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A Verdade Sobre o Mundo1
A Verdade Sobre o Mundo1
ANTIGA E A FORMAÇÃO DO
PENSAMENTO OCIDENTAL
RESUMO
Este trabalho busca contribuir para o entendimento da História da Filosofia Antiga e sua
influência na formação do pensamento ocidental. De acordo com vários autores, a filosofia é a
busca pelo conhecimento último e primordial, tido como a sabedoria total. Embora de um
modo ou de outro o homem sempre tenha exercido seus dons filosóficos, a Filosofia
Ocidental, como um campo de conhecimento coeso e estabelecido, surge na Grécia Antiga,
com a figura de Tales de Mileto. Este foi o primeiro a buscar uma explicação para os
fenômenos da natureza, usando a razão, e não os mitos, inaugurando, assim, a investigação do
princípio originário da totalidade do universo. Assim, a Filosofia Antiga vem contribuindo
para a formação do pensamento ocidental há mais de 2.500 anos, tendo sido a origem de todas
as ciências (Psicologia, Antropologia, História, Física, Química, Biologia, Astronomia, etc.).
Entretanto, estas se ocupam de objetos de estudo específicos, e a Filosofia Antiga se ocupa do
“todo”, da totalidade dos mundos (físico e metafísico). Dessa forma, o presente trabalho
buscou identificar, examinar e analisar material bibliográfico significativo, que pudesse nos
orientar no conhecimento histórico da Filosofia Antiga e de como se deu a construção e
formação do pensamento ocidental.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é apresentar um entendimento da História da Filosofia
Antiga e sua influência na formação do pensamento ocidental, considerando que a
compreensão da filosofia só é possível a partir de sua própria história, pois afinal: “as origens
de pensamento filosófico grego têm sido consideradas, geralmente, dentro do quadro
tradicional da ‘história da filosofia’” (JAEGER, 2003, p. 190).
É fundamental entendermos a herança recebida de forma gradual, apesar de que nos
últimos tempos, esta conexão histórica teve uma tendência a passar para segundo plano,
devido ao desejo de se compreender cada um dos pensadores gregos como filósofos originais,
podendo assim destacar melhor o relevo de sua verdadeira importância (JAEGER, 2003).
Segundo Chauí (2006), pelo fato de a filosofia estar na história e ter uma história, ela
se apresenta classificada em grandes períodos em que os historiadores dividem a História da
Sociedade Ocidental. Portanto, considera-se que a filosofia seja dividida em: Antiga (século
VI a.C. ao VI d.C.); Patrística (século I ao VIII d.C.); Medieval (século VIII ao XIV d.C.); da
Renascença (século XIV ao XVI d.C.); Moderna (século XVII ao XVIII d.C.); do Iluminismo
(século XVIII ao XIX d.C.) e Contemporânea (século XIX d.C. até os dias atuais).
Sendo praticamente o ponto de partida de todo o conhecimento humano organizado, a
filosofia estudou tudo o que pôde, estimulando e produzindo os mais vastos campos do saber
nas diferentes ciências. Porém, ela não é empírica, ou seja, não faz experiências, já que a
razão e a intuição são suas principais ferramentas. Além disso, ela tem como fundamento a
contemplação, o deslumbramento pela realidade, a vontade de conhecer; e, como método
primordial, o rigorismo no raciocínio, para atingir a estruturação do pensamento e a
organização do saber.
De fato, na busca de respostas para os problemas, enigmas e conflitos que, à sua
época, o atormentam, o homem pensa o seu tempo, dentro do contexto cultural em que vive, e
cria sua própria atmosfera existencial. Mas não esqueçamos que o ser humano é histórico, que
recebe um legado cultural do mais alto valor e significado, construído pelas gerações passadas
e que, consciente ou inconscientemente, pesará de forma significativa sobre o seu modo de
pensar e agir, influindo no seu destino e na sua maneira de se relacionar com seus semelhantes
(SANTOS, 2001).
