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O Tratado de Petrópolis

Interiorização do conflito de fronteiras

Flávia Lima e Alves

Sumário
1. Introdução; 2. A Revolução Acreana; 2.1.
O longo processo insurrecional; 2.2. Bolivian
Syndicate: pomo da discórdia; 2.3. Diplomacia
em vez de guerra; 3. O Tratado de Petrópolis;
3.1. O acordo com o Peru: aquilo que faltou ao
Tratado de Petrópolis; 4. A Questão Acreana
Passa à Economia Doméstica; 4.1. A disputa de
fronteiras em sede constitucional: o mea culpa
da União; 5. O Acre na Federação: Ontem e
Hoje; 6. Conclusão; 7. Notas; 8. Referências.

1. Introdução
A história do Acre sempre esteve associa-
da a disputas territoriais externas e inter-
nas. Esses conflitos deram forma ao cente-
nário Tratado de Petrópolis, tido como sua
certidão de nascimento, e à Reclamação
Constitucional n o 1421, de 2000, em trami-
tação no Supremo Tribunal Federal. Pode-
se afirmar, então, que esses dois documen-
tos constituem faces distintas de uma só
moeda: tanto o primeiro, firmado entre o
Flávia Lima e Alves é bacharel em Ciênci- Brasil e a Bolívia, quanto o segundo, de au-
as Econômicas e Relações Internacionais pela toria do Estado do Amazonas, versam so-
UnB; Assistente Técnica do Quadro Permanen- bre os limites territoriais do Acre.
te do Senado Federal. Desde a segunda metade do século XIX,
Trabalho final apresentado ao Curso de alguns brasileiros — sobretudo cearenses
Especialização em Direito Legislativo realiza- fustigados por sucessivas secas no Nordes-
do pela Universidade do Legislativo Brasilei-
te — embrenharam-se na selva amazônica,
ro – UNILEGIS e Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul – UFMS como requisito para pela bacia do rio Acre, para se dedicar à ati-
obtenção do título de Especialista em Direito vidade extrativista. Sem conhecer e mesmo
Legislativo. Orientador: Prof. ANTÔNIO JOSÉ sem se importar com títulos de proprieda-
BARBOSA. de, eles foram aos poucos ocupando as ter-
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ras localizadas no extremo oeste do País, a No plano externo, o Brasil viria a firmar
maior parte delas pertencente à Bolívia e tratados que encerrariam os conflitos terri-
outras pretensamente peruanas. Eram fron- toriais relativos àquela região e assentariam
teiras inexatas e fluidas, apesar de estabele- os marcos das linhas limítrofes do Acre com
cidas reiteradas vezes por tratados interna- os países vizinhos de língua espanhola. Na
cionais, a exemplo daqueles celebrados em esfera doméstica, ao contrário, até hoje os
Madri (1750), em Santo Ildefonso (1777) e estados do Acre e do Amazonas mantêm a
em Ayacucho (1867). discussão em litígio.
Enquanto a borracha era apenas um item Assim, em pleno século XXI, era da tec-
“exótico” das exportações amazônicas, as nologia espacial, o Brasil ainda carece de
incursões populacionais nessas áreas não um mapa definitivo da região Norte, uma
chegaram a preocupar os referidos países das mais atrativas para investidores nacio-
vizinhos. Acostumados aos altiplanos, eles nais e estrangeiros por conta de suas reser-
não se mostravam aptos ou mesmo interes- vas minerais, suas extensas áreas desabita-
sados em tomar posse daquela região de das e seu potencial agroindustrial.
planície. Registre-se, por oportuno, que são inú-
Todavia, a Revolução Industrial provo- meras as pesquisas em curso para o apro-
cou a alteração do status dessa matéria-pri- veitamento econômico da Amazônia, visan-
ma na pauta de importações da Europa e do combinar a preservação e o uso susten-
dos Estados Unidos. De fato, a produção tável de sua enorme biodiversidade. Elas
industrial da borracha — viabilizada pelo deixam evidente que as questões relativas à
processo de vulcanização inventado por região não podem ser tratadas como algo
Charles Goodyear em 1839 — deu origem periférico. Afinal, o interesse dos investido-
ao advento dos pneumáticos, item funda- res que para lá voltam seus olhos requer o
mental da vigorosa e ascendente indústria delineamento preciso dos parceiros envol-
automobilística. Iniciou-se, desse modo, a vidos, o que pressupõe clareza quanto às
corrida ao “ouro negro” da Amazônia, já divisas territoriais.
valorizado graças ao incremento da produ-
ção de calçados e das exigências do maqui- 2. A Revolução Acreana
nário empregado no processo de industria-
2.1. O Longo Processo Insurrecional
lização em si. Isso acabou por despertar os
anseios de propriedade da Bolívia e do Peru Não se pode entender o Tratado de Pe-
sobre terras antes esquecidas. trópolis, firmado entre a Bolívia e o Brasil
Os reflexos de tal mudança na economia em 1903, sem conhecer as origens da cha-
mundial não tardaram a ditar os rumos do mada Revolução Acreana. A Bolívia, cujos
processo socioeconômico de migração nes- domínios se estendiam sobre a região até
te País, acentuado após a grande seca nor- aquele momento, jamais exercera ali sua
destina de 1877, que acelerou a ocupação soberania. A área entre os rios Javari e Ma-
territorial do futuro Estado do Acre e a con- deira constava em seus mapas como “tier-
tenda para sua anexação ao Brasil. ras non descubiertas”.
Internamente, já se percebiam desejos Todavia, com o aumento da demanda
contrastantes: os habitantes da região que- internacional pela borracha extraída na re-
riam vê-la transformada em Estado da Fe- gião, o Governo de Sucre, em setembro de
deração brasileira, ao passo que o Estado 1898, mudou de atitude e rompeu com a in-
do Amazonas pretendia incorporá-la a seus diferença que nutria quanto à ocupação bra-
domínios, conforme declara Ernesto Leme sileira em curso naquela fronteira. Com isso,
no prefácio ao volume 37 das Obras Com- o que antes eram “simples escaramuças lo-
pletas de Rui Barbosa (1984, t. 6, p. XXII). cais”, “controvérsia de interesses” envol-

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vendo seringueiros brasileiros e vizinhos seguirá a fronteira, desde a mesma
bolivianos, começou a tomar a forma de con- latitude, por uma recta a buscar a ori-
flito internacional. gem principal do rio Javary.
Em 3 de janeiro de 1899, José Paravicini ..........................................................................
— Ministro Plenipotenciário da Bolívia no Art. 4 o Si (sic) no acto da demarcação
Rio de Janeiro — hasteou a bandeira de seu ocorrerem dúvidas graves, provenien-
país à margem esquerda do rio Acre, dando tes de inexactidão nas indicações do
ao povoado o nome de Puerto Alonso, em presente tractado, serão essas dúvidas
homenagem ao então Presidente Severo decididas amigavelmente por ambos
Fernandes Alonso, e fundou nessa locali- os governos, aos quaes comissários as
dade um posto alfandegário. Também por sujeitarão, considerando-se o accordo
decreto, abriu vários rios à navegação inter- que as resolver como interpretação ou
nacional, desconsiderando que os trechos additamento ao mesmo tractado; e fi-
navegáveis encontravam-se todos em terri- cando entendido que, si taes dúvidas
tório brasileiro. ocorrerem em um ponto qualquer, não
Muito embora essa mostra ostensiva de deixará por isto a demarcação de pros-
uma “estratégica tomada de posição” tives- seguir nos outros indicados no trac-
se resultado em contundentes protestos e tado.
pedidos de explicações à Legação Bolivia- Sabia-se de antemão, portanto, que os
na por parte de Olinto Magalhães 1, incluin- dados para a fixação dos limites eram insu-
do a proibição do trânsito de navios bolivia- ficientes e falhos. Nenhum geógrafo havia
nos em águas brasileiras, o País insistia em explorado suficientemente a região até as
reconhecer que, pelo Tratado de Ayacucho, nascentes do Javari para afirmar em que la-
celebrado em 27 de março de 1867, aquelas titude e longitude elas se situavam. Tal situ-
eram terras “incontestavelmente bolivia- ação ensejaria, no entender de Calixto (2003,
nas”. Essa disposição tinha o propósito de p. 89), “uma dramática e trágica dança das
comprar a neutralidade da nação vizinha linhas geodésicas, envolvendo o destino de
na guerra que se procedia contra o Paraguai. milhares de pessoas”.
O Tratado transcrevia quase literalmen- Em 1874, uma comissão mista Brasil-
te os limites fixados nos acordos celebrados Peru, cuja delegação brasileira era chefiada
em Madri e em Santo Ildefonso nos idos da pelo Barão de Tefé, concluiu seus trabalhos
colonização e sempre inspirados no princí- demarcatórios apontando a nascente do Ja-
pio do utis possidetis, ita possideatis (como vari em 7º1’17’’5 de latitude sul e 74º8’27’’07
possuís, continuais possuindo), estabele- de longitude de Greenwich, que se tornou
cendo que “deste rio [rio Verde até a sua conhecida como linha Tefé.
confluência com o Beni, onde principia o Desprezava-se, desse modo, a latitude
rio Madeira] para o oeste seguirá a fronteira sul 10º20’, referenciada pelo Tratado de
por uma parallela, tirada de sua margem Ayacucho, tornando oblíqua a linha que
esquerda na latitude sul 10º20’, até encon- antes era reta e arrancando ao Brasil 242
trar o rio Javary”. léguas quadradas de território, conforme
Seus arts. 2 o e 4o, em essência, denunciam Sílvio Meira no prefácio ao volume 37 das
a imprecisão do traçado que se estava acor- Obras Completas de Rui Barbosa (1983, t. V,
dando e as complicações que daí poderiam p. XIX). Essa linha inclinada, que unia a foz
advir, nos seguintes termos (Calixto: 2003, do Beni à nascente do Javari, começou a
pp. 88-89): aparecer nas cartas geográficas a partir de
Art. 2o Si (sic) o Javary tiver as suas então.
nascentes ao norte daquella linha les- Havia, em suma, duas correntes: uma
te-oeste [que é a do paralelo 10º20’] que endossava a interpretação do Ministé-

