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Workshop

Síntese das Apresentações


SUMÁRIO
Apresentação ....................................................................................................................................01

Programação .....................................................................................................................................02

1° DIA
Abertura ..............................................................................................................................................04

Discurso de abertura do evento:


Bento Albuquerque, Ministro de Estado de Minas e Energia .....................................................................07

O que esperar deste evento?


Hélvio Guerra, Diretor da ANEEL ...........................................................................................................10

Palestra:
O papel da hidroeletricidade na matriz elétrica brasileira e seus benefícios para o setor ........................13

Mesa de debate:
Referências em inventários hidrelétricos participativos – avanços obtidos​ .............................................14

2° DIA
Mesa de debate:
Como operacionalizar o desenvolvimento de inventários hidrelétricos participativos? - parte 1 .............19

Mesa de debate:
Como operacionalizar o desenvolvimento de inventários hidrelétricos participativos? - parte 2 ..............25

Considerações finais .....................................................................................................................33

Encerramento ...................................................................................................................................35
Apresentação

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) realizou, nos dias 23 e 24 de setembro de 2021, o II
Workshop Inventários Hidrelétricos Participativos. O evento, idealizado pelo Diretor da agência Hélvio
Guerra, contou com participações virtuais e presenciais de autoridades e gestores envolvidos nos
processos de implantação de empreendimentos hidrelétricos no País, a saber: o Ministro de Minas
e Energia (MME), Bento Albuquerque; o Diretor-geral da ANEEL, André Pepitone; os Governadores do
Estado do Paraná, Carlos Ratinho Junior, e do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja; a Diretora-
-presidente da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Christiane Dias; a Coorde-
nadora-geral de licenciamento Ambiental da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Carla Aquino; o
Presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral; o Secretário de planejamento
Energético do MME, Paulo César Domingues; e o Diretor da ANA, Oscar Cordeiro.

O Workshop deu continuidade às discussões e aos avanços obtidos em sua primeira edição, em 2018,
com o objetivo de criar um ambiente de diálogo entre os representantes dos diferentes segmentos
envolvidos nos processos de implantação desses empreendimentos no País, como instituições re-
lacionadas ao meio ambiente, comunidades tradicionais e indígenas, empreendedores, instituições
governamentais, Ministério Público e Poder Judiciário.

A ANEEL apresenta, a seguir, um registro dos principais pontos debatidos no II Workshop Inventário
Hidrelétricos Participativos, com o objetivo de aprimorar a interação das organizações no processo
de desenvolvimento dos inventários.

01
Programação
1° DIA
23/09/2021

14h às 15h | Abertura

• Bento Albuquerque, Ministro de Estado de Minas e Energia – MME


• André Pepitone da Nóbrega, Diretor-Geral da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL
• Carlos Massa Ratinho Junior, Governador do Estado do Paraná
• Reinaldo Azambuja, Governador do Estado do Mato Grosso do Sul
• Christiane Dias Ferreira, Diretora-Presidente da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico - ANA

15h às 15h15 - Contextualização: o que esperar deste evento?

• Hélvio Neves Guerra, Diretor da ANEEL

15h15 às 15h45 - Palestra: “O papel da hidroeletricidade na matriz elétrica


brasileira e seus benefícios para o setor”

• Armando Araújo, Consultor Individual do Banco Mundial

15h45 às 17h30 - Mesa de Debate: “Referências em inventários hidrelétricos participativos


– Avanços obtidos”

Convidados:
• Histórico de atuação da ANEEL
Carlos Eduardo Cabral Carvalho, Superintendente de Concessões e
Autorizações de Geração da ANEEL (10 min)
• Experiência no Estado do Mato Grosso do Sul
Jaime Elias Verruck, Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura
Familiar do Mato Grosso do Sul – SEMAGRO/MS (10 min)
• Perspectivas no Estado do Paraná para exploração do potencial hidrelétrico
Daniel Pimentel Slavieiro, Diretor-Presidente da Companhia Paranaense de Energia – Copel (10 min)

Moderação: Hélvio Neves Guerra, Diretor da ANEEL

17h30 - Encerramento
• Hélvio Neves Guerra, Diretor da ANEEL

02
Programação
2° DIA
24/09/2021

14h às 16h15 - Mesa de Debate: “Como Operacionalizar o desenvolvimento de


inventários hidrelétricos participativos? – parte 1”

Convidados:
• Luciano Loubet, Promotor de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul e Diretor do Núcleo de Meio Ambien-
te do Ministério Público do Mato Grosso do Sul
• André Borges Barros de Araújo, Diretor-Presidente do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul
– IMASUL
• Mário Menel, Presidente do Fórum das Associações do Setor Elétrico – FASE
• Solange Ribeiro, Diretora Presidente Adjunta do Grupo Neoenergia
• Carlos Eduardo Cabral Carvalho, Superintendente de Concessões e Autorizações de Geração da ANEEL –
SCG/ANEEL
• Carla Fonseca de Aquino Costa, Coordenadora-Geral de Licenciamento Ambiental da Fundação Nacional
do Índio – FUNAI

Moderação: Efrain Cruz, Diretor da ANEEL

16h15 às 18h30 - Mesa de Debate: “Como operacionalizar o desenvolvimento de


inventários hidrelétricos participativos? - parte 2”

Convidados:
• Oscar Cordeiro, Diretor da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico - ANA
• Paulo César Domingues, Secretário de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia – MME
• Andrea Vulcanis, Secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável do Estado de Goiás – SEMAD/GO
• Thiago Barral, Presidente da Empresa de Pesquisa Energética – EPE
• Rafael Kelman, Diretor da PSR

Moderação: Sandoval Feitosa, Diretor da ANEEL

18h30 às 18h50 - Considerações Finais


• Jerson Kelman, Ex-Diretor-Geral da ANEEL e Ex-Diretor-Presidente da ANA

18h50 às 19h00 - Encerramento


• Elisa Bastos, Diretora da ANEEL

03
1° DIA 23/09/2021

Abertura
No primeiro dia de evento, participaram do painel de abertura o Ministro de Estado de Minas e Ener-
gia, Bento Albuquerque, o Diretor-Geral da ANEEL, André Pepitone, o Governador do Estado do Para-
ná, Carlos Massa Ratinho Junior, o Governador do Estado do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja
e a Diretora-Presidente da ANA, Christiane Dias Ferreira.

Pepitone abriu o evento pontuando que o Workshop acontece em um momento delicado devido à
escassez hídrica enfrentada pelo Brasil e ressaltou que o inventário hidrelétrico participativo é uma
iniciativa inovadora da Agência: “o tema desse Workshop é importante pelo fato de identificarmos
potenciais hidrelétricos para serem desenvolvidos e trazermos à tona a discussão da importância de
se ter reservatórios nesses novos potenciais que estão por vir”.

Ainda em sua fala, o Diretor-Geral pontuou a importância de trazer para o debate todos os atores
envolvidos com o inventário – seja a sociedade, os órgãos ambientais ou os comitês de bacias –
buscando assim antecipar questões críticas para agilizar e otimizar, de forma segura, o processo de
licenciamento ambiental dos novos empreendimentos hidrelétricos. Pepitone reforçou que todos os
estudos acontecem com dispêndio de recursos privados e que ações como essa ajudam a preservar
o meio ambiente, reduzem impactos sociais e conferem segurança para os empreendedores investi-
rem, gerando mais emprego, renda, desenvolvimento e energia para o Brasil.

O Governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, enfatizou que a experiência do estado do
Mato Grosso do Sul com os inventários hidrelétricos participativos em 2019 foi positiva e resultou no
mapeamento da Bacia do Pardo – estudo que apontou possíveis locais de implantação de hidrelétri-
cas (com menor impacto ambiental e com bons resultados para os investidores). Destacou que, das
11 localidades mapeadas, sete foram aprovadas e poderão gerar até 13 MW de energia, atendendo,
assim, quase 1 milhão de habitantes.

“O ganho de trabalhar sintonizado, nessas avaliações participativas, é abreviar o tempo, dar segu-
rança jurídica, colocando todos do mesmo lado, estudando e trabalhando nas bacias, para saber o
que pode ser feito e onde podem existir ações de hidrelétricas nesse momento importante de escas-
sez hídrica”.

04
Azambuja avaliou que, com o inventário da Bacia do Pardo, os estudos ambientais geraram segu-
rança jurídica ao investidor e até mesmo ao órgão ambiental, abreviando o tempo para a validação
dos licenciamentos.

O Governador pontuou que discutir os potenciais hidrelétricos das bacias existentes nos estados po-
tencializa uma discussão muito mais tranquila: se devemos ou não fazer os reservatórios com arma-
zenamento de água na época da abundância para que a possamos consumir na época da escassez.

Azambuja disse que já existe uma empresa responsável pela instalação de três centrais hidrelé-
tricas na Bacia do Prado, com cerca de R$ 600 milhões em investimentos que irão potencializar
oportunidades de emprego, geração de renda e atividades econômicas na região.

Além da experiência positiva, relatou que o Mato Grosso do Sul está validando para a análise de
inventário as bacias do Rio Verde e do Rio Sucuriú, pois possuem grande potencial hidrelétrico. “O
inventário é um trabalho ganha-ganha, todos nós ganhamos em seriedade, segurança jurídica, pre-
servação ambiental e principalmente abertura de investimentos em geração de energia”, pontuou.

O Governador ainda contou que aprovou, na Assembleia Legislativa, a isenção da cobrança de ICMS
sobre a bandeira vermelha, enquanto perdurar. E que além disso, a Assembleia aprovou a isenção
total do ICMS da bandeira escassez hídrica.