Assim, nada escapa à investigação filosófica. E a amplitude de seu objeto de estudo é
tão vasta, que foge à compreensão de muitas pessoas, as quais chegam a pensar ser a filosofia
uma atividade inútil. Além disso, seu significado também é muito distorcido no conhecimento
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popular, que muitas vezes a reduz a qualquer conjunto simplório de idéias específicas, as
“filosofias de vida”, ou basicamente a um exercício poético (ARANHA; MARTINS, 1993).
A confusão com relação ao conceito e a desinformação geral, esta que permeia mesmo
o meio acadêmico, chegam ao ponto de permitir o surgimento de propostas utópicas no
sentido de se eliminar a filosofia. Entretanto, ciência alguma pode se ocupar da realidade
como um todo. O Empirismo não pode ser aplicado à civilização humana, à mente, ao total.
Quem estabelece a comunicação entre todos os segmentos do conhecimento continua a ser a
filosofia (ARANHA; MARTINS, 1993). Dessa forma, continuamos gerando novos segmentos
de investigação por meio desta, ao mesmo tempo em que a tendência à interdisciplinaridade
exige uma visão cada vez mais holística para se abordarem os desafios no Terceiro Milênio.
Tendo em vista tantos desafios, acreditamos que a maneira mais simples de se estudar
filosofia seja através de sua história; essa equivale à história da própria razão, que, ao longo
do tempo, traduz-se numa tentativa inédita de tomar consciência de si mesma e do universo,
buscando entender o real na sua totalidade (SANTOS, 2001). Podemos, então, afirmar que a
filosofia antiga legou ao pensamento ocidental o patrimônio espiritual, filosófico, científico e
moral de que aquele ainda hoje se alimenta e sobrevive. Desta forma, faz-se fundamental o
levantamento e o entendimento da história da filosofia antiga, para que possamos
compreender sua influência na formação do pensamento ocidental.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. DEFINIÇÃO E NASCIMENTO DA FILOSOFIA
A tradição atribui ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V a.C.) a
criação da palavra “filosofia”, que resulta da união de outras duas palavras: “philia”, que
significa “amizade”, “amor fraterno” e respeito entre os iguais, e “sophia”, que significa
“sabedoria”, “conhecimento”. De “sophia” decorre a palavra “sophos”, que significa “sábio”,
“instruído”. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.
Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, porém
os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. Assim, a filosofia indica um
estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, que deseja o conhecimento, que o estima,
procura-o e respeita-o (CHAUI, 2006). Logo, o filósofo é aquele que quer dar respostas
precisas a certas perguntas, e, se considerarmos que a filosofia quer dar uma explicação aos
problemas do universo (de onde vem o mundo? quem somos? para onde vamos? etc.), vê-se,
que o filósofo se ocupa de muitas coisas; ao contrário do que dizem, trabalha muito
(POLITZER, 1979).
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Diremos, portanto, para definir a filosofia, que ela quer explicar o universo, a natureza,
o homem, que é o estudo dos problemas mais gerais. Os menos gerais são estudados pelas
ciências. Estas são uma particularização da filosofia, que é uma área de estudos que envolve
investigação, análise, discussão, formação e reflexão de ideias (ou visões de mundo) em uma
situação geral, abstrata ou fundamental. Originou-se da inquietação gerada pela curiosidade
humana em compreender e questionar os valores e as interpretações comumente aceitas sobre
a sua própria realidade.
Houve um longo processo para que a capacidade reflexiva do homem chegasse ao
ponto de ser chamada de filosofia. E isso só aconteceu na Grécia, por volta do final do século
VII e início do século VI a.C., nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que
formavam uma região denominada Jônia), com Tales na cidade de Mileto, daí o primeiro
filósofo ser conhecido como Tales de Mileto. O pensar, antes desse período, ainda era envolto
em mitos e religiosidade, o que dificultava a racionalidade específica da filosofia (SANTOS,
2001).
Além de possuir data e local de nascimento e de possuir seu primeiro autor, a filosofia
também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. Esta palavra é composta de
duas outras: “cosmos”, que significa mundo ordenado e organizado, e “logia”, que vem da
palavra “logos”, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. Assim, a
filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da natureza, daí,
cosmologia (CHAUI, 2006).
