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Esse é o maior trecho que eu cortei de Lua Nova; é a maior parte do que seria até

então, o capítulo 6 (“Declaração”, na época), além de sete cenas curtas que continuam a
história da “bolsa de estudos” pelo livro, até o fim. Eu pensei que era meio engraçado,
mas meus editores discordaram. Não era necessário, então foi sacrificado no Altar da
Edição.

Bolsa de Estudos

Cena um: um dia depois de Bella assistir ao filme de zumbi com a Jessica:
Em raras ocasiões eu ainda sentia salta de Phoenix, quando provocada. Agora,
por exemplo, eu fui ao Banco Federal de Forks para depositar meu pagamento. O que eu
não daria pela conveniência de um caixa automático. Ou ao menos o anonimato de um
estranho atrás de uma mesa.
“Boa tarde, Bella,” me cumprimentou a mãe de Jéssica.
“Oi, Sra. Stanley.”
“Foi muito bom que pode sair com Jessica noite passada. Já fazia muito tempo.”
Ela fez um “tsc” com a língua, ao mesmo tempo em que sorria para mim,
tentando tornar o som mais amigável. Alguma coisa em minha expressão devia estar
errada, pois o sorriso foi completamente desajeitado, e ela nervosamente passou a mão
no cabelo, onde ficou presa por um minuto; seu cabelo era tão enrolado quanto o de
Jéssica, espalhado num arranjo de cachos grossos.
Sorri de volta, percebendo que eu estava alguns segundos atrasada. Meu tempo
de reação estava enferrujado.
“É” eu disse torcendo para ter saído num tom socialmente aceitável. “Estive
muito ocupada, sabe. Escola... trabalho...” Vasculhei a memória tentando lembrar algo
mais que pudesse ser adicionado a minha curta lista, mas não consegui nada.
“Claro,” ela sorriu mais calorosamente, provavelmente feliz que minha resposta
tenha soado normal.
De repente pensei que talvez esse realmente fosse o motive por trás do sorriso.
Quem sabe o que Jessica havia falado sobre ontem a noite. O que quer que tenha sido
não era totalmente mentira. Eu era a filha da excêntrica ex do Charlie – insanidade pode
ser genético. Antiga integrante das esquisitas da cidade; rapidamente deixei essa para
trás, hesitante. Recém-saída de um coma. Decidi que seriam razões justas para eu ser
louca, isso sem contar as vozes que ouvi, e fiquei imaginando se Sra. Stanley realmente
havia pensado algo assim.
Ela deve ter percebido a especulação em meus olhos. Rapidamente desviou o
olhar, para a janela atrás de mim.
“Trabalho,” repeti, chamando de volta sua atenção enquanto eu colocava meu
pagamento no balcão. “Que é o motivo de eu estar aqui, é claro.”
Ela sorriu novamente. Seu batom estava rachado pelo decorrer do dia, e
claramente ela tinha feito os lábios parecerem mais cheios do que são.
“Como estão as coisas no Newton?” ela questionou.
“Boas. O movimento está melhorando” disse automaticamente, mas ela passa
pelo estacionamento vazio do Olympic todos os dias – ela teria notado algum carro
desconhecido. Provavelmente ela sabia o declínio do negócio de trilhas melhor que eu.
Ela acenou distraidamente enquanto batias no teclado em sua frente. Meus olhos
vagaram pelo balcão marrom escuro, com cada uma de suas brilhantes linhas laranja,
típicas dos anos setenta, ornamentando as beiradas. As paredes e carpetes foram
alterados para um cinza mais neutro, mas os balcões denunciavam a decoração original
do prédio.
“Humm” o resmungo da Sra. Stanley havia sido num tom mais agudo que o
normal. Olhei de volta para ela, quase sem interesse, imaginando se havia alguma
aranha no balcão que a tivesse assustado.
Mas os olhos dela ainda estavam grudados na tela do computador. Os dedos
parados, e seu rosto estampava uma expressão mista de surpresa e desconforto.
Aguardei, mas ela não disse mais nada.
“Algum problema?” Será que o Newton estava enviando cheques sem fundo?
“Não, não” ela balbuciou rapidamente, olhando para mim com uma expressão
estranha em seus olhos. Parecia estar suprimindo algum tipo de felicidade. Lembrou-me
de Jéssica quando tem alguma fofoca nova que ela esteja morrendo de vontade de
contar.
“Você gostaria de um extrato da sua conta?” Sra. Stanley perguntou ansiosa.
