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Materiais compósitos reforçados com

tecido de fibras de vegetais

Materiais Compósitos
Nadine Machado Ficher
Prof. Dr. Ederli Marangon

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Contextualização...
Curvas típicas, tensão x deformação, de um compósito a base de
cimento Portland e de uma fibra hipotética.

Fonte: Nota de Aula.

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Contextualização
 Os compósitos cimentícios tem vasta aplicabilidade na construção civil
devido a sua boa resistência a compressão, porém são frágeis quando
sujeitos a cargas dinâmicas e esforços de tração.

 Com o intuito de contornar o comportamento frágil à tração, desse


material, surgiram os FRC (compósitos cimentícios reforçados com
fibras).

 As primeiras fibras utilizadas para isso, eram fibras de aço lisas e fibras
de vidro, devido suas excelentes propriedades mecânicas.

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Contextualização
 Ao longo dos anos os materiais compósitos reforçados com fibras foram
evoluindo...

 Os avanços buscavam a melhoria nas propriedades mecânicas, tanto a


compressão como a tração, além do interesse na produção de materiais
mais dúcteis e com maior capacidade de absorção de energia. Tudo isso
aliado ao maior custo benefício possível.

 Hoje é facilmente possível produzir materiais com elevada resistência a


compressão, além disso houve muitas descobertas e avanços com
relação aos reforços fibrosos.

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Nos últimos anos...
 Ao longo dos anos novos desafios surgiram...

 Nas últimas décadas as fibras naturais ganharam foco principal de


diversos estudos e pesquisas sobre materiais compósitos.

 Esse tema foi impulsionado pela necessidade de encontrar novos


materiais que fossem ambientalmente amigáveis e ecologicamente
corretos, de forma a amenizar a causa de problemas ambientais,
atribuídos principalmente a resíduos da construção civil.

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Atualmente...
 Pesquisas com materiais compósitos a base de cimento Portland ou de
matrizes poliméricas reforçadas com fibras vegetais estão em alta.

 Características atraentes como baixo custo, atóxicas, biodegradáveis,


fonte renovável, ampla disponibilidade, impulsionaram ainda mais os
estudos que revelaram o potencial das propriedades mecânicas das
fibras naturais, que são comparáveis as fibras sintéticas, já amplamente
conhecidas por seu emprego como material de reforço na construção
civil, automobilista, entre outros ramos.

 As fibras são capazes de proporcionar ao compósito rigidez, resistência


e capacidade de ligação, melhoria substancial na resistência à flexão,
tenacidade e resistência ao impacto.

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Reforço Fibroso

 As fibras vegetais podem ser empregadas como reforço na forma de


polpa, fibras curtas e aleatórias, longas e alinhadas (também chamados
de manta) ou na forma de tecido (reforço têxtil).

 Entre as técnicas, a mais eficaz para obter um compósito cimentício


com bom comportamento mecânico destaca-se o reforço têxtil, onde o
tecido é impregnados na pasta de cimento ou argamassa.

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Reforço Têxtil
 As fibras vegetais podem ser empregadas como reforço na forma de
polpa, fibras curtas e aleatórias, longas e alinhadas (também chamados
de manta) ou na forma de tecido (reforço têxtil).

 Entre as técnicas, a mais eficaz para obter um compósito cimentício com


bom comportamento mecânico destaca-se o reforço têxtil, onde o tecido
é impregnados na pasta de cimento ou argamassa.

 Caracterizado pela disposição em que os fios das fibras são arranjados.

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Reforço Têxtil
 Os reforços têxteis podem ser bidirecionais e tridimensionais e alguns
dos arranjos possíveis são ilustrados na Figura 1.

Figura 1 - Exemplos de geometrias de tecidos. (a) Simples bidirecional; (b) tricotado; (c) tricotado em ziguezague; (d)
tridimensional.

(a) (b) (c) (d)

Fonte: Adaptado de Fidélis (2014).

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Porque Reforço Têxtil?
 O reforço têxtil ou de tecido apresenta como vantagem melhora em
algumas propriedades mecânicas comparados a outras formas de
reforço, tais como resistência à tração e flexão melhor que fibras
contínuas ou curtas.

