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técnica d a casa-arvore pessoa

( H T Pd
) e J o h nB u c k
Marta Ceciliade VilhenaMoraesSilva

o HTPpropõe o desenhode temassimples,conhecidosda grandemaioria daspessoas,


por meio dos quais podem ser exploradosdiferentesníveis de proieçãoda personalidade,
abordandoaspectosmais arcai.cos poi meio do desenhoda árvoree aspectosmenosarcaicos
por meio do desenhoda pessoa;o desenhoda casafica em algum ponto entle essesdois
extremos.Desenhosespecíficose familiaresà maioria daspessoasoferecem,para o clínico,
uma referênciapara a comparaçãoda produçãode um indivíduo em particular com a das
pessoas de mesma idade e stltus socioeconômicoequivalente,constituindo, assim,uma
âncorapara a interpretação.
Na forma original, propostapor Buck, o HTP envoÌve três desenhosproduzidoscom
lápisn. 2 e material verbai obtido no inquérito. com o acréscimosugeridopor Hammer
(1991)- o HTPcromático- o clínicodispÒede um conjuntode pelo menosseisdesenhos,
alémdo materialverbaÌassociado, contando,portanto, com uma amostramaior de compor-
tamentosobservadosem cilcunstânciasdistintas.Parao autor, a fasecromáticanão consti-
tui apenasuma complementaçào da faseacromática.Elarepresenta um coniuntode condi-
que a antecede,alémde
çõesem que o suleitoperdeparte do controledefensivo:o inquérito
esclareceiaspectosdo desenho,forçaa identificaçãodo sujeitocom o que produziue mobi-
ìizamaisclaramenteos conflitos subiacentes; o uso da col acentuaa participaçãodos aspec-
tosemocionais;o material giz de cera impedeo controÌemals refinadode que o suieito
- -
dispõequando desenhacom o lápis n" 2; a impossibilidadede apagaro que consideraerros
no desenho,tendoapenasa oportunidadede escondê-los, colocao suieitoem uma situação
maisvulneráveÌ.EssaconfiguÍaçãoinduz, no examinando,um nível de frustÍaçãodiferente
daquelepropostopela faseacromáticae expõeum níveÌ mais profundo de suapersonalida-
do
de,revelandode forma mais evidenteos conflitos, as defesase os recursospsicológicos
indivÍduo.
Estecapítulo aborda as origensdo HTP e os acréscimosfeitos ao instrumento com o
passardo tempo. Com o objetivã de apresentardiferentesabordagensà análisedo material
produzido,sãã apresentados:o simbolismo dos temas Casa,Árvore e Pessoa'o qual fun-
que funda-
damentama tradicional interpÌetaçãodo conteúdo;o simbolismodo espaço,
mentaa inteÌpretaçãoda fohã em que sedesenhacomo Ìepresentação do espaçovivencial
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i do indivíduo; por fim, é descritasucintamentea identificação dos tipos de defesae de


l
I
organizaçãoda personaÌidade,desenvolvidapoÌ ElsaGrassano(I99 4,1.99 6), como exem-
plo de análiseintegradade vários aspectosassociadasa um referencialteórico específico,
no caso,os conceitosde MelanieKlein.
Em seguidasão apresentadosalguns estudosque usam o HTP, o desenho da figura
humanaou o desenholivre para a identificaçãode variáveiscompÌexas,estudosde casoda
vida real e avaliaçãode intervenções.O capítu1oé encerradocom algumasconsideraçòes
sobrepontos Ìevantadosno artigo sobreo uso e a interpretaçãode desenhos.

ORICENS
E FUNDAMENTOS
TEORICOS
A técnicapÍoietiva da Casa-Árvore-Pessoa (HTP),deJohn Buck (1948),consistena siste-
matizaçãode váriosprocedimentosenvoÌvendoa expressão gráficaque, a partir dasdécadas
de 192Oe 1930, foram impulsionadospela substituiçãoda expressãoverbal pelo desenho
livre como instrumental para associações livres no tratamentode crianças(Anzieu,1986).
Já no final de 1926,FlorenceGoodenoughdesenvoÌvia,nos EstadosUnidos, o testeda
figura humana (DFH) para avaliaçãodo desenvolvimentointelectual de crianças.Karen
Machover,identificando o potencial para o estudo da personalidadeda técnica de
Goodenough,cria o Desenhode uma pessoa(DAP,Draw a Person), uma técnicapuramente
projetiva.
Em 1928,partindo de uma baseexclusivamente intuitiva, o suíçoEmil Juckerutilizavao
desenhoda árvorepara identificar possíveisdificuldadesdos clientesque o procuravamem
buscade orientaçãoeducacionale vocacionaì.A escolhada árvore como tema, segundo
Jucker,baseou-se no estudoda históriada culturae dos mitos, nos quaisa árvoretem simbo-
lismo privilegiado(Van Kolck, 1984;Hammer,1991).Em 1934,Schliebe,na Alemanha,com
o obietivo de investigaros afetos,solicitavavários desenhosde áNores, nesta seqüência:
uma árvorequalquer,depoisgeÌada,alegre,pedindo ajuda,sofrendoe, por fim, morta. Dis-
cípulo de Juckeç Karl Koch criou o Testeda Arvore a partir de estudosexperimentaiscom
desenhosdessetema em situaçõesde hipnose,reflexõesfenomenológicassobreos possíveis
significadosde cadatraço da produçãográficae aplicaçãode tratamentoestatísticoao mate-
ÍiaÌ coletado(Van Kolck, 1984; Hammer, 1991).Posteriormente,RenéeStora,na França,
adaptoue modificou a técnica, tornando-amais didgida (Anzieu,1980),mas seutrabalho
tevepoucarepercussão no Brasil.
John Buck (1948)sistematizouosdadosdastécnicasdesenvolvidas por Koch e Machover
e acrescentouo desenhoda casa.PosterioÌmente,Emmanuel Hammer introduziu o HTP
cromáticono procedimento,visando a investigara personalidadeem um nível mais pro-
fundo do que o possibilitadopela produçãoacromática(Hammer,1991).
A tarefadedesenharostrêstemaspodeserconsiderada comoum tipo de testesituacional
no qual o sujeitoenfrentanão só o problemade desenharo tema indicado, como também
com o de orientar-se,adaptar-see compoÌtar-senuma situaçãoespecífica.Paraisso,eÌemos-
tÌará um comportamentoverbal,expressivoe motor. Essescomportamentos,assimcomoo
próprio desenho,fornecemos dadosparaa análisepsicológica(Lery, 1991).
T É c N r c ÀcsR À F t c À s
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PRINCIPIOS
DEINTERPRETAÇÃO
!' A produçãopode ser analisadasob três perspectivas: adaptativa,expressivae projetiva
r (vanKolck,1984).A diferenciaçãoem três perspectivas é puramentedidática,uma vez que
i' osÍês aspectos sãoinseparáveis.Da mesmaforrna,os váriosdesenhosdevemseranalisados
emconiunto,procurando-sepadrõescaracterísticos da produçãodo suieito.
A perspectivaadaptativaavaliaa adequaçãodo sujeitoà tarefa,considerandoa qualida-
dedaproduçãotanto em termosformaisde correspondência ao grupo etárioe sociocultural
aoqualo indivíduo pertence,quanto à compatibilidadeentre o que foi solicitadoe o quefoi
produzido. De modo geral,os problemasde adaptaçãosedevema recuÍsosintelectuaisinsu-
ficientes,
problemasorgânicos,patologiasmais gravesou problernasemocionaisintensos.
A perspectiva expressivaanalisao estilo próprio do suieito.Como destacaHammer
(1991), nossosmúsculosnão mentem;a análisevolta-separaa expressão psicomotorado
indivíduo,levandoem conta tambémoscomportamentosnão-verbaisapresentados durante
arealizaçãoda tarefa.Considerandoque a folha em brancorepresentao ambientedelimitado
impostoao sujeito (Van KoÌck, 1984),o modo como o indivíduo o utiliza revelarásua
orientação geraÌ em reìaçãoao mundo e a si próprio. Os aspectosexpressivos revelam
características
estáveisdo indivíduo, como asatitudesbásicasem relaçãoa si e ao ambiente,
o graude energiade que dispõee como a investe,o controle na expressãodosimpulsose os
Ìecursoscognitivos potenciaise efetivamenteusadospara dar conta das tarefaspropostas
(Hammer,1991).
A perspectivaproietivaconcentÍa-se no modo como o tema é tratadoe avaliaa atri-
buiçãode qualidadesàssituaçõese obietosrepresentados, o que permiteidentificaráreas
deconfÌitomais significativas(VanKolck, 1984).Aqui a atençãosevolta paraasdiferen-
tespartesrepresentadas e a análisese fundamentano aspectosimbólicodos elementos
analisados.

