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DOI: 10.22199/S07187475.2018.0001.00001
ELISA MEDICI PIZÃO YOSHIDA 1; MAKILIM NUNES BAPTISTA 2; IRANI IRACEMA DE LIMA ARGIMON 3
1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS, Campinas, Brasil; 2. UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO, São
Francisco, Brasil; 3. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL, Rio Grande do Sul, Brasil
RESUMO
OBJETIVO: obter evidências de validade baseada na relação com outras variáveis da segunda versão da Escala Diagnóstica
Adaptativa Operacionalizada de Autorrelato (EDAO-AR). METODO: As outras medidas foram obtidas com a Escala Baptista de
Depressão - Versão Adulto (EBADEP-A) e Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II), além do critério de autorrelato de
diagnóstico anterior de depressão. A amostra foi composta de 92 estudantes, maioria do sexo feminino e idade média de 23,8
(DP=7,6) anos. RESULTADOS: Houve predomínio de adaptação eficaz, sem sintomas depressivos, para ambos os sexos. A EDAO
foi discriminativa para os participantes separados em dois grupos de sintomatologia depressiva. A EDAO-AR também
correlacionou-se negativa e significativamente com a EBADEP-A e BDI-II e esses correlacionaram-se positivamente entre si.
CONCLUSÕES: Os resultados foram interpretados como evidências de validade externa para a EDAO-AR. Limites da pesquisa
são apontados.
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação psicológica; validade; Adaptação.
ABSTRACT
OBJECTIVE: To obtain evidence of validity through other variables from the second version of SRSDOA. METHOD: Other
measures were obtained from the Baptist Depression Scale – Adult Version (EBADEP-A) and the Beck Depression Inventory II
(BDI-II), plus the criterion of self-report of previous depression diagnosis. The sample was composed of 92 students, mostly
female, with an age average of 23,8 (DE = 7,6). RESULTS: There is evidence in favor of an affective adaptation without
depressive symptoms for both male and female. EDAO was a key discriminatory element for participants separated in two
groups of depressive symptoms. EDAO-AR also correlated negatively and significantly with EBADEP-A and DBI-II, which correlated
positively among themselves. CONCLUSIONS: Results were interpreted as evidence of external validity for EDAO-AR. The
boundaries of this study are also shown.
Endereço para correspondência com o Editor: Av. Francisco de Assis Dinis, 227, Parque dos Príncipes, CEP 06030-380, Osasco, SP-Brasil. Tel (11)3684-1497.
E-mail: eyoshida.tln@terra.com.br
| SALUD & SOCIEDAD | V. 9 | No. 1 | PP. 010 – 023 | ENERO - ABRIL | 2018 | ISSN 0718-7475 |
Escala diagnóstica adaptativa operacionalizada de autorrelato (EDAO-AR): Evidências de validade
psicopatológicos (Yoshida & Silva, 2007). ainda, não traz prazer, embora evite conflito;
No entanto, na maioria dos estudantes, e pouquíssimo adequada, quando não traz
sintomas psicopatológicos não se prazer e implica em conflito (Simon, 1989,
encontram associados a um transtorno 1997, 2005).
mental (Igue, Bariani, & Milanesi, 2008;
Polydoro et al., 2001; Reason, Terenzini, & A avaliação da qualidade da adaptação
Domingo, 2006) e devem, portanto, ser de cada escala (A-R e Pr) é determinada
encarados como respostas adaptativas pelo nível de adaptação predominante
circunstanciais e passageiras (Teixeira et dentre as respostas apontadas pelo
al., 2008). avaliado (itens), como sendo mais
características dele. Isto é, cada escala
Há, todavia, situações em que a avalia se a adaptação do respectivo setor é
realização de entrevista constitui-se fator adequada, pouco adequada ou pouquíssimo
limitador para seu emprego. Para esses adequada. E a combinação da qualidade
casos é que foi desenvolvida a versão de adaptativa evidenciada em cada uma delas
autorrelato, objeto mais específico da permite a definição da eficácia adaptativa
presente pesquisa. A Escala Diagnóstica geral: eficaz, ineficaz leve, moderada ou
Adaptativa Operacionalizada de Autorrelato grave (mais detalhes no item Instrumentos,
(EDAO-AR; Yoshida, 2013) ficou constituída incluído na sessão Método). Cabe ainda
por duas escalas que medem, mencionar que cada escala pode ser
respectivamente, a qualidade da adaptação utilizada de modo independente para fins de
das duas principais características da pesquisa, mas para fins clínicos devem ser
personalidade, segundo a definição do empregadas em conjunto, com vistas à
autor: Afetivo-Relacional (A-R) e da avaliação da eficácia adaptativa (Yoshida,
Produtividade (Pr). A A-R integra o conjunto 2013).
