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NÚMERO 49 — NOTA DE CONJUNTURA 16 — 4 ° TRIMESTRE DE 2020

ECONOMIA MUNDIAL Paulo Mansur Levy

Recuperação da economia mundial é Técnico de Planejamento e Pesquisa da Di-


retoria de Estudos e Políticas Macroeconô-
micas (Dimac) do Ipea.
mais forte que o esperado e desigual
paulo.levy@ipea.gov.br
entre setores
Divulgado em 12 de novembro de 2020.

Sumário

A economia mundial registrou forte recuperação no terceiro trimestre, com os PIBs


mostrando variações expressivas, sem, contudo, retornarem aos níveis pré-pande-
mia. Mesmo onde a recuperação é forte, no entanto, o ritmo entre setores é bem
desigual: a indústria tem se expandido a um ritmo bem mais forte que os serviços.

A recuperação mais forte que a esperada levou o Fundo Monetário Internacional


(FMI), em seu último relatório – Panorama da Economia Mundial (World Eco-
nomy Outlook – WEO) de outubro – a rever para menos, em 0,8 ponto percentual
(p.p.), a previsão de queda da economia mundial em 2020, para -4,4%, enquanto
a previsão de crescimento em 2021, de 5,2%, caiu apenas ligeiramente em relação
às projeções de junho. O comércio internacional tem mostrado forte recuperação
desde abril, sem, contudo, ter retornado aos níveis pré-Covid-19. Os preços de
commodities no mercado internacional reagiram a partir de abril, depois da forte
queda no primeiro trimestre do ano, mas perderam fôlego desde setembro.

Os indicadores de alta frequência mostram que na Europa a atividade econômica


começa a sentir os efeitos da nova onda de contágios que atingiu o continente. Esse
efeito é maior nos serviços, enquanto a indústria sustenta a expansão, conforme os
dados de Índice de Gerentes de Compra (Purchasing Managers’ Index – PMI) de
outubro. No mercado de trabalho americano, as contratações líquidas somaram
638 mil em outubro, semelhante a setembro e menos da metade do registrado em
julho-agosto. A taxa de desemprego, porém, se mantém em queda, tendo atin-
gido 6,9% em outubro. A inflação está em queda na Área do Euro e na China,
mas acelerou ligeiramente nos Estados Unidos. As medidas de núcleo mostram
tendências semelhantes às dos índices cheios, porém bem menos acentuadas.

As perspectivas de crescimento forte da economia mundial em 2021 se apoiam na


hipótese de continuidade das atuais políticas expansionistas, tanto a fiscal quanto
a monetária. Nos Estados Unidos, o Congresso chegou a um impasse quanto a um
novo pacote fiscal para impedir uma queda abrupta da atividade econômica com
o fim das medidas de estímulo. Espera-se que, passada a eleição presidencial, as
discussões nesse sentido sejam retomadas. Na União Europeia, em contrapartida,
foi aprovado recentemente um novo pacote vultoso visando garantir a retomada

1
da economia e a sustentação da demanda, mesmo com a retomada de algumas me-
didas de distanciamento social em decorrência do aumento do número de novos
casos.

1 Projeções do FMI, comércio mundial e preços de commodities

A recente revisão pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) das projeções para a
economia mundial refletiu, relativamente àquelas divulgadas em junho, uma visão
moderadamente mais otimista no curto prazo, ao mesmo tempo que reconhece o
aumento da incerteza em relação ao futuro. De acordo com essas projeções mais
recentes, a queda do PIB mundial em 2020 será menor que a projetada em junho:
-4,4%, ante -5,2% na projeção anterior (tabela 1). Para 2021, as projeções corres-
pondentes são 5,2% e 5,4%, respectivamente.1 A revisão do crescimento de 2020
reflete quedas menores – mas nem por isso menos dramáticas – que as previstas

Carta de Conjuntura
para o segundo trimestre, principalmente nos países avançados, assim como os si-
nais de forte crescimento no terceiro trimestre. O crescimento maior que o previsto
da China no segundo trimestre também contribuiu para a revisão do crescimento
da economia mundial em 2020.

TABELA 1
Economia Mundial – projeções de crescimento do FMI (out./2020)
Diferença das
projeções de
Crescimento real do PIB (%) Junho/2020*
Média Média Média
2016 2017 2018 2019 2020(p) 2021(p) 2020(p) 2021(p)
2000-2008 2009-2011 2012-2014

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


Mundo 4,1 2,8 3,4 3,2 3,8 3,6 2,8 -4,4 5,2 0,8 -0,2
Economias desenvolvidas 2,3 0,4 1,5 1,7 2,4 2,2 1,7 -5,8 3,9 2,3 -0,9
Área do Euro 2,0 -0,3 -0,1 1,8 2,4 1,9 1,3 -8,3 5,2 1,9 -0,8
Reino Unido 2,7 -0,4 1,6 1,9 1,8 1,3 1,5 -9,8 5,9 0,4 -0,4
Estados Unidos 2,3 0,3 2,3 1,5 2,2 2,9 2,2 -4,3 3,1 3,7 -1,4
Japão 1,2 -0,6 1,0 0,9 1,9 0,3 0,7 -5,3 2,3 0,5 -0,1
Países emergentes e em
6,5 5,5 4,9 4,4 4,7 4,5 3,7 -3,3 6,0 -0,2 0,2
desenvolvimento
Ásia 8,5 8,2 6,8 6,4 6,5 6,3 5,5 -1,7 8,0 -0,9 0,6
China 10,4 9,7 7,7 6,7 6,9 6,7 6,1 1,9 8,2 0,9 0,0
Índia 7,0 7,5 6,3 7,1 6,7 6,1 4,2 -10,3 8,8 -5,8 2,8
América Latina e Caribe 3,7 3,0 2,4 -0,7 1,3 1,1 0,0 -8,1 3,6 1,3 -0,1
México 2,6 1,5 2,5 2,9 2,1 2,2 -0,3 -9,0 3,5 1,5 0,2
Brasil 3,7 3,3 1,3 -3,5 1,1 1,3 1,1 -5,8 2,8 3,3 -0,8
Europa - Países emergentes e em
4,7 2,0 2,4 3,2 6,0 3,2 2,1 -4,6 3,9 1,2 -0,3
desenvolvimento
Rússia 7,0 0,2 1,8 -0,2 1,5 2,5 1,3 -4,1 2,8 2,5 -1,3
Oriente Médio e Ásia Central 5,8 4,1 3,3 4,9 2,2 1,8 1,4 -4,1 3,0 0,4 -0,5
África Subsaariana 5,8 4,5 4,9 1,4 2,9 3,2 3,2 -3,0 3,1 0,2 -0,3
África do Sul 4,2 1,7 2,1 0,3 1,3 0,8 0,2 -8,0 3,0 0,0 -0,5
Comércio Internacional - volume 6,7 2,8 3,3 2,2 5,3 3,8 1,0 -10,4 8,3 1,5 0,3
Fonte: FMI.
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
Obs*:projeções de junho reestimadas com base nas novas estimativas de PPP.