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rio das Relações Exteriores e apresentava a porém, viu-se substituído no cargo pelo Ge-
fronteira como uma linha oblíqua e outra neral Dionísio de Cerqueira, que tratou o
que propugnava a fronteira em ângulo reto caso como insubordinação, o que levou
com o paralelo 10º20’, nos termos do Trata- Thaumaturgo a pedir demissão. Seu suces-
do de Ayacucho. sor na supervisão dos trabalhos demarca-
As negociações entre o Brasil e a Bolívia, tórios, o Capitão-Tenente da Armada Cunha
interrompidas em 1878, foram retomadas Gomes, retificaria as observações do Barão
em 1895, quando se firmou um protocolo de Tefé.
entre os dois países, ratificando a conclu- Em janeiro de 1898, ele enviou seu rela-
são dos trabalhos de Tefé. tório ao Ministério das Relações Exteriores
Curiosamente, entretanto, o próprio che- informando a nova latitude das origens do
fe da missão brasileira, Coronel Gregório Javari: 7º11’48’’10. Isso significava, para o
Thaumaturgo de Azevedo, passou a engros- desapontamento de muitos, uma discrepân-
sar o coro daqueles que se opunham à posi- cia de apenas 10º das observações do Barão
ção do Palácio do Itamaraty, a exemplo de de Tefé, o que deixava praticamente inalte-
Paula Freitas e Sezerdelo Corrêa. Afrontan- rada a situação geográfica dos territórios da
do a rigidez hierárquica a que estava habi- borracha. As tentativas de demarcação con-
tuado nos quartéis, ele encaminhou um ofí- tinuariam, mas a Bolívia, já com vivo inte-
cio ao Ministro das Relações Exteriores, resse naquelas terras, acreditava ser o mo-
Carlos de Carvalho, alertando-o sobre os mento oportuno para a imediata ocupação
prejuízos que aquele protocolo traria para a do Acre.
Nação (Calixto: 2003, p. 93): O fato é que o Governo brasileiro permitiu
Aceitar o marco do Peru como o últi- à Bolívia a fundação de Puerto Alonso, deci-
mo da Bolívia, devo informa-vos que são essa interpretada por seringalistas e se-
o Amazonas irá perder a melhor zona ringueiros como a oficialização da soberania
de seu território, a mais rica e mais estrangeira na região. Isso engendrou aquela
produtora, porque, dirigindo-se a li- que seria a primeira insurreição acreana.
nha geodésica de 10º e 20’ a 7º1’17’’5 Em abril de 1899, o Cônsul Dom Moisés
ela será muito inclinada para o norte, Santivañez substituiu José Paravicini, que
fazendo-nos perder o alto rio Acre, retornou a seu posto no Rio de Janeiro por-
quase todo o Iaco e o Alto Purus, os que um golpe de estado deflagrado pelo
principais afluentes do Juruá e talvez General José Manoel Pando depusera o Pre-
os do Jutaí e do próprio Javari; rios sidente Severo Alonso e era preciso estar
que dão a maior porção da borracha atento aos rumos do novo governo. Em 1o
exportada e extraída por brasileiros. de maio daquele ano, cerca de quinze mil
(...) Toda essa zona perderemos, aliás brasileiros, a maioria deles residentes na re-
explorada e povoada por nacionais e gião, sob o comando do advogado José
onde já existem centenas de barracas, Carvalho e com o apoio do governo do Esta-
propriedades legítimas e demarcadas do do Amazonas, levantaram-se contra os
e seringais cujos donos se acham de bolivianos, dando a Santivañez o seguinte
posse há alguns anos; sem reclama- ultimato, prontamente atendido (Tocantins:
ção da Bolívia, muitos constituídos 2001, v. 1, p. 292): “Estais intimado a reti-
provisórios, só esperando a demarca- rardes o vosso governo deste território o mais
ção para receberem os definitivos. breve possível, porque é esta a vontade so-
O chanceler, em princípio, foi sensível berana e geral do povo deste município e de
aos argumentos de seu subordinado e che- todo o povo brasileiro”.
gou a determinar que fosse feita uma nova A segunda insurreição deu-se em 14 de
verificação pela Comissão Bilateral. Logo, julho de 1899, chefiada pelo jornalista es-

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panhol Luiz Galvez Rodrigues de Arias. Segunda República do Acre, que seria pre-
Depois de alertar o então Governador ama- sidida pelo Coronel Rodrigo de Carvalho,
zonense Ramalho Júnior sobre o teor de um mas que teve destino idêntico ao de sua pre-
acordo diplomático que assegurava o apoio decessora, graças à fragorosa derrota sofri-
militar dos Estados Unidos da América da diante do exército boliviano, em 29 de
(EUA) à Bolívia2, em caso de guerra com o dezembro de 1900. Com isso, as terras per-
Brasil pelo domínio do Acre, ele partiu de maneciam bolivianas.
Manaus — sob o patrocínio daquele governo O tráfego das embarcações comerciais,
— rumo à localidade de Puerto Alonso, re- rio acima e abaixo, dava o tom de normali-
batizada de Porto Acre. dade a esse quadro político, e a arrecadação
Ali, Galvez hastearia a bandeira acrea- das receitas alfandegárias por parte da Bo-
na — símbolo patriótico que traz as fortes lívia ocorria sem maiores embaraços.
cores do pavilhão nacional — e proclama- Por essa época, como ressalta Bandeira
ria a criação do Estado Independente do (2000, p. 153), com base nos próprios regis-
Acre.3 tros estatísticos do governo norte-america-
Em resposta, as autoridades federais bra- no, sessenta mil brasileiros habitavam o
sileiras — avocando o disposto no Tratado Acre e as importações de goma elástica do
de Ayacucho — reconheceram tratar-se de Brasil, que em 1879 e 1889 atingiram o valor
invasão territorial à Bolívia e enviaram tro- de US$ 3.296.766 e US$ 7.569.005, respecti-
pas e uma flotilha da Marinha para que fos- vamente, já alcançavam a cifra de US$
se defenestrada a “República do Acre”. No 16.999.345 em 1900, elevando Belém e Ma-
dia 15 de março de 1900, data da rendição naus à condição de importantes centros para
dos autodeclarados acreanos, o Cônsul o comércio exterior.
Eduardo Otaviano foi indicado formalmen- A queda persistente dos preços do café a
te pelo Governo brasileiro para promover a partir de então fez com que os políticos e
transição política, passando o controle da empresários nacionais passassem a se inte-
região à Bolívia. ressar pelos acontecimentos no Acre.
Houve, ainda, mais um episódio de in-
surreição, conhecido como a “República dos 2.2. Bolivian Syndicate: Pomo da Discórdia
Poetas”, não menos importante para a com- No início do século XX, soube-se da exis-
preensão do processo de anexação das ter- tência de um acordo militar entre norte-ame-
ras acreanas ao Brasil. Esse episódio teve ricanos e bolivianos envolvendo a região em
início no raiar do século XX, com a decisão análise. Apesar da negação peremptória do
da Bolívia de enviar uma pequena missão acordo por ambas as partes, o inequívoco
militar para ocupar a região. Impedida de estreitamento das relações entre esses dois
avançar pelos brasileiros, a missão não foi países levantou preocupações do Governo
além de Porto Acre. Entrementes, Silvério brasileiro, que se revelaram bastante proce-
Néri — à frente do Governo do Amazonas, dentes.
em substituição a Ramalho Júnior, com o De fato, em 1901, a Bolívia — presidida
firme propósito de alargar as fronteiras es- pelo General José Manuel Pando e visivel-
taduais — financiou uma nova expedição mente ansiosa por se livrar dos problemas
armada em apoio à resistência brasileira no com a administração das terras considera-
local. das acreanas pelos brasileiros — concordou
A Expedição Floriano Peixoto — desig- em arrendá-las a um sindicato de capitalis-
nação oficial — era chefiada pelo jornalista tas majoritariamente norte-americanos e in-
Orlando Correa Lopes, que liderava boêmios gleses, o Bolivian Syndicate. Tratava-se de
e profissionais liberais de Manaus sem ne- uma espécie de companhia colonial privile-
nhum treinamento militar. Ela proclamou a giada, uma chartered company, nos moldes

