
em transportes e logística para melhorar o desempenho
814-4
POLISABER 67
GABARITO – GEOGRAFIA DO BRASIL – CADERNO 4
2. b
1. a
No Brasil, a concentração fundiária e a modernização
A disputa pela redistribuição dos royalties corres-
das atividades rurais são fatores que provocaram o
ponde a uma regulamentação sobre a distribuição
êxodo rural. A industrialização também foi responsá-
de riquezas do subsolo associada à ação do governo
vel pelo intenso processo de urbanização e formação
brasileiro.
de grandes cidades.
2. c
3. b
As hidrelétricas correspondem a uma opção viável
A mobilidade é um dos grandes problemas urbanos
para a produção de energia graças ao grande poten-
brasileiros.
cial hidrelétrico brasileiro, tendo sido intensificada a
produção de hidreletricidade durante o governo de
Ernesto Geisel nos anos 1970, em plena crise inter- 4. a
nacional do petróleo. No Brasil, a qualidade do transporte público é bas-
tante baixa, tornando a mobilidade urbana bastante
precária.
3. d
I e III. Corretas.
II. Incorreta. No Brasil ainda restam muitos espaços
para a produção de matérias-primas voltadas à pro- Aula 13
dução de biocombustíveis.
EXERCÍCIOS
4. d
Os mapas mostram que o verão é a melhor época
para a produção de hidreletricidade no Sudeste gra- 1. a) Commodities como minério de ferro e soja.
ças às chuvas, e o inverno é o período mais satisfa- b) Veículos, eletroeletrônicos e produtos siderúrgi-
tório para a produção de energia eólica no Nordeste, cos como o aço. Num contexto institucional, o
pois é a época de maior velocidade dos ventos. Mercosul permitiu maiores avanços com vizinhos
sulamericanos.
5. Considerando-se a produção mundial de petróleo,
o Brasil é tido como um produtor de porte médio. É 2. a
autossuficiente na produção desse recurso, sendo No Brasil existiu a privatização dos serviços de
exportador de petróleo pesado e importador do tipo telefonia. Outro aspecto foi a precarização das con-
leve. O mapa indica que importadores com fluxos dições de trabalho, com a contratação temporária
superiores a 3 milhões de barris são a União Euro- de trabalhadores.
peia e o Japão.
3. d
I e II. Corretas.
Aula 12 III. Incorreta. A ferrovia integrará apenas os estados
do Pará, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
EXERCÍCIOS
4. c
Apesar dos benefícios, como liberar o fluxo de veí-
1. Um fator é a concentração de renda. Outro é o te- culos e ligar a Região Metropolitana de São Paulo ao
mor que os mais ricos têm sobre sua segurança e porto de Santos, o Rodoanel provocou uma série de
proteção de seu patrimônio. Uma consequência da impactos sociais e ambientais.
68 POLISABER