Você está na página 1de 22

Carlos Mineiro Aires

Ordem dos Engenheiros


Engenheiro Civil/ Bastonário
www.ordemengenheiros.pt
bastonario@oep.pt
Painel “Perspetiva da Sociedade”
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

Na discussão do processo de Bolonha as Engenharias são uma das


áreas que têm levantado maiores dificuldades porque exigem uma
formação em profundidade e maturidade não alcançável num curto
prazo de tempo
(Professor Dourado Correia | FCTUC)
 A Ordem dos Engenheiros é a Associação Profissional na qual o Estado delegou a
regulação e a regulamentação da profissão de Engenheiro (qualificação, admissão,
exercício e jurisdição disciplinar), através de um Contrato: o seu Estatuto, atualmente, a
Lei 123/2015, de 2 de setembro
 A Ordem é independente dos órgãos do Estado e goza de autonomia administrativa,
financeira, científica e disciplinar.
 A Ordem dispõe de património e de finanças próprias, de autonomia orçamental,
e está sujeita à jurisdição do Tribunal de Contas nos termos da lei
 Exerce jurisdição disciplinar sobre os engenheiros e todos os que, registados na
Ordem, exerçam a atividade de engenharia no território nacional
 Assegura o nível de qualificação profissional dos engenheiros e o cumprimento das
regras de ética e deontologia profissional
 Compete-lhe fomentar o desenvolvimento do ensino e da formação em
engenharia e participar nos processos oficiais de acreditação e avaliação dos cursos*
que dão acesso à profissão, ou em outros promovidos por entidades nacionais ou
estrangeiras (caso da marca de qualidade EUR ACE) e acompanhar a situação geral
do ensino da engenharia;
* O DL n.º 369/2007, de 5 de novembro, instituiu a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), a quem foi atribuída a
avaliação e acreditação das instituições de ensino superior e dos seus ciclos de estudo, ficando todas as instituições do ensino superior
sujeitas aos procedimentos de avaliação e da acreditação da A3ES.
Deste modo, a Ordem ficou legalmente impossibilitada de prosseguir com os procedimentos de acreditação iniciados em 1995, muito embora
continue com proximidade à A3ES.
O Estatuto da Ordem dos Engenheiros | Lei 123/2015, de 2 de
setembro

 A atribuição do título, o seu uso e o exercício da profissão de engenheiro


dependem de inscrição como membro efetivo da Ordem, seja de forma
liberal ou por conta de outrem, e independentemente do setor público,
privado, cooperativo ou social em que a atividade seja exercida
 O uso ilegal do título de engenheiro ou o exercício da respetiva profissão
sem o cumprimento dos requisitos de acesso à profissão em território
nacional são punidos nos termos da lei penal
 Os trabalhadores dos serviços e organismos da administração direta e indireta
do Estado, das regiões autónomas, das autarquias locais e das demais pessoas
coletivas públicas, que pratiquem, no exercício das suas funções, atos próprios
da profissão de engenheiro, e realizem ações de verificação, aprovação,
auditoria ou fiscalização sobre atos anteriores, devem estar validamente
inscritos como membros efetivos da Ordem
O Estado é, por norma, o primeiro a violar da Lei!
A não inscrição na respetiva Associação Profissional é impensável em outras
profissões reguladas (médicos, advogados, contabilistas certificados, por
exemplo)
O Estatuto da Ordem dos Engenheiros | Lei 123/2015
12 Colégios 23 Comissões de Especialização
 Agronómica
 Ambiente
 Civil
 Eletrotécnica
 Florestal
 Geográfica
 Geológica e de Minas
 Informática
 Materiais
 Mecânica
 Naval
 Química e Biológica

O Estatuto impediu a criação de novos Colégios e Comissões de


Especialização (!)
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

1º erro | Designação “Licenciado”