ASPECTOS
SIMBOLICOS
DA TRIADECASA-ARVORE-PESSOA
A experiência tem demonstrado que os temas árvoÌe, casa e pessoa são os preferidos
pelas crianças quando são solicitados desenhos livres. Em pesquisa realizadana Inglaterra,
Griffiths, citado poÌ Hammer (1991), constatou que a figura humana é objeto mais desenha-
do espontaneamentepelas crianças pequenas, seguida da casae depois da árvore.
O HTP parte do pressupostode que existe, no homem, uma tendência a ver o mundo de
modo antropomórfico. Assim, eÌe tende a atribuir a sua visão a outros habitantes do mundo,
o que permite identificar-se com eles e não apenascom seuspares humanos. Nessesentido,
a casa,a árvore e a pessoadesenhadasno HTP não deixam de ser representaçõesda imagem
que o indivíduo tem de si.
A Casa suscita associaçõesà vida familiar e doméstica, tanto para criançasquanto para
adultos. O clima geral (ou atmosfera) do desenho é bastante indicativo de como o indivíduo
sente o seu ambiente. Segundo Hammer (L99L), a casa Ìepresenta mais freqüentemente o
auto'Íetrato com elementos de fantasia,ego,contato com a realidade,acessibilidadee também
a percepçãoda situação doméstica. Para a avaliação da integridade do ego, especialatenção
deve ser dada à solidez das paredes;o grau de uso da fantasia e da ideaçãopode ser indicado
pela proporção entre a área do corpo da casa e a do telhado. As aberturaspara o mundo,
repÌesentadaspelas portas e janelas, são boas indicações da disponibilidade do indivíduo
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paraa interaçãosociaÌ.Os elementosacessórios, como chaminés,iardineiras,gradesde


proteção,tambémdevemser considerados em seusaspectossimbóÌicos,procurando-se
compreender a queserveme identificarosconflitosou necessidadesque podemter motivado
suainclusão.Por ser o primeiro da série,muitas vezeso desenhoda casaapresentapoucos
detalhesou tamanho pequeno,ou é desenhadono canto superioresquerdoda folha. Essas
produçõespodem indicar uma atitude de cauteladecorrenteda falta de referênciasquanto
ao quevirá em seguida.Casoessascaracterísticas apareçamsomentenesseprimeiro desenho
dacasa,a importânciadapÌoduçãono quadrogeralserámenor,devendo-se enfatizara própúa
atitudedo indivíduo frente a uma situaçãosobrea qual não tem controle.
A Árvore, poÍ sua condição mais básica,natural e vegetativa,favorecea pÍoieçãode
sentimentosmais profundosda personalidadee do sef em um nível mais primitivo. Como
a relaçãoentre o indivíduo e a árvorenão é tão evidente,essedesenhofavorecetambéma
atribuiçãode sentimentosmais profundos,negativosou perturbadorescom menos exigên-
cia de manobrasdefensivasdo ego (Hammer,1991).A Árvoretem alto valor simbóhcoe o
empregouniversalde seu simbolismofoi constatadopor autoresde diferentesáreascomo
Carl GustavJung (1991),JosephCampbelÌ(1990),Sir JamesG. Frazer(1986), apenaspara
citar alguns.Nossaidentificaçãocom a árvorepodeserobservadapelo uso metafóricode seu
cicÌo anual como representaçãodas fasesda vida - observamosna árvore nosso próprio
processode crescimento,reproduçãoe morte, e também a possibilidadede recuperação.
Jung consideraa áwore como um motivo pÌesenteem sonhos,mitos e lendas de várias
culturas,podendoassumirdiferentessignificados:evolução,crescimentofísico ou amadure-
cimentopsicológico.Além disso,essetemaestáintimamenterelacionadocom o simbolismo
da cruz,uma forma esquematizada de árvore.Desenharuma cruz é representara si mesmo;
a árvoreé simbolismodo homem enquantoserveÌtical e representao crescimentoe a evolu-
ção,graçasà proeminênciado eixo verticalem suaestrutura,em oposiçãoao simbolismodos
animais,mais associadoà vida instintiva. Expressões como "me senti podado" ou "ele resga-
tou suasraízes"ou a pdmeira fraseda obraRicardoIII de William Shakespeare, "o inverno da
nossadesesperança" (tambémtítulo de uma obra deJohn Steinbeck)remetemà nossaiden-
tificaçãocom a árvoree o ciclo dasestações. Paraa avaliaçãoda integridadedo ego,especial
atençãodeveserdada à soÌidezdo tronco; o grau de uso da fantasiae da ideaçãopode ser
indicadopelaproporçãoentre tÍonco e copa.As diferentespossibilidades de interagir com o
mundo sãoindicadaspelasramificaçõesdos galhos.Elementosacessórios, como flores,fru-
tos, nós na superfíciedo tronco, tambémdevemserconsiderados em seusaspectossimbó1i-
cos,procurando-se compreendera que seÌveme identificaros conflitos ou necessidades que
podemter motivadosuainclusão.
O desenhoda Pessoanitidamente tem características de "humanidade", com as quais
o indivíduo prontamentese identifica. Geralmenteo desenhoda pessoageÌa pÌotestose
reclamações poÌ parte de suieitosadultos.Não se pode negarque se trata de um desenho
maisdifícil de fazerdo que o de uma casaou de uma árvore.Há mais detalhes,as dìficuida-
descom aspÍoporçõesficam mais evidentes.Porém,é precisoconsiderarque, como o dese-
nho da pessoamobiliza conflitos mais próximos da consciência,é natural que a ansiedade
aumente,assimcomo as manobrasdefensivaspara contorná-la.Por essesmotivos, o dese-
nho da pessoatende a ter uma qualidadeinferior à dos dois desenhosanteriores.
O desenhoda pessoaé determinadopor fatorespsicodinâmicosnuclearesresultantesdo
conceitode imagemcorporaÌ- a imagemfísicaem suaestrutura,e em grandepaÌte incons-
ciente,do tipo de pessoaque seé, que cadaum de nós Ìevaem seuaparelhopsíquico.Essa
imagemsebaseiaem partenas convenções,em paÌte nas sensações e estruturasomática,e
ÌÉcNlcAs cRÁFrcas

empartena tÍansposiçãosimbólicadas atitudesem caracteÌísticas somáticas.E construída


a partir de todas as imagens,sensações e emoçõespelos quais o corpo passaao longo da
vida,constituindoo estÌatoinconscientedas representações corporais(Schilder,1981)'
Poressemotivo, essedesenhomanifestamais prontamentea visão de si mesmomaispró-
ximada consciênciae a relaçãocom o ambiente.Paraa avaÌiaçãoda integridadedo ego,
especial atençãodeve ser dadaà integridadedo corpo, à delimitaçãoclarados seuslimites
em relaçãoao ambiente que o cÌrcunda;o grau de valorizaçãodos processosideacionais
em oposiçãoaos emocionaispode ser identificado pela proporçãoentre cabeçae tlonco.
Asdiferentespossibilidadesde intelagir com o mundo sãoindicadaspelasmãose braços;a
disponibilidade para entraÌ em contato com conteúdosinternosou extelnosé expressa
pelotamanhoe qualidadedos olhos,entre outros.Elementos como boìsas,
acessórios,
iinto, o.r anéis,também devemserconsiderados em SeusaspectossimbóÌicos,procurando-
secompreendera que seÌveme identificar os conflitos ou necessidadesque podem ter mo-
tivadosua inclusão.