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das existentes na África4, formada com re- do Tratado de Comércio e Navegação que
cursos fornecidos pelas seguintes empresas celebrara com a Bolívia. Essas resoluções
e pessoas físicas (Bandeira: 2000, p. 165): levaram o Secretário do Departamento de
Central Trust Co., Varmilye Co., Metropolitan Estado Norte-americano, John Hay, a decla-
Life Insurance Co., Morton Bliss & Co., Brown rar que era necessário proteger os “inocen-
Brothers & Co., K. Twombly, S. W. Cross, Adrian tes interesses de cidadãos americanos”, lem-
Iselin Jr., E. Emelen Roosevelt, Lord Avebury brando que a Bolívia, um país pobre, não
(do Banco Lubbock) e August Belmont (repre- poderia arcar com indenizações.
sentante da Casa Rothschild). As gestões diplomáticas prosseguiam
Pelo contrato, o grupo assumiria, por trin- lentas. Com o fechamento da navegação dos
ta anos, o controle total sobre a região, in- rios brasileiros, o Bolivian Syndicate não con-
cluindo a movimentação alfandegária e mi- seguia concluir a implementação do empre-
litar. Para os brasileiros, essa era uma situa- endimento, e o contrato estabelecia o dia 6
ção intolerável, pois o trânsito livre de es- de março de 1903 como data limite. Os âni-
trangeiros pelo território nacional significa- mos estavam cada vez mais exaltados, e um
va uma real ameaça às soberanias tanto da novo movimento insurrecional ganhava
vizinha Bolívia quanto do Brasil. volume, dessa vez capitaneado pelo gaúcho
Tornou-se patente, à época, que o pro- Plácido de Castro, que participara dos em-
blema extrapolava o âmbito da mera “con- bates da revolução federalista.
trovérsia sobre interesses locais”. Se não A despeito de seus tenros 27 anos, ele
havia declaração de guerra entre as nações, era um homem de rara têmpera e caráter for-
existia uma firme disposição dos brasilei- te, capaz de coordenar a resistência às in-
ros ali estabelecidos em defender seus inte- vestidas bolivianas e de levá-la a termo, gra-
resses comerciais e patrimoniais, afrontados ças a seus conhecimentos como agrimensor
pela presença daquele sindicato patronal. e militar. Ao inteirar-se do arrendamento do
Lembre-se, a propósito, que, embora o Acre ao Bolivian Syndicate, com o aval dos
látex existisse em outros países, o extraído proprietários de seringais e do Governo do
da Hevea Brasiliensis — seringueira somente Amazonas, Plácido tratou de organizar o
encontrada na Amazônia brasileira — era o levante que passaria para a história como a
de melhor qualidade e também o mais pro- Revolução Acreana. Em 6 de agosto de 1902,
curado. Por isso, em fins do século XIX, a sob seu comando, brasileiros armados ata-
região já respondia por 65% da produção caram uma guarnição militar boliviana, ba-
mundial e era sinônimo de borracha. seada às margens do rio Xapuri, um afluente
As tentativas diplomáticas do Governo do Acre. Entrementes, na Capital do País, as
brasileiro para conseguir a anulação do con- autoridades federais temiam as conseqüên-
trato provocaram a pronta reação das auto- cias dessa campanha, que ele prometera bre-
ridades governamentais em Washington e ve, mas que já se alongava por algum tempo
Londres, que as tiveram como sinônimo de e poderia ter resultados imprevisíveis.
violação de direitos adquiridos dos seus A essa altura, o fabrico da borracha ha-
nacionais, pois estavam habituadas ao su- via sido interrompido em todo o rio, os se-
cesso de suas companhias comerciais no ringueiros haviam deixado as estradas de
continente africano. seringa para formar as hostes revolucioná-
O Presidente Campos Sales decidiu, en- rias e os maiores inimigos não estavam no
tão, fechar o Amazonas e seus afluentes à front, e sim em Nova York e Londres, aten-
navegação, ignorando os protestos dos EUA, tos à evolução dos preços da borracha. Eram
Grã-Bretanha, França e Alemanha. Além de os grandes financistas, sobretudo america-
impedir o fluxo comercial na região, sustou nos e ingleses, acostumados a polpudos lu-
a tramitação — no Congresso — do projeto cros e determinados a garantir — pela pres-

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são econômica junto aos governos do Brasil energicamente que: “O Governo brasileiro
e da Bolívia — a instalação de uma chartered deu, até aqui, ao Tratado de 1867, uma in-
company na América do Sul e o livre acesso terpretação contrária à letra e ao espírito do
de seus produtos para Bolívia, Peru e Nova mesmo, com o único fim de favorecer a Bolí-
Granada pela bacia Amazônica. via. [...] não podemos concordar que ali pe-
netrem tropas ou autoridades da Bolívia”.
2.3. Diplomacia em Vez de Guerra Com o real intento de forçar a Bolívia a
Quando a controvérsia em torno do negociar, o Barão apresentou a proposta de
Bolivian Syndicate acirrou-se, surgiu na cena permuta de territórios ou de compra do Acre
política a figura de José Maria da Silva pelo Brasil, que assumiria o compromisso
Paranhos, o Barão do Rio Branco. Por sua de acertar-se com o Bolivian Syndicate. Em-
notória sagacidade e talento para as ques- bora onerosa, essa era a forma de obter a
tões internacionais, ele foi convidado pelo cessão de todo o território ocupado por bra-
Presidente Rodrigues Alves, em 3 de dezem- sileiros, inclusive uma faixa ao sul do para-
bro de 1902, a assumir a pasta do Ministé- lelo 10º20’. Ambas as propostas foram re-
rio das Relações Exteriores e, de imediato, chaçadas pela Bolívia, que se fiava no apoio
debruçou-se sobre o delicado tema. dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, como diplomata e po- Entretanto, um outro barão — o de
lítico, Rio Branco rompeu com o tratamento Rothschild5 — agente financeiro do Brasil
geográfico que seus antecessores dispensa- na Grã-Bretanha, não menos interessado na
vam à questão, não mais admitindo passi- questão, tratou de encontrar meios de inter-
vamente que terras acreanas fossem consi- mediar uma solução pacífica para o dissí-
deradas alheias. Decidiu interpretar o Tra- dio. Entabulou contatos diretos com os diri-
tado de 1867 ao pé da letra, defendendo a gentes do sindicato, por meio de um dos seus
linha de fronteira leste-oeste que passa pelo sócios, August Belmont, que ,não por acaso,
paralelo 10º20’ e recusando-se a aceitar o era também seu representante nos Estados
tracejado da linha oblíqua ao Equador. Unidos.
Também declarou o território do Acre litigi- Cabe salientar que os Rothschild insisti-
oso com relação ao Brasil e ao Peru, com ram durante toda a negociação na conveni-
quem a Bolívia acabara de firmar um trata- ência de o Brasil entregar a questão à arbi-
do para submetê-lo à arbitragem da Argen- tragem da Grã-Bretanha, fazendo insinua-
tina. ções e trazendo notícias de ameaças vela-
Esse tirocínio livrava-o de buscar uma das por parte do Presidente americano
solução arbitrada, pois bem sabia que seria Theodore Roosevelt. O Brasil, contudo, man-
arriscado ficar à mercê de argumentos jurí- tinha-se firme na defesa do diálogo bilate-
dicos ou históricos, depois de 36 anos de ral com a Bolívia e ganhava tempo, respon-
entendimento que o Acre era boliviano. dendo com evasivas à oferta dos ingleses.
Reconhecer que aquela era uma questão Servindo-se de um telegrama endereça-
litigiosa, como declarara a Bolívia inúme- do a Rodrigues Alves (cf. Bandeira: 2000, p.
ras vezes, e lançar-se na negociação de um 166), o Barão de Rothschild informou ao
tratado foi, então, o caminho escolhido por Governo brasileiro que o Bolivian Syndicate
Rio Branco para defender os interesses reclamava uma indenização de US$ 1 mi-
dos brasileiros que habitavam a área de lhão. Pedia brevidade na decisão e autono-
confronto. mia “para fechar o negócio rapidamente,
Retificando erros anteriores, ele telegra- preservados os interesses do seu país” (Ban-
fou à delegação brasileira em La Paz, em 18 deira: 2000, p. 157).
de janeiro de 1903, conforme consta do Ar- A pressa externada no texto justificava-
quivo Histórico do Itamaraty, afirmando se pelas notícias veiculadas pela imprensa

