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João F. & Lucas A. - Texto David Waldner
João F. & Lucas A. - Texto David Waldner
João F. & Lucas A. - Texto David Waldner
Esse padrão contribui de três formas para entender como fazemos julgamentos de
causa válidos utilizando o process tracing.
3- Propõe uma regra de parar (stopping rule) para o process tracing: questiona
quanto trabalho adicional é necessário para confirmar alguma hipótese: mais
processo é necessário? Se sim, quanto? O Completeness Standard é o padrão
responsável por dar essa regra de parar ao processo.
CONCEITOS PRELIMINARES
X → M1 → M2 → Y
Essa função pretende auxiliar a avaliação de duas formas. A primeira é nos permitir
entender as características do grafo causal por ele mesmo, e se os nós (variáveis
aleatórias) são suficientes para gerar um resultado. A segunda é que a partir do
grafo causal temos, de forma destacada, a localização de mecanismo causais
relevantes que devem ser identificados e confirmados.
Por exemplo, por décadas a humanidade soube do valor terapêutico das cascas de
salgueiro, mas só recentemente foram descobertos os mecanismos pelos quais a
forma sintética de casca de salgueiro (aspirina) reduz febre, dores e inchaço.
Resumidamente os mecanismos causais tornam possível entender o porquê a
aspirina tem propriedades médicas.
Finalmente, como rastrear o processo representado pelo grafo causal? Para cada
grafo causal em um caso de estudo particular, o rastreamento de processo requere
a especificação de um conjunto de eventos que corresponda a cada nó no grafo.
Esse conjunto é chamado de mapa histórico de eventos (event-history map).
O autor então inicia a análise de algumas pesquisas que fizeram o uso de process
tracing, iniciando pelo trabalho de Gerard Alexander de 2002, “The sources of
democratic consolidation in twentieth-century Europe.”
O historiador foca nas preferências políticas dos agentes de direita, mostrando com
detalhes como as preferências autoritárias no período entreguerras europeu foi
gradualmente substituído pela aceitação da democracia na Europa pós guerra,
especialmente olhando para a Espanha. Para defender sua tese, ele se esforça para
refutar hipóteses rivais, e seus conceitos de adequação causal e explicativa se
apoiam fortemente no completeness standard já citado.
Alexander postula que o modo de operar dos agentes de direita são baseados em
dois interesses básicos: o bem-estar material e físico. Enquanto interesses, muito
baseados na propriedade privada e lucro, estiverem longe de riscos, os agentes de
direita podem tolerar a democracia, principalmente se os pactos políticos e as
instituições estiverem em seu favor. Quando esse conjunto de proteções não está
presente, e seus interesses são ameaçados, os agentes inclinam-se para o
autoritarismo. A democracia somente é consolidada quando os agentes de direita
acreditam que a oposição demonstra baixo risco.
Para resumir seu raciocínio, Alexander utiliza o grafo causal acima. O autor propõe,
então, que façamos algumas perguntas para julgar a suficiência do grafo causal,
questionando se existe uma externalidade nos critérios utilizados, como as
percepções de risco da direita, ou se partem de uma variável anterior que define a
causalidade. Argumenta, então, que apenas fazer perguntas já preocupa que o grafo
causal não seja suficiente para o resultado.
Mesmo assim, o autor termina por afirmar que as conexões finais feitas pelo
historiador necessitam de mais explicação teórica e de construção de grafos causais
mais complexos e extensos.
Assim, Wood usa o process tracing para diferenciar dois modelos possíveis de
causalidade. No topo da figura 5.4, a mudança econômica é mediadora entre a
insurgência e a democracia, e a insurgência age como um instrumento externo,
permitindo a Wood validar a alegação de que mudanças econômicas causaram a
transição democrática. Mas abaixo na figura 5.4, tanto democracia como mudança
econômica são efeitos da insurgência.
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Tradução própria: “Insurgências amortecem retornos casuais para a elite, ativos são destruídos, greves
custosas acontecem, custos de segurança aumentam, investimentos são suspensos, e taxas aumentam. Se
durar por tempo suficiente, retornos esperados sob uma democracia parecem atrativos em comparação - se os
termos de distribuição da transição não ameaçarem o status quo dos direitos de propriedade.” (Wood 2000:15)
Na figura 5.3, a cadeia causal inicia-se a partir de sistema agroexportador explorador
que leva a sistema política excludente e consequentemente a uma insurgência,
causando mudanças econômicas e novas preferências de regime, que geram uma
barganha política culminando na transição para a democracia.
A partir de sua pesquisa, Wood está apta a mostrar que as elites econômicas estão
alinhadas a oficiais militares conservadores para minar militares reformistas que
buscaram modernizar a política e a economia sendo tolerantes a práticas como
reforma agrária e políticas liberais. Essa discussão indica evidência indireta da
ligação dos dois primeiros nós. Após isso Wood volta sua atenção para o impasse
político no fim dos anos 70, ela argumenta que a agressividade direitista tanto contra
as elites políticas reformistas quanto contra as mobilizações políticas não elitistas
catalisou a formação de uma frente insurgente, A FMLN (Frente Farabundo Martí
para la Liberácion Nacional). A pesquisa de Wood confirma que muitas pessoas se
juntaram a insurgência (anteriormente considerada inconsequente) por razão “das
ações afrontosas das forças de segurança contra suas famílias e vizinhos... ou em
resposta a morte de padres, particularmente o assassinato do arcebispo Oscar
Romero em 1980” (Wood 2000:47).
Além disso, Wood entrega uma análise paralela da transição do apartheid na África
do Sul. Em grande parte, o caso sul-africano é consistente com o primeiro grafo
causal, e ainda incorpora a mesma lógica da preferência interna de mudança.
Porém, na África do Sul, a insurgência gerou novas preferências na elite diminuindo
o retorno dos investimentos no sistema econômico existente e conduzindo a uma
mudança em direção a produção mais intensiva de capital. Wood desenvolve um
modelo formal de retorno de investimento para criar uma conexão causal entre os
nós. A lógica econômica do apartheid, de acordo com o modelo, é que “o controle
político do trabalho é mais barato do que seria em condições liberais, na qual os
salários necessários para que os trabalhadores permaneçam aumentam com a taxa
de emprego.” Mas uma vez que os trabalhadores de mobilizam, as vantagens do
apartheid diminuem consideravelmente. Wood verifica essa alegação através de
uma consideração muito cuidadosa das tendências macroeconômicas.
Para Wood e Alexander, no entanto, grande parte de suas alegações são baseadas
na articulação meticulosa e na defesa dos grafos causais, um procedimento que
desenvolve, mas ainda vai além das melhores práticas. Existe uma totalidade
relativa nos seus grafos causais, o alto grau de confiança que se pode ter em suas
inferências descritivas de eventos para variáveis, e os esforços em identificar
mecanismos causais que emprestam credibilidade para suas alegações,
demonstrando adequação causal e explicativa. Waldner diz que nenhum dos
trabalhos está sem defeitos, mas ambos demonstram que é possível alcançar
padrões muito altos através do process tracing.
CONCLUSÃO
Dessa forma é possível não só dizer que X causa Y, mas também as razões, através
de um conjunto de mecanismos, que conectam X a Y de maneira relevante.
Por fim, fica claro que o padrão de integridade ainda precisa de mais elaboração.
Dessa forma, o capítulo lido e exposto se apresenta como um passo inicial para
chegar mais perto da compreensão de seus elementos relevantes. Na verdade,
afirmar um padrão não é igual operacionalizá-lo.