do usodo espaço
fupectossimbólicos
considerandoque a folha em brancorepresenta o ambientedelimitadoimpostoao
sujeito,a anáÌisedo modo como o indivíduo o utiliza revelasuaolientaçãogeralem reÌação
aomundoeasipróprio,ouseia,oseuespaçoexistencial'Osimbolismodoespaçoapresen-
do
tado por Max pulvei fundamentaváriasinterpretaçõesdo uso do papel, como é o caso
(Anzieu,
HTRãu de outrassuperfícies,como a tampa da caixado testeda Aldeia,de Arthus
1986;Augras1980).
SegundoPulver,emseusestudosparafundamentaraanálisepsicológicadaescrita,o
a altística,
simboúmo espaciaÌprecedeo simbolismoverbal, e a expressãográfica,como
(1980):"o
revelasistema;anímicosde organizaçãodo mundo. Nas palavrasde Augras
espaçoaparececomo um srstemade Ìinhasconvergentes cujo ponto de encontroé o ho-
mem" (p.244).
ParaPulver,esseespaço,queeStádentrodecadapessoa,.,foÌneceumaordemprimord
em
que é simbólica,isto é, intuiìiva e ainda não intelectual" (Pulver,1953, mencionado
qual integraa
Áugras,1980).O autor usaum esquemaem cruz pararepresentaro espaço'no
cruz,o lado esquer-
diriensãotemporai (direção)à dimensãoespacial.No eixo horizontal da
doestáassociadoàorigem,aocomeçodetudoe,porextensão,aopassado'àintroversã
Mãe;o Ìado direito, por suavez,assócia-se à evoiução,à extroversãoe' por extensão'à reali
intermediária(que
zaçãono ambiente,ao futuro, ao Pai. No eixo vertical, há uma Ìinha
corlespondeàpauta,naescrita)querepÌesentaarealidadeexteÌnaperceptível,ondetudo
- teÍmos concretos
pode acontecer;esseplano equiváleà esferaempíricado ego o que em
nossos a atéum pouco
pés
equìvaleriaao espaçoque periebemosda superfíciede apoio dos
as supeliores"'
acimado plano visualhorizontaÌ.Acima,a áreaconsciente,envolve "funções
a denominaçãodo autor'
associadaiaospÌocessosde pensamento,imaginaçãoou, segundo
paracima quando-nosesforça-
da InteÌectualidade- bastaábraruu,como tendemosa olhar
a áreado não-
mos em concentrara atençãonos nossospensamentos'Abaixo encontra-se
visível,da materiaÌidade,do inconsciente
obietose expenen-
O simboÌismodo espaçopermeiaváriasformasem queconfiguramos
no mundo da lua" ou "Você
ciasda nossavida diária. 1'or'exemplo,ao dizermos"Joié está
precisadarasasàimaginação,,,referimo-nosaosplocessosideacionais,entendidoscomo
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Iii
"acima",assimcomo a concepÇão habitualde céu;por outÍo lado,dizemosque "É preciso
mergulharnos conteúdosdo inconsciente",aquilo que estáabaixo,oculto sob a terra firme
em que pisamos,assimcomo a concepçãohabitual de inferno. Entendemostambém que
nossossentimentosvêm "de baixo", e precisamsercontroladospela cabeça:"me subiu uma
raiva e perdi a cabeça".Tambémas metasa alcançarsão repÌesentadas como escaladas no
eixo vertical: "ele quer subir na vida", "ela tem metas muito altas", "ele é uma alpinista
social".
O eixo hoÍizontaÌ indica progressão e a dimensãotemporal,o que pode serconstatado
em expressões como "ele paÌeceque não avança,não saido Ìugar" (permanecerno ponto de
origem,à esquerda)ou em "não coloqueos bois à frente do carro" (a açãoprecipitada,para
a direita)ou ainda em "é precisoenxergarmais longe" (ter uma visão do futuro).
Essesimbolismo,apresentadoaqui de modo extremamenteconciso,apÌica-setambém
aostrêstemasdo HTR o que permitecompará-los: uma áreainferior, de base,que constituio
apoio do objeto na realidade prática,representada mais claramentepelospés da figura hu-
mana e pelasraízesda árvore ou áreade apoio da árvore e da casasobreo solo; uma área
intermediária,de estruturasólida, que assegutaa sustentaçãodo objeto e que representa
característicasmais estáveisdo objeto (paredesda casa,corpo da pessoa,tronco da árvore);
uma áreasuperior,menos estávei,mais móvel ou fluida (telhado da casa,copa da árvore,
cabeçae feiçõesda figura humana). Considerandoo simboÌismodo espaçopÍoposto por
Pulver,essastrêsáreascorresponderiam, respectivamente, à (1) áreacorporal,do inconscien-
te, da matéria;(2) a âreado ego,que assegura a integridadedo indivíduo, e de suasrelações
tanto com aspulsõescomo com asdemandasdo ambiente,do qual sediferencia;(3) a área
dosprocessos de ideação,do pensamento,da imaginação.Nos desenhos,a harmonia dessas
trêsáreas,suaafticulaçãoe proporçõesadequadas indicam uma personalidadeintegÌadaque
faz pleno uso de seusrecursosinternos,Mais preocupantes são as produçõesem que iusta-
mente a parte r/estrutuÌaÌ"
dos desenhosse mostra comprometida(paredesem ruÍnasou a
ponto de desabar,delimitaçãoincertaou irregulardo corpo da pessoaou do tronco da árvo"
re). Os aspectosde integridadee harmonia sãoparticularmenteimportantesna análisedas
defesasdesenvolvidapor GÌassano(1994,1996),abordadaa seguiÍ.

Usodasdefesasnastécnicasgráficas
ElsaGrassano(1996),apoiadana teoria kleiniana,propõeindicadorespara o diagnósti-
i co dasdefesascom baseno desenvolvimentoevolutivo dos processosdefensivosidentifica-
li dosna produçãográfica:dos mecanismosesquizóides paraosmecanismosmaníacose obses-
sivosda etapadepressiva para a emergênciade mecanismos neuróticose mais avançados. O
fracassona primeira ou na segundaetapaspermitirá o diagnÓsticodo tipo de organização
neurótica,psicóticaou psicopáticada personalidade. A autoradestacaque não bastasomen'
te ÌotuÌar as defesas;é necessáriocompreendero plocessodinâmico de que fazemparte,o
que envolveidentificara modalidadedefensiva,por que o ego optou por e1a,com quefina-
lidadeoptou por ela,a que nível evolutivo correspondea modalidadedefensivae que caÍac-
terísticastem essaconfiguraçãodefensiva(plasticidade,rigidezetc).A partir dos indicadores
levantados,Grassanocaracterizaas produçõesneuróticas,psicóticase psicopáticas.
A análiseconcentra-se na integraçãodo aparatopsíquicoe no desenvolvimentodefun-
çõesde discriminação,por um lado,e no desenvoivimentode funçõessimbolizantes(pensa-
mento lógico-abstrato, repaÌaçãoe subÌimação),poÍ outro.
T É c N r c Á sc R Á Ê t c a s