Ainda no painel de abertura, a diretora-presidente da ANA, Christiane Dias, discursou sobre o mo-
mento de escassez hídrica que vivemos. “Acho pertinente que a gente pare um pouco para discutir
um assunto extremamente importante que são os inventários participativos. Toda situação nos en-
sina algo e com ela temos uma curva de aprendizagem, e eu acho que com essa não será diferente.
Para nós, essa é uma agenda extremamente importante e que a ANA dedica muita atenção”, pon-
tuou.

A Diretora-Presidente da ANA ressaltou a importância dos inventários como instrumento de plane-


jamento do setor elétrico, que leva em consideração o planejamento da política de recursos hídricos
e os planos de bacia.

Christiane parabenizou a Agência pela iniciativa. “Essa articulação com os órgãos ambientais traz
segurança jurídica, segurança regulatória. A gente consegue fazer um planejamento, antever e pre-
venir futuros eventuais conflitos e problemas ambientais. Então, essa interação entre os diversos
atores é extremamente importante, não só órgãos ambientais e a ANA, mas também, todos os órgãos
e gestores estaduais. Nós temos uma dupla dominialidade de rios brasileiros e essa interação, essa
política descentralizada participativa, ela é complexa: é um arranjo constitucional que nos exige
trabalharmos sempre na base de um federalismo cooperativo”.

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Em sua fala, o Governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, destacou que o estado é um
grande aliado da geração hidrelétrica. “O Paraná tem uma tradição na geração de energia de for-
ma hídrica: gera praticamente 20% da energia do país e 94% dela é essa energia renovável que é
gerada pelos rios”.

Comentou também sobre Itaipu, que é uma referência para o mundo na geração de energia de forma
hídrica, e informou que a COPEL possui 18 hidrelétricas, sendo quatro de forma compartilhada com
a iniciativa privada.

Ratinho comentou que o evento transmite informação à sociedade de forma transparente e ressaltou
que esse é um mercado genuinamente brasileiro, com a tecnologia e os melhores engenheiros da
área.

Ainda em sua fala, o Governador disse que, atualmente, existem 400 pequenas centrais hidrelétri-
cas (PCHs) com possibilidade implantação no estado e que, ao longo de dois anos e meio, outras 80
já foram implantadas, um investimento na casa dos R$ 2 bilhões.

Um ponto interessante levantado por Ratinho foi a oportunidade de aproveitamento dos reservató-
rios hidrelétricos para outras atividades como, por exemplo, a piscicultura. “Hoje temos uma busca
pela produção de peixe, em especial, a tilápia. O Paraná produz praticamente 40% da tilápia do
Brasil através da produção de peixes em reservatórios de hidrelétricas, ou de (PCHs). Ou seja, gera
uma outra renda para o agricultor, para quem vive em torno desses reservatórios e, também, para
o campo turístico”.

Ratinho também lembrou que a reserva de Itaipu se transformou em um grande polo turístico.

Encerrando sua fala, Ratinho parabenizou a ANEEL pelo evento. “Esse debate faz com que a popu-
lação possa conhecer o que é gerar energia através dos nossos rios e esse potencial que nós temos,
dar clareza a isso, fazendo com que as pessoas possam participar”.

Encerrando as apresentações do painel de abertura, o ministro Bento Albuquerque enfatizou a im-


portância da geração hidrelétrica para o Brasil. “Dominamos como poucos os estudos de análise
ambiental, social, econômico e de engenharia, desse tipo de empreendimento. Soubemos ao longo
da história aproveitar com eficiência a riqueza do potencial hidráulico que o Brasil é privilegiado.
Construímos um dos maiores, mais eficientes e mais respeitados sistemas interligados de energia
elétrica do mundo, graças aos estudos que tiveram que ser realizados para a integração dos diver-
sos potenciais hidráulicos espalhados pela vasta extensão territorial para o Brasil”.

O Ministro de Estado de Minas e Energia encerrou o painel de abertura.

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Discurso de abertura do evento:
Bento Albuquerque, Ministro de
Minas e Energia

Agradeço a ANEEL pela oportunidade e alegria de poder participar desta cerimônia de abertura do
II Workshop Inventários Hidrelétricos Participativos.

Cumprimento o diretor-geral da ANEEL, André Pepitone, a diretora-presidente da Agência Nacional


de Águas e Saneamento Básico (ANA), Christiane Dias Ferreira, o governador do estado do Paraná,
Carlos Massa Ratinho Junior, o governador do estado do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja.

Saúdo também o meu querido amigo Reive Barros, que nos ajudou no MME em sua marcante gestão
como secretário de planejamento e desenvolvimento energético, obrigado por ter vindo pessoalmen-
te acompanhar este importante evento.

Cumprimento também o meu amigo Fabio Lopes, presidente da CHESF, o José Mário Abdo, primeiro
diretor-geral da ANEEL, o Firmino Sampaio, presidente do conselho administrativo da LIGHT, Paulo
Roberto Ribeiro, presidente da Norte Energia. O Jerson Kelman, ex-diretor-geral da ANEEL e da ANA,
e a Joísa Dutra, ex-diretora da ANEEL e diretora da FGV CERI.

07
Saúdo a todos os que nos acompanham virtualmente e presencialmente nesta cerimonia.

Todos nós sabemos da importância da geração hidrelétrica no Brasil. Dominamos como poucos os
estudos de análise ambiental, social, econômico e de engenharia desse tipo de empreendimento.
Soubemos, ao longo da história, aproveitar com bastante eficiência a riqueza do potencial hidráulico
que nosso país é privilegiado.

Construímos um dos maiores, mais eficientes e mais tecnicamente respeitados sistema interligado
de energia elétrica do mundo, graças aos estudos que tiveram que ser realizados para a integração
dos diversos potenciais hidráulicos espalhados pela vastidão territorial do Brasil em único sistema.

Há décadas o Brasil é reverenciado mundialmente pela quantidade de energia elétrica renovável


utilizada na sua matriz. Atualmente, além das hidrelétricas temos energia da biomassa, dos ventos
e do sol. Mas, até uma década atrás a geração hidrelétrica dominava no segmento das renováveis.
Mesmo nos dias atuais, com a elevação da diversificação de fontes na nossa matriz, a geração hi-
drelétrica é a fonte que possui papel mais relevante, correspondendo a 61% de nossa capacidade
instalada, perfazendo 109.000 MW.

E, não é somente por ser a fonte que fornece mais energia para o país, mas também porque elas per-
mitem armazenamento de água em alguns de seus reservatórios, o que é muito útil para enfrentar
períodos de escassez hídrica como a que estamos enfrentando este ano. Além disso, coloca o Brasil
na vanguarda da chamada “transição energética” que tem sido a busca de todos os países de-
senvolvidos do mundo, pela substituição de uma matriz concentrada em combustíveis fósseis, não
renováveis, para uma matriz mais limpa e sustentável, com maior penetração da fonte renovável.

O fato de que as hidrelétricas permitem armazenamento de energia, por meio dos seus reservató-
rios, faz com que o país possa expandir o atendimento de sua carga com outras fontes renováveis
intermitentes, pois no momento que essas fontes não estão disponíveis, faz-se uso da reserva de
energia das hidrelétricas.

É graças a essas usinas hidrelétricas que têm capacidade de armazenamento de água em seus
reservatórios, que estamos conseguindo atravessar o pior período hidrológico dos últimos 91 anos
desde que os primeiros registros começaram a ser coletados, em 1931. Mesmo nessa situação
desfavorável, estamos terminando o mês de setembro sem nenhum déficit de energia elétrica e os
estudos prospectivos indicam que conseguiremos terminar o ano com toda a demanda de energia
elétrica atendida.

Mas poderíamos estar enfrentando o desafio posto ao setor elétrico devido a atual escassez hídrica
com mais facilidade e menor custo se tivéssemos melhores condições de armazenamento. Atual-
mente, somente 40% de nossas hidrelétricas permitem armazenar água para enfrentar estiagens.
No passado esse número já foi maior do que 60%.

08
Discutir como melhorar essa situação é o tema proposto pela ANEEL neste encontro de abalizadas
autoridades que militam, direta ou indiretamente, no setor elétrico.

Construir hidrelétricas é um processo que se inicia através dos estudos de inventários. Esses es-
tudos têm como objetivo a determinação do potencial energético de um rio ou bacia hidrográfica,
estabelecendo um conjunto de possíveis usinas a serem implantadas.

É o que chamamos de “aproveitamento ótimo”. A exploração do máximo do potencial energético do


rio ou bacia hidrográfica, com os menores impactos ambientais, sociais e no patrimônio histórico e
cultural. Tudo isso levando em conta o menor dispêndio financeiro possível.

Para atingirmos o “aproveitamento ótimo” é de suma importância que todos os interessados sejam
ouvidos. Ninguém melhor que os interessados, ou impactados pela futura construção do empre-
endimento, para apontar medidas mitigadoras ou outras soluções de engenharia para o projeto
hidrelétrico.

Por isso, louvo a iniciativa da ANEEL para a realização desse evento.

É somente por meio de diálogo entre os representantes dos diferentes segmentos envolvidos nos
processos de implantação de empreendimentos hidrelétricos no país que conseguiremos viabilizar
novas usinas. Isso continuará garantindo segurança de abastecimento de eletricidade para todos
os brasileiros e enfrentar de forma mais eficiente a variabilidade natural dos regimes hidrológicos.
Especialmente em um mundo que busca a transição da produção de energia de forma mais susten-
tável.

Como disse, nos orgulha o histórico que temos de implantação e operação de usinas hidrelétricas
no Brasil. Mas, podemos mais! Para conseguirmos mais, não resta dúvidas que o entendimento das
partes envolvidas é o melhor caminho!

09
O que esperar
deste evento?
Hélvio Guerra,
Diretor da ANEEL

Saúdo o Diretor-Geral André, o Diretor Efrain, o Diretor Sandoval e a Diretora Elisa.