Não era costume que eu pedisse – minha conta crescia tão devagar e previsivelmente
que não era difícil fazer as contas de cabeça. Mas a mudança de tom me fez ficar
curiosa. O que estava na tela do computador que a deixou fascinada?
“Claro.” Concordei.
Ela apertou uma tecla, e a impressora rapidamente imprimiu um pequeno
documento.
“Aí está.” Ela arrancou o papel com tanta pressa que o partiu no meio. “Opa,
desculpe por isso.” Ela fuçou pela mesa, sem encontrar meu olhar curioso uma única
vez, até achar um rolo de fita. Ela juntou os dois pedaços de papel antes de me entregar.
“É, obrigado.” Murmurei. Com o pequeno documento em mãos, me virei e fui
em direção a porta, dando uma olhada rápida pensando o que poderia ter causado tanto
espanto na Sra. Stanley.
Pensei que minha conta deveria ter por volta de mil quinhentos e trinta e cinco
dólares. Eu estava errada, eram trinta e seis e cinquenta, não trinta e cinco.
E lá estavam os vinte mil extra.
Congelei onde estava tentando entender os números. A conta estava vinte mil
dólares mais alta do que antes do meu depósito de hoje, que haviam sido depositados
corretamente.
Por um rápido momento cogitei encerrar minha conta imediatamente. Mas, após
respirar com calma, voltei ao balcão em que Sra. Stanley estava esperando com um
brilho de interesse nos olhos.
“Teve algum erro no computador, Sra. Stanley” disse a ela, entregando o extrato
de volta. “devia ter apenas mil quinhentos e trinta e seis dólares e cinquenta centavos.”
Ela riu como se conspirasse algo. “Eu achei que tivesse algo estranho.”
“Só nos meus sonhos, né?” ri de volta, tentando passar normalidade no meu tom
de voz.
Ela digitou avidamente.
“Achei o problema... três semanas atrás houve um depósito de vinte mil dólares
feito por... humm, outro banco aparentemente. Imagino que alguém errou o número da
conta desejada.”
“Quanto problema eu teria se fizesse um retirada?” provoquei.
Ela deu uma risada distraída enquanto ainda digitava.
“Hum” murmurou mais uma vez, a testa franzida formava três profundas rugas.
“Parece uma transferência programada. A gente não recebe muitas dessas. Quer saber?
Vou pedir que a Sra. Gerandy dê uma olhada...” A voz dela sumindo a medida que ela
se virou e foi saindo de perto do computador, esticando o pescoço, tentando ver através
da porta atrás dela. “Charlotte, ocupada?”
Não houve resposta. Sra. Stanley tomou como um não e entrou rapidamente pela
porta de onde deve ser o escritório.
Encarei por uns minutos, procurando por ela, mas sem sucesso. Virei-me e olhei
distraidamente através das janelas da frente, vendo a chuva escorrer pelo vidro. A chuva
escorria de forma imprevisível, as vezes tortuosa devido ao vento. Não contei o tempo
que fiquei esperando. Tentei deixar que minha mente vagasse, pensando em nada, mas
não conseguia voltar ao estado de semiconsciência.
Eventualmente ouvi vozes atrás de mim. Virei, me deparando com Sra. Stanley e
a esposa do Dr. Gernady preenchendo o salão principal com um sorriso educado
estampado nos rostos das duas.
“Desculpe por isso Bella” disse Sra. Gerandy. “Devo conseguir resolver isso
com um telefonema. Você pode aguardar se preferir.” Ela disse indicando uma fila de
cadeiras de madeira encostadas contra a parede. Pareciam cadeiras tiradas da sala de
jantar de alguém.
“Certo” concordei. Andei até as cadeiras e me sentei na do meio, de repente
desejando que eu tivesse um livro comigo. Já fazia um tempo que não lia nada, fora da
escola. E mesmo assim, quando era alguma história de amor ridícula eu trapaceava
lendo resenhas sobre o livro. Era um alívio estar trabalhando com o Criação de
Animais. Mas deve haver outros livros interessantes. Dramas políticos. Mistérios de
assassinatos. Assassinatos horripilantes não era problema; desde que não houvesse uma
trama escondida para que tudo se resolvesse com um romance.
Esperei tempo o suficiente para ficar irritada. Cansei de ficar encarando o
entediante cinza do salão, sem uma pintura para melhorar as paredes vazias. Não
conseguia ficar observando a Sra. Stanley que estava enterrada numa pilha da papeis,
parando vez ou outra para inserir algo no computador – ela olhou para mim uma vez, e
