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RESUMO
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a importância da inclusão social dos
alunos com altas habilidades\ superdotação a partir das contribuições da Psicologia
Sócio-Histórica de Vigotski. Consiste então num ensaio acadêmico onde serão expostos
os nossos pontos de vista, que terão o embasamento teórico-metodológico crítico do
materialismo histórico-dialético. Ressaltamos a pertinência de discutir esta temática,
diante da crescente necessidade de se promover a inclusão no contexto das diversidades
existentes na escola e devido a este assunto não ser muito visibilizado no Brasil, além
de serem escassas as pesquisas atrelando as altas habilidades\ superdotação com a
perspectiva de Vigotski. A partir disso problematizamos dois aspectos importantes:
inicialmente, a necessidade de pensar numa concepção ampliada de inclusão escolar, e
em seguida, as contribuições vigotskianas para a inclusão escolar desses alunos. Logo,
no caso das altas habilidades\ superdotação, Vigotski ressalta a necessidade de
compreender o aluno no seu processo de desenvolvimento e aprendizagem a partir da
sua individualidade e complexidade, fazendo uma mudança de procedimentos, atentar
para a promoção das formas especiais de talento e focar na promoção do
desenvolvimento socioemocional deles a partir da sua função de mediador e propulsor
do desenvolvimento, a fim de fazer com que se sintam bem consigo mesmos e com o
fato de serem diferentes, onde a escola e a família são aliados nesse processo.
This article aims to reflect on the importance of social inclusion of students with high
abilities\ giftedness from the contributions of Vigotski's Socio-Historical Psychology. It
is then an academic essay where our views will be exposed, which will have the critical
theoretical-methodological basis of historical-dialectical materialism. We emphasize the
relevance of discussing this theme, given the growing need to promote inclusion in the
context of existing diversity in the school and because this subject is not very visible in
Brazil, and there is little research linking high skills\ giftedness with Vigotski's
perspective. From this we problematize two important aspects: initially, the need to
think about a broader conception of school inclusion, and then the Vigotskian
contributions to the school inclusion of these students. Therefore, in the case of high
skills\ giftedness, Vigotski emphasizes the need to understand the student in their
development and learning process from their individuality and complexity, making a
change of procedures, paying attention to the promotion of special forms of talent and
focus in promoting their socio-emotional development from their role as mediator and
driver of development in order to make them feel good about themselves and the fact
that they are different, where school and family are allies in this process.
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Ressaltamos ainda que não é nosso objetivo oferecer soluções prontas e nem
definitivas para a problemática supracitada, mas sim fomentar reflexões sobre pontos
que consideramos relevantes para a inclusão escolar e a proposição de políticas públicas
direcionadas para sujeitos com altas habilidades\ superdotação. Trata-se então de um
texto teórico-discursivo onde traremos o nosso posicionamento sobre o referido assunto.
Para fazer esta discussão, tivemos como base algumas obras de Vigotski:
Desenvolvimento Psicológico na Infância (1998), A Formação Social da Mente: O
Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores (2007); Pensamento e
Linguagem (2008), A Construção do Pensamento e da Linguagem (2009), A
Imaginação e a Arte na Infância (2009), Psicologia Pedagógica (2010), Imaginação e
Criatividade na Infância (2014) e de alguns textos que versam sobre a temática da
inclusão escolar das pessoas com altas habilidades\ superdotação para, a partir de uma
leitura crítica, compreender melhor os principais questionamentos sobre este tema.
Também fizemos uso dos seguintes conceitos de Vigotski: Desenvolvimento humano;
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP); emoções\ afetividade e Criatividade e
Imaginação.
Isso quer dizer que, de um modo geral, essas pessoas possuem um maior
desempenho escolar do que os seus pares. Todavia, essas características não podem ser
generalizadas de forma simultânea ou em um mesmo nível para todos os alunos desse
grupo, pois elas vão depender do tipo de alta habilidade\ superdotação de cada um.