Paraavaliaro grau de integraçãodo aparatopsíquicoe desenvolvimentode funçoes


dediscriminação,volta a atençãopara a percepçãoda realidade,indicadapero tratamento
querecebea folha como representantesimbóticodo espaçoextemo, ou seia,como o sujei-
to "povoa" esseespaço,e paÌa as características da estruturaçãointrapsíquica,reveladas
peÌascaracteísticasestruturaisde cada obieto obtido (qualidadesharmônlcasou desarti-
culadas;objetos compÌetos,incompletos,parciais/reais,imaginários,bizarros).são obser-
vadasa preservação da gestaÌt,a qualidadedas figuras,o grau de diferenciaçãodasfiguras,
o tipo de movimento (expansivoou impedido ou coartado);noçõesde peÌspectiva,inser-
çãoadequadadas partes;também a localizaçãoe o tamanho são consideÌadosÌepresenta-
çõesda localizaçãodo próprio ego com relaçãoao mund.oexterno em termosde seguran-
ça,insegurança, megalomania.
Paraa avallaçãodo desenvolvimentode funções simbolizantes,Grassanoconsidera
quea produçãográficarevelaráas ansiedadesou preocupaçõesmobiÌizadasno indivíduo
fiente à reparaçãoe o estadode seusobjetosinteÌnos e seu ego (inteiros,quebrados,
parcializadosetc). como sublimaçãoe reparaçãoestãoindissoluvelmenteunidas, o grau
de desenvolvimentoda capacidadesublimatória se expressadagÌaficamentena disposi-
ção,atitude e modaÌidadecom que o indivíduo enfrenta a tarefa proietiva e no aspecto
inteiro, sólido, harmonioso (reparado)ou, ao contrário, destÍuídodo objeto gráfico.
As produçõesneuróticascaracteÌizam-se pela preservaçãoda Gestalt,da delimitaçâoe
dasqualidadescentÌaisque caracteÌizamos obietosna realidade.Os elementospatoÌógicos
semanifestamem pequenasárease se expressampor ênfaseexagerada,omissãoou zonas
confusasque não compÌometema organizaçãoda totalidade.
As produçõespsicóticascaracterizam-se pelafragmentaçãoe a dispersãode elementos.A
produçãotem uma aparênciageralconfusa.A desorganização é observadatambémnos obje-
tosgÌáficosindividuais,cujascaracterísticas seafastamdasobservadas na realidade;os dese-
nhostêm uma aparênciaestranhae parcial.Osmecanismos despllffrnge identificaçãoprojetiva
excessivos provocam a desorganização do ego e do objeto e vivênciasde esvaziamentoe
despersonalização.
Nasproduçõespsicopáticas,a identificaçãoprojetivaindutora excessivaleva à paralisa-
çãoe à anulaçãoda capacidadede discriminaçãodo objeto externo.O "mau" é depositado
no objeto externo,mas ao contrário do que ocorÌecom da identificaçãoprojetivapsicótica,
o ego mantém o controle do proietado para evitar a Ìeintroieçãoe para Ìevar o objeto a
assumirativamenteas características proietadas.Geralmentehá produçãode obietosgran-
des,expressão de necessidadede difundir a imagemcorporal,o corpo,no continenteobieto
externo.A ênfaseé coÌocadana musculaturade braços,pernase tórax - exacerbação de
mecanismos de açãoe necessidade de instrumentaro apaÌatomotoÌ como expulsivo-expan-
sivode controle do obieto.

PESQUISAS
COM O HTP
O HTP,e particulaÌmenteo desenhoda figura humana,tem sido bastanteutilizado em
pesquisasque procuramavaliarauto-estima,imagemcorporale diferentesaspectospslcoló-
gicosde gruposcÌínicosdiversos.A aplicaçãodastécnicasgráficassofrepequenasalterações,
dependendodo tempo disponível,do contextoem que sedá a avaliaçãoe dasespecificidades
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i do grupo estudado.Nestaseção,serãoabordadosalgunsestudosque envolvem as técnicas


gráficasem diferentescontextose para finalidadesdiversas.

Estudos
associados
à obesidade
Santos,Perese Benez(2002) utilizaram o desenhoda figura humana para delinearo
perfil psicoiógicode 10 adultosobesosmórbidossubmetidosa um programamultidisciplinar
de reeducação alimentar.Parao estudoforam seiecionados pacientescom idadeacimade 21
anos,Índicede MassaCorporaÌcompatívelcom obesidademórbidae que não apresentavam
problemaspsiquiátricosou de saúdeque impedissemo retorno ambulatorial.A aplicaçào,
individuai,seguiuo procedimentosugeridopor Machover:dois desenhosde figura humana,
um de cadasexo,com lápis preto no 2 e folhasde papeltamanho Oficio.
Paraa análisedo material coletadofoi elaboradoum protocolo de avaliação,compos-
to por 41 indicadoresenvolvendoaspectosgerais,formais e de conteúdo.Entretanto,para
a interpretaçãopriorizou-sea análisequalitativa,consideradamais profunda e reveladora
do que a avaÌiaçãoquantitativa. As observações coletadasdurante o contato de aproxima-
damente90 dias com os participantes,por ocasiãoda intervençãomultidisciplinar, tam-
bém foram articuladascom a elaboraçãodas hipótesesinterpretativas.
Em linhas gerais,os desenhosindicaram,no grupo estudado,caÍacterísticas psicológi-
cascoerentescom as encontradasna liteÍatura sobreobesos:dificuldades de contenção de
impulsos;tendência à imaturidade,passividade,dependênciae insegurança;busca de sa-
tisfaçãono plano da fantasia;imagemcorporalpermeadapor sentimentosde inadequação,
inferioridade,descontentamento, baixa auto-estimae inibição. Segundoos autores,os
dadosobtidospor meio dos desenhosserviramde subsídiopara o direcionamentodo aten-
dimento psicológico,visando à maior conscientização dos problemasemocionais
vivenciados,o que pode ter contribuído para a adesãodos sujeitosao tratamento.
AÌmeida,Loureiro e Santos(2002) usaramo desenhoda figura humana e uma entreüsta
complementarpara avaliara auto-imagemde 30 mulherescom obesidademórbida e compará-
lascom a auto-imagemde 30 mulheresnão obesas. Como no estudoacima,a apÌicaçãoseguiu
o procedimentosugeridopor Machover.A avaliaçãodos resultadosfoi feita quantitaüvamente,
a partiÍ de itens cujossignificados,segundoa literahÍa, estãomais associados à imagemcor-
poral,sendo10 de aspectosgeÍaise 15 de tamanhoe propoÌcionalidade da configuraçãogìo-
bal e departesespecíficas (comocabeça, olhos,ombrose outras)de cadadesenho.A codificação
foi feita por quatro psicólogos,divididos em duasduplas.Cadaprotocolo foi avaliadode modo
independentepor dois psicólogos.Em casode discordância, um terceiropsicóÌogo,da outra
dupla, avaliou o item em questão.O nível de concordânciaentre avaliadoresatingiu a média
de 0,83 no grupo de obesase variou de O,7Oa O,92no grupo de não-obesas. A descriçãodo
perfiIgeralde cadagrupobaseou-se na freqüênciae na porcentagemdos índices predominan-
tes.A comparaçãoentre os dois gruposutilizou o Têste+2ou o Têstede intervalo de confiança
entreproporções, dependendodo númerode índicesenvolvidoem cadaitem.
Os resultadosmostraramque a produçãoda maioria dos itens não apresentoudiferen-
ças significativasentre os dois grupos. EntÌetanto, os itens que apÌesentaramdiferenças
significativas,segundoos autores,são os que se supõesejamos mais relevantesquantoà
questãoda imagemcorporal:desenhorealizadono 4" quadrante;cabeçagrandeou muito
grande;olhos pequenos;tronco representadode forma distorcida; mãos grandes,muito
grandesou omitidas;pernaslongas e finas. Quanto às características geraisda produçã0,
foi observadamaior freqüênciano gÍupo de obesas:Ìinhas finas; traçado de avançose
i
recuosldesenhoslocalizadosna parte superior da folha; linhas gtossas;traços trêmuÌos;
desenhoslocalizadosno 4oquadrante;ausênciade temáticaespecífica.A forma como essas