Comparando os grandes grupos de países, a maior revisão ocorreu para os países


avançados, cujo crescimento previsto passou de -8,1% em junho para -5,8% em
outubro. A forte revisão alcançou todos os países, com destaque para os Estados
Unidos, cujo crescimento previsto para 2020 passou de -8,0% para -4,3%. A pre-
visão de crescimento na Área do Euro passou de -10,2% para -8,3%.

Nos países emergentes e em desenvolvimento, a relativa estabilidade da previsão de


crescimento para 2020 esconde fortes alterações entre os países do grupo. A proje-

1. A previsão no relatório Panorama da Economia Mundial (World Economy Outlook – WEO), de junho, foi, na verdade, de uma queda
global de -4,9%, em 2020, mas baseou-se numa composição diferente do produto global em relação à de outubro, que se baseou em novas
estimativas para as taxas de paridade de poder de compra (PPP, na sigla em inglês). A previsão para 2021 com base nas PPPs anteriores foi de
um crescimento de 5,4%.

2
ção de crescimento para o Brasil em 2020 passou de -9,1% para -5,8%, enquanto
a da Índia caiu de -4,5% para -10,3%. O crescimento chinês em 2020 deverá al-
cançar 1,9%, ante a previsão de 1,0% feita em junho.

A leve revisão para baixo do crescimento da economia mundial previsto para 2021
decorre da revisão de 2020 (menor efeito rebote) e da percepção de que as medidas
de distanciamento social deverão ser mantidas ainda por certo tempo. Segundo
o FMI, mesmo após o forte crescimento esperado para o próximo ano, quando
comparado à média anual de 3,7% ao ano (a.a.) de 2010 a 2019, o PIB mundial de
2021 será apenas 0,6% maior que o de 2019. De 2022 a 2025, o FMI projeta um
crescimento médio anual de 3,8% a.a.

A projeção para o comércio internacio- GRÁFICO 1


nal é de uma queda de 10,4% em volu- Comércio Mundial – volumes
(Índice 2010 = 100)

Carta de Conjuntura
me em 2020 e um crescimento de 8,3%
130
em 2021. O comércio internacional já
125
vinha em trajetória de desaceleração des-
de a segunda metade de 2019, mas desa- 120
bou com a pandemia: queda de 15,5% 115
entre fevereiro e maio (gráfico 1). Desde 110
então, houve recuperação de 16%, o que 105
ainda deixa os fluxos de comércio em 100
2015m01
2015m04
2015m07
2015m10
2016m01
2016m04
2016m07
2016m10
2017m01
2017m04
2017m07
2017m10
2018m01
2018m04
2018m07
2018m10
2019m01
2019m04
2019m07
2019m10
2020m01
2020m04
agosto 2% abaixo dos níveis pré-pande- 2020m07

mia. Destaque, novamente, para a Chi-

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Fonte: Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis (CPB).
na, que em agosto já exibia fluxos de co- Elaboração: Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macro-
econômicas (Dimac) do Ipea.
mércio exterior 6,3% superiores aos do
último trimestre de 2019, após recuo de mais de 10% em fevereiro.

Os preços de commodities vêm acompanhando a reação da economia mundial, e


subiram 32% desde o final de abril, segundo o índice CRY, da Bloomberg. O preço
do petróleo também se recuperou, aumentando 78% no mesmo período. No en-
tanto, como se pode ver no gráfico 2, desde o final de agosto, o preço do petróleo
voltou a cair, enquanto o preço do conjunto de commodities tem se sustentado. Isso
pode estar refletindo aspectos específicos do mercado de petróleo, e em especial o
receio de uma contração mais forte da demanda caso as medidas de distanciamento
social que voltaram a ser adotadas na Europa se prolonguem por algum tempo.
GRÁFICO 2
Índice de Preços de commodities (Commodity Research Bureau – CRB) e preço do petróleo (Brent)
240 98
220 88
200 78
68
180
US$/barril
1967=100

58
160
48
140 38
120 28
100 18
02/01/2015

02/04/2015

02/07/2015

02/10/2015

02/01/2016

02/04/2016

02/07/2016

02/10/2016

02/01/2017

02/04/2017

02/07/2017

02/10/2017

02/01/2018

02/04/2018

02/07/2018

02/10/2018

02/01/2019

02/04/2019

02/07/2019

02/10/2019

02/01/2020

02/04/2020

02/07/2020

02/10/2020

CRB Brent - eixo direito

Fonte: Bloomberg.
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

3
As commodities agrícolas e de minérios GRÁFICO 3
e metais, que, segundo o FMI, cresce- Preços de commodities segundo categorias de produtos
(Índice 2010 = 100)
ram 2,7% e 2,0%, respectivamente, em
175
setembro ante agosto, ainda não senti-
150
ram esse efeito – talvez pela influência
125
da China nesses mercados –, enquanto 100
o preço de commodities ligadas à energia 75
no mesmo período recuou 5,1% (gráfico 50
3). Os preços de commodities relevantes 25
para o Brasil revelam forte recuperação

jul/15

jul/16

jul/17

jul/18

jul/19

jul/20
jan/15
abr/15

out/15
jan/16
abr/16

out/16
jan/17
abr/17

out/17
jan/18
abr/18

out/18
jan/19
abr/19

out/19
jan/20
abr/20

out/20
no caso da soja (aumento de 32% desde Energia Agricultura Metais e Minerais Todas as Commodities
o final de maio) e, no caso do minério de
Fonte: Banco Mundial e FMI.
ferro, recuperação (aumento de 58% de Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
abril a meados de setembro), seguida de

Carta de Conjuntura
queda (de 6% daquele ponto ao final de outubro) – gráfico 4.