Cumprimento minhas queridas amigas Crhystiani e Alessandra, meus queridos amigos José Mário,
Firmino, Paulo Roberto e Jerson Kelman, que nos dão a honra de acompanhar este evento.

Saúdo toda a equipe da ANEEL presente no auditório e que nos acompanham virtualmente.

Boa tarde, a todas e todos que nos acompanham pelo canal da ANEEL no YouTube.

Eu fui escalado para falar sobre o que devemos esperar deste Workshop. Esperamos e queremos
muita coisa com ele. Vou tentar resumir.

Para falar sobre o que esperar deste II Workshop, penso que seria importante falar sobre o que nos
inspirou para propor uma forma alternativa para o desenvolvimento de inventários, o que denomi-
namos inventários hidrelétricos participativos.

Uma inspiração foi a coragem. Ela é necessária para propor algo diferente, algo novo. E aqui faço
uma referência especial ao Ministro Bento. Teve a coragem de propor a tão necessária modernização
do setor elétrico e, particularmente ao longo do ano passado e deste ano, está enfrentando com
tranquilidade e competência os impactos do COVID e da escassez hídrica sobre o setor elétrico.

São raros os períodos em que temos oportunidade de rever nosso modelo setorial. Desde o advento
do Código de Águas – tão importante para a industrialização do País – e no caminho diversas im-
portantes leis aperfeiçoaram o modelo de outorgas e de contratação e comercialização da energia
elétrica, tivemos algumas dessas oportunidades. A modernização do setor elétrico é a mais nova.

Outra inspiração foi a humildade. Ela é muito útil ao regulador e a todos os que direta ou indire-
tamente participam do setor elétrico. Humildade para reconhecer que estamos envolvidos com um
segmento da infraestrutura complexo e temos muito o que aprender. Aqui faço uma referência ao
querido amigo José Mário, com quem tenho aprendido diariamente ao longo dos meus 20 anos de
ANEEL. 10
Ontem mesmo aprendi algo que certamente será motivo de muitas reflexões: “os principais marcos
regulatórios devem estar dispostos em lei”. Essa frase é do Armando Araújo Ribeiro, que fará a pa-
lestra de abertura em nosso evento.

A terceira inspiração foi a perspicácia, o “pensar fora da caixa”. Ela precisa estar presente para
ampliarmos as fronteiras. E aqui faço referência ao querido amigo Jerson Kelman. Foi dele que ouvi
pela primeira vez que precisávamos nova forma para desenvolver inventários, precisávamos envol-
ver outros segmentos da sociedade para identificar como melhor aproveitar nosso valioso bem: o
potencial hidráulico. Eu apenas me valí dessa ideia para dar um nome para sua ideia: inventários
hidrelétricos participativos.

E é isso que eu gostaria de dizer sobre “O que esperar deste Workshop”. Incluir na discussão sobre
inventários as diversas visões – por vezes distintas – que as organizações da sociedade têm sobre
benefícios e desvantagens da implantação de hidrelétricas.

Nesta tarde, além de contar com a visão de uma respeitada autoridade brasileira do setor elétrico –
o engenheiro Armando Aráujo Ribeiro – teremos um painel com o Superintendente da ANEEL, Carlos
Cabral, o Secretário de Meio do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck e o Presidente da COPEL, Daniel
Slaviero, onde será apresentada a experiência adquirida com o primeiro inventário participativo e as
perspectivas para dar prosseguimento.

Na tarde de amanhã, serão realizadas duas mesas para debater essas visões e como envolver todos
na fase de desenvolvimento dos inventários. Estarão presentes representantes do setor elétrico, da
área de recursos hídricos, do Ministério Público, dos órgãos ambientais, da FUNAI, dentre outros.

E o momento não poderia ser mais oportuno pelos desafios que estão postos ao setor elétrico neste
ano de escassez hídrica.

Os números representam muito bem essa situação. Nos últimos 30 anos deixamos de lado um dos
mais valiosos atributos das hidrelétricas: a sua capacidade de armazenamento de água. A última
usina com capacidade significativa de armazenamento foi Serra da Mesa, que começou a ser cons-
truída na década de 1990. Depois disso, somente usinas a fio d’água.

No início dos anos 90, mais de 60% de nossas hidrelétricas armazenavam água. Hoje, dos 109.000
mw instalados, somente algo em torno de 40.000 mw (menos de 40% das usinas) dispõem desse
atributo.

Essa situação mostrou suas consequências neste ano em que estamos enfrentando o terceiro pe-
ríodo de regime hidrológico desfavorável no curso de 20 anos (outros momentos de stress foram
enfrentados no caminho).

Aqui faço uma observação de cunho pessoal: não considero que estamos enfrentando uma crise
hídrica. Nossa crise é, a meu ver, de falta de caixas d’água no sistema, que deixamos de construir.
11
Se tivéssemos mantido pelo menos aqueles 60% do passado de capacidade de armazenamento em
nossas hidrelétricas, seguramente não teríamos chamado os momentos de escassez hídrica que
enfrentamos ao longo dos últimos 20 anos de “crises hídricas”.

Com essa capacidade de armazenamento, em conjunto com as demais fontes já disponíveis e a


robustez atual de nosso sistema de transmissão, teríamos mais facilidade para suportar a escassez
hídrica e menores preços para os consumidores.

Mas deixar de construir hidrelétricas com reservatórios não foi uma opção, foi uma dificuldade que
não sabíamos como enfrentar. Penso firmemente que essa nova forma para desenvolver inventários
poderá contribuir para aprendermos como enfrentar.

Eu também quero pedir licença para falar sobre o que não esperar deste evento.

Não pretendemos discutir qual é a melhor fonte, se hidrelétrica, eólica, fotovoltaica ou termelétrica.
Ao contrário, queremos afirmar que todas são essenciais, especialmente em um país como o nosso
que dispões de tão abundantes recursos naturais. Temos água, temos vento, temos sol, temos bio-
massa, temos gás, temos urânio.

E, com toda essa abundância, sempre teremos bons resultados se soubermos aproveitar a sinergia
entre todas as fontes e bem aproveitar as vantagens de cada uma delas e mitigar suas desvanta-
gens.

Quero dizer com isso que não pretendemos estabelecer uma contenda entre as fontes para geração
de energia.

No caso das hidrelétricas, não pretendemos neste Workshop afirmar que elas não provocam impac-
tos sobre o meio ambiente e não afetam outros usos dos recursos hídricos. Porque isso não seria
verdade.

Bem, isso é o que devemos e não devemos esperar nestes dois dias.

Mas podem contar que teremos discussão de alto nível de como podemos melhor aproveitar o valioso
e incomparável potencial hidráulico disponível em nosso País.

Finalizo dizendo que os primeiros passos já foram dados. A ANEEL, sob a liderança da equipe da
SCG, conseguiu mostrar que isso é possível ao desenvolver o inventário do Rio Pardo em conjunto
com o Imasul. Sucesso absoluto.

O Workshop deste ano está ocorrendo de forma híbrida (presencial e virtual) e está sendo transmiti-
do pelo YouTube. Neste momento temos 40 pessoas assistindo presencialmente em nosso auditório
e 247 pessoas acompanhando pelo YouTube.

É uma alegria ter todas e todos nos acompanhando.


12
Palestra:
O papel da hidroeletricidade na matriz elétrica
brasileira e seus benefícios para o setor

Dando sequência ao evento, o consultor individual do Banco Mundial (BM), Armando Araújo, fez uma
apresentação sobre “O papel da hidroeletricidade na matriz elétrica brasileira e seus benefícios
para o setor”.

Em sua palestra, Araújo contextualizou que o grande responsável pelos alertas ambientais, como
as mudanças de temperaturas, inundações e fortes ondas de calor, é a emissão de gases do efeito
estufa, em sua maioria gerada por usinas termelétricas. Citou também o Acordo de Paris e o com-
promisso que os países fizeram para reduzir a emissão desses gases.

Araújo enfatizou que grande parte do problema atual do Brasil é a falta de reservatórios de armaze-
namento de energia. “As usinas que foram implantadas antes eram 60% da capacidade do sistema,
hoje são 40%. Não resolve a falta da reserva, são fontes intermitentes”.

“O Brasil tem evitado construir usinas com reservatórios e é um problema que devemos discutir, por-
que todas as obras humanas causam efeitos no meio ambiente, o importante é diminuir os impactos
negativos e aumentar o impacto positivo”, pontuou.

13
Mesa de Debate:
Referências em Inventários
Hidrelétricos Participativos
– avanços obtidos

Dando continuidade ao evento, Hélvio Guerra subiu ao palco para moderar a mesa de debate sob o
tema “Referências em Inventários Hidrelétricos Participativos – Avanços Obtidos”, composta pelo
Superintendente de Concessões e Autorizações de Geração (SCG) da ANEEL, Carlos Eduardo Cabral,
pelo Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar do
Mato Grosso do Sul, Jaime Elias Verruck, e pelo Diretor-Presidente da Companhia Paranaense de
Energia, Daniel Pimentel Slaviero.

Guerra destacou que a mesa de debate mostra a experiência da ANEEL ao longo de três anos (desde
a realização do primeiro Workshop) e como as experiências, a partir dali - como, por exemplo, o case
do Rio Pardo no Mato Grosso do Sul, foram positivas.

Guerra, então, deu início à mesa, pontuando que o objetivo do debate seria abordar como a ANEEL
está conseguindo implantar os inventários, qual a perspectiva para os próximos anos e o que os
convidados veem de benefícios a serem extraídos dessa nova alternativa.

