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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E POLÍTICAS

JACQUELINE DA SILVA CERQUEIRA ( 20182361076)

Trabalho apresentado como requisito para a 1ª


avaliação na disciplina de “Política Externa
Brasileira”, ministrada pelo André Luiz Coelho
Farias de Souza.

RIO DE JANEIRO
2021
1. José Maria da Silva Paranhos Jr, popularmente conhecido como Barão do Rio
Branco, marcou a história brasileira por auxiliar na consolidação das fronteiras. Além
disso, Rio Branco foi o pioneiro na criação de uma alternativa de inserção
internacional para o Brasil. Apresente de forma breve as linhas gerais da política
externa exercida pelo barão, suas principais características, e a relação da busca por
reconhecimento internacional com o histórico de tentativas da diplomacia brasileira
de garantir um assento em grandes Organizações Internacionais.

Nascido no dia 20 de abril de 1845, José Maria da Silva Paranhos Jr, também
conhecido como Juca Paranhos, é primogênito dos 9 filhos de Visconde do Rio Branco, que
foi uma figura importante no cenário político do Brasil no 2º Reinado, sendo senador,
Ministro das Relações Exteriores, autor da Lei do Ventre Livre e respeitado diplomata entre
a aristocracia do Império, mesmo não sendo oriundo da nobreza.

A residência do Visconde do Rio Branco era ponto de encontro de políticos e, dessa


forma, Juca Paranhos foi criado no berço esplêndido da diplomacia imperial brasileira,
sendo certo que seu envolvimento com o ofício aconteceu de maneira quase que orgânica.

Desde menino, Juca estudou nas melhores instituições do Império: Colégio Pedro II,
no Rio de Janeiro, e faculdades de direito de São Paulo e Recife. Tão logo passou a
escrever artigos de opinião em jornais, se colocando ativamente na carreira pública, até ser
eleito deputado pelo Mato Grosso, exercendo o mandato de 1869 a 1875.

Boêmio e maçom, Paranhos Jr conheceu a sua futura esposa e mãe de seus 5


filhos, a atriz belga Marie Philomène Stevens, durante o mandato de deputado. Inicialmente,
o relacionamento escandaloso para os moldes sociais da época gerou ruídos e desconforto
para os pais do então deputado, que queriam que o filho se casasse com uma mulher
oriunda da nobreza; sendo que tal resistência implicou na demora de o casamento ser
assumido publicamente, o que só aconteceu em 1889.

Em 1876, Juca Paranhos foi designado para ser o cônsul brasileiro em Liverpool, na
Inglaterra, e sua função consistia em registrar entradas e saídas dos navios que faziam
comércio com o Brasil, para a devida fiscalização e cobrança de impostos. Ele morou na
Europa por 26 anos, mantendo residência com sua mulher e seus filhos em Paris, onde
realizava pesquisas, colecionava mapas e analisava documentos relativos à história política
e geográfica do Brasil.

Já em 1884, Paranhos Jr. foi designado para ser Delegado do Brasil na Exposição
Universal de São Petersburgo, executando a tarefa de promover o café brasilero
internacionalmente, tendo o feito de forma brilhante. Finalmente, em 1888, a Princesa Isabel
concedeu a Juca Paranhos o título de Barão do Rio Branco, como demonstração de estima
a sua atuação no cenário internacional da época, sempre em favor da monarquia brasileira.

Na ocasião da proclamação da república, em 1889, surgiram dúvidas sobre se o


Barão do Rio Branco continuaria a exercer função diplomática, já que ele era identificado
como monarquista e crítico ferrenho da recém-formada república brasileira. Apesar da
animosidade inicial, o Barão do Rio Branco tão logo adaptou-se ao novo cenário, se revelou
um estadista e ganhou espaço para protagonizar a consolidação dos limites territoriais
brasileiros através de uma ilustre atuação diplomática, sem a necessidade de guerras.

Em 1891, o Barão do Rio Branco foi nomeado superintendente geral na Europa para
imigração para o Brasil, acumulando com o cargo no consulado da Inglaterra. Nessa época,
publicava artigos de propaganda em jornais europeus, buscando estimular a migração para
o Brasil, especialmente dos trabalhadores rurais.