 A atribuição da designação de “Licenciados” para os detentores dos
“novos ciclos curtos de 3 anos”, quando a mesma já existia para os
“ciclos longos de 5 e 6 anos”, anteriores ao processo de Bolonha, foi
precipitada e imprudente
 Tal decisão (intencional) está na origem da confusão criada, que ainda
persiste, e na injustiça no tratamento igual dos detentores de
qualificações nitidamente diferenciadas
 Não pode, nem nunca devia ter sido tratado de forma igual o que por
natureza é diferente
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha
 Um ciclo de estudo de 3 anos não pode conferir, à partida, as mesmas competências e
qualificações profissionais que os “ciclos longos de 5 ou 6 anos”
 A OE, uma vez que o seu anterior Estatuto contemplava a admissão de Licenciados,
decidiu, em 2011, passar a admitir os “licenciados pós Bolonha” (3 anos), embora com
competências diferenciadas (Nível E1)
 Aos Licenciados pré Bolonha (5 e 6 anos) o Regulamento de Admissão e Qualificação
(RAQ) atribuiu o Nível E2, bem como aos “Mestrados pós Bolonha”
 O novo Estatuto da OE (Lei 123/2015) veio corroborar esta interpretação, tendo
apenas substituído a designação para N1 e N2
 Todavia, o Estatuto da OE e o RAQ preveem a evolução do Nível N1 para N2:
 Aquisição da titularidade do grau de mestre (solução natural)
 Após 5 anos de experiência profissional efetiva, em que demonstrem ter efetuado
trabalhos de engenharia especificados no anexo ao Estatuto
 Já foram aprovados 11 casos e estão em apreciação 40 novos pedidos
 Bolonha incita à formação contínua e à valorização profissional ao longo da vida
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

Nível 1 Nível 2 Total


2 464 50 446 52 910
4,7% 95,3%
+5%

Mulheres | 21 %
Homens | 79%

Membros Efetivos Membros Estagiários


Engenheiro Engenheiro Engenheiro Engenheiro
Total Total
Nível 1 Nível 2
Nível 1 Nível 2
1 672 48 052 49 724
792 2 394 3 186
3,4%
24,9%
A diferença nos valores totais refere-se a membros estudantes e outros que rondam perto de dois milhares
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

2º erro | Quadro Nacional de Qualificações (QNQ)


 A implementação do “Acordo de Bolonha” não acautelou os títulos académicos
obtidos antes desta reforma (ciclo de estudos conferido por uma instituição de ensino
superior portuguesa no quadro da organização de estudos anterior à aplicação do
Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de março) o que lesou e continua a lesar seriamente
os seus detentores, que constituem a larga maioria (78%) dos membros desta Ordem
e os mais experientes quadros das empresas empregadoras
 Não se trata de atribuição ou equiparação de graus académicos, mas apenas de
equivalências de qualificações académicas para fins estritamente profissionais
 Se o problema fosse esse, foram proporcionadas soluções expeditas que nos
recusámos a aceitar
 Não pode, nem nunca devia ter sido tratado de forma igual o que por natureza é
diferente!
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

2º erro | Quadro Nacional de Qualificações (QNQ)


Para além das situações atentatórias que se passaram a verificar a nível interno, mais
grave, quando os Licenciados “pré Bolonha” pretendem trabalhar no estrangeiro, em
determinados casos, enfrentam sérias dificuldades porque não podem exibir um título
académico que seja reconhecido como qualificação profissional.
Ou seja, os engenheiros mais experientes e qualificados, que hoje integram os quadros e
dirigem empresas que operam no estrangeiro, não conseguem demonstrar o valor das
suas qualificações académicas, nem explicar porque não detêm uma qualificação
profissional equiparada a Mestre ou algo que possa atestar que a sua anterior
formação académica de 5 ou 6 anos não constitui qualquer desqualificação
competitiva.

E porquê?
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

2º erro | Quadro Nacional de Qualificações (QNQ)


Atente-se no Anexo III da Portaria 782/2009, de 23 de julho, que regula o novo (e atual) Quadro
Nacional de Qualificações, pois é aí que reside o problema

QUALIFICAÇÕES PROFISSIONAIS (não são títulos académicos)

 Bacharelatos e Licenciaturas (pré ou pós Bolonha, ie, de 3,


5 ou 6 anos) - está tudo equiparado no Nível 6
 Mestrados (Bolonha/5 anos) – foram diferenciados no
Nível 7
 Ou seja, as anteriores formações académicas de 5 ou 6
anos (antigas Licenciaturas) foram desqualificadas e estão
equiparadas, para efeitos de qualificação profissional, a
Bacharelatos e aos ciclos curtos de 3 anos
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

2º erro | Quadro Nacional de Qualificações (QNQ)