Também é importante ressaltar que esses alunos podem ter baixo rendimento e
desempenho escolar, falta de interesse e motivação para assuntos acadêmicos e também
problemas de adaptação a esse contexto, pois apresentam necessidades educacionais
especiais e precisam de intervenções pedagógicas diferenciadas, que na prática não têm
acontecido (OLIVEIRA; FERREIRA, s\d).
Matos e Maciel (2016) corroborando com os autores acima, acrescentam que
outro fator que faz com que estes alunos não sejam devidamente assistidos é o fato de o
tema das altas habilidades\ superdotação ser pouco conhecido e debatido pelos
educadores. Isso mostra o quão necessário é fomentar discussões sobre este assunto, a
fim de que seja problematizado como podem ser feitas intervenções diferenciadas
necessárias para a aprendizagem efetiva deste público.
Ponte e Silva (2015) ressaltam que as dificuldades de acesso à escola não se
limitam ás barreiras físicas. Isso porque existem também outros tipos de obstáculos para
a inclusão das pessoas na escola e na sociedade atual, como, por exemplo, o preconceito
e os estereótipos, os estigmas, os abusos de direitos, a negação, etc.
Dentre os principais motivos para isso está o fato de que as ideias de inclusão
escolar ainda estarem voltadas predominantemente para aqueles alunos que possuem um
desempenho inferior aos demais, partindo do pressuposto de que os que possuem altas
habilidades\ superdotação não precisam de atendimento educacional especial
(OLIVEIRA; FERREIRA, s\d).
Além disso, muitos professores não sabem identificar essas habilidades e
acabam tendo dificuldades de favorecer o desenvolvimento desses alunos ou, quando
conseguem reconhecê-las, sentem-se despreparados para intervir. O reflexo disso tem
sido a realização de práticas excludentes e desestimulantes para esses sujeitos
(OLIVEIRA; FERREIRA, s\d).
Um dos resultados disso é a evasão escolar. Isso porque é comum esses alunos
não serem atendidos em suas especificidades, o que geralmente faz com que eles se
sintam excluídos e desestimulados a prosseguir no processo educativo. Também é
frequente que muitos deles acabem passando despercebidos por seus professores e sua
família (PISKE, 2013).
Diante disso percebemos a necessidade de os educadores e os familiares desses
alunos compreendam que eles possuem características distintas dos outros da sua idade,
que se referem ás suas distintas áreas de interesse e que quando não são identificados e
motivados, podem se frustrar e evadir da escola por falta de atendimento adequado
(PISKE, 2013). Também é importante lembrar que:
1
Tal concepção ampliada de inclusão escolar é da autoria da profa. Nadja Maria Vieira da Silva, doutora
em Psicologia Cognitiva pela UFPE e docente do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade Federal de
Alagoas.
que isso aconteça é preciso que sejam desconstruídos alguns preconceitos em torno da
temática das altas habilidades\ superdotação.
Falar em acessibilidade atitudinal e inclusão social na escola é muito
pertinente, tendo em vista que, geralmente quando pensamos em acessibilidade e
inclusão social no espaço escolar, é comum ter-se em mente as pessoas com deficiências
físicas, transtornos globais do desenvolvimento, etc.
Entretanto, fomentar a inclusão é contemplar também as diversas
possibilidades de acessibilidade que podem ser implementadas, onde aqui focalizamos a
atitudinal. A acessibilidade atitudinal refere-se então ao conjunto de ações voltado para
a preparação e seguridade das pessoas que possuem altas habilidades\ superdotação.
Tal como já foi ressaltado, as dificuldades de acesso à escola não se limitam ás
barreiras físicas, não se pode esquecer que existem também outros tipos de obstáculos
para a inclusão das pessoas na escola e na sociedade atual, como, por exemplo, o
preconceito e os estereótipos, os estigmas, os abusos de direitos, a negação, etc.