14
O Diretor-Presidente da COPEL, Daniel Pimentel Slaviero, iniciou a mesa destacando os resultados
expressivos no Paraná. Slaviero elogiou a agilidade do processo e pontuou que antes, o empre-
endedor gastava mais tempo para conseguir as devidas autorizações ambientais, demorando até
mesmo mais do que a própria obra. “Não preciso dizer isso para todos os senhores, mas nós somos
entusiastas. Na hora que fazem um inventario participativo, na hora que você traz todos os envolvi-
dos, não só dos órgãos ambientais, mas também, vocês que fizeram isso no Mato Grosso, em toda
comunidade, todo ambiente social, você ganha agilidade, você vê todos os lados e isso transforma
em desenvolvimento do estado e do país”.

Slaviero ressaltou o potencial do Paraná e disse que a COPEL está à disposição quando o assunto diz
respeito a iniciativas que visem desburocratizar ou agilizar o processo de licenciamento e dar maior
dinamicidade para o processo.

Na sequência, o Superintendente da SCG, Carlos Cabral, apresentou o histórico de atuação da


ANEEL. Destacou que os inventários visam antecipar a etapa inicial de planejamento hidrelétricos
em bacias hidrográficas e as importantes decisões sobre a viabilidade sócio ambiental desses em-
preendimentos, que no formato tradicional só seriam feitas em etapas mais avançadas do processo
de implementação dessas usinas. “Com o inventário participativo, a Agência busca mitigar, numa
etapa inicial, questões que somente seriam identificadas durante a etapa de licenciamento, os
projetos básicos, UVTS com elevado custo para os empreendedores, para os órgãos envolvidos, au-
mentando os prazos e a complexidade dos processos de licenciamento ambiental”.

“Iniciativas como essa são importantes para contribuir com questões do ponto de vista ambiental,
identificadas e eventualmente equacionadas na etapa de planejamento dos empreendimentos, mi-
nimizando os riscos de investidores e contribuindo para a viabilidade das usinas. Além disso, esse
modelo reduz a assimetria das informações entre os órgãos e índices envolvidos, aprimorando o
resultado do instrumento do planejamento que conhecemos como inventário hidrelétrico”.

Carlos Cabral destacou que o inventário participativo não tem o intuito de substituir ou sobrepor
outras avaliações que são conduzidas por outros órgãos envolvidos, como por exemplo as análises
ambientais integradas e os processos de licenciamento, contudo o instrumento participativo pode
contribuir para que essas futuras etapas sejam mais efetivas e abrangentes.

Encerrando sua fala, Cabral pontuou que, somente esse ano, a agência já autorizou cerca de 20
novos estudos de inventários e revisões de inventários já existentes, um valor maior do que regis-
trado ano passado. Por fim, destacou que essa iniciativa é um processo contínuo de construção e
aprendizado coletivo.

O Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar


do Mato Grosso do Sul, Jaime Elias Verruck, relatou que a experiência pioneira no estado foi um
processo importante de aprendizagem. “Aqui no estado do Mato Grosso do Sul, quando fala-
mos em inventário participativo, ele está muito alinhado na própria estratégia que o governo do

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estado nos propõe, entendemos que temos que conciliar os interesses ambientais com os interesses
econômicos que é chamado de desenvolvimento sustentável, o inventário participativo traz exata-
mente esses elementos”.

Verruck destacou: “Então, o inventário traz muito essa lógica, sobre o ponto de vista de buscar um
patamar de equilíbrio. Ao final do inventário participativo, onde foi avaliado também mais um ponto
importante que são os impactos sociais, você estabelece o potencial hidrelétrico, restrição ambien-
tal, restrição social. A partir daí, consegue se estabelecer qual o tamanho da capacidade de energia
naquela bacia, como foi efetivamente na questão do Pardo, e, a partir daí, você tem toda a questão
do potencial de investimento. Desse processo, hoje, nós já temos aprovados quatro projetos, com
investimento previstos de 600 milhões”.

Encerrando sua fala, o Secretário elogiou a iniciativa da Agência e pontuou que tudo foi um grande
processo de aprendizagem para os técnicos, para o IMASUL, para a Secretaria do Meio Ambiente,
para Política Ambiental do Estado, para a produção de energia. E ressaltou o quanto precisamos da
produção das hidrelétricas caso caminhemos para uma produção de energia descarbonizada.

Após a exposição dos convidados, Guerra agradeceu as contribuições e enfatizou que o grande re-
sultado esperado com os inventários participativos é a sinergia entre o empreendimento e os vários
interesses que existem em torno do mesmo.

Guerra perguntou aos convidados como eles veem a situação dos inventários, pois no começo alguns
empreendedores afirmaram que essa iniciativa iria dificultar o processo, tornando-o mais difícil,
mais longo e mais caro.

Daniel Pimentel Slavieiro, foi o primeiro a responder dizendo que, pela avaliação da COPEL, o oposto
ocorreu: “Quando você faz um inventário participativo e traz os agentes relevantes daquele rio para
a mesa, ele pode dar a falsa impressão que vai atrasar, mas na verdade ele ganha tempo, porque em
algum momento esses atores vão precisar ser envolvidos, então é melhor que isso aconteça desde
o início”.

Slavieiro ainda disse que os inventários vão melhorar e dar mais segurança jurídica, pois busca
uma visão sistêmica e um equilíbrio entre todos os envolvidos.

Para Carlos Cabral, a preocupação é justa por conta do histórico demorado dos processos de licen-
ciamento. Porém, reforça: “O processo talvez esteja sendo demorado justamente porque discussões
que poderiam ter sido feitas em etapas iniciais estão sendo feitas em etapas posteriores. O objetivo
é justamente encurtar o tempo, trazendo para uma fase preliminar discussões, evitando-as em um
momento futuro”.

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Cabral defendeu que, pelas discussões estarem acontecendo em um momento inicial, determinadas
barreiras conseguem ser reduzidas, além de trazer todos os envolvidos no processo com mais infor-
mações, com um maior preparo para, então, discutir as questões que no futuro poderiam inviabilizar
o processo.

Para Jaime Elias Verruck, a preocupação é justificável, mas os maiores pontos positivos dos inven-
tários são a segurança jurídica, a agilidade e o ganho sob o ponto de vista do planejamento. “Tudo
que é novo tem essa preocupação. Pela experiência do Mato Grosso do Sul, nós estamos mudando
uma lógica. Na verdade, o que vai acontecer, sob o ponto de vista ambiental, dada a necessidade
da avaliação sinérgica, a avaliação ambiental estratégica, a forma como nós estamos fazendo, vai
antecipar uma coisa que o empreendedor sempre procura: segurança jurídica. Através do inventário
nós conseguimos estabelecer uma norma clara para que a gente possa avançar”.

Ainda em sua fala, o secretário enfatizou que gostaria de ter os inventários em todas as bacias do
Mato Grosso do Sul, para ter com clareza qual é o potencial de instalação do estado.

“Com os inventários, sob o ponto de vista de formulação e políticas públicas, acesso, estrada, estru-
tura de linha, estrutura de linha de transmissão para as PCHs, eu consigo planejar para o longo pra-
zo. Então eu acho que esse ganho, sob o ponto de vista da política pública, ele tem que ser olhado”.

Hélvio Guerra completou dizendo que pensa da mesma forma que os convidados. “Todos que são de
alguma forma beneficiados ou atingidos de modo negativo. Devem estar envolvidos com o processo
porque, ali, existe a capacidade e a possibilidade de reduzir ou mitigar impactos negativos e poten-
cializar os benefícios.” Pontuou que, dos inventários hidrelétricos participativos, o órgão ambiental
só conhecia o projeto quando ele estava pronto, mas agora ele conhece o projeto na origem, no mo-
mento em que a bacia está sendo inventariada.

Guerra levantou a questão sobre o desenvolvimento do aproveitamento de usinas hidrelétricas no


Brasil e se ainda existem condições de implantar empreendimentos com capacidade de armazena-
mento.

Para Jaime Elias Verruck, o problema da não reservação de água é evidente, pois o nosso modelo de
produção de energia está muito voltado às usinas a fio d’água.

“Me parece que toda a tendência ambiental levou os processos de licenciamento à questão da não
reservação de água. Existe o potencial de reservação, o potencial de produção de energia. No caso
do estado de Mato Grosso do Sul , nós temos, dentro da Bacia do Paraná, uma série de potenciais
para que a gente consiga desenvolver. E o órgão ambiental, através desse inventário participativo,
tem avançado”.

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Verruck pontuou que a discussão é válida, uma vez que a maior parte da produção de energia elétri-
ca vem de PCHs e de grandes usinas hidrelétricas a fio d’água que não possuem nível de reservação.
“Fica muito evidente, sob o ponto de vista de produção de energia do País, que nós vamos precisar
buscar energia fazendo reservação de água, acho que isso é um ponto fundamental. Mas por outro
lado, eu acho que o inventário participativo deveria também discutir essas PCHs com reservação e,
quando for possível, sob o ponto de vista ambiental”.

Para o Diretor-Presidente da COPEL, é preciso buscar o equilíbrio. Ressaltou que, atualmente, exis-
tem quatro UHEs sendo estudadas que podem ter um reservatório melhor. Pontuou ainda que a im-
plementação do reservatório não traz uma diferença tão grande no investimento, porém vai existir,
sim um impacto maior ambiental e fundiário, mas que é possível buscar um equilíbrio. “A gente tem,
sim, capacidade para essas hidrelétricas de tamanho médio, eu acho que podem fazer a diferença
no processo quando você faz uma visão nacional”.

Presente na plateia, o Presidente da Chesf, Fábio Lopes, contribuiu com o evento expondo que, em
sua opinião, o modelo energético precisa ser uma política de estado. “Em 1995, houve revisão do
modelo. O empreendedor privado não consegue assumir tudo o que o Estado fazia dentro de uma
tarifa competitiva”.

