Você está na página 1de 18

Máquinas Térmicas

Prof. Carlos Gurgel


Dep. Engenharia Mecânica – FT
Universidade de Brasília

Capítulo II – Revisão de Termodinâmica (Eastop and McConkey,


1993)

1. Calor, trabalho, sistema termodinâmico e reversibilidade

Tais conceitos são importantes no estudo da termodinâmica aplicada, isto é, das


máquinas térmicas.

 Calor  Forma de energia que é transferida de um corpo para outro de menor


temperatura em virtude da diferença de temperatura entre eles. Quando a
temperatura de um corpo A é a mesma de um corpo B, e estes são colocados em
contato, nenhuma transferência de calor é observada (equilíbrio térmico). Calor é
observável apenas durante o processo de transferência, portanto é uma forma de
energia em trânsito. Se calor flui de A para B, observa-se uma diminuição na
energia intrínseca de A com proporcional aumento da energia intrínseca de B.
Corpos não contêm nem possuem calor.
 Sistema  Um sistema é caracterizado por uma coleção de matéria dentro de
fronteiras (paredes) identificáveis. As paredes não precisam ser fixas. Um sistema
é dito fechado quando não se observa transferência de massa através das paredes
(impermeabilidade das paredes). Sistema aberto admite transferência de massa
através das paredes, isto é, pelo menos uma parede é permeável. Exemplos de
sistema fechado e aberto podem ser vistos na figura abaixo ( Fig. II.1). Observe-se
que a definição das fronteiras em sistemas abertos deveria envolver apenas o
fluido mas como veremos em seguida, não há perda de informações quando se
adota tal procedimento. A pressão (N / m2 ou Pa) de um sistema é a força exercida
pelo mesmo por unidade de área das suas fronteiras (facilmente mensurável). O
volume específico (m3 / kg) de um sistema é a medida do volume ocupado por
unidade de massa do sistema. O trabalho (N m) é definido como o produto da
força pelo deslocamento na direção do ponto de aplicação desta força. Trabalho é

15
uma forma de energia em trânsito. Calor e trabalho são transitórios e não devem
ser confundidos com a energia intrínseca que o sistema possui.

Parede
Diatérmica ou Transferência
Adiabática de Calor

Parede
Permeável ou Parede
Impermeável Móvel ou
Rígida

Transferência
de Massa Transferência
de Trabalho

Sistema
Parede
Reativa ou
Inerte
Sistema

Fronteiras
Identificáveis
Turbina

Fronteiras deveriam
envolver apenas o fluido

Figura II-1: Sistemas e fronteiras.

A figura abaixo (Fig. II.2) ilustra três formas de se alterar a energia intrínseca de um
sistema. Podemos identificar trabalho mecânico de compressão que como premissa é
realizável somente se o sistema possui uma parede móvel. Adição de calor por pelo
menos uma parede diatérmica e trabalho de fricção por alteração do momento do
fluido (forças viscosas). Nos três casos se verifica aumento da energia intrínseca do

16
sistema, se as paredes forem adiabáticas, exceto para o caso de transferência de calor
que exige que parte da parede seja diatérmica.

Sistema

Transferência
Transferência Sistema de Trabalho
Sistema de Calor

Figura II-2: Formas de se aumentar a energia intrínseca de um sistema.

 Convenção  Neste curso adotaremos a seguinte convenção para os sinais


referentes ao calor e ao trabalho. Todas as entradas serão positivas.
 Calor introduzido ao sistema Q > 0.
 Trabalho realizado sobre o sistema W > 0.
Devemos utilizar setas que se representarem entradas no sistema (calor ou
trabalho) devem apontar no sentido do sistema. Calor e trabalho oriundos do
sistema (trabalho realizado, calor rejeitado) são negativos e suas respectivas setas
apontam para fora do sistema.
 Unidades  Sistema Internacional, N (Newton), J (Joule), W (Watt), Pa (Pascal),
K (Kelvin). Destes, a escala de temperatura necessita de comentários. A escala
Kelvin é absoluta. Um termômetro a gás indicaria –273 K se extrapolássemos a
curva obtida entre 0 e 100 C para um volume nulo de gás.