Chegava a hora do primeiro desafio do Barão do Rio Branco envolvendo


diretamente a delimitação territorial do Brasil. Em 1893, ele foi designado para advogar na
missão especial sobre o território de Palmas, reivindicado pela Argentina.

A questão foi submetida a


arbitragem do presidente dos Estados
Unidos da América, Stephen Grover
Cleveland; e, a partir de robusta
exposição documental apresentada pelo
Barão do Rio Branco, o laudo arbitral foi
justo e inteiramente favorável às
pretensões brasileiras, sendo certo que
30.621 km² foram oficialmente
incorporados ao território brasileiro.

“A área destacada mostra o território em litígio”


entre Argentina e Brasil. Fonte: Jornal de Beltrão

Em 1898, o Barão do Rio Branco foi novamente designado para advogar pelo Brasil,
desta vez em litígio com a França relativo à questão da delimitação territorial do estado do
Amapá. Na ocasião, a arbitragem foi realizada em Berna, capital da Suíça, e o árbitro
escolhido foi o presidente do Conselho Federal da
Suíça, Walter Hauser.

De maneira igualmente técnica e em posse


de vasta documentação, o Barão do Rio Branco
apresentou uma memória de 7 volumes, se
valendo de mapas antigos e de comprovação
histórica de que aquele território, que hoje
equivale a parte do Amapá, Pará, Roraima e
Amazonas, era de fato posse do Brasil. Em
dezembro de 1900, o laudo arbitral de cerca de
900 folhas decidiu em favor das pretensões
brasileiras, incorporando formalmente cerca de
255.000 km² ao território brasileiro.

Ao fim, muito bem sucedido, da missão no litígio com a França, o Barão de Rio
Branco foi nomeado ministro plenipotenciário em Berlim.
Pouco tempo depois, a convite do então Presidente do Brasil Rodrigues Alves, Juca
Paranhos assumiu o cargo de chanceler, retornando para o Brasil após longa temporada
residindo na Europa.

Rio Branco começou um processo de repaginação do Ministério, implantando


concurso para ingresso na carreira de diplomata e capacitando a estrutura burocrática do
órgão a fim de torná-lo mais técnico e eficaz.

Logo no início de sua gestão, o então Ministro das Relações Exteriores precisou pôr
em prática toda sua experiência para resolver um delicado litígio com a Bolívia, envolvendo
uma região que hoje compõe o estado do Acre.

A situação era diferente das citadas anteriormente, tendo em vista que o território
em questão de fato pertencia a Bolívia; entretanto, era preponderantemente ocupado por
brasileiros, que migraram para aquela região atraídos pelos seringais, tidos como fonte de
trabalho e renda, tendo em vista que o látex havia se tornado um dos principais produtos de
exportação (Ciclo da Borracha, fim do século XIX e início do século XX).

Tal realidade fática tornava o uso da arbitragem uma medida desinteressante por
parte do Brasil; e, com sabedoria, o Barão de Rio Branco concentrou esforços para
solucionar o litígio através de acordo direto. Tal acordo ficou conhecido como o “Tratado de
Petrópolis”, que foi assinado em 1903, na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de
Janeiro.

Neste acordo, o
Brasil efetuou o
pagamento de 2 milhões
de libras esterlinas para a
Bolívia, além de ceder
parte do território do
estado do Mato Grosso. O
tratado também previa a
construção da ferrovia
Madeira Mamoré, que
traria benefícios para
ambos os países. Neste
acordo, cerca de 190.000
km² foram oficialmente
incorporados ao território
brasileiro.

O MRE ainda se envolveu na demarcação territorial brasileira em litígios contra o


“Equador (1904), Holanda (Guiana, 1906), Colômbia (1907), Peru (1909) e Uruguai (1909)”.
Nestes últimos episódios, o Barão do Rio Branco contou com o auxílio de Euclides da
Cunha, dedicado escritor, geógrafo e um entusiasta da demarcação de fronteiras do Brasil.
Infelizmente, a vida de Euclides foi ceifada a tiros de arma de fogo, em 1909, pelo amante
de sua esposa, após a tentativa do próprio Euclides de matá-lo, consternado ao saber da
traição. Um fator que unia o Barão de Rio Branco a Euclides da Cunha, salvo os assuntos
relacionados aos limites territoriais, era a habilidade da escrita, sendo que ambos eram
membros da Academia Brasileira de Letras.