Ao participar do debate, o consultor individual do Banco Mundial, Armando Araújo, pontuou que
Fábio levantou um ponto crucial. “O futuro vai incluir um investimento forte de usinas solares, foto-
voltaicas e eólicas, mas elas sozinhas não dão viabilidade ao sistema. Não é apenas um problema
de reserva, mas também operacional”.

Araújo destacou que existe uma questão em aberto, que é como regulamentar investimento em
reservatórios de energia e que o nosso modelo tem um defeito grave, que penaliza a hidrelétrica.
Citou também os problemas em relação a materiais para esse tipo de energia, e também para
carros elétricos. Questões de materiais e minerais também serão um problema. Por isso, reserva é
fundamental.“O problema de armazenamento de energia é um problema do futuro, do setor elétrico
como um todo. No Brasil, a gente tem que discutir isso e ver como vai regulamentar. E o aspecto
regulatório tem que trazer incentivo para a criação de reservatórios de energia. Se isso for resolvido,
o privado vai poder investir”.

Após a exposição dos convidados, Guerra agradeceu as contribuições e enfatizou esperar que o
grande resultado dos inventários participativos seja a sinergia entre o empreendimento e os vários
interesses que existam em torno dele.

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2° DIA 24/09/2021

Mesa de Debate:
Como operacionalizar o desenvolvimento
de inventários hidrelétricos participativos?
(parte 1)
O segundo dia do evento contou com duas mesas de debate
sob o tema “como operacionalizar o desenvolvimento de inven-
tários hidrelétricos participativos”.

A primeira mesa foi moderada pelo Diretor da ANEEL,


Efrain Cruz, e composta pelo Promotor de Justiça e Dire-
tor do Núcleo de Meio Ambiente do Ministério Público de
Mato Grosso do Sul, Luciano Loubet; pelo Diretor-Presiden-
te do IMASUL, André Borges Barros de Araújo, pelo Presi-
dente do Fórum das Associações do Setor Elétrico, Mário
Menel; pela Diretora Presidente adjunta do grupo Neoener-
gia, Solange Ribeiro; pelo Superintendente da SCG/ANEEL,

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Carlos Cabral, e pela Coordenadora-Geral da FUNAI Carla Fonseca.

Em sua fala inicial, Efrain Cruz enalteceu o inventário participativo introduzido há três anos pelo di-
retor Hélvio Guerra, quando ainda estava na SCG. Destacou a importância de discutir os inventários
participativos no evento, sobretudo neste momento de escassez hídrica. Questionou como operacio-
nalizar esse modelo, na tentativa de criar um modelo mais fácil e mais ágil para o Brasil. “As crises
se repetem ao longo dos anos. A diferença é estarmos ou não preparados para enfrentá-las”.

Luciano Loubet relatou a incorporação mais forte da temática ambiental no inventário participativo
e principalmente da avaliação ambiental estratégica. Ao acompanhar assuntos na área energética
em Mato Grosso do Sul, disse que, de um caminho muito conflituoso em termos ambientais, houve
evolução para uma integração com instituições relacionadas e com visão social e ambiental. “O
que adianta ter reservatórios se a nossa produção de água não cresceu. É o momento de olhar para
nossas nascentes degradadas, mortas, extintas, por falta de preservação?”, perguntou, sugerindo
que a política energética também tem que pensar na produção da água, ao mesmo tempo que seja
compatibilizada ao Código Florestal e à recuperação das nascentes.

Questionou se o planejamento energético leva em conta as mudanças climáticas. E se existe ava-


liação dos impactos sociais e ambientais.

Em seguida, sugeriu que, além dos inventários participativos, haja também um comitê de bacias e
plano de saneamento para regiões. Chamou a atenção para a falta de instrumentos participativos
e para a necessidade de haver mais integração dos órgãos e informação de qualidade acessível à
população que será atingida pelos empreendimentos. Reforçou que “o grande desafio é envolver
essa população”.

Efrain Cruz ponderou que essas questões estão no radar das instituições brasileiras e de todo o
mundo; e destacou a discussão sobre inventário participativo no evento, com todos os órgãos envol-
vidos. “É uma discussão de futuro. E que daqui a quatro, cinco anos, o nosso evento já esteja com
todas essas questões superadas”.

André Borges Barros de Araújo citou os resultados positivos do inventário participativo no Mato
Grosso do Sul. Com base nas avaliações ambientais integradas estratégicas, o órgão tomou medi-
das mais acertadas, mitigando situações de conflito e encontrando soluções para empreendedores.
“O licenciamento ambiental tem que refletir aquilo que está na avaliação ambiental integrada, tem
que incorporar. É um avanço, dá segurança ambiental para que se possa fazer análise adequada”.

Por fim, sugeriu que o workshop seja desdobrado para usinas térmicas com os estados para que se
possa difundir esse conhecimento, com troca de experiências, ideias e propostas.

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Em sua fala, Mário Menel abordou a questão da escassez de recursos hídricos. Citou o custo de
geração no Brasil ao falar que as usinas são antigas, tendo em média 55 anos, e que o rendimen-
to desses empreendimentos vem caindo, com necessidade de mais água para produzir o mesmo
KWH. Acredita que deve ser explorado o potencial de PCHs. Concorda que, a exemplo do que disse
o Armando Araújo, é um desestímulo ao investidor fazer um reservatório, porque ele mesmo não é
remunerado por isso, pelos demais usuários, porque vários são os usos desse reservatório. Defendeu
um novo modelo de operação e um novo modelo comercial para o setor elétrico.“Se o gerador hídrico
tem capacidade de gerar e não gera, ele será altamente penalizado com o GSF”.

Recomendou, com responsabilidade socioambiental, promover de modo incisivo uma discussão


amplificada daquilo que a ANEEL está desenvolvendo com os estados. Disse ser preciso um pacto
nacional sobre a matriz que queremos, entender qual a participação real da eletricidade que o País
precisa. Lembrando Kelman, fez menção a “uma política nacional em que cada um coloque suas
necessidades, dificuldades e se obtenha um consenso sobre qual a melhor maneira de se construir
uma matriz do futuro e dos recursos hídricos de modo geral”.

Efrain Cruz reforçou a importância de se analisar a possiblidade de recursos de eficiência energética


para atender a promoção da ideia trazida por Luciano Furtado, no sentido de o próprio setor elétrico
arcar com os estudos dessas bacias e proporcionar nos estados um planejamento de recursos hídri-
cos, com solidariedade do uso das águas.

Solange Ribeiro afirmou que os empreendedores atualmente não querem entrar em um investimento
hidrelétrico porque há grandes incertezas e dificuldades de viabilização.

Disse que o Brasil está extremamente bem colocado pela matriz energética hidráulica, fator im-
portante na descarbonização. Também reforçou a importância das energias solar e a eólica, que
surgiram com base na matriz energética do passado. Destacou que as hidrelétricas desempenham
um papel importante nesse contexto e que esse aumento de fontes intermitentes, no Brasil, foram
adicionadas pelo valor competitivo.

Defendeu a importância de se ter transparência e tranquilidade para debater questões relacionadas


à mitigação de custos e impactos sociais da implantação de hidrelétricas, a necessidade de se ter
métricas razoáveis e de se revisitar questões como as usinas atuais e futuras. Por isso, a importân-
cia das coalizões.

Afirmou que uma das discussões sobre meio ambiente propostas pela Organização das Nações Uni-
das - ONU diz respeito ao pacto e à decisão conjunta. Equilibrar todos os aspectos discutidos e ver
de fato como fecha essa equação. Defendeu que “se houver previsibilidade, haverá investimento a
um custo baixo e sustentável”. Como oportunidade, citou soluções baseadas em energias renováveis
que o Brasil dispõe. “A matriz renovável é o maior bem que a gente tem”.

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Na oportunidade, o Diretor da ANEEL comentou que Solange Ribeiro recentemente tornou-se membro
do Conselho do Pacto Global da ONU, em prol das questões ambientais.

Durante a sua fala, Carla Fonseca defendeu que, antes do licenciamento, deve-se fazer uma avalia-
ção ambiental estratégica no intuito de se preparar para o que se vai enfrentar. E colocar a questão
indígena com o devido peso. Que, para realização dos estudos sobre os povos indígenas, é necessá-
rio combinar, conversar com as comunidades, e isso requer tempo, principalmente se considerarmos
limitações linguísticas. É um processo mais delicado e mais complexo. “Fugir dele não fará com que
se tenha êxito na melhoria de oferta de hidrelétricas no País”.

Disse também que os impactos da implantação de hidrelétricas não devidamente mensurados tra-
zem um grau de incerteza e imprevisibilidade no processo que assusta a todos. O projeto da UHE
Tapajós, por exemplo, previa alagamento e remoção de aldeias indígenas, e remoção de aldeias
indígenas vetada pela Constituição Federal. É preciso levar em consideração o tempo, a tradiciona-
lidade e levar aos indígenas o mesmo grau de informação passado para populações não indígenas.
A complexidade é grande.

Sobre esses pontos, Efrain Cruz comentou que endereçar questões relacionadas a aspectos da rea-
lidade indígena exemplificam a intenção do inventário participativo. Que o inventário participativo
irá facilitar muito o processo.

Carlos Cabral comentou que os primeiros exemplos de inventário participativo a compartilhar a aná-
lise com os órgãos ambientais foram de inventários que já estavam na ANEEL. “Buscamos parcerias
com órgãos ambientais que consolidam todas as questões socioambientais que envolvem empre-
endimentos hidrelétricos. Já temos participação da sociedade e estamos avançando para parcerias
com órgãos de recursos hídricos. Agora, nos próximos, vamos começar o estudo de inventário já com
uma participação mais ativa, com vários atores que envolvem o desenvolvimento desses empreen-
dimentos”. Disse ainda que pretende trazer essas discussões que já acontecem num momento pre-
liminar para que investidores tenham um caminho mais previsível do que pode acontecer no futuro.