O ponto de partida dos pensadores naturalistas gregos do século VI a.C., era o
problema da origem, a physis. No conceito grego de physis consideram-se duas abordagens: a
primeira seria o problema da origem da mesma, que obriga o pensamento a ultrapassar os
limites da experiência sensorial e a segunda, seria a compreensão, por meio da investigação
empírica do que deriva daquela origem e continua a existir (JAEGER, 2003).
A filosofia, então, surge quando alguns gregos, insatisfeitos com as explicações que a
tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas. Demonstravam,
assim, que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos naturais e as coisas da natureza,
os acontecimentos humanos e as ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão
humana e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.
Com a filosofia, os gregos instituíram para o ocidente europeu as bases e os princípios
fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte.
Aliás, basta observarmos que são gregas as palavras como: lógica, técnica, ética, política,
monarquia, anarquia, democracia, física, diálogo, entre muitas outras, para percebermos a
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• A invenção da moeda, que permitiu uma troca feita pelo cálculo do valor
semelhante das mercadorias diferentes, revelando uma nova capacidade de
abstração e de generalização;
2. Grécia arcaica: do século VII ao século V a.C., quando os gregos criam cidades
como Atenas, Esparta, Tebas, Mileto, Samos, etc., onde predomina a economia
urbana, baseada no artesanato e no comércio;
3. Grécia clássica: nos séculos V e IV a.C., quando a democracia se desenvolve, a
vida intelectual e artística entra no apogeu e Atenas domina a Grécia, com seu
império comercial e militar;
4. Grécia helenística: a partir do final do século IV a.C., quando a Grécia passa para o
poderio do império de Alexandre da Macedônia e, depois, para as mãos do Império
Romano, terminando a história de sua existência independente.
Os períodos da filosofia não correspondem exatamente a essas épocas, já que ela não
existia na Grécia homérica e só aparece nos meados da Grécia arcaica. Entretanto, o apogeu
da filosofia acontece durante o auge da cultura e da sociedade gregas; portanto, durante a
Grécia clássica. Os quatro grandes períodos da filosofia grega, nos quais seu conteúdo muda e
se enriquece, são:
1. Período pré-socrático ou cosmológico: do final do século VII ao final do século V
a.C., quando a filosofia se ocupa fundamentalmente da origem do mundo e das
causas das transformações na natureza; a busca do princípio único originário de
todas as coisas;
2. Período socrático ou antropológico: do final do século V e todo o século IV a.C.,
quando a filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e as
técnicas;
3. Período pós-socrático ou sistemático: do final do século IV ao final do século III
a.C., quando a filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a
cosmologia e a antropologia, interessando-se, sobretudo, por mostrar que tudo pode
ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas
demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da
verdade e da ciência;
4. Período helenístico ou greco-romano: do final do século III a.C. até o século VI
d.C.. Nesse longo período, que engloba o Império Romano e o pensamento dos
primeiros Padres da Igreja, a filosofia se ocupa, sobretudo, das questões da ética, do
conhecimento humano e das relações entre o homem e a natureza e de ambos com
Deus (GHIRALDELLI, 2008).
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• A crença de que todos os seres, além de serem gerados e de serem mortais, são
seres em contínua transformação, mudando de qualidade e de quantidade. Portanto
o mundo está em mudança contínua, sem por isso perder sua forma, sua ordem e
sua estabilidade.
Cada um dos pensadores, neste período, deu sua contribuição para o desenvolvimento
humano. Hoje seus pensamentos podem nos parecer ultrapassados ou simplórios, entretanto,
não importa como os vejamos, o fato é que muito do que temos devemos a eles. Seu mérito é,
em tempos remotíssimos, ter dado o ‘pontapé’ inicial.
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Devemos observar que estavam excluídos da cidadania aqueles a quem os gregos chamavam dependentes:
mulheres, escravos, crianças e velhos. Também estavam excluídos os estrangeiros – os metecos.