Para além de lidar com a demarcação do território brasileiro, o então Ministro das
Relações Exteriores também se preocupava com a colocação do Brasil no cenário
internacional. O Barão do Rio Branco previa que o centro do mundo sairia da Europa e se
direcionaria aos Estados Unidos da América; e, representando a polpa do pragmatismo, o
MRE passa a alinhar a política externa brasileira aos EUA, que na época era o nosso
principal parceiro comercial, pra quem, na época, exportávamos majoritariamente café.

Nesse sentido, articulou a implantação de uma embaixada brasileira em Washington,


fazendo com que o Brasil se tornasse o primeiro país sulamericano a possuir embaixada no
território norte-americano, em 1905.

O americanismo pragmático do Barão do Rio Branco não emergiu apenas visando


os lucros, mas também representava um “movimento defensivo”, já que era conveniente
estar alinhado à maior potência bélica mundial, de maneira que a parceria poderia evitar,
inclusive, a invasão dos próprios EUA no Brasil. Seja por uma motivação ou por outra, o
alinhamento com os EUA, nesta época, tinha caráter preponderantemente instrumental.

Em 1906 aconteceu a 3ª Conferência Internacional Americana, no Rio de Janeiro,


onde o Barão do Rio Branco nomeou Joaquim Nabuco como presidente da conferência,
enquanto ocupava o cargo de vice-presidente honorário. A “conferência foi, acima de tudo,
um exercício de manutenção das boas relações entre os Estados americanos”, e apesar da
animosidade dos países hispano-americanos, quanto a adesão do corolário Roosevelt
(“Política do Grande Porrete”) na Doutrina Monroe, além da explanação da Doutrina Drago
(protesto do chanceler argentino contra os EUA), o antiamericanismo foi controlado durante
a conferência, num cenário civilizadamente desconfortável.

Já em 1907, o Barão do Rio Branco designou Rui Barbosa para chefiar a delegação
brasileira na Segunda Conferência da Paz de Haia, que foi um momento inaugural para o
Brasil em um grande foro internacional. Lá, Rui se posicionou sobre a necessidade da
igualdade jurídica dos Estados e a democratização do sistema internacional, contando
sempre com o apoio intelectual e moral do chanceler Rio Branco nas extensas trocas de
telegramas.

O Barão do Rio Branco faleceu em 10 de fevereiro de 1912, no Palácio Itamaraty


(RJ), aos 66 anos de idade. Sua morte comoveu o país, e o carnaval foi adiado no Rio de
Janeiro.

Muito embora o período conhecido como "República Velha” (1889 - 1930) seja
marcado por grande instabilidade política, o comando de uma década do Barão do Rio
Branco no Ministério das Relações Exteriores, construiu uma configuração burocrática
sólida, prestigiada e tecnicamente considerada até os dias atuais. A não interferência em
assuntos domésticos de países vizinhos, a preferência das técnicas diplomáticas para
resolução de conflitos, o apoio incontestável aos governos constitucionais e a aproximação
dos EUA para contrapor o peso da influência europeia no continente sul americanos foram
seus princípios norteadores no ilustre exercício do ofício.
Como homenagem póstuma, dada a sua
magnífica contribuição ao país, em 1945 o Barão de
Rio Branco foi oficialmente instituído como Patrono da
Diplomacia Brasileira, emprestando seu nome ao
instituto que hoje forma membros da carreira de
diplomata.

Seu nome também foi emprestado a ruas e


avenidas de todo o território brasileiro, além da capital
do estado do Acre. Seu semblante está estampado
em museus, bustos e monumentos espalhados por
diversas cidades do país, como no Rio de Janeiro
(RJ) e em Porto Alegre (RS); assim como na nossa
moeda de 50 centavos.

Monumento ao Barão do Rio Branco, na cidade


do seu nascimento e de sua morte

REFERÊNCIAS

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Jorge Zahar Editor. 2004.