“Fundamental para o sucesso desse trabalho é que todos os envolvidos entendam exatamente qual
o seu papel institucional e o que se pretende com essa discussão”. Segundo ele, o que se pretende é
dirimir todas as questões que eventualmente impeçam o desenvolvimento desses aproveitamentos,
o que trará previsibilidade e credibilidade para todos os participantes desse processo. Isso traz se-
gurança para todo o processo. Nessa fase, indicar quais são viáveis ou inviáveis.

Passo importante é o compartilhamento de processos de inventário com a ANA, com a participação


de órgãos de recursos hídricos estaduais, para desenvolver o estudo, nessa fase inicial, com mais
segurança. Também reforçou a importância de se institucionalizar uma parceria com o IBAMA, para
construir caminhos e uma estrutura que contemple os anseios e as preocupações desses órgãos.

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Encerrou suas considerações apresentando alguns pontos em desenvolvimento e em análise no pro-
cesso de participação, tais como a importância de se consultar os órgãos ambientais e de recursos
hídricos sobre a possibilidade de avaliação participativa; a formalização de consultas prévias aos
gestores de recursos hídricos por causa das bacias hidrográficas; a definição do que será necessário
para o desenvolvimento desses estudos e como isso poderá colaborar para que o estudo seja mais
preciso; o esclarecimento para os envolvidos de que essas análises não definem uma pré-viabili-
dade assinalada, e sim, os caminhos a seguir; a definição da integração hidroviária; a consulta a
órgãos licenciadores sobre eventuais conflitos já existentes naquela bacia hidrográfica; a partici-
pação em fóruns como a Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente - ABEMA,
para verificar que tipo de envolvimento pode ser construído com órgãos ambientais estaduais com
vistas à padronização em relação a projetos hidrelétricos; a análise de eventuais atualizações no
Manual do Inventário; a definição do que para determinada região é mais necessário para obter mais
previsibilidade, e a consolidação do aprendizado advindo de diferentes experiências em Resolução
Normativa sobre estudos de inventário.

Informou que há preocupação da ANEEL em reduzir o tempo de licenciamento. “Hoje consideramos o


prazo máximo de 8 anos para licenciamento e definição da viabilidade econômico-financeira. Há um
processo de revisão das normas de autorização de PCH que deve analisar essas questões”.

Passada a fase de apresentações dos convidados, foi oportunizado um momento para perguntas dos
participantes, as quais são descritas a seguir:

Rodrigo Pinheiro, da Coppe/UFRJ: “Qual a diferença do inventário convencional para o participativo.


Como a variável ambiental é considerada hoje?”

Segundo o superintendente da ANEEL, hoje os desenvolvedores de inventário seguem o manual da


Eletrobras, de 2007. Pode trazer uma percepção muito forte de quem está desenvolvendo. Com o
inventário participativo, deseja-se a incorporação de quem vai fazer a avaliação no momento do
licenciamento. Queremos aprimorar os estudos para refletir os pontos de vista de todos os órgãos.

“O que precisamos mudar para inserir indígenas no planejamento dos aproveitamentos hídricos?”

Para Carla Fonseca, o governo precisa levar aos indígenas informações desde o início, e com clareza.
Aproximar a avaliação de impacto ambiental com a visão que eles têm do fato. “São 300 etnias,
cada uma se comporta de uma forma. Recomendável sempre inserir os indígenas no contexto da
informação para diminuir resistências e fazer uma relação de confiança”.

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“Sobre Rio Pardo, a avaliação ambiental integrada foi etapa posterior ao inventário participativo?”

Segundo André Borges ficou acordado que a avaliação ambiental integrada seria etapa posterior,
porque foi definido depois o número de empreendimentos, que foi menor do que o anteriormente
previsto.

Ricardo Vidinich, representante do Conselho de Consumidores da COPEL: “Como criar ambiente


colaborativo participativo, principalmente se consideramos que há um bem maior a ser discutido
como a modicidade tarifária?

Para Luciano Loubet é essencial o envolvimento interinstitucional e social. Essencial a participa-


ção da Associação dos Municípios, e não somente com audiência pública proforma e divulgada por
meios que não chegam à população. Ter cuidado em como essa informação é passada à sociedade,
de forma acessível que possa ser compreendida. Sobre modicidade, tem que ter equilíbrio da ques-
tão ambiental, social e econômica.

Complementando essa ideia, o Diretor Efrain Cruz da ANEEL reforçou que um dos bens maiores da
Agência é o diálogo com a sociedade. E que é necessário buscar um pouco mais de capilaridade
dessas discussões.

“Quais as dificuldades vistas pelos empreendedores?”

Para Solange Ribeiro, é importante saber de antemão o que esperar. Esgotar tudo em cada etapa
para que, numa etapa posterior, não seja necessário discutir o que deveria ter sido definido ante-
riormente. Isso faz com que o empreendedor tenha previsibilidade. Esse trabalho deve ter a arte de
juntar aspectos de ordem ambiental, social e financeiro.

Mario Menel encerrou o painel pontuando que existem dificuldades para o empreendedor investir em
construção de hidrelétricas, embora tenha interesse na fonte. Elogiou a iniciativa de promover esse
novo diálogo para conseguir melhorar a situação hídrica do Brasil de um modo geral. E destacou
a importância da tomada de decisão sobre esse assunto: “Não dá mais para ficar 10 ou 15 anos e
depois dizer que o empreendimento é inviável. Estamos na direção correta”.

O Diretor da ANEEL concluiu afirmando que “se retirarmos as assimetrias, teremos mais transpa-
rência, mais credibilidade, leilões mais próximos da realidade e modicidade tarifária”.

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Mesa de Debate:
Como operacionalizar o desenvolvimento
de inventários hidrelétricos participativos?
(parte 2)

Com mesmo tema, a segunda mesa redonda foi moderada pelo Diretor da ANEEL Sandoval Feitosa, e
contou com a presença do Diretor da ANA, Oscar Cordeiro; do Secretário de Planejamento Energético
do Ministério de Minas e Energia (MME), Paulo César Domingues, da Secretária de Estado do Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado de Goiás, Andrea Vulcanis; e Diretor da Consul-
toria PSR, Rafael Kelman.
Para melhor contextualizar o debate, Sandoval Feitosa comentou que a segurança hídrica, seja para
abastecimento humano ou para todas as atividades econômicas que são desenvolvidas com o uso da
água, também se associa à geração de eletricidade. “Ao longo dos anos, nós tivemos cada vez mais a
hidroeletricidade perdendo a sua relevância, seja pela diversidade maior da nossa matriz elétrica, como
prevê a nossa Constituição, como também o uso múltiplo da água nas suas diversas utilidades. Mas,
ainda temos a água e a hidroeletricidade como um insumo importante da produção de eletricidade”.

Em seguida, Oscar Cordeiro reconheceu a iniciativa dos inventários participativos e as experiências


positivas já obtidas nesses três anos. “Esse workshop tem duas grandes funções, dois grandes obje-
tivos. Um deles é apresentar os resultados e mostrar as entregas dessa iniciativa, e eu fiquei satis-
feito com os relatos que ouvi dos Governadores, que de fato houve uma evolução positiva virtuosa no

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trato da questão da avaliação do potencial de rios, e tem uma segunda parte, que é pensar um
pouco para frente e avançar na questão dos inventários”.

Destacou que “a primeira fase dos inventários tinha uma função de buscar eliminar restrições e
contingências e trabalhar melhor o diálogo com o setor ambiental”.

Ressaltou os desafios enfrentados pelo Brasil durante a atual escassez hídrica.

“A primeira solução é aumentar na confecção, na formulação dos inventários, essa visão do uso
múltiplo, essa visão de variabilidade hidrológica, e é importante que se amplie as interlocuções nas
bacias hidrográficas. Quando falamos em gestão de água, gestão hidroenergética, nós trabalhamos
com diferentes territórios e isso tem que ser levando em consideração”.

Destacou o pioneirismo do setor elétrico no que diz respeito ao uso da água, mas que hoje é neces-
sário ter a consciência de que são vários usuários e, certamente hoje, a decisão não é a mesma de
30, 40 anos atrás. Ela vai envolver uma negociação e a busca de um jogo de ganha-ganha, entre a
produção de energia e outros usos, sendo então, importante compartilhar as informações entre os
diferentes usuários. “No intuito de valorizar as sinergias e os princípios de segurança hídrica, temos
que trabalhar mais em valoração econômica da água, pois não estamos levando em conta o valor
das águas estocadas, o despacho da energia e várias outras questões”.

Sandoval Feitosa destacou a importância da atuação da ANA, para evitar que o uso individualizado
e irracional possa inviabilizar o interesse coletivo.

Paulo César comentou sobre a necessidade de demostrar a importância das hidrelétricas e a impor-
tância de reservatórios no Brasil, justamente para regularizar a vazão do rio e atender esse período
de seca.

Comentou sobre a evolução dos estudos de inventário hidrelétrico ao longo do tempo e que, muitas
vezes, essa evolução é acompanhada de perda de potencial hidrelétrico, pois é motivada para aten-
der às exigências da sociedade.

Relembrou sobre os primeiros estudos de potenciais hidrelétricos, na década de 1970, e que em


1984, foi publicado o Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas, que se tornou refe-
rência no setor elétrico para elaborar os estudos de inventário no Brasil.

“Com a evolução das questões socioambientais, que não eram refletidas a contento nesse manual
de 1984, houve a necessidade de atualização desse inventário. Então, entre 2004 e 2007, um grupo
de trabalho se reuniu e atualizou o Manual de Inventário, incorporando as mudanças da legisla-
ção relacionadas a meio ambiente e recursos hídricos. Foi introduzida também uma nova aborda-
gem multi-objetivo para a seleção da alternativa final de visão de queda, maximizando a eficiência

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econômica energética, considerando diferentes formas de uso das águas e incorporando nos estu-
dos de inventário a avaliação ambiental integrada”.