il
ÌÉcNrcascRÁFlcAs

mumeres representambraços,olhos e pernassugeremfartade confiançana própriaprodu-


tividadee na manipuraçãodo ambiente,e inadequaçãono contato
com as pessoas.
No gÌupo de murheresnão-obesasdestacaram-se sinaisde agressividade,
dependência
e de falta de controÌe em reÌaçãoao ambiente(tamanhosglobais,olhos e
nariz grandes),
tendência a se guiar mais peÌosimpulsosdo que perareflexão(pescoçogrosso,de lamanho
médioou curto) e confiançanas funçõesintelecúais e sociais(cabeçade tamanho
médio).
Demodo geral,tronco, tórax, peito e pernasforam representados ãe forma adequada,in-
dicandosatisfaçãocom a forma corporal e estabilidad;com relaçãoao corpo. Seg'ndo os
autoÌes,as fontes dos sentimentosde inadequaçãoevidenciadosno desenhoda fisura hu-
manaquanto à imagemcorporaldasmulheresobesaspodem serde diversas,ruttrrúur,qrr"
a análiseadotadano estudo não peÌmitiu identificaÌ.

Estudo
de validade
com avaliação
da auto-estima
Silvae Villemor-Amaral(2o06) rcalizanm um estudocom o obietivo de evidenciara
validadeconconenteentre as categoriasde indicadoresde auto-estimado GAT-Ae do HTp.
Paratanto, foi calculadaa correlaçãoentre os indicadoresde auto-estimados dois rnstru-
mentose também com os resultadosno EMAE- FormaA, um instrumento de auto-ÌeÌato
(Gobittae Guzzo,2004, citadosem Silva e Villemor-Amaral).Do estudopaÌticip arjam32
cÌianças,com idadesentre 7 e L0 anos,de ambosos sexos,freqüentandoda 2". à 4". séries
do ensinofundamentalde uma escolada redepública do interior do Estadode são paulo.
Apenasa fase acromáticado HTP foi aplicada.os dadosmostraramcorreÌaçãopositiva e
moderadaquanto à auto-estimaentÍe o HTp e o CAT-A(0,525).Em relaçãoao EMAE,a
correlaçãocom o CAT-A foi positiva e baixa (0,381), ao passoque com o HTp não foi
encontradacorreÌaçãosignificativa.
Emboraas cÍiançasda amostraem sua maioria tenham apresentadoauto-estimaeleva-
da nos três instrumentos,os resultadosno EMAEmostramuma concentraçãode 93,9olo da
amostracom auto-estimaelevada,em oposiçãoa 78,Io/ono CAT-Ae 87,So/o no HTp.Segundo
asautoras,os dadosdemonstraÌamque os índicesde correlaçãoentÌe os instrumentosper-
mitiram encontrarevidênciade vaÌidadepara o cAr-A e o HTp.As autorasconcluemainda
queas diferençasobservadas entre os diferentesinstrumentospodem deconerdo fato de o
HTPavaÌiara auto-estimaimplícita e o EMAE,por apoiar-semais nas funçõescognitivas,
avaÌiara auto-estimaexplícita.o GAT-Aavaliariaosdoistipos de auto-estima,
por serproÍetivo
mastambémpor se apoiarnas funçõescognitivas,devido ao seu caráterverbal.

Estudos
de identificação
de abusosexual
SegundoDeffenbaugh(2003),à medida que os testesproietivosse popularizaram,au-
mentouo númerode estudosvisandoà identificaçãode elementosquepemitissema detecção
de problemasemocionaisespecíficos.
Essatendênciapode serparticularmenteobservada na
buscade indicadoresde abusosexualpor meio do HTPe do desenhoda figurahumana.
A autora aponta aÌgunsesforçosnessesentido.Já na décadade L94O,Laura Bender,
que trabalhavacom criançasvítimas de abusosexual,identificou casaspintadasou con-
totnadasem vermelho e chaminése árvoresfálicascomo elementosbastantefreqüentes
na produçãodessascrianças. Essesdadosforam confirmadosposteriormentepor Cohen e
Phelps,quarentaanosdepois.
P R O ì t Í t v o s P A n a A V A L I A ç Ã oP s l c o L ó c Ì c Á
A Ì u  L r z  ç ó É 5Ê M M É Ì O O O s

Deffenbaugh(2003)Ievantaváriascríticasaousodosdesenhos,comoasjáconheci
dasalegaçõesdesubjetividadedainterpletaçãoefaltadefidedignidadeevalidadedoins-
que a maioÌ exposiçãodas criançasà sexualida-
trumento. Levantatambém a hipótesede
a adequaçãode manuais escritosno passado'
de, nos dias de hoie, coloque em dúvida
?rimeiro' é um instrumen-
R;;;h..., porém que o HTP apÌesenta"benefícioslogísticos"'
e é de baixo custo;pode serreaplicadodurante
to que demandapouco tt*po d" aplicação
e' nessesentido' consisteem "anota-
o períodode terapia,para avaliaçãodo tratamento (1984), para
lriu.rçu. A autora concordacom Allan e clatk
,uãr-"ìr*o" oa evoluçaoou como os
ser usado apenasno início da relaçãopaciente-terapeuta;
irr"* o HTP não deve € sentimentosda criança' o teÍapeuta
desenhosfavoÍecema expressãodãs pensamentos particuÌar; no mesmo
pãlïrãìrã-i., puru .orrúdá-lu u .*florur partes de 'm desenho
à produção constituemlma-valiosa fonte
sentido,as verbalizaçõe,oultiuttçu às'otiaàus
a principal vantagema9 UlP é favorecer
de informaçÕespara o teraPeuta'Paraa autora'
que lhe permiiirá falar a respeitode seusproble-
uma relaçãode confiançacom o terapeuta ao instrumento baseia-
de^Deffenbaugh
mas de modo mais aberto' Boaparte'dasreitrições
(2000)'
," .ru p"rqrriru feita por Palmere colaboradores
de 47 criançascom histórico confitmado
Palmer(2000)avaliou ãs desenhosdo HTP
deabusosexual,arquivadosnoNewarkBethlsraelMedicalCenter'emNewJersey'nos
EstadosUnidos,comaproduçãodeumgrupocompostoporcriançasdeduasigreiaslocaÍs' foi
das criançasdo primeiro grupo' A avaliação
além dos iÌmãos, sem historico de abuso'
meio de quatro es;las desenvorvidas por van Hutton (1994,citado por Palmere
feita poÌ AH
conceitosreÌevantesem teÌmos sexuais);
colaboÌadores):SRC (preocupaçãocom (vi-
e hostilidade); ivGA (retraimento. e acessibiiidaderesguardada)e ADST
(agressividade
e falta de confiança)'As escalasde Van Hutton
gilânciaquanto ao perigo,uíi"'at At 'u'ptita que avaliam'
agrupadossegundoo aspectocomum
consistemem um conlunto de itens
ênfaseno dormitório' cabeloenfatizadoou
Por exemplo, a escalaSRcinclui itens"coÀo:
figura do sexo opostoao da criança'pescoço
eiaborado,indefiniçãodo 'e"o da figura'
pïesençade dentes,ênfaseno quelxo, dedos
comprido. A escalaAH contém itens como pesquisa'
Emborareconheçamaslimitaçõesda
semmãos,maior pressãona linha da boca' parao
concluem que o HTP não contribui
os autores,com base,ro, ."r.riiuoor obtidos, quó nao sejausado para identifical
processode avaliaçãoo" uU'"o sexuale recomendam re-
u o.onct'tiu ãl'su pástiUifiaaae' os probÈmasmetodológicosdo estudo
ou confirmar
sobrevariáveisculturaise raciais'nível
conhecidospelosautores'aotfutiu de informações de
anterioÌ; registrosdos abusos,sexuais
de escolaridadedos pais e treinamento aÌtístico avaÌíação ade-
qualidadeirregular uies; composiçãodo grupo de controle sem
" "'i"ito'-u terem' também eles' sido vítimas de abuso
ãuadada possibilidadede os irmãos incluídos inferior à médiado
ï.#'ï#;;ã,ìãatt do grupo de comparaçãoeÌa L ano e meio 17
grupo vitimizado era de 4 anos e 6 mesesa
grupo clínico; a amplitude de"idàes no -l]tt u
comparação.aamplitude era de 5 anos'e2
anose 5 meses,enquantono grupo de controle adequadodasvariáveis':
.
d;;;;;i;sda idaàe, não houvè
13 anose 9 meses;
"1é-
g ê n e r o e n í v e l s o c i a l . E m n e n . h u m m o m e n t o o s a u t o r e s l e vEm
a muma
e m c sala
o n t ade
o faula'
a t o dIe o H T P
de forma coletiva nas crianças, nas próprias igrejas.
sido aplicado infor- '
fornecidas quarro folhas de papel às crianças,ápósuma bÌeve apresentação
foram
m a n d o q u e a p e s q u i s a V i s a v a a c o m p r " e ' ' d " r m e l h osolicitados'
r o s d e s e nNão
h o shá
d ecomo
c a s aasse
,áIVoIeepê
há daOos sobre como os desenhos foram
dascrianças. Nao â
desenhare o envolvimento emocionalcom
guÌar que a motivaçãooã"ui ttlu"çut para
tarefateÍIhamsidoosmesmo'aog"'poclínico'submetidoaaplicaçõesindividuaisem
)
T É c N r c A sc R Á F t c Á s 257