17
T ( C)
100
V- pc
0
V

V-pv

-273

Figura II-3: Temperatura  Volume.

 Substância de Trabalho  Em máquinas térmicas, estamos interessados com


transferência de energia para o sistema ou do sistema para a vizinhança. A matéria
contida num sistema pode ser líquido, vapor ou gás (substância de trabalho). Em
qualquer instante, o estado da substância pode ser definido por certas
características conhecidas como propriedades termodinâmicas do fluido.
Exemplo: Pressão, temperatura, volume específico, energia interna específica,
entalpia específica e entropia específica. Sabe-se que para qualquer substância de
trabalho pura, duas propriedades independentes são suficientes para se definir o
estado do fluido que podem ser representadas num diagrama de propriedades.
Diagramas mais importantes: pressãovolume, e temperaturaentropia. Algumas
vezes, entalpiaentropia e pressãoentalpia.

p p 1 T
1 p 1
p 2 p 2
p 2 p
p

v T s

Figura II-4: Estado de um fluido num diagrama de propriedades.

 Reversibilidade  Sabemos que o estado de um fluido pode ser representado por


um ponto num diagrama utilizando-se propriedades como coordenadas. Se num
processo de mudança de estado conseguirmos caracterizar, em todos os instantes,
os estados intermediários no diagrama, dizemos que o processo é reversível. Isto
é, o fluido ao mudar de estado passa continuamente por uma série de estados de
equilíbrio. Portanto, pode-se unir os dois estados por uma linha em qualquer
diagrama de propriedades.
18
1 1
p p

2 2

v v
Reversível Irreversível
(hipotético) (real)

Figura II-5: Processo reversível e irreversível.

 Critérios  Quando o fluido passa por um processo reversível, ambos, o fluido e


a vizinhança podem sempre retornar aos seus estados originais. Critérios:
a) O processo deve ocorrer sem atrito, incluindo-se atrito interno ao fluido.
b) A diferença de pressão entre o fluido e a vizinhança durante um processo
deve ser infinitamente pequena.
c) A diferença de temperatura entre o fluido e a vizinhança durante um
processo deve ser infinitamente pequena. Em outras palavras, o processo de
transferência de calor deve ocorrer de maneira infinitamente lenta.

 Trabalho Reversível  Considere um fluido isento de fricção interna contido


num cilindro com um pistão. Defina o trabalho de compressão feito no sistema.

Sistema
p
2
(p+dp)A
dF
p 1

dv v

Figura II-6: Trabalho reversível.

O trabalho realizado no fluido é dado pelo produto da força com o deslocamento.


Como o diferencial de pressão é infinitesimal, o deslocamento também o será.
De acordo com a convenção adotada, o trabalho quando introduzido no sistema
(compressão) deve ser positivo. Isto é, num diagrama p – V, parte-se de um ponto a V1
qualquer para um ponto V2, caminhando na direção da diminuição desta propriedade

19
tal que V2 < V1. Isto implica em que dV é negativo. Portanto, no cálculo do trabalho
devemos trocar o sinal para que a nossa convenção não seja violada. Portanto,

dW  ( pA) dl  pdV

Lembrando que na compressão o volume é diminuído (sinal negativo). Em termos


mássicos, onde v é o volume específico e m a massa do sistema, temos

dW  mpdv

Sendo o processo reversível, os estados 1 e 2 podem ser unidos por uma linha no
diagrama de propriedades p – v.
O trabalho realizado no fluido pode então ser quantificado pela área sobre a curva do
processo no diagrama p  v, conforme ilustrado na Fig. II-6. Assim,

2 1
W=m
W  m pdv m pdv
1 2

Exemplo II-1:

Uma unidade de massa de fluido a 3 bar, com volume específico de 0.18 m3 / kg,
contida num sistema cilindro pistão, sofre expansão até 0.6 bar. O processo de
expansão segue a lei p = c / v2 onde c é uma constante. Calcule o trabalho
desenvolvido no processo.