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sobre a precária situação das forças bolivia- toriais em vários pontos da fronteira com o
nas — acossadas em Puerto Alonso pelos bra- Brasil; que o Governo brasileiro se compro-
sileiros liderados por Plácido de Castro — e meteria a construir a Estrada de ferro
pela impossibilidade do Bolivian Syndicate de Madeira-Mamoré; e que seria garantida a
instalar-se no Acre e honrar seus prazos con- liberdade de trânsito pela ferrovia e pelos
tratuais, uma vez que o veto de navegação no rios até o oceano Atlântico, o que facilitaria
Amazonas fora oposto à Bolívia. o escoamento das exportações bolivianas
A estratégia de Rio Branco consistia em pelo sistema fluvial do Amazonas. Como
preparar-se para guerra a fim de evitá-la. não havia equivalência entre as áreas dos
Assim, ele se mantinha disposto a negociar territórios permutados, estabeleceu-se, ain-
um “acordo honroso e satisfatório”, segun- da, uma indenização pecuniária no mon-
do declarou ao Ministro brasileiro em La tante de dois milhões de libras esterlinas, a
Paz, Eduardo dos Santos Lisboa 6, com a res- ser paga pelo Brasil em duas parcelas.
salva categórica de que as tropas bolivia- Em contrapartida, a Bolívia cederia a
nas, que rumavam para o Acre, não ultra- parte meridional do Acre, reconhecidamen-
passassem o paralelo 10º20’. te boliviana, mas povoada por brasileiros, e
desistiria de seu alegado direito à outra parte
3. O Tratado de Petrópolis do território mais ao norte, igualmente ocu-
pada só por brasileiros.
A vitória de Plácido de Castro teve lugar O reconhecimento da soberania brasilei-
com a rendição da guarnição boliviana em ra sobre um território de 191.000 km2, assim
24 de janeiro de 1903. Logo, o litígio já esta- negociado, mostrou ser um excelente negó-
va solucionado militarmente, no campo de cio para os Rothschild, que, depois de al-
batalha, quando o Presidente boliviano, guns meses, deram um adiantamento à Bo-
General Pando, percebendo que não pode- lívia, debitando-o na conta do Brasil, para
ria manter nenhum controle sobre o Acre, que este pagasse o montante acrescido de
viu-se compelido a concordar com o enten- juros.
dimento diplomático. Afinal, era melhor O Bolivian Syndicate rendeu-se às evidên-
aceitar as compensações oferecidas pelo cias. Admitiu que atuar na região seria im-
Brasil em troca da área litigiosa do que en- praticável e aceitou a rescisão contratual
frentar uma batalha diplomática com o Peru, mediante uma compensação financeira de
outro a reclamar propriedade sobre aquelas 114.000,00 libras esterlinas. O distrato foi
terras. Assim, em 21 de março de 1903, ele assinado em 26 de fevereiro de 1903, dei-
concordou com a ocupação e a administra- xando a casa bancária inglesa ainda mais
ção brasileira na região até a conclusão dos radiante. A questão do Acre convertera-se na
termos do acordo. galinha dos ovos de ouro para os Rothschild,
Estabelecido o modus vivendi provisório, que forneceram os créditos necessários ao
imposta a vigilância das forças federais so- Brasil para honrar toda a transação.
bre a parte situada a leste do Rio Iaco, e limi-
tada, ao norte, pela linha geodésica do mar- 3.1. O Acordo com o Peru: Aquilo que
co do Madeira à nascente do Javari, e, ao Faltou ao Tratado de Petrópolis
sul, pelo paralelo de 10º20’, desde o referido A questão do Acre, porém, não estava
marco até o Iaco, foram possíveis os enten- encerrada. O Peru, que já perdera para o
dimentos que culminariam com o Tratado Chile, há pouco menos de três décadas, as
de Petrópolis, assinado no Estado do Rio de províncias de Tarapacá, Tacna e Arica na
Janeiro em 1903. Guerra do Pacífico (1879-1883), não se con-
Por esse instrumento, ficou acordado formava com a redução de seu território.
que a Bolívia receberia compensações terri- Reivindicando também aquela porção ama-

138 Revista de Informação Legislativa


zônica, ele pretendia participar das negoci- violentas, efetivadas à última hora, lhe
ações com a Bolívia, no intuito de que hou- podiam alcançar posição vantajosa
vesse uma solução tríplice. no processo arbitral que desejava”.
Rio Branco opôs-se a essa pretensão, Em suma, se a questão fosse submetida
pois não poderia lutar em duas frentes si- à arbitragem, o Peru nada arriscaria e lucra-
multaneamente e temia que um impasse le- ria com qualquer resultado, já que os títulos
vasse a questão à arbitragem. Entretanto, de posse de que dispunha por si só não eram
deixou claro em telegrama endereçado à válidos e suficientes em reclamações dessa
Legação do Brasil em Lima, a 20-1-1903, que natureza e a simples adoção do princípio
— no devido tempo — levaria em conta as do utis possidetis tampouco lhe beneficiaria.
reclamações peruanas, sobretudo quanto às O Barão recusou-se, peremptoriamente,
terras que vão do Purus para o Oeste. a abrir as negociações com o Peru enquanto
Nesses termos, somente depois de equa- seus destacamentos estivessem naquelas
cionar a questão com o Bolivian Syndicate e áreas. Contava, para tanto, com o irrestrito
de assinar o Tratado de Petrópolis, Rio Bran- apoio do Presidente Rodrigues Alves, que
co dispôs-se a entabular conversações com mandou Manaus deslocar dois destacamen-
o Peru, cujas pretensões territoriais iam além tos militares para a região ocupada, a fim
da área que fora objeto do Tratado de 1903. de oferecer represália se o Peru insistisse em
De fato, o Governo de Lima reclamava ter- não se retirar.
ras que a Bolívia cedera ao Brasil, pelo Tra- O impasse perdurava e, com isso, os con-
tado de Ayacucho, alcançando territórios flitos eram freqüentes. No segundo trimes-
situados ao sul da linha Madeira-Javari e tre de 1904, as relações entre as duas chan-
ao norte da linha Beni-Javari, num total de celarias ficaram ainda mais críticas. Em
251.000 km² e com uma população da or- Lima, os ânimos estavam bastante acirra-
dem de sessenta mil brasileiros. dos, havendo a disposição do Governo pe-
Apoiado em documentos e na doutrina ruano de defender suas posições com o em-
de Direito Internacional, Rio Branco susten- prego da força, conforme noticiou o Jornal
tou a tese de que os títulos da posse brasilei- do Comércio do Rio de Janeiro (apud Tocan-
ra sobre toda a bacia do Purus e do Juruá tins: 2001, v. 2, p. 459).
eram oriundos do título português, que de- Em 12 de maio de 1904, a empresa de
corria da anulação do Tratado de Ildefonso, navegação Red Cross Iquitos Steam Ship, pre-
corolário da paz firmada em Badajós em cavendo-se contra o pior, fez publicar a se-
1801 7. Esses direitos, concedidos à Bolívia guinte nota nos jornais de Liverpool:
pelo Tratado de Ayacucho, haviam sido re- “Devido à ameaça de rompimento de
cuperados pelo Brasil, na medida de sua hostilidades entre o Brasil e o Peru,
conveniência, em 1903, quando ele firmou o somos obrigados a reter todos os car-
Tratado de Petrópolis com o Governo boli- regamentos do vapor Bolívia, a sair
viano. Asseverava Rio Branco, em nota de para Iquitos, a 12 do corrente, que con-
27-6-1904 enviada ao Ministro das Relações sistam em armas, cartuchos de pólvo-
Exteriores do Peru, Hernán Velarde: ra, chumbo de munição e quaisquer
“A verdade é que o Governo peruano outras mercadorias ou materiais que
começou em fins de 1902 e meados de possam ser considerados ou usados
1903 a apoderar-se, manu militare, dos como munição de guerra” (Tocantins:
territórios em litígio, quase que exclu- 2001, v. 2, p. 437).
sivamente habitados por brasileiros, Apertando o cerco ao vizinho, o Brasil
procurando modificar o estado em que decidiu interditar todo o trânsito de artefa-
se achavam as coisas, e acreditando tos de guerra que se valesse da via do Ama-
que tais invasões e tomada de posse zonas com destino ao Peru. A 18 de maio,

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denunciou, então, “pela provada inconve- vamente a margem meridional do
niência de certas cláusulas” (cf. nota de Rio Amazonas e as margens dos baixos
Branco ao Ministro Hernán Velarde, em 18- cursos de seus afluentes a leste do Ja-
5-1904), o Tratado de Comércio e Navega- vari. As nascentes desses rios, entre
ção subscrito com o Peru em 10 de outubro os quais se incluem o Juruá e o Purus,
de 1891, que assim perderia eficácia no ano e todos os seus tributários, nem o Peru
seguinte. nem a Bolívia as ocuparam em quais-
Àquela altura, a guerra parecia tão imi- quer pontos. (...) O Brasil, em 1867,
nente que o Barão tratou de angariar a sim- estava em posição de manter o seu tí-
patia da Bolívia e sua promessa de apoio tulo sobre as bacias do Juruá e do Pu-
caso o conflito bélico fosse mesmo deflagra- rus. Porém, quis ceder à Bolívia o ter-
do. Outrossim, firmou uma aliança secreta ritório ao sul da linha Beni-Javari, o
com o Equador, país com o qual o Peru ti- que fez pelo Tratado de Ayacucho,
nha também uma antiga desavença envol- naquele ano, território readquirido em
vendo limites territoriais. 1903 pelo Tratado de Petrópolis” (To-
A intimidação brasileira surtiu o efeito cantins: 2001, v. 2, p. 497).
almejado, pois — em 12 de julho de 1904, no Anos mais tarde, Rui Barbosa recorda-
Palácio do Itamaraty — Brasil e Peru firma- ria tal observação em sua petição em defesa
ram um modus vivendi, embora o clima de dos interesses do Amazonas na anexação
desconfiança comprometesse a normaliza- do Acre ao território brasileiro.
ção das relações entre os dois países. Nesse O ano de 1906 transcorreu sem novida-
momento, já havia fracassado a tentativa do des no que concerne aos avanços diplomá-
Peru de angariar o apoio diplomático dos ticos referentes ao litígio de fronteiras Brasil–
Estados Unidos, a fim de que fossem reco- Peru. Do lado do Brasil, era intenção do Ba-
nhecidas de pleno direito as suas preten- rão do Rio Branco aguardar os relatórios das
sões territoriais. Para a alegria do Barão de comissões técnicas a cargo de Euclides da
Rio Branco, o Secretário de Estado John Hay Cunha (Purus) e Belarmino Mendonça (Ju-
optou pela neutralidade nessa questão, ante ruá), para que ambas as partes negociassem
a ausência de interesses financeiros envol- com segurança, conforme estipulado no
vendo norte-americanos (como ocorrera no modus vivendi. O Peru, por sua vez, espera-
caso do Bolivian Syndicate) e o resultado do va que a troca do Governo brasileiro no ano
trabalho jurídico sobre a questão de frontei- seguinte ensejasse uma posição mais favo-
ras entre o Brasil e o Peru, encomendado ao rável a suas pretensões. Mas Afonso Penna,
internacionalista Bassett Moore, por suges- depois de assumir a Presidência da Repú-
tão do próprio chanceler brasileiro à Em- blica, querendo evitar uma solução de con-
baixada do Brasil em Washington. tinuidade para a política externa brasileira
O referido jurista, com base na copiosa em momento tão delicado, confirmou José
documentação que lhe fora fornecida pelos Maria da Silva Paranhos à frente do Minis-
brasileiros, preocupados em evitar as dis- tério das Relações Exteriores, a despeito da
torções e a manipulação da opinião pública opinião de desafetos e censores do Governo
por parte das autoridades peruanas, elabo- de Rodrigues Alves.
rou um folheto intitulado Brazil and Peru Ao longo de 1907, ficaram prontos os
Boundary Question, que chegou às mãos de relatórios dos comissários brasileiros e as
Rio Branco em janeiro de 1905. Nele, Moore memórias das comissões mistas que deram
considerou os títulos brasileiros válidos e provas cabais da conquista, do povoamen-
definitivos e declarou: to, dos empreendimentos industriais e co-
“O Brasil, antes de 1851, data de sua merciais, da permanência e propriedade
convenção com o Peru, ocupava efeti- ininterruptas de brasileiros nos rios Juruá e