quando viu que eu a encarava ficou desconfortável e derrubou um arquivo. Eu podia
ouvir a voz da Sra. Gerandy, um murmúrio fraco vindo da sala no fundo, mas não era
claro o suficiente para me dar qualquer dica além de que ela havia mentido sobre o
tempo necessário para resolver o problema. Existe um tempo limite em que uma pessoa
consegue deixar a mente vazia, e se isso não acabasse logo, eu não teria mais o que
fazer. Ia ter que pensar. Entrei num silencioso ataque de pânico, tentando pensar em
algum assunto seguro para pensar.
Fui salva pelo reaparecimento da Sra. Gerandy. Eu sorri agradecida quando a
cabeça dela apareceu pela porta, seu grosso cabelo branco chamando minha atenção de
uma vez.
“Bella, pode se juntar a mim?” ela perguntou, percebi nesse momento que ela
permanecia com o telefone apertado contra a orelha.
“Claro” devolvi e ela despareceu.
Sra. Stanley teve que destrancar a meia porta que ficava no final do balcão para
que eu passasse. Seu sorrisão estava distraído, ela evitou meu olhos. Eu tinha certeza
que ela planejava bisbilhotar.
Minha mente viajou por todas as possibilidades cabíveis enquanto eu corria para
o escritório. Alguém estava usando minha conta para lavar dinheiro. Ou talvez Charlie
estivesse aceitando subornos e eu estava acabando com seu esquema. Mas quem teria
essa quantidade de dinheiro para subornar o Charlie? Talvez Charlie estivesse na máfia,
aceitando subornos e lavando dinheiro na minha conta. Não, não dava para imaginar o
Charlie na máfia. Talvez fosse Phil. O quão bem eu realmente conhecia o Phil?
Sra. Gerandy ainda estava no telefone, acenou com o queixo para uma cadeira
dobrável de metal em frente sua mesa. Ela rabiscava apressadamente atrás de um
envelope. Eu me sentei, imaginando se Phil tinha um passado obscuro, e se eu ia para a
prisão.
“Obrigada. Bom, acho que isso é tudo. Sim, sim. Muito obrigada pela sua
ajuda.” Sra. Gerandy sorriu para o telefone antes de desligar. Ela não parecia com raiva
ou sombria. Mais animada e confusa. O que me lembrou da Sra. Stanley no salão.
Brinquei com o possibilidade de pular para fora da porta e assustá-la.
Mas Sra. Gerandy falou.
“Bom, creio ter ótimas notícias... mas não consigo imaginar como não foi
informada disso antes.” Ela me olhava criticamente, como se esperasse que batesse na
minha testa e dissesse ah sim, ESSES vinte mil dólares! Esqueci completamente!
“Ótimas notícias?” Impeli. Essas palavras fazia parecer que o problema era
maior do que ela podia resolver, e agora estava sob a impressão de que sou mais rica do
que pensávamos até uns momentos atrás.
“Bom, se você realmente não sabe... então parabéns! Você foi contemplada com
uma bolsa de estudos do...” ela olhou para a anotação no envelope “do Pacific
Northwest Trust.”.
“Uma bolsa?” Repeti sem acreditar.
“Sim, não é maravilhoso?” Meu Deus, você poderá ir para qualquer universidade
que quiser!”.
Foi no momento que ela sorriu alegremente para minha sorte que eu soube
exatamente de onde vinha o dinheiro. Apesar da repentina raiva, suspeita, ultraje e dor,
tentei falar calmamente.
“Uma bolsa que deposita vinte mil dólares em minha conta,” apontei. “No lugar
de pagar diretamente a instituição. Sem nenhuma forma de verificar se eu estou de fato
usando esse dinheiro para a faculdade.”.
Minha reação a deixou agitada. Pareceu se ofender com minhas palavras.
“Não seria muito inteligente não usar esse dinheiro para o propósito que foi
destinado, Bella, minha querida. Essa uma chance única na vida.”
“Claro” disse azedamente. “E esse Pacific Nothwest Trust disse exatamente o
motivo de eu ser escolhida?”
Ela verificou as notas mais uma vez, a testa franzida por causa do meu tom.
“É muito prestigioso – eles não dão bolsas assim todo ano.”
“Aposto que não.”
Ela me encarou e rapidamente desviou o olhar. ”O banco de Seattle que gerencia
o Trust me direcionou ao homem que administra essas bolsas. Ele disse que elas são
dadas baseadas em mérito, gênero e localização. Direcionadas a mulheres, estudantes de
pequenas cidades que não tem oportunidades nas cidades grandes.”