Sabemos que

2
W  m pdv
1

Substituindo-se p na integral de tal forma que possamos operá-la, temos

v v
2
dv  1
2

W  m  2   cm   
v1 v  v  v1

O valor de c pode ser obtido com ajuda do estado inicial 1.


p1 3 bar e v1 0.18 m3 / kg. Portanto,

20
c  p1v12 3 0.18 2 0.0972 bar (m 3 / kg) 2 .

c 0.0972
Com v2 dado por, v 2   (m 3 / kg) , portanto,
p2 0.6

 1 1 
W  0.0972 10 5    N m / kg
 0.18 0.402 

W  29840 N m / kg .

A figura abaixo ilustra o processo.

p [N/m2]

3105 1

p =c/v2
2
0.6105

v [m3/kg]

OBS.: Ao fazer um exercício, procure sempre desenhar esquematicamente os


processos, antes de iniciar a solução, para que o desenvolvimento matemático fique
organizado. Ao final redesenhe os processos com os valores obtidos e verifique se a
resposta está fazendo sentido, fisicamente falando.

Como o trabalho é negativo significa que foi realizado pelo sistema e tem valor
numericamente igual a 29840 N m / kg.

Quando um fluido é submetido a uma série de processo e retorna ao estado inicial,


caracteriza um ciclo termodinâmico. Sendo os processo intermediários reversíveis, o
ciclo é dito também reversível. Por exemplo, um ciclo reversível consistindo de 4
processos reversíveis. 1  2, 2  3, 3  4 e finalmente, 4 1 pode ser visto na Fig.
II-7. O trabalho líquido é dado pela área interna definida pelos diferentes processos.

21
3 3
p p

4 4
2 2

1 1

v v

Figura II-7: Ciclo reversível num diagrama p v.

O ciclo anti-horário define trabalho líquido realizado no sistema. O caso horário


define trabalho líquido realizado pelo sistema.

Nem sempre um processo que esteja representado num diagrama p v representa


trabalho. Por exemplo, considere a expansão livre e por etapas de um gás conforme o
desenho da Fig. II-8. Esta expansão não realiza trabalho pois não desloca nehuma
superfície física.

1
p

B C D
A

Figura II-8: Expansão livre.

Como expansão livre é um processo irreversível, a área abaixo da linha pontilhada


não representa trabalho. Pode se verificar que entre os estados 1 e 2, nenhum
pistão foi deslocado, nenhuma turbina foi acionada, etc., portanto, nenhum
trabalho foi realizado.
 Primeira Lei da Termodinâmica  O conceito de energia e a hipótese de que
não poderia ser criada nem destruída foi desenvolvido por cientistas no começo do
século 19, tornando-se conhecido como o Princípio da Conservação de Energia.
A Primeira Lei da Termodinâmica é meramente uma declaração deste princípio
quando nos referimos à energia térmica (calor) e à energia mecânica (trabalho).

22
Quando um sistema realiza um ciclo termodinâmico a energia intrínseca do sistema é
a mesma no início e no final do ciclo. Sabemos que o sistema interage com o meio na
forma de calor (adicionado ou rejeitado) e trabalho (realizado pelo ou no sistema); o

trabalho líquido pode ser definido como  W e o calor envolvido como  Q


O O
onde

o símbolo 
O
representa a soma num ciclo completo.

Como a energia intrínseca do sistema é invariável, a Primeira Lei da Termodinâmica


estabelece que:

Quando um sistema realiza um ciclo termodinâmico o calor transferido do meio para


o sistema, adicionado ou rejeitado, somado ao trabalho realizado, do ou para o sistema
pelas vizinhanças deve ser nulo.

Matematicamente,

 Q   W 0 .
O O

Exemplo II-2:
Numa planta a vapor, a turbina desenvolve 1000 kW. O calor transferido para o vapor,
na caldeira, é de 2800 kJ / kg, e, no condensador, rejeitado a 2100 kJ / kg. Sabendo
que a trabalho de bombeamento requerido para transferir o condensado de volta para a
caldeira é de 5 kW, calcule o fluxo mássico de vapor. O diagrama do ciclo com as
fronteiras devidamente identificadas pode ser visto na Fig. II-9:

Calor transferido   Q 2800  2100 700 kJ / kg


O

Trabalho realizado   W 5  1000  995


O
kW

Se o fluxo mássico de vapor é dado por m


 (kg/s), então o fluxo, por unidade de

tempo, de vapor é  Q 700m


O
kW.