GRÁFICO 4
Preços de commodities – soja e minério de ferro

1.200
1.200 135
1.150
1.150 125
1.100
1.100 115
1.050
1.050 105
95
US$/bushel
US$/bushel

1.000
1.000

US$/ton
US$/ton
85
950
950
75
900
900 65
850
850 55
800
800 45

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750
750 35
02/01/2015
13/03/2015
22/05/2015
31/07/2015
09/10/2015
18/12/2015
26/02/2016
06/05/2016

02/12/2016

30/06/2017
02/01/2015
13/03/2015
22/05/2015
31/07/2015
09/10/2015
18/12/2015
26/02/2016

15/07/2016
23/09/2016

10/02/2017
21/04/2017

08/09/2017
17/11/2017
26/01/2018
06/04/2018
15/06/2018
24/08/2018
02/11/2018
11/01/2019
22/03/2019
31/05/2019
09/08/2019
18/10/2019
27/12/2019
06/03/2020
15/05/2020
24/07/2020
02/10/2020

Soja
Soja Minério
Minério de
de Ferro
Ferro (eixo
(eixo direito)

Fonte: Bloomberg.
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

2 Estados Unidos, Área do Euro e China: O comportamento dos


PIBs no terceiro trimestre

Um dos argumentos utilizados pelo FMI para rever para melhor suas projeções de
crescimento foi a reação mais forte que a prevista com o relaxamento, ou mesmo
liberação total, das medidas de restrição à mobilidade. Após queda de 31,4% no se-
gundo trimestre, o PIB americano cresceu inéditos 33,1% no terceiro trimestre na
comparação, ajustada sazonalmente e anualizada, com o trimestre anterior – todas
as variações a seguir são variações trimestrais ajustadas sazonalmente e anualizadas.
Apesar da forte recuperação, o nível ainda é 3,5% inferior ao do último trimestre
de 2019.

A dinâmica da recuperação, em termos de componentes da demanda, vem sendo


dada tanto pelo consumo das famílias, com variação de 40,7%, quanto pelos inves-
timentos (83%). No caso destes, todos os componentes apresentaram forte cresci-
mento, destacando-se o investimento residencial, com variação de 59%. A variação

4
de estoques contribuiu com 6,6 pontos percentuais (p.p.) para o crescimento do
PIB no trimestre, refletindo a recomposição após a contribuição negativa de 3,5
p.p. no trimestre anterior. O setor externo contribuiu negativamente em 3,1 p.p.
com as importações, refletindo o salto da demanda, crescendo 91,1%, enquanto as
exportações aumentaram 59,7% (tabelas 2 e 3).
TABELA 2
Estados Unidos: PIB
(Variações trimestrais ajustadas sazonalmente e anualizadas)
19T1 19T2 19T3 19T4 20T1 20T2 20T3
PIB 2,9 1,5 2,6 2,4 -5,0 -31,4 33,1
Consumo das Famílias 1,8 3,7 2,7 1,6 -6,9 -33,2 40,7
Investimento Privado Bruto 3,9 -5,8 1,8 -3,7 -9,0 -46,6 83,0
Investimento Fixo 2,9 -0,4 2,4 1,0 -1,4 -29,2 28,5
Investimento Não-Residencial 4,2 0,0 1,9 -0,3 -6,7 -27,2 20,3
Estruturas 8,2 1,6 3,6 -5,3 -3,7 -33,6 -14,6

Carta de Conjuntura
Máquinas e Equipamentos 2,0 -3,8 -1,7 -1,7 -15,2 -35,9 70,1
Produtos sujeitos a propriedade intelectual 4,5 4,1 5,3 4,6 2,4 -11,4 -1,0
Investimento Residencial -1,7 -2,1 4,6 5,8 19,0 -35,6 59,3
Variação de Estoques .... .... ... ... ..... ..... .....
Exportação Líquida de Bens e Serviços .... .... ... ... ..... ..... .....
Exportações 1,8 -4,5 0,8 3,4 -9,5 -64,4 59,7
Importações -2,1 1,7 0,5 -7,5 -15,0 -54,1 91,1
Consumo e Investimento do Governo 2,5 5,0 2,1 2,4 1,3 2,5 -4,5

Fonte: Bureau of Economic Analysis - BEA.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

TABELA 3

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


Estados Unidos: PIB
(Contribuições para a variação trimestral ajustada sazonalmente e anualizada)
19T1 19T2 19T3 19T4 20T1 20T2 20T3
PIB 2,9 1,5 2,6 2,4 -5,0 -31,4 33,1
Consumo das Famílias 1,2 2,4 1,8 1,0 -4,7 -24,0 25,2
Investimento Privado Bruto 0,7 -1,0 0,3 -0,6 -1,5 -8,7 11,5
Investimento Fixo 0,5 -0,0 0,4 0,1 -0,2 -5,2 4,9
Estruturas 0,2 0,0 0,1 -0,1 -0,1 -1,1 -0,4
Máquinas e Equipamentos 0,1 -0,2 -0,1 -0,1 -0,9 -2,0 3,3
Produtos sujeitos a propriedade intelectual 0,2 0,1 0,2 0,2 0,1 -0,5 -0,0
Investimento Não-Residencial 0,5 0,0 0,2 -0,0 -0,9 -3,6 2,8
Investimento Residencial -0,0 -0,0 0,1 0,2 0,6 -1,6 2,0
Variação de Estoques 0,2 -0,9 -0,0 -0,8 -1,3 -3,5 6,6
Exportações Líquidas de Bens e Serviços 0,5 -0,7 0,0 1,5 1,1 0,6 -3,0
Exportações 0,2 -0,5 0,1 0,3 -1,1 -9,5 4,9
Importações 0,3 -0,2 -0,0 1,1 2,2 10,1 -7,9
Consumo e investimento do Governo 0,4 0,8 0,3 0,4 0,2 0,7 -0,6