(PONTE; SILVA, 2015).
Acreditamos ser um passo fundamental para a prática de uma concepção de
inclusão escolar ampliada e, consequentemente, a promoção da acessibilidade atitudinal
de pessoas com altas habilidades\ superdotação é a superação de preconceitos em torno
desse público. Então, um preconceito muito comum é o de que esses alunos, por serem
rotulados como acima da média, não necessitam de atendimento educacional
especializado. Outro preconceito é a concepção de que alunos com deficiências físicas e
intelectuais necessitam mais de atendimento educacional especializado do que os com
altas habilidades\ superdotação.
Para Pérez e Freitas (2009) isso acontece porque há uma ideia arraigada de que
as deficiências precisam de auxílio, enquanto que os que possuem altas habilidades\
superdotação já são privilegiados. Além disso, Pérez (2007) traz o seu posicionamento
de que:
Piske (2013) acrescenta que no caso dos discentes que possuem altas
habilidades\superdotação o apoio emocional do professor e da família é ainda mais
necessário a fim de promover a motivação deles e o desenvolvimento de suas
potencialidades. O docente precisa estar atento às reações emocionais, funcionando
como um mediador desses alunos com a sua família, que deve ser orientada a também a
dar suporte socioemocional a eles. Nesse sentido Vigotski (2010) pontua que:
Então, incluir o aluno com altas habilidades superdotação vai muito além do
acompanhamento do seu progresso intelectual, pois implica também em aceitar a
diferença no contexto escolar, promover o seu bom desempenho integral, o que inclui o
seu desenvolvimento socioemocional e diminuir a possibilidade de evasão escolar. Para
isso a autora propõe o reconhecimento da maturidade emocional como algo importante
para que os alunos superdotados possam progredir em seu aprendizado e desenvolvam
sua capacidade de reagir na sociedade. Mas para que isso se concretize é preciso que a
escola e a família conheçam o potencial desse alunado e os seus aspectos
socioemocionais para que possam lidar com situações específicas e singulares (PISKE,
2013).
No caso da escola podemos destacar o professor como um importante
instrumento de mediação entre o aluno e o conhecimento disponível ao seu redor, tal
como propôs Vigotski (2008). Na concepção vigotskiana o professor é visto como um
agente propulsor de desenvolvimento, ao aliar intencionalidade da aprendizagem,
compreendendo cada aluno em suas individualidades e fazendo organização curricular
dos conteúdos trabalhado em sala de aula.
Nesse sentido, Piske (2013) ressalta que é importante que o professor saiba
direcionar o conhecimento para a realidade de cada aluno, procurando discernir o que é
fundamental para motivar o aluno a ter progresso na aprendizagem. Torna-se necessário
que os discentes consigam compreender daquilo que estão aprendendo, caso contrário
aquilo não lhe fará sentido. Daí a relevância de instigar o aprender através de um
processo de aprendizagem criativo e significante. Em sua ação mediadora o professor
precisa estar atento a forma de pensar de cada aluno e do quão importante é a
construção da afetividade. Ele então faz uso de processos interativos e de diálogos com
os alunos e seus pais e outras metodologias que os auxiliem a ter equilíbrio no
desenvolvimento afetivo na escola.
Entretanto, Piske (2013) pontua que, infelizmente, o atendimento aos alunos
com altas habilidades\ superdotação, principalmente no que se refere aos aspectos
socioemocionais, ainda é muito restrito e deficitário. Como já vem sendo bem
enfatizado neste artigo, eles necessitam de atendimento educacional especial para que
possam ter um desempenho saudável em cada etapa do seu desenvolvimento. Para isso
é preciso que os educadores compreendam que, para promover a inclusão desse público,
é necessário ir além da mudança de práticas educativas, que em sua maioria têm como
foco o desenvolvimento cognitivo; enquanto que a esfera socioemocional não tem
recebido tanta importância.
