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ESTUDO DO COMPORTAMENTO À TRAÇÃO INDIRETA DE COMPÓSITOS

CIMENTÍCIOS REFORÇADOS COM FIBRAS DE JUTA

1. INTRODUÇÃO
A tecnologia dos materiais está em constante busca por materiais inovadores,
que sejam capazes de proporcionar melhorias tanto nas propriedades dos
elementos, como uma busca por desenvolvimento sustentável e econômico de
elementos fundamentais da construção civil, como por exemplo o concreto armado,
argamassas, placas para revestimento, entre outros. A ciência dos materiais, por
exemplo, é um dos campos que tem apresentado grande evolução no decorrer dos
anos, pois está em uma busca constante por maneiras de aprimorar cada vez mais
as propriedades desses elementos, tornando-os mais eficientes e permitindo a
execução dos mesmos mais esbeltos e arrojados.
No atual contexto dessa constante inovação tecnológica dentro da ciência dos
materiais, elementos como os compósitos cimentícios merecem atenção, pois
tratam-se de elementos que já apresentam boa resistência à compressão e com isso
têm uma vasta aplicabilidade na construção civil, como elementos de cobertura,
revestimentos e divisórias internas, e, no entanto, quando são sujeitos a esforços de
tração e a cargas dinâmicas, são frágeis e possuem baixa deformação. Assim,
torna-se importante encontrar maneiras de melhorar o desempenho mecânico desse
material, principalmente sob esforços de tração.
Diversos estudos realizados por autores como Melo filho (2012), Fidelis
(2013), Silva (2009), entre outros, mostram que o emprego de fibras naturais
vegetais, tais como sisal, curauá, banana, cocô, juta, entre outras, vem sendo
aplicadas nos compósitos cimentícios com o objetivo de trabalhar como reforço
desses elementos, permitindo um comportamento à tração aprimorado. De origem
natural, as fibras trazem vantagens econômicas quanto comparadas com as fibras
metálicas ou sintéticas, pois apresentam-se em abundância na natureza e têm
propriedades mecânicas satisfatórias, como a baixa densidade e a boa resistência
mecânica. Inclusive as fibras vegetais tratam-se de um material renovável e que não
produz substâncias tóxicas que possam ter efeitos colaterais a quem esteja exposto
a essas substâncias como foi o caso das fibras de amianto, que apresentarem
necessidade de substituição no mercado, após comprovar-se o seu efeito
cancerígeno, dando assim ainda mais visibilidade para o uso das fibras vegetais.
Uma questão importante no estudo das fibras frente a sua aplicação na
construção civil, é a exposição das fibras ao meio alcalino das massas constituídas
com cimento Portland, pois tratam-se de um material biodegradável e quando
adicionadas aos compósitos, o processo de desgaste e/ou mineralização podem
consequentemente sofrer uma aceleração indesejada, ocasionando assim perdas
nas propriedades mecânicas das fibras. Para evitar que isso ocorra é necessário
que se realize a proteção das fibras que serão introduzidas na matriz cimentícia.
Uma forma de evitar a degradação é garantir que a matriz produzida seja livre de
hidróxido de cálcio (CH), principal componente de degradação. Uma ótima opção
para este fim é realizar a substituição parcial do cimento Portland por um o material
pozolânico.
Os materiais pozolânicos, como a cinza volante, sílica ativa, cinza de casca
de arroz, metacaulim e resíduos cerâmicos moídos, fazem parte do grupo de
adições minerais, que quando usado como substituição parcial do cimento Portland
permite produzir um material à base de cimento com um desempenho ainda melhor
do que o seu traço original. As pozolânas reagem quimicamente com o CH
produzido durante a hidratação do cimento, para formar suas propriedades
cimentícias, permitindo assim redução substancial da quantidade de CH livre na
mistura que poderiam migrar para o núcleo das fibras, culminando assim no ataque
alcalino das mesmas. O uso da adição mineral permite ainda alcançar certos
benefícios, como por exemplo, obter um produto mais econômico, devido ao custo
reduzido, a produção tem menor consumo energético, além de reduzir as emissões
de CO2, sendo assim um material mais sustentável. Segundo estudos realizados por
LIMA (2004), SILVA (2009), Melo Filho et al. (2013) e Fidelis et al. (2016) um dos
materiais que usados em substituição parcial em massa do cimento Portland que
têm apresentado grande capacidade de mitigação do CH livre na matriz de cimento
é o metacaulim, chegando a reduzir a zero o teor de CH, para substituições em 30%
e 50%.
Dessa maneira evidencia-se a importância do estudo mais aprofundado sobre
o uso das fibras vegetais, como o tecido de fibra de juta, avaliando as propriedades
mecânicas de tração indireta de um compósito cimentício com substituição parcial
do cimento Portland por metacaulim, que assume o papel de material com
capacidade de consumir o CH, proporcionando aos compósitos maior durabilidade ;
reforçada com três e cinco camadas de tecido de fibras de juta com o objetivo de
alterar as características do material compósitos, em busca de produzir um elemento
com características mais dúcteis.