 Possibilita um reforço efetivo em multidireções, diferente de um reforço


unidirecional onde o reforço efetivo é somente na direção longitudinal da
fibra.

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Desvantagens?
 Existem duas barreiras principais na aplicabilidade dos reforços têxteis
naturais como reforço de compósitos a base de cimento Portland.

 Primeiro: Ligação interfacial entre as fibras naturais e a matriz cimentícia


considerada relativamente fraca;

 Segundo: As fibras consistem num material biodegradável, exposto a um


meio altamente alcalino e com isso agressivo as fibras, comprometendo
assim a durabilidade e capacidade das fibras de manterem suas
propriedades a longo prazo.

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Objetivo do Trabalho

 Recapitular os avanços e os desafios encontrados no ramo dos


compósitos cimentícios reforçados com tecido de fibras naturais.

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Tecidos
Figura 2: Tipos de tecido comum: a) Tecido, b) Malha ou Tricotado e c) Tecidos não tecidos.

Adaptado de Fidélis (2014)

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Tecidos
 Tecidos geralmente consistem em dois conjuntos de fios que estão
entrelaçados e estão em ângulo reto um com o outro;

 Tecido tricotado composto por fios entrelaçados ou trama (trama


tricô), Urdidura tricô é um método de fabricação de um tecido por
meio de tricô padrão, em que as alças feitas a partir de cada
urdidura são formadas substancialmente ao longo do comprimento
do tecido, enquanto trama de tricô é um método de produzindo um
tecido por meios normais de tricô, em que os laços por cada fio de
trama são formados consideravelmente em toda a largura de o
tecido

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Tecidos
 Tecidos geralmente consistem em dois conjuntos de fios que estão
entrelaçados e estão em ângulo reto um com o outro;

 Tecido tricotado composto por fios entrelaçados ou trama (trama


tricô);

 Não-tecido é uma estrutura têxtil produzida pela colagem ou


intertravamento de fibras, ou ambos, realizado por mecânica,
química, meios térmicos ou solventes e suas combinações.

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Tecidos

Segundo A. Peled e A. Bentur (2000)

 O geometria do tecido pode ter um efeito marcante na propriedades


dos compósitos; pode melhorar a ligação e resultar em um
comportamento de endurecimento de tensão de fio de baixo módulo
compósitos, ou reduzir drasticamente a eficiência de um fio de
desempenho que é muito eficaz para o reforço quando não faz
parte de um tecido.

 tecidos ter formas de fios relativamente complicadas, como malha


de trama, melhorar a ligação e melhorar o desempenho composto.

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Reforço Têxtil
Tabela 1) Exemplos de fibras naturais utilizadas em compósitos têxteis em matrizes poliméricas.

Material de Tipo de Tecido Matriz


Reforço
Banana Tecido Poliéster
Juta Tecido Liso Poliéster não
saturado
Juta Tecido Vinil
Linho Tecido Liso Epoxy
Sisal Tecido Liso Fenol
Linho Tecido Liso Polipropileno
Cânhamo Liso e Tecido de PLA
sarja
Adaptado de Kobayash, S. et al (2014).

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Reforço Têxtil em matrizes a base de
Cimento Portland

 Segundo Fidélis (2014) estudos sobre o uso de fibras naturais na


forma de tecido reforçando materiais compósitos cimentícios são
limitados.

 Como já visto anteriormente o estudo de reforço têxtil com fibras


naturais é amplamente difundido em matrizes poliméricas, já que as
matrizes cimentícias enfrentam problemas de durabilidade.

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Reforço Têxtil em matrizes a base de
Cimento Portland
 Fidélis (2014) afim de estudar sobre reforços têxteis bidirecionais de
fibras naturais, optou pelo uso do tecido de fibra de juta como
material de reforço, motivada principalmente pela disponibilidade
comercial do tecido bidirecional e da boa resistência à tração da
fibra de juta.

 O trabalho caracterizou o comportamento mecânico de compósitos


reforçados com 1, 3 e 5 camadas de fibras (2%, 6% e 10% de
fração volumétrica, respectivamente). Além disso Fidélis (2014)
avaliou o uso do tratamento superficial das fibras.

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Figura 3: Processo de moldagem dos compósitos têxteis.

