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PRIMEIRA AVALIAÇÃO: ANÁLISE DE CONJUNTURA

UNIVERSIDADE ESTADUAL “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

CURSO: RELAÇÕES INTERNACIONAIS

DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À HISTÓRIA

DOCENTE: ROSÂNGELA DE LIMA VIEIRA

DISCENTE: LUCAS ALEXANDRE COSTA DOS SANTOS

ATUAÇÃO DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA E


SUAS RELAÇÕES COM ESTRUTURAS HISTÓRICAS BRASILEIRAS

“A nova Tropicália, velha ditadura


Nossa represália, fuga da vida dura
Ação necessária por nossa bandeira
Que isso é a reforma agrária da música brasileira (vai)

Quantas noites cortei (cortei)


É importante dizer (aham)
Que é preciso amar, é preciso lutar (hun)
E resistir até morrer (resistir, e aí?)
Quanta dor cabe num peito (por nós)
Ou numa vida só (aí)
É preciso não ter medo (fé e crente)
É preciso ser maior”

Samba do Fim do Mundo – Emicida


O objetivo desta análise é compreender as relações do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) com o processo histórico fundiário nacional através da articulação entre
fatos e estruturas históricas afim de obter melhor compreensão dessa luta que é travada a
séculos.

A concentração fundiária no Brasil remonta ao início da ocupação portuguesa no século XVI,


pois através do estabelecimento da escravidão e da monocultura para exportação foram
criadas as raízes da desigualdade social presentes até hoje.

No século XVI, com a chegada dos portugueses, foi estabelecido o sistema de capitanias
hereditárias, o qual era basicamente uma doação de grandes latifúndios a pessoas ligadas a
nobreza de Portugal.

A Lei de Terras de 18501(BRASIL, 1850) marcou o processo de concentração fundiária ao


propor a posse de terra a partir de compra. Tal legislação ignorou as necessidades sociais já
existentes no cenário de libertação de escravos, e agravou problemas que só passariam a
existir a partir de 1888 com a abolição da escravatura de fato. Dessa forma, garantiu a
permanência da posse de latifúndios às elites cafeeiras ou a pequenos agricultores imigrantes
em uma tentativa de “branqueamento” da população ao mesmo tempo em que saciava os
objetivos agroexportadores.

Decorrente desse contexto, os agricultores sem-terra, grupo formados a principalmente por


minorias negras e indígenas, se organizaram de forma conjunta, ainda na época da ditadura
militar, em busca de democracia e condições de trabalho, pois “a ditadura implantou um
modelo agrário mais concentrador e excludente, instalando uma modernização agrícola
seletiva, que excluía a pequena agricultura”.

Desse modo, o grupo conhecido como os Sem-Terra se uniram com a intenção de promover
pressão política ao governo para que fosse realizada uma reforma agrária no país, pois assim
seria possível que esse grupo construísse uma habitação decente e começasse a prosperar
através de seu trabalho.

Em 1981, os Sem-Terra se uniram novamente e fizeram manifestações através de ocupações


de terra contra o autoritarismo, principalmente na região sul do país. Graças aos feitos,
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Trata-se de legislação específica para a questão fundiária. Esta lei estabelecia a compra
como a única forma de acesso à terra. Garantiu o não acesso dos negros libertos e dificultou o
acesso dos migrantes que vieram substituir a mão de obra escrava.
sofreram repressão militar e resistiram por 208 dias em um acampamento provisório em
Ronda Alta (RS)

Após anos de luta e perseverança em busca da distribuição de terras, é fundado o MST em


1984, em cascavel, no Paraná, através do 1º Encontro Nacional desse movimento camponês.
Esse movimento é fundado com base em três objetivos: “lutar pela terra, lutar pela reforma
agrária e lutar por mudanças sociais no país.” E através da ocupação de terra improdutivas
eram e ainda são feitas pressões políticas em busca de desapropriações de latifúndios sem
função social.

Com o fim da ditadura militar e a eleição de um presidente civil, a população brasileira sentia
a esperança de mudanças depois de duas décadas de ditadura. Em 1985, o governo Sarney
elaborou o Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), que previa o assentamento 2 de 1,4
milhão de famílias, porém somente cerca de 6% do prometido foi entregue.