Parece que alguém estava se achando engraçado.
“Mérito?” Perguntei desaprovando. “Eu tenho média de três ponto sete. Posso
nomear três garotas com notas melhores que as minhas em Forks, e uma delas é a
Jéssica. Além de que – eu nunca mandei aplicação para essa bolsa de estudos.”
Ela ficou muito agitada, pegando e abaixando a caneta. Preocupada com o
pingente que usava entre o dedão e o indicador. Olhou as notas novamente.
“Ele disse exatamente isso...” ela manteve os olhos no envelope, sem ter certeza
de como agir em relação aminha atitude. “Eles não fazem aplicações. Eles olham
aplicações rejeitadas de outras bolsas de estudos e escolhem que acham que foram
injustamente preteridos. Pegaram seu nome de uma aplicação para bolsa baseada em
mérito feita para a Universidade de Washington.”
Senti minha boca torcer para baixo. Eu não sabia que essa aplicação havia sido
rejeitada. Foi algo que fiz muito tempo atrás, antes de...
E eu não havia ido atrás de qualquer outra possibilidade, apesar dos prazos
estarem acabando. Eu não conseguia focar no futuro. Mas a Universidade de
Washington era a única coisa que me manteria perto de Forks e Charlie.
“Como eles conseguem a aplicações rejeitadas?” perguntei monótona.
“Não tenho certeza, querida.” Sra. Gerandy estava infeliz. Ela queria animação e
estava recebendo hostilidade. Queria ter uma forma de explicar que a negatividade não
era para ela. “Mas o administrador deixou o número, caso eu tivesse alguma dúvida –
você pode ligar para ele se quiser. Tenho certeza que ele pode assegurar que esse
dinheiro realmente é para você.”
Eu não tinha dúvidas disso. “Eu gostaria do número.”
Ela anotou rapidamente num pedaço de papel. Fiz uma anotação mental de
anonimamente doar post-its para o banco.
O número era de outro estado. “Imagino que não tenha deixado um e-mail?”
Perguntei cética. Eu não queria aumentar a conta do Charlie.
“Na verdade deixou sim.” Ela sorriu feliz que tinha algo que eu parecia querer.
Ela alcançou o pedaço de papel e escreveu uma segunda linha.
“Obrigada, entrarei em contato assim que chegar em casa.” Minha boca estava
rígida.
“Querida” Sra. Gerandy disse hesitante. “Deveria ficar feliz com isso. É uma
ótima oportunidade.”
“Eu não vou pegar vinte mil dólares que não mereci” respondi tentando não
deixar transparecer o ultraje em minha voz.
Ela mordeu o lábio, e olhou novamente para baixo. Ela também me achava
doida. Bom, eu ia fazê-la dizer em voz alta.
“O que foi?” Disparei.
“Bella...” ela pausou e esperou com os dentes rangidos. “É consideravelmente
mais que vinte mil dólares.”
“Como é?” Engasguei. “Mais?”
“Vinte mil foi apenas o pagamento inicial, na verdade. De agora em diante você
receberá cinco mil dólares por mês enquanto estiver na universidade. O tempo que
demorar em se formar, a bolsa pagando!” Ela ficou animada novamente ao me dizer
isso.
Não consegui falar de imediato, estava em choque. Cinco mil dólares por mês
por tempo indeterminado. Eu queria esmagar alguma coisa.
“Como?” Consegui dizer.
“Não entendo o que quer dizer.”
“Como vou receber cinco mil dólares por mês?”
“Vai ser transferido para sua conta aqui” ela respondeu perplexa.
Houve um segundo de silêncio.
“Vou fechar minha conta, imediatamente.” Disse com uma voz plena.
Levou quinze minutos para convencê-la de que eu não estava brincando. Ela
tinha uma quantidade enorme de motivos do por que isso era uma ideia ruim.
Argumentei calorosamente ate que finalmente me ocorreu que ela estava preocupada em
me entregar os vinte mil dólares. Quem anda com uma quantidade dessa de dinheiro?
“Olha Sra. Gerandy” a tranquilizei. “Quero sacar apenas meus mil e quinhentos.
Ficarei muito feliz se transferisse de volta os vinte mil para a conta de onde veio. Eu
vou ajeitar tudo com esse –“ chequei o papel” – Sr. Isaac Randall. Realmente isso é um
erro.”
Isso pareceu acalmá-la.
Por volta de vinte minutos depois, com um rolo de quinze notas de cem, uma de
vinte, uma de dez, uma de cinco, uma de um e cinquenta centavos no meu bolso,
consegui sair do banco aliviada. Sra. Stanley e Sra. Gerandy ficaram lado a lado no
balcão, me encarando com olhos arregalados.