Aquando da apresentação pública do pacote legislativo que haveria de conduzir ao DL 65/2018, de
16 de agosto, realizada na OE, o Senhor MCTES anunciou publicamente a devida correção que
passaria apenas na mudança de duas linhas do quadro do Anexo III da Portaria 782/2009:
 Na linha do Nível 6 de Qualificações, em que constam ‘Bacharelato e Licenciatura’ como níveis
de formação, clarificar que se trata de Licenciatura pós-Bolonha, correspondente ao 1.º ciclo de
estudos do Quadro de Qualificações do Espaço Europeu do Ensino Superior
 Na linha do Nível 7 de Qualificações, em que consta ‘Mestrados’ como nível de formação,
substituir por “Mestrados e Licenciatura pré-Bolonha” (licenciatura anterior)
Até ao momento nada foi feito apesar de sucessivas promessas do MCTES

Em Espanha, onde também foi cometido o mesmo erro, o Governo assim que percebeu o impacto negativo para a economia e
para a atividade internacional das empresas de engenharia apressou-se a corrigi-lo através de um Real Decreto
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

Internacionalização | Barreiras e dificuldades criadas


 O efeito conjugado da incorreta designação “Licenciado”, independentemente do nº
de anos de formação académica, com a infeliz hierarquização do QNQ, causa grande
desconfiança, por ser incompreensível, nos países fora do “Acordo de Bolonha”

 Os Acordos que a OE tem celebrado com associações internacionais congéneres


apenas preveem a mobilidade e reciprocidade para detentores de formações de ciclo
longo (Licenciados pré Bolonha e Mestres pós Bolonha)

 Basicamente estes Acordos existem na esfera da Lusofonia e na América Latina, já


que no espaço da EU a questão não se coloca
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

Novo erro a caminho?


O Decreto-Lei n.º 65/2018, de 16 de agosto, que altera o regime jurídico dos graus e
diplomas do ensino superior, não pode ser desligado desta discussão e motivou uma
tomada de posição da Ordem dos Engenheiros
1. A Ordem dos Engenheiros vê com apreensão o fim dos mestrados integrados nos termos
vertidos no Decreto-Lei n.º 65/2018, de 16 de agosto, passando para um modelo independente de
um 1.º ciclo e um 2.º ciclo não integrado (o provável modelo 3+2 anos);
2. Embora defendamos a mudança e a constante necessidade de adaptação aos novos desafios
que se colocam às instituições que formam excelentes engenheiros em Portugal, acreditamos que
tal desiderato pode ser alcançado de outra forma;
3. Com efeito, na ótica desta Associação Profissional, a formação académica de um Engenheiro
com competências alargadas em qualquer área de engenharia deve ser, no mínimo, de ciclo
longo, ou seja, pelo menos correspondente ao atual perfil dos mestrados integrados, sem prejuízo
da especificidade de formações mais curtas (licenciatura pós Bolonha), já devidamente
contempladas no Estatuto da Ordem dos Engenheiros para o exercício da profissão;
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

Novo erro a caminho?


4. Os atuais 1ºs ciclos (3 anos) dos mestrados integrados são basicamente preenchidos por
ciências de engenharia e não atribuem, por regra, competências profissionais reconhecidas;
5. O Preâmbulo do Decreto-Lei 65/2018 responsabiliza esta Associação Profissional por eventuais
não admissões destes novos Licenciados (1.º Ciclo), independentemente das expectativas
profissionalizantes que possam ser criadas, quando refere uma vez que as regras habilitacionais a
observar para o exercício das atividades profissionais reguladas continua a ser definida pelas
respetivas ordens profissionais, nos termos legalmente previstos;
6. No que respeita ao novo 2.º ciclo do formato agora previsto no DL 65/2018, ciclo onde
tradicionalmente e em todas as especialidades de engenharia eram ministradas as unidades
curriculares com conteúdos que conferem qualificações profissionais alargadas, a OE acompanhará
os desenvolvimentos sequentes por estar apreensiva em relação ao seu eventual "esvaziamento”;
7. Este novo formato e conteúdos curriculares fora do espaço da UE, sendo uma solução
disruptiva, irá seguramente dificultar, ainda mais, o reconhecimento dos novos cursos de
engenharia, sobretudo em África, Ásia e na América do Sul, mercados onde as empresas
portuguesas operam;
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

Novo erro a caminho?