No ano de 1988 um passo muito importante em direção aos objetivos do movimento foi dado,
pois foi nesse mesmo ano em que foi a Constituição Federal de 1988. Na constituição, mais
especificamente no artigo 186, é estabelecido que toda propriedade rural deve cumprir uma
função social, do contrário a mesma deve ser desapropriada.

Porém, no governo Collor, eleito em 1989, a luta do MST foi novamente dificultada através
da Lei Agrária (BRASIL, 1993), que reclassificou as propriedades rurais e impossibilitou
desapropriações.

No governo Fernando Henrique Cardoso (1994-1998) mais dificuldades foram impostas ao


MST, que além de ter sido marcado por massacres, proporcionou a destruição de políticas
públicas criadas anteriormente, como o crédito especial para a Reforma Agrária e assistência
técnica criadas no governo Sarney (1985-1990).

Os massacres citados foram o de Eldorado dos Carajás (1996), no Pará e Corumbiara (1995),
em Rondônia. Tendo o segundo ocorrido na fazenda Santa Elina, no qual 514 famílias faziam
uma ocupação e se recusaram a sair após ordem judicial. Quando policiais militares chegaram

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Do ponto de vista dos movimentos sociais e dos sujeitos que ocupam um espaço em busca
de moradia e trabalho, assentamento é resultado de uma lutam de uma conquista,
acompanhada de uma reivindicação, e nessa medida um gesto político daqueles que estão
excluídos diante da organização da cidade (FERREIRA, 2010).

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ao local para executar a ordem de despejo, os trabalhadores pediram três dias para sair
pacificamente, porém o pedido não foi respeitado e os policiais invadiram durante a
madrugada causando onze mortes, nove delas de Sem-Terra, que de acordo com laudo do
legista teriam ocorrido ao modo de uma execução.

Com a eleição do presidente Lula em 2002, gerou-se grande expectativa em torno da


famigerada reforma agrária, porém a realidade que se impôs foi bem diferente. O
agronegócio se expandiu ainda mais, e através de grandes monoculturas voltadas à
exportação, não gerou postos de trabalho, nem alimentos voltados para o mercado interno.

E, apesar de, após dezesseis anos de existência do MST centenas de milhares terem sido
assentadas, cooperativas e associações terem sido construídas e centenas de escolas públicas
abertas, o financiamento público voltou-se para o incentivo de latifúndios agroexportadores.

Hoje o debate em torno da questão agrária foi aprofundado, com a apresentação de um novo
programa agrário, os Sem Terra pretendem reorganizar a produção de alimentos combatendo
o êxodo rural, gerando empregos e produzindo alimentos saudáveis que respeitem o meio
ambiente.

Atualmente, o Movimento passa por dificuldades relacionadas ao governo em exercício, que


tenta a todo custo criminalizá-lo e enquadrá-lo como uma “organização terrorista” por
palavras do próprio presidente em vigência, Jair Bolsonaro.

“Matar e roubar não faz parte da doutrina deste grupo, que promove ocupações em terras
consideradas improdutivas e tira o sono de ruralistas” (BETIM, 2018). O governo Bolsonaro,
no entanto, não compartilha dos pensamentos pacifistas do movimento, tendo nos últimos
demonstrado posição agressiva através de representantes das pastas do meio ambiente.

Finalmente, é possível perceber que a história do MST nasceu por razão de diversas
estruturas históricas brasileiras, como a escravidão e a concentração fundiária. Dessa forma, o
grupo luta por direitos e por condições de vida e trabalho decentes para grupos historicamente
marginalizados, em paralelo a essa luta o movimentado tem criado raízes em outras áreas,
como o desenvolvimento sustentável e a agroecologia, para que a produção feita nos
assentamentos garanta a saúde dos agricultores e todos aqueles que consomem os alimentos.
BIBLIOGRAFIA

MST. mst.org.br, 2012. O MST, Nossa História. Disponível em: <https://mst.org.br/nossa-


historia/inicio/>. Acesso em: 18 de jul. De 2021

FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 7.0. 5ª. Edição do


Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Curitiba: Positivo Informática, 2010.
BRASIL. Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850. Dispõe sobre as terras devolutas ao
Império.
BRASIL. Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre a regulamentação dos
dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título VII,
da Constituição Federal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 fev. 1993. p. 2349, col.1.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BETIM, Felipe. As várias faces do MST, o movimento que Bolsonaro quer criminalizar. El
País, Laranjeiras Do Sul (Paraná), 31 dez. 2018.

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