“Os estudos anteriores a 2004 davam um peso muito grande para o índice custo benefício, então,
geralmente os aproveitamentos eram selecionados olhando basicamente esse índice. Após 2007, se
passou a olhar também o índice de aspecto socioambiental, que passou a ter um grande peso nas
decisões da escolha da alternativa selecionada, de divisão de queda selecionada”.

Reforçou que “precisamos melhorar a interação entre as diversas entidades e organizações e a so-
ciedade de forma geral”.

“Outra questão que nós precisamos melhorar no setor elétrico é a comunicação. Existem muitas
hidrelétricas que exercem um papel fundamental, não só são um vetor de desenvolvimento econô-
mico, de melhoria de IDH, mas também de preservação ambiental, mitigando o seu impacto com
preservação de parques, com áreas de preservação e nós não comunicamos essas vantagens da
hidroeletricidade. Além disso, tem a questão de regulação, de melhoria de navegação, regularização
dos rios, controle de cheias, navegação, lazer, e isso o setor elétrico não consegue explicar a contento
para a sociedade essas vantagens das usinas hidrelétricas e suas vantagens econômicas, e a logís-
tica de trazer todo o desenvolvimento para a região, tem todas essas vantagens socioambientais”.

Por fim, sugeriu que, no caso de rios federais, deve-se levar para o Conselho Nacional de Política
Energética a importância de haver um regramento para que esses estudos, ou revisão de estudos,
de inventários ou novos inventários possam ser realizados com uma participação ampla, de todos os
envolvidos, para que se tome uma decisão que beneficia não só o setor elétrico, mas todos os setores
da economia envolvida”.

Andrea Vulcanis abordou como a pauta ambiental vem avançando sobre a proposta de modelos de
desenvolvimento que precisam ser implementados no Brasil e o quanto isso é complexo nos dias de
hoje.“Vemos alguns estados procurando soluções adaptadas, mas houve um afastamento de uma
coordenação nacional que construísse efetivamente uma agenda nacional integrada, pensando em
meio ambiente e desenvolvimento. Fico bastante desafiada em estar à frente de uma secretaria
do meio ambiente e desenvolvimento sustentável aqui em Goiás, exatamente porque esse é ponto
crucial, qual é a perspectiva, qual o planejamento nacional, ou estadual, para que esse processo de
desenvolvimento seja realizado de forma adequada”.

“Cada vez que vamos licenciar uma PCH, se apontam todas as críticas e queixas e judicializações,
audiências públicas suspensas, a dificuldade imensa de se avançar no licenciamento ambiental,
porque tudo virou um conjunto de dificuldades a serem resolvidas. Precisamos começar a agilizar.
Eu diria que o inventário participativo me parece um caminho de planejamento estruturado, que
num momento anterior à definição desses potenciais hidroenergéticos já retirem desse processo,
como uma expectativa de uso e aproveitamento, aqueles casos ou aquelas situações que de fato
têm alguma variável ou socioeconômica ou ambiental que impeçam ou que dificultem de tal modo a
discussão, levando isso a um travamento no licenciamento ambiental”.
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Destacou que o licenciamento Ambiental “deve ser uma discussão exclusivamente técnica sobre os
impactos ambientais, mitigação e compensação de impactos”.

E sugeriu que a avaliação ambiental estratégica deveria anteceder o processo de licenciamento para
considerar as variáveis que podem impedir ou impactar um ou outro empreendimento, no conjunto da
bacia, considerando esses elementos ambientais.

“Um tema delicado no Brasil, hoje, é uma discussão profunda sobre o licenciamento ambiental. Nós
precisamos enquanto nação fazer uma discussão profunda sobre o modelo, estamos falando de um
modelo criado e pensando na década de 80, quando nós não tínhamos nenhum tipo de estudo, não
tínhamos informações sistematizadas, não tínhamos nem internet, nem computador, que é aplicado,
nos dias atuais, da mesma forma, e que vem sendo ideologizado e complexificado ao longo dessas
décadas. Isso precisa mudar”.

Por fim, apresentou o sistema utilizado no estado de Goiás, pelo qual cada tipologia de empreen-
dimento é apresentada com todos os impactos mapeados e, para cada impacto, uma solução que
o próprio órgão antecedeu. De positivo, tem-se a eliminação de toda a subjetividade na análise, a
burocracia que se envolve dentro de licenciamento com pedido de programas de estudos.

O Diretor da ANEEL elogiou a fala da Andrea Vulcanis e indagou o próximo palestrante, Thiago Barral,
presidente da EPE, acerca da possibilidade de restruturar os inventários já feitos, já preparados, com
a lógica do inventário participativo.

Sobre esse ponto, Thiago Barral destacou a importância de abordar temas como a transição energética
e os desafios de mudanças climáticas, afirmando que “se a gente vai falar de inventários hidrelétricos
de bacias hidrográficas, a gente tem que obviamente fazer a discussão do papel das hidrelétricas na
matriz antes de falar de como é que a gente vai a trabalhar esse potencial; a gente tem que entender
que papel é esse”.

“A gente vai ter que enfrentar esse desafio, fazer a reflexão e incorporar uma série de outros aspectos.
O Mario Menel, no painel anterior, falou muito bem: a gente não só inventariar novos potenciais, sejam
eles convencionais ou usinas reversíveis, mas também inventariar o potencial dos ativos que já estão
no sistema, estabelecer uma agenda regulatória que é necessária para modernizar esse ativo e usar
esse recurso de uma forma cada vez mais eficiente e mais racional”.

“Uma ferramenta computacional por si só não vai conseguir neutralizar os conflitos que envolvem o
desenvolvimento hidrelétrico. Então, para isso, o planejamento tem que dispor de diversos instrumen-
tos de comunicação e participação”.

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Por fim, concluiu afirmando que de fato é necessário revisar o Manual de Inventários para tra-
zer essa perspectiva de ampla participação. Não só o participativo na concepção das alter-
nativas, mas de um processo mais amplo. E fazer os testes, retroalimentar e reinventariar as
bacias que foram inventariadas há mais de 10, 15, 20 anos e que não representam em abso-
luto o potencial hidrelétrico remanescente frente ao crescimento dos usos múltiplos do tu-
rismo, da navegação, das áreas urbanas e também dos requisitos do próprio setor elétrico.

Em conclusão, Sandoval Feitosa afirmou que “nós, enquanto setor, temos uma tarefa de refazer es-
ses inventários à luz da realidade socioambiental que temos atualmente e também do uso múltiplo
da água. E comentou que, para isso, podemos aprender com experiências de outros países.

Em seguida, passou a palavra para o Diretor da PSR, Rafael Kelman, que iniciou suas considerações
reforçando que devemos pensar nas hidrelétricas como uma evolução da matriz elétrica nacional,
com inserção de renováveis, variáveis, que vão trazer desafios para a operação do sistema.

“As hidrelétricas são excelentes. São a melhor fonte em termos de atributo, porque dão potência,
conseguem dar reserva, dão energia. Se tiver reservatório, elas transferem energia de períodos de
abundância para períodos de escassez. Temos nas hidrelétricas uma série de atributos, muito dos
quais não remunerados, então, as hidrelétricas têm um papel muito importante”.

Em seguida, mostrou um pouco sobre os estudos desenvolvidos pela PSR com a utilização do HERA,
modelo computacional desenvolvido para estudar o potencial hidrelétrico de bacias hidrográficas
considerando a viabilidade econômica dos projetos e seus impactos ambientais, e destacou o avan-
ço da tecnologia no auxílio dos inventários participativos. Como exemplo, apresentou cases interna-
cionais.

“O quanto antes as discussões aparecerem, o quanto antes as grandes questões forem apresenta-
das para o planejamento, melhor para todos, para o empreendedor, para a sociedade como um todo,
porque aí os riscos vão sendo reduzidos e a verdade vai aparecendo”.

Concluiu afirmando, que “seria para mim um sonho ter as entidades compartilhando as informa-
ções e as suas visões, num processo bastante transparente, que gere credibilidade. É preciso ser
participativo desde o início”.

O Diretor Sandoval parabenizou o Diretor da PSR pela apresentação, destacando a possibilidade


de aplicação do sistema HERA ao tema inventários hidrelétricos participativos. “A gente percebe
que, de acordo com a legislação ambiental, de acordo com a dinâmica local, é perfeitamente pos-
sível setar o programa para que ele traga, avalie o retorno financeiro daquele empreendimento, vis
–à-vis as condicionantes, vis-à-vis as condições de contorno, vis-à-vis os aspectos que, no final,
o programa, ele otimiza qual a melhor solução. Isso é brilhante porque sai de análises de casos

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concretos feitos de forma artesanal, para uma análise científica robusta e muito bem fundamen-
tada, pode institucionalizar as decisões e tirar o encargo dos analistas ambientais, que óbvio tem
receio de tomar decisões em função da dura legislação ambiental que nós temos e das penalidades,
e também da forma como ela é interpretada por esses analistas, seja por uma questão ideológica,
como também já foi colocada, seja também pelo própria jurisprudência das decisões que nós temos
é vendo no país”.

Refletiu que, “respeitando o federalismo do País, respeitando a competência de cada estado, consi-
derando que a exploração do potencial hídrico é uma regulação federal, como podemos dar diretrizes
sem resultar em processos extremamente longos e, assim, viabilizar rapidamente os investimentos
no país, gerar emprego, gerar renda, explorar de forma sustentável os nossos recursos naturais”.