8. No que respeita ao Quadro Nacional de Qualificações (Anexo III da Portaria 782/2009, de 23 de
julho), a criação de novos perfis de formação irá tornar imperiosa a requalificação e ajustamentos
dos níveis 6 e 7, reivindicação que a Ordem dos Engenheiros tem defendido intransigentemente e
que, apesar das promessas públicas, o Governo ainda não atendeu;
9. Dado que os perfis de formação devem responder a necessidades de mercado, e sendo a
Ordem dos Engenheiros uma Associação Profissional, recomenda-se que a discussão do modelo
seja objeto de auscultação e debate com as associações de empregadores e outras partes
interessadas;
10. A Ordem dos Engenheiros, dentro das suas atribuições estatutárias, manifesta a sua
disponibilidade para acompanhar o desenvolvimento do ensino e da formação em engenharia e
participar nos processos oficiais de acreditação e avaliação dos cursos que dão acesso à profissão;
11. A Ordem dos Engenheiros aguarda, ainda, que sejam tornadas públicas as alterações que as
Escolas de ensino superior vierem a realizar nos conteúdos e âmbitos curriculares, para uma
pronúncia em definitivo, caso se justifique.
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

A reforma de Bolonha
 Na generalidade, o balanço é positivo se atendermos às especificidades, objetivos
pretendidos e limitações inerentes
 Contudo, enferma de despropósitos: a mesma designação para diferentes
qualificações dos Licenciados e o inqualificável QNQ que veio a lesar direitos
 As formações de ciclo curto têm enquadramento em determinados contextos
industriais e empresariais, sendo até o paradigma em muitos países, mas o modelo
ainda carece de aperfeiçoamento
 A OE defende que só um “modelo de ciclo longo” (5 anos) pode conferir formação
adequada e completa em qualquer área de engenharia e tem de coexistir com as
formações de “ciclo curto”
 A rutura do anterior modelo de 5/6 anos para o Mestrado integrado (4,5 + 0,5)
manteve a lógica de continuidade do “modelo de ciclo longo”
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

A reforma de Bolonha
 O que pode motivar os jovens para as diferentes especialidades de engenharia? Os salários
não serão certamente e a Física e a Matemática muito menos…
 Qual a resposta que os modelos de ensino dão às necessidades da economia e dos clusters
instalados no país? O que é que o mercado procura? Bolonha foi a resposta?
 Temos excelentes exemplos que demonstram que as boas apostas na proximidade às empresas
podem ser bem sucedidas e que os “ciclos curtos” são adequados para esse fim
 Quando se acabou com o ensino profissional em Portugal (estigma social que a revolução se
apressou a eliminar) criou-se um problema que até hoje nunca foi devidamente resolvido
 O ensino politécnico tem vindo progressivamente a migrar para o modelo universitário
 Quanto às intenções do Decreto-Lei n.º 65/2018 temos reservas em relação às potenciais
competências profissionalizantes do 1º ciclo de estudos (licenciaturas) e expetativas sobre as
soluções que irão ser adotadas para o 2º ciclo
 Portugal tem de prestar contas nas organizações internacionais, entre as quais o nº de
Licenciados que o país tem e as metas que nos comprometemos a alcançar
A Ordem dos Engenheiros e o Processo de Bolonha

A reforma de Bolonha (news)


 Portugal é o país da OCDE onde ter uma licenciatura mais perdeu valor
Hoje, ter um diploma do ensino superior em Portugal já não é garantia de uma boa remuneração. Os
jovens licenciados portugueses são aqueles que têm maior probabilidade de ter salários baixos.
 O relatório “Education at a Glance 2017 |OECD INDICATORS” revela que 28% dos licenciados em Portugal
concluem os seus estudos em áreas de ciências, tecnologias, engenharias e matemática, um indicador que
coloca o país acima da média da OCDE (23%). Por outro lado, as Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC) abrangem apenas 1% de licenciados, uma das taxas mais baixas da OCDE, que tem uma média de 4%.
 Os peritos da OCDE defendem que o país continua a ter poucos doutorados e “mais de 80% dos
doutorados formados continua a ficar nas universidades e nos centros de investigação”, que desta forma
“não são produtivos para o tecido económico”.
 Há, assim, poucos doutorados nas empresas o que é mau para o crescimento da economia e para a
criação de bens transacionáveis inovadores e que criem valor acrescentado
 Recommendation | Continue upgrading polytechnics and regionally-profiled universities, supporting their
capacity to further develop as ‘practice-based knowledge-intensive institutions’ dedicated to local
development
Agradecido pela vossa atenção

Você também pode gostar