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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

Tício, brasileiro, casado, engenheiro, portador da cédula de identidade n°__, inscrito sob
o CPF n°__, residente e domiciliado à rua__, n°__, Bairro__, UF__, vem por intermédio
de seu advogado, in-fine assinado, inscrito na OAB__, sob o n°__, que esta subscreve por
procuração em anexo (doc.1), com endereço à rua__, n°__, bairro__, Cidade__, Estado__,
vem mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento legal no
artigo 5°, inciso LXXII, da Constituição Federal, e a Lei 9.507/97, impetrar o presente:

HABEAS DATA

Em face de ato praticado pelo Ministro de Estado da Defesa, pelos motivos de fato e
direito, expostos a seguir:

I- DO BREVE RELATO FÁTICO


Ocorre que o Sr. Tício na década de setenta, participou de movimento políticos
cujos quais faziam oposição ao Governo instituído na época. Por força de tais atividades,
fora vigiado pelos agentes do estado e , em diversas ocasiões, preso para averiguações.

Seus movimentos foram vigiados e monitorados pelos órgãos de inteligências


vinculados aos órgãos de Segurança do Estado, organizados por agentes federais. Ocorre
que após longos anos, em 20120, o sr. Tício, requereu acesso à sua ficha de informações
pessoais, tendo o seu pedido indeferido, em todas as instâncias administrativas.

Tendo este último ato sido praticado pelo então Ministro de Estado da Defesa, que
lastreou seu ato decisório, na necessidade de preservaão do sigilo das atividades do
Estado, vez que os arquivos públicos do período desejado estão indisponíveis para todos
os cidadãos.

II- DO FORO COMPETENTE

O nobre legislador erigiu no artigo 105, inciso I, alínea b, da Constituição Federal


de 1988, que a competência originária para processar e julgar o presente remédio
constitucional, no qual figure como parte Ministro de Estado, será do Superior Tribunal
de Justiça.

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

I - processar e julgar, originariamente:

b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado,


dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio
Tribunal;

O ilustre legislador, no uso de suas atribuições, um pouco mais a frente,


especificadamente, na Lei n° 9.507 de 1997, na égide do seu artigo 20, inciso I, alínea b,
dispõe de forma a reafirmar, que nos casos de Habeas Data, que configure como parte
Ministro de Estado, a competência originária será do Superior Tribunal de Justiça
Brasileiro.

Art. 20. O julgamento do habeas data compete:

I - originariamente:
b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de Ministro de Estado ou do
próprio Tribunal;

III- DA LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA

Segundo os ensinamentos do nobre doutrinador Helly Lopes Meirelles, “a


legitimidade ativa para propor o presente remédio constitucional, será unicamente de
pessoa física ou jurídica unicamente interessada nas informações pertinentes a estas”,
encontram-se devidamente fundamentadas o direito de requerer tais informações no
artigo 5°, inciso LXXII, alíneas a e b, da Constituição Federal de 1988.

LXXII - conceder-se-á "habeas-data":

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do


impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo


sigiloso, judicial ou administrativo;

cumpre ainda ressaltar, que o Habeas Data, é um remédio constitucional de


natureza personalíssima, sendo assim, a legitimidade ativa, será sempre do impetrante,
que tem interesse em obter informações sobre si, também encontra-se regulado, tal
possibilidade no artigo 7°, inciso I, da Lei 9.507 de 1997.

Art. 7° Conceder-se-á habeas data:

I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do


impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;

II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo


sigiloso, judicial ou administrativo;

III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou


explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência
judicial ou amigável.

Desta forma, pode-se concluir que no caso concreto apresentado, a legitimidade


ativa será do Sr. Tício, pois busca assegurar e garantir acesso a informações de cunho
pessoal, que lhe foram negadas e recusadas sem justificativa plausível para tal ato
administrativo.

Já no que tange a legitimidade passiva, o saudoso professor Alexandre de Moraes,


in verbis, “ poderão ser sujeitos passivos de Habeas data as entidades governamentais,
da administração pública direta ou indireta, bem como as instituições, entidades e
pessoas jurídicas privadas que prestem serviços para o público ou de interesse público,
e desde que detenham dados referentes às pessoas físicas ou jurídicas” ( Direito
Constitucional/Alexandre de Moraes- 17° Edição, 2005, p 129).