üm contexto de investigaçãomais amplo. Não nos deteremosmais nessapesquisa,mas


elaé um bom exemplo de como muitas vezesas conclusõesde estudoscom gravesfalhas
metodológicas passama ser citadascomo evidênciasfavoráveisou desfavoráveis a um
instrumento,sem levar em conta as limitaçõesou inadequaçõesdessesestudos.
Briggse Lehman(1989)demonstramcomo osdesenhossãoimportantesparao diagnós- l
11
ticode ocoÌrênciade abusosexual.Em seuartigo, asautorasapÍesentamdois casos:um em ì
Ì
quehaviaa certezade abusosexuaÌ- uma menina de cercade 4 anosrelatouà mãe que um ;l

homema havia tocadonos genitais;no outro caso,a suspeitafoi Ìevantadapela professora


deuma menina de 5 anos, assustadacom a quantidadede símbolosfálicos que a garota
apresentavaem seusdesenhos,e com a impressãoque elesthe transmitiamde que "algo nào
estavabem". A anáÌiseisoladade partesdos desenhospouco esclarece, mas a produçãodas
duasmeninas mostra claramenteum aÌto grau de ansiedadee sentimentode desamparo
fientea um ambienteameaçador.Destaca-se a pobrezade detalhesdasrepresentações de si
quandocomparadasàs de outrasfigurasdesenhadas poÍ essascrianças.
Apóso incidente,a primeira menina passou a se desenharsembraçose com a linha do
solo.Seismesesapós o ocorrido, e antesde ser levadaa uma psicóloga,ela desenhou"o
homemque eu não gosto" com braçosÌargose grandese traçoscomo dedos,além de fazer
um pequenotÌaço na região genital. As corespredominantessão loxo, vermelho e pleto.
Segundoasautoras,seusdesenhosmostramque ela passavapor grandesofrimentoemocio-
de terapia,a garotadesenhoua si e à telapeuta.Emboraa terapeuta
nal.Apósa primeiÌa sessão
sejadesenhadacom mais detalhes,as duasfigurastêm dois braçose não há linha do solo.
Abaixo,um desenhoem que a criançase apÌesentana banheira,cercadapor "uma aranha,
uma cobra,uma minhoca e uma abelha",realizadoantesda intervençãoterapêutica(Briggs
e Lehman,1989,p. 138).

\
,e
possl-
A segunda criança de fato estava sofrendo abuso sexual por paÌte de seu irmão e
velho.
velmentó da mãe - que tinha histórico de abuso sexual em relação ao filho mais
fálicos, apre-
como apontam as autoras, os desenhos dessa menina, a1ém dos folmatos
casa' o irmão
sentavam auto-retratos sem feições e sem braços; ao desenhar a familia na
A Ì u Á L r z Á ç Õ a sÊ M M É Ì o o o s p R o J E Ì t v o sp Á R A a v A L t A c à o p s t c o L ó c t c Â

foi representadocom um "terceiro membro", próximo à virilha, que mais se assemelhaa


um pênis ereto.Abaixo, o desenhoda casa.O contorno foi feito pela professora.As duas
figurassuperioressãorespectivamente o irmão e a mãe; a criançase repÌesentaao Ìado da
porta, apoiadana linha do solo. (Briggse Lehman, 1989,p. 746)

A comparação de elementosisoÌadosdos desenhosprovavelmentenão seÍiaconclu-


siva.Mas o tom emocionaÌgeraldessasproduçÕes permiteídentificarcÌaramenteo am-
biente percebidocomo altamenteameaçador. Associadosaos reÌatosverbaisque provo-
caram e aos dados de observaçãodo comportamento dessascriançasem diferentes
ambientes,os desenhoscontribuíram decisivamentepara a identificaçãoda naturezada
agressãosofridapor elas.
Apenascomo ilustraçãoda força dramáticada expressão
gráfica,é mostradoa seguiro
desenhode uma menina de 13 anos estupradarepetidamente;o desenhoencontra-sedis-
ponível em http://rwvw.amnestyusa.org/child_soldiers/pages.
TÉcNtcas GRÁitcas
259

Avaliação
de intervenção
Gomes(s.d.)apÌesentaparte dos resultadosde um estudosobrea formaçãodo sintoma
na criança,que envoÌveo atendimentodos pais. como parte do procedimento,é felto o
psicodiagnóstico da criança,com basenos modelosde ocampo e Trinca,usandoo HTp e, no
casode criançasmenores,também a hora lúdica. Após o psicodiagnóstico,é propostoo
atendimentodos casaisem 8 sessões de psicoteÌapiabrevecom enfoquepsicanalítico.Após
o enceÌramentoda intervençãoterapêutica,as criançassãoreavaliadas.
o estudomostra 6 casose demonstraa utiÌidade do HTp nessecontexto.Segundoa
autora,o instrumentopermitiu identificar os recursosegóicospresentese traçosda persona-
IidadedascÌianças.As árvoresmostÌaram-seadequadas àsfaixasetáriasdossujeitos;ascasas
revelarammais claramenteas dificuldadesda dinâmica conjugalou familiar, o que funda-
mentou o deslocamentodo foco do atendimento,dascriançasparaos pais;asfigurashuma-
naspeÍmitiram observara construçãoda identidade,o contato interpessoale dadosreferen-
tes à autonomia e à independência.os desenhosno retesteevidenciarama evoluçãodas
crianças:mostÌaram-semaiselaboradose com uso de coresmaisadequado;revelaramque as
criançasestavammais segurase aÌiviadasdo peso das questõesfamiliares,mais abertasa
interessescompatíveiscom a idade,mais independentese desenvolvidassocialmente,com
remissãodasqueixasde condutainiciais.Paraa autoÌa,"o uso de algumastécnicasproietivas
peÌmite ao cÌínico maior clarezana atÌibuição das hipótesesdiagnósticase, conseqüente-
mente, na escolhado melhor tipo de interuençãoterapêuticapara o caso"(p.10).