 As amostras de
450 mm x 60 mm x
12 mm.

Conforme recomendações da
RILEM para testes de tração
em compósitos cimentícios
têxteis (BRAMESHUBER,
2010)

Fonte: Adaptado de Fidélis (2014).

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Figura 4: Influência do número de camadas no comportamento à tração direta de compósitos
cementícios têxteis: (a) curvas tensão versus deformação e (b) fotos de compósitos com 1, 3 e 5
camadas de tecido sem tratamento.

Fonte: Adaptado de Fidélis (2014).

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Figura 5 - Influência do tratamento no comportamento à tração direta de compósitos
cementícios têxteis: (a) curvas tensão versus deformação e (b) fotos de compósitos com 5
camadas sem tratamento e com tratamento.

Fonte: Adaptado de Fidélis (2014).

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 Pires (2017) investigou o comportamento mecânico de compósitos
cimentícios reforçados com fibras de bucha, Luffa Cylindrica, sendo
a fibra tratada com procedimento termomecânico e higro-
termomecânico.

 As fibras de bucha tem ganhado grande visibilidade nos últimos


anos devido a sua disponibilidade e baixo custo, elas podem ser
consideradas um tipo de tecido 3D.

 Os tratamentos realizados consistem na prensagem a quente das


fibras na condição seca (termomecânico) e na condição saturada
(higro-termomecânico) e tem o intuito de melhorar algumas das
propriedades das fibras, como a redução da porosidade e aumento
do módulo de elasticidade.

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Figura 6: Bucha vegetal.

Fonte: Shen et al. (2014).

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Figura 7: Bucha vegetal após compressão.

Fonte: Pires (2014).

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 Preparação dos compósitos:

A preparação dos compósitos foi uma simulação do processo


Hatschek, desenvolvido por Savastano (2000), que consistiu em
aplicação de sucção e adensamento em camadas de uma calda de
cimento e a manta de bucha vegetal prensada.

Obs:
Molde de dimensões 200x200mm; tensão de compressão 3,2 MPa.
Após 21 dias as amostras foram cortadas com largura de 4 cm e comprimento
de 20 cm . Figura 8: Processo de produção.

Adaptado de Oliveira et al. (2015)

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 O tratamento termomecânico e higro-termomecânico das fibras de
bucha vegetal melhoraram suas propriedades mecânicas e físicas. O
tratamento aumentou o módulo de elasticidade, sem grande redução
na resistência à flexão.

 As fibras com melhores propriedades após o tratamento e reduzido


efeito memória, foram as prensadas saturadas nas temperaturas de
120°C e 160°C. Porém as mesmas não aderiram na matriz e os
compósitos delaminaram-se.

 O caráter liso da superfície e a baixa absorção de umidade não


garantiu a adesão com a matriz e prejudicou o desempenho dos
compósitos. Portanto para análise dos compósitos utilizou-se a fibra
prensada a seco a 160°C.

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Figura 9: Falta de adesão fibra/matriz nos compósitos.

Adaptado de Pires (2017) .

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 Olivito. R; Cevallos. O; Carrozzini. A (2014) estudaram o
desenvolvimento compósitos cimentícios duráveis, com sisal e linho
tecidos, para reforço de estruturas de alvenaria;

 Neste estudo, o objetivo era desenvolver compósitos


sustentáveis ​utilizando matrizes cimentícias, reforçadas com tecidos
de fibras naturais (sisal e linho) bi-direcionais, não tratadas.

Fonte: Adaptado de Toledo et al. (2009).

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Figura 10: Tecidos bidirecionais de sisal e linho: (a) rolo de tecido de linho; b) faixa de tecido de linho; (c) distribuição em um tecido
liso de fibras de linho; d) Saco de transporte feito de fibras de sisal; e) tira de tecido de sisal; e (f) distribuição em um tecido liso de
fibras de sisal.

Adaptado de Olivito. R; Cevallos. O; Carrozzini. A (2014)

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Figura 11: Configuração do teste e formação de trincas durante os testes de tração realizados em amostras compostas
NFRC: (a) amostra composta de 5 mm de espessura reforçada com tecidos de linho; e(b) amostra composta de 8 mm de
espessura reforçada com tecidos de sisal.