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que são os primeiros filósofos do período socrático. Os sofistas mais importantes foram:
Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Isócrates de Atenas (CHAUI, 2006).
Os sofistas diziam que os ensinamentos dos filósofos pré-socráticos estavam repletos
de falhas e contradições e que não chegavam a conclusões que oferecessem utilidade para a
vida da polis. Assim, aqueles se apresentavam como mestres de oratória ou de retórica,
afirmando ser possível ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos, cobrando
pelos seus ensinamentos. Sendo assim, os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os
jovens, que aprendiam a defender posições e opiniões contrárias, de modo que, numa
assembléia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a
discussão.
O filósofo Sócrates, considerado o patrono da filosofia, rebelou-se contra os sofistas,
dizendo que não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela
verdade, defendendo qualquer idéia, se isso fosse vantajoso. Corrompiam o espírito dos
jovens, pois faziam o erro e a mentira valer tanto quanto a verdade (DORION, 2006).
Porém, como homem de seu tempo, Sócrates concordava com os sofistas em um
ponto: por um lado, a educação antiga do guerreiro belo e bom já não atendia às exigências da
sociedade grega; por outro lado, os filósofos cosmologistas defendiam idéias tão contrárias
entre si que também não era uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro2 (CHAUI,
2006).
Por discordar dos antigos poetas, dos antigos filósofos e dos sofistas, Sócrates
propunha que, antes de querer conhecer a natureza e antes de querer persuadir os outros, cada
um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo. A expressão “conhece-te a ti
mesmo” que estava gravada no pórtico do templo de Apolo, patrono grego da sabedoria,
tornou-se o marco de Sócrates (DORION, 2006). Logo, por fazer do autoconhecimento ou do
conhecimento que os homens têm de si mesmos a condição de todos os outros conhecimentos
verdadeiros, é que se diz que o período socrático é antropológico, isto é, voltado para o
conhecimento do homem, particularmente de seu espírito e de sua capacidade para conhecer a
verdade.
Sócrates provocou uma ruptura sem precendentes na história da filosofia grega. Por
isso, ela passou a considerar os filósofos entre pré-socráticos e pós-socráticos. O filósofo
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Historicamente, há dificuldade para se conhecer o pensamento dos grandes sofistas, porque não possuímos seus
textos. Restaram fragmentos apenas. Por isso, nós os conhecemos pelo que deles disseram seus adversários -
Platão, Xenofonte, Aristóteles - e não temos como saber se estes foram justos com aqueles. Os historiadores
mais recentes consideram os sofistas verdadeiros representantes do espírito democrático, isto é, da pluralidade
conflituosa de opiniões e interesses, enquanto seus adversários seriam partidários de uma política aristocrática,
na qual somente algumas opiniões e interesses teriam o direito de valer para o restante da sociedade.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a trajetória de evolução da espécie humana, é marcante a presença de pessoas
que se dedicaram a refletir sobre as questões relativas ao ser humano e sobre a relação deste
consigo próprio, com os outros e com o mundo. Destas reflexões, surgiram correntes de
pensamento que resultaram em contribuições importantes, algumas delas com efetiva
influência no pensamento da humanidade como um todo. Talvez a tentativa de esclarecer
exatamente o que significa e como é “possuir uma mente” esteja no centro de toda a tradição
filosófica ocidental. Nenhuma outra cultura deixou marcas ainda tão presentes no pensamento
ocidental quanto a civilização antiga grega. De fato, é seguro afirmar que a origem de todo o
pensamento ocidental encontra-se no pensamento antigo grego.
A filosofia e a ciência, tal como as conhecemos, são invenções gregas. Desde o
surgimento da filosofia na Grécia e até mesmo antes, os homens não cessaram de se indagar
sobre a singularidade e a origem do pensamento humano. Curiosos acerca da estrutura da
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ARANHA, Maria Lúcia de A.; MARTINS, Maria Helena P. Filosofando – Introdução à
Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2006.
DORION, Louis-André. Compreender Sócrates. Tradução de Lúcia M. E. Orth.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
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