***

Cena dois: na mesma noite, após ter comprado as motos e visitado Jacob pela
primeira vez:
Fechei a porta atrás de mim e tirei a minha poupança para faculdade do bolso.
Parecia bem pequena enrolada na palma da minha mão. A enfiei no fundo de uma meia
sem par e coloquei de volta na minha gaveta de calcinhas. Provavelmente não era o
esconderijo mais original, mas eu me preocuparia em ser mais criativa depois.
No meu outro bolso estava o pedaço rasgado de papel com o número de telefone
e e-mail de Isaac Randall. Desenterrei o teclado do meu computador e em o liguei,
batendo o pé no chão enquanto a tela lentamente voltava à vida.
Quando eu estava conectada, abri minha conta de e-mail. Procrastinei, deletando
a montanha de spam que havia se acumulado nos poucos dias desde que havia falado
com Reneé. Eventualmente me livrei desse trabalho, e comecei um novo e-mail.
O endereço de e-mail era para “irandall”, então concluí que iria diretamente para
o homem que eu queria.
Prezado Sr. Randall, eu escrevi.
Espero que o senhor se lembre da conversa que teve essa tarde com a Sra.
Gerandy no Banco Federal de Forks. Meu nome é Isabella Swan, e aparentemente o
senhor acredita que eu recebi uma bolsa de estudos bem generosa do The Pacific
Northwest Trust Company.
Eu sinto muito, mas eu não posso aceitar essa bolsa de estudos. Solicitei que o
dinheiro que já recebi seja devolvido para a conta de origem, e fechei minha conta
bancária no Banco Federal de Forks. Por favor, conceda a bolsa de estudos para outro
candidato.
Obrigada, I. Swan.
Foram algumas tentativas até que ficasse com a entonação que eu queria –
formal e definitiva, sem ambiguidades. Eu li duas vezes antes de enviar. Eu não sabia
que tipo de orientações esse tal Sr. Randall havia recebido sobre essa bolsa de estudos
falsa, mas eu não conseguia ver nenhuma lacuna em minha resposta.

***

Cena três: algumas semanas depois, pouco antes do “encontro” de Jacob e


Bella com as motos:
Quando eu voltei, recolhi a correspondência antes de entrar. Folheei rapidamente
pelas contas e anúncios, até chegar à última carta da pilha.
Era um envelope de ofício comum, endereçado para mim – meu nome escrito à
mão, o que era estranho. Olhei com interesse para o endereço do destinatário.
Interesse que rapidamente se transformou em náusea. A carta era do escritório de
designação de bolsas do Pacific Northwest Trust. Não havia endereço de remetente.