140 Revista de Informação Legislativa


Purus, exceto nos trechos mais superiores. ção (Diário do Congresso Nacional, 1o-5-
Rio Branco passou a dispor, então, de docu- 1910):
mentos totalmente favoráveis ao Brasil. Diante de tão admiráveis conceitos,
Vale dizer que os prazos de vigência do que bem revelara o espírito superior
modus vivendi foram prorrogados sucessi- que os ditou e que tem feito da gran-
vamente, sem grandes dificuldades, e o pro- deza da Pátria o seu culto de todas as
tocolo de 12 de julho de 1904 chegou a ser horas, sente-se que, ainda uma vez,
cumprido fielmente. O tempo arrefecia as fechando o último claro nas nossas
rusgas entre as chancelarias, e a perseve- fronteiras, o Brasil não desmentiu o
rança do Brasil na defesa de seus direitos seu honoríssimo passado de ininter-
findou por convencer os peruanos de que rupta lealdade nas suas relações de
era tempo de pôr fim à contenda e assinar vizinhança, de inquebrantável devo-
um acordo definitivo sobre as fronteiras na tamento aos princípios liberais e de
região. confiança a mais absoluta na realiza-
As autoridades peruanas ainda aventa- ção muito próxima no continente do
ram uma compensação financeira, a exem- seu grande ideal de todos os tempos
plo do que ocorrera em relação à Bolívia. O — a paz constante e a confraterniza-
Peru, no entanto, não possuía título válido ção geral dos povos americanos. O
e definitivo e não firmara com o Brasil ne- Tratado de 8 de setembro foi o com-
nhum tratado que lhe concedesse o mínimo plemento glorioso do Tratado de Pe-
direito sobre o Acre. Por isso, Rio Branco trópolis. Encarado sob todos os aspec-
rechaçou energicamente a pretensão finan- tos, difícil seria concluir qual dos dois
ceira do Peru, mas negociou para que ele se é o mais notável e mais digno da des-
apropriasse de uma área triangular consi- tinação histórica do Brasil na Améri-
derável, formada pelos rios Curanja, Santa ca do Sul. E a opinião nacional já não
Rosa e Purus. vê mais em Rio Branco um nome, mas
Em 12 de setembro de 1909, o então Pre- um símbolo.
sidente peruano, Augusto Leguia, determi-
nou a seu ministro das Relações Exteriores, 4. A Questão Acreana Passa à
D. Hernán Velarde — cuja firma figura no Economia Doméstica
modus vivendi de 12 de julho de 1904 — que
assinasse, em sigilo e com data retroativa a Antes mesmo de solucionada a conten-
8 de setembro corrente, juntamente com o da no plano internacional, surgiria uma
Barão do Rio Branco, no Palácio do Itama- outra, de cunho eminentemente interno, de
raty — o tratado que permitiu ao Brasil avan- caráter jurídico e cores políticas. Tratava-se
çar suas fronteiras sobre uma área de do conflito entre o Estado do Amazonas, que
152.000 km², uma superfície cinco vezes se julgava legítimo detentor dos direitos às
maior do que a Bélgica. O objetivo era evitar terras acreanas setentrionais, e a União, que
dificuldades com a opinião pública antes as incorporara ao seu patrimônio, ao tempo
que os Parlamentos de ambos os países au- que, pelo disposto no Decreto do Executivo
torizassem a ratificação do acordo, o que n o 5.188, de 7 de abril de 1904, organizou o
ocorreu primeiro no Peru e depois no Brasil. território do Acre e fixou seus limites. Esse
Esse episódio trouxe a consagração de- decreto dividiu o Acre em três departamen-
finitiva para o astuto Barão do Rio Branco, tos (Alto Acre, Alto Purus e Alto Juruá), di-
saudado com loas pelo Deputado Dunshee visão essa que perduraria até a unificação
de Abrantes, relator do tratado na Comis- ocorrida em 1920, instituiu normas admi-
são de Diplomacia da Câmara, ao manifes- nistrativas, criou cargos de prefeitos, esta-
tar-se favoravelmente sobre a sua aprova- beleceu a justiça eleitoral e fixou suas com-

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petências. Criou discricionariamente, enfim, Oliveira Ribeiro. A exemplo do que ocorrera
uma pessoa jurídica de direito público in- com a “questão acreana” outrora, os debates
terno sem par na realidade constitucional ganharam repercussão em toda a imprensa
brasileira daquela época. O governo ama- brasileira, chegando a provocar outro gran-
zonense tomou isso como uma afronta, pos- de jurista, o sergipano Gumercindo Bessa.
to que o Acre sempre estivera em sua órbita Esse saiu espontaneamente em defesa do
administrativa e era justo incorporá-lo ao Acre, divulgando um Memorial em Prol dos
seu território. Acreanos Ameaçados de Confisco pelo Estado
Note-se que a ambição intervencionista do Amazonas na Ação de Reivindicação do
do Governo Federal, impulsionada pelos Território do Acre, em 31 de janeiro de 1906.
lucros oriundos da exploração de látex, es- Rui Barbosa não se fez de rogado e ocu-
tava sendo obstaculizada pelos chamados pou as páginas do Jornal do Comércio para
“barões da borracha”, que disputavam es- contestar os argumentos de Bessa, que —
paço na ordem político-administrativa. imbuído do papel de “defensor dos acrea-
Além disso, o café temia a borracha. A parti- nos” — retrucou com outros oito artigos,
cipação desta no conjunto das exportações todos devidamente contestados pelo patro-
brasileiras, que era de dez por cento em 1890, no do Amazonas, nas edições publicadas
passou a vinte por cento em 1900 e chegou a pelo referido periódico entre 18 de junho e 2
quarenta por cento em 1910. A borracha de julho de 1906.
rivalizava, assim, com o café, cuja partici- O litígio ganhou dimensões caudalosas.
pação caíra de 68%, em 1890, para 57%, em À petição inicial, somaram-se outras peças
1900, e não passava de 41%, em 1910 jurídicas (contestação, réplica, tréplica, ra-
(Santos: 1980, p. 290).8 zões finais), mas o processo nunca chegou
Rui Barbosa — que participara da dele- a termo. As tentativas de acordo foram in-
gação encarregada de negociar o Tratado frutíferas e os autos do processo quedaram
de Petrópolis com a Bolívia, mas que dela se esquecidos no Supremo Tribunal Federal
afastara, pouco antes da assinatura do acor- (STF). Eles só voltariam à baila na década
do, por discordar do valor da indenização de trinta.
pecuniária proposto pelo Brasil — foi o es-
colhido para emprestar toda a sua verve e o 4.1. A Disputa de Fronteiras em Sede
seu cabedal de conhecimentos jurídicos à Constitucional: o Mea Culpa da União
defesa do direito de posse do Estado do No mérito, poder-se-ia admitir que Rui
Amazonas sobre aquelas terras. Assim, em Barbosa foi vitorioso na defesa do governo
4 de dezembro de 1905, na petição inicial amazonense, uma vez que os parlamenta-
apresentada perante o Supremo Tribunal res constituintes da década de trinta reco-
Federal9, que originou a Ação Civil Originá- nheceram que o Amazonas tivera prejuízo
ria n o 9, ele reivindicou, em favor de seu cli- com a forma pela qual as autoridades
ente, a incorporação territorial do chamado federais decidiram implementar o acordo fir-
“Acre Setentrional”, área correspondente à mado pelo Tratado de Petrópolis e que lhe
região localizada acima da linha do parale- era devida uma indenização. Por esse moti-
lo 10º20º. Argumentando “posse imemorial vo, fizeram constar da Constituição de 1934,
e domínio antigo”, o Amazonas pleiteava o no art. 5 o das Disposições Transitórias, que
que de direito lhe pertencera quando Co- caberia à União indenizar o Estado do Ama-
marca, depois lhe pertenceu como Provín- zonas dos prejuízos que lhe tivessem ad-
cia e, finalmente, como Estado. vindo da incorporação do Acre ao território
A batalha judicial não se limitou a Rui nacional. O dispositivo ainda determinava
Barbosa e a seu contendor, o Procurador- que “o valor fixado por árbitros, que terão
Geral da República, Dr. Pedro Antônio de em conta os benefícios oriundos do convê-