Aplicando-se a primeira lei,

 Q   W 0 .
O O

23
Substituindo-se as parcelas, 700m
  995 0 . Portanto, m
 = 995/700 = 1.421 kg/s.

Qin Qout
Caldeira Turbina

Wout
Bomba Condensador
Win

Figura II-9: Planta de vapor.

Foi mostrado que a energia intrínseca de um sistema é invariável quando as interações


de calor e trabalho são tais que o sistema realiza um ciclo termodinâmico, isto é,
partindo de um estado inicial, retorna para o mesmo estado ao final das interações.
Agora, considere duas situações; uma em que a energia intrínseca do sistema ao final
de um processo é maior que a inicial ou, a energia intrínseca final é menor que a
inicial. Isto é,

Ganho ou Perda de
energia intrínseca = calor + trabalho transferidos (líquido)

Quando um fluido não está em movimento, sua energia intrínseca por unidade de
massa é conhecida como energia interna específica u do fluido (kJ / kg), ou U (kJ)
para uma certa quantidade de massa m.
A energia específica interna de um fluido depende de sua pressão e temperatura, duas
propriedades e por conseguinte também é uma propriedade. Sendo uma propriedade, a
diferença de energia interna de uma dada massa m na mudança de estado de 1 para 2 é
dada por U2- U1.
Portanto a primeira lei pode ser escrita na forma mais geral

2 2
U 2  U 1  dQ   dW .
1 1

24
Esta equação é válida para um processo ou uma série de processos entre o estado 1 e
2, desde que não exista fluxo de massa na fronteira do sistema (paredes
impermeáveis).
Para qualquer processo onde não ocorra fluxo de massa, verifica-se que calor ou é
transferido para o sistema ou rejeitado mas nunca transferido e rejeitado
simultaneamente. O mesmo ocorre com o trabalho, ou é executado no sistema ou pelo
sistema, nunca os dois. Consequentemente,

U 2  U 1 Q  W , para um processo com paredes impermeáveis.

Na forma diferencial, por unidade de massa,

du dQ  dW .

Exemplo II-3:
Em um cilindro, o ar comprimido tem uma energia interna específica de 420 kJ / kg
no início de um processo de expansão e 200 kJ / kg após a expansão. Calcule o calor
transferido quando o trabalho executado pelo ar no interior do cilindro durante a
expansão é de 100 kJ / kg.

Q  W u 2  u1 ,.

Substituindo-se os valores conhecidos,

Q  100 200  420 . Desta forma, Q  120 kJ / kg.

Segundo a convenção adotada, o sinal negativo indica calor rejeitado durante o


processo e numericamente igual à 120 kJ / kg.
As equações acima (primeira lei) foram desenvolvidas sem estabelecer-se a premissa
do processo ser reversível ou irreversível, portanto vale para os dois casos. No caso
particular do processo reversível, sabemos que o trabalho pode ser calculado pela área
sobre a curva entre diferentes estados num diagrama p — v.
Então, para um processo reversível entre 1 e 2, num sistema com fronteiras
impermeáveis

2
W  m pdv
1

25
ou, na forma diferencial,

dW  mpdv .

Desta forma, para qualquer processo reversível, sem fluxo de massa, a primeira lei
pode ser escrita como

dQ du  pdv

ou, na forma integral,

2
Q (u 2  u1 )  pdv .
1

Esta duas últimas expressões podem ser usadas apenas em processos IDEAIS, isto é,
reversíveis. A formulação é específica para processos sem fluxo de massa.