Provavelmente era apenas um reconhecimento formal da minha recusa. Tentei


me convencer. Não havia razão para ficar nervosa. Nenhuma razão, exceto pelo
pequeno detalhe que pensar nisso me deixava completamente para baixo, me levando a
um estado zumbi. Apenas isso.
Larguei o resto da correspondência na mesa de Charlie, recolhi meus livros do
chão da sala de estar, e corri para cima. Uma vez no meu quarto, tranquei a porta e
rasguei o envelope. Eu tinha que me lembrar de ficar com raiva. Raiva era a chave.
Querida Sta. Swan,
Permita-me parabeniza-la formalmente por ser contemplada com a prestigiosa
bolsa de estudos J. Nicholls da Pacific Northwest Trust. Essa bolsa de estudos não é
dada com frequência, e deveria se sentir orgulhosa em saber que foi escolhida por
unanimidade para tal honra, pelo comitê de designação.
Houve algumas dificuldades com o envio do dinheiro de sua bolsa, mas, por
favor, não s preocupe. Eu mesmo fiz o possível para que tenha menos inconveniências
possíveis. Por favor, encontre um cheque de vinte e cinco mil dólares junto com esta
carta; o pagamento inicial mais o primeiro mês de sua concessão.
Sinceramente,
I Randall
Raiva não era o problema.
Olhei dentro do envelope e, com toda certeza, havia um cheque dentro.
“Quem são essas pessoas?” rosnei através dos dentes cerrados, amassando a
carta, com uma mão, em uma bola apertada.
Pisei furiosamente andando em direção a minha lixeira, para encontrar o número
do Sr. I. Randall. Não importava se era ligação de longa distância – iria ser uma
conversa realmente curta.
“Ah, merda” sibilei. A lata estava vazia. Charlie havia retirado o lixo.
Joguei o envelope com o cheque em cima da cama e ajeitei a carta novamente,
Era papel timbrado, com Departamento de Designação de Bolsas Pacifica Northwest
escrito em preto no topo do papel, mas não havia informação, endereço ou número de
telefone.
“Droga.”
Me joguei na beirada da cama e tentei pensar com clareza. Obviamente eles
iriam me ignorar. Não tinha como eu ter sido mais clara, então não era falha na
comunicação. Provavelmente não faria diferença eu ligar.
Então havia apenas uma coisa a fazer.
Amassei a carta novamente, amassei o envelope junto com o cheque e disparei
para o andar debaixo.
Charlie estava na sala de estar, com a TV ligada no volume máximo.
Fui até a pia da cozinha e joguei as bolas de papel dentro. Então vasculhei dentro
da gaveta de bagunça até achar uma caixa de fósforos. Acendi um e posicionei
cuidadosamente no papel. Acendi outro e fiz a mesma coisa. Quase acendi um terceiro,
mas o papel já estava queimando então não havia necessidade.
“Bella?” Charlie gritou por cima do volume da TV.
Rapidamente liguei a torneira, com o sentimento de satisfação enquanto a força
da água apagava as chamas e transformava o papel em uma gosma de cinzas.
“Sim, pai?” enfiei os fósforos de volta dentro da gaveta, e fechei
silenciosamente.
“Tá sentindo cheiro de fumaça?”
“Não, pai.”
“Hum.”
Enxaguei toda a pia, garantindo que as cinzas descessem pelo ralo.
Voltei ao meu quarto, me sentindo levemente feliz. Podiam me enviar quantos
cheques quisessem, pensei sombriamente. Eu poderia sempre comprar mais fósforos
quando acabassem.
***