de sentimentos, atitudes e ações do
indivíduo no âmbito inter e intrapessoal, O primeiro estudo com a EDAO-AR
enquanto que a Pr, os sentimentos, atitudes contou com amostra de pacientes e
e ações relativas às principais atividades acompanhantes de clínica-escola de
laborais, artísticas, filosóficas ou religiosas psicologia e ambulatório de hospital geral e
do sujeito (Simon, 1989, 1997, 2005). buscou evidências de validade baseadas na
estrutura interna e também nas relações
Os itens da versão de autorrelato ou com variáveis externas (Yoshida, 2013). Os
EDAO-AR (Yoshida, 2013), utilizada nesta resultados apontaram que tanto a escala A-
pesquisa foram desenvolvidos com base em R quanto a Pr detém boa consistência
material proveniente de entrevistas clínicas interna (respectivamente, α = 0,82 e 0,81) e
e nos itens propostos por Simon (1989), avaliam cada qual três dimensões: foco na
para orientar a operacionalização da situação problema, foco nas relações
avaliação da eficácia adaptativa. Cada item interpessoais características de cada setor
apresenta um tipo de resposta possível avaliado e foco no eu. Em relação à medida
frente a situações enfrentadas de validade baseada na relação com
ordinariamente pelas pessoas. Para cada variáveis externas, os resultados sugeriram
situação há três possibilidades de que a escala guarda associação negativa
respostas, cada uma correspondendo a um com a Escala de Avaliação de Sintomas –
nível de qualidade adaptativa: adequado, 40/ EAS-40 (Laloni, 2001), que permite
pouco adequado e pouquíssimo adequado. avaliar a severidade de sintomas
A resposta é adequada quando soluciona o psicopatológicos, segundo quatro
problema, traz prazer e não implica em dimensões: psicoticismo, somatização,
conflito; é pouco adequada se traz prazer obsessividade-compulsividade e ansiedade.
mas implica em algum tipo de conflito, ou A pesquisa apontou ainda a necessidade de
TABELA 1.
Dados Descritivos da EDAO-AR, EBADEP-A e BDI-II (n=92).
TABELA 2.
Médias, desvios padrão e probabilidade associada a Teste t de acordo com o sexo e com a existência de
diagnóstico prévio de depressão.
TABELA 3.
Diferenças de média pelo teste Mann-Whitney de acordo com os escores da EBADEP-A e do BDI-II.
TABELA 4.
Coeficientes de correlação de Pearson (r) entre a EDAO-AR, EBADEP-A e BDI-II (n=92).
adaptativa (Santeiro et al., 2016). Da al. 2013). Quanto à alta correlação positiva
mesma forma, não foram encontradas entre a EBADEP-A e o BDI-II, seria devida
diferenças de sexo em relação a ambas ao fato de ambos avaliarem o mesmo
escalas de depressão. Apesar da literatura construto, apesar de haverem diferenças na
apontar essa diferença em outras amostras distribuição dos itens nos diversos
(Silverstein, Ajdacic-Gross, Rossler & Angst, descritores (Baptista, Cardoso & Gomes,
2017), essa realidade nem sempre é 2012; Baptista & Takahashi, 2013). Os
confirmada, utilizando-se tanto a EBADEP-A dados podem, portanto, ser compreendidos
quanto o BDI, como também ocorreu nos como evidências de validade multidirecional
estudos de Baptista et al. (2006) e Baptista, entre os instrumentos.
Souza e Alves (2008).
Há que se notar ainda que as
Os resultados também apontaram que correlações foram altas e positivas entre o
não houve diferença na eficácia adaptativa escore total da EDAO-AR e cada um dos
entre participantes que afirmaram ter setores, mas um pouco mais fracas entre as
recebido anteriormente diagnóstico de escalas A-R e Pr, o que reforça a ideia de
depressão, quando comparados aos que as duas últimas medem aspectos
demais. Sugerem, portanto, que os diferentes da eficácia adaptativa, ainda que
indivíduos dos dois grupos estariam guardem entre si alto grau de intersecção.
respondendo às vicissitudes da vida com a Esse de fato é um resultado esperado,
mesma qualidade adaptativa. As diferenças quando se considera que ambas as escalas
significantes tanto na EBADEP-A quanto no foram concebidas segundo os mesmos
BDI-II, entre o grupo com diagnóstico prévio critérios para a avaliação da qualidade
de depressão e os demais participantes, adaptativa nas diferentes características da
sugerem que pessoas que apresentaram personalidade, em relação aos quais se
durante o seu desenvolvimento quadro de pressupõe uma interdependência. De fato, é
depressão têm maior tendência a continuar observação corrente na literatura (Luborsky
apresentando sintomas depressivos, & Crits-Christoph, 1998), que padrões
independentemente do sexo. Essa ilação específicos de conduta se desenvolvem e
deve ser tomada com cautela, posto que o são selecionados ao longo da vida e tendem
diagnóstico de depressão foi informado pela a ser utilizados de forma recorrente nas
própria pessoa, sem a confirmação de um diferentes situações enfrentadas pelos
especialista. Ademais, não se dispõe de sujeitos, determinando justamente o perfil
dados quanto ao tempo decorrido entre o de personalidade (Fujita, Nakano &
suposto diagnóstico e a realização da Rondina, 2015)
pesquisa, nem a severidade do quadro
depressivo relatado. Interessante notar que, Considerações Finais
por exemplo, no caso da EBADEP-A, a
mesma apresenta uma adequada Os resultados da presente pesquisa vêm se
capacidade de discriminar grupos critério, somar aos de estudos anteriores que
confirmando tais resultados (Baptista, procuraram obter evidências de validade da
Gomes, & Carneiro, 2013). EDAO-AR e contribuíram para o seu
aperfeiçoamento. Eles sugerem que a
Os resultados também corroboraram escala permite avaliar, de forma confiável, a
estudos que demonstram características qualidade dos recursos adaptativos de
encontradas na avaliação de enfrentamento universitários. Esses fazem parte da parcela
de estressores se correlacionarem com saudável da população e como tal, na sua
menor depressão ou sintomas depressivos grande maioria, respondem de forma
(Brennan, McGrady, Lynch, Schaefer & adequada às situações de ordem relacional
Whearty, 2016; Kotter et al. 2015; Dyrbye et e produtiva, independentemente do sexo.
Operacionalizada de Autorrelato -
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