Existem diversos processos em que a massa do sistema, máquina ou parte de uma


máquina, está fluindo. Isto implica na existência de outras formas de energia. Quando
uma certa massa está fluindo com uma velocidade C, a um certo nível Z acima de um
referencial, está massa possui um energia total dada por u  (C 2 / 2)  Zg , onde C2 / 2 é
a energia cinética por unidade de massa do fluido e Zg é a energia potencial por
unidade de massa do fluido.
Este fluxo através de máquinas, na maioria dos casos, é constante. Este tipo de
escoamento é denominado escoamento em regime permanente.
Considere um fluido escoando em regime permanente com um fluxo m
 através de
parte de uma máquina térmica qualquer. Este sistema é denominado, aberto, em
contraste com sistemas fechados (impermeáveis) tratados anteriormente. A fronteira ,
conforme desenhada na Fig. II-10, intercepta o tubo de entrada 1 e o de saída 2. Esta
fronteira permeável é denominada superfície de controle e o sistema como um todo,
volume de controle.

26
Entrada1 + 
Q

F
ronteira

Z1 S
aída2


W
Z2

Figura II-10: Exemplo de sistema aberto.

Podem-se identificar 3 formas de fluxo através da fronteira; calor, trabalho e fluxo


mássico. Destes, o último requer um tratamento mais detalhado de como ele atua na
fronteira. Devido à viscosidade do fluido, ocorre atrito deste com as paredes internas
da máquina. Para se desenvolver o escoamento, esta perda de energia por atrito
precisa ser vencida, como também qualquer diferença de cota entre a entrada e a saída
(energia potencial).
Desta forma, uma certa quantidade de energia é necessária para se introduzir/retirar
fluido através das respectivas superfícies de controle.
A seção de entrada está destacada na Fig. II-11.

Entrada 1 Fronteira

p1

Figura II-11:Seção de entrada no volume de controle.

Sendo a área transversal do tubo A1, um elemento de fluido ocupando o comprimento


l requer a seguinte energia para atravessar a fronteira
p1 A1 l  p1 ( volume do elemento de fluido).

27
Desta forma, a energia requerida por unidade de massa é p1 v1 onde v1 é o volume
específico do fluido na seção 1. De maneira similar, a energia envolvida no processo
de retirada de uma massa unitária de fluido para fora da fronteira é p 2 v 2 onde v2 é o
volume específico do fluido na seção 2.

A energia associada à massa de escoamento na entrada e saída do volume de controle


é dada, respectivamente por

 C2 
m  u1  1  Z 1 g  mais a parcela de energia m
 p1 v1 e
 2 

 C2 
m u 2  2  Z 2 g  mais a parcela de energia m
 p2 v2 .
 2 

Como estamos considerando regime permanente, a primeira lei estabelece a relação

 C2   C2 
m  u1  1  Z 1 g  p1v1   Q  W m  u 2  2  Z 2 g  p 2 v 2  .
 2   2 

Na maioria dos problema de termodinâmica aplicada, as mudanças de energia


potencial são desprezíveis (Z1Z2) e, portanto, os termos podem ser omitidos da
equação. Os termos u e pv aparecem nos dois lados da equação e se manifestarão
sempre que houver escoamento ou movimento na fronteira. O primeiro termo é
intrínseco à massa de fluido e o segundo sempre ocorre nas entradas e saídas do
volume de controle ou na superfície de controle (sistemas fechados) . A soma destes
termos é denominada entalpia específica, e tem o símbolo h, portanto

h u  pv .

A entalpia específica de um fluido é uma propriedade uma vez que consiste da soma
de duas propriedades e como tal pode ser utilizada em qualquer problema, seja ele
com escoamento ou sistema fechado. A equação da energia para regime permanente
pode ser escrita como

 C2   C2 
m  h1  1  Z 1 g   Q  W m  h2  2  Z 2 g  .
 2   2 
28
Em regime permanente, o escoamento mássico por unidade de tempo numa dada
seção será a mesma para qualquer outra na superfície de controle. O fluxo mássico
numa dada seção A, onde a velocidade do fluido é C, portanto, a taxa volumétrica
atravessando a seção é CA. Esta taxa volumétrica dividida pelo volume específico nos
fornece o fluxo mássico,