2. METODOLOGIA
Os compósitos cimentícios foram produzidos com argamassa de traço 1:1
(cimento e areia) baseado no que foi utilizado por Melo Filho (2012), fator
água/cimento de 0,4 e superplastificante Glenium 51. O cimento utilizado foi o CP V-
ARI, enquanto a adição mineral empregada foi o metacaulim, a areia utilizada foi o
material passante na peneira 1,18mm. O tecido de fibras de juta que foi utilizado
como reforço apresenta malha com abertura de 5x5mm e encontra-se facilmente em
lojas de artesanato.
Para a realização do trabalho foram produzidas duas matrizes cimentícias, M1
e M2, onde M1 caracteriza-se pelo traço 1:1 (cimento areia) e a matriz M2 contento o
mesmo traço porém constituída por uma substituição parcial de 50% em massa de
cimento Portland por metacaulim. Para ambas as matrizes, foram moldados corpos
de prova sem reforço de fibras, reforçadas com três e reforçadas com cinco
camadas de fibras de juta.
Os corpos de prova tratam-se de placas com dimensões de aproximadamente
40x5x1,2cm (CxLxEcm) e foram ensaiados à tração indireta à três pontos na
máquina de ensaios mecânicos Shimadzu AGS-X, que tem capacidade máxima de 5
kN, à uma velocidade controlada de 0,2mm/min. A configuração do ensaio
apresenta-se na Figura 1.
Figura 1. Ensaio de tração indireta à três pontos no compósito cimentício reforçado
com fibras de juta na Shimadzu AGS-X.

3. RESULTADOS e DISCUSSÃO
Na Figura 1 e na Figura 2 é possível analisar o comportamento mecânico dos
compósitos que foram fabricados a partir da matriz cimentícia M1 e M2
respectivamente. O comportamento mecânico pode ser analisado através das três
curvas típicas apresentadas por cada uma das matrizes, sendo que cada uma das
curvas representa o comportamento do compósito sem reforço, com três camadas e
com cinco camadas de reforço.

Figura 1. Curvas típicas Força x Deslocamento dos compósitos cimentícios


contendo a matriz M1. Elaboração própria.
Figura 1. Curvas típicas Força x Deslocamento dos compósitos cimentícios
contendo a matriz M2. Elaboração própria.

Analisando os compósitos da matriz M1, é possível ver que quando o


compósito não é reforçado com o tecido de juta a sua ruptura é brusca, o corpo de
prova rompe imediatamente no momento em que atinge a força máxima,
caracterizando assim um material de comportamento frágil, e além disso é possível
ver que o compósito que não contêm reforço também é o que apresenta maior valor
de força máxima. Para os compósitos que continham três e cinco camadas de
reforço é possível ver que após atingir a força máxima, a capacidade de resistência
dos compósitos cai consideravelmente, porém não há o mesmo rompimento brusco
do compósito sem reforço, significando assim que esses compósitos apresentaram
um comportamento “strain softening”. Além disso não é possível ver muitas
diferenças no comportamento pós pico dos compósitos reforçados, ambos
apresentam um comportamento muito semelhante com exceção da força máxima
que para o compósito reforçado com 3 camadas de fibras é muito maior que a força
máxima dos compósitos reforçados com 5 camadas de fibras de juta.
Já os compósitos produzidos a partir da matriz M2 o mesmo comportamento
acontece para a curva que representa o compósito sem reforço de tecido de juta,
tendo o maior valor de força máxima e apresentando um comportamento frágil após
atingir a sua força de pico. Enquanto que os compósitos com reforço de juta chegam
a sua força máxima e apresentam um comportamento “strain softening”. A força
máxima assim como nos compósitos que não contêm adição mineral, é maior para o
compósito contento 3 camadas de reforço, contudo o comportamento do gráfico já
não é mais semelhante como antes, é possível analisar que o compósito com 5
camadas de reforço proporcionou um aumento maior na tenacidade do que o
compósito contendo apenas 3 camadas de reforço.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na análise das curvas é possível ver que as forças máximas para
os compósitos da matriz M1 foram significativamente menores que as forças
máximas para os compósitos contendo adição mineral, evidenciando assim que o
uso do metacaulim como substituição parcial do cimento Portland proporcionou uma
melhoria significativa no compósito cimentício, e comprovando assim a capacidade
de redução do teor de CH da matriz, pois a queda na resistência dos compósitos
sem adição está ligada a degradação que foi possível detectar a olho nu nas fibras
Ainda em relação a força máxima é possível concluir que o acréscimo de camadas
de reforço no compósito cimentício colabora para a redução no valor de força
máxima, ou seja, quanto maior o volume de fibras inserido na matriz cimentícia há
uma maior redução na capacidade de carga de pico, ou de primeira fissura, contudo
é possível afirmar também que a maior quantidade de camadas de reforço (5
camadas) associada ou uso do metacaulim proporcionou uma maior tenacidade e
capacidade de deformação.

5. REFERÊNCIAS

FIDELIS, M. E. A. et al. The effect of fiber morphology on the tensile strength of


natural fibers. Journal of Materials Research and Technology, v. 2, p. 149–157,
2013.

FIDELIS, M. E. A. et al. The effect of accelerated aging on the interface of jute textile
reinforced concrete. Cement and Concrete Composites, v. 74, p. 7–15, 2016.

LIMA, P. R. L. Análise teórica e experimental de compósitos reforçados com


fibras de sisal. 2004. 262 f. Tese (Doutorado em Ciências em Engenharia Civil) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

MELO FILHO, J. A. Durabilidade química e térmica e comportamento mecânico


de compósitos de alto desempenho reforçados com fibra de sisal. 2012. 184 f.
Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2012.

MELO FILHO, J. A. et al. Degradation kinetics and aging mechanisms on sisal fiber
cement composite systems. Cement & Concrete Composites, v. 40 p. 30–39,
2013.

SILVA, F. A. Durabilidade e propriedades mecânicas de compósitos


cimentícios reforçados por fibras de sisal. 2009. 243 p. Tese (Doutorado em
Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

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