BETHELL, LESLIE. Conferências Pan-Americanas. Centro de Pesquisa e Documentação


de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). Fundação Getulio Vargas (FGV). Acesso
em: 24 ago 2021. Disponível em:
https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CONFER%C3%8ANCIAS
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BONAFÉ, LUIGI. Corolário Roosevelt à Doutrina Monroe. Centro de Pesquisa e


Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). Fundação Getulio Vargas
(FGV). Acesso em: 24 ago 2021. Disponível em:
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LAFER, CELSO. Conferências da Paz de Haia (1899 e 1907). Centro de Pesquisa e


Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). Fundação Getulio Vargas
(FGV). Acesso em: 24 ago 2021. Disponível em:
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MUNHOZ, JOSÉ LÚCIO. Arbitragem na formação do território brasileiro. Justificando
[site]. Acesso em: 24 ago 2021. Disponível em:
https://www.justificando.com/2019/12/20/a-arbitragem-na-formacao-do-territorio-brasileiro/

BEZERRA, JULIANA. Barão do Rio Branco. Toda Matéria [site]. Acesso em: 24 ago 2021.
Disponível em: https://www.todamateria.com.br/barao-do-rio-branco/

SERRANO, FILIPE. Mérito de Rio Branco foi não optar por saídas simplistas. Exame
[site]. Acesso em: 24 ago 2021. Disponível em:
https://exame.com/mundo/merito-de-rio-branco-foi-nao-optar-por-saidas-simplistas-diz-biogr
afo/

Memória da Administração Pública Brasileira (MAPA). José Maria da Silva Paranhos


Júnior, barão do Rio Branco. Acesso em: 24 ago 2021. Disponível em:
http://mapa.an.gov.br/index.php/publicacoes2/70-biografias/832-jose-maria-da-silva-paranho
s-junior-barao-do-rio-branco

Academia Brasileira de Letras (ABL). Biografia: Barão do Rio Branco (José Maria da
Silva Paranhos). Acesso em: 24 ago 2021. Disponível em:
https://www.academia.org.br/academicos/barao-do-rio-branco-jose-maria-da-silva-paranhos/
biografia

PATRIOTA, CRISTINA. Barão do Rio Branco. Atlas Histórico do Brasil. Centro de Pesquisa
e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). Fundação Getulio Vargas
(FGV). Acesso em: 24 ago 2021. Disponível em:
https://atlas.fgv.br/verbetes/barao-do-rio-branco

KOHLER, GUILHERME. Barão do Rio Branco: patrono da diplomacia brasileira.


Politize! [site]. Acesso em: 24 ago 2021. Disponível em:
https://www.politize.com.br/barao-do-rio-branco/

Centro Técnico Audiovisual (CTAv). Barão do Rio Branco (1845 - 1912) [vídeo na internet].
Humberto Mauro, diretor; Manoel P. Ribeiro, fotografia. Instituto Nacional do Cinema
Educativo (INCE); 1944 [acesso em 24 ago 2021]. 1 vídeo: 32 min. p&b; som. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=uVVT8gT_CKw

Barão do Rio Branco [vídeo na internet]. TV BRASIL; 2012 [acesso em 24 ago 2021] 1
vídeo: 24min. Color; som. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nUDcfNAA_Oo

Figura 1 (mapa que exibe território em litígio entre Brasil e Argentina, em 1893). Jornal de
Beltrão. Dia 5 de fevereiro de 1895, tinha fim a Questão de Palmas. Acesso em: 26 ago
2021. Disponível em:
https://www.jornaldebeltrao.com.br/noticia/282981/dia-5-de-fevereiro-de-1895-tinha-fim-a-qu
estao-de-palmas

Figura 2 (mapa que exibe território em litígio entre Brasil e França, em 1898). Researchgate.
Área do Contestado franco-brasileiro. Acesso em: 26 ago 2021. Disponível em:
https://www.researchgate.net/figure/Figura-3-Area-do-Contestado-franco-brasileiro_fig2_384
51211

Figura 3 (mapa que exibe território em litígio entre Brasil e Bolívia, em 1903). História em
Partes. Questão do Acre. Acesso em: 26 ago 2021. Disponível em:
http://historiaempartes.blogspot.com/2008/10/questo-do-acre.html