Cena quatro: durante o período que Jacob estava ignorando Bella


Na soleira havia um pacote da FedEx. Peguei curiosamente, esperando um
endereço de retorno da Flórida, mas foi enviado de Seattle. Não havia remetente na
caixa.
Estava endereçada a mim, não ao Charlie, então rasguei a fita que lacrava o
papelão e abri.
Assim que vi o logotipo da Pacific Northwest Trust, senti o estômago revirar
novamente. Caí na cadeira mais próxima olhando para a carta, a raiva crescendo
devagar.
Eu não conseguia ler a carta, por mais que fosse curta. Eu a tirei, coloquei virada
para baixo na mesa, e relutantemente olhei dentro da caixa, para ver o que havia dentro.
Um protuberante envelope de papel manilha. Eu estava com medo de abrir, mas com
raiva suficiente para arrancá-lo logo.
Minha boca estava rígida enquanto eu rasgava o papel, sem me importar em
desfazer o laço. Eu tinha coisas suficiente para lidar. Eu não precisava do lembrete ou
da irritação.
Fiquei em choque, e ainda assim não estava surpresa. O que mais poderia ser
além disso – três grossos amontoados de notas, presos com elásticos brancos. Eu não
precisava olhar os valores, sabia exatamente o quanto eles estavam tentando empurrar
para mim. Eram trinta mil dólares.
Eu levantei o envelope cautelosamente enquanto me levantava, e me virei em
direção a pia. Os fósforos estavam no topo da gaveta de bagunça, exatamente onde os
tinha deixado da última vez. Peguei um e acendi.
Queimou chegando cada vez mais próximo dos meus dedos enquanto eu
encarava o odioso envelope. Eu não conseguia fazer meus dedos soltarem. Apaguei o
fósforo antes que me queimasse, meu rosto retorcido numa careta de nojo.
Peguei a carta da mesa, amassei numa bola de papel e arremessei na outra bacia
da pia. Acendi outro fósforo e enfiei no papel, assistindo com uma cruel satisfação
enquanto queimava. Um aquecimento. Peguei outro fósforo. Novamente, segurei,
queimando, sob o envelope. Mais uma vez, queimou até se aproximar dos meus dedos
antes de eu jogar nas cinzas da carta. Eu não conseguia me forçar a simplesmente
queimar trinta mil dólares.
Então, o que eu faria com isso? Não havia endereço para devolução – Eu tinha
quase certeza que essa empresa não existia de verdade.
E então me lembrei de que eu tinha sim um endereço.
Enfiei o envelope de volta na caixa, arranquei a etiqueta para que ninguém
nunca pudesse encontrar, seria impossível para alguém ligá-la a mim, e fui para minha
caminhonete, resmungando incoerentemente pelo caminho. Eu prometi que faria algo
especialmente imprudente com minha moto essa semana. Faria saltos acrobáticos se
fosse preciso.
Eu odiei cada pedaço do caminho enquanto dirigia através das árvores e da
escuridão, cerrando os dentes até minha mandíbula doer. Os pesadelos seriam intensos
essa noite – essa situação clamava por isso. A floresta se abriu para samambaias, e dirigi
por cima delas, deixando um rastro duplo de caules quebrados e escorregadios. Eu parei
em frente às escadas, deixando a caminhonete em ponto morto.
A casa parecia igual, dolorosamente vazia, morta. Eu sabia que estava
projetando meus próprios sentimentos em sua aparência, mas isso não mudou a forma
que ela parecia para mim. Cuidadosamente para não ter visão pelas janelas, eu andei até
a porta da frente. Desesperadamente desejei ser um zumbi de novo, mas a dormência já
havia acabado há muito tempo.
Deixei a caixa cuidadosamente na soleira da casa abandonada, e me virei para ir
embora.
Parei no primeiro degrau. Não podia simplesmente deixar essa quantidade de
dinheiro na frente da porta. Seria tão ruim quanto queimá-lo.
Com um suspiro, mantendo meus olhos baixos, eu me virei novamente e peguei
aquela caixa ofensiva. Talvez eu pudesse doar para alguma causa nobre, anonimamente.
Uma caridade para pessoas com doença no sangue, ou algo assim.
Mas eu balançava a cabeça enquanto voltava à caminhonete. Era o dinheiro dele,
e, merda, ele iria permanecer com ele. Se fosse roubada em frente sua porta, a culpa
seria dele, não minha.
Minha janela estava aberta, e no lugar de sair, eu apenas lancei a caixa o mais
forte que eu pude em direção a porta.
Eu nunca tive uma mira boa. A caixa atravessou espalhafatosamente a janela da
frente deixando um buraco tão grande que parecia que tinha arremessado uma máquina
de lavar.
“Ah, merda!” falei alto, cobrindo meu rosto com as mãos.
Eu devia saber que, independente do que eu fizesse, iria piorar as coisas.
Felizmente a raiva se reafirmou. Isso era culpa dele, me lembrei. Estava apenas
devolvendo sua propriedade. Era problema dele, ter me dado todo esse trabalho. Além
de que, o som do vidro estourando tinha sido bem legal – me fez sentir um pouco
melhor, de uma forma levemente perversa.
Não tinha realmente me convencido, mas tirei a caminhonete do ponto morto e
dirigi para longe indiferente. Isso era o mais perto que podia chegar de devolver o
dinheiro para onde pertencia. E agora e teria uma entrega conveniente para o pagamento
do próximo mês. Era o melhor que eu podia fazer.
Eu repensei aquilo umas cem vezes no caminho de casa. Percorri a lista
telefônica, procurando por vidraceiros, mas não havia ninguém estranho para quem
pedir ajuda. Como eu explicaria o endereço? Será que Charlie teria que me prender por
vandalismo?
***