Fonte: BEA.
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

Na Área do Euro, a trajetória do PIB foi semelhante à dos Estados Unidos, só que
mais acentuada (gráfico 5). As variações dessazonalizadas do trimestre em relação
ao trimestre imediatamente anterior foram -11,8% e 12,7% no segundo e tercei-
ro trimestres, respectivamente. Em termos anualizados, essas variações seriam de
-39,5% e 61,5%, respectivamente, mais amplas que nos Estados Unidos, especial-
mente o crescimento do terceiro trimestre. A primeira estimativa do PIB trimestral
não faz abertura por setores ou componentes da demanda, mas, como se argumen-

5
tará a seguir, parece refletir com particular intensidade o comportamento do setor
de serviços – em especial, turismo e lazer, que no verão europeu voltaram a operar
em ritmo mais forte que a virtual paralisia durante a fase mais crítica de distancia-
mento o social. A produção industrial no terceiro trimestre registrou crescimento
de 18%.

O PIB chinês cresceu 4,9% no terceiro trimestre em relação a igual período de


2019 e 2,7% na comparação dessazonalizada com o trimestre anterior, após cresci-
mento de 11,7% no segundo e queda de 10% no primeiro trimestre. Na abertura
por setores, o crescimento do terceiro trimestre mostrou principalmente aceleração
dos serviços, cuja taxa de crescimento interanual passou de 1,9% no segundo tri-
mestre para 4,3% no terceiro. Na indústria, as variações interanuais corresponden-
tes foram 4,7% e 6,0%, respectivamente.

Carta de Conjuntura
GRÁFICO 5 GRÁFICO 6
Área do Euro – PIB trimestral China – PIB trimestral
(Variação com ajuste sazonal ante o trimestre anterior) (Variações interanuais, em %)

16,7
18,2 10
16,1

12,7
5
8,2

0
0,3 0,3 0,4 0,1 0,1 0,1 0,0 0,4

-0,2 -0,3 -5
-2,0
-3,7
-5,2 -5,3
-6,0
-10
-9,7
-11,8
-13,7
-13,0
-15
2017 T1
2017 T2
2017 T3
2017 T4
2018 T1
2018 T2
2018 T3
2018 T4
2019 T1
2019 T2
2019 T3
2019 T4
2020 T1
2020 T2
2020 T3

-17,8

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


2019 T3 2019 T4 2020 T1 2020 T2 2020 T3
Euro Área Alemanha Espanha França Itália Agropecuária Indústria Serviços PIB

Fonte: Eurostat. Fonte: National Bureau of Statistics (NBS).


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

Em geral, os dados de recuperação em relação ao período mais crítico da Covid-19


– no segundo e terceiro trimestres na China, e no terceiro trimestre nos demais pa-
íses que constituem o núcleo da economia mundial – parecem justificar a visão de
que houve uma reação positiva e até certo ponto acima do esperado da economia
logo após o choque inicial do Sars-Cov-2 e das medidas de restrição à circulação
de pessoas. Boa parte dessa reação positiva decorreu das medidas fiscais de apoio a
pessoas e empresas, como será discutido mais adiante. No entanto, o ressurgimento
com força dos contágios e o aumento do número de mortes, ainda que em propor-
ção bem menor, na Europa e em diversos estados dos Estados Unidos, sugerem a
importância de se olhar mais de perto os dados de alta frequência.

3 Indicadores mensais da atividade econômica

O novo aumento do número de casos de Covid-19 na Europa e em vários estados


dos Estados Unidos vem sendo seguido pela retomada de medidas de distancia-
mento social, o que tende a afetar a atividade econômica, em particular os serviços.
Os Índices de Gerentes de Compra (Purchasing Managers’ Index – PMIs) de outu-
bro revelam uma indústria de transformação em expansão robusta, crescimento na

6
construção civil e um setor de serviços que perde dinamismo após uma recuperação
modesta durante o verão do hemisfério norte. Desde julho, o PMI dos serviços na
Área do Euro já caiu 15,5%, voltando para a faixa de valores abaixo de 50 pontos, o
que indica contração, tendo registrado 46,2 pontos em outubro. Nos Estados Uni-
dos, em contraste, o crescimento tem sido contínuo desde maio. Aos 56,0 pontos
em outubro, já superou em quase 5% o nível pré-pandemia.

O setor industrial tem mostrado dinamismo nas maiores economias do mundo.


Na Área do Euro, a indústria mostra aceleração de ritmo em outubro, com o PMI
em 54,8 pontos, ante 53,7 pontos em setembro. É o melhor desempenho em mais
de dois anos. Para a Alemanha, especificamente, os PMIs de setembro e outubro
registraram, respectivamente, 56,4 e 58,2 pontos. Nos Estados Unidos, o PMI da
indústria mostra estabilidade, em 53,3 pontos em outubro.