Figura 4 (foto do monumento do Barão do Rio Branco). Foto tirada por Roberto Almeida.
Acesso em: 26 ago 2021. Disponível em:
https://www.google.com/maps/uv?pb=!1s0x9981e0f701ea4f%3A0x12dd3cb6e72c9f77!3m1!
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3. "O processo de globalização gerou, nas últimas décadas, uma ampliação da
agenda internacional dos países e um aumento crescente de atores que, direta ou
indiretamente influenciam os Estados no planejamento, execução e avaliação da
política externa. Conglomerados Empresariais, Associações de Classe, Sindicatos,
Organizações Não-Governamentais, Minorias Sociais, entre outros, passam a ser
atores que, ao participarem do debate político (doméstico e internacional), exigem
uma reavaliação da ideia de Diplomacia, antes estritamente vinculada à atuação da
Chancelaria."

- Barnabé, Israel Roberto. O Itamaraty e a Diplomacia Presidencial nos


Governos FHC e Lula.

Com base no trecho acima, discorra sobre a definição de diplomacia presidencial,


seu impacto na política externa brasileira, e suas principais semelhanças e diferenças
nos dois governos que mais fizeram uso da mesma na história do Brasil.

A diplomacia presidencial, também chamada de “diplomacia de cúpula”, ou ainda de


“diplomacia de mandatários”, são expressões utilizadas para denominar o instrumento
político-diplomático em que um presidente conduz de forma mais pessoal os assuntos da
política externa, se envolvendo de maneira a extrapolar as atribuições ex officio, que
normalmente possuem caráter meramente protocolar.

De acordo com o conceituado pelo diplomata e escritor Sérgio Danese, a diplomacia


presidencial possui dois pilares fundamentais, podendo ser observados manifestamente
como:

[...] um instrumento específico, e até certo ponto insubstituível, de


promoção dos interesses brasileiros no exterior, até mesmo pela
força que adquiriu na prática diplomática internacional e regional; e
como um fenômeno político que obedece também a uma intensa
lógica extradiplomática, ligada ao papel e ao projeto político internos
do presidente.

É importante notar que a diplomacia de cúpula se contrasta com a diplomacia


tradicional, pois a primeira expressa o poder do presidente de forma personalizada, ativa,
possivelmente carismática, e com apego imediatista à opinião pública e aos resultados. Por
outro lado, a segunda, tem uma estrutura ultra técnica, burocrata, doutrinada, exclusiva e
elitista, sendo os diplomatas figuras quase que anônimas. No mais, o uso da diplomacia
presidencial não imobiliza a diplomacia tradicional, sendo que no caso elas funcionam de
maneira interdependente.

Com o advento da globalização, muitos assuntos do domínio doméstico passaram a


compor de forma rápida e dinâmica o cenário internacional, tornando esses assuntos
domésticos em pautas da política externa. Temas como o tráfico de drogas e armas, direitos
humanos, meio ambiente, desigualdade social, terrorismo, dentre outros, foram expostos ao
debate, exigindo um posicionamento dos representantes dos países tão dinâmico quanto o
compartilhamento de dados na internet.

Dessa forma, o movimento naturalmente esperado, em resposta a essa nova


configuração mundial, é a ampliação da agenda internacional dos países, o que de fato
exige que os presidentes precisem se deslocar para fora do país com mais frequência, a fim
de se fazerem presentes em eventos, fóruns e reuniões, importantes para consolidar
posicionamentos no cenário internacional.

Entretanto, existe uma diferença entre um presidente que atua na política externa
assumindo um comportamento protocolar, e um presidente que adota postura mais “livre”,
portando um roteiro mais "autônomo", e consequentemente retirando um pouco da
centralização que o MRE tradicionalmente possui nos assuntos referentes a agenda
internacional.

Assim, devemos considerar que certas viagens presidenciais se tratam de


movimentações obrigatórias para um presidente, onde a figura presidencial estará
exercendo a diplomacia tradicional, através de um comportamento protocolar. Todavia,
existem condutas que podem caracterizar a utilização da diplomacia presidencial, como por
exemplo os encontros paralelos às viagens presidenciais, o anúncio de uma decisão ou
uma iniciativa espontânea e personalíssima demais aos moldes tradicionais. .