Um estudoemblemático
Meyer,Brown e Levine(1955)realizaramum estudocom pacientesinternadosno Mount
SinaiHospital,na cidadede Nova York,paraa realizaçãode ciÌurgiasinvasivase mutiladoras.
Retomareiaqui esteestudo,apesardeter sidorealizadohá maisde 30 anos,por considerá-
ìo um exemplode pesquisaadequadaàs técnicasproietivasgráficassob váriosaspectos:
- A coÌetade dadossedeu em um contextoreal de práticaciínica.
- O testefoi aplicadoem sessões individuais.
- Há dadosobietivossobÌea situaçãode vida atual dos participantes.
- Há dadosde anamnesee de entrevistapsiquiátricarealizadascom os participantes.
- Os desenhosforam feitos em duassituaçõesdistintas,antese apósos pÌocedimentos
ciúrgicos.
- As inteÌpÌetaçõesprocuramapreendero sentidogÌobaÌde cadaprodução,semdeixar
de mencionardetalhesrelevantesem termosde significado.
- As interpÌetaçõessão articuìadascom os dadosdo histórico de cadapacientee com
uma teoria,no caso,a psicanáìise.

Além disso,o próprio estudoteve origem em uma situaçãoprática,na qual os dados


obtidospor meio da anamnesee da entrevistapsiquiátricamostraram-seinsuficientesparaa
compreensão mais profunda dasvivênciasem situaçãode crisedos pacientese dosrecursos
que elesmobilizam para supoltálas. Essainsuficiênciafoi observadaa partir de um caso
concretode mastectomia.
A paciente,de 54 anos, informou ter tido uma vida normal e feÌiz, excetopela
oerdade um fiÌho de dez anos de idade, há nove anos.Relatoutel soflido muito na
A Ì U A L I Z A ç Õ E 5 E M M É Ì O D O S P R O J Ê Ì I V O SP A R À Â V Á L I A ç À O P S I C O L ó G I C A

ocasiãoda perda,mas afiÌmou ter conseguidosuperara tragédia.A conclusãoa partir


desses e de outrosdadosfoi a de que a pacientepoderiasofrerum períodode depressão
Ìeveapósa cirurgia,sem outrasconseqüências psicológicaspreocupantes, o que de fato
aconteceu.Porém,no terceirodia após a operação,a pacienterelatou um sonho em
que via o filho morto correndo.Ela procuravaalcançáJo,com os braçosabertos,mas
eÌesempreescapava. O médico perguntouìhe em que direçãoo menino corria,ao que
a pacienterespondeu,sem hesitar:"Paraa esquerda,doutor, semprepara a esquerda".
A mama esquerdafora removida.
A equipede atendimentoconsiderouque o sonho indicava a associação da perdada
nìama com a perdado filho, uma atitude inconscienteem relaçãoà cirurgia que não fora
identificadanas entrevistas.Ponderou-seque o uso de uma técnica projetiva contribuiria
com dadossobreasatitudesinconscientesem relaçãoa mudançascorporaisprovocadaspor
intervençõescirúrgicas.Um projeto coniunto usando o HTP e a avaliaçãopsiquiátricafoi
entãodesenvolvido,tema do artigo aqui referido.
Dos 22 pacientesque seriamsubmetidosa procedimentosinvasivose/ou mutiladores,
9 realizaramapenasa primeira sériede desenhos,poÌ diferentesmotivos, e 5 se recusaram
a fazero teste.A forma aplicadafoi simpÌificada:os pacientesrecebiamiápis grafite n' 2 e
lápis de cor comuns;era-lhessolicitadoque desenhassem uma casa,uma árvoree uma
figura humana de cadasexo,usandoos Ìápis que quisessem.
A interpretaçãodos desenhosbaseou-se na apreensãoglobaÌdos desenhose os detalhes
relevantes, de modo geralatípicos,foram examinadosno contextoda apreensão global.
Inicialmentefoi feita uma análisecegapor psicólogosque desconheciamo histórico clínico
dos casos.EssasanáÌisesmostraram-se bastanteprecisas,não só em teÌmos de aspectos
psicológicoscomo também quanto à naturezada doençafísica e do tratamento cirúrgico.
As conclusõesfinais levaram em conta a interpretaçãodo desenhoarticuladacom os da-
dos do histórico de cadapaciente.
Um dado que chamou a atenção foi a grande diferença na qualidade das produções pré-
operatóriase pós-operatórias,a ponto de secogitar seteriam sido feitas pelo mesmo indivíduo,
uma diferença, segundo os autoÌes, comparável à que se observa na produção de indiúduos
submetidos a anos de teraDia Dsicanalítica.
A presençade regressão pré-operatóriafoi marcante,com váriasproduçõescom caracte-
rísticasde deterioraçãoesquizofrênica.Nessesentido, destacam-se uma casacom braçose
pernas,uma figura humana semelhantea um sapoe outra com dois narizes,além de uma
representação vistasde frente,entreoutras.Houvecasosem que a cor
de perfiÌ com asfeiçÕes
foi usadade modo irreaiista,como uma árvorecom folhascor-de-rosa. Quanto ao conteúdo,
ocorreramdesenhosde criançascomo figurashumanas,bÌotos em lugarde árvoresformadas
e casassemelhantes a caixas.Outrosexemplosde regressão foram identificadosem desenhos
quepÍocuÍavamocuparo mínimo espaçopossívele uma instânciade lábiosprotraídoscom
ênfasena oralidade. j

Essespacientesnão apresentaramnenhum indício de desorganização na entrevistapsi-


quiátrica.A qualidadeda produçãono pós-operatóriodependeudo resultadoda cirurgia.Os
pacientessubmetidosa mutiiaçõesvisíveisapÌesentaÌamos mesmoselementosdefensivos
observados na produçãoanteriorà intervenção.No casode pacientescuiá cirurgianão resul-
,a
tou em mutilaçõesvisíveisou apenasmínimas,a produçãopós-cirúrgicafoi sensivelmente
melhor. As coresse mostraramcompatíveiscom a reaiidade,desenhosmonocromáticos
foram substituídospor desenhoscoloridos,as figuras infantis foram trocadaspor figuras
adultas,inclusiveos brotos por árvoresmaduras,e as casasse mostrarammais receptivas e
v'
:

T É c N r c a sc R Á Ê t c Á s

aDeÌtas para o entorno; a Ìepresentação


da casacom braçose pernasfoi substituídapor um
desenhocompatívelcom a realidadee a boca com ênfasena oralìdadefoi modificada.o
tom emocional dos desenhostambém apresentousensívelmelhora.
Paraos autores,a regressão é comum em pessoas doentes.Essesaspectosencontra-
dos em vários pacientese que desapareceram apósa cirurgia,seriammanifestações da
intensaansiedadedessaspessoas diante não só do procedimentocirúrgicoem si, como
tambémda mutilação decorrentee da possibiÌidadeda morte. comparandoos dados
observados nessaamostrade pacientesque passavampor momentosagudosda doença
com as observações de Levinee Brown,mencionadospeÌosautores,em relaçãoa aspec-
tos regressivos em doentescrônicos,os autoresobservaramque o grau de ansiedade eo
sentimentode catástrofeiminente sãobem mais acentuados no grupo agudo.os autores
destacamainda que o grau de regressão observadonos desenhossuperouem muito o
observadonas entrevistascÌínicas.
Duasexceções à melhorianos desenhos pós-cirúrgicos
foram observadas.
Umafoi uma
pacientede 45 anoscom longo históticode cirurgiasretaise anais,desdeaproximadamen-
te 15 anos de idade.Muitas vezesa pacienteintroduziao dedo indicadorno ânuspara
facilitara passagem das fezes.Era gagadesdeos 7 anos de idade e apresentouenurese
noturnaaté os 17 anos,Os autoresidentificaramuma grandesemelhança entreseusdese-
nhos da figura humana e a figura de João Felpudo(Struv\rweÌpeter),
o personagemde um
conto infantii alemão,conforme mostra a ilustraçãoabaixo (extraídade Meyer, Brown e
Levine,1955,p. aa\.
262 A Ì U Á L I Z Á ç Ó E S E M M É Ì O D O 5 P R O I É T I V O 5P Â R A A V A L I Â ç Â O P S I C O L ó C I C A

Olha pra e1e!OÌha só!