Oscar Cordeiro pontuou, primeiramente, que falta diálogo entre os atores envolvidos no processo.
“Falta aí, talvez, processo de coordenação, um lócus adequado. Nós temos um grande desafio, mas
a gente tem um grande problema pela frente. Eu acho que basicamente isso passa pela construção
desse processo de concertação, de discussão. A gente já tem aí um embrião entre agências regula-
doras ANA e ANEEL, que são instituições de estado, mas dentro das suas limitadas competências e
áreas de ação, mas já existe aí um início de entendimento”.

“A gente sabe que o nosso sistema de licenciamento está totalmente equivocado hoje, quer dizer,
como é que você pode pensar em planejamento, ação integrada, uso múltiplo, numa visão de em-
preendimento por empreendimento. Isso é impossível.

É um grande desafio. Em nossa parte, em nome da diretoria da ANA, nós estamos muito imbuídos aí
em fazer avançar essas questões”.

O Secretário Paulo César comentou sobre a experiência do Estado de Goiás, destacando que “essa
experiência em Goiás tem funcionado, eu acredito, porque houve uma decisão superior que uniu
diversas secretarias com o objetivo comum, não só o objetivo ambiental, resolver questões ambien-
tais, mas de desenvolvimento social e econômico e crescimento do estado”. “Então tem que ter uma
decisão superior e outro fato é uma coordenação centralizada. Não adianta só o espírito colaborati-
vo, a mente aberta de todos que participam se não tiver uma coordenação. Então eu vejo como muito
boa essa proposta do inventário participativo, mas tem que ter uma decisão centralizada e um foco
com relação a isso”.

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Considerou também que o Conselho Nacional de Política Energética congrega vários ministérios,
como o do Meio Ambiente, da Economia, do Desenvolvimento Regional, o de Minas e Energia: “levar
uma decisão dessas, que tenha uma decisão centralizada, e que as instituições possam se falar,
possam conversar e chegar num plano de como fazer estudos, isso pode ser estendido de inventário
para estudos de viabilidade, mas o inventário é o primeiro passo”.

Em resumo, destacou a importância de todos os atores envolvidos trabalharem juntos, antes mesmo
de se levar o assunto para uma discussão com a sociedade. “Se a gente não tiver um consenso,
dentro do governo, dentro das instituições, das agências reguladoras, os ministérios envolvidos e os
institutos, nós jamais vamos ter sucesso”.

Thiago Barral destacou a importância de termos instituições sólidas e bem equipadas, bem capaci-
tadas: ANA, IBAMA, EPE, ANEEL, os Ministérios, os estados, porque “senão a gente não vai conseguir
ver pessoas, como a Andrea colocou, criando soluções, desenvolvendo soluções, pensando soluções,
inovando no processo, de fato pensando no futuro de uma forma inovadora e de fato construindo as
soluções”.

Se as instituições não estão legitimadas, se não for possível ter o seu papel dentro da governança
respeitado, valorizado, de fato os problemas de governança que geram essa falta de credibilidade
no processo como um todo irão se perpetuar. “E no ajuste dessas engrenagens para que, como a
Andréa muito bem colocou, você encontra soluções e a partir disso vai normatizando a partir daquilo
que foi bem-sucedido. Eu acho que no final das contas a mensagem quando a gente está falando
de usinas hidrelétricas, de infraestrutura de uma forma geral, mas em particular hidrelétricas, você
tem um problema que é de impacto local e de benefício que é social, socializado. Então não tem
como. Vai ter que haver um esforço de negociação com os atores, e no final das contas se aqueles
que são afetados pelos empreendimentos não se enxergarem de alguma forma como beneficiários
do projeto, é claro que eles vão lutar contra, vão resistir. Então esses mecanismos de negociação
e a flexibilidade para poder exercer esse processo de negociação e a legitimidade dos atores nesse
processo de negociação é fundamental”.

Reconheceu que esse processo, na prática, é complexo, mas precisa ser enfrentado.

Rafael Kelman reforçou que acredita que as instituições precisam de pessoas engajadas para trazer
soluções, motivadas, com senso de responsabilidade e não somente o sentimento de que “fazer a
minha parte” está bom.

Comentou sobre as vantagens do software HERA nesse processo: “o HERA dá agilidade e trans-
parência. Então é uma facilidade de você conseguir criar suas soluções, de criar de uma maneira
objetiva um diálogo em busca de alternativas das várias partes”.

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“As hidrelétricas ficaram muito desgastadas e há uma rejeição colocada por parte da sociedade,
mas na maior parte dos casos elas são boas decisões. Para mudar essa imagem, elas podem e de-
vem ser mais modernas.”

Colocou como desafio a proposta de se desenvolver as novas usinas com processo participativo,
incluindo os indígenas, apesar das questões constitucionais envolvidas. Citou como exemplos o
Canadá e os Estados Unidos, onde os indígenas têm autonomia para negociar o que eles acham que
lhes convém.

Sugeriu que devemos escutar um pouco mais o que os povos indígenas querem, com todos os cui-
dados, sem repetir os erros do passado, mas dando mais de voz para essas comunidades que são
nativas do Brasil.

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Considerações Finais

As considerações finais do evento foram feitas pelo ex-Diretor Geral da ANEEL e ex-Diretor-Presidente
da ANA, Jerson Kelman, que considerou que o evento trouxe uma “lufada de otimismo”. Jerson Kel-
man comentou vários aspectos das falas dos participantes do workshop.

Lembrou que as hidrelétricas causam impactos sociais e ambientais, mas também efeitos positivos
regionais e nacionais. “Sempre se faz a pergunta sobre o que acontece se a hidrelétrica for constru-
ída, mas não se a hidrelétrica não for construída”, porque pode haver, por exemplo, falta de energia
ou elevação dos preços da energia. Disse que, com essa polarização, tudo “desemboca” no processo
de licenciamento ambiental, considerado um modelo complexo.

Disse que o Workshop é uma atitude muito meritória de mudar o quadro, de evoluir para o que é o
melhor para o Brasil. “Não se trata de fazer lobby a favor da hidroeletricidade. Mas combater o ba-
nimento da hidroeletricidade. Conhecer o nosso potencial”, disse.

“A competição entre fontes energéticas deve ser econômica e não política”, defendeu. Ressaltou que
a competição econômica deve diferenciar as qualidades de cada fonte. “Tem que ter um sistema que
dê estabilidade e segurança de suprimento. Temos que usar o melhor que já temos. Ainda falta uma
regulação para que os investidores otimizem o que já existe”.

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Completou afirmando que é preciso dar valor ao armazenamento de energia, porque tem um valor
sistêmico fantástico. “Reservatórios são importantes para diversos usos, como, por exemplo, para
controlar enchentes. A função dos reservatórios, diminuída pela mudança ambiental e de uso do
solo, é importante. Entendo que precisamos de reservatórios”.

Sobre inventários participativos, os interessados devem participar desde o início desse processo,
como prefeitos, por exemplo. E a sociedade, porque a energia produzida é consumida nacionalmente.
Também devem participar os órgãos de licenciamento regionais, onde existe um grande temor dos
servidores de se posicionar previamente. Se houver uma opção de transparência, em que todos se
posicionem, diminui esse risco.

“Podemos tirar mais produção de hidrelétricas existentes se essa interface entre setores de energia
elétrica e de recursos hídricos estiver engrenada, com segurança hídrica para todos”, ao citar a
aproximação entre ANEEL e ANA.

Lembrou que outro grande tema que precisa ser endereçado diz respeito aos reservatórios. Concor-
dou com a sugestão trazida no workshop para que se faça estudo de casos dos reservatórios, para
ver o que ocorreu depois do licenciamento.

Em relação às terras indígenas, citou que a Constituição Federal diz que devem ser ouvidos o Con-
gresso Nacional e as comunidades, mas é vedada a remoção. “A não ser que queiram se mover, em
troca de alguma compensação”. “É preciso ter boa fé e respeitar a humanidade dos indígenas”.

E concluiu afirmando que “essa situação induz a uma terceira reforma do setor elétrico, talvez em
2022, para debater itens como iniciativas como inventário participativo, por exemplo, para não des-
perdiçarmos o recurso natural.”

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Encerramento

A Diretora Elisa Bastos participou do evento por meio de vídeo. Em sua mensagem, destacou que
encontros como o Workshop “são fundamentais para entendermos melhor os problemas, para listar
as possibilidades de aperfeiçoamento e para chegarmos a soluções que tragam mais segurança
para o setor elétrico”.

“A experiência nacional com esse tipo de empreendimento evidencia a necessidade de aperfeiçoa-


mento do processo, com maior participação de todos os atores, isso tanto na concepção inicial dos
projetos, como em todo o processo, para se evitar atrasos e impedimentos na fase de execução das
obras. E, desse panorama, eu entendo que os esforços da ANEEL em estabelecer parcerias e orga-
nizar o projeto de participação social na fase de elaboração dos inventários é um passo importante
para melhorarmos o processo de desenvolvimento e implantação desses empreendimentos hidrelé-
tricos no País”.

Em seguida, Hélvio Guerra agradeceu a par­ticipação de todos e pontuou a relevância dos debates
durante os dois dias de evento. “Nós tivemos um debate importantíssimo, posições que foram defen-
didas com muita competência. Eu tenho certeza de que nós não precisaremos de chegar no décimo
Workshop de Inventários Participativos para tornar essa alternativa algo do nosso cotidiano. Eu
tenho certeza que nós, depois dessas duas tardes, nós tere­mos condições de avançar muito”.

Informamos que todas as apresentações estão disponíveis e poderão ser disponibilizadas pela ANEEL.

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O vídeo completo do II Workshop Inventários
Hidrelétricos Participativos está disponível em
www.youtube.com/aneel, na seção Eventos.
Workshop

Síntese das Apresentações

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