CA
m
   CA kg / s
v

Com referência a Fig. II-10,

C1 A1 C 2 A2
m
   .
v1 v2

Exemplo II-4:
Uma turbina a gás fornece 14000 kW com um fluxo mássico de 17 kg / s. A entalpia
específica dos gases na entrada e saída são1200 kJ / kg e 360 kJ / kg, respectivamente.
A velocidade dos gases na entrada é de 60 m / s e na saída de 150 m / s. Calcule a taxa
em que calor é rejeitado pela turbina. Determine a área da seção de entrada da turbina
sabendo que o volume específico neste ponto é 0.5 m3 / kg.

Diagrama

1 Superfície de controle

-W

-Q 2

Desprezando-se variações de energia potencial,

 C2   C2 
m  h1  1   Q  W m  h2  2 .

 2   2 

Cálculo das parcelas de energia:

29
C1 60 2
Cinética em 1   1.8 kJ/kg
2 2

C 22 150 2
Cinética em 2   11 .25 kJ/kg
2 2

W  14000 kW.

Substituindo-se esses valores na equação e utilizando as entalpias,

  14000 17(360  11 .25)


17(1200  1.8)  Q

Então,   119 .3
Q kW.

Desta forma, o calor rejeitado pela turbina é 119.3 kW.


Aplicando-se a equação adequada, determinamos a área do tubo na entrada.

C1 A1
m
 
v1

m
 v1 17 0.5
Isolando-se a área temos A1   0.142 m2.
C1 60

Exemplo II-5:
Ar é admitido em regime permanente em um compressor com fluxo mássico igual a
0.4 kg / s a 6.0 m / s e 1 bar com volume específico de 0.85 m3 / kg.
O ar é liberado pelo compressor a 4.5 m / s e 6.9 bar. O volume específico é igual a
0.16 m3 / kg. A energia interna específica do ar de saída é 88 kJ / kg maior que a do ar
de entrada.
Água de resfriamento absorve calor do ar comprimido na taxa de 59 kW. Determine a
potência necessária para a compressão e a área transversal dos tubos de entrada e
saída.
Como nos dados de entrada aparece energia interna e desprezando as variações de
energia potencial, é mais adequado utilizar-se a primeira lei na forma,

 C2   C2 
m u1  1  p1v1   Q  W m  u 2  2  p 2 v 2  .
 2   2 

O diagrama a seguir apresenta esquematicamente o compressor em estudo.


30
A
r1 A
r2


W

Q

Águ
a Água
(s
aíd
a) (e
ntra
da)

C 1 6. 0 2
Cinética em 1   0.018 kJ / kg.
2 2

C 22 4.5 2
Cinética em 2   0.0101 kJ / kg.
2 2

Forças de pressão em 1  p1 v1 1 10 5 0.85 85 kJ / kg.

Forças de pressão em 2  p 2 v 2 6.9 10 5 0.16 110 .4 kJ / kg.

Variação de energia interna entre 1 e 2  u 2  u1 88 kJ / kg.

Calor rejeitado    59
Q kW.

Substituindo-se,

  C 2 C 2  
Q  W m  u 2  u1    p 2 v 2  p1 v1    2  1  
  2 2  

 59  W 0.4(88  110 .4  85  0.0101  0.018)

W 104.4 kW.

Potência requerida para o processo de compressão: 104.4 kW.

Sabendo-se que

31
C1 A1
m
 
v1

0.4 0.85
A1  0.057 m2
6

C 2 A2
m
 
v2

0.4 0.16
A1  0.014 m2
.5

Comentários:
Notar como a mudança de energia cinética entre a entrada e a saída é desprezível
comparada com os outros termos. Neste exemplo, o fato do processo de compressão
ser efetuado em etapas distintas, isto é, admissão, compressão num cilindro fechado e,
finalmente, descarga, a hipótese de regime permanente pode ser aplicada uma vez que
o processo como um todo acontece com inúmeras repetições por minuto do ciclo o
que, na média, minimiza os efeitos transientes.

32

Você também pode gostar