Cabeloe mãosde dar dó.
As unhas nunca cortou,
cor de carvão, um horrorl
Água? Nunca! Ô fedorl
E cada dia é pior!
Qualquer coisa é melhor
que esseJoào Catimbó.
(tradução de Angela-Lago)1

Outra produção que não apresentou diferençassignificativas foi a de uma pacientecom


recursosinteÌectuais limítrofes que finalmente sedispuseraa remover um cisto do escalpo.O
cisto tinha o tamanho de uma bola de belseboì e estava presente há 25 anos. Na fasepré-
cirúrgica todos os desenhos- casa,árvore e pessoa- tinham uma "boÌa" que se projetavadas
extremidadessuperiores.Após a remoção do cisto, as protuberâncias ainda apareceramnos
desenhos,como se ele tivessesido "integrado" à imagem corporaì da paciente. Os desenhos
da paciente anteriores à cirurgia são mostrados abaixo (extraído de Meyer, Brown e Levine,
19ss,p. 4a1).

Esteúltimo tambémfoi o único casoem que a doençasomáticafoi expressadiretamente


no desenho.Nos outros pacientes,as alusõesapresentaram carátersimbólico e tenderama
desaparecer ou semodificar apósa cirurgia:um homem portador de câncerretal pintou de
vermeìhoos degrausque conduzemà casa;uma mulher com suspeitade câncerde mama
desenhoua casaperfeitamentesimétrica,excetopor uma ianela ÍepÍesentadaapenaspelo
contorno,dando a impressãode vazio,desenhadano mesmolado da mama afetada.Já um
pacienteque seriasubmetidoa hemipeìvectomia,decorrentede sarcomana viriÌha, omitiu a
parteinferior da figura humana, o que foi identificadopelos autorescomo um processode
negação;no desenhoda árvore,uma linha incÌinadabizafia coÍta o tronco; no pós-operató-
rio, o corpo da figura humana é omitido abaixoda linha do pescoço;após3 meses,as duas
pernasaparecemno desenho,emboraa pernaesquerda(correspondente ao membro ampu-

tado),tenha o mutilado. Outra paciente,com suspeitade câncerde mama,desenhouuma
casaperfeitamentesiÌnétrica,excetopela ausênciada paredeesquerda;a figura humana foi

r llustração
de loão teìpudoê traduçãodos versosdisponíveis
em http://vw\r.angelalago.com.br/1
HoÍfmann.html

''i
ÌÉcNlcas cRÁFrcas

desenhadacomo uma menina de seteanos,com o pé esquerdodeformado.Na cirurgiafoi


constatadoque se tratavade um tumor benigno e a mama foi preservada. A casadesenha-
da apósa cirurgiaé perfeitamentesimétricae íntegra,e a figura humana é uma adolescente
com os seiosbem Ìepresentados.
Os três últimos casoscitados,assimcomo o sonho da pacienteque deu origemao
proieto, apresentamcorrespondênciaentre lateralidadeanatômicae lateralidadeda repre-
sentaçãosimbólica da parte do corpo afetada.Essedado reforçao caráteÌde auto-tetrato
dos desenhos.
Ainda segundoos autores,no grupo de pacientesestudados,asmudançasmaisdramáti-
casfOramObServadas nos desenhosda casa.Issopodeserexplicadopor doismotivos:plimei-
ro, a correspondênciaentre casae si-mesmoé menos óbvia, uma vez que, dos três temas
solicitados,apenasa casanão é um organismovivo, o que mobilizariamenosdefesas; segun-
do, a casapode sertambéma representação de um lugarseguro,associadoàsnoçõesdelal ou
figuramaterna,o que the conferealto vaÌor emocionaÌem uma situaçãode carátertão amea-
çadorcomo aquelaem que os pacientesseencontravam.PoÍ outro lado, foi possíveldlferen-
ciar aspectosmais estáveisda personalidadee conteúdosmais diretamenteassociados ao
momento de crise.

FINAIS
coNSTDERAÇÕES
Nâ prática clínica, os desenhos,como iá mencionadováriasvezesnos capítuÌossobre
técnicasprotetivasgráficas,não devemservistoscomo mera somatóriade sinaisou caracte-
rísticasde produçãoque se prestam,ou não, a exercíciosmatemáticos.Se,por um Ìado, a
identificaç-o de característicasprópriasde gruposclínicosespecíficoscontribui com dados
importantespara a compreensáoda dinâmica ou da patologiasubiacente,por outrô nada
dizem sobreãs especificidades dos casos,como fica clato nos estudosbaseadosem itens
nos
isolados.Eventoscomo abusosexual,possibilidadede mutilaçàoou presençade doença
genitaisnão,,cria" características elesterão impacto na personalidadeúnica so-
específicas;
o
úre a qual se abatem,que mobilizará,à suamaneira,os recursospossíveispara enfrentar
índices
traumãou a ameaça.Essaconfiguraçãosingularde forçasescapacompletamenteaos_
numéricos,aositens isoladosou àscategoriasamplase abstratas.Quem esperaa elaboração
de escalasde itens isoÌadosque Ìesultemem um valor numérico e asseguÍem o diagnóstico
certamentesefrustrará.Apenasa consideração da produçãográficacomo um todo e na sua
singularidadepoderá revelarde modo dramáticoas conseqüências desseseventossoble a
personalidadeglobal.
que excedeo que as
Os desenhospodem expÌessaro sofrimentocom uma intensidade
gráfica
palavras,e muito menos os-números,podem dar conta. Parao cliente,a expressão
dos conteúdos
favorecea elaboraçãodos conflitos ou, pelo menos,a maior conscientização
dolorosose estimuÌaverbalizaçÕes Parao clínico, eÌespermitemapÌoúmaÌ-sedo
associadas.
mundo interno dessaspessoas, de suasansiedades e principaistemoÍes'assimcomo dos re-
e o acolhimentode
cursosde que dispõempaÍa supoÌtálos,a fim de fornecerlheso apoio
quenecessltam-oquenemsempreéexplicitadonasentrevistas'Porém'essesdadosnãose
e o lastro pes-
dão a conhecerem teÌmos absolutos.Caúeao profissionaÌusara experiência
soalpara relacioná-losem articulações mais complexas,de acordocom o método clínico' A
utilidadedastécnicasploletivasgráficas,quandosubordinadasaométodoclínico,éinesti-
a quem atende'
mávelparao profissionalque traúalhacom asquestõesda vida realdaqueles
264 A Ì U A L I Z A ç Õ E 5 E M M É Ì O D O 5 PR O J E Ì t V o 5 p Á R A
A V A L I A ç Ã O p S t c o L ó c t c Â

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