Adaptado de Olivito. R; Cevallos. O; Carrozzini. A (2014)

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Figura 12) Desempenho de tração de compósitos NFRC: (a) curvas de tensão-deformação de amostras compósitas NFRC de 5
mm de espessura e 8 mm de espessura reforçadas com tecidos de linho; b) curvas de tensão-deformação de compósitos NFRC
de 5 mm de espessura e 8 mm de espessura reforçadas
com tecidos de sisal;

Adaptado de Olivito. R; Cevallos. O; Carrozzini. A (2014)

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Durabilidade
 Gram (1983) explicou que as fibras celulósicas imersas no cimento
Portland se degradam porque o ambiente altamente alcalino da matriz
irá dissolver os constituintes fundamentais das fibras.

 Melo Filho et al. (2013) , Wei, Meyer (2015) entre outros, analisaram
os mecanismos de degradação das fibras.

 Estudos comprovaram que a degradação alcalina das fibras está


relacionada com a redução das regiões amorfas, que constituem as
fibras, essas regiões são sensíveis ao meio alcalino do cimento, estão
em contato direto com os produtos de hidratação da matriz cimentícia.

Fonte: Adaptado de Toledo et al. (2009).

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Figura 2- Composição da fibra de sisal. (a) Seção transversal. (b) Ampliação e
indicação da lamela centra. (c) Esquematização das camadas constituintes da
fibra.

 A lignina e a hemicelulose
são regiões amorfas,
sendo eles os primeiros
mecanismos a sofrerem
degradação agressivas e
gradativas, e futuramente
expondo toda a estrutura
das fibras a mineralização.

Fonte: Adaptado de Toledo et al. (2009).

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Durabilidade
Soluções para contorno dos problemas de durabilidadade das fibras
natural:

 Estudos sobre durabilidade de compósitos reforçados com fibras


naturais, comprovaram que através de ensaios de TGA realizados em
amostras expostas a ciclos de molhagem e secagem, que a utilização de
adições pozolânicas em substituição parcial cimento consegue reduzir a
zero o teor de CH, controlando o pH da solução e sendo efetivo para a
mitigação da degradação dos reforços naturais,
sem prejudicar o comportamento mecânico do compósito. (LIMA,
TOLEDO, 2008, SILVA, 2009, LIMA, 2014, WEY; MEYER, 2015).

 Podem ser realizados tratamentos na fibra e matriz, como hornificação


das fibras, tratamento por molhagem e secagem das fibras, tratamento
superficiais com resinas e polímeros. Yan. L; Kasal. B; Huang, L (2016)

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Conclusões
 Entre as fibras celulósicas a juta, o linho, o sisal, bucha e cânhamos
são destaques entre os tecidos naturais que são estudados como
reforço de compósito cimentício.

 O processo de degradação das fibras naturais pode ser controlado, e a


durabilidade dos compósitos garantidas;

 O comportamento mecânico dos compósitos reforçados com fibras


naturais apresentaram resultados favoráveis e promissores.

 As perspectivas futuras mostram que é necessário realizar mais


estudo, com outros tratamentos para durabilidade, e novos tipos de
reforços naturais além das fibras já utilizadas. O campo dos materiais
compósitos cimentícios reforçados com tecido de fibra natural ainda é
pouco explorado e as perspectivas é que isso comece a mudar
brevemente.

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Fundamentação Análise dos Considerações Referências
Introdução Metodologia
teórica Resultados Finais Bibliográficas

Referências bibliográficas
GRAM, H.E. Durability of natural fibres in concrete. Stockolm: Swedish Cement and Concrete Research
Institute, 1983.

FIDELIS, M. E. A. Desenvolvimento e caracterização mecânica de compósitos cimentícios têxteis


reforçados com fibras de juta. 2014. 266 f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) –Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

PIRES, C. Tratamento termomecânico e higro-termo mecânico de fibra de bucha vegetal para aplicação
em compósitos com matriz cimentícia. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia,
Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil.

SILVA, F. A. Durabilidade e propriedades mecânicas de compósitos cimentícios reforçados por fibras de


sisal. 2009. 243 p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2009.

Notas de aula.

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Obrigada!

Nadine Machado Ficher

nf.nadine.nf@gmail.com

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