Mediante a leitura do artigo 5°, inciso LXXII, alínea “a”, da Constituição Federal
de 1988, é possível extrair que a legitimidade passiva, será daquele que detém as
informações pessoais e tenha o dever de prestar as informações, conceder vistas,
ratificações que sejam referentes ao legitimado ativo.

Com isso, é possível concluir que o legitimado passivo será o Ministro de Estado
da Defesa, pois este é investido do poder-dever de assegurar e prestar as informações
requeridas pelo legitimado ativo.

IV- DO INTERESSE DE AGIR

Importante frisar, que o Sr. Tício, ora impetrante, no decurso do ano de 2010,
requereu acesso à sua ficha de informações pessoais decorrente do período em fora
monitorado pela inteligência e os órgãos vinculados da Segurança do Estado, tendo sua
pretensão indeferida e posteriormente negada na demais esferas administrativas, como
resta provado nos documentos anexados (doc.2).

Desta forma, preenchidos os requisitos do artigo 8°, parágrafo único da Lei 9.507
de 1997, é possível notar que o impetrante teve seu Direito violado, pois não obteve
acesso a ás suas informações pessoais, do período em que fora monitorado e preso para
averiguações.

Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285
do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos
que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:

I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem


decisão;

II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias,


sem decisão; ou

III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do


decurso de mais de quinze dias sem decisão.

V- DO DIREITO

Inicialmente, o artigo 5°, inciso LXXII da magnânima Constituição Federal de


1988, regula as hipóteses de cabimento do Habeas Data, disciplinando que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

LXXII - conceder-se-á "habeas-data":

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do


impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo


sigiloso, judicial ou administrativo;

Em contrapartida, de igual forma o artigo 7°, da Lei ne 9.507 de 1997, dispõe:

Art. 7° Conceder-se-á habeas data:

I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do


impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;

II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo


sigiloso, judicial ou administrativo;

III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou


explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência
judicial ou amigável.
Importante frisar, que ainda no artigo 5°, inciso XIV, da Constituição Federal de
1988, assegura como direito fundamental e acesso à toda informação, e resguarda o sigilo
da fonte quando necessário, de mesma forma a lei de n° 12.527 de 2011, em seu artigo
7°,inciso II, irá dispor que o acesso a informação será compreendido, por informações
que sejam contidas em registros ou documentos produzidos ou acumulados por seus
órgãos e entidades recolhidos ou não a arquivos público.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da


fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Art. 7º O acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre outros,
os direitos de obter:

II - informação contida em registros ou documentos, produzidos ou acumulados


por seus órgãos ou entidades, recolhidos ou não a arquivos públicos;

Ainda a lei 12.527 de 2011, no artigo 6°, irá disciplinar que cabe ao poder público
assegurar a gestão transparente da informação, proporcionando aos cidadãos amplo
acesso a ela e sua divulgação. Ainda na lei supracitada, em seu artigo 7° inciso III, irá
disciplinar que a pessoa física ou jurídica terá direito de obter a informação decorrente de
qualquer vinculo com órgãos ou entidades, mesmo que a vinculação já tenha sido cessada.

Art. 6º Cabe aos órgãos e entidades do poder público, observadas as normas e


procedimentos específicos aplicáveis, assegurar a:

I - gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela e sua


divulgação;

Art. 7º O acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre outros,
os direitos de obter:

III - informação produzida ou custodiada por pessoa física ou entidade privada


decorrente de qualquer vínculo com seus órgãos ou entidades, mesmo que esse
vínculo já tenha cessado;

Vale ainda ressaltar, que o artigo 11, da Lei 12.527 de 2011, regula que o acesso
a informação solicitada, dever ser concedida de imediato pelo poder público, o que no
presente caso concreto, não foi realizado pelo Ministro de Estado da Defesa.
Art. 11. O órgão ou entidade pública deverá autorizar ou conceder o acesso
imediato à informação disponível.