142 Revista de Informação Legislativa


nio e as indenizações pagas à Bolívia, será natura do Tratado de Petrópolis, a porção
aplicado sob a orientação do Governo setentrional do Acre era ocupada por brasi-
Federal”, em proveito daquele Estado. Os leiros que se reportavam, no dia-a-dia, às
parlamentares pretendiam, com isso, pôr autoridades administrativas, fiscais e judi-
um ponto final à questão, ao tempo em que ciárias do Estado do Amazonas. De fato,
patenteavam que aquele contencioso sobre como enfatiza Sílvio Meira (Rui Barbosa:
as fronteiras na região era um subproduto, 1983, v. 37, t. 5, p. XXIII), “os atos oficiais do
um desdobramento direto das decisões to- Governo do Amazonas comprovam que
madas pelo Governo Federal ao assinar o naquele território eram as autoridades des-
Tratado de Petrópolis. se Estado que policiavam, catequizavam,
Em decorrência disso, ao elaborar sua demarcavam, julgavam e administravam”.
nova Constituição, o Estado do Amazonas O Amazonas fazia jus, portanto, a uma in-
— em flagrante afronta ao referido preceito denização para compensar a perda daque-
—, dispôs sobre o assunto nos seguintes ter- las terras.
mos: Desde então, o problema passou a cen-
Art. 2 o Tendo sido o território do Acre trar-se na definição das linhas divisórias
incorporado ao domínio da União, entre os estados do Acre, Rondônia e Ama-
sob protesto do Estado do Amazonas, zonas, mas isso não invalida o argumento
reserva-se este o direito de não reco- de que ainda se pode considerá-lo um des-
nhecer tal desmembramento, enquan- dobramento das decisões federais pós-
to não se der execução ao art. 5o das Tratado de Petrópolis.
Disposições Transitórias da Consti- Deve-se admitir, ademais, que, durante
tuição da República. séculos, a geografia da porção amazônica
Em 18 de outubro de 1936, depois de as- brasileira — com seus rios de planícies que
sinado o convênio cogitado pelo art. 5 o das mudam de leito a cada nova estação das
Disposições Transitórias da Constituição de águas, seus terrenos de pouco relevo que
1934 e com a juntada aos autos do “Com- determinam a ausência de marcos inconfun-
promisso das Partes”, foi fixada a indeni- díveis e a densa floresta que dificulta a visi-
zação em cerca de 350.000 contos de réis, bilidade — conspirou contra a definição de
moeda da época. Acreditava-se definitiva- marcos de fronteiras. Nas últimas décadas,
mente encerrado, assim, o litígio entre a porém, foram imensuráveis os avanços tec-
União e o Estado do Amazonas. nológicos nesse quesito. Assim, hoje se pode
Contudo, segundo Sílvio Meira (Rui definir uma linha limítrofe com precisão
Barbosa: 1983, v. 37, t. 5, p. LXXXII), somente milimétrica, bastando, para isso, sobrevoar
depois de quase duas décadas, o Amazonas a área em avião bem equipado.
entraria com uma petição solicitando
formalmente a indenização pela “desane- 5. O Acre na Federação: Ontem e Hoje
xação do Acre”, nos termos do longuíssimo
processo da Ação Civil n o 9. À frente da cau- A história da fixação do povo acreano
sa amazonense, honrando o trabalho feito na Amazônia brasileira impõe-se na solu-
por Rui Barbosa, estava o ilustre e eminente ção do problema de linhas de fronteiras e
jurista San Tiago Dantas, o que não impe- revitaliza um antigo princípio jurídico, o do
diu o lacônico fim daquele litígio, trans- utis possidetis post facto.
formado em 14 volumes sem solução judi- Há cem anos, o Governo brasileiro reco-
cial. nhecia a impossibilidade do Estado do
A União deixou de ser parte no conten- Amazonas de arcar com a responsabilida-
cioso quando a Constituição de 1934 reco- de de garantir a paz e a efetiva ocupação
nheceu explicitamente que, antes da assi- nas terras recém-incorporadas ao mapa do

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Brasil. Temendo o vigor dos habitantes da Em outubro de 1962, José Augusto de
região e sua avidez por fixar raízes, ele Araújo — natural do município de Cruzei-
resolveu criar uma espécie nova de uni- ro do Sul — seria eleito o primeiro governa-
dade federada — o Território Federal do dor daquele Estado, com 7.184 votos, dei-
Acre —, à revelia da consulta à vontade xando o povo acreano exultante com as pers-
popular. pectivas existentes no cenário político. Es-
De todo modo, em 1920, unificaram-se sas, entretanto, foram frustradas em 1964,
os três departamentos, contrariando as pre- com o apoio inconteste do regime militar,
visões do Barão de Rio Branco, feitas na que acabou por depor aquele jovem idealis-
Exposição de Motivos do Tratado de 8 de ta disposto a contrariar interesses arraiga-
setembro de 1909, quando comentava as dos no antigo fazer político. Por conseguin-
novas fronteiras do Acre: te, o Acre ainda deveria esperar mais de uma
“os nossos territórios do Médio Juruá, década para eleger novamente, pelo voto,
do Médio Purus e do Alto Acre terão, seu governador.
portanto, extensões bastantes para Note-se que, a despeito das medidas já
que introduzidos neles os necessários enunciadas, as discussões sobre os limites
melhoramentos, e suficientemente geográficos do Estado do Acre continuaram
povoados, possam, em futuro próxi- a arrebatar os ânimos dos moradores da-
mo, constituir mais dois ou três Esta- quela parte da região amazônica. Para bus-
dos da União Brasileira”. car uma solução consensual que colocasse
Por conseguinte, centralizou-se a admi- fim às divergências quanto às linhas limí-
nistração nas mãos de um governador. Esse, trofes da citada unidade federativa, repre-
ainda nomeado segundo critérios federais, sentantes dos Estados do Acre, do Amazo-
privava os bravos habitantes da região de nas e de Rondônia reuniram-se na Delega-
qualquer possibilidade de participação po- cia do Instituto Brasileiro de Geografia e
lítica, comprometendo os seus anseios de Estatística (IBGE), em Manaus, no dia 16 de
desenvolvimento econômico. Os destinos do outubro de 1984.
Acre estavam, então, sob a tutela de gover- Em 19 de fevereiro de 1986, as partes
nantes nomeados pelo Presidente da Repú- referidas firmaram o Convênio no 26/86,
blica, à sua conveniência. Essas pessoas conforme consta do Processo no 7.346/
eram escolhidas entre militares, magistra- 82/IBGE. Esse documento criava uma
dos e políticos, sem forte vínculo ou conhe- comissão tripartite, integrada pelos esta-
cimento necessário de uma realidade tão dos supramencionados, com o fito de fi-
particular. xar os limites territoriais entre si. Cabia
Satisfeito o interesse do Amazonas — ao IBGE — que, à época, funcionava
pelo menos parcialmente — em fins da dé- apenas como um órgão técnico — a exe-
cada de 50, com o pagamento do valor arbi- cução dos trabalhos geodésicos e carto-
trado a título de indenização, o Presidente gráficos.
João Goulart sancionou a Lei n o 4.070, de 15 Persistia, porém, o conflito entre os esta-
de junho de 1962, que elevou o Território do dos do Amazonas e do Acre, pois o primei-
Acre à categoria de Estado. O projeto que ro alegava que o traçado da linha divisória
deu origem a esse diploma legal era de au- deveria adotar como marcos a Foz do Igara-
toria do Deputado José Guiomard dos pé Remanso e do Estirão Eliezer, o que im-
Santos, figura proeminente do vitorioso mo- plicaria manter quase inalterada a linha
vimento autonomista. Essa campanha, que Beni-Javari (também denominada de poli-
tinha por bordão “O Acre para os acreanos”, gonal Cunha Gomes) e faria com que im-
materializava o sonho de Plácido de Castro portantes cidades acreanas ficassem em ter-
e de seus comandados. ritório amazonense.