Carta de Conjuntura
GRÁFICO 7 GRÁFICO 8
PMI – Serviços PMI – Indústria de Transformação
(50 = neutralidade) (50 = neutralidade)
60
62
50 57

40 52

47
30
42
20 37

10 32
fev/18

set/18

fev/19

set/19

fev/20

set/20
jun/18

jun/19

jun/20
nov/17

abr/18

jul/18

nov/18

abr/19

jul/19

nov/19

abr/20

jul/20
out/17

mar/18
dez/17

mai/18

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out/18

mar/19
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out/19

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| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


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set/20
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nov/18

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jul/19

nov/19

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dez/17

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ago/18
out/18

mar/19
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out/19

mar/20
dez/19

mai/20

ago/20
jan/18

jan/19

jan/20

EUA Euro China Japão EUA AE China Japão

Fonte: Bloomberg. Fonte: Bloomberg.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

O indicador de confiança empresarial na Alemanha, calculado pelo Instituto Lei-


bniz para Pesquisa Econômica da Universidade de Munique (Ifo Institute), em
contrapartida, já mostrou certa reversão em outubro, caindo de 93,2 para 92,7
pontos. A percepção quanto aos negócios correntes melhorou, de 89,2 para 90,3
pontos, mas o indicador relativo a expectativas futuras recuou: de 97,4 pontos para
95,0 pontos.
GRÁFICO 10
Alemanha: sondagem Ifo de clima dos negócios segun-
GRÁFICO 9 do grandes setores – saldo entre repostas favoráveis e
Alemanha – Sondagem Ifo de clima dos negócios desfavoráveis
(100 = neutralidade) (Em p.p.)
110 40
105 30
100 20
10
95
0
90
-10
85 -20
80 -30
75 -40
70 -50
01/2017
04/2017
07/2017
10/2017
01/2018
04/2018
07/2018
10/2018
01/2019
04/2019
07/2019
10/2019
01/2020
04/2020
07/2020
10/2020
01/2016
04/2016
07/2016
10/2016
01/2017
04/2017
07/2017
10/2017
01/2018
04/2018
07/2018
10/2018
01/2019
04/2019
07/2019
10/2019
01/2020
04/2020
07/2020
10/2020

Clima dos Negócios Situação atual Expectativas Indústria Serviços Comércio Construção

Fonte: ifo Institute. Fonte: ifo Institute.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

7
Por setores, a sondagem revela que a piora das percepções – correntes e em termos
de expectativas – é mais forte entre empresários dos serviços, revertendo uma forte
recuperação desde abril (maior, inclusive, que nos demais setores). Nos serviços, o
saldo entre avaliações positivas e negativas caiu de 6,9 pontos em setembro para 3,9
pontos em outubro. Na indústria, o saldo aumentou de -0,5 ponto para 1,6 ponto;
na construção, caiu de 3,3 para 0,8 ponto; e no varejo, de 0,3 para -0,1 ponto.
Parece ter havido uma convergência entre os setores, com todos aproximando-se
da neutralidade.

Apesar dos sinais de cautela que esses indicadores de sentimento inspiram na Euro-
pa, os dados que medem diretamente a atividade econômica continuam mostran-
do um desempenho favorável devido à defasagem com que são divulgados. Já foi
mencionado, por exemplo, o desempenho da indústria, que de maio a setembro
acumula crescimento de 30%. No comércio, o indicador de vendas no varejo (ex-

Carta de Conjuntura
clusive automóveis) aumentou 4% em agosto ante julho, o que representa nível
recorde para a série. Nos serviços, os últimos dados do Eurostat disponíveis são de
julho, apontando para crescimento no volume de prestações de serviços de 15%
contra a média do segundo trimestre.

GRÁFICO 11 GRÁFICO 12
Área do Euro: produção da indústria Área do Euro: vendas do comércio
(Série dessazonalizada, 2015 = 100) (Série dessazonalizada, 2015 = 100)
104,3 104,3
103,3 103,2 110
101,5 101,5
99,3 99,6
98,8 98,8 98,3
96,7 96,7
96,4
97,0 97,1 97,2 105

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


94,0
91,8 91,8
91,0 91,1 91,1
100

83,8
83,2
95

90
74,6
73,4
85

80
jan-20

fev-20

mar-20

mai-20

jun-20

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abr-20

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set-19

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jun-20
jul-19

nov-19

abr-20

jul-20
ago-19

out-19

dez-19

mar-20

mai-20

ago-20

Total (excl construção) Manufatura Eletricidade e Gás

Fonte: Eurostat. Fonte: Eurostat.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

Nos Estados Unidos, os indicadores recentes ainda são bastante positivos, embora
mostrando alguma moderação na ponta. Na indústria, a despeito do comporta-
mento favorável do PMI, a produção total oscilou em agosto e setembro, com que-
da neste último mês, principalmente pelo efeito dos serviços de utilidade pública
e da tendência de queda da indústria extrativa – leia-se petróleo. O segmento de
transformação vem tendo desempenho mais positivo, acumulando crescimento de
17% desde abril, bem maior que nos demais segmentos. A produção industrial nos
Estados Unidos ainda se encontra 5,4% abaixo da média do primeiro trimestre. O
índice do Instituto para a Gestão da Produção (Institute for Supply Management –
ISM), semelhante ao PMI, para a indústria de transformação em outubro registrou
um salto de 7% (depois de ter caído 1% em setembro), atingindo 59,3 pontos, o
maior nível desde setembro de 2018.

8
As vendas do comércio nos Estados Unidos deram um salto em maio e cresceram
em todos os meses subsequentes. Em setembro, a variação ante agosto foi de 1,9%,
acelerando em relação ao 0,2% de crescimento naquele mês. As vendas do comér-
cio encontram-se 8,6% acima da média do primeiro trimestre.