Cena cinco: a primeira noite que Alice está em Forks depois que Bella
“cometeu suicídio”

- Jasper não quis vir com você?


- Ele não aprova a minha interferência.
Eu funguei.
- Você não foi a única.
Ela enrijeceu, e então relaxou.
- Isso tem algo a ver com o buraco na janela da frente da minha casa e a caixa
cheia de dinheiro no chão da sala?
- Sim – eu disse com raiva – Sinto muito pela janela. Foi um acidente.
- Normalmente é, quando se trata de você. O que ele fez?
- Um lugar chamado The Pacific Northwest Trust me concede uma bolsa de
estudos muito estranha e persistente. Não foi um disfarce muito bom. Quer dizer, eu não
acho que ele queria que eu soubesse que era ele, mas espero que ele não ache que eu
seja tão estúpida.
- Ah, aquele grande trapaceiro – Alice murmurou.
- Exatamente.
- E ele me pediu para não ficar olhando – ela balançou a cabeça com irritação.

Cena seis: com Edward na noite depois da Itália, no quarto de Bella:

- Existe algum motivo para o perigo não conseguir resistir a você mais do que
eu?
- O perigo não tenta – eu murmurei.
- É claro, parece que você estava deliberadamente correndo atrás do perigo. O
que você estava pensando, Bella? Eu vi na cabeça de Charlie quantas vezes você esteve
no pronto socorro recentemente. Eu comentei que estou furioso com você?
Sua voz baixa parecia mais sofrida do que furiosa.
- Por quê? Não é da sua conta – eu disse, envergonhada.
- Na verdade, eu me lembro de você especificamente me prometendo que não
faria nada imprudente.
Eu refutei rapidamente.
- E você não prometeu algo relacionado a não interferir?
- Enquanto você quebrava sua promessa – ele respondeu cautelosamente – eu
estava cumprindo a minha parte da promessa.
- Ah, é mesmo? Três palavras, Edward: Pacific. Northwest. Trust.
Ele levantou a cabeça para olhar para mim; seu rosto estava com uma expressão
confusa e inocente – inocente demais. It was a dead give away.
- Isso deveria significar algo para mim?
- Isso é um insulto – eu reclamei – Quão estúpida você acha que eu sou?
- Eu não tenho ideia do que você está falando – Ele disse, com os olhos
arregalados.
- Tanto faz – resmunguei.

Cena sete, a conclusão desse fio: na mesma noite/manhã, quando eles chegam à
casa dos Cullen para a votação:

De repente, a luz da varanda se acendeu, e eu pude ver Esme parada na entrada


da casa. Seu cabelo cacheado, cor de caramelo, estava puxado para trás, e ela tinha
alguma espécie de espátula na mão.
- Todos estão em casa? – perguntei esperançosa ao subir os degraus.
- Sim, estão – enquanto ela falava, as janelas foram subitamente preenchidas por
luz. Eu olhei através da mais próxima para ver quem nos notou, mas meus olhos se
desviaram para a bacia plana de gosma grossa e cinzenta em cima de um banquinho na
frente da janela. Olhei para o vidro perfeito da janela e entendi o que Esme estava
fazendo na varanda com uma espátula.
- Ah, droga, Esme! Eu sinto muito pela janela! Eu iria –
- Não se preocupe com isso – ela me interrompeu com uma risada – Alice me
contou a história e eu devo dizer que não teria te culpado se você tivesse feito de
propósito – ela encarou o filho, que estava me encarando.
Ergui uma orelha. Ele desviou os olhos e resmungou alguma coisa indistinta
sobre cavalos de presente.

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