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Marco Latitude Sul Longitude Oeste de Greenwich
91.004 – Cruzeiro do Sul 07º33’05,886’’ 72º35’03,100’’
91.005 – Feijó 07º50’41,193’’ 70º03’15,902’’
91.006 – BR-137 09º35’31,191’’ 67º19’30,950’’
91.007 – Sena Madureira 09º02’56,535’’ 68º38’47,861’’
91.008 – Caquetá 09º33’37,883’’ 67º30’58,785’’
Fonte: Ofício no 541/PR/IBGE, de 25 de novembro de 1999.
Encerrados os trabalhos da comissão tri- terial com os Estados do Amazonas e de
partite, foi rejeitada a proposta amazonen- Rondônia, tomando por base limites natu-
se que fixava os marcos no rio Envira (Cru- rais, como o rio Madeira, o Igarapé dos
zeiro do Sul), perto da Vila Jurapari (Feijó). Ferreira e a Serra do Divisor. Buscava, pois,
Tampouco foi aceita a sugestão do IBGE, que explicitar a sua interpretação quanto à “von-
se limitou a apresentar os seguintes marcos tade constitucional”.
geodésicos divisores dos dois estados ama- Essa pretensão foi rechaçada pelo pare-
zônicos: cer da Procuradoria-Geral da República no
Convém recordar que o IBGE, dada a processo, que chega à seguinte conclusão:
natureza de suas atribuições, não era órgão 51. Em suma, se, diante de tudo o que se
competente para dirimir os conflitos entre afirmou, a pretensão do Estado do Acre em
as Partes, nem para impor uma solução obri- relação ao Estado do Amazonas não parece
gatória. justificável, tampouco merece acolhimento
Sua sugestão, entretanto, recebeu o en- a pretensão deste último quanto à simples
dosso dos parlamentares que participaram adoção da “linha Cunha Gomes” original.
da elaboração da Constituição de 1988, que O constituinte, se não pretendeu chancelar
traz — no Ato das Disposições Constitucio- as pretensões expansionistas do Estado do
nais Transitórias (ADCT) — o seguinte dis- Acre, do mesmo modo não parece ter pre-
positivo: tendido estabelecer que várias das cidades
Art. 12.............................................................. tradicionalmente consideradas acreanas
§ 5 o Ficam reconhecidos e homologa- passassem a integrar o território do Amazo-
dos os atuais limites do Estado do nas [...].
Acre com os Estados do Amazonas e Tal parecer obteve o endosso do Minis-
de Rondônia, conforme levantamen- tro Néri da Silveira, relator da matéria no
tos cartográficos e geodésicos realiza- Supremo, firmando-se o entendimento de
dos pela Comissão Tripartite integra- que os limites do Acre e do Amazonas de-
da por representantes dos Estados e vem ser aqueles apontados nos relatórios e
dos serviços técnico-especializados nas notas dos serviços técnico-especializa-
do Instituto Brasileiro de Geografia e dos do IBGE, com base em levantamentos
Estatística. cartográficos e geodésicos, e consubstanci-
Além desse desdobramento, o acordo fir- ados no relatório final da Comissão Tripar-
mado em Petrópolis no início do século XX tite. Isso porque foram esses os limites reco-
daria também ensejo à propositura de uma nhecidos e homologados pelo § 5 o do art. 12
ação judicial em 1990. O Acre — com o ar- do ADCT da Constituição de 1988, obser-
gumento de que as fronteiras tinham sido vando-se a necessidade de emprestar à li-
estabelecidas de direito, mas não de fato, nha geodésica do limite madeira-javari,
uma vez que não figuravam nem nos ma- quando locada no terreno, traçado que ga-
pas nem no solo — moveu a Ação Cível Ori- ranta a jurisdição acreana sobre cidades tra-
ginária (ACO) n o 415, de cunho demarcató- dicionalmente sob sua jurisdição, como
rio, perante o Supremo Tribunal Federal. Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Feijó, Sena
Pretendia, assim, ver fixada sua divisa ma- Madureira e Manuel Urbano.

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O IBGE executou os trabalhos técnicos tância do pacto federativo brasileiro, ainda
indispensáveis à execução do julgado, mas em curso.
o Amazonas — inconformado com os pon- A renitente omissão das autoridades fe-
tos limítrofes definidos pelo órgão técnico derais faz com que hoje a solução para a
(91.004 para Cruzeiro do Sul e 91.005 para demarcação da divisa entre o Acre e o Ama-
Feijó), por atingirem parcialmente a cidade zonas tenha que se pautar, prioritariamen-
de Guajará, um de seus municípios — deci- te, pelo interesse do cidadão que habita as
diu propor, junto ao STF, a Reclamação áreas limítrofes. A pretensão do Estado do
Constitucional no 1421, em fevereiro de Acre relativamente ao Amazonas não pare-
2000, contra o Presidente do IBGE. Alegou ce justificável, mas tampouco merece aco-
que este não dera cumprimento ao julgado lhimento a pretensão deste quanto à sim-
da ACO n o 415, segundo o qual, no seu en- ples adoção da linha “Cunha Gomes” ori-
tender, deveriam ser adotados os marcos di- ginal. Afinal, isso importaria na absurda
visórios de Estirão do Eliezer e Remanso, situação de submeter ao domínio amazo-
como sempre havia apregoado. nense — por força do disposto em algum
A Reclamação Constitucional em apre- documento de páginas amareladas —
ço foi distribuída ao Ministro Gilmar Ferreira várias cidades que há décadas se reconhe-
Mendes, em 21 de junho de 2002, e ainda cem acreanas.
carece ser apreciada por aquela egrégia Cor- Vale lembrar que, ao longo da Constitui-
te. Entretanto, a Procuradoria-Geral da Re- ção de 1988, é explícita a preocupação em
pública, à época representada pelo jurista garantir amplos direitos sociais a todo ci-
Geraldo Brindeiro, já se manifestou no sen- dadão brasileiro, e um deles, sem dúvida, é
tido da improcedência do pedido. o respeito à cultura do indivíduo, ao senti-
Apesar do caráter não-vinculante dos mento que o une à terra natal. Ora, o cida-
pareceres que instruem a ação, tudo leva a dão tem o direito de conhecer o nome corre-
crer que os argumentos arrolados até o mo- to da municipalidade onde mora, vive, es-
mento pelos magistrados que se pronuncia- tuda, trabalha e, talvez, morrerá. Ademais,
ram nos autos venham a sustentar, em al- o estabelecimento de divisas afeta direta-
guma medida, a decisão final, conduzindo mente o patrimônio, as heranças, as ques-
ao fiel cumprimento do disposto no § 5 o do tões trabalhistas, entre outras, e define a ju-
art. 12 do ADCT. risdição competente. Trata-se, portanto, de
um problema de fundo, não de forma.
6. Conclusão As autoridades federais parecem menos-
prezar a instabilidade social que a falta da
O Estado do Acre, até bem pouco tempo, demarcação de divisas produz, sobretudo
vivia a sina de Estado periférico. Sua para as pessoas diretamente envolvidas.
maturidade política foi conquistada sob a AfinaI, quando o Estado do Amazonas, por
égide da hipertrofia da Federação e do po- exemplo, recorre à Justiça contra a publica-
der discricionário dos estados do Sul e Su- ção do mapa do Brasil — alegando que a
deste. simples notícia do seu lançamento “já ge-
Entretanto, a Amazônia brasileira goza, rou conflitos quanto às propriedades imo-
hoje, do status de patrimônio nacional, e con- biliárias e desapropriações na jurisdição de
flitos de interesse na região não podem ser Guajará, [...] não sendo menor a apreensão
tratados como questões menores. O interes- do Poder Público de cada Município, eis que
se internacional pelas reservas hidromine- a estes cabe garantir a paz social” — com-
rais e extrativistas e pela enorme biodiversi- promete, em certa medida, o conteúdo das
dade ali existente vem engendrando a revi- aulas de Geografia ministrado a todos os
são conceitual sobre o grau, a forma e a subs- alunos brasileiros.