GRÁFICO 13 GRÁFICO 14
Estados Unidos: produção industrial Estados Unidos: vendas no varejo
(Séries dessazonalizadas, 2012 = 100) (Série dessazonalizada, em US$ bilhões)
140 494
484 485
480
130
464 462
460 461 461
120 457
449
110 438

100

90

80

Carta de Conjuntura
383
set/19

fev/20

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jul-20
out-19

dez-19

mar-20

mai-20

ago-20
Total Manufatura Eletricidade e gás Mineração

Fonte: Federal Reserve Bank of St. Louis Economic Data - FRED. Fonte: FRED.
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

O setor de construção nos Estados Unidos, provavelmente refletindo a taxa de ju-


ros de longo prazo em níveis recorde de baixa, vem tendo forte recuperação, após
a redução abrupta de abril. Como visto nos dados de PIB do terceiro trimestre, o
investimento residencial aumentou quase 60%, e parte da recuperação em relação à
queda de 35,6% do segundo trimestre pode ser associada à aceleração do ritmo de

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


valorização dos imóveis, com o índice nacional Case-Shiller de preços de imóveis
registrando variação anual de 5,7% em agosto, ante 3,3% na média do segundo
semestre do ano passado. A venda de novas moradias deu um salto a partir de maio
e cresceu 74,4% até agosto em relação a abril, antes de cair ligeiramente (-3,5%)
em setembro. O início da construção de novas moradias também registrou forte
recuperação: após queda de 37% em abril frente à média do primeiro trimestre, as
novas construções de imóveis residenciais aumentaram 52% até setembro.

GRÁFICO 15
Estados Unidos: vendas e início da construção de novas residências, com ajuste sazonal e anualizado
(Em 1 mil unidades)

1580 950
1480
850
1380
1280 750
1180
650
1080
550
980
880 450
jan-15

jan-16

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jan-19

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set-15

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set-20
jul-15

nov-15

jul-16

nov-16

jul-17

nov-17

jul-18

nov-18

jul-19

nov-19

jul-20
mar-15
mai-15

mar-16
mai-16

mar-17
mai-17

mar-18
mai-18

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mai-19

mar-20
mai-20

Início de novas construções Venda


Vendade
denovas
novasresidência (eixo
residências secundário)s
(eixo secundário)

Fonte: FRED.
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

9
A atividade econômica na China parece ter se firmado após uma recuperação relati-
vamente hesitante no segundo trimestre. Os dados mensais de produção industrial,
vendas do comércio e investimentos em ativos fixos registraram em setembro as
taxas anuais de crescimento mais elevadas desde a crise da Covid-19 que afetou o
país principalmente no primeiro trimestre.

De fato, a taxas anuais foram fortemente negativas no bimestre janeiro-fevereiro,


especialmente nas vendas do comércio, refletindo as restrições à mobilidade para
manter o distanciamento social. A recuperação vem sendo puxada pelos investi-
mentos, enquanto as vendas do comércio só registraram crescimento ante igual
mês de 2019 em setembro. Esse aumento do investimento, com reação mais conti-
da das vendas, pode estar refletindo a expansão do crédito, que no agregado cresceu
a uma taxa anual de quase 60% ante iguais meses de 2019 na média do período
março-setembro. A produção industrial, por seu turno, reflete a recuperação da de-

Carta de Conjuntura
manda doméstica e, em menor grau, da demanda externa. Como se pode observar
no gráfico 17, que capta as variações anuais da média móvel de três meses, as expor-
tações registraram crescimento de 10,3% em outubro, depois de terem registrado
-12% em março, enquanto as importações registraram variações de -11% em maio
e de 5,3% em setembro.

GRÁFICO 16 GRÁFICO 17
China: produção industrial, vendas do comércio e in- China: exportações e importações – variação anual da
vestimentos em ativos fixo, variação anual média móvel de três meses
(Em %) (Em %)

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


10 30
5 25
20
0
15
-5 10
-10 5
0
-15
-5
-20 -10
-25 -15
-20
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set/20
abr/14

abr/15

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abr/17

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ago/13
dez/13

ago/14
dez/14

ago/15
dez/15

ago/16
dez/16

ago/17
dez/17

ago/18
dez/18

ago/19
dez/19
mai/20

Vendas no Varejo Produção Industrial Investimento em Ativos Fixos Exportação Importação

Fonte: National Bureau of Statistics (NBS). Fonte: Bloomberg.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

4 Mercado de trabalho e inflação

Apesar da recuperação da atividade econômica observada no terceiro trimestre, o


hiato do produto permanece elevado, e as condições no mercado de trabalho ainda
mostram relativa folga. Nos Estados Unidos, o desempenho do mercado de traba-
lho tem surpreendido: em outubro, 12,1 milhões de postos de trabalho já haviam
sido recuperados, dos 22,2 milhões perdidos em março e abril. O ritmo de criação
de novos postos de trabalho, contudo, tem desacelerado: em junho, foram criados
4,8 milhões de empregos, mas em outubro a variação do emprego foi de 638 mil
– desempenho ainda significativo quando comparado à média mensal de 185 mil
novos postos na década 2010-2019.

10
A taxa de desemprego caiu de 7,9% em setembro para 6,9% em outubro. A traje-
tória de queda vem desde maio, depois de o desemprego ter alcançado 14,7% em
abril, mas ainda encontra-se bem acima da taxa de fevereiro, de 3,5%. Vale notar,
ainda, que a taxa de participação oscilou em torno de 61,5% nos últimos cinco me-
ses até outubro, maior que o registro de 60,2% em abril, mas ainda 2 p.p. menor
que a taxa de 63,4% do primeiro bimestre.
GRÁFICO 18
Estados Unidos: mercado de trabalho
5000 16
14
0
12
-5000
10
-10000 8
6
-15000
4

Carta de Conjuntura
-20000
2
-25000 0
set/19

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set/20
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out/19

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dez/19

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ago/20

out/20
jan/20

Novos postos de trabalho Taxa de Desemprego - eixo direito

Fonte: Bureau of Labor Statisitics - BLS.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

Na Área do Euro, ao contrário dos Estados Unidos, o desemprego se mantém


elevado e em leve tendência de alta, tendo alcançado 8,3% em setembro, 1 p.p. a
mais que em fevereiro, mas não tão diferente da taxa média de 2019, de 7,6%. Na
China, o desemprego subiu para 6,2% em fevereiro, mas declinou desde então para

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


registrar 5,4% em setembro.