É possível notar, cristalina violação aos princípios inerentes a Administração


Pública, seja ela, direta ou indireta, a quaisquer dos poderes da União, Estados,
Municípios e do Distrito Federal, cabendo a estes estrita obediência aos princípios
elencados no artigo 37 da Constituição Federal, quais sejam, princípio da legalidade,
impessoalidade, publicidade, moralidade e eficiência.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

Necessário dizer, que houve claro desrespeito e violação aos princípios


supracitados no ato administrativo realizado pelo Ministro de Estado da Defesa, haja
visto, que realmente há casos em que devem ser ressalvadas o sigilo a respeito da
segurança do Estado e da Sociedade, no entanto, não se pode confundir, a preservação
das atividades de cunho estatal, com o direito constitucional de ter acesso as informações
pessoais, de cunho inteiramente particular.

Desse modo, resta configurado que o sigilo estaria completamente preservado,


tendo visto, que as informações solicitadas, são apenas acerca do impetrante do período
em que este foi monitorado pelos órgãos de inteligência vinculados a segurança do
Estado, não atingindo momento algum, informações de possíveis terceiros.

Resta então, configurado que o ato denegatório sobre as informações pleiteadas pelo
impetrante, é plenamente abusivo e ilegal, já que se mostra contrário a dispositivos
constitucionais que asseguram de garantem o direito a informação e dados requeridos
pelo impetrante.

Requer ainda, com fulcro no artigo 9°, da lei 9.507/97, que o magistrado ao despachar
a exordial, notifique o coator acerca do conteúdo contido nesta, realizando a entrega de
uma segunda via para que seja realizada vistas pelo impetrado, com cópias dos
documentos anexados, afim de que no prazo de dez dias preste as informações que julgar
necessárias.

Art. 9° Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique o coator do


conteúdo da petição, entregando-lhe a segunda via apresentada pelo
impetrante, com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de dez dias,
preste as informações que julgar necessárias.

Ainda requer a esse Tribunal, que seja julgado procedente o pedido do impetrante
para que o impetrado lhe forneça as informações pleiteadas por este com base no artigo
13° da Lei 9.507 de 1997.

Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz marcará data e horário
para que o coator:

I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de


registros ou bancos de dadas; ou

II - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos


assentamentos do impetrante.

Importante destacar, que a justificativa apresentada pelo Ministro de Estado da Defesa


não merece prosperar, haja visto, como já explicitado anteriormente é direito
constitucionalmente assegurado ao impetrante, com viés de direito e garantia
fundamental, e neste mesmo sentido observa Celso Bastos, in verbis, “se não houver séria
justificativa a legitimar a posse pela administração destes dados, eles serão lesivos ao
Direito à intimidade assegurado no inciso X, do artigo 5° da Constituição Federal. Em
princípio, portanto, não há possibilidade de registro públicos de dados relativos a
intimidade da pessoa. Seria um manifesto contra-senso que houvesse o asseguramento
constitucional do direito a intimidade, mas que concomitantemente o próprio texto
constitucional estivesse a permitir o arquivamento de dados relativos à vida intima do
indivíduo”.

VI- DOS PEDIDOS

Diante do exposto, o impetrante requer a que Vossa excelência se digne:

a) Que seja realizada a notificação do coator a cerca dos fatos narrados a fim de
prestar as informações que entender necessárias, para atender o desejo do
impetrante, com fulcro no artigo 9° da lei 9.507/97;
b) Intime-se o representante do Ministério Público para que no Prazo de 5 (cinco)
dias, seja realizada sua oitiva sobre os fatos narrados, com base no artigo 12° da
lei 9.507/97;
c) Julgar procedente o pedido, determinando que impetrado forneça as informações
pleiteadas com base no artigo 13° da Lei 9.507/97;

VII- DAS PROVAS

Protesto o alegado provar por todos os meios de provas em direito admitidos, bem
como, os do rol do artigo 369 do Código de Processo Civil Brasileiro, pugna a parte em
especial, pela produção de provas documentais juntadas, e outras que porventura vierem
a ser produzidas mediante a necessidade processual.

Instruem a presente exordial:

a) A recusa administrativa;
b) Protocolo de requerimento administrativo.

VIII- DO VALOR DA CAUSA

Dá-se a causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), somente para fins fiscais,
haja visto que o artigo 5°, inciso LXXVII, , assegura que as ações de Habeas Data e
Habeas Corpus são gratuitas na forma da lei.

Nestes termos, pede-se e aguarda deferimento.

Local e Data
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Advogado

OAB/UF

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