146 Revista de Informação Legislativa


O Tratado de Petrópolis completou cem direitos sobre os territórios do Acre, Purus e Iaco,
anos com pompas e honrarias, prestígio a por via diplomática ou, no caso de guerra com o
Brasil, forneceriam armas e financiamento, receben-
que decerto também fará jus, em 2009, o Tra- do em hipoteca as rendas das alfândegas bolivia-
tado firmado com o Peru. Ambos são refe- nas. Também exigiriam que o Brasil nomeasse uma
rência para a política externa brasileira, comissão, para demarcar, juntamente com a Bolí-
nascida sob o signo da cordialidade e da via, as fronteiras definitivas entre o Purus e o Java-
busca pelo estreitamento dos laços de ami- ri, e concedesse livre trânsito pelas alfândegas de
Belém e Manaus às mercadorias bolivianas. A Bolí-
zade com as demais nações da comunidade via, por sua vez, concederia abatimento de cinqüenta
mundial. O Brasil é um país reconhecida- por cento sobre os direitos de importação a todas
mente afeito à negociação e ao entendimen- as mercadorias americanas e 25% sobre a borracha
to na defesa de seus interesses. destinada aos portos dos EUA, pelo prazo de dez
O Acre e o Amazonas perdem com a in- anos. Caso tivesse que apelar para a guerra com o
Brasil, a Bolívia denunciaria o tratado de 1867, e a
definição sobre suas divisas. Ela prejudica linha de fronteira passaria a correr pela boca do
a boa convivência na região e pode vir a com- Acre, ficando com os EUA, em livre posse, o terri-
prometer futuras parcerias, tão importantes tório restante (cf. Tocantins e Meira, apud Bandeira:
para o fortalecimento do empresariado local. 2000, p. 151).
O que foi estabelecido e votado, demo-
3
Nas palavras de Tocantins (2001, v. 1, p. 37),
“Luiz Galvez exerceu, assim, papel de certo relevo
craticamente, pelos Constituintes, entre eles naqueles sucessos: o de haver plantado a semente
amazonenses e acreanos, deve pôr fim à lon- de organização autônoma, o de preparar psicologi-
ga disputa por demarcação de terras. Dar camente as populações do Acre para a resistência
cumprimento ao § 5o do art. 12 do ADCT, libertadora. Parece-me justa a opinião de Soares
aquiescer aos relatórios e notas dos servi- Bulcão, contemporâneo, dos fatos, quando em ar-
tigo no jornal Alto Purus, de Sena Madureira, disse
ços técnico-especializados do IBGE, funda- que o levante de 1o de maio de 1899, nascido no
mentados em cuidadosos levantamentos Baixo Acre, marcou o primeiro passo para a jorna-
cartográficos e geodésicos, aplacará a angús- da de reivindicação, era o Acre uno e indivisível que
tia de milhares de brasileiros e poderá fazer se insurgia; Galvez vivificou-lhe as aspirações, Plá-
com que esse desfecho passe às páginas de cido concretizou-as.”
4
Segundo Bandeira (2000, p. 165), a Grã-
nossa história como uma demonstração da Bretanha mantinha no continente africano a Natio-
sensibilidade e do espírito público das auto- nal Africa Company, a British Africa Company, a
ridades estaduais da Amazônia brasileira. British South Africa Chartered Company e a North
Se não for essa a solução consensual, urge Africa Company, todas dotadas de direitos admi-
nistrativos, funcionando como se estados sobera-
que os dirigentes dessas unidades federati-
nos fossem.
vas debrucem-se sobre a matéria, atualizem 5
Trata-se de Sir Nathan Meyer Rothschild
a discussão e encontrem uma saída condi- (1840-1915), membro do Parlamento Inglês, pri-
zente com o propósito de vir a fazer da re- meiro Barão de Rothschild, bisneto de Mayer Ams-
gião a grande dinamizadora da economia chel Rothschild, o grande fundador da dinastia de
banqueiros alemães judeus. A família Rothschild
nacional. exerceu durante mais de um século e meio podero-
sa influência sobre a economia da Europa e, de
forma indireta, sobre a evolução política do conti-
Notas nente. Favorecidos pelas monarquias européias a
que haviam auxiliado na luta contra Napoleão e
1
Olinto Máximo de Magalhães, sucessor de apoiados na estrutura econômica que lhes propor-
Dionísio Cerqueira no cargo de Ministério das Rela- cionava sua rede internacional de casas, a família
ções Exteriores (1899-1902), no governo de Campos Rothschild teve participação ativa na revolução in-
Sales, atuou na pasta até o final do governo, quan- dustrial e monopolizou a oferta de empréstimos
do foi substituído pelo Barão do Rio Branco. internacionais, sempre feitos em libras esterlinas
2
Segundo o texto integral do acordo, que apa- como escudo às variações cambiais, sobretudo, a
receu na edição de 4 de junho na Província do Pará e países da América do Sul. Após a morte do Barão,
cinco dias depois no Jornal do Commercio, de Ma- seus filhos Lionel de Rothschild (1882-1942) e
naus, os EUA auxiliariam a Bolívia a defender seus Anthony Gustav de Rothschild (1887-1961) conti-

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nuaram à frente dos negócios. A sucursal de Lon- creto Legislativo no 1.181, de 25 de fevereiro de 1904,
dres é, até hoje, uma das mais importantes institui- e no que, em execução deste, expediu, sob no 5.188,
ções financeiras da Europa. a 7 de abril do mesmo ano”. (...) Se a União, argu-
6
A volumosa correspondência de Eduardo Lis- mentava, “poderia alegar direito sobre a parte sul
boa, no Arquivo Histórico do Itamaraty, não só do do território, que adquirira, não poderia fazer o
caso do Bolivian Syndicate, mas também relativa à mesmo quanto à parte setentrional, ‘visto se tratar
fase das negociações do modus vivendi e do Tratado de terras que sempre foram brasileiras, [e] a respei-
de 1903, atesta-lhe o alto espírito público (cf. To- to das quais aquele tratado serviu apenas para a
cantins: 2001, v. 1, p. 41). anuência formal da Bolívia ao nosso antigo direi-
7
Por meio de diferentes ações militares, as tro- to’.” (cf. Ernesto Leme no prefácio ao volume 37,
pas espanholas ocuparam a Colônia do Sacramen- tomo VI, das Obras Completas de Rui Barbosa
to, parte do litoral do Rio Grande do Sul, e a ilha de (1984, p. XXV).
Santa Catarina. Portugal viu-se forçado a negociar
um novo tratado de limites, que foi assinado em
Santo Ildefonso em 1777. Esse documento retoma-
va os limites territoriais fixados em Madri, com Referências
exceção do extremo sul da América do Sul, onde o
arroio Chuí passou a servir de limite entre as pos- 1. ALMEIDA, Paulo Roberto de. Formação da diplo-
sessões ibéricas, ao mesmo tempo em que os Sete macia econômica no Brasil: as relações econômicas
Povos das Missões e a Colônia do Sacramento pas- internacionais no Império. São Paulo: Senac, 2001.
saram para o domínio espanhol. Antes que esses
2. AZEVEDO, Ricardo de. Acre: um estado ímpar.
limites fossem demarcados, porém, o Tratado de
Disponível em: http://www.fpabramo.org.br/td/
Santo Ildefonso perdeu a validade. Em 28 de janei-
nova_td/td47ltd47_reportagem.htm. Acesso em: 20
ro de 1801, sob a influência da ação napoleônica, a ago. 2003.
Espanha declarou guerra contra Portugal, seu rei-
no e seus domínios, e enviou instruções aos Vice- 3. BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O Barão de
Réis espanhóis na América do Sul para que atacas- Rothschild e a questão do Acre. In: Revista Brasileira
sem o Brasil. Tropas hispano-americanas, proveni- de Política Internacional, v. 43, n. 2, p.150-169, 2000.
entes do Paraguai, invadiram o Mato Grosso, en-
4. BARBOSA, Rui. O direito do Amazonas ao Acre
quanto as luso-brasileiras revidaram invadindo a setentrional. In: Obras completas. Rio de Janeiro:
Banda Oriental e os Sete Povos das Missões. O Tra- Ministério da Educação e Cultura; Fundação Casa
tado de Badajós, firmado em 6 de junho daquele de Rui Barbosa, 1983, v. 37, t. 5.
ano, pôs fim ao clima de animosidade (a região dos
Sete Povos passou definitivamente a fazer parte do 5. _____. _____. Rio de Janeiro : Ministério da Edu-
império português na América), mas não revali- cação e Cultura; Fundação Casa de Rui Barbosa,
dou o disposto em 1777 nem restaurou o status quo 1984, v. 37, t. 6.
ante bellum. 6. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Reclamação
8
Segundo Hélio Silva, apud Santos (1980, pp. Constitucional no 1421, Reclamante: Estado do
290-91), “de 1900 a 1910, por exemplo, a composi- Amazonas; Reclamado: Presidente da Fundação
ção da exportação desviou-se fortemente para a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rela-
borracha, cujos preços estiveram então em alta no tor: Ministro Néri da Silveira. 2000.
mercado mundial e cuja participação na exporta-
ção brasileira oscilou entre 20% (1900) e 39% (1910) 7. CALIXTO, Valdir de Oliveira. Plácido de Castro e
do valor total” e “os efeitos desfavoráveis da que- a construção da ordem no Aquiri: contribuição à histó-
da do preço do café sobre a relação de intercâmbio ria das idéias políticas. Rio Branco: FEM, 2003.
foram atenuados pela redução da importância re- 8. CASSIANO, Ricardo. O Tratado de Petrópolis. Rio
lativa do café e a maior participação da borracha de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1954,
na exportação”. v. I e II.
9
Nesse documento, Rui assim circunscreve a
área do conflito: “mover contra a União a ação or- 9. CASTRO, Genesco de. O Estado Independente do
dinária, a que o peticionário tem direito, com o fim Acre e J. Plácido de Castro: excerptos históricos.
de reivindicar o triângulo territorial abrangido entre Brasília: Senado Federal, 2002.
o paralelo 10º20’ de latitude sul, a oblíqua tirada
10. O Tratado de Petrópolis. Disponível em: htpp:/
entre a confluência do Beni com o Madeira nesse
/assisbrasil.org/tratado.html. Acesso em: 21 ago. 2003.
paralelo e as cabeceiras do Javari e o meridiano que
deste ponto baixe sobre o dito paralelo; região essa, 11. POLETTI, R. A Constituição de 1934. Brasília:
de que, violando a posse e senhorio do suplicante, Centro de Ensino à Distância, 1987 (Coleção Curso
se apoderou o Governo Federal, estribado no De- “Constituições do Brasil”).

148 Revista de Informação Legislativa


12. REVISTA DO PRIMEIRO CENTENÁRIO 15. TEXTOS & DOCUMENTOS. Tratado entre o
DO ESTADO INDEPENDENTE DO ACRE. Brasil e a Bolívia: Petrópolis, 17 de novembro de
Galvez e a República do Acre. Rio Branco: Acre, 1903, v. 3, n. 12, p. 39-43, dez. 1981.
maio/2002. 16. TOCANTINS, Leandro. A formação histórica do
13. SANTOS, Roberto A.O. História econômica da Acre. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979, v.
Amazônia: 1800-1920. São Paulo: T. A. Queiroz, I e II.
1980. 17. _____. _____. 4. ed. Brasília: Senado Federal,
14. SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. O 2001, v. I e II.
Tratado de Petrópolis de 1903. In: Jornal do Brasil, 18. VIANA FILHO, Luiz. A vida do Barão de Rio
Rio de Janeiro, v. 102, n. 292, 25/01/1993, p. 11. Branco. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.

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