O front inflacionário tem mostrado al- GRÁFICO 19


guma reação da inflação em termos de Área (Em %)
do Euro e China: taxa de desemprego

seus núcleos, isto é, excluindo-se os 8,3 8,3

componentes voláteis relativos a alimen-


8,1
7,9
7,6
7,5

tos e energia. Como se pode observar


7,4 7,4 7,4 7,4 7,4
7,3
7,2

no gráfico 20, que retrata a trajetória da 6,2

taxa de inflação anual do índice cheio,


6,0
5,9 5,9
5,7 5,7
5,6
5,4
5,3
nos Estados Unidos há um aumento da 5,2
5,1 5,1
5,2

inflação anual, que alcançou 1,4% em


2019M09

2019M10

2019M11

2019M12

2020M01

2020M02

2020M03

2020M04

2020M05

2020M06

2020M07

2020M08

2020M09

setembro, ante 0,2% em maio. Essa re-


cuperação, contudo, reflete principal-
Área do Euro China
mente aumentos de preços de combus-
Fonte: Eurostat e NBS.
tíveis. Quando se olha para o núcleo da Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.
inflação (gráfico 20), ela mostra um au-
mento bem mais moderado, de 1,2% em junho para 1,7% em setembro. Na Área
do Euro, a tendência de queda é forte tanto no índice cheio (deflação de 0,3% em
setembro, após registro de inflação de 1,2% em fevereiro) quanto no núcleo (1,2%
em junho e 0,2% em setembro). Por fim, a China também atravessa um período
de forte queda das taxas de inflação: o índice cheio, que chegou a atingir 5,4% em
janeiro deste ano, caiu para uma variação anual de 1,7%; no núcleo, a queda foi de
1,5% para 0,5%, respectivamente.

11
GRÁFICO 20 GRÁFICO 21
Inflação – índices de preços ao consumidor Inflação – núcleo dos índices de preços ao consumidor
(Variação anual) (Variação anual)
6 3,0

5 2,5
4
2,0
3
1,5
2
1,0
1
0 0,5

-1 0,0

jan-17

jan-18

jan-19

jan-20
set-17

set-18

set-19

set-20
jul-17

nov-17

jul-18

nov-18

jul-19

nov-19

jul-20
mar-17
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mar-18
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jul-17

nov-17

jul-18

nov-18

jul-19

nov-19

jul-20
mar-17
mai-17

mar-18
mai-18

mar-19
mai-19

mar-20
mai-20

EUA Área do Euro China EUA Área do Euro China

Fonte: BLS. Fonte: BLS.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

A ociosidade no mercado de trabalho e a tendência declinante da inflação – exce-

Carta de Conjuntura
to talvez nos Estados Unidos, onde até a medida de núcleo da inflação acelerou
ligeiramente nos últimos meses, mas ainda se mantém abaixo da meta – permitem
esperar a continuidade das políticas expansionistas atualmente em execução nas
maiores economias do mundo.

5 Medidas de política econômica

O comportamento das vendas do comércio nos Estados Unidos está estreitamen-


te associado às medidas de enfrentamento à crise, principalmente na área fiscal.

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


Como visto, o consumo das famílias cresceu 41% no terceiro trimestre, depois de
ter caído 33,2% no segundo. O pacote fiscal implementado a partir de abril, além
de prover fôlego às empresas por meio de empréstimos diretos do Tesouro e de ga-
rantias de crédito, promoveu forte aumento de transferência de renda às famílias:
sua renda disponível aumentou 14,8% em abril, após queda de 1,7% em março
(gráfico 18). Depois disso, observa-se uma redução em maio, devido ao efeito de
pagamentos únicos (tax rebates, no valor de US$ 293 bilhões), e novamente em
agosto, devido ao fim do adicional pago pelo governo federal a quem estivesse
recebendo seguro-desemprego (US$ 268 bilhões). Em setembro, a renda pessoal
disponível voltou a crescer pela extensão do pagamento do adicional de seguro-
-desemprego em montante de US$ 44 bilhões, porém com alcance mais limitado.
GRÁFICO 22 GRÁFICO 23
Estados Unidos: renda pessoal e renda pessoal disponí- Estados Unidos: renda pessoal – composição ajustada
vel, ajustada sazonalmente e anualizada sazonalmente e anualizada
(Em US$ trilhões) (Em US$ trilhões)

20 20
20
20
20 3,2 3,2 3,2 3,2 6,6 5,5 5,0 4,9 4,2 4,2
3,1 3,1 3,2 3,3
19 19,0
19
19 19 19 19 19 19

18,1 11,5 11,5 11,5 11,6 11,6 11,7 11,8 11,5 11,3 11,4 11,5
18,0 10,6 10,9 11,1
17,8
17,6
17,4

16,8
16,7
16,5 16,6 16,6 16,6 16,6 16,6 4,0 4,0 4,0 4,1 4,0 4,1 4,1 4,0 3,8 3,8 3,9 4,0 4,0 4,1
2019M08
2019M09
2019M10
2019M11
2019M12
2020M01
2020M02
2020M03
2020M04
2020M05
2020M06
2020M07
2020M08
2020M09
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Renda Pessoal Renda Pessoal Diponível Outras rendas Renda do trabalho Transferências

Fonte: BEA. Fonte: BEA.


Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

12
Os Estados Unidos correm o risco de enfrentar um abismo fiscal, no sentido de
que o estímulo fiscal – estimado pelo FMI em 11,8% do PIB, apenas em termos de
medidas com impacto orçamentário – foi tão intenso que sua redução tende a criar
forças deflacionárias sobre a economia. A discussão de um novo pacote fiscal, que
poderia ter tamanho semelhante ao de março, da ordem de US$ 2 trilhões, levou
a um impasse no Congresso no período pré-eleições, esperando-se que, passado o
período eleitoral, as medidas voltem a ser discutidas. Mesmo sem essas medidas
adicionais, o deficit fiscal do governo americano deverá superar 16% do PIB em
2020. Espera-se que ele recue nos próximos anos em relação ao nível extraordinário
deste ano, mas isso não impedirá a retomada da trajetória de crescimento prevista
pelo Instituto de Orçamento do Congresso (Congressional Budget Office – CBO)
desde antes da pandemia.2

Na Europa, a expectativa é pela implementação do Fundo Europeu de Reconstru-

Carta de Conjuntura
ção, primeira iniciativa de vulto no sentido de promover apoio financeiro a países
da União Europeia financiados por endividamento supranacional no montante de
€ 750 bilhões-€ 390 bilhões sob a forma de transferências e de € 360 bilhões em
empréstimos. O desembolso deve ocorrer no período 2021-2023, sendo 70% do
total no primeiro biênio. O próprio orçamento da União Europeia prevê o uso de
recursos da ordem de € 42 bilhões para incrementar os gastos com saúde.

Esses recursos se juntarão a medidas já adotadas, somando € 540 bilhões, que


incluem: i) empréstimos já aprovados de € 87,9 bilhões pelo SURE – mecanismo
temporário de apoio para a mitigação dos riscos de desemprego em situação de

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


emergência –, de um total previsto de € 100 bilhões; ii) um programa de € 200
bilhões de garantias de empréstimos a empresas, por meio do Banco Europeu de
Investimentos; e iii) empréstimos a países por meio do Mecanismo de Estabilidade
Europeu (European Stability Mechanism – ESM), no valor de € 240 bilhões. O
FMI estima que as medidas com impacto fiscal envolvendo recursos supranacionais
da União Europeia devem chegar a 3,8% do PIB, e em 7% do PIB as medidas en-
volvendo garantias e financiamentos.

Tanto nos Estados Unidos quanto na Área do Euro, a política monetária vem sendo
bastante “estimulativa”, com juros de curto prazo próximos de zero no caso ame-
ricano e negativos, pela taxa de depósito no Banco Central Europeu, na Área do
Euro. Além disso, as duas autoridades monetárias, juntamente com o Japão, vêm
implementando amplos programas de compras de ativos. O Federal Reserve anun-
ciou em setembro um novo arcabouço de política monetária que associa a meta de
inflação ao seu comportamento médio por um número não especificado de anos.
Nessa perspectiva, que inclui ainda o reconhecimento de um recente achatamento
da curva de Philips – ou seja, que reduz a estimativa do impacto de uma taxa de
desemprego muito baixa sobre a inflação –, ganharam corpo as expectativas de que
a taxa de juros permanecerá baixa por um período longo. A taxa de juros de longo
prazo, apesar da alta recente nos Estados Unidos, tem se mantido em patamares
historicamente baixos e, no caso da Área do Euro, em terreno negativo.

2. The 2020 Long Term Budget Outlook. Disponível em: <https://www.cbo.gov/publication/56516#:~:text=By%20the%20end%20of%20


2020,percent%20of%20GDP%20by%202050.>.

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Na China, a política fiscal tem sido mo- GRÁFICO 24
bilizada de forma bem mais moderada Rendimento
dez anos
de títulos soberanos com maturidade de

que após a crise financeira internacional (Em % a.a.)


de 2008-2009. A estimativa do FMI3 é 4

que as medidas adotadas, principalmen- 3


te o aumento dos investimentos em in- 2
fraestrutura e o alívio tributário, somem 1
4,6% do PIB, muito menos que o paco- 0
te superior a 10% do PIB de dez anos -1
atrás. A política monetária tem sido
02/01/2015
02/06/2015
02/11/2015
02/04/2016
02/09/2016
02/02/2017
02/07/2017
02/12/2017
02/05/2018
02/10/2018
02/03/2019
02/08/2019
02/01/2020
02/06/2020
02/11/2020
também moderadamente expansionista,
principalmente no relaxamento de res- Área do Euro Tesouro americano
trições ao crédito para governos locais. Fonte: FRED e Banco Central Europeu.
Os investimentos em infraestrutura e Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

Carta de Conjuntura
construção imobiliária já voltaram a crescer a taxas de dois dígitos, bem maiores
que as do período anterior à Covid-19 no caso da infraestrutura, que vinha sendo
contida diante do alto investimento, e do endividamento dele resultante, de gover-
nos locais no período pós-crise financeira internacional. A perspectiva é que tanto
a política fiscal quanto a monetária se mantenham expansionistas.

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020

3. Fiscal Monitor: database of country fiscal measures in response to the Covid-19 pandemic. Disponível em: <https://www.imf.org/en/Topics/
imf-and-covid19/Fiscal-Policies-Database-in-Response-to-COVID-19>.

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Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac):

José Ronaldo de Castro Souza Júnior (Diretor)


Marco Antônio Freitas de Hollanda Cavalcanti (Diretor Adjunto)

Corpo Editorial da Carta de Conjuntura:

José Ronaldo de Castro Souza Júnior (Editor)


Marco Antônio Freitas de Hollanda Cavalcanti (Editor)
Estêvão Kopschitz Xavier Bastos
Fábio Servo
Francisco Eduardo de Luna e Almeida Santos
Leonardo Mello de Carvalho
Marcelo Nonnenberg
Maria Andréia Parente Lameiras
Mônica Mora Y Araujo de Couto e Silva Pessoa
Paulo Mansur Levy

Carta de Conjuntura
Sandro Sacchet de Carvalho

Equipe de Assistentes:

Ana Cecília Almeida


Ana Cecília Kreter
Augusto Lopes dos Santos Borges
Caio Rodrigues Gomes Leite
Daniel Esteves dos Reis
Felipe dos Santos Martins
Felipe Moraes Cornelio

| 49 | Nota 16 | 4˚ trimestre de 2020


Felipe Simplicio Ferreira
Leonardo Simão Lago Alvite
Marcelo Lima de Moraes
Mateus de Azevedo Araujo
Pedro Mendes Garcia
Tarsylla da Silva de Godoy Oliveira

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exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou
do Ministério da Economia.
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ções para fins comerciais são proibidas.

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