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DIREITO PENAL

Professor: Alessandro Melo


AULA 05

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS – Parte 2

5. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS EM ESPÉCIE

5.1 - Prestação pecuniária e Prestação inominada

• Nesta forma de pena restritiva, o juiz determina que o condenado efetue pagamento
em dinheiro à vítima, aos seus dependentes, ou à entidade pública ou privada com
destinação social, em montante não inferior a 1 salário mínimo e nem superior a
360 salários mínimos (art. 45, § 1º, do CP).

• Há uma ordem de preferência na lei, de modo que os valores só serão destinados aos
dependentes se não puderem ser entregues à vítima (falecida, por exemplo). Por sua
vez, só poderão ser destinados a entidades públicas ou privadas na ausência da vítima
e dos dependentes. De acordo com o texto legal, aliás, apenas as entidades privadas
que tenham destinação social é que podem ser beneficiárias da prestação pecuniária.

• Quando a prestação for paga à vítima ou aos seus dependentes, o valor pago
será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil,
se coincidentes os beneficiários (art. 45, § 1º).

• A prestação pecuniária não se confunde com a pena de multa. Os beneficiários são


diversos, pois os valores referentes à pena de multa são destinados ao Fundo
Penitenciário. Seu montante também não é descontado de futura indenização à vítima
ou aos seus dependentes. Por fim, a multa (originária ou substitutiva) não é considerada
pena restritiva de direitos.

• Se o condenado solvente deixa de efetuar o pagamento da prestação pecuniária, o juiz


deve revogá-la, executando a pena privativa de liberdade originariamente imposta. Ao
contrário do que ocorre com a pena de multa, não existe vedação neste sentido.

• Em princípio, a prestação pecuniária deve ser feita em dinheiro e independe de


aceitação do destinatário (vítima, dependentes, entidades). O art. 45, § 2º, do Código
Penal, porém, ressalva que, se houver aceitação do beneficiário, a prestação pode
consistir em prestação de outra natureza (inominada). Ex.: entrega de cestas básicas
a entidades assistenciais.

5.2 - Perda de bens ou valores

• Refere-se a bens ou valores (títulos, ações) pertencentes ao condenado, que o juiz


declara perdidos em favor do Fundo Penitenciário Nacional, tendo como teto o que for
maior:

a) o montante do prejuízo causado;


b) o provento obtido pelo agente ou por terceiro em consequência
da prática do crime.

• O juiz deve estabelecer os bens ou valores que considera perdidos na própria


sentença para evitar discussões em torno da possibilidade de serem estes valores
cobrados dos herdeiros na hipótese de falecimento posterior do condenado. Assim,
com o trânsito em julgado da sentença, os bens já se consideram perdidos, não
podendo ser exigidos como parte da herança se o réu morrer depois disso. Para
possibilitar a individualização dos bens na própria sentença, deve o juiz, durante a ação
penal, efetuar pesquisas quanto ao patrimônio do acusado, como, por exemplo, se
existem veículos ou imóveis registrados em seu nome.

• Caso o magistrado não estabeleça na sentença os bens perdidos, caberá ao juiz da


execução fazê-lo. O problema é que, se o condenado morrer antes disso, surgirá
discussão em torno da possibilidade de serem tirados bens que dele passaram para os
herdeiros no momento da morte. Com efeito, o art. 5º, XLV, da Constituição Federal diz
que a pena não passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o
dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
Entendemos que o dispositivo constitucional tem aplicação imediata e que a expressão
“nos termos da lei” diz respeito apenas ao procedimento a ser seguido que, enquanto
não regulamentado, pode ser suprido por procedimentos executórios similares. É
também o entendimento de Luiz Flávio Gomes. Em contrário, podemos apontar a
opinião de Fernando Capez no sentido de que somente após a edição de lei especial
regulando o tema é que os bens declarados perdidos poderão ser exigidos dos
herdeiros.

• Observação: Não se deve confundir o instituto em análise, que é pena substitutiva, com
a perda em favor da União, tratada no art. 91, II, do Código Penal, dos instrumentos do
crime que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção
constituam fato ilícito, ou do produto do crime ou de qualquer outro bem ou valor que
constituam proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. Esta perda
de bens para a União constitui efeito secundário da condenação (aplicado
cumulativamente com a pena privativa de liberdade ou de outra natureza).

5.3 - Prestação de serviços à comunidade ou a entidade pública

• Consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas em estabelecimentos


assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos ou outros estabelecimentos congêneres, em
programas comunitários ou estatais (art. 46, §§ 1º e 2º, do CP).

• Este tipo de prestação de serviços, portanto, não é remunerada, regra, aliás, repetida
no art. 30 da Lei de Execuções Penais.

• O juiz só pode optar pela adoção da pena alternativa de prestação de serviços se a


pena aplicada na sentença for superior a 6 meses (art. 46, caput, do CP).

• Os serviços devem ser prestados à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação,
fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho do condenado (art. 46,
§ 3º).