A diplomacia presidencial, surgiu pioneiramente nos EUA, no governo do presidente


Roosevelt. Aqui no Brasil, o relato mais antigo sobre um momento em que a diplomacia
presidencial tenha sido usada foi em 1899, quando o então presidente brasileiro Campos
Sales fez uma visita à Argentina, a fim de retribuir a visita de Julio Roca, presidente
argentino, ao Brasil. Tal movimento não era protocolar, sendo certo que não era comum que
presidentes da época se deslocassem ao exterior.

Após, a diplomacia presidencial no Brasil só foi observada com mais atuação nos
governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e de Luiz Inácio Lula da Silva
(2003-2011), momentos que coincidem com o já citado advento da globalização,
alavancado mormente pela internet; onde os assuntos domésticos passam a criar
repercussões mundiais, a ponto de servirem como peças de um jogo político entre as
nações, abastecendo pautas a serem debatidas na agenda internacional. O impacto da
diplomacia presidencial durante os governos supracitados trouxe maior visibilidade do Brasil
na política externa, possibilitando acordos e parcerias.

No governo de FHC, a diplomacia de cúpula foi utilizada de maneira intensa, onde o


presidente cumpriu uma agenda de 47 compromissos internacionais em apenas 2 anos e
meio de mandato, se encontrando com quase todos os mandatários do mundo.

Cardoso também dava atenção especial à mídia, ao Congresso, aos meios


acadêmicos, às empresas, às associações, aos sindicatos, e a manifestações relevantes da
opinião pública como um todo, executando seu plano de governo através do uso da
diplomacia presidencial.
Tendo em vista seu prestígio no cenário internacional e o aumento de pautas a
serem discutidas internacionalmente, o presidente FHC, embora sempre tivesse o Itamaraty
como referência diplomática, se sentiu à vontade para conduzir diretamente certas
movimentações da política externa brasileira.

Já no governo Lula, se observa uma continuidade da diplomacia presidencial


iniciada por FHC, e muito embora o Partido dos Trabalhadores já tivesse deferido ferrenhas
críticas a organização internacional da época durante o processo eleitoral, o discurso
passou a ser mais conciliatório durante o mandato de Lula, se ajustando ao cenário que se
desenhava.

Durante o governo Lula, para se diferenciar da diplomacia presidencial de seu


antecessor, o termo usado para denominar a sua atuação no cenário internacional era
“ativismo diplomático”. Como dito pelo próprio Ministro das Relações Exteriores do governo
Lula, o ilustre diplomata Celso Amorim, “a diplomacia do governo Lula é ativa e altiva”.

Pode-se dizer que a intensidade no uso da diplomacia presidencial no governo Lula


superou aquela utilizada no governo anterior, inclusive no número de viagens presidenciais,
tendo em vista que sua atuação no cenário internacional se tornou personalíssima a ponto
de ouvir do ex-presidente dos EUA, Barack Obama, a expressão “this is the man”.

Durante o governo Lula, a diplomacia presidencial foi utilizada de maneira mais


incisiva em assuntos pouco definidos pelo seu antecessor, como por exemplo a cooperação
Sul-Sul, o Mercosul e a liderança brasileira. Além disso, a sua atuação sempre considerou a
importância dos diálogos com os países de “primeiro mundo”, sendo que o principal objetivo
da época era um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, o que
infelizmente não aconteceu até hoje.

REFERÊNCIAS

DANESE, SÉRGIO. Diplomacia presidencial: História e Crítica. 2ª Ed. Brasília: Fundação


Alexandre Gusmão. 2017 [acesso em 28 ago 2021]. Nota Introdutória; p. 33. Disponível em:
http://funag.gov.br/biblioteca/download/diplomacia-presidencial.pdf

PRETO, ALESSANDRA FALCÃO. O conceito de diplomacia presidencial: o papel da


Presidência da República na formulação de política externa [dissertação na internet].
São Paulo: Universidade de São Paulo; 2006 [acesso em 29 ago 2021]. Mestrado em
Ciência Política. Disponível em:
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-16102006-195630/pt-br.php

BARNABÉ, ISRAEL ROBERTO. O Itamaraty e a Diplomacia Presidencial nos governos


FHC e Lula. Revista de Estudos Internacionais. Sergipe: Universidade Federal de Sergipe;
2010 [acesso em 25 ago 2021]. Disponível em:
https://www.revistadeestudosinternacionais.com/uepb/index.php/rei/article/view/22

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