Então, para Vigotski o processo de educação precisa estar direcionado para
atividade pessoal do aluno e toda arte do educador consiste somente em orientar e
regular essa atividade (PISKE, 2013). Ele ainda ressalta que: “[...] a educação se faz
através da própria experiência do aluno, a qual é inteiramente determinada pelo meio e
nesse processo o papel do mestre consiste em organizar e regular o meio” (VIGOTSKI,
2010, p. 67).
Além disso, uma vez que para a perspectiva vigotskiana a definição de altas
habilidades\ superdotação está relacionada à capacidade de desenvolvimento humano,
não podemos esquecer que tal capacidade tem relação direta com à forma como o
docente trabalha em sala de aula. Quando a aula consegue despertar a criatividade e o
interesse do aluno, o mesmo conseguirá expressar sua alta capacidade e habilidade em
produzir, assim como os seus mais preciosos sentimentos e emoções que envolvem todo
o contexto do processo de ensino-aprendizagem. Também é importante que o professor
procure instigar esse aluno a desenvolver autonomia e para realizar atividades e suas
próprias produções, valorizando a sua experiência (PISKE, 2013).
Para que os alunos com altas habilidades\ superdotação possam desenvolver o
seu potencial, é preciso estimular a sua criatividade. Segundo Vigotski (2009) a
criatividade é um aspecto muito importante para o desenvolvimento humano, tendo em
vista que:
Além disso, como já foi bem ressaltado neste texto, a família também pode
auxiliar no desenvolvimento e inclusão dos alunos com altas habilidades\ superdotação.
Tal como Vigotski (2007) defende, a aprendizagem tem início muito antes de as
crianças começarem a frequentar a escola: “[...] Qualquer situação de aprendizado com
a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia” (VIGOTSKI,
2007, p. 94). Nesse sentido, os pais podem ensiná-las habilidades socioemocionais para
que desenvolvam uma autoestima saudável, lidar com as frustrações da vida e com as
suas emoções e sentimentos, etc.
Não esquecendo que, uma vez que esses alunos possuem uma alta capacidade
cognitiva, eles costumam ser alvo de críticas e julgamentos. Isso porque, o fato de terem
altas habilidades\ superdotação não significa que não precisam de motivação para
desenvolver seus talentos e prosseguir nos estudos. A família também poderá dar
suporte emocional quando acontecer de esse aluno nos momentos em que ele se
incompreendido por aqueles que estão ao seu redor, como coleguinhas, professores, etc.
Quando os pais e pessoas mais próximas estão presentes na vida da criança fica
mais fácil perceber eventuais dificuldades e procurar ajuda de psicólogos,
neuropsicólogos, psicopedagogos, dentre outros profissionais, para poder compreender
as especificidades da criança e auxiliar a escola no atendimento das necessidades dela.
Assim, destacamos aqui a importância de a família, junto com a escola,
assumirem a sua parcela de responsabilidade no desenvolvimento da criança, sendo ela
o grupo primário ao qual a criança tem contato, no intuito de fomentar a inclusão social
dos sujeitos com altas habilidades\ superdotação. Afinal, Vigotski (2008) já dizia: “Com
o auxílio de uma outra pessoa, toda criança pode fazer mais do que faria sozinha – ainda
que se restringindo aos limites estabelecidos pelo grau de seu desenvolvimento”
(VIGOTSKI, 2008, p. 129).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contato:
PÉREZ, S. P. B. Inclusão para superdotados. Ciência Hoje, São Paulo, v.41, n.245, p.8-
11, 2007. Disponível em: < http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-c2008/245>.
Acesso em: 06 Set. 2019.
PISKE, F. H. R. O Desenvolvimento socioemocional de alunos com altas
habilidades\ superdotação (AH\SD) no contexto escolar: contribuições a partir de
Vygotsky. 2013, 166f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-
Graduação em Educação. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2013. Disponível
em: <https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/301showfull>. Acesso em 21 Jul. 2019.