• Se a pena aplicada na sentença for superior a 1 ano, é facultado ao condenado cumpri-


la em período menor, nunca inferior à metade da pena originariamente imposta, ou
seja, o sentenciado poderá cumprir a pena mais rapidamente, perfazendo um maior
número de horas-tarefa em espaço mais curto de tempo.

• As tarefas devem ser atribuídas de acordo com a aptidão do sentenciado (art. 46, § 3º,
do CP) e cabe ao juiz das execuções designar a entidade onde os serviços serão
prestados (art. 149, I, da LEP).
• A execução terá início a partir do primeiro comparecimento, sendo que o juízo das
execuções deve intimar o condenado, cientificando-o das datas, do horário e do local
onde deve comparecer para cumprir a pena (art. 149, II, e § 2º, da LEP). Nos termos
do art. 181, § 1º, da Lei de Execuções, se o sentenciado não for encontrado no
endereço fornecido e não atender à intimação por edital, ou caso intimado não
compareça para a prestação de serviços, o juiz deve reverter a pena em privativa de
liberdade.

• A entidade onde o sentenciado cumpre pena deve remeter, mensalmente, ao juízo das
execuções, relatório circunstanciado das atividades prestadas, bem como, a qualquer
tempo, comunicar a respeito de eventuais faltas ao serviço
ou transgressões disciplinares (art. 150 da LEP).

• O juiz das execuções pode, a todo tempo, promover alterações na forma de prestação
de serviços à comunidade, caso entenda necessário.

• Quando se tratar de condenação por crime previsto no Código de Trânsito Brasileiro


(Lei n. 9.503/97), o juiz deverá, caso considere presentes os requisitos legais para a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, observar a regra
de seu art. 312-A (inserido pela Lei n. 13.281/2016), segundo o qual a pena restritiva
deverá ser a de prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, em uma
das seguintes atividades: I — trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos
corpos de bombeiros e em outras unidades móveis especializadas no atendimento a
vítimas de trânsito; II — trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da rede
pública que recebem vítimas de acidente de trânsito e politraumatizados; III — trabalho
em clínicas ou instituições especializadas na recuperação de acidentados de trânsito;
IV — outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação.

5.4 - Interdição temporária de direitos

• Consiste na proibição do exercício de determinados direitos pelo prazo correspondente


ao da pena substituída. Algumas são específicas, porque aplicáveis apenas aos crimes
que o próprio Código menciona, e outras são genéricas, porque passíveis de aplicação
a qualquer infração penal.

• Interdições específicas

a) Proibição do exercício de cargo, função pública ou mandato eletivo


(art. 47, I, do CP). Aplica-se aos crimes praticados no exercício de
profissão, atividade, ofício, cargo ou função, sempre que houver violação
dos deveres que lhe são inerentes (art. 56 do CP).

b) Proibição do exercício de atividade, profissão ou ofício que dependa


de licença especial ou autorização do poder público (art. 47, II, do CP).
Ex.: dentista, médico, engenheiro, advogado, corretor etc.

c) Suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo (art.


47, III, do CP).

d) Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exames públicos


(art. 47, V, do CP). Trata-se de modalidade de pena restritiva de direitos
criada pela Lei n. 12.550/2011 destinada a pessoas condenadas por
fraude em certame de interesse público (concurso, avaliação ou certame
público; processo seletivo para ingresso no ensino superior; exame ou
processo seletivo previsto em lei), nos termos do art. 311-A do Código
Penal.
• Interdição genérica

• Qualquer que seja a espécie de delito cometido, o juiz pode substituir a pena privativa
de liberdade pela proibição de frequentar determinados lugares (art. 47, IV, do CP), tais
como bares, boates, lupanares, casas de jogos etc. Em geral, é aplicado justamente
quando o crime foi cometido nesses tipos de estabelecimento para evitar que o
condenado volte a frequentá-los durante o tempo de cumprimento da pena.

• Observação: Se o condenado exercer, injustificadamente, o direito interditado ou não


for encontrado para dar início ao cumprimento da pena por estar em local incerto e não
sabido, a pena será reconvertida em privativa de liberdade (art. 181, § 3º, da LEP).

5.5 - Limitação de fim de semana

• A limitação de fim de semana consiste em permanecer na Casa do Albergado, ou outro


local específico, durante cinco horas no sábado e cinco no domingo, para ouvir
palestras educativas e participar de cursos.

• Nas comarcas onde não houver Casa do Albergado ou local específico para isso deve
ser essa pena evitada, para não gerar franca impunidade. Não é de se admitir que, nos
moldes do regime aberto, a cumpra o sentenciado em seu próprio domicílio (prisão-
albergue domiciliar), pois totalmente inexequível, por falta de fiscalização e adequação
às finalidades da pena.

Fonte do material:

ESTEFAM, André, e GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Esquematizado - Direito Penal -


Parte Geral. Editora Saraiva, 2021.

NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral - Vol. 1. Grupo GEN, 2021.

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